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BOHDAN STANISLAW KULESZA
LEITORES COMO CORRESPONDENTES:
cartas de pequenos leitores à Ana Maria Machado
Dissertação apresentada à
Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre em
Letras
Orientadora: Profª Drª Marisa Philbert Lajolo
São Paulo
2010
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2
BOHDAN STANISLAW KULESZA
LEITORES COMO CORRESPONDENTES: cartas de pequenos leitores à
Ana Maria Machado
Dissertação apresentada à
Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Letras
Aprovado em 03 de fevereiro de 2010.
BANCA EXAMINADORA
______________________________
Prof.(a) Dr.(a) Cilza Carla Bignoto
Universidade de São Paulo
_______________________________
Prof. Dr. João Cesário Leonel
Universidade Presbiteriana Mackenzie
______________________________
Prof.(a) Dr.(a) Marisa Philbert Lajolo
Universidade Presbiteriana Mackenzie
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3
À minha esposa, Isabel, e ao meu
netinho, João Pedro, como justificativa
pelas preciosas horas que lhes roubei de
minha presença e de meu carinho.
4
AGRADECIMENTOS
À Deus e à Nossa Senhora Aparecida, por uma questão de fé e esperança.
À Profª Drª Marisa Philbert Lajolo, pela orientação amiga, competente e repleta
de incentivo.
Aos demais componentes da Banca de Exame de Qualificação, Prof. Dr. João
Leonel e Profª Drª Cilza Carla Bignoto, pelas valiosíssimas observações e
contribuições por ocasião de minha Qualificação.
Aos colegas de turma de Mestrado, em especial à Maria Isabel e Ana Cibartira
que foram minhas amigas e co-orientadoras desde o início do curso,
introduzindo-me ao fantástico mundo das Letras.
À minha filha Luana, pelo incentivo e valiosa ajuda com a informática e o
inglês.
Enfim, a todos que colaboraram, direta ou indiretamente, para que este
trabalho chegasse a bom termo.
5
Resumo
Esta dissertação analisa cartas de leitores à escritora Ana Maria Machado,
nascida no Rio de Janeiro em 1941. A maior parte de sua obra compõe-se de livros
infantis e infanto-juvenís. As cartas de que se ocupa esta pesquisa discutem os
comentários das crianças sobre estas obras.
As cartas abrangem o período compreendido entre 2004 a 2009 sendo,
portanto, seu contexto contemporâneo. Acredita-se que, através do estudo desse
acervo de cartas, é possível analisar algumas práticas de leitura, em curso na escola
brasileira de hoje, bem como a obra mais lida pelos pequenos: Bisa Bia, Bisa Bel.
O trabalho aqui apresentado fundamenta-se na formulação do Sistema
Literário de Antonio Candido (1959) e em certa medida, no Dialogismo de Mikhail
Bakhtin (1960), visto que as crianças vivem dois momentos: como leitores, das obras
de Ana Maria Machado e também autores das cartas enviadas a ela.
Palavras-chave: Correspondência Ana Maria Machado. Leitura. Literatura infantil
6
Abstract
The present dissertation analyses the readers´letters sent to the author Ana
Maria Machado, born in Rio de Janeiro in 1941. Most of her work is infant or young
teenager books. The letters of this research discuss the children´s
comments about her work.
The letters are from 2004 to 2009, therefore showing their modern time. It is
believed that, by studying this work, it is possible to analyse some reading practices
at the Brazilian schools today, as well as the most reading book by young children:
Bisa Bia, Bisa Bel.
The work presented here is based on the formulation of Antonio Candido´s
Literary System (1959) and a little influence of the Dialogism of Mikhail Bakhtin
(1960), considering that the children experience two moments: as readers of Ana
Maria Machado´s books and also authors of the letters sent to her.
Key words: Correspondence. Ana Maria Machado. Reading. Infant literature.
7
SUMÁRIO
1 Introdução .........................................................................08
2 Apresentação das cartas....................................................14
3 Discussão das cartas..........................................................16
3.1 Materialidade ......................................................................16
3.2 Conteúdo.............................................................................21
4 Correspondência, Escola e Literatura Infantil ....................47
5 Bisa Bia, Bisa Bel ...............................................................51
6 Considerações finais ..........................................................61
REFERÊNCIAS...........................................................64
ANEXOS .....................................................................66
8
1 - Introdução
“Nenhum livro para crianças deve ser escrito
para crianças”
Fernando Pessoa
1
A interpretação de um texto, hoje, para a Teoria Literária, não depende somente
de seu conteúdo textual (interno), estático e imutável como, num certo sentido,
pode-se dizer que o concebiam os formalistas russos
2
. Para eles, os sentidos a
serem extraídos de um texto estavam nele inscritos e ficavam no aguardo de
quem os fosse ler, para obter parcial ou totalmente o sentido de seu conteúdo; o
leitor nem participava do jogo:
Os formalistas russos dos primeiros anos do século XX
salientaram que os críticos deveriam se preocupar com a
literariedade da literatura: as estratégias verbais que a tornam
literária, a colocação em primeiro plano da própria linguagem, e
o “estranhamento” da experiência que elas conseguem.
Redirecionando a atenção dos autores para os mecanismos”
verbais, pois o mecanismo é o único herói da literatura”
(Culler)
3
O texto era o responsável único pelo sentido que o leitor iria obter; não
importava o tipo de leitor, nem o momento histórico e nem mesmo o suporte onde o
texto estava alojado. Exteriormente ao texto havia, no máximo, as intenções do
autor, que se almejava decifrar nas entrelinhas.
1
Fernando Antonio Nogueira Pessoa - Poeta e escritor do Modernismo. Dicionário de
Epígrafes, 1964.
2
Os formalistas russos desejavam aplicar o método científico à linguagem poética.Entre eles,
destacam-se Roman Jakobson: Lingüística e Comunicação (São Paulo, Ed.Cultrix.s.d.)
e Boris Eichenbaum, com artigo no livro Formalistas Russos (RS:Editora Globo, 1976)
3
Jonathan Culler. Teoria Literária – Uma introdução( p.118). São Paulo:Beca, 1999
9
Tal hegemonia do sentido começa a decair através de teóricos da literatura
como Jauss
4
que começa a postular que os sentidos que o receptor construía para
o texto dependiam também dele próprio, de sua cultura anterior, de seus pontos de
vista e do momento em que o texto estava sendo lido. Além disso, postulou-se
também que o suporte do texto exercia uma grande influência sobre a leitura, a
ponto de afirmar-se que a mesma obra, num suporte diferente, era outra obra,
possuía outra dimensão completamente diferente para sua leitura e para a
construção dos sentidos por diferentes leitores. Isso tudo acarretou uma mudança
no conceito de literatura no mundo ocidental.
No Brasil, a obra de Antonio Cândido
5
postula a existência de um sistema
literário composto simbolicamente por um triângulo onde cada um dos vértices
representa um componente: o autor, a obra e o leitor. Em 1959 Antonio Cândido
publicou Formação da Literatura Brasileira, em que propõe esta formulação. Para
ele, uma obra não é só constituída por categorias de textos com traços intrínsecos; a
literatura é um sistema de obras ligadas por denominadores comuns que permitam
reconhecer as notas dominantes de uma fase ou contexto histórico. Estes
denominadores abrangem elementos sociais e psíquicos que tornam a literatura um
aspecto da civilização. O leitor faz parte também da literariedade da obra. O simples
conteúdo de um texto não é suficiente para que se considere, ou não, esse texto
literário. A leitura, através do leitor, é a grande responsável pela produção de
sentidos, numa dinâmica que depende sempre do leitor, do contexto da leitura, do
seu tempo e também de seu suporte.
Considerando um texto literário (ou não), pode-se considerar o leitor (durante
sua leitura), como único componente dinâmico do sistema, haja vista que o autor e a
obra (constituída pelo próprio texto) pertencem ao passado; estão terminados,
definidos e imutáveis. Depois de escrito, o texto também tem uma existência
independente do autor, o leitor apropria-se do mesmo durante a leitura. Entre a
produção do texto escrito e sua leitura, pode passar muito tempo, as circunstâncias
da escrita, ou o contexto de sua produção podem ser absolutamente diferentes das
4
Hans Robert Jauss Aesthetic Experience and Literary Hermeneutics (p.23 a 57) .Minneapolis:
University of Minnesota Press, 1982.
5
Antonio Candido de Mello e Souza, A formação da Literatura Brasileira.(p. 23) São Paulo:
EDUSP, 1975
10
circunstâncias da leitura, como um contexto de uso, dinâmico. Isso vem influenciar
também a produção de sentido. Corroborando a presença do leitor no jogo
literário, Chartier
6
destaca que: O estudo da leitura maneja ao mesmo tempo a
crítica textual, a história do livro e, mais além, do impresso ou do escrito, e ainda a
história do publico e da recepção”.
É assim, através da leitura que se criam condições para a construção da
intertextualidade. Algumas leituras bakhtinianas
7
são radicais: negam a originalidade
de qualquer obra escrita. Nesta perspectiva, restringe-se bastante o conceito de
originalidade, pois toda produção literária está em diálogo com outras obras que a
precedem e que influenciam a escrita do autor. E, uma vez escritas, as obras
dialogam com o leitor, no momento de sua leitura, dialogando também com outras
obras; com isso, a figura demiúrgica do autor subsume obrigatoriamente o leitor na
dicotomia para construir sentidos.
É através da leitura e durante ela que os sentidos vão aflorando, decorrentes de
leituras ou outras captações dos vários sentidos, realizadas anteriormente pelo
leitor. Schopenhauer
8
afirmava: exigir que alguém tivesse guardado tudo aquilo
que leu é o mesmo que exigir que ele ainda carregasse tudo aquilo que comeu”
Sob esta perspectiva, a leitura deixa de ser “acumulativa” como era entendida no
passado, passando hoje, a ser entendida como uma “rede” de informações
multidisciplinares, dinâmica, mutável com novas leituras e interrelacionada a todas
elas. Como propõe M.Lajolo
9
: “o significado de um novo texto afasta, afeta e
redimensiona o significado de todos os outros textos já lidos”
A partir da cada de 60, os estudos literários passam a desenvolver novas
tendências; a literatura não é estudada somente nos aspectos internos, do próprio
texto, mas também nos externos, representados pelos leitores e até pelos editores
co-responsáveis também pela produção de sentidos dos textos que eram
influenciados pela escolha de seu suporte, tipo e tamanho de letra, ilustrações, enfim
6
Roger Chartier,: A Ordem dos Livros – Comunidades de Leitores (p.34) .Brasilia:EdUB, 1999
7
Mikhail Bakhtin: Dialogismo e Construção do Sentido (p.265).Campinas (SP): Ed. Unicamp,
2005
8
Arthur Schopenhauer:.A arte de escrever (p.129) .Porto Alegre: L& PM, 2008
9
Marisa Philbert Lajolo:.Do mundo da leitura para a leitura do mundo (p.33).São Paulo: Ática,
2007.
11
de sua concretude. Esta concretude é quase sempre responsabilidade do editor ao
escolher a qualidade do papel e da tinta; usar materiais mais caros para conseguir
um maior preço, podendo também restringir seu público; escolher o tipo de capa e
de encadernação; ao organizar a distribuição dos paratextos, a inclusão da obra em
coleções, etc.
Todos esses fatores influenciaram certamente as crianças, autoras das cartas
das quais se ocupa esta dissertação, na construção de seus sentidos expressos nas
cartas, o que vem representar uma interessante fonte de pesquisa para
compreender-se uma camada do público infantil, em sua relação com livros e
atividades de leitura.
As cartas dos leitores à autora, representam neste aspecto uma interessante
fonte de pesquisa que faculta ao pesquisador compreender mecanismos de
produção de diversos sentidos, através da leitura dessas crianças, que representam
uma camada do público infantil, que em sua correspondência com o autor, explicita
sentidos construídos e suas impressões pessoais. Bakhtin: a interação escritor-
leitor faz-se presente desde a origem do texto”; para Umberto Eco
10
:
“operar um texto significa atuar segundo uma estratégia que
inclui as previsões dos movimentos dos leitores. Um texto traz
em seu bojo, desde o momento inicial de sua concepção, uma
preocupação com o seu destinatário”.
Torna-se assim, duplo, o pacto entre escritor e leitor: para Ana Maria Machado,
os pequenos leitores estavam presentes desde a origem da produção de cada
uma de suas obras infantis. A escritora, desde o início de cada obra, teve que
mobilizar estratégias que tornassem possível e facilitassem a comunicação para as
crianças. Aos pequenos leitores, nessa interação, coube-lhes mobilizar seu universo
de conhecimento para dar sentido ao texto e para resgatar a interdiscursividade do
texto da autora com outros textos já lidos.
10
Umberto Eco: Obra Aberta sobre literatura e música: Interpretação e superinterpretação.(p.
13 ) São Paulo: Martins Fontes, 1993.
12
Segundo Eco
11
, o texto é uma “potencialidade significativa” no nível semântico
lingüístico; tal potencialidade atualiza-se no ato da leitura, no trabalho de
elaboração de sentidos efetuado pelo leitor que vem dar concretude ao texto. O
texto é lacunar, reticente; apresenta “vazios” como implícitos, pressupostos e
subentendidos que são como “vagas” disponíveis para serem preenchidas pelo leitor
durante sua leitura formando assim o sentido. Nos textos infantis de Ana Maria
Machado, os pequenos leitores tiveram que participar das histórias, através de uma
atividade cooperativa de recriação daquilo que foi omitido, de preenchimento de
lacunas, de desvendamento do que se ocultava no tecido textual de cada história,
usando para isso memórias de outros textos lidos anteriormente ou mesmo
extraídos de momentos de sua vida pessoal. Com isso, a criança imprimiu a sua
interpretação a sua marca pessoal, construindo um universo de significação
resultante de um diálogo com a autora, mediado pelo texto; em tal mecanismo de
interpretação textual, participam autor, leitor e obra, corroborando e desvelando o
triângulo de Antonio Candido.
Para Mikhail Bakhtin
12
a linguagem é concebida como um conjunto de signos,
não de simples sinais; os sinais são estáveis, sempre os mesmos; os signos são
dialéticos e vivos, variáveis e flexíveis, sempre marcados pela mobilidade que lhes
pode conferir o contexto. Por isso, num mesmo texto, podem ser construídos
sentidos diferentes por diferentes leitores ou mesmo, sentidos diferentes pelo
mesmo leitor em diferentes contextos.
Temos em nosso corpus uma tipologia epistolar especial : cartas de leitores
infantis para uma autora, nas quais se podem identificar procedimentos
semelhantes, organizando-os para a pesquisa. É através destas cartas de leitores
para a escritora que discutiremos opiniões e práticas de leitura vigentes no Brasil.
O corpus da pesquisa é pois constituído por um conjunto de cartas enviadas por
crianças a Ana Maria Machado, o que apresenta assimetria etária e intelectual entre
remetente e destinatário. A carta possibilita um diálogo na ausência física dos
11
Interpretação e superinterpretação. (obra referenciada anteriormente)
12
Dialogismo e construção do sentido( obra referenciada anteriormente)
13
interlocutores; no caso de nosso acervo, as cartas expressam impressões de
leituras, homenagens à escritora, vontade de conhecê-la pessoalmente. Então,
considerando que as práticas de escrita dessas crianças apresentam semelhanças,
podem-se estudar de forma generalizada seus mecanismos interpretativos, sua
leitura nas entrelinhas e sua recepção.
14
2 - Apresentação das cartas
“As cartas são um monólogo querendo ser um
diálogo”
Mario Silva Brito
13
O corpus da pesquisa é constituído por um acervo de cartas de crianças para
Ana Maria Machado, aqui reproduzidas de duas maneiras:
a) Preservando seu formato original.
b) Transcrevendo-as.
O acervo epistolar que integra o presente trabalho foi entregue por Ana Maria
Machado
14
para a orientadora desta pesquisa, Profª Drª Marisa Lajolo; será
posteriormente depositado no Centro de Documentação Alexandre Eulálio (CEDAE)
do Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da Unicamp. Compõe-se de cinquenta
cartas, escritas por crianças com idade média de dez anos, entre os anos de 2004
até 2009, numeradas e arquivadas em pasta anexa, juntamente com seus
envelopes. Sua maior procedência é do Brasil, dos estados do Paraná, Minas, São
Paulo, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso e Amapá, mas
também três do exterior (EUA).
