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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JUIZ DE FORA
VALORIZANDO A VIDA
A Fisioterapia na Educação para a Saúde
KARINA CARDOSO
Juiz de Fora
2006
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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE JUIZ DE FORA
VALORIZANDO A VIDA
A Fisioterapia na Educação para a Saúde
Karina Cardoso
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação do Centro de Ensino
Superior de Juiz de Fora, como requisito parcial
à obtenção do grau de Mestre em Educação,
área de concentração: Educação na
diversidade, linha de pesquisa: Racionalidades
pedagógicas.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Queiroga
Amoroso Anastacio
Juiz de Fora
2006
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VALORIZANDO A VIDA
A Fisioterapia na Educação para a Saúde
CARDOSO, Karina. Valorizando a vida:
a fisioterapia na Educação para a Saúde.
Dissertação de Mestrado em Educação.
Área de Concentração: Educação na
Diversidade, apresentada no Centro de
Ensino Superior de Juiz de Fora, 1.
semestre de 2006. 72 p.
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Profa. Dra. Maria Queiroga Amoroso Anastacio (Orientadora)
Centro de Ensino Superior / JF
______________________________________________
Prof. Dr. Jader Janer Moreira Lopes
Centro de Ensino Superior / JF
______________________________________________
Profa. Dra. Sônia Maria Clareto
Universidade Federal de Juiz de Fora
Examinada a Dissertação:
Conceito:
Juiz de Fora, _______ de ____________________ de 2006.
4
O grande segredo é saber quando e qual
porta deve ser aberta. A vida não é
rigorosa, ela propicia erros e acertos. Os
erros podem ser transformados em
acertos quando com eles se aprende. Não
existe a segurança do acerto eterno. A
vida é generosa, a cada sala que se vive,
descobrem-se tantas outras portas. E a
vida enriquece quem se arrisca a abrir
novas portas. Ela privilegia quem
descobre seus segredos e
generosamente oferece afortunadas
portas. Mas a vida também pode ser dura
e severa. Se você não ultrapassar a porta,
terá sempre a mesma porta pela frente. É
a repetição perante a criação, é a
monotonia monocromática perante a
multiplicidade das cores, é a estagnação
da vida [...]. Para a vida, as portas não
são obstáculos, mas diferentes
passagens!
IÇAMI TIBA
5
À Raphaela Amorim de Castro, minha
companheira de todos os momentos, pela
cumplicidade, dedicação, carinho, amor e
paciência em todos os instantes. Este
trabalho não seria possível sem você!
Aos meus pais Tarcísio e Beatriz e meus
irmãos Rogerio e Rodolfo, que sempre
estiveram comigo, acreditando, dando
força e se orgulhando a cada conquista.
Bruna e Davi, meus sobrinhos queridos
que sempre me mostraram esperança em
seus sorrisos. Francisco Augusto pelo
exemplo de companheirismo.
À Família Amorim de Castro,
principalmente a Margareth e Petronio,
pais que a vida me deu de presente, por
tudo, principalmente carinho, paciência e
amor!
Às minhas pacientes, minhas mães e
amigas do Grupo Valorizando a Vida,
fonte de inspiração para a pesquisa.
6
AGRADECIMENTOS
A Deus pela iluminação em todos os dias de minha vida.
À Professora Doutora Maria Queiroga Amoroso Anastácio pela amizade,
simplicidade e serenidade, por dar sentido à minha pesquisa e mais ainda pelo
encantamento, empenho e carinho que mostrou na reorientação dessa pesquisa e
por entender a importância desse trabalho para mim.
Ao Professor Doutor Aristóteles Ladeira Rocha, pela credibilidade depositada em
mim e pela compreensão dos momentos de dificuldade.
À Professora Doutora Maria Lúcia Jannuzzi Machado pelo incentivo em todos os
momentos do curso e pelos “toques” sublimes de como fazer uma verdadeira
pesquisa.
Ao Professor Doutor Jader Janner por mostrar o sentido da pesquisa qualitativa e
me instigar a realizá-la plenamente.
À Doutora Mara rcia Assis Costa agradeço a força, muito obrigada por acreditar
em meu trabalho e incentivar sua divulgação.
À Doutora Albertina Cunha pela confiança nos momentos difíceis.
À Doutora Ana Cláudia Ribeiro Paiva pela dedicação ao PSF Guarda-mor, incentivo
e confiança sempre e, sobretudo pela serenidade demonstrada a cada conversa,
obrigada por não me deixar desistir.
À Doutora Maria Conceição Torga pela compreensão nas horas de estresse e pelo
respeito à minha individualidade.
Aos meus alunos Simone, Rodrigo, Letícia, Gleice e Marcela, pela ajuda na pesquisa
e carinho sempre.
À minha equipe de trabalho do PSF Guarda-mor: Dra. Albertina, Dra. Ana Cláudia,
Dra. Conceição, Rosana, Cida, Tatiana, Lúcia, Andréa, Fátima e Vera pelos
momentos de compreensão nas ausências e carinho em todo o período de
elaboração desse trabalho.
À Secretaria Municipal de Saúde de São João Del Rei por permitir a realização desta
conquista.
7
RESUMO
Este trabalho tem como proposta investigar de que modo a atuação de um
profissional de fisioterapia, integrante de uma equipe do Programa Saúde da
Família, pode contribuir para a Educação para a Saúde. Realizou-se uma pesquisa
de cunho qualitativo em que se procurou identificar, através do depoimento de
alguns participantes de um projeto denominado “Valorizando a Vida”, coordenado
pela fisioterapeuta, quais as contribuições percebidas por essas pessoas em suas
vidas. As análises desenvolvidas mostraram que a vivência das atividades e a
pertença ao grupo têm contribuído na Educação para a Saúde, especialmente no
que se refere a novos conceitos de saúde e transformações bio-psico-sociais.
PALAVRAS-CHAVE: Educação. Saúde. Fisioterapia. Qualidade de vida. Programa
Saúde da Família.
8
ABSTRACT
The purpose of this dissertation is to examine how the performance of one
physiotherapist, member of the “Family Health Program”, can contribute to Health
Education. A qualitative data analysis was conducted, in which it was identified,
through testimonials of the “Valuing Life Program” members, coordinated by this
author, the contributions perceived in these people’s lives. The analysis showed that
the participation in activities carried through by the group have contributed to
improving Health Education, especially concerning new Health concepts and bio-
psico-social changes.
KEY WORDS: Education. Healt. Physiotherapy. Quality of life. Family Health
Program.
9
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .......................................................................................10
INTRODUÇÃO.............................................................................................14
I A PESQUISA .............................................................................................20
1 A metodologia da pesquisa....................................................................20
2 O questionário .........................................................................................22
3 O campo de pesquisa: São João Del Rei – PSF Guarda-mor..............24
4 O projeto Valorizando a Vida..................................................................29
II FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO: VALORIZANDO A VIDA.......................32
1 Valorizando a Vida: novos conceitos de saúde....................................35
2 Valorizando a vida: transformações bio-psico-sociais........................37
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................44
APÊNDICES ................................................................................................46
10
APRESENTAÇÃO
Nasci em São João Del Rei, Minas Gerais, a única menina entre três filhos de
um casal de hábitos simples, de vida sofrida e trabalhadora.
Sempre diferente de todos e muitas vezes mal interpretada por uma
insistência em realizar os sonhos, busquei satisfazer o desejo de sempre querer
aprender mais, ir além. Assim, com a força que existia em mim associada ao apoio
encontrado em amigos e familiares insisti até ingressar no colégio tradicional de São
João Del Rei, Instituto Auxiliadora, unidade integrante da rede Salesianas, onde
completei o ensino fundamental e ensino médio.
Durante esse período tive muitos sonhos profissionais, tais como odontologia,
arquitetura, direito e comunicação, entre outras que não me recordo, mas foi no
último ano que optei por Fisioterapia, sem saber ao certo o que era e qual o objetivo
do curso. Ingressei na Unilavras, instituição ligada a UEMG (Universidade do Estado
de Minas Gerais), no curso de Bacharelado em Fisioterapia no ano de 1998, na
cidade de Lavras - MG. A primeira filha a sair de casa, morar sozinha, o grande
sonho realizado, o êxtase da adolescência não permitia pensar nas dificuldades que
encontraria.
No segundo ano de faculdade, a saudade de casa, a falta de conhecimento e
prática sobre a profissão quase me fizeram desistir do curso. Mas graças aos bons
mestres que tive, e o incentivo que recebi, resolvi dar a volta por cima e me dedicar
intensivamente ao estudo e ao término do curso.
O terceiro e o quarto anos foram extremamente importantes, pois tive meus
primeiros contatos com os pacientes, senti na pele a beleza da profissão que viria a
exercer para o resto da vida. Pude também notar uma facilidade em apresentar os
seminários e trabalhos. Auxiliar colegas na elaboração de pesquisas bibliográficas,
nas explicações das teorias e práticas fisioterapêuticas me mostrava o
encantamento da educação, o desejo de docência despertava em mim a audácia de
futuramente buscar um curso de mestrado.
Ao realizar estágio no Hospital Monte Sinai, em Juiz de Fora - MG, passei um
11
mês tendo contato com um quadro patológico de paraplegia súbita, um desafio que
a vida me proporcionou e através dele descobri minha verdadeira paixão pela
Fisioterapia, essa arte que movimenta e reabilita!
Formei-me em Reeducação Postural Global (RPG) pela Escola de Sensações
Somáticas e Reeducação Postural, em agosto de 2001, aprendendo a extrema
importância que o cuidado e a atenção ao corpo têm em nossas vidas, e
principalmente, conscientizando-me da magnitude da minha profissão, ao
simplesmente tocar as pessoas para cuidar.
Graduei-me em dezembro de 2001, e ao retornar para São João Del Rei
percebi que minha vida e minhas escolhas exigiam um horizonte mais amplo, onde
insisti em morar em Juiz de Fora. Comecei a trabalhar na área de Fisioterapia
Respiratória, mas esse não era meu destino. Por muitas vezes fui tomada por um
sentimento de frustração ao trabalhar com pessoas à beira da finitude e não
conseguir mudar essa realidade. Por outro lado, encantava-me receber o sorriso e
gratidão de meus pacientes reabilitados e aqueles que consegui conscientizar e
transformar atitudes que os levavam as efetivas mudanças em suas vidas, sempre
buscando a qualidade.
Em Juiz de Fora, conheci a liberdade, o amor, a felicidade, e também muitos
momentos de desespero, pois essa relação saúde/doença começava a transtornar
meu interior que a todo instante era sedento de transformações individuais e
coletivas ao perceber que milhares de vezes as mudanças não dependiam apenas
de mim, mas também da compreensão e aceitação das pessoas aos aprendizados.
Em 2003, um folder e um grande incentivo me fizeram ir até o CES/JF me
informar sobre o mestrado em Educação e associá-lo à minha profissão. Escrevi o
pré-projeto e assim me inscrevi para a seleção do mestrado. Minha idéia inicial era
mostrar como disciplinas importantes como ética e psicologia eram necessidade dos
últimos períodos do curso de Fisioterapia, uma vez que é neste momento que os
acadêmicos necessitam praticar essas teorias e, no entanto, por obedecer a regras
que não são muito bem explicadas, essas duas cadeiras fazem parte dos primeiros
períodos do curso, época em que a imaturidade acadêmica o entende a
fundamentação e o sentido das mesmas na atuação profissional. Fui aprovada e em
Agosto iniciei o curso, com muita satisfação, medo e coragem. As disciplinas do
curso me deram outra idéia de projeto, pois tinha uma questão dentro de mim desde
a faculdade que dizia respeito à formação prioritariamente técnica dos profissionais
12
de Fisioterapia, e que ao mesmo tempo esses eram os formadores de outros e mais
outros profissionais, ou seja, os fisioterapeutas, que não tinham nenhuma formação
pedagógica eram os professores do curso de Fisioterapia. Incomodava-me o fato de
que essa falta de estrutura pedagógica dificultava muito a aprendizagem dos
acadêmicos dessa área como todas as outras de saúde. Queria então com essa
idéia mostrar a necessidade de disciplinas voltadas para a didática e práticas de
ensino nos cursos de Fisioterapia, para que esses futuros profissionais pudessem
ser não apenas técnicos, mas profissionais completos.
