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VITORIA CANCELLI
MACARTHISMO, FICÇÃO
CIENTÍFICA E INDÚSTRIA DE
ARMAS
: OS EFEITOS DE UMA
ÍNTIMA RELAÇÃO
São Paulo
1994
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VITORIA CANCELLI
MACARTHISMO, FICÇÃO CIENTÍFICA
E INDÚSTRIA DE ARMAS
: OS EFEITOS
DE UMA ÍNTIMA RELAÇÃO
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
História Econômica da Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade de São Paulo como
requisito para obtenção do grau de Doutor em História
Econômica.
Orientador: Prof. Dr. Emanuel Soares da Veiga Garcia
São Paulo
1994
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VITORIA CANCELLI
MACARTHISMO, FICÇÃO CIENTÍFICA E
INDÚSTRIA DE ARMAS
: OS EFEITOS DE
UMA ÍNTIMA RELAÇÃO
São Paulo, 7 de outubro de 1994.
__________________________________________________
Prof. Dr. Emanuel Soares da Veiga Garcia - Orientador
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
__________________________________________________
Prof. Livre-Docente Eduardo Leone
Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo
__________________________________________________
Prof. Dr. Marcos Antônio Silva
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
__________________________________________________
Prof. Dr. Osvaldo José Angel Coggiola
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo
__________________________________________________
Prof. Dr. Ricardo Antunes
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de Campinas
Aos meus pais, sem os quais nada teria
sido possível.
AGRADECIMENTOS
De todas, esta talvez seja a página mais difícil de
ser escrita.
Foram vários anos de uma caminhada na qual não
faltaram pessoas sempre dispostas a colaboram
para a realização deste trabalho.
Algumas destas pessoas se foram com o tempo,
mas muitas delas tornaram-se grandes amigas sem
as quais as dificuldades teriam sido muito
maiores.
Listar todas elas para os merecidos
agradecimentos é uma tarefa das mais difíceis,
pois corre-se sempre o risco de se esquecer
alguém. No entanto, estejam elas ou não nesta
página, serão sempre muito preciosas e
inesquecíveis.
Gostaria de agradecer inicialmente ao meu
orientador o Professor Doutor Emanuel Soares da
Veiga Garcia. Nenhum agradecimento seria
suficiente para retribuir o seu carinho e a sua
dedicação. Nos momentos mais difíceis sempre
teve uma palavra amiga e um gesto de
companheirismo para não me deixar esmorecer.
Ao mesmo tempo em que soube ser firme, soube
dar-me a liberdade de que eu necessitava para
desenvolver um trabalho tão espinhoso como o
que concluo agora.
Agradeço ao CNPq, cujo auxílio financeiro foi
vital para a elaboração deste trabalho.
Meus agradecimentos à Biblioteca Mário de
Andrade que facilitou-me o acesso a materiais
importantíssimos para o desenvolvimento deste
trabalho.
Gostaria de agradecer aos professores Marcos A.
Silva e Osvaldo Coggiola, por sua participação
em meu exame de qualificação. Suas valiosas
observações foram um ponto de apoio importante
para a continuidade deste trabalho.
Dedico um agradecimento especial ao Instituto
Mário Alves, cujo apoio material e o carinho dos
companheiros e companheiras que o dirigem
foram decisivos para a conclusão deste trabalho.
À Jamir Candido Nogueira pela presença sempre
constante em momentos muito difíceis.
À companheira Rita Lima, que me mostrou, com
seu eterno amor pela vida, que desistir nunca é o
melhor caminho.
Ao companheiro Luiz Arnaldo Dias Campos, que
com rara paciência soube conduzir-me pelo
mundo encantado do cinema.
Um agradecimento muito especial ao
companheiro Genildo Batista, a quem credito o
mérito da conclusão deste trabalho, pois foi
sempre o alento e a força de que precisei, sabendo
como ninguém criticar quando era preciso e
apoiar quando tudo parecia perdido.
7
Os homens [e mulheres] fazem sua própria história, mas não
a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de
sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam
diretamente, legadas e transmitidas pelo passado.
O Dezoito Brumário de Luiz Bonaparte
Karl Marx
8
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................................................11
Capítulo I - O Novo Inimigo Total..........................................................................................16
O discurso de Fúlton e o início da Guerra Fria.....................................................................20
O controle da energia atômica................................................................................................22
A Doutrina Truman.................................................................................................................29
O Plano Marshall ....................................................................................................................31
A Imagem do Novo Inimigo Total ..........................................................................................33
Capítulo II - O Novo Inimigo Total e a repressão ao comunismo ........................................38
As bases do macarthismo ........................................................................................................38
Os casos de espionagem......................................................................................................38
A ponta do iceberg: O caso Amerásia..............................................................................40
A Espionagem Diplomática..............................................................................................43
Os informantes..............................................................................................................43
Elizabeth Bentley......................................................................................................43
Whittaker Chambers.................................................................................................44
Os Acusados.................................................................................................................45
Alger Hiss.................................................................................................................45
Willian Remington ...................................................................................................48
Harry Dexter White..................................................................................................50
Judith Coplon............................................................................................................51
A Espionagem Atômica....................................................................................................52
O Caso Rosenberg........................................................................................................54
Klaus Fuchs ..............................................................................................................55
Harry Gold................................................................................................................56
David Greenglass......................................................................................................57
Julius e Ethel Rosenberg ..........................................................................................57
O PC e seu papel no cenário político nacional.................................................................62
As atividades repressivas nos anos 50.....................................................................................69
O Comitê da Câmara contra Atividades Antiamericanas..............................................69
McCarthy e suas denúncias...............................................................................................80
Capítulo III - O papel de Hollywood na construção do Novo Inimigo Total........................92
Hollywood, a caça às bruxas e o Novo Inimigo Total............................................................92
Ficção Científica e Guerra Fria..............................................................................................96
A opção pela ficção científica...........................................................................................100
Capítulo IV - Porque filmar e atirar se conjugam com o mesmo verbo..............................104
A opção pela Guerra..............................................................................................................104
Funções da Guerra...........................................................................................................108
Armas e lucros nos Estados Unidos dos anos 50............................................................110
9
O funcionamento do Complexo Militar-Industrial.......................................................113
A opção pela guerra e o Novo Inimigo Total .................................................................117
Hollywood e o complexo militar-industrial ..........................................................................121
Filmes e orçamentos militares: os efeitos de uma íntima relação................................131
Filmes e orçamentos.........................................................................................................156
Conclusão...............................................................................................................................165
Anexos....................................................................................................................................168
Anexo I - O calendário da Guerra Fria................................................................................169
Anexo II – Os resultados eleitorais de 1948 e 1952 .............................................................174
Anexo III – As emendas à Constituição...............................................................................176
Anexo IV - As Testemunhas amistosas e Lista Negra .........................................................179
Anexo V – As propostas orçamentárias para os anos de 1948 a 1956 (Mensagens)..........185
Anexo VI – Orçamentos dos anos de 1948 a 1956 (Consolidado).......................................186
Anexo VII - As Indústrias do complexo militar-industrial..................................................201
Filmografia............................................................................................................................202
Bibliografia............................................................................................................................204
10
INTRODUÇÃO
“O historiador tem por função primeira restituir à sociedade a História da qual os
aparelhos institucionais a despossuíram. Interrogar a sociedade pôr-se à sua escuta,
esse é o primeiro dever do historiador”.
Macarthismo, ficção científica e indústria de armas: os efeitos de uma íntima
relação é uma reflexão sobre a relação entre o macarthismo, o cinema de ficção
científica e a indústria armamentista dos Estados Unidos entre os anos de 1948 e
1956. Interessa-nos investigar a forma pela qual a indústria armamentista utilizou-se
do macarthismo e da produção cinematográfica de Hollywood - (o maior veículo de
comunicação da época) - numa colaboração cujo objetivo era a formação de uma
opinião pública em condições de absorver o crescente desenvolvimento da produção
militar nas proporções em que se deram.
Esta reflexão a que nos propomos, tem como referência uma reconstituição
da atuação do senador Joseph McCarthy e dos fatores que moveram as suas ações.
Referencia-se também nos filmes de ficção científica do período como fonte
documental necessária para estabelecer os elementos desta relação. E, por fim,
numa análise dos elementos constitutivos do complexo militar industrial e nas peças
orçamentárias do período.
Este período compreende o início do mandato de Harry S. Truman em 20 de
janeiro de 1948 e o fim do primeiro mandato de Dwight D. Eisenhower, concluído em
20 de janeiro de 1957. A opção por esta periodização deveu-se a um conjunto de
fatores:
1 - Embora o macarthismo não se restrinja ao período de vida parlamentar do
senador McCarthy e de sua atuação à frente das investigações sobre a infiltração
11
comunista nos EUA, consideramos que este período simboliza uma forma de ver o
comunismo e a URSS no país e contém os elementos mais marcantes da relação
que buscamos estabelecer;
2 - Adotar uma periodização que se restringisse ao auge do macarthismo (o
segundo mandato do senador), significaria concordar com opiniões freqüentes de
que estes acontecimentos constituem-se em fatos isolados, sem nenhuma relação
com o projeto político das elites norte-americanas;
3 - Por considerarmos que o macarthismo foi um dos elementos constitutivos
deste projeto mais geral, analisamos o período de destaque do senador como parte
de uma ação política cujo objetivo era o de viabilizar este projeto.
O motivo central que nos levou à elaboração deste trabalho foi o fato de que
pesquisas anteriores apontaram uma lacuna de material sobre o assunto.
As obras de caráter geral existentes, apenas relatam e/ou analisam episódios
isolados. As obras específicas tendem a ser estudos sobre aspectos da questão (por
exemplo: cinema, esquerdas, interrogatórios do Comitê, a Lista Negra).
Nos Estados Unidos, as obras sobre o assunto mantém uma perspectiva
parcializada de análise e enfatizam a perseguição ao comunismo - ou a caça às
bruxas, como o período tornou-se conhecido.
A ausência de material de análise acerca do período parece justificar-se por
ser a era McCarthy um episódio tão mais doloroso quanto mais se percebe o ataque
que significou ao chamado ideal americano de vida.
A ausência de uma bibliografia condizente com a importância da época nos
colocou a necessidade da realização de um trabalho que se voltasse para este
momento da história dos Estados Unidos.
12
Identificamos o macarthismo e o cinema de ficção como um sólido suporte do
complexo militar-industrial, em franco desenvolvimento após a Segunda Guerra
Mundial. Um suporte construído pela necessidade de garantir a continuidade do
investimento em defesa.
Este investimento é a base de sustentação do capitalismo norte-americano no
pós-guerra, pois, é ele que permite a maior fonte de acumulação de capital do
período, com um processo crescente de privatização do Estado (cada vez mais
prisioneiro dos interesses das elites), o governo destina ao Departamento de Defesa
cifras astronômicas do orçamento, que são repassadas para a empresa privada sob
a forma de contratos de produção de armamentos, constituindo um verdadeiro
“capitalismo sem riscos”.
McCarthy, a Caça às Bruxas e a ficção científica hollywoodiana tornam
irreversível uma produção bélica que já vinha sendo encaminhava desde o início da
guerra.
Com base nestas questões, desenvolvemos este trabalho em quatro
momentos organizando o trabalho da forma como se segue:
No primeiro capítulo, trabalhamos o conceito de Novo Inimigo Total, com o
qual nomeamos a política do complexo militar-industrial de encontrar sempre um
Inimigo que garanta a necessidade do investimento em armas. Nesta fase do
trabalho fazemos um rápido resgate sobre os principais momentos da Guerra Fria
que levaram a URSS a ocupar o lugar do nazi-fascismo no discurso das elites norte-
americanas.
Em seguida, trabalhamos a imagem que foi construída para o Novo Inimigo
Total, a partir da declaração de personalidades públicas.
13
O capítulo dois faz uma breve reconstituição da repressão ao comunismo
entre os anos de 1948 e 56 com a atuação do HUAC e de McCarthy, e também das
bases que permitiram esta repressão:
o Partido Comunista dos Estados Unidos e os casos de espionagem.
O capítulo três busca mostrar qual o papel de Hollywood na construção do
Novo Inimigo, sem o que os objetivos do complexo militar-industrial seriam
inalcançáveis, e de como a indústria cinematográfica cumpriu este papel.
Para isso fazemos em primeiro lugar, uma análise da repressão ao
comunismo em Hollywood e do comportamento das personalidades do mundo do
cinema durante este processo.
Em seguida, analisamos a relação entre a Guerra Fria e o cinema de ficção
científica dos anos 50 para estabelecer os motivos que nos levaram à opção por
este gênero fílmico e não outro.
Por fim, definida a nossa amostragem, fazemos uma análise que busca
arrolar todos os elementos que os filmes levantam para a viabilização do complexo
militar-industrial, especialmente a elaboração da imagem do Novo Inimigo.
Com isto procurando estabelecer os elementos centrais para a análise
posterior da relação entre os filmes e os orçamentos militares.
No 4º e último capítulo, apresentamos uma análise acerca da opção que o
capitalismo norte-americano fez pela guerra como fonte de acumulação de capital e
dos mecanismos que constituem esta opção, para em seguida, a partir dos filmes e
dos orçamentos, estabelecer a relação entre as necessidades do complexo e a
produção de Hollywood vigiada pela Caça às Bruxas.
14
Neste capítulo fazemos uma análise de quais as principais funções da guerra
no mundo moderno, no intuito de demonstrar que, ao contrário de épocas anteriores
em que a guerra servia quase que exclusivamente como forma de defesa, a partir da
Segunda Guerra Mundial, esta tornou-se uma forma de poder e de organização da
sociedade, com um papel de grande relevância na organização da economia
mundial. Em seguida, analisamos as relações entre a indústria cinematográfica e o
Estado, enfatizando a colaboração de Hollywood nos momentos em que foi
necessário fixar na sociedade a imagem do establishment como grande defensor da
democracia contra a tirania de um grande Inimigo.
Por fim, concluindo nosso trabalho passamos por um momento de reflexão,
no qual elaboramos -usando como instrumento a análise anterior dos filmes e os
orçamentos destinados à defesa - um processo de relacionamento entre a
destinação destas verbas e os aspectos relevantes abordados nos filmes. Tal
processo visa estabelecer uma relação entre determinados momentos nos quais o
estado necessitava de respaldo popular para ceder tais verbas e a imagem passada
nas fitas de ficção B que remetiam a situações similares às reais, reforçando um
clima geral de defesa do armamentismo.
15
CAPÍTULO I - O NOVO INIMIGO TOTAL
A “(...) precedência do poder bélico de uma sociedade
sobre suas outras características não é o resultado da ameaça
que se presume existir, em uma determinada época, por parte
de outras sociedades. É o reverso da situação básica;
‘ameaças’ contra o ‘interesse nacional’ são usualmente criadas
ou aceleradas para ir de encontro às necessidades de
transformação do sistema de guerra.”
Ao longo deste trabalho, utilizaremos o termo Novo Inimigo Total ou apenas
Novo Inimigo - como referência à postura assumida pelos Estados Unidos em
relação à União Soviética, após a Segunda Guerra Mundial.
O termo ao qual nos referimos foi tomado de empréstimo à Garry Wills em
sua introdução ao livro de Lillian Hellman, A Caça às Bruxas
1
e é aqui utilizado não
apenas como uma forma de referência à URSS, mas, e fundamentalmente, como
uma maneira ideologizada que as elites norte-americanas encontraram de agir, de
pensar e de apresentar a URSS à opinião pública, uma necessidade primordial para
garantir a continuidade daquilo que viria a ser conhecido mais tarde como complexo
militar-industrial
Foi o presidente Eisenhower quem, em seu Ultimo discurso, utilizou o termo
“complexo militar-industrial” para definir o gigantismo desta máquina
2
. Um
gigantismo provocado pela lucratividade sem riscos que fez da indústria de guerra o
motor da acumulação de capital nos Estados Unidos.
O complexo militar-industrial - conforme veremos ao longo deste trabalho - viu
a sua sobrevivência ameaçada com o fim da Segunda Guerra Mundial. Era preciso
1
HELLMAN, Lillian - A caça às bruxas. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1981. p. 1-21.
16
recriar a imagem de um Inimigo que colocasse em risco a segurança nacional, como
o fizera o nazi-fascismo.
Para isso, nada melhor do que escolher como alvo um país no qual havia se
realizado uma revolução cujo objetivo era a extinção da sociedade capitalista
Aí estava o Inimigo ideal A idéia de que uma sociedade justa e igualitária era
o pressuposto político-ideológico desta revolução e só poderia se viabilizar com o fim
da opressão de classe imposta pelo capitalismo, extinta apenas com a extinção do
próprio capitalismo.
Isto tinha sido a razão de ser da Revolução de 1917.
A morte de Lênin e a ascensão de Stalin puseram por terra esta tentativa de
construir o socialismo no elo mais fraco da cadeia.
Os erros cometidos por aqueles que estiveram à frente do processo
revolucionário abriram a possibilidade desta situação, mas é preciso considerar as
posições que predominaram com a chegada de Stalin ao poder,
“a edificação integral do socialismo em um só país, fundado na estatização
dos meios de produção sob controle burocrático; um Estado inicialmente
com deformações burocráticas para depois se apartar radicalmente da
sociedade civil e adquirir um caráter antioperário, o partido único imposto
por lei a substituição da democracia socialista por um regime de opressão
burocrática,. a vulgarização - em verdade a negação do marxismo na forma
de uma escolástica objetivista e sua transformação em ideologia de estado,
uma idéia de transição desumanizada, despolitizada e tecnocratizada como
simples batalha pela produção ou reino da burocracia”.
3
Tudo isso fez do estalinismo uma contra-revolução que pôs fim à Revolução
de Outubro, inaugurando uma nova era na qual o objetivo central era o de
transformar a URSS em uma superpotência.
É preciso ressaltar que o comunismo jamais se materializou em qualquer
lugar do planeta, nem mesmo na Rússia de 17, embora comunistas, socialista,
2
Ver o texto referente ao discurso no capítulo IV item l, p.
17
marxistas: todos vissem a Rússia como uma sociedade de transição para o
comunismo, e o estalinismo como a fórmula possível para atingi-lo.
Não foi senão com a morte de Stalin em março de 1953 e as denúncias de
Kruchev no XX Congresso do PCURSS em fevereiro de 1956; que os
questionamentos sobre o estalinismo começaram.
Eis, portanto, a situação ideal para quem precisava de um Novo Inimigo Total,
as elites norte-americanas utilizaram-se da confusão que o próprio movimento
socialista fizera para informar ao mundo que a materialização do comunismo era a
URSS de Stalin.
Era esta confusão que possibilitava associar de forma aparentemente
inquestionável, um sistema cujo pressuposto era o fim da sociedade de classes à um
indivíduo que marcou sua época, menos pela defesa dos interesses dos explorados,
e mais pela sua própria pretensão expansionista que só encontrou limites ao
defrontar-se com as pretensões expansionistas de seu principal adversário: os
Estados Unidos.
Vista dessa forma, a fusão/confusão entre comunismo e estalinismo era o que
podia haver de mais útil para a sustentação daquilo que tempos mais tarde viria a
ser conhecido como complexo militar-industrial.
Sustentação que dependia da criação/veiculação da imagem de um Inimigo
forte e poderoso, que não se deteria com nada que não fosse a força das armas.
Compreender o conceito de Novo Inimigo Total com o qual trabalhamos
requer um breve quadro das relações EUA-URSS no imediato pós-guerra, com o
3
Caderno de Teses do l Congresso do Partido - Jornal do Congresso, nº5, p. 72 setembro de 1991.
18
surgimento do que se convencionou chamar de Guerra Fria, para em seguida
demonstrar de que maneira se deu a construção da idéia do Novo Inimigo.
Durante a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos encontraram uma
alternativa de saída para a crise de 29, fazendo do país a maior potência do mundo
capitalista.
A economia de guerra operou este “milagre” com a produção de alimentos,
roupas e, principalmente, com a produção de armas.
Com o fim da Guerra, eliminado o Inimigo comum que os unia à URSS,
Estados Unidos e Europa aumentaram suas preocupações com a expansão
soviética, em particular com o que poderia representar o seu crescimento territorial
durante a guerra e com o que Stalin teria em mente como desdobramento disso.
Consideravam que a URSS havia se expandido territorialmente além do limite que
se poderia considerar como razoável
4
.
Cumpre salientar, entretanto, que a situação soviética do pós-guerra era
bastante precária: 21 milhões de mortos; mulheres e crianças assumindo atividades
anteriormente masculinas, em função do altíssimo índice de mortes de jovens em
idade produtiva; destruição quase que total das regiões mais populosas e ricas; 25
milhões de desabrigados. Destruição e seqüelas no campo e na cidade, ou seja, as
condições básicas de subsistência da URSS encontravam-se bastante ameaçadas.
Apesar desta situação de absoluta precariedade, quando em abril e maio de
1945 as relações entre Estados Unidos e União Soviética chegaram à um impasse,
as lideranças políticas do Ocidente começaram a exibi-la como um Inimigo forte e
vigoroso que, em realidade, ainda não existia.
19
O DISCURSO DE FÚLTON E O INÍCIO DA GUERRA FRIA
Sendo a própria declaração da Guerra Fria, o discurso de Churchill em Fúlton,
busca minimizar as ambigüidades do posicionamento norte-americano sobre a
URSS e recoloca a questão no tom exato que a acompanhava desde 1917.
Eis a seguir, alguns dos trechos mais significativos deste pronunciamento:
“Não creio que teríamos dormido bem se as posições se invertessem e um
estado comunista ou neonazista monopolizasse, no momento, essa força
terrível.
(...)
Não podemos estar cegos ao fato de que as liberdades desfrutadas pelos
cidadãos de todo o Império Britânico não são válidas em considerável
número de países, alguns dos quais muito poderosos Nesses estados o
controle é imposto ao povo por vários tipos de governos policiais, a tal ponto
que se torna contrário a todos os princípios da democracia.
(...)
Uma sombra desceu sobre o cenário até a pouco iluminado pelas vitórias
aliadas Ninguém sabe o que a Rússia Soviética e a sua organização
comunista internacional pretende fazer no futuro imediato , ou quais são os
limites, se é que os há para as suas tendências expansionistas e
proselitistas (...) É meu dever, porém, expor-vos certos fatos sobre a
situação atual da Europa - e embora não o deseje, meu dever me obriga a
expô-los.
De Settin no Báltico, a Trieste no Adriático, uma cortina de ferro desceu
sobre o continente Atrás daquela linha todas as capitais dos antigos
Estados do Centro e do Leste Europeu, Varsóvia, Berlim, Praga, Viena,
Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sofia, todas elas famosas cidades, e
suas populações vivem no que se poderia chamar esfera soviética e todas
estão sujeitas, de uma forma ou de outra, não apenas à influência soviética,
mas em crescente medida ao controle de Moscou.
(...)
Quaisquer conclusões que possam ser tiradas destes fatos e fatos eles são
- esta não é certamente a Europa libertada que lutamos para construir
Também não é uma que contenha os ingredientes de uma paz permanente.
(...)
Em grande número de países a quinta coluna se estabelece e trabalha em
completa unidade e obediência absoluta às instruções recebidas do centro
comunista. Exceto na Comunidade Britânica e nos Estados Unidos, onde o
comunismo está em sua infância, os partidos comunistas, ou quintas-
colunas, constituem um crescente perigo e ameaça à civilização cristã.
(...)
4
Em maio de 1945, a URSS tinha sob seu poder 8 Estados anteriormente independentes - Estônia, Letônia,
Lituânia Polônia Checoslováquia, Hungria, Romênia e Bulgária. Incorporou 470.850 km
2
do território europeu e
uma população de 22,3 milhões de habitantes.
20
Acautelai-vos eu digo, porque o tempo pode ser curto Não nos deixeis tomar
o rumo de que os acontecimentos nos conduzam até que seja tarde
demais”.
5
Foi este o discurso que se seguiu ao clima cordial estabelecido em Yalta,
bruscamente interrompido com a morte de Roosevelt em 12 de abril de 1945.
Um discurso com o aparente objetivo de informar as manobras soviéticas, que
serviu na verdade, aos objetivos do complexo militar-industrial nos EUA: a criação de
um Novo Inimigo Total.
A resposta de Stalin à Churchill e seus aliados, não ficou atrás em
agressividade e ameaça, o que só viria a jogar água no moinho daqueles que
desejavam transformar a URSS no alvo privilegiado do pós-guerra.
A seguir uma pequena amostra da resposta de Stalin feita através de uma
entrevista ao Pravda em 13 de março de 1946:
“P: Como considera o Ultimo discurso de Churchill nos Estados Unidos da
América?
R: Considero-o um ato perigoso, destinado a semear a dissensão entre os
estados
aliados e impedir sua colaboração.
P: É possível considerar o discurso de Churchill como prejudicial à causa da
paz e
segurança ?
R: Sim, sem dúvida Na verdade, o Sr Churchill toma agora a posição dos
provocadores de guerra, e nisso não está só Tem amigos não só na Grã-
Bretanha como também nos Estados Unidos.
Na verdade, Churchill e seus amigos na Inglaterra e nos Estados Unidos
apresentam às nações que não falam inglês um ultimato: Aceitem
voluntariamente nosso domínio, e tudo estará bem; de outro modo, a guerra
é inevitável.”
6
O tom da entrevista de Stalin deixava clara a sua disposição de não ceder às
pressões do chamado bloco ocidental. A situação interna da URSS tornava
providencial a existência de um inimigo externo. Dado o quadro de desagregação e
5
O discurso foi pronunciado no Westminster College, em Fúlton, Missouri em 5 de março de 1946. Churchill
afirmou que o discurso não representava a posição oficial do governo e sim a sua própria.
Os trechos citados foram extraídos de BARROS, E L. de - A Guerra Fria. São Paulo: Atual 1985. p. 19-20 e
MORRAY, J P. - Origens da Guerra Fria. Rio de Janeiro: Zahar 196. p. 61-8.
6
Citado em MORRAY, J P. - op. cit. p. 68.
21
de oposição à política stalinista era preciso de algo que coesionasse a população
em torno da contra-revolução que Stalin colocou em marcha após a morte de Lênin.
Como é possível perceber a política de boas relações de Roosevelt estava
definitivamente enterrada, sendo substituída - com a posse de Truman - por uma
política externa bastante agressiva que visava neutralizar a influência soviética na
Europa e impedir a adoção do marxismo em qualquer parte do mundo.
O CONTROLE DA ENERGIA ATÔMICA
Foi neste quadro de discursos agressivos de parte a parte, que se iniciaram
os primeiros conflitos relacionados ao uso e controle da energia atômica.
A bomba-A foi um instrumento fundamental na política externa americana,
pois alterou profundamente a correlação de forças de Yalta, resultando numa
posição mais intransigente e ofensiva dos Estados Unidos nas negociações da
Conferência de Potsdam. O próprio Secretário Byrnes advertiu Truman desta
situação ao dizer que “a bomba pode colocar-nos muito bem numa posição de ditar
nossos próprios termos”
Segundo Truman, a bomba foi utilizada com o objetivo de terminar o mais
rápido possível com a guerra, garantindo a rendição japonesa e poupando vidas.
No entanto, a posição expressa por várias personalidades públicas sobre o
uso da bomba, demonstram que a realidade não era bem essa.
Em 18 de julho de 1945, o General Marshall afirmou que:
“O impacto da entrada dos soviéticos na guerra do Pacífico contra os
desesperados japoneses pode muito bem ser a ação decisiva para levá-los
à capitulação”
7
Eisenhower foi mais longe, ao dizer que:
22
“(...) o Japão já estava derrotado e o lançamento da bomba era
completamente desnecessário ( ) o nosso país deveria evitar o choque da
opinião mundial pelo uso de uma arma cujo emprego não era mais
obrigatório como uma medida para se salvar vidas americanas Eu
acreditava que o Japão estava procurando uma forma de se render com um
mínimo de dignidade. Não era preciso ameaçá-lo com aquela coisa
pavorosa”
8
O Almirante Willian D. Leahy (chefe de gabinete do presidente) declarou
ainda que “o uso desta arma bárbara em Hiroshima e Nagasaki não representava
qualquer ajuda material contra o Japão, os japoneses já estavam derrotados e
prontos para se renderem”
9
O próprio Churchill escreveu posteriormente em suas memórias que “Seria
um erro supor que o destino do Japão foi decidido pela bomba atômica. A derrota do
Celeste lmpério já estava assegurada antes de ser lançada a primeira bomba”.
10
Mas por que então a bomba foi utilizada?
Ao que tudo parece indicar, para evitar que a entrada da URSS na guerra
fosse vista como decisiva para o seu fim o que, muito provavelmente, acarretaria
uma ampliação da influência soviética na Ásia.
Depois de usada a bomba, era preciso criar mecanismos de controle do uso
da energia atômica, para que a sua utilização para fins militares fosse dificultada aos
países que não contassem com a confiança dos EUA, em particular, a URSS que - e
o tempo mostrou isso - era de fato, o único país em condições de competir com os
EUA nesta área.
Para garantir este objetivo, em 1º de agosto de 1946, Truman deu o primeiro
passo e promulgou a Lei de Energia Atômica (Atomic Energy Act), que previa a
7
Citado em FERREIRA, Argemiro - Caça às Bruxas. Porto Alegre: L&PM 1989. p. 40-41
8
Citado em ALPEROVITZ, Gar - Diplomacia Atômica Rio de Janeiro: Ed. Saga, 1969. pp. 292.
9
Citado em FERREIRA, Argemiro.- op. cit. p. 41.
10
Citado em OLYMPIO, Guilherme - URSS & USA. Rio de Janeiro: Livraria Prado, 1955 p. 107.
23
constituição de uma Comissão de Energia Atômica (Atomic Energy Comission -
AEC) nos EUA, com vistas ao controle interno.
Segundo a lei, a AEC deveria ser constituída por 5 membros que estavam
autorizados a realizar pesquisas atômicas para quaisquer finalidades, além disso, a
AEC seria a proprietária de todo o material físsil produzido no país.
Um dos pontos polêmicos desta Lei era o seu item 10 (a) que - ignorando os
benefícios trazidos pela troca de informações entre os cientistas do mundo (como
bem o demonstra o próprio Projeto Manhattan) - determinava que:
“1 - Até que o Congresso declare, através de uma resolução conjunta, que
existem medidas eficientes e práticas para a proteção internacional contra o
uso da energia atômica para fins destrutivos, não haverá troca de
informações com outras nações sobre o uso da energia atômica para fins
industriais.
2 - A divulgação de informações técnicas e científicas relativas à utilização
da energia atômica será permitida e estimulada, de forma a proporcionar o
livre intercâmbio de idéias e críticas, essencial ao progresso científico”
11
Enquanto nos Estados Unidos eram discutidos os termos desta Lei, as
Nações Unidas criavam em 24 de janeiro de 1946, por unanimidade, a sua
Comissão de Energia Atômica.
12
Em junho do mesmo ano, os EUA apresentavam perante a ONU a sua
proposta para o controle da energia atômica.
Esta proposta foi fruto do estudo de uma Comissão Especial, subordinada ao
Departamento de Estado - cujo secretário era James F. Byrnes - e coordenada pelo
então subsecretário, Dean Achenson. Foi composta por Leslie R. Groves (major-
11
Atomic Energy Act In Commanger, H Steele (ed.) - Documents of American History. 7.ed, New York, 1963.
12
A Assembléia Geral da ONU de 24 de janeiro de 1946 aprovou uma resolução que atribuía à esta Comissão o
papel de examinar os problemas referentes à energia atômica e elaborar propostas específicas sobre:
a) extensão à todas as nações, do intercâmbio de informações científicas básicas para finalidades pacíficas,
b) controle da energia atômica na proporção necessária para assegurar sua utilização exclusiva com objetivos
pacíficos;
c) proteção eficiente, pela inspeção e por outros meios, para salvaguardar os Estados signatários contra possíveis
violações e subterfúgios.
Citado em MORRAY, J. P. - op. cit. p. 89-90.
24
general do Exército responsável pelo Projeto Manhattan), Vannemar Bush (físico),
James B. Connant (químico e presidente da Harvard University) e John J. McCloy
(advogado, banqueiro e ex-Secretário de Guerra). A comissão possuía ainda uma
assessoria composta pelas seguintes pessoas: David E. Liliethal, Chester Barnard,
J. Robert Oppenhiemer, Chester Allen Thomas e Harry A. Winne.
13
O relatório desta comissão - conhecido como relatório Achenson-Liliethal - foi
publicado em março de 1946 e apresentado pelo representante dos EUA na
Comissão de Energia Atômica da ONU, Bernard M. Baruch
14
, ficando a proposta
conhecida mundialmente como Plano Baruch.
O eixo central do Plano era a criação de uma Autoridade Internacional de
Desenvolvimento Nuclear à qual caberia acompanhar o desenvolvimento e a
utilização da energia atômica, inclusive o material bruto.
Caberia ainda a esta Autoridade:
1 - Controlar a apropriação e/ou administração de todas as atividades
vinculadas à energia atômica potencialmente perigosas para a segurança mundial;
2 - Controlar, inspecionar e licenciar todas as demais atividades vinculadas à
energia atômica;
3 - Estimular os usos benéficos da energia atômica;
4 - Responsabilizar-se pela pesquisa e desenvolvimento dos aspectos
positivos da energia atômica com a finalidade de colocar a Autoridade na dianteira
13
Lilienthal era advogado e presidente da Administração do Vale do Tennessee, Barnard era presidente da New
Jersey Bell Telephone Company Oppenheimer era físico e ex-diretor do Laboratório de Los Alamos, Thomas era
vice-presidente da Monsanto Chemical Company e Winne era vice-presidente da General Eletric.
14
Bernard Baruch era financista e tinha a confiança dos maiores banqueiros e industriais dos Estados Unidos. Já
tinha sido conselheiro de outros presidentes e foi nomeado para representar o governo americano na
apresentação da proposta sobre o controle de energia atômica à ONU que passou a ser conhecida como Plano
Baruch.
25
dos conhecimentos e ser capaz de perceber, portanto, a utilização inadequada
desta.
15
É possível perceber, sem necessidade de muito esforço que o maior
beneficiário da proposta eram os Estados Unidos.
Sob pena de ter a sua soberania nacional ameaçada, a URSS não poderia
concordar com o plano e, de fato, não concordou Andrei Gromiko, então
representante da URSS na Comissão, apresentou uma contraproposta que criou um
impasse.
A proposta de Gromiko descartava a constituição de uma Autoridade
Internacional, deixando o controle da Energia Atômica nas mãos do Conselho de
Segurança da ONU, no qual todos os chamados Grandes, possuíam direito de veto.
Na verdade, a proposta de Gromiko colocava a Única possibilidade da URSS
impedir uma inspeção à revelia em seu território.
Gromiko propunha também a ilegalidade das armas atômicas e a
conseqüente destruição de seus estoques e, por fim, a ampla difusão dos estudos
atômicos entre todos os países-membros da ONU.
Tanto uma como outra proposta demonstravam o clima de desconfiança
generalizada que se instaurou entre as duas potências no pós-guerra.
O Plano Baruch tinha enormes lacunas acerca de questões fundamentais que
viabilizassem a sua aceitação por parte da URSS.
1- Quem iria determinar a política a ser desenvolvida pela Autoridade
Internacional proposta no plano?
15
A íntegra do pronunciamento de Baruch sobre a proposta pode ser encontrada em US - Department of State -
The United States and the United Nations Report Nº 7, Washington, 1947.
26
O provável mentor dessa política, o Conselho de Segurança da ONU não
tinha com uma correlação de forças das mais favoráveis à URSS, que dos 5 lugares
permanentes de um total de 11, possuía apenas o seu próprio.
16
2 - A proposta de Baruch dizia que o critério fundamental para composição da
Autoridade era o da competência.
Os EUA, possuindo o monopólio da Bomba, certamente estariam numa
situação bastante privilegiada em relação à URSS nesta questão.
3- O plano propunha que o estudo referente ao uso da Energia Atômica para
fins pacíficos, estivesse sob o estrito controle da Autoridade.
Isso impedia que qualquer Nação explorasse esta questão com a rapidez e a
independência que lhe fosse necessária.
4- Outro ponto da proposta de Baruch era que na Autoridade não haveria
direito de veto quanto às questões de inspeção e punição.
O direito de veto no Conselho de Segurança estava vinculado à questão da
soberania nacional que, pela proposta dos EUA, ficaria relegada à segundo plano
nesta Autoridade.
5- Quem iria julgar se e quando o “sistema adequado de controle” já havia se
desenvolvido o suficiente para permitir que o governo dos Estados Unidos abrisse
mão do seu monopólio sobre a bomba atômica?
Não sem razão, o plano era omisso sobre esta questão. Isto certamente
favoreceria os EUA a apenas abrirem mão de suas vantagens monopolísticas no
momento em que julgassem oportuno - e se assim o julgassem.
16
O Conselho de Segurança possuía 11 países membros, destes apenas 5 eram permanentes; os outros 6 eram
rodiziados, e a entrada de algum país pró-soviético entre estes 6 dependeria da anuência dos países do chamado
27
Esta questão, provavelmente a mais delicada de todas envolvendo o Plano
Baruch, foi alvo de um ácido comentário de Henry Wallace - então Secretário do
Comércio em uma carta enviada à Truman em 23 de julho de 46, na qual colocava o
problema como um “defeito fatal” do plano. Dizia Wallace:
“O defeito é que o plano exige das outras nações que não realizem
pesquisas sobre o uso militar da energia atômica e que revelem seus
recursos de urânio e tório, enquanto os Estados Unidos retêm seu
conhecimento da energia atômica até que o controle internacional e o
sistema de inspeção estejam funcionando de acordo com o nosso desejo.
