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Rachel Sant’Anna Murta
PATRIMÔNIO
MATERIAL
E
TURISTIFICAÇÃO:
UM
ESTUDO
SOBRE
A
PRAÇA
DA
ESTAÇÃO
BH/MG
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
Abril/ 2008
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2
Rachel Sant’Anna Murta
PATRIMÔNIO
MATERIAL
E
TURISTIFICAÇÃO:
UM
ESTUDO
SOBRE
A
PRAÇA
DA
ESTAÇÃO
BH/MG
Dissertação apresentada ao Programa de
Mestrado em Turismo e Meio Ambiente
do Centro Universitário UNA, como
requisito parcial para obtenção do título
de Mestre em Turismo e Meio Ambiente.
Área de Concentração: Turismo e Meio
Ambiente
Orientador: Professor Dr. Reinaldo Dias
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
Abril/ 2008
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3
M984p MURTA, Rachel Sant’Anna
Patrimônio Material e Turistificação: um estudo sobre a Praça da
Estação – BH/MG/ Rachel Sant’Anna Murta – 2008
180 f.: il.
Orientador: Professor Dr. Reinaldo Dias
Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Programa
de Mestrado em Turismo e Meio Ambiente.
Bibliografia f. 132 - 138
1. Turismo – Belo Horizonte. 2. Turismo – planejamento urbano.
3. Praça da Estação BH/MG. I. Dias, Reinaldo. II. Centro
Universitário UNA. III. Título
CDU:379.85
Ficha Catalográfica – Biblioteca Padre Geraldo Magela, UNA
4
5
Dedico este trabalho a
Arthur, André, Thomaz,
Ravi e Camila, por
trazerem alegria para a
minha vida.
6
AGRADECIMENTOS
Quero e devo agradecer:
- a meus pais, por tudo e mais alguma coisa;
- aos meus irmãos, cunhados e sobrinhos, pelo estímulo e pela paciência;
- à Professora Wanda Lacerda, que abriu o meu caminho para o Turismo;
- ao Professor Orientador Dr. Reinaldo Dias, pela confiança e pela direção;
- aos professores, pelos exemplos;
- aos alunos, pela motivação;
- aos amigos, pela compreensão e pela torcida;
- aos colegas, pelo compartilhamento;
- a Carol, Fabiana, Louisiane e Sirlene, pela generosa participação;
- a Madá e sua equipe, pela amizade e pelo suporte;
- ao Joab, pelo domínio da estatística;
- aos entrevistados, pelas contribuições valiosas;
- aos respondentes da pesquisa, pelo tempo e pela atenção.
7
RESUMO
Esta dissertação teve como objetivo estudar a relação entre o patrimônio histórico-cultural
material e o processo de turistificação – transformação do espaço urbano em função da
atividade turística. Foi escolhido como objeto de estudo o conjunto da Praça da Estação, em
Belo Horizonte - MG, pela sua representatividade na história da cidade desde a sua formação
até a contemporaneidade e pela forma como esta Praça se apresenta ao turismo. Como
elemento de destaque na relação que se estabelece nesse espaço, abordou-se a instalação do
Museu de Artes e Ofícios MAO no prédio da Estação Central. Analisaram-se os papéis dos
agentes envolvidos na transformação do espaço em estudo, considerando a manutenção de
determinados valores e o surgimento de novas formas de uso da cidade, especialmente o uso
turístico, evidenciado pelo processo de turistificação. Como procedimento metodológico, após
a construção de um referencial teórico sobre a questão do patrimônio e as diferentes formas de
apropriação do espaço urbano, foram tabulados e analisados formulários aplicados junto a
usuários cotidianos da Praça, moradores de Belo Horizonte e sua região metropolitana, e a
turistas em visita à Praça da Estação no período da pesquisa. Foram também entrevistados
profissionais de órgãos e entidades ligados ao patrimônio e ao turismo para identificação de
seu entendimento e sua atuação sobre o espaço estudado. Obtiveram-se dados e informações
que indicam que o uso turístico desse espaço remete ao processo de turistificação, mas não o
legitima necessariamente, considerando-se que o processo de turistificação de espaços
urbanos se consolida à medida que a experiência turística se impõe física e operacionalmente
sobre a experiência cotidiana.
Palavras-chave: patrimônio, espaço urbano, turistificação, Praça da Estação – BH/MG.
8
ABSTRACT
The present dissertation focuses on the study of the relationship between historical-cultural
heritage and the process of touristification the transformation of urban spaces due to a
tourism-oriented activity. The area that comprises Praça da Estação (the “Train Station
Square”) and its surroundings, in Belo Horizonte Minas Gerais, was chosen as object of
study for what it has represented in the history of the city since its beginning up to the present
and also because of the way this square is now presented to tourism. As a set-apart element in
the relationship examined in that area, the opening of Museu de Artes e Ofícios - MAO (the
“Museum of Arts and Crafts”), located in the central railway station building, was studied.
The roles played by the many agents involved in the transformation of the present object of
study were examined, considering the maintenance of certain values and the rise of new uses
of the city, mainly the tourism-oriented use, made evident in the process of touristification. As
methodological procedures, after the setting of a theoretical benchmark in regards to heritage
and the many different ways of appropriation of urban spaces, the tables and analyses were
developed based on data obtained through forms answered by everyday users of Praça da
Estação inhabitants of Belo Horizonte and its metropolitan area and also by tourists who
were visiting the square while the research was being carried out. Some professionals from
organizations and institutions related to heritage and to tourism were also interviewed in order
to examine their thoughts and their work on the object of study. The data and information
hereby obtained point that the tourism-oriented use of Praça da Estação and its surroundings
resembles the process of touristification but not necessarily legitimizes it if the process of
touristification of urban spaces is considered to be consolidated as the tourism-oriented
experience physically and operationally takes over the everyday-use experience.
Key words: heritage, urban space, touristification, Praça da Estação – BH/MG
9
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1
Distribuição da amostra segundo os três maiores problemas da Praça da
Estação – BH/MG antes da reforma ..........................................................
117
Gráfico 2
Distribuição da amostra segundo os três aspectos da Praça da Estação –
BH-MG – que melhoraram mais depois da reforma .................................
118
Gráfico 3
Distribuição da amostra segundo a finalidade da visita à Praça da
Estação – BH- MG – depois da reforma (2005/2007) ..............................
119
Gráfico 4
Distribuição da amostra segundo os espaços visitados pelos moradores
no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG .....................
121
Gráfico 5
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da vinda a Belo
Horizonte – MG ........................................................................................
124
Gráfico 6
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da visita à Praça da
Estação – BH-MG .....................................................................................
125
Gráfico 7
Distribuição da amostra de turistas segundo o aspecto que mais chama a
atenção na Praça da Estação – BH-MG ....................................................
126
Gráfico 8
Distribuição da amostra de turistas segundo a opção por retornar à Praça
da Estação – BH-MG – em outra oportunidade ........................................
128
10
LISTA DE TABELAS
Tabela 1
Distribuição da amostra segundo o aumento da freqüência à Praça da
Estação – BH-MG depois da reforma (2005/2007) ....................................
119
Tabela 2
Distribuição da amostra segundo o conhecimento da existência do Museu
de Artes e Ofícios na Praça da Estação – BH-MG .....................................
120
Tabela 3
Distribuição da amostra segundo o significado da Praça da Estação – BH-
MG – para a cidade .....................................................................................
122
Tabela 4
Distribuição da amostra de turistas segundo outras razões para a vinda a
Belo Horizonte – MG ..................................................................................
124
Tabela 5
Distribuição da amostra de turistas segundo outras razões para visita à
Praça da Estação – BH-MG ........................................................................
125
Tabela 6
Distribuição da amostra de turistas segundo os espaços visitados no
Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG .............................
127
Tabela 7
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão de incluir a Praça da
Estação – BH-MG – em seu roteiro ............................................................
127
11
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
BELOTUR – Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A
BHC&VB – Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau
CBTU – STU/BH – Superintendência de Trens Urbanos de Belo Horizonte
CNRC – Centro Nacional de Referência Cultural
CONCINE – Conselho Nacional de Cinema
DPHAN – Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
EFVM – Estrada de Ferro Vitória-Minas
FNpM – Fundação Nacional pró-Memória
FUNARTE – Fundação Nacional de Arte
IAB/MG – Instituto dos Arquitetos do Brasil – Seção MG
IBA – Instituto Brasileiro de Arte e Cultura
IBC – Instituto Brasileiro do Café
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IBPC – Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural
ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços
ICOM – International Council of Museums
ICOMOS – International Scientific Commitee on Cultural Tourism
IEPHA – MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais
IEPHA-MG – Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MAO – Museu de Artes e Ofícios
MhAB – Museu histórico Abílio Barreto
MINC – Ministério da Cultura
OMT – Organização Mundial do Turismo
PBH – Prefeitura de Belo Horizonte
RFFSA – Rede Ferroviária Federal
RMBH – Região Metropolitana de Belo Horizonte
SETUR-MG – Secretaria de Estado de Turismo de Minas Gerais
SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
12
LISTA DE APÊNDICES
APÊNDICE A – Roteiro para entrevistas
APÊNDICE B – Formulário para moradores de Belo Horizonte e Região Metropolitana
APÊNDICE C – Formulários para turistas em visita à Praça da Estação
APÊNDICE D – Tabelas e Gráficos relativos aos formulários dos moradores
APÊNDICE E – Tabelas e Gráficos relativos aos formulários dos turistas
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 13
2 METODOLOGIA ........................................................................................... 16
3 O PATRIMÔNIO CULTURAL NA VISÃO DE MUNDO ......................... 21
3.1 Considerações sobre as origens e o conceito de patrimônio cultural ......... 21
3.2 Patrimônio cultural como intervenção no espaço ........................................ 29
3.3 Interação da comunidade com o espaço urbano .......................................... 36
3.3.1 Transformações no espaço urbano .................................................................. 36
3.3.2 Apropriação do espaço urbano ........................................................................ 40
3.3.3 Turismo e espaço urbano ................................................................................. 43
3.3.4 Considerações sobre processos de turistificação ............................................ 56
4 O PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL ............................................. 62
4.1 Histórico ........................................................................................................... 62
4.2 O patrimônio cultural em Minas Gerais ....................................................... 69
5 O PATRIMÔNIO CULTURAL EM BELO HORIZONTE ....................... 73
5.1 A legislação municipal para a proteção do patrimônio cultural ................. 76
5.2 Considerações sobre a requalificação de centros urbanos .......................... 78
6 A PRAÇA DA ESTAÇÃO .............................................................................. 80
6.1 Suas características e seus usos ..................................................................... 81
6.2
Seu significado como patrimônio histórico-cultural ....................................
91
6.2.1 A Praça da Estação como patrimônio na perspectiva municipal .................. 92
6.2.2
A Praça da Estação como patrimônio na perspectiva estadual .....................
100
6.3
Seu significado para o turismo ......................................................................
102
7
A PESQUISA DE CAMPO ............................................................................
111
7.1
Delineamento da pesquisa ..............................................................................
111
14
7.2
Cálculo do tamanho da amostra ....................................................................
112
7.3
Limitações da pesquisa ...................................................................................
114
8
ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS .................................................
116
8.1
A consulta aos moradores de Belo Horizonte e Região Metropolitana ......
116
8.2
A consulta aos turistas ....................................................................................
123
9
CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................
129
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................
132
APÊNDICES ...................................................................................................................
139
13
1 INTRODUÇÃO
Tendo como tema a relação entre o patrimônio cultural material e o processo de turistificação
do espaço urbano, esta dissertação partiu da hipótese de que a transformação de uma área da
cidade em função do turismo pode ampliar suas possibilidades de uso pela população local
desde que sejam contemplados os interesses de todos os atores envolvidos. Dessa forma,
buscou-se compreender como o patrimônio cultural material faz a intermediação, como
elemento de integração, das relações física e simbólica entre comunidade local, turistas e
espaço urbano. Houve o interesse de pesquisar até que ponto a transformação do espaço
urbano pelo turismo e para o turismo interfere no uso que se faz dele, considerando a
dimensão física de ocupação e apropriação do espaço e a dimensão simbólica que permite a
identificação e a incorporação de novos valores.
A opção por investigar os impactos do processo de turistificação do espaço urbano sobre a
comunidade local justifica-se pela condição de ampliação das perspectivas de observação do
mesmo fenômeno. As transformações do espaço atingem a população que nele circula
diariamente, desenvolvendo atividades diversas, e que guarda na memória referências
anteriores que evidenciam os novos aspectos visuais e as novas possibilidades de utilização
que se apresentam na esteira dos processos de requalificação de conjuntos históricos. Da
mesma forma, as transformações reconfiguram o espaço apresentando-o como apropriado
para novas práticas, como o turismo.
O turista talvez não perceba a transformação, pela ausência de referências que remontam ao
passado, considerando que possa estar naquela localidade pela primeira vez e/ou que ainda
não tenha obtido informações sobre os espaços que visita. O morador, por sua vez, é capaz de
perceber as mudanças visual e simbolicamente, pois tem com o espaço vínculos histórico-
culturais que foram construídos ao longo do tempo e deram origem à construção de símbolos
individuais ou comuns a determinados grupos que ocupam a cidade.
Uma nova imagem pode gerar um novo símbolo e este pode remeter ou não à imagem
anterior. Um novo uso pode gerar e corresponder a expectativas da mesma maneira que pode
frustrá-las, provocando sentimentos de perda com relação às atividades que se desenvolviam
anteriormente em um determinado espaço, tanto em função de suas características originais
14
quanto em função de seus usuários/freqüentadores tradicionais. É o risco que se corre quando
se interfere na estrutura e na dinâmica da cidade.
Estudar a dinâmica da cidade e nela inserir a força do patrimônio arquitetônico como atrativo
turístico é uma possibilidade de potencializar as condições de identificação, restauração,
preservação e divulgação deste patrimônio. Para isso, nesta dissertação pretendeu-se analisar a
transformação da imagem urbana a partir da observação de um espaço em processo de
turistificação, ou seja, de transformação em função da atividade turística que ali se realiza ou
que para ali se pretende. As diferenças culturais que levam as pessoas a valorizar
distintamente a sua história, o seu povo, os seus bens e o seu trabalho também estimulam e
enriquecem a discussão sobre as relações que se estabelecem nas cidades.
Acredita-se que atividade turística seja determinante para o planejamento urbano e vice-versa.
Observa-se que o nculo existente entre o patrimônio arquitetônico e o turismo é
comprovado, embora nem sempre bem solucionado - muitas vezes em função da dinâmica de
uso das cidades. Este estudo contempla a possibilidade de investigação sobre essas relações
para buscar novas referências para a estruturação da atividade turística no meio urbano.
Pretende-se que tais referências possam integrar a análise do movimento cotidiano da
população local paralelamente à consolidação do valor histórico-cultural do patrimônio
arquitetônico que se apresenta, desta maneira, como atrativo turístico.
Inicia-se, pois, esta abordagem com uma discussão ampla sobre patrimônio cultural,
utilizando-se a legislação de proteção ao patrimônio como eixo referencial para que fossem
consideradas as instâncias mundial, nacional, estadual e municipal que compartilham essa
responsabilidade, inserindo oportunamente questões relativas ao espaço urbano e ao turismo.
Na seqüência, em busca de um espaço fértil para a realização deste estudo, elegeu-se como
objeto de análise o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação, em Belo
Horizonte, Minas Gerais. A Praça é um espaço que: integra e acompanha a história da cidade
desde a sua fundação, funcionando como uma das portas de entrada de Belo Horizonte; acolhe
manifestações populares diversas; se localiza em uma área de intenso fluxo de automóveis,
ônibus e de pedestres, sendo atravessado pela Linha Verde, o maior conjunto de obras viárias
em Belo Horizonte e Região Metropolitana nas últimas décadas; e que abriga, no prédio da
Estação Central, um museu recentemente aberto à visitação. O caráter múltiplo desse espaço
15
escolhido como objeto de estudo abriu possibilidades de discussão a partir de perspectivas
distintas do poder público e suas representações ligadas à preservação do patrimônio, à
cultura, ao turismo e, também, a do Museu de Artes e Ofícios MAO, representado pelo
Instituto Cultural Flávio Gutierrez, uma entidade do terceiro setor, sem fins lucrativos, que
tem por objetivo a preservação, a difusão e a valorização do patrimônio cultural brasileiro.
Ao se fazer distinção entre as perspectivas consideradas, manteve-se como elemento comum
de análise a questão da relação da comunidade com a Praça da Estação, fundamental para
compreender o processo de transformação e ressignificação do espaço e, por conseqüência,
analisar os impactos do processo de turistificação sobre a população de Belo Horizonte. Para
isso, a pesquisa de campo envolveu a aplicação de formulários junto a uma amostra
significativa da população residente e, de forma complementar, a uma amostra circunstancial
de turistas, cujos resultados são apresentados ao final desta dissertação.
16
2 METODOLOGIA
A partir da opção pela realização de uma pesquisa qualitativa, os procedimentos
metodológicos utilizados basearam-se inicialmente em uma pesquisa exploratória. Como
estratégia de abordagem, foi realizado um estudo de caso sobre o Conjunto Arquitetônico e
Paisagístico da Praça da Estação como um espaço em processo de turistificação. A
transformação do espaço para o turismo e/ou pelo turismo integra discussões recentes e
polêmicas, ao envolver efeitos positivos e negativos sobre as comunidades locais e sobre o
próprio espaço da cidade. Considerando que as análises exploratórias visam melhor conhecer
fenômenos, processos ou comportamentos ainda pouco estudados, acredita-se que esta tenha
sido a melhor opção para a pesquisa realizada.
Segundo Gil (1991), a pesquisa exploratória é caracterizada por um planejamento flexível que
envolve, geralmente, levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes e
ligadas à área de estudo, e também análise de exemplos similares. Nesse sentido, para buscar
a fundamentação necessária para o desenvolvimento desta dissertação de mestrado, os
primeiros recursos utilizados foram as pesquisas bibliográfica e documental. Dencker (2003)
explica que a pesquisa bibliográfica é aquela desenvolvida a partir de material elaborado,
como livros e artigos científicos, e constitui um procedimento indispensável relativo à
construção do referencial teórico para qualquer tipo de pesquisa. A revisão da literatura
contemplou temas como patrimônio cultural material, turismo, urbanismo, participação,
exclusão social, e textos publicados sobre processos de turistificação, em suas dimensões
física e simbólica. A pesquisa documental, por sua vez, utiliza material que ainda não recebeu
tratamento analítico ou que ainda pode ser reelaborado. Cabe ao pesquisador verificar se os
documentos pesquisados são provenientes de fontes estáveis e se são representativos para o
estudo em desenvolvimento. Entre os documentos consultados estão, por exemplo, aqueles
referentes à legislação sobre a proteção do patrimônio cultural material.
A realização de entrevista - significativo instrumento de trabalho para as Ciências Sociais -
com profissionais ligados ao tema deste trabalho visou à obtenção de informações que
pudessem complementar e valorizar a análise desenvolvida a partir do referencial teórico e
também fortalecer o desenvolvimento do estudo de caso. Realizaram-se entrevistas semi-
17
estruturadas com profissionais ligados à preservação do patrimônio, à cultura, ao turismo, às
questões urbanas, atuantes no poder público, ou no terceiro setor, a saber:
- Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico – IEPHA-MG;
- Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de BH;
- Secretaria de Estado de Turismo – SETUR – MG;
- Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A - Belotur;
- Instituto Cultural Flávio Gutierrez, responsável pelo Museu de Artes e Ofícios.
Os entrevistados foram identificados, contatados por e-mail e por telefone para solicitação,
agendamento, de acordo com a sua conveniência, e posterior realização da entrevista. Com a
devida autorização dos entrevistados, as entrevistas foram gravadas e, em seguida, transcritas
de forma sintética para que as informações obtidas pudessem ser selecionadas para integrar a
análise pretendida. As questões que integraram os roteiros de entrevista (ver APÊNDICE A),
os quais se encontram nos apêndices desta dissertação, foram focadas no objeto de estudo, a
Praça da Estação, e abordaram perspectivas distintas de acordo com a especificidade da
atuação de cada entrevistado.
Marconi e Lakatos (2002) alertam para as limitações da utilização de entrevistas como técnica
de coleta de dados: dificuldade de expressão e comunicação entre as partes; falsa
interpretação em decorrência da incompreensão de determinadas perguntas; possibilidade de
que o pesquisador influencie (consciente ou inconscientemente) o entrevistado; disposição do
entrevistado para a entrevista; receio pelo comprometimento ao fornecer dados. Além disso, o
grande volume de informações obtidas com as entrevistas dificulta o controle sobre o
tratamento e a posterior análise dos dados, tornando o trabalho demorado e difícil de realizar.
Em contrapartida, o uso de entrevistas permite que se obtenham dados que não se encontram
em fontes documentais e cuja relevância e significado justifiquem a dificuldade de lidar com
essa técnica de coleta. Coube a esta pesquisadora um rigoroso exercício de ntese e seleção
das informações obtidas com a realização das entrevistas, considerando que, embora o objeto
em questão fosse o mesmo, eram diversos os tipos de envolvimento, as experiências e as
perspectivas de atuação de cada entrevistado com relação ao Conjunto Arquitetônico e
Paisagístico da Praça da Estação.
18
Considerando a opção pela realização de um estudo de caso sobre o processo de turistificação
da Praça da Estação, recorreu-se a Dencker (2003, p.127), que assim define a cnica de
pesquisa conhecida como Estudo de Caso:
É o estudo profundo e exaustivo de determinados objetos ou situações. Permite o
conhecimento em profundidade dos processos e relações sociais. O uso da técnica de
estudo de caso é recomendável na fase inicial das investigações, para a construção
de hipóteses ou reformulação do problema. Possibilita grande flexibilidade, mas não
permite a generalização dos resultados.
A autora complementa a definição informando que o objeto do estudo de caso pode ser um
indivíduo, um grupo, uma organização, um conjunto de organizações ou até mesmo uma
situação. É nesta última possibilidade que se encontra o objeto do estudo de caso aqui
considerado: uma situação, um processo, o processo de transformação do espaço urbano – um
espaço determinado, a Praça da Estação – em função da atividade turística.
Complementando os procedimentos metodológicos necessários para que fossem alcançados
os objetivos definidos neste projeto de pesquisa, entendeu-se ser recomendável que se
procedesse a uma investigação junto ao público freqüentador/usuário do espaço da Praça da
Estação para identificar e avaliar os efeitos do processo de turistificação sobre a sua visão e o
seu comportamento com relação a este local. Considerou-se que a compreensão da
turistificação dos espaços urbanos deve decorrer tanto da avaliação do trabalho que é
desenvolvido pelas entidades competentes no sentido de planejar, promover e acompanhar a
transformação do espaço em função do turismo quanto da possibilidade de ouvir as pessoas
que fazem uso dele – sejam moradores da cidade ou turistas.
Para cumprir mais essa etapa, foram elaborados instrumentos de coleta de dados adequados
aos objetivos da pesquisa, os quais foram aplicados junto a uma amostra do público
freqüentador do espaço em questão, no período de 03 de julho a 01 de setembro de 2007.
Tendo sido elaborados dois formulários distintos, um para moradores de Belo Horizonte e
Região Metropolitana e outro para turistas (ver APÊNDICES B e C), em função do universo
de pesquisa considerado, definiram-se amostras de 400 moradores e 35 turistas de forma a
serem estatisticamente representativas. Além do perfil socioeconômico tanto de moradores
quanto de turistas, levantaram-se dados relevantes a partir de questionamentos sobre as
referências de antes e depois da revitalização urbana do espaço (para moradores) e sobre a
19
inclusão do mesmo espaço no roteiro de visitação (para turistas), considerando a perspectiva
de retorno ao local em nova visita a Belo Horizonte. Posteriormente à aplicação dos
formulários, os dados foram tabulados utilizando-se o software SPSS versão 13.0, o qual
permitiu o cruzamento das informações obtidas de maneira a corresponder aos objetivos desta
dissertação. Finalmente, os dados foram interpretados para complementar a análise iniciada
com as pesquisas bibliográfica e documental e também com as entrevistas semi-estruturadas
que foram realizadas com profissionais cuja experiência e atuação estão relacionados ao tema
em questão.
Consideraram-se, inicialmente, as referências técnicas para a elaboração de um formulário,
definido para este trabalho como o instrumento de coleta de dados mais adequado ao objetivo
da pesquisa desenvolvida. De acordo com Marconi e Lakatos (2002, p.112), o formulário é
um dos instrumentos essenciais para a investigação social cujo sistema de coleta de dados
consiste em obter informações diretamente do entrevistado”. Segundo as mesmas autoras, o
uso do formulário é caracterizado pelo contato face a face entre o pesquisador e o informante,
sendo o instrumento um roteiro de perguntas a ser preenchido pelo pesquisador no momento
da entrevista, apresentando como vantagens a possibilidade de ser utilizado em quase todo
segmento da população, a flexibilidade para adaptar-se às necessidades de cada situação, a
obtenção de dados mais complexos e úteis, a uniformidade dos símbolos utilizados, pois é
preenchido pelo próprio pesquisador, entre outras. Para Ander-Egg
1
(apud MARCONI;
LAKATOS, 2002, p.112), são três as qualidades essenciais de todo formulário: (a) adaptação
ao objeto de investigação; (b) adaptação aos meios que se possui para realizar o trabalho; (c)
precisão das informações em um grau de exatidão suficiente e satisfatório para o objetivo
proposto. Após considerar as referências técnicas, utilizaram-se referências teóricas para
nortear a elaboração e a posterior análise das questões que integraram o instrumento de coleta
de dados com relação à observação da população e dos turistas sobre o processo de
turistificação da Praça da Estação.
Seguidas as devidas orientações para a redação do instrumento de coleta de dados, este foi
testado antes de ser utilizado para a pesquisa propriamente dita. Para isso, foram aplicados
alguns exemplares junto a uma pequena população escolhida, considerando que, segundo
Marconi e Lakatos (2002, p.100):
1
ANDER-EGG, Ezequiel. Introducción a las técnicas de investigación social: para trabajadores sociales. 7.ed.
Buenos Aires: Humanitas, 1978.
20
A análise dos dados, após a tabulação, evidenciará possíveis falhas existentes:
inconsistência ou complexidade das questões; ambigüidade ou linguagem
inacessível; perguntas supérfluas ou que causem embaraço ao informante; se as
questões obedecem a determinada ordem ou se são muito numerosas, etc.
A aplicação do pré-teste foi fundamental para adequar o instrumento de coleta de dados aos
objetivos da pesquisa, identificando as possíveis falhas tanto na sua elaboração como na sua
aplicação, a partir das dificuldades de compreensão identificadas no contato com os
entrevistados. Também foi necessária atenção especial ao processo de abordagem dos
entrevistados, considerando a resistência natural que as pessoas apresentam para responder a
pesquisas de natureza variada. Para a pesquisa desenvolvida, o tempo de permanência no local
de estudo também foi produtivo com relação a observações que puderam ser feitas com
relação ao comportamento dos freqüentadores e transeuntes na Praça e que conduziram a
outros aspectos de investigação não considerados a princípio. Vale registrar que a dificuldade
em elaborar questões adequadas aos objetivos da pesquisa e numa linguagem também
adequada foi muito grande, considerando que o público a ser entrevistado é extremamente
diverso em suas características e comportamentos
2
.
2
Essa dificuldade é maior quando se considera que o processo de turistificação da Praça da Estação ainda está
em andamento e que intervenções serão feitas futuramente, podendo gerar novos e diferentes efeitos sobre as
pessoas que utilizam o espaço.
21
3 O PATRIMÔNIO CULTURAL NA VISÃO DE MUNDO
As discussões sobre a questão do patrimônio partem da sua origem, da construção e da
transformação do seu significado ao longo do tempo, levam em conta o valor das idéias de
memória, identidade, autenticidade, proteção, conservação e preservação, e situam-se,
segundo Fonseca (2005, p.49), numa encruzilhada que envolve tanto o papel da memória e
da tradição na construção de identidades coletivas, quanto os recursos a que têm recorrido
os Estados modernos na objetivação e legitimação da idéia de nação”. Para acompanhar
essas discussões, é necessário inicialmente resgatar a linha espaço-temporal que se vem
constituindo para que se entenda o conceito de patrimônio cultural e, na seqüência, abordar o
patrimônio cultural material arquitetônico, objeto da análise que se propõe.
3.1 Considerações sobre as origens e o conceito de patrimônio cultural
Com o propósito de abordar o conceito de patrimônio cultural, recorre-se inicialmente a Llull
(2005, p.181), que o entende como o conjunto das manifestações ou objetos que se originam
da produção humana e que uma sociedade recebe como herança histórica, constituindo
elementos significativos de sua identidade como povo”. Apresentando-se sob diversas formas,
o patrimônio cultural pode ser revelado em bens imateriais (música, dança, gastronomia, etc.)
e bens materiais, estes classificados em bens móveis e bens imóveis.
Choay (2001, p.11) define patrimônio histórico como um bem destinado ao usufruto de uma
comunidade que se ampliou a dimensões planetárias, constituído pela acumulação contínua
de uma diversidade de objetos que se congregam por seu passado comum”. Por sua vez,
Durham (1984, p.30), considerando a noção de cultura como uma ação significante que
depende da manipulação de um instrumental simbólico, tenta aplicá-la à noção de patrimônio
cultural e o define “em função do significado que possui para a população, reconhecendo que
o elemento básico na percepção do significado de um bem cultural reside
no uso que dele é
feito pela sociedade”. A autora completa a sua definição afirmando que quanto maior a
carga simbólica conferida no passado a um bem cultural, tanto mais ricas serão as
possibilidades de sua utilização futura” (DURHAM, 1984, p.30-31).
22
Os três autores citados apresentam definições que se complementam, envolvendo os
elementos que constituem o patrimônio, a sua relação com o tempo e o seu valor simbólico.
Outros autores, como Canclini (1994) e Jeudy (2005), apresentam transformações exigidas
pela contemporaneidade no processo de (re)definir o que seja “patrimônio cultural”, lançando
mão de discussões sobre a política patrimonial e enfatizando a questão simbólica que permeia
o conceito. A opção que se faz aqui é percorrer historicamente a construção da idéia de
patrimônio para, posteriormente, discutir a atualização da visão que se constrói sobre o tema.
A valorização da idéia de patrimônio material e dos objetos que o compõem tem origem na
Antiguidade, quando tais objetos eram acumulados como riqueza pessoal a partir de viagens
de exploração, trocas comerciais, relações diplomáticas e também saques de guerra. Llull
(2005) conta que as campanhas bélicas se converteram na fórmula mais eficaz de apropriação
de objetos preciosos, servindo como prêmio aos vencedores por suas conquistas e também
como uma forma de ostentar prestígio e poder. A noção de patrimônio estava, nesse momento
da história, ligada à noção de posse, de propriedade privada e, tendo o mundo greco-romano
como referência, a Idade Média assistiu à transferência do valor do patrimônio para as mãos
da Igreja, que se tornou a grande colecionadora de objetos antigos e tesouros desse período
histórico.
Estendendo a idéia de posse à idéia de prestígio e de reconhecimento de cultura e de proteção
às artes, os monarcas do Renascimento, resgatando o mecenato, formaram vastas coleções de
obras artísticas, passando a venerar o patrimônio também por seus aspectos estéticos. Foi
também no Renascimento que, segundo Llull (2005), a partir da consciência da distância
histórica entre a Antiguidade e a Idade Moderna, os monumentos do passado começaram a ser
apreciados como testemunhos da história, priorizando-se ainda a cultura clássica. Dias (2006,
p.69) comenta que a partir do Renascimento, o conceito de patrimônio passou a se
identificar com uma de suas dimensões valorativas atuais, os objetos passaram a ter um valor
histórico como produtos culturais de uma época determinada”. Ainda segundo o mesmo
autor:
Houve uma mudança significativa em todo esse processo com a Revolução
Francesa, em 1789. Os bens e as coleções da Igreja católica, da nobreza e da
monarquia foram apropriados pelo Estado, que os reuniu em quatro grandes museus,
abertos à visitação pública, os quais foram criados em 1791: Museu da República
(que, posteriormente, adotou o nome de Museu do Louvre), Museu de História
23
Natural, Museu de Monumentos Franceses (de História Nacional) e Museu de Artes
e Ofícios (dedicado a artesanato, cerâmica e estudos etnográficos) (DIAS, 2006,
p.70).
Sobre os museus, vale registrar, a partir da referência aos quatro primeiros grandes museus
abertos à visitação pública, que Canclini (2003, p.169) os entende como um palco-depositório
que contenha e proteja o patrimônio interpretado como um repertório fixo de tradições
condensadas em objetos”. Assim, os museus são vistos por esse autor como:
a sede cerimonial do patrimônio, o lugar em que é guardado e celebrado, onde se
reproduz o regime semiótico com que os grupos hegemônicos o organizaram. Entrar
em um museu não é simplesmente adentrar um edifício e olhar obras, mas também
penetrar em um sistema ritualizado de ação social (CANCLINI, 2003, p. 169).
Segundo o International Council of Museums – ICOM
3
, os museus são “uma instituição
permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao
público, que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe testemunhos materiais do homem
e de seu meio, para fins de estudo, educação e lazer”. Esta definição sinaliza para os museus
a conveniência de apresentar propostas para melhor se posicionar e fortalecer os seus vínculos
com a sociedade, considerando as transformações socioeconômicas e culturais que interferem
no comportamento do público com relação à visita a esses espaços de cultura. Os vínculos
estabelecidos e fortalecidos podem contribuir para a criação de uma identidade cultural para a
população local e também para o incremento da atividade turística, com foco no turismo
cultural. O International Scientific Commitee on Cultural Tourism (ICOMOS)
4
define turismo
cultural como a forma de turismo que tem por objetivo, entre outros fins, o conhecimento de
monumentos e sítios histórico-artísticos, cuja manutenção e a proteção justifica os esforços
feitos nesse sentido, pelos benefícios socioculturais e econômicos que trazem para a
população.
Feitas as considerações acima, a respeito da relação entre museus, a partir da definição do
ICOM, e turismo cultural, na perspectiva do ICOMOS, volta-se à construção do conceito de
patrimônio cultural, fundamental para o tema em discussão.
3
ICOM. Estatutos do ICOM, 2001, Artigo 2. Disponível em: <http://www.icom.org>. Acesso em: 20 jul. 2006.
4
ICOMOS. Carta de Turismo Cultural, 1976. Revista Eletrônica Museu. Disponível em:
<http://www.revistamuseu.com.br/legislacao/turismo/tur_cultural.htm#>. Acesso em: 20 jul. 2006.
24
Assistiu-se, no final do século XVIII, à ação do Estado de assumir a proteção legal de
determinados bens aos quais foi atribuída a capacidade de simbolizarem a nação. Foi então
que, segundo Fonseca (2005), se definiu o conceito de patrimônio histórico e artístico
nacional. Choay (2001) aponta como econômico o valor primário atribuído ao tesouro que foi
devolvido ao povo, representado pelo poder do Estado que colocou os bens do clero “à
disposição da nação”, como um estímulo à incorporação de termos como herança, sucessão,
patrimônio (na acepção material) e conservação ao discurso sobre os bens culturais materiais.
A autora justifica que esses termos, integrados aos bens patrimoniais sob o efeito da
nacionalização, converteram-se em valores de troca, em bens materiais a serem preservados e
mantidos para não haver prejuízo.
Cabe aqui considerar a perspectiva de Barretto (2002) sobre as noções de preservação e de
conservação que, mesmo construída contemporaneamente, orienta o olhar sobre essa questão
à medida que se busca (re)construir historicamente o conceito de patrimônio cultural.
Preservar significa proteger, resguardar, evitar que alguma coisa seja atingida por
outra que lhe possa causar dano. Conservar significa manter, guardar para que haja
uma permanência no tempo. Desde que guardar é diferente de resguardar, preservar
o patrimônio implica mantê-lo estático e intocado, ao passo que conservar implica
integrá-lo no dinamismo do processo cultural. Isso pode, às vezes, significar a
necessidade de ressemantização do bem considerado patrimônio, e é nesse terreno
que se dá a discussão (BARRETTO, 2002, p. 15).
Seguindo na linha do tempo, de acordo com González-Varas
5
(apud LLULL, 2005, p.190), a
recuperação e a valorização do patrimônio histórico se desenvolveram no século XIX em
função de três influências distintas e complementares:
a) Uma interpretação ideológica ou espiritualista que dotou os monumentos do
passado de uma forte carga emocional e simbólica, segundo a qual começaram a
ser considerados como manifestações gloriosas da cultura nacional;
b) Um progressivo interesse turístico por conhecer o patrimônio cultural de cada país,
que se difundiu graças à moda das viagens pitorescas e à publicação de numerosos
livros, revistas e enciclopédias ilustradas que apresentaram os monumentos
artísticos como objetos de estudo literário, histórico e iconográfico;
5
GONZÁLEZ-VARAS, L. Conservación de bienes culturales. Teoría, historia, principios y normas. Madrid:
Cátedra, 2000, p.34-36.
25
c) O desenvolvimento da História da Arte como disciplina científica para o estudo
dos monumentos e das obras de arte do passado, tanto em seus aspectos estéticos
como testemunhais, ideológicos, culturais, etc.
Assim, o aumento qualitativo do conhecimento reunido sobre as obras de arte, os estilos e os
artistas do passado serviu para estabelecer as primeiras teorias e interpretações rigorosas sobre
os mesmos. Tanto Llull (2005) como Fonseca (2005) mencionam o trabalho desenvolvido
pelo historiador de arte vienense Aloïs Riegl (1858-1905) na delimitação mais precisa do
conceito de patrimônio, destacando sua análise do processo de atribuição de valores às obras
de arte e sua própria definição de monumento: obra criada pela mão do homem e edificada
com o objetivo preciso de conservar sempre presente e vivo na consciência de gerações
futuras a lembrança de uma ação ou de um destino(RIEGL apud
FONSECA, 2005, p.50).
Ambos consideram inovadora a reflexão de Riegl no sentido de chamar a atenção para a
importância de que sejam levados em conta, quando da formulação e da aplicação de políticas
de preservação, aqueles valores atribuídos aos bens culturais que não são claramente
explicitados: o valor de ancianidade (que aprecia o passado em si) e o valor de novidade (que
diz respeito à adequação a um consumo cultural
6
de massa, o valor por excelência das
massas). Esses valores vão constituir um contraponto constante tanto na seleção do que deve
ser preservado quanto na definição de como fazê-lo, incluindo na discussão, na melhor das
hipóteses, as considerações feitas pelos estudiosos do passado e as necessidades das
comunidades envolvidas diretamente com o bem cultural, ambas sob a abrangência dos
instrumentos legais que regem a seleção e a proteção do patrimônio cultural de uma nação.
Fonseca (2005, p.51) indica que as noções modernas de monumento histórico, de patrimônio
e de preservação começam a ser elaboradas a partir do momento em que surge a idéia de
estudar e conservar um edifício pela única razão de que é um testemunho da história e/ou
uma obra de arte”.
Enquanto, em um processo desencadeado a partir do Renascimento, começam a ser
formuladas categorias para fundamentar a constituição dos patrimônios históricos e artísticos,
6
O sentido do consumo cultural, portanto, deve ser entendido como uma prática que ultrapassa a
racionalidade instrumental do ato de comprar produtos, na direção que afirma usos e processos de apropriação
de signos”. (LEITE, 2004, p.66) O mesmo autor acredita que modos de vestir-se, de comer, de percorrer
caminhos urbanos, ocupar e transformar espaços em lugares nos quais os indivíduos podem se reconhecer e
afirmar suas diferenças indicam formas simbólicas de consumir e expressar formas de pertencimento a esses
lugares.
26
foi a idéia de nação que veio garantir seu estatuto ideológico, e foi o Estado nacional que
veio assegurar, através de práticas específicas, a sua preservação(FONSECA, 2005, p.54).
Isso permitiu que, com a reformulação da noção de monumento, a noção de patrimônio viesse
a constituir uma categoria socialmente definida, uma herança coletiva especificamente
cultural.
Sobre a noção de monumento, Llull (2005), ao considerar que etimologicamente a palavra
‘monumento’ deriva de monere (do latim), que significa recordar, registra que o uso do termo
justifica não o valor rememorativo, mas também o valor documental dos bens culturais.
Choay (2001) complementa a idéia ao discutir que recordar é trazer à lembrança alguma
coisa, o que confere uma natureza afetiva ao propósito do termo ‘monumento’ de não
apresentar, informar, como também tocar, pela emoção, uma memória viva. Assim, define
que monumento é tudo o que for edificado por uma comunidade de indivíduos para
rememorar ou fazer com que outras gerações de pessoas rememorem acontecimentos,
sacrifícios ou crenças” (CHOAY, 2001, p.18).
