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CIDADANIA,
O DIREITO DE SER
FELIZ
IGUAIS E DESIGUAIS, ATÉ QUANDO?
Willes S. Geaquinto.
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DEDICATÓRIA
COM AMOR ÀS MINHAS FILHAS DANIELLE E CAROLLINE, COM AS
QUAIS NUNCA ME CANÇO DE APRENDER.
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HOMENAGENS
A RUBEM BRAGA, conterrâneo, jornalista, cronista, comentarista
político e repórter, que, através da sua humildade, de sua luta pela vida e
da emoção das suas crônicas, acabou influenciando na minha escrita e na
vida.
A Herbert de Souza, o Betinho, pela sua profunda compreensão
da importância da cidadania e pela sua atuação motivadora em prol da
justiça social, cuja frase, para mim, a dimensão exata da cidadania: È
preciso descobrir, enquanto é tempo, que o importante é ser cidadão,
é ser gente ”.
A Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança, que, ao falar do
combate à miséria, clareza a prática da cidadania: Qualquer projeto
de combate à miséria só vai dar certo se os próprios excluídos se
tornarem autores de sua ação libertadora. Eles devem ser sujeito, e
não objeto das ações.
Aos companheiros, funcionários do Banco do Brasil, que em cerca
de 2 mil agências espalhadas pelo país, trabalharam espontaneamente
pela Ação da Cidadania contra a Miséria pela Vida.
Aos companheiros de jornada no movimento comunitário de
Varginha e Região do Sul de Minas Gerais.
AGRADECIMENTOS
De modo especial e carinhoso, agradeço aos meus pais adotivos,
Rosa e José, e a todos aqueles que, por suas ações e atitudes,
influenciaram a minha existência e me nutriram de afeto, energia e
entusiasmo.
Estendo também os agradecimentos àqueles que sempre têm
incentivado a minha trajetória e que, direta ou indiretamente,
contribuíram para tornar possível a edição deste livro.
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COMO SE FOSSE UM PREFÁCIO
A instalação dos impérios em apogeu, no século XIX, veio
aprumar imponentemente a “ideologia da ordem”, como diretriz e base do
comportamento político do homem. Por causa dessa ideologia, o
individualismo assumiu inflexões que levaram o politicamente correto a
se confundir com a liberdade - obediência. Tentou-se, então, apagar o
conceito da liberdade pessoal como valor sem limites que promove a
realização plena da pessoa. O processo da “gnose” continua a restauração,
na modernidade, do espírito individualista helênico e ático e ainda nos leva
a reencontrar os resquícios da herança medieval na aventura e na tragédia
humanas, sempre criando limites à liberdade pessoal para desfigurá-la de
sua potência criativa e inovadora.
Mas a vocação humana, antes de tudo, é a liberdade,
conforme restabeleceu o pensamento contemporâneo de S. Lyonnet. Há,
pois, no pensamento contemporâneo, profunda preocupação com o ideal
da liberdade e, portanto, com a libertação do homem, a fim de que ele
alcance todo o conteúdo de sua própria dignidade. Warat sentenciou
que “ninguém é livre se não tem asseguradas suas condições materiais de
existência”.
Nessa luta de promover a liberdade e, assim, esculpir a
verdadeira figura da humanidade, a expressão pós-moderna, com
efetividade e recriação, é sem dúvida, o critério da cidadania: igualdade
que a todos concede, também, igual poder para fruir no mundo das coisas
e do relacionamento entre as pessoas.
A mística dessa esperança é o fator que justifica o
enfrentamento da realidade procedido por Willes neste livro. O
posicionamento do autor repele o inumano para ajudar a reconstruir o
humano, antes que a onda cibernética e tecnológica do século XXI
mecanize a sensibilidade e destrua as razões profundas da criação,
lançando, definitivamente, ao do chão, o entendimento verdadeiro da
liberdade. É por querer integrar plenamente a verdade com a liberdade que
o autor mergulha fundo nos mares de sua experiência vivencial. Extrai, de
sua catedral submersa, dores e força para apontar rumos e discutir
situações intelectuais e existenciais, sem nenhum caráter de infalibilidade.
Essa postura corajosa incentiva a leitura desta obra que é
mais uma importante contribuição para o entendimento do ser humano na
procura de completação em época de globalização. Por todo esse esforço
digno, que emerge da quietude de um livro novo, como se fosse um cântico
bíblico da conquista do essencial. Sinto-me enaltecido por ter tido o autor
como aluno e poder, por causa do deslumbramento de sua personalidade,
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dirigir-lhe como se fosse um prefácio, o meu aplauso e o meu louvor nesta
resenha modesta.
Naylor Salles Gontijo
Emérito Educador e Professor da
Faculdade de Direito de Varginha/MG
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ALÉM DO IMAGINÁRIO
“Cidadania, o Direito de Ser Feliz”, em minha opinião, será um
livro útil, sobretudo àquelas pessoas não despertas para a necessidade de
conquistar este direito. O autor enfatiza, em seu texto, esse caráter de
conquista, de construção, em que o sujeito é ativo. Desmistifica o direito
como outorga e o situa no campo da luta cotidiana por uma vida digna.
Sendo assim, a mensagem do livro pode se converter em argamassa
necessária à construção de um viver (interno e externo) mais feliz.
No meu entender, o que distingue este livro dos demais, sobre
o mesmo tema, é a ênfase no caráter subjetivo da construção da
cidadania. E a subjetividade é algo complexo. Compreendê-la passa pela
imersão no universo simbólico. A autobiografia do autor (A Trajetória de
um Instituinte) é rica de simbolismo. Ajudar o leitor a decodificá-la é uma
das tarefas deste livro. Talvez a mais importante, porque é a que lhe
confere originalidade. O simbólico e o imaginário, embora complexos,
traduzem motivações inconscientes que mesmo as pessoas mais simples
captam.
Carmen Licia M. de Almeida
Professora de Serviço Social
da Universidade Católica de
Minas Gerais.
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ECOS DA TRANSFORMAÇÃO
Em “CIDADANIA, O DIREITO DE SER FELIZ”, Willes
desenvolve o tema numa abordagem inédita. A “TRAJETÓRIA DE UM
INSTITUINTE” traz um testemunho que emite o brilho da estrela que tem
morada no coração do autor. É a luminosidade do guerreiro na luta pela
sobrevivência, na resistência em seguir o caminho da marginalidade, no
trabalho constante, nas cansadas esperas, nos sacrifícios, discriminações,
labor e fadiga. A luz é emitida pelo constante recomeçar e pela vitória
conquistada.
O eixo da “AUTO-ESTIMA” reforça a sensibilidade e lucidez de
Willes que, na mobilização deder transformacional, reconhece o princípio
segundo o qual a pessoa que se rejeita, que não reconhece o seu
próprio valor, não conseguirá nunca influenciar seus companheiros.
Numa postura de modernidade, o autor provoca a dimensão
interativa ao propor que o Capítulo XI seja escrito pelo leitor. A proposta
representa a quebra dos círculos viciosos que mantêm as pessoas isoladas
e alienadas.
Permeando os dez capítulos, percebemos a articulação da
teoria e da prática como resultante da vivência do autor, para quem a
“Cidadania implica em influir no ambiente em que vivemos, em vez de se
deixar levar por ele”.
Lydia Maria Braga Foresti, educadora
Ex Diretora 41a. Superintendência
Regional de Ensino de Varginha-MG
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A TRAJETÓRIA DE UM INSTITUINTE
(resumo de uma autobiografia)
Cada um de nós compõe
A sua própria história.
E cada ser em si
Carrega o Dom de ser capaz,
De ser feliz”.
Renato Teixeira/Almir Sater
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, “vim ao
mundo” sem pai. Quando contava com um ano de idade minha mãe
mudou-se para Curitiba, no Paraná, onde, por força do infortúnio, acabei
abandonado com um ano e meio de vida. Dos dois até os sete anos fui filho
adotivo de uma família humilde que, além de me renascer para a vida,
tratou-me com muita dedicação e afeto.
Ao reaparecer, aos sete anos, abruptamente na minha vida,
minha mãe biológica não retirou-me da família adotiva, mas, também,
deu-me um padrasto e com ele o acréscimo de novos transtornos,
espancamentos, fugas, morada na rua, no circo, fome, frio, e outros
acontecimentos próprios desse tipo de experiência. Depois de quase um
ano, devido à violência dos espancamentos a que fui submetido pelo
padrasto, o Juiz de Menores retirou da minha e o pátrio poder e fui
internado em um educandário de católica onde vivi até os doze anos,
completando ali o meu curso primário.
Depois desse tempo, com a minha fuga desse educandário,
passando pela Delegacia de menores, e internação em um centro de
recuperação, - Centro de Formação Profissional Para Menores de Campo
Comprido (um nome pomposo) - uma Febem melhorada em vista de hoje
em dia , retomei a minha caminhada entre a rua e os “Abrigo de Menores”,
uma vez que dos sete aos oito anos, por força das circunstâncias
mencionadas, já havia experimentado da vivência da rua.
Convivendo com crianças de todas as idades, algumas com
histórias semelhantes à minha, outras mais desgraçadas e iniciadas em
algum tipo de delinqüência, conheci o inferno a que sempre se têm
submetido as crianças pobres e excluídas em nosso país. Mesmo sabendo
que na época as condições eram, por assim dizer, melhores que as de hoje,
guardo na memória as violações tanto de direitos como da própria
condição humana a que estávamos sujeitos.
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Num período de quase sete anos, em que sempre estive entre a
rua e esse segundo internato, presenciei e vivenciei acontecimentos dignos
de estórias e filmes de ficção, barbarismos cometidos não pelos
internados maiores, como também por funcionários pagos, a princípio
para disciplinarem e cuidarem das crianças e adolescentes.
Espancamentos, pederastia, abusos sexuais, exploração de todos os
gêneros, quase sempre davam a tônica dos “cuidados” externados àqueles
que ali estavam, de uma maneira ou de outra, colocados à margem da
sociedade.