(...)
(...) estamos dizendo aos russos que se forem 'bons meninos' poderemos
revelar à eles o nosso conhecimento sobre a energia atômica. (...)”
17
A resposta de Baruch às preocupações de Wallace reforçam as dúvidas
acerca do compromisso dos EUA com uma proposta de controle factível e com uma
paz duradoura Baruch limitou-se a dizer que o detalhamento da proposta seria
apresentado no momento oportuno, pois
“(...) a seqüência e o entrosamento das diferentes fases de transição
dependem de negociações detalhadas, já que este processo representa
uma alteração da posição atual dos Estados Unidos, para uma posição de
igualdade entre todas as nações participantes do plano.”
18
A ausência de definição precisa sobre o momento de abandonar os privilégios
e partilhar com o conjunto das nações os chamados segredos atômicos, já se
evidenciava no próprio relatório que deu origem ao Plano:
“A proposta não exige que os Estados Unidos parem a fabricação [da
bomba] Em certa fase isso será necessário Mas nem o plano, nem as
recomendações que fizemos podem significar que isto deva ou não ser feito
logo de saída, ou em qualquer época específica”
19
O impasse criado pelo plano Baruch, por si só já seria um grande abalo em
qualquer possibilidade de diálogo entre as duas potências Não era tudo, porém,
estremecimentos maiores ainda estavam por vir.
bloco ocidental.
17
The New York Times, 18 de setembro de 1946, pp. 2
18
The New York Times, 3 de outubro de 1946, p. 23.
19
US Department of State. Department of State Bulletin, vol. 14, apr 7, 1946.
28
A DOUTRINA TRUMAN
A Doutrina Truman tinha como base o estudo de George Kennan, The
soucers of soviet conduct publicado em julho de 1947, e que consistia num
desdobramento da mensagem de oito mil palavras que ele havia enviado ao
Departamento de Estado em fevereiro de 1946.
20
Kennan dizia que era preciso esperar uma política externa agressiva e
expansionista por parte dos soviéticos, derivada da própria teoria comunista Dizia
também que o povo russo seria convencido a estar contra o Ocidente porque o
Kremlin iria utilizar o argumento da ameaça que as nações capitalistas
representavam ao comunismo.
O estudo de Kennan afirmava que era preciso iniciar “(...) uma contenção a
longo prazo, perseverante, mas firme e vigilante, das tendências expansionistas da
Rússia.”
21
Com isto, em 12 de março de 1947, Truman proferiu perante o Congresso um
dos mais contundentes discursos de seu governo. Neste pronunciamento o
presidente pedia aos congressistas a liberação de verbas no valor de 400 milhões
de dólares para ajudar a Grécia e a Turquia, com o objetivo de evitar a instalação de
regimes comunistas nestes países.
O propalado “expansionismo soviético” passou a ser a justificativa para a
intervenção dos Estados Unidos aonde quer que lhes interessassem intervir, como
bem o demonstram as palavras do próprio Truman:
20
Kennan entrou para o Departamento de Estado por volta de 1925, logo após a sua formatura na Universidade.
Ao escrever o texto era encarregado de negócios na Embaixada norte-americana em Moscou. O texto foi
publicado pela primeira vez em Foreign Affairs de julho de 1947, assinado com Mister X.
21
O texto que utilizamos para o nosso trabalho é o que foi posteriormente publicado em The US in the
contemporary world. New York, The Free Press, 1968. pp. 47-64.
29
“A política exterior e a segurança nacional deste país estão comprometidas.
Um aspecto da presente situação, que desejo focalizar e apresentará vossa
consideração e deliberação refere-se à Grécia e à Turquia.
(...)
Não há outro pais ao qual a Grécia democrática possa recorrer.
Nenhuma outra nação está capacitada e pronta a promover o necessário
sustento para o governo democrático grego.
(...)
O país vizinho da Grécia, a Turquia, também requer a nossa atenção.
(...)
Somos o único país capaz atualmente de providenciar tal auxílio.
(...)
Para assegurar o desenvolvimento pacífico das Nações, livre de coerção, os
Estados Unidos tomaram uma posição de liderança ao criarem o organismo
das Nações Unidas (...) Não poderemos alcançar, no entanto, os nossos
objetivos, a menos que sejamos capazes de auxiliar um povo livre a manter
sua integridade nacional contra movimentos agressivos que buscam impor-
lhe regimes totalitários. Isso não é mais do que um reconhecimento franco
de que os regimes totalitários impostos à povos livres, por agressão direta
ou indireta, mina as fundações da paz internacional e assim a segurança
dos Estados Unidos.
(...) Creio que deve ser da alçada da política dos Estados Unidos auxiliar
aqueles que estão resistindo às tentativas de subjugação promovidas por
minorias armadas ou por pressões externas.
Creio que devemos ajudar os povos livres a conduzir a sua maneira, seus
próprios acontecimentos (...)”
22
Os acontecimentos na Grécia e na Turquia serviram de convincente pretexto
para tornar pública a chamada Doutrina Truman. O presidente conseguiu “agradar”
aos republicanos e colocar praticamente todo o Congresso a seu favor.
23
Truman usou um discurso que combinava todos os elementos necessários à
construção do Novo Inimigo, o discurso do “totalitarismo” contra a “liberdade” e da
necessidade de garantir a segurança nacional, podendo e devendo os Estados
Unidos interferir em todo e qualquer acontecimento envolvendo outras nações contra
a ameaça totalitária e agressiva da URSS.
22
MORRIS, Richard B. - Documentos básicos da história dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Fundo de Cultura,
1964. p. 225-9
23
A proposta foi votada em 23 de abril de 1947. Foi aprovada por 67 votos a 23 no Senado e na Câmara por
unanimidade.
30
O PLANO MARSHALL
Menos de 3 meses depois do discurso de Truman pedindo verbas para a
Grécia e a Turquia, o General George Marshall - então Secretário de Estado -
anunciava em 5 de junho de 1946, as linhas centrais daquilo que viria a ser
conhecido como Plano Marshall.
“(...) O colapso da estrutura dos negócios europeus durante a guerra foi
completo.
(...) as necessidades da Europa são maiores que a sua capacidade de
pagamento (...) deve [portanto] merecer uma ajuda adicional ou então
enfrentará uma deterioração econômica, social e política extremamente
grave.
(...)
É lógico que os Estados Unidos devem fazer o que for possível para ajudar
a promover o retorno do poder econômico normal no mundo, sem o que não
pode haver estabilidade política e nem garantia de paz.
(...)
Com a boa vontade de nosso povo a fim de enfrentar a imensa
responsabilidade que a história confiou ao nosso país, as dificuldades que
apresentei podem e devem ser superadas”.
24
A proposta de Marshall contemplava as preocupações que várias
personalidades da vida política vinham tendo com a situação vivida por vários países
após a guerra. Foi aceita por 17 países e recusada pela URSS e seus aliados.
25
É importante notar que, sob a capa da preocupação com a grave situação
vivida pela Europa, estava o objetivo principal de manter e ampliar a hegemonia do
capitalismo - sob controle dos Estados Unidos - na Europa Ocidental, evitando que a
URSS avançasse a partir do Leste na conquista de novas posições.
Além disso, a proposta reforçava a idéia dos Estados Unidos como um país
destinado pela história, a salvar “da tirania e da opressão” todos os povos do
“mundo livre”, anteriormente ameaçados pelo nazi-fascismo e agora pelo
24
The New York Times, 6 de junho de 1947
31
“comunismo” Isto era um elemento fundamental na constituição da imagem do Novo
Inimigo Total.
O discurso de Fúlton, o PIano Baruch, a Doutrina Truman e o Plano Marshall,
não foram os únicos acontecimentos no cenário da Guerra Fria, mas foram decisivos
para que o “sistema de guerra” viesse a se consolidar nos anos imediatamente
posteriores a Segunda Guerra.
Depois do Plano Marshall, veio a Guerra da Coréia, em 1950, na qual, mais
uma vez, e de forma dramática, entrava em cena a disputa por esferas de poder
entre o Leste e o Oeste.
Três outros momentos cruciais marcaram o período, a proposta de “Átomos
para a Paz”, anunciada em 8 de dezembro de 1952; a de “Retaliação Maciça”
anunciada por Foster Dulles em 12 de janeiro de 1954 e a de “Céus Abertos”
anunciada por Eisenhower em 18 de julho de 1955, na abertura da Conferência de
Genebra.
Tudo permeado pelos testes de novas armas nucleares, de ambas as
potências, o que acirrava os ânimos nos círculos de poder e amedrontava, ainda
mais, as populações dos dois países (e de todo o mundo), já bastante atordoadas
com o clima de ataques mútuos.
Todos estes momentos contribuíram, de forma decisiva, para aumentar o
clima já tenso, destes dias de uma disputa intestina entre Estados Unidos e União
Soviética. Uma disputa marcada pelo imperialismo e pelas diferenças ideológicas
que a Revolução de Outubro de 17 trouxe ao patamar do mundo real.
25
A URSS tinha aparentemente dois motivos centrais para não aceitar a proposta. Um era a consolidação de uma
possível dependência do bloco "comunista II em relação aos EUA. 0utro, era o receio de que a adesão ao Plano
significasse um questionamento da hegemonia soviética no Leste Europeu.
32
Um verdadeiro barril de pólvora, que servia aos interesses - por motivos
distintos - de ambas as potências.
A IMAGEM DO NOVO INIMIGO TOTAL
Nada poderia ser mais necessário à economia armamentista norte-americana
do pós-guerra, do que a criação de um Novo Inimigo que remobilizasse a população
e mantivesse a opinião pública submissa ao complexo militar-industrial.
“A submissão requer uma causa; uma causa requer um inimigo. Tudo isso é
óbvio; o ponto crítico é que o inimigo que define a causa deve parecer
genuinamente formidável.
26
O Inimigo: a URSS A causa: a defesa da “democracia e da liberdade no
mundo” A submissão: um investimento cada vez mais constante na indústria
armamentista.
A construção do Novo Inimigo Total baseasse em idéias que definiam o
comunismo como totalitário e o americanismo como a democracia por excelência
27
.
Fazia-se necessário que o povo norte-americano se tornasse o “guardião da paz e
da liberdade” contra a “tirania soviética”.
Churchill deu o pontapé inicial no jogo pela busca de um Inimigo que definisse
a causa, dizendo que “O mundo está envolvido numa total confusão. O perigo
comum, o principal laço que unia os membros da grande aliança se desvaneceu
para sempre. A ameaça soviética, no meu entender, já tomou o lugar do inimigo
nazista”.
28
26
A PAZ INDESEJÁVEL. Rio de Janeiro: Ed. Laudes, 1969. p. 73-74
27
O conceito de americanismo que utilizamos aqui é o definido por Fernando Peixoto em seu Hollywood
episódios da histeria anticomunista Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1991. pp. 41.
Diz Peixoto que:
"Não se trata de americanismo ou defesa da democracia [mas] trata-se explicitamente, na verdade, de defesa do
capitalismo, da livre iniciativa, do lucro e do mercado imperialista.
28
Citado em DELMAS, Claude - Armamentos nucleares e Guerra Fria. São Paulo, Ed. Kronos, 1971 pp. 32.
33
Alguns meses depois, Churchill pronunciaria o seu célebre discurso de Fúlton
e o presidente Truman, já em clima de Guerra Fria, iria enviar um memorando ao
seu Secretário de Estado, no qual apontava em caráter definitivo, a URSS como o
Novo Inimigo Total. Dizia Truman:
“Se a Rússia não se defrontar com homens que a detenham com punhos de
aço e com palavras enérgicas, haverá uma nova guerra. Ela só compreende
uma única linguagem: ‘Quantas divisões possuem vocês?' Eu não acredito
que devemos perder mais tempo fazendo concessões”.
29
Conforme veremos a seguir, “punhos de aço” e “palavras enérgicas” não
faltaram e as concessões já haviam ficado para trás há algum tempo.
O discurso que anunciou a Doutrina Truman em 47, já apontava para a
necessidade de combater a “ameaça totalitária” representada pelo comunismo,
“No presente momento da história mundial é provável que cada nação tenha
de escolher entre modos alternativos de vida.
(...) não podemos permitir alterações do status quo violando a carta das
Nações Unidas por métodos como a coerção, ou por tais subterfúgios como
a infiltração política.”
30
Paralelamente ao discurso da tirania soviética e também como elemento
importante da construção da imagem do Novo Inimigo Total, o governo norte-
americano publicizou a idéia de que os comunistas eram violentos e utilizariam
quaisquer métodos para chegar ao poder.
Em 1948 o relatório da subcomissão nº 5 da Comissão de Relações
Exteriores dizia que:
“1 - Os comunistas têm um objetivo: a revolução mundial.
2 - De acordo com o seu ponto de vista, a revolução será violenta.
3 - Os comunistas são incapazes de aceitar a idéia de que a paz pode ser
mantida, pois têm certeza de que explodirá mais uma guerra catastrófica.
(...)
5 - Os comunistas temem uma coalizão contra a URSS.
(...)
7 - Os comunistas empregam os mais modernos e eficientes processos de
combate em sua Guerra Fria, (...)”
31
29
Id. ibid. p. 47.
30
MORRIS Richard B. - op. cit. p. 228.
34
A partir de 1949, com a divulgação dos primeiros casos de espionagem,
desencadeou-se uma pesada campanha de propaganda para garantir que a URSS,
já transformada no Novo Inimigo Total fosse vista cada vez com maior temor e
desconfiança por parte da população.
O que se viu nestes dias de febre macarthista foi uma verdadeira cascata de
programas de rádio e TV documentários, pronunciamentos, discursos inflamados e
manchetes de jornais nada elogiosas dirigidas ao país conduzido com mãos de ferro
por Stalin.
Nada faltou, do alerta quanto ao poderio militar que a URSS acumulara no
pós-guerra, à ausência de liberdades individuais Da conspiração em curso
promovida pelos partidos comunistas, ao trabalho forçado na Sibéria. Da ameaça de
detonar uma nova guerra, à ocupação de territórios pelo Exército Vermelho Do
exótico ao atroz Da fantasia à realidade Do capitalismo sem fronteiras à contra-
revolução stalinista.
Tudo foi dito, basta ver estas manchetes:
“Apenas a URSS poderá provocar uma nova guerra Enérgica resposta dos
Estados Unidos à política soviética de intimidação.” O Estado de São Paulo
- 04/02/1950, p. 1.
“A luta na Coréia não é o início de uma guerra a moda antiga entre duas
nações, mas o de uma luta ideológica entre o totalitarismo e a liberdade” -
DWIGHT D. EISENHOWER - O Estado de São Paulo -22/07/1950, p. 1.
(San Francisco, 21/07, ag. AFP).
“A URSS é o país que mais gasta no mundo com suas forças armadas” - O
Estado de São Paulo, 27/03/1951, p. 2 (Washington, 26102, ag. AFP).
“O americanismo é atacado pelo comunismo em nossa pátria e no exterior.
Estamos protegendo nosso país contra os espiões e os sabotadores.
Estamos eliminando a conspiração comunista em nossa pátria Estamos
construindo nossas defesas e, ao mesmo tempo, ajudando os nossos
31
US - Committee on Foreign Affairs. The strategy and tactics of world communism. Report sub-committe nº5
national and international movements House Document nº 619.
35
aliados a se tornarem fortes” Harry S. Truman. O Estado de São Paulo,
15/08/1951, p. 1 (Washington, 14/08, ag. UP)
“A sociedade russa é uma floresta pela qual os governantes vagueiam como
animais de presa aterrorizando os homens” - H. S. TRUMAN - O Estado de
São Paulo 18/09/1951, ult. p., (Washington, 17/09, ag. UP.)
“O maior orçamento da história russa para o ano de 1952” - O Estado de
São Paulo - 07/03/1952, ult. p. (Moscou, 06/03, ag. UP).
“Achamo-nos tanto no estrangeiro como em nossa casa, diante de uma
vasta conspiração internacional Todos os americanos sabem hoje que o
comunismo é incompatível com a maneira norte-americana de viver.” Adlai
Stevenson - candidato à presidência pelo Partido Democrata. O Estado de
São Paulo. 13/09/1952 (Los Angeles - 12/09 - ag. AFP)
“OS EUA estão expostos ao maior perigo de sua história diante da ameaça
soviética.” John Foster Dulles - O Estado de São Paulo, 07/04/1953, p. 1.
(Washington, 06/04, ag. AFP)
Além da divulgação via imprensa, não faltaram publicações oficiais com o
objetivo de incutir na opinião pública a imagem do comunismo que o establishment
tanto necessitava construir para viabilizar seus objetivos.
Neste campo dos documentos oficiais encontramos - para citar apenas um
dos vários exemplos existentes - o conhecido folheto “Cem coisas que você precisa
saber sobre o comunismo”.
32
Produzido em forma de perguntas e respostas e distribuído aos milhões por
todo o país, este folheto demonstra o que foi a propaganda comunista vinda dos
círculos oficiais. Trabalha o comunismo de forma caricatural, buscando veicular a
imagem deste, como um sistema de absoluta tirania e ausência de todo e qualquer
tipo de liberdade individual. Vejamos o que é dito pelo próprio folheto:
“P - Que vem a ser o comunismo?
R - Um sistema pelo qual um pequeno grupo procura governar o mundo
P Mas que pretendem os comunistas?
R - Dirigir o seu espírito e o seu corpo, do berço ao túmulo
P Quais são os inimigos que os comunistas ensinam as crianças a odiar?
32
US Congress House on Un-american Activities Committee. House Document nº136 1951. O folheto foi
elaborado pelo HUAC.
36
R - Toda e qualquer pessoa que se recuse a ser dominada durante toda a
vida pelos Bolchevistas Por exemplo: qualquer cidadão leal aos Estados
Unidos”
Era a propaganda elaborada por uma proposta política, que visava
transformar os EUA numa potência militarizada, em função da “ameaça externa” Isto
possibilitava o crescimento ilimitado da indústria armamentista e conseqüentemente,
dos lucros que acumulava. Esta proposta precisava do apoio dos parlamentares,
mas também, e fundamentalmente, da população, para isso o Inimigo era
fundamental.
O complexo militar-industrial, disposto a manter os privilégios conquistados
durante a Guerra, não poupou esforços. Criou o clima geral e dele se aproveitou
para manter corações e mentes sempre convictos de que a colaboração com o
“sistema de guerra” era a Única solução para os problemas.
Com isso, o capitalismo norte-americano mantinha saudável a sua nova
“galinha dos ovos de ouro”: a indústria armamentista.
37
CAPÍTULO II - O NOVO INIMIGO TOTAL E A
REPRESSÃO AO COMUNISMO
AS BASES DO MACARTHISMO
OS CASOS DE ESPIONAGEM
Os casos de espionagem investigados no pós-guerra constituíram a base de
apoio dos parlamentares conservadores - McCarthy em especial - para o seu
discurso sobre o que chamavam de infiltração e conspiração “comunista” nos
Estados Unidos.
Estes casos foram tratados, no mais das vezes de maneira bastante
irresponsável, principalmente pelos republicanos, que os utilizaram como uma
oportunidade para desencadear o processo inquisitório que viria a seguir.
É interessante notar, entretanto, que até meados de 1945, o discurso geral do
governo, era de que, durante a Segunda Guerra, tinha sido possível manter em
sigilo os segredos norte-americanos, em particular os que se referiam às pesquisas
atômicas desenvolvidas no país.
O todo-poderoso diretor do FBI, J. Edgar Hoover, referindo-se à possíveis
atividades de espionagem, declarou que “(...) A Nação está mais do que nunca livre
de espiões e de sabotadores...As suas atividades foram há muito tempo,
investigadas. (...) O nosso governo conhece a sua identidade e os seus métodos.”
33
Em 8 de agosto de 45, o relatório de atividades do FBI declarava que não
havia ocorrido nenhum caso de sabotagem em fábricas e laboratórios atômicos e
33
Artigo assinado por Hoover e distribuído pela United Press em 17/10/1940. Citado em COOK, Fred J. - O FBI
por dentro. pp. 296.
38
que todas as pessoas, antes de serem empregadas no Projeto Distrito Manhattan
haviam sido previamente investigadas.
34
Diante destes fatos, duas hipóteses são possíveis para explicar uma mudança
como a que ocorreu nos discursos sobre a questão da espionagem, logo após o
término da Guerra. Ou o FBI era absolutamente incompetente a ponto de não ter
percebido a chamada infiltração comunista e o conseqüente roubo dos segredos
atômicos (o que parece ser bastante improvável) Ou então, a espionagem não
resultou em nenhum perigo real que comprometesse de fato, a segurança dos
Estados Unidos, seja na questão política e/ou diplomática.
Por que então a avidez em encontrar, julgar e punir os “espiões comunistas”?
A resposta não é difícil de deduzir. Este era um verdadeiro filão. Um excelente
mecanismo para criar um sentimento generalizado de pânico e enfraquecer a
resistência da opinião pública aos orçamentos destinados à defesa, preocupação
central das elites norte-americanas.
No entanto, era preciso criar o Novo Inimigo e o bem sucedido teste nuclear
soviético, associado à derrota infringida à Chiang-Kai-Check por Mao-Tsé-Tung na
China, só fez aumentar a pressa e a ânsia das elites em transformar todas as
pessoas identificadas com a esquerda (ou com o pensamento liberal de um modo
geral) em espiões e traidores.
Com esta atitude, as elites promoveram o seu objetivo central o de fixar na
opinião pública uma imagem ameaçadora do Novo Inimigo que garantisse o
necessário grau de submissão aos interesses do complexo militar-industrial.
34
O Projeto Distrito de Manhattan, em Oak Ridge no Tennesse, foi o projeto que deu origem aos estudos sobre
energia atômica. Segundo informações oficiais do FBI, foram investigadas cerca de 270 mil fichas datiloscópicas
de pessoas que se candidataram à trabalhar no Projeto Manhattan.
39
A PONTA DO ICEBERG: O CASO AMERÁSIA
Foi através do caso Amerásia que o FBI engajou-se definitivamente nas
investigações sobre a espionagem.
O Amerásia, talvez por ser o primeiro de uma série, é um caso exemplar, dos
procedimentos que o FBI viria a adotar dali em diante para lidar com esta questão.
A revista fôra lançada em Nova Iorque no ano de 1936 com o objetivo de
analisar e fazer sugestões sobre a política norte-americana para o Oriente. Seu
editor, Phillip J. Jaffe, era um norte-americano nascido na Rússia e tinha como sócio
Frederic Vanderbilt Field.
35
Entre os colaboradores eventuais da publicação encontravam-se pessoas de
altos escalões do governo, tais como: Andrew Roth, membro da Inteligência da
Marinha; Emmanuel Larsen, Do Escritório dos Negócios do Extremo Oriente do
Departamento do Estado; John S. Service, técnico em Extremo Oriente do
Departamento de Estado.
Em fevereiro de 1945 a revista publicou um texto de crítica à política britânica
em relação à ocupação da Tailândia. Este texto era o mesmo, com ligeiras
alterações, que fora enviado ao Departamento de Estado pelo Office of Strategic
Services -OSS (Escritório de Serviços Estratégicos).
36
As autoridades inglesas exigiram providências imediatas alegando que o texto
só poderia ter saído dos arquivos do OSS.
35
Vanderbielt Field ficou conhecido por sua constante colaboração com entidades civis que apoiavam causas
liberais e que vieram a ser listadas pelo Departamento de Justiça quando entrou em vigor a McCarran Internal
Security Act em 1950.
36
O OSS foi o precursor da CIA (Central Intelligence Agency), criada em 1947 pela Lei de Segurança Nacional,
aprovada naquele ano.
40
O diretor do OSS em Nova Iorque, Frank Bielaski, colocou a sede da Revista
sob vigilância constante com o objetivo de averiguar as atividades dos membros da
publicação.
A 11 de março de 1945, ainda no decorrer das investigações, os agentes do
OSS invadiram a redação da revista e lá encontraram 267 documentos do
Departamento de Estado, 50 do OSS (entre eles a cópia do relatório original sobre a
Tailândia), 58 do Escritório de Informações de Guerra, 34 da Inteligência Militar e 19
da Inteligência da Marinha.
O OSS comunicou o fato ao Departamento de Estado que decidiu passar o
caso para o FBI.
Imediatamente, Hoover colocou a sede da Revista e seus membros - em
particular o seu editor, Phillip Jaffe - sob cerrada vigilância.
Neste período Jaffe foi visto pelos agentes do FBI em visitas à sede do
Consulado Soviético em Nova Iorque e à Earl Browder - dirigente do Partido
Comunista dos Estados Unidos (PCUSA).
Em 21 de março em Washington, o FBI o viu no que parecia ser uma reunião
com Emmanuel Larsen e Andrew Roth, na qual teriam trocado documentos.
Em 6 de junho de 1945, o FBI prendeu Jaffe e outros colaboradores da
publicação e encontrou cerca de 1700 cópias de outros documentos - classificados
como confidenciais, secretos e altamente confidenciais - que não haviam sido
localizados na invasão, sem mandato, feita pelos agentes do OSS.
O fato das provas iniciais do caso terem sido obtidas de forma ilegal (busca
sem mandato) e de que o Bureau não pôde provar que as informações contidas nos
documentos haviam sido entregues a outros países (em particular à URSS);
41
inviabilizou que os implicados fossem indiciados por “conspiração para violar o
estatuto federal contra a espionagem mediante furto de documentos altamente
secretos”, como pretendiam o governo, a promotoria e o FBI. Os detidos acabaram
sendo acusados pela retirada de documentos confidenciais, sem comprovação de
espionagem.
Apenas três, das seis pessoas detidas, foram indiciadas. Um teve a seu
indiciamento retirado posteriormente por falta de provas (Roth). Dos outros dois,
Larsen apresentou súplica de não contestação das acusações e Jaffe confessou-se
culpado.
Assim terminou o caso Amerásia. Do ponto de vista legal, é claro. Pois a
agitação em torno dele ainda rendeu muito àqueles que estavam bastante atentos à
necessidade de utilizar cada fato e cada momento para construir uma imagem sólida
e permanente do Novo Inimigo Total.
Os republicanos, já em plena campanha eleitoral, aproveitaram para acusar o
governo Truman de obstruir as investigações do caso e a conseqüente punição dos
culpados. Um resquício de sua já conhecida divergência com o New Deal de
Roosevelt, do qual ainda consideravam Truman um legítimo herdeiro.
Começava agora a exploração de um filão bastante rendoso, o da traição à
pátria americana, berço da democracia e da liberdade.
42
A ESPIONAGEM DIPLOMÁTICA
OS INFORMANTES
A partir de então, todo o trabalho de identificação dos chamados espiões
soviéticos, foi desenvolvido com a colaboração de informantes do FBI e depoentes
amistosos do HUAC e da Subcomissão presidida por McCarthy.
Dois desses informantes/depoentes merecem destaque pelo número de vidas
- juntos citaram cerca de 40 nomes - que colocaram em jogo com suas denúncias,
no mais das vezes, sem nenhuma prova substancial.
ELIZABETH BENTLEY
O caso da Revista Amerásia passou a ser uma gota no oceano quando
Elizabeth Bentley entrou em cena.
Elizabeth Terril Bentley estudou em um famoso colégio para moças dos
Estados Unidos e depois completou seus estudos na Europa de onde voltou
profundamente antipatizada com o fascismo. Chegando aos Estados Unidos, aderiu
ao movimento antifascista, indo daí para os quadros do PCUSA aonde conheceu
Jacob N. Golos (dirigente do partido), do qual tornou-se companheira.
Numa manhã de agosto de 45, segundo ela por vontade própria, Elizabeth
Bentley entrou no escritório regional do FBI em New Haven para denunciar o seu
trabalho como agente especial do PCUSA e a atuação que tivera como contato de
Golos com empregados e autoridades governamentais.
Apesar da boa vontade de Bentley não foi senão em 7 de novembro de 1945
que ela pôde relatar ao FBI toda a sua fantástica história.
43
Apesar de ser companheira de Jacob Golos - conhecido do FBI desde 1940
por suspeita de espionagem - tanto ela como ele (segundo relato dela própria)
atuavam com toda a liberdade e sem nenhum tipo de problema, furtando segredos
governamentais.
Bentley depôs no HUAC pela primeira vez em 31 de julho de 1948, três anos
depois de sua “confissão” ao FBI. Todo o seu depoimento foi pautado no que algum
dia ouviu alguém dizer. Era, no geral, um conjunto de insinuações e acusações sem
provas.
WHITTAKER CHAMBERS
Outra testemunha amistosa do HUAC foi o ex-redator da Time Whittaker
Chambers.
Chambers foi ouvido pela primeira vez em 3 de agosto de 1948, três dias
depois da ida de Bentley ao Escritório do FBI. Neste memorável depoimento contou
a sua trajetória de mais de uma década no PCUSA e citou vários nomes de ex-
companheiros de partido.
Disse que em 1939 após a assinatura do Pacto nazi-soviético e dois anos
após a sua saída do partido, foi ao Departamento de Estado e contou ao Secretário-
Assistente, Adolf Berle, toda a história dos movimentos clandestinos realizados pelo
PC, citando os mesmos nomes que citava agora ao HUAC. Segundo Chambers,
naquela época nenhuma providência foi tomada.
Uma rápida leitura de seus depoimentos demonstra que tudo o que dizia era
perfeitamente mutável, a depender das circunstâncias. Tantas vezes quantas foi
preciso, de acordo com as conveniências, este “comunista arrependido” alterou
44
fatos, datas e tudo o mais que se fazia necessário para adequar o seu relato ao que
dele esperavam os seus inquisidores.
Estas duas testemunhas do HUAC, apesar das lacunas, das debilidades e da
falta de provas, citaram inúmeros nomes que tiveram suas carreiras e suas vidas
destroçadas pela fúria do anticomunismo que assolou os EUA nos anos 40 e 50.
O Comitê, McCarthy, o FBI, os altos escalões das administrações Truman e
Eisenhower, todos, à sua maneira, trabalharam vigorosamente para construir a
imagem do Novo Inimigo Total viabilizando a sobrevivência da lucrativa indústria
armamentista, que andava a pleno vapor desde o início da Segunda Guerra Mundial.
OS ACUSADOS
ALGER HISS
O primeiro fruto das denúncias de Chambers e Bentley foi o caso Hiss.
Alger Hiss era um respeitado diplomata formado por Harvard. Foi membro das
delegações que estiveram na Conferência de Yalta e na de São Francisco para a
criação da ONU.
Em sua carreira galgou altos postos no Departamento de Estado, do qual
demitiu-se em 1947 para assumir a presidência da Carnegie Endowment for
Internacional Peace, para a qual foi indicado por John Foster Dulles - futuro
secretário de estado de Eisenhower e ferrenho anticomunista. De seu círculo de
amizades faziam parte personalidades ilustres como Dean Achenson e Adlai
Stevenson entre outros, que não só se solidarizaram com Hiss, como também
contribuíram financeiramente para a sua causa.
45
Logo após o depoimento de Chambers no qual Hiss foi citado, ele enviou ao
HUAC a seguinte carta:
“Não conheço o Sr. Chambers e, tanto quanto sei, jamais o vi em minha
vida... Não existe o menor fundamento nas declarações que ele fez a meu
respeito nessa Comissão...Desejaria a oportunidade de ser ouvido por
Vossas Excelências prestar o meu depoimento sob juramento.”
37
Desta carta resultou o depoimento de Hiss ao HUAC em 5 de agosto de 1948,
no qual declarou jamais ter pertencido ao PCUSA ou mesmo ter defendido princípios
e idéias do partido. Afirmou também que nunca fora membro de nenhuma
organização sob a direção do PC e, conforme dissera na carta, que não conhecia
Whittaker Chambers.
Em novo depoimento de Hiss em 16 de agosto e na acareação feita entre ele
e Chambers (em audiência reservada), admitiu tê-lo conhecido na década de 30 com
o nome George Crosley, escritor free-lance.
Chambers nada pôde provar contra Hiss e este ameaçou-o com um processo
por difamação caso ele abrisse mão da imunidade de seu depoimento na Câmara e
o denunciasse publicamente.
38
Percebendo a oportunidade, Richard Nixon conseguiu levar ao ar uma
cadeia nacional de rádio em 30 de agosto de 1948, na qual Chambers faz uma nova
acusação contra Hiss.
Hiss cumpriu sua promessa, em 27 de setembro iniciou um processo contra
Chambers que, no entanto, acabou sendo usado contra ele próprio.
A 17 de novembro, no desenrolar do processo, Chambers apresentou cópias
de 65 documentos do Departamento de Estado além de pedaços de papel e
37
Carta de Hiss ao Comitê citada em Cook, op.cit., pp. 331.
38
RICHARD NIXON, um parlamentar em ascensão era, nesta época, membro ativo do Comitê e viu no caso
uma excelente oportunidade de chegar ao estrelato político. Não foi uma tarefa difícil com HOOVER e o FBI
prestando-lhe toda a assistência de que necessitava.
46
memorandos que segundo ele, lhe haviam sido entregues por Hiss, em 1938 e
guardados em uma abóbora em sua fazenda de Maryland.
Os investigadores do HUAC estiveram na fazenda de Chambers em 2 de
dezembro. Este lhes entregou alguns rolos de microfilmes que estavam guardados
em uma abóbora. Os microfilmes continham outros documentos que Chambers
também afirmou terem sido entregues à ele por Hiss. Disse ainda, que estes não
haviam sido entregues antes por conta de sua solidariedade para com o antigo
companheiro.
Mais do que antes, os depoimentos seguintes de Chambers foram uma
verdadeira dança de fatos, datas, locais e nomes.
Até mesmo a data de sua célebre saída do partido, na primavera de 1937 -
tão enfaticamente afirmada ao longo de todos os depoimentos até então - foi revista,
sendo estabelecida, após várias tentativas, em 15 de abril de 1938.
39
Todos os documentos entregues por Chambers ao Comitê datavam dos
primeiros meses de 1938. Não foi à toa que Chambers alterou o seu depoimento...
Hiss foi indiciado por perjúrio pelo tribunal de Nova Iorque em 15 de
dezembro e condenado a 4 anos de prisão em seu segundo julgamento, terminado
em 25 de janeiro de 1950.
40
Em 1975 o FBI foi obrigado - devido à lei de liberdade de informação - a
liberar 40 mil documentos sobre o caso, nos quais se constatou diversas
irregularidades, entre elas, a predisposição de dois dos jurados contra Hiss, o
39
Ao ser perguntado por um dos membros do Comitê sobre como chegara a estabelecer a data exata de sua saída
do partido, Chambers não se acanhou em responder que havia sido com a prestativa colaboração do FBI.
40
Hiss foi indiciado e posteriormente acusado por haver cometido perjúrio em duas ocasiões. A primeira quando
afirmou não ter entregado documentos do Departamento de Estado à Chambers e a segunda quando disse que
não o havia visto mais desde 1º de janeiro de 1947. O primeiro julgamento de Hiss, finalizado em 31 de maio de
1949, foi considerado inválido por não ter havido consenso entre os jurados.
47
parentesco de outros dois com funcionários do FBI, a falsificação de provas por
parte de Nixon e do próprio FBI e o fato de que os microfilmes continham apenas
documentos considerados não classificados, ou seja, de acesso livre à qualquer
pessoa.
41
WILLIAN REMINGTON
Willian W. Remington foi do Serviço Secreto da Marinha durante a guerra,
trabalhou no Programa de Recuperação Européia (ERP), foi membro do Conselho
Econômico do Presidente e em 1948 foi diretor do programa de exportações do
Escritório de Comércio Internacional do Departamento de Comércio.
Remington foi casado com Ann Moss, cuja mãe, Elizabeth Moss, era do
PCUSA.
Elizabeth Bentley em seu depoimento ao HUAC disse que entre os anos de
1942 e 43, quando Remington trabalhava na Junta de Produção de Guerra, os dois
se encontraram e ele lhe entregou detalhes confidenciais referentes ao seu trabalho.
Remington apresentou-se ao HUAC no dia seguinte às acusações de Bentley
e durante todo o processo que se desenrolou a seguir, repetiu sempre a mesma
história.
Conhecera Jacob Golos e Elizabeth Bentley, mas jamais lhes passara
qualquer tipo de informação referente ao seu trabalho no governo, fossem as
informações confidenciais ou não.
41
Informações mais detalhadas sobre as irregularidades descobertas no caso Hiss podem ser encontradas nas
seguintes obras:
COOK, Fred J. - O FBI por dentro. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966.
FERREIRA, Argemiro - Caça às Bruxas. Porto Alegre, L&PM, 1989.
WEINSTEIN, Allen - Perjury - The Hiss-Chambers case. New York, Alfred A. Knopf, 1978.
48
Depois disso ocorreram duas audiências perante a Junta de Lealdade do
Governo para avaliar a permanência ou não de Remington em seu cargo.
Na primeira destas audiências, a Junta decidiu pela sua dispensa. Na
segunda, em caráter de recurso, ele foi readmitido, pois Bentley não compareceu
para depor e, portanto, não havia provas do envolvimento de Remington na
passagem de informações.