À medida que se aproxima a Idade Contemporânea vai sendo ampliado o leque espaço-
temporal para a valorização do patrimônio cultural. Choay (2001) observa, como resultado da
ampliação da valorização do patrimônio cultural, que:
No século XIX [...] a consagração institucional do monumento histórico a este
um estatuto temporal diferente. Por um lado, ele adquire a intensidade de uma
presença concreta. Por outro, é instalado num passado definitivo e irrevogável,
construído pelo trabalho conjunto da historiografia e da (tomada de) consciência
historial das mutações impostas pela Revolução Industrial às habilidades dos seres
humanos (CHOAY, 2001, p.206).
Cabe aqui considerar o que se entende por valorização do patrimônio cultural. Remetendo a
valores que devem ser reconhecidos, valorizar é reconhecer o interesse despertado, a beleza, a
capacidade de atrair. Mas há também conotações econômicas que envolvem este termo, desde
a idéia de acumular objetos antigos e preciosos como forma de alcançar prestígio, como
ocorreu na Antiguidade, até as cifras elevadas em que são avaliados os objetos que se
encontram hoje nos principais museus do mundo e também em coleções particulares. Com
relação aos bens imóveis, esse aspecto econômico adquire novo sentido, que os imóveis
tombados acabam valendo mais por seu significado do que pelo seu valor venal, dadas as
27
restrições apresentadas pela legislação que rege o patrimônio histórico-cultural e que
constituem mais um ponto de observação deste estudo.
Canclini (1994, p.95-96) aponta, já no século XX, um triplo movimento de reconceitualização
do patrimônio que (a) considera que este não inclui apenas a herança de cada povo, as
expressões ‘mortas’ de sua cultura, mas também os bens culturais, visíveis e invisíveis: novos
artesanatos, línguas, conhecimentos, documentação e comunicação do que se considera
apropriado através das indústrias culturais; (b) amplia a política patrimonial de conservação e
administração do que foi produzido no passado aos usos sociais que relacionam esses bens
com as necessidades contemporâneas da maioria; (c) reconhece que o patrimônio de uma
nação, em oposição a uma seletividade que privilegiava os bens culturais produzidos pelas
classes hegemônicas, também se compõe dos produtos da cultura popular.
Quando se discute a ampliação da noção de patrimônio, entram em cena na discussão as
produções dos operários, dos camponeses, dos imigrantes, das minorias étnicas, etc. Fonseca
(2005) lembra que aos bens referentes a esses grupos foram acrescentados os produtos da era
industrial e os remanescentes do mundo rural e discute a dificuldade de compatibilizar a
valoração desses bens com as exigências tradicionais do patrimônio, com relação a seu valor
histórico e artístico. Valoriza, nesse sentido, o papel dos
etnólogos e antropólogos no processo
de legitimação da inclusão dos bens produzidos por esses grupos (operários, camponeses,
minorias étnicas, etc.) no universo patrimonial por seu valor cultural. Velho (1984, p.37)
acredita numa perspectiva relativizadora, característica do pensamento antropológico”.
Para ele, esta forma de pensamento indica que a constatação das diferenças, da diversidade
e, eventualmente, das contradições não implica desconhecer a existência de um sistema
sociocultural mais abrangente, vinculado à própria idéia de nação”. Jeudy (2005) também
aponta o trabalho dos etnólogos na construção de uma visão indulgente e viva das tradições e
dos ritos e sua inserção na categoria de patrimônio cultural, e destaca que:
Foi, por sinal, nessa mesma época
7
, que o patrimônio se tornou uma ‘questão da
esquerda’, um combate pela democracia. Assumindo seu papel de missionário, ou
seja, de proteger, preservar as ‘riquezas simbólicas’ das sociedades modernas, o
etnólogo podia assegurar a resistência aos riscos de uma desintegração do
‘simbólico’, provocado pelos ‘excessos da modernidade’ (JEUDY, 2005, p.34).
7
Henri-Pierre Jeudy se refere à década de 1980.
28
A partir do que foi apresentado acima, torna-se necessário levar em conta, também, o uso
simbólico que os diferentes grupos sociais fazem de seus bens culturais a partir dos diferentes
valores que atribuem a eles como meios para referir ao passado, proporcionar prazer aos
sentidos, produzir e veicular conhecimento(FONSECA, 2005, p.49). As noções de História
e de Arte permeiam a discussão sobre essa atribuição de valores, conforme afirma a mesma
autora:
Esses diferentes valores atribuídos são, na civilização ocidental, regulados por duas
noções que se articulam sobre as categorias de tempo e espaço – a noção de História
e a de Arte. A primeira, enquanto (sic) reelaboração do passado, a segunda,
enquanto (sic) fruição in praesentia. Nesse sentido, os bens que constituem os
patrimônios culturais se propõem como marcas do tempo no espaço (FONSECA,
2005, p.49).
A atribuição de valores é condição própria de cada grupo social que se referencia no passado,
por meio da manutenção de suas tradições e crenças, e se adapta ao presente, repensando as
mesmas crenças à medida que as transformações das suas condições de vida assim exigem.
Em meio às mudanças, para que a gestão pública do patrimônio congregue os valores
atribuídos aos bens culturais, Durham (1984) recomenda que, numa sociedade pretensamente
democrática, uma política oficial em relação ao patrimônio cultural implica a idéia de
patrimônio cultural produzido e apropriado coletivamente. Continua, desta forma, a discussão
sobre o que se deve ou o queo se deve conservar, preservar, proteger. Jeudy (2005)
considera que:
O sentido mais corrente atribuído à conservação patrimonial é o da manutenção da
ordem simbólica das sociedades modernas. A dinâmica de seu objetivo político e
social vem de uma resistência que se manifesta pela consagração cultural dos
vestígios da História contra os riscos de desestruturação. O processo de
reflexividade, que incita toda estratégia patrimonial, consiste em promover a
visibilidade pública dos objetos, dos locais, dos relatos fundadores da estrutura
simbólica de uma sociedade (JEUDY, 2005, p.19-20).
Esse processo de reflexividade sobre o qual Jeudy (2005) apóia sua discussão daria sentido e
finalidade às estratégias de conservação, considerando que o patrimônio é reconhecível à
medida que é gerado por uma sociedade que considera seus locais, objetos e monumentos
como reflexos inteligíveis de sua história e de sua cultura. O autor também considera que um
dos primeiros objetivos da ordem patrimonial é o de expressar a identidade de uma região, de
uma nação, de um acontecimento histórico, e que essa referência obrigatória à identidade,
29
transformada na origem dos procedimentos de reconstituição do passado, ou de sua
preservação, parece se opor ao fenômeno da globalização, funcionando como uma defesa
contra a perda das identidades culturais. Sobre esta questão ele afirma que:
Produzimos, damos forma, vendemos representações de ordem simbólica, uma vez
que o valor simbólico e o valor de mercado do objeto se confundem. Este é um
dilema da gestão contemporânea dos patrimônios: se o patrimônio não dispõe de um
estatuto “à parte”, se ele se torna uma mercadoria como as outras (os bens culturais),
perderá seu poder simbólico. É necessário que, de alguma maneira, o patrimônio
seja excluído do circuito dos valores mercadológicos, para salvar seu próprio valor
simbólico. De imediato a prospectiva patrimonial se confrontada com uma
contradição: por um lado, os patrimônios não podem ser tratados como produtos de
marketing, mas, por outro, não existe desenvolvimento cultural sem
comercialização. Presentemente, as estratégias mais correntes orientam-se na
direção de uma combinação que contenha esta contradição: o que é tido como
sagrado não impede a circulação de valores materiais (JEUDY, 2005, p.20).
Torna-se pertinente, então, abordar a formulação e a aplicação de estudos e políticas sobre
identidade e patrimônio como uma nova orientação por meio da qual, segundo Canclini
(1994), seja possível transcender a simples análise das relações dos grupos com o seu
território originário, com as sedimentações monumentais e institucionais.
Os processos de formação, produção e transformação dos patrimônios simbólicos que
definem os traços de identificação dos grupos têm sido influenciados pelos movimentos
contemporâneos de transnacionalização
8
e desterritorialização
9
da cultura.
3.2 Patrimônio cultural como intervenção no espaço
Para pensar o patrimônio cultural como intervenção no espaço é preciso considerar a sua
origem, a sua relação com a história do lugar e a conseqüente construção da sua condição de
integração desse espaço, incluídas aqui todas as possibilidades de reconhecimento e de uso do
8
Entende-se transnacionalização por fatores, atividades ou políticas comuns a várias nações integradas na
mesma união política ou econômica.
9
O termo desterritorialização é associado à sociedade pós-moderna que é dominada pelos fluxos, pelo
desenraizamento e pelo hibridismo cultural. o diz respeito somente ao desvinculamento ou mesmo ao
desaparecimento dos territórios, pois pode envolver abordagens sobre a adaptação ou a construção de “novos”
territórios, de forma complexa, múltipla e, de certa forma, adequada às exigências da contemporaneidade.
30
patrimônio pela comunidade local, as quais podem ser estendidas aos visitantes na experiência
turística.
O turismo aparece freqüentemente nos debates sobre a proteção do patrimônio, a partir do
momento em que são levados em conta seus efeitos, entre os quais o processo de
“espetacularização” que integra as ações de marketing do destino turístico; o desgaste
provocado pela visitação em excesso, sem o devido controle; o desvirtuamento do uso das
edificações sem a anuência da comunidade local, etc. É pertinente, ainda, localizar e discutir
referências sobre a interface patrimônio cultural/espaço urbano, recorrendo à
institucionalização da proteção aos bens culturais materiais no sentido de sua permanência
física, seu significado histórico e seu valor simbólico.
O patrimônio histórico, cultural, material representado pelas edificações constitui, segundo
Choay (2001, p.12) uma categoria exemplar que se relaciona mais diretamente com a vida
de todos”. A autora registra que, quando foi criada a primeira Comissão dos Monumentos
Históricos, em 1837, na França, foram definidas três grandes categorias de monumentos
históricos: os remanescentes da Antigüidade, os edifícios religiosos da Idade Média e alguns
castelos.
Após a Segunda Guerra Mundial, teve aumento significativo o número de bens inventariados,
embora da mesma natureza, provenientes da arqueologia e da história da arquitetura erudita.
A partir daí, ampliou-se essa classificação com a inclusão de todas as formas de construir,
sejam eruditas, populares, urbanas ou rurais, edifícios públicos e privados, suntuosos e
utilitários. Surgiram novas denominações para as edificações incluídas na classificação:
arquitetura menor, termo proveniente da Itália para designar as construções privadas
não monumentais, em geral edificadas sem a cooperação de arquitetos; arquitetura
vernacular, termo inglês para distinguir os edifícios marcadamente locais;
arquitetura industrial das usinas, das estações, dos altos-fornos [...] (CHOAY, 2005,
p.12) .
Seguindo esse fluxo, a questão patrimonial passou a compreender também os aglomerados de
edificações (casas, bairros, centros históricos) e a malha urbana (aldeias, cidades inteiras), de
acordo com a lista do Patrimônio Mundial estabelecida pela Organização das Nações Unidas
31
para a Educação, a Ciência e a Cultura UNESCO. No texto de apresentação
10
da lista de
2006-07 (World Heritage 2006-07) a UNESCO informa que, de 1972 até hoje, 183 países
ratificaram um tratado de cooperação para a preservação do patrimônio mundial e que a lista
atual inclui 830 propriedades, sendo 644 culturais, 162 naturais e 24 mistas.
O Brasil, país membro desde 1977, participa da lista com 16 bens, sendo nove culturais
(Cidade de Ouro Preto, Centro Histórico da Cidade de Olinda - PE, Centro Histórico da
Cidade de Salvador BA, Santuário de Bom Jesus do Matozinhos Congonhas MG,
Brasília, Centro Histórico de São Luís MA, Centro Histórico de Diamantina MG, Centro
Histórico de Goiânia – GO) e sete bens naturais (Parque Nacional do Iguaçu, Parque Nacional
da Serra da Capivara, Reservas de Mata Atlântica da Costa do Descobrimento, Reservas de
Mata Atlântica da Região Sudeste, Complexo de Conservação da Amazônia Central, Área de
Conservação do Pantanal, Áreas de Proteção do Cerrado Chapada dos Veadeiros e Parque
Nacional das Emas, Ilhas Brasileiras do Atlântico Reservas de Fernando de Noronha e Atol
das Rocas)
.
Dos nove bens culturais brasileiros inscritos na lista do patrimônio mundial da UNESCO, seis
são centros históricos de cidades brasileiras, dois são cidades inteiras Ouro Preto e Brasília,
e o nono é um santuário inserido no espaço urbano. Em todos os casos, é marcante a presença
do patrimônio cultural material representado pelas edificações de valor histórico e artístico ou
por obras que as integram ou complementam.
Voltando um pouco no tempo, é imprescindível destacar o primeiro movimento mundial
embora dele tenham participado países europeus organizado e institucionalizado para a
conservação e a restauração de monumentos históricos. A Carta de Atenas
11
, resultante do
Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos de Monumentos Históricos, sob a tutela do
Escritório Internacional dos Museus Sociedade das Nações, realizado em Atenas, em 1931,
foi o primeiro documento internacional a se dedicar aos princípios gerais e às doutrinas
10
The United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization (UNESCO) works with countries
around the world to identify and protect cultural and natural places that merit recognition as part of the
common heritage of humankind. UNESCO adopted the Convention concerning the Protection of the World
Cultural and Natural Heritage in 1972. Since then, 183 countries had ratified the treaty, and at present 830
properties are inscribed on the list 644 of which are cultural, 162 natural and 24 mixed (a combination of the
two). They are noted here in alphabetical order by country and in the order they were listed”. Disponível em:
<http://whc.unesco.org/documents/publi_whmap_2006_list_en.pdf>. Acesso em: 17 mar. de 2007.
11
IPHAN. Carta de Atenas. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=232>.
Acesso em: 31 jan. 2007.
32
referentes à proteção dos monumentos históricos e/ou artísticos. Seus termos consideram a
racionalização de procedimentos e normas para a preservação e a conservação de
monumentos no sentido da perpetuação de suas características históricas e culturais.
Destacam-se entre suas recomendações:
- a adoção de uma manutenção regular e permanente, apropriada para assegurar a
conservação dos edifícios (as cnicas modernas de construção devem respeitar o aspecto e o
caráter do edifício a ser restaurado);
- que prevaleça o direito da coletividade sobre a propriedade privada, mas esta
relação deve ser adaptada às circunstâncias locais e à opinião pública, sendo que em cada
Estado a autoridade pública deve estar investida do poder do tomar, em caso de urgência,
medidas de conservação;
- o respeito, na construção dos edifícios, ao caráter e à fisionomia das cidades,
sobretudo na vizinhança dos monumentos antigos, onde devem ser suprimidas interferências
visuais como publicidade, excesso de fios elétricos, etc.
- a colaboração entre os Estados, agindo no espírito do Pacto da Sociedade das
Nações, cada vez mais concretamente para favorecer a conservação dos monumentos de arte e
de história;
- o voto de que os educadores habituem a infância e a juventude a não danificar os
monumentos, quaisquer que eles sejam, e lhes façam aumentar o interesse, de uma maneira
geral, pela proteção dos testemunhos de toda a civilização;
- cada Estado deve publicar um inventário dos monumentos históricos nacionais e
constituir arquivos onde serão reunidos todos os documentos relativos a seus monumentos
históricos.
As recomendações da Carta de Atenas exerceram e continuam exercendo influência sobre as
legislações nacionais de proteção ao patrimônio e, na seqüência, estimularam a realização de
outras convenções como a de Veneza, de 1964, da qual também participaram três países não
europeus, a Tunísia, o México e o Peru, e culminaram na assinatura da Convenção para a
Proteção do Patrimônio Mundial por oitenta países dos cinco continentes, em 1972.
Ações de manutenção regular e permanente para assegurar a conservação de edifícios; novas
construções que respeitem o caráter e a fisionomia das cidades, principalmente na vizinhança
dos monumentos antigos; a educação para a valorização e a preservação do patrimônio e a
33
constituição de inventários são recomendações da Carta de Atenas que se aplicam à discussão
contemporânea do patrimônio cultural como intervenção no espaço urbano.
Choay (2001, p.15) menciona que custo de manutenção, inadequação aos usos atuais e
paralisação de outros grandes projetos de organização do espaço urbanosão fatores que
incitam confrontos diante da necessidade de inovar e das dialéticas da destruição que, ao
longo dos séculos, fizeram novos monumentos se sucederem aos antigos”. Vários são os
exemplos de obras que foram suprimidas da paisagem urbana para dar lugar a outras, em um
processo inevitável de ressignificação social, econômica, política e cultural. Opções políticas
pressionando e pressionadas por quadros sociais decorrentes de situações econômicas acabam
por exigir adaptações culturais e vice-versa, em um processo contínuo, porém não uniforme
de transformação da sociedade em todos os seus aspectos. Sobre essa questão, Barretto (2002)
comenta:
As políticas preservacionistas referentes ao patrimônio arquitetônico tendem a não
deixar tocar os bens, a preservá-los, no sentido estrito da palavra, a resguardá-los, o
que implica, muitas vezes, deixar os prédios fechados. Quando essas políticas são
aplicadas a edificações que são propriedade do Estado, o problema se minimiza,
mas, quando são aplicadas a bens de particulares, uma colisão com os interesses
da área imobiliária, que podem levar, como tem acontecido, a ações extremas por
parte dos proprietários (BARRETTO, 2002, p.14).
Uma outra Carta de Atenas
12
, esta produzida em novembro de 1933 na quarta edição do
Congresso Internacional de Arquitetura Moderna CIAM, tratava de generalidades,
diagnósticos e conclusões sobre os problemas urbanísticos das principais metrópoles do
mundo. De acordo com Pelegrini (2006a, p.3), esta Carta de Atenas constituiu uma das mais
importantes abordagens acerca da relação entre a preservação do patrimônio histórico e a
crescente expansão das cidades, pois insere a questão no âmbito do planejamento físico e
territorial das áreas urbanas”.
A partir do debate sobre os paradigmas da arquitetura moderna em relação aos problemas
decorrentes do crescimento acelerado das grandes cidades, com base nas experiências de 33
metrópoles dispersas pelo mundo - com a pretensão de que a discussão alcançasse uma
12
IPHAN. Carta de Atenas – CIAM – novembro de 1933. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal>.
Acesso em: 31jan. 2007.
34
dimensão universal -, o texto da Carta de Atenas de 1933 manifestava o reconhecimento de
que:
a combinação de fatores políticos, sociais e econômicos pudesse alterar os destinos
das cidades, mas, principalmente, na positividade da arquitetura e do urbanismo
como fator de mudança, capaz de promover o reordenamento das cidades, a saúde
física e mental do indivíduo e da coletividade que as habitavam. Daí a ênfase no
potencial da arquitetura e da planificação como definidores da forma da cidade e a
crença nas qualidades redentoras do desenho, consideradas capazes de promover a
solução dos problemas urbanos (PELEGRINI, 2006a, p.3).
As duas questões principais que pautavam o documento eram a articulação entre cidade e
região e a situação das cidades em decorrência dos impasses causados pela densidade
demográfica e pelas condições de habitação nas cidades industriais. Tendo como pretensão
criar condições para a promoção da qualidade de vida e da segurança nas cidades, a Carta de
Atenas do IV CIAM atribuía à cidade quatro funções: habitação, trabalho, circulação e
recreação
13
.
A Carta de Veneza, documento produzido em 1964 no II Congresso Internacional de
Arquitetos e Técnicos em Monumentos Históricos, organizado pela UNESCO, representou
uma mudança significativa na noção de preservação defendida pela Carta de Atenas de 1933:
a superação da noção de monumento como obra arquitetônica independente, isolada,
e a consideração explícita do espaço urbano em que está inserido, bem como a
atribuição de valor a edificações modestas que adquiriram, ao longo do tempo,
significado cultural. Destaca-se o caráter histórico e o meio como inseparáveis de
qualquer monumento (ARAÚJO et al, 2002, p.36).
Essa mudança revela uma ampliação do conceito de bem cultural, aquele que merece ser
preservado e conservado, e introduz a concepção de que a história é construída de forma
contínua e dinâmica pelo povo de uma Nação.
O contexto acadêmico e político contemporâneo, nas últimas décadas, explica o
interesse crescente pelo patrimônio como bem cultural a ser gerido com a
colaboração entre os estudiosos e as comunidades, tendo em vista a diversidade
cultural da humanidade. Estas preocupações derivam das lutas pelos direitos
humanos e sociais que resultaram nas cartas patrimoniais [...]. No Brasil, o período
ditatorial (1964-1985) retardou a discussão crítica da relação entre a ciência e os
grupos sociais, em sua diversidade, mas, nos últimos vinte anos, multiplicaram-se as
normativas de proteção do patrimônio cultural e ambiental e as iniciativas de gestão
13
IPHAN. Carta de Atenas – CIAM – novembro de 1933. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br/portal>.
Acesso em: 31 jan. 2007
35
com as comunidades expandiram-se de forma significativa (FUNARI;
DOMÍNGUEZ, 2005, p.7).
As cartas patrimoniais influenciaram a discussão sobre o patrimônio cultural no Brasil, com
recomendações que ampliaram a noção de monumento, associando-o a seus contextos, sejam
rurais ou urbanos. Suas diretrizes foram fundamentais para que fossem redefinidas as práticas
de preservação no País, considerando-se merecedores de atenção e de proteção também os
entornos dos edifícios protegidos. Segundo Leite (2004, p.54), a noção de ambiência
circunscreve o bem, que no caso do patrimônio edificado das cidades se traduz, sobretudo,
na prática de intervenção a partir do reconhecimento do valor urbanístico (e sua
potencialidade comercial para o turismo) do bem ou conjunto a ser preservado”.
Em 1975, a Declaração de Amsterdã reafirmou a proteção de conjuntos tirou-se o foco do
conceito de monumento único e incluiu nos bens merecedores de proteção os itens relativos
à diversidade cultural dos povos. O documento incorporava, segundo Araújo et al (2002),
duas novas abordagens respaldadas pela transformação do entendimento e do significado de
espaço urbano: uma que considera a preservação como continuidade histórica para
manutenção ou criação de um quadro de vida que permita que o homem encontre a sua
identidade; e outra que a preservação como um dos principais objetivos do planejamento
urbano e de uma política de ordenação do território.
Nos anos seguintes, a Convenção de Nairobi (1976) e o Colóquio de Quito (1977) reforçaram,
respectivamente, a função da salvaguarda dos conjuntos históricos na vida contemporânea
como testemunhos tangíveis da riqueza e da diversidade das criações culturais, e o
pertencimento dos centros históricos enquadrados como patrimônio cultural a todos os setores
sociais que os habitam. (ARAÚJO et al, 2002)
As convenções internacionais e seus documentos e cartas patrimoniais constituem registros
significativos sobre a presença e o papel do patrimônio cultural no espaço urbano, tema de
discussão a partir de perspectivas distintas por sua especificidade. Historiadores, arquitetos,
urbanistas e profissionais da área da cultura tentam construir seus discursos projetando a sua
ótica sobre a cidade. Com relação a ela, Arantes (2001, p. 121) afirma que as intervenções
urbanas vêm se dando de forma pontual, restrita, por vezes intencionalmente modesta,
36
buscando uma requalificação que respeite o contexto, sua morfologia ou tipologia
arquitetônica, e preserve os valores locais”.
O processo de requalificação, geralmente questionável quando se identifica a origem e a
condução das tomadas de decisão, implica uma relocação forçada da população que, de
usuária tradicional pode ser convertida em turista ocasional. Arantes (2001, p.125) considera
que os centros restaurados acabaram se convertendo em cenários para uma vida urbana
impossível de ressuscitar” e cita o pensamento de Jeudy (1990) sobre uma cenografia
gestionária da cidade, uma teatralização da vida cotidiana que reduz a história da cidade à
estética da memória.
3.3 Interação da comunidade com o espaço urbano
3.3.1 Transformações no cenário urbano
O cenário urbano vem se constituindo e se transformando, no decorrer da história, como
realização humana, reflexo da civilização. Da cidade medieval às grandes metrópoles
contemporâneas, a economia, a política, as questões sociais e culturais marcaram sua
influência na imagem urbana. As exigências do tempo com relação à habitação, à circulação,
às trocas sociais, ao trabalho e ao lazer configuraram e ainda reconfiguram o espaço da
cidade. Ferrara (1990)
14
destaca um marco nessa trajetória de transformação da cidade:
Conforme muitos diagnósticos conhecidos, a segunda metade do século XX sofre o
impacto de uma cultura e consumo de massa possibilitados pelo acesso à
informação, via televisão, e ao produto, via um processo crescente e diversificado do
mundo industrial e da superprodução. Esta realidade traz conseqüências em todos os
prismas da sociedade contemporânea e a imagem da cidade apresenta os sinais
inelutáveis desse desafio social.
14
FERRARA, Lucrécia D’Allessio. As máscaras da cidade. Revista USP, São Paulo, nº 4, dezembro/1989-
fevereiro/1990. Disponível em: <http://www.usp.br/revistausp/n5/lucrecia.html> Acesso em: 15 out. 2006.
37
As transformações no cenário urbano geram expectativas e reações diversas. Do ponto de
vista estético, podem causar polêmica e conquistar admiradores ou críticos rigorosos. Do
ponto de vista funcional, podem facilitar ou complicar o uso cotidiano do espaço da cidade.
As noções do que é público e do que é privado colocam nas mãos dos órgãos da
administração municipal a responsabilidade de estabelecer regras e limites e apresentam à
população as possibilidades de circulação, de permanência, de instalação. Com relação a isso,
na concepção de Hertzberger (1999):
Os conceitos de “público” e “privado” podem ser interpretados como a tradução em
termos espaciais de “coletivo” e “individual”. Num sentido mais absoluto, podemos
dizer: pública é uma área acessível a todos a qualquer momento; a responsabilidade
por sua manutenção é assumida coletivamente. Privada é uma área cujo acesso é
determinado por um pequeno grupo ou por uma pessoa, que tem a responsabilidade
de mantê-la (HERTZBERGER, 1999, p.12).
Esta oposição entre o público e o privado não pode, porém, ser entendida apenas em termos
absolutos – embora reflita “uma polarização entre a individualidade exagerada, de um lado, e
a coletividade exagerada, de outro(HERTZBERGER, 1999, p.12) que pode ser observada
no mundo contemporâneo. As questões cotidianas ligadas às possibilidades de acesso e à
responsabilidade pelos espaços da cidade acabam criando uma outra perspectiva para tentar
entender os conceitos de “público” e “privado”, uma perspectiva construída em termos
relativos. Uma dessas possibilidades pode referir-se a um espaço que seja acessível a todos,
mas cuja responsabilidade pela manutenção seja assumida por uma pessoa, um pequeno
grupo, uma instituição. Cabe aqui questionar sobre que tipo de manutenção se está falando:
aquela que diz respeito a oferecer condições adequadas de uso e garantir a segurança dos
freqüentadores; aquela que se refere ao comportamento do usuário, que pode contribuir para
que sejam mantidas as condições de limpeza e conservação do local; ou os dois tipos juntos?
Para responder a isto, recorre-se novamente a Hertzberger (1999, p.12), que diz: É sempre
uma questão de pessoas e grupos em inter-relação e compromisso mútuo, i.e., é sempre uma
questão de coletividade e indivíduo, um em face do outro”.
As transformações do espaço urbano também podem ser percebidas de forma individual ou
coletiva, considerando o significado social de uma área da cidade, assim como sua função, sua
história, seus objetos físicos perceptíveis. Sobre isso, Lynch (1997, p.51) faz a seguinte
consideração:
38
Parece haver uma imagem pública de qualquer cidade que é a sobreposição de
muitas imagens individuais. Ou talvez exista uma série de imagens públicas, cada
qual criada por um número significativo de cidadãos. Essas imagens de grupo são
necessárias sempre que se espera que um indivíduo atue com sucesso em seu
ambiente e coopere com seus concidadãos. Cada imagem individual é única e possui
algum conteúdo que nunca ou raramente é comunicado, mas ainda assim ela se
aproxima da imagem pública que, em ambientes diferentes, é mais ou menos
impositiva, mais ou menos abrangente (LYNCH, 1997, p.51).
Os estudos sobre o espaço urbano foram construídos ao longo do tempo com base nas idéias
de racionalidade, funcionalidade, salubridade, eficiência e ordenação de funções,
considerando o conjunto da sociedade. Arantes (2001, p.136) comenta que: Nos dias atuais,
tudo parece obedecer ao princípio máximo da flexibilização. Daí o primado do desenho do
traçado urbano ao design dos microespaços e do tipo de representação simbólica que lhe
corresponde”. Isso indica que a idéia de planejamento da cidade, embora obedecendo a
normas e princípios totalizantes, tende a se fragmentar de acordo com especificidades de áreas
da cidade no sentido de sua requalificação para registros e usos determinados.
Nesta dissertação, entende-se por requalificação a opção por práticas intervencionistas que
visam à renovação urbana como incremento socioeconômico, de forma que as áreas
“renovadas“ possam desencadear novos processos de desenvolvimento que favoreçam o bem-
estar da população, oferecendo alternativas de uso e de ocupação. O conceito é questionável,
assim como o são os efeitos dos processos de requalificação de áreas urbanas, como o
fenômeno da gentrificação
15
, por exemplo. a pretensa atração de empreendimentos
representativos para os locais contemplados pela requalificação e, como conseqüência, a
estrutura interna das cidades geralmente é abalada, mesmo que sutilmente. Henri-Pierre Jeudy
(2005) acredita que não haja nada de sutil nas conseqüências desses processos de
15
Entende-se por gentrificação os processos de transformação do espaço urbano, criticados por estudiosos do
urbanismo e do planejamento urbano por seu caráter excludente e privatizador, embora apresentem como
argumentos favoráveis redução do crime, novos investimentos na restauração de edifícios e na infra-estrutura,
com o conseqüente estímulo à atividade econômica no local. Nesses processos, classes sociais mais abastadas
são atraídas, por razões diversas como proximidade do trabalho ou novos valores culturais, para regiões que
receberam projetos de renovação urbana, o que acaba desencadeando a “expulsãoda população de baixa renda
original do local. (Fonte: What is Gentrification? Disponível em:
<http://www.pbs.org/pov/pov2003/flagwars/special_gentrification.html>. Acesso em: 01 ago. 2006.) O
sociólogo e doutor em Ciências Sociais Rogério Proença Leite (2004, p.19-20) entende que o termo gentrificação
designa a transformação dos significados de uma localidade histórica em um segmento do mercado,
considerando a apropriação cultural do espaço a partir do fluxo de capitaise considera que esse processo tem
resultado, muitas vezes, em uma relocalização estética do passado, cujo padrão alterado de práticas que
mimetizam o espaço público torna o patrimônio passível de ser reapropriado por alguns segmentos da
população e por seus visitantes” (LEITE, 2004, p.20)
39
transformação entendidos como requalificação, nem nos espaços transformados pela
“obsessão da restauração”:
A cidade excede a representação que cada pessoa faz dela. Ela se oferece e se retrai
segundo a maneira como é apreendida. Uma certa nostalgia parece nos fazer
acreditar que a cidade não corresponde mais ao signo porque se teria tornado
excessivamente percebida graças aos símbolos de sua monumentalidade exibida.
Nos centros históricos, os bairros restaurados e as fachadas rebocadas com suas
velhas insígnias evocam a cidade perdida, uma cidade mítica da qual não mais
encontraremos, olhando ao acaso, os poucos vestígios ainda escondidos, pois foram
todos recuperados. A limpeza dos monumentos, desses edifícios urbanos que
representam a história da cidade e sua inscrição no tempo, não faz senão consagrar o
poder da uniformização patrimonial. Contudo, a proliferação dos signos em uma
cidade permanece vertiginosa. Os signos se multiplicam e se fazem signos. Apesar
da obsessão da restauração, uma certa desordem visual persiste e convida o cidadão
a criar seus próprios modos de leitura da cidade (JEUDY, 2005, p.81).
Para esse autor, sob uma outra perspectiva, os projetos de arquitetura concretizados se
transformam em expressões de uma urbanidade integrada, integrando-se ao território como
signo patrimonial de uma época. Obras que são imposições de gestores urbanos podem não
agradar esteticamente aos cidadãos, mesmo que “plenamente” justificadas por tendências de
estilo, necessidades de atualização, ou mesmo questões de ordem econômica ou política.
Mesmo assim, ao longo do tempo, acabam sendo incorporadas à imagem da cidade e
adquirem novos significados na leitura que cada pessoa faz do espaço que ocupa e por onde
circula, sendo capaz de perceber, registrar e manifestar-se sobre aquilo que vê.
A dinâmica constante de construção da cidade desencadeia processos destrutivos, associados
a adaptações que se fazem necessárias à medida que mudam as necessidades e os interesses da
comunidade e dos gestores urbanos. Os efeitos das destruições são físicos e, muitas vezes,
também culturais, quando o objeto da destruição é portador de valor simbólico para um grupo
significativo da população local, geralmente relacionado com a origem da cidade em sua
totalidade ou em aspectos específicos, como uma fábrica, uma igreja, uma praça que foi
palco de algum acontecimento memorável.
Paradoxalmente, são os processos construtivos da cidade que, também, ameaçam e
destroem a cidade cultural, as referências da memória coletiva, as representações de
mundo, o patrimônio arquitetônico, estético, histórico, as ambiências e os cenários
importantes da vida da comunidade, com repercussão direta ou indireta na geração e
no consumo de bens e serviços culturais. De outra parte, é a própria cultura que
investe contra a cidade física, impondo a substituição de espaços de sociabilidade,
sepultando, pelo inconsciente coletivo, formas e escalas e formando novos mapas de
geografia cultural que levam à deterioração espaços consolidados e à emergência de
40
novas centralidades pela relação funcional cultura e espaço, ou seja, pela
consagração de novos locus de reforço à identidade (PIRES, 2002, p.146).
A definição de novas centralidades, ou seja, de novas referências espaciais para as quais se
voltam as atenções e para as quais se propõem novos usos, reinventa lugares, inserindo-os na
história da cidade por meio de um mecanismo de recontextualização, em que o novo é exigido
como um registro necessário da própria transformação da cidade em função da passagem do
tempo. Entre destruições e construções polêmicas, faz-se a história da arquitetura e do
urbanismo como um registro da sucessão de contextos e influências que envolvem a
sociedade.
3.3.2 Apropriação do espaço urbano
A compreensão do espaço urbano, considerando a sua complexidade de aspectos e funções,
envolve, além das suas características físicas observáveis, uma rede de significados que a ele
são atribuídos, em diferentes tempos e contextos político-econômicos e socioculturais.
Rapoport (1978) considera que, ainda que seja uma parte muito importante do meio ambiente,
o espaço não é um conceito simples e unitário, ele vai além da sua realidade física e
tridimensional e se revela em diferentes “classes” de percepção: espaços humanos e não-
humanos, espaços planejados e não-planejados, espaços sagrados e espaços profanos, entre
outras classificações que indicam, na verdade, o caráter simbólico do espaço. Nesse sentido, o
mesmo autor considera que os espaços podem ser classificados de acordo com o
comportamento dos diferentes grupos que o ocupam e que conferem a ele significados
simbólicos. Assim, o espaço que é usado por grupos sociais e reflete a estrutura de sua
percepção e de seu comportamento é denominado de “espaço social”. Esses grupos
estabelecem seus espaços conceituais, sociais e de comportamento por meio dos sinais e
símbolos do meio ambiente, o qual incorpora valores indiretamente através de espaços vazios,
construções, paisagens, comportamentos, atividades e relações que nele se constroem.
Menos genérica e abrangente que a noção de ‘espaço’, Leite (2004, p.35) destaca a noção de
‘lugar’: podemos entender os lugares como demarcações físicas e simbólicas no espaço,
41
cujos usos os qualificam e lhes atribuem sentidos de pertencimento, orientando ações sociais
e sendo por estas delimitados reflexivamente”. Considerando que o espaço da cidade é
constituído por uma sucessão – em alguns casos, uma sobreposição – de lugares, para discuti-
la é preciso ter como base a sua complexidade e a sua diversidade.
Segundo Jacobs (2000, p.158), para compreender as cidades, precisamos admitir de
imediato, como fenômeno fundamental, as combinações ou as misturas de usos, não os usos
separados”. A autora continua a sua reflexão considerando as cidades grandes como
geradoras naturais de diversidade e fecundas incubadoras de empreendimentos e idéias de
todo tipo. Para ela, as combinações de usos diversos nas cidades representam uma forma de
organização complexa e altamente desenvolvida e oferecem a possibilidade de apresentar um
conteúdo com diferenças autênticas que expressam:
[...] o entrelaçamento de manifestações humanas. muita gente fazendo coisas
diferentes, com motivos diferentes e com fins diferentes, e a arquitetura reflete e
expressa essa diferença, que é mais de conteúdo que somente de forma. Por serem
humanas, as pessoas são o que mais nos interessa. Na arquitetura, tanto quanto na
literatura e no teatro, é a riqueza da diversidade humana que vitalidade e colorido
ao meio humano [...] (RASKIN
16
apud JACOBS, 2000, p. 252).
Com o objetivo de observar e analisar a presença dessa diversidade humana como fator de
influência sobre o espaço urbano, na medida em que atores sociais locais são os sujeitos da
ação que se desenvolve no cenário da cidade - embora sejam, muitas vezes, objetos, ao serem
atingidos por transformações inevitáveis, como no processo de turistificação, fenômeno
gerado por atores sociais externos -, entende-se que a apropriação do espaço urbano pela
comunidade revela mais sobre o ambiente do que o que pode ser percebido por suas
características físicas.
Recorrendo ao Dicionário Houaiss
17
da Língua Portuguesa, tem-se que o verbo apropriar,
além de significar tomar para si, apoderar-se, diz respeito a tornar próprio ou conveniente.
Esta acepção se aplica à discussão com relação às formas de apropriação do espaço urbano
pela comunidade. Ao tomar um espaço da cidade como próprio, adequado, conveniente, a
população estabelece vínculos e cria identificações, de acordo com seu universo simbólico.
16
RASKIN, Eugene. Sequel to cities; what happens when cities are extinct. New York: Bloch Pub. Co., 1970.
17
HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de
Janeiro: Objetiva, 2001.
42
O homem necessita de sistemas simbólicos para ordenar e dar sentido ao seu mundo.
Ele classifica, diferencia e elege alguns sistemas para alcançar essa ordenação. A
arquitetura configura-se como um mediador simbólico possível, que permite ao
homem estabelecer essa ordenação, expressando fisicamente seus valores e
concepções de mundo (RIBEIRO, 2003, p. 47).
Na medida em que elementos que constituem o espaço da cidade apresentam significados
culturais, a eles é atribuído um valor especial e, nessa condição, passam a constituir também
uma referência simbólica para a cultura local (DIAS, 2006).
O espaço urbano e a arquitetura que nele se instala se complementam para que o usuário da
cidade desenvolva suas ações, faça suas escolhas e crie seus mecanismos de orientação e
identificação. A visão de Ribeiro (2003, p. 48) complementa esta questão: a arquitetura
revela significados gerais em relação aos quais cada pessoa ou grupo de pessoas interpreta
sua experiência vivenciada no espaço e a organiza espacialmente dentro de certo contexto
cultural”.
A relação da população com a sua cidade é definida tanto pela forma com que a cidade se
apresenta como pelo uso que dela fazem as pessoas. A forma da cidade sugere funções e a
definição de funções pode determinar usos. Da mesma maneira, uma mudança nos usos pode
determinar alterações na forma e originar outras funções. Lynch (1997) considera que:
Existem, porém, algumas funções fundamentais, que as formas da cidade podem
expressar: circulação, usos principais do espaço urbano, pontos focais chaves. As
esperanças, os prazeres e o senso comunitário podem concretizar-se. Acima de tudo,
se o ambiente for visivelmente organizado e nitidamente identificado, o cidadão
poderá impregná-lo de seus próprios significados e relações. Então se tornará um
verdadeiro lugar, notável e inconfundível. (LYNCH, 1997, p. 101-102)
Ao impregnar o ambiente da cidade de significados, os cidadãos estabelecem relações
particulares com o espaço gerando para ele representações múltiplas. Para Jeudy (2005, p.84),
ao nos ensinar a viver a simultaneidade temporal e espacial, a cidade oferece
provavelmente a mais bela experiência da soberania estética, uma vez que ela jamais obtém
sua identidade aparente dos efeitos do totalitarismo da representação”. Apesar das
tendências tecnocráticas de configurá-la racionalmente, a partir de preceitos arquitetônicos e
43
urbanísticos de organização, a cidade constitui, para o cidadão, uma possibilidade de
apreensão intuitiva e sentimental.
O poder sentimental imposto pela cidade não tem paralelo com nenhum julgamento
objetivo. A relação estética que nós mantemos com o mundo, ou que o próprio
mundo provoca, essa relação movimentada, sempre incerta, tem como origem a
experiência cotidiana da cidade. E nosso corpo ora se inscreve no espaço público,
ora joga com uma certa distância desta pluralidade de pontos de vista. Pois é
exatamente ele o nosso corpo que não pára de construir anamorfoses na cidade,
ao se dispor a suportar alguma perturbação em seus hábitos de representação
(JEUDY, 2005, p.84).