Mesmo vivendo em condições desfavoráveis para o
desenvolvimento de uma educação razoável, acredito que influenciado
pelos ensinamentos dos meus pais adotivos, onde destaco a importância
da minha e, e em seguida, pela disciplina do educandário católico,
lembro-me que sempre travei uma luta em busca do saber e da superação
da condição marginal a que estava submetido. Amparado no fato de que o
rústico ensino da minha mãe adotiva me fizera leitor antes mesmo de
freqüentar uma escola, cultivei a idéia de que nada seria impossível para
mim, desde que eu fizesse da vontade de vencer a minha melhor
ferramenta.
Importante destacar que, no período em que vivi na escola
correcional - outro nome dado ao internato -, nunca pratiquei um roubo ou
ações consideradas violentas, apenas pequenos furtos de frutas, legumes
e coisas do gênero, utilizadas para aplacar a fome e vontades normais para
uma criança vivendo sob aquelas condições extremamentes adversas. O
que me fez sobreviver dentro da Instituição e, até mesmo na rua, sempre
foi o uso da minha inteligência acoplada ao saber adquirido nos livros e na
escola, e à vontade, sempre ativa, de buscar um destino diferente daquele
ao qual, infelizmente, a maioria das crianças e adolescentes que conheci
na época estavam fadados, ou seja, transformarem-se em ladrões,
homicidas e outros gêneros de delinqüentes, coisa comprovada anos
depois na leitura das páginas policiais dos jornais de Curitiba.
O curso primário completo me proporcionou algum destaque
no segundo “abrigo de menores”, que mais de 90% dos internos mal
sabiam ler. E mesmo naquele ambiente adverso eu e alguns outros nas
mesmas condições conseguimos “estudar fora”, quer dizer, freqüentar um
ginásio externo, onde cursei até a segunda série. Para dar uma idéia das
dificuldades dessa empreitada, basta dizer que o transporte até o ginásio
era feito na boléia de um caminhão, fizesse sol, chuva ou caísse geada.
Suportei; suportamos tudo isso, por pouco tempo, que a humilhação era
grande naquele colégio de classe média, distante da nossa realidade
“marginal”. Era doído não ter merenda na hora do lanche, não ter alegria
para brincar na hora do recreio.
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Acabada a experiência de “estudar fora”, decepcionado e
angustiado me recolhi a uma nova rota dentro do internato. Mesmo tendo
sido instalado dentro de nosso ambiente um ginásio, levado por um
professor de matemática incompetente e por uma pedagogia cega às
nossas diferenças, aboli a escola da minha vida aos 14 anos. Acabei,
então, indo morar, transferido, por cerca de oito meses, num internato
rural no interior do Paraná, numa localidade chamada Tibagi.
aprimorei meu gosto pelas coisas da roça e meu espírito de liderança,
sendo aos quinze anos levado a tomar conta, a ser capataz, do sítio do
Diretor da Escola.
Depois desse período, de volta ao internato de onde saíra,
consegui que me deixassem trabalhar na cozinha, uma maneira de ter
certeza de não passar fome, além de obter algum tempo livre para viver
aventuras pelas matas e riachos, ali existentes em abundância. Nesse
período, desenvolvi a arte de escrever cartas e cobrar por elas; costumava
emocionar os pais dos internos, aqueles que os tinham, ao detalhar o dia-
a-dia vivido ali naquele ambiente. O pagamento era feito através de muitas
“moedas”: balas, pés-de-moleque, cocada, paçoca, cigarro, estilingue,
“gibis”, alguns brinquedos e outras bugigangas .
Nesse período narrado aconteceram muitas outras coisas,
boas e ruins, as quais detalharei numa outra oportunidade, talvez num
futuro livro autobiográfico. O significativo, contudo, foi o fato de nunca ter
abandonado o hábito da leitura. Diziam, no internato, que eu era louco por
livros e revistas, e que quem quisesse fazer amizade comigo tinha que
começar me dando um gibi ou algum livro, mesmo que velho. A leitura era
importante para mim, porque dava uma dimensão maior ao meu mundo,
quer dizer, o meu universo ia além da vida no internato ou das ruas,
quando eu me refugiava nelas. De certa forma, era o meu escape: fuga da
miséria, da marginalidade, do rumo à delinqüência.
Saindo do internato e da vida de rua, depois de algumas
peripécias, acabei servindo o exército (13o. Regimento de Infantaria - Ponta
Grossa - Paraná), experiência memorável, de fel e mel. Naquela época,
início de 1969, senti-me um perfeito subversivo naquela disciplina, para
mim desconhecida, castradora e inibidora da minha auto-estima. E eu que
ingenuamente pensava em seguir carreira no exército brasileiro, um jeito
de fugir à miséria, fui marcado pelo estigma do mau comportamento”,
devido a minha rebeldia inata e compreensível. Mas, nem por isso
lamentei; afinal, foi graças ao dinheiro ganho de meretrizes e com o
comércio de comida de primeira para os filhos de papais ricos, que não
suportavam o rango (boião, comida) servido para os soldados (trabalhei na
cozinha dos Oficiais e Sargentos), pude fumar cigarro de filtro (um luxo
entre os miseráveis soldados), ouvir muitos discos, ir aos bailes, namorar e
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ler muitos livros no tempo que passava recluso na cadeia do regimento.
Ampliar o meu conhecimento, essa ainda era minha rota.
Conheci meu pai legítimo aos vinte anos e uma outra parte da
família, irmãs e irmãos, mas isso não mudou muito a minha vida, a não
ser o aumento de biografia e um cabedal de decepções. Sonhava com um
encontro caloroso com meu pai; emoções, puro cinema dramático, mas,
nada isso. Meu pai mostrou-se muito pobre afetivamente, e o tempo que
vivi com ele foi de inseguranças e tensão, fui mais explorado na minha
força de trabalho do que os seus próprios empregados Alguns registros
mais alegres deram-se com minha única irmã de pai e mãe, tios, tias,
padrinhos, avós (meu bom avô, companheiro de baralho), e a vida seguiu
seu velho e surrado script.
Aos vinte e cinco anos, tinha vivido e sobrevivido a quase
tudo de bom e de mau, inclusive à morte do Jackson, meu irmão de 19
anos, morto por um tiro e por não ter tido a felicidade de bons livros e
boas companhias. Eis que, depois de muito viajar, consigo retomar meus
estudos na minha terra natal, Cachoeiro de Itapemirim, em 1975. Na
esteira do ensino supletivo, volto a meta que sempre perseguira, a
conquista do saber. E no curto espaço de dez meses, contando com o
incentivo de familiares e pessoas alheias a esse círculo, conclui o primeiro
grau, o segundo grau e passei no meu primeiro vestibular, no curso de
Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia de Cachoeiro.
Foi nessa empreitada que, pela primeira vez, tomei
conhecimento daquilo que anteriormente, para mim, era um ente subjetivo
e até mesmo intuitivo, a cidadania. Foi no estudo da matéria de O.S.P.B
(Organização Social e Política Brasileira) que me deparei com a tal da
cidadania. Foi que, através de incansáveis leituras, entendi a razão de
tudo o que fizera até então.
Ao participar do movimento estudantil, via Casa do Estudante
de Cachoeiro, no contato com outras pessoas e lideranças estudantis, na
leitura de revistas e jornais da época, alguns até clandestinos, vislumbrei
que no campo participativo e solidário estava o princípio, a mola mestra da
conquista da cidadania. A partir daí, entendi que a minha busca por um
lugar ao sol, que o vencer na vida tinha o seu sentido como conquista da
auto-estima e da cidadania; que o meu sucesso não dependeria de ter
um bom emprego; o que desejava era uma vida com dignidade e que, além
dos deveres, eu também tivesse direitos, como cidadão.
Empurrado pelo medo e pelas ameaças do autoritarismo
vigente - que via em cada tentativa de resgate da cidadania uma ameaça à
segurança nacional -, tive que sair de Cachoeiro e cair no mundo
novamente, voltando ao Paraná, dessa vez a Ponta Grossa. Mesmo tendo
sido aprovado no vestibular da Universidade Estadual, agora para Estudos
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Sociais, por alguns motivos de ordem política e familiar, tive que deixar a
cidade.
Desembarquei, no princípio do ano de 1977, em Belo
Horizonte onde, com a mesma ânsia, agora reforçada pela busca da
cidadania, e contando com a solidariedade de amigos ali descobertos e de
outros incentivadores, fui galgando degraus. Entrei na Universidade
Federal de Minas Gerais, contando com o apoio, para mim fundamental,
da Fundação Mendes Pimentel de Belo Horizonte, onde estudei Filosofia,
reoptando depois pelo estudo do Direito, vindo a concluir o curso com
mérito, anos mais tarde, na cidade de Varginha, Sul de Minas Gerais. Isso
depois de uma passagem de três anos por Manaus e Tabatinga (como
funcionário do Banco do Brasil), na beira do Rio Solimões, no Estado do
Amazonas onde, índios, mestiços e negros, “todos pobres”, como diria
Caetano , vivem a perversidade da falta de cidadania.
Acredito que a minha história foi o que me levou a participar
ativamente, por mais de quinze anos do Movimento Comunitário da cidade
de Varginha e de algumas outras cidades da região do sul de Minas Gerais.
Nesse período fui presidente, durante cinco anos, de uma entidade não
governamental, denominada Plenária dos Conselhos Comunitários de
Varginha, que congregava os Conselhos de bairros da cidade. Fui um dos
fundadores e presidi também uma entidade de defesa e preservação do
meio ambiente, a Associação Ecológica Vertente. Como representante de
usuários do SUS, no Conselho Municipal de Saúde, fui presidente do
mesmo por duas gestões.