Depois da decisão da Junta de Recursos, o HUAC se incumbiu de localizar as
provas necessárias para incriminar Remington, mas tantas eram as divergências
entre os depoimentos dele e de Bentley que somente o terceiro júri reunido para
apreciar o caso, resolveu indiciá-lo.
42
Indiciado Remington passou por dois julgamentos. No primeiro o juiz adotou a
prática nada comum, de manter em sessão um tribunal de instrução que ouvia todas
as potenciais testemunhas a favor de Remington, antes que elas comparecessem à
Corte Com isso bloqueou-se o depoimento de testemunhas que poderiam tê-lo
inocentado. O resultado foi a condenação de Remington em 7 de fevereiro de 1951.
O Tribunal de Recursos reformou a sentença e criticou o juiz por ter impedido
que Remington se defendesse adequadamente. No entanto, o essencial que era a
anulação do indiciamento não ocorreu. Isto possibilitou que houvesse um segundo
julgamento, desta vez por perjúrio e em 15 de abril de 1953 Remington foi
condenado à três anos de prisão.
Enviado à penitenciária federal da Pensilvânia, foi assassinado em 22 de
novembro de 54, por outro detento.
42
Segundo Fred Cook, op. cit. pp. 365-66, o terceiro júri foi claramente arranjado para indiciar Remington. O
auxiliar da promotoria, John Brunini tinha contrato com Bentley para ajudá-la a organizar um livro. O promotor,
Thomas F. Donegan, era ex-agente de Hoover e já havia trabalhado como advogado para Elizabeth Bentley.
49
HARRY DEXTER WHITE
Harry Dexter White era russo-israelita - o que foi muitas vezes utilizado contra
ele. Foi professor de economia em Harvard, depois Secretário-Assistente do
Tesouro e, durante o governo Truman foi nomeado para o Fundo Monetário
Internacional (FMI).
Em agosto de 1948 quando teve seu nome nas manchetes dos jornais, White
já havia deixado o serviço público a cerca de um ano, por conta de problemas
cardíacos.
Ao ser acusado ele próprio pediu para depor. Foi ouvido em 13 de agosto e
negou todas as acusações que lhe haviam sido feitas, embora afirmasse conhecer
quase todas as pessoas citadas no depoimento de Elizabeth Bentley.
43
Três dias depois, provavelmente pressionado pelos acontecimentos, White
faleceu. Isto não contentou o Comitê, que além de insinuar que ele havia se
suicidado, continuou a investigação após a sua morte e portanto, sem nenhum
direito de defesa.
Assim que White morreu, Chambers apresentou ao Comitê páginas
manuscritas que lhe teriam sido entregues por ele. Foi muito estranho, para dizer o
mínimo, o tratamento dado pelo HUAC aos documentos entregues por Chambers.
A perícia para atestar a sua validade foi feita a partir de cópias e não dos
originais.
Além disso, na época do terceiro júri, já se havia completado a ação de divorcio de Ann e Willian Remington e
tribunal pode portanto intimá-la a depor.
43
White foi citado tanto no depoimento de Chambers como no de Bentley, embora nenhum deles o tivesse
"acusado" de ser comunista, ambos disseram que ele era indiscutivelmente simpatizante do PC.
50
O conteúdo dos textos, ao que tudo indica, pareciam-se menos com
informações secretas passadas por um espião ao seu contato e mais com rascunhos
feitos por White para si próprio.
Após sua morte o caso foi submetido a um Júri Federal e - apesar de todas as
provas que o FBI alegava ter acumulado durante todo o processo de investigação,
iniciado com as primeiras denúncias de Bentley e Chambers e este júri decidiu não
indiciar White.
Só mesmo um objetivo como o que estava em jogo - a garantia dos altos
lucros da indústria armamentista - poderia ter criado a bizarra situação de julgar e
condenar um morto.
JUDITH COPLON
Judith Coplon era funcionária do Departamento de Justiça em Washington.
Em 6 de março de 1949 foi presa na rua quando estava com Valentin A.
Gubitchev, membro da delegação soviética à ONU.
Entre seus objetos foram encontrados vários documentos do Departamento e
escritos seus nos quais relatava as dificuldades que vinha tendo em obter cópia do
relatório do FBI sobre o serviço de inteligência soviético.
Coplon foi indiciada por roubo de informações e por tentativa de transmiti-las
a outro país.
No seu primeiro julgamento, por roubo de informações governamentais, a
defesa teve dificuldades em esclarecer o que os documentos do Departamento de
Justiça faziam em poder de Coplon. Paralelamente a isso, inúmeros agentes do FBI
depuseram acerca da constante vigilância do Bureau sobre ela.
51
Apesar de tudo, não se obteve provas de que Judith havia entregue qualquer
informação aos soviéticos e um dos agentes do FBI reconheceu que a sua prisão
fora realizada sem mandato. Além disso, a promotoria garantiu que o FBI não se
utilizara de escutas telefônicas em sua vigilância à Coplon, o que foi depois
desmentido.
Ao término do julgamento o tribunal condenou-a.
No segundo julgamento, em dezembro de 1949 - baseado no indiciamento
por transmissão de informações - a defesa insistiu na questão do controle telefônico
e o juiz ordenou ao FBI que apresentasse seus registros (ou o que havia restado
deles), nos quais se comprovou que o Bureau realmente havia se utilizado deste
mecanismo para obter informações sobre as atividades de Coplon.
Desta vez a promotoria alegou só ter tido conhecimento da interceptação dos
telefones duas semanas antes do segundo julgamento.
Segundo a afirmação do próprio juiz que presidiu o Tribunal, Coplon foi
absolvida não porque o tribunal a considerasse inocente, mas, centralmente, porque
o FBI tinha cometido perjúrio.
A ESPIONAGEM ATÔMICA
A espionagem atômica foi ainda mais avassaladora em sua missão de criar o
Novo Inimigo Total.
Após a Segunda Guerra Mundial, com o monopólio da bomba atômica em
mãos dos Estados Unidos, o governo difundiu a idéia de que a União Soviética
somente poderia dispor da arma por volta de 1954. Este diálogo entre Truman e
Oppenheimer, é esclarecedor a este respeito:
“TRUMAN: Quando os russos estarão habilitados à construir a bomba-A?
52
OPPENHEIMER: Não sei.
TRUMAN: Eu sei.
OPPENHEIMER: Quando?
44
TRUMAN: Nunca.”
Esta talvez tenha sido uma das maiores provas do que significa subestimar o
inimigo, ignorando conscientemente as suas possibilidades. Cientistas russos e
norte-americanos já haviam trabalhado juntos, seria natural, portanto, que houvesse
condições para avaliar o potencial soviético para o desenvolvimento do projeto que
levou-os a realizar o seu primeiro teste atômico.
Quando em setembro de 1949 a União Soviética pôs por terra a supremacia
atômica norte-americana, com sua primeira explosão nuclear, as elites
imediatamente forjaram uma explicação: houve espionagem. A URSS somente
poderia ter chegado tão rapidamente à sua própria bomba recorrendo à este tipo de
expediente.
Esta explicação, no entanto, apresentava lacunas, pois:
1 - No início dos anos 40, jornais e revistas alardearam que tudo estava
pronto para a produção da bomba-H, faltava apenas encontrar uma forma de
produzir em grande quantidade o Urânio-235.
45
Se a imprensa podia, sem qualquer tipo de constrangimento, divulgar que as
condições para a produção da bomba estavam dadas e dizer o que restava por fazer
44
Citado em CLARFIELD, Gerard H. & Wiecek, Willian M. - Nuclear America. New York, Harper & Row,
c1984. pp. 178.
45
Alguns exemplos destes artigos são os seguintes:
INGALLS, A. G. - Incomparable promise or awful threat. Scientific American. Julho de 1939.
Vast power source in atomic energy opened by science. The New York Times. 5 de maio de 1940. pp. 1.
Vast atomic power possible if enough uranium is isolated. Neewsweek. 13 de maio de 1940. pp. 41.
Atomic power in ten years? Time. 27 de maio de 1940. pp. 44.
Harnessing the atom. Popular mechanics. Setembro de 1940. pp. 402-5.
O'NEILL, John J. - Enter atomic power. Harpers. Junho de 1940. pp. 1-10.
LAURENCE, William L. - The atom gives up. Saturday Evening Post. 7 de setembro de 1940.
53
para viabilizá-la; há que se perguntar qual era na verdade, o “segredo” de que se
falava no caso dos Rosenberg.
2 - Os próprios cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan, afirmavam
que os russos, como de resto quaisquer cientistas, tinham todas as condições para
desenvolver a bomba-A, cujo único segredo era o fato de ser realmente possível.
Este segredo, segundo os cientistas do Projeto e a Comissão de Energia Atômica do
Congresso, deixara de existir no momento da explosão sobre Hiroshima.
3 - Além disso, no dia seguinte à explosão sobre Hiroshima, o major-general
Leslie R. Groves - responsável pelo Projeto Manhattan - tornou público um relatório
feito pelo Dr. Henry DeWolf Smith, no qual havia detalhes importantes sobre o
processo de produção da bomba.
O relatório foi distribuído à imprensa em uma entrevista coletiva.
Parece, portanto, que a avaliação de que a URSS só chegaria a produzir sua
primeira arma atômica em 1954 não se fundamentava em bases muito concretas.
Mas a necessidade de criar o Novo Inimigo dizia que alguém entregara os
segredos da bomba aos russos. Era preciso saber quem fôra o autor da façanha.
O CASO ROSENBERG
Este foi um dos julgamentos mais controvertidos da história dos Estados
Unidos. Muitos dos jurados recusaram-se a comparecer alegando serem contrários a
pena de morte e, em função disto temerem que sua imparcialidade fosse afetada.
O caso Rosenberg é tão mais insólito, quanto mais se tem em mente as
declarações do próprio Hoover de que não tinha havido espionagem durante a
guerra e que tinha sido possível manter os segredos atômicos norte-americanos
54
muito bem guardados. Além do mais o FBI afirmou ter investigado todas as pessoas
empregadas no projeto de desenvolvimento da bomba.
Em nenhum momento, durante o processo que levou os Rosenberg à cadeira
elétrica, levou-se em consideração se a entrega - por parte deles ou de qualquer um
- de qualquer informação acerca das pesquisas atômicas seria o fator preponderante
para que a URSS também tivesse chegado à detonar a sua primeira bomba.
Conforme a própria Comissão de Energia Atômica do Congresso:
“(...) os conhecimentos básicos que conduzem à libertação explosiva da
energia atômica - contidos numa biblioteca inteira - nunca foram
propriedade exclusiva de nação alguma. (...)”
46
O caso todo começou com a confissão de Klaus Fuchs, em dezembro de
1949, depois do que as coisas se desenrolaram num efeito dominó.
KLAUS FUCHS
Fuchs nasceu em 1911 na Alemanha Ocidental e quando jovem pertenceu ao
Partido Comunista. Quando da ascensão do nazismo, Fuchs fugiu para a França e
depois para a Inglaterra.
Iniciou seu trabalho na área atômica em meados da década de 30,
primeiramente em Glasgow e depois em Birminhan.
Fuchs foi investigado duas vezes sem que se concluísse sobre qualquer
atividade de espionagem de sua parte. Em 1942, liberado de qualquer suspeita,
recebeu cidadania britânica.
Em sua confissão Fuchs afirmou ter mantido contato com um agente que
usava o nome de “Raymond”
47
. Alguns meses depois o FBI prendeu Harry Gold
afirmando ser ele o tal contato de Fuchs.
46
Nota da AEC de 1949. Citado em COOK, Fred - op. cit., pp. 398.
55
HARRY GOLD
Filho de pais russos, Harry Gold nasceu em Berna, na Suíça. Sua família
emigrou para os Estados Unidos quando ele era criança. O nome da família foi então
mudado de Golodnotzky para Gold.
Em seu depoimento Gold afirmou ter sido procurado por um contato soviético
em 1935 e, a partir de então, especializou-se em obter informações sobre segredos
químico-industriais.
Gold já fora investigado pelo FBI em 1947, por ter sido citado no depoimento
de Elizabeth Bentley, mas, aparentemente convenceu o Bureau de que tudo não
passara de um engano. Com a confissão de Fuchs e a investigação para descobrir a
identidade do contato citado pelo cientista seu nome ressurgiu nas investigações.
Gold declarou que as informações que obteve de Fuchs haviam sido
encaminhadas à Anatoli A. Yakovlev, Vice-Consul russo a serviço em Nova Iorque.
Gold foi julgado e condenado à 30 anos de prisão, mas mediante um acordo
com FBI para citar os nomes de outros envolvidos, acabou cumprindo 15 anos.
Em sua confissão Gold citou David Greenglass, dizendo que certa vez tinha
sido enviado por Yakovlev, ao Novo México para recolher dele algumas informações.
Mais tarde em 1975, com a liberação de documentos do FBI pela Lei de
Liberdade de Informações, descobriu-se que Gold era neurótico e mentiroso
patológico
48
e que tinha sido habilmente manipulado pela promotoria para incriminar
os Rosenberg.
47
Em 1959 Fuchs declarou aos filhos do Casal Rosenberg que descreveu mas não identificou pessoalmente
Gold, contrariamente ao que afirmava o FBI.
48
Gold contara ao patrão e aos colegas de trabalho uma longa história sobre uma esposa e um casal de gêmeos
seus filhos, que nunca haviam realmente existido e sustentou a história durante seis anos, sempre inventando
desculpas para evitar que os amigos não os conhecessem.
56
DAVID GREENGLASS
David Greenglass era irmão de Ethel Rosenberg e fôra membro da Liga da
Juventude Comunista Americana, informação que parece ter sido ignorada nas
investigações do FBI sobre o pessoal que trabalhou no Projeto Manhattan, para o
qual ele foi designado em julho de 1944.
Greenglass citou o nome de sua irmã Ethel e também de seu cunhado Julius
Rosenberg.
Ele declarou que Julius o convidara para compor o quadro dos espiões
comunistas ligados às questões atômicas e que apesar de reticente consentiu em
colaborar.
Segundo sua própria esposa, Ruth, Greenglass era um homem instável e com
tendência para o desespero. Tinha sido desprezado pela família em função do
brilhantismo de Ethel e não conseguira entrar para o curso universitário.
Demonstrava por isso, um grande rancor em relação à irmã.
Era um mecânico mal pago em Los Alamos e, ao que tudo indica, Greenglass
envolveu-se com o mercado negro de venda de peças roubadas do laboratório.
Estava sempre às voltas com um meio fácil de ganhar dinheiro e parecia encarar
desta forma a sua cooperação com o FBI.
Na mesma leva de documentos liberados, constatou-se uma séries de
irregularidades no depoimento de Greenglass que não foram levadas em
consideração no julgamento dos Rosenberg.
JULIUS E ETHEL ROSENBERG
Durante a Segunda Guerra, Julius Rosenberg ocupou um importante posto
nos serviços de transmissores de engenharia do Corpo de Sinaleiros do Exército, do
57
qual foi afastado em 1945, sob a alegação de ser comunista (outro fato que parece
ter sido ignorado na minuciosa investigação do FBI).
Quando Fuchs, com sua confissão, deu origem ao efeito cascata que viria a
condenar Julius e Ethel à cadeira elétrica, este trabalhava como diretor de uma
fábrica de Nova Iorque.
O julgamento dos Rosenberg teve início em 6 de março de 1951, no Tribunal
Federal de Nova Iorque e foi presidido juiz Irving R. Kauffman.
A promotoria contava com duas testemunhas centrais Gold e Greenglass e a
defesa assumiu o discurso do patriotismo, ignorando lacunas fundamentais nos
depoimentos dos dois e informações importantes sobre eles que teriam derrubado a
validade de suas declarações.
A parcialidade com que o juiz Kauffman tratou o caso foi um fator decisivo
para que a sentença final fosse a execução. Durante o processo fez várias consultas
ao FBI e à promotoria, o que é bastante irregular.
Roy Cohn - promotor assistente do caso e mais tarde principal assessor de
McCarthy - afirmou ter sido responsável pela decisão de Kauffman em condenar os
dois à execução, pois a princípio o juiz pretendia fazê-lo apenas com Julius.
Ao pronunciar a sentença, Kauffman fez uma afirmação, no mínimo imprópria,
para um caso com tantas irregularidades. Disse ele que tal punição - a morte na
cadeira elétrica - era cabível, pois o casal cometera um “delito mais grave que o
homicídio, uma vez que deu margem à agressão comunista na Coréia e que tal
delito fôra cometido em tempo de guerra.”
49
49
Publicada no jornal O Estado de São Paulo, 6 de abr. 1951, ult. p. (New York, 05/04, ag. UP)
58
Apesar de todas as apelações pedidas pelos advogados dos Rosenberg, dos
pedidos de clemência, das várias manifestações públicas organizadas contra a
decisão do tribunal, nada teve qualquer efeito sobre o juiz Kauffman que declarou
em 3 de janeiro de 1953, que “nenhum fato novo ocorrera que lhe permitisse
modificar sua decisão. Não observei - disse o juiz - qualquer sinal que revelasse
arrependimento ou remorso dos condenados.”
50
A esta declaração, o casal Rosenberg respondeu, no pedido de clemência
enviado a Truman que eram:
“inocentes, como sempre o afirmamos, desde que fomos presos. Eis a
verdade. E renunciar a esta verdade seria pagar muito caro, mesmo pela própria
vida, porque uma vida assim recuperada seria a de um covarde. Nós não somos
nem heróis, nem mártires. Nós não queremos morrer.”
51
Nada reverteu o quadro do caso e apesar das provas serem insuficientes,
Eisenhower - a quem Truman deixou a decisão sobre o pedido - recusou o pedido
de clemência divulgando a seguinte nota:
“o crime pelo qual [os Rosenberg] foram reconhecidos culpados e
conseqüentemente condenados, é muito mais grave que a supressão da
vida de um outro cidadão. Trata-se de traição deliberada de uma Nação
inteira e poderia ter como resultado a morte de um grande número de
cidadãos, de vários milhares de inocentes. Por esse fato, os réus atentaram
contra a liberdade pela qual homens livres combatem e morrem nesta
mesma hora.”
52
Em nenhuma das instâncias às quais recorreram, os Rosenberg obtiveram
qualquer simpatia por parte das autoridades. Estas pareciam predispostas a recusar
toda e qualquer apelação em nome de uma traição que dificilmente poderia ter sido
provada com os documentos e declarações de que dispunha o FBI e que, a julgar
50
O Estado de São Paulo. 3 de jan. 1953, pp. 2. (New York, 02/01. ag. AFP).
51
O Estado de São Paulo. 11 de jan. 1953, pp. 1. (Washington, 10/01, ag. AFP).
52
O Estado de São Paulo. 12 de fev. 1953, pp. 1. (Washington, 11/02, ag. AFP e UP).
59
pelos fatos já expostos não poderia ter sido o fator determinante na explosão da
primeira Bomba Atômica soviética.
Em seu último pedido de clemência ao presidente, o casal ainda foi obrigado
a ouvir uma resposta no mínimo, irônica diante da intransigência com que foi tratado
o caso. Disse o presidente que “os Rosenberg gozaram de todos os direitos da
democracia americana. O poder executivo não deveria intervir nesta questão tão
bem julgada.”
53
Até o momento de serem colocados na cadeira elétrica em 19 de junho de
1953, Kauffman os atormentou com um pedido de confissão - e de conseqüente
delação de outros nomes - o que os Rosenberg se recusaram a fazer.
Julius e Ethel, ao que tudo indica, realmente pertenceram ao PCUSA, no
entanto, as irregularidades eram suficientes para impedir que o casal fosse
condenado à cadeira elétrica. Os problemas psicológicos de Gold, o fato de Fuchs
não o ter identificado pessoalmente, as contradições nos depoimentos de
Greenglass
54
, a absoluta falta de provas contra Ethel - executada ainda assim - e
que parece ter sido usada, até o último instante, para “arrancar” de Julius uma
confissão. Tudo apontava para que se tivesse mais cautela na condenação dos
Rosenberg, no entanto, não foi isso o que se viu.
55
53
O Estado de São Paulo. 20 de jun. 1953. (Washington, 19/06, ag. AFP e UP).
54
Em O Estado de São Paulo de 31 de mar. 1953, ult. p. (Washington, 30/03, ag. AFP), cita-se que Greenglass
afirmou em seu primeiro depoimento sobre o caso, que havia presenteado Ethel e Julius com uma mesa na qual o
casal teria ocultado os microfilmes de documentos secretos. Constatou-se que tal mesa fôra comprada por eles e
entregue por uma loja nova-iorquina. David cometeu perjúrio.
55
As irregularidades do processo - que só se tornaram públicas em 1975, quando da liberação de 40 mil
documentos sobre o caso - colocam sob suspeição todo o processo contra o casal Rosenberg, que foi condenado
à pena máxima com provas, no mínimo, insuficientes.
60
Os casos de espionagem foram utilizados no sentido de viabilizar o objetivo
maior das elites que era o de garantir a continuidade dos investimentos na indústria
da defesa.
A gravidade da condenação dos Rosenberg e as lacunas evidentes em todos
os casos julgados e ainda assim condenados, só se justifica em função do plano
político que visava o enraizamento de um clima de pânico generalizado, que
facilitasse a elaboração da imagem da URSS como o Novo Inimigo.
Toda essa situação de perseguição e intransigência não chega a causar
espanto em um momento em que a vontade política daqueles que detinham o poder
era consolidar a imagem de um Inimigo poderoso que garantisse a continuidade do
investimento na imensamente lucrativa indústria armamentista.
Se os casos de espionagem não foram determinantes para os “progressos”
da União Soviética, o foram para viabilizar a definitiva entrada em cena de Hoover e
o FBI, do HUAC e de McCarthy.
A imprensa contribuiu decisivamente para que tais casos se tornassem
“ameaças reais”, publicando imensa quantidade de material. Não seria de todo
incorreto afirmar que sem esta colaboração os caçadores de bruxas, muito
provavelmente, pouco sucesso teriam obtido com acusações no mais das vezes
infundadas e que, na verdade, tinham o objetivo de sedimentar a idéia do Novo
Inimigo Total.
O detector de lealdade estava sempre pronto a se voltar contra os que
deslizassem pelo caminho.
61
O PC E SEU PAPEL NO CENÁRIO POLÍTICO NACIONAL
No início dos anos 50 - auge do macarthismo - o Partido Comunista dos
Estados Unidos não constituía uma ameaça que justificasse a amplitude da
perseguição que se instaurou. O partido jamais obteve - nem mesmo em seus
melhores tempos - a necessária penetração de massas para se tomar, de fato, um
problema para as elites. Raras vezes após 1945 conseguiu se fazer ouvir pela
população e não exercia atividades que ameaçassem a segurança do establishment.
O PCUSA foi sempre exibido como um instrumento da política expansionista
de Stalin, conforme Hoover afirmou em seu livro Mestres do Embuste,
“O partido comunista dos Estados Unidos é uma arma de ataque, não
somente para o dia da revolução, como também agora”.
56
O partido foi o veículo pelo qual o anticomunismo atacou este expansionismo,
utilizando a existência da agremiação como “prova conclusiva” das intenções
soviéticas de conquistar o “mundo livre” pela força.
As manchetes dos jornais demonstram bem a imagem que se buscou
transmitir do Partido, para a população norte-americana e de todo o mundo.
“O PC norte-americano é um instrumento do governo de Moscou”. O
Estado de São Paulo 21/10/1952 (Washington, 20/10, Ag. AFP)
ou ainda
“Os comunistas norte-americanos são mais perigosos do que a quinta
coluna hitlerista”. O Estado de São Paulo - 2810411951 (Washington,
27104, Ag. UP)
Apesar de afirmações tão enfáticas quanto ao perigo representado pelo
PCUSA, a sua pouca representatividade era reconhecida pelo próprio Truman, que,
em um discurso perante a Associação Nacional dos Advogados Federais, realizado
em 24 de abril de 1950, declarou que
56
HOOVER, J Edgar - Mestres do Embuste, Belo Horizonte, ltatiaia, 1958, pp. 177.
62
“a maior ameaça não parte dos comunistas deste país, pois formam um
grupo pequeno e desconsiderado por todos. A maior ameaça é
representada pelo imperialismo comunista no estrangeiro. O verdadeiro
perigo é que o comunismo possa dominar os outros países livres,
fortalecendo-se assim, para o ataque contra nós”
57
Nesta fala de Truman se coloca o elemento central da perseguição ao
PCUSA. Trata-se menos da sua influência no interior do país e mais da disputa entre
os EUA e a URSS pelas suas esferas de poder no mundo.
Esta disputa, da qual a perseguição ao partido era apenas um dos
elementos, garantia o constante investimento governamental na indústria
armamentista, necessário à manutenção do sistema capitalista norte-americano.
A pouca representatividade política e social do partido tem suas causas e um
breve histórico de sua trajetória pode ser esclarecedor neste sentido.
O primeiro impacto sofrido pelo PC norte-americano foi o da sua
transformação em organização legal na década de 20, quando saiu da
clandestinidade.
Entre os anos de 1929 e 1934, o partido adotou um discurso radicalmente
anticapitalista
58
, modificado em 1935 com o período da Frente Popular e retomado
em 1939 por ocasião do pacto nazi-soviético.
Quando EUA e URSS se tornaram aliados contra o nazi-fascismo, o PC deu
nova guinada e abrandou suas posições para transformar-se em defensor do New
Deal.
Finda a guerra e a aliança, tem início um novo conflito, agora entre as duas
grandes potências do pós-guerra. Esta situação obriga o PC a tornar-se nova e
57
Declaração publicada no jornal O Estado da São Paulo, 24 de abril, 1950.
58
A época áurea do Partido Comunista norte - americano pode ser situada exatamente nesta época quando
apresentou um sensível crescimento do número de membros do partido, com uma considerável influência no
meio sindical. Segundo Hal Drapear em seu artigo a "Época áurea do comunismo americano", publicado em 0
63
definitivamente, oposição, caindo em descrédito e não conseguindo se reestruturar
em virtude de tantas idas e vindas que é obrigado a realizar para acompanhar a
linha ditada por Stalin.
Quando McCarthy e o HUAC, no auge de seu poder, centraram fogo no PC,
o partido possuía, segundo o FBI, cerca de 55 mil filiados e talvez 500 mil
simpatizantes no país todo.
59
Como parte de suas atividades, o PC desencadeou uma campanha contra a
Guerra da Coréia e realizou vários protestos pedindo a paralisação dos trabalhos de
construção da bomba-H, alegando que os Estados Unidos eram intervencionistas e
que, desta maneira, o país estaria precipitando o perigo da guerra atômica
mundial
60
. Estas atividades foram utilizadas para consolidar a imagem do Novo
Inimigo Total, sob a alegação de que o partido adotava uma linha de inviabilização
da defesa dos Estados Unidos e, conseqüentemente, do chamado “mundo livre”.
O PC, membros e simpatizantes, foram reprimidos das mais diversas formas,
utilizando-se até mesmo métodos que feriam a Constituição dos Estados Unidos e a
garantia das liberdades individuais, tão propaladas pela democracia americana.
Os principais quadros do partido - entre eles Eugene Dennis, seu secretário-
geral e Phillip Bart, diretor do Daily Worker - foram presos e julgados em 1949, tendo
sido condenados sem direito a fiança.
61
Estado da São Paulo em 12 de maio de 1985, os comunistas passaram de 7 mil no início da década para 75 mil
nos anos de 1938 e 1939.
59
Estes dados foram divulgados por Edgar Hoover e publicados em notícia do jornal O Estado da São Paulo de 9
de fevereiro de 1950.
60
Tal coisa torna - se perceptível no trecho abaixo, publicado no Daily Worker e transcrito no jornal O Estado de
São Paulo de 29/06/1950: “A guerra atômica ameaça os povos do mundo. O presidente Truman precipitou ontem
o perigo desta catástrofe quando ordenou o início das hostilidades contra os povos da Ásia, sem declaração
oficial de guerra."
61
Os excessos chegam a tal ponto que o CIVIL RIGHT CONGRESS - entidade com o objetivo de auxiliar os
que se utilizassem da Quinta Emenda da Constituição para não responder às perguntas da HUAC - foi proibido
de pagar as fianças para liberdade provisória de qualquer militante comunista.
64
62
Todos eles foram condenados com base na Lei Smith de 1940, por
advogarem e ensinarem a derrubada do governo pela força e também por
conspirarem por este objetivo.
Todos os tribunais reafirmaram a sentença e não concederam recurso aos
réus. Isto abriu um precedente, permitindo o julgamento e a condenação de várias
lideranças locais
63
. Após o julgamento destes dirigentes o Secretário de Justiça
declarou que “as coisas pioraram para os conspiradores, já que, doravante, será
possível adotar providências contra aqueles que procurarem derrubar o governo
norte-americano pela violência”.
64
Meses depois da condenação dos dirigentes, um ano após a primeira
explosão atômica soviética e no esteio do alarme que se criou com as denúncias de
que isto tinha sido fruto de espionagem, foi aprovada a McCarran lnternal Security
Act (Lei McCarran de Segurança Interna), de 23 de setembro de 1950, (Public Law
831 , 81st Congress).
Esta lei recebeu o veto presidencial, com base em consultas à CIA e aos
Departamentos de Defesa, Estado e Justiça. A alegação era de que a Lei causaria
sérios problemas às operações de inteligência e segurança, além de ferir as
liberdades garantidas pela Constituição.
Apesar disso, foi aprovada pela Câmara por 345 votos a favor contra 20.
Passando pelo Senado foi novamente aprovada, desta vez por 57 votos a favor e 10
62
A Lei Smith (1940) permitia o enquadramento de pessoas acusadas de advogar a derrubada do governo dos
Estados Unidos pela força. Os líderes comunistas foram enquadrados também por ensinarem a derrubada do
governo pela força.
63
Logo após o julgamento dos dirigentes nacionais do PCUSA, devido ao precedente aberto por sua condenação,
foram julgados e condenados a diferentes penas, 14 dirigentes da Califórnia, 6 de Maryland, 6 da Pensylvania, 7
do Hawaiie e 15 de New York.
64
Publicado em O Estado da São Paulo de 5 de junho de 1951, última página (Washington, 04/06, ag., AFP e
UP).
65
contra, o que demonstrou a absoluta rejeição dos parlamentares pelo veto
presidencial.
A lei adotava as seguintes medidas:
“1 - Todas as organizações comunistas deveriam pedir registro ao
Departamento de Justiça, o que seria publicado no Federal Register para
conhecimento público,
2 - Depois de registradas estas organizações deveriam fornecer listas
completas de seus membros ao Departamento,
3 - Os membros destas organizações seriam excluídos dos postos públicos e
das empresas que mantivessem contratos com o governo,
4 - Não seriam concedidos passaportes às pessoas que mantivessem
vínculos com estas organizações
5 - A correspondência destas organizações deveria ser identificada com os
dizeres: ‘EXPEDIDO POR ORGANIZAÇÃO COMUNISTA’;
6 - Obrigatoriedade de identificação das publicações e emissões radiofônicas
e televisivas.
Em casos de:
a) declaração de guerra,
b) invasão do território nacional
c) insurreição.
o presidente poderia declarar ‘estado de emergência’ em cuja vigência era
possível pedir a prisão de todas as pessoas sobre as quais se tivesse razoável
66
desconfiança de envolvimento em atos de espionagem e sabotagem ‘pró-
comunistas’.
8 - Empregados de empresas que trabalhassem para a defesa nacional
ficavam proibidos de contribuírem para estas organizações.”
Depois da Lei McCarran, foi a vez do Communist Control Act (Lei de Controle
Comunista). Aprovada em 20 de agosto de 1954 e promulgada 4 dias depois - no
mesmo ano em que McCarthy iniciava a sua investida contra o Exército - era uma
medida que colocava o Partido Comunista dos Estados Unidos na ilegalidade,
afirmando que “O Partido Comunista dos Estados Unidos, embora se faça passar
por um partido político, é na verdade, um instrumento de uma conspiração que visa
a derrubada do governo dos Estados Unidos (...) pelo uso da força e da violência”
65
Proibição de ocupar cargos públicos, editos municipais que colocavam o
partido fora da lei
66
, proibições para realizar atividades públicas, perseguição e
expulsão de professores tidos como comunistas, livros de autores considerados
comunistas retirados das bibliotecas no exterior, entidades artísticas e/ou
filantrópicas contrárias as perseguições taxadas de comunistas com dirigentes
acusados e presos. Tudo foi feito para inviabilizar definitivamente a existência do
partido e impedir que a população nutrisse qualquer simpatia por ele.
Parlamentares conservadores mais afoitos em sua luta anticomunista,
chegaram a pedir a expulsão dos jornalistas da Agência Tass, alegando que eles
eram representantes não de uma agência de notícias, mas sim de um organismo
oficial de propaganda comunista.
65
Communist Control Act - Public Law 637 83rd Congress, August 24, 1954.
66
Como exemplo pode - se citar Birminghan, Alabama, que antes mesmo da lei de 1954 que colocava o PC
oficialmente fora da lei o fez através de um Edito Municipal em 19 de julho de 1950.
67
Um parlamentar republicano pediu ao presidente que internasse os
comunistas em campos de concentração até que “a guerra contra o comunismo”
terminasse.
O secretário-geral do PCUSA declarou que estas atitudes
representavam “um esforço brutal que visa abafar em toda a Nação qualquer crítica,
qualquer oposição à política de suicídio e de guerra do governo”.
Arthur Schutzer secretário executivo do Partido Trabalhista, comentou que “se
hoje o ataque é destinado à comunistas, amanhã poderá dirigir-se à qualquer um
que fale contra a guerra. “
67
O que se viu a seguir, na atividade febril de McCarthy e do HUAC, foi
exatamente isso.
Esta perseguição fez com que o partido, já sem forças, acabasse por se
desarticular completamente. As lideranças de maior expressão foram encarceradas,
o número de filiados e militantes decresceu sensivelmente entre 1947 e 52. Seu
órgão oficial, o Daily Worker, passou por sérios problemas financeiros em 1951.
Leitores e firmas anunciantes se intimidaram com as prisões e o déficit chegou a 25
mil dólares.
Em março de 1951 o próprio jornal anunciou a situação precária pela qual
vinha passando e afirmou que isto se devia às pressões exercidas pelos
anticomunistas.
Neste mesmo mês, Hoover declarou possuir agentes em todos os órgãos do
PC. Esta declaração criou uma situação de mão-dupla, na qual simpatizantes,
filiados e militantes sentiram-se profundamente ameaçados e, ao mesmo tempo, a
68
população foi sendo paulatinamente convencida de que o PC era de fato uma
ameaça, e uma correia de transmissão do imperialismo soviético, pois só isso
justificaria a mobilização do FBI para investigação e vigilância das atividades do
partido,
Independente da visão que os próprios comunistas tinham da situação e da
cega obediência do PCUSA a Stalin, ao mostrar que o Partido era o legítimo
representante de Stalin e a União Soviética era a materialização do comunismo, o
complexo industrial-militar viabilizou o Novo Inimigo Total que necessitava, fazendo
de cada cidadão um suspeito, de cada suspeito um comunista e de cada comunista
um espião.
AS ATIVIDADES REPRESSIVAS NOS ANOS 50
O COMITÊ DA CÂMARA CONTRA ATIVIDADES
ANTIAMERICANAS
“Não acho que este Comitê seja estúpido. Ao contrário,
acho que é um mal. Não é o comunismo que amedronta o
Comitê de Atividades Antiamericanas, mas sim a mente
humana, a própria razão. O que o Comitê investiga não é a
força e a violência mas sim a seriedade, a permanente
cidadania. Este Comitê não tem propósito de destruir Karl
Marx, mas sim o caminho constitucional da vida americana.”
Herbert Biberman
O House Committe on Un-American Activies (HUAC) ou Comitê da Câmara
contra Atividades Antiamericanas (CCAA) foi criado por Martin Dies, um democrata
do Texas, em 26/06/1938. As atividades do Comitê resumiam-se às insinuações
67
Ambas as declarações foram publicadas pelo jornal O Estado da São Paulo, em notícia de última página datada
de 21 de junho de 1951 (New York, 20706, ag., AFP).
69
raciais anti-semitas e não possuía nenhuma importância até 1947, sendo
freqüentemente alvo de chacotas por parte de políticos sérios e de membros da
sociedade civil em geral.
Até 1944, enquanto foi presidida por Dies, a comissão sedimentou o seu
caráter eminentemente conservador e contrário ao New Deal de Roosevelt. Neste
ano Dies não foi candidato à reeleição e seus outros parlamentares não foram
reeleitos. Assumiu a presidência do HUAC, John S. Wood. Na mesma época,
através da habilidade de John E. Rankin, deputado democrata do Mississipi a
comissão, que até então tinha caráter temporário, transformou-se em um órgão
permanente da Câmara
68
. Em 1946 assumiu a presidência do Comitê o sulista
Parnell Thomas
69
. Um novo membro iniciava no HUAC a sua ascensão política -
Richard Nixon.
O HUAC começava a tornar-se extremamente perigoso.
Em 1947 o Caso Hiss e o Programa de Lealdade de Truman (Decreto
Executivo 9358 de 22 de março de 1947), iriam reabilitar o HUAC e colocá-lo em
posição de destaque, pois possibilitou a realização de investigações no âmbito do
funcionalismo federal. De início, o Programa de Lealdade, destinava-se apenas aos
servidores públicos federais, mas depois foi estendido aos trabalhadores do setor de
defesa.