Essa idéia de construção de anamorfoses
18
revela uma das possibilidades de interação e
apropriação da comunidade com relação ao espaço urbano, sendo as lentes ou espelhos
determinados pelo complexo contexto socioeconômico, histórico-cultural e político que afeta
hábitos, estimula comportamentos e provoca reações. Nas metrópoles, a complexidade e a
heterogeneidade do espaço ampliam essas possibilidades e dificultam a sua análise. Torna-se
necessária a fragmentação resgatada no pensamento de Arantes (2001) e comentada no item
3.2 desta dissertação para que se possa delimitar objetos de estudo passíveis de identificação e
produtivos para a discussão do uso da cidade pela população.
Passa-se agora a considerar a forma de uso do espaço urbano especialmente considerada neste
estudo, o turismo, na tentativa de compreender os efeitos da sua aplicação sobre o espaço
construído e ocupado na dinâmica de uma cidade, o qual é reconfigurado fisicamente e
afetado simbolicamente por processos de ressignificação.
3.3.3 Turismo e espaço urbano
Antes de relacionar turismo e espaço urbano, é pertinente a experiência de buscar alcançar a
compreensão do termo “turismo”, a partir das definições que foram construídas por estudiosos
da área e de outras áreas afins ao longo dos tempos. Para buscar uma definição de turismo,
18
Representação de figura (objeto, cena, etc.) de maneira que, quando observada frontalmente, parece distorcida
ou mesmo irreconhecível, tornando-se legível quando vista de um determinado ângulo, a certa distância, ou
ainda com o uso de lentes especiais ou de um espelho curvo. (Fonte: HOUAISS, Antônio e VILLAR, Mauro de
Salles. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001)
44
considera-se inicialmente que as várias tentativas de conceituar esse fenômeno conduzem à
construção do entendimento do que seja turismo, não havendo uma única e gida perspectiva
de análise, principalmente quando se leva em conta o caráter multidisciplinar da matéria.
De acordo com a Organização Mundial do Turismo - OMT (1998), o turismo, como tema de
investigação acadêmico-científica, começou a despertar interesse no período entre guerras
(1919-1938), a partir da publicação dos primeiros trabalhos desenvolvidos por economistas.
Em 1942, Hunziker e Krapf
19
(apud OMT, 1998) definiram turismo como a soma dos
fenômenos e de relações que surgem das viagens e das estadas dos não residentes, desde que
não estejam ligados a uma residência permanente nem a uma atividade remunerada
20
,
definição considerada ampla e pouco esclarecedora. Na seqüência das discussões sobre o
tema, novas definições foram buscadas, como a de Burkart e Medlik
21
(apud OMT, 1998, p.
43), segundo a qual o turismo é compreendido como os deslocamentos curtos e temporais das
pessoas para destinos fora de seu lugar de residência e de trabalho, e as atividades
empreendidas durante a permanência nesses destinos.
Na perspectiva da OMT (1998), essa definição não contempla conceitos modernos de turismo,
como as viagens a negócios ou as férias em segunda residência, e ainda é questionável o que
se entende por “deslocamentos curtos”. Em 1982, Mathieson e Wall
22
(apud OMT, 1998, p.
44) modificaram a definição anterior, acrescentando a ela aspectos como a limitação do
deslocamento das pessoas a um período inferior a um ano e as facilidades criadas para
satisfazer as necessidades dos turistas. Na tentativa de formalizar todos os aspectos da
atividade turística, a partir de 1994 a OMT passou a adotar a seguinte definição: O turismo
compreende as atividades que as pessoas realizam durante suas viagens e estadas em lugares
distintos de seu entorno habitual, por um período de tempo consecutivo inferior a um ano,
com finalidade de lazer, negócios e outros
23
.
19
HUNZIKER, W.; KRAPF, K. Algemeine frendenverkehrslehre. Zurique: s.i., 1942
.
20
Turismo é “la suma de fenómenos y de relaciones que surgen de los viajes y de las estancias de los no
residentes, en tanto en cuanto no están ligados a una residencia permanente ni a una actividad remunerada
(HUNZIKER y KRAPF apud OMT, 1998, p. 43)
21
BURKART, A. J.; MEDLIK, S. Tourism: Past, Present and Future. London: Heinemann, 1981.
22
MATHIESON, A.; WALL, G. Tourism: Economic, Physical and Social Impacts. London: Longman, 1982.
23
El turismo comprende las actividades que realizan las personas durante sus viajes y estancias en lugares
distintos al de su entorno habitual, por un período de tiempo consecutivo inferior a un año con fines de ocio, por
negocios y otros”. (OMT, 1998, p. 44)
45
A definição adotada pela OMT se apresenta como mais ampla e flexível na medida em que
contempla a introdução dos possíveis elementos motivadores da viagem, da delimitação do
tempo a um período inferior a um ano, da delimitação da atividade desenvolvida antes e
durante o período de estada no destino, da localização da atividade turística como uma
atividade que é realizada fora do entorno habitual de quem viaja (OMT, 1998).
Na perspectiva teórica de observação do fenômeno turístico, não se pode dizer que o turismo
constitua uma ciência, pois, conforme Boullón (2002):
Para que a acumulação de conhecimentos sobre algum tema progrida até alcançar a
categoria de ciência, é necessário que tais conhecimentos cumpram uma série de
requisitos que, a nosso ver, não foram alcançados pelo turismo. [...] A precisão, a
ordem e a relação lógica entre os conceitos básicos são pressupostos inevitáveis para
que o pensamento possa elaborar outros conceitos derivados dos anteriores, que
sejam mais específicos, de modo que o conjunto explique teoricamente algum fato
da realidade (BOULLÓN, 2002, p.19).
Para justificar sua posição, esse autor menciona que o turismo não nasceu de uma teoria, mas
de uma realidade, e que foi acumulando aspectos a partir de descobertas em outras áreas; que
o turismo não se desenvolveu a partir da análise de dados empíricos, da elaboração de teorias
primárias fundadas na observação; que não se conhece cientista autônomo que tenha
produzido e difundido um corpo teórico sobre um determinado enfoque turístico; que os que
afirmam ser o turismo uma ciência não sabem explicar a que tipo de conhecimento ele
pertenceria. Em contrapartida, Boullón (2002) afirma a necessidade que o setor turístico tem
de estabelecer um corpo teórico consistente por meio do enquadramento adequado do
fenômeno turístico, considerando que sua alternativa analítica situa-se no âmbito da pesquisa
aplicada à área de uma das especialidades das ciências básicas e indicando como adequado:
primeiro, classificar o turismo como um saber situado no âmbito do conhecimento
natural das coisas, porque nesse vel encontram-se as interpretações, deduções e
procedimentos mais utilizados em sua operação e explicação e, segundo, admitir que
seu progresso medular será possível por meio das ciências sociais, motivo pelo
qual deveria ser estudado como um capítulo destas, e não como um conhecimento
autônomo. Por mais que nos esforcemos, não podemos conceber a atual nem a futura
existência das ciências do turismo em si mesmas, embora entendamos, sem dúvida,
o turismo como fenômeno social, e acreditemos na eficiência da pesquisa social para
determinar sua essência e resolver sua complexa problemática (BOULLÓN, 2002, p.
23-24).
46
Na perspectiva da ação, da prática, ao analisar se o turismo pode ser entendido como
indústria, Boullón (2002) descarta a sua participação no setor primário das atividades
produtivas, considerando que não extrai nem produz os atrativos naturais que “utiliza”. Com
relação ao setor secundário, para pertencer a ele o turismo deveria ser um produto da indústria
ou da construção. O mesmo autor prossegue na sua análise comentando que uma das formas
mais difundidas para referir-se ao turismo é aquela que o denomina ‘indústria sem
chaminés’” (BOULLÓN, 2002, p.31), o que se pode deduzir do estudo do turismo a partir dos
seus resultados econômicos pelo significativo ingresso de divisas representado pelos viajantes
de outros países. Essa visão apresenta-se equivocada, pois, sendo a indústria uma atividade de
transformação que emprega numerosos recursos como matéria-prima ou outros produtos
industriais intermediários, esta concepção não se aplica ao turismo que este não constitui
um produto final ou intermediário do processo industrial. Resta, então, a possibilidade de
considerar o turismo como uma atividade do setor terciário, constituído pelo comércio e pela
prestação de serviços, considerando-o como:
uma forma de consumir, algo assim como um canal para o qual conflui uma
demanda especial de muitos tipos de bens e serviços elaborados por outros setores,
além do consumo de alguns serviços especialmente desenhados para satisfazer
necessidades próprias dos viajantes (BOULLÓN, 2002, p.34).
Beni (2001), por sua vez, considera ser possível identificar no campo acadêmico, nas
empresas e nos órgãos governamentais três tendências para a definição de Turismo: a
econômica, a técnica e a holística. A primeira tendência se limita às implicações econômicas
ou empresariais do Turismo. A segunda tendência, relativa às definições técnicas, exigiu a
criação de terminologia específica para padronizar e viabilizar o tratamento de dados
estatísticos sobre a atividade turística. Com relação à terceira tendência, é feita a seguinte
consideração:
Sua característica é o campo de estudo, pois reconhece que o Turismo abarca muitos
aspectos que se centralizam no principal, isto é, os turistas. Pelo fato de não ter sido
construída com a terminologia de uma disciplina acadêmica, permite abordagens
interdisciplinares e multidisciplinares do estudo do Turismo (BENI, 2001, p.36).
A necessidade de reflexão teórica e de otimização da prática do turismo exige que se busque a
compreensão deste fenômeno socioeconômico e cultural sob a perspectiva de outros dois
fenômenos que ocorrem simultaneamente, a globalização e a Terceira Revolução Científico-
47
tecnológica, e que, segundo Dias (2003), podem ser assim entendidos: a globalização remete à
interdependência crescente entre os diversos processos econômicos, culturais, sociais e
ambientais que ocorrem em todo o planeta e a Terceira Revolução Científico-tecnológica
remete às mudanças provocadas na sociedade pelas novas descobertas no campo da
microeletrônica, da biotecnologia e de novos materiais.
O turismo transformou-se numa das mais importantes faces da globalização,
contribuindo para estreitar as distâncias entre as diversas partes do globo e, ao
mesmo tempo, para o aumento de uma consciência global. Diferentes povos, através
da atividade turística, passam a compreender o lugar que ocupam no mundo e a
ligação que possuem uns com os outros (DIAS, 2003, p. 14).
O mesmo autor complementa essa abordagem, afirmando que:
O turismo ao longo do século XIX, e principalmente do XX, cresceu como fruto da
Segunda Revolução Científico-tecnológica (a Revolução Industrial), e recebeu no
final do século XX formidável impulso da Terceira Revolução (do conhecimento),
em que a comunicação e a informação, ao lado de outros processos como o aumento
da produtividade humana, provocam como efeito imediato diminuição da jornada de
trabalho, e aumento do tempo livre (DIAS, 2003, p. 14).
Para discutir o turismo, é preciso considerar sua complexidade estrutural e operacional,
considerando seus efeitos positivos e negativos sobre o espaço e sobre as pessoas que ocupam
e usam o espaço no qual a atividade turística se insere. De acordo com o propósito desta
dissertação, optou-se por analisar a relação entre turismo e espaço urbano, ou, em uma visão
anterior e mais ampla, entre turismo e território. Inicialmente observa-se o que Dias (2003)
afirma sobre a dimensão territorial do turismo:
O turismo é uma das atividades em que os aspectos territoriais assumem tal
importância que não pode ser excluído de nenhuma análise como um fator social
relevante. O turismo é um consumidor do espaço, e a referência a este é permanente,
pois o turista desloca-se do espaço de sua residência para outro em que permanecerá
durante algum tempo; por outro lado há o espaço onde ocorre o deslocamento de um
ponto a outro. Desse modo, podemos considerar a existência de três espaços
fundamentais para ocorrer o fenômeno turístico e que dependem do agente
fundamental do turismo, o turista: o espaço de origem do fluxo de visitação, o
espaço onde ocorre o deslocamento do fluxo de visitantes e o espaço de destino do
fluxo de visitantes (DIAS, 2003, p. 61).
Ao fazer uma distribuição espacial do turismo no território brasileiro, esse mesmo autor
distingue três grandes tipos de turismo: o de litoral, o urbano e o do campo. Sobre o turismo
48
urbano, objeto de interesse deste estudo, Dias (2003) o classifica como provavelmente o tipo
mais antigo, por sua identificação com o turismo cultural (com interesse pela gastronomia,
pela história, por museus e eventos de natureza variada) e destaca uma de suas vertentes
contemporâneas mais significativas, o turismo de negócios. Ressalta-se ainda a independência
que a modalidade de turismo urbano tem do clima e das delimitações sazonais da atividade
turística em geral.
Cruz (2001) comenta que são diversas as particularidades que caracterizam a relação entre o
turismo e o território no que diz respeito à produção e ao consumo de territórios pelo turismo,
considerando que o principal objeto de consumo do turismo é o espaço, com seus objetos e
ações, com seus fixos e seus fluxos, e conclui que: Nenhuma outra atividade consome,
elementarmente, espaço, como faz o turismo e esse é um fator importante da diferenciação
entre turismo e outras atividades produtivas. É pelo processo de consumo dos espaços pelo
turismo que se gestam os territórios turísticos(CRUZ, 2001, p.17). A mesma autora, ao
discutir espacialmente a relação entre o turismo e o meio urbano, indica três situações
distintas. Na primeira, a condição urbana antecede o aparecimento do turismo, ou seja, o
turismo se insere em um ambiente não construído especialmente para ele. Na segunda
situação, o processo de urbanização é, simultaneamente, um processo de urbanização turística
do local. E, finalmente, na terceira situação, o processo de urbanização ocorre posteriormente
ao aparecimento do turismo, como uma de suas conseqüências.
Cidades podem ser incorporadas, espontaneamente, ao circuito das localidades
turísticas, devido à sua valorização (cultural) pela atividade, ou, então, induzir o
desenvolvimento do turismo, por meio de políticas e do planejamento da atividade,
caso essa incorporação espontânea não ocorra, direcionando os equipamentos
urbanos já construídos e aqueles a construir, em função de uma urbanização para o
turismo (CRUZ, 2001, p.25).
Os anos 1980 testemunharam, de acordo com Law (2000), uma mudança significativa no
posicionamento das cidades com relação à indústria do turismo, no sentido de estimular a sua
“operação”, considerando o declínio de determinadas atividades econômicas que se foram
tornando obsoletas e o conseqüente aumento do índice de desemprego, aliados à percepção do
turismo como uma indústria em crescimento que pudesse trazer como um de seus resultados a
regeneração física e a revitalização de áreas urbanas.
49
O aumento do tempo livre, o crescimento do poder aquisitivo e o acesso facilitado aos meios
de transporte ampliaram quantitativa e qualitativamente as viagens a lazer e a negócios, e as
cidades perceberam essas mudanças como uma perspectiva de desenvolvimento econômico
na medida em que pudessem se estruturar para receber esse fluxo de turistas e,
conseqüentemente, investir no turismo urbano. Assim, tanto nos Estados Unidos quanto na
Europa, essa nova perspectiva, também a partir da década de 1980, pôde ser percebida
fisicamente pela construção de novos equipamentos que atendessem à demanda do turismo,
como centros de convenções, aquários, estádios cobertos, hotéis de grande porte e pela
abertura de museus e salas de espetáculo e pela reabilitação de portos (LAW, 2000). Segundo
o mesmo autor, o poder que as cidades têm de atrair visitantes varia conforme os recursos
turísticos (edifícios históricos, museus e coleções de arte, entretenimento, etc.) que possuem e
as formas de divulgação com que são trabalhados nos meios de comunicação. O turismo
urbano é, então, definido por Law (2000), como um complexo de atividades que estão
interligadas em um meio particular e capacitam as cidades para atrair visitantes. Não
necessariamente um fator-chave que caracterize o turismo urbano, mas sim elementos
principais que devem estar articulados para exercer atração. Também não é necessário que
esses elementos sejam exclusivos de uma determinada cidade. Nesse sentido, esse autor
apresenta, conforme o QUADRO 1, uma matriz do turismo, que distribui a possibilidade de
encontrar determinados recursos em espaços diferenciados:
QUADRO 1
Matriz do turismo
Tipo de área
Capitais
Cidades de
médio porte
Cidades
históricas
Cidades de
pequeno porte
Resorts
litorâneos
Spas
Estações de
esqui
Área rural
Conjuntos
históricos
? ? ? - -
Atrações
(entretenimento)
- ? ? - ?
Facilidades urbanas
? - ? ? - -
Conferências e
exposições
- - ?
Sol e praia
- - - - - - -
Exercícios físicos
- - - - -
Paisagens naturais
- - - - - -
Fonte: LAW, 2000, p.15.
50
Entre o entendimento da motivação para o turismo, das possibilidades de desenvolvimento do
turismo a partir da predisposição da administração pública, da iniciativa privada e da
comunidade local, da capacidade que as cidades têm de se estruturar e se promover para atrair
turistas, interessa, para esta dissertação, entender como o turismo se insere no contexto da
transformação do espaço urbano.
A organização dos elementos que compõem o espaço urbano se dá a partir do estabelecimento
de relações de ordem associadas a uma hierarquia de valores. Quando se pensa o
desenvolvimento do turismo como uma possibilidade para uma determinada localidade
configurada como área urbana, é preciso buscar no espaço dessa localidade os meios
existentes para que as propostas relativas às atividades turísticas sejam bem-sucedidas.
Castrogiovanni (2000) acredita que:
O espaço deve ser visto como um fator da evolução social, portanto, produzido e
reproduzido constantemente. O movimento histórico é que constrói o espaço, que é
uma instância da sociedade, portanto, como instância, contém e é contido pelas
demais instâncias. As cidades são partes representativas da complexidade que é o
espaço geográfico. As instâncias móveis das cidades, ou seja, os fluxos, são
importantes, pois são eles que dão vida aos fixos. Os turistas, papel que assumimos
quando estamos em movimento no espaço, fazem parte dos fluxos. Eles não são
meros observadores deste espetáculo de interações, mas parte dele. Os fluxos
também interagem, formam resistências, aceleram mudanças, criam expectativas,
desconstroem o aparentemente rígido cenário urbano (CASTROGIOVANNI, 2000,
p.24).
O mesmo autor considera que sobre a paisagem urbana projetam-se duas perspectivas: a visão
global e a visão específica. A visão global abrange o conjunto regional como uma totalidade,
partindo do geral para o específico, sugerindo uma leitura de conjunto em que é possível
perceber a paisagem natural e a paisagem construída. A visão específica destaca os elementos
marcantes e singulares da paisagem urbana, o que exige uma leitura minuciosa e atenta, e nela
se incluem os indivíduos urbanos, considerados por Castrogiovanni (2000, p.28) como os
atores que se movimentam e ajudam a construir o espaço urbano, portanto, a diferenciá-lo”.
Suas ações marcam o espaço, criando sinais e signos que são historicamente incorporados à
paisagem. Essas marcas ou marcos referenciais podem ser reconhecidos e destacados na
paisagem por sua presença física ou por seu valor simbólico e contribuem para a configuração
do espaço também como um recurso turístico.
51
Com o objetivo de orientar o inventário dos recursos turísticos de determinado lugar, para sua
conseqüente valorização e proteção, a Organização dos Estados Americanos OEA
24
propôs
uma metodologia que classifica os recursos turísticos em cinco grandes categorias:
- espaços naturais - montanhas, planícies, costas, lagos, rios, quedas d’água, grutas
e cavernas, lugares de observação de fauna e flora, lugares para caça e pesca, termas, parques
nacionais e reservas;
- museus e manifestações culturais históricas - museus, obras de arte e técnica
(nas quais se incluem a arquitetura e as realizações urbanas), lugares históricos, ruínas e sítios
arqueológicos;
- folclore - manifestações religiosas e crenças populares, feiras e mercados,
música e dança, artesanato, comidas e bebidas típicas, grupos étnicos, arquitetura popular e
espontânea;
- realizações técnicas, científicas e artísticas contemporâneas explorações
minerais, atividades agropecuárias, atividades industriais, obras de arte e técnica (nas quais se
incluem a arquitetura e as realizações urbanas contemporâneas), centros científicos e técnicos;
- acontecimentos programados eventos artísticos (música, teatro, dança, cinema,
etc.), desportivos e outros, como festas religiosas, concursos de beleza, convenções,
congressos, feiras e exposições, rodeios, carnaval, etc.
Ao tema desta dissertação interessam, de acordo com a classificação da OEA, museus e
manifestações culturais históricas, principalmente as obras de arte e técnica nas quais se
incluem a arquitetura e as realizações urbanas, e acontecimentos programados, especialmente
os eventos artísticos realizados em espaços públicos.
Na definição da OMT (1998) recursos turísticos são todos os bens e serviços que, por
intermédio da atividade do homem e dos meios com que ele conta, tornam possível a
atividade turística e satisfazem as necessidades da demanda. Recorre-se, também, a Barretto
(1991) para entender que recursos turísticos são:
aquela matéria-prima com a qual podemos planejar atividades turísticas. Dividem-se
em dois grandes grupos: naturais (que existiam na natureza antes da intervenção
24
Tipologia de Recursos Turísticos según la OEA. Disponível em:
<http://imsturex.unex.es/PAGINA_DEMANDA/tiporecurso.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2007.
52
do homem) e culturais (criados pelo homem, seja a partir da natureza, seja de
qualquer outra atividade humana) (BARRETTO, 1991, p.49).
Os recursos turísticos culturais, quando classificados como históricos, apresentam, segundo a
mesma autora, cinco características básicas: são criados pelo homem com outra finalidade que
não a turística; necessitam de conservação e preservação; perdem seu valor caso sejam
modificados; têm sua identificação dificultada pela peculiaridade dos critérios que lhe dizem
respeito; merecem preocupação do poder público com a sua preservação. Acrescenta-se à
classificação dos recursos turísticos culturais aqueles que são contemporâneos e criados pelo
homem sem finalidade lucrativa, não remetendo exclusivamente ao turismo, como as obras de
arte, os museus, a arquitetura, os monumentos, as bibliotecas, os teatros municipais, etc.; e
ainda aqueles que são contemporâneos e comerciais, com finalidade lucrativa, integrando
planos de desenvolvimento turístico em uma determinada área: parques de diversões,
balneários, cinemas, teatros privados, autódromos, estádios, feiras, etc. Estes requerem
modificações e atualizações permanentes no sentido de manter o interesse do público e
alimentar a atividade turística (BARRETTO, 1991).
Ao discutir o valor dos recursos turísticos culturais, cabe considerar o valor atribuído aos bens
que constituem o patrimônio cultural material de uma localidade. Para essa função, entram em
cena atores distintos que representam grupos sociais também distintos, com interesses
diversos. Nesse sentido, Dias (2006) afirma que:
Um único bem pode dar margem, portanto, a várias leituras, que diferirão do
conteúdo simbólico assumido pelo grupo social que o adota como patrimônio.
Assim, um monumento poderá ser valorizado como um local de culto por uns, como
um monumento de valor histórico e de qualidades estéticas por outros, enquanto os
turistas poderão vê-lo como um símbolo que identifica determinado território (seja
uma localidade, seja um país) (DIAS, 2006, p.83).
O mesmo autor comenta que essa multiplicidade de abordagens não se de forma
excludente, mas complementar, ou seja, o mesmo bem assume valores simbólicos múltiplos
que devem ser considerados pelas políticas culturais que devem ser pensadas e aplicadas de
acordo com novas demandas sociais que incluem a participação e possibilitam conciliar os
interesses gerais e nacionais da conservação do patrimônio cultural com as novas formas de
concebê-lo em termos regionais, locais e de acordo com os diferentes grupos sociais que
coexistem em um determinado território” (DIAS, 2006, p. 83)
53
Cabe aqui discutir tanto o processo de ressignificação dos espaços que acontece
destacadamente na dimensão física, por permitir a visualização das transformações, quanto o
processo de ressignificação do patrimônio, que se configura no plano simbólico, no plano da
interpretação e da atribuição de valor, sendo próprio de cada tempo, de cada contexto, de cada
grupo da sociedade.
Inicialmente tem-se que, na dimensão física, o processo de transformação das cidades,
principalmente as metrópoles, pela relevância dos impactos sobre a sua população e também
sobre as outras cidades em seu entorno, vem despertando o interesse de estudiosos que
percebem na complexidade do fenômeno de transformação um campo fértil de análise.
Nos tempos atuais, uma sucessão de tendências socioeconômicas, políticas e culturais
flexibilizam a caracterização das cidades, considerando, por exemplo, que atividades
econômicas se desenvolvem em alguns locais e declinam em outros, podendo ou não ser
resgatadas em uma etapa posterior.
As tendências influenciam não somente a própria cidade, como também a sua relação com
outras, tanto próximas quanto distantes. Law (2000) considera dois principais fatores de
influência para analisar a transformação do espaço urbano nas metrópoles: a ampliação da
base econômica urbana e a consolidação de sua condição como centro/pólo regional de
serviços. Este último fator diz respeito à referência que as grandes cidades passam a constituir
para os municípios em seu entorno, no sentido de concentrarem uma rede completa de
serviços, muitos dos quais não estão disponíveis em qualquer localidade. Além disso, o
mesmo autor considera que a evolução nos processos e nos meios de comunicação também
afetou o crescimento das cidades a partir do momento em que capacitou as cidades para
competirem umas com as outras pela facilidade de divulgar suas qualidades, seu potencial,
ampliando sua área de influência.
As influências sobre o espaço da cidade variam com o tempo e as administrações públicas,
representadas por seus órgãos competentes e, na melhor das hipóteses, com o respaldo da
população local, vêm atuando no sentido de adaptar fisicamente o meio urbano às novas
demandas de seu uso e funcionamento. Essas adaptações interferem no dia-a-dia dos
54
moradores, na medida em que modificam o trânsito em áreas específicas, geram barulho e
poeira, suspendem temporariamente atividades e comprometem a imagem urbana
circunstancial ou definitivamente. Não com a mesma intensidade nem da mesma maneira,
atingem também os turistas, que, se mal informados, podem avaliar negativamente a cidade
pela imagem que diante deles se apresenta. Em contrapartida, os resultados das adaptações
podem trazer benefícios facilitando o dia-a-dia da cidade que foi temporariamente afetado e
apresentando novas possibilidades de uso dos espaços transformados tanto para a população
quanto para os turistas, se for o caso.
O processo de transformação ligado ao turismo remete à idéia de criar na cidade espaços para
serem “consumidos” como produtos turísticos e são diversas as conseqüências que daí
decorrem. Sobre isso, recorre-se ao pensamento de Luchiari (2001):
Se a conclusão mais fácil nos leva à constatação de que o processo de produção de
lugares para o consumo acaba por consumir e degradar os próprios lugares, numa
outra perspectiva podemos considerar que essas novas paisagens da urbanização
turística representam também as formas contemporâneas de espacialização social,
por meio das quais estamos construindo novas formas de sociabilidade, mais
híbridas e mais flexíveis (LUCHIARI, 2001, p.108).
Nesse movimento de produção e reprodução de lugares turísticos, a mudança física contempla
referências espaço-temporais que, se por um lado buscam no passado, na história cultural do
lugar, o motor da atratividade pretendida, podem, por outro lado, projetar para o futuro, a
partir de sua forma e função, um novo papel na atividade turística para uma cidade inteira ou
uma área específica dentro do espaço urbano.
Assim, estabelece-se uma relação entre antigas paisagens e velhos usos e novas
formas e funções. E este movimento entre o velho e o novo impulsiona a relação do
lugar com o mundo que o atravessa com novos costumes, hábitos, maneiras de falar,
mercadorias, modos de agir... Assim, também a identidade do lugar é
constantemente recriada, produzindo um espaço social híbrido, onde o velho e o
novo fundem-se dando lugar a uma nova organização socioespacial (LUCHIARI,
2001, p.108-109).
O espaço transformado é, então, ressignificado, ou seja, passa a integrar a paisagem urbana de
uma nova maneira, com outra forma – seja um imóvel restaurado ou um novo espaço
construído e, talvez, outra função. Na dimensão física, percebe-se um novo elemento que
55
marca presença visualmente, que é percebido, que pode ser compreendido e registrado na
memória de quem passa diante dele.
No contexto da transformação física, os elementos transformados, caso constituam bens
patrimoniais, são passíveis de outro processo de ressignificação. Para construir a discussão
sobre a ressignificação do patrimônio material, uma análise que remete à dimensão simbólica
dos bens e dos valores a eles atribuídos, parte-se da complexidade da cidade - cenário vivo no
qual se inserem - que, segundo Corrêa (2003):
pode ser analisada segundo diferentes dimensões que se interpenetram. A dimensão
cultural é uma delas e por seu intermédio amplia-se a compreensão da sociedade em
termos de suas relações sociais, econômicas e políticas, assim como tornam-se
inteligíveis as espacialidades e temporalidades que estão associadas a essas
dimensões (CORRÊA, 2003, p.157).
O território da cidade assume características também complexas e apresenta-se fragmentado
com relação a seu uso, a sua função, a seus fluxos, a seus habitantes e visitantes. Estes,
referenciados em seus locais de origem, constroem novos significados no contato com o local
visitado, buscando o “novo” que a experiência turística pretende e pode proporcionar. Sobre
essa relação simbólica dos turistas com o local visitado, sobrepondo-se e não necessariamente
integrando-se no cotidiano da população, Pereira (2006)
25
comenta que:
O cotidiano, recriado por diretrizes racionais que não reconhecem os contornos
imateriais dos diversos territórios que configuram o lugar e a cultura, deixa de ser o
sustentáculo efetivo do turismo cultural. Assim novos significantes turísticos se
colocam como possibilidade que não encontram expressão imediata na
(i)materialidade em constante transformação, reacendendo desejos e recriando
necessidades.
A recriação do cotidiano por essas diretrizes racionais, que se aplicam como uma espécie de
máscara sobre as condições reais de conformação do território e de estabelecimento de
relações sociais e práticas culturais próprias de cada localidade, produz questionamentos com
relação à percepção do espaço e à identidade cultural. Esses questionamentos decorrem da
idéia de que a fragmentação que caracteriza as sociedades acaba sendo forçadamente
unificada por avaliações superficiais que desconsideram as mudanças evolucionárias a partir
25
PEREIRA, Valnei. Planejamento urbano e turismo cultural em Belo Horizonte, Brasil: espetacularização da
cultura e a produção social das imagens urbanas. Disponível em:
<http://www.naya.org.ar/turismo/congreso2003/ponencias/Valnei_Pereira.htm> Acesso em: 13 set. 2006.
56
delas mesmas, o que Hall (2001) menciona ao escrever sobre a condição de “descentramento”
das sociedades pós-modernas. Estas sociedades, sob o ponto de vista desse autor, são
caracterizadas pela diferença e atravessadas por diferentes visões e antagonismos sociais
que produzem uma variedade de diferentes ‘posições de sujeito’ isto é, identidades para
os indivíduos(HALL, 2001, p.17). Tais identidades e as relações que são possíveis a partir
de seu reconhecimento se projetam sobre o território da cidade e passam a ser analisadas,
questionadas, assumidas e expressadas na construção da dimensão sociocultural de cada
comunidade que habita o espaço urbano.
3.3.4 Considerações sobre processos de turistificação
A relação entre o turismo e o espaço urbano gera um processo denominado turistificação que,
de forma simplificada, pode ser entendido como o processo de transformação de uma área
específica da cidade em função do turismo, seja para o turismo ou pelo turismo. A
transformação para o turismo é intencional, busca gerar novos fluxos e tem forte conotação
econômica. A transformação pelo turismo é gradativa, é reflexo da “descoberta” de
qualidades específicas, atraentes, mas não necessariamente organizadas para atrair. A
organização pode ser um processo decorrente.
O planejamento turístico início ao processo de turistificação, que ocorre quando
um espaço é apropriado pelo turismo, fazendo com que haja um direcionamento das
atividades para o atendimento dos que vêm de fora, alterando a configuração em
função de interesses mercadológicos (ISSA; DENCKER, 2006).
Spinola (2006) caracteriza o processo de turistificação como generalização espacial do
turismo, atribuindo a ele reflexos materiais e simbólicos, e o associando à tendência de
crescimento e expansão da atividade turística em termos globais. Cruz (2001) recorre a
Knafou
26
, que indica três fatores nos quais se a seletividade espacial no turismo,
denominados de “fontes de turistificação de lugares e territórios”: os turistas, o mercado e os
planejadores e promotores territoriais, e comenta que estas três fontes valorizam os territórios
de acordo com diferentes contextos culturais, considerando que a cultura é mutável no tempo
26
KNAFOU, Rémik. Turismo e Território. Por uma abordagem científica do turismo. In: Rodrigues, Adyr A. B.
(org.) Turismo e Geografia – reflexões teóricas e enfoque regionais. São Paulo: Hucitec, 1996, p.62-74.
57
e no espaço. Assim, a mesma autora registra que os territórios eleitos pelo turismo na
atualidade não são, em todos os casos, os mesmos de ontem, e não, necessariamente, serão os
mesmos de amanhã(CRUZ, 2001, p.18). Na citada classificação de Knafou
27
, os territórios
são inventados e produzidos pelos turistas, pois sua presença é que define a existência de um
lugar turístico; são concebidos pelo mercado a partir da colocação de produtos turísticos; são
decorrentes da competitividade espacial entre lugares, uma característica da atualidade que
exige a intervenção do planejamento territorial na configuração de lugares turísticos.
A transformação do espaço em produto turístico requer uma crescente racionalidade
devido à competitividade entre produtos turísticos, que se dá, hoje, em escala global.
Essa racionalidade e competitividade, que afetam a organização de todos os setores
produtivos, como forma de adequação e sobrevivência a um mercado globalizado,
fazem do planejamento territorial uma condição do sucesso de planos e políticas
setoriais (CRUZ, 2001, p.22).
Quando os promotores territoriais do turismo interpretam erroneamente o mercado e as
práticas dos turistas, podem surgir lugares turísticos fantasmas, no sentido de que os cenários
adaptados ou construídos não são apropriados devidamente nem pelo público-alvo nem pela
população residente da localidade em questão. Esse risco pode ser evitado pela observação
cuidadosa do confronto entre duas territorialidades distintas, a territorialidade sedentária
dos que vivem freqüentemente, e a territorialidade nômade dos que só passam, mas que
não têm menos necessidade de se apropriar, mesmo fugidiamente, dos territórios que
freqüentam (KNAFOU
28
apud CRUZ, 2001, p.22). Desse confronto podem decorrer a
segregação espacial de turistas e moradores e a elevação de preços de produtos, serviços e
bens imóveis, o que pode prejudicar a população residente enquanto beneficia os
empreendedores turísticos.
Um exemplo de processo de turistificação com reflexos questionáveis é a “Operação
Pelourinho”, um ambicioso projeto de recuperação de um dos conjuntos arquitetônicos mais
expressivos do período colonial brasileiro, situado no centro histórico de Salvador, capital do
Estado da Bahia. O projeto foi considerado como experiência precursora das práticas de
gentrificação no País, segundo Leite (2004), a partir de uma reforma realizada após a abertura
de uma licitação para que empresas privadas realizassem as obras em curto prazo, o que
27
KNAFOU, Rémik. Turismo e Território. Por uma abordagem científica do turismo. In: Rodrigues, Adyr A. B.
(org.) Turismo e Geografia – reflexões teóricas e enfoque regionais. São Paulo: Hucitec, 1996, p.62-74.
28
Idem.
58
mereceu críticas sobre vários aspectos, como ter sido realizada sem o devido aval das
instâncias municipais e federais de preservação.
A exigüidade dos prazos e a participação de empresas pouco qualificadas em obras
de restauro resultaram numa intervenção que também foi muito criticada em seus
aspectos arquitetônicos. O Projeto Cores da Cidade encarregou-se de boa parte da
pintura das fachadas, imprimindo o mesmo aspecto cenográfico que caracterizaria as
políticas contemporâneas de “revitalização” (LEITE, 2004, p.72).
A condição de experiência precursora das práticas de gentrificação se aplica pela ausência de
uma política que levasse em conta os usuários que residiam no local e que, em função da
restrição ao uso habitacional, se viram expulsos do Pelourinho. Além disso, a reconfiguração
do espaço voltada para o uso comercial gerou um shopping center a céu aberto e o patrimônio
representado pelas edificações foi tratado como mera mercadoria cultural e não como um
bem simbólico para a população” (LEITE, 2004, p.73). Essa transformação de bem
simbólico em mercadoria cultural implica formas de interação que têm como base o consumo,
pressupondo práticas de preservação determinadas por necessidades de mercado e
expectativas de retorno financeiro para os investimentos privados. São assim negligenciados
os significados históricos e arquitetônicos dos bens e proliferam serviços e produtos
destinados ao consumo. A gentrificação sugere uma elitização dos espaços e uma estetização
do cotidiano:
Mais do que uma segregação do espaço através das restrições ao consumo desses
produtos e serviços, definidas pelos excludentes critérios de renda, essa
“estetização” se relaciona também a estilos de vida de uma classe média urbana,
cujos hábitos e sensibilidades estéticas parecem cada vez mais marcados pela busca
de certas áreas públicas que ofereçam, ao mesmo tempo, lazer e segurança (LEITE,
2004, p.73).
Nobre (2003) relata que aos proprietários dos imóveis na área de intervenção do Pelourinho
foram oferecidas quatro possibilidades com relação à contrapartida aos trabalhos e
financiamentos públicos para o restauro e recuperação das edificações: venda, desapropriação,
transferência do usufruto e troca da propriedade ou da área equivalente. As intervenções
variaram entre o restauro, a recuperação estrutural, a reconstrução e a conservação e, após a
conclusão das obras, atividades relacionadas ao turismo e ao entretenimento estabeleceram-se
no Pelourinho. Os impactos das intervenções devem ser observados a partir de perspectivas
59
distintas, considerando os seus objetivos e os atores envolvidos no processo de transformação
do espaço.
O desenvolvimento do turismo no Pelourinho revela uma estratégia do Estado da
Bahia para promover o desenvolvimento econômico. Embora seja difícil estimar os
impactos do restauro do Pelourinho no crescimento do turismo, o fato é que ele vem
crescendo consideravelmente desde a década de 1980, refletindo os investimentos
públicos na área (NOBRE, 2003, p.8).
Por outro lado, as intervenções do Estado no Pelourinho impactaram significativamente a
transformação da apropriação e do consumo do espaço urbano, com a conversão da maioria
dos imóveis para uso comercial e com a relocação da população moradora que, considerando
a sua condição socioeconômica, preferiu a compensação financeira à reocupação dos imóveis
restaurados. Devido à relocação, a população residente do Centro Histórico e arredores
mostrou uma grande redução entre os anos de 1980 e 2000, sendo que ela foi mais drástica
na área central” (NOBRE, 2003, p.9).
Pelegrini (2006b) considera que as ações adotadas no Pelourinho deveriam ter como base
metodologias “adequadas à recuperação do patrimônio arquitetônico e/ou urbano em vias de
degradação, a partir de técnicas de revalorização econômica, social e estética, devolvendo
ao conjunto condições duradouras e adequadas de conforto”, comentando que o que ocorreu
foi a expulsão da população residente e uma “restauração” aparente do espaço arquitetônico.
A "restauração de fachada" tende a fomentar a homogeneização dos centros
históricos, nos quais se constrói uma impressão de conjunto forjada pela demolição
de alguns edifícios do entorno dos prédios considerados passíveis de recuperação e
pela criação de amplas áreas vazias ou ajardinadas, pelo uso comum de padrões de
época definidores de cores, luzes, móveis e demais objetos ou artefatos antigos. Por
fim, a comercialização de produtos supostamente oriundos da cultura local, como o
artesanato, as comidas típicas, rituais e festas, forja eventos turísticos visando atrair
maior número de visitantes em determinadas épocas do ano (PELEGRINI, 2006b)
29
.
29
PELEGRINI, Sandra C. A. Cultura e natureza: os desafios das práticas preservacionistas na esfera do
patrimônio cultural e ambiental. Rev. Bras. Hist. , o Paulo, v. 26, n. 51, 2006 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-01882006000100007&lng=en&nrm=iso>.
Acesso em: 08 set. 2007.
60
Para o filósofo francês Henri-Pierre Jeudy
30
o processo adotado em praticamente todas as
grandes cidades para a revitalização dos centros históricos tem promovido o esvaziamento e a
morte dessas regiões e resultado em cidades mais homogêneas e menos interessantes, o que
segue direção contrária às estratégias de marketing para atrair turistas e à tentativa da
população em manter sua identidade cultural. Vale questionar se as idéias de preservação,
conservação, tombamento e revitalização que vêm sendo praticadas pelas várias instâncias do
poder público priorizam a dinâmica natural das cidades e a ação, também natural, de
apropriação do espaço urbano pelas comunidades locais. A idéia de petrificação de áreas da
cidade discutida por Jeudy sugere que a delimitação de centros históricos parece ser balizada
pela (re)construção de cenários, numa tentativa de congelar o tempo nas edificações
tombadas, as quais, se “revitalizadas” darão lugar a atividades rigorosamente definidas e
controladas pelo poder público e pela iniciativa privada, com vistas a incrementar a atividade
turística.