Em dezembro de 2003 recebi um convite para trabalhar em minha cidade
natal no Programa Saúde da Família (PSF), mas apenas em 2004, no mês de abril,
me mudei para São João Del Rei, de volta às origens. Na Unidade Guarda-mor, em
Junho de 2004, iniciei meu trabalho como Fisioterapeuta do PSF. Sem conhecer
muita coisa sobre Saúde Pública, mas percebendo, em minhas consultas
fisioterapêuticas, muitos pacientes com dores na coluna, joelhos, ombros e
principalmente, fator que mais me instigava, sem informação sobre suas novas
possibilidades corporais a partir da doença, decidi iniciar um grupo sobre
Consciência Corporal. Esse grupo teve início em agosto daquele mesmo ano e,
através dele, pretendia que seus participantes pudessem alcançar melhor qualidade
de vida. Durante a realização deste trabalho, fui percebendo que as mudanças
provocadas a partir dessa atividade eram extremamente importantes tanto para as
famílias envolvidas nesse processo quanto para os membros da nossa equipe de
trabalho. Muitos comentários vinham ao meu encontro através da população e até
mesmo dos profissionais atuantes na equipe. Durante minha experiência nesse
grupo surgiram questionamentos em torno da forma de atuação do profissional de
Fisioterapia no PSF que, a meu ver, deveria ser baseado nos princípios de
prevenção e educação para a saúde.
Em virtude desses questionamentos instigantes era necessário contextualizar
Fisioterapia e educação dentro do PSF para compreender e, mais que isso, mostrar
como o profissional de Fisioterapia pode atuar preventivamente, usando da
educação para a saúde para promover qualidade de vida na saúde da família.
Assim, um ano após o início do grupo, com a intenção de desenvolver a
pesquisa que originou esse trabalho de dissertação, decidi aplicar um questionário
aberto para avaliar o grupo, como forma de compreender como as pessoas estavam
sentindo as atividades realizadas e avaliar a necessidade de mudanças para
13
melhorias no grupo. Desse modo estava propondo lançar o dos princípios da
Pesquisa qualitativa ao decidir por analisar as respostas encontradas que por sua
vez me surpreenderam positivamente e me mostraram a necessidade e importância
de desenvolver a pesquisa com o desejo de ir encontrando respostas para as
questões levantadas sobre o papel da Fisioterapia como canal para a melhoria da
qualidade de vida, numa atuação mais preventiva do que reabilitadora.
14
INTRODUÇÃO
Para iniciar essa pesquisa é importante realizar uma breve discussão em
torno do histórico do tema central que se aplica à educação para a saúde como
alternativa de melhora da qualidade de vida das pessoas envolvidas no Programa
Saúde da Família, especificamente do grupo Valorizando a Vida, em São João Del
Rei - MG.
As profundas crises no setor saúde ocorridas no Brasil ao longo do tempo se
relacionam diretamente com a definição do modelo de assistência à saúde que
predominou no país desde o início do culo XX marcado pelo serviço de natureza
hospitalar, focalizado prioritariamente nas ações curativas, com uma visão quase
estritamente fisiopatológica, biologicista do processo saúde-doença (SILVA JUNIOR,
1998). Os problemas de saúde são vistos de forma fragmentada, sob uma ótica
individual ou mesmo sub-individual, ou seja, identificando o indivíduo isoladamente
ou até mesmo o dividindo em partes passíveis de intervenção cada vez mais
especializada.
Os profissionais de saúde são reconhecidos pelas pessoas como capazes de
“julgar” os problemas de saúde, identificar se alguma “doença” e propor medidas
para tratamento e alteração daquilo que limita o modo de viver e, assim, restabelecer
a “saúde”. A eles atribui-se autoridade para decidir o que é normal e o que é
patológico (PEREIRA, 2003).
A prática médica foi identificada com a prática científica e os médicos
tornaram-se os detentores de um saber que pode ser verificado “cientificamente”.
Assim, esses profissionais tiveram seu poder fortalecido na sociedade, ocorrendo
uma desqualificação dos outros saberes e práticas curadoras tradicionais, como a
medicina chinesa, a homeopatia, o saber popular, entre outros, ao identificá-los
como não-científicos e, por isso, ineficazes (LUZ, 1988).
A realização da VIII Conferência Nacional de Saúde, em 1986, sistematizou
as diretrizes e o ideário do novo sistema de saúde: um sistema único, baseado nos
princípios de universalidade, integralidade, equidade, descentralização,
15
hierarquização e participação popular. Em seu relatório final, a Conferência utiliza as
definições abrangentes de saúde expressas na Carta de Ottawa, publicada na
mesma época:
a saúde não é um conceito abstrato [...] devendo ser conquistada pela população
em suas lutas cotidianas. Em seu sentido mais abrangente, a saúde é a resultante
das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente,
trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, e acesso
a serviços de saúde (BRASIL, 1986).
A partir da década de 80, iniciaram-se os programas de inserção da família no
âmbito das políticas públicas e de saúde no Brasil. Essa impulsão é percebida em
função dos interesses do Estado, da sociedade civil e de outros organismos
internacionais, pois a preocupação com o crescimento da violência e consolidação
do conceito de família de risco produziu uma pauta de discussão mais ampla dos
problemas familiares.
A sociedade civil, mais especificamente as igrejas, se antecipou em relação
ao Estado, pois estruturou e consolidou as primeiras intervenções junto à família.
Como exemplos, a Sociedade São Vicente de Paula, os cursos para noivos, o
Movimento Familiar Cristão, Pastoral da Criança. as iniciativas estatais se
apresentaram como as associações de pais e mestres (ligadas à rede de ensino) e
os centros sociais urbanos (com clube de mães e cursos de gestantes). O Serviço
Especial de Saúde Pública (SESP) foi fundado durante a Segunda Guerra Mundial,
valorizando as visitas domiciliares. na década de 90, essa valorização voltou-se
pata o Estatuto da Criança e do Adolescente (RIBEIRO, 2004).
No início da década de 80, alguns países iniciaram os primeiros passos nessa
direção de reorganização, aparecendo Canadá, Cuba, Inglaterra e outros, como
pioneiros,
mundialmente, das mudanças nos serviços primários de saúde de
reconhecida resolutividade e impacto. Das experiências mundiais e as realizadas em
vários pontos do território brasileiro é elaborada a estratégia de reorganização da
Atenção Primária ou sica, denominada de PSF (Programa Saúde da Família) e
PACS (Programa de Agentes Comunitários de Saúde). O PSF iniciou-se no Brasil
como estratégia no ano de 1994, por meio de uma parceria entre o Ministério da
Saúde (MS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A estratégia
mostra que oferecer às famílias serviços de saúde preventiva e curativa em suas
próprias comunidades resulta em melhorias importantes nas condições de saúde da
16
população. Surgiu com o propósito de alterar o modelo assistencial de saúde,
centrado na doença, no médico e no hospital, que privilegiava a parte curativa em
detrimento da preventiva. Veio ao indivíduo e à comunidade como resposta às
necessidades de uma atenção integral desenvolvida por equipe multiprofissional,
promovendo intensa participação da comunidade.
A inclusão da família como foco de atenção básica de saúde pode ser
ressaltada como um dos avanços, como contribuição do PSF para modificar o
modelo biomédico de cuidado em saúde, ultrapassando o cuidado individualizado,
focado na doença; priorizando aquele modelo que contextualiza a saúde, produzida
num espaço físico, social, relacional, resgatando suas múltiplas dimensões.
Proposto como uma estratégia para suprir as necessidades do processo de
reorganização da rede de atenção básica ou primária, o PSF, por essa
potencialidade seria também uma estratégia de reorganização de todo o sistema.
Dentre os aspectos relevantes da estratégia abrange-se a territorialização
com a adstrição de clientela, a criação de vínculo equipe-usuário e o aumento da
oferta de serviços de saúde e de suas áreas de abrangência.
A reforma do modelo assistencial pretendia que o acesso aos serviços de
saúde deixasse de ser centrado na existência de doença, de um diagnóstico de
lesão orgânica, do atendimento hospitalar, da demanda espontânea aos serviços,
para usar mais racionalmente os cuidados em unidades básicas e na rede
ambulatorial. Tratava-se, pois, da substituição de uma prática de alto custo,
simplista, limitada e sem continuidade de cuidados, por uma visão racionalizada do
trabalho, amparada por uma melhor capacidade de resolver problemas e que busca
antecipar-se à doença, tanto pela educação quanto pela promoção de saúde,
tornando-a, portanto, mais econômica e efetiva.
A proposta de organização das práticas de saúde centradas na família e na
comunidade pressupõe a restituição da biografia aos indivíduos, valorizando seus
vínculos culturais e sociais, num movimento dialético que, enquanto os reafirma
como sujeitos do processo saúde-doença, valoriza seus vínculos como membros de
grupos que vão da família à sociedade. Além disso, os próprios profissionais de
saúde devem situar-se numa posição diferente: o mais um conjunto de
individualidades encerradas em seu próprio saber e, segundo este, hierarquizadas;
mas uma equipe interdisciplinar solidária e disposta ao intercâmbio de conteúdos e
tarefas (BRASIL, 1997).
17
A atenção básica do PSF (BRASIL, 1997) redireciona o modelo de atenção.
Essa organização é baseada nos princípios do SUS, que são:
- Universalidade: todos os brasileiros têm direito à saúde;
- Integralidade: a assistência à saúde deve abranger ações de promoção,
prevenção, cura e reabilitação;
- Descentralização: as decisões devem estar o mais próximo possível da população;
- Hierarquização: a organização dos serviços de saúde deve ser feita em níveis de
complexidade;
- Regionalização: os serviços de saúde devem estar organizados dentro de uma
área definida;
- Controle social: a população deve participar do planejamento e das decisões dos
serviços de saúde.
O PSF é um modelo de assistência à saúde que desenvolve ações de
prevenção, de promoção e cura. A atenção está centrada na saúde e não na
doença, onde o indivíduo é tratado como sujeito integrado à família, ao domicilio, à
comunidade. Busca-se, assim, um vínculo entre as famílias e os profissionais da
equipe.
Cada equipe do Programa de Saúde da Família poderá ser responsável pela
cobertura de área geográfica onde habitem de 2.400 a 4.500 pessoas. As equipes
mínimas são compostas por um médico, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem
e quatro a cinco Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
Outros profissionais de Saúde, tais como psicólogos, dentistas,
fisioterapeutas, assistentes sociais, dentre outros poderão ser incorporados à equipe
básica.
São atribuições da equipe da saúde da família:
- Conhecer a realidade das famílias pelas quais são responsáveis;
- Identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco às quais a
população está exposta;
- Programar as atividades e reestruturar o processo de trabalho;
- Executar, de acordo com a qualificação de cada profissional, os procedimentos de
vigilância à saúde e vigilância epidemiológica, nos diversos ciclos da vida;
- Valorizar a relação com o paciente e com a família para criação de vínculo de
confiança;
- Resolver a maior parte dos problemas de saúde detectados, e quando isso não for
18
possível, garantir continuidade do tratamento através de referência;
- Prestar assistência integral;
- Desenvolver processo educativo através de grupos voltados à recuperação da
auto-estima, troca de experiências, apoio mútuo e melhoria do auto-cuidado;
- Promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais
existentes na comunidade para enfrentamento conjunto dos problemas;
- Discutir a formação permanente, junto à equipe e à comunidade, enfatizando os
direitos à saúde com bases legais que os legitimam;
- Incentivar a formação e/ou participação ativa nos Conselhos Locais de Saúde e no
Conselho Municipal de Saúde.