68
Em 1969, o HUAC foi transformado em Comitê de Segurança Interna do Congresso (House Internal Security
Committe) e oficialmente dissolvido em 1975.
69
Thomas foi preso em novembro de 1948 e condenado à prisão por empregar funcionários "fantasmas" e se
apoderar de seus salários. Por ironia do destino, partilhou da mesma cela que Ring Lardner Jr e Lester Cole
condenados por seus depoimentos junto ao HUAC. Uma censura de classe, estruturada segundo os interesses e a
ótica capitalista, examinando detalhadamente os roteiros aprovados pelos produtores, cometendo absurdos e
castrando, com cortes e proibições, em rígida obediência à pseudodefesa de valores morais e políticas
ultraconservadores.”
70
Segundo Truman o Programa “não apenas possibilitava a remoção dos
funcionários sobre os quais havia dúvidas quanto à sua lealdade, como também
continha os métodos que permitia descobri-los e puni-los.”
70
O Programa de Lealdade transformou o ônus da prova em responsabilidade
do acusado, do qual se exigia que provasse a sua inocência
71
, ao mesmo tempo em
que buscava reabilitar a administração, violentamente atacada pelos republicanos
como abrigo de comunistas.
Dizia Truman que
“o Programa de Lealdade requeria uma investigação individual de todos os
empregados federais após o que seriam demitidos os que fossem
comunistas ou ainda, aqueles sobre os quais houvesse razoável
desconfiança sobre a sua lealdade.”
72
Neste momento o Comitê volta sua carga contra as tentativas de “dominação
do mundo livre” pelo imperialismo soviético, utilizando-se de depoimentos de
pessoas consideradas como especialistas em Kremlinologia (todos muito
influenciados por George Kennan e seu Sources of Soviet Conduct).
O preconceito com que o HUAC se encarregou de articular a imagem do
Novo Inimigo pode ser percebido neste diálogo entre John E. Rankin e o ex-
embaixador Willian C. Bullit, em depoimento ao HUAC:
“RANKIN - É verdade que eles comem corpos de gente lá na Rússia?
BULLIT - Vi o retrato do esqueleto de uma criança que tinha sido comida
pelos pais.
RANKIN - Então, na Rússia eles são simplesmente escravos humanos?
70
Discurso de Truman em Oklahoma City em 28 de setembro de 1948. In: The Truman Program. Washington,
Public Papers Press, 1949. pp. 246.
71
Ferreira cita um exemplo elucidativo de do rumo que tomaram as investigações do Programa de Lealdade. Ele
narra o caso da funcionária Dorothy Bailey, que foi demitida após 15 anos de serviço público, a partir de
informações que ela não pode negar pois não chegou a conhecê-las integralmente e não lhe foi permitido ter
acesso ao nome dos seus delatores. Diz Ferreira que o diretor do Comitê de Lealdade sequer sabia dizer aos
advogados da acusada se as informações haviam sido prestadas sob juramento. FERREIRA, Argemiro - A Caça
às Bruxas. Porto Alegre, LP&M, 1989. pp. 80.
72
Discurso de Truman em Oklahoma City em 28 de setembro de 1948. In: The Truman Program. Washington,
Public papers Press, 1949. pp. 245.
71
BULLIT - Há mais escravos humanos na Rússia do que já houve em
qualquer parte do mundo.”
73
Os interrogatórios do Comitê eram transmitidos diariamente em cadeia de
rádio e TV e a exposição pública dos depoentes cumpria um objetivo central que era
o de obrigar as testemunhas à um ritual forçado de “purgação”, um ato público de
confissão, transformando-as em delatores dispostos a entregar companheiros e a
renegar aquilo em que acreditaram no passado.
O HUAC foi utilizando para acuar e atemorizar qualquer cidadão que não
vivesse sob os valores do chamado “americanismo”.
“Não bastava ser americano por cidadania ou residência - era preciso ser
americano até em pensamento. Havia uma coisa chamada Americanismo. E
a falta do pensamento adequado podia fazer de um cidadão americano um
antiamericano. O teste era ideológico. E por isso tivemos uma coisa
chamada Comitê da Câmara contra Atividades Antiamericanas.”
(...)
Se não é suficiente possuir cidadania e obedecer as leis, se devemos
também apoiar as proposições do Americanismo, acabamos criando duas
classes de cidadãos: os leais e puros doutrinariamente e aqueles que, sem
realmente infringir qualquer lei, são considerados antiamericanos,
deficientes em seu americanismo.
(...)
Como podemos saber o que pensam os outros das doutrinas do
Americanismo, a menos que investiguemos seus pensamentos, (...) na
batalha das mentes quem não é totalmente devotado à proposição da
liberdade é um inimigo.”
74
Uma batalha desta envergadura, na qual, mais do que os atos, os
pensamentos precisavam ser vigiados, todas as formas de combate deveriam ser
utilizadas. Por isso, eram fundamentais os meios de comunicação de massas e não
há dúvida, o cinema tinha um papel a cumprir.
Como diria John Howard Lawson, na batalha das idéias desencadeadas pelo
anticomunismo, o cinema era o vital. Hollywood tinha um papel a cumprir na
propagação da imagem do Novo Inimigo, portanto, nada mais correto que o HUAC
73
Citado em Argemiro Ferreira - op. cit., pp. 64. Neste depoimento a correta denúncia sobre os trabalhos
forçados na Sibéria perde completamente a eficácia, diluídos pela velha máxima de que “comunistas comem
criancinhas”.
74
HELLMAN, L. - Caça às bruxas. pp. 11-12.
72
fosse responsável por impedir a infiltração de comunistas no cinema, e que se
incumbisse também de “purificá-lo e qualificá-lo” para a atividade patriótica que tinha
que exercer. Junto com isso o HUAC ganhava uma enorme publicidade sobre a sua
caça às bruxas.
O HUAC tornou-se então, responsável por identificar a propaganda comunista
nos filmes. Nesta caça desenfreada - quando filmes produzidos a pedido do governo
foram considerados fitas de propaganda comunista - o HUAC “esqueceu-se” que a
produção cinematográfica é decidida por produtores capitalistas e não por roteiristas
comunistas.
75
Não tendo encontrado outros filmes considerados “pró-soviéticos”, a não ser
os produzidos pelo próprio governo - no período posterior a Segunda Guerra, o
HUAC transferiu as suas investigações para o campo da conduta pessoal e para a
infiltração de comunistas em entidades de classe e associações de Hollywood.
“a investigação de Hollywood e do conjunto de indústria de entretenimento -
talvez a mais ampla, sistemática e de efeitos mais devastadores - entrou
para a história como exemplo revelador de ação inquisitorial contra toda a
comunidade. Documentada, estudada e dissecada em grande número de
livros, ilustrada em vários filmes ela permite - melhor do qualquer outra
coisa - reconstruir o clima do macarthismo, suas cerimônias de degradação
e seus rituais de delação, além dos efeitos diretos ou indiretos na vida
cotidiana de uma comunidade, nos dramas familiares e nos
comportamentos individuais.”
76
Desde que iniciou suas atividades de investigação sobre a infiltração
comunista em Hollywood, o HUAC demonstrou essa sua intenção de transformar os
interrogados em delatores. Um bom exemplo dos métodos utilizados pelo Comitê é o
depoimento de Garry Cooper em 23 de outubro de 1947:
75
É importante esclarecer que McCarthy nunca esteve à frente das investigações sobre HOLL YWOOD -
contrariamente ao que se diz em vários textos sobre o assunto. Enquanto senador, McCarthy não integrou o
CCAA pois este pertencia à Câmara de Deputados. O Comitê do Senado presidido por McCarthy ocupava-se de
questões governamentais, investigando a infiltração comunista na Administração. Não existem registros de
viagens de McCarthy à HOLLYWOOD ou ainda de pronunciamento do senador acerca da indústria
cinematográfica.
76
FERREI RA, Argemiro - op. cit pp. 122-3.
73
“SMITH - O senhor alguma vez encontrou elementos comunistas em algum
roteiro?
COOPER - Bem, deixei de lado alguns poucos roteiros, porque achei que
tinham idéias comunistas.
SMITH - Pode citar alguns desses roteiros?
COOPER - Não, não me lembro de nenhum desses roteiros.
PRESIDENTE - Só um momento. Senhor Cooper, o senhor não tem uma
memória tão ruim.
COOPER - Perdão, senhor?
PRESIDENTE - Eu disse que o senhor não tem uma memória tão ruim, não
é? O senhor deve estar apto para se lembrar de alguns desses roteiros
comunistas.
COOPER - Bem, não consigo realmente me lembrar do título de nenhum
deles.
PRESIDENTE - O senhor não quer voltar a pensar, então, e dar ao Comitê
uma lista desses roteiros?”
77
A postura dos membros do HUAC era e continuou a ser sempre essa. Não
bastava dizer o que eles queriam ouvir, era preciso citar nomes, denunciar
companheiros. Isto era o que realmente valia, a delação era uma forma do
interrogado reabilitar o seu “americanismo” e tornar-se uma pessoa confiável.
No momento da primeira série de interrogatórios sobre Hollywood (na
segunda quinzena de outubro de 1947), o Comitê, ainda sem grande prestígio, foi
ridicularizado e enfrentado.
Mas, e não poderia ter sido diferente, as investigações tiveram um produto,
uma verdadeira instituição se solidificou: a Lista Negra
78
. Produto dos
interrogatórios, a Lista se transformaria em um fantasma a perseguir todos aqueles
que não cooperassem com o Comitê.
Segundo Argemiro Ferreira, houve uma conjugação de interesse que
possibilitou a existência desta Lista:
“no campo oficial as famosas listas de subversivos do procurador-geral, os
arquivos do FBI, as audiências e as investigações da HUAC na Câmara e
da Subcomissão de Segurança Interna do Senado (SISS, Senate Internal
Security Subcommittee); do outro lado, os estúdios e produtores de
77
PEIXOTO Fernando - Hollywood: episódios da histeria anticomunista. Rio de Janeiro Paz e Terra, 1991. pp
91.
78
Ver anexo pp
74
Hollywood e as emissoras de rádio e televisão (com as empresas
patrocinadoras e as agências de propaganda), os grupos patrióticos,
entidades de extrema direita e profissionais ao anticomunismo.
(…)
Complexos e mal definidos, os mecanismos da lista negra eram acionados
pelos mesmos grupos e pessoas a quem as vítimas tinham de recorrer mais
tarde, na esperança de limpar o nome e recuperar o emprego perdido.”
79
No início desta primeira série de interrogatórios, Eric A. Johnston, presidente
da MPAA - Motion Picture Association of América
80
declarou que era preciso evitar
que se formasse um campo de suspeitos aonde qualquer um pudesse ser colocado.
Em uma reunião com advogados dos acusados, o presidente da MPAA
concordou com a preocupação de que não era possível institucionalizar a censura e
disse que não permitiria a existência da discriminação representada pela Lista
Negra.
Em meio a euforia da resistência e tentando contribuir na defesa daqueles
que quisessem desafiar o CCAA, criou-se, em 1947, o Comitê pela Primeira Emenda
- (Committe for the FIrst Amendment
81
), do qual faziam parte inúmeras celebridades
de Hollywood - entre elas Humphrey Bogart, Lauren Bacall, Danny Kaye, Gene Kelly,
Jane Wyatt, John Huston e Sterling Hayden - que estiveram em Washington
representado o Comitê, na primeira seqüência de interrogatórios.
Lauren Bacall em seu livro de memórias, definiu da seguinte forma este
Comitê:
“(...) não pretendíamos atacar ninguém, nem defender testemunhas
recalcitrantes, nosso propósito era lutar contra a crescente censura
voluntária que dominava Hollywood. (...) não estávamos defendendo o
comunismo, mas algo muito diferente.”
82
79
FERREIRA, A. - Caça às Bruxas. Pp. 139-40
80
A MPAA, foi fundada na década de 20 pelas maiores empresas cinematográficas da época. Sua primeira
grande tarefa foi a de elaborar o Código de Produção que segundo Fernando Peixoto "define rígidos e medievais
princípios de censura moral e ideológica".
81
Ver anexo III
82
BACALL, Lauren - Bacall Fenomenal. Rio de Janeiro: Nórdica, 1981. pp206-7.
75
Das 41 pessoas listadas nesta primeira série de interrogatórios, 19 foram
consideradas inamistosas e 11 delas foram chamadas à depor. Eram eles: Alvah
Bessie, Lester Cole, Ring Ladner Jr., John Howard Lawson, Albert Maltz, Samuel
Ornitz, Dalton Trumbo - todos roteiristas - Herbert Biberman, Edward Dmytryk -
diretores - e Adrian Scott - produtor. Estes ficaram conhecidos como os Dez de
Hollywood. Além de Bertold Brecht escritor e teatrólogo que respondeu às perguntas
que lhe foram feitas e embarcou para a Europa no dia seguinte.
Os depoimentos dos Dez de Hollywood desafiaram abertamente o HUAC,
como bem o demonstram estes trechos dos depoimentos de Alvah Bessie e de John
Howard Lawson:
“THOMAS - O senhor é ou já foi membro do Partido Comunista?
BESSI E Já lhe dei várias respostas a essa pergunta, da melhor forma que
posso, senhor presidente.
THOMAS - Então, o senhor...
BESSIE - Porque creio que o senhor está violando os meus direitos como
cidadão americano.
THOMAS - Então o senhor recusa ?
BESSIE - Não estou recusando. Dei-lhe a resposta, que acredito que está
registrada várias vezes nas atas. Não creio que tenha o direito de fazer essa
pergunta a ninguém.
THOMAS - fica bastante evidente que o senhor está seguindo a mesma
linha que aqueles outros.
BESSIE - Não sigo nenhuma linha.
THOMAS - Que definitivamente é a linha do partido.
BESSIE - Estou usando minha própria cabeça, a que tenho o privilégio de
ter.”
Parnell Thomas ainda insistiu mais uma vez, ao fim do depoimento, em
perguntar à Bessie se pertencia ao Partido Comunista, ao que este respondeu:
“O próprio general Eisenhower se recusou a revelar sua filiação política. E o
que é bom para o general Eisenhower é bom para mim.”
O depoimento de Lawson não ficou atrás na desmoralização do HUAC:
“THOMAS - O senhor é membro do Sindicato de roteiristas de Cinema?
LAWSON - Já declarei que está fora do alcance dos direitos deste Comitê
indagar sobre qualquer forma de associação...
THOMAS - A presidência determinará qual é o alcance deste Comitê.
76
LAWSON - Meus direitos como cidadão norte-americano não são menores
que as responsabilidades deste Comitê do Congresso.
THOMAS O senhor sabe o que aconteceu com muitas pessoas que
cometeram desacato contra o Comitê este ano, não sabe ?
LAWSON - Eu me alegro que tenha deixado perfeitamente claro que o
senhor vai ameaçar e intimidar os que depõem, senhor presidente.”
Ao fim de seu depoimento, quando os membros do HUAC já não sabiam mais
o que fazer para ameaçar Lawson, ele afirma que o Comitê utiliza técnicas já
utilizadas pelo nazismo para provocar o pânico e conclui dizendo:
“É tão lamentável quanto trágico que eu tenha que ensinar à este Comitê os
princípios básicos da América do Norte.”
83
O desafio imposto pelos Dez de Hollywood embaraçou os liberais do Comitê
da Primeira Emenda e deixando preocupados os magnatas da indústria, que se
amedrontavam com a possibilidade de sofrerem uma queda em seus lucros. Queda
esta causada em parte por uma possível rejeição de Wall Street que cada vez mais
via “no discurso cinematográfico do dólar a vantagem implícita da propaganda
ideológica”
84
E, em parte pela população, já que uma pesquisa do Instituto Gallup apontava
uma divisão da opinião pública, 37% da população aprovava a atuação do Comitê e
36% não aprovava.
Os magnatas tinham razão em se preocupar.
Terminados os interrogatórios o Comitê decidiu levar adiante um processo por
desacato contra os Dez de Hollywood. Em 24/11/47 a Câmara os enquadrou nesta
acusação por 346 votos contra 17. Realizaram vários recursos, mas voltaram aos
tribunais e foram condenados a penas de 6 a 12 meses de prisão.
83
Ambos os depoimentos encontram-se citados em PEIXOTO, Fernando - op. cit pp 98-9 e 106-8,
respectivamente.
84
GEADA ,Eduardo - O imperialismo e o fascismo no cinema. Lisboa, Moraes Editores, 1977 pp25.
77
No dia seguinte à aprovação da acusação por desacato pela Câmara, os
magnatas da indústria voltaram atrás em suas posições e decidiram elaborar a Lista
Negra e facilitar as coisas para a HUAC.
Reunidos no Waldorf Astoria em 25 de novembro, resolveram sujeitar-se às
exigências do Comitê e demitir os Dez de Hollywood e também não empregar
“ninguém que saibamos ser comunista ou membro de qualquer partido ou grupo que
advoga a derrubada do governo dos Estados Unidos pela força ou através de
quaisquer métodos ilegais e inconstitucionais.”
85
Temendo eventuais boicotes a indústria demitia imediatamente, qualquer um
que tivesse seu nome colocado na Lista, independente de qualquer defesa por parte
do listado.
Com isso chegou ao fim o Comitê Da Primeira Emenda e alguns dos liberais
que o compunham chegaram a desculpar-se publicamente. Foi o caso de Humphrey
Bogart que afirmou que os participantes do Comitê foram usados por advogados do
Partido Comunista.
86
Em 1951-52, iniciou-se uma nova série de interrogatórios. Desta vez não
houve resistências ou desafios. O Programa de Lealdade de Truman dera
legitimidade à HUAC, Hollywood haveria de dar-lhe publicidade.
A partir daqui qualquer um era culpado até prova em contrário e era preciso
precaver-se, pois, ser culpado significava perder o emprego e a credibilidade.
Pessoas importantes na indústria tornaram-se testemunhas amistosas (leia-se
delatores). Entre os delatores, além dos anticomunistas convictos, havia os que se
78
confessavam para não entrar ou sair da Lista Negra. Robert Taylor - ator do filme
Canção à Rússia, alvo de acusações por parte do Comitê - depois de afirmar que é a
favor da proscrição do Partido Comunista, disse que havia membros do Partido no
Sindicato dos atores, ao que um de seus inquisidores retrucou:
“INQUISIDOR - O senhor se lembra dos nomes de alguns dos atores do
sindicato que participam de tal atividade?
TAYLOR - Bem, sim, senhor, posso mencionar uns poucos que pareciam
perturbar as coisas às vezes.”
Solicitado por seu inquisidor a responder se alguma vez havia trabalhado ao
lado de algum comunista ou se o faria algum dia, Taylor se sai com a
seguinte resposta:
“INQUISIDOR - O senhor se negaria a atuar num filme em cujo elenco
participasse também alguém que o senhor considere comunista?
TAYLOR - Sem dúvida alguma, e nem sequer precisaria ter certeza de que
seja comunista. Pode parecer preconceito. Entretanto, se eu tivesse a
mínima suspeita de que colocassem algum comunista para trabalhar ao
meu lado, temo que teriam que escolher entre ele e eu; porque a vida é
demasiado curta para ter que agüentar a companhia de pessoas que me
irritam tanto quanto esses comunistas.”
87
Apenas um entre tantos depoimentos amistosos ao HUAC. A declaração
anticomunista de Taylor podia ser fruto de uma opção política individual, mas, e isto
é inegável diante dos fatos, pessoas públicas como ele, colaboraram com as suas
declarações para fazer do comunismo (materializado no modelo soviético) o Novo
Inimigo Total.
Um inimigo que só produziria o efeito desejado se fosse suficientemente
público para estar em todas as mentes durante todo o tempo. Para isso nada melhor
do que um bom filme de entretenimento.
85
FERREIRA, A - op. cit., p. 129
86
Esta acusação foi rebatida por Argemiro Ferreira em sua obra sob alegação de que entre os advogados que
defenderam os Dez de Hollywood estavam o republicano BARTLEY CRUM e o liberal ex-procurador-geral da
Califórnia, ROBERT KENNY que eram muito respeitados e não possuíam qualquer vínculo com o PC.
87
PEIXOTO Fernando - op. cit pp 102-3
79
MCCARTHY E SUAS DENÚNCIAS
“A essência do homem não é uma abstração inerente ao
indivíduo isolado. Na sua realidade, é o conjunto das relações
sociais”. Teses sobre Feuerbach – Karl Marx
McCarthy era filho de lavradores irlandeses, nascido em 14 de novembro de
1908, no Wisconsin. Foi comerciário, pequeno comerciante e trabalhou até concluir
seu curso superior, tornando-se bacharel em direito pela Universidade de Marquette,
Milwaukee, em 1935. Em sua carreira conquistou certa notoriedade. Foi eleito juiz de
seu estado em 1939 e, em 1942, abandonou a magistratura e alistou-se no Corpo de
Fuzileiros Navais.
Em 1946, McCarthy elegeu-se senador pelo Partido Republicano, também por
Winconsin, vendendo uma imagem de veterano de guerra, embora tivesse
executado apenas serviços burocráticos durante o período em que serviu.
Em sua campanha McCarthy foi extremamente hábil e demonstrou o quão
eficazes eram as novas técnicas da propaganda moderna, utilizou-se de toda a sorte
de recursos no sentido de projetar-se política e eleitoralmente: milhares de panfletos,
brochuras, cartas e longos discursos.
Sua campanha contou com a ajuda dos democratas, que votaram em
McCarthy nas primárias, acreditando que este poderia ser mais facilmente derrotado
pelo democrata Howard McMurray do que seu adversário republicano, Robert M. La
Follette Jr.
A onda anticomunista havia sido um grande filão eleitoral em 1946, quando os
republicanos desencadearam uma ferrenha campanha contra a infiltração comunista
na administração. Em 1948, utilizando a mesma tática, os republicanos estava certos
80
da vitória de Thomas Dewey sobre Truman, que conseguiu reverter a situação nos
momentos finais da campanha, vencendo as eleições e deixando o Partido
Republicano em polvorosa.
88
Em 1950, os republicanos voltam ao mesmo tema e conseguem um bom
número de cadeiras no Congresso, entre as quais a de McCarthy, que viria a se
tornar o símbolo de uma época na qual a intolerância foi a marca principal na
viabilização da construção do Novo Inimigo Total.
Em seu primeiro mandato McCarthy, teve pouco destaque: envolveu-se pouco
com o anticomunismo em ascensão. Em 1950, articulando uma estratégia para a
sua reeleição, escolheu este como tema central de sua campanha e, reeleito,
passou de obscuro senador à um dos maiores expoentes da vida política do país.
Entre 1950 e 1954, McCarthy tornou-se um dos homens mais poderosos do
país. Richard Rovere, um de seus biógrafos, exprimiu da seguinte maneira as suas
realizações:
“Desconhecido em 1950, fez-se personalidade global em 1952. Em muitas
partes do mundo, personificou tudo o que havia de mal na política e na vida
dos Estados Unidos, sendo um dos poucos norte-americanos ativamente
temidos e odiados pelos estrangeiros.
Ganhou enorme influência sobre a política exterior de Washington numa
época em que essa política influiu profundamente na história mundial. A
diplomacia norte-americana no Extremo Oriente, sob muitos aspectos chave
para a política seguida no resto do mundo pelo país, podia ter sido
diferente, não fosse o poder de McCarthy.
89
É fácil compreender como McCarthy chegou tão longe.
Por um lado o apoio dos políticos conservadores e daqueles que se
interessavam em ver construída rapidamente a imagem do Novo Inimigo. Por outro,
o pavor em que se encontrava a população - vítima de uma ampla campanha de
88
Ver dados relativos aos processos eleitorais de 1948 e 1952 no anexo II.
89
Citado em FERREIRA, A. - Caça às bruxas. ps. 95-6
81
propaganda contra o comunismo e a União Soviética - aliado ao seu grande
conhecimento da Mídia, o que lhe possibilitou ocupar as manchetes dos jornais.
Sua ascensão começou em 9 de fevereiro de 1950, quando McCarthy
proferiu, no Clube de Mulheres Republicanas de Ohio, um discurso cujo centro foi a
afirmação de que a impotência dos Estados Unidos diante da infiltração comunista
provinha do fato de que
“(...) as suas traições têm sido muito bem tratadas por este país.(...)
Isto é flagrantemente real no Departamento de Estado. Na minha opinião, o
Departamento de Estado, que é um dos mais importantes Departamentos
do governo, está completamente infestado de comunistas.
Eu tenho em minhas mãos, 57 nomes de pessoas que, ou carregam
consigo a sua ficha de filiação ao Partido Comunista ou lhe são leais, nós
entretanto, os estamos deixando formular a nossa política externa.”
90
As denúncias de McCarthy repercutiram como uma bomba nas manchetes
dos jornais.
No dia seguinte o Departamento de Estado divulgou uma nota oficial na qual
afirmava que as acusações do senador eram infundadas. Em 11 de fevereiro
McCarthy disse à imprensa que estava de posse de uma lista completa dos nomes,
os quais teria prazer em fornecer ao Secretário Dean Achenson. Insinuando que o
Secretário protegia os infiltrados no Departamento, afirmou que:
“Estou certo de que a maior parte desses nomes não o surpreenderia.” O
Estado de São Paulo, 12/02/1950, p. 1 (Denver, 11/02 ag. AFP)
A imprensa exigiu que o senador revelasse a lista que tinha em mãos, no
entanto, ninguém pôde ter acesso à ela a não ser alguns dias depois, quando os
números já se haviam alterado.
90
Discurso proferido em Weeling, Virgínia, em 12 de fevereiro de 1950 e publicado no Congressional Record,
81st Cong., 2nd Sess., pp. 1954ff. O discurso foi registrado no dia seguinte pelo jornal local, THE WHEELING
82
McCarthy manipulou como quis sua própria declaração, fosse mudando o
número de suspeitos; fosse mudando os termos com que se referia à eles.
Apesar de McCarthy só ter conseguido citar os nomes de 3 funcionários da
enorme lista que afirmava ter, a prática da denúncia e da delação transformaram-se
em uma constante no cenário político daquela época.
Richard Rovere, comparou os métodos de McCarthy aos de Hitler, e afirmou
que enquanto este último idealizou a Grande Mentira (“uma farsa tão imensa que a
razão, que se detém em particularidades, tem grandes dificuldades em combatê-la”).
McCarthy inventou a Mentira Múltipla,
“a mentira com tantas engrenagens minúsculas e barras de ligação que a
razão se esgota no esforço para combatê-la. Ele dizia tantas coisas
diferentes sobre pessoas diferentes (geralmente pessoas de identidade
incerta e até, no que se refere ao público, de existência questionável) que
ninguém poderia se fixar naquilo tudo.”
91
O discurso do senador, embora incerto e irresponsável, pronunciado após o
primeiro teste nuclear soviético, em setembro de 1949 e a condenação de Alger
Hiss, em janeiro de 1950; encontrou solo fértil e contribuiu para generalizar a
imagem do Novo Inimigo Total, sob a base do “perigo vermelho”.
Em outubro de 1950, quando Mao Tsé-tung tomou o poder e arrasou Chiag
Kai-check, McCarthy fez da “perda da China” um assunto de importância tão vital,
que abalava a própria existência dos Estados Unidos e dos especialistas que
denunciaram a situação do governo de Kai-check, os “traidores da pátria” que
deviam ser expurgados do país.
92
, que
Dentre as vítimas de McCarthy nesta questão, estava Owen Lattimore
INTELLIGENCER, pelo THE CHICAGO TRIBUNE e por um despacho da ASSOCIATED PRESS, que foi
veiculado por jornais de outras cidades
91
FERREIRA, A. - op. cit. pp. 99.
92
Lattimore era professor da Universidade John Hopkins de Baltimore e especialista em assuntos do Extremo
Oriente.
83
o senador acusou de ser “o mais categorizado agente russo nos Estados Unidos,
comunista há muitos anos e 'arquiteto' da política de malogros dos Estados Unidos
na Ásia.” O Estado de São Paulo, 07/04/1950, p. 1 (Washington, 06/04, ag. UP)
O próprio Hoover declarou que não havia provas suficientes para acusá-lo,
mas a Comissão Especial do Senado
93
pediu, e obteve em primeira instância, o
indiciamento de Lattimore por perjúrio. Entretanto, na apelação ele foi absolvido e o
caso formalmente encerrado.
As acusações de McCarthy contra o Departamento de Estado avolumaram-
se. O senador afirmou que a União Soviética recebia documentos sobre a Bomba-A
desde 1945, através de comunistas infiltrados no Departamento de Estado. Como de
hábito, McCarthy não apresentou provas, mas conseguiu fazer com que Truman
voltasse atrás em sua decisão de não permitir que a Comissão Parlamentar
encarregada de investigar a lealdade do funcionalismo federal tivesse acesso aos
prontuários dos funcionários.
Os ataques de McCarthy comprometeriam a todos, menos àqueles que se
dobrassem aos seus desejos. O senador, apoiado por vários políticos
conservadores, pediu ao presidente que demitisse Dean Achenson, secretário de
Estado, sob a alegação de que ele era um político apaziguador e tinha, portanto,
uma posição pró-comunista.
Em 7 de maio de 1950, McCarthy declarou que “estão contados os dias de
‘diletantismo diplomático’ do Sr. Dean Achenson, e seus ‘pequenos camaradas’ do
Kremlin.”
94
93
Após o discurso de McCarthy sobre a existência de comunistas no Departamento de Estado, uma Comissão
Especial foi instalada para fazer as averiguações que fossem necessárias.
94
Declaração publicada pelo jornal O Estado de São Paulo em 7 de maio de 1950, 1º p.
84
As eleições de 1952 foram um momento crucial para a Macarthismo. O
Partido Republicano aproveitou-se dos ataques do senador para consolidar seu
crescimento eleitoral iniciado em 46 e disputar a presidência com Eisenhower.
Segundo Argemiro Ferreira
“Os republicanos apostaram em McCarthy, de olho nas eleições de 1952.
Na convenção desse ano, foi ele a celebridade maior, superada apenas
pelo próprio candidato presidencial, Dwight Eisenhower. E na campanha de
Eisenhower, McCarthy assumiu um papel ativo e sórdido, disparando as
baterias contra o candidato democrata Adlai Stevenson, acusado de estar
sob controle comunista ou de advogar políticas formuladas pelo Kremlin.
Embora gente respeitável, e até alguns jornais, tenham conclamado
Eisenhower a repudiar as alegações sem fundamento e os ataques de baixo
nível formulados por McCarthy, o candidato presidencial republicano
preferiu omitir-se - o que lhe permitiu, sem qualquer ônus, receber os
benefícios das denúncias irresponsáveis [de McCarthy].”
95
Ao que tudo indica, os republicanos menos afoitos acreditavam que o
anticomunismo “moderado” do novo presidente iria tirar McCarthy da cena política. O
próprio senador reconheceu que não era mais necessário na “cruzada contra o
comunismo”, pois
“a situação mudou tão completamente que agora já não será necessário
que eu conduza a minha campanha para expor os comunistas’ no governo.
Temos um novo presidente que não deseja fanáticos do partido ou pessoas
dúbias, que nele se intrometam. Será ele quem conduzirá a luta.”
96
McCarthy foi afastado da Comissão de Segurança Interna do Senado e
incumbido por Robert Taft (novo líder da maioria republicana) da Comissão de
Estado das Operações Governamentais, que possuía uma Subcomissão
Permanente de Investigações, para a qual foi eleito presidente.
Quando os republicanos acreditam haver controlado McCarthy este,
utilizando-se dos instrumentos que a própria comissão lhe oferecia, voltou às suas
atividades anticomunistas com toda a carga.
95
FERREIRA, A. - op. cit. pp. 107
96
Citado em LINK, A. S. - História Moderna dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Zahar, 1965. pp.1220
85
Deixando clara a sua disposição de não alterar os métodos dos quais se
utilizava, o senador iniciou uma investigação sobre as atividades da Voz da América
e da Agência de Informações dos Estados Unidos (USIA). McCarthy interrogou Reed
Harris, diretor da USIA, acusando-o de 21 anos antes, ainda estudante, haver
defendido o direito de professores socialistas e comunistas lecionarem nas
Universidades.
“HARRIS - Na ocasião, eu achava que os professores deveriam ter o direito
de manifestar livremente a sua opinião sobre todos os temas, quaisquer que
elas fossem.
McCARTHY - Vou fazer a pergunta de novo.
HARRIS - A citação feita é no sentido de que eles deviam ter o direito de
ensinar o que julgassem apropriado.
McCARTHY- Vou obrigar o senhor a responder isso.
HARRIS - Eu responderei, mas o senhor atribui à frase determinado
significado, tirando o trecho do contexto do livro como um todo. O público
americano, pelas suas palavras, não fica com uma idéia correta do livro, por
pior que ele seja.
McCARTHY - Então vou continuar a ler o que o senhor escreveu.
HARRIS - Há 21 anos atrás, volto a repetir.
McCARTHY - E vamos trazer o senhor à data de hoje, se possível.
HARRIS - Sr. Presidente, duas semanas atrás o senador Taft defendeu a
mesma posição que eu defendia há 21 anos - a de que se devia permitir
que os comunistas e socialistas ensinassem nas escolas. Mas nos dias de
hoje não concordo com o senador Taft no que se refere a professores
comunistas nas escolas. Porque agora estou convencido de que os
comunistas são, na verdade, auxiliares à paisana do Exército Vermelho - o
Exército Vermelho soviético. E eu não queria vê-los ensinando em nenhuma
de nossas escolas.”
97
McCarthy aproveitou-se muito bem da situação, aumentou ainda mais o seu
poder, ao reconhecer publicamente que a administração Eisenhower esforçava-se
para eliminar os comunistas, mas ainda não era o suficiente e por isso o seu
trabalho voltava a ser necessário.
Nos dois anos seguintes, McCarthy foi uma presença constante nos
noticiários. Poucos homens públicos ousaram desafiá-lo e chegou a ter tanto
prestígio somente Eisenhower tinha uma influência comparável a dele.
97
FERREIRA, A. - op. cit. pp. 109-10.
86
Prova disso, foi a intimação que McCarthy enviou a Truman para prestar
depoimento por conta do caso Harry Dexter White. Em 6 de novembro de 1953, o
então Secretário de Justiça, Herbert Brownell Jr., fez um discurso no qual acusava
Truman de conivência no caso de White:
“Harry Dexter White era espião russo. Entregou documentos secretos aos
agentes russos para serem transmitidos à Moscou. Harry Dexter White era
reconhecidamente um espião comunista, mesmo para as pessoas que o
nomearam para a função mais importante que ocupou no serviço público.
(...)
As atividades secretas de White foram comunicadas à Casa Branca em
dezembro de 1945.
Apesar disso, por incrível que pareça, o Presidente Truman o nomeou em
23 de janeiro de 1946 para o posto de diretor executivo pelos Estados
Unidos do Fundo Monetário Internacional.”
98
Truman se recusou a depor e McCarthy ameaçou-o com um processo por
desacato caso continuasse a se recusar. A ameaça surtiu efeito e Truman, embora
não tenha comparecido ao Comitê, fez uma declaração pública sobre o caso.
99
Logo McCarthy se voltou também contra a administração republicana. Em
dezembro de 1953, o senador desafiou Eisenhower publicamente e tornou a
situação insustentável. A gota d’água foi o confronto do senador com o Exército.
O conflito entre McCarthy e o Exército teve início com o caso do dentista
Irving Peress. Peress fôra dispensado da corporação por ter invocado a Quinta
Emenda da Constituição, ao ser interrogado sobre suas posições políticas. Um ano
antes deste interrogatório e por dispositivos legais, ele tinha sido promovido.
Ao obter estas informações o senador passou a exigir que lhe fossem
entregues os arquivos secretos do Exército sobre a questão da lealdade pois era
preciso descobrir quem havia promovido Peress.
98
Publicado em The New York Times, 7 de novembro de 1953.
99
Uma declaração que acabou colocando o ex-presidente em maus lençóis. Num primeiro momento afirmou que
assim que ficara sabendo das desconfianças sobre White, demitira-o. Não era verdade, White se retirou do
serviço público quando começou a apresentar problemas cardíacos. Na segunda declaração, disse que indicara
White para o FMI com a finalidade de facilitar as investigações para o FBI.
87
Segundo Argemiro Ferreira, McCarthy
“não se envolveu nisso sem incitação e cobertura militar. Oficiais da
inteligência colaboravam secretamente com McCarthy, para desafiar a
liderança civil do Exército. (...) De fato, elementos do Exército,
especialmente da área de informação e espionagem, tinham se aliado à
ultradireita, como parte de um esforço mais amplo no sentido de passando o
senador a exigir aos arquivos secretos mantidos pelo Exército sobre a
questão da lealdade fortalecer o seu poder no país explorando o medo da
subversão.”
100
McCarthy chamou Ralph W. Zwiker para depor e este se recusou a citar os
nomes dos militares envolvidos no processo de promoção de Peress. O senador,
acreditando ter o domínio da situação, aproveitou a cadeia nacional de rádio e TV
para desmoralizar Zwiker, acusando-o de ser indigno para vestir seu uniforme. Não
foram poucas as pessoas que se indignaram com a atitude do senador, afinal Zwiker
era um militar extremamente respeitado.