Os projetos contemporâneos de “revitalização”, na opinião de Leite (2004), recolocaram os
velhos centros históricos nas discussões das políticas públicas, transformando-se em esforço
das gestões municipais na recuperação das políticas econômicas locais, por meio da
revalorização de suas tradicionais localidades. O patrimônio histórico, ao ser transformado em
mercadoria cultural, parece adequar-se à lógica de mercado, recorrendo a parcerias com a
iniciativa privada que acredita fazer um bom negócio ao investir na área.
O resultado mais visível desses empreendimentos [...] é a restauração de prédios e
casarios e a transformação de lugares – antes em avançado estado de abandono pelos
poderes públicos em sofisticadas áreas de entretenimento e consumo para pessoas
de razoável poder aquisitivo. Numa clivagem quase privada do espaço urbano
(enquanto área pública), esses projetos de “revitalização” parecem segmentar certas
áreas centrais das cidades históricas, reeditando, no plano cultural, as exclusões
sociais que se têm agudizado em outros campos da vida social, em decorrência do
esvaziamento das políticas sociais (LEITE, 2004, p.74-75).
Para Ferreira e Marques (2000, p.4), os processos de gentrificação podem significar tanto o
enobrecimento de locais anteriormente considerados populares, como o re-enobrecimento de
locais que perderam temporariamente a nobreza, e que a readquirem através das estratégias
de revalorização”. A gentrificação é um processo que ocorre, em diferentes escalas, à medida
que o espaço é transformado em sua estrutura de funcionamento e de ocupação. Os espaços
30
FOLHA DE SÃO PAULO. Revitalização petrifica cidades, diz filósofo. Folha de São Paulo. São Paulo,
Caderno C, p.3, 06 jun. 2005.
61
em turistificação representam uma interferência na linha histórica descrita pelas áreas de
intervenção, criando ambientes que são comercialmente propícios para a prática do turismo,
mas nem sempre coerentes com o contexto em que se inserem.
62
4 O PATRIMÔNIO CULTURAL NO BRASIL
4.1 Histórico
No Brasil dos anos 20, se encontravam em funcionamento os grandes museus nacionais,
mas não se dispunha de meios para proteger os bens que integravam essas coleções,
sobretudo os bens imóveis” (FONSECA, 2005, p.85). A mesma autora relata que a questão do
patrimônio começava, então, a ser considerada por sua relevância política e, na passagem de
uma década para outra, as concepções elaboradas e manifestas por alguns intelectuais
modernistas sobre arte, história, tradição e nação iniciaram a construção do conceito de
patrimônio assumido pela Nação e concretizado pela criação do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional SPHAN, em 1936, oficializado pela Lei 378 de 13 de
janeiro de 1937, sob a coordenação de Rodrigo Melo Franco de Andrade, no Governo de
Getúlio Vargas
31
. Para isso, o então ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, pediu
que Mário de Andrade elaborasse o anteprojeto de lei, o que fez com o auxílio de outros
intelectuais modernistas como Manuel Bandeira, Prudente de Moraes Neto, Luís Jardim,
Afonso Arinos, Lucio Costa e Carlos Drummond de Andrade.
Foi sob a influência do Movimento Modernista - um movimento cultural renovador -, e da
instauração do Estado Novo - um governo autoritário -, que o SPHAN iniciou sua atuação.
Leite (2004, p.49) comenta que essa relação entre os modernistas e as políticas de
patrimônio nos anos 30, que se constitui em um dos aspectos de destaque na historiografia
sobre as origens do SPHAN, se revela tanto no plano institucional quanto conceitual”, no que
diz respeito a esboçar conceitualmente uma expressão embrionária de cultura nacional, o que
gerou uma concepção arquitetônica entendida como símbolo de uma nova tradição brasileira,
contrária à profusão de estilos justapostos do ecletismo
32
que constituía um estilo que,
segundo Leite (2004, p.49), representava justamente a idéia de modernização para o
republicanismo”. Assim, os modernistas voltam seu olhar para o interior do País, para o
31
IPHAN. Histórico. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br> . Acesso em: 12 mar. 2007.
32
O termo “ecletismo” refere-se à combinação de diferentes estilos históricos em uma única obra sem com isso
produzir novo estilo. Com relação à arquitetura, consiste em um movimento mais específico relativo a uma
corrente arquitetônica do século XIX, e que, no Brasil, no período de transição para o século XX, foi a corrente
dominante na arquitetura e nos planos de reurbanização das grandes cidades.
63
barroco das cidades coloniais mineiras, em busca de legitimidade e originalidade para a
cultura brasileira.
No Brasil, o modernismo propicia uma volta ao passado, à valorização intensa de
todas as formas de expressão consideradas tradicionais. [...] Nesse momento, no que
se refere à construção da nação, o barroco é emblemático, é percebido como a
primeira manifestação cultural tipicamente brasileira, possuidor, portanto, da aura da
origem da cultura brasileira (SANTOS
33
apud LEITE, 2004, p.49-50).
O Decreto-Lei 25 de 30 de novembro de 1937, que organizou a proteção do patrimônio
histórico e artístico nacional, definiu o patrimônio histórico e artístico nacional como "o
conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja do interesse
público quer por sua vinculação a fatos memoráveis da História do Brasil, quer por seu
excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico". Foram incluídos
também na classificação como patrimônio "os monumentos naturais, bem como sítios e
paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados
pela natureza ou agenciados pela indústria humana"
34
. Em sua origem, as políticas de
proteção ao patrimônio apresentavam elementos que hoje fazem parte das discussões sobre
o tema.
Cury (2002) considera que três momentos da história republicana marcaram a construção das
políticas culturais brasileiras: o período Vargas, mais especificamente o Estado Novo, com o
anteprojeto de rio de Andrade de criação de SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional), depois transformado em Decreto-lei nº 25, inaugurando as políticas
culturais no Brasil; o período da ditadura militar, com os planos nacionais de cultura de 1973
e 1975 que delinearam as principais características do futuro Ministério da Cultura (MINC)
que viria a ser criado pelo Decreto 91.144 de 15 de março de 1985
35
; e o terceiro e último
período, referente aos anos que se seguiram à ditadura militar, com a criação do MINC e a
Constituição de 1988.
O momento inicial, marcado pela criação do SPHAN, inaugurou uma trajetória de transições
na nomenclatura e nas atribuições dos órgãos responsáveis pela proteção do patrimônio: em
33
SANTOS, Mariza Veloso Motta. O tecido do tempo: a idéia de patrimônio cultural no Brasil, 1920-1970.
Tese de doutorado em Antropologia, Universidade de Brasília. Brasília, 1992.
34
Idem.
35
MINISTÉRIO DA CULTURA. Histórico. Disponível em:
<http://www.cultura.gov.br/ministerio_da_cultura/historico/index.html>. Acesso em: 12 mar. 2007.
64
1946, o SPHAN passou a denominar-se Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional DPHAN; em 1970 tal departamento se transformou em Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional IPHAN; em 1970 o Instituto foi dividido em SPHAN (órgão
normativo) e Fundação Nacional pró-Memória FNpM (órgão executivo); em 1990
extinguiu-se o SPHAN e a FNpM e criou-se o Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural
IBPC; em 06 de dezembro de 1994, a Medida Provisória de 752 determinou que o IBPC e
o Instituto Brasileiro de Arte e Cultura IBA passassem a denominar-se, respectivamente,
IPHAN e Fundação de Artes FUNARTE; fechando esse ciclo, em 04 de agosto de 2000, o
Decreto 3.551 instituiu o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial, o que permitiu
a ampliação das discussões sobre o patrimônio cultural brasileiro
36
.
No segundo momento, relativo ao período da ditadura militar, o SPHAN passou a recorrer à
UNESCO com o objetivo de reformular e reforçar sua atuação, para compatibilizar os
interesses da preservação ao modelo de desenvolvimento então vigente no Brasil. Sobre isso,
Fonseca (2005) registra que:
Nesse sentido, a imagem do SPHAN como protagonista de batalhas memoráveis em
defesa do interesse público relativamente ao patrimônio, contra proprietários e
setores insensíveis da igreja e do poder público, foi substituída, em consonância com
as diretrizes da UNESCO, pela figura do negociador, que procura sensibilizar e
persuadir os interlocutores, e conciliar interesses; ou melhor, que procura
demonstrar que os interesses da preservação e os do desenvolvimento não são
conflitantes, mas, pelo contrário, são compatíveis (FONSECA, 2005, p.160).
Essa mesma autora destaca a criação do Centro Nacional de Referência Cultural CNRC, em
1975, como uma alternativa para buscar nos bens culturais os indicadores para um
desenvolvimento apropriado e cujo objetivo inicial era a constituição de um banco de dados
sobre a cultura brasileira, um centro de documentação que possibilitasse a identificação e o
acesso aos produtos culturais brasileiros. Leite (2004, p.58) comenta que o CNRC, embora
tenha tido uma curta sobrevida, foi fundamental para lançar uma nova visão sobre o
patrimônio cultural como processo social”.
Ainda completando a referência de Cury (2002) sobre o segundo momento da construção das
políticas culturais brasileiras, Calabre (2006) relata que o anteprojeto do Plano Nacional de
36
REVISTA MUSEU. Iphan comemora 70 anos de atuação no Brasil. Disponível em:
<http://www.revistamuseu.com.br/emfoco/emfoco.asp>. Acesso em 12 mar. 2007.
65
Cultura de 1973 encontrou impedimentos legais para a sua implementação, como a dotação de
orçamento, a criação de um fundo para a cultura e a própria limitação das atribuições de um
conselho, que a aplicação do plano caberia ao Conselho Federal de Cultura que havia sido
criado em 1967. De qualquer forma, consolidava-se um movimento para nortear as linhas
gerais e as normas de ão do governo na área da cultura, com a definição de três linhas de
frente: defesa do patrimônio, incentivo à criatividade e difusão da cultura. As diretrizes do
Plano Nacional de Cultura de 1975 deram continuidade ao processo ampliando a discussão
sobre a identidade cultural brasileira, tendo sido construído na gestão do então Ministro da
Educação e Cultura, Ney Braga, sob cuja tutela foram criados o Conselho Nacional de
Cinema - CONCINE e a Fundação Nacional de Arte – FUNARTE.
Em meio a essa movimentação, até o final da década de setenta,
a questão da preservação do patrimônio histórico nacional estava reduzida à atuação
solitária de uma única instituição federal, o IPHAN. Estava reduzida ao idealismo e
à competência de uns poucos técnicos-arquitetos. Estava reduzida à preservação
arquitetônica dos monumentos de pedra e cal da elite brasileira, com estreita
vinculação com a religião católica (FALCÃO, 1984, p.46).
A partir daí, de acordo com o mesmo autor, ampliou-se o conceito de patrimônio cultural por
meio do conceito de bem cultural na perspectiva do pluralismo ideológico na determinação
das políticas de preservação, incluindo na discussão os bens culturais de outras etnias,
religiões e classes sociais de qualquer parte do território nacional.
O terceiro momento da referida construção das políticas nacionais de cultura foi marcado pela
criação do Ministério da Cultura MINC, em 1985 e pela Constituição de 1988. O MINC foi
criado com base no reconhecimento da cultura como um elemento fundamental e
insubstituível na construção da própria identidade nacional
37
, uma área merecedora de
autonomia, pois até então era tratada em conjunto com a educação, e que se transformava
em um setor de destaque na economia brasileira, representando uma fonte de geração de
emprego e renda. A Constituição de 05 de outubro de 1988 traz, em seu Artigo 216º
38
, a
37
MINISTÉRIO DA CULTURA. Histórico. Disponível em:
<http://www.cultura.gov.br/ministerio_da_cultura/historico/index.html>. Acesso em: 12 mar. 2007.
38
BRASIL, Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/legislacao/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 01 ago. 2006.
66
formalização da ampliação do conceito de patrimônio cultural, incluindo a proteção sobre os
bens imateriais, de natureza intangível.
Hoje a atuação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN continua
obedecendo ao princípio normativo, contemplado pelo referido Artigo 216º,
que define patrimônio cultural a partir de suas formas de expressão; de seus modos
de criar, fazer e viver; das criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras,
objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações
artístico-culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico,
artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico
39
.
A instituição desenvolve um trabalho permanente de fiscalização, proteção, identificação,
restauração, preservação e revitalização dos monumentos, sítios e bens móveis do País.
Este Patrimônio é administrado por meio de diretrizes, planos, instrumentos de
preservação e relatórios que informam a situação dos bens, o que está sendo feito e o
que ainda necessita ser realizado. O Iphan preocupa-se em elaborar programas e
projetos, que integrem a sociedade civil com os objetivos do Instituto, bem como
busca linhas de financiamento e parcerias para auxiliar na execução das ações
planejadas.
40
Essa integração da sociedade civil com os objetivos do Instituto também está prevista na
Constituição Federal para proteger, preservar e gerir o patrimônio histórico e artístico
nacional.
Para sistematizar e legitimar suas ações, o IPHAN recorre aos tombamentos, à
regulamentação das áreas tombadas e de entorno, aos registros, inventários e planos como
instrumentos de preservação dos bens culturais que constituem o patrimônio. Tais
instrumentos de preservação merecem uma observação mais atenta para que suas
particularidades possam ser úteis para o desenvolvimento deste estudo. Inicialmente
considera-se que eles se aplicam aos bens culturais, os quais são divididos pelo IPHAN em
duas categorias: bens móveis (coleções arqueológicas, acervos museológicos, documentais,
arquivísticos, bibliográficos, videográficos e cinematográficos) e bens imóveis (núcleos
urbanos, sítios arqueológicos e paisagísticos e bens individuais)
41
. É esta segunda categoria
39
IPHAN. A Instituição. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2007.
40
IPHAN. Ação Institucional. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2007.
41
IPHAN. Bens Culturais. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2007.
67
que interessa mais especificamente à análise presente e seus bens são classificados segundo
sua natureza nos chamados Livros do Tombo.
De acordo com Meirelles
42
(apud FONSECA, 2005, p.205), as expressões ‘Livros do
Tombo’ e ‘tombamento’ provêm do Direito Português, onde a palavra ‘tombar’ significa
‘inventariar’, ‘arrolar’ ou ‘inscrever’ nos arquivos do Reino, guardados na Torre do
Tombo”. Na legislação brasileira, o tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder
Público, nos níveis federal, estadual ou municipal.
Os tombamentos federais o da responsabilidade do IPHAN e começam pelo
pedido de abertura do processo, por iniciativa de qualquer cidadão ou instituição
pública. Tem como objetivo preservar bens de valor histórico, cultural,
arquitetônico, ambiental e também de valor afetivo para a população, impedindo a
destruição e/ou descaracterização de tais bens.
43
Para Leite (2004, p.50), os bens culturais que integram o patrimônio cultural são, em geral,
selecionados para tombamento em função de sua capacidade de expressar de forma
modelar a história oficial como suposta síntese da memória, tradição e identidade
nacionais”.
O tombamento é um processo que pode ser aplicado a bens móveis ou imóveis, de interesse
cultural ou ambiental para a preservação da memória coletiva, de acordo com a classificação
anteriormente apresentada. Parte-se de uma avaliação técnica preliminar, segue-se a uma
deliberação das unidades técnicas responsáveis e, em caso de aprovação, o proprietário do
bem é notificado de que o mesmo já se encontra sob proteção legal. A decisão final, ou seja, a
inscrição do bem no Livro do Tombo e a comunicação formal do seu tombamento ao
proprietário, só acontece após o processo ser instruído e ter recebido aprovação pelo Conselho
Consultivo do Patrimônio Cultural e a conseqüente homologação ministerial publicada no
Diário Oficial
44
.
Fonseca (2005, p.206) comenta que além de instrumento jurídico com implicações
econômicas e sociais, o tombamento tem sido considerado e utilizado, tanto por agentes
42
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
1991, 16ª ed. Atual. Pela constituição de 1988, 2ª tiragem.
43
IPHAN. Tombamentos. Disponível em: <http://portal.iphan.gov.br>. Acesso em: 12 mar. 2007.
44
Idem.
68
oficiais quanto por grupos sociais, como o rito, por excelência, de consagração do valor
cultural de um bem”. É como se o fato de uma edificação ser tombada por alguma instância
oficial de proteção ao patrimônio conferisse a ela um valor que de certa maneira era
desconhecido e que tivesse sido “revelado” ao público pelo ato do tombamento. Nessa seara
de atribuição de valores, sempre aparecem os aspectos positivos e negativos e os processos de
tombamento não se isentam disso. Do lado positivo, fala-se em benefícios materiais e aqui
se inclui o turismo - e simbólicos, no sentido do fortalecimento de identidades e na evidência
de poderes políticos para grupos desfavorecidos econômica e socialmente. Do lado negativo,
as restrições decorrentes do processo de tombamento acarretam prejuízos para os proprietários
dos bens, o que é mais evidenciado com relação aos bens imóveis:
Em função, portanto, da natureza conflitante dos interesses em jogo no caso da
proteção aos bens imóveis, e do peso dos monumentos no patrimônio histórico e
artístico nacional, os processos de tombamento constituem espaços de expressão
desses confrontos, onde se podem captar as várias “vozes” envolvidas com a questão
da preservação e sua influência na condução dos processos (FONSECA, 2005, p.
207).
A mesma autora acredita que, por intervir no estatuto da propriedade e no uso do espaço
físico, o tombamento pode ser discutido como a prática mais significativa da política de
preservação do patrimônio no Brasil, constituindo um campo de discussão sobre a visão que
diferentes atores sociais têm sobre o que se deve e como se deve preservar. Os argumentos
que acompanham os pedidos de tombamento, no sentido de impedir uma demolição, dar
determinado uso a um imóvel, obter verba para restauração ou garantir que o bem seja
preservado por seu valor afetivo para a comunidade, “costumam enfatizar o valor histórico do
bem, apoiando-se, muitas vezes, em pesquisas de documentos e bibliografia(FONSECA,
2005, p. 214). Não é o valor artístico do bem que predomina nas solicitações de tombamento,
talvez porque seja mais difícil sua aferição. Pode-se arriscar, ainda, a pensar o valor histórico
como um valor “mais coletivo” e o valor artístico como um valor “mais individual”, menos
representativo da coletividade e, talvez por isso, menos forte como argumento válido.
É pertinente, agora, resgatar o §1º do já citado Artigo 216º da Constituição de 1988 para fazer
considerações sobre duas questões que integram o escopo deste trabalho: a colaboração e a
efetiva participação – da comunidade na promoção e na preservação do patrimônio; e o
tombamento dos bens imóveis. Tais questões merecem ser destacadas na discussão sobre os
processos de turistificação dos espaços urbanos. Em um primeiro momento, acredita-se que o
69
uso que a comunidade faz daquele espaço deva constituir a base da sua transformação para
aquilo que se pretende. Em um segundo momento, considera-se a legislação que rege o
tombamento dos bens imóveis como determinante para as condições de integração da
edificação no espaço que se insere na perspectiva turística.
4.2 O patrimônio cultural em Minas Gerais
Junto com a idéia de patrimônio cultural, surge a necessidade que as sociedades apresentam
de criar leis e mecanismos ligados a uma política cultural que sejam capazes de garantir a
conservação dos bens culturais. Com relação a isto, Falcão (1984, p.45) afirma que “a política
de preservação do patrimônio histórico e artístico nacional é parte da política cultural de
uma nação”. O autor parte daí para reforçar o caráter público da política cultural, que deve ser
um conjunto articulado e fundamental de decisões, programas, metas, recursos e
instituições, a partir da iniciativa do Estado”. Indo mais além, ele defende que o debate
público elevará, em seu conjunto, o nível cultural das populações” e que:
Em país com a dimensão territorial e populacional, e a complexidade cultural do
Brasil ou a preservação do seu patrimônio histórico é apropriada pela cultura de
massa, sobretudo a cultura popular, ou terá de se contentar em ser apenas os
momentos de exemplaridade, desprovidos de maior representatividade e sentido
social. Momentos sozinhos (FALCÃO, 1984, p.46).
Essa visão contribui para uma discussão que é pertinente e produtiva para a compreensão dos
processos de turistificação: a questão da apropriação do espaço urbano pela comunidade
funcionando como cenário para a consolidação do patrimônio histórico e vice-versa, ou seja, o
patrimônio consolidado servindo de cenário para que a comunidade desenvolva os processos
de apropriação do seu espaço na cidade. Nesse sentido, ao buscar-se uma outra perspectiva de
aproximação do objeto de estudo, cabe considerar a legislação estadual de proteção ao
patrimônio.
Fonseca (2005, p.253) registra que a descentralização iniciada nos anos setenta consolidou-
se com a disseminação das secretarias de cultura e de órgãos estaduais e municipais de
preservação”. A autora lembra que predomina nos órgãos estaduais que trabalham com
70
patrimônio uma tendência para a exploração turística do patrimônio local, como ocorre na
região nordeste do País. Os órgãos municipais, por sua vez, vêm desenvolvendo experiências
inovadoras a partir do conceito de cidadania cultural. Portanto, a instituição federal de
preservação do patrimônio não constitui mais a única alternativa para a proteção dos bens
culturais de valor histórico e artístico.
As transformações ocorridas nas práticas de patrimônio a partir dos anos 70
contribuíram para deslocar o foco conceitual da preservação de uma idéia
abrangente de nação para a valorização do patrimônio como recurso para o
desenvolvimento de cidades históricas (LEITE, 2004, p.58).
Considerando o âmbito estadual em que se desenvolve a discussão no que diz respeito à
legislação que classifica e busca proteger o patrimônio histórico e artístico e que interessa ao
presente estudo, passa-se agora a considerar o papel do Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA-MG.
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - IEPHA-MG é uma
fundação vinculada à Secretaria de Estado da Cultura e foi criado pela Lei 5.775, de 30 de
setembro de 1971
45
.
Sua competência e suas atribuições são as mesmas ou são
complementares às do órgão federal de proteção do patrimônio, o Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional IPHAN. Com a missão de identificar, registrar, proteger e
restaurar o acervo de bens culturais do Estado de Minas Gerais, o IEPHA-MG assume em sua
postura que:
Para preservar o patrimônio cultural é necessário, inicialmente, conhecê-lo através
de inventários e pesquisas realizadas pelos órgãos de preservação, em conjunto com
as comunidades. O passo seguinte será a utilização dos meios de comunicação e do
ensino formal e informal para a educação e informação das comunidades, visando
desenvolver o sentimento de valorização dos bens culturais e a reflexão sobre as
dificuldades de sua preservação.
46
Entre as formas de proteção do patrimônio cultural, desde o inventário e o cadastro até o
tombamento, as ações do IEPHA-MG se apóiam também na adequação de normas
urbanísticas, o que pode ser consolidado nos planos diretores e nas leis municipais de uso e
ocupação do solo. As diretrizes definidas por esses instrumentos são determinantes para o
45
IEPHA-MG. Diretrizes para Proteção do Patrimônio. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br>.
Acesso em: 03 jun. 2006.
46
Idem.
71
surgimento e a manutenção das formas de apropriação do espaço pela comunidade,
considerando, por exemplo, que o entorno das edificações tombadas merece tratamento
especial, apropriado ao movimento que a edificação e seu uso desencadeiam. Em suas
Diretrizes para a Proteção do Patrimônio
47
,
o IEPHA-MG declara que
:
A preservação do bem cultural está vinculada à sua correta utilização e integração ao
cotidiano da comunidade. A atuação do poder público deve ser exercida em caráter
excepcional, quando faltarem recursos técnicos ou materiais ou, ainda, organizações
coletivas capazes de assumir as ações de preservação necessárias.
Considerar o papel da comunidade no processo de preservação pode valer tanto para a
definição dos valores que devem ser preservados quanto para a melhor alternativa de fazer
isso. O esforço é válido também para estimular o debate sobre o que é e como se deve lidar
com o patrimônio cultural, esclarecendo nesta discussão a função do Estado. Velho (1984,
p.39) complementa essa questão afirmando que devemos estar preparados para eventuais
revisões da legislação que permitam o amparo e a proteção, sem imobilismo e paralisia”.
Revisões na legislação são pertinentes em todas as instâncias da sociedade, mantendo a
coerência com as transformações da dinâmica social.
Entre os programas desenvolvidos pelo IEPHA-MG, está o Programa de Municipalização do
Patrimônio Cultural de Minas Gerais, iniciativa pioneira e única no País
48
. Para o repasse
aos municípios de 25% do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ICMS
arrecadado pelo Estado de Minas Gerais, conforme determina a legislação brasileira,
incluíram-se, entre os critérios para distribuição dos recursos, os investimentos municipais
realizados na preservação do patrimônio cultural. O IEPHA-MG elabora e analisa os critérios
para o repasse dos recursos e presta assessoria aos municípios mineiros para que, juntos,
estabeleçam e implantem uma política de preservação do patrimônio cultural adequada às
características de cada comunidade”.
49
Com esse programa, o IEPHA-MG objetiva atingir
maior abrangência e descentralização da proteção do patrimônio no estado. Os resultados
obtidos referem-se à criação e ao funcionamento de centenas de conselhos municipais de
patrimônio cultural que seguem a metodologia adotada pelo IEPHA-MG, e, ainda, à criação
47
IEPHA-MG. Diretrizes para Proteção do Patrimônio. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br>.
Acesso em: 03 jun. 2006.
48
IEPHA-MG. Programas e Projetos. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br>. Acesso em: 16 set. 2007
49
Idem.
72
de um banco de dados com informações detalhadas sobre milhares de bens culturais tombados
ou inventariados em instância municipal
50
.
50
IEPHA-MG. Programas e Projetos. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br>. Acesso em: 16 set. 2007.
73
5 O PATRIMÔNIO CULTURAL EM BELO HORIZONTE
Retomando o pensamento de Jeudy (2005), conforme apresentado no item 3.1 desta
dissertação, considera-se que o patrimônio é reconhecível à medida que é gerado por uma
sociedade que considera seus locais, objetos e monumentos como reflexos inteligíveis de sua
história e de sua cultura. Assim, para discutir o patrimônio cultural material em Belo
Horizonte, resgatam-se, inicialmente, aspectos da sua história entendidos como determinantes
para a atribuição de valores aos bens inventariados e tombados que integram o patrimônio da
cidade.
Construída entre 1894 e 1897, Belo Horizonte figura como a obra simbólica de
maior envergadura da República em Minas. Embora a idéia de mudança da capital
fosse antiga, o advento do novo regime constituiu um momento propício para que as
elites mineiras concretizassem o projeto (JULIÃO, 1996, p.49).
Essa mesma autora afirma que a criação de Belo Horizonte se deu sob a influência da idéia de
que o advento da República era um sinal de ruptura com o passado, preconizando a
modernização e o desenvolvimento nacional. Com relação à projeção dessa atmosfera sobre o
espaço físico da cidade, a autora considera que o “espaço urbano era descoberto como
horizonte dessa nova ordem e a tarefa de reorganizá-lo chegava mesmo a se confundir com o
projeto de modernização” (JULIÃO, 1996, p.51), reflexo da modernização em curso na
Europa, cujo repertório urbanístico foi absorvido e reproduzido pela comissão construtora da
nova capital, e da percepção do atraso em que se encontrava o País.
Suas ruas, avenidas e praças representavam uma ruptura radical com a tradição do
urbanismo colonial mineiro, delineando um espaço emblemático de um novo tempo.
Uma paisagem arrojada, plantada em meio ao ‘sertão’ mineiro, que surpreendia os
habitantes, embaraçados, muitas vezes, na linguagem enigmática de seu ambiente
(JULIÃO, 1996, p.53).
A cidade de Belo Horizonte foi planejada de acordo com a ordem positivista, ficando expressa
a ideologia de ordem e progresso em suas linhas e esquinas retas, rigidamente delimitadas,
mais adaptadas aos cânones barrocos da tradição ibérica e do modismo francês do que às
condições específicas da natureza e do terreno onde se implantava(MONTE-MÓR, 1994,
p.14). Ao comentar sobre isso, esse autor aponta a Avenida Afonso Pena como o eixo
monumental a partir do qual a cidade se organizou, como um elemento estrutural estético e
74
simbólico da constituição e expressão do poder da cidade-capital, e sobre a mesma avenida
afirma:
Ali se constituiu o centro urbano, dali partem as grandes avenidas radiocêntricas,
está o acesso ao grande parque barroco, e seu traçado monumental aparece com toda
a grandiosidade, criando uma das mais belas perspectivas da cidade, já tornada
imagem privilegiada em fotografias e postais (MONTE-MÓR, 1994, p.14).
Para Carsalade (2006), há, em Belo Horizonte, que se formou e se configurou como uma
cidade típica do século XX, a convivência temporal de diversos estilos arquitetônicos, que
tiveram influência de modelos externos, passando por adaptações locais. Buscando traçar uma
linha evolutiva estilística de Belo Horizonte, o mesmo autor informa que, sobrepondo-se à
arquitetura rural do antigo Curral d’el Rey, as construções da nova cidade assumem o estilo
eclético da primeira fase, com influência neoclássica e neogótica, adequado aos novos tempos
e à celebração do poder civil, em sintonia com a influência européia e a religiosidade
ocidental. Esse estilo foi lentamente substituído pelo ecletismo da segunda fase, na década
de 1920, com nova influência: o art-déco, coerente com a mentalidade progressista da nova
capital. Na década de 1930, instaurou-se o estilo eclético tardio com influência predominante
do neocolonial e de outras referências formais européias e norte-americanas, com o início da
verticalização dos edifícios.
Os anos 1940, quando Juscelino Kubitschek foi prefeito de Belo Horizonte, foram marcados
pelas obras de Oscar Niemeyer propondo caminhos próprios para uma arquitetura nacional, a
arquitetura modernista brasileira que realmente veio a se consagrar na cidade a partir da
década de 1950, com volumes resultantes de plantas livres, grandes painéis de vidro, grandes
afastamentos frontais. Com os anos 1970 veio a crise do movimento moderno, com seu
racionalismo e purismo na composição dando lugar a uma nostalgia do passado que abriu
espaço para uma fase denominada “coloniosa”, com formas antigas realizadas com tecnologia
contemporânea. Na cada de 1980, os arquitetos belo-horizontinos receberam a influência
dos novos movimentos internacionais que exigiam maior liberdade criativa e abraçaram o
pós-modernismo de forma destacada no cenário brasileiro. Aos poucos, esse estilo foi
perdendo força e abriu espaço para a arquitetura contemporânea, sem influências únicas e
repleta de manifestações expressivas distintas (CARSALADE, 2006).
75
Essa diversidade de estilos arquitetônicos, com edificações representativas espalhadas pela
cidade, confere a Belo Horizonte um caráter de multiplicidade que exigiu dos órgãos
responsáveis pela proteção desses exemplares históricos como patrimônio cultural material a
elaboração de critérios específicos para sua identificação e classificação. A sistemática de
tombamento na cidade é baseada na identificação de conjuntos urbanos, na tentativa de reunir
grupos de edificações de acordo com seu período histórico e seus atributos. As iniciativas de
proteção voltam-se para a manutenção dessa diversidade de estilos na paisagem urbana, como
um registro da história da cidade, em todas as suas fases.
Apesar da pouca idade, Belo Horizonte já apresenta um processo avançado de
substituição de suas edificações, onde o antigo foi muitas vezes demolido em nome
do novo, da ‘modernidade’, independentemente de se averiguar qual seria o valor
histórico do que está sendo derrubado para a história da cidade. Felizmente essa
prática está sendo revertida a partir do trabalho do Conselho Deliberativo do
Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte que analisa cuidadosamente
cada substituição, reconhecendo a cidade como um processo dinâmico, mas também
reconhecendo seu legado histórico e sua personalidade própria revelada na sua
imagem urbana (OLIVEIRA, 2006, p.5).
Entendida como um processo dinâmico, a cidade se conforma de acordo com as necessidades
e as exigências da comunidade que nela reside, a qual tem o papel de construir e fazer
reconhecer a identidade do lugar que ocupa, com suas características físicas e seus aspectos
simbólicos. O patrimônio urbano reconhecido e assumido pela população confere ao território
um caráter significante que situa os moradores no tempo e no espaço, estabelecendo relações
de identificação com o lugar e com o grupo que constituem. O envolvimento da comunidade
com a questão do patrimônio, então, pode ser pensado como um processo identitário, de
projeção das identidades na imagem da cidade. Em Belo Horizonte, a população passou a
participar ativamente da discussão da questão do patrimônio, a partir do final da década de
1980.
A população da cidade de Belo Horizonte, atenta à questão, reagiu em defesa de seu
patrimônio e tomou medidas importantes: em 1989, constituiu o Conselho
Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte, com representação da
sociedade civil e com independência do poder de veto do prefeito; em 1992,
apresenta-se o trabalho “Bens Culturais Arquitetônicos e Paisagísticos na Área
Central de Belo Horizonte – Normas Urbanísticas de Proteção; em 1994, efetiva-se o
grande tombamento dos conjuntos urbanos da região central da cidade (PRAXIS,
1996).
76
A atenção ao patrimônio e as implicações de seu entendimento e sua manutenção continuaram
desencadeando movimentos em várias direções concretizados em projetos que evidenciassem
e registrassem os bens patrimoniais da cidade, como, por exemplo, a publicação do Guia de
Bens Tombados de Belo Horizonte, em 2006, realizada com os benefícios da Lei Municipal
de Incentivo à Cultura.
5.1 A legislação urbanística municipal para a proteção do patrimônio cultural
Para observar as possibilidades de apropriação do espaço urbano pela comunidade, é
conveniente que seja identificada a atuação da legislação urbanística municipal para a
proteção do patrimônio cultural da cidade. Sendo o município o responsável por legislar sobre
o uso e a ocupação do solo, a proteção do patrimônio torna-se efetiva no âmbito municipal,
por meio do estabelecimento de uma política própria de preservação com leis específicas e da
criação de um conselho municipal do patrimônio cultural que ofereça suporte técnico para a
participação da sociedade.
O Município de Belo Horizonte conta com a Lei 7166
51
,
de 27 de agosto de 1996, que
estabelece as normas e as condições para parcelamento, ocupação e uso do solo urbano no
Município. Em 21 de dezembro de 2000 esta Lei foi alterada pelas determinações da Lei
8137
52
.
Esta Lei, em seu Artigo 9º, confirma o compromisso da administração municipal em
promover campanhas educativas que visem à promoção e à proteção do patrimônio cultural e
que cheguem efetivamente a toda a população; promover a integração entre os órgãos
municipais, estaduais e federais com outras entidades visando ao incremento de ações
conjuntas eficazes de preservação, recuperação e conservação do patrimônio cultural;
incentivar estudos e pesquisas direcionados à busca de alternativas tecnológicas e
metodológicas para a área de restauração, conservação e proteção do patrimônio cultural;
elaborar a caracterização e o mapeamento das áreas e bens tombados de Proteção da Memória
e do Patrimônio Cultural e de suas respectivas diretrizes e promover estudos com vistas à
proteção das manifestações culturais populares.
51
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Lei de Uso e Ocupação do Solo. Disponível em:
<http://www.pbh.gov.br/leiuso/lei-7166.htm>. Acesso em: 01 ago. 2006.
52
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Lei de Uso e Ocupação do Solo. Disponível em:
<http://www.pbh.gov.br/leiuso/lei-8137.htm>. Acesso em: 01 ago. 2006.
77
O Artigo 182 do Capítulo II do Título VII da Constituição da República Federativa do Brasil
53
determina que as cidades com mais de 20 mil habitantes devem elaborar um Plano Diretor, a
ser aprovado pela Câmara Municipal, constituindo o instrumento básico para a sua política de
desenvolvimento e de expansão urbana. Um dos objetivos do Plano Diretor do Município de
Belo Horizonte
54
,
que objetiva o desenvolvimento sustentado do Município, tendo em vista as
aspirações da coletividade e sendo um instrumento de orientação da atuação do Poder Público
e da iniciativa privada, é preservar, proteger e recuperar o meio ambiente e os patrimônios
cultural, histórico, paisagístico, artístico e arqueológico municipais.
Os diversos mecanismos à disposição do município que abrangem a proteção ao patrimônio
cultural são eficazes no que se refere ao controle urbanístico e à ordem fiscal e penal. São
estabelecidos, além das diretrizes gerais da política local de proteção, critérios de incentivo à
preservação ou compensações a danos ao patrimônio. Entende-se que a preservação da
memória deve participar da metodologia de elaboração do Plano Diretor ou da Lei de Uso e
Ocupação do Solo. As cidades podem incorporá-la ao seu zoneamento básico, definindo
setores especiais de preservação, com regras urbanísticas próprias, com potencial construtivo
compatível ou restrito, de modo a não estimular sua destruição ou substituição.
A política municipal de preservação do patrimônio determina medidas de incentivo e
reconhecimento das ações empreendidas nesse sentido. É usual a isenção de impostos sobre
serviços aos estabelecimentos que cumpram relevante papel na sociedade ou quando existe a
intenção de incrementar determinado uso do solo em trechos urbanos, em movimentos de
requalificação/compatibilização com o patrimônio existente. ainda a isenção do Imposto
Predial e Territorial Urbano IPTU para facilitar aos proprietários de imóveis tombados o
cuidado com sua manutenção.
53
BRASIL - Presidência da República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/legislacao/Constituicao/Constituiçao.htm>. Acesso em: 01 ago. 2006.
54
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Plano Diretor do Município de Belo Horizonte.
Disponível em: <http://www.pbh.gov.br/ativurb/novalei/plano/ind7165.htm>. Acesso em: 01 ago. 2006.
78
5.2 Considerações sobre a requalificação de centros urbanos
Fazendo valer sua política municipal de preservação do patrimônio, em janeiro de 2004, a
Prefeitura de Belo Horizonte lançou o Programa Centro Vivo. O conjunto de obras e projetos
sociais pretende recuperar toda a área central da cidade e criar condições para reforçar o
papel do Centro de Belo Horizonte como região simbólica da cidade e do estado, valorizando
a diversidade de suas atividades e consolidando-a como local de encontro de todos
55
.
O
Programa envolve a requalificação de espaços públicos, ruas e avenidas, a preservação do
patrimônio e a realização de obras de melhoria e manutenção da infra-estrutura.
Contemplando a qualidade ambiental, a valorização da paisagem urbana, a melhoria das
condições de mobilidade e segurança, o Programa Centro Vivo inclui em suas frentes de
trabalho o fomento das atividades econômicas por meio de ações que estimulem o comércio e
gerem emprego e renda.
A requalificação do centro de Belo Horizonte reflete uma tendência que vem sendo observada
nas metrópoles brasileiras e que, segundo Meneguello (2007), pode ser considerada, por um
lado, como estratégia de preservação e revalorização de áreas degradadas da cidade, e, por
outro, como processo de expulsão dos habitantes historicamente enraizados, transformando
essas áreas em simulacros da vida tradicional, formatados na maioria dos casos para o
turismo. Esta segunda possibilidade remete ao processo de gentrificação, mencionado no
item 3.3.1 desta dissertação, e que, segundo Leite (2004), designa a alteração da paisagem
urbana, com a transformação de sítios históricos degradados em áreas de entretenimento
urbano e consumo cultural e a transformação dos significados dessa área histórica em
segmento de mercado, considerando a apropriação cultural do espaço também sob a
perspectiva econômica.
Esse processo [...] tem resultado muitas vezes em uma relocalização estética do
passado, cujo padrão alterado de práticas que mimetizam o espaço público torna o
patrimônio passível de ser reapropriado por alguns segmentos da população e por
seus visitantes. Algumas áreas “marginais” das grandes cidades vão-se transmutando
em complexos centros de lazer, com sofisticados bares, restaurantes e galerias de
arte. Numa apropriação quase privada do espaço urbano, essas práticas segmentam
áreas centrais das cidades históricas e as transformam em cenário de disputas por um
fragmentado espaço de visibilidade pública (LEITE, 2004, p. 20).
55
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. Prefeitura lança Programa Centro Vivo.
Disponível em: <http://portal4.pbh.gov.br/pbh/pgESEARCH_CENTRO.html>. Acesso em: 01 ago. 2006.
79
As áreas centrais das metrópoles, como é o caso de Belo Horizonte, passam ao longo do
tempo por transformações em sua forma e em sua função, com o surgimento de novas
edificações paralelamente à decadência das edificações antigas até que estas mereçam a
atenção e a iniciativa dos órgãos de defesa do patrimônio. A mudança de usos em meio à
manutenção de aspectos físicos originais decorrentes de projetos de requalificação pode
atribuir a essas áreas centrais uma atratividade que as transforma em pontos de convergência
da população em função de valores do passado que são compartilhados e concretizados nas
edificações remanescentes. Os locais requalificados se apresentam, então, para receber
atividades de lazer, turismo e consumo cultural, e a permanência das edificações preservadas
e restauradas parece “compensar” a ausência de um passado que não existe e nem volta mais,
mesmo tendo sido determinante para a construção da identidade local. Sobre essa questão,
Santos J. (2006) cita Lefebvre
56
: o núcleo urbano torna-se, assim, produto de consumo de
alta qualidade para estrangeiros, turistas, pessoas oriundas da periferia, suburbanos.