Além da atividade sindical, onde ajudei a fundar alguns
Sindicatos de trabalhadores, incluindo o dos Bancários de Varginha,
participei também como militante político durante um tempo considerável
(11 anos), no Partido dos Trabalhadores. Com base nessa vivência, mesmo
entendendo que a política de modo substantivo é um dos instrumentos do
exercício da cidadania, concluí que a atividade político-partidária no
Brasil, devido aos jogos de interesses não saudáveis e a seus vícios
seculares, desqualifica, sobremaneira, a auto-estima e a personalidade
daqueles que apenas se pautam eticamente pelos interesses da maioria,
conferindo à cidadania um valor inferior àquele que essencialmente é da
sua natureza.
Sobre, a experiência, das entidades comunitárias e não
governamentais, apesar de saber das dificuldades que esse tipo de
organização enfrenta, pelas causas mais diversas, mantenho e carrego
comigo a convicção de que, principalmente, através dessa prática
participativa é que será possível realizar o ideal da democracia
representativa e direta, como sei também, que a âncora fundamental a ser
conquistada é a democratização do saber, pois é através dele que se chega
à consciência e ao exercício da cidadania.
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Para aqueles que não acreditam nisso, apenas exponho meu
testemunho concreto dessa luta, que, é impossível separar a luta pela
sobrevivência e pela dignidade humana, num país miseravelmente tão
desigual como o nosso, da luta pelo saber, da luta pela condição de ser
cidadão em toda a sua totalidade.
ainda muitas histórias para contar, o que pretendo fazê-lo
num futuro livro autobiográfico ou num livro dedicado a questão da auto-
estima. Os detalhes dessa trajetória, marcada por algumas tentativas de
suicídio ( a primeira aos 8 anos de idade); As fugas do abrigo de menores
apenas para comprar, no centro de Curitiba, livros e revistas usadas, como
“Seleções” e “O Cruzeiro”; o caminho das drogas e do alcoolismo; a vivência
de ser andarilho; os tempos de fome e frio; a experiência amazônica( a
realização do sonho de conhecer a floresta e a convivência com o medo de
morrer nela); como deixei a advocacia e, depois de novos estudos, optei
por ser terapeuta, etc.
Fecho este resumo, contando que hoje ainda reservo tempo para
atuar voluntariamente, realizando palestras motivacionais, Encontros e
Workshops para escolas e outras entidades beneficentes e sem fins
lucrativos. Porque acredito que alguém como eu, “que viveu o que vivi”,
tem o dever humanístico de compartilhar todo o conhecimento adquirido
nessa trajetória. o por algum aspecto de vaidade, mas, pela esperança
de que outros despertem o “instituinte” que têm em si próprios e venham
somar forças nessa profícua luta pela cidadania humana e integral.
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POR QUE CIDADANIA?
A vontade que se faz asas
É que te elevará.
A sabedoria é o farol.
Cidadania. Nos últimos anos , mais do que em outros tempos,
ouvimos falar muito dela. Porém, ao leigo, ao homem simples do povo,
muito pouco se tem explicado a respeito. Eu, por experiência própria,
como trabalhador braçal quefui, bóia-fria, servente de tudo, peão,
mão-de-obra barata e desqualificada, sem carteira assinada e outros
direitos básicos, quase nada sabia de cidadania, apesar de praticamente
ter passado uma vida toda tentando ser cidadão.
Num país onde muito pouco se exercita a cidadania, onde a
cada instante, a dignidade humana é ultrajada em nome de um
desenvolvimento onde o homem é apenas um número inanimado e sem
alma, escrever este livro é um desafio. E faço isso pensando nos brasileiros
e também nos excluídos do planeta, os sem-tudo e sem-nada, que
compõem a grande massa dos SEM-CIDADANIA.
Ouvimos discursos inflamados, conclamações à cidadania,
mas, na maioria das vezes, são chamamentos sem sinceridade. A
demagogia tem sido a tônica daqueles que costumam reduzir o exercício
pleno da cidadania a atitudes isoladas em torno de causas que, nem
sempre, são as da maioria; o desconhecimento pelo povo, da essência dos
seus direitos e responsabilidades, contribui também para as ações
manipuladoras da vontade popular.
A história brasileira tem poucos registros de ações onde a
cidadania tenha falado mais alto, contribuído para mudanças substanciais
na vida do povo. Talvez o fato mais recente seja o impedimento do ex
presidente Collor, mas nem por isso, a vida da maioria sofreu grandes
alterações. A miséria, por exemplo, continua sua feroz trajetória. Aliás,
vale aqui destacar outro exemplo, o da campanha da Ação da Cidadania
Pela Vida, Contra a Fome e a Miséria, coordenada, na época, pelo
sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, cujos resultados práticos até hoje
têm apontado soluções, resgatando a cidadania e mobilizado centenas de
milhares de pessoas pelo Brasil afora.
Por outro lado, quando o homem comum busca informações
ou esclarecimentos, a respeito do assunto cidadania, acaba ouvindo teses,
verdadeiros tratados, mas, continua a se perguntar: “... e daí, para que
serve a cidadania?...” Foi partindo dessa indagação e de posse daquilo que
aprendi na vida, na luta diária, nos livros e na prática das organizações
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sindicais e comunitárias das quais participei, que resolvi escrever este
livro. Buscando sempre, de maneira simples e clara, fornecer informações
e até alguns preceitos sobre a cidadania e o seu vital exercício.
Não existe neste livro a pretensão de dar receitas acabadas
sobre o exercício da cidadania e nem ser definitivo, posto que as
observações nele contidas têm como objetivo colocar, na ordem do dia,
uma discussão, uma reflexão mais concreta e objetiva sobre a cidadania,
uma vez que acredito ser ela o caminho para diminuir a distância das
injustiças e das desigualdades sociais.
Também assumi tal tarefa por acreditar que o exercício pleno
da cidadania é a mola mestra do desenvolvimento da pessoa humana,
como agente realizador de transformações históricas, na busca do
aprimoramento das instituições políticas e sociais e do resgate dos ideais
de igualdade e fraternidade; e por entender, também, que o homem
atuando de forma consciente e solidária pode mudar a realidade tal qual
ela se nos apresenta nos dias de hoje.
Finalmente, por acreditar firmemente que à cultura do
comodismo, da espera do milagre, da mágica e do paternalismo, que tanto
faz vicejar o poder de manipulação das carências humanas, a ação da
cidadania deve contrapor-se de maneira concreta e objetiva, através da
prática e da mobilização participativa, apresentando soluções eficazes e
eficientes e fazendo valer a vontade da maioria. Se o que se deseja é
construir democracias estáveis, instituições sadias e vida com dignidade,
isto será possível, em qualquer lugar do mundo, quando cada pessoa,
independente de sexo, credo religioso, cor, idade, etc., seja de fato e de
direito um cidadão.
Para concluir esta pequena justificativa, digo que este livro,
antes de ser um tratado, tese ou coisa similar, pretende ser uma
contribuição, um ato de na possibilidade da evolução humana, pois,
acredito que cada pessoa, cada cidadão, deve contribuir com sua parte,
com um pouco de si, para tornar o lugar onde vive neste planeta, mais
feliz, mais comunitário, solidário e fraterno. A cidadania humana em
toda a sua extensão e integralidade deve ser o novo paradigma a guiar o
homem ao que chamo de principal direito universal, o direito que toda
criatura humana tem de ser feliz.
Willes S. Geaquinto
Dezembro de 2001
16
Capítulo I
DO QUE SE FALA E DO QUE SE FAZ
Na escola nos ensinam que cidadania é o conjunto de
direitos e deveres civis e políticos de um Estado. Por sua vez, cidadão é
o indivíduo, a pessoa no exercício da cidadania, quer dizer, é o cidadão
no gozo dos direitos e no desempenho dos deveres perante o Estado.
Uma definição subjetiva e essencialmente jurídica, que alguns, de forma
proposital, confundem também com o caráter de nacionalidade, ou com o
direito de votar e ser votado.
Se fosse tal qual a definição, quem sabe tudo seria muito
simples. Ocorre que exercitar a cidadania não é tão fácil assim,
principalmente devido a uma série de fatores e dificuldades que, aos
poucos, ficarão evidentes neste livro. É oportuno, ainda, observar que, ao
exercitar a cidadania, as relações interpessoais também devem ser
consideradas, uma vez que o Estado é apenas uma figura de representação
política da nação que, em tese, deveria garantir o pleno gozo dos direitos e
o cumprimento dos deveres. Pode-se dizer, dentro dessa perspectiva, que o
vir a ser da cidadania se realiza nos atos e atitudes dos indivíduos, e
não apenas no seu enunciado, no seu conceito.
Embora classicamente a cidadania seja uma qualidade
atribuída ao cidadão, na verdade ela principia na pessoa humana; a lei
pode trazer no seu bojo preceitos, definições e formas reguladoras da
cidadania, porém, ela não a realiza, não torna o indivíduo cidadão apenas
pela subjetividade. A compreensão de que para ser cidadão bastaria
simplesmente cumprir as leis é totalmente ultrapassada, aliás, esta
sempre foi a lógica do discurso da chamada classe dominante; uma
maneira de reduzir e limitar o exercício da cidadania ao cumprimento
unilateral das regras legais, sem que houvesse a contrapartida do Estado
em proporcionar condições para o gozo dos direitos fundamentais dos
cidadãos.
De forma clara, concreta e objetiva, a Cidadania não é o seu
enunciado, mas, sim, o seu exercício. Ela emana da sua prática, do
compromisso consciente do indivíduo ao atuar, ao assumir o papel de
agente da transformação histórica e ocupar o seu espaço de forma objetiva
dentro do universo político, econômico, cultural e social. A cidadania é que
qualifica o cidadão e ela se torna transparente e concreta através da
ação. O indivíduo estanque, parado, é indivíduo e não sujeito instituído
de cidadania. É possível afirmar, utilizando-se do que disse Raul Seixas
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em Ouro de Tolo: aquele que fica sentado no trono de um apartamento,
com a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar
dificilmente chegará a ser um cidadão, embora muitos sejam levados a
acreditar no contrário.