O ataque de McCarthy a Zwiker foi tão duro que o Secretário do Exército,
Robert Stevens, divulgou uma nota pública na qual afirmava que:
“O prestígio e o moral das forças armadas dos Estados Unidos são muito
importantes para a segurança da nação para que se possa tolerar vê-los
enfraquecidos por ataques desleais contra nossos oficiais.” O Estado de
São Paulo, 23/02/1954, p. 1 (Washington, 22102, ag. AFP e UP)
Apesar de Eisenhower ter se mantido em absoluto silêncio sobre o caso, o
prestígio de McCarthy decaiu muito.
Em 9 de março de 1954, foi ao ar o programa SEE IT NOW, falando sobre os
métodos de McCarthy
101
e a nova queda de popularidade do senador fez com que o
Exército se sentisse em condições de voltar suas baterias contra ele.
McCarthy foi então, acusando de querer proteger seu ex-assessor,
transformado em recruta, David Schine. O senador teria tentado de todas as formas
impedir que ele fosse para a tropa e importunou a quem lhe foi possível fazê-lo; não
88
tendo os seus pedidos atendidos, resolveu abrir o processo de investigação sobre a
infiltração comunista na corporação.
Em contrapartida McCarthy acusou o Exército de estar tentando impedir a
continuidade de suas investigações sobre a infiltração comunista no interior da
corporação.
O caso foi entregue à própria subcomissão de McCarthy que durante o
processo foi presidida interinamente, pelo senador republicano Karl Mundt. À
McCarthy foi concedido o direito de contra-interrogar as testemunhas.
As audiências transmitidas por rádio e TV iniciaram-se em 22 de abril de
1954; duraram 36 dias, num total de 160 horas, com 30 testemunhas, e 2 milhões de
palavras redigidas em 36 volumes. Uma verdadeira guerra entre McCarthy e Robert
Stevens - então secretário do Exército - na qual preponderou a grande habilidade de
Joseph N. Welch, advogado responsável pelo caso, que foi ainda mais teatral do
que o próprio McCarthy costumava ser.
O trecho seguinte, de uma das últimas audiências do caso, ilustra bem os
métodos difamatórios utilizados por McCarthy e a disputa entre Welch e o senador
no momento mais dramático de toda a série de audiências que se travou
“MCCARTHY - (...) em vista do pedido do Sr. Welch, de que a informação
seja dada assim que soubermos de qualquer um que possa estar
executando qualquer serviço para o partido comunista, eu acho que nós
devíamos lhe dizer que ele tem em sua firma de advocacia um jovem de
nome Fisher a quem ele recomendou, por acaso, para prestar serviço nesta
comissão, e que tem sido, por diversos anos, membro de uma organização
que foi denominada como o tapume do partido comunista (...). Eu
certamente assumo que o Sr. Welch não sabia desse jovem à época que o
recomendou como assistente do conselho desta comissão, mas ele tem tal
horror e tão grande desejo de saber onde todos estão localizados, que
possam estar servindo à causa comunista, Sr. Welch, que eu achei que
devíamos chamar a sua atenção para o fato que o seu Sr. Fisher, que está
100
FERREIRA, A.- op. cit. pp. 112-3.
101
Programa do jornalista de TV Edward Murrow, com imagens do senador torturando suas vítimas. O programa
foi ao ar pela CBS e mereceu críticas de pessoas respeitadas, que eram contrárias a McCarthy, por utilizar os
mesmos métodos que o senador para desmoralizá-lo
89
ainda hoje em sua firma de advocacia, a quem o Sr. pediu que estivesse
aqui hoje, investigando material secreto e classificado, é membro de uma
organização [comunista]. Ele pertenceu ao partido por um número razoável
de anos, conforme ele próprio admitiu.
(...) eu apenas senti que tinha o dever de responder ao seu pedido (...)
Eu hesitei em trazer isto à tona, mas estou ficando chateado com seus
falsos pedidos ao Sr. Cohn aqui, que ele ponha pessoalmente qualquer
comunista para fora do governo antes do pôr-do-sol.
Eu não estou lhe pedindo agora que explique porque o Sr. tentou impingi-lo
a esta comissão. Não sei se o Sr. sabia ou não que ele era membro daquela
organização comunista. Eu assumo que o Sr. não sabia, Sr. Welch, porque
tenho a impressão que, embora seja um ator e tanto, o Sr. tem uma
representação humorística, e não acho que tenha qualquer noção do perigo
do partido comunista. Eu não penso que o Sr. próprio, alguma vez, viesse a
ajudar de forma consciente a causa comunista. Acho que o Sr. está
inconscientemente ajudando-a ao tentar ridicularizar esta audiência na qual,
entretanto, estamos tentando levantar os fatos.
SENADOR MUNDT - Sr. Welch, a presidência deve dizer que não
reconhece ou se recorda de ter o Sr. Welch recomendado o Sr. Fisher ou
qualquer outra pessoa para esta comissão.
WELCH - Até este instante, senador, eu acho que nunca tinha estimado
realmente sua crueldade ou sua falta de tato. Fred Fisher é um jovem que
freqüentou a Escola de Direito de Harvard, veio até minha firma, e está
começando conosco o que parece ser uma brilhante carreira.
Mal imaginava que o Sr. pudesse ser tão descuidado e tão cruel a ponto de
prejudicar aquele rapaz.
MCCARTHY - Devo dizer que o Sr. Welch diz ser isto cruel e descuidado.
Ele está apenas provocando; ele tem estado provocando o Sr. Cohn aqui
por horas, solicitando ao Sr. Cohn que, antes do pôr-do-sol, tire fora de
qualquer departamento do governo qualquer um que esteja servindo à
causa comunista.
SR. WELCH - Não vamos assassinar esse rapaz ainda mais, senador. O Sr.
já fez o bastante. O Sr. não tem o mínimo senso de decência, afinal,
senhor? O Sr. não teve deixado nenhum senso de decência?
MCCARTHY - Eu sei que isto dói no senhor, Sr. Welch. Mas eu posso dizer,
Sr. presidente, num ponto de privilégio pessoal, e gostaria de terminar com
isto -
WELCH - Senador, acho que dói no senhor, também.
102
MCCARTHY - Eu gostaria de terminar com isto.
Era o fim da carreira de McCarthy.
Em novembro de 1954 os republicanos perderam o controle do Congresso e o
todo-poderoso McCarthy, a presidência de seu Subcomitê.
Ele foi julgado pelo Senado sob a alegação de haver se comportado
inadequadamente para um parlamentar. Foi condenado em 2 de dezembro de 1954,
102
US - Senate. Government Operations Committe. Hearings before Special Subcommittee on Investigations,
83nd Congress, 2sd Session, 1954. O trecho citado é da audiência de 22 de abril.
90
por 67 votos contra 22. O texto da censura ao senador dizia que “O comportamento
do senhor McCarthy é contrário à tradição do senado e por isso, por meio deste ato,
deve ser condenado”.
103
Depois disso McCarthy retirou-se da vida pública. Morreu em 2 de maio de
1957 no Hospital Naval de Bethesda, mergulhado no mais absoluto ostracismo.
As elites norte-americanas se utilizaram de McCarthy e de seus métodos para
incutir na opinião pública o terror à tudo que apresentasse qualquer semelhança
com a imagem do comunismo que se construiu.
McCarthy, entretanto, exagerou exarcebando o macarthismo à um limite
inaceitável. As elites não podiam permitir que as populações de todo o chamado
“mundo livre” viessem a saber que o guardião, à quem confiaram a defesa de sua
democracia e de sua liberdade, utilizava-se dos mesmos métodos que condenava
em seu Inimigo.
103
US. Congress. Senate. Senate Resolution 301, 83rd Congress. Senate Censure of Senator McCarthy -
December 2, 1954.
91
CAPÍTULO III - O PAPEL DE HOLLYWOOD
NA CONSTRUÇÃO DO
NOVO INIMIGO
TOTAL
HOLLYWOOD, A CAÇA ÀS BRUXAS E O NOVO INIMIGO
TOTAL
Dentre todas as formas de propagandear o Inimigo, o cinema talvez tenha
sido uma das mais importantes e, ao mesmo tempo, das mais eficientes.
O cinema dos anos 50 tinha um importante papel na difusão de idéias, pois
“através da trama de situações que se pode criar, da variedade imensa de ritmo de
som e imagem possíveis de se obter, permitem criar um clima de envolvimento
emocional que facilita a inculcação de idéias e valores”.
104
Quanto mais aparentemente isento o mecanismo pelo qual se faz esta
inculcação, tanto mais eficiente ele pode ser em seus objetivos
“Tanto mais existe essa possibilidade de propagandização quanto mais
levarmos em conta que a complexa tralha mecânica e química permitiu
afirmar um outra ilusão: uma arte objetiva, neutra, na qual o homem não
interfere. (...) A mecânica elimina a intervenção e assegura a objetividade
(...) o cinema seria a reprodução da própria visão do homem”
105
No entanto, é preciso considerar que o filme é em si, uma interpretação do
real que será reinterpretada pelo espectador que o vê.
A interpretação do real é tanto mais forte, quanto mais a indústria
cinematográfica tenha interesses objetivos a defender Isto não quer dizer que todo e
qualquer filme seja feito com o intuito de atender estes interesses, mas também não
se pode ignorar o fato de que o cineasta é influenciado pela sua época e que um
104
GARCIA, Nelson Jahr - 0 que é propaganda ideológica?. São Paulo, Nova Cultural: p. 70-1.
105
BERNARDET, Jean-Claude - O que é cinema?. São Paulo, Nova Cultural: Brasiliense, 1985. pp 16-17.
92
filme não pode ser analisado fora de seu contexto histórico, do qual, em alguma
medida, é reflexo.
Um filme de entretenimento pode apresentar - seja em que gênero for - um
modo de vida, uma visão de mundo, pode reforçar determinados valores e modificar
outros. Os efeitos em curto prazo são sempre difíceis de avaliar, mas cinema pode
contribuir na formação de uma visão da realidade que responda a interesses
determinados e determinantes do momento político em curso.
Neste momento crucial para o capitalismo norte-americano, que precisava
sustentar a sua principal fonte de acumulação - o investimento em defesa -
Hollywood como já o fizera anteriormente, colaborou para viabilizar este objetivo. E
colaborou com aquilo que de melhor tinha a oferecer: o divertimento. Com ele era
possível “desenvolver um mundo imaginário completo que tanto modela como é
modelado pelos juízos de valores coletivos do público (...) O divertimento vira
propaganda indireta e a propaganda vira divertimento”.
106
Foi dessa forma que a indústria se incorporou ao esforço das elites - da qual
também fazia parte - para criar o Novo Inimigo Total. Hollywood esteve às voltas
com verdadeiras acrobacias para dar conta deste objetivo, pois se viu defrontada
com a necessidade de oscilar em relação à imagem que transmitia da URSS, em
função dos acontecimentos A Revolução de 1917, a fundação do PCUSA em 1919 e
a greve dos dois milhões em 1920
107
, levaram ao primeiro acordo entre Hollywood e
o Governo em janeiro de 1920.
106
FURHAMMAR, L. & ISAKSSON, F. -Cinema e Política. pp 52-3
107
Esta foi uma greve de trabalhadores de grandes proporções, liderada em parte por membros do PC e
violentamente reprimida pelo governo.
93
Neste acordo a indústria combatia o comunismo e dava lições de
“americanismo”, em troca mantinha e ampliava privilégios relativos ao mercado
interno.
Nesta primeira fase do chamado “terror antivermelho”, foram produzidos
filmes como The Red Viper (1919), Boots (1919), Land of Opportunity (1920),
Shattered Dreams (1920), Dangerous Hours (1920) e Great Shadow (1920), entre
outros. Foram cerca de uma dezena de filmes apenas no início da década.
Com a entrada dos Estados Unidos na guerra e a aliança com a União
Soviética, foi preciso mostrar à população norte-americana que aqueles de quem se
tinha medo desde 1917, não eram mais inimigos e sim, aliados que mereciam
respeito.
Hollywood foi logo incumbida de tal tarefa. Passou a produzir filmes que
retratavam favoravelmente a URSS e que no pós-guerra transformaram-se no alvo
principal das primeiras investigações do Comitê.
Exemplos clássicos desta nova fase eram os filmes Mission in Moscow de
Michel Curtiz em 1943, Song of Russia de Gregori Ratoff em 1944 e The North Star
de Lewis Milestone em 1943.
Finda a guerra e iniciadas as hostilidades entre EUA e URSS, novamente
Hollywood altera o quadro de suas produções e coloca nas telas filmes como The
Iron Curtain de Willian Wellman em 1948, Big Jim McLain de Edward Ludwig em
1952, I was a Communist for the FBI em 1951, Walk East on Beacon em 1952 e My
Son John de Leo McRey em 1952.
Entretanto, a maior produção com que “naquele tempo, Hollywood atendeu
aos brados persecutórios da direita, [apresentava-se na] forma de insetos
94
agigantados por mutações atômicas e megarépteis. Até sob a forma de plantas
vampirizadoras de almas o marxismo-leninismo ameaçou conquistar a América de
Truman e Eisenhower”.
108
No entanto, apesar da constante boa vontade da indústria em alterar a linha
de suas produções para atender as necessidades do complexo militar-industrial, o
início das investigações do HUAC começam os problemas para Hollywood.
Em Song of Russia - um dos filmes produzido a pedido do Departamento de
Informações de Guerra com o objetivo de propagandizar positivamente o novo aliado
- Robert Taylor elogia o grão de um agricultor soviético e são mostrados russos
sorrindo.
Chamada a depor em 20 de outubro de 1947, a roteirista Ayn Rand - uma das
testemunhas amistosas do Comitê - afirmou que se o filme havia sido produzido com
o intuito de auxiliar no esforço de guerra seria difícil que tivesse conseguido, pois se
apoiara em mentiras. A fita, segundo ela, mostrava um estado de bem estar e alegria
totalmente falsos.
Ao depor a senhorita Rand travou com seu inquisidor o seguinte diálogo:
“McDOWELL: - Ninguém sorri na Rússia?
RAND: - Se a pergunta é literal, a resposta é quase ninguém.
McDOWELL: - Eles nunca sorriem?
RAND: - Não assim. Se acaso sorriem, é na intimidade e por acidente.
Certamente não se trata de um ato social. Não sorriem em a provação ao
sistema.”
109
Disse ainda a senhorita Rand que “o terrível é o descuido com as idéias, a
incompreensão de que a simples apresentação dessa espécie de existência feliz,
num país de escravidão e horror, chega a ser terrível porque é propaganda”.
110
108
AUGUSTO, Sergio - Exército e cinema, irmãos nas armas Folha de São Paulo, 18 de março de 1986
109
HELLMAN, L - op. cit, pp 2
110
PEIXOTO, Fernando - Hollywood, episódios da histeria anticomunista Rio de Janeiro, 1991 pp 88.
95
Observações como estas, demonstram o que viria a ser a caça às bruxas em
Hollywood: um conjunto de considerações de ordem bastante duvidosa acerca do
que se havia mostrado, feito ou dito e que - em nome do “americanismo” - não
deveria ter sido mostrado, feito ou dito.
“A imagem que a propaganda constrói do outro lado pode ser de uma
simplicidade estilizada. A sutileza e o realismo convidam a comparações, se
o Inimigo fosse representado sem distorções, era possível reconhecer sua
força tanto quanto sua fraqueza, o espectador estaria exposto ao ponto de
vista do Inimigo, e descobriria os traços humanos por trás do exterior sem
atrativos”
111
Muitas carreiras brilhantes foram ceifadas, muitas obras de qualidade foram
estigmatizadas. Hollywood era parte do sistema - e uma parte importante - e como
tal interessava-se por manter este sistema que lhe proporcionava vantagens e
lucros, mesmo que para isso vidas tivessem que ser irremediavelmente sacrificadas.
FICÇÃO CIENTÍFICA E GUERRA FRIA
O cinema de ficção científica dos anos 50 veio imbuído da forte carga de
fantasias e antecipações do futuro promovidas de literatura de ficção desde 1910.
Não foram poucas as coincidências entre os acontecimentos da Guerra Fria e
as obras de Science Fiction que em suas épocas, já colocavam as situações com as
quais os Estados Unidos viriam a se defrontar anos mais tarde.
A experiência da bomba-A e a situação com a qual Truman se defrontou em
1945 já havia sido prevista em 1907 na novela de Roy Norton - a primeira a abordar
a questão da radioatividade - As frotas. Da mesma forma que o presidente da novela
de Norton afirmava a necessidade de utilização do novo invento com o objetivo de
por um fim à guerra e poupar muitas vidas, Truman em 45 decidiu pelo extermínio
111
FURHAMMAR, L & ISAKSSON, F - Cinema e Política pp 187
96
das populações de Hiroshima e Nagasaki. O presidente tinha mesmo lido com muita
atenção a antecipação de seu próprio futuro.
112
Outra grande coincidência entre a literatura de ficção de a realidade da
política americana em tempos de Guerra Fria, foi a novela Relâmpago publicada em
episódios nos meses de agosto a novembro de 1940.
O texto coloca a possibilidade de capitulação dos EUA diante do nazismo, o
que só não ocorre porque um novo engenho é colocado em ação: a bomba-A. A
novela continua com a proposta do país para a paz e o desarmamento, apresentada
pelo presidente da ficção. Em 1946 os Estados Unidos anunciariam na ONU o Plano
Baruch de controle da energia atômica, um plano, em tudo, idêntico ao de
Relâmpago.
Como se vê as coincidências não foram pequenas e possibilitaram que
“milhões de americanos [se formassem] numa matriz cultural borbulhante de
fantasias sobre armas finais. Essas fantasias iriam formar os conceitos da
nação sobre armas nucleares e as respostas a elas, décadas antes que se
materializassem.”
113
A antecipação do futuro em relação ao desenvolvimento de armas atômicas
promovida pela literatura serviu de base para o cinema de ficção científica dos anos
50.
No caso do cinema, a preocupação de antecipar o futuro estava colada à
necessidade de anunciar as questões centrais do presente, particularmente os
desdobramentos da Guerra Fria.
112
FRANKLIN, H. Bruce - Eternally safe for democracy: the find solution of american science-fiction. In:
Science fiction, social conflict and war Manchester, 1990.
113
Truman tinha sido desde a sua adolescência um ávido leitor de novelas de ficção científica que antecipavam
as descobertas da chamada arma final uma arma tão poderosa que colocaria fim à guerra no planeta. Truman era
leitor assíduo e assinante de revistas que publicavam estas novelas tais como a McClure's e a Saturday Evening
Post.
97
Na sua colaboração com a produção da imagem do Novo Inimigo e a
campanha desencadeada para realizá-la, Hollywood foi bastante generosa. Os
filmes explicitamente anticomunistas, que mostravam de forma bastante direta os
perigos do comunismo para a liberdade humana, atingiram o auge em 1952, quando
a produção chegou a um por mês, e um total de mais ou menos 40 no período entre
1948 e 1954.
Houve, entretanto, um relativo arrefecimento de sua produção visto que a
maior parte deles constituiu-se em grande fracasso de bilheteria, ao que tudo parece
indicar, porque este tipo de propagandização muito explícita não era bem aceita pelo
público.
Neste processo de elaboração da imagem do Novo Inimigo, os filmes
aparentemente sem vinculação com os fatos da Guerra Fria, tiveram uma
contribuição fundamental.
O musical, a comédia romântica, o suspense, o terror, a ficção científica, o
drama, o western, todos os gêneros cinematográficos possibilitam a inserção de
valores do American Way of Life. Em todos eles é possível recriar os valores
necessários à afirmação de um determinado sistema.
114
Um filme como OS BRUTOS TAMBÉM AMAM (SHANE) - um clássico do
western, produzido em 1953 e estrelado por Allan Ladd, pode ser visto como uma
forma de veiculação destes valores.
114
A idéia de gêneros com a qual procuramos trabalhar é a que foi desenvolvida por CAPUZZO F.º, Heitor - The
Twilight Zone: Combinatórias Narrativas e Intertextualidades. Dissertação de Mestrado apresentada ao
Departamento de Comunicações e Arte, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São
Paulo, 1988, na qual o autor afirma que
"(...) O cinema parece trilhar mais pelo caminho de uma 'intertextualidade' entre os gêneros uma impureza
marcada pela necessidade de sua própria estrutura de sobrevivência ( .) Essa ambigüidade dá-se pelo fato de que
gênero, no cinema, não é definido a partir apenas da escritura, mas sim de um complexo sistema de encenação,
onde cenografia, figurinos, fotografia música montagem, roteiro direção, elenco se fundem num todo orgânico
98
Um pistoleiro cansado que procura apenas a paz e que é obrigado a lutar
contra bandidos que tiranizam e oprimem e, contra os quais só ele pode lutar. Em
clima de Guerra Fria, por que não ser o filme um chamamento ao povo americano
que, apesar de avesso à guerra, deve compreender que é o único que pode lutar
contra a tirania e a opressão do totalitarismo soviético?
As comédias românticas com Doris Day, que mostram uma linda casa sempre
equipada com tudo aquilo que a sociedade moderna pode oferecer de melhor, não
estarão mostrando como é bom viver em uma sociedade livre (livre para o consumo,
é bom que seja dito) e não em uma outra na qual todos são nivelados à igualdade
total?
Vários exemplos poderiam ser citados de filmes que veiculam todos os
prazeres que podem existir em viver numa “democracia” como a norte-americana,
em contrapartida ao totalitarismo do regime soviético.
Não é nossa intenção nivelar a compreensão de todos os filmes da época a
uma mesma e constante leitura, apenas traçamos as possibilidades de se fazer tal
leitura, já que um filme não é produzido fora de seu contexto histórico e não, pode
ser analisado fora dele.
À luz de todos os outros estímulos que o macarthismo ofereceu à instauração
de um sentimento generalizado sobre o perigo de uma conspiração comunista contra
a humanidade, não nos parece possível eliminar da indústria cinematográfica a
responsabilidade de ter contribuído, com a elaboração da imagem do Novo Inimigo
Total.
(..) mais importante do que definir rigorosamente o gênero, é reconhecer suas estruturas narrativas que o
distinguem dos demais "
99
Todos os gêneros fílmicos poderiam ser utilizados para publicizar valores
fundamentais à manutenção do status quo do sistema capitalista. No entanto, só a
ficção científica viria a se tornar a síntese perfeita entre a manutenção da ordem e a
corrida armamentista necessária para mantê-la.
A OPÇÃO PELA FICÇÃO CIENTÍFICA
A ficção B dos anos 50 se subdividiu, uma parte dedicou-se aos filmes de
terror (que se referiam a criaturas monstruosas ou deformadas de outro planeta, que
vinham atacar a terra). Uma outra parcela chamada de “tecnológica” dedicou-se ao
que chamamos propriamente de ficção científica, eram filmes nos quais a ameaça à
paz provinha de máquinas ou do domínio que se poderia ter sobre elas.
115
Há que se ressaltar ainda que nos filmes de ficção pré-atômicos, embora a
ciência tivesse um grande peso esta era na verdade, um instrumento de
investigação humana sem limites e, no geral, utilizada com fins maléficos. No
período posterior - a era nuclear - embora ainda fosse utilizada para o mal, a ciência
deixa o campo do fantástico para tornar-se elemento decisório do destino da
humanidade.
115
O filme B surgiu com a finalidade de compor os sistemas de programação dupla que tinham como objetivo
suprir as áreas periféricas de exibição preteridas em relação às áreas consideradas centrais.
As salas que se encontravam nestas áreas centrais, recebiam as produções inéditas, que só chegavam ao cinema
de bairro com grandes atrasos. Como compensação desta situação exibiam-se programas duplos. Com um único
ingresso, o espectador podia ver dois filmes; o primeiro era o chamado filme B e o segundo era o filme principal.
Como o público ia ao cinema para assistir o filme principal, o filme B teve que desenvolver atrativos próprios e
não podia significar uma sobrecarga para o espectador apresentando dois filmes de um mesmo gênero, além de
não poder passar de 100 minutos de duração e de ser muito ágil para não criar nenhum tipo de indisposição.
“Uma das possíveis explicações para o florescimento desses gêneros na produção B é o impacto certo que eles
produzem. Curiosamente, são filmes que necessitam de efeitos especiais, o que acarreta maior custo
orçamentário. Mas, a indústria percebeu que a platéia dificilmente assistiria a dois western, ou dois musicais
seguidos. O programa duplo procurava a diversificação dos gêneros na sua composição.” CAPUZZO F.º, Heitor
- op. cit. p. 15-6.
100
Tornou-se necessário, portanto, fazer uma delimitação deste universo de
análise. Para isso uma breve avaliação dos mecanismos de produção e reprodução
dos diferentes gêneros levou-nos a optar pela Ficção Científica já que este gênero
“(...) traz dentro de si o básico da ciência e, sendo as prioridades políticas
como são, muito do básico da ciência é relacionado à guerra, à defesa. Um
gênero que proporciona o ponto central para o avanço da ciência é
colocado de forma a ficar emaranhado com o que o presidente Eisenhower
chamou de o 'complexo militar-industrial' (...)”.
116
Além disso, temos a afirmação de Wolf Rilla - diretor de cinema e romancista
de ficção científica - de que
“a Ficção Científica exige uma participação ativa da mente e da imaginação
da pessoa a quem ela se dirige, ou que a lê, ou ainda, que vê nos filmes.
(...) os filmes que obtiveram maior sucesso (...) foram aqueles mental e
emocional em vez do de oferecer-lhe apenas uma porção de coisas que ele
pode ficar sentado e olhar.”
117
A relação que a ficção estabeleceu com a ciência e o uso que possibilita da
imaginação, foram elementos centrais para defini-la como o universo de análise de
nosso trabalho.
Foram estas questões que nos levaram a trabalhar com a hipótese de que se
é possível ao espectador montar as peças do quebra-cabeças formado entre
imaginação e acontecimentos da tela, também lhe é possível, mesmo que no nível
do inconsciente, montar o mesmo quebra-cabeças com dados da realidade - Guerra
Fria, conspiração comunista, ameaças à liberdade - o que possibilitaria a formação
de uma imagem muito útil ao establishment.
Tudo começou quando em 24 de junho de 1947 o jovem negociante Kenneth
Arnold, ao voar em seu avião particular, deparou-se com vários objetos que não
conseguiu identificar. Ao pousar, Arnold informou ter visto aparelhos em forma de
discos que voavam a aproximadamente 1900 km/h.
101
No ano em que eram anunciadas a Doutrina Truman e o Plano Marshall a
opinião pública, em muito influenciada pela imprensa começa a ver nos discos não
mais seres de outro planeta, mas instrumentos com as quais os russos espionavam
o território norte-americano para elaborarem seus planos de ataque. Uma tal
interpretação do que seriam os Ovnis é compatível - e para o “establishment” vem a
calhar - num momento em que as relações EUA - URSS encontram-se já
profundamente estremecidas e que o CCAA volta à atividade caracterizando-se
como um organismo governamental de combate à infiltração comunista.
Com os acontecimentos do verão dos discos voadores começou uma
“epidemia (...) uma fixação quase neurótica da science fiction hollywoodiana
dos anos 50. A invasão da terra e a guerra dos mundos, eram bons
pretextos para muitos filmes que pretendiam alertar a América, não contra
agressões extraterrenas, mas contra a ameaça comunista, do átomo e da
quinta-coluna.”
118
A partir de 50, com DESTINATION MOON, a ficção consolidou um período no
qual os filmes se ocupavam de questões envolvendo o uso de armas atômicas,
antecipando as formas do conflito generalizado e deixando clara a importância de
que os Estados Unidos se preparem para esta situação.
É um período no qual não se diz explicitamente que o Inimigo é a URSS, mas
subliminarmente não faltam indicações de que o comunismo será o principal
responsável por um conflito mundial sem precedentes.
Pode-se dizer que os filmes de ficção conseguiram incutir nas mentes o
“terror antivermelho” com mais competência do que os filmes explicitamente
anticomunistas.
116
DAVIES, Philip John - Science fiction and conflict. In: Science fiction, social conflict and war
Manchester, 1990. p.2
117
RILLA, Wolf - Alguns aspectos da realização de filmes de ficção científica. In: Ciclo de cinema de ficção
científica. Catálogo-Livro da Cinemateca Portuguesa, Lisboa, 1984. p. 138.
118
PERDIGÃO, Paulo - Ficção científica no cinema - a moral da era atômica Revista de Cultura Vozes, Rio de
Janeiro, ano 66, jun-jul 1972. p. 367-8
102
“a ficção científica ganhou no cinema uma moralidade própria [formando],
com o passa dos anos, uma consciência política imediatista [na qual]
criaturas de outro mundo passaram a alertar os democratas terráqueos
sobre os perigos do átomo e do comunismo.”
119
119
Id. Ibid. p. 366-7
103
CAPÍTULO IV - PORQUE FILMAR E ATIRAR
SE CONJUGAM COM O MESMO VERBO
A OPÇÃO PELA GUERRA
“(...) as guerras não são causadas por conflitos
internacionais de interesses. A seqüência lógica apropriada
requer, na maior parte das vezes, que se diga que as
sociedades bélicas exigem tais conflitos. A capacidade de uma
nação para guerrear expressa o maior poder social que ela
pode exercer (...)”John Kenneth Galbraith
O complexo militar-industrial estabeleceu-se em todos os setores da vida
norte-americana, para compreender a sua influência, faz-se necessário um breve
histórico do processo que levou à sua consolidação.
Este processo floresceu durante a Primeira Guerra Mundial, entrou em crise
no período entre-guerras e com a Segunda Guerra consolidou-se, obrigando as
elites a criarem mecanismos que garantissem a crença de que os Estados Unidos
estavam em constante perigo - e com eles todo o “mundo livre” - o que tornava
necessária uma preparação eficaz para proteger a nação e, portanto, um
dispendioso orçamento destinado à Defesa. No dizer de Fred Cook:
“(...) desde 1929, a única época em que conseguimos o emprego e a
prosperidade totais foi numa economia de guerra. Mesmo hoje, depois de
terminada a guerra, essa afirmação ainda é verdadeira. Houve uma curta
quebra do padrão, logo em seguida ao fim da guerra, quando os gastos
militares desceram enormemente e quando a imensa procura de artigos
civis provocou um período de alta considerável. Mas além dessa exceção -
e, mesmo então, uma exceção induzida pela guerra - a prosperidade de
nossa economia tem dependido principalmente da produção bélica.”
120
120
COOK, Fred - O Estado Militarista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964. p. 64.
104
Com o início das hostilidades da Segunda Guerra, Roosevelt viu-se obrigado
a secundarizar os problemas domésticos e a chamar à cena aqueles que eram os
principais opositores do New Deal, os grandes capitalistas, segundo os quais, as
reformas do presidente vinham criando dificuldades para a implementação do
esforço de guerra.
Estes se mostraram “solidários” com as necessidades da nação e declararam-
se dispostos a trabalhar na produção de guerra pelo pagamento nominal de um
dólar por ano.
Não foi exatamente isso o que se viu a seguir.
Os homens de “um-dólar-por-ano” imediatamente lançaram uma campanha
contra o New Deal - em particular no que se referia à jornada de 40 horas semanais
de trabalho - alegando que o problema central era vencer a guerra e que para isso a
unidade interna era fundamental, o que só poderia ocorrer se Roosevelt
abandonasse as suas reformas.
Junto com isso, o poder e a influência das indústrias envolvidas com a
produção de guerra aumentava, em 1941, os magnatas de 56 indústrias já detinham
cerca de 75% dos contratos de produção de guerra e os militares estavam à frente
do Serviço de Fornecimentos, órgão do Departamento de Produção de Guerra,
responsável pela adjudicação dos contratos das Forças Armadas.
Tudo ia bem até que em 1943 os problemas começam a aparecer. Neste ano
colocou-se a necessidade de discutir a reconversão, pois em menos de dois anos os
EUA haviam produzido tamanha quantidade de materiais de guerra que tornara-se
impossível o seu escoamento.
105
Era chegada a hora de reduzir a produção, os cálculos apontavam que era
preciso uma redução de pelo menos 1 bilhão de dólares ao mês durante todo o ano
de 1944, para que se pudesse voltar a um patamar aceitável de oferta de produtos.
Uma redução desta envergadura significava o desemprego de milhares de
trabalhadores e inúmeras fábricas fechadas. As maiores prejudicadas seriam, sem
dúvida, as pequenas fábricas que trabalhavam à base de subcontratação. Estas
solicitaram ao governo que lhes concedesse autorização para reconverter a sua
produção para a economia civil.
121
Charles E. Wilson foi o primeiro a levantar restrições a esta proposta,
argumentando que a carência do mercado civil era tão grande que era preciso ter
cuidado para que o processo de reconversão não criasse um tumulto sem
precedentes.
122
Isto acabou provocando um impasse, de um lado os interesses das grandes
corporações (e das elites de uma maneira geral), em continuar extraindo da
produção de guerra todo o lucro que ainda fosse possível e ao mesmo tempo ter
garantida a sua reentrada no mercado civil em condições favoráveis. De outro, o
desemprego crescente que levava às ruas milhares de trabalhadores todos os
meses.
Para contornar a situação, militares e grandes capitalistas se utilizaram de
todos os métodos possíveis para retardar ao máximo o processo de reconversão.
Elaboraram uma imensa campanha para convencer a população de que a
106
reconversão significaria a derrota dos aliados, já que haveria uma diminuição brutal
da produção destinada à guerra.
123
Esta verdadeira guerra - que se utilizou do discurso do patriotismo -
desencadeada por militares e grandes capitalistas, possibilitou que as mega-
empresas reconvertessem a sua produção - depois do feliz período de crescimento
financiado pelo Estado - sem perder a sua supremacia sobre a economia civil.
Assim se iniciava o que viria a ser conhecido mais tarde como o complexo
militar-industrial.
Foi o presidente Eisenhower, ao fim de seu segundo mandato, quem utilizou
este termo no seu discurso de despedida. Neste discurso, pela primeira vez se fazia
menção às dimensões deste complexo e ao quanto estava enraizado na vida do
país. Disse o presidente:
“Temos sido compelidos a criar uma indústria permanente de armamentos,
de vastas proporções (...) Gastarmos anualmente, somente na segurança
militar, mais do que a renda conjunta de todas as empresas. Agora, esta
conjunção de um imenso estabelecimento militar e uma ampla indústria de
armamentos é nova na experiência americana. A influência total -
econômica, política e mesmo espiritual - é sentida em cada cidade, em cada
Câmara, em cada gabinete do governo federal (...) Nosso trabalho, recursos
e gabinetes estão todos envolvidos; da mesma forma que a própria
estrutura de nossa sociedade”.
124
121
Charles E. Wilson - futuro Secretário de Defesa - encontrava-se então licenciado da presidência da General
Eletric para ocupar a vice-presidência do Departamento de Produção de Guerra.
122
O que na verdade estava por trás da preocupação de Wilson com o planejamento da reconversão era a
preocupação - partilhada a seguir por todos os grandes empresários envolvidos com a produção de guerra - em
que as pequenas empresas voltassem à economia civil antes que as mega-empresas tivessem concluído os seus
contratos (e extraído ainda mais lucros) com o governo.
Uma preocupação bastante justificável se levarmos em consideração que os consumidores americanos tinham
acumulado cerca de 160 bilhões de dólares por absoluta falta do que comprar.
123
Para esta campanha os militares se utilizaram de dados sobre o estágio da produção e os índices de estoque de
matérias-primas, que mais tarde uma Comissão Parlamentar de Inquérito constatou serem falsos. Enquanto os
militares de incumbiam de divulgar dados falsos, os industriais alteravam às escondidas as especificações para
produção para o mercado civil.
Sobre isso Cook cita um exemplo esclarecedor quanto à produção de geladeiras mecânicas domésticas. O projeto
original referia-se à produção de "geladeiras mecânicas domésticas, exceto elétricas", que foi alterado para
produção de "geladeiras mecânicas dosticas, exceto elétricas e a gás", esta "ligeira" alteração impediu que
uma empresa média concorrente da General Eletric entrasse no mercado civil antes.
124
Discurso pronunciado em 17 de janeiro de 1961. In: ISRAEL, Fred. (ed.) - The State of the Union messages
of the Presidentes (1790-1966). New York, 1968. P.194.
107
Foi com este tom apocalíptico que um dos homens que tanto colaborou com a
construção do complexo militar-industrial, se referiu à intrincada e poderosa máquina
na qual este se transformou, passada menos de uma década do fim da Segunda
Guerra Mundial.
Uma máquina que se imiscuiu em todos os setores da vida do país e o fez de
tal forma que parecia ser realmente irreversível.
FUNÇÕES DA GUERRA
As funções e objetivos explícitos de uma guerra são perceptíveis sem
grandes esforços. No entanto, a guerra implica em funções e objetivos implícitos
muito mais complexos e, portanto, mais difíceis de serem percebidos. Além dos
poderosos interesses em jogo na manutenção de uma sociedade voltada para o
sistema de guerra, como é o caso dos Estados Unidos, em particular no período com
o qual trabalhamos.
Nos EUA, foram estas funções implícitas da guerra, as funções não-militares,
que permitiram à máquina da defesa não se subordinar à sociedade civil e que
possibilitaram à esta máquina, sempre preparada para a guerra, possuir uma força
hegemônica na sociedade.
Estas funções e objetivos implicariam em problemas a serem equacionados
numa eventual transição para a paz. O fim do chamado “sistema de guerra”, tal qual
foi concebido nos EUA, eliminaria as funções militares deste sistema, o mesmo não
ocorrendo com suas funções não-militares, a não ser que um planejamento global
desse conta destas questões.