Sobrevive graças a este duplo papel: lugar de consumo e consumo do lugar. Assim, os
antigos centros (...) tornam-se centros de consumo.
56
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. São Paulo: Moraes, 1991, p.12.
80
6 A PRAÇA DA ESTAÇÃO
A Praça da Estação acompanha a história de Belo Horizonte desde a sua fundação, quando
ainda se chamava Cidade de Minas. A estação ferroviária da nova capital, pela qual chegaram
os materiais para a construção da cidade, marca presença no cenário urbano desde o
lançamento da pedra fundamental do prédio da Estação de Minas, em 1894
57
.
Na mesma
estação em que chegou o comboio de inauguração da nova capital, em 1897, embarcam e
desembarcam hoje milhares de passageiros diariamente tanto nos trens que seguem pela
Estrada de Ferro Vitória-Minas - EFVM quanto no metrô de superfície da Superintendência
de Trens Urbanos de Belo Horizonte - CBTU STU/BH, que opera em duas linhas
58
, a
Eldorado-Vilarinho e a Barreiro-Santa Tereza, transportando 144 mil usuários que transitam
diariamente pelas 19 estações do sistema.
O antigo prédio da Estação de Minas, demolido em 1920, deu lugar ao novo edifício em estilo
neoclássico da Estação Central, inaugurado em 1922
59
e tombado pelo Instituto Estadual do
Patrimônio Histórico e Artístico IEPHA-MG em 15 de março de 1988, pelo decreto
27.927
60
, junto com as demais edificações que compõem o conjunto arquitetônico e
paisagístico da Praça Rui Barbosa, nome oficial da Praça da Estação desde 1923.
A Praça Rui Barbosa é a Praça da Estação, a porta original de entrada na nova
capital mineira, a praça do povo, por onde chegava o trem de Minas. Apesar de ter
sua pedra fundamental lançada em 1894, antes da inauguração da cidade portanto, a
sua construção se iniciou em 1904 e terminou em 1914. Como exemplo da
rápida substituição de edifícios que viria marcar a história da cidade, a praça teve
seu primeiro prédio da Estação (belíssimo, projetado por Jo de Magalhães)
substituído por outro, projetado por Luiz de Olivieri, inaugurado em 1922, também
de grande beleza (CASTRO, 2006, p.23).
Da decisão da Comissão Construtora, sob a chefia do engenheiro Aarão Reis, de demolir todo
o antigo Arraial de Curral del Rei para a implantação da nova cidade, a Praça da Estação
57
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS. Cronologia da Praça da Estação. Disponível em:
<http://www.mao.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
58
CBTU. Operação. Disponível em: <http://www.metrobh.gov.br/pagina_horizontal>. Acesso em 01 set. 2007.
59
Idem.
60
IEPHA-MG. Decreto N° 27.927 de 15/03/88 – Tombamento do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da
Praça Rui Barbosa, compreendendo a Praça, Jardins e Esculturas, Estação Central, Antiga Estação Ferroviária
Oeste de Minas, Casa do Conde de Santa Marinha, Edifício Chagas Dória, Serraria Souza Pinto, Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Eletrotécnica, Antigo Instituto de Química,
Pavilhão Mário Werneck e Viaduto Santa Tereza. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br>. Acesso em:
03 jun. 2006.
81
assistiu, junto com a capital de Minas Gerais, à instalação do primeiro mostrador (relógio)
público da cidade, instalado na torre do prédio da Estação de Minas; à mudança do nome da
capital mineira, de Cidade de Minas para Belo Horizonte; à visita do Rei e da Rainha da
Bélgica, recebidos por uma multidão, em 1920, após desembarcarem de vagões fabricados
especialmente para a ocasião; à acelerada expansão urbana horizontal e vertical, entre 1940 e
1950, com grande desenvolvimento do transporte rodoviário provocando mudanças no uso da
Estação Central; à perda da importância do trem como meio de transporte, dando lugar ao
ônibus, ao automóvel e ao avião; à criação da Região Metropolitana de Belo Horizonte, em
1972, com a expansão dos bairros periféricos da cidade; a manifestações políticas, comícios e
passeatas que, na década de 1980, voltaram a ocupar o espaço da Praça, coincidindo com o
início da campanha liderada pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil IAB/MG pela
preservação do acervo urbanístico da Praça Rui Barbosa
61
.
A partir daí, a história da Praça da
Estação tem seu valor evidenciado e, entre vários acontecimentos e transformações diversas
pelas quais a cidade vem passando, esta mesma história continua sendo construída em
articulação com o crescimento e o desenvolvimento de Belo Horizonte.
6.1 Suas características e seus usos
No caso da Praça da Estação, sua história registra movimentos para a inclusão de seu conjunto
arquitetônico e paisagístico nas prioridades da legislação vigente de proteção ao patrimônio.
Em 1980, uma campanha liderada pelo Instituto dos Arquitetos do Brasil – IAB/MG defendeu
a preservação do acervo urbanístico da Praça Rui Barbosa, ameaçado de descaracterização
pela implantação de uma estação de trem metropolitano, para a qual seria demolido o
conjunto arquitetônico da Praça e seriam instalados vários terminais de ônibus para a
integração com o metrô
.
Na ocasião, grupos de defesa do patrimônio cultural se mobilizaram
e lançaram um movimento, pioneiro em Belo Horizonte, para a proteção e a recuperação de
um espaço urbano historicamente significativo. No ano seguinte foi realizado o Encontro pela
Revitalização da Praça Rui Barbosa, com debates sobre a importância da preservação de seu
61
IEPHA-MG. Decreto N° 27.927 de 15/03/88 – Tombamento do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da
Praça Rui Barbosa, compreendendo a Praça, Jardins e Esculturas, Estação Central, Antiga Estação Ferroviária
Oeste de Minas, Casa do Conde de Santa Marinha, Edifício Chagas Dória, Serraria Souza Pinto, Escola de
Engenharia da Universidade Federal de Minas Gerais, Instituto de Eletrotécnica, Antigo Instituto de Química,
Pavilhão Mário Werneck e Viaduto Santa Tereza. Disponível em: <http://www.iepha.mg.gov.br>. Acesso em:
03 jun. 2006.
82
conjunto urbano. Participaram técnicos dos poderes públicos que estavam propondo a
instalação do metrô e representantes políticos e de entidades civis de proteção do patrimônio
cultural. Sete anos mais tarde, o conjunto arquitetônico e paisagístico da Praça foi tombado
pelo IEPHA-MG. Antes disso, porém, em 1985, uma lei municipal, em anexo à Lei de Uso e
Ocupação do Solo de Belo Horizonte, definiu o perímetro da Área de Proteção do Conjunto
da Praça Rui Barbosa, resultado da ação da sociedade civil em defesa da Praça, e em 1989 foi
constituído o Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte
62
.
A Praça da Estação, hoje, confirma sua condição de ser referência na paisagem urbana para a
população de Belo Horizonte, abrigando um conjunto tombado como patrimônio cultural
estadual e protegido pela municipalidade, com a delimitação de um perímetro de proteção do
conjunto constante da Lei de Uso e Ocupação do Solo de Belo Horizonte, Anexo 7, de 1985
63
,
que prevê restrições à altimetria de novas construções. O conjunto da Praça localiza-se em
um dos pontos mais baixos do vale do Ribeirão Arrudas, apresentando topografia muito
plana, o que lhe confere singularidade dentro da área central, cujo sítio é bastante
acidentado(PRAXIS, 1996). Edificações do final do século XIX e do início do século XX,
de estilo predominantemente eclético de gosto neoclássico, destacam-se no conjunto, como o
Centro Cultural da UFMG, a Serraria Souza Pinto, o prédio da Estação Central, os armazéns
da Rede Ferroviária, a Casa e as oficinas do Conde de Santa Marinha.
também construções com detalhes de inspiração art-nouveau ou art-déco que pertencem
ao conjunto ou localizam-se em seu entorno imediato, e elementos que marcam física e
funcionalmente a cidade, como os viadutos da Floresta e de Santa Tereza. Com relação às
edificações da área predominam os usos de serviço coletivo, comercial e industrial (pequenas
indústrias não poluentes, gráficas, confecções, etc.), os quais são regulados pela Lei de Uso e
Ocupação do Solo em vigor em Belo Horizonte.
62
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS. Cronologia da Praça da Estação. Disponível em:
<http://www.mao.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
63
De acordo com o Art. 79 do Capítulo VI da Lei 7.166 - Lei de Uso e Ocupação do Solo do Município de Belo
Horizonte, revista em aprovada em 07 de agosto de 1996, - A área de Diretrizes Especiais - ADE do Vale do
Arrudas, em função de sua localização estratégica e de suas condições de degradação ou subutilização, demanda
projetos de reurbanização. Disponível em: <http://www.pbh.gov.br/ativurb/novalei/solo/c8.htm>. Acesso em: 01
set. 2007.
83
O Dossiê de Tombamento do Conjunto Urbano Praça Rui Barbosa e adjacências (Praça da
Estação) elaborado em 1996 pela Práxis Projetos e Consultoria Ltda. para a Secretaria
Municipal de Cultura já identificava uma tendência da área de abrigar atividades culturais.
Acredita-se que isso teve início com campanhas desencadeadas por instituições
públicas para proteção e valorização do local, fato que conduziu à realização de
shows e outras atividades para o espaço da Praça, levando, dentre outras iniciativas,
à criação do Centro Cultural da UFMG. Além disso, mais recentemente, houve a
descoberta dos galpões da Avenida dos Andradas como espaço potencial para shows
de rock, feiras, bares, em função de seu porte (grandes vãos, pés-direitos altos), e de
seus espaços degradados, que lhes conferem aspectos underground ou trash, muito
em voga nos dias de hoje, principalmente entre o público mais jovem (PRAXIS,
1996).
Essa tendência fortaleceu-se e confirmou-se ao longo do tempo, com a consolidação do
Centro Cultural da UFMG
64
, inaugurado em 1989 com o objetivo de promover, produzir e
divulgar cultura, e com a inserção no cenário cultural da cidade dos espaços e da programação
da Serraria da Serraria Souza Pinto e da Casa do Conde de Santa Marinha.
A Serraria Souza Pinto
65
foi inaugurada em 1913 e produzia materiais para as edificações da
jovem capital mineira. Em 1988, o edifício foi restaurado e adaptado pelo IEPHA-MG e
incorporado ao patrimônio do Estado, passando a ser administrado pela Fundação Clóvis
Salgado em 1998. O espaço tem cinco mil metros quadrados de área construída e abriga, hoje,
eventos culturais, empresariais, técnico-científicos, sociais e comerciais, com capacidade para
receber até quatro mil pessoas por evento. Um dos eventos de maior destaque que acontecem
na Serraria Souza Pinto é o Salão do Livro e Encontro de Literatura de Belo Horizonte, que
teve sua primeira edição realizada no ano 2000 com um público de 50.000 pessoas - e
resulta de esforços comuns e ações estratégicas convergentes entre parceiros empenhados em
promover a leitura, ajudando a sociedade a perceber o papel que essa experiência exerce na
formação das pessoas. A oitava edição do Salão do Livro aconteceu no período de 10 a 24 de
junho de 2007, contabilizando mais de 130.000 visitantes
66
.
64
CENTRO CULTURAL DA UFMG. Quem somos. Disponível em:
<http://www.ufmg.br/centrocultural/quem_somos.htm> Acesso em: 01 de setembro de 2007.
65
SERRARIA SOUZA PINTO. História. Disponível em:
<http://www.fcs.mg.gov.br/serraria/serraria_souza_hist.html> Acesso em: 01 de setembro de 2007.
66
Salão do Livro e Encontro de Literatura de Belo Horizonte. Disponível em:
<http://www.salaodolivro.com.br/internas_bh_2a_etapa/info_historia.php> Acesso em: 11 out. 2007.
84
A Casa do Conde de Santa Marinha
67
foi construída em 1896/1897 para ser a moradia do
português Antônio Teixeira Rodrigues, integrante da equipe construtora da Nova Capital. O
espaço composto pela casa do Conde e alguns galpões em seu entorno abrigou um colégio,
o Instituto Brasileiro do Café IBC, o Escritório Regional da Rede Ferroviária, o Museu
Ferroviário, a 14ª Divisão da RFFSA, o Distrito de Produção e o Departamento de
Patrimônio da Superintendência Regional de Belo Horizonte. Tombada pelo Instituto Estadual
do Patrimônio Histórico e Artístico IEPHA MG por meio do Decreto 27.927, de 05 de
março de 1988, e pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, em 1998, a Casa do Conde de
Santa Marinha passou por um processo de revitalização iniciado no ano de 2000 para abrigar
o evento “Casa Cor” e concluído em 2003, quando o espaço foi assumido pelo IEPHA-MG. A
partir daí, a Casa do Conde passou a ser utilizada para os mais variados eventos, confirmando
sua vocação para os setores de cultura e turismo. O espaço hoje abriga as sedes regionais do
IPHAN e da FUNARTE e as atividades nele realizadas destinam-se basicamente à formação
cultural.
A presença e o funcionamento desses espaços na região central da cidade, no entorno da Praça
da Estação, sugeriam a constituição de um “corredor cultural” e foram determinantes para
desencadear o processo de revitalização da área, cujas últimas intervenções foram
concretizadas com a restauração do prédio da Estação Central para abrigar o Museu de Artes e
Ofícios e com a construção do Boulevard Arrudas.
Quando, em 2000, foi divulgado um projeto de instalação, na área da Praça Rui Barbosa, de
um Museu de Artes e Tradições Populares, uma iniciativa da empresária Ângela Gutierrez
que culminou com o início da instalação, em 2002, do Museu de Artes e Ofícios no edifício
da Estação Central, não se conhecia, ainda, o projeto da Linha Verde.
Lançado em maio de
2005
68
,
o projeto consiste em um grande conjunto de obras viárias em Belo Horizonte e
Região Metropolitana, que inclui intervenções na Avenida dos Andradas e a construção do
Boulevard Arrudas, com extensão de 1,4 km e inaugurado em 07 de março de 2007. Um de
seus trechos situa-se em frente à Praça Rui Barbosa, que desde a inauguração do Museu de
Artes e Ofícios, em 14 de dezembro de 2005, com abertura ao público a partir de 10 de
67
IEPHA-MG. Casa do Conde. Belo Horizonte: 2004. Trabalho não publicado.
68
GOVERNO DE MINAS GERAIS. Conheça a Linha Verde. Disponível em:
<http://www.linhaverde.mg.gov.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
85
janeiro de 2006
69
, vem sendo completamente requalificada, para acompanhar os novos usos de
seus elementos e seu entorno. A Praça ganhou novo piso e calçadas, lixeiras e bancos, e terá,
além das fontes, novos postes e luminárias. Seu traçado original foi recuperado e a Praça será
contornada por cerca de 90 árvores. Atualmente, estão sendo concluídas as obras de drenagem
e paisagismo, mas as fontes já foram totalmente recuperadas, ganhando nova pintura e sistema
elétrico
70
.
As transformações do entorno e o novo uso dado ao edifício da Estação Central revelam
novas possibilidades de apropriação do espaço urbano pela comunidade, manifestadas pelas
referências visuais construídas por quem inclui a região no seu percurso diário ou por quem se
dirige a ela eventualmente por razões específicas. Tais referências, que de marcos visuais na
paisagem urbana adquirem, ao serem interpretadas pelas pessoas, um caráter cultural, acabam
por atribuir uma certa identidade para a Praça da Estação, tanto no que diz respeito a seu
papel na história de Belo Horizonte como no que se refere à constituição de mais um espaço
da cidade aberto a manifestações culturais diversas e completamente integrado no dia-a-dia da
população.
Nesta análise, não se pode deixar de mencionar, também, que o Museu de Artes e Ofícios -
MAO constitui um ponto de atratividade turística pela qualidade de seu acervo e pelo caráter
especial do espaço que este ocupa: um edifício cujas características e significado foram
argumentos fortes o suficiente para desencadear o seu processo de tombamento e transformá-
lo em um dos monumentos históricos da cidade de Belo Horizonte. Tal condição de
atratividade também estimula novas formas de apropriação do espaço tanto pela comunidade
local como pela população visitante.
Para exemplificar essa relação, busca-se entender como a presença do Museu de Artes e
Ofícios interfere na apropriação do espaço da Praça da Estação pela comunidade. Talvez as
pessoas já percebam que a Praça é outra, que algo diferenciado existe ali, mesmo o MAO não
fazendo parte ainda do seu imaginário, pela forte referência histórica e identitária da Estação
Ferroviária, cuja manutenção no universo simbólico da comunidade é coerente com o trabalho
69
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS. Cronologia da Praça da Estação. Disponível em
<http://www.mao.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
70
GOVERNO DE MINAS GERAIS. Notícias: Boulevard Arrudas: fontes da Praça Rui Barbosa testadas com
sucesso. Disponível em: <http://www.linhaverde.mg.gov.br/imprensa>. Acesso em: 01 set. 2007.
86
pretendido pelo Museu. A manutenção do uso original do espaço convive com o novo uso que
a ele se propõe, assim como se misturam as formas de apropriação.
O transeunte que passa por ali pode ver um espaço que vem merecendo atenção e refletindo a
preocupação da administração municipal e a aceitação da comunidade. O visitante da Praça da
Estação pode escolher visitá-la por razões que antes não existiam, quando o seu espaço, ainda
sob a denominação de Praça, abrigava um estacionamento mal iluminado e pouco seguro. O
visitante do Museu pode chegar até ele depois de percorrer o espaço da esplanada da Praça,
que funciona como uma transição entre o espaço da rua, de ação e movimento, para um
espaço de contemplação e de novas experiências de percepção.
Em consonância com a transformação da Praça da Estação, o Programa Centro Vivo,
apresentado anteriormente, envolve requalificação urbanística e ambiental, inclusão e
revitalização econômica, inclusão social e segurança para a área central de Belo Horizonte.
Com os resultados que o Programa vêm apresentando, o centro da cidade começa a ser
percebido de forma diferente. As pessoas também se sentem valorizadas ao perceberem esses
movimentos para o tratamento do espaço urbano e, por se sentirem valorizadas, passam a
colaborar. Na área de entorno da Praça da Estação tornam-se melhores os acessos, as
condições de circulação, o revestimento da calçada, a travessia das ruas, a sinalização, a
iluminação. Concluídas as obras da Linha Verde e do Boulevard Arrudas, uma nova imagem
urbana foi configurada na região e novas formas de apropriação do espaço começam a ser
descobertas e assumidas.
Para o sucesso do Programa Centro Vivo, a Prefeitura considera fundamental a participação
da iniciativa privada e, no conjunto do processo de requalificação da Praça da Estação,
reconhece o valor da inauguração do Museu de Artes e Ofícios, uma iniciativa do Instituto
Cultural Flávio Gutierrez.
Considerado o primeiro empreendimento museológico brasileiro dedicado integralmente ao
tema das artes, dos ofícios e do trabalho no País, o Museu de Artes e Ofícios
71
foi inaugurado,
em Belo Horizonte-MG, em 14 de dezembro de 2005 e aberto definitivamente ao público em
janeiro de 2006. Em seus nove mil metros quadrados de área estão os prédios históricos da
71
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS. Disponível em: <http://www.mao.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
87
Estação Central da cidade, sendo que no local funcionam uma estação de metrô de superfície
da Superintendência de Trens Urbanos de Belo Horizonte CBTU - STU-BH e um ramal
ferroviário da Estrada de Ferro Vitória-Minas EFVM. Para a instalação do MAO, o
arquiteto e museógrafo francês Pierre Catel
72
estabeleceu a ocupação dos dois prédios da
Estação Central, o aproveitamento das áreas externas próximas ao local de embarque e
desembarque de passageiros e a criação de um jardim-museu e espaços para restaurante, área
de eventos, loja e áreas de convivência. Paralelamente ao funcionamento do Museu, a estação
de metrô, localizada ao lado do prédio da Estação, e a estação ferroviária de longo percurso,
que funciona em outra edificação no entorno da Praça, continuam operando normalmente. No
seu primeiro trimestre de funcionamento o MAO recebeu aproximadamente 6.600
visitantes
73
, com a estimativa de ter fechado o ano de 2006 totalizando um público de 36.000
pessoas.
A museóloga Célia Corsino
74
, em seu relato sobre o MAO, considera inicialmente que haja
uma tendência em haver museus-âncora em centros de cidades que estão sendo revitalizados,
ou seja, museus que, por sua relevância cultural, histórica e seu potencial educacional, podem
ser considerados como instrumentos a serviço do desenvolvimento de populações e territórios.
Embora a instalação do Museu na Praça da Estação não tenha definido como meta inicial
fazer a revitalização do centro da cidade, a museóloga valoriza a convergência produtiva entre
o Programa Centro Vivo e a presença do MAO na Praça da Estação.
O museu é uma iniciativa do Instituto Cultural Flávio Gutierrez – ICFG e foi
desenvolvido a partir da doação ao patrimônio público de uma coleção de 2.147
peças, dos séculos XVIII ao XX, pela empreendedora cultural Ângela Gutierrez. A
coleção mostra a riqueza da produção popular na era pré-industrial: os fazeres, artes
e ofícios que deram origem às profissões contemporâneas. Ao percorrê-la, como
suporte de recursos museográficos e de ações educativas, o visitante podever um
amplo painel da história e das relações sociais do trabalho no Brasil, nos últimos três
séculos.
75
As características dos prédios da Estação Central juntamente com o funcionamento do metrô e
do terminal ferroviário constituíam o local adequado para a instalação do MAO, abrigando
72
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS. Museografia. Disponível em <http: //www.mao.org.br>. Acesso em: 03
jun. 2006.
73
SEBASTIÃO, Walter. Arte em ebulição: Público lota mostras do Museu de Arte e Ofícios e da Casa Fiat.
Disponível em: <http://www.divirta-se2.uai.com.br/agitos/interna_noticias.asp?codigo=83>. Acesso em 20
mar.2006.
74
Entrevista realizada pela autora, em 25 de julho de 2006, com a museóloga Célia Corsino, no Museu de Artes
e Ofícios.
75
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS. Disponível em: <http://www.mao.org.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
88
condições ideológicas coerentes com o acervo, fazendo no dia-a-dia da população a ligação
entre o espaço do trabalho e o espaço da casa. Célia Corsino, ao descrever o processo de
instalação do MAO, registra que o prédio principal da Estação estava num processo de
degradação muito grande, o que fez com que o projeto do Museu fosse muito maior do que se
pensava inicialmente, considerando as descobertas que foram feitas à medida que se
desenvolveram as complexas obras de restauração. Com relação ao entorno imediato da
Estação Central, a Praça da Estação, a museóloga
76
relata que intervenções realizadas neste
espaço não ocorreram para a instalação do MAO, mas sim em decorrência dela.
Quando, em 2002, o prédio principal foi inaugurado após a restauração, a Praça era um
grande estacionamento, com problemas de segurança e de iluminação. A visibilidade
alcançada pelo prédio recém-restaurado desencadeou uma ampliação das prioridades do
Programa Centro Vivo no que dizia respeito à esplanada da Praça da Estação. Os urbanistas
da municipalidade começaram a perceber que a Praça completaria um corredor cultural
juntamente com a Serraria Souza Pinto, a Casa do Conde
de Santa Marinha e o Centro
Cultural da UFMG, espaços culturais criados em edificações que foram preservadas,
restauradas e que são significativas na história de Belo Horizonte. As intervenções na Praça
também seriam relevantes para a criação de uma estação de ônibus de integração com o metrô
mais adequada ao perfil da cidade e resultariam numa releitura visual da área. Um concurso
público promovido pela Prefeitura de Belo Horizonte havia selecionado um projeto
77
, de
autoria dos arquitetos Eduardo Beggiato, Edwirges Leal e Flávio Grilo, para a restauração da
Praça da Estação:
O projeto organiza a iluminação principal, deslocada para as laterais do largo com
postes especiais de grande altura, limitando o espaço físico de forma cenográfica e
luminotécnica, liberando toda a área central para a concentração. A recuperação da
esplanada teve grande impacto na revitalização da área e imediata apropriação pela
população. Dois conjuntos de fontes sem formação de espelhos d’água humanizam o
espaço urbano.
78
Com a realização do projeto, cujas obras foram concluídas em 2004, hoje se realizam na
esplanada da Praça eventos de grande concentração de público como shows, comícios e festas
76
Entrevista realizada pela autora, em 25 de julho de 2006, com a museóloga Célia Corsino, no Museu de Artes
e Ofícios.
77
MDC - REVISTA DE ARQUITETURA E URBANISMO. Restauração da Praça da Estação. Disponível
em: <http://www.mdc.arq.br>. Acesso em: 03 jun. 2006.
78
Idem.
89
populares com forte apelo cultural, retomando, de certa forma, mas com nova configuração
urbana, o uso que se fazia do espaço na década de 1940, quando comícios eram realizados da
sacada do prédio da Estação Central para a esplanada da Praça, e a população para ali
convergia, ocupando seu espaço na cidade. Entre essa época e hoje em dia, a esplanada da
Praça foi palco de manifestações populares pela campanha das Diretas Já, em 1984, e do
último comício em Belo Horizonte do então candidato à Presidência do Brasil, Luís Inácio da
Silva, em sua campanha de 2002
79
.
Questionada sobre a forma como o MAO participa da história da Praça da Estação, Célia
Corsino considera inicialmente que a Estação Ferroviária, que sempre funcionou como
Estação Ferroviária desde a construção da cidade, sofreu uma mudança de uso em 2002 com a
instalação do Museu no prédio da Estação. Se a mudança pode ser considerada traumática no
sentido de que ali foi instalado algo totalmente diferente do uso original, não pode ser
avaliada como traumática no sentido de afetar o universo simbólico da população.
O projeto de museografia considerou a Estação como a porta de entrada do Museu, sendo que
a exposição do acervo não está no prédio da Estação Central, está nas plataformas. O visitante
mineiro resgatada a Estação Ferroviária e, em um primeiro momento, nem percebe que
aquele espaço abriga um museu. Houve respeito ao edifício, não houve a criação de estruturas
complexas que viessem a descaracterizar o edifício. Desta forma, a museóloga acredita que o
MAO já integra a história da Estação Ferroviária, integrado no
universo simbólico da ferrovia,
até porque o trem continua passando dentro do Museu. Ela pontua que, do ponto de vista do
urbanismo, a cada modificação na cidade é preciso entender a cidade para que os usos não
sejam modificados a tal ponto que venha a causar a expulsão, a gentrificação, a
desestruturação urbana que alguns projetos de revitalização urbana trazem em seu bojo em
médio prazo.
Do ponto de vista do turismo, Célia Corsino
80
cita o caso do Pelourinho, em que se tem uma
mudança de uso com a questão da patrimonialização do espaço urbano e um novo uso
turístico que propositadamente desencadeou um processo de gentrificação. No caso da área da
79
De acordo com a Polícia Militar, o comício na Praça da Estação, no centro da cidade, reuniu cerca de 40 mil
pessoas. FERRARI, Eduardo. "PT não vai poder errar", diz Lula em último comício em MG. 29/09/2002.
Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/inter/reuters/2002/09/29/ult27u26625.jhtm> Acesso em: 20 jul. 2007.
80
Entrevista realizada pela autora, em 25 de julho de 2006, com a museóloga Célia Corsino, no Museu de Artes
e Ofícios.
90
Praça da Estação, isso não ocorreu. O uso turístico estimulado pela presença do Museu
acontece enquanto o uso do espaço da cidade pela população continua o mesmo. Com a
revitalização da Praça e a presença do Museu as pessoas que não freqüentavam a área passam
a freqüentá-la e mesmo aqueles que não entram no Museu, os transeuntes, passam a ter mais
segurança, mais conforto, e percebem que a situação naquela área da cidade melhorou.
Sobre a relação entre o MAO e a Praça da Estação, a museóloga identifica como ponto
negativo a realização de eventos de grande porte cujo controle exige a delimitação de uma
área fechada na Praça, o que acaba prejudicando o acesso ao Museu. Segundo ela, as pessoas
vêem a Praça “fechada” para o evento e imaginam que o MAO também esteja fechado. Para
determinados tipos de eventos, como a exibição dos jogos da Copa do Mundo, o fechamento
do Museu é até recomendado, pela necessária proteção ao acervo e às instalações diante do
grande número de pessoas que se dirigem para a Praça. Considerando que a bilheteria
constitui uma fonte significativa para o programa de sustentabilidade do Museu,
principalmente nos finais de semana, quando a maioria dos eventos é realizada, a dificuldade
de acesso ou o fechamento do Museu acabam trazendo resultados negativos. Além disso, é
fundamental acompanhar a montagem dos eventos para
proteger os jardins e estudar
mecanismos de proteger as áreas envidraçadas do prédio da Estação contra os impactos da
vibração gerada pelos equipamentos de som.
Ao avaliar o lado positivo da relação que se estabelece entre a Praça e o Museu de Artes e
Ofícios, Célia Corsino
81
acredita ser muito bom que a população use cada vez mais o espaço
da Praça. Se hoje quem por ali passeia não entra no Museu, um dia poderá entrar, é um
visitante em potencial que fica sabendo que o MAO existe. A Praça da Estação, depois de sua
revitalização, passou a reunir elementos de atratividade para a população e hoje são vistas
pessoas passeando pela Praça com os filhos, andando de bicicleta, visitando a Praça à noite
para ver a fonte iluminada. Como pano de fundo para os atrativos da Praça, o prédio da
Estação Central, completamente restaurado e administrado pelo Instituto Cultural Flávio
Gutierrez, pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte e também pela população, permanece
como um dos mais belos cartões postais do centro da cidade. Tal condição funciona como um
estímulo para que sejam feitos investimentos nas áreas do entorno da Praça da Estação. As
obras da Linha Verde e do Boulevard Arrudas complementam este estímulo e a museóloga
81
Entrevista realizada pela autora, em 25 de julho de 2006, com a museóloga Célia Corsino, no Museu de Artes
e Ofícios.
91
acredita que, do outro lado da Avenida dos Andradas, a transformação seja refletida e se possa
criar ali um espaço diferenciado que constitua mais um significativo pólo cultural na área
central de Belo Horizonte.
No Museu de Artes e Ofícios muita coisa para se ver interna e externamente. O acervo de
características peculiares se associa ao espaço favorável que o valor histórico do prédio da
Estação Central compõe junto com a esplanada da Praça. O texto de Gomes (2003, p. 29)
descreve uma circunstância que se repete em algumas cidades brasileiras e que se aplica à
presença do MAO no cenário urbano, histórico e turístico de Belo Horizonte:
O Brasil possui museus históricos, de arte, de arqueologia e de ciência que se
inserem numa perspectiva museológica mais próximos do tradicional. Muitos deles
foram criados no século XX, e sua história se confunde até mesmo com as
características arquitetônicas do prédio que os abriga. Uma visita a um desses locais
se justificaria, em termos turísticos, não pelo conteúdo do acervo, mas também
pelo valor de sua arquitetura.
A presença e o funcionamento do Museu de Artes e Ofícios na Praça da Estação remete à
discussão sobre a valorização do patrimônio, resgatando aspectos significativos da paisagem
urbana e estabelecendo novas possibilidades de uso dos espaços. Passa-se, agora a considerar
o valor da Praça da Estação como patrimônio histórico-cultural da cidade de Belo Horizonte,
a partir da visão dos órgãos municipal e estadual de proteção ao patrimônio.
6.2 Seu significado como patrimônio histórico-cultural
Os órgãos de proteção ao patrimônio assumem funções distintas na operação e na abrangência
de suas ações, mas coerentes nos propósitos. Para a realização deste trabalho, foi fundamental
identificar a percepção e as formas de atuação que os órgãos municipal e estadual que tratam
do patrimônio possuem sobre o espaço pesquisado. Na instância municipal, a Gerência de
Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte atua
especificamente sobre a Praça da Estação desde o final da década de 1990, quando foi
oficializada a proteção à área. Em termos estaduais, o Instituto Estadual do Patrimônio
Histórico e Artístico - IEPHA-MG estabelece sua relação direta com a Praça da Estação desde
92
15 de março de 1988, com o Decreto 27.927, de Tombamento do Conjunto Arquitetônico
e Paisagístico da Praça Rui Barbosa.
Realizaram-se entrevistas com a gerente da Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano da
PBH, Michele Abreu Arroyo Borges, e com Rubem Fortes, Assessor de Ações
Estratégicas do IEPHA-MG. As informações obtidas com as entrevistas, decorrentes da
relação que os órgãos estabelecem com o espaço em estudo e da própria percepção que os
entrevistados têm sobre a Praça da Estação, contribuem de forma significativa para os
objetivos desta dissertação e são apresentadas a seguir.
6.2.1 A Praça da Estação como patrimônio na perspectiva municipal
O significado do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação para a cidade do
ponto de vista da Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano PBH, de acordo com sua
gerente, Michele Abreu Arroyo Borges
82
, deve ser compreendido a partir da proteção
municipal do espaço, realizada no final dos anos 1990:
A preocupação da Gerência do Patrimônio e do Conselho Deliberativo do
Patrimônio Cultural do Município era procurar na Praça da Estação elementos que
diziam respeito à história da cidade, ao cotidiano da cidade. A Praça era tombada
pelo IEPHA e tinha um perímetro delimitado quase que entre os dois viadutos, o de
Santa Tereza e o da Floresta, então era a Praça propriamente dita. No caso do
município, quando foi feito o estudo, procurou-se essa abordagem histórica em
relação às formas de apropriação daquele espaço um pouco além da Praça
propriamente dita para tentar entender a sua importância não só como porta de
entrada e saída da capital do Estado, em relação ao Estado e ao País, mas também
em relação aos usos, à apropriação
83
.
Considerando que o perímetro municipal de proteção é maior que o perímetro do IEPHA, os
critérios de delimitação tiveram como objetivo exatamente buscar essas referências. Michele
Abreu destaca uma referência que é importante do ponto de vista histórico: a área entre o
Ribeirão Arrudas e a linha férrea, no projeto da cidade feito por Aarão Reis, era destinada a
uma ocupação industrial, a galpões para abastecimento, estoque de mercadorias, usinas de
82
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
83
Idem.
93
açúcar. outros exemplos como a própria Casa do Conde de Santa Marinha, cujos galpões
eram as oficinas que produziam paralelepípedos e peças de ferro para a construção da cidade.
O tombamento municipal quis mostrar como foi a ocupação daquele espaço historicamente
para além da importância estadual, ou seja, o que isso significou no contexto urbano em
termos de apropriações para a cidade. Esse trabalho de identificação deu sentido àquela
ocupação ao longo do Ribeirão Arrudas, nas imediações da Praça da Estação, uma ocupação
que é industrial, com uma arquitetura que é industrial e que foi de certa forma preservada até
os anos 1930 e 1940. A saída das indústrias das imediações da Praça e o conseqüente
abandono relativo dos galpões que as abrigavam – coincide com o momento em que a Estação
Ferroviária perde importância no contexto nacional e a rodovia passa a ser bastante
estimulada e também é nesse momento que a Cidade Industrial é criada na Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
Para Michele Abreu, a principal característica do tombamento municipal foi ter intensificado
o olhar para o foco local, ou seja, o que o espaço representa para além da representatividade
que tem para o Estado.
Outra questão importante é ver que, em termos de apropriação e de uso, a Praça da
Estação sempre foi um dos lugares mais democráticos da cidade e que teve como
característica a ocupação por uma população de média e baixa renda, não no sentido
da circulação, mas no sentido da permanência. Muita gente tinha e tem até hoje a sua
forma de ganhar a vida trabalhando na Praça. O problema dos ambulantes na cidade
começa na Praça da Estação
84
.
A entrevistada relata que a Praça da Estação e a Praça da Liberdade
85
, que tem uma outra
simbologia, eram os dois grandes focos, as duas grandes centralidades urbanas de Belo
Horizonte, e percebe-se que ao longo do tempo a Praça da Estação, dos anos 1950 aos anos
1980, perdeu essa centralidade e ficou como um lugar marginalizado, caracterizado como
uma área popular a que ninguém queria ir por temor à violência. Após os anos 1980, quando o
local retoma uma concentração de pontos de distribuição do transporte coletivo,
84
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
85
O Complexo Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Liberdade é uma síntese dos estilos que marcam a
história de Belo Horizonte. A construção da Praça foi iniciada na época da fundação da nova capital (1895-
1897), feita para abrigar a sede do poder mineiro. Os prédios do Palácio do Governo e das primeiras Secretarias
de Estado obedecem à tendência da época estilo eclético com elementos neoclássicos. Ao longo dos anos o
Complexo foi recebendo construções de diferentes estilos arquitetônicos: do art-déco ao pós-moderno. A Praça
conta com coreto e fonte luminosa e seu traçado e seus jardins foram inspirados no Palácio de Versailles.
Disponível em: http://www.belotur.com.br/por/a_passeio.php?roteiro=pca_liberdade. Acesso em: 03 out. 2007.
94
primeiramente o ônibus e um pouco mais tarde o metrô, a Praça da Estação volta a ter essa
centralidade
86
, como uma referência simbólica, espacial e funcional da estrutura urbana, como
uma porta de entrada e saída da Região Metropolitana para o centro da cidade, e não mais de
outras cidades do Estado ou do Brasil, como era no início de sua história.
O tombamento municipal teve como um de seus objetivos reforçar essa apropriação física do
espaço em relação à história de ocupação urbanística e territorial da cidade, contemplando a
origem e a presença da arquitetura industrial na região, e da Estação como um pólo de
circulação de mercadorias, do ponto de vista econômico. As ruas que se originavam da
Estação constituíam a área comercial da cidade e essas características foram consideradas
para a proteção municipal. Com esse histórico da ocupação, busca-se o resgate da
sociabilidade da Praça como um espaço de centralidade na história de Belo Horizonte.
Ao ser questionada sobre a manutenção ou a modificação do uso do espaço pela população ao
longo do tempo, Michele Abreu recomenda que hoje em dia não se deve pensar no patrimônio
cultural de forma tão fechada como muitos anos atrás, quando preservar as características
físicas remetia também a uma preservação do uso, e da construção arquitetônica no seu
interior. É recomendável maior flexibilidade em relação a isso porque o próprio uso, mesmo
que mantido, é apropriado de formas diferentes pela comunidade.
A Praça da Estação é muito interessante por isso: espaços em que os usos foram
modificados e às vezes o imóvel foi muito preservado, e outras vezes nem tanto
porque ele teve que absorver algumas mudanças para dar conta do novo uso. No
caso do prédio da Estação, o novo uso que ele teve com o Museu de Artes e Ofícios
conseguiu equilibrar muito bem as intervenções necessárias à adaptação de um
espaço como aquele para um museu, guardando os aspectos da Estação Ferroviária,
mas ao mesmo tempo agregando novos valores e novos sentidos àquele espaço para
que as pessoas se apropriem de formas diferentes e alimentem esse patrimônio. É
interessante porque uma parte do uso original, não exatamente a ferrovia, mas o
transporte coletivo, foi mantido na região, o que se considera como ponto vital para
86
Las centralidades urbanas, referencias simbólicas, espaciales y funcionales de la estructura urbana, se
caracterizan por su complejidad funcional, al estar apoyadas en la actividad comercial concentrada formal e
informal-, combinada en diferente proporción con la presencia de otro tipo de actividades (burocráticas,
terciarias, culturales y de entretenimiento, deportivas, educacionales, de bienestar social), verificándose
también, la coexistencia con equipamientos privados y públicos y eventualmente de sitios o nodos de
intercambio modal del transporte de pasajeros, así también por usos residenciales que en algunos casos pueden
expresarse en altas densidades de población flotante y permanente. Todo ello resulta en una concentración de
flujos de vehículos y personas y en una importancia fundamental de lo relacionado con la estructura vial y el
sistema de transporte blico. Situación para la cual la estructura espacial de la ciudad no suele estar
preparada y genera fricciones de uso y conflictos de diverso tipo que requieren ser resueltos. SCARLATO,
Guillermo. Accesibilidad, ciudad metropolitana, periferias, centralidades democráticas y el espacio de lo
público - 2004. Disponível em: <http://www.seminariomontevideo.edu.uy/smvd6/marco.html> Acesso em: 10
out. 2007.
95
que aquela região tenha voltado a ter a centralidade que teve no começo do século
XX com a Estação Ferroviária
87
.
Para a entrevistada, talvez o Museu de Artes e Ofícios, isoladamente, não tivesse conseguido
retomar essa centralidade, por mais importante que seja o acervo e o trabalho excelente que
foi desenvolvido para a sua constituição. Se não houvesse ali o transporte coletivo, seria um
Museu lindo em um lugar ao qual as pessoas não teriam acesso
88
. O fato de o transporte
coletivo estar concentrado ali e a Praça ter uma grande circulação de pessoas o tempo todo é
coerente com a escolha do local de instalação do Museu e a própria idéia das artes e ofícios
evidenciadas próximo a um lugar “de trabalho”.