A cidadania é também, por assim dizer, uma via de mão dupla:
traz consigo o querer, o desejo, a reivindicação da concretização de um
direito, e, por outro lado, enseja uma contrapartida, uma responsabilidade.
A comunidade de um bairro, por exemplo, ao reivindicar o atendimento do
seu direito ao lazer, solicitando à Prefeitura a construção de uma quadra
de esportes, ao ser atendida, assume a responsabilidade pelos cuidados
do bem em questão. Concretamente, isso significa que a cada “gozo de
direito” corresponde uma nova ação do sujeito da cidadania, aquela que
preserva o direito. Sendo assim, a ação de cidadania “não se aliena e nem
se submete”, pelo contrário, a dinâmica do seu exercício é que o tom da
emancipação do cidadão.
Vale destacar ainda que, de forma relativa, as chamadas
cidadanias civis e política estão num campo onde, pode-se dizer, estão
mais próximas da sua realização; por outro lado, a cidadania social ainda
está por se fazer, se concretizar. O espaço que separa os que têm dos que
não têm”, os incluídos dos excluídos”, os iguais dos desiguais”, ainda é
um longo caminho que precisa ser percorrido a passos largos e sem
trégua.
18
Capítulo II
NEM TUDO SÃO FLORES
“E há que se cuidar do broto,
pra que a vida nos dê flor
e fruto”.
Milton Nascimento
Como disse no capítulo anterior, a cidadania não se instala
apenas pelo enunciado da lei, o é uma condição líquida e certa. E isso
se verifica devido a modelos preexistentes na sociedade, modelos estes que
habitam, por assim dizer, o próprio inconsciente coletivo, o imaginário,
influenciando o pensamento, os juízos de valores, os comportamentos e
tudo o que daí resulta. São esses modelos pré-estabelecidos que
dificultam o exercício da cidadania. Dentre esses modelos destaco alguns,
tomando como base um texto denominado “O Que é Preciso Para Ser
Cidadão”, de autoria do Pe. Juvenal Arduini, a fim de que seja possível
entender aquilo que denomino de dificuldades da cidadania.
No Brasil desde os seus primórdios, por força da concentração
do poder econômico, a começar pelo período escravagista, estabeleceu-se
uma divisão social onde a maioria do povo é considerada e se acredita
inferior. A partir daí, da primazia selvagem do capital sobre o trabalho, é
que foram delimitados os direitos e deveres de cada um.
Se antes eram os senhores de escravos que dominavam, hoje
temos usineiros, latifundiários, empresários nacionais e multinacionais a
gerirem o destino da maioria do povo brasileiro. São os “cidadãos de
primeira classe”, proprietários, inclusive, de meios de comunicação e do
acesso ao conhecimento, que gozam dos seus extremados direitos
ignorando suas obrigações e os direitos dos demais. São eles que
acumulam também, além de propriedades e dinheiro, sempre mais poder
político, num sistema de subordinação e submissão do povo, considerados
como “cidadãos de categoria inferior”; é o modelo sempre em vigor da casa
grande e da senzala”: a opressão dos senhores e a condição de oprimidos
dos escravos.
Derivado do modelo acima, chamado por muitos de
oligárquico”, temos o paternalismo”, onde a maioria do povo, dentro da
sua visão de inferioridade e abandono, de forma filial e submissa,
19
buscando satisfazer as suas carências e necessidades de toda ordem,
recorre aos políticos detentores do poder, e estes, por sua vez, posando de
pais do povo, distorcem a realidade e propagam a falsa idéia de que são
generosos e bons, ao invés de exploradores e responsáveis pela miséria
existente. Esse modelo, na verdade, reforça a submissão do povo à
exploração das classes dominantes, pois, na medida em que tais políticos
dão migalhas para aplacar momentaneamente a miséria reinante,
contribuem também, de forma significativa, para perpetuar a injustiça
social e econômica. O paternalismo camufla o papel do explorador,
transformando-o num benemérito, atribuindo a este qualidades de um
cordeiro, quando na verdade é o lobo que demarca a sua personalidade e
as suas atitudes.
Outro modelo é aquele que se refere ao fatalismo, à fatalidade,
ao inevitável, ao destino. A idéia de que não como mudar a rota dos
acontecimentos, de que tudo transcorre naturalmente”, é pregada e aceita
como se fosse algo imutável. Muitas crenças são tornadas verdades
absolutas, inclusive aquela de que Deus é que fez o mundo assim”,
portanto, não há o que mudar apenas conformar-se.
Esse conformismo, em boa dose, pregado pela maioria das
religiões, contribuiu para a perpetuação da dominação, das
desigualdades. Essa é a lógica que sempre uniu algumas religiões e o
poder, não no Brasil, mas, também, nos chamados países do terceiro
mundo, onde vicejam os “sem-cidadania”. Vale lembrar, que nas últimas
décadas, setores progressistas da igreja católica e de algumas outras
religiões vêm incentivando, através das chamadas “políticas sociais”, uma
maior participação política e a conscientização para a cidadania.
Outros tantos modelos existem e estão, firmemente,
impregnados no consciente e no inconsciente coletivo a obstruir, a
impedir, a dificultar o desenvolvimento de uma consciência de cidadania.
Além disso, tais formas de manter o indivíduo estático e conformado
renovam-se a cada dia; mensagens sutis ou não, explícitas ou não, são
enviadas a todo o momento pelos meios de comunicação, de maneira a
fazer crer à maioria explorada que, apesar de tudo, este é o melhor dos
mundos”. Aliás, a democratização do acesso ao saber, que para mim é
fundamental para tornar-se cidadão, tem que passar também,
inevitavelmente, pela democratização dos meios de comunicação. Sem que
isso ocorra, as elites, que ainda hoje detêm esse monopólio, continuarão
impedindo o desenvolvimento da cidadania.
Se dificuldades existem, elas devem ser vencidas. Essa
motivação consciente deve ser a essência das atitudes de quem deseja ser
cidadão. Nos próximos capítulos certamente outras dificuldades ganharão
clareza, porém, em contrapartida, o modo de combatê-las também.
20
Capítulo III
DIZE-ME COM QUEM ANDAS
Que te ouçam a fala
Por toda a cidade.
E a dignidade
Possas em vida recriá-la.
A essência do regime político democrático está alicerçada,
principalmente, no princípio da soberania popular, o que, de maneira
simples, significa governo do povo. Dessa afirmativa, uma pergunta, entre
tantas outras, se destaca e aguça os sentidos: De que povo?
É comum ouvirmos dos porta-vozes das oligarquias
dominantes, que a democracia existe porque quem elege os governantes é o
povo , que o voto é o momento maior da cidadania. E surgem outras
indagações: será que todo povo que vota é cidadão? Em que condições o
povo exercita o seu voto?
Segundo o Dicionário de Política, de Norberto Bobbio, Nicola
Matteucci e Gianfranco Pasquino, a democracia contém procedimentos
que são universais”, e dentre estes destaco alguns para embasar aquilo
que chamo de confronto entre cidadania e democracia:
I- Todos os eleitores devem ser livres e votar segundo a própria
opinião formada o mais livremente possível...;
II - Devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em
condição de terem reais alternativas...”.
Tomados os dois enunciados acima, é possível entender o
porquê do confronto entre cidadania e democracia. Sem subjetivismo
algum, declaro que somente o cidadão no exercício pleno da sua cidadania
é livre para votar de acordo com a sua própria opinião, entendido
inclusive, que ele a forma, exercitando livremente o seu senso crítico.
Portanto, não como desconhecer, minimizar ou subestimar a
necessidade da existência de condições democráticas favoráveis para o
exercício da cidadania, uma vez que a sobrevivência da democracia está
intimamente ligada a essa prática. Acredito, então, que o pilar, a principal
condição, da democracia deve ser a cidadania, claro está, o seu exercício e
não apenas a outorga legal.
21
Um dos ideais que norteiam a democracia, pelo menos
implicitamente, é a igualdade, que tem sido apresentada como se pudesse
mesmo ser realizada, iludindo de certa forma o indivíduo mais crente. A
desigualdade é mostrada como se fosse apenas uma carência individual e
material, econômica. Essa abordagem interessa tanto aos plantadores das
desigualdades, como também aos revolucionários da miséria e demagogos,
pois, individualizando e dando uma face apenas material para a
desigualdade, sugere-se a possibilidade do seu fim. Ocorre que a
desigualdade não se mede apenas pelos que não têm”, mas, também,
pelos que não são”, pelos que não sabem”, pelos que nada esperam”,
como bem exemplifica Pedro Demo em uma de suas obras reflexivas.
Realizar o fim das desigualdades é difícil, realmente utópico,
porém é possível, democraticamente, proporcionar condições de igualdade
de oportunidades, assim como é possível alcançar a emancipação, o que,
como diz o mesmo Pedro Demo, não se instaura a igualdade, mas se
possibilita uma sociedade mais democrática...”. E isso, certamente não
será servido em uma bandeja, caberá ao cidadão essa conquista. Ampliar o
espaço das chamadas conquistas democráticas é tarefa da cidadania, do
seu fazer constante.
Como disse o poeta, é preciso estar atento e forte”. Existem
situações em que tanto a democracia como o exercício da cidadania vive
momentos do chamado faz-de-conta. Exceções à parte, um exemplo disso
acontece quando se propõe a participação popular na elaboração de Planos
Plurianuais, Planos de Obras ou Leis Orçamentárias municipais. As
lideranças comunitárias, depois de consultarem suas comunidades,
passam praticamente um ano discutindo com técnicos e secretários
municipais a definição das obras consideradas prioritárias para suas
cidades. Depois disso, normalmente, as Leis são aprovadas, quase
sempre, por unanimidade pelas Câmaras Municipais. Conclusão: A
experiência mostra que passados quase quatro anos, a maior parte das
obras prioritárias eleitas pelas comunidades não são realizadas, e as
prioridades de fato acabam sendo ditadas por outros interesses,
mormente político-eleitorais e econômicos.