A seguir apontamos algumas das principais funções não-militares da guerra:
108
1 - A guerra pode representar um desperdício econômico de grande utilidade
ao controlar o excesso de produção, impedindo a redução dos lucros do capital e
mantendo a ordem econômica e social.
2 - À isto se somam os problemas relativos ao desemprego e à melhoria da
qualidade de vida sobre os quais os empresários pensavam que, quanto mais estas
questões pudessem ser bem resolvidas pela via dos gastos sociais, “(...) menor
[seria] o entusiasmo pouco exigente pela empresa privada, e maior o apoio a uma
sociedade na qual o papel dominante da corporação econômica se apresenta
diminuído (...)”
125
Ideologicamente isto significaria uma derrota para o Capital. Esta é uma das
razões pelas quais as elites norte-americanas estimulavam os gastos militares, pois
estes “(...) não acarretam concorrência com qualquer coisa que as empresas
privadas produzem para os mercados civis, e são uma fonte de negócios. (...)”.
126
3 - Uma outra questão também solucionada pelo “sistema de guerra” é a das
categorias não-especializadas de trabalho que permitem manter os salários em um
patamar aceitável para o capital sem comprometer os lucros. Estas categorias
tendem a desaparecer com o advento do desenvolvimento industrial. No entanto,
isto pôde ser controlado pelo investimento em armas que freando um
desenvolvimento de outros setores da indústria, impediu o fim deste tipo de mão-de-
obra.
4 - Além destas questões há que se pensar ainda, que uma das formas de
controle do Estado sobre a população está na coersão representada pelo seu poder
125
NOSSÍKER, Bernard D. - As duas meias-verdades do desarmamento. Em seu: Estudo sobre o poder e a
riqueza. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1968. p. 194.
126
Id.ibid., p. 194.
109
bélico-militar e que, portanto, eliminar a guerra significaria eliminar uma das mais
eficientes formas de controle social existente na sociedade capitalista.
5 - O “sistema de guerra” torna possível exercer um controle eficaz sobre uma
parcela da população que tende a rebelar-se com relativa facilidade: os jovens que
são neutralizadas ao serem convocados para o serviço militar. Este sistema torna
possível o reconhecimento - incentivado pelo patriotismo - dos valores nacionais
contra “poderosos” inimigos internos e externos.
Estas funções não-militares da guerra mostram que, além da produção de
armas, o complexo militar-industrial estava preocupado com a continuidade de um
sistema que apresentava um conjunto de mecanismos para a manutenção do
sistema, sem nenhum tipo de risco para o processo de acumulação de capital.
ARMAS E LUCROS NOS ESTADOS UNIDOS DOS ANOS 50
A indústria armamentista nos EUA entre os anos de 1948 e 1956
representava mais do que um simples aparato destinado a produzir as condições
para a defesa do país.
As verbas para defesa eram um fator de privatização do Estado. Isto nos
coloca a necessidade de ver este complexo menos como um desdobramento da
política de Estado norte-americana e mais como um mecanismo fundamental
responsável por parte considerável da acumulação de capital.
O investimento neste setor não apresentava riscos, o governo fornecia o
mercado - ele próprio - a maior parcela do capital necessário e as especificações
para a produção.
110
“(...) um amparo deste porte constitui forte proteção contra uma profunda
queda dos negócios.(...) as indústrias em progresso, aquelas cujos lucros
têm sido mais elevados desde 1929, são as que mais intimamente se ligam
aos gastos com a defesa.”
127
A inserção do armamentismo na economia norte-americana era tão evidente,
que a bolsa de valores chegava a apresentar quedas quando da veiculação de
notícias sobre possíveis acordos de paz. Uma atitude compreensível na medida em
que os títulos das fabricas envolvidas com o complexo militar-industrial eram uma
excelente fonte de especulação financeira.
Isto também envolvia um grande número de médios empresários que ao
especularem com estes títulos, sentiam-se participantes do complexo e passavam a
defendê-lo.
Além disso, a guerra foi responsável pelos maiores avanços tecnológicos do
setor industrial nos EUA, combinada à lucratividade e à ausência de riscos que
representou para o grande capital, nada podia ser mais tentador.
Estes avanços deveram-se ao fato de a orientação geral da pesquisa ser
determinada em boa medida, pelas necessidades militares, financiadas pelas verbas
públicas destinadas à defesa, como bem o lembra Mills:
“ (...) à falta de uma orientação para a ciência, os militares - a marinha, em
seguida o exército - começaram a participar da direção e apoio das
pesquisas científicas (...)”
128
Este complexo militar-industrial é composto pelas forças armadas, pela
burocracia estatal que se ocupa das questões de defesa, pelos parlamentares que o
sustentam no Congresso, pelos pesquisadores que trabalham no desenvolvimento
de projetos e pelas indústrias que trabalham na produção de armamentos.
127
Id. ibid., pp. 180
128
MILLS, Wright C. - A elite do poder. Rio de Janeiro, Zahar, 1968. p. 259.
Segundo os dados apresentados por Mills, em 1954 o governo norte-americano gastou cerca de 2 bilhões de
dólares em pesquisas dos quais aproximadamente 85% destinavam-se à Segurança Nacional.
111
Na composição deste complexo, o governo era o porta-voz dos interesses do
grande capital. A ele cabia defender o orçamento destinado à defesa para que fosse
integralmente aprovado. Um orçamento que conforme veremos a seguir, é sempre
maior do que todas as verbas destinadas aos setores sociais somadas.
Aos militares e ao governo cabia criar e manter as condições para viabilizar a
existência do complexo - ou seja - manter a necessidade de mais e melhores armas
para a defesa contra o Inimigo - que neste momento se fazia expressar pelo
chamado “perigo vermelho”. Isto significava manter o país em constante preparação
para a guerra e a população sob a égide dos desígnios militares.
Às indústrias cabia produzir e suprir o governo com aquilo de que necessitava
para a defesa; as armas. Mais do que as armas, o financiamento indireto de
campanhas de propaganda, o lobby para defesa da proposta orçamentária no
Congresso, os estudos para propor novos armamentos e modificações nos já
existentes.
A cooperação existente entre os membros do complexo não se encerrava aí,
como diz Mills:
“ (...) a menos que participassem das decisões das empresas, os militares
não poderiam ter certeza de que seus programas seriam realizados; e se os
dirigentes das empresas não conhecessem um pouco dos planos de guerra,
não poderiam planificar a produção bélica.”
129
Levando-se isto em consideração, era freqüente o emprego de militares
reformados em cargos executivos das empresas participantes do complexo. Quanto
mais contratos a empresa recebia, maior o número de oficiais que vinha a empregar.
129
Id. ibid., pp. 254
112
Era comum também, encontrar pessoas vinculadas às maiores empresas
ocupando cargos de confiança no governo.
130
Desta forma a mútua cooperação possibilitava que os interesses do complexo
se mantivessem sempre na ordem-do-dia da vida norte-americana.
O FUNCIONAMENTO DO COMPLEXO MILITAR-INDUSTRIAL
O procedimento para contratação de indústrias para fabricação de armas foi
regulamentado pelo Armed Sevices Procurament Act de 1947 (Lei de Aquisições
para as Forças Armadas).
Nesta lei existiam pretensos mecanismos de garantia da concorrência pública
para contratação. No entanto, a própria lei já previa um conjunto de 17 exceções
para as quais o processo de licitação poderia ser dispensado.
O texto relativo às exceções era tão amplo e, ao mesmo tempo tão genérico
que a partir de então, cerca de 90% das contratações foram feitas sem concorrência.
A exceção mais utilizada era a que impedia a publicação de edital de licitação por
questões relativas à segurança.
Além das exceções, outra questão que a lei pretensamente garantia era a
livre-concorrência que na verdade, jamais existiu, pois quando uma empresa era
contratada pela primeira vez para a fabricação de determinado tipo de equipamento,
130
No caso dos representantes das empresas, tudo começava já na época da campanha eleitoral. As empresas
apoiavam os candidatos dos dois maiores partidos - Democrata e Republicano - com recursos financeiros e
humanos, colocavam à disposição dos candidatos quadros bem preparados para condução da campanha.
Eleito o novo presidente, estas pessoas eram sempre lembradas no momento da composição do seu staff.
Para citar apenas alguns dos casos mais famosos, eis alguns exemplos desta "cooperação":
Douglas MacArthur foi para a Remingthon Rand e depois para a Chrysler. Omar Bradley (do Estado Maior
Conjunto) foi para a Bulova Research Laboratories. Charles E. Wilson (que ocupou vários cargos no primeiro
escalão dos Governos Truman e Eisenhower - entre eles o de Secretário da Defesa) era da General Eletric.
Robert Lovett (Secretário de Estado de Truman) foi da Brown Brothers, Harriman & Co. George Humprey
(Secretário do Tesouro de Truman) foi da M.A. Kanna Steel Co. Frank Peace (Secretário do Exército de
Truman) foi presidente da General Dynamics. Leslie Groves (Coordenador do Projeto Manhattan) foi para a
Remington, Mattew B. Ridgway, foi para a Mellon Institute of Industrial Research.
113
montava a linha de produção o que lhe dava um maior grau de especialização e a
colocava como preferencial em relação as demais para produzir por anos a fio este
mesmo equipamento.
131
Assim que o Pentágono manifestava a necessidade de desenvolver um novo
tipo de armamento, a primeira atitude da empresa pretendente ao contrato era a de
se colocar a disposição para viabilizar a pesquisa, para o que se utilizava da
subcontratação de Universidades ou Institutos de Pesquisa.
As subcontratações eram feitas não só para pesquisa mas também para o
próprio processo de produção. A subcontratação parecia cumprir centralmente três
funções:
1 - Socialização dos maiores contratos entre as grandes companhias.
2 - Manutenção do domínio das mega-empresas sobre as menores que não
tinham condições de entrarem sozinhas para o complexo militar-industrial.
3 - Empilhar piramidalmente os lucros, não permitindo que se tornassem
demasiado evidentes para a população.
Os contratos entre o Departamento de Defesa e as indústrias eram assinados
prevendo-se dois tipos de custos do material a ser produzido, o custo normal e o
custo máximo. Este último cumpria dois papéis, o primeiro era o de desobrigar a
indústria contratada da redução de custos (até porque isto era desnecessário na
medida em que não existia concorrência real) e o segundo era o de garantir que
alterações nos preços das matérias-primas, um número de subcontratações maior
131
Além disso, a chamada ética empresarial impedia outras empresas de entrarem em concorrência já que
também acabavam por se especializar em outros tipos de armamentos e não lhes interessava que tal concorrência
viesse a existir de fato.
114
do que o previsto inicialmente ou qualquer outro fator que interferisse no custo final,
não causasse qualquer risco aos lucros das indústrias.
Caso este recurso fosse ainda insuficiente para garantir os lucros esperados,
as empresas recorriam à outros expedientes tais como modificações no projeto
original que, no mais das vezes, acabavam sendo “solicitadas” pelo próprio
Pentágono
Uma outra forma de obtenção de lucros desenvolvida pelo complexo militar-
industrial eram as patentes.
Uma norma do Departamento de Defesa impedia que o governo utilizasse
suas pesquisas na área militar para fins civis, isto fez com que as grandes empresas
contratadas para realizar pesquisa e execução de equipamentos militares
obtivessem as patentes e as explorassem para uso civil.
132
Numa total inversão de papéis este tipo de uso civil das pesquisas militares
feito pelas empresas, foi muito utilizado por parlamentares ligados ao complexo
como uma das justificativas para defender os gastos com defesa.
Depois de entregue o equipamento e antes que o Pentágono fizesse um novo
contrato de produção, as empresas eram mantidas no circuito com contratações
“secundárias” cujo objetivo era manter, modificar ou modernizar o equipamento
produzido por elas mesmas. Milhares de dólares eram gastos todos os anos com
estes contratos “secundários”.
132
A BOING cumpriu um contrato para produção de transportes a jato para a Força Aérea e disso resultou o
Boing 707, que hegemonizou o mercado da aviação comercial por anos a fio.
A IBM foi responsável pela maior parte do desenvolvimento de computadores para controle balístico de aviões e
instalações antiaéreas. Quando os computadores passaram a ser produzidos para consumo civil, a IBM liderou o
mercado e teve com isso, um crescimento surpreendente.
115
Quando o equipamento entregue apresentava problemas de fabricação
difíceis de serem equacionados (o que ao que tudo indica era relativamente
freqüente), o Departamento de Defesa cancelava o contrato e ressarcia a empresa
pelos gastos. Com isso era preciso fazer um novo contrato, e a empresa que tinha o
seu contrato cancelado podia se dispor a realizar novos trabalhos uma vez que, em
termos oficiais, nada constava contra ela, pois o cancelamento tinha sido pedido
pelo Departamento.
Os contratos do Departamento também previam a utilização de instalações
militares pelas indústrias. Quando isso não era possível por qualquer motivo, as
empresas eram ressarcidas pelo gasto que tinham com instalações.
133
A estas facilidades no que se refere aos contratos de produção, devem-se
somar os benefícios obtidos pelas empresas do complexo, em particular durante a
Segunda Guerra Mundial e a Guerra da Coréia, quando em propriedades destas
empresas foram construídos edifícios e instalados equipamentos para uso militar,
obviamente com utilização de verbas públicas.
134
Como se pode perceber, as vantagens que as empresas obtinham nos
contratos para produção de defesa eram inúmeras e os riscos, nulos.
133
O argumento utilizado para isso era o de que estas instalações exigiam um enorme grau de especialização e só
poderiam ser utilizadas para novos contratos militares e como este "não era um mercado estável" as empresas
seriam prejudicadas se tivessem que arcar com os custos relativos à instalações.
134
Esta situação só foi "descoberta" quando no início dos anos 60 o Departamento de Defesa iniciou um estudo
sobre a venda de algumas de suas propriedades. Entre as propriedades listadas para este estudo, foram
descobertas algumas nesta situação o que impedia que fossem vendidas para qualquer outro comprador que não
as próprias empresas proprietárias do terreno. Isto fez com estas empresas determinassem o preço das vendas e
assim, mais uma vez, obtivessem lucros por meio de verbas públicas.
116
A OPÇÃO PELA GUERRA E O NOVO INIMIGO TOTAL
Os EUA percebendo que o nazi-fascismo transformara-se em pó criaram o
Novo Inimigo Total - o comunismo e a URSS- para preencher as funções do sistema
de guerra.
Com os impasses advindos das negociações sobre o controle da energia
atômica e o desarmamento, o establishment fez a opção que lhes interessava: a
chamada “paz armada”. Os Estados Unidos necessitavam armar-se para defender
os “povos livres” da “tirania comunista”. A paz armada ou equilíbrio do terror ou
ainda, a paz pelo medo nada mais são do que o estabelecimento de um equilíbrio
que é mantido a partir de uma corrida entre as potências no sentido da equiparação
do seu poderio bélico-militar.
Contrariamente ao que se alardeou de ambos os lados, o objetivo de detonar
a Terceira Guerra Mundial não era real pois, “A situação se resume nisto: com a
guerra, todas as nações poderão desintegrar-se, e por isso, em seu medo mútuo de
guerra, sobrevivem. A paz é um medo mútuo, um equilíbrio do medo armado”.
135
Associado a isto está o temor (verdadeiro pânico) da população, ante à
possibilidade de uma nova guerra levar à destruição total. Sobre esta questão diz
Jonh Kenneth Galbraith que “(...) as negociações de controle armamentista, (...) não
visam à efetiva redução de armas. Elas visam a reduzir o medo que as pessoas
135
MILLS, W. C. - op. cit. p. 222.
Além do problema da destruição global que uma nova guerra poderia causar, o Ten-Cel Karl Eklund da Escola
de Comando e Estado Maior afirma que uma nova "guerra total poderá sair tão cara que levará à ruína a nação
vencedora." A Natureza da Guerra Total. In: Military Review. Kansas, Escola de Comando e Estado Maior, abril
de 1950. p. 14.
117
sentem da corrida nuclear, visam arrefecer o temor popular de uma eventual
extinção”.
136
Ainda sobre esta questão diz Morray que:
“[o] desarmamento é imposto aos governos pela exigência popular, e
nenhum político ousa falar da corrida de armas em termos que não sejam
de alarme, acusação e decisão de impedir a ascensão dessa espiral
pressaga antes que tenha ido muito longe” entretanto, continua Morray,
“quando, não obstante, continuam a aumentar os armamentos, ano após
ano, também isso é feito em nome da preservação da paz pela
prevenção.”
137
O objetivo central da manutenção do “sistema de guerra”, visto que não era o
de deflagrá-la, só poderia ser o de viabilizar a constância dos altíssimos
investimentos na indústria armamentista. Isto justificado pelo discurso, de que só um
crescente volume de armamentos poderia levar à um acordo para o futuro
desarmamento.
O equilíbrio entre as potências, mantido à custa de enorme investimento
governamental, que nos EUA era repassado à indústria privada para produção de
armamentos, é o que garante a “estabilidade” da situação de paz.
O Plano Baruch, a Doutrina Truman, o Plano Marshall, a proposta de
retaliação Maciça de Dulles, a de Céus Abertos de Eisenhower; todos são
instrumentos de efetivação deste “sistema de guerra”, habilmente impulsionado
pelas elites com o estado de alerta contra “perigo” representado pelo Novo Inimigo, a
URSS.
Foi a partir de iniciativas como estas que o Estado e a indústria privada da
produção bélica (com a colaboração da indústria cinematográfica de Hollywood),
puderam criar as condições ideais para que a opinião pública norte-americana -
136
GALBRAITH, John Kenneth - Controle de armamentos e poder militar. In: Estudos Avançados. São Paulo,
Instituto de Estudos Avançados/USP, maio/agosto de 1988. p. 12.
137
MORRAY, J. P. - Origens da Guerra Fria. Rio de Janeiro, Zahar, 1961. p. 136.
118
apesar de temerosa com o desastre de uma nova guerra - aceitasse com maior
facilidade uma dotação orçamentária cada vez maior para defesa (que implicava em
constantes aumentos de impostos), e que ia diretamente para a iniciativa privada
através dos contratos feitos entre esta e o Departamento de Defesa.
A corrida armamentista, motor de uma pretensa estabilidade rumo à paz, foi
defendida nos Estados Unidos por discursos de importantes personalidades da
época, com o claro objetivo de incutir na população o receio do perigo representado
pelo Novo Inimigo e a convicção de que as armas eram de fato, uma necessidade.
Vejamos alguns exemplos destes discursos:
“Nenhum sistema de desarmamento que deixe fracos os estados
cumpridores da lei, em face da agressão, poderá jamais contribuir para a
paz.” James F. Byrnes
138
“O poderio militar dos EUA manterá a URSS dentro de suas atuais fronteiras
- Qualquer tentativa da Rússia no sentido de ultrapassar os limites de sua
esfera de influência na Europa, encontrará resistência dos EUA”. - Relatório
da Associação Norte-Americana de Política Exterior - citado pelo jornal O
Estado de São Paulo de 07/01/1950, 1º pp. (Washington, 06/01, ag. AFP)
“O único meio de consolidar a paz é evitar pela força que a União Soviética
dê expansão aos seus desígnios ideológicos e imperialistas.” Declaração do
presidente H. S. Truman. O Estado de São Paulo, 10/02/1950, pp. 10.
(Washington, 09/02, ag. AFP).
“Devemos estar preparados para o pior. O comunismo só recua diante da
força e, segundo tudo leva a crer, os russos aguardam apenas um momento
favorável para atacar.” Declaração do secretário da Marinha - Francis
Matthws. O Estado de São Paulo, 16/03/1950.
“Eisenhower proclama a necessidade da força para garantir a paz.” O
Estado de São Paulo, 25/03/1950, pp. 1. (New Iorque, 24/03, ag. AFP).
“Precisamos ter forças suficientes para atacar o agressor onde ele for
vulnerável.” Declaração de John Foster Dulles, líder republicano. O Estado
de São Paulo, 13/05/1952, pp. 2. (New Iorque, 12/05, ag. UP).
Fica evidente através de tais citações que - na perspectiva de consolidação
da imagem do Novo Inimigo - o armamentismo norte-americano é visto como a
138
Citado em MORRAY, J. P. - op. cit. p. 157.
119
defesa da liberdade e o soviético como um perigo a ser combatido a qualquer custo,
pois significa acúmulo de forças a fim de dominar e tiranizar. As próximas citações
tornam ainda mais explícitas estas questões.
“A paz não constitui um fim ao qual tudo deva ser sacrificado.” Declaração
de J. F. Dulles, secretário de Estado. O Estado de São Paulo, 12/03/1953,
pp. 1. (New Iorque, 11/03, ag. AFP).
Em seu discurso de Wheeling, McCarthy expressou de forma bastante
contundente a situação que vinha sendo articulada pelo complexo militar-industrial,
desde o fim da guerra. Disse ele que “Este é o tempo da guerra fria. Este é o tempo
no qual o mundo todo se encontra dividido entre dois vastos campos cada vez mais
hostis. Este é o tempo de uma imensa corrida armamentista”.
Nas palavras de McCarthy, transparece o quanto o Novo Inimigo Total era,
antes que uma ameaça, uma necessidade. E que a guerra era antes que uma
defesa, um sistema que deveria tornar-se permanente na vida do país.
Além das questões relativas ao poder do Novo Inimigo Total, da necessidade
de manter a paz e a liberdade do chamado mundo livre, que são na verdade
instrumentos de disputa ideológica do capitalismo norte-americano, as questões de
ordem econômica tomam um vulto importante no sentido de viabilizar a indústria
armamentista.
No próximo item analisaremos com maior profundidade esta questão, cumpre
ressaltar por hora, que o crescimento econômico norte-americano deveu boa parte
de sua existência aos gastos com a defesa. Não há como negar que a população, já
pressionada pela campanha anticomunista em curso, se vê diante da possibilidade
bastante real de defrontar-se com uma crise econômica sem precedentes, com a
diminuição de tais gastos, com graves implicações no que se refere, em particular ao
crescimento dos índices de desemprego.
120
Com isto, também os países do chamado Terceiro Mundo, são ganhos para a
idéia do armamentismo, visto que estes países são basicamente exportadores de
matérias-primas, das quais os aparatos militares são grandes consumidores.
Charles E. Wilson sintetizou bem a situação ao dizer que
“um dos fatores mais graves de toda essa questão da defesa é que tantos
americanos estão beneficiando-se com ela: propriedades, negócios,
empregos, votos, oportunidades de promoção, salários mais elevados para
cientistas e tudo o mais. Trata-se de uma questão muito
perturbadora...Quem tenta alterar as coisas encontra-se logo em
dificuldades”
139
Um tal aparato de defesa precisa ser justificado além da produção militar da
potência rival. É preciso justificar do ponto de vista militar, mas, também, do ponto
de vista ideológico e aqui, muito mais do que as declarações de parlamentares e
governantes, a mídia foi a grande responsável pelo processo de convencimento da
população.
HOLLYWOOD E O COMPLEXO MILITAR-INDUSTRIAL
“Em inglês filmar e atirar conjugam-se com o mesmo
verbo 'shoot' mais que simplesmente curiosa, a coincidência
sugere uma espécie de ‘pacto ideológico’ entre indústria
cinematográfica e poder militar nos EUA”.
140
Tanto Hollywood quanto o complexo militar-industrial, têm um interesse
comum: a manutenção da ordem capitalista que lhes proporciona a acumulação de
capital da qual desfrutam.
Não há nenhuma casualidade neste feliz casamento. No entanto, é bom que
se diga, nem tudo em Hollywood se baseia nesta relação. Obviamente a indústria
139
Citado em COOK, Fred J. - O estado militarista. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1964. p. 151.
140
AUGUSTO, Sergio - Exército e cinema, irmãos nas armas. Folha de São Paulo, 18 de março de 1986.
121
possibilita a produção de filmes que não se propõem a estar à serviço dos interesses
do complexo.
Também é verdade que nenhum filme, por melhor que seja, pode, por si só,
formar a opinião pública no sentido de um interesse específico, qualquer que seja
ele.
Tanto mais quando se trata de um interesse de classe e de uma classe que
deve a sua sobrevivência à opressão e exploração de outra.
No entanto, os interesses do complexo militar-industrial são muito poderosos
e se viabilizam incutindo a idéia de que estes interesses são de todos e não apenas
de uma classe.
Possibilitar que estes interesses pareçam de fato gerais, requer a utilização
de vários mecanismos combinados e utilizados todos ao mesmo tempo. Se um filme
não pode por si só viabilizar este objetivo, inúmeros filmes somados à jornais,
programas de TV, pronunciamentos diários de personalidades públicas, artigos em
revistas de grande circulação, interrogatórios em cadeia nacional de rádio e televisão
e julgamentos que terminam em cadeira elétrica; são um caldo de cultura bastante
propício à que um disco voador se transforme em uma atividade de espionagem
comunista e uma simples ervilha seja encarada como a imagem do próprio
comunismo que faz de seres humanos pessoas absolutamente insensíveis e
violentas.
Um conjunto de estímulos como o que foi utilizado pelas elites norte-
americanas nesta época pode operar um verdadeiro “milagre” no sentido da
viabilização de objetivos como os que estavam em jogo. Desta forma, um filme de
122
puro entretenimento, como os de ficção científica, podem perfeitamente se
transformar em “alertas” quanto a ameaça que paira sobre o chamado “mundo livre”.
É neste contexto que se deve analisar a colaboração de Hollywood na
elaboração do Novo Inimigo Total, visando garantir a sobrevivência e o crescimento
do complexo militar-industrial.
É esta a colaboração entre Hollywood e o complexo que temos buscado
enfatizar no decorrer deste trabalho e que neste momento aprofundaremos
utilizando as análises já apresentadas sobre os filmes de ficção científica, as peças
orçamentárias do governo federal e os dados relativos ao Departamento de Defesa
e à indústria bélica entre os anos de 1948 e 1956.
As relações entre Hollywood e o Estado
A base do armamentismo americano do pós-guerra foi a necessidade de
defesa contra este Inimigo URSS. Um Inimigo que, buscava impor o seu modo de
vida ao mundo através da violência e que não exercia e não compreendia os valores
como a democracia e a liberdade. Esta a imagem do Novo Inimigo que se trabalhou
para garantir os interesses das elites norte-americanas.
Não há dúvidas de que um Inimigo tão bem elaborado e tão real para a
população, combinado com os poderosos interesses em jogo na manutenção do
complexo militar-industrial, tornaram necessário fomentar tensões que colocassem
“em risco” a segurança nacional.
“os mais preeminentes representantes da indústria e do comércio começaram
a comparar o despotismo da Rússia com o barbarismo de Termalão e de Átila, ao
123
ruidosamente, [lançarem] uma cruzada americana que dominasse e conquistasse o
mundo antes que nós mesmos fôssemos destruídos.”
141
A combinação de tantos e tão poderosos interesses precisava ser
equacionada da forma mais eficaz e ágil que fosse possível encontrar. Foi assim,
que Hollywood e o complexo militar-industrial reforçaram sua antiga aliança (anterior
a Segunda Guerra) com o intuito de viabilizar interesses comuns.
Hollywood foi fundamental para formar uma opinião pública que
compreendesse a necessidade de manter e ampliar o complexo. Nada poderia ser
mais útil do que um veículo tão ágil e tão insuspeito como o cinema para viabilizar os
interesses fundamentais do sistema capitalista, que nos EUA se sustentou na
privatização do Estado, cujos investimentos se orientavam pelos interesses de uma
classe social rumo à indústria armamentista.
Nesta parte final de nosso trabalho buscamos aprofundar os elementos desta
colaboração de Hollywood no processo de elaboração do Novo Inimigo Total (base
de sustentação do complexo militar-industrial), pois as hostilidades entre Estados
Unidos e União Soviética - até então aliados contra um Inimigo comum - começavam
a crescer. A Guerra Fria se instalava no mundo pós-derrota do nazi-fascismo e a
construção da imagem de um Inimigo forte e poderoso colocava-se na ordem-do-dia
para o complexo militar-industrial.
Viabilizando esta construção, os filmes de ficção científica cumprem objetivos
importantes.
1 - organizar - mesmo que de forma metafórica - os elementos constitutivos
da imagem do Novo Inimigo Total.
141
COOK, Fred J - O Estado Militarista. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1964. p.69
124
Com isso, os filmes “alertam” para a falácia do comunismo, mesmo se
experiências concretas de vigência de um sistema comunista não tivessem ocorrido
para que se pudesse afirmar tal coisa.
Para este “alerta”, as elites norte-americanas apontaram a URSS como
modelo do que seria uma sociedade orientada pelo comunismo.
A partir deste paralelo entre comunismo e URSS, as elites ressaltaram na
imagem do Novo Inimigo a tirania, a violência, a miséria e a escravização à qual os
povos são submetidos quando vivem sob o regime “comunista”, tudo isso
comparado à democracia, à paz, à abundância e à liberdade oferecida pelo sistema
capitalista, cuja imagem é construída como o oposto radical da imagem do Novo
Inimigo, como se, de fato, uma sociedade cuja marca é a divisão de classe e a
acumulação de capital pudesse ser, sem nenhuma intermediação, o oposto da
imagem deste Inimigo.
2 - Desta forma, os filmes cumpriam a sua segunda função: a de construir um
senso comum no qual o capitalismo é apresentado como o que de mais avançado a
humanidade pode esperar, como a reta final da história.
3 - Mostrar à opinião pública que só com constantes inovações na área de
produção de armamentos será possível conter o Inimigo TOTAL. Apontando, ao
mesmo tempo, que estas inovações não trazem nenhum perigo se estiverem em
mãos corretas, os EUA e seus aliados, buscando com isso minimizar o pânico
popular com o excessivo e perigoso desenvolvimento de novas armas.
Os filmes mostram que, por mais letais que estas novas armas possam ser, é
perfeitamente possível conviver com elas e com seus efeitos.
125
4 - Reduzir a desconfiança histórica da população em relação aos militares,
cujo sentimento geral era o de que estes se constituíam em verdadeiros parasitas
sociais.
142
5 - Ganhar a população para o crescente aumento de impostos gerado pelas
necessidades do complexo militar-industrial.
A relação entre Hollywood e o Estado norte-americano - em particular com o
braço militar do Estado, o Pentágono - tornou-se muito estreita durante a Segunda
Guerra, quando o Pentágono precisou incutir em seus soldados a necessidade da
guerra.
Durante a Segunda Guerra foi produzido um imenso volume de filmes para as
mais diversas finalidades, estima-se que os gastos com este tipo de material chegou
a casa dos 50 milhões de dólares ao ano.
Várias foram as funções do filmes durante o período de guerra. As filmagens
aéreas das atividades de guerra, por exemplo, ganharam novas funções além do
simples documentário. Boa parte do mundo foi filmada do ar o resultado foram
mapas aéreos utilizados para fins militares durante o conflito.
143
O filme passou a ter um significado especial para as inteligências militares
nesta época. A filmagem dos combates, permitia ao Alto Comando de Washington,
em curto espaço de tempo, analisar vários casos e detalhadamente todos os
problemas relativos às manobras feitas e detectar os erros e os próximos passos
sem estar presente à nenhum deles e sem a necessidade de relatórios escritos.
142
A própria constituição manifesta esta desconfiança e contém mecanismos para controlar o poder militar,
como por exemplo o problema da declaração de guerra que não pode ser feita apenas pelo estado-maior das
Forças Armadas.
143
Além do uso para batalhas, os mapas registrados pelas câmaras foram utilizados para alterar os
conhecimentos geográficos existentes Com estes registros foi possível atualizar antigos dados relativos à
contornos de países e continentes, fluxo de rios, altura de montanhas e cordilheiras, etc.
126
Depois de utilizados para esta análise os materiais eram trabalhados e
transformados em fonte para os noticiários destinados à população em geral.
Junto com essas novas funções para as filmagens de guerra, o governo
percebeu uma outra, o filme era uma linguagem propícia ao processo de formação
de opinião necessário para estimular nos soldados, e na opinião público de modo
geral, a compreensão do que estava em jogo e a vontade de lutar pelo seu país.
“Para influenciar o pensamento, mudar opiniões e afetar a conduta, as Forças
Armadas produziram um grande número de filmes 'documentários', classificados
como Informação e Educação, com graus diversos de sucesso, numa diversidade de
estilos.”
144
Além dos filmes destinados aos soldados foram feitos filmes para os
trabalhadores da indústria bélica - também exibidos para o público em geral - que
tinham como objetivo convencê-los a se esforçarem mais na produção de material.
Quando a guerra já estava no fim, estes filmes foram muito utilizados para
evitar que a reconversão criasse problemas para as mega-indústrias do complexo
militar-industrial, defendendo seus interesses, o complexo - utilizando-se desta
propaganda - impediu que as pequenas fábricas voltassem antes ao mercado civil,
retirando das grandes os seus privilégios.
145
Toda a produção do Pentágono foi feita com a colaboração de Hollywood que,
ao mesmo tempo em que se incumbia da produção do material necessário aos
objetivos da guerra, aproveitava para colocar nestes filmes a sua marca. Dois bons
144
GRIFFITH Richard - The use of films by the US Armed Sevices. In: ROTHA, Paul - Documentary Films.
London, Faberand Faber, 1970. p. 349.
145
Para maiores detalhes sobre o problema da reconversão, ver neste mesmo capítulo, o item A opção pela
Guerra.
127
exemplos disto são o seriado Baptism of Fire e o longa-metragem Resisting Enemy
Interrogation.
146
Hollywood foi de grande importância para o Pentágono ao orientar os
cuidados necessários com as produções para que parecessem o mais verídicas e
convincentes possível. No filme The Battle of the United States, por exemplo, a
garantia da veracidade do que se dizia ficou por conta da narração de ninguém
menos do que J. Edgar Hoover, o poderoso diretor do FBI, falando de como o
inimigo era perigoso e de como se utilizaria de espionagem, sabotagem e todos os
mecanismos de que necessitasse para derrotar os aliados.
147
Outra contribuição importante de Hollywood para o Pentágono foi a produção
de um noticiário quinzenal de 20 minutos, para as Forças Armadas. Em meados de
1942, o roteirista de Hollywood, Leonard Spigelgass, foi nomeado para realizar a
produção do noticiário. Junto com ele trabalharam, Henry M. Berman, editor e Don
Etlinger, roteirista da 20th Century Fox. O Army-Navy Screen Magazine foi ao ar pela
primeira vez no início da primavera de 1943. Mais um exemplo de como Hollywood
se ocupava em imprimir veracidade aos filmes militares.
Nas relações entre Hollywood e o Pentágono havia outros elementos de
colaboração como no caso do treinamento de oficiais do Serviço de Comunicações
dos Estados Unidos em técnicas cinematográficas. Este treinamento foi patrocinado
pelo Research Council of the Academy of Motion Picture Arts and Sciences
(Conselho de Pesquisa da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas).
146
Vários membros de Hollywood colaboraram com a produção do período de guerra entre eles: Frank Capra,
que organizou a série Why we Fight; John Ford que realizou documentários para a Marinha William Wyler, que
dirigiu Memphis Belle, Henry Hattaway que dirigiu Fighting Lady e Walt Disney com Victory through airpower.
147
Este filme é um bom exemplo do método que o establishment, com a sempre prestativa colaboração de
Hollywood desenvolveu para trabalhar a imagem do lNIMIGO métodos posteriormente utilizados para construir
a imagem da URSS como o NOVO lNIMIGO TOTAL.
128
Havia também um acordo entre o Conselho de Pesquisa e a indústria de que
o primeiro coordenaria e distribuiria os projetos de filmes do governo e, a indústria
realizaria este trabalho em bases não lucrativas
148
. O Conselho, com a anuência da
indústria, se esforçou muito para que os filmes produzidos sobre a guerra fossem
previamente exibidos para o público militar antes de entrarem em cartaz no circuito
comercial.
Finda a guerra, tem início uma ampla campanha para estabelecer a imagem
do Novo Inimigo e colocar em marcha os objetivos do complexo militar-industrial.
Para cumprir estes objetivos, o governo não poupou esforços e muito menos
dinheiro. Como diz Cook “o dinheiro do povo, filtrado para as mãos dos militares em
quantias prodigiosas, podia e seria usado para doutrinar esse mesmo povo nos
padrões desejados de crença.”
149
Para viabilizar esta campanha, o Pentágono - com o aporte financeiro que
possuía - aperfeiçoou a sua estrutura.
150
Esta estrutura já contava, desde o período da guerra, com várias seções e
escritórios publicitários. Cada qual com o objetivo de tocar um setor em especial,
controlando um determinado segmento da opinião pública. O departamento especial
de imprensa mantinha uma sala de redação dentro do Pentágono para uso dos
jornais. O departamento transmitia as notícias oficiais e fazia o possível para sugerir
148
Este oferecimento da indústria devia-se fundamentalmente, à garantia de manutenção do monopólio dos
grandes estúdios no período da guerra.
149
COOK Fred J - op cit. p. 86
De fato, da verba destinada à defesa uma parcela considerável era utilizada para fins de propaganda. Em 1950,
por exemplo, dos 13 bilhões de dólares destinados ao Departamento de Defesa - quase 10% (12 milhões) foram
destinados à propaganda.