Para receber as famílias nas Unidades de Saúde, os profissionais atuantes
deverão conhecer o lugar onde moram e vivem, isso porque o modo de viver das
pessoas tem uma relação direta com a maneira com que adoecem.
Na organização dos serviços básicos de saúde foi incorporada a saída dos
profissionais de dentro das Unidades de Saúde, para que os mesmos conhecessem
a realidade epidemiológica, sanitária e social da população. A saúde não pode ser
feita apenas com ações terapêutico-medicamentosas. Esses profissionais precisam
conhecer o modo de vida dos cidadãos antes de medicá-los e buscar outras formas
de resolver os problemas de saúde.
O PSF é, portanto, colocado objetivamente pelo MS como uma proposta de
reforma do modelo assistencial, de caráter substitutivo, baseada em uma rie de
princípios e estratégias bem enunciadas nos documentos ministeriais publicados a
partir de 1994 (SOUZA, 1999, p. 4). Transforma-se progressivamente, de uma tímida
proposta alternativa, na estratégia hegemônica do MS para a atenção básica no país
(SERRA, 2000, p. 3).
Entre os principais desafios enfrentados pela equipes de PSF está a busca do
equilíbrio entre as pressões da demanda espontânea e da produção de
procedimentos, e das necessidades impostas pelo princípio da responsabilização.
A experiência do quotidiano do Programa e o conhecimento das grandes
dificuldades e demandas de um trabalho prioritariamente dirigido para comunidades
empobrecidas - com todas as suas típicas mazelas (entre elas, os índices de
violência muito altos, quando em áreas urbanas) - confrontado com algumas das
recomendações do MS para o Programa, invoca inevitavelmente uma reflexão. A
relação profissional de nível superior/número de famílias (um médico e um
19
enfermeiro para 2500 a 4000 pessoas) gerando uma volumosa demanda
espontânea, a exigência de um número mínimo de procedimentos curativos para
atender esta população, a complexidade psico-social de inúmeros casos que se
apresentam à equipe, as dificuldades em conseguir referir pacientes aos níveis mais
complexos de atenção, e a própria dificuldade dos profissionais em lidar com um
universo de problemas para os quais não foram adequadamente treinados, são
alguns exemplos que nos permitem questionar em que medida, e de que maneira os
princípios preconizados estariam sendo efetivamente aplicados. De que maneira
estas categorias, formuladas teoricamente, nas agências oficiais, se articulam com o
mundo real, nos diversos contextos onde o programa está implantado? Não seriam
as pressões da demanda muito intensas, colocando em risco as atividades de
educação e promoção da saúde? Ou ainda, não haveria dificuldades nas questões
consideradas definidoras da essência do Programa tais como: o planejamento local,
em conseqüência de problemas na organização da equipe interdisciplinar, a
captação dos grupos de risco e a atuação comunitária numa perspectiva
intersetorial?
A Organização Panamericana de Saúde (OPAS), num documento sobre
saúde no Brasil menciona o PSF como o primeiro item do capítulo de promoção da
saúde. De fato, se concordamos que o PSF é uma tentativa de reforma do modelo
assistencial, as atividades ligadas à promoção da saúde são essenciais para a
caracterização desta proposta. Numa lógica de responsabilização pelo status de
saúde de uma determinada população, o serviço deve necessariamente ultrapassar
a atenção à demanda e as preocupações unicamente curativas do modelo
tradicional, para ir à comunidade e promover a saúde de seus usuários. A detecção
da efetiva promoção da saúde no dia a dia do trabalho poderia, portanto traduzir a
presença, além da responsabilização, de outros princípios, como o planejamento
local, o trabalho por problemas, a intersetorialidade e a interdisciplinaridade. De fato,
pode-se dizer que a detecção da promoção da saúde nas atividades do PSF seria
decisiva para podermos afirmar que o modelo em questão está ou não sendo
implementado.
A promoção da saúde, como visto na discussão anterior, é um conceito muito
amplo. É preciso, para analisá-la no contexto do PSF, utilizar procedimentos
metodológicos que permitam uma focalização sobre alguns de seus aspectos.
20
I A PESQUISA
No contexto que acabamos de expor procuramos descrever o papel e a
importância do Programa Saúde da Família para a construção de um novo conceito
de saúde, elegemos para campo de pesquisa, o PSF que começou a ser
desenvolvido na cidade de São João Del Rei, mais especificamente a Unidade
Guarda-mor. Nesse sentido, faz-se necessário contextualizar o estudo de caso
realizado, pois através da mudança de concepção de saúde pública ocorrida na
sociedade são-joanense em virtude do pioneirismo da Prefeitura Municipal, pudemos
observar a exploração da Fisioterapia como grande aliada da saúde tornando-se um
dos pilares da educação para a saúde.
1 A metodologia da pesquisa
O grupo Valorizando a Vida, do PSF Guarda-mor, localizado na cidade de
São João Del Rei, Minas Gerais, foi o contexto onde se desenvolveu a investigação
do presente estudo, o qual abordarei com mais detalhes posteriormente.
O objetivo do estudo em questão é o de descrever de que maneira a vivência
neste grupo, desenvolvido por uma fisioterapeuta, baseando-se no princípio de
educação para a saúde conseguiu influenciar a vida das pessoas envolvidas no
processo. Trabalhar com pessoas em saúde e, a partir deste trabalho, pesquisar,
considerando como sujeitos de pesquisas pessoas de faixa etária ampla, níveis
sócio-econômico-cultural diversos, objetivos e vivências diferenciadas exigem do
pesquisador uma percepção e compreensão especiais.
Ao desenvolver a pesquisa foram levados em consideração diversos fatores
do comportamento dos sujeitos da investigação, bem como o que se manifestou
acerca de suas vivências.
A abordagem escolhida foi a qualitativa, pois a investigação qualitativa nos
traz pontos distintos e um de seus pontos fortes decorre do fato de que “estuda
21
pessoas em seus ambientes naturais e não em ambientes artificiais ou
experimentais” (POPE; MAYS, 2005, p. 14).
O pesquisador do ser humano tem que ser alguém capaz de pensar que
ele não te receitas, experimento padronizador, questionários fechados, escalas
validadas, e todos os instrumentos científicos que podem ser aplicados por qualquer
leigo treinado. Te que descobrir seus próprios caminhos, testando, avançando,
recriando, ensaiando, corrigindo-se. E, por isso, deverá ter mais outras
características que vão para além da disciplina cnica: a criatividade, a capacidade
de indagar, a curiosidade com o não conhecido e a ética. Mais ainda, o pesquisador
terá que estar envolvido emocionalmente também com seu objeto de estudo. Terá
que misturar-se com ele, identificar-se, “ser ele” (TURATO, 2003, p. 192).
Os todos qualitativos são utilizados por áreas diversas como sociologia,
educação, psicologia, entre outras. Nos que estudam saúde, estes métodos têm
muito a oferecer, estando em crescente utilização na pesquisa em serviços de
saúde. Contudo, devido ao fato desses métodos terem sido tradicionalmente
empregados nas ciências sociais, podem não ser familiares aos profissionais de
saúde e aos profissionais com formação biomédica ou em ciências naturais.
Para responder à questão que originou essa pesquisa, ou seja de que modo
que a participação no grupo Valorizando a Vida pode contribuir para a qualidade de
vida dos participantes, principalmente após a aplicação dos questionários, não
poderia escolher outro método, pois a pesquisa qualitativa não procura quantificar ou
enumerar, geralmente é lida com falas ou palavras ao invés de números. É então
uma pesquisa interpretativa, pois investiga a natureza do fenômeno.
No positivismo é considerado como científico apenas o que é objetivo, o que
possa ser quantificado, o que salta aos olhos. Contrariando tal concepção a
pesquisa qualitativa vem analisar o subjetivo inserido no objetivo, ou seja, analisa o
sujeito que recebe a ação como um todo (SABÓIA, 2003).
Com a pesquisa qualitativa foi possível retratar o dinamismo da situação em
seu acontecer natural. Bogdan e Biklen (1994) ressaltam que os investigadores
qualitativos freqüentam os locais de estudo devido à preocupação com o contexto.
Entendem que as ações podem ser melhor compreendidas quando são vivenciadas
no seu ambiente habitual de ocorrência.
Os investigadores qualitativos utilizam estratégias e procedimentos que lhes
permitam levar em consideração as experiências do ponto de vista do informador. O
22
processo de investigação qualitativa -se pelo diálogo entre os investigadores e os
respectivos sujeitos.
O estudo de caso propicia uma visão detalhada e ao mesmo tempo global e
integrada de uma unidade sócio-histórica complexa de múltiplas variáveis.
O fato de estar inserida no grupo como responsável e facilitadora possibilitou-
me retratar situações claras do dia-a-dia dessas pessoas, sem prejuízo de interferir
em sua rotina e conseqüentemente na sua dinâmica natural registrando todas as
informações em um diário de campo que serviu de consulta na elaboração do
relatório.
Bogdan e Biklen (1994, p. 48) reforçam que:
na busca de conhecimento, os investigadores qualitativos não reduzem as muitas
páginas contendo narrativas e outros dados a símbolos numéricos. Tendo que
analisar os dados em toda a sua riqueza, respeitando, tanto quanto o possível, a
forma em que estes foram registrados ou transcritos.
Com o estudo de caso foi possível trabalhar as questões teóricas de forma
aberta, ou seja, não limitando interpretações e impedindo a possibilidade de novas
descobertas e relações.
A pesquisa foi direcionada com os preceitos éticos, preservando as pessoas
envolvidas bem como os dados colhidos.
2 O questionário
Com o intuito de monitorar os resultados obtidos com as atividades
executadas pelo grupo, apliquei um questionário com cinco questões abertas,
deixando espaço para que as pessoas pudessem responder livremente suas
experiências e achados.
O objetivo da aplicação desse questionário não foi, a princípio, a análise para
essa pesquisa e sim uma forma de acompanhamento do grupo. Ao abordar os
pacientes sobre a possibilidade da aplicação do mesmo, percebi um interesse
enorme em respondê-lo, principalmente quando uma das pessoas disse:
claro que escrevo tudinho Dra. Karina, como poderia deixar de atender a um
pedido seu? Faço questão de responder e mostrar pra todo mundo como isso
23
mudou a vida da gente. E olha que o foi a minha não, em casa, meu
marido disse que to até mais bonita, meu filho disse que a senhora deveria ter
inventado isso antes (SIC: M.J.S, 54 anos).
Segundo Bogdan e Biklen (1994), as entrevistas qualitativas podem variar
quanto ao grau de estruturação, ou seja, algumas são relativamente abertas,
concentrando-se em tópicos determinados ou podem ser direcionadas por questões
gerais. No caso do questionário apresentado para a avaliação do trabalho com o
grupo, as questões procuravam identificar, de algum modo, quais vinham sendo as
incidências, do ponto de vista da saúde, que a participação no projeto vinha
trazendo para aquele grupo.
Foram aplicados oitenta e quatro questionários em agosto de 2005, com um
tempo de dois dias para a entrega das respostas. Comuniquei a todos os
participantes que haveria sigilo e anonimato necessários à pesquisa.
Tive o retorno de sessenta questionários respondidos, em mãos, ou seja, eu
mesma recolhi as respostas e as guardei em envelope para posterior análise. Os
vinte e quatro questionários faltosos foram devido ao fato de serem participantes
pela primeira vez, e essas pessoas argumentaram que ainda não havia experiência
suficiente para respondê-lo.