Como mostra a tabela no anexo B, no final deste trabalho, 33 cartas mencionam
obras da autora; a obra mais mencionada foi Bisa Bia, Bisa Bel ( 7 vezes). As
demais foram:“ Fiz voar o meu chapéu (4); Procura-se Lobo” (3); Cinco Estrelas”
(3); “As Cigarras e as Formigas” (2); Camilo Comilão” ,(2) e “Bem do seu tamanho”
(2).
As outras obras, foram mencionadas apenas uma vez :: “Raul da Ferrugem Azul”,
“De olho nas Penas”, “De Carta em Carta”, “ O Veado e a Onça”, “Bento que Bento é
13
Mario da Silva Brito, poeta e crítico literário. O fantasma sem castelo, 1953.
14
Anexa ao final deste trabalho, pequena biografia da autora. (Anexo I)
15
o Frade”, O que é?”, O avental que o Vento leva”, A arara e o guaraná”, “Dia de
Chuva”, “Do outro lado tem segredos”, “Estrela de penas, coroa da Mata”, “Hoje tem
espetáculo”, O menino Pedro e seu Boi Voador”, Na praia o Luar quer o Mar”,
Balas, bombons e caramelos”, e “ Severino faz chover”.
onze solicitações de livros como presentes; inúmeros pedidos de resposta à
carta enviada e muitas solicitações para conhecer a autora pessoalmente. Os
tópicos mais recorrentes consistem em elogios os mais variados às obras da autora
como nas expressões: “mande-me um de seus livros de presente”, “envie-me uma
resposta”, “livro muito legal”, “você é uma grande escritora”, “gosto muito de suas
histórias”, “adorei seu livro” etc. A grande maioria das crianças trata Ana Maria por
“você”; nove crianças trataram-na de “senhora” e somente uma, a Patrícia da
cidade de Jaboti, tratou-a por “senhorita”.
O acervo foi pesquisado na íntegra. As cartas mais relevantes foram
reproduzidas, digitalizadas e digitadas. Na próxima parte, apresentaremos uma
análise destas cartas.
16
3 - Discussão das cartas
3.1 - Materialidade
A materialidade das cartas constitui um dos fatores importantes para a sua
análise, haja vista a importância da concretude dos documentos para sugerir seus
sentidos. Inicia-se, assim observando que a maior parte das cartas foi escrita a mão
pelas crianças, a lápis ou caneta, em papel de cartas, em cores diversas,
predominando o azul e o preto, às vezes com timbre da escola, mostrando desde o
início a intervenção da instituição escolar na elaboração das missivas, como mostra
a carta seguinte, coletiva, digitada com assinatura manuscrita, enviada de Pato
Branco, Paraná:
Olá! Somos alunos da série C do Colégio Estadual La Salle, queremos
parabenizá-la por mais um de seus grandes sucessos, o livro, Bisa Bia Bisa
Bel.
O livro nos traz uma mensagem muito legal: as mudanças que ocorrem
de geração para geração. Aprendemos muito com ele. Adoramos saber o que
existia no tempo dos nossos bisavós, como: monograma, urinol, bomboniér,
cristaleiras, etc.
Também desenvolvemos varias atividades interessantes relacionadas á
história de seu livro.
Ana, muito obrigado e continue nos presenteando com seus livros que
despertam nosso interesse pela leitura e povoam a nossa imaginação.
Esperamos ansiosos por sua resposta.
(Carta nº 3)
17
Carta nº 3
Destacam-se ilustrações de diversas cores, principalmente nas cartas escritas
por leitoras. A letra da maioria das crianças é bem legível e compreensível, apesar
de haver cartas com escrita irregular, tremida, de caligrafia em formação e com
outras irregularidades próprias de quem está se aperfeiçoando na arte de ler e
escrever, como na carta de Ana Sara:
Muito obrigado pela sua ajuda. Saiba que toda a sua ajuda é muito importante
para nós. Eu desejo um Feliz Natal e um Prospero Ano Novo.
(Carta nº 11)
18
Carta nº 11
também cartas digitadas onde se pode observar também a influencia
escolar: o pequeno leitor faz questão de mencionar a instituição escolar à qual
pertence incluindo-se na “turma que leu muitos de seus livros como na carta ,
coletiva da 4ª série:
Nós somos alunos da Etapa do Ciclo II (4ª série), da Escola Municipal
Irati – EF, situada no Bairro Cajuru, na cidade de Curitiba – Paraná.
A nossa turma leu muitos dos seus livros. Achou todos interessantes,
divertidos e criativos, principalmente “ O menino Pedro e seu boi voador”.
Também gostamos de escrever e manter contato com escritores e poetas
para que possamos aprender sempre mais.
Pedimos, se possível, que responda a nossa carta.
Com admiração.
(Carta nº 39)
19
Há duas cartas com foto coletiva de toda a classe, o que talvez seja um indício
de querer destacar-se das outras cartas e obter maior proximidade com a escritora,
como na carta de S.J.do Meriti:
Nós da Escola Municipal Barão do Rio Branco, da turma 21ª, adoramos
os seus livros.
A nossa professora sempre conta suas histórias e assim, nós soltamos a
imaginação e pensamos até que estamos brincando com seus personagens.
As histórias que nós mais gostamos são: Bem do seu tamanho, Bento
que Bento é o frade e menina bonita do laço de fita.
Nossos sonhos são: conhecer você e ganhar um autógrafo no nosso livro.
(Carta nº 12)
Quase todos os envelopes das cartas estão em perfeito estado de conservação,
revelando de onde os pequenos escritores as enviaram, o destinatário e seu
endereço. Isso permite constatar que todas as cartas foram remetidas às diversas
editoras, pelas quais Ana Maria Machado publica seus livros, sendo a
correspondência então, por assim dizer, ”terceirizada”
Envelope da carta nº 38
20
Envelope da carta nº 25
Levando em consideração a pouca idade dos leitores, a presença da orientação
dos professores, talvez também dos pais, levanta-se a questão da originalidade ou
da autoria das missivas dos pequenos, dada à influência direta destes fatores.
Mesmo assim, as epístolas nos revelam práticas de leitura das crianças.
No final do trabalho um anexo (B) das cartas do acervo, em ordem numérica,
que podem mostrar ao leitor “jeitos” de escrita e concretudes usados pelos leitores
de Ana Maria Machado.
21
3.2 - Conteúdo
“ A carta é um telefonema antiquado,
do tempo em que as pessoas sabiam ler e
escrever”
Wanka Eno
15
Como se disse, os tópicos mais recorrentes, nas cartas, consistem em
elogios, os mais variados (como nas expressões abaixo) às obras da autora.
onze solicitações de livros como presentes; inúmeros pedidos de resposta à carta
enviada e muitas solicitações para conhecer a autora pessoalmente. Encontram-se
expressões variadas como: “mande-me um de seus livros de presente”, “envie-me
uma resposta”, “livro muito legal”, “você é uma grande escritora”, “gosto muito de
suas histórias”, “adorei seu livro” etc. A grande maioria das crianças trata Ana Maria
por “você”; nove crianças trataram-na de “senhora” e somente uma, a Patrícia de
Jaboti tratou-a por “senhorita”.
As cartas foram escritas como tarefa estabelecida pelas professoras, certamente
após a leitura das obras, de forma coletiva ou individual. Isso significa talvez que a
iniciativa de contato com a autora não tenha partido das própria crianças, portanto
deve-se considerar a correspondência talvez mais como um dever, inclusive com
avaliação das professoras. É provável que o sentido de uma carta escrita por
iniciativa própria seja diverso de uma carta escrita como “dever”; algo imposto pode
ser muito mais difícil de escrever, ler ou aprender do que aquilo que nos interessa
como fim em si mesmo. Assim, as cartas nºs: 7,14,19,29 e 31 atendem a “projetos”
escolares (cf.anexo no final do trabalho). Todavia, mesmo assim, o acervo de cartas
não pode visto de forma homogênea, haja vista as diferenças de formação de um
professor para outro, de um a outro colégio e, principalmente, de um a outro aluno.
15
Wanka Eno – Pensamentos Moleques - 1929
22
À frase: quem não lê, mal fala, mal ouve, mal vê”
16
; pode-se acrescentar ainda
que também mal escreve. Observam-se grandes diferenças dentro de uma mesma
classe e talvez se possam atribuir tais diferenças ao fato de serem seus remetentes,
alunos que lêem, alunos que não lêem ou alunos que lêem apenas por obrigação, só
o necessário para as tarefas escolares. Acredita-se ainda que as melhores cartas do
acervo, as mais legíveis, as mais coerentes, as que mais fazem comentários, sejam
de crianças que lêem aquilo que desejam, aquilo que as interessa sem importarem-
se com sua utilidade escolar, como exemplificam as cartas nºs: 5 e 16. Fischer
17
,
em sua História da Leitura comenta:” A sociedade atual avalia o desenvolvimento de
uma criança notadamente pela habilidade de leitura(ou de escrita). A prática
pedagógica moderna enfatiza a motivação da leitura. Os textos maçantes e pouco
atraentes do passado foram quase em toda parte substituídos por leituras que as
próprias crianças buscariam” . Fernando Pessoa, que se revoltava em sua época
contra o “trabalho árduo e longo, para implantar o habito da leitura” revela isso num
trecho de seu poema “Liberdade”:
Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer !
Ler é maçada.
Estudar é nada
O sol doira
Sem literatura
18
.
Como costuma ocorrer no gênero epistolar, a elaboração das cartas objetivou
passar uma imagem que se enquadrasse no que seus remetentes supõem
corresponder à imagem de bons leitores. Para tanto, as crianças salientaram que
são leitores das obras da destinatária, que pertencem a uma instituição escolar,
construindo assim uma identidade de bons alunos e leitores.
Mesmo em se tratando em geral, de escritores mirins, os remetentes manifestam
alguns comportamentos gerais de quem escreve cartas do gênero leitor para autor.
16
Malba Tahan
17
Steven Roger Fischer, História da Leitura p.296 .São Paulo; Unesp, 2006
18
F.Pessoa. Poesias. (p. 47) Porto Alegre: L& PM, 2009. (Espera-se que F.Pessoa, neste
poema, não tenha usado sua tradicional ironia).
23
Uma das estratégias está em colocar-se no lugar de leitor das obras da autora,
assumir este lugar e lançar o discurso deste lugar. Assim, o remetente que se
apresenta como leitor, da obra do autor que diz ter lido, mostra que conhece o livro
mencionado, faz elogios à escritora, às vezes citando também outros livros. Enfim,
compondo uma imagem positiva de leitor apaixonado pelos livros da autora.
Talvez um dos propósitos mais desejados, ainda que menos declarados, é o de
querer conhecer melhor a autora que tanto admiram; conhecer sua rotina diária e
também permitir que a autora os conheça melhor, personalizando assim suas cartas,
como mostra a carta de Cafelândia:
Quando a professora nos avisou que iríamos ler o seu livro, De
Olhos na Penas, pensei comigo mesmo deve ser um livro tonto, sem
graça. Mas me surpreendi com seu livro, porque eu adoro aventura e
seu livro fala sobre isso que Miguel ia para vários lugares, viajava
muito e todos os lugares que ele passava havia muito mistério.
Agora estudo no EE Presidente Afonso Pena, mas antes estudava
no John F. Kennedy e líamos vários livros diariamente. E um dos
livros que eu gostei foi O Mistério da Ilha, que também é aventura e
depois que li De Olho nas Penas foi o que mais gostei.
Gostaria que você escrevesse mais livros de aventuras e com
humor (para jovens) e se você escreveu um legal me passe o nome
de seu livro que eu quero ler.
Não gosto muito de escrever, isso porque minha mãe é professora
de Português, mas tenho muita imaginação.
Um dia escreverei um livro assim de aventura e humor.
Me responda uma pergunta, quer dizer duas:
- Você começou a escrever seus livros com quantos anos?
- Você foi aconselhada por alguém ?
Tenho muitas coisas para te perguntar, mas seria muita coisa para
uma pequena carta.
Lembre-se que adorei essa oportunidade de conversar com você
apenas por uma carta, mas espero um dia pessoalmente.
(Carta nº 5)
Varias cartas mencionam a leitura como algo positivo, algo que promove a
imagem do remetente. A destinatária com isso assume um lugar de escritora
consagrada. As crianças comunicam a ela que gostam, que sentem prazer também
em ler, para além das obrigatórias tarefas escolares. Todavia, toda carta desse
gênero corre o risco de comprometer o objetivo da correspondência que tem como
24
objetivo a aproximação e comunicação entre remetentes ficando dessa forma, o
texto bastante influenciado pela sua dimensão pedagógica. Alguns relatos de
leituras, que poderiam ser mais espontâneos, perdem-se completamente quando a
escola intervém no processo. É provável que nos dias atuais, através da internet, os
pequenos leitores possam expressar tudo que sentem pela autora, ou pelas suas
obras sem a interferência direta de mediadores, como a carta da Clara:
Eu, Clara Guimarães de Macedo, li o livro Um assassinato, um
mistério e um casamento” em que você faz a apresentação, e gostei
muito.
Tenho 10 anos, as disciplinas que eu mais gosto são Literatura,
Matemática e Ciências. Estudo no Colégio D. Pedro II, curso a
série.
Já li vários livros seus, embora não lembre de todos. João Valcir e
Leida foram meus professores muito legais que me ajudaram a sentir
como ler é bom.
Peguei este livro na biblioteca do meu colégio que tem muitos
livros.
Uma das suas obras que li e gostei muito foi Bisa Bia Bisa Bel”,
“Uma história de futebol”, “ Eu chovo, tu choves, ele chove”, “ O
Santinho” e muito mais. Gostaria de ler mais obras suas !!
Parabéns por ser essa grande escritora e muito adorada !
(Carta nº 17)
Os pequenos leitores de Ana Maria Machado, sendo ela uma famosa escritora
de contos infantis, fazem uma imagem da autora que vem influenciar bastante as
cartas. Seu tratamento é às vezes para alguém superior, alguém importante,
alguém que desperta profunda admiração o que se revela nos constantes elogios ,
como na carta de Lagoa Santa, elaborada em grupo:
Nós somos Raiane, Marco Túllio e Gabriel.
Eu Raiane e Marco Túllio temos 10 anos. O Gabriel tem 9 anos.
Estudamos na Escola Estadual Tiradentes
Somos alunos da profa Eva Carvalho e lemos seu livro Fiz Voar o meu
chapéu.
Depoimentos
Raiane) Eu gostei muito de seu livro pois ele é legal, interessante,
criativo, interativo, educador.
25
Marco Túllio) Ana Maria Machado gostei das poesias do seu livro Fiz
voar o meu chapéu pois ele é divertido, enteressante, alegre e anima
qualquer pessoa
.
Gabriel) Amiga Ana, gostei muito de ler seus livro Fiz voar o meu
chapéu continue escrevendo livros assim
(Carta nº 2)
Às vezes, os pequenos leitores testemunham o incentivo à leitura, que se
manifesta nos livros de Ana Maria Machado, como na carta de Lagoa Santa:
É um prazer e uma honra comunicarmos com a escritora escolhida
pelo nosso grupo. Primeiramente vamos nos apresentar: João Paulo,
Tamires, Luis Fernando, Daniel e Larissa.
Enviamos esta mensagem para dizer-lhe que adoramos os seus
livros. Achamos tão legal sua habilidade para escrever histórias tão
lindas!
Todos os seus livros são demais! Mas, entre os que mais
gostamos, estão Bem do seu tamanho” e “Bisa Bia, Bisa Bel”, um
texto com muita emoção que, nos faz interessar pela história de
nossos avós e bisavós.
Sabemos que esse livro recebeu prêmios, o que foi bem merecido
!
Você é uma ótima escritora! Quando crescermos, gostaríamos de
ser como você, uma autora que faz despertar o interesse pela leitura
em todos que lêem as maravilhas dos seus livros.