150
Nesta campanha de propaganda o Pentágono foi sempre auxiliado por entidades civis sem fins lucrativos, que
de modo geral recebiam suas verbas das grandes empresas, na sua maioria contratadas pelo Departamento de
Defesa para produção de armamentos. Um exemplo esclarecedor dessa relação era uma entidade chamada
Crusade for Freedom. Esta entidade controlava a rádio Europa Livre e a Imprensa Europa Livre. O presidente da
entidade era Eugene Holman que "coincidentemente " era também presidente da Standard Oil (uma das
129
idéias e perguntas a serem formuladas pelos repórteres aos representantes dos
militares.
Tudo isso foi aperfeiçoado e adequado às novas necessidades de um mundo
pós-guerra, com um acompanhamento minucioso de tudo o que se publicava em
todo lugar sobre os militares e o complexo militar-industrial. Tudo era lido, recortado,
analisado e arquivado com muito cuidado, além de ser devidamente respondido
quando se fazia necessário.
O ramo encarregado da elaboração de filmes durante o período de guerra,
não só foi mantido, como também foi acomodado às novas necessidades. Este setor
não só 12 bilhões de dólares produzia os filmes que interessava ao Departamento
de Defesa (conseqüentemente também ao complexo militar-industrial) como
auxiliava financeiramente companhias as cinematográficas hollywoodianas, que
produzissem filmes do interesse do Departamento, pois,
“um filme de êxito é visto por cerca de 40 milhões de pessoas, contando
apenas com os Estados Unidos. Por essa razão, se os serviços sentissem
que um determinado filme lhes era lisonjeiro e tinha possibilidade de êxito, o
interesse próprio ditava que os gloriosos serviços auxiliassem a propagar
por toda a Nação os esforços de suas tropas, orquestras e equipamentos.
Mas, conforme o Chefe do Departamento Cinematográfico do Exército
confessou, um filme para obter a cooperação do Exército deverá refletir
favoravelmente o Exército.”
151
De uma maneira geral, esta foi uma época em que as relações entre o Estado
e a indústria cinematográfica, eram de profunda cooperação, pois os interesses
eram comuns e isto se refletia numa política de apoio mútuo já que
“o governo perpetua o meio no qual a indústria se desenvolve, e a indústria
tem um grande interesse em preservar a ordem social existente. A indústria
cinematográfica, que afeta o espírito e as emoções humanas, pode ser um
poderoso aliado do governo e da ordem econômica, tanto dentro como fora
do país.”
152
empresas do complexo militar-industrial) a qual constava dos registros da entidade como uma de suas maiores
contribuintes.
151
COOK Fred J - op. cit. p. 90
152
GUBACK, Thomas - La industria internacional del cine. Madrid: Ed Fundamentos, 1980, v. 2. p. 275
130
Todo o esforço empreendido nesta campanha, cujo objetivo central era o de
garantir o bem-estar do complexo militar industrial, tinha razões muito claras:
preparar a população para a eventualidade de uma nova guerra; influenciar a política
internacional do EUA; garantir a ampliação das instalações militares (necessária
para garantir dotações orçamentárias suficientes à manutenção do complexo);
ganhar a confiança da população e dobrar qualquer resistência do Congresso
quanto às verbas da defesa.
Cumprindo tantos objetivos simultaneamente, as relações entre Hollywood e o
Estado parecia ser bastante vantajosa para ambas as partes. O governo passava a
ter em suas mãos um instrumento de propaganda indireta extremamente eficaz e a
indústria cinematográfica - adequando sua produção às necessidades
governamentais - obtinha financiamentos e facilidades para a exportação de seus
produtos.
FILMES E ORÇAMENTOS MILITARES: OS EFEITOS DE UMA
ÍNTIMA RELAÇÃO
Entre os anos de 1948 e 1956, cerca de uma centena filmes de ficção
científica foram produzidos. Destes aproximadamente 10% eram comédias do tipo
Abbot e Costelo ou filmes da série Superman. Os demais estavam equilibradamente
divididos entre os que procuravam especular o futuro e os filmes que apresentavam
criaturas monstruosas, na maioria fruto de experiências atômicas.
Um universo tão amplo exigiu uma delimitação do campo de análise. Em
virtude disso, optamos por trabalhar com os principais títulos da época, os que foram
inegavelmente as melhores produções que se realizou e que ainda hoje mantém a
sua atualidade em termos do gênero.
131
Nem todos os chamados clássicos puderam ser analisados, por dificuldades,
de uma maneira geral, vinculadas à acessibilidade do material. São poucos os títulos
disponíveis, em TVs e distribuidoras de filmes, museus, cinemateca. Os
colecionadores - por motivos - nem sempre se dispõem a cedê-los.
Dos títulos que analisamos todos encontram-se em fitas VHS. Deles apenas o
filme Destino: Lua, foi obtido de empréstimo à um colecionador. Os demais fazem
parte de um acervo pessoal.
Com esta análise buscamos levantar os elementos centrais para uma
compreensão da relação entre estes filmes (e suas leituras possíveis) e os
orçamentos militares, dentro do quadro político daquele momento.
132
DESTINO: LUA
Título Original: DESTINATION MOON
Ano de produção: 1950
Direção: Irving Pishel
Produção: George Pal
Efeitos especiais: Lee Zavitz
Elenco: Warner Anderson, John Archer, Tom Powers, Dick Wesson e Erin
O’Brien-Moore
O filme se inicia com uma tentativa frustrada de enviar um foguete à lua. Este
explode e a equipe responsável desconfia que houve algum tipo de sabotagem.
Algum tempo depois o cientista responsável pelo primeiro projeto recorre à
iniciativa privada para obter o capital necessário à sua continuidade. Ele procura um
empresário, que parece ser uma liderança do meio empresarial, a quem convence
que os Estados Unidos precisam ser os primeiros a chegarem à lua, caso contrário
outros o farão, e isto poderia abalar a segurança mundial.
O empresário concorda que é muito importante financiar o projeto e se incube
de convencer os demais.
Na pequena peça publicitária que é feita com o intuito de convencer os
demais empresários, o Pica-pau é incumbido de alertar a todos sobre a facilidade
com que é possível construir um foguete espacial, facilidade que também as outras
nações têm. Mais importante ainda é o alerta que o Pica-pau faz quanto ao perigo
que pode advir caso uma outra potência resolva utilizar o satélite como uma base de
mísseis, o que é bem provável se os norte-americanos não fossem os pioneiros
nesta área.
133
Estas informações convencem os empresários presentes, que concordam em
investir no projeto.
A partir de então o cientista trabalha incessantemente para viabilizar uma
segunda tentativa de colocar em órbita o foguete com destino à lua, no que é
acompanhado de perto pelo industrial que ficou à frente do projeto, representando o
empresariado.
Quando tudo está pronto para o lançamento, a população entra em pânico
diante do perigo que a irradiação atômica, decorrente da decolagem, pode acarretar.
A opinião pública se mobiliza e é expedido um mandado de segurança impedindo o
lançamento do foguete.
Diante deste fato, o empresário que assumiu o comando do projeto decide
apressar o lançamento, agora clandestino, mesmo sabendo dos riscos.
A precariedade e a improvisação tomam conta da situação, a começar da
equipe que deve tripular a nave, composta pelo cientista responsável, pelo
empresário - que se julga indispensável - e por um técnico escolhido de última hora.
Às escondidas o foguete parte e tem início uma jornada de aventuras.
Durante o pouso a tripulação comete um erro e gasta mais combustível do
que o previsto e deixando a nave sem condições de retorno.
Em solo lunar, os tripulantes tomam posse oficial do satélite em nome dos
Estados Unidos da América, tiram fotos de recordação, entediam-se com a aridez do
satélite, descobrem urânio acidentalmente e comentam que não há melhor lugar
para se viver do que a América.
A falta de combustível decorrente dos problemas ocorridos no momento do
pouso coloca o grupo em sérias dificuldades e cria a necessidade de livrar o foguete
134
de uma grande quantidade de peso para que o retorno seja possível. Chega-se a
cogitar da hipótese de um deles permanecer lá. O comandante resolve desfazer-se
do rádio e assim todos podem voltar.
135
GUERRA DOS MUNDOS
Título Original: WAR OF THE WORLDS
Ano de produção: 1953
Direção: Byron Raskin
Produção: George Pal
Roteiro: Barré Lyndon
Efeitos especiais: Gordon Jennings, Wallace Kelley, Paul lerpae, Ivyl Burks,
Jan Domela, Irmin Roberts
Elenco: Gene Barry, Ann Robinson, Les Tremayne, Robert Cornthwaite, Lewis
Martin
O filme começa com a queda de algo semelhante a um meteoro, em uma
pequena cidade da Califórnia. Enquanto os bombeiros apagam o fogo, as pessoas
se aglomeram ao redor da cratera que se formou e tecem comentários sobre seu
tamanho.
A polícia local pede ajuda a três cientistas da empresa PACIFIC TEC, que
estão acampados na área. Eles dizem que se a “coisa” é de fato um meteoro não
caiu como um.
Enquanto aguardam a chegada dos cientistas, autoridades locais pensam em
fazer da área um ponto turístico, um deles diz que:
“vai ser como ter uma mina de ouro em nosso quintal”
Enquanto ocorre esta discussão sobre o que fazer com o “meteoro”, Clayton
Forrest - o cientista da Pacific Tec, autoridade em física nuclear - chega ao local e
observa que a cratera é muito pequena para o tamanho do meteoro e que existe
radiação no local.
Com o intuito de evitar um incêndio, três homens são deixados ali como
vigilantes. Quando os três se decidem a ir embora porque não há mais perigo, algo
136
na cratera começa a se mexer. Os homens pensam que são criaturas de Marte e
partem em direção ao “meteoro” acenando uma bandeira branca um deles comenta
que
“todo mundo entende quando se acena uma bandeira branca, queremos ser
amigos”.
Os três são imediatamente destruídos por raios vermelhos emitidos de um
olho mecânico que sai do interior do “meteoro”.
Neste momento, relógios, telefones, luzes, tudo deixa de funcionar. Vê-se
fogo no local em que está o “meteoro”, o cientista, o xerife e um policial dirigem-se
para lá, onde encontram os três homens mortos.
O xerife diz que vai avisar as autoridades, no mesmo momento outro
“meteoro” cruza o céu; o cientista lhe responde que
“É melhor avisar aos militares, vai precisar deles aqui.”
No dia seguinte os militares começam a chegar e com eles a notícia de que
outros locais também foram atingidos.
Tentando fotografar a “coisa”, um avião da força aérea é desintegrado,
fazendo com que o coronel Hefner, responsável pela intervenção dos militares na
área, diz a Forrest que vai pedir reforços e este lhe responde que.
Forrest - Capitão, o sr. Vai precisar de muitos reforços aqui.
Hefner - Nós os teremos
Forrest avisa o 6º Comando do Exército e o General Mann é enviado para
elaborar um relatório da situação a ser enviado para Washington. (no diálogo entre
ele e Forrest fica claro que ambos se conheceram em Oak Ridge, dos laboratórios
onde se desenvolveram as pesquisas sobre a bomba-A) Diz o general que os
alienígenas parecem estar executando algum tipo de plano e que assim que se
movem, o contato com o local se desfaz. Afirma ainda que
137
“Algumas das novas armas estão aqui e queremos detê-los, pois é o único
local em tivemos tempo de cercá-los com forças suficientes para detê-los.”
Enquanto conversam, começam estranhos movimentos na cratera. Três
naves se movimentam, os soldados se preparam para o ataque. O pastor e o
coronel Hefner travam o seguinte diálogo:
Pastor - não é bom atirar.
Hefner - É a única forma de convencê-los.
Ao tentar um contato o pastor mostra a bíblia e a cruz. Assim como os outros,
é pulverizado pelos raios vermelhos dos alienígenas.
As máquinas estão protegidas dos ataques por escudos magnéticos e
destroem tudo que se move. Forrest diz ao general que o tipo de defesa que possui
não é eficaz e que ele deve avisar Washington.
Quando a situação se agrava o cientista tenta uma fuga junto com a sobrinha
do pastor morto. Eles se acidentam com o avião e refugiam-se em uma casa de
fazenda abandonada. Forrest diz à moça que
“se forem mortais terão alguma fraqueza mortal, serão detidos de algum
modo.”
Enquanto comem e conversam, sofrem um ataque dos alienígenas. Forrest
consegue cortar o olho mecânico de um deles e percebe que há sangue. Sua
namorada tem uma crise de histeria e o cientista, após acalmá-la, se comove com a
sua fragilidade.
Enquanto isso, no ARMED FORCES PUBLIC INFORMATION OFFICE, o
general Mann é informado de que está tudo pronto para evacuar a área
metropolitana de Los Angeles, caso seja necessário.
Enquanto cenas terríveis dos ataques dos invasores se desenrolam, o
narrador relata a perfeição destes ataques e diz que a medida que desciam, suas
138
máquinas criavam pânico em todos os locais. Os governos de todo o mundo tentam
ajudar-se mutuamente. A destruição e a violência estão em todo lugar, nada detinha
os alienígenas e a população peregrinava a procura de refúgio. As comunicações
com os locais atingidos eram sempre cortadas. Diz o narrador que Washington era o
único ponto estratégico do mundo ocidental que permanecia inatacado.
O general mostra ao Alto Comando das Forças Armadas e ao Secretário da
Defesa qual a tática dos marcianos, dizendo que:
“Temos que evitar que as máquinas marcianas se juntem, elas adotam uma
extraordinárida tática militar, elas formam um crescente, elas ancoram em
uma extremidade e se movimentam até fazerem um quadrante, então
ancoram no lado oposto e revertem a direção. Elas passam através do país
como uma foice
, destruindo tudo o que esteja tentando se afastar deles.”
Ao ouvir estas informações o Secretário da Defesa diz que
“só a bomba poderá deter os marcianos, não foi empregada ainda em
função do perigo da radiação para os civis, mas assim que a utilizarmos
vamos varrê-los do mundo.
O secretário diz que a bomba a ser utilizada é dez vezes mais poderosa que
qualquer outra. Um repórter ao comentar a notícia de que a bomba será utilizada, diz
que:
“Isso vai decidir o destino de toda a civilização. Se vamos viver ou morrer
pode depender do que acontecer aqui. Se a bomba falhar. Os marcianos
podem conquistar a terra em seis dias.”
Ao ouvir isso, a sobrinha do pastor comenta:
“É o mesmo número de dias que Deus levou para criá-la”
A bomba explode e nada ocorre com os civis, mas também não destrói os
alienígenas que se tornam ainda mais violentos.
Diante da ineficácia da bomba o general Mann diz a Forrest que
“é preciso evacuar todas as cidades, lutar numa linha até as montanhas,
nossa esperança está na ajuda que nosso povo pode nos dar.”
A destruição é total, as pessoas deixam tudo para trás em busca de refúgio.
Em meio ao desespero da população o caminhão de Forrest e o ônibus da PACIFIC
139
TEC são atacados e destruídos. Enquanto procura a namorada, Clayton comenta
consigo mesmo que lamenta pelo fato de a ignorância da população ter eliminado
todas as chances de vitória sobre os seres de outro planeta.
Enquanto isso, as máquinas parecem estar preparando seu ataque final,
destróem absolutamente tudo à sua volta.
Inesperadamente as naves começam a cair e os alienígenas morrem. O
narrador diz que
“os marcianos não possuíam resistência às bactérias de nossa atmosfera,
às quais somos imunes. Os homens tentaram de tudo mas os marcianos
foram derrotados pela menor coisa que deus, em sua sabedoria, colocou na
terra.”
140
GUERRA ENTRE PLANETAS
Título Original: THIS ISLAND EARTH
Ano de produção: 1954
Direção: Joseph Newman
Roteiro: Franklin Coen e Edward G. O’Callaghan
Efeitos especiais: Clifford Stine, Stanley Horsley
Elenco: Jeff Marrow, Faith Domergue, Rex Reason, Lance Fuller, Russel
Johnson, Douglas Spencer, Robert Nichols, Karl L. Lundt.
CIA: Universal
Em Washington DC o doutor Cal Meachman está se preparando para pilotar
um avião, cedido pelo Exército, que o levará de volta à Los Angeles. Vários
repórteres tentam entrevistá-lo a respeito da Conferência no Comitê de Energia
Atômica, Meacham lhes diz que estavam discutindo novas formas de utilização
industrial para este tipo de energia e, em particular para um dos repórteres, afirma
que está trabalhando numa pesquisa para converter elementos comuns (chumbo)
em fontes de energia (urânio).
O avião - que segundo o cientista lhe fôra cedido pela Lookheed - decola e
durante o vão, já em Los Angeles, sofre uma pane e é suspenso por um raio
esverdeado que o ajuda a pousar em segurança. Cal pede à seu assistente, Joe
Wilson, que não comente nada com ninguém.
Ao chegar ao seu laboratório, Wilson lhe diz que pedira condensadores para
reposição e recebera peças muito incomuns e de altíssima capacidade de
sobrecarga. Com um telefonema Meachan descobre que as peças não tinham sido
mandadas pelo departamento responsável.
141
No dia seguinte recebem o manual com informações sobre outras peças e Cal
resolve pedi-las. Ao montarem o aparelho - um INTEROCITOR - recebem imagens
de um homem chamado Exeter - que se diz cientista e comenta que um grupo
formado pelos cientistas mais importantes do mundo deverá realizar novas
pesquisas. Diz também, que um avião virá buscar Cal dentro de dois dias, caso ele
queira integrar-se ao grupo, ao que este responde que
“meus colegas não saem de máquinas são de carne e osso”
O cientista decide ir. Durante o vão adormece e acorda ao pousarem na
Georgia. Uma jovem cientista, Ruth Adams, aparece para buscá-lo.
Ao chegarem a casa onde devem permanecer, Ruth lhe diz que Exeter lhes
proporciona excelentes condições de trabalho e que ali se encontram cientistas de
todas as partes do mundo.
Exeter os recebe e diz a Cal que o seu objetivo é o fim da guerra e que para
isso necessita de grandes experts. Diz saber o que ele está por descobrir fontes
ilimitadas de energia nuclear livre, convertendo chumbo em urânio, que este é o
mesmo trabalho desenvolvido por Ruth, e que todos juntos obterão grandes
progressos. Durante a conversa Exeter recebe um chamado de outra unidade e
pede a ambos que se retirem.
Durante o jantar Meacham percebe que há algo errado. Convida Ruth e seu
amigo Carlson para um passeio e pede à eles que lhe mostrem seu laboratório. Cal
os obriga a contar o que está acontecendo realmente naquele lugar. Os dois
cientistas dizem que Exeter deseja obter novas fontes de energia atômica e que
possui uma máquina capaz de re-arranjar as células cerebrais, anulando as áreas do
cérebro que controlam a vontade (algo similar a uma lobotomia), eles dois e um
cientista alemão haviam sido poupados sem saberem porquê.
142
Enquanto isso, Exeter e Brack que acompanham parte da conversa dos
cientistas pelo Interocitor e travam o seguinte diálogo:
BRACK - Deixe-me usar o transformador mental.
EXETER - Isso não é a única resposta.
BRACK - O conselho diz que é infalível.
EXETER - O conselho está errado. Causa dano moral às pessoas.
BRACK - Ficou sentimental.
EXETER - Estou sendo prático. Se tentar controlar o cérebro destrói sua
iniciativa. Destrói sua força para nos ajudar.
Enquanto conversam recebem um chamado de Monitor, superior de Exeter,
que avisa-o de que o tempo esgotou-se. Exeter deve levar Ruth e Cal e apagar
todas as provas de sua passagem. Exeter reluta diz que não está pronto, mas acaba
concordando em partir.
Ruth, Meacham e Carlson tentam uma fuga mal-sucedida. São atacados por
raios e Carlson morre. Apesar de conseguirem decolar em um pequeno avião que
encontram abandonado, Ruth e Cal são aprisionados pelo raio enquanto observam a
destruição total do lugar onde estavam. O avião é levado para o interior da nave de
Exeter que está partindo.
Já na nave, este tenta se desculpar pelo ocorrido.
EXETER - Lamento que nossa estada tivesse terminado de forma tão
dramática, mas não queremos o seu mal.
CAL - assim como não queriam o de Steve, Engelberg e os outros na casa?
EXETER - Eu não podia controlar.
CAL - Foi assassinato em massa.
EXETER - Não mandamos em nós.
CAL - É uma boa frase a sua.
EXETER - Aprendi isso na terra.
Exeter diz que ambos estão começando uma estranha jornada nunca antes
desenvolvida por outro terrestre.
Explica a eles que estão indo para Metaluna, planeta fora do sistema solar.
Diz que seu povo está vivendo um drama. Exeter lhes diz que seu planeta está em
143
guerra com Zahgon. Toda a tripulação é mostrada, todos se parecem fisicamente,
vestem a mesma roupa pois segundo Exeter elas são adequadas à vida em
Metaluna.
Quando se aproximam visualmente de Metaluna, Exeter lhes mostra os
ataques que sofrem de Zahgon e diz que estes ataques estão destruindo a camada
ionizada que é um campo de radiação intensa para o qual se faziam necessárias
grandes quantidades de energia. As reservas de Metaluna haviam se esgotado e por
isso ele foi à Terra, pois precisavam de urânio.
No momento do pouso vê-se uma paisagem árida, escura e esfumaçada, no
interior da qual se escondem as edificações de Metaluna.
Exeter os leva até Monitor - chefe supremo do governo de Metaluna - e este
lhe diz que vão se mudar para a Terra. Exeter ressalta que a mudança será pacífica
e Monitor diz que poderiam usar a força se assim o quisessem pois são muito
superiores. Cal coloca em duvida esta afirmação dizendo que eles não tinham
conseguido descobrir sozinhos novas fontes de energia, ao que Monitor responde
informando que os laboratórios foram destruídos e os cientistas mortos.
Monitor se irrita com a observação de Cal e diz que é próprio dos humanos
não reconheceram a superioridade dos outros. Que eles são como crianças olhando
através de uma lente de aumento e que pensam são do tamanho que vêem. Cal
retruca que:
“nosso verdadeiro tamanho é o tamanho do nosso Deus.”
Monitor se irrita ainda mais e diz a Exeter que os coloque na máquina de
mudança mental.
144
Os ataques se agravam, Ruth e Cal tentam escapar, as construções
começam a ruir, Monitor é atingido e morre. Exeter corre atrás deles e diz que quer
ajudar. Ele os leva de volta à Terra.
Ao chegarem ele diz que vai procurar uma nova Metaluna, um lugar habitado
por gente como ele.
Ao descerem da nave no pequeno avião Ruth à Cal:
“O lar ...”
Ao que ele lhe responde:
“graças a Deus ainda aqui.”
145
VAMPIROS DE ALMAS
Título Original: INVASION OF THE BODY SNATCHERS
Ano de produção: 1956
Direção: Don Siegel
Produção: Walter Wanger
Roteiro: Daniel Mainwaring
Elenco: Kevin McCarthy, Dana Winter, Larry Gates, Carolyn Jones, Ralph
Dunke.
O filme tem início com o retorno do doutor Miles à sua cidade. Ele é recebido
por sua assistente e esta lhe diz que todos em Santamira parecem estar precisando
de um médico, o consultório tem estado cheio e ninguém quis lhe dizer qual o
problema. Também não quiseram ser encaminhadas para outro médico. Quando
Miles começa a trabalhar quase todas as consultas são canceladas ele se irrita.
Um antigo amor de Miles, Beck Driscoll, recém-chegada da Europa após 5
anos fora, vai procurá-lo para pedir que ele visite sua prima Vilma pois esta se
recusa a aceitar que seu tio Iran seja mesma seu tio, segundo ela faltam-lhe
sentimentos e emoções.
Quando Beck sai, a avó do menino Jimmy Grimaldi o leva até o consultório e
diz à Miles que o garoto insiste em dizer que a sua mãe não é sua mãe.
Apesar de, no íntimo, estar desconfiado de que algo não está bem, Miles não
dá atenção ao ocorrido.
Ao levar Beck para jantar, o médico encontra um psiquiatra seu amigo, ao
qual relata os dois casos e este lhe diz que está havendo
“uma estranha neurose contagiosa, uma epidemia de histeria em massa
cuja causa seria a preocupação com o que vai pelo mundo”
146
No restaurante, Miles recebe uma chamada de urgência e leva Beck consigo.
Ao chegarem, o casal que o chamou mostra ao médico um corpo que não sabem de
quem seja, ou o que está fazendo em sua casa. O rosto está indefinido e não
existem impressões digitais, não se trata de um cadáver.
O médico pede a Jack e Teddy que mantenham o corpo sob vigilância aquela
noite, ele suspeita que haja alguma relação entre ele e o que está ocorrendo na
cidade.
Miles deixa Beck em casa. Muito cedo Teddy acorda e percebe que a “coisa”
abriu os olhos e que tem na mão esquerda o mesmo ferimento que Jack tivera na
noite anterior. Ambos vão à casa de Miles e este corre para buscar Beck, julgando
que a moça está em perigo. Ao chegar, Miles entra pelo porão onde encontra um
corpo igual ao que havia na casa de Jack, este possui o rosto de Beck. O médico
corre e retira Beck, já inconsciente, da casa.
Miles chama Dan Koffman, o psiquiatra, a ele insiste em ver os corpos, pois
não acredita na história. Os corpos desapareceram e Miles acredita na tese de
Koffman de que o primeiro era um cadáver e o segundo uma alucinação.
No dia seguinte, tanto Vilma quanto o pequeno Jimmy Grimaldi não
desconfiam mais de seus parentes, agora é a vez de Miles desconfiar deles, embora
não compreenda o que está havendo.
Miles vai jantar com os amigos e a namorada e descobre ervilhas gigantes na
estufa da casa deles e percebe que elas são duplicatas dos quatro. Conversando,
começam a compreender que as pessoas da cidade foram substituídas por cópias
perfeitas e só os que amavam tais pessoas puderam perceber a diferença.
MILES - Alguém ou alguma coisa quer uma duplicação de todo mundo.
TEDDY - Eles têm que ser destruídos, todos eles.
147
MILES - E serão. Vamos procurar em todos os prédios, em cada casa da
cidade. Homens, mulheres e crianças terão que ser examinados.
Ao compreenderem o que está acontecendo, Miles tenta entrar em contato
com o FBI, mas os alienígenas tomaram a telefônica. Teddy e Jack tentam sair da
cidade em busca de auxílio. Beck e Miles refugiam-se no consultório deles após
constatarem que todos na cidade já foram copiados. Ambos passam a noite
acordados com medo de terem suas mentes tomadas, pois segundo Beck se
adormecerem poderão acordar transformados
“em algo mau e inumano”
Enquanto olham para a rua, Miles e Beck travam o seguinte diálogo:
MILES: Em minha clínica já vi como as pessoas permitem que sua
humanidade seja drenada. Só que acontece aos poucos, ao invés de uma
vez só. Nem parece que se importam.
BECK: Só algumas pessoas, Miles.
MILES: Todos nós um pouco endurecemos o coração, criamos calos. Só
quando temos que lutar para continuar humanos é que vemos quanto isso é
preciso para nós.
No dia seguinte caminhões distribuem ervilhas gigantes para os que têm
parentes em outras cidades, o médico diz que
“Primeiro nossa cidade, depois todas as outras. É uma doença maligna que
se espalha por todo o país”.
Pensando ser Jack que retornou com ajuda, Miles abre a porta e vê que o
amigo também foi copiado. Miles e Koffman travam o seguinte diálogo:
KOFFMAN: Lá dos céus veio a solução. Sementes caídas do espaço, há
anos, se desenvolveram em uma fazenda, das sementes vieram os frutos que têm o
poder de se reproduzir de modo exatamente igual a qualquer outra forma de vida.
MILES: Então foi assim que começou? Vindos do céu?
KOFFMAN: Seus novos corpos estão crescendo ali dentro, estão copiando
vocês, célula por célula, átomo por átomo. Não há dor. De repente,
enquanto vocês dormem, eles absorvem suas mentes, suas lembranças e
vocês renascem num mundo sem problemas.
MILES: Onde todo mundo é igual.
KOFFMAN: Exatamente.
MILES: Mas que mundo? Não somos os últimos humanos que restam. Eles
irão destruí-los.
148
KOFFMAN: O amor não é necessário.
MILES: Sem emoções ?! Então não têm sentimentos? Só instinto de
sobrevivência? Não podem amar ou ser amados, não é?
KOFFMAN: Diz isso como se fosse terrível! Acredite-me não é. Você já
amou antes e não durou. Nunca dura. Amor, desejo, ambição, fé, sem isso
a vida é tão simples, acredite Miles.
Miles e Beck conseguem fugir e se dirigem para a rodovia, todas as
duplicatas saem em seu encalço. Num momento de descuido, Miles deixa Beck só
para verificar de onde vem a música que ouvem, ela adormece e sua duplicata se
completa.
Miles é obrigado a fugir só e enquanto o vemos correndo desesperadamente
em direção à rodovia, sua própria voz em “off”, enquanto narrador da fita, nos
informa de seus sentimentos:
“Eu tive medo várias vezes na vida, mas não conhecia o verdadeiro
significado do medo até que beijei Beck. Um momento de sono e a moça
que eu amei era um inimigo inumano procurando me destruir. Aquele
momento de sono foi a morte da alma de Beck, assim como foi para Jack,
Dan Koffman e todos os outros. Seus corpos abrigavam agora uma forma
alienígena de vida, que para sobreviver teria que conquistar todo ser
humano. (...) A minha única esperança era sair de Santamira para avisar os
outros o que estava acontecendo.”
Miles consegue chegar à rodovia, mas as pessoas se recusam a para
tomando-o por louco. Ele grita para a multidão:
“Escutem seus tolos, estão em perigo. Será que não vêem? Estão atrás de
vocês. Estão atrás de todos nós. Nossas mulheres, nossos filhos, todo
mundo.” E olhando fixamente para a câmara, em direção ao espectador:
“Você é o próximo!”
Miles consegue chegar a um hospital onde é ouvido por um médico e um
policial que não acreditavam em sua história, taxando-o de louco. O médico vê a
chegada de um homem muito ferido e pergunta a um enfermeiro o que houve, este
lhe responde que o homem foi retirado de uma coisa muito estranha, uma ervilha
gigante e que seu caminhão vinha de Santamira. Imediatamente o policial manda
fechar todas as saídas do lugar e entra em contato com o FBI.
149
Enquanto a movimentação aumenta sem parar, Miles chora desesperado por
tudo o que havia perdido e aliviado pelo ainda pudera salvar: a humanidade.
150
PLANETA PROIBIDO
Título Original: FORBBIDDEN PLANET
Ano de produção: 1956
Direção: Fred McLeod Wilcox
Produção: Nicholas Nayfack
Roteiro: Cyril Hume
Efeitos especiais: Arnold Gillespie, Warren Newcombe, Irving G. Reis, Joshua
Meador
Elenco: Walter Pidgeon, Anne Frances, Leslie Nielsen, Warren Stevens, Jack
Kelly, Richard Anderson, Earl Holliman
O filme se inicia com a fala do narrador justificando aquela viagem pelo
espaço.
“na década final do século XXI, homens e mulheres em foguetes espacias
aterrizaram na Lua. Por volta de 2200 d.C., eles alcançaram os outros
planetas do nosso sistema solar, quase que imediatamente, seguiu-se a
descoberta da hiper-direção, através da qual a velocidade da luz foi obtida e
mais tarde ultrapassada e então, finalmente, a humanidade começou a
conquista e colonização do espaço.”
Cortando o espaço, abre a cena o cruzador C-57-d dos Planetas Unidos.
A missão da nave é chegar à estrela Altair IV para verificar se há
sobreviventes da nave Belerofonte, que se dirigiu à ela 20 anos antes.
O comandante lembra à tripulação que o planeta - não mais estrela - se
assemelha à terra. Enquanto observam pela tela, a tripulação trava o seguinte
diálogo:
MÉDICO - Deus fez mesmo alguns mundos bonitos!
COZINHEIRO - Outro destes mundos, sem cerveja, sem mulher, sem
brilhantes. Nada!
Ao ser indagado sobre o que pode ver no planeta, o tenente-executivo
responde ao comandante que
“além de não estar percebendo nenhuma estrutura, não existem cidades,
postes, estradas, pontes, represas. Não existe absolutamente sinal de
civilização.”
151
A nave é localizada por um radar e uma voz - que se identifica como Edward
Morbius, da tripulação do Belerofonte - diz ao comandante que a nave não deve
pousar, porque ele não necessita de nenhum auxílio. Apesar da insistência de
Morbius, o comandante lhe diz que tem ordens para realizar verificações e pede-lhe
as coordenadas para o pouso ao que o filólogo retruca que não as responsabiliza
pela segurança da nave e da tripulação.
A nave pousa e a paisagem que se vê é de uma aridez impressionante. A
tripulação desce armada para verificar o local e trava-se o seguinte diálogo:
MÉDICO - Olhe só para a cor desse céu!
TENENTE-EXECUTIVO - É, mas eu ainda prefiro o azul.
MÉDICO – É! Eu não sei não, acho que um homem pode se habituar com
isso e até gostar!
Enquanto isso rastro um de poeira se dirige para a nave. Todos percebem
tratar-se de um robô, que se apresenta pelo nome de Rob e diz que havia sido
enviado por Morbius.
O comandante (Adams), o médico (Doutor Ostrow) e o tenente (Farmman)
são levados à casa de Morbius. Este lhes diz que agora é apenas um estudante
resolvido a retirar-se, mas que agora se via obrigado a encontrar-se com um
exército, convencido a lhe prestar seus serviços.
Morbius convida-os para o almoço e lhes mostra as utilidades de Rob, que lhe
facilita a vida no dia-a-dia. O filólogo diz que o robô é apenas uma ferramenta,
obediente, forte e sem sentimentos. Ao ouvir isto o Dr. Ostrow lhe pergunta
“em mãos erradas tal ferramenta não poderia ser uma arma mortal?”
Morbius torna a dizer-lhes para partirem pois, como puderam observar, ele
não necessita de nenhum auxílio. O comandante lhe diz que só partirá após avistar-
se com o restante da tripulação, ao que o filólogo retruca que não há outros
sobreviventes, foram todos mortos por uma estranha força planetária e o Belerofonte
152
foi destruído. Só ele e a esposa eram imunes àquela força, talvez porque eram os
únicos que quisessem permanecer no planeta. Ambos desejavam construir uma vida
longe da correria e das lutas da humanidade.
Morbius diz que só tinha sido incomodado por aquela força em pensamentos,
mas sabe que a criatura está próxima apenas esperando ser convocada para matar.
Altaíra, a filha de Morbius aparece ao fim do almoço e encanta a todos os
visitantes. É uma moça muito bonita e que nunca tinha visto outro humano antes.
Na segunda noite em Altair, algo invisível penetra na nave e sabota o trabalho
de construção de um equipamento de comunicação com a terra, no qual contaram
com a ajuda de Morbius. Ao descobrirem o que ocorreu, o comandante e o médico
se dirigem à casa do filólogo, desconfiado que ele seja responsável pelo fato. Ao
saber de tal desconfiança, este decide lhes contar suas descobertas.
Morbius conta a história de uma raça chamada Kreon que vivia em Altair IV.
Esta raça estava muito à frente da humanidade em termos científicos e tecnológicos
e estivera na terra de onde trouxera vários espécimes biológicos.
“Do limiar de uma realização suprema que teria coroado toda a sua história,
esta raça toda pereceu em uma só noite, dois mil séculos atrás. Mesmo
suas torres indestrutíveis de vidro e porcelana e aço indissolúvel ruíram no
solo de Altair IV.”
Segundo Morbius, eles estavam tentando viabilizar a existência de uma
sociedade sem instrumentos para viver, apenas a força do pensamento.
O velho cientista mostra ao médico e ao comandante tudo o que descobriu
sobre os Kreon. Impressionado com o que vê Adams diz o Morbius que ele precisa
voltar à terra e partilhar aqueles conhecimentos. Morbius responde que a
humanidade não estaria preparada para lidar com tudo aquilo.
153
Ao mesmo tempo em que este diálogo ocorre na casa de Morbius, a nave é
atacada e um dos tripulantes, morto.
Ao saber do ataque o filólogo afirma que outros ocorrerão. Isto não tarda a
acontecer e no segundo ataque o comandante se utiliza de todas as armas que
haviam trazido. Ainda assim, não conseguem deter “a coisa”, cujos contornos se
tornam visíveis ao tentar ultrapassar o campo de força feito pela tripulação.
O comandante se mostra estupefato com a resistência da “coisa” que não
pode ser destruída por armas atômicas. O médico levanta a hipótese de que estaria
renovando a sua estrutura molecular de microssegundo em microssegundo.
Antes de partir Adam decide buscar Morbius e Altaíra - que a princípio é
contra abandonar o pai, mas depois acaba cedendo aos apelos de comandante, por
quem está apaixonada.
Enquanto os dois conversam, Morbius se utiliza da máquina Kreon para
aumentar a sua inteligência. O choque é muito grande e muito debilitado diz ao
comandante que os Kreon chegaram muito perto da sociedade que desejavam, mas,
ao desenvolverem seus planos, esqueceram-se dos monstros do ID. A máquina
reproduziu o que havia de ruim nas mentes dos Kreon.
COMANDANTE - E assim essas feras sem mente do subconsciente,
tiveram acesso à uma máquina que nunca poderia parar. O demãnio
secreto de cada alma do planeta, todos livres imediatamente para pilhar e
roubar, e fazer vingança e matar.