Michele Abreu observa ainda, sobre o Museu de Artes e Ofícios, que, embora seja
compreensível a decisão tomada em função da segurança e da proteção do acervo, um aspecto
que foi previsto no projeto original que era permitir o embarque e o desembarque pelo prédio
da Estação não pôde ser mantido. Isso aproximaria muito mais a população do Museu,
considerando que as pessoas hoje vêem aquele belo edifício restaurado e algumas têm receio
de entrar, pois acham que ele não é acessível a elas, embora o Museu venha fazendo um
trabalho muito interessante para atrair as pessoas cada vez mais. Se as pessoas
desembarcassem do metrô e atravessassem, como acontecia anteriormente, o prédio da
Estação, elas já estariam inseridas no próprio Museu.
Sobre o receio ou o constrangimento dos usuários cotidianos da região com relação a entrar
no prédio da Estação, por seu aspecto imponente e bem cuidado, a entrevistada comenta que
durante as obras de restauração do prédio para a instalação do Museu de Artes e Ofícios,
quando a esplanada e a área ajardinada da Praça ainda não haviam sido reformadas, esse
receio era mais evidente, pelo contraste entre os espaços. Depois da reforma houve maior
integração do entorno com o prédio e o ambiente passou a ser percebido de outra maneira,
tornou-se mais convidativo.
Normalmente os projetos de intervenção nesses espaços são muito pensados antes,
mas não são pensados para a população. Em vez de audiências públicas para a
população dizer se quer ou não o projeto, talvez uma forma mais eficaz de
participação seja escutar a comunidade e observar como ela se posiciona com
relação àquele espaço, para então começar a projetar. Um projeto participativo é
87
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
88
Idem.
96
aquele no qual o projeto de intervenção tem como objetivo principal diagnosticar e
observar as formas de apropriação da área. A continuidade desse projeto que não
fica pronto na conclusão das obras é o monitoramento, o acompanhamento da
apropriação, a observação dos problemas que surgem para que possam ser feitas as
adequações necessárias. A Praça da Estação teve, por um lado, essa felicidade, pois
não foi um projeto fechado, ele foi realizado aos poucos, em etapas, seja por causa
do dinheiro, seja por causa da pressão política, das oportunidades. A esplanada foi
feita porque a BHTRANS tinha que realizar a parte de integração com o metrô e daí
teve origem a requalificação da esplanada. A Rui Barbosa o lado ajardinado foi
requalificada por causa da Linha Verde
89
.
Uma das questões importantes que Michele Abreu destaca em seu depoimento é a
manutenção do transporte coletivo na área. Para ela, a estrutura urbana e a linha do metrô
estavam amarradas de tal forma que não havia outro lugar mais indicado para abrigar a
estação central da cidade, o que faz da Praça da Estação um espaço de uso público que é
fundamental numa cidade. Os outros usos pensados separadamente com relação à intervenção
acabaram se somando e um fortaleceu o outro, mas a estrutura fundamental para que a Praça
hoje certo e continue dando certo é, de acordo com a visão da entrevistada, o transporte
coletivo, que deve ser observado e acompanhado para não comprometer o espaço ou até
mesmo destruí-lo, mas que é fundamental para que a Praça tenha assegurada a
democratização do seu uso.
Com relação à atuação da Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano da PBH sobre a Praça
da Estação foram destacados dois pontos. O primeiro ponto refere-se à gestão e ao
monitoramento, que dizem respeito à preservação do patrimônio cultural em si.
Qualquer intervenção na Praça, nos edifícios protegidos ou naqueles não protegidos,
mas que estão inseridos no perímetro de proteção, tem que ser aprovada pela
Gerência, que tem como dever fazer cumprir as diretrizes de proteção. Com relação
a imóveis com tombamento específico, o atelier de acompanhamento de projetos
que ajuda ou faz o projeto de restauração, como foi o caso de alguns dos galpões
recuperados e cujos projetos foram feitos pela Gerência para que o proprietário
execute a obra ou busque recursos nas leis de incentivo. um acompanhamento
direto tanto nas novas edificações, como nas intervenções de pintura e nos imóveis
tombados. Nessa parte também se incluem as diretrizes de calçada, com uma
padronização das calçadas de toda a área tombada, incluindo a Praça da Estação. As
partes que sofrerem intervenção terão que ser reconstituídas de acordo com os
modelos que a Gerência possui
90
.
89
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
90
Idem.
97
Ainda com relação ao primeiro ponto de destaque, também a questão das placas e cartazes
de publicidade, que exigem uma ação em parceria com a Regional Centro-Sul, a partir de
diretrizes para a instalação dessas placas, as quais são, de certa forma, mais restritivas do que
o Código de Posturas
91
. Para isso uma equipe de fiscalização em campo que notifica e, na
seqüência, aplica a multa ao infrator e os engenhos de publicidade têm que ser alterados de
acordo com os modelos preestabelecidos pela Gerência. Michele Abreu informa que esse
trabalho é lento, mas também conta com a parceria do Ministério Público, que atua quando,
por exemplo, o problema acontece em um edifício em que alguns proprietários cumprem as
exigências e outros não. Todos são então convocados para que seja feito um Termo de
Ajustamento de Conduta e é determinado um prazo para a limpeza da fachada.
A instalação de antenas de telefonia celular, por exemplo, é condicionada à dimensão do
impacto, havendo uma medida mitigadora que é a requalificação da fachada do edifício no
qual a antena foi instalada. Essas medidas buscam contribuir para que o espaço tenha uma
vitalidade em relação aos aspectos físicos das edificações, dos espaços públicos, da própria
Praça. Além da fiscalização das intervenções físicas dentro do perímetro de tombamento,
qualquer evento que seja realizado na Praça da Estação precisa de autorização da Gerência do
Patrimônio, não em relação ao uso, mas em relação às intervenções necessárias para o evento,
mesmo que sejam provisórias.
O segundo ponto da atuação da Gerência sobre a Praça da Estação, de acordo com a
entrevistada
92
, consiste nos projetos de educação urbana e de educação para o patrimônio, nos
quais a Praça é usada como referência principal por ser identificada como a porta de entrada e
saída da cidade, e agora, mais especificamente, da Região Metropolitana para o Centro. Como
o trabalho é feito com crianças da rede municipal de ensino, a Praça torna-se um espaço
relevante para elas por causa do transporte coletivo, que é tido como uma referência, e, a
partir daí, trabalha-se a questão do patrimônio cultural. Os projetos são realizados em parceria
com a Secretaria Municipal de Educação. Um deles se chama “Paisagens de BH: uma
91
Sancionado em 14 de julho de 2003, o Código de Posturas reúne o conjunto de normas que regulam a
utilização do espaço urbano pelos cidadãos. É a uma lei que regulamenta a melhor convivência das pessoas em
Belo Horizonte. Ele foi criado para organizar a cidade, fazendo com que o interesse de todos prevaleça sobre o
interesse individual. A utilização de passeios públicos, a instalação de mobiliário urbano, o exercício de
atividades profissionais ao ar livre e a instalação de faixas e cartazes de publicidade em locais públicos são
alguns dos itens contemplados pelo regulamento municipal. Disponível em:
<http://portal2.pbh.gov.br/pbh/index.html?id_conteudo=4329&id_nivel1=-1> Acesso em: 03 de out. 2007.
92
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
98
descoberta”, e é realizado anualmente. Os professores da rede municipal são convidados pela
Secretaria de Educação para se inscrever no projeto. Em etapas acompanhadas pela Gerência
do Patrimônio, é desenvolvida uma metodologia de trabalho para que os professores possam
trabalhar com os alunos a questão da percepção urbana, com o objetivo de educar o olhar da
criança para a cidade, pensando o patrimônio como uma coisa mais ampla a cidade como
patrimônio cultural –, e, ao mesmo tempo, partindo das referências que as crianças têm da
cidade.
um outro projeto que é realizado apenas com uma turma por ano, em uma escola indicada
pelas regionais, e nele é trabalhada a identidade individual do aluno até chegar à identidade
coletiva, considerando também o patrimônio cultural a partir das referências das crianças e
trabalhando a questão da cidadania. A Praça da Estação também é um dos espaços trabalhados
nesse projeto.
A entrevista com a gerente do órgão municipal de proteção ao patrimônio incluiu a seguinte
pergunta: a Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano PBH vê o Conjunto Arquitetônico e
Paisagístico da Praça da Estação como atrativo turístico? A resposta afirmativa destacou que o
espaço já foi um cartão postal da cidade, tão representativo quanto a Praça da Liberdade.
Talvez pelo uso mais popular, havendo um período em que a centralidade da Praça
enfraqueceu, entre os anos 1940 até 1980, a Praça perdeu o glamour de um status
referencial, simbólico, e agora, com esse cuidado com o espaço urbano, a
tendência de que outros espaços sejam requalificados, novos usos sejam dados às
edificações, como a própria Casa do Conde de Santa Marinha, que recebeu a
FUNARTE, o IPHAN
93
.
Ao comentar sobre a Casa do Conde de Santa Marinha, a entrevistada mencionou uma
intervenção recente que, sob o seu ponto de vista, é problemática: a Estação do Conde, um
espaço de eventos construído sem apuro arquitetônico, sem contemplar devidamente a
questão da segurança e da circulação da quantidade de pessoas que utilizarão o espaço, e que
foi instalado ao lado do terreno da Casa do Conde, ocupando uma área que mereceria um
pensamento mais amplo para um uso mais adequado, pois constitui a última área livre no
centro da cidade para grandes intervenções, como um centro de convenções ou um espaço
para shows sintonizado com o conjunto arquitetônico e urbanístico do entorno. Não se pode
93
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
99
negar que seja de interesse do município atrair para a região mais público, mais eventos
culturais, mas deve-se trabalhar de uma forma cuidadosa, articulada, em vez de criar um
problema para aquela área.
Michele Abreu informou que a Prefeitura vem trabalhando no sentido de retomar a operação
urbana que está prevista para a área: ocupar aquele espaço de uma maneira ordenada do ponto
de vista urbano, contemplando outras questões como o turismo e a apropriação da própria
cidade e dessa área específica como uma área referencial. Antes de pensar no turismo, porém,
ela recomenda que se deve pensar de maneira mais ampla, pois o que é feito para a cidade
pode ser aproveitado para o turismo: bons projetos, boas exposições, um espaço agradável que
a população freqüente. O turista se sente seguro ao perceber que a população circula pelos
espaços que ele visita. Espaços apropriados pela população atraem usos que são
interessantes também para o turista. Por exemplo, se você tem um museu, você pode ter
também a lanchonete, a lojinha
94
.
Questionada sobre a percepção da Praça da Estação como um espaço em processo de
turistificação, Michele Abreu respondeu que a transformação traz uma nova possibilidade de
uso e é natural que as pessoas comecem a procurar o espaço da Praça da Estação para visitas,
roteiros, etc. Mas acredita que sempre é preciso buscar o equilíbrio para evitar que aconteça
um equívoco, conforme se viu com alguns processos que foram totalmente voltados para o
turismo e tiveram que ser repensados, e cita o Pelourinho como um exemplo de uma área que,
sem dúvida, estava degradada, mas que tinha uma vitalidade cultural muito grande, legítima.
Quando a opção foi requalificar o espaço, mas tirando dele as pessoas que viviam, sem
trazê-las de volta numa outra condição, não foi assegurada a continuidade daquele movimento
cultural.
O espaço foi pensado totalmente para o turista, com lojas de griffe, como um
shopping a céu aberto, e o turista não precisa estar no Pelourinho para fazer
compras, pois shoppings pela cidade. O comércio não poderia ser o eixo que
garantisse àquele lugar uma centralidade como espaço referencial. Esse papel
deveria ser da atividade cultural própria dali
95
.
A entrevistada completa esse pensamento considerando que é preciso buscar o equilíbrio certo
para que não haja uma sobreposição tanto da questão da predominância do comércio quanto
94
Entrevista realizada pela autora, em 27 de agosto de 2007, com Michele Abreu Arroyo Borges, gerente da
Gerência do Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.
95
Idem.
100
da transformação das manifestações culturais em produtos culturais. Ela considera que seja
bom que exista a lojinha no museu, mas ela não pode ser mais importante que o museu.
Assim, conclui que o turismo é sempre bem-vindo, mas que é preciso fazer um
monitoramento para não gerar problemas no sentido de afastar a população do lugar: controle
de usos, controle de preços, controle de serviços de apoio no entorno, controle da sinalização,
controle de acessos (vias de circulação e meios de transporte), aproveitando a estrutura da
cidade que atende os moradores. Michele Abreu afirma que um dos aspectos mais ricos
tanto do ponto de vista do turista como da população que vive na cidade é se apropriar de uma
forma livre do patrimônio cultural e que é preciso ter cuidado para que o turismo não se
sobreponha de forma agressiva ao espaço da cidade, tirando as possibilidades de interlocução
tanto de quem usa aquele espaço cotidianamente quanto do turista com o espaço que visita,
que busca conhecer.
6.2.2 A Praça da Estação como patrimônio na perspectiva estadual
O Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico IEPHA MG tem como missão
institucional a salvaguarda do patrimônio cultural do Estado - do qual faz parte o Conjunto
Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação. Segundo informações obtidas em entrevista
com Rubem Sá Fortes
96
, Assessor de Ações Estratégicas desse órgão, atualmente o IEPHA-
MG está acompanhando o desenvolvimento do projeto de restauro de um dos corredores
subterrâneos sob os trilhos da Estação Central, que mantém trechos dos revestimentos
originais. Este projeto pode fazer parte de um plano maior, que envolveria as edificações que
servem à Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU. Há, também, um projeto aprovado
para cobertura de uma das entradas do metrô, na Estação Central.
Para Rubem Fortes
97
, o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação inclui
edificações emblemáticas, como as próprias estações, a Serraria Souza Pinto, a casa e
Oficinas do Conde de Santa Marinha, alguns edifícios ligados à educação, como o Centro
Cultural da UFMG – antiga Escola de Engenharia – o antigo Instituto de Química e a
96
Entrevista realizada pela autora, em 11 de novembro de 2007, com Rubem Sá Fortes, Assessor de Ações
Estratégicas do IEPHA-MG, por e-mail.
97
Idem.
101
Biblioteca Mário Werneck, além das grandes estruturas urbanísticas que são os viadutos Santa
Tereza e Floresta, os taludes da Rua Sapucaí e a própria Praça Rui Barbosa, nas suas duas
porções. Estas, juntamente com outras não mencionadas, compõem um painel bastante
representativo das diversas etapas de ocupação e uso da área, principalmente por meio de
construções oficiais, iniciando-se com a fundação da Capital. Dessa forma, o assessor do
IEPHA-MG relaciona o espaço da Praça da Estação com a história de Belo Horizonte
afirmando que:
A Praça, desde sua concepção, marcou a vida citadina, pelas características das
edificações e usos ali implantados, ou seja, serviços, comércio, universidade e
indústria. Ao seu redor se instalaram numerosas atividades ligadas ao transporte
ferroviário inclusive a zona boêmia que por muito tempo fizeram da região o
ponto mais animado da cidade. Décadas mais tarde, entretanto, entre outras tantas
causas, a localização ao longo de duas barreiras – a via férrea e o Ribeirão Arrudas –
contribuiria para a decadência e degradação deste trecho, que vem sendo lentamente
revertida nos últimos anos
98
.
Com relação à atuação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico IEPHA-
MG sobre o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação, o entrevistado
informa que “toda intervenção na área tombada deve ser previamente licenciada pelo órgão,
que atua também durante a elaboração dos projetos ou propostas, participando ativamente
destes ou através de assessorias”
99
. A implementação das intervenções também é
acompanhada e fiscalizada pelo IEPHA/MG, que pode intervir diretamente, por meio da
contratação de projetos e obras, como aconteceu, por exemplo, com a Serraria Souza Pinto,
que é de propriedade do Estado de Minas Gerais.
Ao ser questionado sobre sua opinião com relação ao fato de o Conjunto Arquitetônico e
Paisagístico da Praça da Estação constituir um atrativo turístico, Rubem Sá Fortes comenta:
Considero que a região entre o Viaduto Santa Tereza e a Casa do Conde de Santa
Marinha possui grande potencial para a instalação de equipamentos que podem
constituir, isolados ou favorecidos pela vizinhança, atração turística, sendo que a
Praça Rui Barbosa é o local que, em termos urbanísticos, certamente é a mais forte
referência para todas estas atrações. Ainda imóveis com grande área e potencial
para isto, embora muito trabalho ainda deva ser feito para que o conjunto recupere
todas as áreas degradadas que engloba. A própria parte livre da Praça, defronte ao
prédio da Estação Central, possui grande potencial para a realização de eventos, que
acredito que tendem a aumentar. Não creio, entretanto, que o verdadeiro resgate
realizado da Praça, embora lhe tenha restituído a dignidade necessária, a transforme
98
Entrevista realizada pela autora, em 11 de novembro de 2007, com Rubem Sá Fortes, Assessor de Ações
Estratégicas do IEPHA-MG, por e-mail.
99
Idem.
102
em atração para visitantes, mas sim em local para a vida quotidiana e social dos
próprios habitantes da cidade, que têm enorme necessidade deste tipo de espaço
100
.
A consideração de que o uso da Praça seja mais direcionado para os moradores de Belo
Horizonte leva o entrevistado a acreditar ser precoce afirmar que o espaço esteja em processo
de turistificação, pensando-se no Conjunto, como um todo, mas ele reconhece que:
Certamente o Museu de Artes e Ofícios é um pólo que atrai turistas ao local, como
seqüência, agora de forma contínua, ao processo iniciado com a restauração da
Serraria Souza Pinto, espaço já consolidado para a realização de eventos. Também a
utilização dos ambientes adjacentes à Casa do Conde para eventos atrai público
bastante intenso e diversificado à região, mas são espaços isolados. É interessante
observar que foi a própria decadência da região que determinou o abandono de
tantos imóveis cujo potencial agora começa a ser visto, em que se podeinvestir
de várias formas. É um processo ainda no início, que dependerá do tipo, da
destinação e da qualidade das intervenções e investimentos
101
.
De acordo com o enfoque desta dissertação, o processo de turistificação da Praça da Estação é
um processo que está em curso, como reflexo das transformações que o espaço vem sofrendo
no sentido de sua revitalização. A discussão que se pretende, a partir da consulta aos
entrevistados, é justamente identificar pontos de convergência entre a requalificação de áreas
urbanas e o desenvolvimento da atividade turística, sempre tendo o patrimônio e seus
mecanismos de preservação como referências fundamentais. Passa-se, agora, a considerar o
significado da Praça da Estação para o Turismo, na perspectiva dos órgãos municipal e
estadual que respondem pela atividade.
6.3 Seu significado para o turismo
Para analisar o significado do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação para
a cidade no que diz respeito à atividade turística, foram consultados os órgãos públicos
estadual e municipal de turismo: Secretaria de Estado de Turismo - SETUR-MG e Empresa
Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A Belotur. Por meio da realização de
entrevistas com representantes dos referidos órgãos, foi possível obter informações quanto ao
100
Entrevista realizada pela autora, em 11 de novembro de 2007, com Rubem Sá Fortes, Assessor de Ações
Estratégicas do IEPHA-MG, por e-mail.
101
Idem.
103
valor da Praça da Estação como espaço urbano em processo de turistificação e do seu
potencial como atrativo turístico.
Considerando inicialmente a perspectiva estadual, Simone Araújo, Chefe de Gabinete da
SETUR, afirma que:
O significado do Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação para a cidade, do
ponto de vista da SETUR, é que é um ponto turístico que na verdade marca o início
da construção da cidade de Belo Horizonte. Se for usada uma expressão que o
turismo usa muito, é o portão de entrada de BH pela sua própria representação
histórica. A cidade começou por ali. Ali começa a história do turismo na cidade,
atrás, na construção de BH.
102
Buscando vincular mais fortemente o espaço à atividade turística, a entrevistada sugere que,
se for considerado que turismo de negócios envolve quem vai para um determinado local para
fazer negócios ou para fazer algum tipo de investimento, pode-se entender que isso aconteceu
com Aarão Reis. Para construir a nova capital, ele organizou um grupo multidisciplinar de
construtores, do qual fazia parte Antônio Teixeira Rodrigues, o Conde de Santa Marinha, que
ficou com a responsabilidade de trazer da Europa equipamentos como a escadaria do Palácio
da Liberdade, vitrais, etc. e se instalou ali, ao longo da linha férrea porque o meio de
transporte da época era o ferroviário. Ela relata que os materiais vinham da Europa para o
porto de Santos-SP e de para BH, pela ferrovia, e que foram gerados empregos para a
construção dos galpões que seriam inicialmente oficinas para a construção da cidade, os quais
depois se tornaram armazéns e oficinas de manutenção da própria rede ferroviária. A
construção da nova capital gerou um fluxo de visitantes que vinham trabalhar e conhecer a
cidade à qual chegavam de trem.
A Praça da Estação, então, consiste no espaço mais representativo da história de
Belo Horizonte, além de ter a beleza de seu conjunto arquitetônico que os órgãos
públicos conseguiram preservar ao longo do tempo, com o suporte das leis de
proteção ao patrimônio. Embora várias edificações tenham sido demolidas, ficaram
registros importantes de épocas diferentes, constituindo um acervo arquitetônico rico
para a cidade.
103
Com relação à atuação da SETUR sobre o espaço da Praça da Estação, Simone Araújo
informa que a SETUR reconhece e utiliza o espaço e suas imagens, considerando que ele tem
102
Entrevista realizada pela autora, em 03 de outubro de 2007, com Simone Araújo, Chefe de Gabinete da
Secretaria de Estado de Turismo – SETUR-MG.
103
Idem.
104
a mesma importância da Praça da Liberdade nesse contexto de ser um produto turístico que
não chama a atenção do turista, mas que também o acolhe, sendo um atrativo
extremamente forte por seu valor histórico. A entrevistada comenta que o turista gosta de
vivenciar o lugar, ele quer saber como aquilo começou
104
. E que, hoje, percebe-se que o
Museu de Artes e Ofícios - MAO cumpre muito bem esse papel, embora ele não seja o museu
da cidade, mas esteja localizado onde esta cidade surgiu, o que acaba despertando o interesse
do visitante e até dos próprios moradores de Belo Horizonte e da Região Metropolitana de
saber um pouco mais sobre a sua história. A instalação do MAO acabou estimulando a
Prefeitura a revitalizar a Praça da Estação, o que, por sua vez, estimulou o Governo do Estado
também a fazer o Boulevard Arrudas, que é o ponto de partida da Linha Verde.
Para a representante da SETUR, a Praça da Estação resgatou o interesse e a atenção de todos
quando começou a ser revitalizada, o que demonstra a importância dos equipamentos culturais
no processo de revitalização de uma região. Essa região foi um ponto nobre na época áurea de
BH, em seu início, depois entrou em um processo de degradação muito forte e em um novo
momento começa a ser reinserida no universo cultural da cidade pela Serraria Souza Pinto,
que está em seu entorno. A restauração da Serraria e o início de uma programação com foco
mais efetivo na área cultural, mas também de negócios, acabam levando a população para
uma região que não estava sendo devidamente utilizada pela cidade. Na seqüência, começa a
se configurar um corredor cultural, com o Centro Cultural da UFMG, que tem uma atuação
importante na região. Começa, então, o processo de revitalização da Praça da Estação, durante
um período muito longo considerando as dificuldades de busca de recursos, mas que um
projeto impecável deveria exigir mesmo um tempo maior -, e, depois disso, a Casa do Conde
como um espaço alternativo não para eventos culturais, mas também como um espaço que
passa a receber eventos sociais e empresariais.
O espaço da Casa do Conde ficou muito tempo ocioso, integrando a massa falida da
rede ferroviária, não tendo o IEPHA, guardião do espaço, recursos para a sua
manutenção e revitalização. Foi a sua própria utilização, por meio de uma ONG, que
permitiu durante um bom tempo que a Casa do Conde participasse também desse
processo de revitalização da Praça da Estação, e hoje abriga a sede do IPHAN
(casarão) e a sede da FUNARTE (galpões), o que garante minimamente pelo menos
o patrimônio físico da Casa do Conde até que se tenha um projeto ideal para ela.
Entretanto, em função dos novos usos dado ao espaço pelos novos ocupantes, a Casa
do Conde perde a liberdade de receber eventos de qualquer natureza como era até
então.
105
104
Entrevista realizada pela autora, em 03 de outubro de 2007, com Simone Araújo, Chefe de Gabinete da
Secretaria de Estado de Turismo – SETUR-MG.
105
Idem.
105
A entrevistada, com a experiência de ter gerenciado a Casa do Conde por um período
significativo, comenta sobre o surgimento da Estação do Conde, um novo empreendimento na
região que passou a abrigar eventos que tradicionalmente aconteciam na Casa do Conde,
como o Comida di Buteco e o Circuito Cultural do Banco do Brasil. A Estação do Conde é
um investimento privado, mas, na opinião de Simone Araújo, é contestável estética e
funcionalmente quando se pensa no conjunto das edificações do entorno, considerando que o
ideal seria que o poder público tivesse desapropriado aquela área para incluí-la na recuperação
do Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação. Ela comenta ainda que, sendo o mercado
imobiliário mais forte que a ação pública, a empresa proprietária do terreno o colocou à venda
e um empreendedor o adquiriu para nele construir um espaço cultural mais voltado para a
área de entretenimento. Entretanto, sua nova programação começou a entrar em choque com a
programação da FUNARTE, um espaço mais voltado para a formação cultural. De qualquer
forma, a Estação do Conde acabou constituindo um novo ponto de referência e a confusão
que as pessoas fazem com a Casa do Conde é natural, pois os nomes se parecem, o que pode
até conduzir para alguma forma de integração entre os dois espaços”.
106
O Conjunto da Praça da Estação é percebido de forma positiva pela SETUR, como um
equipamento que foi muito importante, depois entrou em um processo de degradação que
durou muitos anos, e hoje volta a ser uma referência para a cultura e o turismo da cidade. A
entrevistada, por ter integrado anteriormente a equipe do Belo Horizonte Convention &
Visitors Bureau - BHC&VB, uma instituição que atua para fomentar o turismo de negócios na
cidade, comenta que na campanha de auto-estima “Eu amo BH radicalmente” o BHC&VB
deu destaque para a Praça da Estação e para o próprio MAO, como um espaço que é um
orgulho para a população, inclusive demonstrando o reconhecimento dos cidadãos para o
reconhecimento do trabalho de uma outra cidadã a empresária Ângela Gutierrez que se
dedicou por tanto tempo a recuperar esse equipamento e a transformá-lo em um dos espaços
museológicos mais importantes do País, tendo um peso muito grande na decisão do turista de
vir a BH, integrando seu conjunto de atrativos. A SETUR reconhece isso e atua tentando não
a divulgação, mas a própria utilização desse espaço para que ele integre definitivamente o
conjunto de atrativos turísticos da cidade.
106
Entrevista realizada pela autora, em 03 de outubro de 2007, com Simone Araújo, Chefe de Gabinete da
Secretaria de Estado de Turismo – SETUR-MG.
106
Ao comentar sobre a inserção da atividade turística no espaço, Simone Araújo informa que
isso se porque o MAO, a Serraria Souza Pinto, a Casa do Conde, a Estação do Conde e o
Centro Cultural da UFMG ofertam uma programação que tanto atende a comunidade como o
turista, e que é muito comum, por exemplo, que organizadores de congressos na cidade
busquem informar na sua folheteria o que está sendo ofertado na área de cultura e turismo
durante o período de realização do congresso e a Praça da Estação sempre tem alguma coisa a
oferecer. Dessa forma, o turista acaba freqüentando esse espaço e participando do processo de
revitalização do patrimônio.
Quanto à existência de algum projeto da SETUR para o espaço da Praça da Estação, a
entrevistada argumenta que, como a Secretaria atua no Estado inteiro, esse tipo de ação
pontual está mais a cargo da Prefeitura Municipal, da Belotur, o que o quer dizer que a
SETUR, que tem o papel do fomento, não venha a participar desse processo.
Então, acredita-se que todo esse trabalho que vem sendo feito de restauração e
revitalização acabe tendo a participação da SETUR na divulgação desse conjunto
como um espaço que é utilizado para o turismo. A Secretaria também está atenta e
disposta a colaborar no processo de transformação de outros espaços do entorno da
Praça da Estação em espaços culturais, como é o caso dos prédios da 104 Tecidos e
da Escola de Engenharia da UFMG. Os imóveis da região são muito grandes, são
muito bonitos e a tendência, dentro de um espaço de dez anos, é que a Praça da
Estação seja um dos pontos mais freqüentados pelos turistas em Belo Horizonte,
exatamente pela diversidade de oferta de cultura e entretenimento, com restaurantes
e bares, voltando a ser o que era na época da construção da cidade. Seria muito bom
se fosse possível reativar alguns trechos da ferrovia, além do Vitória-Minas.
Considerando que o transporte ferroviário é a cara de Minas Gerais, certamente ali
voltará a ser o portão de entrada da cidade.
107
.
Por fim, Simone Araújo comenta que uma interação da comunidade com o turista pela
utilização de outras pessoas da cidade de um equipamento que estava abandonado. Se a Praça
da Estação era apenas um corredor de passagem, nela hoje há uma integração que provoca um
processo de inclusão muito interessante, um compartilhamento do espaço público por grupos
diferenciados. Isso constitui um ponto positivo em um processo de revitalização de área, em
que normalmente acontece o contrário, havendo a exclusão dos freqüentadores originais.
107
Entrevista realizada pela autora, em 03 de outubro de 2007, com Simone Araújo, Chefe de Gabinete da
Secretaria de Estado de Turismo – SETUR-MG.
107
Na perspectiva municipal, considerada a partir da atuação da Empresa Municipal de Turismo
de Belo Horizonte S/A Belotur sobre a Praça da Estação, o Chefe da Assessoria de
Planejamento e Controle, Márcio José Veloso
108
, ao ser questionado sobre o significado deste
espaço para a cidade, considera inicialmente o valor histórico do Conjunto Arquitetônico e
Paisagístico da Praça da Estação, anterior ao turismo.
Belo Horizonte foi construída dependendo da Praça da Estação, o trem que trazia o
material para a construção chegava ali, a cidade começava ali e se estendia pela
Caetés, pela Amazonas, encaminhando-se para o centro administrativo que se
instalava na Praça da Liberdade. O espaço mais importante da cidade em seu início
era constituído pela Praça da Estação e pelas ruas que saíam da Praça. A Rua Caetés
foi a rua comercial mais importante de BH. A importância turística decorre
inicialmente da importância histórica, considerando os altos e baixos por que o
espaço passou.
109
O entrevistado informa que, quando a Belotur surgiu, em 1980, o espaço já não abrigava mais
a função de estação ferroviária. Anteriormente, a ligação com Rio de Janeiro e São Paulo era
feita por ferrovia, pois não havia rodovias suficientes nem adequadas que ligassem as capitais
dos Estados. A grande viagem entre Rio de Janeiro e Belo Horizonte era feita no trem da
Vera Cruz, um trem de aço, bonito, confortável. Com a evolução do transporte rodoviário e a
conseqüente desativação do Vera Cruz, a Praça da Estação entrou em um tipo de recesso
110
.
O aproveitamento da Praça da Estação pela Belotur começou com a sua utilização para a
realização de eventos. O Arraial de Belô - uma festa que conta com a participação das nove
regionais de Prefeitura e tem, entre suas atrações, um Concurso Municipal de Quadrilhas,
shows musicais, decoração junina e barraquinhas com bebidas e comidas típicas – que hoje se
realiza na Praça da Estação, havia sido realizado no mesmo local, na década de 1990. Com
relação ao aproveitamento turístico no referido período de recesso, Márcio Veloso comenta
que havia fatores complicadores, como a degradação da parte ajardinada da Praça Rui
Barbosa, com a retirada das estátuas para evitar a ação de vândalos que estavam destruindo a
Praça. O espaço caiu, assim, em desuso, sendo abandonado pela própria cidade, que não
considerava devidamente o espaço da Praça da Estação.
Não era possível um direcionamento turístico para lá, pois não havia trem, a Praça
não era bonita, era um caminho para o baixo meretrício, a boemia pesada. Hoje a
108
Entrevista realizada pela autora, em 05 de setembro de 2007, com Márcio José Veloso, Chefe da Assessoria
de Planejamento e Controle da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A – Belotur.
109
Idem.
110
Idem.
108
Praça está plenamente revitalizada, por vários motivos: pela presença do Museu de
Artes e Ofícios, que veio enobrecer a Praça, chegando a ser considerado hoje o
melhor museu da cidade; pelo metrô, que facilita o acesso ao local; pela ação da
Prefeitura de revitalizar a esplanada da Praça, com o chafariz, a iluminação feérica –
a Praça é o lugar mais iluminado de BH hoje; pela construção do Boulevard
Arrudas, que incluiu a revitalização da parte ajardinada da Praça Rui Barbosa, com o
retorno das estátuas, com o acréscimo de bancos; pela revitalização da Rua Caetés
dois anos, tudo isso numa tentativa de fazer com que a cidade de certa forma
voltasse a ser como ela era em seus primórdios. O prédio da Estação não voltou a
abrigar a função ferroviária, mas foi muito bem reaproveitado com a função de
museu. A Praça hoje tem atratividade turística.
111
A revitalização da Praça, na visão da Prefeitura Municipal, foi feita no sentido de criar um
local para a realização de eventos festivos e políticos, então o Arraial de Belô voltou a ser
realizado lá, uma festa que é muito importante para a cidade porque diz muito das raízes
mineiras, com as barraquinhas das festas paroquiais, com jogos, comidas típicas,
namoricos
112
. Há um esforço na gestão atual da Belotur de transformar o Arraial de Belô em
um produto turístico, que atraia turistas para assistir à festa. De acordo com o entrevistado, em
2008 o Arraial vai ocupar um espaço maior ainda, abrangendo a Avenida dos Andradas, e
voltará a ser um evento nacional, com a vinda de representantes de dez Estados para disputar
um concurso nacional de quadrilhas.
Embora o único evento realizado pela Belotur atualmente na Praça da Estação seja o Arraial
de Belô, é oferecido apoio a outras iniciativas no local e trabalha-se para a promoção e a
divulgação do Museu de Artes e Ofícios como o mais importante museu da cidade, o mais
moderno, que agrega um valor muito significativo à rede de museus de Belo Horizonte. Há a
crença de que a cidade se promove por meio da promoção de seus atrativos.
Ao ser questionado sobre como a Belotur relaciona o espaço da Praça da Estação com a
história da cidade, Márcio Veloso considera que o reflexo desse vínculo histórico está
registrado no Museu histórico Abílio Barreto MhAB, que tem exemplares da história da
Praça da Estação, como a Mariquinha, a máquina que puxava o trem que parava na Estação, a
maquete do Arraial, a história e a importância da Estação Ferroviária no transporte do
material para a construção da nova capital mineira, além das pessoas que vinham para a
cidade. Para ele, a história alimenta as informações turísticas.
111
Entrevista realizada pela autora, em 05 de setembro de 2007, com Márcio José Veloso, Chefe da Assessoria
de Planejamento e Controle da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A – Belotur.
112
Idem.
109
Eu acho que o que mais dá a leitura de turismo para o espaço, hoje, é, além da beleza
arquitetônica e paisagística, da presença do museu e do próprio entorno que foi
revitalizado, a história que cria uma relação de afetividade da população com o
local. Antes da canalização do Ribeirão Arrudas as grandes enchentes alagavam toda
a região, a água invadia os armazéns de atacado, as mercadorias saíam boiando,
carros eram arrastados para dentro do Arrudas. Foi feito, então na região, todo um
processo moderno, inteligente e estrutural para adequar a área aos novos usos,
criando um local plenamente aproveitável turisticamente
113
.
Com relação ao uso do espaço, o entrevistado acredita que tenha havido um resgate apenas
arquitetônico, não funcional. Resgatou-se um prédio que é muito bonito e que foi revertido
em museu com um ótimo aproveitamento, aproveitou-se o sistema de linhas da ferrovia e a
estrutura férrea para o metrô, o pátio onde antigamente se tomava o trem virou pátio do
museu, onde estão expostas as peças maiores. O trem ativo da Vitória-Minas passa na parte de
trás, com acesso por outro prédio que não o da Estação e, dessa forma, Márcio Veloso
considera que se perdeu a noção de que o prédio abriga uma estação ferroviária. Entretanto, o
valor do resgate arquitetônico, urbanístico e cultural contribui para a condição de atrativo
turístico atribuída ao local.
O espaço tem três aspectos principais de atração: a arquitetura, a história e o museu,
que hoje é um chamariz muito grande para o turismo. E eu não sei se as nossas
agências de viagem estão aproveitando isso. A Belotur tem feito um trabalho intenso
junto às agências, sugerindo e amontando roteiros que valorizem e aproveitem o
que a cidade tem, uma cidade que é muito importante, por ter sido a primeira cidade
planejada do País, por ser onde teve início a projeção da carreira de um dos maiores
arquitetos do mundo, Oscar Niemeyer, por ter um entorno com exemplares
maravilhosos do século XVII e montanhas, rios, cachoeiras. É um lugar privilegiado,
principalmente pela hospitalidade de seu povo. Nas pesquisas que temos realizado,
ao se perguntar a um turista do que ele mais gostou em BH, entre as três primeiras
respostas sempre aparece: da gente mineira.
114
Para o entrevistado, as intervenções urbanísticas, arquitetônicas e as propostas culturais para a
área levam ao uso turístico do espaço. Na sua origem, a Praça da Estação era turística no
sentido de receber o turista que chegava à cidade, o espaço era bonito, as ruas que da Praça
saíam eram largas e ofereciam uma visão privilegiada da cidade – hoje impedida pela
presença dos prédios no entorno imediato”
115
. Ele acredita que hoje o espaço volta a
causar impacto turisticamente, a ter todos os ingredientes para ser um ponto turístico, e a
113
Entrevista realizada pela autora, em 05 de setembro de 2007, com Márcio José Veloso, Chefe da Assessoria
de Planejamento e Controle da Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A – Belotur.
114
Idem.
115
Idem.
110
começar a ser usado mais intensamente para a realização de eventos, o que foi a motivação
para ela ter sido revitalizada. O tratamento dado ao lugar contribuiu também para atrair as
pessoas para o local, considerando inclusive a questão da segurança que sempre foi um fator
complicador na região. A área da Rua Aarão Reis que foi toda revitalizada também oferece
mais conforto, mais tranqüilidade para o usuário do espaço, entre a Praça da Estação e a
Serraria Souza Pinto, que agrega valor ao conjunto, embora ali exista o Edifício Central, um
edifício comercial que, na opinião de Márcio Veloso, destoa do conjunto e impede a visão do
edifício que é continuação do prédio da Estação Central, por onde embarcam atualmente os
passageiros da linha Vitória-Minas.
111
7 A PESQUISA DE CAMPO
7.1 Delineamento da Pesquisa
A pesquisa foi planejada com base em um universo que representa o total de pedestres que
transitam no entorno da Praça da Estação de Belo Horizonte, tendo como referência inicial o
total da população da cidade que, de acordo com o Censo 2000 do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística - IBGE
116
, soma 2.238.526 habitantes. Considerando que também
circulam pela cidade no dia-a-dia de trabalho moradores da Região Metropolitana, optou-se
por considerar como universo da pesquisa a população de Belo Horizonte e também as
populações dos municípios de Baldim, Betim, Brumadinho, Caeté, Capim Branco, Confins,
Contagem, Esmeraldas, Florestal, Ibirité, Igarapé, Itaguara, Itatiaiuçu, Jaboticatubas, Juatuba,
Lagoa Santa, Mário Campos, Mateus Leme, Matozinhos, Nova Lima, Nova União, Pedro
Leopoldo, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Acima, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São
Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Sarzedo, Taquaraçu de Minas e Vespasiano que
compõem a Região Metropolitana de Belo Horizonte RMBH, totalizando 10.620.284
habitantes, também de acordo com o Censo 2000 do IBGE.
Para a coleta dos dados, foram utilizados formulários semi-estruturados, aplicados no espaço
da Praça da Estação, no período de 03 de julho a 01 de setembro de 2007, em vários dias, em
diversos horários, cobrindo diferentes faixas etárias, classes sociais, graus de escolaridade,
níveis de renda, sexo, entre outras características demográficas. Além disso, os instrumentos
de coleta de dados foram confeccionados para dois públicos-alvo distintos (ver APÊNDICES
B e C):
Moradores de Belo Horizonte e Região Metropolitana;
Turistas em visita ao local.
Com isso, os resultados gerados a partir desta pesquisa indicam os perfis e as opiniões de cada
um dos públicos-alvo citados com relação à sua observação sobre o espaço da Praça da
116
IBGE. Censo 2000 com divisão territorial 2001. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home>. Acesso
em 11 jun. 2007.