Parabéns ! Continue assim...nos encantando.
(Carta nº 2)
.
Às vezes as cartinhas trazem reclamações por não haver livros suficientes na
instituição ou mesmo na cidade como mostra a carta da Fernanda:
.
Eu me chamo Fernanda Kelly Maso, tenho 12 anos, faço
aniversário no dia 9 de janeiro, moro na Av. Piauí, 341 e curso a
série “A” no Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva.
Gosto muito de ler livros de poesia.
Li o seu livro “ Cinco Estrelas” e quero-lhe falar que eu gosto muito
de ler. Nossa cidade é muito pequena e não tem livraria. lemos
livros da escola e ela não dispõe de muitos.
Se a senhora puder me mandar um livro seu autografado, eu
ficaria muito feliz.
Estou aguardando ansiosamente sua resposta.
(Carta nº 28)
26
As crianças revelam também nas suas cartas que alguns livros da autora são
muito divertidos fazendo-os rir, como a cartas de Americana e de Vitória da
Conquista, respectivamente:
Gostaria de falar-lhe que a história foi muito engraçada, de mais,
uma história de Pásqua.
Era muito legal também porque um achava que o outro era uma
coisa e o outro achava que o “um” era uma coisa.
Foi muito legal, divertido me engraçado de mais e muito fácil de
entender o livro.
Quero que continue assim
(Carta nº 1)
Meu nome é Lara, tenho 11 anos e sou fã do livro “Piadinhas Infantis”.
Eu gostei muito do livro. Ele me faz rir muito. É um livro dinâmico e
alegre. Como outros que você escreveu.
Estou muito feliz por saber que nosso país tem escritores assim
como a senhora, que escreve livros divertidos que fazem crianças e
jovens se divertirem.
Aguardo notícias suas.
(carta nº 23)
Não somente a autora, mas seus personagens são também elogiados e
comentados, como mostra a carta da Jéssica de Jacareí:
Eu sou aluna da escola E.E. Professor Tito Máximo da 4ª série. E li
os seus livros e gostei muito.
27
Eu gostei demais do As cigarras e as formigas” Ele é muito legal
e divertido. Eu achei da hora. O personagem Amadeu e das rimas da
página 9 do Sr. Amadeu, e da pág. 16 da família tão feliz.
Eu achei interessante porque ela gosta muito de peças teatrais e
até escreveu livros sobre esse assunto que já é o 5º volume,
(Carta nº 36)
Houve uma criança que descobriu romantismo em seus livros, como por exemplo
registrado na carta de Ana Carolina :
Meu nome é Ana Carolina tenho 10 anos e estudo na Escola
Municipal do Estaleiro e minha professora é Dayane Regina Masselai,
escrevo esta carta porque eu li seu livro “ Cinco Estrêlas”, muito
interessante e legal porque ele tem cinco estrelas com histórias
divertidas.
Gostei das histórias Infância e Não me Deixes. Foi as histórias que eu
gostei mais, a Infância gostei da menina que lia um livro que não
acabava mais e Não me Deixes porque é romântico.
Me despeço aguardando retorno.
(Carta nº 41)
Muitas cartinhas, como a transcrita acima, solicitam retorno epistolar à autora.
Porém, a maioria delas não lhe pergunta nada, não lhe solicita nada, ou seja, não
solicitação a ser respondida. Pode-se concluir que simplesmente obedece-se com
isso à normas estabelecidas pelo “modelo” de cartas desse gênero.
Algumas crianças expressam sua admiração não somente pelas obras, mas
também por dados biográficos de Ana Maria Machado que, extraídos das “orelhas”
dos livros ou da internet são mencionados pelas crianças como na carta coletiva de
Sarandí:
Nós, os alunos das 6as séries B e C do Colégio Estadual Olavo
Bilac, em Sarandí (PR) estamos escrevendo esta carta porque o seu
28
livro “Bisa Bia, Bisa Bel” foi estudado em nossa sala e todos gostamos
muito.
Também gostamos muito de sua biografia e achamos muito
interessante você ter começado como escritora de adultos e agora
estar se dedicando ao público infantil e infanto – juvenil.
Adoramos saber que você morou no exterior, foi jornalista,
professora e que os sucessos de algumas de suas histórias o
ficaram unicamente no nosso país. Mas que foram traduzidos para
outros idiomas.
Com você, Ana, todos nós aprendemos que em qualquer situação,
haja o que houver, aconteça o que acontecer, jamais podemos desistir
de nossos sonhos e objetivos, e ter certeza que ao alcançar o sonho
sempre tem algo mais a nossa espera ( como aconteceu com os pais
do gêmeos Maria e Vitor).
Outra coisa, com relação ao livro Bisa Bia, Bisa Bel”, foi a
oportunidade de pensar o que podemos fazer, para melhorar e muito o
mundo de nossos bisnetos, para que no futuro eles vejam uma
lembrança nossa e digam:
Nos orgulhamos muito de nossos bisavós, como eles foram
importantes em nossas vidas”
Gostaríamos muito que você nos escrevesse. Aguardamos
ansiosos a resposta.
Beijos e abraços dos alunos do Colégio Olavo Bilac e da Profa.
Célia.
(Carta nº 50)
29
Carta nº 50
Em outras cartas, somos informados de práticas escolares que aproveitam a
história para organizar exposições e outros eventos mediante convites a pessoas
que por alguma razão, aproximam-se das personagens do livro lido como se pode
observar na carta coletiva de Pato Branco (Pr):
Olá, somos alunos da série C, do Colégio Estadual La Salle.
Neste ano lemos vários livros interessantes juntamente com nossa
professora de Literatura Infanto Juvenil, Rosa Natalina Martini
Pallaoro, mas o que mais gostamos foi o seu livro Bisa Bia, Bisa Bel.
Nos sentimos muito honrados em poder escrever-lhe e
parabenizá-la por essa fantástica obra, que nos mostrou as mudanças
ocorridas de geração para geração.
Depois de lermos o livro, nossa professora organizou uma
exposição de coleções trazidas por nós ( moedas, dinheiro antigo,
chaveiros, bibelôs, cartões, carrinhos etc.) que foi muito interessante.
Após essa apresentação, mandamos um convite para a bisavó de
uma de nossas colegas, para vir à escola e falar um pouco de seu
tempo de criança e juventude. Ela aceitou o convite e nós gostamos
muito de entrevista-la, pois foi muito interessante saber um pouco
sobre aquela época. Aprendemos como era difícil naquele tempo e
30
podemos perceber que hoje temos muitas mordomias e ainda
reclamamos. Foi uma aula fantástica e diferente. Nossa diretora
registrou o acontecimento com várias fotos e estamos lhe enviando
uma com nossa turma, juntamente com nossa professora e a bisavó
Leopoldina.
Sabemos que é um sonho quase impossível, mas gostaríamos que
viesse nos visitar para podermos conhecê-la pessoalmente e
agradecer-lhe pelas belas e divertidas histórias que cria para
viajarmos pela nossa imaginação.
(Carta nº 10)
também as cartinhas simples, curtas, onde a criança apenas elogia a autora
(como todas), mas com menos relevância, como mostra a carta da Stephanie de
São Paulo:
Sou Stephanie de Moura, eu acho os seus textos muito legais de ler,
quero que saiba que seu livro “ Procura-se Lobo” e de todos os seus
livros.
Bem eu tenho poucas palavras
Gosto Muito de suas histórias
(Carta nº 13)
Algumas cartinhas demonstram a vontade de conhecer a autora pessoalmente.
Como as cartas de Ariadne com a Danielly e do Gabriel respectivamente:
Ana eu e as minhas amigas gostamos muito de seus livros e também
quando a professora falou que a gente iria te conhecer eu e as
meninas ficamos muito feliz e tanto que eu quero que você goste da
gente.
(Carta nº 21)
31
Sou aluno da Escola Estadual Tiradentes.
Gostei muito de seu livro, espero que você continue escrevendo mais
livros para crianças. Eu gostei do seu livro porque é uma poesia.
Espero encontrar você.
(Carta nº 22)
Alguns meninos elogiam também as traduções da autora como mostrado na
carta do bahiano Renatinho:
Como vai a senhora? Espero que esteja bem junto a todos os
seus. Aqui é um amigo que a senhora não conhece, me chamo
Renato e fiquei lhe conhecendo através do livro Ponte para
Treblinka”, onde a senhora foi a tradutora, gostaria de parabenizá-la
pela tradução e pedir-lhe um favor, na oportunidade que tiver de
encontrar com Katherine Peterson, autora dessa fabulosa obra, diga
lhe que fiquei maravilhado com o livro, em que ela passa uma
mensagem belíssima mostrando que o adversário faz a gente crescer
e faz de cada desafio, uma história de vida, em que os grandes
amigos surgem de forma mágica como os sonhos.
Tenho 10 anos estudo a série e quero muito me interessar pela
leitura, este livro foi presente da minha professora Verliane e esta
carta foi idéia de minha professora de redação Simoni, que idéia
maravilhosa a dela, não acha? Estou muito feliz de escrever para
você.
Vou ficando por aqui e espero receber notícias suas me contando
um pouco da sua vida.
(Carta nº 27)
Outros, comunicam que elegem a autora entre outras escritoras dos livros
infantis lidos, mostrando preferência por suas obras como a carta coletiva de
Monte Carmelo:
32
Somos alunos da fase II do Ciclo Inicial de Alfabetização da E.E.
Coronel Virgílio Rosa da cidade de Monte Carmelo – Minas Gerais.
Dona Carolina é nossa professora.
Escrevemos-lhe esta carta porque desenvolvemos um projeto de
leitura chamado Viajando pelo Mundo das Histórias Infantis”. E você
foi nossa autora escolhida !
Adoramos ler seus livros porque achamos as histórias legais e
interessantes.
Gostaríamos de saber onde você consegue inspiração para
escrever tantas histórias que nos deixam encantados.
Esperamos que continue escrevendo lindos livros para nós!
(Carta nº 31)
Um pequeno leitor trocou o nome de Ana Maria Machado, pelo de Maria Clara
Machado
19
, também autora de livros infantis; outro, chamou-a de Maria Claudia
Machado; isso talvez contribua para reforçar a impessoalidade dos escritos,
provocada certamente pela influência escolar, que transforma as cartas em apenas
mais uma tarefa de classe como revelam as cartas de Juca e Mariana
respectivamente:
Olá escritora Maria Clara Machado
Meu nome é Antonio Juca dos Santos. Tenho 11 e estudo na Escola
“E.E. Prof. Tito Máximo”. Li o seu livro “As cigarras e as formigas”.
Achei o livro divertido e interessante, o legal é que você colocou o
nome da personagem junto com a fala.
Percebi que a família das cigarras não gosta muito da família das
formigas e vice versa.
Quero que você faça mais livros mas agora de rima.
(Carta nº 33)
Maria Claudia Machado
Maria eu queria falar para você que eu gostei muito de sua história
que você falou muitas coisas que eu adorei do seu livro.
O nome do livro que eu mais adorei foi o livro: As cigarras e as
formigas”. Fala da casa onde as formigas moram e fala na esquerda
da casa das cigarras.
Eu adorei o seu livro. (Carta nº 37)
19
Maria Clara Machado (1921 – 2001) Escritora e dramaturga brasileira nascida em Minas
Gerais; autora de várias peças e livros infantis.
33
Grande número de cartas do acervo solicita à autora o envio de obras ; para
tanto, a carta é redigida de forma a solicitar o obséquio à autora como as cartas de
Daniele, Letícia e Patrícia respectivamente:
Quando li o seu livro Bisa Bia, Bisa Bel gostei muito
dele, gostei mais ainda quando a Bel caiu da árvore de goiaba com o
menino que ela mais gosta, o Sergio.
Ana Maria o seu livro conta histórias inéditas que até aconteceram
comigo.Quando eu li esse livro pela primeira vez achei interessante,
pois nele tem mistério e depois que terminei de ler percebi que nele
tinha uma menina chorona, alegre, carinhosa que estava apenas com
saudades de suas avós e tudo isso pra explicar pra todo mundo que
avós são importantes, por isso que gostei do seu livro pois nele tem
partes calmas, partes engraçadas, partes românticas e alegres
também; as letras que você escreveu são bem feitas, os personagens
então; hoje estou na série e mandando essa carta, se não for muito
incomodo eu gostaria de ter um livro seu, espero que tenha gostado
de mim, e por favor mande a resposta
(Carta nº 16)
Observe-se na carta acima, a identificação de Daniele com a história de Bisa
Bia, Bisa Bel.:
Eu, Letícia Batistini Fernandes estou mandando esta carta, para
dizer que eu li um livro seu, que foi Fiz voar o meu chapéu”. Eu
gostei deste livro porque tem rimas, e eu gosto, de rimas. Oh! Eu já ia
me esquecendo, eu fiz um livrinho na escola para os pequenos
ilustrarem.
Eu gosto muito de ler que estou lendo mais livros seus, se for possível,
me mande um livro seu de presente. Muito obrigada.
(Carta nº 26)
34
Oi Ana é um prazer escrever para você. A senhorita é uma grande e
única excelente escritora.
O meu nome é Patrícia Moro em Jaboti uma cidade Pequena no
Paraná.
li seus livros, alguns, e queria receber alguns livros seus, eu estou
na 7ª série e tenho 12 anos e isso é só.
P.S. A Nossa professora propôs um desafio quem receber a carta e o
livro primeiro ganharia um Prêmio.
Me ajude a ganhar,
(Carta nº 24)
Também quando as crianças mencionam nas cartas a sua idade e a série em
que estudam, pode-se entender que, com isso, assumem o papel de estudantes, ou
melhor, de leitores-estudantes, apoiando-se assim numa identidade institucional.
Com isso encaixam-se no publico reunido na instituição escolar, lugar de circulação
e legitimação da leitura como mostrado na carta de Adriano de Americana:
Olá, quem fala aqui é o Adriano mandei essa carta para você para
dizer que eu adorei seu livro: Fiz voar o meu chapéu.
Gosto muito de seu jeito de trabalhar.
Minha classe a 5ª série A esta fazendo um projeto que é o
pequeno escritor.
Nós estamos fazendo um livro para a 1ª série é muito difícil pensar
E você precisa ser muito inteligente para escrever essas histórias
(Carta nº 15)
um certo número de professores responsáveis pela redação de cartas a Ana
Maria Machado, geralmente digitadas e com linguagem adulta como se pode
verificar nas cartas nºs: 3, 10, 12, e 39; Mas muitas cartas das crianças também
mencionam o professor como mediador, como uma ponte ligando escola, autor e
leitor tanto das obras infantis lidas pelas crianças como das próprias cartas escritas
pelos pequenos alunos para a autora. Exemplificando, apresenta-se a carta da
Michelle de Jacareí:
35
Meu nome é Michele e eu moro em Santa Branca desde em que
eu entrei na escola E.E. prof. Tito ximo a professora Carmem
estava ensinando cartas para a gente e eu gostaria de conhecer você
pessoalmente, eu gostei muito dos seus livros . Se puder mandar mais
livros para a gente
(Carta nº 34)
Algumas crianças relacionam varias obras lidas por elas, talvez para tornar mais
convincente seu estatuto de leitor constante e assíduo do autor como nas cartas de
Karin e Lara respectivamente:
Gostei muito de seus livros, o livro que gostei mais foi “Do outro
lado tem segredo”.
A história que gostei mais foi “Estrela de penas, coroa da mata”
Gostei de todas as histórias, mas a qual que gostei mais foi essa.
Se eu pudesse tinha todas as suas coleções de livros.
Quero muito a sua foto e a sua assinatura. Se você puder por favor
mande a sua foto e sua assinatura para mim, vou ficar muito feliz. Vou
pular de alegria.
(Carta nº 32)
Eu sou a Lara Ponciano Pereira, eu estudo no Centro Educacional
Pica Pau Amarelo a minha sala é o 3º ano do Ensino Fundamental.
Eu adoro o seu livro “Na praia o luar quer o mar”.
Você está de parabéns amei ele é ótimo.
Espero ler mais livros seus, seu nome é lindo !
