CULTURA E CONSCIÊNCIA COLETIVA:
Leituras Saint-simonianas de Teoria Sociológica ©2007 by Jacob (J.) Lumier.
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Literatura Digital
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tes, dado a variedade das classes sociais, seus tempos diferentes e suas obras diferentes. O esforço de
unificação dos modos de operar divergentes no interior de uma classe social, põe em relevo o papel
destacado que a consciência de classe, a ideologia e as obras de civilização desempenham habitualmen-
te na dinâmica das classes sociais, que não é só uma dinâmica de avaliação relativamente à hierarquia
dos agrupamentos independentes da estratificação econômica, mas inclui a suprafuncionalidade da
classe, pois a classe social interpreta a totalidade das funções sociais como combinada ao esforço con-
centrado que realiza para ascender ou para ingressar no poder. Na sociologia de Gurvitch, a análise
da totalidade dinâmica específica da classe social faz notar o fato de que as classes sociais servem nor-
malmente de planos de referência ao conhecimento, à moral, ao direito, à arte, à linguagem, favorecen-
do a verificação do funcionamento dos modos de operar parciais dessas próprias classes sociais. En-
fim, como já foi notado, o modo de operar das classes sociais afirma, antes de tudo, a acentuação dos
papéis sociais, de preferência no domínio econômico e político; em seguida, afirma a eficácia da cons-
ciência coletiva muito intensa e penetrante, conseguindo predominar sobre o espírito de corpo dos
agrupamentos, chegando a guiar suas atitudes. Vem depois a afirmação da eficácia dos símbolos, idéi-
as e valores e, mais amplamente, a eficácia das obras de civilização e ideologias que as justificam, ele-
mentos estes que colaboram para solidificar a estruturação das classes sociais.
É preciso ter em vista, quando se estuda a sociologia de
Gurvitch, que se trata de pôr em relevo os meandros da liberdade humana intervindo na realidade
social, de tal sorte que a variabilidade é pesquisada exatamente porque constitui o critério da liberdade
interveniente nos determinismos sociais (ver a este respeito, notadamente, sua obra “Determinismos
Sociais e Liberdade Humana”, já citada). Desse modo, não é de estranhar a ênfase dada por nosso autor
ao acentuar como irredutíveis as tensões verificadas entre os grupos subalternos no interior de uma
classe, tanto mais percebidas do ponto de vista diferencial quanto a classe é simultaneamente um ma-
crocosmos de agrupamentos e um microcosmos de manifestações da sociabilidade. Da mesma manei-
ra, são irredutíveis: (a) - as variações na tomada de consciência de classe; (b) - as variações no papel
desempenhado pelas classes na produção, distribuição e consumo; (c) - as variações das obras de civili-
zação que realizam ou da ideologia que representam. Ou seja, não se pode deixar de perceber um
elemento de liberdade humana, ao menos sob o aspecto coletivo da liberdade, penetrando na realidade
social pela luta das classes sociais, pela tomada de consciência de classe, pelos conflitos entre classes e
sociedades globais, pelas tensões entre forças produtivas e relações de produção. Quanto aos diferen-
tes agrupamentos em tensões e lutas no seio das classes sociais, notam-se as famílias, os grupos de
idade, os agrupamentos de afinidade econômica ou estratos, as profissões, os públicos, os grupos de
produtores e de consumidores, os agrupamentos locais, as associações amicais, fraternais, religiosas,
políticas, educativas, esportivas e assim por diante, isto, sem falar na limitação recíproca entre Estado,
igrejas diversas, sindicatos profissionais, partidos políticos, limitação recíproca esta que favorece a
liberdade individual. Enfim, a percepção da multiplicidade dos agrupamentos no seio de uma classe
varia em função da própria luta das classes: maior a luta, menor a percepção. Por sua vez, o Estado e
os partidos políticos são dois gêneros de agrupamentos particulares que, nos tipos das sociedades
modernas, se apresentam geralmente como instrumentos das lutas das classes. Nota-se ainda que a
redução dos agrupamentos a estratos ou camadas caracterizadas pela disparidade de fortuna ou de
salário é, como já dissemos, um erro, que ameaça a unidade da classe, como totalidade irredutível aos
agrupamentos que nela se integram. As classes sociais têm sempre tendência a alterar a hierarquia
oficial da sociedade em que elas são incluídas; elas não concedem importância às tradições e às regras,
a não ser quando são afastadas do poder ou lhes é difícil mantê-lo. Além disso, a eficácia da consciên-
cia de classe, da ideologia e da organização concretiza-se de maneira diferente para cada classe e varia
em função das estruturas, e, às vezes, das conjunturas, notando-se que a consciência de classe, a ideo-
logia e a organização são (a) - normalmente muito mais pronunciadas no proletariado do que nos
camponeses, ou nas classes médias e, mesmo, do que na burguesia; (b) - tampouco são de intensidade