Dentre os sessenta questionários respondidos e recebidos, selecionei aqueles
que mais me chamaram a atenção pela simplicidade das palavras e pelo que, ao
meu olhar se mostrava como significativo em relação aos demais. Foram deixados
de lado os questionários cujas respostas se mostravam muito repetidas em relação à
amostra selecionada. Foram assim escolhidos vinte questionários, e as respostas
encontram-se na discussão das categorias encontradas. As respostas na íntegra
encontram-se em anexo ao texto, destaco a importância de preservar a originalidade
das palavras escritas pelos participantes.
A análise das respostas do questionário foi realizada a partir da cnica de
análise de conteúdo, a qual consiste na leitura e interpretação de documentos,
permitindo a realização de análises que levem a descrições objetivas, auxiliando no
processo da compreensão aprofundada de seus significados.
Bogdan e Biklen (1994, p. 50) ressaltam que:
[...] O processo de análise de dados é como um funil: as coisas estão abertas de
início (ou no topo) e vão se tornando mais fechadas e específicas no extremo. O
investigador qualitativo planeja utilizar parte do estudo para perceber quais são as
24
questões mais importantes. Não presume que se sabe o suficiente para
reconhecer as questões importantes antes de efetuar a investigação.
Os momentos de análise do conteúdo das respostas foram desenvolvidos da
seguinte forma: leitura detalhada para destacar e selecionar aspectos pertinentes e
relevantes ao estudo; separação de acordo com o conteúdo temático, preocupando
em conservar tanto o sentido original como as próprias palavras dos entrevistados.
Serão relatadas e discutidas as respostas de acordo com o referencial teórico
pertinente às mesmas, que embasam as categorias encontradas. Essa discussão
constituirá um capítulo à parte.
Passo em seguida a descrever o campo de pesquisa, com intenção de expor
suas características e de que modo foi se constituindo para mim, pesquisadora.
3 O campo de pesquisa: São João Del Rei – PSF Guarda-mor
Em março de 1999, após a III Conferência Municipal de Saúde, foi nomeada
uma comissão responsável pela implantação do PSF no município de São João Del
Rei. A referida comissão reuniu valiosas informações em busca de modelos a serem
seguidos baseados em experiências vividas dentro do contexto do PSF, nos
municípios mineiros: Divinópolis, Conselheiro Lafaiete e Belo Horizonte.
A escolha das macroáreas designadas para a implantação do PSF baseou-se
em levantamento sócio-econômico realizado pela Universidade Federal de São João
Del Rei (UFSJ), que indicou as áreas que apresentavam as piores condições de
estruturas básicas, maiores índices de mortalidade infantil por desnutrição, e, juvenil
por envolvimento direto ou indireto com a criminalidade, as piores situações
topográficas e alarmantes índices de gravidez na adolescência.
Em maio 2000, pela portaria 542/GM do MS, foi autorizada a implantação de
duas equipes do PSF em São João Del Rei seguindo a ordem de macroáreas
socialmente desfavorecidas, como indicadas na pesquisa realizada pela UFSJ,
foram implantadas as equipes 0801 no bairro Tejuco e 0201 no bairro Senhor dos
Montes. Em junho de 2000, mais três equipes foram implantadas, equipes 0802 e
0803, ambas no bairro Tejuco e 0203 no bairro Senhor dos Montes. No mesmo mês
a foi encaminhado à Diretoria de Ações Descentralizadas de Saúde (DADS)
25
processo solicitando a qualificação das equipes funcionantes. Importante ressaltar
que o processo de qualificação é necessário para o recebimento de incentivo
financeiro do MS e este só qualifica equipes já instaladas e atuantes.
Em julho de 2000, pela portaria 751/GM do MS, o município foi qualificado
para receber os incentivos financeiros para cinco equipes, porém, somente as duas
primeiras equipes passaram a recebê-los.
A tramitação do processo de autorização e qualificação das três equipes,
encaminhado em junho de 2000, durou um ano, período durante o qual, as equipes
foram mantidas com recursos financeiros do município.
Por circunstâncias como esta apenas em 2003 foi implantada uma nova
equipe, a 0203 no bairro Belo Vista. A unidade que serviu de referência para esta
pesquisa foi implantada em maio de 2004, no bairro Guarda-mor, equipe 0701, com
início de suas ações apenas em junho de 2004.
Para a contratação dos profissionais de escolaridade de nível superior, ou
seja, médicos, enfermeiros, e nível médio, auxiliares de enfermagem, foram
adotados critérios cnicos, baseados na análise de currículos e entrevistas. No que
diz respeito aos ACS foram obedecidas às exigências do MS, que como via de
regra, exige que o mesmo resida pelo menos dois anos em sua microárea de
atuação. Em São João Del Rei, as Associações de Moradores se reuniram com seus
respectivos integrantes e em assembléias, registradas em atas, indicaram nomes de
quatro pessoas tidas como de confiança e com perfil para atuarem como ACS,
pessoas essas que participariam posteriormente do processo seletivo para
contratação dos ACS e que, caso aprovados, atuariam na microárea para a qual foi
indicado. O processo seletivo envolvia provas escritas de português e matemática,
de caráter eliminatório e classificatório, e entrevista de caráter eliminatório. Ficou
estabelecido como pré-requisito que os candidatos possuíssem ensino fundamental
completo.
O PSF Guarda-mor, ou equipe 0701, número dado pelo MS à unidade, abriu
suas portas em 01/06/2004 com os seguintes componentes: uma enfermeira, uma
fisioterapeuta, seis ACS, duas auxiliares de enfermagem e uma auxiliar de serviços
gerais.
No começo, a unidade era vista como a salvação e solução para os
problemas daquela comunidade, uma vez que naquele bairro não existia nenhuma
referência em saúde.
26
Conforme nos relata um paciente, morador do bairro há 20 anos:
antes, a gente tinha que descer o morro pra buscar ajuda, tinha que ir pra fila no
INPS de madrugada pra ver se conseguia uma vaga com um doutor que nem
olhava na nossa cara no dia da consulta, isso sem contar a má vontade das
pessoas pra atender nóis. Qualquer emergência a gente ia na farmácia mesmo e
quando não tinha jeito memo a gente ia pro hospital ou santa casa e deus sabe
o quanto demorava pra atender a gente (SIC: P. J. D., 66 anos).
Um mês após a inauguração, em Julho de 2004, a equipe passou a ser
constituída por: uma enfermeira, uma médica, uma fisioterapeuta, uma psicóloga,
duas auxiliares de enfermagem, uma auxiliar de serviços gerais, cinco ACS.
Foi realizada uma primeira palestra, para apresentação da equipe à
comunidade do bairro, ficando muito claro para a mesma que o conceito de saúde
das pessoas era a mera ausência de doenças, não havia referência alguma sobre
prevenção, não sabiam o sentido de auto-cuidado, não tinham informações sobre o
controle de doenças crônicas como Diabetes e Hipertensão, entre outras, como
dislipidemias (alteração nos níveis de colesterol e/ou triglicérides), tabagismo,
hipo/hipertireoidismo, sedentarismo, afecções da coluna etc.
Uma outra percepção da equipe durante os primeiros meses de trabalho foi
relacionada ao número exageradamente alto de consultas médicas, fisioterapêuticas
e psicoterapêuticas, solicitação de exames e prescrições medicamentosas.
A população trazia uma cultura: médico-exame-remédio, essa tríplice
referência fazia com que a prevenção não fosse percebida e muito menos realizada
por essas pessoas.
No que diz respeito à Fisioterapia, o número de consultas era grande e as
principais queixas dos pacientes estavam relacionadas com problemas na coluna,
desânimo, depressões e ansiedades, casos estes que eram encaminhados ao
cuidado psicoterapêutico. Mas o que mais marcou foi a ausência de informações e
principalmente péssima qualidade de vida dessas pessoas.
A implantação do PSF neste bairro trouxe um paradoxo para a equipe, visto
que o sentido do PSF é atuar na promoção e prevenção em saúde, e em
contradição, o que encontramos foi uma população adoecida, desprovida de
informação e principalmente aficionada em tratamento, cura e/ou reabilitação. Com
esse paradoxo, como atuar de forma a mudar esse comportamento? Como dissolver
essa idéia, levando em consideração as metas propostas pelo PSF? Qual o papel da
Fisioterapia nesse sentido?
27
A Fisioterapia é uma ciência aplicada, cujo objeto de estudo é o movimento
humano. Utiliza-se de conhecimentos e recursos próprios com os quais busca
promover, tratar e recuperar a saúde do paciente, considerando as condições sociais
psíquicas, físicas e mentais. Essa ciência tem hoje um papel marcante no aspecto
social, pois atua em todos os níveis de atenção à saúde: promoção, prevenção, cura
e reabilitação.
É um campo de conhecimento e intervenção em saúde e educação. Atua
na esfera social, com tecnologias orientadas para a emancipação e autonomia de
pessoas que, por razões ligadas a problemáticas específicas (físicas, sensoriais,
psicológicas, mentais e/ou sociais), apresentem, temporária ou definitivamente,
dificuldades de inserção e participação na vida social.
A sociedade estabelece meios de categorizar as pessoas e o total de
atributos considerados como comuns e naturais para os membros de cada uma das
categorias. Os sujeitos que não se encontram com as características pré-
determinadas provocam um estranhamento no grupo social que suas
características os diferenciam dos demais, e então, sofrem discriminações e tornam-
se excluídos do convívio social.
As pessoas necessitam relacionar-se. É um fenômeno essencial à sua
existência, pois s, desde que nascemos estamos em relação com os outros.
Sejam esses outros, coisas ou pessoas como nós. De tal modo isso é fundamental
que podemos dizer que esse estar em relação com os outros nos constitui.
Cada indivíduo tem conhecimento de si e do outro, mas, para o
autoconhecimento, é necessário que reconheça primeiramente o outro. Para termos
consciência de nós mesmos temos que ter consciência dos demais, porque nós
somos para nós o mesmo que os demais são para s, nos reconhecemos quando
somos outros para nós mesmos (MORIN, 2000).
Para tanto desenvolvi junto à comunidade uma atividade denominada
Consciência Corporal.
Conhecer-se nem sempre é tão simples e assemelha-se ao delicado processo
de lapidar um diamante. São necessários cuidados, sensibilidade, paciência e acima
de tudo: carinho.
Ter consciência de si mesmo significa reconhecer-se como ser humano: com
os mais elevados sentimentos, mas também com inseguranças, tristezas, alegrias,
sonhos, limites e, muitas vezes, dificuldades de saúde.
28
O PSF propõe uma prática assistencial com novas bases estruturais, as quais
substituem o modelo tradicional de assistência direcionado somente à cura de
doenças. Deste modo, prioriza ações de promoção, proteção e recuperação da
saúde de indivíduos e suas famílias de forma integral e contínua. Sendo assim, é
uma excelente estratégia para impulsionar uma boa qualidade de vida à população.
Para tanto a Fisioterapia tem atuado de forma a proporcionar inclusão social,
procurando atender os pacientes, numa visão focada na reeducação dos
movimentos do corpo, buscando incentivá-los à descoberta dos benefícios que o
movimento pode proporcionar, atentando-os para a reação do pprio corpo durante
atividades práticas do dia-a-dia, como ficar atento quanto à musculatura no momento
de sentar-se ou levantar-se de uma cadeira, a trajetória do braço ao jogar um papel
no lixo.
Com o objetivo de promover bem-estar físico, emocional e energético, o
trabalho de conscientização corporal, através de técnicas corporais específicas,
proporciona condições para esse reconhecimento de si mesmo como ser singular e
único em todo o Cosmos.
Conscientes de que o corpo necessita de atividades físicas diárias para uma
melhor qualidade de vida, através da Fisioterapia, são desenvolvidas atividades
motoras com pessoas que se encontram, freqüentemente, à margem da vida,
atuando junto aos outros profissionais (enfermeiros, médicos, psicólogos e ACS).