O que se deduz desse fato é que é puro engano dizer que as
condições da democracia se medem apenas pelo direito de expressão, de
falar. Ao contrário, a boa democracia é aquela que garante ao cidadão o
direito de ser ouvido, é aquela que proporciona condições objetivas para a
realização da cidadania.
22
Capítulo IV
HOJE, AMANHÃ E DEPOIS DE AMANHÃ
A educação só é válida,
se renova e transforma.
Reiventado, o saber valida
O bem que de ti transborda.
Falar de educação, ao contrário do que possa parecer, não é
tarefa fácil, que no campo conceitual existem divergências e
diferenciações, principalmente no que se refere aos termos educação e
instrução. Além disso, outras questões se impõem como, por exemplo, qual
o seu objeto? Ela é adquirida na escola ou na sociedade? A quem ela serve
como instrumento de dominação, ideológico, etc.? Não é meu objetivo entrar
na discussão dessas diferenças e nuanças, uma vez que o tema aqui em
exposição é o da cidadania e sua relação com alguns elementos que podem
interferir ou não no seu exercício, ou seja, a educação aqui será tratada
de forma abrangente, “como o povo entende”, como costuma dizer um
amigo meu.
Diz a Constituição brasileira: “A educação, direito de todos e
dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho”. Se tomássemos como base o dito constitucional, sem levar em
consideração a realidade, com certeza diríamos que a educação no Brasil
serve à causa da cidadania. Ocorre que entre o enunciado e a prática
existe um vácuo a ser preenchido, não pelo Estado, mas também pela
família e pela própria sociedade. E o irônico, ou interessante nisso tudo, é
que o exercício da cidadania que o texto constitucional propõe é
justamente aquilo que deve ser acionado para garantir que a educação
cumpra o seu papel. Disso tudo, depreende-se que a educação para a
cidadania não depende única e exclusivamente da educação oficial”, da
instrução escolar, como preferirem, uma vez que esta tem educado para a
submissão, para uma “cidadania menor” reforçando as desigualdades.
A reflexão que proponho a partir do que foi dito, se baseia
principalmente no fato de que a educação deve ser a base para o exercício
da cidadania, e para que isso aconteça é necessário a compreensão de que
deve-se rever todo o sistema educacional vigente, pois, da forma como
23
ele hoje se apresenta, não deixa de ser mais um agente de inibição do
exercício da cidadania.
Se o próprio professor ou educador não se garante como
cidadão, tem a sua dignidade, sua auto-estima e o seu amor próprio,
ultrajados a todo instante, como pode ele ser um agente disseminador,
motivador da cidadania? Aqui tomo a liberdade de transcrever um trecho
de um artigo de David L. Bogomoletz, em Crise da Cidadania...-, que vem
enriquecer essa reflexão: “... a educação para a cidadania poderia ser uma
idéia louvável. que para ser uma prática também louvável, é
indispensável que os que ensinam - do governo ao professor - sejam um
exemplo concreto do que está sendo ensinado. Caso contrário, acaba-se
ensinando a hipocrisia. Isto, acabou sendo muito bem ensinado e,
infelizmente, bastante aprendido”. Sobre o mesmo tema diz Huberto
Rohden: toda a arte de educar consiste em despertar e estimular no
educando suas potencialidades dormentes”, em outras palavras, a
educação deve ser um estímulo ao desenvolvimento do homem em toda a
sua essência, capacitando-o para a vida.
Sobre isso, lembro-me das dificuldades que enfrentei nas
escolas por onde passei, nas dificuldades para entender o confronto entre
a realidade em que eu vivia e aquela que tentavam me fazer crer que
existia. Penso que, se eu tivesse dependido apenas dos estímulos da
escola, acreditem: hoje eu o estaria aqui propondo esta reflexão.
Possivelmente, se não estivesse na escuridão de uma cela, estaria
representado por mais um número na estatística dos miseráveis, dos sem-
cidadania.
Entendendo o exercício da cidadania como uma potencialidade
que precisa ser estimulada, motivada no indivíduo, o como fugir à
conclusão de que a educação, em todas as suas formas, deve servir ao
cidadão. Embora saiba que o exercício da cidadania assusta as elites, às
oligarquias, isso tem que ser confrontado, a não ser que queiramos
continuar perpetuando as desigualdades, ou então continuar no faz-de-
conta de que queremos mudar alguma coisa.
De nada valem os discursos tipo: a solução é a educação”, se
a ação política concreta não acontecer na mesma direção. Há que se
repensar a educação a partir do básico, do acesso à escola, dos currículos
escolares, da formação dos professores, da construção de uma ética do
professor, dos salários, da gestão democrática e comunitária da escola, da
participação comunitária nas decisões político-pedagógicas. Tudo isso,
bem entendido, partindo da instituição de uma nova pedagogia que, como
diz o mestre Paulo Freire, tome a educação como prática da liberdade e da
cidadania; uma educação voltada e compromissada com o resgate da
cidadania humana em toda a sua extensão.
24
Certamente, dificuldades existem para que a educação
cumpra alguns dos objetivos propostos; o que posso dizer é que não são
intransponíveis; acima dos interesses econômicos e políticos, é chegada a
hora da cidadania também “reinventar a educação”.
25
Capítulo V
O BOM SENSO É CRÍTICO
Olhar para distinguir,
Ver, Julgar e Agir.
Muitas pessoas, estudiosas ou não, são unânimes em afirmar
que devemos ao regime autoritário, implantado no Brasil a partir de 1964,
que durou mais de 20 anos, a perda do senso crítico do povo brasileiro.
Tenho minhas dúvidas quanto a isso, porque nesses tantos anos de
vida nunca vivenciei em tempo algum e nem obtive conhecimento
histórico sobre o exercício dessa qualidade pelo povo de uma maneira
geral, a não ser em algumas elites intelectuais ou políticas.
De resto, o senso crítico pouco tem sido exercitado de maneira
imparcial e construtiva, como deveria sê-lo. E isso tem uma razão,
mormente porque a crítica, quando não censurada, foi levada à condição
de ofensa, de inveja e, até mesmo, pasmem, como subversiva. Dessa
maneira, o senso crítico foi jogado no fosso das coisas pecaminosas, algo
como: ter bom senso é não ter senso crítico. E cooperaram mais com isso o
sistema educacional implantado pelos militares e os oligarcas subalternos.
Mesmo hoje em dia, quando vivemos num regime democrático relativo, o
senso crítico ainda é malvisto.
Mas alguém deve estar se perguntando: E o que tem a ver o
senso crítico com a cidadania? Eu respondo: tudo a ver e mais, como diz
o Pe. Juvenal Arduini: Cidadania requer senso crítico”. De certa forma é
difícil, para não dizer impossível, exercer a cidadania sem que se formule
uma posição crítica em relação à realidade em que se vive. Como ser
cidadão, sem uma análise do que acontece no nosso dia-a-dia, sem
questionar acontecimentos tais como: a falta de liberdade e de
oportunidades, a miséria, o desemprego que marginaliza, a discriminação
racial, a escalada da violência, os preconceitos de toda ordem, as
desigualdades, a corrupção, a exploração da força de trabalho, o trabalho
escravo e a prostituição infantis, a falta de ética na política, e muitos
outros fatos e acontecimentos?
O senso crítico, ao contrário do que nos querem fazer crer, é
saudável ao exercício da cidadania e, ainda, ao próprio aperfeiçoamento do
regime democrático. Esta capacidade de entender, de apreciar, de formar
um juízo, de formular explicações, de avaliar o que é ruim ou bom, o
26
positivo e o negativo, no universo onde habitamos, na sociedade, é de
suma importância para que sejamos cidadãos. A consciência crítica
permite que, de posse da fotografia da realidade, possamos elaborar e
construir uma nova vivência, um novo modelo de relações e valores.
A falta de uma visão crítica torna o indivíduo um Maria vai
com as outras”, um “Zé Ninguém”, como diria Reich. Fornece condições
para a manipulação, para a ilusão, para o engano, para a manutenção do
que de mais perverso na sociedade brasileira, que é a crescente
miserabilidade da maioria do povo. O comodismo que bloqueia a
participação também é fruto da ausência do senso crítico, assim como o
pessimismo extremado.
A educação, à qual me referi no capítulo anterior, deve ter o
dom de despertar no indivíduo as suas potencialidades, e, entre estas, a de
desenvolver o seu senso crítico. Deve capacitá-lo também a dizer não
diante daquilo que oprime e ofende sua condição de cidadão; através do
olhar crítico o cidadão descobre-se objeto de um estado de coisas que lhe
fazem mal e se conscientiza, se encaminha para uma nova atitude: a de
ser sujeito da construção de uma nova ordemque o torne mais feliz. O
saber deve proporcionar ao indivíduo condições concretas à sua
emancipação, à realização da sua cidadania e da sua felicidade.
27
Capítulo VI
A MÃO QUE EMPUNHA A ENXADA
“A política é a arte de impedir
as pessoas de participarem de
assuntos que são do seu
interesse”.
Paul Valèry
Você pode não gostar da maioria dos políticos, achá-los um
bando de safados”, uns “sacanas de marca maior”, porém, não deve pensar
o mesmo da Política, quer dizer, não dá para confundir a Política e com os
políticos. Existem várias definições para o termo Política, segundo o
dicionário “Aurélio”: a arte de bem governar os povos; sistema de regras
respeitantes à direção dos negócios públicos; astúcia; esperteza”. João
Ubaldo Ribeiro, escreve no seu belo livro “Política”: “... um processo através
do qual, interesses são transformados em objetivos e os objetivos são
conduzidos à formulação e tomada de decisões efetivas, decisões que
‘vinguem’ ”. Pode-se dizer também, que política é um conjunto de atitudes
ou ações humanas, em uma dada sociedade, que visam ao bem comum, ao
bem de todos. Definições à parte, a política está presente em nossas vidas
o tempo todo, para o bem ou para o mal.