Meu projeto está dentro do seu livro protetor do ambiente e
portanto mande alguns livros.
O meu projeto se chama O meu ambiente é de responsabilidade
de todos”.
Eu gosto tanto de seus livros que é a segunda vez que eu leio
livros seus. Parabéns.
(carta nº 29)
36
Algumas cartas acentuam a influência da materialidade do livro sobre a leitura; a
inclusão de ilustrações nos livros é um dos elementos ativos na produção de
sentidos pelos leitores, que no entanto, às vezes reclamam do excesso de
“visualidade” como na carta de Guilherme de Jequié:
Eu sou da série do Colégio Motesse, de um projeto de literatura
do professor João Vauser eu gostei muito do livro é muito legal.
Esse livro tem um defeito ele tem muitas imagens e poucas
histórias mas ele é muito legal e uma história muito legal, o livro fala
sobre um urso e uma menina chamada de Axlnanhas de ouro ela tinha
os cabelos muito louros etc...
(Carta nº 7)
Alguns dos pequenos leitores ressaltam, como aspecto positivo das obras, a
verossimilhança, sua articulação com o cotidiano, sua utilização nas apresentações
escolares, ou ainda, sua articulação com o projeto escolar. Esta identificação do
leitor com a história do livro talvez seja um indicativo a reforçar a sua empatia pela
obra e pelo autor. Deve ser também, uma forma de contribuição para o rompimento
da hierarquia autor/leitor. Isso é revelado na carta da Laís de Campina Grande:
Gosto muito de seus livros como O Avental que o Vento Leva,
Menina Bonita do Laço de Fita, participei da peça no colégio com
esta última história, não sei se você se lembra do livro A Arara e o
Guaraná, é maravilhoso, já li também Dia de Chuva e vários outros.
Nos seus livros parece que as pessoas param e viajam na
fantasia, pois suas histórias são encantadas, parece que tem magia !
Obrigado pelas suas histórias que fazem crianças felizes ! Pois
sempre gostarei de suas histórias. Beijos de sua leitora !
(Carta nº 25)
37
Carta nº 25
Como leitores das histórias de Ana Maria Machado, algumas crianças tentam
intervir na criação da autora. algumas sugestões para futuros livros pela autora
como na carta coletiva de Bauru:
Nós alunos da série C da Escola E.E. Salvador Filardi”,
estamos enviando esta carta para falar que gostamos muito de seus
livros, achamos todos aqueles que lemos muito interessantes.
Gostaríamos também de propor um tema para o seu próximo livro.
A nossa idéia é que a Senhora retratasse as coisas que
acontecem numa Sala de Aula como a nossa. Pois, achamos que as
brincadeiras, as amizades, conversas e aprendizados são muito
importantes para o nosso dia-a-dia portanto sería um ótimo tema para
um livro.
38
Agradecemos imensamente se pudéssemos ver em um dos seus
próximos livro a nossa proposta. Até breve...
(Carta nº 2)
cartas que revelam uma grande curiosidade pela forma e organização da
produção do livro lido como a carta de Nothan de Americana:
Eu gostei muito do livro “Severino faz chover”, ele tem muitas
idéias para fazer chover na sua terra que é muito seca.
Eu gostaria de saber quanto tempo demorou para você fazer esse
livro? E como teve essa idéia? Na hora das ilustrações você foi
falando para Graça Lima ou ela mesma sem sua ajuda ilustrou o seu
livro?
E gostaria de agradecer a dedicação que você teve ao fazer livros
infantis para as crianças lerem e suas histórias são muito boas.
Parabéns e sorte para fazer muitos livros.
(Carta nº 48)
As crianças demonstram ainda como a leitura lhes foi agradável e proveitosa,
sublinhando as vantagens de ser alfabetizado como mostra a carta de um grupo de
alunos de Campina Grande – Pb:
Somos alunos da série C do Colégio Imaculada Conceição e
gostamos muito dos livros da senhora, do livro “De Carta em Carta” ,
pois ele fala de dois personagens: O avô e o neto que eram
analfabetos. Através desse livro nós aprendemos muitas coisas: ser
analfabeto não é legal, a escrita desaloja o que nós estamos sentindo
pelo outro e quem é analfabeto pode ser enganado pelo outro.
(Carta nº 6)
39
Algumas crianças mandam perguntas à autora talvez para sentir-se mais íntimos
dela e necessitarem de menos formalidade para lhe escrever como na carta de
Alan, vinda de Nova York:
Querida Ms. Ana Machado. Me gusto su cuento camilon Comilon me
llamo Alan.
Estoy em segundo grado. Leer libros.
A mi favoritos son Camilon Comilon. Quanto mas cotas tiene? Yo
tengo dos pero usted tiene hermanos o hermanas? Yo tengo hermano
de misma edad.
(Carta nº 42)
Esta é uma das três cartas que foram remetidas por leitores do exterior; todas
estão redigidas em castelhano apesar de enviadas de N.York, provavelmente por
imigrantes leitores das obras de Ana Maria Machado traduzidas para o espanhol.
Nestas cartas do exterior, os pequenos escritores revelam curiosidade pelo país
de origem da escritora, ou por detalhes de sua vida pessoal , como mostram as
carta de Gustavo e de Brian respectivamente; ambas vindas de New York:
Querida Ms. Machado, Mi nombre es Gustavo. Ami me gusta tu
cuento. Tu cuento estaba muy chistoso Y l oleei muchas veses. Me
gusto mucho Y lo tem em um libro que tiene muchas hojas. Es um
libro pesado y es de color rojo de trofeos. Ana Maria Machado como
es bracil es grande o pequeno ?
Gracias,
(Carta nº 43)
Mrs. Forster
Urlis School
720 Central Park
Round Lake
600 – 3
Querida Ms. Machado.
40
Yo estoy em la escuela Mi nombre es Brian. Tengo siete años. El
cuento de Camilon Comilon es chistoso. Ana. Tienen hijos o animales
o um bebe brasileño. Gracias por el cuento de Camilon Comilon.
Gracias
(Carta nº 44)
Carta nº 44
Mas apesar da interferência da escola, as cartas acabam sendo um importante
veículo de comunicação e aproximação entre as crianças e a autora evidenciando,
através do tema da leitura de seus livros até a crítica de alguns hábitos infantis na
escola como na carta de Maria Angélica, de Americana:
Olá, sou Maria Angélica, tenho 11 anos, estudo na Escola
Municipal do Ensino Fundamental Emei Prof. Florestan Fernandes
em Americana, SP.
Eu li o livro “Balas, bombons e caramelos” adorei, pois isso ajuda a
conscientizar as crianças a não passar o dia inteiro mastigando.
Boa sorte, que Deus ilumine sua carreira de escritora.
(Carta nº 47)
41
cartas acompanhadas de escritos das crianças leitoras, como frases e
poemas, ainda que estes, muitas vezes, pertençam a um repertório coletivo, e
constituam uma quase “formula”, como o transcrito na carta da Gisele:
(...) eu gosto muito dos seus livros e a doro suas escritas queria ser
escritora como você.
Poema
No Céu escolho
A nuvem
No jardim escolho a flor
Na terra escolho
Ana Maria Machado
Com todo meu amor
(Carta nº 20)
Entre as cartinhas dos pequenos leitores encontram-se algumas de adultos, que
por um ou outro motivo, deixaram os estudos para depois. Também nesses casos,
apesar da idade, observa-se a influência da instituição escolar, como nas demais
cartas das crianças. Mostra-se isso nas cartas respectivamente de Maria de Fátima,
Yuri de Juiná e Lourdes de Santo André:
Meu nome é Maria de Fátima Ferreira, tenho 30 anos moro em Jaboti
no Paraná.
Sou casada e mãe de uma menina que tem o nome de Ana Maria,
moramos com minha sogra, a dona Maria.
Estudo no APAE de manhã, no projeto da Padaria e a tarde no EJA.
Gosto de aprender para ter uma profissão.
Pretender estudar e ser professora.
Estou participando do “Descubra um escritor”.
Gostaria de receber livros, se for atendida, ficarei muito contente
(Carta nº 19)
:
Eu sou Yuri Antonio Batista, tenho 30 anos
Eu estou na 4ª série e estudo na Escola Artur Antunes Francaro
42
Eu li o seu livro e achei muito bom e gostei do livro Estrela
Um abraço. E doe um livro.
(Carta nº 49)
E com muito prazer que pego a caneta para escreve esta carta
para a senhora.
Eu sou aluna da suplência da escola emeief prof. Yvonne Zahir. Li
o seu livro de história O veado e a Onça” fique muito feliz por saber
ler. Tenho 63 anos e é a primeira vêz que eu escrevo uma carta e eu
queria muito aprender a ler ea como a senhora.
Aqui termino um abraço.
# Apesar da Lourdes “pegar a caneta”, a carta foi digitada.
(Carta nº8)
Alguns leitores expressam suas sensações de leitura em detalhes, como na
carta do Gabriel de Jacareí:
Eu estudo na Escola Tito Máximo tenho 10 anos, estou na série
e me chamo Gabriel.
Eu conheci seu trabalho por um livro chamado Clássicos de
Verdades Mitos e Lendas Greco-Romanos, gostaria que você
mandasse outros livros para a nossa coleção.
Gostei da primeira história do livro: Júpiter e os Lenhadores, mas
eu não gostei do final da história.
(Carta nº 35)
Outros leitores articulam as histórias lidas com valores éticos, como mostra a
carta do bahiano Victor:
Eu, Victor Santana Cayres estou com o livro Raul da Ferrugem
Azul” em virtude do Projeto de Literatura do Colégio Matisse, onde
estudo.
43
Primeiro eu quero lhe dar os parabéns pelo seu livro criativo e
interessante que você fez.
O seu livro contém um enredo simples e por isso é muito gostoso
de ler. O livro apresenta ainda uma lição que todos deveriam faze: a
atitude de cumprir o que é certo.
Espero que você faça mais livros com lições importantes como
este.
(Carta nº 4)
Algumas crianças expressam nas cartas a alegria dos personagens dos livros da
autora como um fator positivo; exemplifica-se isso na carta da Gabriela de Camboriú:
Estou lhe mandando esta carta porque eu li o seu livro Hoje tem
espetáculo no País dos Prequetés”. E achei muito interessante.
Meu nome é Gabriela estudo na Escola do Estaleiro, tenho 9 anos
minha professora se chama Daiane R. Masselai.
O livro é muito legal eu gostei porque as crianças que fazem parte da
história fazem brincadeiras alegres, e eles nunca estão tristes a
primeira brincadeira deles era aumentar a voz quando a luz ia
aumentando.
Obrigado por aceitar esta carta que foi escrita para você. Mande uma
carta para mim.
(Carta nº 38)
Vimos como as cartas enviadas a Ana Maria Machado, comentando suas obras
e tentando conhecer melhor a autora, são escolarizadas. Pode-se de certa forma
dizer que as crianças, nessas cartas à autora, nem tentam estabelecer um diálogo
com a mesma; seu objetivo parece pura e simplesmente cumprir uma tarefa escolar,
como se explicita na carta do Guilherme de Americana, SP:
Eu me chamo Guilherme, e tenho 11 anos, estou na 5ª série, Ana
no Emei Prof. Florestan Fernandes.
44
Quero te parabenizar por meio desta carta seu livro “ O que é”.
É um livro muito bom, cheio de perguntas muito boas.
Eu recomendo as pessoas que ainda não o leram, lerem.
Esta carta que estou lhe mandando faz parte do projeto “Pequeno
Escritor”.
Eu fiz um livro para as crianças da 1ª série chamado de Maria e o
Sací.
(Carta nº 14)
Quanto à extensão, o repertório é muito variado: cartas longas e curtas, as
bem curtas talvez nem pudessem ser consideradas cartas propriamente ditas, mas
pequenos bilhetes como o de Vitória:
Oi sou a Vitória !!
Eu acho que vc é a melhor escritora do mundo inteiro não tem
ninguém melhor do que vc !!
(Carta nº 46)
Ou o “recado” de Beatriz :
Ana,
Vi o seu site ! É muito interessante ! Gostei muito de sua palestra !
Sou sua fã !!!
(Carta nº 9)
Mas também cartas muito longas, como a de Michel, na sua carta com 122
linhas digitadas !
45
(...)
Começo com um singelo “Oi” e com um imenso prazer por poder
escrever para você. Posso assim chama-la de “você”?
Quero começar com esse trecho de seu livro “Contracorrente” de 1999
que diz:
(...)
Penso que vivemos certamente “contracorrente”, mas não soltamos
nossas amarras do medo que nos impedem de ser aquilo que
verdadeiramente gostaríamos de ser. Tememos sermos considerados
loucos, e seguimos normas da sociedade que nem sempre são
adequadas a nossa realidade. Eu diria então que somos o que não
somos? Não é isso. Digo que temos poder e muitas vezes não o
usamos. E a arte, mais uma vez, nos mostra que somos ilimitados e
nada tão definidos tudo muda ou tudo evolui. A Literatura por
exemplo – tem papel fundamental de não apenas mostrar cultura, mas
de conscientizar aquele que o . Nos diversos tipos de Literatura,
acredito que a mais delicada é a Infantil ela será a grande chave
para a descoberta da arte da escrita para alguém.
Relembro as inúmeras vezes que li “Bisa Bia, Bisa Bel”, e como me
engrandecia ter conhecimento de como eram a vida e costumes de
meus antepassados, era como escutar mamãe contando suas
lembranças de sua mamãe/ vovó. Gostaria mesmo que aqueles
tempos de Bisa Bel voltassem em ação hoje.
(...)
Confesso que me acho um pouco louco, porque sorrio quando estou
sofrendo, e choro quando quero me limpar por dentro. E sei, hoje um
pouco mais maduro, o porquê de ver a vida de forma que a vejo, o de
não me calar diante a um ato de injustiça e também sei os momentos
em que fui fraco e precisei ser forte, aprendi no meu passado a
pensar, através do que construí um leitor de sua ngua e de sua
cultura. O leitor de Ana Maria Machado.
As suas escritas tiveram uma marca notória nesse garoto chamado
Michel (que sou eu) na minha formação de pensamento. Aprendi a me
manifestar com: “Era uma vez um tirano”...
(...)
Sei que este é o seu segredo, escrever simples e no pouco contar
tudo”, assim o leitor entende e compreende a dinâmica do livro de que
está lendo e não se cansa. Suas histórias acontecem na vida cotidiana
das pessoas e seus sonhos requerem uma bagagem da qual você
tem.
São livros simples que dizem o que devem dizer. Linguagem
apropriada ao seu tempo e eu diria: escritas imortais. Aquelas que
daqui a cinquenta anos ao serem lidas ou relidas estarão ainda
tocando o coração.
(...)
E muitos outros obrigados.
(...)
Existem mãos que escrevem o que o seu pensamento pede, tecem
seus próprios corações e encantam outros corações. Desafiam a si
próprios e a sua língua. A majestade de gritar o seu pudor, ou de
deixar aflorar seu sentimento e encantamentos. Muitos deles (que
escrevem) não desejam mudar ou revolucionar desejam progredir e
alimentar a sede da alma. (...)jamais se fraco demais, pois na
fraqueza algo a ser aprendido.
46
A carta acima não veio acompanhada de dados pessoais como a idade do
autor, grau de escolaridade e origem, como vieram quase todas as outras. Mas sem
dúvida, é de todas a mais extensa! Seu conteúdo integral pode ser lido em “anexos”
(B) no final deste trabalho.
47
4 - Correspondência, escola e literatura infantil
“Aprendi muito com meus mestres,
mais com meus companheiros,
mais ainda com meus alunos”
Talmude
20
A literatura, especialmente a infantil, mantém relacionamento intenso com a
instituição escolar; que a leitura também tem a escola como sua mediadora e
incentivadora.
