Lúcia: Bom! O projeto ele é muito maior do que alterar a prática pedagógica da gente, na verdade
eu diria que é uma mudança filosófica. É uma mudança no modo de ver, de pensar, de sentir, de
agir. Ele leva a gente a refletir, né. Sobre a matemática, sobre, éé a forma, até como os alunos vêem
a matemática, também muda tudo isso, né. Então o projeto ele mudou a minha prática em tudo, né.
Porque eu passei a olhar pra matemática de uma outra forma. Tô estudando, pesquisando. Muito
importante os momentos que a gente tem encontros aqui com o Cristiano para tirar as dúvidas, né.
Porque ele não tá preocupado só com a didática, né, ele tá preocupado também como, como que o
professor está dentro dessa mudança, isso é uma formação, isso é um curso de formação, né, conti-
nuada. Então é isso, mudou em tudo.
Pesquisadora: Tudo que você fez antes, pela sua fala, você não faz mais nada agora?
Lúcia: Olha, não dá pra dizer pra você que nada, né. Porque na verdade isso tudo são coisas muito
arraigadas, né, na gente. Foi a forma como eu fui educada, como eu recebi a matemática na minha
vida, né. A forma como, no caso na época que eu estive na Católica eu aprendi, na UnB não, por-
que os módulos que a gente estudou já eram módulos do Cristiano. O Cristiano era nosso tutor, né,
na área de matemática, mesmo assim é muito diferente você está aqui aplicando e com a pessoa do
que você estar lá. Lá a gente dizia assim que era só um chuvisco, a gente tava tomando um chuvis-
co do que era essa educação matemática, a gente refletia sobre ela, agora por na prática é complica-
do, não é simples, não adianta você ler o módulo, você assistir duas, três quatro palestras, ter a pes-
soa lá, no caso era chamado de mediador, né, ter o mediador na sala de aula tentando aplicar algu-
mas coisas. É diferente, porque o mediador também tava aprendendo, é diferente você ter alguém
que vê a matemática do jeito que o Cristiano vê, de uma forma simples, entendeu, de uma forma
que num, que num, sem um intermediário, né, sem o intermediário, e a gente vai devagarinho fa-
zendo na medida que pode. Então tem coisas que eu já dou conta de fazer, eu vou fazendo, tem coi-
sas que eu não dou conta de fazer, às vezes a gente tem uma prática mais tradicional em algumas
coisas, mas a vantagem é que a gente está sempre com ele e com éé, com vocês né, as pesquisado-
ras né que estão aqui, então a gente vai mostrando, olha fizemos dessa forma, não tá legal, não deu
o resultado que a gente esperava, e o que a gente vai fazer agora? Ihh! Vamos pensar, vamos fazer
de outro jeito, vamos colocar agora um jogo, vamos chamar a atenção daquele aluno, do outro, né.
Que os alunos também recebem a matemática, como tudo na vida, de formas diferentes, né. Então
seria isso, de tá sempre buscando outras formas pra tá trabalhando a matemática.
Pesquisadora: Você acha que é diferente assim da graduação, como você disse que é recebido, da
formação dentro da escola? Aonde você já tá vendo a prática?
Lúcia: Muito diferente. Porque, eu não sei se é porque lá a gente não tava diretamente com o pro-
fessor, no caso com o professor Cristiano, lá nós tínhamos mediadores, então você tem mediadores
que têm mais facilidade com aquilo, outros não, têm a mesma dificuldade da gente, então eles tam-
bém estavam aprendendo. E mesmo assim por mais que lá tinha... o PIE exigia muita prática, então
tudo que a gente lia e estudava, a gente tinha que tá aplicando na sala de aula, fazendo os relatórios,
entregando os relatórios. Mesmo assim era um chuvisco de matemática, de educação matemática.
Na verdade a gente precisava de três anos de um curso de educação matemática, e não três anos
com todas as matérias que a gente tinha, você entendeu. Perto dessa bagagem que a gente tem, né,
que isso já está cristalizado dentro da gente, precisa muito mais do que uma matéria dentro de um
curso, uma matéria dentro de um curso não é suficiente, deu pra balançar, deu pra mexer nas estru-
turas, e deu pra dar vontade nas pessoas de buscar, de ir atrás, mas não é o suficiente, entendeu.
Pesquisadora: Você tem encontrado alguma dificuldade ou problema dentro do projeto?
Lúcia: Sim. Porque é... A dificuldade não é só a gente mudar, a dificuldade é até a forma da gente
ver o conteúdo. Então tem conteúdos que pra mim são difíceis, então é como se eu não conseguisse
superar a educação, a educação matemática não, as aulas de matemática que eu tive quando eu era
criança, que não era educação matemática, era aula de matemática, né, era o conteúdo da matemáti-
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