imediato; assim como o primeiro é imediato: por conceitos e imagens. A intuição, por
conseguinte, é um elemento muito importante de nosso conhecimento. É a primeira relação e
a mais imediata que com o objeto pode manter. De sorte que um conceito que careça de
intuição que lhe corresponda, não pode fornecer nenhum conhecimento imediato. Deve-se ter
desde já na lembrança esta observação, para acompanhar Kant no desenvolvimento dos seus
primeiros princípios. Náo se esqueça, tampouco, que todo pensamento se propõe como meio
de intuições, e que quando um pensamento carece de intuição, é porque não tem objeto a que
referir-se imediatamente, é portanto vão, e os conceitos que produz, vazios, sem conteúdo
algum, pois este só pode ser dado pela intuição. Terá, é verdade, um objeto o conceito desta
classe, mas sera um outro conceito, e estaremos no mesmo caso se carece de intuição, ou uma
imagem da fantasia, quer dizer, uma intuição da imaginação e nada mais, conceitos assim,
sendo obje to, são conceitos vazios, são simples negações, como dizia Kant: nihil privativum;
de nenhuma maneira, conceitos reais; dizem o que uma coisa não é, e não o que ela é, pois só
o conceito que possui um objeto é um ens reale. Disto resultará, depois, com todo rigor, que
não podemos conhecer a Deus, porque este objeto, Deus, nunca se nos apresenta
intuitivamente. Teremos, certamente, o seu conceito, mas não o seu conhecimento imediato,
pois não é Deus um objeto sensível, um fenômeno, cuja intuição nos seja acessível. Tudo
quanto se afirma de Deus no conhecimento, será negação, e ao dizer que é infinito, entender-
se-á que não é finito, etc. O importante, pois, é não tirar da idéia que não existem
conhecimentos propriamente ditos sem intuições, e intuições sem objetos, objetos sem
fenômenos. (Nota do Tradutor)
(2)
Os alemães são os únicos que empregam hoje a palavra Estética para designar o que
outros chamam “crítica do gosto”. Esta denominação se deve à fracassada esperança do
notabilissimo crítico Baurngarte n, que acreditou poder reproduzir a princípios racionais o
juízo crítico do belo, e elevar as suas regras à categoria de ciência. Mas esse esforço é vão.
Efetivamente essas regras ou critérios são empíricas em suas principais fontes, e por
conseguinte não poderiam jamais servir de leis “a priori” próprias a regular o gosto em seus
julgamentos, pois é este que serve de pedra de toque para a retificação dos princípios. É, pois,
prudente o abandono dessa denominação, e reservá-la para aquela doutrina que é verdadeira
ciência, ou bem empregá-la em comum com a Filosofia especulativa, e entender a palavra
Estética ora em sentido transcendental, ora em sentido psicológico.
(3) Os predicados do fenômeno podem ser atribuídos ao objeto mesmo em relação com
nosso sentido, por exemplo: a rosa, a cor vermelha e o odor; mas a aparência não pode
jamais, como predicado, ser atribuída ao objeto, porque precisamente atribui ao objeto em si
o que não lhe pertence mais do que pela relação com os sentidos, ou em geral com o sujeito,
como, por exemplo, os dois anéis atribuídos primitivamente a Saturno.
O fenômeno é qualquer coisa que não se pode achar no objeto mesmo, mas sempre na
relação do objeto para com o sujeito, e que é inseparável da representação que temos; assim é
que, com razão, os predicados do espaço e do tempo são atribuídos aos objetos do sentido
como tais, e nisto não existe nenhuma aparência.
Já, pelo contrário, se atribuo a cor vermelha à rosa em si, e os anéis a Saturno, ou a
todos os objetos exteriores a extensão em si, sem atender á determinada relação desses
objetos com o sujeito, nem limitar meu juízo por conseguinte, então surge a aparência.