Marisa Lajolo destaca que:
Na tradição brasileira, literatura infantil e escola mantiveram sempre relação
de dependência mútua. A escola conta com a literatura infantil para difundir
sentimentos, conceitos, atitudes e comportamentos que lhe compete inculcar
em sua clientela. E os livros para crianças nunca deixaram de encontrar na
escola um entreposto seguro, quer como material de leitura obrigatória, quer
como complemento de outras atividades pedagógicas, quer como prêmio aos
melhores alunos”
A escola pode assim, talvez ser considerada, na perspectiva do sistema literário
de Antonio Cândido, como um sub-sistema. Um sub-sistema que também se
expressa pelo universo epistolar, traduzido pelas solicitações à autora de visitas
escolares, solicitação de doações de livros da escritora e outras atividades de
função predominantemente pedagógica. Antonio Cândido propõe que é a articulação
dos elementos que constitui a atividade literária regular: autores, formando um
conjunto virtual; veículos, que permitem seu relacionamento; públicos, amplos ou
restritos, capazes de ler, ouvir ou recepcionar as obras de outra forma qualquer,
permitindo assim que elas circulem e atuem; tradição, que é o reconhecimento de
20
Talmude – Theodore Von Keller
48
autores e obras precedentes funcionando como exemplo ou justificativa daquilo que
se quer fazer, mesmo que seja para rejeitar. A escola está inserida nesse sistema
como veiculadora de obras e de suas tradições, formando, pode-se dizer uma
espécie de sub-sistema literário.
Na perspectiva do sistema literário de Antônio Cândido pode-se considerar a
escola (sistema escolar) como seu componente mais concreto: sem a escola não
teríamos a alfabetização, não teríamos leitores. A escola é a instituição que ensina a
ler desde que a criança nela ingressa; é na escola que a criança ou adolescente
seus primeiros passos na literatura, na leitura dessa literatura, em sua interpretação
e seleção. É ainda a escola que convoca autores para visitas escolares, solicita-lhes
doações de livros e promove eventos de leitura. A carta vem como tarefa
pedagógica, inserindo assim a escola na correspondência das crianças-leitoras,
fazendo parte concreta e atuante de um sistema literário.
menos de cem anos ocorre o movimento da Escola Nova
21
tendo como um
de seus mentores Anísio Teixeira
22
que propagava bibliotecas e eventos de leitura,
em oposição ao que mais tarde seria chamado de “Educação Bancária” por Paulo
Freire
23
. Nesta, a criança recebe o conhecimento “pronto” depositado pelos
professores em suas cabeças como algo estático e imutável, sendo depois cobrado
esse ”material” depositado nas provas. os educadores da Escola Nova
propunham que o ensino considerasse as necessidades e os interesses da criança,
fazendo-a parte ativa do processo de aprendizagem. Os textos então, não teriam
mais a função uniformizadora e autoritária do passado, incentivando-se a leitura
individual para respeitar o ritmo e gosto do aluno. Desta feita, a escola passa a ser
consumidora de literatura infantil e infanto-juvenil, parceria para a qual aponta a
amizade de Anísio Teixeira com o escritor Monteiro Lobato
24
, também editor, cujas
obras seriam expressivamente requisitadas pelo governo para serem lidas e
estudadas nas escolas como atividade pedagógica. Com isso, desde a década de
30, a prática de escrever cartas para escritores passou a ser uma atividade também
21
A Escola Nova, dava ênfase ao desenvolvimento do intelecto e capacidade de julgamento
em detrimento da memorização.
22
Anísio Spínola Teixeira- Educador e escritor brasileiro atuante na Escola Nova.
23
Paulo Reglus Neves Freire A Importância do ato de ler. (p. 12) São Paulo: Cortez, 2006.
24
José Bento Monteiro Lobato - Literatura Infantil Brasileira.(1958)
49
escolar, nosso acervo de cartas representa bem essa situação, pois todas elas
procedem de escolas.
No caso de Ana Maria Machado, este lastro escolar na leitura de seus livros, tal
como se manifesta nas cartas analisadas, tem como contraparte a presença de
obras da escritora em acervos fornecidos às escolas no bojo de políticas públicas de
leitura: em 1997 o Programa Nacional da Biblioteca da Escola (PNBE), através do
Ministério da Educação e Cultura (MEC), começou a distribuir livros de literatura
infantil às escolas, e obras de Ana Maria Machado, em diferentes momentos,
fizeram parte desse acervo:
1999.....................................................................................Bisa Bia, Bisa Bel
2001 e 2002.........................................Tradução: Contos dos irmãos Grimm
2003..............................Do outro lado tem segredos e Raul da ferrugem azul
2005.......................Tapete mágico, Era uma vez três,Fiz voar o meu chapéu
A escola torna-se, como se pode ver, importante difusora de literatura infantil e
infanto-juvenil, através das políticas governamentais de incentivo à leitura com a
criação das bibliotecas escolares e gincanas literárias. Nesse contexto, a prática de
correspondência com os autores também faz parte do “pacote”.
Neste contexto, evidencia-se um importante papel desempenhado por Ana Maria
Machado, desde 1999, sendo seus livros instrumento de incentivo à leitura entre os
escolares. Vem nesse sentido a preocupação da autora em revestir as historias de
um caráter lúdico, a fim de cativar os leitores iniciantes desenvolvendo neles, o
gosto e o prazer pela leitura.
Pedagogicamente é importante fazer a criança perceber que a cada nova leitura
de um texto, ela desvela significações o detectadas nas leituras anteriores. Isso
pode servir-lhe de motivação, despertando-lhe maior gosto pela leitura ao perceber
50
que, pela reconstrução que ele próprio fez do texto, acaba por recriá-lo, tornando-se
por assim dizer, seu co-autor, seu novo criador. A freqüência da leitura traz também
a fluência, pois a repetição aperfeiçoa-a. Aprender a ler é um ato definitivo; se não
se pode desaprendê-lo, pode-se sempre aperfeiçoá-lo.
51
5 - Bisa Bia, Bisa Bel
25
O leitor emerge da história do livro, na qual
ele esteve por um longo tempo confundido,
indistinto (...) O leitor era considerado um
efeito do livro. Hoje ele se destaca desses
livros dos quais se julgava ser ele um reflexo
harmonioso. Eis que o reflexo se delineia,
ganha o seu relevo e adquire uma
independência.
M. de Certeau
26
.
Dado que o livro mais mencionado na correspondência aqui estudada foi Bisa
Bia, Bisa Bel, é oportuno, na seqüência da apresentação de leituras que as crianças
fizeram dele, discutir alguns de seus aspectos.
Como revelam as cartas, a aventura “interior” de Isabel, protagonista de Bisa
Bia, Bisa Bel , foi compreendida pelas crianças dentro de seu próprio contexto
infantil, quando os pequenos construíram sentidos para a história relacionados à
sua pouca idade e experiência.
Todas compreenderam as diferenças de idade e de geração que Isabel mantinha
com Bisa Bia e Bisneta Beta, compararam estes personagens com suas avós e avôs
sendo remetidas à coisas curiosas do passado que não existiam mais, como o
“arco” usado naquela época pelas crianças:
E o bambolê da foto? Que fim levou ? Não era bambolê... sei,
pneu de bicicleta. Não era um brinquedo antigo, que se empurrava
pelo chão, rodando e equilibrando. Chamava arco “ (p.11) .
O livro também toca na transformação pela qual vem passando a antiga nitidez
na separação de sexos, no episódio de Vitor, que chorou emocionado, e no da
própria protagonista, Isabel, que subia em muros e árvores como um “moleque”:
25
Bisa Bia, Bisa Bel por Ana Maria Machado, com ilustrações de Mariana Newlands. Impresso em São
Paulo, em 2007 ( 3ª edição) pela Editora Moderna. (80 páginas)
26
Michel de Certeau, “ La Lecture Absolute” (p.33) (1988)
52
“ Só depois que eu fiquei conhecendo melhor Bisa Bia é que soube da
verdade: ela não gosta de ver menina usando calça comprida, short,
todas essas roupas gostosas de brincar. Acha que isso é roupa de
homem, pensou ? De vez em quando ela vem com umas idéias
assim esquisitas. Por ela, menina usava vestido, saia, avental, e
tudo daqueles bem bordados, e de babado” ou
“ –Ah, menina, não gosto quando você fica correndo desse jeito,
pulando assim nessas brincadeiras de menino. Acho muito melhor
quando você fica quieta e sossegada num canto, como uma mocinha
bonita e bem- comportada”. (p.23)
Dentre as cartas estudadas, algumas relatam atividades que se seguiram à
leitura dos livros, como o convite às avós dos alunos para falar à classe , que elas
vieram para falar das coisas do seu tempo, o que permitiu que as crianças fizessem
comparações como: “ A vida de antigamente era muito mais difícil; hoje temos
mordomias e ainda reclamamos” (Carta 10) ou : Bisa Bia Bisa Bel é um texto
com muita emoção que nos fez interessar pela história de nossos avós e bisavós
(Carta 30). Ou ainda: “Quando eu esse livro percebí que nele tinha uma menina
chorona, alegre, carinhosa que estava apenas com saudades de suas avós e tudo
isso para explicar pra todo mundo que avós são muito importantes” (Carta 16)
Finalmente, as crianças gostaram muito das ilustrações de Mariana Newlands, que
as auxiliaram na leitura da história e na construção do sentido.
Chartier, em La Lecture: une pratique culturelle (1996) propõe que um livro
muda pelo fato de que ele não muda quando o mundo muda. Bisa Bia, Bisa Bel é
uma história que articula a curiosidade com o prazer de ler, tanto para crianças
como para adultos; alinha ao seu jeito lúdico, bastante filosofia existencial. Ana
Maria Machado narra a história em terceira pessoa, em que o narrador o é
identificado como personagem, sendo todos os personagens referidos na terceira
pessoa, pelo nome ou por “ele” ou “ela”. Fala da menina Isabel em tempos de
adolescente, de escola e de seu auto-descobrimento, incrementado pela misteriosa
convivência com sua bisavó e sua bisneta, onde o presente da protagonista
dicotomiza-se em passado e futuro, ajudando assim na construção de sua
personalidade.
53
As personagens da narrativa são pessoas cujas vidas podem ser expostas,
inversamente ao que ocorre conosco, seus leitores. Segundo Culler: “personagens
são pessoas cujas vidas secretas são visíveis ou poderiam ser visíveis: nós somos
pessoas cujas vidas secretas são invisíveis, por isso que os romances, sugerindo
seres humanos mais compreensíveis e portanto mais administráveis, podem nos
dar a ilusão de perspicácia e de poder”
Isabel fica conhecendo sua bisavó, Bisa Bia, quando sua mãe, pessoa muito
ocupada, faz faxina num velho armário, encontrando uma caixinha, muito
esquecida, com algumas fotos bem antigas, ainda em sépia, estando entre elas a de
Bisa Bia, bisavó de Isabel, ao tempo em que ela tinha a sua idade.
Bel apaixona-se à primeira vista por esse retrato, a ponto de o separar-se
mais dele: “para eu ficar com ela para cima e para baixo, até conhecê-la bem(p.12)
Assim, Bel levava o retrato de Bisa Bia à escola e a todos os lugares que
freqüentava. Misteriosamente, Isabel começa a conversar com o retrato de Bisa
Bia, e esta passa a responder-lhe, a contar-lhe coisas de seu tempo e a dar-lhe
conselhos como toda avó e bisavó:
Menina de sua idade não devia estar pensando em namoros,
isso não fica bem. Menina de sua idade deve é brincar de roda,
fazer comidinha, pular amarelinha e costurar roupa de boneca”
(p.47).
Após algum tempo, Bel passa a ouvir também uma outra voz, que seria a de sua
suposta bisneta (Delta) vindo diretamente do futuro. Essas duas figuras tornaram-se
para Isabel “amigas do peito” não tendo nada de fantasmagórico por serem oriundas
de outras épocas.
As duas vozes separadas por seis gerações, eram quase sempre conflitantes,
deixando Isabel entre forças opostas que a faziam escolher ora uma, ora outra, para
prosseguir vivendo nessa “trança de gente” da qual também faziam parte suas
próprias decisões e adaptações:
54
Mas os nossos palpites são tão diferentes (dizia Neta Delta);
como é que ela vai saber quem tem razão? Impossível saber
sempre qual o palpite melhor” (p.64)
A autora apresenta Isabel como uma menina de nossos tempos, que vive com
uma mãe extremamente ocupada; além disso, Isabel não conheceu irmãs nem
irmãos, queixa-se da falta de atenção de sua mãe, que lhe perguntava as coisas e
não tinha tempo para ouvir as respostas:
“Minha mãe tem a mania de fazer isso, falar e não ligar para a
resposta: mania de sair e deixar a gente falando sozinha” (p.36)
Uma história pode ser uma forma de entender as coisas da vida; Bisa Bia, Bisa
Bel pode fazer-nos pensar em nossas vidas como um “rosário” de acontecimentos
em seqüência que nos leve a algum lugar. As histórias também têm a função, como
enfatiza Culler
27
, “de nos ensinar sobre o mundo, nos mostrando como ele funciona,
nos possibilitando, através dos estratagemas da focalização, ver as coisas de outros
pontos de vista e entender as motivações dos outros que, em geral, são opacas para
nós.”
O pequeno leitor, ao ler Bisa Bia, Bisa Bel” talvez possa entender a falta de
tempo ( e de paciência) de seus pais, que passam dia após dia, absorvidos em seu
trabalho, sem tempo para conversar ou ficar junto aos filhos.
Neste aspecto, o livro aponta para a contemporaneidade. A mulher compete com
o homem no mercado de trabalho em quase todos os setores. A mãe de Bel estudou
para ter uma profissão, pois considerava o trabalho do lar repetitivo e aborrecido:
“O que eu acho é que é um trabalho que o transforma o
mundo, não melhora as coisas, é só manter como estava, lavar
para ficar limpo e depois sujar; cozinhar para comer e depois
ter mais fome, sei lá...” (p.30).
27
Jonathan Culler,. Teoria Literária – Uma introdução (p.86) (Obra referenciada anteriormente)
55
Em nossos dias as mulheres com profissão, ausentam-se do lar quase que
diariamente deixando filhas e filhos por conta das avós, babás ou creches. Diante
desse quadro Isabel andava com sua avó “do lado de dentro” mantendo com ela
conversas sem fim e sem pressa. Ouvia dela longos conselhos e descrições de
costumes de seu tempo, contava-lhe seus problemas, aos quais, ao contrário de sua
mãe, Bisa Bia dedicava total atenção: Bisa Bia e eu somos capazes de ficar horas
assim, batendo papo “explicativo” como ela gostava de chamar” (p.32)
Bel sempre recebia os conselhos de sua bisavó, ou de sua bisneta, escolhendo-
os e adaptando-os a sua própria maneira de ser:
O que ela gosta de dar conselhos não nem pra imaginar;
alguns conselhos são ótimos, mas eu quero fazer tudo o que
tenho vontade, viver minha vida, sacou? Eu sou eu, ouviu?”
(p.35).
No tempo de Bisa Bia as meninas deveriam ser comportadas e bastante
femininas (ainda que tivessem que fingir) para conquistarem um bom marido e
serem “felizes para sempre”. Nesse tempo, a literatura infantil narrava histórias de
meninas conservadoras, pregava a passividade e o bom comportamento; os jovens
em geral reproduziam a vida de seus pais. Marisa Lajolo, em seu livro : Do mundo
da leitura para a leitura do mundo sugere:
“É possível considerar, que a literatura infantil mais antiga era
conservadora, porque inculcava comportamentos e atitudes de
passividade nas crianças, preconizava obediência aos pais e
submissão aos mestres” (p.27) .
A separação dos sexos pretendia ser bastante nítida; aquilo que os meninos
podiam fazer, não o podiam as meninas e vice versa, como queria Bisa Bia:
Ah! Menina, não gosto quando você fica correndo desse
jeito, pulando assim nessas brincadeiras de menino. Acho
56
muito melhor quando você fica quieta e sossegada num canto,
como uma mocinha bonita e bem comportada” (p.23)
Como vimos, Bel “filtrava” os conselhos da bisavó; achava que nem pelo fato de
Bisa Bia haver vivido mais tempo, não poderia saber de tudo; às vezes ela preferia
aprender as coisas com a própria experiência, fazendo por fim aquilo que ela queria,
de seu próprio jeito. De certa forma pode-se comparar um conselho a um livro( ou a
um texto de um livro); eles ajudam a construir nosso mundo interior e formar nossa
própria identidade. Todavia, nem autor (nem aconselhador), podem jamais
controlar a forma de como o conselho (ou o livro) será recebido, compreendido e
interpretado” aponta Michele Petit
28
. Uma criança pode ser transformada por um
conselho, mas ela nunca o recebe passivamente; sempre irá fazer suas
“modificações” pessoais alterando seu sentido, seguindo-o parcialmente ou
confrontando-o de forma total.