A “coisa” ataca novamente e o velho filólogo se recusa a acreditar que seja
um produto de seu subconsciente. O comandante diz que aquilo é o outro “eu” de
Morbius ao que este responde que não se considera um monstro, o comandante
responde que
“todos nós somos, em parte, monstros no nosso subconsciente, por isso
temos leis e religião.”
154
Quando Morbius finalmente reconhece sua culpa, o “monstro” desaparece e
todo o sistema Kreon entra em colapso. O filólogo morre, Alta e Rob vão para a terra
com a nave.
Enquanto partem, vê-se Altair IV explodir e o comandante diz à Altaíra:
“Sim Alta, seu pai, meus companheiros, todo conhecimento dos Kreon
estocado. Alta, há um milhão de anos de agora a raça humana terá que
engatinhar aonde os Kreon estiveram, seu grande momento de triunfo e
tragédia e o nome de seu pai brilhará novamente como um pioneiro de
galáxia, isso é verdade e nos lembraremos que, afinal de contas, não somos
Deus.”
155
FILMES E ORÇAMENTOS
No ano de 1950, quando o filme Destino: Lua ia para as telas, o presidente
Truman enfrentava as críticas da população sobre o orçamento deste ano.
153
154
De um total de quase 33 milhões de dólares , 35,7% seriam destinados aos
gastos com defesa nacional representando 4,6% do Produto Interno Bruto (Gross
National Product). Isto sem contar mais 4,5 milhões para ajuda externa, cuja
finalidade era garantir a posição estratégica dos Estados Unidos no chamado
“mundo livre”.
Enquanto isso, os gastos em áreas sociais (habitação, saúde, educação,
agricultura) somados representavam 12,47% do orçamento e 1,72% do PIB.
O filme levantou todos os argumentos necessários para a defesa deste
orçamento, em consonância com o que Eisenhower afirmou:
“Uma paz durável deve ser mantida num clima de compreensão
internacional e cooperação, deve estar ao abrigo de ameaça militar e
sustentada por uma força de polícia internacional.” O Estado de São Paulo,
25/03/1950, p. 1 (Nova Iorque, 24/03, ag. AFP)
A população estava ainda impactada pelas explosões de Hiroshima e
Nagasaki e Truman já ordenava, em nome da manutenção da supremacia
americana, a fabricação da bomba-H. Destino: Lua usou os mesmos argumentos
que o presidente para justificar a necessidade da nova arma.
Truman afirmou que era preciso fabricar a bomba antes que potências
agressoras o fizessem e se utilizassem dela para colocar em prática os seus planos
de conquista do “mundo livre”. No filme o cientista e o empresário mostravam a
necessidade de chegar à lua antes que uma potência agressiva (neste caso a
153
Nos Estados Unidos o período correspondente ao ano fiscal é de julho a junho.
154
Todos os dados referentes aos anos fiscais de 1948 a 1956 encontram-se no Anexo VI.
156
URSS) o fizesse. Lá encontraram urânio, matéria-prima da bomba-A, caso a URSS
tivesse chegado primeiro, estaria diante de uma enorme reserva de matéria-prima
que lhe possibilitaria montar um arsenal atômico.
No mesmo ano em que McCarthy pronunciou o seu discurso em Wheeling,
sobre a existência de uma conspiração comunista em curso o filme faz referência à
sabotagem na primeira tentativa de mandar um foguete à lua. Esta referência à
espionagem é um “alerta” quanto a relativa facilidade com que era possível obter os
segredos atômicos nos EUA, afinal os Rosenberg acabavam de ser presos, fruto da
confissão de Klaus Fuchs em dezembro do ano anterior.
O filme ainda combate o temor que expressava a população, em relação ao
uso da energia atômica para fins militares a população, ao mostrar que a decolagem
ocorreu de forma precária e, ainda assim, não se registrou nenhum problema.
Além de tudo isso, Destino: Lua valoriza o modo de vida americano
mostrando como é bom viver num país tão livre, tão democrático e onde todos
podem optar pelo que querem A volta dos interrogatórios do HUAC no ano de 1950
mostrava que as coisas não eram bem assim.
O filme trabalha a imagem do Novo Inimigo como aquele cujo interesse é
apenas o de usar tudo o que estiver ao seu alcance para conquistar o mundo
através da força.
Na verdade, o que faz o filme é possibilitar uma leitura de que os Estados
Unidos estão em guerra permanente contra a ameaça soviética e que por isso
desenvolver e investir em armamentos é fundamental para garantir que os norte-
americanos sejam os ganhadores desta guerra, pois
“O comunismo só recua diante da força e, segundo tudo leva a crer, os
russos aguardam apenas um momento favorável para atacar” Francis
157
Matthws, Secretário da Marinha - O Estado de São Paulo, 16/03/1950, p. 1
(Brooklin, 15/03, ag. AFP)
Em 1953, quando Guerra dos Mundos em filme tenta resgatar o frisson da
transmissão radiofônica de Wells, os gastos com defesa tinham passado a ser68o/0
do orçamento dos Estados Unidos.
Representavam 13,83% do PIB, enquanto os gastos sociais passaram para
1,0%. A guerra da Coréia e o anúncio de Malenkov de que a URSS já tinha a sua
bomba-H, fizeram a felicidade do complexo militar-industrial.
Colocavam-se agora novas necessidades, a URSS já estava novamente em
pé de igualdade com os Estados Unidos Era preciso desenvolver novas armas e
Guerra dos Mundos é o retrato da situação, pois como já havia alertado Averrel
Harriman em 1951.
“Os Estados Unidos encontram-se na fase aguda de sua luta contra o
imperialismo comunista.” O Estado de São Paulo, 04/07/1951, p. 1
(Washington, 03/07, ag. AFP)
Os alienígenas do filme não podem ser destruídos por nenhuma das armas
existente, o Inimigo vindo de um lugar distante, mexe com a vida pacata e feliz da
comunidade e se faz passar por algo aparentemente inofensivo e quando menos se
espera ataca de forma violenta.
O filme é, ao mesmo tempo, uma apologia dos militares (sempre foram mal
vistos pela população norte-americana), da guerra bacteriológica e do gigantismo do
complexo militar-industrial, que se demonstra imprescindível para a manutenção da
ordem e a defesa contra o Inimigo, pois no caso de uma “ameaça” tão grave como é
a URSS para o chamado “mundo livre”, é preciso um aparato militar que garanta a
segurança da população contra qualquer ataque de surpresa.
Novas formas de combate ao Inimigo precisam ser desenvolvidas, pois o
arsenal convencional já é insuficiente para o pretenso combate contra o inimigo. Na
158
defesa da “democracia” e da “liberdade” tudo pode ser utilizado, inclusive a guerra
bacteriológica.
O Inimigo do filme, como o da vida real, é incapaz de compreender a
linguagem universal da paz - uma singela bandeira branca pois não entende outra
linguagem que não seja a das armas. Os EUA, cuja missão é preservar e defender o
“mundo livre”, estão dispostos a utilizar como já anunciara o Plano Marshall e a
Doutrina Truman, a força militar para conter os planos imperialistas da União
Soviética, para isso um orçamento com este montante destinado à defesa era
absolutamente necessário.
A supremacia na corrida armamentista era vital para garantir que o
expansionismo soviético fosse contido e o filme mostra que, quando o Inimigo está à
frente nesta corrida, usa seu poder para destruir e dominar.
O filme trabalha uma imagem do seu Inimigo alienígena que é a mesma que
as elites norte-americanas elaboraram sobre o comunismo - que insistiam em dizer
ser o sistema vigente na URSS de Stalin - a imagem de um sistema marcado pela
opressão e pela tirania. Um sistema que não pouparia esforços para cumprir seus
objetivos.
Um sistema que não sabia conviver com a democracia e que usava de
violência para chegar ao poder e dominar o mundo. Esta força da qual se utilizava o
“comunismo”, só poderia ser contida mediante um grande poderio militar daqueles
que defendiam os interesses do “mundo livre”.
Para que não haja dúvidas sobre a necessidade do complexo militar-
industrial, o filme Guerra entre Planetas faz uma propaganda explícita, quando cita
159
logo no início a Lockheed, uma das 20 grandes empresas que compunham o
complexo.
No ano de Guerra entre planetas, o orçamento destinado à defesa atingiu a
casa dos 69% do total de gastos e 13% do PIB, comparado aos parcos 6,5% do total
para a área social, o que representava 1,2% do PIB.
Todo o filme é um esforço de apontar a necessidade de investimentos cada
vez maiores em pesquisa e desenvolvimento de novas armas, todo o tempo se
trabalha a imagem que as elites fizeram do Novo Inimigo, pois a declaração de
Harriman em 1952, mantinha-se ainda atual,
“Se os Estados Unidos prosseguirem na sua política de resistência à
agressão dentro de dois anos poderemos impor nossas condições à Stalin.
O Estado de São Paulo, 01/07/1952, p. 1 (Nova Iorque, 30/06 ag. AFP)
De fato, uma excelente declaração a ser feita na véspera da entrada em vigor
do ano fiscal de 1953.
A imagem do Inimigo se manifesta no uso de todo e qualquer método que lhe
permita atingir os seus objetivos, chegando a lançar mão de lavagem cerebral com a
máquina de rearranjo de células cerebrais. Manifesta-se também, na obediência
cega às ordens superiores, mesmo que individualmente haja algum questionamento.
O Novo Inimigo se sustenta pela tirania, pela ausência total de liberdade
individual, pelo autoritarismo e por uma férrea disciplina no cumprimento de seus
objetivos de conquista do poder.
A idéia da mais absoluta igualdade entre os habitantes de Metaluna é
também, uma referência à um elemento constitutivo da imagem do Novo Inimigo.
O complexo militar-industrial coloca como elemento vital para a existência de
uma sociedade comunista (da qual invariavelmente afirmam que a URSS da era de
160
Stalin é uma amostra perfeita), a igualdade absoluta, que afirmam ser o resultado da
igualdade de classes. O fim da sociedade de classes é explorado como o início de
uma sociedade onde todos são absolutamente iguais, onde as diferenças e
divergências são impedidas de se manifestarem.
Outro elemento sempre presente na elaboração da imagem do NOVO
INIMIG0, o da intransigência absoluta. O Inimigo se considera sempre superior, já
que o seu objetivo é o da superação da sociedade do “mundo livre”.
A referência a Deus, um elemento importante na manutenção do sistema é
colocada aqui, como em outros filmes de ficção, como uma possibilidade apenas das
sociedades aonde é possível escolher livre e individualmente o que é melhor para
cada um.
Em Vampiros de Almas, logo de início já faz uma primeira referência a um dos
elementos chave da constituição do Novo Inimigo. Os “comunistas” são frios e
distantes, completamente destituídos de emoções, embora tenham uma aparência
de absoluta normalidade.
O Novo Inimigo Total é ardiloso, aos poucos, sem que se perceba, ele toma
conta das mentes e transforma as pessoas em clones.
Estas pessoas vão se infiltrando sorrateiramente em todos os setores da
sociedade. Para impedir que eles se espalhem por todos os lugares, dominando a
vida dos “povos livres”, é fundamental investigar tudo e todos, os testes de lealdade
de Truman, de McCarthy e do HUAC são os mecanismos que possibilitam detectar
os falsos americanos, os antiamericanos, que tentam usurpar a “democracia” plena
161
dos Estados Unidos. Sem se dar conta, as pessoas vão se deixando dominar por
idéias que não são as do americanismo/capitalismo.
O “comunismo” é uma conspiração mundial, na qual todos serão
conquistados e dominados caso não haja uma forma de controle eficiente e
constante. A URSS tem claros objetivos imperialista que precisam ser contidos e isto
só pode ser feito se os EUA e seus aliados estiverem sempre prontos a reagir com
rapidez aos ataques “comunistas”. Para isso só a viabilização do complexo militar-
industrial, a partir de verbas públicas, pode se a solução, pois como já declarara
Truman em 1952.
“Os Estados Unidos e seus aliados consideram-se seriamente ameaçados
pelo imperialismo russo”. O Estado de São Paulo, 14/02/1953, p. 1
(Washington, 13/02. Ag AFP)
O complexo militar-industrial trabalhou muito para construir uma imagem de
que os EUA estão destinados à defender a humanidade, o “mundo livre” contra a
tirania soviética. Esta humanidade (capitalista) ameaçada no filme e no mundo real,
como fazem crer as elites, é a única pela qual vale mesmo a pena lutar porque ela é
a que garante a “liberdade” e a “democracia”.
As elites norte-americanas exploraram, no processo de constituição do Novo
Inimigo, a teoria marxista de uma sociedade sem classes como uma sociedade de
abundância; para dizer que os comunistas prometiam resolver todos os problemas
do mundo bastava para isso, que a humanidade se submetesse à sua vontade.
Ao utilizar a URSS como exemplo do que era “de fato” o comunismo, as
elites, por razões óbvias excluíram disso o fato de existir uma enorme distância entre
o estalinismo e qualquer proposta de se chegar à uma sociedade sem classes.
162
Não obstante, isto é fruto da luta política e ideológica que o capitalismo norte-
americano tem que travar para consolidar a imagem de um Inimigo poderoso, seja a
garantia de um investimento sempre constante na indústria armamentista.
Num ano em que as promessas de campanha de Eisenhower para diminuir os
gastos militares tinham se mostrado vazias, o orçamento da defesa girou na casa
dos 41 milhões de dólares, o que representava 61,5% do total das despesas e
quase 10% do PIB.
Neste mesmo ano Planeta Proibido vem para reforçar a imagem do Novo
Inimigo Total, pois McCarthy já tinha saído de cena, mas o complexo militar-
industrial estava vivo e muito ativo.
No filme desconhecido seduz e algumas vezes pode ser apreciado, no
entanto, ele é uma subversão da ordem, dos padrões de normalidade. A
possibilidade de conviver com alguma coisa que está fora dos padrões normais
como é o caso da cor do céu - que aparece em um dos primeiros diálogos do filme é
vista como anormalidade. As elites norte-americanas sempre se referiram ao
comunismo como uma anormalidade, até mesmo uma aberração, com a qual não
seria correto acostumar-se.
A nave e seus tripulantes são uma intervenção externa e não pedida por
Morbius, assim como as intervenções americanas em territórios “ameaçados” pelo
comunismo. No entanto, ambas as intervenções, a do filme e as dos EUA, são
plenamente justificadas pelos riscos que o Inimigo representa e porque só os
Estados Unidos podem contê-lo efetivamente.
163
A fita se refere aos perigos de uma ferramenta como Rob cair em mãos
erradas da mesma forma que tantas vezes o complexo militar-industrial, se referiu à
possibilidade da URSS desenvolver armas mais potentes e mais eficazes que os
Estados Unidos. Uma possibilidade que colocaria em risco todo o “mundo livre”.
Evitar essa possibilidade, para as elites, passava por investir cada vez mais dinheiro
público em gastos com defesa.
Planeta Proibido mostra que o Inimigo é poderoso, pode envolver e ludibriar
as mentes mais brilhantes Não é possível um único momento de distração, qualquer
vacilação pode abrir a brecha para a sua penetração.
O que estes filmes apontam é que Truman tinha razão - a razão do complexo
militar-industrial - em dizer que
“Visto de qualquer ângulo, o nosso modo de vida é enormemente superior a
esse sistema de opressão que os comunistas pretendem impor à
humanidade.” Presidente Harry S. Truman. O Estado de São Paulo. São
Paulo, 21/04/1950, p. 1 (Washington, 20/ 04,ag. UP)
164
CONCLUSÃO
Este trabalho consiste num esforço de arrolar um conjunto de elementos que
possibilitem compreender o que significou aquilo que se convencionou chamar de
macarthismo.
Retirar a sua análise do isolamento em que foi colocada, visto como um
episódio de histeria promovido por um senador ferrenhamente anticomnista e com
pretensão maiores do que a sua viabilidade política.
Entendemos que o macarthismo não é isso.
Evidentemente McCarthy extrapolou tudo o que poderia ser considerado
racional em termos de luta política e ideológica. No entanto, o fenômeno do
macarthismo tem raízes e o senador foi um instrumento de viabilização de uma
política muito mais ampla do que as suas pretensões.
Compreender o significado do macarthismo em toda a sua profundidade
significa compreender que os interesses em jogo eram muito maiores do que a
candidatura de McCarthy à presidência dos Estados Unidos.
Como base de sustentação dessa desenfreada caça às bruxas estavam
poderosos interesses. Os interesses do que o presidente Eisenhower viria a chamar
mais tarde de complexo militar-industrial.
Um aparato estruturado em função daquilo que se revelou ser a maior fonte
de acumulação de capital da história dos Estados Unidos.
Foi o interesse pelo lucro e não a defesa da nação contra possíveis
usurpadores da democracia que movimentou as forças da repressão naqueles anos
em que qualquer um era culpado até prova em contrário.
165
Havia um motor ideológico que levava as elites norte-americanas a usarem a
URSS como peça fundamental no tabuleiro do mundo pós-guerra. Era este motor
que possibilitava fazer daquele país um INIMIGO, de proporções tais que para
contê-I o tudo se justificava.
Nada poderia ser mais importante do que viabilizar a principal estrutura da
acumulação capitalista associado à destruição política e ideológica de uma
experiência que nascera com a vocação de varrer do mundo esta acumulação.
O complexo militar-industrial só podia ter razão de existir se um Inimigo
poderoso ameaçasse a existência dos Estados Unidos e a combinação da ideologia
marxista com a contra-revolução stalinista não podia ser um Inimigo mais
verossímel.
A necessidade de dar ao Novo Inimigo uma expressão nacional e mundial,
colocou em marcha todos os instrumentos de que dispunham as elites para viabilizar
este objetivo que significava viabilizar a exitência do complexo militar-industrial.
Dentre os mecanismos de que as elites se utilizaram Hollywood despontou
como o que poderia haver de melhor. Combinado à inúmeros outros mecanismos de
propaganda política e ideológica a indústria cinematográfica se utilizou do que de
melhor havia para viabilizar os objetivos das elites: o entretenimento.
Hollywood teve uma preocupação constante em usar o que era diversão para
consolidar valores e produzir imagens para que o complexo militar-industrial tivesse
uma existência tranquila.
A ficção científica dos anos 50, longe de ser uma antecipação do futuro, foi
uma afirmação do presente. De um presente no qual o comunismo era um
alienígena que vinha para conquistar o mundo pela força. Era uma anormalidade,
166
uma aberração, vinda de algum lugar distante, onde os seres não tinham
sentimento, vontades ou paixões. Eram seres disformes cuja vida era guiada por
uma força suprema maligna.
A relação entre os filmes e os orçamentos nos mostra que Hollywood fez mais
do que passar valores. A indústria não foi um instrumwento do complexo militar-
industrial. Não foi porque não poderia sê-Io, pois era em realidade, co-partícipe
deste complexo. Fazia parte do imenso aparato que as elites norte-americanas
desenvolveram para a sua sustentação. Fazia parte não porque o cinema estava
sendo instrumentalizado pelos interesses deste complexo, mas sim porque a
indústria era parte (e também autora) de um projeto global de sociedade: a
sociedade capitalista.
167
ANEXOS
168
ANEXO I
O CALENDÁRIO DA GUERRA FRIA
1945
ABRIL
12 - Morte de Roosevelt
27 - Começa a Conferência de São Francisco para a criação da ONU
MAIO
11 - Truman suspende a ajuda à União Soviética(Lend-Lease)
12 - Telegrama de Churchill a Truman, falando da “cortina de ferro”.
JUNHO
Começa o processo contra os líderes do Partido comunista, destinado a enquadrá-los na Lei Smith.
O PCUSA se dissolve e é formada a Political Communist Association.
JULHO
16 - Os EUA realizam a primeira explosão atômica da história
17 - Começa a Conferência de Potsdam
AGOSTO
6 - Explode em Hiroshima a bomba de urânio 235
8 - URSS declara guerra ao Japão
9 - Explode sobre Nagasaki a bomba de plutônio
SETEMBRO
26 - Têm início as audiências do HUAC
1946
FEVEREIRO
169
George Kennan envia ao Departamento de Estado uma mensagam de oito mil palavras
argumentando sobre a necessidade de uma política de contenção da URSS.
Edgar Hoover envia ao presidente Truman um memorando sobre os depoimentos de Elizabeth
Bentley e Whittaker Chambers.
MARÇO
5 - Discurso de Churchill em Fúlton.
JUNHO
16 - EUA expõe na ONU o Plano Baruch.
1947
FEVEREIRO
A mensagem enviada por Kennan um ano antes deu origem ao documento “The sources of the soviet
conduct”.
MARÇO
12 - Anunciada a Doutrina Truman
JUNHO
5 - Lançamento do Plano Marshall
11 - A URSS apresenta o seu plano de controle da energia atômica
JULHO
2 - A URSS rejeita o Plano Marshall
OUTUBRO
Nos dias 20 a 24 e 27 a 30, são realizadas as duas primeiras séries de audiências do HUAC.
1948
ABRIL
16 - entra em vigor o Plano Marshall
MAIO
Criação da Organização dos Estados Americanos (OEA).
170
JULHO
Os 12 dirigentes do PCUSA são indiciados com base na Lei Smith.
NOVEMBRO
Eleição de Truman
1949
JANEIRO
Tem início o julgamento dos líderes comunistas, que dura 9 meses.
ABRIL
4 - Criação da OTAN
AGOSTO
29 - Explosão da primeira bomba atômica soviética Hiss é acusado publicamente, pela televisão, por
Whittaker Chambers.
SETEMBRO
24 - Truman anuncia oficialmente a explosão da primeira bomba russa
OUTUBRO
Vitória de Mao Tsé-tung sobre Chiang Kai-shek na China.
1950
JANEIRO
2 - Truman ordena a fabricação da Bomba-H.
FEVEREIRO
12 - Joseph McCarthy faz o seu discurso em Wheeling, denunciando a infiltração de comunistas no
Departamento de Estado.
JUNHO
Condenação dos Dez de Hollywood
25 - Começa a Guerra da Coréia
27 - EUA intervém na Coréia
171
JULHO
17 - Prisão de Julius Rosenberg
AGOSTO
Prisão de Ethel Rosenberg.
1951
MARÇO
Começa o julgamento do casal Rosenberg.
Recomeçam as audiências do HUAC sobre a infiltração comunista em Hollywood.
ABRIL
O casal Rosenberg é condenado à cadeira elétrica
MAIO
12 - EUA fazem o primeiro ensaio da bomba-H
1952
NOVEMBRO
1 - Explosão da primeira bomba-H norte-americana
Posse de Eisenhower
1953
MARÇO
5 - Morre Stálin
JUNHO
19 - O casal Rosenberg é executado
JULHO
27 - Armistício da Coréia
AGOSTO
Malenkov anuncia que os EUA não têm mais o monopólio da bomba-H.
172
DEZEMBRO
8 - Anunciado o plano de “Átomos para a Paz”.
McCarthy dá início à sua disputa com o Exército, exigindo acesso aos arquivos confidenciais.
1954
JANEIRO
12 - Foster Dulles anuncia as “represálias maciças”
25 - Conferência dos “Quatro Grandes” em Berlim
MARÇO
McCarthy humilha o General Zwicker quando este depõe sobre a infiltração comunista no Exército.
O programa de TV See It Now mostra os métodos do senador McCarthy.
ABRIL
22 - Começam as audiências no Senado sobre as denúncias de McCarthy ao Exército.
AGOSTO
Aprovação do Communist Control Act
NOVEMBRO
Por 67 votos a favor e 22 contra é aprovada a censura do senador McCarthy por “conduta contrária
às tradições do Senado”.
1955
JULHO
18 - Abertura da Conferência de Genebra, na qual Eisenhower anuncia a sua proposta de “céus
abertos”.
NOVEMBRO
23 - A URSS explode a sua primeira bomba-H.
1956
NOVEMBRO
Reeleição de Eisenhower.
173
ANEXO II – OS RESULTADOS ELEITORAIS
DE
1948 E 1952
RESULTADOS ELEITORAIS DE 1948
CANDIDATO
PARTIDO
VOTOS ELEITORAIS % VOTOS POPULARES %
Truman
P. Democrata
303 57% 24.105.695 49,81%
Dewey
P.
Republicano
189 36% 21.969.170 45,39%
Thurmond 39 7% 1.169.021 2,42%
Wallace 0 1.156.103 2,39%
TOTAIS 531 100% 48.399.989 100,00%
174
RESULTADOS ELEITORAIS DE 1952
CANDIDATO
PARTIDO
VOTOS ELEITORAIS % VOTOS POPULARES %
Stevenson
P. Democrata
89 17% 27.314.987 44,68%
Eisenhower
P.
Republicano
442 83% 33.824.351 55,32%
TOTAIS 531 100% 61.139.338 100,00%
175
ANEXO III – AS EMENDAS À
CONSTITUIÇÃO
EMENDA I
O Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo
o livre exercício desta; ou restringindo a liberdade de palavra ou de imprensa; ou o
direito do povo de reunir-se pacificamente e de dirigir petições ao Governo para
reparação de seus agravos.
EMENDA V
Nenhuma pessoa será obrigada a responder por crime capital ou infamante,
salvo por denúncia ou pronúncia de um grande júri exceto em se tratando de casos
que, em tempo de guerra ou de perigo público, ocorram nas forças terrestres ou
navais, ou na milícia, quando em serviço ativo; nenhuma pessoa será, pelo mesmo
crime, submetida duas vezes a julgamento que possa causar-lhe perda da vida ou
de algum membro; nem será obrigada a depor contra si própria em processo criminal
ou ser privada da vida, liberdade ou propriedade sem processo legal regular (due
process of law); a propriedade privada não será desapropriada para uso público sem
justa indenização.
176
ANEXO IV - AS TESTEMUNHAS
AMISTOSAS
PRODUTORES
ERIC JOHNSTON (Presidente da MPAA, declarou não fornecer trabalho aos que não se
identificassem como comunistas);
JACK L. WARNER (que propôs a elaboração de uma legislação adequada contra os comunistas);
LOUIS B. MAYER
WALT DISNEY
DIRETORES
ADOLPHE MENJOU
ELIAN KAZAN;
FRANK TUTTLE
LEO McCAREY
SAM WOOD
ROTEIRISTAS
AYN RAND;
BUDD SCHULBERG
CLIFFORD ODETTS (que confessou ter pertencido ao PC)
MARTIN BERKLEY (o recordista em citar nomes, citou nada menos que 162 deles)
ATORES
EDWARD G. ROBINSON
GARY COOPER (declarou que o seu sindicato era antiamericano)
GEORGE MURPH
JOHN WAYNE
JOSÉ FERRER
177
LEE J. COBB
LELA ROGERS e sua filha GINGER ROGERS
RICHARD COLLINS (Confessou ter pertencido ao PCUSA até 47. Neste ano não foi interrogado pelo
HUAC embora fizesse parte da lista inicial de 19 nomes que deveriam prestar depoimento)
ROBERT MONTGOMERY
ROBERT TAYLOR (convocado a depor em função do filme “Canção da Rússia”)
RONALD REAGAN (informante habitual tinha o codnome de T-10, dado pelo FBI. Declarou que o
expurgo de comunistas era necessário)
STERLING HAYDEN (Foi membro do PCUSA, em 51 apresentou-se voluntariamente para citar
nomes).
178
LISTA NEGRA
PRODUTORES
ADRIAN SCOTT (também roteirista. Um dos Dez de Hollywood)
BOB ROBERTS
EDWARD CHODOROV (também diretor e roteirista)
JOHN WEBER
DIRETORES
ABRAHAN POLONSKY (também roteirista. Listado em 1948)
BERNARD VORHAUS
CYRIL ENDFIELD (também roteirista)
EDWARD DMYTRYK (Um dos Dez de Hollywood. Após cumprir parte da pena tornou-se informante
do HUAC)
HERBERT BIBERMAN (também escritor. Um dos Dez de Hollywood)
IRVING PISHEL (também produtor)
JOHN BERRY
JOSEPH LOSEY (listado em 1951)
JULES DASSIN (listado em 1951)
LEWIS MILESTONE
MICHEL GORDON
ROBERT RISKIN (também produtor e roteirista)
ROBERT ROSEN (também produtor e roteirista. Em 1947, apesar de fazer parte da lista de suspeitos
do HUAC, não foi interrogado. Em 1953 confessou ter pertencido ao partido e ter contribuido
com 40 mil dólares);
ROTEIRISTAS
ABE BURROWS
ALBERT MALTZ (Um dos Dez de Hollywood)
ALFRED LEWIS LEVITT
ALLEN BORETZ
ALVAH BESSIE (Um dos Dez de Hollywood)
ARNOLD D'USSEAU
ARTHUR STRAWN
BART LYTTON
BEN BARZMAN
BEN MEDDOW (listado em 1951)
CARL FOREMAN (listado em 1951)
CONNIE LEE BENETT
DALTON TRUMBO (Um dos Dez de Hollywood. Trumbo escreveu cerca de 30 roteiros com pseu-
dônimo, um dos quais foi premiado com um Oscar que ele não pôde buscar)
DASHIELL HAMETT (condenado a um ano de prisão em 1951, a ser cumprido em West Street, NY,
sem direito a fiança)
DONALD OGDEN STEWART
DOROTHY PARKER
EDWARD ELISCU
EDWARD HIBBS
EDWARD HUEBSCH
ELIOT ASIMOV
EMMETT LAVERY
FREDERICH I. RINALDO
GEORGE BECH
GERTRUDE PURCELL
GORDON KAHN (estava na lista do HUAC em 1947, mas não foi interrogado)
GUY ENDORE
HAROLD ASCHE
HAROLD BUCHMAN
HOWARD DIMSDALE
HOWARD KOCH (estava na lista do HUAC em 1947 mas não foi interrogado)
HUGO BUTLER
HY KRAFT
180
IAN McLELLAN HUNTER
IRWIN SHAW
JEROME CHODOROV
JOHN BRIGHT
JOHN HOWARD LAWSON (Um dos Dez de Hollywood. Foi apelidado pelo HUAC de Czar Vermelho
de Hollywood)
JOHN WEXLEY
JULIUS G. EPSTEIN
LEONARDO BERCOVICI
LEOPOLD ATLAS
LESTER COLE (Um dos Dez de Hollywood)
LESTER KOENING
LILLIAN HELLMAN (Listada em 1951, conseguiu disseminar a idéia de que jamais fôra do PC e por
isso nunca foi condenada)
LOUIS POLLACK (Em 1959 descobriu que seu nome constava da Lista porque em 1954, um
comerciante húngaro com o mesmo nome, depôs e recusou-se a responder as perguntas que
lhe foram feitas)
LOUISE ROSSEAU
MARGUERITE ROBERTS
MAURICE RAPF
MAX BENOFF
MICHAEL WILSON (listado em 1951)
MILLARD LAMPELL
MORTON GRANT
PAUL JARRICO
PHILLIP G. EPSTEIN
RICHARD WEIL
RING LADNER (Um dos Dez de Hollywood)
ROBERT L. RICHARDS
ROBERT LEES
RONALD KIBBEE
181
ROY HUGGINS
SALKA VIERTEL
SAM MORE
SAMUEL ORNITZ (Um dos Dez de Hollywood)
SHEPARD TRAUDE
SIDNEY BUCHMAN (também produtor, denunciado por Elia Kazan e Edward G. Robinson);
SOL SHOR
STANLEY ROBERTS
SYLVIA RICHARDS
WALDO SALT
WALTER BERNSTEIN
ALBERT M. OTTENHEIMER
ANGELA CLARK
ANNE REVERE;
ART SMITH;
ARTIE SHAW;
ATORES
LARRY ADLER
CANADA LEE*
CRANE WHITLEY
DAVID FRESCO
DOROTY TREE
EDWARD BROMBERG* (suicidou-se em 1951)
EDWIN MILLER MAX
ELLIOT SULLIVAN
EVERETT SLOANE
FRANCES YOUNG*
GALE SONDERGAARD
GEORGE KEANE
182
GEORGE TYNE
HOWARD DA SILVA (foi denunciado por Robert Taylor)
HOWLAND CHAMBERLAIN
IREENE WICKER*
JACK GILFORD
JEAN MUIR*
JEFF COREY
JOCELYN BRANDO
JODY GILBERT
JOHN BROWN
JOHN GARFIELD* (teve um enfarto em 1952)
JOHN RANDOLPH
JOSHUA SHELLEY
KAREN MORLEY (foi denunciada por Robert Taylor)
KIM HUNTER
LARRY PARKS
LIONEL STANDER
LLOYD GOUGH
LUDWIG DONATH
MADELEINE LEE
MADY CHRISTIANS* (teve um enfarto em 1951)
MARSHA HUNT
MARTA TOREN
MARY VIRGINIA FARMER
MORRIS CARNOVSKY
NEDRICK YOUNG* (também roteirista)
ORSON BEAN
PAUL DRAPER
PAUL McVEY
PETE SEEGER
183
PHILLIP LOEB (Suicidou-se em 1955)
SAM JAFFE
SAM WANAMAKER
SARAH CUNNINGHAM
SELENA ROYLE
STANLEY PRAGER
TONY KRABER
UTA HAGEN
VICTOR KILIAN
WILL GEER
WILL LEE
ZERO MOSTEL
Os nomes com asterisco tiveram suas mortes, de alguma forma, relacionadas
ao macarthismo ou ao desemprego decorrente de terem seus nomes na Lista Negra.
184
ANEXO V – AS PROPOSTAS
ORÇAMENTÁRIAS PARA OS ANOS DE
1948
A 1956 (MENSAGENS)
185
186
187
188
189
190
191
192
193
194
ANEXO VI – ORÇAMENTOS DOS ANOS DE
1948 A 1956 (CONSOLIDADO)
ORÇAMENTOS DOS ANOS FISCAIS DE 1948 A 1956
Em valores de 1961
195
Fonte:
U.S. Congress. Federal economic policy 1945-1965. Washington, Congressional Quaterly Service, [s/d].
196
ORÇAMENTOS DOS ANOS FISCAIS DE 1948 A 1956
(D
ETALHADO)
Em valores de 1957
197
198
199
200
ANEXO VII - AS INDÚSTRIAS
DO COMPLEXO MILITAR
-
INDUSTRIAL
American Bosh Arms
Boeing
General Eletric Corporation
General Motors
General Oynamics
Lookheed Aircraft
Martin Marietta
McOonnell Aircraft
North american Aviation
Oouglas Aircraft
Raytheon Corporation
Sperry Rand International Business Machines
- IBM Radio Corporation
of America
Union Carbide
United Aircraft
Western Eletric
201
FILMOGRAFIA
Uma filmografia básica para compreender o período, sem pretensão de
apontar todos os filmes que se prestam a esse fim e levando em consideração a
acessibilidade dos títulos, é a seguinte:
Três filmes recentes dão uma visão geral acerca do que foi a
perseguição desencadeada por McCarthy e o HUAC, são eles:
Guilty by Suspicion - Culpado por Suspeita, 1991. Lançado em vídeo pela Look
Video.
The Front - Testa-de-ferro por acaso, 1976. Lançado em vídeo pela LK-
Tel/Colúmbia.
The way we were - Nosso amor de ontem, 1973. Lançado em vídeo pela LK-
Tel/Colúmbia
Filmes importantes para entender o momento:
Ninotchka, 1939
The North Star
- A Estrela do Norte, 1943 de Lewis Milestone já lançado em vídeo
no Brasil Shane - Os brutos também amam, 1952, já lançado em vídeo no
Brasil.
Song of Russia, 1944 de Gregory Ratoft - Canção da Rússia.
Days of Glory - Dias de Glória, 1944, já lançado em vídeo no Brasil.
Iwo Jima, sobre a Guerra da Coréia e já lançado em vídeo no Brasil.
Highmoon - Matar ou morrer, 1952 de Fred Zinnemann
202
Filmes de ficção:
Five - Os cinco últimos - 1951 de Arch Obler
Invaders from Mars - Invasores de Marte, o original é de 1953 e dificílimo de ser
encontrado, mas existe um remake dos anos 80 que é bastante fiel ao original
e existe em vídeo no Brasil.
Invasion USA - Invasão USA, 1952. É um filme realmente típico da paranóia
macarthista, reeditado na era Reagan quando as relações EUA-URSS
voltaram a estremecer.
It carne from outer space - Veio do Espaço, 1953 de Jack Amold.
Not of this Earth, 1956 de Roger Corman.
Red Planet Mars - O planeta vermelho, 1952 de Harry Horner.
Rochetship X-M, 1950 de Kurt Newman.
Tarantula, 1955 de Jack Amold.
The day the Earthy stood still - O dia em que a terra parou, 1951. É um dos poucos
filmes de ficção científica da época com um caráter pacifista. No entanto, ao
vê-Io é bom notar que a idéia de um planeta aonde os instintos violentos são
controlados por robôs, coloca a possibilidade de uma sociedade na qual a paz
só é possível quando as pessoas são controladas pela máquina.
Preocupação esboçada duas décadas antes por Fritz Lang em Metrópolis.
The magnetic monster - O monstro magnético - 1953 de Curt Siodmak.
The Thing - O monstro do Ártico, 1951 de Christian Nyby
Them! - o mundo em perigo, 1954 de Gordon Douglas.
When worlds collide - Choque dos Mundos, 1951 de Rudolph Maté.
203
BIBLIOGRAFIA
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205
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CANEVACCI, Massimo -Antropologia do cinema. Trad. Carlos Nelson Coutinho. 2ed.
São Paulo, Brasiliense, 1990.
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