Em São João Del Rei, a inclusão do fisioterapeuta no PSF ocorreu por
iniciativa da Prefeitura Municipal, a partir do trabalho voluntário de fisioterapeutas
nas comunidades mais carentes nas quais já existiam unidades de PSF implantadas.
Com o intuito de transformar esse ideal curativo, e promover essa inversão de
modelo biomédico, a Fisioterapia passou a ser vista também como trabalho
preventivo e de reabilitação de pessoas até então esquecidas pela sociedade,
fazendo-se assim inclusão social e melhorando a qualidade de vida.
Com esses valores e princípios foi organizado o Projeto Valorizando a Vida
que descrevo em seguida. Os participantes da pesquisa são todos participantes
desse projeto.
29
4 O projeto Valorizando a Vida
Segundo a OMS (1986, p. 87), "qualidade de vida é a percepção do indivíduo
de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ele
vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações".
Qualidade de vida engloba a vida familiar, social, sexual e profissional de cada um. E
por permear num sentido o amplo a vida de todos, o importante é lembrar que
somos responsáveis por mantê-la em nosso dia-a-dia.
O descanso e as atividades de lazer levam a uma melhoria do desempenho,
pois, num corpo livre de tensões e vibrante, a criatividade, o bom humor e o intelecto
aguçado manifestam-se naturalmente.
Parece simples, mas trata-se de uma tarefa e tanto, trabalhosa mas
recompensadora. Estar bem física e emocionalmente, com direito à boa
alimentação, relacionamentos gratificantes, descanso, diversão e um trabalho que
nos faça aprender mais e crescer não garante apenas qualidade de vida, mas,
felicidade. Nas palavras de uma conhecida melodia do cancioneiro popular brasileiro
estão retratadas de modo simples as características de uma vida em qualidade: a
responsabilidade de cada um com seu próprio bem-estar, com a construção de si
mesmo:
sinto que seguir a vida seja simplesmente, conhecer a marcha, e ir tocando em
frente. Cada um de nós compõe a sua própria história, e cada ser em si, carrega o
dom de ser capaz,de ser feliz (SATER;TEIXEIRA, 1992).
Com essa visão é que o projeto Valorizando a Vida foi desenvolvido. Durante
as consultas fisioterapêuticas foi observado que em 90% das consultas os pacientes
apresentavam dores musculares e/ou afecções da coluna vertebral associadas à
tensão, ansiedade e depressão, destacando um perfil de velhos doentes à espera da
finitude.
Pensar uma estratégia de resolução deste problema deveria ser um processo
profundamente analisado, estudado e com urgência de execução. A solução seria
desenvolver um método através do qual essas pessoas pudessem tratar não apenas
dores musculares e/ou coluna vertebral, mas a raiz do problema, causa esta que se
instala exatamente na qualidade de vida, sedentarismo e na falta de sentido em
30
ser saudável e de prevenir-se de patologias como: afecções da coluna, tendinites,
bursites, hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, entre outras patologias.
Houve (ou ainda há) um tempo em que se entendia a atividade física como
forma de deixar o corpo belo, forte, resistente e saudável. Essa concepção é útil,
mas, não são somente essas as possibilidades que um trabalho corporal pode
oferecer.
Assim, ao tomar consciência do dado alarmante que as consultas foram
mostrando e tendo uma formação específica, como expressado, o trabalho de
Consciência Corporal foi o primeiro passo dado no sentido de elucidar as questões
estabelecidas.
No primeiro momento realizei uma palestra sobre o tema: “Consciência
Corporal e Qualidade de Vida” à população adstrita à unidade Guarda-mor, com o
intuito de introduzir o assunto e captar participantes para o grupo que foi formado na
semana seguinte à palestra.
O grupo foi iniciado em Agosto de 2004, dentro da sala de Fisioterapia da
unidade com apenas 10 participantes. Ao longo do tempo e de modo contínuo, o
trabalho tomou proporções incompatíveis com o espaço físico existente, havendo a
necessidade de expansão do projeto. O grupo foi então transferido para uma quadra
esportiva, espaço cedido pela ASAM Associação de Assistência ao Menor,
chegando a atender 107 pessoas em um dia.
As atividades eram realizadas por uma hora, três vezes por semana.
Exercícios os mais diversos eram aplicados associados a palestras informativas.
Conseguiu-se assim, associar atividade física com educação em saúde, o que pelas
observações que eram feitas pelos pacientes, os benefícios não se aplicavam
apenas à vida das pessoas que participavam ativamente do grupo, mas dos
familiares e amigos das mesmas.
A partir dessas observações que eram feitas a todo momento pela população,
deu-se início a esta pesquisa de mestrado, com o objetivo de compreender como a
educação em saúde, dentro do PSF, poderia influenciar a qualidade de vida das
pessoas.
Um trabalho de proporções o benéficas necessitava ser batizado por um
nome que revelasse a essência do trabalho. Por votação foi eleito o título
“Valorizando a Vida”. O argumento utilizado para a escolha do mesmo foi que essas
31
pessoas aprenderam a valorizar a vida depois do início do grupo, pois praticavam
atividade física, educação em saúde e obtinham qualidade de vida.
Neste sentido, ao decidir pela temática do trabalho de pesquisa em torno da
valorização da vida através do processo de Educação em Saúde, passei a perceber
o sentido da atuação do profissional de Fisioterapia no PSF, que os benefícios
eram evidentes e se manifestavam através de depoimentos espontâneos, sobre a
efetiva contribuição do grupo para a qualidade de vida de seus participantes.
No capítulo seguinte, como já anunciado, exponho as análises que desenvolvi
acerca das respostas dos 20 questionários mencionados anteriormente. O fio
condutor dessas análises, tendo como pano de fundo os aspectos teóricos do
trabalho em Fisioterapia, pode ser expresso na seguinte questão: ”Em que aspectos
a participação no Valorizando a Vida tem contribuído para a qualidade de vida de
seus participantes?”.
32
II FISIOTERAPIA E EDUCAÇÃO: VALORIZANDO A VIDA
Segundo POPE; MAYS (2005, p. 62):
perguntar aos participantes sobre suas experiências ou observá-los em reuniões e
em outros ambientes pode oferecer dados ricos para descritivos e explicativos de
práticas de trabalho e do impacto mudança.
Durante a realização dessa pesquisa, pude perceber que essas pessoas
julgavam-se saudáveis, mas não sabiam o sentido de saúde e nem o que poderiam
fazer para que suas vidas mudassem:
ó, eu sei bem cuidar da minha vida, durmo cedo, acordo cedo, tomo café e vou pra
lida, como gordura de porco que é pra dar mais sustança, o arroz com fejão não
falta, a mistura, a gente pega na horta mesmo e esse negócio de exercício, pra
que fazê? Nóis já trabáia o dia intero, agita, quando nóis chega em casa, é
lavá as parte e ta bão demais (SIC: J.B.S., 54 anos).
Esse comentário deixa transparecer através das palavras utilizadas, um
conformismo acerca da vida, ou seja, as atividades de vida diária bastam para viver,
além disso podemos perceber como se torna inviável uma abordagem que não seja
baseada em um discurso dialógico uma vez que, existe um pensamento intricado e
fixo, essa pessoa diz saber cuidar da vida e para ela, não é necessário aprender e
nem modificar nada. Assim, percebemos que essa forma de pensamento poderá
ser modificado a partir das experiências existentes associadas às novas
informações, ou seja, para que essa pessoa consiga mudar seus hábitos, por
exemplo, alimentares, é necessário que se faça uma aproximação do que é tido
como saudável à sua realidade sócio-econômica-cultural.
Vejamos um exemplo que ilustrará o que quero dizer:
eu sei que preciso esmagrecer, mais acontece que essas dieta que cês passam é
cheia de coisa cara que eu não tenho condição de comprá. A gente não ta dano
conta nem do arrôis com fejão, ainda mais pra comprar iorgute (SIC: M.G.S., 46
anos).
Nesse caso, M.G.S é portadora de Hipertensão Arterial Sistêmica e estava
dez quilos acima do peso indicado como saudável. Realizamos, então, orientações
33
baseadas em alimentação natural e alternativa, ou seja, utilizamos técnicas de
reaproveitamento de alimentos, como cascas, sementes, e alimentos que eram
encontrados em hortas não necessitando assim de recursos financeiros além do
rotineiro. Além disso, a encaminhamos para o grupo Valorizando a Vida. Como
resultado dessas orientações e de conscientização de atitudes mais saudáveis,
conseguimos com que essa paciente emagrecesse os dez quilos e ainda que a
mesma passasse a ser multiplicadora dessa atitude.
Atendi pessoas que me relatavam durante as consultas, que pensavam ter
chegado à finitude e que já haviam se acostumado com a mesmice dos dias,
relatavam uma rotina entediante: acordar, realizar atividades de casa e ao final do
dia, assistir televisão e dormir, a ponto de presenciar o seguinte relato:
ô dotora! Se a senhora não achá solução pro meu caso, precisa esquentá a
cachola não, nóis ta custumado a ficá em casa esperano a morte chegá e
enquanto ela num chega nóis vai vivendo e consultano cos dotô. (SIC: M.J.R.,62
anos).
Não raros foram os momentos em que me senti impotente e comovida ao
ouvir relatos como o descrito acima, a humildade mostrada por esta paciente me
remete à idéia de urgência de revolução no âmbito da saúde. Percebamos que aos
olhos dessa simples pessoa, saúde é algo inatingível, a vida é algo simplesmente
imutável e com prazo de validade determinado.
Muitos fisioterapeutas e demais profissionais de saúde, têm se fundamentado
na tendência positivista para o exercício de suas funções educativas e assistenciais.
Esse modelo de atenção à saúde centrado na assistência individual e curativa,
valoriza o atendimento hospitalar e não resolve os problemas de saúde. É doloroso
acrescentar que tal orientação deixa a clientela e também os profissionais
insatisfeitos com os resultados do trabalho (SABÓIA, 2003).
Essa tendência positivista fez com que as pessoas visualizassem a saúde
como algo encontrado apenas em consultórios médicos e hospitais, e, mais ainda,
algo que se deve pagar para alcançar. O corpo é uma casca revestidora do espírito
que aguarda seu desligamento. Assim como Descartes afirma “penso, logo existo”,
supondo o corpo como uma máquina submetida à alma e, portanto secundário.
Ao falarmos de movimento corporal, falamos em movimento de um ser
humano que vive, sente, experimenta, sofre e se alegra. Falamos de um ser humano
que se movimenta para realizar-se ou para realizar algo. Um ser que se insere num
34
contexto histórico-social, apreendendo-o pelos seus sentidos e transformando-se
nesse contato. Formando-se assim, uma constante interação Homem-Mundo, que
o sujeito também modifica esse mundo à medida que se expressa com sua forma de
olhar, de falar, de dançar, de jogar, de brincar, enfim, com sua forma de ser. Assim,
um novo entendimento sobre o corpo do homem que vive, se tornou imprescindível
para tentarmos compreender o ser humano e sua existência como sujeito individual
e social. Todas as experiências vivenciadas estão marcadas no corpo/história do
homem, e elas se mostram nas relações, ou melhor, nas inter-relações
estabelecidas com os outros e com o meio, revelando a totalidade do homem que
integra os sentimentos, os pensamentos e as ações. Para Gonçalves (2000, p. 99),
“não existe assim, pensamento separado da ação e dos sentimentos, nem ação sem
pensamento e sentimento”.
Ao compreender as teorias da educação libertadora de Paulo Freire
favoreceu-me executar uma proposta voltada para a prática educativa em saúde,
que extrapola a busca de transformações nos hábitos das pessoas, uma vez que se
propõe contribuir para desenvolver a consciência crítica dos indivíduos e grupos,
promovendo, desta forma, sua participação no processo de mudanças no contexto
bio-psico-social.