112
Estação. Tais resultados contribuem para a compreensão do processo de transformação do
espaço urbano em associação com o desenvolvimento da atividade turística, em uma relação
de troca, de complementaridade e de compartilhamento. A perspectiva de compartilhamento
exige que os usuários do espaço se manifestem no sentido de sinalizar os efeitos que o espaço
reconfigurado pode causar sobre o seu dia-a-dia e sobre as relações que se constroem na
medida em que o espaço é utilizado para atividades diversas e por um público diversificado.
7.2 Cálculo do tamanho da amostra
Como a população de interesse deste estudo (moradores e turistas em visita à Praça da
Estação) é muito flutuante, ou seja, é extremamente variável, não foi possível determinar, com
precisão, o total de pessoas desse universo. Por isso, com relação aos moradores, optou-se por
utilizar as informações do Censo de 2000 do IBGE
117
como dado oficial da contagem da
população da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Assim, segundo o Censo de 2000 do
IBGE, residem na Região Metropolitana de Belo Horizonte cerca de 10.620.284 de pessoas,
sendo 5.092.052 homens (47,95%) e 5.528.232 (52,05%) mulheres.
Portanto, com base nas informações demográficas apresentadas acima, foi possível planejar o
cálculo do tamanho da amostra. Esse cálculo é baseado, primordialmente, nas informações do
universo de interesse e na margem de erro que se deseja assumir para as conclusões
estatísticas. Para o estudo de populações finitas, um método para o cálculo da amostra que
utiliza as informações de proporções para a principal variável do levantamento (neste caso, a
variável considerada foi o SEXO do respondente) é dado pela seguinte fórmula:
)p1(pD)1N(
)p1(pN
n
×+×
×
×
em que,
N: é o tamanho do universo de interesse, também conhecido como público-alvo;
n: é o tamanho da amostra a ser calculada;
117
Foram utilizadas as informações demográficas para o total de residentes na zona urbana da Região
Metropolitana de Belo Horizonte.
113
p: é a proporção populacional da principal variável do estudo, segundo algum fator que
particione (divida) o universo em duas partes, como, por exemplo: (a) total de vendas
por sexo; (b) total de alunos por turno (manhã e noite), etc.;
D: é um fator que pondera o erro da pesquisa e é escrito da seguinte forma:
2
2
Erro
D
=
α
z
sendo:
Erro: o erro máximo admissível para o estudo. Atualmente, na maioria das
pesquisas práticas do mercado, costuma-se utilizar um erro de, no
máximo, 10% (entra na fórmula como 0,10);
2
α
z
118
: é o percentil da Distribuição Normal Padrão que deixa uma área acima
de
2
α
, isto é:
Desse modo, considerando um universo (N) de 10.620.284 residentes, sendo 47,95% dessa
população formada por homens (p), um erro estatístico (α) de 5% e um erro máximo
118
Na prática costuma-se usar um α=0,05 (ou 5%). Para este valor de α, obtém-se o seguinte percentil
2
α
z
:
96,1
025,0
2
05,0
== zz
.
114
admissível de pesquisa (Erro) de 5%, obteve-se o seguinte número mínimo de formulários (n)
que deviam ser coletados no estudo de campo:
400383
5205,04795,0
96,1
05,0
10620283
5205,04795,010620284
2
×+
×
×
×
n
Como pode ser notado no cálculo anterior, a pesquisa deveria contemplar, no mínimo, 383
entrevistas para que as margens de erro do estudo pudessem ser alcançadas. No entanto,
depois que os trabalhos passaram a ser realizados em campo, decidiu-se investigar 400
pessoas, com o intuito de garantir as margens de erros estabelecidas, bem como suprir os
possíveis questionários invalidados ou com respostas muito confusas. Foi possível aplicar 402
formulários considerados válidos para tabulação e análise, no período entre 03 de julho e 01
de setembro de 2007, no espaço delimitado pela esplanada em frente ao prédio da Estação
Central e pela área ajardinada da Praça Rui Barbosa.
Com relação aos turistas, entendeu-se que o cálculo da amostra seria ainda mais complicado,
devido à indeterminação do universo de pesquisa. Optou-se, então, por abordar tantos turistas
quanto fossem encontrados na região durante o período de aplicação da pesquisa de campo,
sendo que, para identificá-los, perguntava-se inicialmente o seu local de residência. Das
pessoas abordadas, 35 turistas se dispuseram a responder às perguntas e passaram a constituir
uma amostra complementar, permitindo que fosse investigada a observação de quem a
cidade com um olhar externo, de curiosidade, de expectativa e de exigência relativizada em
outras experiências turísticas.
7.3 Limitações da pesquisa
Durante o período de aplicação da pesquisa de campo, realizada por quatro pessoas (a autora e
três estagiárias voluntárias) trabalhando em equipe, foram encontradas dificuldades
principalmente com relação à resistência das pessoas em parar para responder às perguntas,
115
embora o tempo necessário para o preenchimento do formulário não ultrapassasse quatro
minutos. As pesquisadoras participantes foram devidamente orientadas no sentido de
esclarecer o objetivo e a finalidade da pesquisa, além de argumentar de forma convincente nas
abordagens, buscando obter das pessoas contatadas atenção e boa vontade para dar as
respostas.
Não houve complicações decorrentes da falta de entendimento das perguntas elaboradas,
considerando-se que o pré-teste aplicado inicialmente já havia indicado ajustes convenientes à
formulação de algumas questões. Considerando ainda a diversidade de público, a dinâmica da
região central da cidade e o número significativo de formulários que deveriam ser aplicados
(400), na elaboração do instrumento de coleta de dados buscou-se uma linguagem
simplificada e objetiva que permitisse agilizar o processo de aplicação da pesquisa,
otimizando o tempo de abordagem e, posteriormente, a tabulação dos dados. Entretanto, tal
simplificação não interferiu na consecução dos objetivos propostos, sendo que a tabulação dos
formulários ofereceu material relevante para as análises que serão apresentadas na seqüência.
116
8 ANÁLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS
Para apresentar a análise dos resultados obtidos com a aplicação dos formulários e a posterior
tabulação dos dados, separam-se em dois itens as consultas feitas aos dois públicos distintos:
moradores de Belo Horizonte e municípios da Região Metropolitana; e turistas em visita à
Praça da Estação.
8.1 A consulta aos moradores de Belo Horizonte e Região Metropolitana
Conforme apresentado anteriormente, no período de 06 de julho a 01 de setembro de 2007
foram aplicados 402 formulários junto a moradores de Belo Horizonte e de municípios da
Região Metropolitana que foram abordados ao circularem pelo espaço da Praça da Estação. A
amostra foi definida estatisticamente considerando o número total de moradores da área
considerada e apontou dados significativos para esta pesquisa com relação à observação dos
usuários cotidianos da Praça da Estação.
Após a tabulação dos dados, o perfil socioeconômico dos respondentes aos formulários
revelou um predomínio sutil da população masculina (53,00%) sobre a feminina (47,00%),
sendo as faixas etárias predominantes: 20 a 29 anos (32,84%), 30 a 39 anos (20,65%) e 40 a
49 anos (20,15%). Em sua maioria, os respondentes têm ensino médio completo (46%), e
9,25% completaram o ensino superior. Das pessoas abordadas, 71,07% residem em Belo
Horizonte e os 28,93% restantes são moradores dos municípios da Região Metropolitana que
trabalham ou estudam na capital. Com relação à renda familiar mensal, 29,93% dos
respondentes estão na faixa entre R$700,00 a R$1.400,00, seguidos de 22,19% com renda
entre R$350,00 e R$700,00. Apenas 1,25% das pessoas possuem renda familiar mensal
superior a R$5.600,00 e 5,24% recebem até um salário mínimo por mês. As tabelas e os
gráficos demonstrativos desses dados encontram-se no APÊNDICE D desta dissertação e
indicam a diversidade da amostra trabalhada.
Além do perfil socioeconômico, o instrumento de coleta de dados elaborado para os
moradores buscou levantar informações com relação à freqüência com que circulam pela
117
23,81%
26,74%
9,14%
17,69%
17,18%
2,26%
3,19%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00%
SUJEIRA
INSEGURANÇA
ILUMINAÇÃO
ASPECTO RUIM/DESAGRADÁVEL
FREQUENTADORES
RUÍDOS/BARULHOS
OUTRO
Problemas da Praça antes da reforma
Praça da Estação, as razões para irem à Praça, a sua observação com relação aos problemas da
Praça antes da reforma e aos aspectos que apresentaram melhorias mais significativas após a
intervenção física no espaço
119
. Investigou-se, ainda, se esses fatores fizeram com que
passassem a ir à Praça da Estação mais freqüentemente e se a finalidade de uso do local
mudou em função disso.
Os dados relativos às considerações anteriores indicam que 56,22% das pessoas abordadas
passam diariamente pela Praça da Estação, tendo como principal motivo a proximidade do
trabalho ou da escola (40,05%). Com relação aos maiores problemas da Praça da Estação
antes da reforma, foi solicitado aos respondentes que indicassem, em ordem de importância,
do mais grave para o menos grave, os três maiores problemas, e o resultado está apresentado
no GRÁF. 1:
GRÁFICO 1 – Distribuição da amostra segundo os três maiores problemas
da Praça da Estação – BH-MG – antes da reforma
Fonte: dados da pesquisa, 2007
A questão da insegurança apareceu freqüentemente na fala das pessoas abordadas durante a
pesquisa de campo, sendo apontada como um fator que dificultava e, muitas vezes, impedia o
uso da Praça da Estação pela população da cidade, assim como a sujeira, associada pelos
respondentes à falta de manutenção e ao descaso com o local. O terceiro problema
119
Essas duas últimas questões só seriam pertinentes àquelas pessoas que se lembravam de como a Praça da
Estação era antes das intervenções físicas do projeto de requalificação da área, o que constituiu um fator de
seleção dos respondentes, de acordo com os objetivos da pesquisa.
118
23,33%
26,37%
13,53%
23,16%
13,10%
0,52%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00%
LIMPEZA
SEGURANÇA
ILUMINAÇÃO
BOM/AGRADÁVEL
FREQUENTADORES
RDOS/BARULHO
Aspectos da Praça que melhoraram
depois da reforma
identificado, o “aspecto ruim/desagradável” (17,69%) também se associa a essas queixas e, na
opinião dos respondentes, fazia com que o tipo de “freqüentadores” (17,18%) do espaço
viesse a constituir um fator de dificuldade com relação ao uso da Praça pelos moradores de
Belo Horizonte. Esse fator, por sua vez, remete à questão da insegurança, apontada como o
maior problema do local antes da reforma.
Da mesma forma com que foram abordados os problemas, pediu-se aos respondentes que
indicassem os aspectos que revelaram melhorias mais significativas após a reforma da Praça
da Estação e de seu entorno imediato, também indicando os três mais significativos em ordem
de importância, do maior para o menor. Coerentemente com o maior problema identificado, a
melhoria mais significativa foi a “segurança”, destacando-se a presença constante da Guarda
Municipal no local como um facilitador, aliado às melhores condições de iluminação da
Praça, que apareceram em apenas 13,53% das respostas, considerando que sua interferência é
mais perceptível à noite e as pessoas que circulam pela Praça diariamente o fazem durante o
dia, em função da proximidade do local de trabalho. O GRÁF. 2 indica os percentuais obtidos
com a tabulação dos dados:
GRÁFICO 2 – Distribuição da amostra segundo os três aspectos da Praça da Estação – BH-MG –
que melhoraram mais depois da reforma
Fonte: dados da pesquisa, 2007
Observa-se nos dados apresentados que os itens “aspecto bom/agradável” (23,16%) e
“limpeza” (26,37%) também aparecem com uma porcentagem maior, de forma coerente com
119
22,22%
14,81%
10,37%
40,00%
12,59%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00%
PROXIMIDADE
TRABALHO/ESCOLA
PROXIMIDADE/ÔNIBUS
PROXIMIDADE/METRÔ
PASSEAR
EVENTOS
Finalidade da visita
o destaque dos problemas de “sujeira” e “aspecto ruim/desagradável” apontados
anteriormente.
Entretanto, a maioria dos respondentes não passou a freqüentar mais a Praça em função das
melhorias, conforme demonstrado na TAB.1:
TABELA 1
Distribuição da amostra segundo o aumento da freqüência à Praça da Estação – BH-MG
depois da reforma (2005/2007)
Freq. %
SIM 160 40,20
NÃO 238 59,80
Total 398 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
Observou-se que a razão principal da ida à Praça da Estação sofreu mudanças após as
intervenções físicas no espaço, mudando da condição de proximidade do trabalho ou da
escola para “passear”. O GRÁF. 3 indica as porcentagens das respostas dadas:
GRÁFICO 3 – Distribuição da amostra segundo a finalidade da visita à Praça da Estação – BH-
MG – depois da reforma (2005/2007)
Fonte: dados da pesquisa, 2007
120
As porcentagens relativas às razões da ida à Praça depois da reforma indicam que,
paralelamente à manutenção do uso do espaço em função da proximidade do trabalho ou da
escola, um novo uso se apresentou ao local de forma predominante: “passear”, com 40% das
respostas obtidas.
Esse novo uso reflete as novas condições de segurança, limpeza e aspecto bom e agradável
resultantes da opinião das pessoas envolvidas na pesquisa de campo com relação às melhorias
observadas no local após o processo de intervenção física e requalificação da área, incluindo
as obras da Linha Verde e do Boulevard Arrudas, apresentadas anteriormente no item 6.1
desta dissertação.
Além disso, as melhorias observadas revelam a associação de novos valores ao espaço, como
o conhecimento que os respondentes têm com relação à existência do Museu de Artes e
Ofícios no prédio da Estação Central, conforme pode ser demonstrado pela TAB. 2:
TABELA 2
Distribuição da amostra segundo o conhecimento da existência do Museu de Artes e Ofícios
na Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
SIM 244 61,15
NÃO 155 38,85
Total 399 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
Outra questão apresentada aos moradores dizia respeito aos espaços abertos à visitação que
integram o Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação: o Museu de Artes e Ofícios, a
Serraria Souza Pinto, a Casa do Conde de Santa Marinha e o Centro Cultural da UFMG,
sendo que o respondente devia indicar aqueles já visitados, podendo marcar de zero a todas as
opções. O GRÁF. 4 apresenta os resultados relativos ao número de respostas e não aos 402
moradores abordados na pesquisa, que alguns respondentes haviam visitado mais de um
lugar e outros não haviam visitado nenhum deles:
121
19,02%
40,00%
27,65%
13,33%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00%
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
SERRARIA SOUZA
PINTO
CASA DO CONDE DE
SANTA MARINHA
CENTRO CULTURAL
DA UFMG
Espaços visitados
GRÁFICO 4 – Distribuição da amostra segundo os espaços visitados pelos moradores
no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
O fato de que a Serraria Souza Pinto funciona como espaço cultural desde 1988 quando o
prédio foi restaurado (conforme apresentado no item 6.1 desta dissertação), sendo aberto ao
público anteriormente aos demais espaços e apresentando uma programação mais
diversificada, justifica, de certa forma, a maior incidência da sua visitação (40,00%). O
Museu de Artes e Ofícios, embora tenha sido aberto ao público somente no início de 2006, já
se destaca com relação ao Centro Cultural da UFMG, o que pode ser justificado pela
qualidade de suas instalações, de seu acervo e de sua programação. A Casa do Conde de Santa
Marinha ocupa a segunda posição, com 27,65%, o que está associado à realização de eventos
culturais de grande evidência e porte no local, como a “Saideira” do Festival Comida di
Buteco e espetáculos musicais e teatrais diversos.
Ao responderem sobre o significado da Praça da Estação para a cidade de Belo Horizonte, as
pessoas abordadas indicaram em suas declarações valores associados ao lazer (17,66%), à
história (13,43%), à cultura (9,20%), e ao turismo, identificando a Praça da Estação como
“cartão postal” (16,42%), como “ponto turístico” (14,93%) e ainda como “cartão de visita da
cidade” (1,24%), totalizando 32,59% de idéias associadas à atividade turística, um novo valor
agregado ao espaço revitalizado da Praça da Estação. A TAB. 3 apresenta os resultados
obtidos:
122
TABELA 3
Distribuição da amostra segundo o significado da Praça da Estação – BH-MG – para a cidade
Freq. %
ACESSO AO METRÔ 1 0,25
ACESSO FÁCIL 1 0,25
ARQUITETURA 1 0,25
BELEZA 10 2,49
BENEFÍCIO PARA A CIDADE 8 1,99
CARTÃO DE VISITA DA CIDADE 5 1,24
CARTÃO POSTAL 66 16,42
CULTURA 37 9,20
DESCANSO 11 2,74
ESPAÇO PARA TODOS 4 1,00
ESPAÇO PARA VISITAS 1 0,25
EVENTOS 3 0,75
FERROVIA 4 1,00
HISTÓRIA 54 13,43
INTEGRAÇÃO 1 0,25
LAZER 71 17,66
LIBERDADE 2 0,50
LUGAR DE PASSAGEM 4 1,00
NÃO SEI 4 1,00
ONDE OS FREQUENTADORES "MALOQUEIROS"
TIRAM UM COCHILO
1 0,25
PARA MORADORES DE RUA 1 0,25
PATRIMÔNIO 12 2,99
PONTO DE ENCONTRO 13 3,23
PONTO DE REFERÊNCIA 19 4,73
PONTO TURÍSTICO 60 14,93
PORTA DE ENTRADA DA CIDADE 3 0,75
RECORDAÇÃO 1 0,25
REVITALIZAÇÃO 2 0,50
TRADIÇÃO 1 0,25
UMA DAS SETE MARAVILHAS DE BELO
HORIZONTE
1 0,25
Total 402 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
123
Referências a “arquitetura”, “beleza”, “espaço para visitas”, “eventos”, “patrimônio”, “ponto
de referência”, “porta de entrada da cidade” e “uma das sete maravilhas de Belo Horizonte”
também remetem à atividade turística e revelam que a população residente percebe o espaço
da Praça da Estação como um local atrativo e merecedor do olhar de quem vem de fora. Essa
observação feita pelos moradores em seu cotidiano aponta para a identificação do processo de
turistificação, de transformação do espaço urbano em associação com a inserção do uso
turístico, de forma a incentivá-lo e dele se beneficiar, na melhor das hipóteses.
8.2 A consulta aos turistas
Durante o período de 06 de julho a 01 de setembro de 2007, quando foram aplicados os
formulários junto a moradores de Belo Horizonte e de municípios da Região Metropolitana,
também foram abordados 35 turistas que se encontravam no espaço da Praça da Estação.
Como amostra complementar, dada a dificuldade de se determinar o universo de turistas no
espaço e no período em questão, os formulários aplicados permitiram identificar,
inicialmente, o perfil socioeconômico desses turistas e suas opiniões com relação ao espaço
visitado.
Entre os 35 turistas que responderam às questões do formulário, também predominam os do
sexo masculino (54,29%) sobre os do sexo feminino (45,71%). A faixa etária predominante é
de 20 a 29 anos (37,14%), seguida da de 30 a 39 anos (25,71%). Não foi encontrado turista na
faixa etária de 70 anos ou mais. Com relação ao grau de escolaridade, a maioria dos
respondentes tem ensino médio completo (42,86%) e 22,86% têm ensino superior completo.
A maior parte dos turistas é proveniente do interior de Minas Gerais (60,00%), sendo que
40,00% são de outros Estados e não foi encontrado turista estrangeiro no local durante o
período de aplicação da pesquisa de campo. Predomina a renda familiar mensal de R$700,00
a R$1.400,00 (mesma faixa predominante com relação aos moradores), com 25,71%, seguida
da faixa de R$1.400,00 a R$2.800,00, com 20,00%. Dos 35 turistas, oito (22,86%) não
quiseram responder sobre a renda familiar mensal e cinco deles (14,29%) informaram receber
acima de R$5.600,00 por mês. As tabelas e os gráficos demonstrativos desses dados
encontram-se no APÊNDICE E desta dissertação.
124
17,14%
17,14%
8,57%
14,29%
20,00%
22,86%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00%
VISITA A PARENTES OU AMIGOS
NEGÓCIOS
SAÚDE
ESTUDOS
LAZER
OUTRA
Razão da vinda a BH
O formulário elaborado para os turistas considerou questões como o motivo da vinda a Belo
Horizonte, o motivo da visita à Praça da Estação e o número de vezes que já visitaram a
cidade e a Praça. O GRÁF. 5 indica os motivos da vinda a Belo Horizonte:
GRÁFICO 5 – Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da vinda a
Belo Horizonte - MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
Em termos gerais, o motivo principal da visita a Belo Horizonte é o lazer (20,00%), seguido
de negócios e visita a parentes ou amigos, ambos com 17,14%. Como predominou com
22,86% a opção “outra” sobre as demais, é pertinente observar na TAB. 4 as outras razões da
visita à cidade, sendo que 77,14% dos 35 turistas já vieram a BH três ou mais vezes:
TABELA 4
Distribuição da amostra de turistas segundo outras razões para a vinda a Belo Horizonte -
MG
Freq. %
OPÇÕES PREDEFINIDAS
27 77,14
ENCONTRAR MORADIA
1 2,86
FAZER COMPRAS
1 2,86
FAZER TRATAMENTO DENTÁRIO
1 2,86
FORMATURA DA AMIGA
1 2,86
PARTICIPAR DE CONCURSO
2 5,71
PARTICIPAR DE EVENTO
1 2,86
VIAGEM DE INCENTIVO
1 2,86
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
125
51,43%
14,29%
5,71%
5,71%
2,86%
20,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%
PASSEAR
VISITAR O MUSEU
PROX PONTO DE ÔNIBUS
PROX METRÔ OU TREM
EVENTOS
OUTRA
Razão da visita à Praça
Com relação à visita à Praça da Estação, observa-se que também predominam os turistas que
já a visitaram três ou mais vezes (45,71%), seguidos de 40,00% que a visitavam pela primeira
vez. Os motivos que os levaram até a Praça são apresentados no GRÁF. 6:
GRÁFICO 6 – Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da visita
à Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
A maioria dos turistas, como era de se esperar, foi à Praça da Estação para “passear” (51,43%)
e 14,29% foram para visitar o Museu de Artes e Ofícios, um atrativo turístico relevante na
cidade, conforme apresentado no item 6.1 desta dissertação. Considerando ser significativa a
porcentagem de 20% de turistas em visita ao local por outras razões, cabe destacar a TAB. 5
que as apresenta:
TABELA 5
Distribuição da amostra de turistas segundo outras razões para visita à Praça da Estação –
BH-MG
Freq. %
OPÇÕES PREDEFINIDAS
28 80,00
CAMINHO
1 2,86
ESTUDOS
1 2,86
INCLUIDO NO ROTEIRO
1 2,86
NÃO RESPONDEU
1 2,86
PONTO DE ENCONTRO
2 5,71
TRABALHO NO MUSEU
1 2,86
Total
35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
126
22,86%
5,71%
0,00%
48,57%
2,86%
20,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%
LIMPEZA
SEGURAA
ILUMINAÇÃO
BELEZA
FREQUENTADORES
OUTRO
Aspecto de destaque na Praça
Embora os turistas não tivessem, necessariamente, a recordação das condições da Praça da
Estação antes da reforma, foi solicitado a eles que respondessem qual era o aspecto da Praça
que mais se destacava, na sua opinião. O GRÁF. 7 apresenta os resultados obtidos:
GRÁFICO 7 – Distribuição da amostra de turistas segundo o aspecto que mais chama
a atenção na Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
A beleza da Praça da Estação aparece em primeiro lugar, com 48,75%, e a limpeza se destaca
na segunda posição com 22,86%. No item “outros” apareceram apenas dois elementos: a fonte
ou, tecnicamente, o chafariz e o prédio da Estação Central, ambos com o mesmo número
de respostas. De certa forma, esses elementos também remetem à beleza do local, ou pelo
menos a integram de forma significativa.
Observa-se que a mesma condição de segurança que se apresenta para os moradores como
uma melhoria proveniente das intervenções físicas e operacionais na área não teve resultado
significativo diante do olhar dos turistas, talvez até porque estes não tenham a referência do
contexto anterior, em que a falta de segurança dificultava e até impedia as pessoas de irem ao
local.
127
Menos da metade dos turistas tinha conhecimento sobre a existência do Museu de Artes e
Ofícios (45,71%) antes de se dirigirem à Praça. Entretanto, com relação à visitação dos
espaços do Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação, a TAB. 6 demonstra que o MAO foi
o espaço visitado pelo maior número de turistas:
TABELA 6
Distribuição da amostra de turistas segundo os espaços visitados no Conjunto Arquitetônico
da Praça da Estação – BH-MG
Resp. % Resp.
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS
10 43,48
SERRARIA SOUZA PINTO
4 17,39
CASA DO CONDE DE SANTA MARINHA
5 21,74
CENTRO CULTURAL DA UFMG
4 17,39
Total 23 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
Com o objetivo de identificar mais especificamente a razão da visita à Praça da Estação, foi
incluída no formulário uma questão sobre por que o local foi incluído no roteiro dos turistas.
A TAB. 7 indica esse detalhamento:
TABELA 7
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão de incluir a
Praça da Estação – BH-MG – em seu roteiro
Freq. %
BELEZA
2 5,71
CONHECER O ATRATIVO TURÍSTICO
9 25,71
ESPERAR UMA PESSOA NO METRÔ
2 5,71
ESTAVA NO CAMINHO E RESOLVEU PARAR
2 5,71
LAZER
6 17,14
LOCAL DE PASSAGEM
6 17,14
NÃO RESPONDEU
2 5,71
PONTO DE ENCONTRO
1 2,86
PONTO DE REFERÊNCIA
1 2,86
PROXIMIDADE DO LOCAL DE TRATAMENTO DE SAÚDE
1 2,86
PROXIMIDADE DO PARQUE MUNICIPAL
1 2,86
TOMAR UM CAFÉ NO MUSEU
1 2,86
TRAZER UMA PESSOA
1 2,86
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
128
SIM
97%
NÃO
3%
De maneira coerente com o motivo predominante de “passear” apresentado anteriormente no
GRÁF. 6, uma maior porcentagem de turistas (25,71%) incluiu a Praça no seu roteiro com
vistas a conhecer o atrativo turístico que ela representa, com o museu no prédio da Estação
Central, a esplanada e os jardins da Praça Rui Barbosa. Para avaliar o grau de satisfação com
relação à visita ao local, optou-se por perguntar, simplesmente, se o turista voltaria à Praça da
Estação em outra oportunidade. O GRÁF. 8 apresenta o resultado:
GRÁFICO 8 – Distribuição da amostra de turistas segundo a opção por retornar
à Praça da Estação – BH-MG – em outra oportunidade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
O fato de 97% dos turistas revelarem o desejo de voltar à Praça da Estação indica que o
espaço apresenta elementos que podem configurá-lo como atrativo turístico, condição
fortalecida pela presença do Museu de Artes e Ofícios e pela beleza e imponência do prédio
que o abriga e marca presença na paisagem urbana.
129
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho fez-se um recorte espacial para analisar a turistificação, elegendo uma área de
Belo Horizonte com características físicas definidas e observáveis em seu processo de
transformação e carregada de valor simbólico associado à história da cidade. Destacou-se,
como elemento de estímulo à análise, a manutenção do uso do espaço por grupos
representativos da população, independentemente das mudanças físicas e funcionais que nele
ocorrem, e a ampliação desse uso, envolvendo novas atividades e novos públicos.
O desenvolvimento da pesquisa exigiu que se fizesse, inicialmente, uma investigação
profunda e ampla sobre a questão do patrimônio material, com sua representatividade física e
simbólica tratada em termos históricos e considerando a legislação que rege a sua proteção
desde a instância mundial à instância local. A legislação serviu como eixo de análise,
permitindo que fossem compreendidas as influências e as adaptações necessárias quando se
sai da abordagem macro em direção à especificidade das questões localizadas.
A delimitação e a caracterização do objeto de estudo, a Praça da Estação, permitiram que se
apresentassem as razões para a sua escolha, no sentido de oferecer elementos relevantes para a
discussão proposta. A demonstração de sua vinculação à história da cidade, sua adequação a
atividades socioculturais, seus atributos espaciais e sua localização central privilegiada com o
acesso facilitado justificaram a discussão da interface com o turismo, paralelamente a uma
presença marcante no cotidiano da população local.
Para fundamentar a discussão sobre o espaço definido para estudo, recorreu-se à experiência e
à atuação de profissionais de órgãos representativos nas áreas de patrimônio e de turismo, que
apresentaram visões convergentes em certos aspectos, mas conflitantes em alguns outros,
revelando perspectivas distintas das abrangências estadual e municipal. A realização das
entrevistas com representantes da Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura
Municipal de BH, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico IEPHA-MG, da
Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A Belotur, da Secretaria de Estado de
Turismo SETUR MG e do Instituto Cultural Flávio Gutierrez, incluído na abordagem em
função de sua responsabilidade pelo Museu de Artes e Ofícios, indicou, entre outros dados
130
relevantes, que o processo de turistificação do espaço urbano não constitui, ainda, um tema de
fácil entendimento.
Os vários atores sociais que participam da discussão, do entendimento e do uso coletivo dos
espaços de uma cidade podem perceber e interpretar o processo de turistificação de forma
diferenciada, conforme indicam os dados obtidos nesta pesquisa com relação à Praça da
Estação. Para alguns, a compreensão da transformação física do espaço indica a consolidação
do processo. Para outros, uma percepção influenciada pelo uso turístico de um determinado
espaço leva à confusão sobre o desencadeamento ou não do processo de turistificação,
independentemente da inserção de novos elementos ou da transformação de edificações e/ou
equipamentos preexistentes para novos usos.
Existe, nessas possibilidades não necessariamente dicotômicas, uma divergência de caráter
temporal, em uma percepção de momentos distintos: o antes e o depois. Na turistificação, o
processo de transformação do espaço urbano em função do turismo, seja para ou por ele,
realiza-se antes que se configure efetivamente o uso turístico de determinado lugar, remetendo
primeiramente ao físico, ao estrutural. A percepção, ou mesmo o reconhecimento, do uso
turístico acontece em um segundo momento, quando se completa mesmo que
temporariamente – o processo de transformação de um determinado espaço que passa a
acolher, de preferência adequadamente, um novo fluxo decorrente da atividade turística. A
Praça da Estação, sustentada por sua história, inserida no cotidiano da população residente e
transformada para acolher visitantes, não se fez exclusivamente para o turismo, mas se
apresenta agora também para ele. No espaço em questão ainda não são percebidos sinais
explícitos de que o uso turístico prevalece sobre usos anteriores, mas é possível identificar que
na configuração do espaço o uso turístico foi contemplado, principalmente pela presença do
Museu de Artes e Ofícios que permitiu a abertura à visitação de uma edificação que se destaca
na paisagem urbana. Observou-se que o uso turístico desse espaço remete ao processo de
turistificação, mas não o legitima necessariamente. O processo de turistificação de espaços
urbanos se consolida à medida que a experiência turística se impõe física e operacionalmente
sobre a experiência cotidiana.
A consulta a 402 moradores de Belo Horizonte e Região Metropolitana e a 35 turistas
encontrados em visita à Praça da Estação revelou que ambos os públicos observam o espaço
como cenário da experiência turística, destacando aspectos positivos, negativos, formas
131
diferenciadas de se relacionarem com as dimensões física e simbólica que a Praça da Estação
apresenta e, de modo especial, a sua disposição em interpretar esse espaço que é de passagem,
de uso e de contemplação. Essas três possibilidades indicam dinâmicas de ação diferenciadas:
o percurso, a permanência, a identificação. Essas três dinâmicas remetem, por sua vez, às
relações estabelecidas pelos dois tipos de público pesquisados. Primeiramente, o dia-a-dia da
população local - que por ali passa, que para se dirige com a intenção de permanecer por
certo tempo e que com o lugar se identifica, por sua própria história, por sua inserção na
cultura da cidade. Em segundo lugar, a experiência do turista - que por ali também passa, que
para também se dirige com a intenção de permanecer por certo tempo, mas que identifica
no local uma outra história, uma outra cultura. Nas diferenças mesmo que pequenas se
constrói o novo e o turismo se alimenta disto.
132
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139
APÊNDICES
140
APÊNDICE A
ROTEIROS PARA ENTREVISTAS
A. Entrevistas com profissionais dos seguintes órgãos públicos (*):
- Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico – IEPHA-MG;
- Gerência de Patrimônio Histórico e Urbano da Prefeitura Municipal de BH;
- Secretaria de Estado de Turismo – SETUR –MG;
- Empresa Municipal de Turismo de Belo Horizonte S/A - Belotur;
1) Qual é o significado do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação para a
cidade, do ponto de vista do/da (*)?
2) Como o/a (*) relaciona o espaço da Praça da Estação com a história de Belo Horizonte?
3) Como o/a (*) atua sobre esse espaço?
4) O/a (*) vê o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação como atrativo
turístico? Por quê?
5) O/a (*) reconhece o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação como um
espaço em processo de turistificação? Por quê?
6) O/a (*) tem algum projeto em desenvolvimento ou a ser desenvolvido na Praça da Estação?
B. Entrevistas com profissionais das seguintes entidades de classe:
- Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-MG;
- Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia – CREA-MG;
1) Qual é o significado do Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação para a
cidade, do ponto de vista do IAB-MG/CREA-MG?
2) Como o/a IAB-MG/CREA-MG relaciona o espaço da Praça da Estação com a história de
Belo Horizonte?
3) O/a IAB-MG/CREA-MG vê o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da Estação
como atrativo turístico? Por quê?
4) O/a IAB-MG/CREA-MG reconhece o Conjunto Arquitetônico e Paisagístico da Praça da
Estação como um espaço em processo de turistificação? Por quê?
5) Como o IAB-MG/CREA-MG avalia a atuação dos órgãos de proteção ao patrimônio sobre
o espaço da Praça da Estação?
141
C. Entrevista com a museóloga Célia Corsino, do Museu de Artes e Ofícios (MAO) -
Instituto Cultural Flávio Gutierrez:
1) Como foi definida a instalação do Museu de Artes e Ofícios no prédio da Estação
Ferroviária?
2) Como foram planejadas as intervenções no entorno do prédio para a instalação do MAO?
3) No site do MAO várias informações sobre a história da Estação Ferroviária. A
instalação do MAO participa de que forma dessa história?
4) Aponte os pontos positivos e os pontos negativos da relação MAO/Praça da Estação.
5) Como a presença do MAO interfere na apropriação do espaço da Praça da Estação pela
comunidade?
6) Qual é a contribuição que o Museu oferece à atividade turística em Belo Horizonte?
142
APÊNDICE B
FORMULÁRIO PARA MORADORES DE BELO HORIZONTE E RMBH
1. Sexo
( ) feminino
( ) masculino
2. Idade
( ) 16 a 19 anos ( ) 50 a 59 anos
( ) 20 a 29 anos ( ) 60 a 69 anos
( ) 30 a 39 anos ( ) 70 anos ou mais
( ) 40 a 49 anos
3. Escolaridade
( ) sem instrução escolar
( ) ensino fundamental incompleto
( ) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto
( ) ensino médio completo
( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo
( ) pós-graduação: ________________
4. Local de residência
( ) Belo Horizonte
( ) Grande BH
Há quanto tempo?____________
5. Renda familiar mensal
( ) não sei
( ) até R$350,00
( ) de R$350,00 a R$700,00
( ) de R$700,00 a R$1.400,00
( ) de R$1.400,00 a R$2.800,00
( ) de R$2.800,00 a R$5.600,00
( ) acima de R$5.600,00
6. Com que freqüência vem ou passa pela Praça da
Estação:
( ) diariamente (dias úteis)
( ) uma ou duas vezes por semana
( ) uma ou duas vezes por mês
( ) uma ou duas vezes por ano
( ) é a primeira vez (não responder 8, 9, 10 e 11)
( ) não sei
7. Por que razão vem ou passa pela Praça da
Estação:
( ) proximidade do local de trabalho/escola
( ) proximidade do ponto de ônibus
( ) proximidade do metrô/trem
( ) passear
( ) eventos (shows, festas etc.)
( ) outra. Qual?
______________________________________________
8. Em ordem de importância, do maior para o menor,
quais eram os três maiores problemas da Praça da
Estação antes da reforma?
( ) sujeira
( ) insegurança
( ) iluminação
( ) aspecto ruim/desagradável
( ) freqüentadores
( ) ruídos/barulho
( ) outro. Qual? ______________________________
9. Em ordem de importância, do melhor para o pior,
indique os três aspectos que melhoraram mais depois
da reforma.
( ) limpeza
( ) segurança
( ) iluminação
( ) aspecto bom/agradável
( ) freqüentadores
( ) ruídos/barulho
( ) outro. Qual? _______________________________
10. Depois da reforma, passou a vir à Praça da Estação
com mais freqüência?
( ) sim – Passe para a questão 11.
( ) não – Passe para a questão 12.
11. Com qual finalidade?
( ) proximidade do local de trabalho/escola
( ) proximidade do ponto de ônibus
( ) proximidade do metrô/trem
( ) passear
( ) eventos (shows, festas etc.)
( ) outra. Qual?
__________________________________________
12. Sabe que existe um museu aberto à visitação no
prédio da Estação?
( ) sim
( ) não
13. Quais dos espaços abaixo já visitou:
( ) Museu de Artes e Ofícios
( ) Serraria Souza Pinto
( ) Casa do Conde de Santa Marinha
( ) Centro Cultural da UFMG
14. Qual é o significado da Praça da Estação para a
cidade?
_________________________________________________
_________________________________________________
143
APÊNDICE C
FORMULÁRIO PARA TURISTAS
1. Sexo
( ) feminino
( ) masculino
2. Idade
( ) 16 a 19 anos ( ) 50 a 59 anos
( ) 20 a 29 anos ( ) 60 a 69 anos
( ) 30 a 39 anos ( ) 70 anos ou mais
( ) 40 a 49 anos
3. Escolaridade
( ) sem instrução escolar
( ) ensino fundamental incompleto
( ) ensino fundamental completo
( ) ensino médio incompleto
( ) ensino médio completo
( ) ensino superior incompleto
( ) ensino superior completo
( ) pós-graduação: ________________
4. Local de residência
( ) interior de MG
( ) outro estado. Qual?______________
( ) outro país. Qual? ________________
5. Renda familiar mensal
( ) não sei
( ) até R$350,00
( ) de R$350,00 a R$700,00
( ) de R$700,00 a R$1.400,00
( ) de R$1.400,00 a R$2.800,00
( ) de R$2.800,00 a R$5.600,00
( ) acima de R$5.600,00
6. Qual é a razão da vinda a Belo Horizonte:
( ) visita a parentes ou amigos
( ) negócios
( ) saúde
( ) estudos
( ) lazer
( ) outra. Qual?
_____________________________________
7. Quantas vezes já visitou Belo Horizonte:
( ) é a primeira vez
( ) duas vezes
( ) três ou mais vezes
8. Quantas vezes já visitou a Praça da Estação:
( ) é a primeira vez
( ) duas vezes
( ) três ou mais vezes
9. Por que razão veio à Praça da Estação:
( ) passear
( ) visitar o Museu de Artes e Ofícios
( ) proximidade do ponto de ônibus
( ) proximidade do metrô/trem
( ) eventos (shows, festas etc.)
( ) outra. Qual?
_________________________________
10. Qual dos aspectos lhe chama mais atenção na
Praça:
( ) limpeza
( ) segurança
( ) iluminação
( ) beleza
( ) freqüentadores
( ) outro. Qual?
____________________________________________
11. Sabe que existe um museu aberto à visitação no
prédio da Estação?
( ) sim
( ) não
12. Quais dos espaços abaixo já visitou:
( ) Museu de Artes e Ofícios
( ) Serraria Souza Pinto
( ) Casa do Conde de Santa Marinha
( ) Centro Cultural da UFMG
13. Por que incluiu a Praça da Estação no seu roteiro?
______________________________________________
______________________________________________
______________________________________________
______________________________________________
14. Você voltaria à Praça da Estação?
( ) sim
( ) não
144
FEMININO
47,00%
MASCULINO
53,00%
APÊNDICE D
TABELAS E GRÁFICOS – MORADORES DA RMBH
TABELA 8
Distribuição da amostra segundo o sexo
Sexo Freq. %
FEMININO 188 47,00
MASCULINO 212 53,00
Total 400 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007.
