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A pedofilia na perspectiva da Psicanálise e da Antropologia: um breve comentário
Eduardo Benzatti do Carmo
O presente artigo aborda a questão da pedofilia por um viés que não esbarra em juízos
de valores, aspectos éticos e morais, porém temos a certeza que tal tema deva ser discutido
considerando todos esses aspectos, não o fazemos aqui pelo seguinte motivo: trata-se de um
artigo, logo de um breve comentário.
Particularmente pretendo destacar apenas alguns pontos do tema pelo viés da
Psicanálise e, de certa forma, da Antropologia uma vez que a primeira trabalha com aquela
dimensão fundamental do ser humano: o inconsciente. A psicanálise demonstra que todos
nós temos algo de “atos perversos” fetiches de todas as ordens, provavelmente,
relacionadas à infância isto é “normal”, diferentemente de se ter uma “estrutura perversa”,
ou seja, uma parte constituinte do indivíduo que vai contra o outro: o pedófilo utiliza-se da
criança para somente o seu gozo, e não se preocupa com o dela – a criança é objeto passivo e
instrumento do seu prazer.
Para me apropriar desse tema – da pedofilia – gostaria de relacioná-lo a outro assunto
que aqui interessa o das relações possessivas e obsessivas e utilizar um arquétipo que
considero ilustrativo para abordar tal tema e assunto: o arquétipo do vampiro. Vamos lá: a
figura do vampiro é bem conhecida e dispensa uma apresentação histórica ou antropológica
do surgimento do mito que, aliás, enquanto mito, apresenta várias versões. O que nos
interessa mais precisamente é sua constituição psíquica partindo da idéia que o vampiro
tenha uma, o que é discutível, pois em alguns relatos ele não apresenta sinais de ter um
“eu”, uma identidade (nem reflexo ele tem, daí poderíamos concluir que sem um “eu”
estruturado, também não um inconsciente). Voltemos a constituição do aparelho psíquico
do vampiro: primeiro, esse indivíduo aparenta não ter, ou ter um superego (ou supereu: a
estrutura do inconsciente responsável por aspectos como da autocensura e auto-repressão)
completamente afrouxado, uma vez que é um ser totalmente desejante que se utiliza das
coisas e dos outros para sua total satisfação aqui podemos relacioná-lo a algo da perversão
do pedófilo, na medida que também se utiliza do outro sem ter qualquer preocupação com a
dor e o prazer (ou o prazer/dor) de sua vítima. O outro é somente instrumento, objeto do seu
gozo – seja esse outro criança ou não.
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Segundo, poderíamos ainda utilizar o arquétipo do vampiro para analisarmos a
questão de aspectos do seu inconsciente que permanecem na fase adulta e são resquícios da
infantil. O vampiro não consegue superar a fase da oralidade sua forma de se relacionar
com o mundo continua sendo através do sugar talvez tenha lhe faltado a figura da mãe na
fase inicial da vida, e como uma das conseqüências temos o predomínio dos desejos orais.
Nesse ponto chegamos a essa trama: esse vampiro que podemos entender como um sujeito
perverso e obsessivo ao extremo suga não somente (literalmente) o sangue de suas vítimas,
mas principalmente, as energias psíquicas vitais (as emoções) dos seus parceiros, que podem,
por uma contradição insolúvel dos destinos dessas criaturas, serem seus objetos amorosos,
afinal o vampiro é aquele que não sabe se ama tudo ou todos que destrói ou destrói tudo ou
todos que ama. Ama e mata; mata e deseja o vampiro “vive” (entre aspas, pois já está física
e psiquicamente morto) nesse limite entre as pulsões que é o mesmo do desejo humano:
morrer de vida e viver de morte: Éros (pulsão de vida) e Thánatos (pulsão de morte).
Os vampiros se aferram às outras pessoas e delas solicitam tudo amor, atenção,
companhia (para eles é insuportável a solidão, que pode representar um momento de auto-
reflexão, de introspecção, de auto-análise: tudo aquilo que o vampiro não suportaria, pois
implicaria em autoconsciência, consciência de si mesmo). O vampiro não se pensa, como a
criança na fase oral, ele somente vive e se deleita no fluxo das coisas do mundo e da vida, e
as suga metodicamente, mas enquanto assim age, vai ficando entristecidos (não pela dor que
causa ao outro, mas porque pressente a que sentirá quando o outro sucumbir de vez e não
puder mais cumprir seu papel de objeto passivo do desejo nessa relação) aguardando a morte
daqueles que acredita amar. Depois procurará outras vítimas.
Cabe lembrar que essas relações vampirescas não se dão somente nas amorosas ou
sexuais, podem também estar presentes no dia-a-dia do trabalho ou do estudo de cada um.
Nas relações familiares, por exemplo, entre pais e filhos. O pior: muitas vezes se estabelece
uma relação de simbiose entre vampiro e vítima e um não pode mais existir sem a presença
do outro pelo menos até a parte mais fraca (a vítima) sucumbir. No desdobramento dessa
idéia, surge outra reflexão em forma de interrogação: o analista não seria também sugado em
cada sessão através do processo de transferência (processo que deve acontecer na sessão
analítica entre analisando e analista)?
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Infelizmente, como disse o início deste texto, o mais espaço aqui para indicar
quais seriam outras perversões e neuroses dos vampiros (que aqui servem como arquétipos
daqueles sujeitos que como eles agem em relação aos outros sugando o que esses últimos têm
de vital), por conseguinte, não poderia indicar uma “linha de escuta” que clareasse os
sintomas e as possibilidades de cura apesar de que no caso dos vampiros (dos mitos)
acredito que esses não podem ser curados, pois essa necessidade de sugar os outros não é
apenas um sintoma, mas parte constituinte e fundamental de suas personalidades e formas de
ser que, uma vez removidas, fariam desabar toda a estrutura do ser ou no caso dos
vampiros, desculpem-me o trocadilho, o não-ser. Concluímos que o dilema do vampiro é o
mesmo do pedófilo: sugar o outro sem se preocupar com os desejos do seu objeto de
satisfação. Assim como sua “estrutura perversa”: violentar o outro sem reconhecê-lo como
um ser vivo, com dores e vontade, medos e sonhos.
Referência bibliográfica:
Aidar, José Luiz; Maciel, Márcia. O que é vampiro. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Coleção
Primeiros Passos, 179).
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