Mas também tem horas em que, apesar de saber que é tão
mais fácil seguir os conselhos de Bisa Bia, tenho uma gana
dentro me empurrando para seguir Neta Beta, lutar contra o
mundo, mesmo sabendo que ainda vão se passar muitas
décadas até alguém me entender. Mas eu estou me
entendendo um pouco, e às vezes isto me basta” (p.47) .
Supõe-se ainda que os conselhos, assim como os livros não servem somente
para o problema do momento; por metáfora, podem servir quase sempre para outros
propósitos, em situações diferentes.
A segunda voz ouvida por Isabel, a voz de sua (futura) bisneta Delta, era a voz
do futuro, a voz que se opunha frontalmente, quase sempre, à de Bisa Bia,
mandando que Isabel fosse independente e fizesse aquilo que queria; afinal a
liberdade era a essência da natureza humana ! Essa segunda voz, que no início era
só vagidos, já quase no final da história, vai crescendo, e impondo sua revolta contra
os costumes do passado, contra a passividade e a omissão.
28
Michele Petit é antropóloga francesa, pesquisadora do Laboratório de Dinâmicas Sociais, na
França .Autora do livro: Os jovens e a leitura (p.26) – uma nova perspectiva. Tradução
de Celina Olga de Souza.São Paulo, 2008. Editora 34.
57
parecia que tinha uma outra voz dentro de mim, bem
fraquinha, mas bem nítida, me dizendo assim: - Faça o que
você bem entender ! não deixe ninguém mandar em você
desse jeito” (p.39).
A narrativa não segue uma lógica científica de causa e efeito, mas a lógica da
própria história, onde entender significa conceber como uma coisa leva a outra,
como algo poderia ter sucedido: de como Isabel pode conversar com a sua bisavó já
falecida, ou mesmo com a sua futura bisneta Delta. Segundo Culler
a narração pode focalizar os acontecimentos a partir da
época em que ocorreram, a partir de logo depois, ou a partir de
muito tempo depois” (p.87)
Sergio, o bonitão, colega de Bel, era a sua “paquera”. Na visão antiquada de
Bisa Bia, Sergio somente poderia ser conquistado, se Isabel procedesse de forma
delicadamente feminina como a menina Marcela, sua rival romântica.
Viu ? Ele acha você parecida com um menino. Homem
não gosta disso. Agora ele fica pensando que você é um
moleque igual a ele e vai levar uma goiaba de presente para
aquela menininha bem arrumada e penteada que está
esperando quieta na calçada” (p.43).
Delta, ao contrário, se intrometia dizendo: Não finja! Se ele tiver de gostar, irá
gostar de você do jeito que você é” (p.44). Na conclusão, Bel observa que realmente
Sergio se interessa bem mais por ela quando a trepando na goiabeira,
dominando o feroz cachorro e procedendo como um “moleque” do que por Marcela,
que não quis pular o muro para o se sujar, esperando do lado de fora a goiaba
prometida por Sergio, que resultou chegar podre até a sua, agora derrocada, figura.
Com isso, a voz de Beta no início tão frágil, tornara-se forte e confrontadora. Mas
Bel também não adere totalmente a essa segunda voz; não consegue ser moderna
todo o tempo; opostamente a Beta, Isabel gostava também de coisas de apanágio
58
feminino como bordar, tecer e outras mais “próprias das meninas”, daí haveria de
optar sempre por um ou outro caminho.
Ana Maria menciona no final da história, o retorno ao Brasil de meninos de pais
exilados, como Vitor. Ela também foi vítima da ditadura, em 1969, quando deixou o
Brasil e viveu um bom tempo no exterior onde foi jornalista e professora, antes de
tornar-se escritora infantil. Dizia o emocionado personagem Vitor; “ no exílio deixa-se
para trás nosso país e parentes queridos”; chorava emocionado quando a
professora pediu para os alunos desenharem um “retrato” dos bisavós, pois ele
tivera poucas oportunidades de conviver com seu avô, do qual tanto gostava.
ele morreu enquanto nós estávamos longe, nunca deu
para a gente curtir avô nem avó direito, e isso muita
saudade, muita tristeza, e essa vontade de chorar até hoje”
(p.64)
A autora, ao narrar alguma coisa que aconteceu com ela no passado, talvez
focalize o evento através da consciência dela no passado, restringindo o relato ao
que pensou ou sentiu na época; ou pode também focalizar os eventos através de
seu conhecimento e compreensão na época da narrativa. Como sugere Culler :
quando a narração em terceira pessoa focaliza
acontecimentos através de um personagem específico, ela
pode empregar variações semelhantes, relatando como as
coisas pareceram ao personagem na época ou como são
percebidas mais tarde. A escolha da focalização temporal faz
uma diferença enorme nos efeitos de sentido de uma
narrativa”. (p. 90)
. Antonio Faundez
29
, filósofo chileno também exilado, considera que o exílio não é
formado somente por lamentações como a história propõe; “vivendo num ambiente
diferente, com outros costumes e outra visão da realidade é que se poderia, por
comparação, compreender a própria realidade e o próprio país”. Numa referencia
29
Antonio Faundez, parceiro de Paulo Freire no livro-diálogo: Por uma pedagogia da pergunta
(p. 127) editado no Rio de Janeiro (Ed. Paz e Terra) em 1985.
59
bakhtiniana dizia: em confronto com o diferente de mim, do outro, é que descubro
minha própria realidade”.
O livro encena também uma discussão sobre educação; a mãe de Isabel, referia-
se ao nosso ensino como “uma escola amarrada ao passado”, uma escola
conservadora, que não mudava seus métodos de ensino. Talvez se possa identificar
o objeto desta crítica, ao aqui mencionado, ensino “bancário”, em que o professor
é o único sujeito em cena; ele “deposita” o conteúdo do programa na cabeça dos
alunos, que o recebem de forma passiva, sendo depois questionados a respeito do
mesmo programa nas provas. Ora, nesse contexto os alunos não se sentem no
direito de formular perguntas, quanto mais de dialogar com o mestre, como deveria
ser, segundo o grande educador brasileiro Paulo Freire. A estrutura é vertical; o
professor está no ápice e os alunos na base, recebedores passivos. Paulo Freire,
em seu livro: Por uma pedagogia da pergunta, sugere:
o conhecimento não é uma dado imobilizado, concluído,
terminado, a ser transferido por quem o adquiriu para quem
ainda não o possui”
As crianças, ao lerem Bisa Bia, Bisa Bel, ou as demais obras infantis de Ana
Maria Machado, formam um certo grupo de leitores com características comuns:
idade, grau de instrução, acervo lido de obras semelhantes, etc. Tais comunidades,
hoje criadas na internet, podem assim , representar as maneiras de tais grupos se
estabelecerem. A autora, Ana Maria Machado, visitando tais sites pode vir a
conhecer o horizonte de expectativas desses grupo de crianças, dirigindo então as
suas histórias para preencher, de certa forma estas expectativas.
Bisa Bia, Bisa Bel, apesar de ser uma história com narração onisciente, que
detalha de certa forma os sentimentos e as motivações ocultas dos protagonistas e
que exibe conhecimento a respeito do desfecho dos acontecimentos, não transmite
a impressão de que o mundo é totalmente claro e compreensível, pois Isabel
descobre que nada é de repente”; a pesquisa, as conclusões, não estavam nos
livros, mas também dentro dela mesma, em seus segredos, em seus mistérios.
Então a menina prosseguia vivendo, olhando para trás e andando para a frente,
60
tropeçando de vez em quando, inventando moda sempre com novos e melhores
jeitos de viver. Fazia com Bisa Bia e sua bisneta Delta uma “trança de gente” com o
passado inserido no presente e o presente expectando o futuro.
61
6 - Considerações finais
“Tout livre a pour collaborateur
son lecteur”
30
Como na epígrafe de Mario S. Brito, ao capítulo II deste trabalho: “ as cartas são
um monólogo querendo ser um diálogo”; certamente um diálogo escrito onde
remetente e destinatário estão separados muitas vezes por longas distâncias. Muitas
cartas, mesmo sendo discursivamente diálogos, são verdadeiras narrativas literárias,
especialmente as de escritores como Monteiro Lobato, na sua Barca de Gleyre ,
Rainer Rilke
31
em sua obra Cartas a um jovem poeta ,ou ainda Lewis Carroll
32
nas
suas inúmeras cartas literárias.
As cartas constituem diálogos bastante diferentes dos diálogos orais onde os
participantes estão presentes; certas emoções, certos enunciados como “deixe-me
falar também”, ou agora é minha vez” ou ainda cale a boca” não existem nas
cartas, pois o remetente pode escrever tudo o que tem a dizer de forma exaustiva,
sem ser interrompido, pode ainda avaliar o que vai dizer e reescrever a carta
quantas vezes quiser; o destinatário, por sua vez, pode também repensar suas
respostas e suas opiniões.
Neste contexto de cartas de leitores infantis, enviadas à autora Ana Maria
Machado, observou-se que um dos objetivos principais das crianças leitoras,
infelizmente, era o de cumprir a tarefa escolar exigida pelos professores.
Muitas crianças solicitaram à autora o envio de seus livros; para isso construíram
de si, nas cartas, uma imagem de leitores assíduos que preferem, e gostam muito,
das obras da autora, elogiando-a e querendo ser “amigos” dela. Em algumas cartas,
30
Barres, 1882 – Stanislas de Guaita.
31
Rainer Maria Rilke - Cartas a um jovem poeta. Porto Alegre: M& PM, 2007.
32
Lewis Carroll : sua correspondência foi objeto de Tese: O homem é um animal que escreve
cartas, de Wilma M.S.Lima defendida em 2009.
62
as crianças comunicam à escritora suas sensações ao lerem seus livros; outras,
admirando a profissão de escritor, pedem-lhe conselhos para saber o que se tem de
fazer para poder tornar-se um escritor, numa construção hierárquica da imagem da
autora.
Outro objetivo comum, menos declarado nas cartas, é o de conhecer a autora
que tanto admiram de forma mais íntima, sua vida pessoal, sua rotina diária; para
tanto, revelam também detalhes de suas vidas querendo destacar-se como
“amantes” de seus livros para buscarem sua amizade. Nas cartas, constroem
imagens de leitores fieis e interessados, que pertencem a uma escola que os
“institucionaliza”.
Como se observou em algumas das cartas dos pequenos leitores, a leitura das
obras de Ana Maria Machado, como declarado, inspirou-lhes atividades como
convidar uma apara “palestrante” na sala de aula; uma votação para selecionar a
melhor escritora de obras infantis, e também, a confecção das cartas desta
dissertação.
A instituição escolar direciona, de certa forma, os desejos e os anseios que as
crianças querem comunicar à escritora; com isso, a carta termina se transformando
numa tarefa escolar, institucionalizada, com meros fins didáticos. As cartas seguem
então padrões canonizados em sua estrutura, são revisadas como os demais textos
escolares; a expressividade e a criatividade dos pequenos leitores, quase sempre,
não se encaixam nos padrões pré-estabelecidos das missivas fazendo os pequenos
perderem o interesse e serem formais, controlando suas expressões de afetividade,
preocupando-se sobretudo em apresentar uma boa letra, boa ortografia e um bom
português.
Na presente dissertação, as cartas foram importantes fontes de pesquisa para
observar práticas de leitura desenvolvidas na escola, e da intervenção dessa
instituição na formação de leitores. Afinal, sem a escola não haveria leitores e muito
menos escritores de cartas!
63
Em nossos dias, com o advento da informática, as crianças talvez possam
através do e-mail, sem a mediação direta da instituição escolar, expressar melhor
seus verdadeiros anseios à autora. Apesar da despersonificação do correio
eletrônico, sem assinatura e sem exposição da forma da letra, ele permita talvez,
expressar de forma mais aberta e informal os reais anseios das crianças, sem a
presença de mediadores. Por outro lado, talvez se possa supor que essa “liberdade”,
essa facilidade de comunicar-se por e-mail não corrobore com um aprendizado
“descente” da língua nem com a leitura; mas felizmente ocorre o oposto: Marisa
Lajolo e Regina Zilberman assim o justificam: o acesso à realidade virtual depende
do domínio da leitura e, assim, esta não sofre ameaça nem concorrência. Pelo
contrário, sai fortalecida, por dispor de mais um espaço para sua difusão”
33
. O e-
mail, como a carta, também é uma forma de comunicação social, e também pode
expressar a imagem que se quer construir de si para o outro; todavia, considerando
mesmo toda sua praticidade e velocidade, é diferente de uma carta, com seu
suporte de papel especial (às vezes até perfumado), com seu envelope exibindo
belos selos, com seu “jeito” pessoal da letra e com a assinatura manuscrita que vem
caracterizá-la como um documento físico que se pode ter em mãos” e guardar
para todo o sempre !
33
Marisa Lajolo & Regina Zilberman: “Das tábuas da lei à tela do computador”(p.31)
64
Fontes de referência bibliográfica
.
ABREU, Márcia. (org). Leitura, História e História da Leitura. Campinas: Mercado
das Letras, 1999.
BAKHTIN, Mikhail. Dialogismo e construção do sentido. Campinas: Unicamp, 2005.
CANDIDO, Antonio. Iniciação à literatura brasileira. São Paulo: Humanitas, 1999.
CHARTIER, Roger. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa
entre os séculos XIV e XVIII. Mary del Priore (trad.).Brasilia: Editora da Universidade
de Brasília, 1994.
CHARTIER, Roger. A aventura do livro; do leitor ao navegador. Reginaldo C.C. de
Moraes (trad.). São Paulo: UNESP, 1999.
CLARK, Katerina & HOLQUIST, Michael. Mikhail Bakhtin. J. Guinsburg (trad.) São
Paulo: Perspectiva, 1998.
COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico da literatura infantil e juvenil brasileira.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006.
CULLER, Jonathan. Teoria literária: uma introdução: Tradução: Sandra
Vasconcelos. São Paulo : Beca, 1999.
ECO, Umberto. Interpretação e superinterpretação. São Paulo, Martins Fontes,
1993.
FISCHER, Steven Roger. História da leitura.Claudia Freire (trad.) o Paulo :
UNESP, 2006.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 2006.
FREIRE, Paulo & FAUNDEZ, Antonio. Por uma pedagogia da pergunta. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1985.
LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. o Paulo: Ática,
1994.
LAJOLO, Marisa. Literatura: leitores e leitura. São Paulo: Moderna 2001.
LAJOLO, Marisa. & ZILBERMAN, Regina. Das tábuas da Lei à tela do computador.
São Paulo : Ática, 2009.
65
LIMA, Wilma Maria Sampaio. O homem é um animal que escreve cartas: recepção
do gênero carta por alunos do ensino fundamental. São Paulo, 2009. Tese de
doutorado à Universidade Presbiteriana Mackenzie .Orientadora: Profª Drª Marisa P.
Lajolo.
MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia, Bisa Bel. São Paulo: Moderna, 2007.
MACHADO, Ana Maria. Outras obras infantis: Alguns medos e seus segredos - As
cigarras e as formigas - Balas, bombons, caramelos Bem do seu tamanho Bento
que Bento é o frade Camilão, o Comilão Cinco estrelas - De carta em carta De
olho nas penas – Dia de chuva - Do outro lado tem segredos – Do outro mundo – Fiz
voar o meu chapéu - História meio ao contrário Maré baixa, maré alta Menina
bonita do laço de fita – Na praia e no luar, tartaruga quer o mar – O mistério da ilha –
Procura-se lobo - Raul da ferrugem azul – Severino faz chover.
MARINHO, Marildes (org). Ler e navegar: espaços e percursos da leitura. Campinas
: Mercado das letras, 2001.