Nessa vertente, a ênfase recai na reflexão e no desenvolvimento da
consciência crítica. Parte-se do pressuposto de que a passagem da consciência
ingênua para a consciência crítica não ocorre automaticamente, sendo uma das
tarefas primordiais da pedagogia desenvolver a curiosidade crítica que nos protege
dos excessos de racionalidade tão comum dos dias atuais (FREIRE, 1998, p. 36).
Essa vertente possui um caráter essencialmente político e coloca-se em
oposição ao autoritarismo, valorizando a experiência vivida como fundamento da
relação pedagógica.
Dentro dessa perspectiva, o educador e o educando, mediatizados pela
realidade, apreendem e extraem o conteúdo da aprendizagem. O objetivo primordial
é fomentar o desenvolvimento da consciência crítica e aperfeiçoar a compreensão
da realidade visando à sua transformação (SABÓIA, 2003, p. 49).
Nesse sentido, as atividades do grupo Valorizando a Vida foram e ainda são
desenvolvidas embasadas nos princípios da pedagogia libertária e pedagogia crítica:
a educação é concebida como parte do processo revolucionário, isto é, os
anarquistas não imaginam que apenas através do ato educativo a Revolução
35
tornar-se-á realidade, mas vêem a educação como fundamental. Trata-se, na
concepção libertária, de romper o círculo vicioso entre a miséria, a ignorância e o
preconceito, e, de formar seres humanos autônomos, críticos, solidários e
amantes da liberdade. Os libertários questionam todas as relações de opressão,
expressão das relações de dominação que envolvem todas as esferas sociais:
família, escola, trabalho, religião etc. [...] A pedagogia crítica ressoa com a
sensibilidade do símbolo hebraico tikkun, que significa “curar”, consertar e
transformar o mundo; todo o resto é comentário”. Ela fornece a direção histórica,
cultural, política e ética para aqueles na educação que ainda ousam acreditar
(SILVA, 2004, p. 15).
Através da minha atuação, educadora e fisioterapêutica, consegui captar
alterações na vida dessas pessoas envolvidas no grupo, captando o processo
revolucionário de mudanças na qualidade de vida comprovadas pelas respostas
encontradas nos questionários, de onde emergiram duas categorias que descreverei
com detalhes ao longo desse texto.
Valorizando a Vida: novos conceitos de saúde e Valorizando a Vida:
transformações bio-psico-sociais o as categorias que encontrei através das
análises e observações feitas ao longo do período da pesquisa.
1 Valorizando a Vida: novos conceitos de saúde
As categorias foram selecionadas em sincronia com as perguntas abordadas
no questionário, e a primeira delas, dizia respeito ao conceito de saúde. Preocupei-
me em colocar a questão de forma livre e pessoal: Para você, o que é saúde?
A Organização Mundial de Saúde retrata a saúde o como a mera ausência
de doença, mas como um completo bem-estar físico, mental e social (OMS, 1986),
situação essa que seria o ideal, mas que não é a nossa realidade enquanto seres de
um mundo globalizado, esta é uma visão individual e funcionalista. Acordamos e
adormecemos com o físico cansado, com a mente ocupada com preocupações,
lamentações e o nosso social não é, por muitas vezes, nem sequer lembrado.
Poderíamos então definir saúde como uma situação de bem-estar, seja físico,
mental ou social, na qual não ocorram agravos capazes de perturbar esse estado. É
importante deixar claro que a saúde não é um estado fixo e imutável, muito pelo
contrário, o tempo passa, as coisas mudam, e na realidade, seria demagogo nos
auto-declararmos indivíduos saudáveis, o correto seria dizer que estamos saudáveis,
36
pois não podemos ter certeza do que acontecerá em nossas vidas a cada segundo.
O que fazemos é na realidade, nos aproximar ao máximo dessa situação de saúde,
e para isso trabalhamos, sonhamos e vivemos intensamente com o grande objetivo
de vivermos bem.
Através de discussões dialógicas sobre a conceituação de saúde e a partir
das mudanças de atitudes efetivadas após a participação no grupo, pude sentir
como, através da Fisioterapia e educação, o conceito de saúde partiu da mera
ausência de doença a algo muito mais complexo como nos relata uma paciente:
saúde é primeiramente estar com a mente em paz para poder transmitir esta
serenidade para o corpo e este então poder gozar de um perfeito funcionamento
dos órgãos e membros (SIC: B. S. S., 45 anos).
Nessas poucas palavras, B. S. S. expõe a compreensão que foi construindo
sobre a harmonia do funcionamento humano. Ao enfatizar que uma mente em paz
interfere no funcionamento dos órgãos e membros, mostra que sua concepção de
saúde não está ancorada no Positivismo que aceita, como Descartes, dividir o Corpo
em partes separadas que funcionam por si.
Integrando-se às contribuições de perspectivas cognitiva e social, torna-se
evidente que o ensino e aprendizagem de conceitos ultrapassam, então, a influência
da disponibilidade intelectual e emocional do aprendiz, requerendo percursos outros
onde cada conceito, antes de ser ensinado ou transmitido, deve ser pensado como
um produto de uma rede de configurações que, ao mesmo tempo, lhe tece, lhe
imprime marcas e lhe confere significados. Nesse sentido E. C. F. C. parece ir mais
além ao afirmar que:
para mim, ter saúde abrange muito mais do que apenas não ter doenças. Penso
que ter saúde significa experimentar uma sensação de plenitude e equilíbrio no
corpo, na mente e no espírito (SIC: E. C. F. C., 46 anos).
E. C. F. C. expressa sua concepção de saúde ancorada na vivência: “[...]
experimentar uma sensação de plenitude e equilíbrio...”, enfatizando a vivência
desse equilíbrio entre as diferentes instâncias do existir como parâmetro de bem-
estar.
Para Novaes (apud BORUCHOVITCH; FELIX-SOUSA; SCHALL, 1991),
saúde e doença são muito mais valores sociais, historicamente colocados, do que a
37
simples expressão da situação biológica do organismo (em geral), em um meio dado
e, portanto, devem ser pensados em termos de sua historicidade.
Assim, aos 71 anos, M.J.S, está consciente da importância de procurar
vivenciar toda uma ampla gama de atividades e interesses. Sua vida social, religiosa
etc. contribui para a construção de uma pessoa mais harmoniosa porque está
integrada consigo mesma e com os outros. Vejamos como se expressa:
saúde é querer estar bem para passar bem o dia construindo valores que nos
deixarão em harmonia com a gente mesmo e com quem convive com a gente.
(SIC: M.J.S, 71 anos).
Apesar de seus 71 anos, e possivelmente exatamente por esse motivo,
M.J.S., está consciente da necessidade da construção de valores que lhe permitam
constituir com os outros uma sociedade mais plena. Suas palavras, a meu ver, estão
em sintonia com aquilo que Miranda e Barroso (2004, p. 633) como o pressuposto
Freiriano:
o ser humano é histórico, logo está submerso em condições espaço-temporais,
isto é, o homem, estando nessa situação, quanto mais refletir de maneira crítica
sobre a sua existência, mais poderá influenciar-se e será mais livre.
Assim, portanto, o PSF através da ação educadora, promove reestruturação
de conceitos e idéias, facilitando assim a compreensão da necessidade de busca de
melhoras e mudanças. O grupo Valorizando a Vida reformulou a concepção de
saúde dessas pessoas partindo assim para mudanças em aspectos mais amplos,
tais como biológicas, psicológicas e sociais, como veremos na descrição da segunda
categoria elaborada.
2 Valorizando a Vida: transformações bio-psico-sociais
Ao construir essa categoria quero enfatizar que, apesar dos procedimentos
utilizados no trabalho com o grupo privilegiar os encaminhamentos mais simples da
Fisioterapia, tais como: afecções da coluna, doenças reumatológicas: artrose, artrite,
osteoporose, entre outras, pode-se notar mudanças no que diz respeito aos
aspectos bio-psico-sociais.
38
O depoimento de M. E. G. evidencia a consciência que foi se fazendo para ela
sobre si mesma. Talvez as dores e o desânimo estivessem incorporados á sua vida
de tal forma, que lhe pareceriam naturais. Entretanto, ao participar do grupo foi
percebendo mudanças, como afirma:
antes eu sentia dor no joelho, muito desânimo e até depressão. Hoje me sinto
bem, tenho mais disposição e as dores no corpo estão desaparecendo. Vejo muita
vantagem nas novas amizades que consegui através do exercício na Consciência
Corporal (SIC: M. E. G., 70 anos).
Esse relato traz em seu bojo a compreensão da denominação dessa
categoria, a Consciência Corporal é como um processo de metamorfose, as pessoas
saem de seus casulos para viver a liberdade.
Isso pode ser enfatizado pelo depoimento de E. B. M. que acrescenta ainda, a
motivação que foi trazida para seus dias, aumentando inclusive sua disposição:
antes de participar do grupo eu me sentia bem pior do que hoje, sentia tanta dor
que me deprimia. Hoje sinto bem, fico feliz todo dia que tem a ginástica, pois é um
dia diferente, que me levanto até mais disposta. Agora tenho algo diferente, é um
laser pra mim o dia da ginástica (SIC: E. B. M, 69 anos).
Bertherat e Bernstein (1999, p. 107) nos mostram que:
é o estado do corpo, que, a priori, determina a riqueza das experiências. O corpo
lúcido toma iniciativa, o se contenta mais com o receber, agüentar ou “engolir”:
Ao tomar consciência do corpo, damos-lhes a ocasião de comandar a vida.
Cabe a Fisioterapia compreender e explicar o corpo, buscando despertar no
educando uma consciência corporal que lhes permita perceberem-se no mundo em
que vivem e, de posse dessa consciência, interferir criticamente no processo de
construção de sua melhor qualidade de vida.
Olivier (1995, p. 87) com um olhar que passa pela psicologia e pela
fenomenologia, afirma que:
assim como o processo de individualização implica na conscientização e
integração de aspectos inconscientes da personalidade, também a consciência
corporal, enquanto consciência transcendental, implica na integração de zonas
silenciosas e conflituosas do corpo.
Para a autora, a Consciência Corporal permite o conhecimento de si mesmo,
da nossa expressão no mundo e da nossa comunicação com outros corpos.
Confirmando a fala da autora, temos o relato de M. I. M, que aos seus 49
anos relata-nos que:
39
aprendi que: os exercícios físicos é muito bom para mim, além da convivência com
outras pessoas que me deixa muito feliz. Atualmente, me sinto bem melhor,
mudou a minha rotina, estou mais calma, conheci novas pessoas e contudo isso
mais feliz (SIC: M.I.M., 49 anos).
Jesus (1992, p. 32) descreve a consciência como um processo, um
desvelamento progressivo de s mesmos através de nossas vivências diárias, pois
são elas que proporcionam nossas tomadas de consciência.
Vejamos os relatos a seguir que revelam o auto-reconhecimento e suas
conseqüências:
sinto um bem estar muito grande, para mim funcionou mais como uma terapia,
comecei a me sentir bem comigo mesma (SIC: E. M. S., 40 anos).
me sinto muito bem. Mudei o meu estilo de vida, deixando de ser uma pessoa
fexada, e ser mais comunicativa, e fazendo mais amigos, com tudo isso, me sinto
muito mais feliz, e querendo fazer muito mais (SIC: T. A. S, 54 anos).
aprendi a ser mais cuidadosa com a minha saúde, à comunicar melhor com as
pessoas. Sinto bem, mais calma. Com o contato com as pessoa do grupo me sinto
mais tranqüila e melhorou o contato dentro da minha casa com a minha família
(SIC: M. A. P., 59 anos).