Como mencionado no capítulo “Nem Tudo São Flores”, existem
vários modelos, ou arquétipos que fazem parte da nossa cultura, do nosso
imaginário. E mais um deles é o de que a política não vale nada”. Na
verdade, se você ainda não percebeu, é isso a que a chamada classe
dominante”, os donos do mercado”, querem que vo pense; que o povo
pense. Sabe por quê? Porque aí, quem vai fazer políticaserão elese,
logicamente, em benefício deles próprios ou de seus aliados.
É comum ouvirmos pessoas que dizem: sou apolítico”, não
estou nem para a política”, o meu negócio é cuidar da minha vida”,
política é pra quem entende”, política? estou fora!”. Não existe maneira
mais destrutiva de fazer política do que esta: negando a própria cidadania.
O fazer político acontece tanto pela ação como pela omissão, o fato do
indivíduo não participar, não impede que outros participem e privilegiem
os seus interesses, mesmo que estes não sejam os interesses da maioria.
O que alimenta a corrupção, em certa medida, é a passividade da maioria,
28
a descrença na atitude política, na cidadania. Se os homens de boa fé, de
boa índole, não participam, os maus políticos tomam conta do poder.
Aprendi certa vez que a política é como se fosse uma
ferramenta, uma enxada: se você a der na mão de quem não sabe usá-la
ou estiver mal intencionado, tal ferramenta será usada de forma
inadequada ou destruída; ao invés de capinar as ervas daninhas, ela
poderá cortar as plantas boas”. Essa tem sido a lógica da política
dominante, onde o cultivo do individualismo ou do corporativismo submete
a maioria do povo, considerado como massa de cidadãos inferiores, a ficar
esperando eternamente a fatia de um bolo que os chamados superiores
comeram. A atualíssima denominada política neoliberal é um retrato
concreto disso, quando privilegia a acumulação e o lucro selvagem do
capital, ao invés de implementar políticas sociais com vistas ao fim
estrutural da pobreza e da miséria absoluta. Aliás, as chamadas políticas
neoliberais, na verdade, inviabilizam a pessoa humana, tornando-a refém
das chamadas leis de mercado.
O exercício da cidadania tem a ver com a política, na medida
em que ela está o tempo todo presente no nosso dia-a-dia. Participar da
política é uma responsabilidade maior do que aquela de votar e ser votado.
O indivíduo tem que instituir-se, se realizar como sujeito e objeto do fazer
político, e isso se conquista pelo exercício constante da cidadania. O fazer
político não é algo separado, distante de nossas vidas. Como diz João
Ubaldo Ribeiro: A política é a condução de nossa própria existência
coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa
prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nossa
felicidade ou infelicidade”.
A política não deve submeter a cidadania, pelo contrário, o
exercício pleno da cidadania é que deve nortear o fazer político e o seu
resultado. Em resumo, a ação da cidadania é que deverá ser a condutora
do poder político, restaurando a boa ética, redefinindo prioridades e
objetivos, instaurando uma nova ordem de igualdade. Tomando como
premissa o que diz Norberto Bobbio: objetivamente, uma das razões
através das quais numa sociedade existem pessoas livres e pessoas não
livres, ou ainda mais livres e menos livres, é a ssima distribuição de
poder”, é possível afirmar também que somente o exercício constante da
cidadania é que poderá resultar numa maior distribuição do poder político
e, consequentemente, numa sociedade com maior igualdade. Ou, então,
como escreveu Silvia Gerschman: A materialidade da cidadania é
resultado de conquistas políticas e sociais”.
29
Capítulo VII
VIDA QUE TE QUERO VIVA
“Num paradigma ecológico,
o que mais se enfatiza é a
vida, o mundo vivo de que
somos parte e de que nossa
vida depende”.
Fritjof Capra
Eu, você, todos nós temos direito a um meio ambiente
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Que bom,
hein! Assim está escrito na Constituição Federal, nas Estaduais e até nas
Leis Orgânicas Municipais. Porém, como costumava dizer Plínio Marcos,
sempre há um porém.”. Quem nos garantia disso? O Estado? Os
governos? Ninguém. Principalmente se o que nos rege hoje, via
globalização, neoliberalismo e outros ismos, são as leis do mercado e dos
mercadores.
E a quem caberia proteger o meio ambiente? Ao Poder
Público? Também. Mas, como bem sabemos que o Poder Público não é
assim tão público, cabe a nós o exercício desse direito e desse dever. A
ação da cidadania, como em outras circunstâncias, é que deve impor-se
como condição para a preservação e proteção ambiental. A coletividade de
que trata a Lei Maior são os cidadãos, portanto, mãos à obra.
Temo quando, às vezes, as lutas pela preservação ambiental
sofrem uma infame descaracterização: coisa de grupos minoritários”, de
ecologistas festivos”, de quem só quer saber de plantas e animais”, e
outras tantas coisas jocosas ditadas, evidentemente, pelo analfabetismo
político-ambiental. Temo porque acredito ser imprescindível que a causa
ambiental seja definitivamente encarada como uma causa da cidadania
humana, universal, assim como o direito à vida. O cidadão do mundo deve
respeito ao meio ambiente, logo o exercício da cidadania tem que se fazer
presente em qualquer situação de ameaça ao patrimônio ambiental.
Educar para a cidadania também é educar para a preservação
da natureza, do seu equilíbrio. A cidadania não pode ficar alheia ao que é
fundamental, “à preservação do bicho homem”, como costuma dizer o
30
ambientalista mineiro Sérgio Mário Regina. Manter o meio ambiente inteiro
e saudável é tarefa de todos.
Para enriquecer a reflexão sobre o assunto, cito Leonardo Boff,
teólogo e pensador cristão, em seu livro Ecologia, Mundialização,
Espiritualidade: A ecologia não é um luxo dos ricos e nem uma
preocupação apenas dos grupos ambientalistas ou dos Verdes e seus
respectivos partidos. A questão ecológica remete a um novo nível da
consciência mundial: a importância da Terra como um todo, o bem comum
como bem das pessoas, das sociedades e do conjunto dos seres da
natureza, o risco apocalíptico que pesa sobre o criado. O ser humano pode
ser anjo da guarda bem como satã da Terra”.
Do ponto de vista da cidadania, é preciso entender urgente
que o meio ambiente é inteiro e toda a agressão que se faz a ele, com
certeza, terá as suas conseqüências e estas, inevitavelmente, atingirão o
agressor, o homem, que ele é parte integrante desse ambiente. Mesmo
com o crescente interesse pela preservação ambiental, ainda falta muito
para instituirmos uma nova ordem ecológica mundial que leve
holisticamente em consideração a vida como um todo, e não apenas
fragmentos dela.
A verdade é que nunca tivemos uma cultura ecológica, o “bicho
homem sempre agiu como centro de tudo, sempre agiu como senhor da
natureza, como aquele que tudo pode. Acreditou numa mãe terra
inesgotável a nutrir sempre, mesmo que violentada e mal cuidada. Hoje
se percebe que não é bem assim, é preciso cuidar do útero que nos acolhe.
Pensando assim, não vejo outro caminho senão o da ação da cidadania na
construção de uma nova ética ecológica, levando em consideração as três
ecologias de que nos fala Felix Guattari: A ecologia interior, ou seja, o meio
ambiente interno - a relação do ser humano consigo mesmo; a ecologia das
relações sociais - da relação dos seres humanos entre si na construção da
sociedade; e a ecologia da relação com a natureza”. Em resumo, isto viria
estabelecer uma nova visão ecológica onde prevaleceria a idéia, como diz
Leonardo Boff, do equilíbrio da comunidade terrestre”, visando refazer a
aliança destruída entre o ser humano e a natureza e a aliança entre as
pessoas e povos para que sejam aliados uns dos outros em fraternidade,
justiça e solidariedade”.
31
Capítulo VIII
DA LEVEZA DE SER
Mas, é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre...”
Milton Nascimento/ Fernando Brant
De modo geral, o exercício da cidadania não é tarefa fácil.
Como mostrado em capítulos anteriores, dificuldades de toda ordem estão
presentes, desde aquelas mais fáceis de serem superadas até aquelas
estruturais, que dependem de muita luta para serem vencidas. No caso da
mulher, por exemplo, essas mesmas dificuldades aumentam, uma vez que
a condição feminina é brutalmente vitimada pelo preconceito e a
discriminação. Ainda que a atual Constituição iguale os direitos e
obrigações de homens e mulheres, na prática, a mulher continua sendo
considerada minoria, cidadã de segunda classe. Lugar de mulher é na
cozinha”, inacreditavelmente esse ainda é o fundamento que rege em muito
as relações entre homens e mulheres na nossa sociedade.
Embora em alguns setores a mulher tenha conseguido alguma
igualdade, o fim do domínio machista ultrapassado ainda está por vir. E
isso não se deve somente ao domínio do homem, deve-se, sobretudo, além
de aspectos culturais e estruturais que determinam as nossas relações
sociais, à falta do reconhecimento pela própria mulher da sua qualidade
de cidadã.
Existe uma Lei em vigor que garante que 30% do número de
vagas a candidaturas proporcionais (vereadores, deputados estaduais e
federais) devem ser preenchidas por mulheres. No dizer de lideranças
feministas trata-se de um avanço considerável”. Discordo, de certo modo,
dessa afirmativa, uma vez que, a meu ver, a conquista do espaço político
por todo e qualquer segmento social deve resultar do consciente exercício
da cidadania, da conquista irreversível no campo da objetividade, na luta
concreta no meio social, econômico e político. A concretização da
cidadania não pode continuar dependendo de concessão ou apenas da
outorga legal. Se o exemplo for seguido, logo teremos uma lei garantindo
tantos por cento para os negros, para os índios, para os homossexuais e
para tantos outros segmentos discriminados e excluídos, que em nada
resolveria as desigualdades e injustiças sociais. Mesmo porque a cidadania
32
não se mede em percentuais. Ser ou não ser cidadão ou cidadã, eis a
questão!
