Segundo, poderíamos ainda utilizar o arquétipo do vampiro para analisarmos a
questão de aspectos do seu inconsciente que permanecem na fase adulta e são resquícios da
infantil. O vampiro não consegue superar a fase da oralidade – sua forma de se relacionar
com o mundo continua sendo através do sugar – talvez tenha lhe faltado a figura da mãe na
fase inicial da vida, e como uma das conseqüências temos o predomínio dos desejos orais.
Nesse ponto chegamos a essa trama: esse vampiro – que podemos entender como um sujeito
perverso e obsessivo ao extremo – suga não somente (literalmente) o sangue de suas vítimas,
mas principalmente, as energias psíquicas vitais (as emoções) dos seus parceiros, que podem,
por uma contradição insolúvel dos destinos dessas criaturas, serem seus objetos amorosos,
afinal o vampiro é aquele que não sabe se ama tudo ou todos que destrói ou destrói tudo ou
todos que ama. Ama e mata; mata e deseja – o vampiro “vive” (entre aspas, pois já está física
e psiquicamente morto) nesse limite entre as pulsões que é o mesmo do desejo humano:
morrer de vida e viver de morte: Éros (pulsão de vida) e Thánatos (pulsão de morte).
Os vampiros se aferram às outras pessoas e delas solicitam tudo – amor, atenção,
companhia (para eles é insuportável a solidão, que pode representar um momento de auto-
reflexão, de introspecção, de auto-análise: tudo aquilo que o vampiro não suportaria, pois
implicaria em autoconsciência, consciência de si mesmo). O vampiro não se pensa, como a
criança na fase oral, ele somente vive e se deleita no fluxo das coisas do mundo e da vida, e
as suga metodicamente, mas enquanto assim age, vai ficando entristecidos (não pela dor que
causa ao outro, mas porque já pressente a que sentirá quando o outro sucumbir de vez e não
puder mais cumprir seu papel de objeto passivo do desejo nessa relação) aguardando a morte
daqueles que acredita amar. Depois procurará outras vítimas.
Cabe lembrar que essas relações vampirescas não se dão somente nas amorosas ou
sexuais, podem também estar presentes no dia-a-dia do trabalho ou do estudo de cada um.
Nas relações familiares, por exemplo, entre pais e filhos. O pior: muitas vezes se estabelece
uma relação de simbiose entre vampiro e vítima e um não pode mais existir sem a presença
do outro – pelo menos até a parte mais fraca (a vítima) sucumbir. No desdobramento dessa
idéia, surge outra reflexão em forma de interrogação: o analista não seria também sugado em
cada sessão através do processo de transferência (processo que deve acontecer na sessão
analítica entre analisando e analista)?