ORLANDI, Eni Puccinelli.A leitura e os leitores. Campinas: Pontes, 1998.
PETIT, Michele. Os jovens e a leitura. Editora 34, 2008.
RILKE, Rainer Maria. Cartas a um jovem poeta. Pedro Sussekind (trad.). Porto
Alegre: L&PM, 2007.
SCHOPENHAUER, Arthur. A arte de escrever. Porto Alegre: L&PM, 2008.
SILVA, Raquel Afonso da. Entre livros e leituras; um estudo de cartas de leitores.
Tese de doutorado orientada pela Profª Drª Marisa Lajolo Instituto de Estudos de
Linguagem – Unicamp, 2009.
66
ANEXOS
67
Anexo A
Ana Maria Machado – Pequena Biografia
Ana Maria Machado nasceu em Santa Teresa, Rio de Janeiro, em 24 de
dezembro de 1941. Casou-se primeiramente com o médico Álvaro Machado com o
qual teve dois filhos; hoje é casada com o músico Lourenço Baeta, do quarteto Boca
Livre, com o qual teve uma filha.
Estudou no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e no MoMa de Nova York,
tendo participado de salões e exposições individuais e coletivas no Brasil e no
exterior, enquanto fazia o curso de Letras, após desistir do curso de Geografia.
Formou-se em Letras Neolatinas, em 1964, na então Faculdade Nacional de
Filosofia da Universidade do Brasil, fez seus estudos de pós-graduação na UFRJ.
Lecionou na Faculdade de Letras da UFRJ ( Literatura Brasileira e Teoria
Literária) e na Escola de Comunicação da UFRJ, também na PUC Rio, Literatura
Brasileira. Lecionou também em Paris, na Sorbonne, Língua Portuguesa. Também
na Universidade de Berkeley, na Califórnia.
Em 1969 foi presa pelo governo militar, deixou o Brasil e partiu para o exílio. Na
bagagem para a Europa, levava cópias de algumas histórias infantis que estava
escrevendo, a convite da revista Recreio. Lutando para sobreviver com seu filho
Rodrigo ainda pequeno, trabalhou como jornalista na revista Elle em Paris e no
Serviço Brasileiro da BBC de Londres, além de se tornar professora de Língua
Portuguesa na Sorbonne. Nesse período, quando nasceu seu filho Pedro,
participou de um seleto grupo de estudantes na École Pratique dês Hautes Études
cujo mestre era Roland Barthes, e terminou sua tese de doutorado em Lingüística e
68
Semiologia sob a sua orientação, em Paris, onde nasceu seu filho Pedro. A tese
resultou no livro Recado do Nome, sobre a obra de Guimarães Rosa.
Como jornalista, trabalhou no Correio da Manhã, no Jornal do Brasil, no O Globo
e colaborou com as revistas Realidade, Isto É e Veja e com os semanários O
Pasquim, Opinião e Movimento. Durante sete anos, chefiou o jornalismo do Sistema
Jornal do Brasil de Rádio. Criou e dirigiu por 18 anos, com duas sócias, a primeira
livraria do país especializada em livros infantis, a Malasartes. Também foi editora,
uma das sócias da Quinteto Editorial. mais de 25 anos vem exercendo intensa
atividade na promoção da leitura e fomento do livro, tendo dado consultorias,
seminários da UNESCO em diferentes países e sido vice- presidente do IBBY (
International Board on Books for Young People).
Escondida por um pseudônimo, ganhou o prêmio João de Barro pelo livro
História Meio ao Contrário, em 1977. Abandonou o jornalismo em 1980, para, a
partir de então, dedicar-se ao que mais gosta: escrever livros, tanto os voltados
para adultos como os infantis. Sua filha Luísa nasceu em 1983. Em 1993 a tornou-se
hors concours dos prêmios da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.
Recebeu vários prêmios no Brasil e no exterior, entre eles o Casa de Las Américas,
em 1980 em Cuba; o Hans Christian Andersen, internacional, pelo conjunto de sua
obra infantil (2000); o Machado de Assis, pelo conjunto da obra, da Academia
Brasileira de Letras (2001); o Machado de Assis da Biblioteca Nacional para
romance. Foi também agraciada, mais de uma vez, com prêmios como: Jabuti,
Prêmio Bienal de São Paulo, João de Barro, APCA, Cecília Meireles, O Melhor para
o Jovem, O Melhor para a Criança, Otávio de Faria, Adolfo Aizen, e menções no
APPLE ( Association Pour La Promotion du Livre pour Enfants, Instituto Jean Piaget,
Génève); também foi premiada na Suíça e nas Américas.
Ana Maria é membro do PEN Clube do Brasil e do Seminário de Literatura da
Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Recebeu a Ordem do Mérito Cultural, no
grau de Grão-Mestre, a Medalha Tiradentes e a Grande Ordem Cultural da
Colômbia. Publicou mais de cem livros no Brasil, muitos deles traduzidos em cerca
de vinte países.
69
É sexta ocupante da Cadeira nº 1 da Academia Brasileira de Letras, eleita em 24
de abril de 2003, na sucessão de Evandro Lins e Silva e recebida em 29 de agosto
de 2003 pelo acadêmico Tarcísio Padilha.
Fonte: Academia Brasileira de Letras
70
ANEXO B
Cartas Digitadas e Tabela geral
Carta nº 1
Vitória da Conquista - BA, 1/04/2008
Cara Ana Maria Machado
Meu nome é Lara, tenho 11 anos e sou fã do livro “Piadinhas
Infantis”
Eu gostei muito do livro. Ele me faz rir muito.
É um livro dinâmico e alegre. Como outros que você escreveu.
Estou muito feliz de saber que nosso país tem escritores assim
como a senhora, que escreve livros divertidos que fazem
crianças e jovens se divertirem.
Aguardo notícias suas
Lara Fernandes Alves
Obs: Lara usou papel de cartas florido nas laterais, escreve com tinta azul e
destaca em vermelho o nome de Ana Maria Machado, seu livro e sua
ssinatura.
Carta nº 2
Bauru, 26 de junho de 2008
Prezada senhora Ana Maria Machado:
Nós alunos da 4ª série C da escola E.E. “Salvador Filardi”,
estamos enviando esta carta para falar que gostamos muito de
seus livros, achamos todos aqueles que lemos muito
interessante. Gostaríamos também de propôr um tema para o
seu próximo livro.
A Nossa idéia é que a senhora retratasse as coisas que
acontecem numa sala de aula como a nossa. Pois, achamos que
as brincadeiras, as amizades, conversa e aprendizado são muito
importante para o Nosso dia-a-dia portanto será um ótimo tema
para um livro.
71
Agradecemos imensamente se pudéssemos ver em um dos
seus próximo livro a Nossa Proposta. Até breve...
Alunos do 4º C
Obs: Carta manuscrita a tinta, em azul.
Carta nº 3
PATO BRANCO, 08 DE NOVEMBRO DE 2005.
Querida autora Ana Maria Machado
Olá! Somos alunos da 5ª Série C do Colégio Estadual La
Salle, queremos parabenizá-la por mais um de seus grandes
sucessos, o livro, Bisa Bia Bisa Bel.
O livro nos traz uma mensagem muito legal: as mudanças
que ocorrem de geração para geração. Aprendemos muito com
ele. Adoramos saber o que existia no tempo dos nossos bisavós,
como: monograma, urinol, bomboniér, cristaleiras, etc.
Também desenvolvemos varias atividades interessantes
relacionadas à história de seu livro.
Ana, muito obrigado e continue nos presenteando com seus
livros que despertam nosso interesse pela leitura e povoam a
nossa imaginação.
Esperamos ansiosos por sua resposta.
Abraços de leus leitores.
5ª série C
Obs: A carta foi digitalizada, muito provavelmente pela professora, em papel
timbrado da escola, trazendo também a assinatura (manuscrita) de todos os
alunos.Acompanha também uma foto colorida de todos os alunos reunidos e
uniformizados.
72
Carta nº 4
Jequié, 15 de abril de 2008
Querida amiga Ana Maria Machado
Eu, Victor Santana Cayres estou com o livro “ Raul da
Ferrugem Azul” em virtude do projeto de literatura, estudo no
Colégio Matisse,
Primeiro eu quero lhe dar os parabéns pelo seu livro criativo
e interessante que você fez.
O seu livro contém um enredo simples e por isso é muito
gostoso de ler. O livro apresenta ainda uma lição que todos
deveria fazer: a atitude de cumprir o que é certo.
Espero que você faça mais livros com lições importantes
como este.
Atenciosamente:
Victor Santana Cayres
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno com caneta
(talvez já bastante usada) tornando o traçado bem ilegível.
Carta nº 5
Cafelândia – SP
Ana Maria Machado
Quando a professora nos avisou que iríamos ler o seu livro,
De Olhos na Penas, pensei comigo mesmo deve ser um livro
tonto, sem graça. Mas me surpreendi com seu livro, porque eu
adoro aventura e seu livro fala sobre isso que Miguel ia para
vários lugares, viajava muito e todos os lugares que ele passava
havia muito mistério.
Agora estudo no EE Presidente Afonso Pena, mas antes
estudava no Jonhon F. Kennedy e lá líamos vários livros
diariamente. E um dos livros que eu gostei foi O Mistério na Ilha,
que também é aventura e depois que li De Olho nas penas foi o
2º que mais gostei.
Gostaria que você escrevesse mais livros de aventuras e
com humor (para jovens) e se você já escreveu um legal me
passe o nome de seu livro que eu quero ler.
Não gosto muito de escrever, isso porque minha mãe é
professora de português, mas tenho muita imaginação.
Um dia escreverei um livro assim de aventura e humor.
Me responda uma pergunta, quer dizer duas:
- Você começou a escrever seus livros com quantos anos?
73
- Você foi aconselhada por alguém ?
Tenho muitas coisas para te perguntar, mas seria muita
coisa para uma pequena carta.
Lembe-se que adorei essa oportunidade de conversar com
você apenas por uma carta, mas espero um dia pessoalmente.
Um abraço e um beijo
Laura Silvia
Obs: Carta manuscrita com tinta azul; papel de caderno com margens
enfeitadas e coloridas.
Carta nº 6
Campina Grande, -10 – 03 - 06
Prezada autora Ana Maria Machado:
Somos alunos da 4ª série “C’ do Colégio Imaculada
Conceição – CIC e gostamos muito dos livros da senhora,
inclusive, do livro “De carta em carta” , pois ele fala de dois
personagens: O avô, e o neto que eram analfabetos. Através
desse livro nós aprendemos muitas coisas: ser analfabeto não é
legal, a escrita desalia... o que nós estamos sentindo pelo outro
e quem é analfabeto pode ser enganado pelo outro.
Um abraço
de
seus leitores
André, Lucas e Braz
Obs: Carta manuscrita a tinta azul em papel sulfite, bordas decoradas com
tinta verde e desenho na parte inferior de cartas e envelopes entitulado “de
carta em carta”
74
Carta nº 7
Jequié, 15 de Abril de 2008
Eu sou da 5ª série do Colégio Motesse, de um projeto de
literatura do professor João Vauser eu gostei muito do livro é
muito legal.
Esse livro tem um defeito so ele tem muitas imagens e
poucas historias mas ele é muito legal e uma história muito legal,
o livro fala sobre um urso e uma menina chamada de (axlnanhas
?) de ouro ela tinha os cabelos muito louros etc...
Muito obrigado
Guilherme
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno à tinta azul.
Carta nº 8
Santo André 4 de setembro de 2oo7.
Prezada Ana Maria Machado
E com muito prazer que pego a caneta para escreve esta
carta para a senhora.
Eu sou aluna da suplência da escola emeief prof. Yvonne
Zahir. Li o seu livro de história “ O veado e a Onça” fique muito
feliz por saber ler. Tenho 63 anos e é a primeira vês que eu
escrevo uma carta e eu queria muito aprender a ler e a como a
senhora.
Aqui termino um abraço.
Lourdes Lourdes Marcolino de
Barros.
Obs: Esta carta foi digitada em papel sulfite.
75
Carta nº 9
Ana,
Vi o seu site ! É muito interessante ! Gostei muito de sua
palestra !
Sou sua fã !!!
Beatriz F.
Obs: Carta manuscrita em papel sulfite com tinta azul
Carta nº 10
Pato Branco, 26 de novembro de 2004
Querida autora Ana Maria Machado !
Olá, somos alunos da 5ª série C, do Colégio Estadual La
Salle. Neste ano já lemos vários livros interessantes juntamente
com nossa professora de Literatura Infanto Juvenil, Rosa
Natalina Martini Pallaoro, mas o que mais gostamos foi o seu
livro Bisa Bia Bisa Bel.
Nos sentimos muito honrados em poder escrever-lhe e
parabenizá-la por essa fantástica obra, que nos mostrou as
mudanças ocorridas de geração para geração.
Depois de lermos o livro, nossa professora organizou uma
exposição de coleções trazidas por nós ( moedas, dinheiro
antigo, chaveiros, bibelôs, cartões, carrinhos etc.) que foi muito
interessante.
Após essa apresentação, mandamos um convite para a
bisavó de uma de nossas colegas, para vir à escola e falar um
pouco de seu tempo de criança e juventude. Ela aceitou o
convite e nós gostamos muito de entrevista-la, pois foi muito
interessante saber um pouco sobre aquela época. Aprendemos
como era difícil naquele tempo e podemos perceber que hoje
temos muitas mordomias e ainda reclamamos. Foi uma aula
fantástica e diferente. Nossa diretora registrou o acontecimento
com várias fotos e estamos lhe enviando uma com nossa turma,
juntamente com nossa professora e a bisavó Leopoldina.
Sabemos que é um sonho quase impossível, mas
gostaríamos que viesse nos visitar para podermos conhecê-la
pessoalmente e agradecer-lhe pelas belas e divertidas histórias
que cria para viajarmos pela nossa imaginação.
Desejamos-lhe boas Festas
Um abraço carinhoso da 5ª série C.
Obs: Carta digitada em papel sulfite trazendo na parte inferior assinaturas dos
alunos. Não foi encontrada a foto mencionada..
76
Carta nº 11
Ana Maria Machado
muito obrigado pela sua ajuda. Saiba que toda a sua ajuda é
muito importante para nós. Eu desejo um Feliz Natal e um
Prospero Ano Novo.
Nome: Ana Sara Lopes Soares
Idade: 10 anos
Obs: A cartinha é complementada por um desenho a cores que abrange
quase toda a página de sulfite: O “cebolinha” de Mauricio de Souza.
Carta nº 12
São João do Meriti, 13 de setembro de 2007.
Querida Ana Maria Machado.
Nós da turma 21ª Perdão, da Escola Municipal Barão do Rio
Branco, adoramos os seus livros.
A nossa professora sempre conta suas histórias e assim, nós
soltamos a imaginação e pensamos até que estamos brincando
com seus personagens.
As histórias que nós mais gostamos são: Bem do seu
tamanho, Bento que Bento é o frade e menina bonita do laço de
fita.
Nossos sonhos são: conhecer você e ganhar um autógrafo
no nosso livro.
Beijos e abraços
Turma 21ª – Perdão e Professora Rachel Furtado
Obs: Carta digitada em sulfite azul, com foto de toda a turma digitalizada na
parte inferior.
Carta nº 13
São Paulo, 28 de agosto de 2008
Oi, tudo bem Ana Maria Machado ?
77
Sou Stephanie de Moura, eu acho os seus textos muito legais de
ler, quero que saiba que seu livro “ Procura-se Lobo” e de todos
os seus livros.
Bem eu tenho poucas palavras
Gosto Muito de suas histórias
Staphanie
Obs: Cartinha manuscrita a lápis azul, em folha de papel sulfite com
desenhos de corações em vermelho, quatro pequenos e um grande, e duas
pegadas de bicho (talvez ursinho). Escrita bem apagada e quase ilegível.
Carta nº 14
Americana, 22 de agosto de 2009-
Olá, Ana Maria Machado
Eu me chamo Guilherme, e tenho 11 anos, estou na 5ª série,
Ana no Emei Prof. Florestan Fernandes.
Queria te parabenizar por meio desta carta o seu livro “ O que
é”.