Através dessas falas destacadas acima, ressalto ainda que a Consciência
Corporal vai além da realização de exercícios físicos e de autoconhecimento, supera
a consciência do corpo que deve ser considerada como a consciência dos meios
pessoais de ação, ela é resultado da experiência corporal, experiência reorganizada
permanentemente, graças à novidade que o indivíduo deve assumir.
Chama a atenção que pessoas com idades menos avançadas, também
venham se beneficiando da participação no grupo. O depoimento de A.A.M. ressalta
esse aspecto. Reconhece uma grande mudança em sua vida a partir do momento
em suas dores deram lugar à disposição e ânimo para o trabalho:
antes eu ficava em casa dormindo. e sem fazer nada e com dor por todo o corpo.
sem contar uma dor na perna e no pé - eu era desanimada. Custava fazer os
serviços domésticos da minha casa. hoje minha vida mudou muito, trabalho em
duas casas e na minha. tenho disposição para tudo ando 40 minutos até chegar
no trabalho. eu não conseguia nem andar. graças a Deus e o grupo. dou conta de
qualquer trabalho. ainda sinto dor.mais vais passar. eu agradeço a todos
principalmente a Dr. Karina (SIC: A. A. M, 37 anos).
Unir Fisioterapia arte que movimenta e reabilita e educação, me fez
perceber que a informação e conscientização provocam um movimento de
responsabilidade do viver bem, com qualidade e Valorizando a Vida! Nesse sentido
40
um aspecto muito importante dos depoimentos que se enquadra nessa categoria é a
auto-estima das pessoas. Diferentes linhas da Psicologia enfatizam a construção da
identidade do sujeito como fundamental no crescimento humano. Ainda no
depoimento de A.A.M., a questão da auto-estima no valorizar a si mesma, se
manifesta no reconhecimento de se ter que ‘estar em primeiro lugar’:
eu aprendi que devo estar em 1.º lugar e que sou importante para todos e todos
são importantes para mim – e todos são amigos (SIC: A. A. M., 37 anos).
Essa auto-estima se manifesta, ainda, no crescimento da possibilidade de se
expressar melhor:
aprendi a mim expressar um pouco melhor a pensar mais em mim e relaxar e mim
soltar um pouco mais (SIC: M. A. A., 47 anos).
Na medida de seu crescimento como pessoa, a relação com o mundo, com os
demais nesse mundo também se torna melhor e mais possível:
á nove meses passei a dar Valor a minha vida corporal e com isso até minha vida
pessoal passou a ter mais sentido. Eu aprendi que tudo na nossa vida depende do
nosso bem estar corporal e principalmente, mental (SIC: M. L. C., 46 anos).
aprendi a viver mais com as pessoas, na sociedade, trocar idéias, fazer amizade,
saber ouvir as pessoas (SIC: E. B. M., 69 anos).
Souza (1992) declara que o objetivo da Consciência Corporal é despertar a
sensação, resgatar o prazer e promover a auto-realização do indivíduo, e para isso
propõe uma mudança de valores em relação ao corpo, ao movimento humano e a
atividade física. Escreve sobre a busca do sentido do movimento e propõe um
trabalho que englobe consciência de si, reeducação postural, toque,
distensionamento, relaxamento, respeito ao ritmo individual e prazer no movimento
(SOUZA, 1992, p. 18).
A vivência do grupo confirmou essas propostas, pois, certamente, podemos
afirmar que os participantes hoje se sentem mais vivos, mais capazes, cresceram
em sua auto-estima.
41
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O PSF proporciona um encontro com o usuário, onde são mobilizados
sentimentos, emoções e identificações que facilitam a aplicação dos conhecimentos
do profissional na percepção das necessidades de atenção, na “aceitação” de
“queixas” para investigação e intervenção. Profissionais e usuários são mutuamente
afetados nesse encontro. A percepção e o entendimento dos sentimentos, dos
afetos mobilizados, estão relacionados a uma maior possibilidade de escutar, de
perceber mensagens não-verbais, de acolher o usuário, de estabelecer vínculos e,
portanto, a uma maior capacidade diagnóstica e de efetividade da intervenção
terapêutica.
A educação e a saúde são espaços de produção e aplicação de saberes
destinados ao desenvolvimento humano. uma interseção entre esses dois
campos, tanto em qualquer nível de atenção à saúde quanto na aquisição contínua
de conhecimentos pelos profissionais de saúde.
A prática educativa em saúde, neste caso, refere-se às atividades de
educação em saúde, voltadas para o desenvolvimento de capacidades individuais e
coletivas visando à melhoria da qualidade de vida e saúde.
Muitas práticas de saúde requerem práticas educativas. As ações de saúde
não implicam somente a utilização do raciocínio clínico, do diagnóstico, da
prescrição de cuidados e da avaliação terapêutica instituída. Saúde não consiste em
apenas processos de intervenção na doença, mas processos de intervenção para
que o indivíduo e a coletividade disponham de meios para a manutenção ou
recuperação do seu estado de saúde, no qual estão relacionados os fatores
orgânicos, psicológicos, sócio-econômicos e espirituais.
Considero, ainda, que se pode exercer a prática de saúde em qualquer
espaço social, visto que o campo da saúde é muito mais vasto que o da doença.
Tomando como princípio norteador a saúde integral, utilizei o referencial da
minha atuação profissional como fisioterapeuta do PSF atuando na promoção da
saúde, visando criar ambientes favoráveis à saúde, reforçar ações comunitárias,
42
desenvolver habilidades pessoais e buscar através dessa pesquisa, auxiliar a
reorientação o sistema de saúde.
Refletindo sobre o título: Valorizando a Vida: a Fisioterapia na Educação para
a Saúde, me utilizei de procedimentos ligados à Consciência Corporal, procurei um
outro modo de pensar e vivenciar a Fisioterapia.
Busquei uma Fisioterapia que integrasse o conhecimento e a exploração das
estruturas físicas da pessoa com o desenvolvimento de suas habilidades,
focalizando e privilegiando a percepção e sensação corporal, e que criasse espaço
para a vivência e discussão do comprometimento emocional do trabalho, valorizando
a sensação de prazer e desprazer, e buscando resgatar, reelaborar e assimilar tal
vivência ao nível mental pela verbalização através de dos depoimentos obtidos.
Meu objetivo neste projeto foi a construção de uma atuação fisioterapêutica
que emprestasse alguns procedimentos desta área do conhecimento, para
transformar e transcender uma prática estabelecida, devido a visualização da
possibilidade de uma Fisioterapia que contemple o ser humano, olhando para a
corporeidade do paciente, sem privilegiar apenas uma de suas dimensões,
auxiliando-o na busca, na descoberta e na construção do si mesmo.
A idéia de desenvolver esse projeto, como mencionada anteriormente, surgiu
do questionamento em torno das transformações obtidas através da vivência dos
participantes do grupo Valorizando a Vida, minha intenção, como fisioterapeuta, foi
viabilizar aos participantes a vivência de uma atividade diferente, uma forma de viver
a educação para a saúde, e que com isso desenvolvessem a consciência, através
da auto-observação e do autoconhecimento. Para isso optei pela escolha de
procedimentos ligados a Consciência Corporal, por acreditar que eles poderiam
proporcionar esse desenvolvimento, embasada na minha própria experiência
pessoal em relação a estas práticas, visualizando nestas um caminho de despertar
do ser, e não apenas uma vivência de atividades de distração.
ainda a necessidade de que sejam desenvolvidos muitos estudos a cerca
da atuação fisioterapêutica nas equipes de saúde da família de forma a promover a
saúde através da educação. Busquei retratar aqui a realidade de uma vivência para
mim profundamente marcante no que diz respeito aos resultados alcançados com a
aplicação da Consciência Corporal nesse grupo. Espero assim contribuir para a
evolução da multidisciplinariedade no âmbito saúde pública, bem como servir de
43
exemplo para que novos métodos surjam e que tenham sempre como meta a
qualidade de vida dos indivíduos buscando a saúde como direito de todos, de fato.
O trabalho de pesquisa contribuiu para a compreensão do quanto a ação da
profissional de Fisioterapia, seguindo os princípios de prevenção e promoção da
saúde tal como foi se constituindo no Programa Saúde da Família, especificamente
no Projeto Valorizando a Vida, efetivamente é um trabalho de Educação para a
Saúde e para uma vida de qualidade.
44
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46
APÊNDICE A
– Questionário aplicado ao usuário do Grupo de Consciência
Corporal
PSF - Guarda-mor
VALORIZANDO A VIDA
Nome: _________________________________Data: ___/___/____ Idade: ______
1. Para você, o que é saúde?
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
3. quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de participar
da Consciência Corporal?
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
47
APÊNDICE B
– Respostas dos usuários do Grupo de Consciência Corporal
PSF - Guarda-mor
VALORIZANDO A VIDA
Nome: B. S. S Idade: 45 anos N.º 01
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é primeiramente estar com a mente em paz para poder transmitir esta
serenidade para o corpo e este então poder gozar de um perfeito
funcionamento dos órgãos e membros.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é agradecer por tudo de bom que nos acontece e saber
enchergar o dom e a bondade de Deus até nas mínimas ações realizadas em
nosso favor, pois uma fagulha de chama pode se transformar em uma imensa
fogueira.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Participo há uns 6 meses, me sentia mal.”.
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi a valorizar a minha vida.”
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5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Sinto-me bem, espero poder continuar sempre neste grupo.”
Nome: E. C. F. C. Idade: 46 anos N.º 02
1. Para você, o que é saúde?
“Para mim, ter saúde abrange muito mais do que apenas não ter doenças.
Penso que ter saúde significa experimentar uma sensação de plenitude e
equilíbrio no corpo, na mente e no espírito.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“’Valorizar’ significa dar valor ou valores a ou aumentar o valor ou o préstimo
de.
Acredito, então, que valorizar a vida é muito mais do que a preocupaçãp com
o corpo físico e o mental. É, além disso, cuidarmos do nosso lado espiritual,
da nossa crença, seja ela qual for, é exercitar também a nossa fé. Creio que
esses são fatores importantíssimos e também respoinsáveis pela manutenção
da saúde.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Participo somente uns dois meses mais ou menos, não sei ao certo.
Antes, acho que estava buscando alguma coisa que faltava, mas que não
sabia bem o que era.”
49
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi que apesar da diversidade do ritmo de cada um podemos
compartilhar com ‘o outro’ a alegria, o espaço, a solidariedade, o
conhecimento...e manter a harmonia no grupo.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Ainda que a minha participação seja recente posso observar que sinto uma
sensação de prazer nos encontros, que o meu dia fica mais proveitoso, que
ganho mais energia, mais alegria nesses dias e que minha vida fica assim,
mais valorizada.”
Nome: M. J. S. Idade: 71 anos N.º 03
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é tudo na vida. É o equilíbrio entre o bem estar físico, mental e
emocional. Não nos esqueçamos do equilíbrio espiritual, existem pesquisas
de quem tem fé tem boa saúde.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“É querer estar bem para passar bem o dia construindo valores que nos
deixarão em harmonia com a gente mesmo e com quem vive com a gente.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há uns 6 meses. Sentia dificuldades de exercitar-me.”
50
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi que se exercitando o ser humano prolonga sua saúde, e passa a ter
mais qualidade de vida física e emocional.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Hoje em dia tenho motivação para sair da cama, seja para ir para o grupo ou
fazer caminhada ou simplesmente para ter minhas atividades rotineiras. Meu
corpo não está tão limitado como há seis meses atrás, sinto-me mais flexível.”
Nome: M. E. G. Idade: 70 anos N.º 04
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é o bem estar físico, mental e espiritual.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é saber vivê-la, respeitando os limites.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há 1 ano. Sentia dor no joelho, muito desânimo, e até depressão.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi a dar mais valor a minha pessoa e interessar mais pela minha vida.
