São Paulo aceitava o sexo no casamento e Santo Agostinho, partidário
maniqueísta, cuja crença baseava-se em duas forças regentes do mundo, o bem e o
mal, converte-se ao Cristianismo e aceita somente o sexo para procriação, sem prazer
(Vidal, 2002). Para ele, Deus criou o homem bom, mas este foi corrompido por opção e,
conseqüentemente, condenado justamente (Eisler, 1996). A sexualidade deixou de ser
constituinte da natureza humana e ficou distanciada da Bíblia.
De acordo com o exposto, as interpretações posteriores não levaram em
consideração o contexto sócio-histórico em que tais obras foram escritas. No século IV,
início da Idade Média, o imperador romano Constantino, uniu seu poder ao da Igreja
Católica, e esta adquiriu um poder jamais possuído por nenhuma outra religião (Araújo,
1997).
A queda do Império Romano, em 476, dá início a Idade Média, que dura até a
queda de Constantinopla, em 1453. No período inicial, conhecido como Idade das
Trevas, os escribas monásticos controlavam o que era escrito e o que poderia ser lido,
elaborando e difundindo ensinamentos anti-sexuais rígidos. Eles desvalorizaram o sexo
e criaram regras até para as posições coitais (Araújo, 1999). Assim, a Igreja continuou
seu domínio religioso e social, com maior poder coercivo sobre a sociedade.
Neste contexto, quaisquer variações da sexualidade eram proibidas, gerando
medo, culpa e pecado, e devendo ser punidas, em maior ou menor grau. Mesmo o sexo
para procriação não era exaltado no Cristianismo, devendo ser agendado, codificado e
limitado dentro das normas canônicas (Araújo, 1999; Eisler, 1996; Schiavo, 2004).
Assim, toda civilização ocidental foi influenciada por esta moralidade, e seus reflexos
perduram até os dias atuais (Baptista, 1998).
No século XV, com o Grande Cisma, o medo de criaturas demoníacas
aumentou, e sem nenhum conhecimento do psiquismo humano, os atos fora dos
padrões vigentes ou sem explicação, eram considerados bruxaria. Assim, as variações
sexuais, como a bissexualidade, aceita em épocas anteriores, eram pecados punidos
com a tortura (Araújo, 1999).
A Igreja Católica Medieval seguiu o livro Malleus Maleficarum, um manual de
caça às bruxas, onde a mulher era uma criatura pecadora, que deveria ser controlada
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