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(...)
Começo com um singelo “Oi” e com um imenso prazer por poder
escrever para você. Posso assim chama-la de “você”?
Quero começar com esse trecho de seu livro “Contracorrente” de 1999
que diz:
(...)
Penso que vivemos certamente “contracorrente”, mas não soltamos
nossas amarras do medo que nos impedem de ser aquilo que
verdadeiramente gostaríamos de ser. Tememos sermos considerados
loucos, e seguimos normas da sociedade que nem sempre são
adequadas a nossa realidade. Eu diria então que somos o que não
somos? Não é isso. Digo que temos poder e muitas vezes não o
usamos. E a arte, mais uma vez, nos mostra que somos ilimitados e
nada tão definidos – tudo muda ou tudo evolui. A Literatura – por
exemplo – tem papel fundamental de não apenas mostrar cultura, mas
de conscientizar aquele que o lê. Nos diversos tipos de Literatura,
acredito que a mais delicada é a Infantil – ela será a grande chave
para a descoberta da arte da escrita para alguém.
Relembro as inúmeras vezes que li “Bisa Bia, Bisa Bel”, e como me
engrandecia ter conhecimento de como eram a vida e costumes de
meus antepassados, era como escutar mamãe contando suas
lembranças de sua mamãe/ vovó. Gostaria mesmo que aqueles
tempos de Bisa Bel voltassem em ação hoje.
(...)
Confesso que me acho um pouco louco, porque sorrio quando estou
sofrendo, e choro quando quero me limpar por dentro. E sei, hoje um
pouco mais maduro, o porquê de ver a vida de forma que a vejo, o de
não me calar diante a um ato de injustiça e também sei os momentos
em que fui fraco e precisei ser forte, aprendi no meu passado a
pensar, através do que construí – um leitor de sua língua e de sua
cultura. O leitor de Ana Maria Machado.
As suas escritas tiveram uma marca notória nesse garoto chamado
Michel (que sou eu) na minha formação de pensamento. Aprendi a me
manifestar com: “Era uma vez um tirano”...
(...)
Sei que este é o seu segredo, “escrever simples e no pouco contar
tudo”, assim o leitor entende e compreende a dinâmica do livro de que
está lendo e não se cansa. Suas histórias acontecem na vida cotidiana
das pessoas e seus sonhos requerem uma bagagem da qual você
tem.
São livros simples que dizem o que devem dizer. Linguagem
apropriada ao seu tempo e eu diria: escritas imortais. Aquelas que
daqui a cinquenta anos ao serem lidas ou relidas estarão ainda
tocando o coração.
(...)
E muitos outros obrigados.
(...)
“ Existem mãos que escrevem o que o seu pensamento pede, tecem
seus próprios corações e encantam outros corações. Desafiam a si
próprios e a sua língua. A majestade de gritar o seu pudor, ou de
deixar aflorar seu sentimento e encantamentos. Muitos deles (que
escrevem) não desejam mudar ou revolucionar – desejam progredir e
alimentar a sede da alma. (...)jamais se vê fraco demais, pois vê na
fraqueza algo a ser aprendido.