Também vejo muitas vantagens na participação, convivendo com o grupo.”
51
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Hoje me sinto bem, tenho mais disposição e as dores no corpo estão
desaparecendo. Vejo muita vantagem nas novas amizades que consegui
através do exercício da Consciência Corporal.”
Nome: E. B. M. Idade: 69 anos N.º 05
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é estar de bem com a vida e ser feliz, sentir bem e não sentir dor.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é comer bem, poder andar, passear visitar amigos etc.....”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há 8 meses. Antes de participar do grupo eu me sentia bem pior do que hoje,
sentia tanta dor que me deprimia.
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi a viver mais com as pessoas, na sociedade, trocar idéias, fazer
amizade, saber ouvir as pessoas.”
52
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Sinto bem, fico feliz com os dias da semana que têm a ginástica, pois é um
dia diferente que me levanto até mais disposta. Agora tenho algo diferente é
um laser pra mim o dia da ginástica.”
Nome: M. I. M. Idade: 49 anos N.º 06
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é estar bem de corpo e mente.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é cuidar bem dela procurando harmonizar saúde, paz, lazer,
felicidade etc..”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Praticamente desde sua fundação. Antes eu me sentia triste desanimada,
não fazia nenhum tipo de exercício físico.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi que: os exercícios físicos é muito bom para mim, além da
convivência com outras pessoas que me deixa muito feliz.”
53
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Atualmente, me sinto bem melhor, mudou a minha rotina, estou mais calma,
conheci novas pessoas e contudo isso mais feliz.”
Nome: T. A. S. Idade: 54 anos N.º 07
1. Para você, o que é saúde?
“Ter saúde, é a coisa mais importante que temos.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar á vida, é cuidarmos da nossa saúde e também do nosso corpo, e
da nossa mente.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Tem mais ou menos uns 8 a 9 meses. Eu me sentia incapaz de fazer o que
faço hoje, tenho mais disposição, e sou mais confiante em mim mesma.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Que podemos ter mais amizades, fazer mais amigos, e fazendo isto,
sentirmos mais felizes.”
54
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Me sinto muito bem. Mudei o meu estilo de vida, deixando de ser uma
pessoa fexada, e ser mais comunicativa, e fazendo mais amigos, com tudo
isto, me sinto muito mais feliz, e querendo fazer muito mais.”
Nome: M. A. P. Idade: 59 anos N.º 08
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é a base da nossa vida é sentir bem com o nosso corpo e com a
nossa mente.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é estar útil as coisas e pessoas. Não desperdiçar qualquer
momento bom e agradável fazer de tudo para aproveitar cada minuto da
vida.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há 1 ano.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi ser mais cuidadosa com a minha saúde, à comunicar melhor com as
pessoas.”
55
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Sinto bem, mais calma. Com o contato com as pessoa do grupo me sinto
mais tranqüila e melhorou o contato dentro da minha casa com minha família.”
Nome: A. A. M. Idade: 37 anos N.º 09
1. Para você, o que é saúde?
“E acordar todos os dias sem sentir nada poder andar trabalhar, ouvir, falar,
comer.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Colocar a vida em 1.º lugar.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Eu participo a 4 meses. Eu ficava em casa dormindo. e sem fazer nada e
com dor por todo o corpo. sem contar a dor na perna e no eu era
desanimada. Custava a fazer os serviços domésticos da minha casa.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Eu aprendi que eu devo estar em 1.º lugar e que sou importante para todos e
todos são importantes pra mim – e todos são amigos. Sinto muito bem.”
56
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Minha vida mudou muito. hoje eu trabalho em 2 casas e na minha. tenho
disposição pra tudo ando 40 minutos até chegar no trabalho. eu não
conseguia nem andar. graças a deus e o grupo. dou conta de qualquer
trabalho. ainda sinto dor.mais vai passar. eu agradeço a todos principalmente
a Dr.Karina.”
Nome: M. A. A Idade: 47 anos N.º 10
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde para mim é valorizar a vida.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar á vida para mim, é cuidar do corpo e da mente..”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“10 mês deprimida, muito fechada, sem auto estima e com muita
ansiedade.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi a mim expressar um pouco melhor a pensar mais em mim e relaxar e
mim soltar um pouco mais.”
57
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Bem melhor mudou que eu estou conseguindo aos poucos conquistar o
meu espaço dentro da minha família e controlar a minha ansiedade que me
encomoda muito.”
Nome: M. L. C. Idade: 46 anos N.º 11
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde=Valorizar a Vida em todos os sentido (bem estar físico e psicológico).”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“É saber aproveitar tudo de bom que a vida nos oferece, como, uma boa
alimentação, caminhadas, dormir bem etc....”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Á nove meses passei a dar Valor a minha vida corporal e com isso até minha
vida pessoal passou a ter mais sentido.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Eu aprendi que tudo na nossa vida depende do nosso bem estar corporal e
principalmente, mental.”
58
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Muito bem, agora sim tenho mais disposição para fazer tudo que tenho
vontade.”
Nome: E. M. S Idade: 40 anos N.º 12
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é sentir-se bem física e psicológica.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“É se cuidar.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“A um mês, deprimida e completamente enferrujada.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Valorizar a vida.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Um bem estar muito grande, para mim funcionou mais como uma terapia,
comecei a me sentir de bem comigo mesma.”
59
Nome: R. F. S Idade: 34 anos N.º 13
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é estar bem física e psicologicamente.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é cuidar da saúde.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“A mais ou menos um mês. Sentia-me muito desanimada.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi que os exercícios físicos contribuem, e muito, para um corpo
saudável e também para a saúde mental.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Com pouco tempo aprendi a fazer exercícios para respiração pois tenho
bronquite. Esses exercícios me ajudam muito pois na época do frio as crises
aumentam e são mais fortes e, graças a Deus, não tive nenhuma crise que
não pude controlar com os exercícios. teve dias de estar com dificuldade
para chegar ao local dos exercícios devido a falta de ar e depois de fazê-los,
eu estar me sentindo bem melhor. Faço uso de medicação para bronquite e
depois que comecei com os exercícios não estou usando o remédio todos os
dias. Para mim a consciência corporal está sendo ótima.”
60
Nome: M. C. Idade: 59 anos N.º 14
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é tudo que um ser humano possa almejar. É com ela, que nos
divertimos, sorrimos, dançamos e transmitimos alegria aos outros.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é fazer tudo que seja bom para a saúde. Alimentar bem,
dormir, exercitar muito, divertir, viajar etc..”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há 5 meses.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Participar deste grupo está sendo motivo de muita alegria para mim. Gosto
de todos daqui e da orientadora também.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Atualmente me sinto feliz, bem disposta, e muito animada para comigo e com
os outros também. Mudou em minha vida, a disposição, ânimo, coragem e me
esqueci das dores na coluna.”
61
Nome: L. C. P Idade: 62 anos N.º 15
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é o ter doenças físicas ou mentais, ser bem humorada e se sentir
feliz.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorisar a vida é cuidar da saúde, ter boa alimentação e fazer exercícios
físicos regularmente.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Eu participo deste grupo dois meses. Apesar de pouco tempo, posso
sentir os benefícios dos exercícios. Sinto-me muito bem e cada vez mais
integrada ao grupo.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Estou aprendendo a valorizar cada vez mais a minha saúde e bem estar
através dos exercícios..”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Sinto-me cada vez melhor, a prática de exercícios me déia bem humorada e
bem disposta o dia todo. Um abraço carinhoso e muita paz no coração.”
62
Nome: L. S Idade: 59 anos N.º 16
1. Para você, o que é saúde?
“É estar em perfeita condição física e mental.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida é querer estar sempre bem consigo mesmo, valorizando a
cada dia o que temos de melhor.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Mais ou menos uns dois meses. Estava precisando de participar de
atividades como essas que estão sendo desenvolvidas no grupo que estou
participando.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Relaxar mais e sempre comunicar.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Atualmente estou bem, estou tendo mais disposição para desempenhar as
atividades do dia a dia. Apesar de eu ser uma pessoa um pouco estrovertida
cada vez mais cresce o grupo e com isto estou sempre conhecendo outras
pessoas bastante interessantes. Adoro o trabalho que vem sendo realizado
pelo PSF, e assim deu oportunidade p/ muita gente melhorar tanto na
condição física como mental Parabéns Karina! Você é bem interessada, uma
pessoa que tem tudo p/ se realizar com sucesso. OK?”
63
Nome: E. C. S. Idade: 50 anos N.º 17
1. Para você, o que é saúde?
“Saude, e o melhor presente de Deus para nós..”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“É saber valorizar a saúde e pcorurar meios para isso: Ex fazendo exercícios
físicos, uma boa alimentação, tomar bastante liquido evitar bebida alcoólica,
não fumar etc.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há quase 1 ano.me sinto outra pessoa mais feliz sem medo de enfrentar a
vida.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi tudo de bom, a dar mais valor a cada membro do meu corpo, saio ou
não.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Atualmente me sinto capaz de tudo, mudou tudo, tirou-me da rotina que era
um grande mal para mim, fiz novas amizades, emfim hoje sou uma pessoa
bem mais feliz, ‘Valorizando a Vida’.”
64
Nome: J. Idade: 22 anos N.º 18
1. Para você, o que é saúde?
“Estar bem, se cuidando, evitando o que nos faz mal.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“É acreditar, e agradecer a cada dia.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“1 ano│Eu me sintia muito mal, agora me sinto bem melhor.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Fiz amizades, estou mais leve e solta.
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Me sinto bem melhor. Me sinto mais calma, menos ansiosa, com mais e
esperança.”
Nome: I. A. S. Idade: 42 anos N.º 19
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é você sentir-se bem fisicamente, mentalmente e moralmente.”
65
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Previnir-si contra doenças, ocupando todo o tempo fazendo algo bom. Viver
bem.”
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Há 1 ano. Desde quando tivemos o privilégio de te-lo em nosso bairro. Não
me sentia bem, mal humorada, desanimada com muitas dores.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi muita coisa boa, conheci novos amigos tive mais vontade de viver.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Muito bem: tudo mudou, hoje me sinto mais animada e com muita vontade de
viver e viver bem.”
Nome: A. F. A. Idade: 39 anos N.º 20
1. Para você, o que é saúde?
“Saúde é tudo, é estar bem consigo mesmo.”
2. Para você, o que é Valorizar a vida?
“Valorizar a vida e buscar algo novo a cada dia.”
66
3. Há quanto tempo você participa do grupo? E como se sentia antes de
participar da Consciência Corporal?
“Desde que começou a um ano. Eu me sentia muito mal, havia parado de
fazer caminhada não estava fazendo nada pra mim.”
4. O que você aprendeu com a participação no grupo?
“Aprendi muita coisa, a conviver com outras pessoas e a ter mais Conciência
com o próprio corpo e mente.”
5. Como você se sente atualmente? E que mudou na sua vida após o início da
participação no grupo?
“Hoje estou bem, muito melhor que quando eu fazia caminhada por conta
própria. Me fez crescer mentalmente e espiritualmente também porque temos
relaxamento que faz muito bem pra alma e mente. Obrigada Karina por você
incistir com o trabalho, não desista nunca!.”
67
APÊNDICE C
– Fotografias
Fotografia 1 – Sede do PSF Guarda-Mor
Fonte: acervo da autora
68
Fotografia 2 – Atividade de alongamento
Fonte: acervo da autora
69
Fotografia 3 – Camiseta com identificação do grupo
Fonte: acervo da autora
70
Fotografia 4 – Exercícios de fortalecimento em grupo
Fonte: acervo da autora
71
Fotografia 5 – Pose para foto oficial
Fonte: acervo da autora
72
Fotografia 6 – Exercícios de alongamento
Fonte: acervo da autora
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso
Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 2.5 Brasil. Para ver uma
cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/2.5/br/ ou
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