A ideologia do patriarcado tem que ser confrontada; a
dominação do homem, tida como natural, não pode mais ser aceita de
forma submissa. Ao invés do enunciado lugar de mulher é na cozinha”,
outro precisa ser incorporado à liberação da mulher: para um mundo
igual, responsabilidades e direitos iguais”, ou seja, o exercício da cidadania
da mulher tem que começar na família, principalmente com a divisão do
trabalho doméstico, incluindo a educação dos filhos. A desigualdade na
divisão social do trabalho é que gera, entre outras coisas, cidadãos e
cidadãs de primeira ou segunda classe, e isso começa lá, onde as tarefas e
responsabilidades sobrecarregam a mulher. A dupla jornada de trabalho é
antidemocrática por excelência.
A emancipação feminina, aqui vista sob o ângulo da igualdade
de oportunidades, tem como premissa básica a realização da cidadania da
mulher em todo o seu alcance, de forma plena. E isso, certamente, será
conquistado através da mobilização solidária e participativa, tendo em
vista que a ocupação pela mulher do seu espaço próprio não virá sem
confronto, sem desafios a serem vencidos. O importante é que a mulher,
toda mulher, tome para si a responsabilidade de tornar-se cidadã e,
principalmente, como diz Pedro Demo, de instituir-se sujeito social,
incondicionalmente dotado de direitos”.
33
Capítulo IX
AUTO-ESTIMA É FUNDAMENTAL
Os indivíduos com uma visão
negativa de si mesmos tendem
também a encarar as outras
pessoas e o próprio mundo de
forma negativa”.
Glória Steinem
Ao abordar em palestra esse tema, onde na platéia havia um
número expressivo de professores, fui logo indagado sobre: o que a
cidadania tem a ver com a auto-estima?”. A princípio, devo confessar que
estranhei a tal pergunta, que dentro da minha própria vivência e
observações tenho percebido a importância da auto-estima na luta pela
conquista da cidadania.
O fato da auto-estima ser um ente subjetivo, muito abordado
em áreas como a psicologia, psicanálise, relações humanas e similares, é
que gerou a tal pergunta, e com razão; afinal, a noção que a maioria das
pessoas têm da cidadania é que esta é uma coisa” que se refere a
direitos e deveres, porquanto, isso não tem a ver se sou mais ou menos feliz,
se isso contribui para que eu goste mais de mim, me autovalorize mais.
A auto-estima é a noção de valor que a pessoa tem de si
mesmo, isto é, ela é a medida do quanto gosto e confio em mim mesmo”; o
conceito que a pessoa tem de si própria. Se a minha auto-estima é baixa,
isso significa que não me acredito competente, não me atribuo qualidades,
sinto-me inferior; os outros são sempre melhores, nada do que faço tem
importância. Se, pelo contrário, minha auto-estima é alta, positiva, isso
significa que me valorizo, que não me sinto inferior a ninguém, que quero
o melhor para mim, que confio em minha competência pessoal.
O exercício da cidadania, dentro desse contexto, significa
também a conquista de uma auto-estima qualificada, uma vez que, ao
exercer a cidadania, as pessoas estão confrontando todas as situações que
lhes foram impostas: como as da inferioridade, da opressão, da
manipulação, do medo, da submissão, etc. Situações que as
condicionaram à perda do amor próprio, da noção de valor que têm de si
mesmas. A busca da emancipação, o andar com as próprias pernas”, a
construção histórica e objetiva de um novo modo de vida será viável a
34
partir da valorização da pessoa humana, e nesse sentido, o exercício da
cidadania funciona também como alimentador da auto-estima, e vice-
versa.
Se prestarmos atenção a muitas das mudanças ocorridas no
mundo nos últimos tempos como, por exemplo, o fim do comunismo na
Polônia, a queda do muro de Berlim, o fim do apartheid na África do Sul,
veremos que a auto-estima desses povos falou mais alto no momento de
confrontar a opressão, as injustiças. É possível concluir, inclusive, que a
auto-estima tem papel preponderante não na vida particular das
pessoas, como também, na trajetória dos povos.
Uma democracia substantiva e plena se realizará se
expressar no seu conteúdo a auto-estima dos cidadãos, até porque, hoje,
quando tanto se tem apregoado as qualidades da globalização econômica,
da dinâmica das leis de mercado, que nada mais são do que componentes
da ditadura do capital, da institucionalização de um novo colonialismo, a
tônica de desenvolvimento econômico não tem levado em consideração o
desenvolvimento da pessoa humana. Porque não globalizar a auto-estima,
a dignidade e a solidariedade?
Um dos aspectos inibidores da auto-estima, ao qual não
poderia deixar de me referir, mesmo que de forma não muito profunda, é o
da sexualidade. Isto porque a compreensão da questão da sexualidade é
fundamental para o entendimento da relação de angústia e prazerdo
ser humano. A repressão do movimento expansivo do homem em direção ao
prazer, via educação castradora, é o que nos torna angustiados e
impotentes, presas fáceis do autoritarismo e da opressão. A servidão
voluntária decorre, muitas vezes, do bloqueio da energia necessária ao
questionamento, à confrontação de uma ordem instituída e reconhecida
como natural.
Sob a ótica da repressão da sexualidade é possível entender o
porquê de tanta exploração e opressão, ou, o que faz com que os milhões
de famintos e explorados não saqueiem e não se revoltem, e que muitas
vezes beijem os grilhões que os mantêm aprisionados. Wilhelm Reich, diz
no seu livro A Revolução Sexual: “As necessidades humanas são formadas,
transformadas e especialmente subjugadas pela sociedade”, o que significa
dizer que a chamada classe dominante é quem direciona e manipula tudo,
inclusive sentimentos e emoções.
Como bem exemplifica Roberto Freire, em Tesudos de Todo
Mundo Uni-Vos, a pedagogia autoritária busca fundamentalmente, ao
bloquear a liberdade de ser, de sentir e de fazer das crianças, focalizar a
sexualidade e a sensualidade como pulsões negativas e perigosas. A
afetividade é então desenvolvida com base no sacrifício, no dever e na
obediência, ou seja, no aprendizado da frustração das necessidades
básicas”. Praticamente está aí, nessa pedagogia castradora e autoritária,
35
muito da explicação pela perda da auto-estima e, conseqüentemente, da
cidadania da maioria do povo. É lógico que não é isso, existem outros
fatores a serem considerados, mas para início de reflexão, estes são dados
de suma importância.
Tenho dito que, homens e mulheres ao se descobrirem, de
forma objetiva e potencial, cidadãos e cidadãs, descobrem também o valor
que eles têm e, a partir daí, com uma visão positiva de si mesmo, não
como parar essa escalada, uma vez que agora sabem que submeter a
cidadania a outros significa estarem submetidos de corpo e alma à
condição de inferiores, de cidadãos de segunda ou terceira classe, sem amor
próprio. A condição psicológica do ter ou não ter auto-estima é
determinante para o exercício da cidadania e, quem sabe, para o encontro
da felicidade.
Para exemplificar melhor a questão da auto-estima, de sua
importância tanto na individualidade de cada um, como no processo de
crescimento coletivo, cito um exemplo vivido por um grande período de
minha vida, na trajetória a que me refiro no princípio deste livro, enquanto
vivia buscando fugir à marginalidade, ao caminho que me levaria
certamente à delinqüência e ao que resulta dela. Não foram poucas as
vezes que ouvi, inclusive de alguns familiares, que eu nunca seria alguém
na vida, que eu ainda iria me tornar um ladrão, que tinha tudo para ser
um bandido... Dotado de algum saber, eu rebatia esses ditames, com um
pensamento até singelo, o de que eu gostava muito de mim para deixar que
algo ruim me acontecesse.
Hoje me lembro disso e compreendo de onde eu tirava aquele
gostar de mim”. Minha mãe adotiva, no período em que morei com ela,
costumava dizer-me muitas vezes que eu era muito inteligente, que tinha
tudo para ser um grande homem, que eu ainda ia ser um doutor”. Tenho
certeza que foi que me nutri, que alimentei minha auto-estima, o que
me fez sobrevivente e instituir-me cidadão, ao ponto de hoje poder
contribuir para despertar a auto-estima de outras pessoas, para ser
solidário e motivar outros a tornarem-se cidadãos comigo.
36
Capítulo X
FOI DADA A LARGADA
“Não vale desanimar
nem preferir os atalhos
sedutores que nos perdem,
para chegar mais depressa”.
Thiago de Mello
Na trajetória até este capítulo, percebeu-se que o exercício da
cidadania envolve várias dificuldades de toda ordem: antropológicas, psico-
sociais, culturais, econômicas, religiosas e outras. Na verdade, um
universo de fatores conspira contra a cidadania. Porém, se nos ativermos à
cultura da dificuldade, com certeza não vamos mudar nada, os anos
passarão e até teremos escrito mais livros, enciclopédias, enumerando
cada uma das dificuldades; muitos ganharão até prêmios com suas
monografias e teses sobre os obstáculos intransponíveis na maratona da
cidadania. De minha parte, não é essa a minha proposta. Conhecer as
dificuldades é um ponto, vencê-las é outro.
Pensando assim é que proponho a participação como elemento
chave na ação da cidadania. A participação efetiva, o tomar parte, o
estar participando, e não o fazer parte de forma passiva, acomodada,
inerte. Detalhe: o tomar parte, a participação efetiva, não é algo
colocado fora do homem, pelo contrário, é o caminho para que o homem
revele, manifeste o seu fazer, a sua capacidade de realizar. Além disso,
como diz Juan E. Diaz Bordenave sua prática (da participação) envolve a
satisfação de outras necessidades não menos básicas, tais como a
interação com as demais pessoas , a auto-expressão, o desenvolvimento do
pensamento reflexivo, o prazer de criar e recriar coisas e, ainda, a
valorização de si pelos outros”, e eu acrescentaria ainda que melhorariam
as capacidades de autovalorização e de sauto-satisfação.