GRÁFICO 9 – Distribuição da amostra segundo o sexo
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 9
Distribuição da amostra segundo a faixa etária
Faixa etária Freq. %
16 A 19 30 7,46
20 A 29 132 32,84
30 A 39 83 20,65
40 A 49 81 20,15
50 A 59 47 11,69
60 A 69 19 4,73
70 OU MAIS 10 2,49
Total 402 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
145
7,46%
32,84%
20,65%
20,15%
11,69%
4,73%
2,49%
0,00%
5,00%
10,00%
15,00%
20,00%
25,00%
30,00%
35,00%
16 A 19 20 A 29 30 A 39 40 A 49 50 A 59 60 A 69 70 OU
MAIS
Faixa Eria (anos)
GRÁFICO 10 – Distribuição da amostra segundo a faixa etária
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 10
Distribuição da amostra segundo a escolaridade
Escolaridade Freq. %
SEM INSTRUÇÃO
11 2,75
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
143 35,75
ENSINO MÉDIO COMPLETO
184 46,00
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
18 4,50
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
37 9,25
PÓS-GRADUAÇÃO
7 1,75
Total 400 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
146
GRANDE BH
29%
BELO
HORIZONTE
71%
2,75%
35,75%
46,00%
4,50%
9,25%
1,75%
0,00
%
5,00
%
10,00
%
15,00
%
20,00
%
25,00
%
30,00
%
35,00
%
40,00
%
45,00
%
50,00
%
SEM INSTRÃO
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
ENSINO MÉDIO COMPLETO
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
PÓS-GRADUAÇÃO
Escolaridade
GRÁFICO 11 – Distribuição da amostra segundo a escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 11
Distribuição da amostra segundo o local de residência
Local de residência Freq. %
BELO HORIZONTE 285 71,07
GRANDE BH 116 28,93
Total 401 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 12 – Distribuição da amostra segundo o local de residência
Fonte: dados da pesquisa, 2007
147
TABELA 12
Distribuição da amostra segundo a renda familiar mensal
Renda Freq. %
NÃO SEI 48 11,97
ATÉ R$ 350 21 5,24
DE R$ 350 A R$ 700 89 22,19
DE R$ 700 A R$ 1400 120 29,93
DE R$ 1400 A R$ 2800 85 21,20
DE R$ 2800 A R$ 5600 33 8,23
ACIMA DE R$ 5600 5 1,25
Total 401 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
11,97%
5,24%
22,19%
29,93%
21,20%
8,23%
1,25%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00%
NÃO SEI
A R$ 350
DE R$ 350 A R$ 700
DE R$ 700 A R$ 1400
DE R$ 1400 A R$ 2800
DE R$ 2800 A R$ 5600
ACIMA DE R$ 5600
Renda
GRÁFICO 13 – Distribuição da amostra segundo a renda familiar mensal
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 13
Distribuição da amostra segundo a freqüência de visita à Praça da Estação – BH/MG
Freqüência de visita à Praça Freq. %
DIARIAMENTE
226 56,22
UMA OU DUAS VEZES POR SEMANA
82 20,40
UMA OU DUAS VEZES POR MÊS
71 17,66
UMA OU DUAS VEZES POR ANO
21 5,22
PRIMEIRA VEZ
2 0,50
NÃO SEI
0 0,00
Total 402 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
148
56,22%
20,40%
17,66%
5,22%
0,50%
0,00%
0,00% 10,00
%
20,00
%
30,00
%
40,00
%
50,00
%
60,00
%
DIARIAMENTE
UMA OU DUAS VEZES POR
SEMANA
UMA OU DUAS VEZES POR MÊS
UMA OU DUAS VEZES POR ANO
PRIMEIRA VEZ
NÃO SEI
Freqüência de Visita à Praça
GRÁFICO 14 – Distribuição da amostra segundo a freqüência de visita à Praça da
Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 14
Distribuição da amostra segundo a razão pela qual visitou a Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
PROXIMIDADE
TRABALHO/ESCOLA
161 40,05
PROXIMIDADE/ÔNIBUS 78 19,40
PROXIMIDADE/METRÔ 50 12,44
PASSEAR 49 12,19
EVENTOS 5 1,24
OUTRA 59 14,68
Total 402 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
40,05%
19,40%
12,44%
12,19%
1,24%
14,68%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00%
PROXIMIDADE
TRABALHO/ESCOLA
PROXIMIDADE/ÔNIBUS
PROXIMIDADE/METRÔ
PASSEAR
EVENTOS
OUTRA
Razão da visita à Praça da Estação
GRÁFICO 15 – Distribuição da amostra segundo a razão de visita à Praça da Estação -
BH-MG
F
onte: dados da pesquisa, 2007
149
23,81%
26,74%
9,14%
17,69%
17,18%
2,26%
3,19%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00%
SUJEIRA
INSEGURANÇA
ILUMINAÇÃO
ASPECTO RUIM/DESAGRADÁVEL
FREQUENTADORES
RUÍDOS/BARULHOS
OUTRO
Problemas da Praça antes da reforma
TABELA 15
Distribuição da amostra segundo os três maiores problemas
da Praça da Estação –BH-MG – antes da reforma (2005/2007)
Resp. % Resp.
SUJEIRA
284 23,81
INSEGURANÇA
319 26,74
ILUMINAÇÃO
109 9,14
ASPECTO RUIM/DESAGRADÁVEL
211 17,69
FREQUENTADORES
205 17,18
RUÍDOS/BARULHOS
27 2,26
OUTRO
38 3,19
Total 1.193 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 16 – Distribuição da amostra segundo os três maiores problemas
da Praça da Estação – BH-MG – antes da reforma (2005/2007)
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 16
Distribuição da amostra segundo os três aspectos da Praça da Estação – BH-MG –
que melhoraram mais depois da reforma (2005/2007)
Resp. % Resp.
LIMPEZA
269 23,33
SEGURANÇA
304 26,37
ILUMINAÇÃO
156 13,53
BOM/AGRADÁVEL
267 23,16
FREQUENTADORES
151 13,10
RUÍDOS/BARULHO
6 0,52
Total 1.153 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
150
40,20%
59,80%
SIM
NÃO
23,33%
26,37%
13,53%
23,16%
13,10%
0,52%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00%
LIMPEZA
SEGURANÇA
ILUMINAÇÃO
BOM/AGRADÁVEL
FREQUENTADORES
RDOS/BARULHO
Aspectos da Praça que melhoraram
depois da reforma
GRÁFICO 17 – Distribuição da amostra segundo os três aspectos da Praça da Estação
– BH-MG – que melhoraram mais depois da reforma (2005/2007)
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 17
Distribuição da amostra segundo o aumento da freqüência de visita a Praça da Estação – BH-
MG – depois da reforma (2005/2007)
Freq. %
SIM 160 40,20
NÃO 238 59,80
Total 398 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 18 – Distribuição da amostra segundo o aumento da freqüência de visita à
Praça da Estação – BH-MG – depois da reforma (2005/2007)
Fonte: dados da pesquisa, 2007
151
TABELA 18
Distribuição da amostra segundo a finalidade da visita à Praça da Estação – BH-MG –
depois
da reforma (2005/2007)
Freq. %
PROXIMIDADE
TRABALHO/ESCOLHA
30 22,22
PROXIMIDADE/ÔNIBUS 20 14,81
PROXIMIDADE/METRÔ 14 10,37
PASSEAR 54 40,00
EVENTOS 17 12,59
Total 135 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
22,22%
14,81%
10,37%
40,00%
12,59%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00%
PROXIMIDADE
TRABALHO/ESCOLA
PROXIMIDADE/ÔNIBUS
PROXIMIDADE/METRÔ
PASSEAR
EVENTOS
Finalidade da visita
GRÁFICO 19 – Distribuição da amostra segundo a finalidade da visita à Praça da Estação –
BH-MG - depois da reforma
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 19
Distribuição da amostra segundo o conhecimento da existência do Museu de Artes e Ofícios
na Praça da Estação – BH - MG
Freq. %
SIM 244 61,15
NÃO 155 38,85
Total 399 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
152
SIM
61,15%
NÃO
38,85%
GRÁFICO 20 – Distribuição da amostra segundo o conhecimento da existência do Museu
de Artes e Ofícios na Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 20
Distribuição da amostra segundo os espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da
Estação – BH-MG
Resp. % Resp.
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS 97 19,02
SERRARIA SOUZA PINTO 204 40,00
CASA DO CONDE DE SANTA MARINHA
141 27,65
CENTRO CULTURAL DA UFMG 68 13,33
Total 510 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
19,02%
40,00%
27,65%
13,33%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00%
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
SERRARIA SOUZA
PINTO
CASA DO CONDE DE
SANTA MARINHA
CENTRO CULTURAL
DA UFMG
Espaços visitados
GRÁFICO 21 – Distribuição da amostra segundo os espaços visitados no
Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
153
TABELA 21
Distribuição da amostra segundo o significado da Praça da Estação – BH-MG – para a cidade
Freq. %
ACESSO AO METRÔ 1 0,25
ACESSO FÁCIL 1 0,25
ARQUITETURA 1 0,25
BELEZA 10 2,49
BENEFÍCIO PARA A CIDADE 8 1,99
CARTÃO DE VISITA DA CIDADE 5 1,24
CARTÃO POSTAL 66 16,42
CULTURA 37 9,20
DESCANSO 11 2,74
ESPAÇO PARA TODOS 4 1,00
ESPAÇO PARA VISITAS 1 0,25
EVENTOS 3 0,75
FERROVIA 4 1,00
HISTÓRIA 54 13,43
INTEGRAÇÃO 1 0,25
LAZER 71 17,66
LIBERDADE 2 0,50
LUGAR DE PASSAGEM 4 1,00
NÃO SEI 4 1,00
ONDE OS FREQUENTADORES "MALOQUEIROS"
TIRAM UM COCHILO
1 0,25
PARA MORADORES DE RUA 1 0,25
PATRIMÔNIO 12 2,99
PONTO DE ENCONTRO 13 3,23
PONTO DE REFERÊNCIA 19 4,73
PONTO TURÍSTICO 60 14,93
PORTA DE ENTRADA DA CIDADE 3 0,75
RECORDAÇÃO 1 0,25
REVITALIZAÇÃO 2 0,50
TRADIÇÃO 1 0,25
UMA DAS SETE MARAVILHAS DE BELO
HORIZONTE
1 0,25
Total 402 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
154
TABELA 22
Distribuição da amostra segundo a relação sexo X faixa etária
FEMININO MASCULINO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
16 A 19
20 66,67 10 33,33 30 100,00
20 A 29
71 53,79 61 46,21 132 100,00
30 A 39
37 45,12 45 54,88 82 100,00
40 A 49
31 38,27 50 61,73 81 100,00
50 A 59
23 48,94 24 51,06 47 100,00
60 A 69
3 16,67 15 83,33 18 100,00
70 OU
MAIS
3 30,00 7 70,00 10 100,00
Total
188 47,00 212 53,00 400 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
66,67%
53,79%
45,12%
38,27%
48,94%
16,67%
30,00%
33,33%
46,21%
54,88%
61,73%
51,06%
83,33%
70,00%
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00%
16 A 19
20 A 29
30 A 39
40 A 49
50 A 59
60 A 69
70 OU MAIS
Faixa etária
Feminino Masculino
GRÁFICO 22 – Distribuição da amostra segundo a relação sexo X faixa etária
Fonte: dados da pesquisa, 2007
155
TABELA 23
Distribuição da amostra segundo a relação sexo X escolaridade
FEMININO MASCULINO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
SEM INSTRUÇÃO
8 72,73 3 27,27 11 100,00
ENSINO
FUNDAMENTAL
COMPLETO
61 42,66 82 57,34 143 100,00
ENSINO MÉDIO
COMPLETO
90 49,45 92 50,55 182 100,00
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
12 66,67 6 33,33 18 100,00
ENSINO SUPERIOR
COMPLETO
14 37,84 23 62,16 37 100,00
PÓS-GRADUAÇÃO
2 28,57 5 71,43 7 100,00
Total
187 46,98 211 53,02 398 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
72,73%
42,66%
49,45%
66,67%
37,84%
28,57%
27,27%
57,34%
50,55%
33,33%
62,16%
71,43%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00%
SEM INSTRUÇÃO
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
ENSINO MÉDIO COMPLETO
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
PÓS-GRADUAÇÃO
Escolaridade
Feminino Masculino
GRÁFICO 23 – Distribuição da amostra segundo a relação sexo X escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
156
50,00%
61,90%
56,18%
44,54%
44,05%
27,27%
20,00%
50,00%
38,10%
43,82%
55,46%
55,95%
72,73%
80,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00%
NÃO SEI
ATÉ R$ 350
DE R$ 350 A R$ 700
DE R$ 700 A R$ 1400
DE R$ 1400 A R$ 2800
DE R$ 2800 A R$ 5600
ACIMA DE R$ 5600
Renda familiar mensal
Feminino Masculino
TABELA 24
Distribuição da amostra segundo a relação sexo X renda familiar mensal
FEMININO MASCULINO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
NÃO SEI
24 50,00 24 50,00 48 100,00
ATÉ R$ 350
13 61,90 8 38,10 21 100,00
DE R$ 350 A R$ 700
50 56,18 39 43,82 89 100,00
DE R$ 700 A R$ 1400
53 44,54 66 55,46 119 100,00
DE R$ 1400 A R$ 2800
37 44,05 47 55,95 84 100,00
DE R$ 2800 A R$ 5600
9 27,27 24 72,73 33 100,00
ACIMA DE R$ 5600
1 20,00 4 80,00 5 100,00
Total
187 46,87 212 53,13 399 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 24 – Distribuição da amostra segundo a relação sexo X renda familiar mensal
Fonte: dados da pesquisa, 2007
157
30,00%
48,95%
65,38%
94,44%
75,68%
100,00%
70,00%
51,05%
34,62%
5,56%
24,32%
0,00%
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% 80,00% 100,00% 120,00%
SEM INSTRUÇÃO
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
ENSINO MÉDIO COMPLETO
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
PÓS-GRADUAÇÃO
Escolaridade
Sim Não
TABELA 25
Distribuição da amostra segundo a relação
conhecimento da existência do Museu de Artes e Ofícios na Praça da Estação (BH-MG)
X escolaridade
SIM NÃO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
SEM INSTRUÇÃO
3 30,00 7 70,00 10 100,00
ENSINO
FUNDAMENTAL
COMPLETO
70 48,95 73 51,05 143 100,00
ENSINO MÉDIO
COMPLETO
119 65,38 63 34,62 182 100,00
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
17 94,44 1 5,56 18 100,00
ENSINO SUPERIOR
COMPLETO
28 75,68 9 24,32% 37 100,00
PÓS-GRADUAÇÃO
7 100,00 0 0,00 7 100,00
Total
244 61,46 153 38,54 397 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 25 – Distribuição da amostra segundo a relação
conhecimento da existência do Museu de Artes e Ofícios na Praça da
Estação (BH-MG) X escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
158
14,81%
37,84%
50,46%
48,53%
48,10%
48,58%
48,11%
85,19%
62,16%
49,54%
51,47%
51,90%
51,42%
51,89%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00%
RUÍDOS/BARULHOS
OUTRO
ILUMINAÇÃO
FREQUENTADORES
ASPECTO RUIM/DESAGRADÁVEL
SUJEIRA
INSEGURANÇA
Problemas da Praça antes da reforma
Feminino Masculino
TABELA 26
Distribuição da amostra segundo a relação
sexo X problemas da Praça da Estação – BH-MG – antes da reforma (2005/2007)
FEMININO MASCULINO Total
Resp. %Resp. Resp. %Resp. Resp. %Resp.
RUÍDOS/BARULHOS
4 14,81 23 85,19 27 100,00
OUTRO
14 37,84 23 62,16 37 100,00
ILUMINAÇÃO
55 50,46 54 49,54 109 100,00
FREQUENTADORES
99 48,53 105 51,47 204 100,00
ASPECTO
RUIM/DESAGRADÁVEL
101 48,10 109 51,90 210 100,00
SUJEIRA
137 48,58 145 51,42 282 100,00
INSEGURANÇA
153 48,11 165 51,89 318 100,00
Total
188 47,00 212 53,00 400 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 26 – Distribuição da amostra segundo a relação
sexo X problemas da Praça da Estação – BH-MG – antes da
reforma (2005/2007)
Fonte: dados da pesquisa, 2007
159
48,70%
49,01%
47,74%
43,23%
49,33%
40,00%
51,30%
50,99%
52,26%
56,77%
50,67%
60,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%
LIMPEZA
SEGURANÇA
ILUMINAÇÃO
BOM/AGRADÁVEL
FREQÜENTADORES
RUÍDOS/BARULHO
Aspectos que melhoraram mais
Feminino Masculino
TABELA 27
Distribuição da amostra segundo a relação
sexo X aspectos da Praça da Estação – BH-MG – que melhoraram mais depois
da reforma (2005/2007)
FEMININO MASCULINO Total
Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp.
LIMPEZA
131 48,70 138 51,30 269 100,00
SEGURANÇA
148 49,01 154 50,99 302 100,00
ILUMINAÇÃO
74 47,74 81 52,26 155 100,00
BOM/AGRADÁVEL
115 43,23 151 56,77 266 100,00
FREQUENTADORES
74 49,33 76 50,67 150 100,00
RUÍDOS/BARULHO
2 40,00 3 60,00 5 100,00
Total 544 47,43 603 52,57 1.147 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 27 – Distribuição da amostra segundo a relação
sexo X aspectos da Praça da Estação – BH-MG – que melhoraram
mais depois da reforma (2005/2007)
Fonte: dados da pesquisa, 2007
160
35,05%
46,04%
38,57%
42,65%
64,95%
53,96%
61,43%
57,35%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS
SERRARIA SOUZA PINTO
CASA DO CONDE DE SANTA MARINHA
CENTRO CULTURAL DA UFMG
Espaços visitados
Feminino Masculino
TABELA 28
Distribuição da amostra segundo a relação
sexo X espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
FEMININO MASCULINO Total
Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp.
%
Resp.
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
34 35,05 63 64,95 97 100,00
SERRARIA SOUZA
PINTO
93 46,04 109 53,96 202 100,00
CASA DO CONDE DE
SANTA MARINHA
54 38,57 86 61,43 140 100,00
CENTRO CULTURAL DA
UFMG
29 42,65 39 57,35 68 100,00
Total
210 41,42 297 58,58 507 100,00
Fonte: dados da pesquisa
GRÁFICO 28 – Distribuição da amostra segundo a relação
sexo X espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação
– BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
161
TABELA 29
Distribuição da amostra segundo a relação problemas da Praça da Estação – BH-MG – antes da reforma (2005/2007) X escolaridade
SUJEIRA INSEGURANÇA
ILUMINAÇÃO
ASPECTO RUIM/
DESAGRADÁVEL
FREQÜENTADORES
RUÍDOS/
BARULHOS OUTRO Total
Resp.
%
Resp. Resp. % Resp. Resp.
%
Resp. Resp.
% Resp. Resp.
% Resp. Resp.
% Resp.
Resp.
% Resp.
Resp.
% Resp.
SEM INSTRUÇÃO
10 30,30 7 21,21 1 3,03 6 18,18 9 27,27 0 0,00 0 0,00 33 100,00
ENSINO
FUNDAMENTAL
COMPLETO
98 23,22 113 26,78 44 10,43 69 16,35 78 18,48 11 2,61 9 2,13 422 100,00
ENSINO MÉDIO
COMPLETO
132 24,09 147 26,82 47 8,58 101 18,43 91 16,61 12 2,19 18 3,28 548 100,00
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
14 25,93 15 27,78 6 11,11 11 20,37 6 11,11 1 1,85 1 1,85 54 100,00
ENSINO SUPERIOR
COMPLETO
23 21,10 30 27,52 8 7,34 21 19,27 16 14,68 3 2,75 8 7,34 109 100,00
PÓS-GRADUAÇÃO
7 33,33 5 23,81 2 9,52 2 9,52 3 14,29 0 0,00 2 9,52 21 100,00
Total
284 23,93 317 26,71 108 9,10 210 17,69 203 17,10 27 2,27 38 3,20 1.187
100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 30
Distribuição da amostra segundo a relação renda X problemas da Praça da Estação – BH-MG – antes da reforma (2005/2007)
NÃO SEI ATÉ R$ 350
DE R$ 350 A R$
700
DE R$ 700 A R$
1400
DE R$ 1400 A
R$ 2800
DE R$ 2800 A
R$ 5600
ACIMA DE R$
5600 Total
Resp. % Resp. Resp.
% Resp. Resp.
% Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp.
% Resp.
Resp.
% Resp.
Resp. % Resp.
SUJEIRA
30 10,60 17 6,01 66 23,32 81 28,62 59 20,85 27 9,54 3 1,06 283 100,00
INSEGURANÇA
43 13,52 16 5,03 68 21,38 94 29,56 63 19,81 30 9,43 4 1,26 318 100,00
ILUMINAÇÃO
10 9,26 7 6,48 28 25,93 39 36,11 19 17,59 4 3,70 1 0,93 108 100,00
ASPECTO RUIM/
DESAGRADÁVEL
27 12,80 11 5,21 42 19,91 61 28,91 54 25,59 14 6,64 2 0,95 211 100,00
FREQUENTADORES
26 12,68 8 3,90 46 22,44 66 32,20 40 19,51 17 8,29 2 0,98 205 100,00
RUÍDOS/BARULHOS
2 7,41 0 0,00 6 22,22 9 33,33 8 29,63 2 7,41 0 0,00 27 100,00
OUTRO
4 10,53 4 10,53 7 18,42 8 21,05 9 23,68 5 13,16 1 2,63 38 100,00
Total
142 11,93 63 5,29 263 22,10 358 30,08 252 21,18 99 8,32 13 1,09 1.190 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
162
TABELA 31
Distribuição da amostra segundo a relação
espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação (BH-MG) X renda familiar mensal
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
SERRARIA SOUZA
PINTO
CASA DO CONDE DE
SANTA MARINHA
CENTRO
CULTURAL DA
UFMG
Total
Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp.
% Resp.
NÃO SEI 14 21,54% 23 35,38 21 32,31 7 10,77 65 100,00
ATÉ R$ 350 4 21,05% 8 42,11 4 21,05 3 15,79 19 100,00
DE R$ 350
A R$ 700
15 16,48% 40 43,96 23 25,27 13 14,29 91 100,00
DE R$ 700
A R$ 1400
32 23,19% 53 38,41 36 26,09 17 12,32 138 100,00
DE R$ 1400
A R$ 2800
22 16,06% 52 37,96 42 30,66 21 15,33 137 100,00
DE R$ 2800
A R$ 5600
8 16,33% 24 48,98 12 24,49 5 10,20 49 100,00
ACIMA DE
R$ 5600
2 18,18% 4 36,36 3 27,27 2 18,18 11 100,00
Total 97 19,02% 204 40,00 141 27,65 68 13,33 510 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
FEMININO
45,71%
MASCULINO
54,29%
APÊNDICE E
TABELAS E GRÁFICOS – TURISTAS EM VISITA À PRAÇA DA ESTAÇÃO
TABELA 32
Distribuição da amostra de turistas segundo o sexo
Freq. %
FEMININO 16 45,71
MASCULINO 19 54,29
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 29 – Distribuição da amostra de turistas segundo o sexo
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 33
Distribuição da amostra de turistas segundo a faixa etária
Freq. %
16 A 19 3 8,57
20 A 29 13 37,14
30 A 39 9 25,71
40 A 49 6 17,14
50 A 59 1 2,86
60 A 69 3 8,57
70 OU MAIS 0 0,00
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
164
8,57%
37,14%
25,71%
17,14%
2,86%
8,57%
0,00%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00%
16 A 19
20 A 29
30 A 39
40 A 49
50 A 59
60 A 69
70 OU MAIS
Faixa etária
5,71%
8,57%
42,86%
14,29%
22,86%
5,71%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00%
SEM INSTRÃO
ENSINO FUNDAMENTAL
COMPLETO
ENSINODIO COMPLETO
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
ENSINO SUPERIOR
COMPLETO
S-GRADUAÇÃO
Escolaridade
GRÁFICO 30 – Distribuição da amostra de turistas segundo a faixa etária
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 34
Distribuição da amostra de turistas segundo a escolaridade
Freq. %
SEM INSTRUÇÃO
2 5,71
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
3 8,57
ENSINO MÉDIO COMPLETO
15 42,86
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
5 14,29
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
8 22,86
PÓS-GRADUAÇÃO
2 5,71
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 31 – Distribuição da amostra de turistas segundo a escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
165
TABELA 35
Distribuição da amostra de turistas segundo o local de residência
Freq. %
INTERIOR DE MG
21 60,00
OUTRO ESTADO
14 40,00
OUTRO PAÍS
0 0,00
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
OUTRO
ESTADO
40,00%
INTERIOR DE
MG
60,00%
GRÁFICO 32 – Distribuição da amostra de turistas segundo o local de residência
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 36
Distribuição da amostra de turistas segundo a renda familiar mensal
Freq. %
NÃO SEI 8 22,86
ATÉ R$ 350 2 5,71
DE R$ 350 A R$ 700 1 2,86
DE R$ 700 A R$ 1400 9 25,71
DE R$ 1400 A R$ 2800 7 20,00
DE R$ 2800 A R$ 5600 3 8,57
ACIMA DE R$ 5600 5 14,29
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
166
22,86%
5,71%
2,86%
25,71%
20,00%
8,57%
14,29%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00%
O SEI
ATÉ R$ 350
DE R$ 350 A R$ 700
DE R$ 700 A R$ 1400
DE R$ 1400 A R$ 2800
DE R$ 2800 A R$ 5600
ACIMA DE R$ 5600
Renda familiar mensal
17,14%
17,14%
8,57%
14,29%
20,00%
22,86%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00%
VISITA A PARENTES OU AMIGOS
NEGÓCIOS
SAÚDE
ESTUDOS
LAZER
OUTRA
Razão da vinda a BH
GRÁFICO 33 – Distribuição da amostra de turistas segundo a renda familiar mensal
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 37
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da vinda a Belo Horizonte
Freq. %
VISITA A PARENTES OU AMIGOS
6 17,14
NEGÓCIOS
6 17,14
SAÚDE
3 8,57
ESTUDOS
5 14,29
LAZER
7 20,00
OUTRA
8 22,86
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 34 – Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da vinda a Belo
Horizonte
Fonte: dados da pesquisa, 2007
167
TABELA 38
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da vinda a Belo Horizonte
Freq. %
27 77,14
ENCONTRAR MORADIA
1 2,86
FAZER COMPRAS
1 2,86
FAZER TRATAMENTO DENTÁRIO
1 2,86
FORMATURA DA AMIGA
1 2,86
PARTICIPAR DE CONCURSO
2 5,71
PARTICIPAR DE EVENTO
1 2,86
VIAGEM DE INCENTIVO
1 2,86
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 39
Distribuição da amostra de turistas segundo o número de vezes que já visitaram BH
Freq. %
É A PRIMEIRA VEZ
6 17,14
DUAS VEZES
2 5,71
TRÊS OU MAIS VEZES
27 77,14
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TRÊS OU MAIS
VEZES
77,14%
DUAS VEZES
5,71%
É A PRIMEIRA
VEZ
17,14%
GRÁFICO 35 – Distribuição da amostra de turistas segundo o número de vezes que já
visitaram Belo Horizonte
Fonte: dados da pesquisa, 2007
168
É A PRIMEIRA
VEZ
40,00%
DUAS VEZES
14,29%
TRÊS OU MAIS
VEZES
45,71%
TABELA 40
Distribuição da amostra de turistas segundo o número de vezes que já visitaram
a Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
É A PRIMEIRA VEZ
14 40,00
DUAS VEZES
5 14,29
TRÊS OU MAIS VEZES
16 45,71
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 36 – Distribuição da amostra de turistas segundo o número de vezes que já
visitaram a Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 41
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da visita à Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
PASSEAR
18 51,43
VISITAR O MUSEU
5 14,29
PROXIMIDADE DO PONTO DE ÔNIBUS
2 5,71
PROXIMIDADE DO METRÔ OU TREM
2 5,71
EVENTOS
1 2,86
OUTRA
7 20,00
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
169
2,86%
2,86%
2,86%
2,86%
5,71%
2,86%
0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00%
CAMINHO
ESTUDOS
INCLUÍDO NO ROTEIRO
NÃO RESPONDEU
PONTO DE ENCONTRO
TRABALHO NO MUSEU
Outras razões da visita à Praça
51,43%
14,29%
5,71%
5,71%
2,86%
20,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%
PASSEAR
VISITAR O MUSEU
PROX PONTO DE ÔNIBUS
PROX METRÔ OU TREM
EVENTOS
OUTRA
Razão da visita à Praça
GRÁFICO 37 – Distribuição da amostra de turistas segundo a razão da visita
à Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 42
Distribuição da amostra de turistas segundo outras razões da visita
à Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
28 80,00
CAMINHO
1 2,86
ESTUDOS
1 2,86
INCLUIDO NO ROTEIRO
1 2,86
NÃO RESPONDEU
1 2,86
PONTO DE ENCONTRO
2 5,71
TRABALHO NO MUSEU
1 2,86
Total
35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 38 – Distribuição da amostra de turistas segundo outras razões da visita
à Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
170
22,86%
5,71%
0,00%
48,57%
2,86%
20,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%
LIMPEZA
SEGURAA
ILUMINAÇÃO
BELEZA
FREQUENTADORES
OUTRO
Aspecto de destaque na Praça
TABELA 43
Distribuição da amostra de turistas pelo aspecto de destaque na Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
LIMPEZA
8 22,86
SEGURANÇA
2 5,71
ILUMINAÇÃO
0 0,00
BELEZA
17 48,57
FREQUENTADORES
1 2,86
OUTRO
7 20,00
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 39 – Distribuição da amostra de turistas segundo o aspecto que mais chama
a atenção na Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
171
PRÉDIO DA
ESTAÇÃO
50,00%
FONTE/
CHAFARIZ
50,00%
SIM
46%
NÃO
54%
TABELA 44
Distribuição da amostra de turistas segundo outros aspectos de destaque
na Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
27 77,14
FONTE/CHAFARIZ
4 11,43
PRÉDIO DA ESTAÇÃO
4 11,43
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 40 – Distribuição da amostra de turistas segundo outros aspectos que
chamam a atenção dos turistas na Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 45
Distribuição da amostra de turistas segundo o conhecimento da existência
do Museu de Artes e Ofícios na Praça da Estação – BH-MG
Freq. %
SIM 16 45,71
NÃO 19 54,29
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 41 – Distribuição da amostra de turistas segundo o conhecimento da
existência do Museu de Artes e Ofícios na Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
172
43,48%
17,39%
21,74%
17,39%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00%
MUSEU DE ARTES E OCIOS
SERRARIA SOUZA PINTO
CASA DO CONDE DE SANTA
MARINHA
CENTRO CULTURAL DA UFMG
Espos visitados
TABELA 46
Distribuição da amostra de turistas segundo os espaços visitados no Conjunto Arquitetônico
da Praça da Estação – BH-MG
Resp. % Resp.
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS
10 43,48
SERRARIA SOUZA PINTO
4 17,39
CASA DO CONDE DE SANTA MARINHA
5 21,74
CENTRO CULTURAL DA UFMG
4 17,39
Total 23 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 42 – Distribuição da amostra de turistas segundo os espaços
visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 47
Distribuição da amostra de turistas segundo a razão de incluir a
Praça da Estação em seu roteiro
Freq. %
BELEZA
2 5,71
CONHECER O ATRATIVO TURÍSTICO
9 25,71
ESPERAR UMA PESSOA NO METRÔ
2 5,71
ESTAVA NO CAMINHO E RESOLVEU PARAR
2 5,71
LAZER
6 17,14
LOCAL DE PASSAGEM
6 17,14
NÃO RESPONDEU
2 5,71
PONTO DE ENCONTRO
1 2,86
PONTO DE REFERÊNCIA
1 2,86
PROXIMIDADE DO LOCAL DE TRATAMENTO DE SAÚDE
1 2,86
PROXIMIDADE DO PARQUE MUNICIPAL
1 2,86
TOMAR UM CAFÉ NO MUSEU
1 2,86
TRAZER UMA PESSOA
1 2,86
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
173
5,71%
25,71%
5,71%
5,71%
17,14%
17,14%
5,71%
2,86%
2,86%
2,86%
2,86%
2,86%
2,86%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00%
BELEZA
CONHECER O ATRATIVO TURÍSTICO
ESPERAR UMA PESSOA NO METRÔ
ESTAVA NO CAMINHO E RESOLVEU PARAR
LAZER
LOCAL DE PASSAGEM
NÃO RESPONDEU
PONTO DE ENCONTRO
PONTO DE REFENCIA
PROXIMIDADE DO LOCAL DE TRATAMENTO DE SAÚDE
PROXIMIDADE DO PARQUE MUNICIPAL
TOMAR UM CA NO MUSEU
TRAZER UMA PESSOA
Por que incluiu a Praça no roteiro?
SIM
97%
NÃO
3%
GRÁFICO 43 – Distribuição da amostra de turistas segundo a razão de incluir
a Praça da Estação – BH-MG – no roteiro
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 48
Distribuição da amostra de turistas segundo a opção por retornar
à Praça da Estação – BH-MG em outra oportunidade
Freq. %
SIM 34 97,14
NÃO 1 2,86
Total 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 44 – Distribuição da amostra de turistas segundo a opção por retornar
à Praça da Estação – BH-MG – em outra oportunidade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
174
6,25%
37,50%
25,00%
25,00%
0,00%
6,25%
10,53%
36,84%
26,32%
10,53%
5,26%
10,53%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00%
16 A 19
20 A 29
30 A 39
40 A 49
50 A 59
60 A 69
Faixa etária
Feminino Masculino
TABELA 49
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação sexo X faixa etária
FEMININO MASCULINO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
16 A 19 1 6,25 2 10,53 3 8,57
20 A 29 6 37,50 7 36,84 13 37,14
30 A 39 4 25,00 5 26,32 9 25,71
40 A 49 4 25,00 2 10,53 6 17,14
50 A 59 0 0,00 1 5,26 1 2,86
60 A 69 1 6,25 2 10,53 3 8,57
Total 16 100,00 19 100,00 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 45 – Distribuição da amostra de turistas segundo a relação sexo X faixa etária
Fonte: dados da pesquisa, 2007
175
6,25%
6,25%
43,75%
18,75%
18,75%
6,25%
5,26%
10,53%
42,11%
10,53%
26,32%
5,26%
0,00% 5,00% 10,00% 15,00% 20,00% 25,00% 30,00% 35,00% 40,00% 45,00% 50,00%
SEM INSTRUÇÃO
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
ENSINO MÉDIO COMPLETO
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
PÓS-GRADUAÇÃO
Escolaridade
Feminino Masculino
TABELA 50
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação sexo X escolaridade
FEMININO MASCULINO Total
Freq.
% Freq.
% Freq.
%
SEM INSTRUÇÃO
1 6,25 1 5,26 2 5,71
ENSINO FUNDAMENTAL
COMPLETO
1 6,25 2 10,53 3 8,57
ENSINO MÉDIO COMPLETO
7 43,75 8 42,11 15 42,86
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
3 18,75 2 10,53 5 14,29
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
3 18,75 5 26,32 8 22,86
PÓS-GRADUAÇÃO
1 6,25 1 5,26 2 5,71
Total
16 100,00 19 100,00 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 46 – Distribuição da amostra de turistas segundo a relação sexo X escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
176
25,00%
6,25%
56,25%
6,25%
6,25%
21,05%
5,26%
42,11%
0,00%
31,58%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%
LIMPEZA
SEGURANÇA
BELEZA
FREQUENTADORES
OUTRO
Aspecto de destaque na Praça da Estação
Feminino Masculino
TABELA 51
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação sexo X aspecto de destaque
na Praça da Estação – BH-MG
FEMININO MASCULINO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
LIMPEZA
4 25,00 4 21,05 8 22,86
SEGURANÇA
1 6,25 1 5,26 2 5,71
BELEZA
9 56,25 8 42,11 17 48,57
FREQUENTADORES
1 6,25 0 0,00 1 2,86
OUTRO
1 6,25 6 31,58 7 20,00
Total 16 100,00 19 100,00 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 47 – Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
sexo X aspecto de destaque na Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
177
43,75%
12,50%
12,50%
0,00%
0,00%
31,25%
57,89%
15,79%
0,00%
10,53%
5,26%
10,53%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00%
PASSEAR
VISITAR O MUSEU
PROX PONTO DE ÔNIBUS
PROX METRÔ OU TREM
EVENTOS
OUTRA
Razão da visita à Praça
Feminino Masculino
TABELA 52
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
sexo X razão da visita à Praça da Estação – BH-MG
FEMININO MASCULINO Total
Freq. % Freq. % Freq. %
PASSEAR
7 43,75 11 57,89 18 51,43
VISITAR O MUSEU
2 12,50 3 15,79 5 14,29
PROX PONTO DE ÔNIBUS
2 12,50 0 0,00 2 5,71
PROX METRÔ OU TREM
0 0,00 2 10,53 2 5,71
EVENTOS
0 0,00 1 5,26 1 2,86
OUTRA
5 31,25 2 10,53 7 20,00
Total 16 100,00 19 100,00 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 48 – Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
sexo X razão da visita à Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
178
6,25%
0,00%
56,25%
6,25%
18,75%
12,50%
5,26%
15,79%
31,58%
21,05%
26,32%
0,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00%
SEM INSTRUÇÃO
ENSINO FUNDAMENTAL COMPLETO
ENSINO DIO COMPLETO
ENSINO SUPERIOR INCOMPLETO
ENSINO SUPERIOR COMPLETO
PÓS-GRADUAÇÃO
Escolaridade
Sim o
TABELA 53
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
conhecimento da existência do Museu de Artes e Ofícios na Praça da Estação – BH-MG
X escolaridade
SIM NÃO Total
Freq. % Freq. % Freq.
%
SEM INSTRUÇÃO
1 6,25 1 5,26 2 5,71
ENSINO FUNDAMENTAL
COMPLETO
0 0,00 3 15,79 3 8,57
ENSINO MÉDIO COMPLETO
9 56,25 6 31,58 15 42,86
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
1 6,25 4 21,05 5 14,29
ENSINO SUPERIOR
COMPLETO
3 18,75 5 26,32 8 22,86
PÓS-GRADUAÇÃO
2 12,50 0 0,00 2 5,71
Total
16 100,00 19 100,00 35 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 49 – Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
conhecimento da existência do Museu de Artes e Ofícios
na Praça da Estação – BH-MG X escolaridade
Fonte: dados da pesquisa, 2007
179
40,00%
50,00%
20,00%
50,00%
60,00%
50,00%
80,00%
50,00%
0,00% 10,00% 20,00% 30,00% 40,00% 50,00% 60,00% 70,00% 80,00% 90,00%
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
SERRARIA SOUZA PINTO
CASA DO CONDE DE
SANTA MARINHA
CENTRO CULTURAL DA
UFMG
Espaços visitados
Feminino Masculino
TABELA 54
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
sexo X espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
FEMININO MASCULINO Total
Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp.
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
4 40,00 6 60,00 10 100,00
SERRARIA SOUZA
PINTO
2 50,00 2 50,00 4 100,00
CASA DO CONDE DE
SANTA MARINHA
1 20,00 4 80,00 5 100,00
CENTRO CULTURAL
DA UFMG
2 50,00 2 50,00 4 100,00
Total 9 39,13 14 60,87 23 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
GRÁFICO 50 – Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
sexo X espaços visitados no Conjunto Arquitetônico
da Praça da Estação – BH-MG
Fonte: dados da pesquisa, 2007
180
TABELA 55
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
escolaridade X espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
ENSINO MÉDIO
COMPLETO
ENSINO SUPERIOR
INCOMPLETO
ENSINO
SUPERIOR
COMPLETO PÓS-GRADUAÇÃO
Total
Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp.
MUSEU DE ARTES E OFÍCIOS 4 40,00 1 10,00 3 30,00 2 20,00 10 100,00
SERRARIA SOUZA PINTO 3 75,00 0 0,00 1 25,00 0 0,00 4 100,00
CASA DO CONDE DE SANTA
MARINHA
4 80,00 0 0,00 1 20,00 0 0,00 5 100,00
CENTRO CULTURAL DA UFMG 3 75,00 1 25,00 0 0,00 0 0,00 4 100,00
Total 14 60,87 2 8,70 5 21,74 2 8,70 23 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
TABELA 56
Distribuição da amostra de turistas segundo a relação
renda X espaços visitados no Conjunto Arquitetônico da Praça da Estação – BH-MG
MUSEU DE ARTES E
OFÍCIOS
SERRARIA SOUZA
PINTO
CASA DO CONDE
DE SANTA
MARINHA
CENTRO
CULTURAL DA
UFMG
Total
Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp. Resp. % Resp.
NÃO SEI 2 28,57 1 14,29 2 28,57 2 28,57 7 100,00
DE R$ 700 A R$ 1400 0 0,00 2 40,00 2 40,00 1 20,00 5 100,00
DE R$ 1400 A R$ 2800 1 50,00 0 0,00 1 50,00 0 0,00 2 100,00
DE R$ 2800 A R$ 5600 2 50,00 1 25,00 0 0,00 1 25,00 4 100,00
ACIMA DE R$ 5600 5 100,00 0 0,00 0 0,00 0 0,00 5 100,00
Total 10 43,48 4 17,39 5 21,74 4 17,39 23 100,00
Fonte: dados da pesquisa, 2007
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