Como se vê, a participação não é uma simples coisa, uma
atitude vazia, daí a sua importância para o exercício da cidadania.
Acredito mesmo que é a participação que conteúdo à cidadania, e ela
não é um bicho de sete cabeças, podendo ser efetivada no núcleo familiar,
nas associações de moradores, nos sindicatos e em outras tantas
organizações. A participação é uma responsabilidade social.
Outra atitude que gostaria de mencionar, para finalizar este
capítulo, é a da solidariedade. Ao “descobrir” a participação, acredito que
com ela também surge o elemento da solidariedade, isto porque, ninguém
37
participa sozinho. Quem participa, co-participa, percebe a existência
do outro, participa com mais alguém. Assim sendo, vale lembrar, que o
exercício da cidadania se realiza com participação e solidariedade,
movidas sobremaneira pela consciência, pela motivação e pela vontade.
38
Capítulo XI
PRAZER EM CONHECER*
* Este capítulo é destinado a você leitor, a sua participação e
reflexão: “Prazer em conhecê-lo, como vai a sua cidadania?” Gostaria de
contar com o seu depoimento, escreva o seu capítulo para que você
também participe e o livro seja nosso. Ia fazer um roteiro de avaliação do
livro, desisti, por acreditar que, assim como o caminhante é quem faz o
seu caminho, cada um tem sua história para contar.
** Se quiser, mande cópia de seu depoimento para o seguinte endereço:
e-mail: willlesterapeuta @bol.com.br
39
PARA REPARTIR COM TODOS
Com este canto te chamo,
porque dependo de ti.
Quero encontrar um diamante,
sei que ele existe e onde está.
Não me acanho de pedir ajuda:
Sei que sozinho
nunca vou poder achar.
Mas desde logo advirto:
para repartir com todos.
Traz a ternura que escondes
machucada no teu peito.
Eu levo um resto de infância
que meu coração guardou.
Vamos precisar de fachos
para as veredas da noite
que oculta e, às vezes, defende
o diamante.
Vamos juntos.
Traz toda a luz que tiveres,
não te esqueças do arco-íris
que escondes no porão.
Eu ponho a minha poronga,
de uso na selva, é uma luz
que se aconchega na sombra.
Não vale desanimar,
nem preferir os atalhos
sedutores que nos perdem,
para chegar mais depressa.
Vamos achar o diamante
para repartir com todos.
Mesmo com quem não quis vir
ajudar, falto de sonho.
Com quem preferiu ficar
sozinho bordando de ouro
o seu umbigo engelhado.
Mesmo quem se fez de cego
ou se encolheu de vergonha
de aparecer procurando.
Com quem foi indiferente
40
e zombou de nossas mãos
infatigadas na busca.
Mas também com quem tem medo
do diamante e seu poder,
e até com quem desconfia
que ele exista mesmo.
Existe:
O diamante se constrói
quando o procuramos juntos
no meio da nossa vida
e cresce, límpido cresce,
na intenção de repartir
o que chamamos de amor
Poema extraído do Livro Mormaço
na floresta, de Thiago de Mello,
poeta amazonense que “não vive com
a cabeça nas nuvens”.
41
CONHECIMENTO E CIDADANIA
Como escrevi num dos capítulos deste livro, ninguém é cidadão
sozinho. Na verdade, ativos ou não, somos co-participantes da história. Se
você desejar saber, pelo menos um pouco dos seus direitos e
responsabilidades e, com isso ativar, estimular, a prática da cidadania,
sugiro, entre outras, as seguintes leituras:
1. Declaração Universal dos Direitos do Homem (ser humano);
2. Constituição Federal;
3. Constituição Estadual;
4. Lei Orgânica Municipal;
5. Consolidação das Leis Trabalhistas;
6. Declaração Universal dos Direitos da Criança;
7. Estatuto da Criança e do Adolescente;
8. Código de Defesa do Consumidor;
9. Lei Orgânica da Assistência Social;
42
ÍNDICE
DEDICATÓRIA.............................................................02
HOMENAGEM .............................................................03
AGRADECIMENTOS ....................................................04
COMO SE FOSSE UM PREFÁCIO.................................05
ALÉM DO IMAGINÁRIO................................................07
ECOS DA TRANSFORMAÇÃO.......................................08
A TRAJETÓRIA DE UM INSTITUINTE
(resumo de uma autobiografia) .................................09
INTRODUÇÃO - POR QUE CIDADANIA? ......................15
CAP. I - DO QUE SE FALA E DO QUE SE FAZ.............17
CAP. II - NEM TUDO SÃO FLORES...............................19
CAP. III- DIZE-ME COM QUEM ANDAS........................21
CAP. IV- HOJE, AMANHÃ E DEPOIS DE AMANHÃ........23
CAP. V - O BOM SENSO É CRÍTICO .............................26
CAP. VI- A MÃO QUE EMPUNHA A ENXADA................28
CAP. VII- VIDA QUE TE QUERO VIVA ..........................30
CAP. VIII- DA LEVEZA DE SER ....................................32
CAP. IX- AUTO-ESTIMA É FUNDAMENTAL ..................34
CAP. X - FOI DADA A LARGADA...................................37
CAP. XI- PRAZER EM CONHECER ...............................38
PARA REPARTIR COM TODOS – POEMA......................39
CONHECIMENTO E CIDADANIA.................................. 41
ÍNDICE.........................................................................42
BIBLIOGRAFÍA ............................................................43
43
OBRAS CITADAS E QUE INSPIRARAM ESTE LIVRO
1- O QUE É PRECISO PARA SER CIDADÃO ? - texto de Pe. Juvenal
Arduini, revista Vida Pastoral - julho/agosto, 1994.
2- CIDADANIA & PARTICIPAÇÃO - texto de Pedro Demo, revista Tempo
Brasileiro nº 100, Rio de Janeiro, jan-mar, 1990.
3- CRISE DA CIDADANIA-PAROXISMO DA INDIVIDUALIDADE - texto de
Davi L. Bogomoletz, revista Tempo Brasileiro 100, Rio de Janeiro, jan-
mar, 1990.
4- CONSCIÊNCIA E CIDADANIA - texto de Silvia Gerschman, revista
Democracia nº 110, Rio de Janeiro, fev-mar, 1995.
5- REFLEXÕES (cidadania humana)- Maria Luiza Angelin, anais do
Congresso de Psicologia da Comunidade, tomo II, Belo Horizonte, agosto,
1992.
6- DICIONÁRIO DE POLÍTICA - Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e
Gianfranco Pasquino, Editora UNB, Brasília, 1995.
7- A TEORIA DAS FORMAS DE GOVERNO - Norberto Bobbio - Editora
UNB, Brasília, 1994.
8- EDUCAÇÃO COMO PRÁTICA DA LIBERDADE - Paulo Freire - Editora
Paz e Terra, São Paulo, 1981.
9- AS IDEOLOGIAS E O PODER EM CRISE - Norberto Bobbio - Editora
UNB, Brasília, 1994.
10- POLÍTICA - QUEM MANDA, PORQUE MANDA, COMO MANDA - João
Ubaldo Ribeiro - Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1986.
11- ESCRITOS INDIGNADOS - Democracia x Neoliberalismo no Brasil -
Herbert de Souza (Betinho), Rio Fundo Editora - IBASE, Rio de Janeiro,
1991.
12- EDUCAÇÃO DO HOMEM INTEGRAL -Huberto Rohden, Fundação
Alvorada, São Paulo, 1979.
44
13- SABEDORIA INCOMUM - Fritjof Capra, Editora Cultrix, São Paulo,
1995.
14- A REVOLUÇÃO INTERIOR - Gloria Steinem, Editora Objetiva, Rio de
Janeiro, 1992.
15- MORMAÇO NA FLORESTA - Thiago de Mello, Circulo do Livro, São
Paulo, 1988.
16- ESCUTA, ZÉ NINGUÉM! - Wilhelm Reich, Martins Fontes Editora Ltda,
São Paulo, 1977.
17- O HOMEM ROUCO, Rubem Braga, Editora Record, São Paulo, 1984.
18- A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER, Paulo Freire, Cortez Editora, o
Paulo, 1985.
19- O QUE É PARTICIPAÇÃO, Juan E. Diaz Bordenave, Editora
Brasiliense, São Paulo, 1983.
20- O QUE É EDUCAÇÃO, Carlos Rodrigues Brandão, Editora Brasiliense,
São Paulo, 1981.
21- A REVOLUÇÃO SEXUAL - Wilhelm Reich, Círculo do Livro, São Paulo,
1985.
22- TESUDOS DE TODO MUNDO UNI-VOS, Roberto Freire, Editora
Siciliano, São Paulo, 1995.
23- ECOLOGIA MUNDIALIZAÇÃO ESPIRITUALIDADE- Leonardo Boff,
Editora Ática, São Paulo, 1993.
24- ESCOLA E DEMOCRACIA - Dermeval Saviani, Cortez Editora, São
Paulo 1989.
25- SE VOCÊ FINGE QUE ENSINA, EU FINJO QUE APRENDO - Hamilton
Werneck, Editora Vozes, Petrópolis/RJ, 1995.
26- A NOVA ÉTICA - Pierre Weil, Editora Rosa dos Tempos, Rio de Janeiro,
1993.
27- AS TRÊS ECOLOGIAS - Felix Guattari, Editora Papirus, Campinas,
1988.
45
28 A ARTE DE VIVER EM PAZ Pierre Weil, Editora Gente, São Paulo,
1993.
MÚSICAS CITADAS
- OURO DE TOLO - Raul Seixas
- MARIA MARIA - Milton Nascimento/Fernando Brant
- CORAÇÃO DE ESTUDANTE - Milton Nascimento/Wagner Tiso
- HAITI - Caetano Veloso
- TOCANDO EM FRENTE – Renato Teixeira/ Almir Sater
Livros Grátis
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