É um livro muito bom, cheio de perguntas muito boas.
Eu recomendo as pessoas que ainda não o leram, lerem.
Esta carta que estou lhe mandando faz parte do Projeto
Pequeno Escritor.
Eu fiz um livro para as crianças da 1ª série chamado de Maria e
o Sací.
Obrigado pela atenção !
Guilherme Henrique Schiaron
Obs: Guilherme usou papel de caderno para sua carta manuscrita em azul e
vermelho.
78
Carta nº 15
Americana, 23 de agosto de 2005
Querida Ana Maria Machado
Olá, quem fala aqui é o Adriano mandei essa carta para você
para dizer que eu adorei seu livro: Fiz voar o meu chapéu.
Gosto muito de seu jeito de trabalhar.
Minha classe a 5ª série A esta fazendo um projeto que é o
pequeno escritor.
Nós estamos fazendo um livro para a 1ª série é muito difícil
pensar
E você precisa ser muito inteligente para escrever essas
historias
Um beijo
Adriano
Obs: Manuscrita em tinta azul em folha de caderno.
Carta nº 16
Macapá, 30 de abril de 2007
Prezada senhora Ana Maria Machado
Quando li o seu livro Bisa Bia,
Bisa Bel gostei muito dele, gostei mais ainda quando a Bel caiu
da árvore de goiaba com o menino que ela mais gosta, o Sérgio.
Ana Maria o seu livro conta histórias inéditas que já até
aconteceram comigo.Quando eu li esse livro pela primeira vez
achei interessante, pois nele tem mistério e depois que terminei
de ler percebi que nele tinha uma menina chorona, alegre,
carinhosa que estava apenas com saudades de suas avós e
tudo isso pra explicar pra todo mundo que avós são importantes,
por isso que gostei do seu livro pois nele tem partes calmas,
partes engraçadas, partes românticas e alegres também; as
letras que você escreveu são bem feitas, os personagens então;
hoje estou na 8ª série e mandando essa carta, se não for muito
incomodo eu gostaria de ter um livro seu, espero que tenha
gostado de mim, e por favor mande a resposta
Atenciosamente
Daniele Garcia da Silva
Obs: Carta manuscrita em tinta azul em folha de caderno.
79
Carta nº 17
Jequié, 29.03.07
Querida Ana Maria Machado
Eu, Clara Guimarães de Macêdo, li o livro “ Um Assassinato,
Um Mistério e Um Casamento” Em que você faz a apresentação,
e gostei muito.
Tenho 10 anos, as disciplinas que eu mais gosto são
Literatura, Matemática e Ciências. Estudo no Colégio D. Pedro
II, curso a 5ª série.
Já li vários livros seus, embora não lembre de todos. João
Valcir e Leida foram meus professores muito legais que me
ajudaram a sentir como ler é bom.
Peguei este livro na biblioteca do meu colégio que tem
muitos livros.
Uma das suas obras que li e gostei muito foi “ Bisa Bia Bisa
Bel”, “Uma história de futebol”, “ Eu chovo, tu choves, ele
chove..., “ O Santinho” e muito mais. Gostaria de ler mais obras
suas !!
Parabéns por ser essa grande escritora e muito adorada !
Muito obrigada
Beijos com carinho
Clara Guimarães
Obs: Carta manuscrita em azul em folha de caderno.
Carta nº 18
Lagoa Santa, 15 de novembro de 2007.
Amiga Ana Maria Machado
Nós somos Raiane, Marcú Túllio e Gabriel.
Eu Raiane e Marcu Túllio temos 10 anos. O Gabriel tem 9 anos.
80
estudamos na Escola Estadual Tiradentes
Somos alunos da profa Eva Carvalho e lemos seu livro fiz voar o
meu chapéu.
Depoimentos
Raiane) Eu gostei muito de seu livro pois ele é legal,
interessante, criativo, interativo, educador.
Marco Túllio) Ana Maria Machado gostei das poesias do seu
livro Fiz voar o meu chapéu pois ele é divertido, enteressante,
alegre e anima qualquer pessoa.
Gabriel) Amiga Ana, gostei muito de ler seu livro Fiz voar o meu
chapéu continue escrevendo livros assim
Um abraço,
E um beijo,
De seu amigos
Raiane, Marco Túllio e Gabriel.
Obs: Carta manuscrita em azul, em folha de sulfite com bordas coloridas.
Carta nº 19
Jaboti, 07 de abril de 2008
Ana Maria
Meu nome é Maria de Fátima Ferreira, tenho 30 anos moro em
Jaboti no Paraná.
Sou casada e mãe de uma menina que tem o nome de Ana
Maria, moramos com minha sogra, a dona Maria.
Estudo no APAE de manhã, no projeto da padaria e a tarde no
EJA.
Gosto de aprender para ter uma profissão.
Pretender estudar e ser porofessora.
Estou participando do “Descubra um Escritor”.
Gostaria de receber livros, se for atendida, ficarei muito contente
Um forte abraço.
Maria de Fátima Ferreira.
Obs: Carta manuscrita em azul em folha de caderno.
Carta nº 20
25/08/2008
Ana Maria Machado eu gosto muito dos seus livros e a doro
suas escritas queria ser escritor como você.
81
Poema
No Céu escolho
a nuvem
No jardim escolho a flor
Na terra escolho
Ana Maria Machado
Com todo meu amor
(procura-se lobo)
Obs: Cartinha manuscrita em folha de caderno, com desenho (?)
Carta nº 21
De: Ari e Dani
Oi tudo bem com você ?
Ana eu e as minhas amigas gostamos muito de seus livros e
também quando a professora falou que a gente iria te conhecer
eu e as meninas ficamos muito feliz e também eu quero que
você goste da gente.
Beijos
Ass: Danielly e Ariadne
Obs: Cartinha manuscrita em azul em papel de caderno
Carta nº 22
Lagoa Santa, 18 de outubro de 2006
Prezada editora
sou aluno da Escola Estadual Tiradentes.
Gostei muito de seu livro, espero que você continue escrevendo
mais livros para crianças. Eu gostei do seu livro porque é uma
poesia. Espero encontrar você.
Abraços
Nome: Gabriel Oliveira Melo
Sou aluno da Profa. Eva Aparecida de Carvalho
Livro: Fiz voar o meu chapéu.
Obs: Carta manuscrita em papel sulfite com bordas vermelhas.
82
Carta nº 23
Americana, 22 de agosto de 2005
Cara Ana Maria Machado:
Gostaria de falar lo que a história foi muito engraçada, de
mais, uma história de Pásqua.
Era muito legal também porque um achava que o outro era
uma coisa e o outro achava que o “um” era uma coisa.
Foi muito legal, divertido e engraçado de mais e muito facia
de entender o livro.
Quero que continue assim
Um abraço
Fernanda
Obs: Cartinha manuscrita em folha de caderno.
Carta nº 24
Jaboti, o6 de Março de 2008.
Prezada Escritora:
Oi Ana é um prazer escrever para você. A senhorita é uma
grande e única excelente escritora.
O meu nome é Patrícia Moro em Jaboti uma cidade Pequena no
Paraná.
Já li seus livros, alguns, e queria receber alguns livros seus, eu
estou na 7ª série e tenho 12 anos e isso é só.
P.S. A Nossa professora propôs um desafio quem receber a
carta e o livro primeiro ganharia um Prêmio.
Me ajude a ganhar,
Thau.
Obs: Cartinha manuscrita em folha de caderno (pequeno)
Em letra azul com destaque em vermelho, verde e amarelo.
83
Carta nº 25
Campina Grande- PB 07/05/08
Prezada Ana Maria Machado
Gosto muito de seus livros como O Avental que o Vento Leva,
Menina Bonita do Laço de Fita, já participei da peça no colégio
com esta última história, não sei se você se lembra do livro A
Arara e o Guaraná, é maravilhoso, já li também Dia de Chuva e
vários outros.
No seus livros parece que as pessoas param e viaja na
fantasia, pois suas histórias são encantadas, parece que tem
magia !
Obrigado pelas suas histórias que fazem crianças felizes !
Pois sempre gostarei de suas histórias. Beijos de sua leitora !
Laís Vidal de N. Batista
Obs: Carta em papel de caderno enfeitada com bela rosa na parte alta à
esquerda.
Carta nº 26
Americana, 23 de agosto de 2005.
Querida Ana Maria Machado
Eu Letícia Batistini Fernandes estou mandando esta carta, para
dizer que eu li um livro seu, que foi “ Fiz voar o meu chapéu”. Eu
gostei deste livro porque tem rimas, e eu gosto, de rimas. Oh! Eu
já ia me esquecendo, eu fiz um livrinho na escola para os
pequenos ilustrarem.
Eu gosto muito de ler que estou lendo mais livros seu, se for
possível, me mande um livro seu de presente. Muito obrigada.
Letícia B. Fernandes.
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno, em azul, com desenho de um
passarinho na parte inferior em vermelho.
84
Carta nº 27
Vitória da Conquista, 1º de setembro de 2008
Querida Ana Maria:
Como vai a senhora? Espero que esteja bem junto a todos
os seus. Aqui é um amigo que a senhora não conhece, me
chamo Renato e fiquei lhe conhecendo através do livro “ Ponte
para Treblinka”, onde a senhora foi a tradutora, gostaria de
parabenizá-la pela tradução e pedir-lhe um favor, na
oportunidade que tiver de encontrar com Katherine Peterson,
autora dessa fabulosa obra, diga lhe que fiquei maravilhado com
o livro, em que ela passa uma mensagem belíssima mostrando
que o adversário faz a gente crescer e faz de cada desafio, uma
história de vida, em que os grandes amigos surgem de forma
mágica como os sonhos.
Tenho 10 anos estudo a 5ª série e quero muito me interessar
pela leitura, este livro foi presente da minha professora Verliane
e esta carta foi idéia de minha professora de redação Simoni,
que idéia maravilhosa a dela, não acha? Estou muito feliz de
escrever para você.
Vou ficando por aqui e espero receber notícias suas me
contando um pouco da sua vida.
Um grande abraço!
Renatinho.
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno. Letra um tanto ilegível e bem
apagada.
Carta nº 28
Planaltino do Parana, 23 de março de 2007
Prezada Ana Maria Machado!
Eu me chamo Fernanda Kelly Maso, tenho 12 anos, faço
aniversário no dia 09 de Janeiro, moro na Av. Piauí, 341 e curso
a 6ª série “A” no Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e
Silva.
Gosto muito de ler livros de Poesia.
Li o seu livro “ Cinco Estrelas” e queria -lhe falar que eu
gosto muito de ler. Nossa cidade é muito pequena e não tem
livraria. Só lemos livros da escola e ela não dispõe de muitos.
Se a senhora puder me mandar um livro seu autografado, eu
ficaria muito feliz.
Estou aguardando ansiosamente sua resposta.
Um beijo e um abraço de sua leitora
Fernanda Kelly Maso.
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno, em azul.
85
Carta nº 29
Governador Valadares, 29 de Junho de 2007
Eu sou a Lara Ponciano Pereira, eu estudo no Centro
Educacional Pica Pau Amarelo a minha sala é o 3º ano do
Ensino Fundamental.
Eu adorei o seu livro “Na praia o luar quer o mar”.
Você está de parabéns, amei ele é ótimo.!
Espero ler mais livros seus, seu nome é lindo !
Meu projeto está dentro do seu livro protetor do ambiente e
Por Favor mande alguns livros.
O meu projeto se chama “ O meu ambiente é de
responsabilidade de de todos”.
Eu gosto tanto de seus livros que é a segunda vez que eu
leio livros seus. Parabéns.
Beijos
Lara
Obs: Carta manuscrita em azul em papel sulfite. Pequenos desenhos de
borboletas vermelhas.
Carta nº 30
Alterosa, 27 de Outubro de 2007.
Oi, Ana Maria
É um prazer e uma honra comunicarmos com a escritora
escolhida pelo nosso grupo. Primeiramente vamos nos
apresentar: João Paulo, Tamires, Luis Fernando, Daniel e
Larissa.
Enviamos esta mensagem para dizer-lhe que adoramos os
seus livros. Achamos tão legal sua habilidade para escrever
histórias tão lindas!
Todos os seus livros são demais! Mas, entre os que mais
gostamos, estão “ Bem do seu tamanho” e “Bisa Bia, Bisa Bel”,
um texto com muita emoção que, nos faz interessar pela história
de nossos avós e bisavós.
Sabemos que esse livro recebeu prêmios, o que foi bem
merecido !
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Você é uma ótima escritora! Quando crescermos,
gostaríamos de ser como você, uma autora que faz despertar o
interesse pela leitura em todos que lêem as maravilhas dos seus
livros.
Parabéns ! Continue assim...nos encantando.
Um abraço
Luis Fernando, Tamires, J.Paulo, Daniel e Larissa.
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno.
Carta nº 31
Monte Carmelo, 15 de junho de 2005
Ana Maria Machado
Somos alunos da Fase II do ciclo Inicial de alfabetização da
E.E. Coronel Virgílio Rosa da cidade de Monte Carmelo – Minas
Gerais.
Dona Carolina é nossa professora.
Escrevemos-lhe esta carta porque desenvolvemos um
projeto de leitura chamado “ Viajando pelo Mundo das Histórias
Infantis”. E você foi nossa autora escolhida !
Adoramos ler seus livros porque achamos as histórias legais
e interessantes.
Gostaríamos de saber onde você consegue inspiração para
escrever tantas histórias que nos deixam encantados.
Esperamos que continue escrevendo lindos livros para nós!
Um grande abraço.
Amanda, Ricardo
Jordânia , Rafael e
Yago
Obs; Carta manuscrita em papel de caderno
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Carta nº 32
Jacareí, 15 de setembro de 2005.
Querida Ana Maria Machado
Gostei muito de seus livros, o livro que gostei mais foi “Do
outro lado tem segredo”.
A história que gostei mais foi “Estrela de penas, coroa da
mata” Gostei de todas as histórias, mas a qual que gostei mais
foi essa.
Se eu pudesse tinha todas as suas coleções de livros.
Quero muito a sua foto e a sua assinatura. Se você puder
por favor mande a sua foto e sua assinatura para mim, vou ficar
muito feliz. Vou pular de alegria.
Um beijo e um abraço de
Karin
Obs: Cartinha em papel de cartas com bordas floridas; manuscrita em azul
com desenhos de corações e estrelas na parte inferior.
Carta nº 33
Jacareí, 6 de setembro de 2005
Olá escritora “Maria Clara Machado”
Meu nome é Antonio Juca dos Santos. Tenho 11 e estudo na
Escola “E.E. Prof. Tito Máximo”. Li o seu livro As cigarras e as
formigas. Achei o livro divertido e intereçante, o legal é que você
colocou o nome da personagem junto com a fala.
Percebi que a família das cigarras não gosta muito da família
das formigas e vici verça.
Quero que você faça mais livros mas agora de rima.
Um abraço de seu leitor
Antonio Juca dos Santos
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno
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Carta nº 34
Jacareí, 6 de setembro de 2005
Cara escritora;
Meu nome é Michele e eu moro em Santa Branca desde em
que eu entrei na escola E.E. prof. Tito Máximo a professora
Carmem já estava ensinando cartas para a gente e eu gostaria
de conhecer você pessoalmente, eu gostei muito dos seus livros
? Se puder mandar mais livros para a gente
Nós agradecemos
Muito Obrigada
Michele
Obs: Carta manuscrita em folha de caderno.
Carta nº 35
Jacareí, 6 de setembro de 2005
Olá escritor (a)
Eu estudo na Escola Tito Máximo tenho 10 anos, estou na 4ª
série e me chamo Gabriel.
Eu conheci seu trabalho por um livro chamado Clássicos de
Verdades Mitos e Lendas Greco-Romanos, gostaria que vocês
mandacem outros livros para a nossa coleção.
Gostei da primeira história do livro: Júpiter e os Lenhadores,
mas eu não gostei do final da história.
De seu fã
Gabriel
Obs: cartinha em papel sulfite manuscrita em verde e vermelho.
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Carta nº 36
Jacareí, 20 de setembro de 2005
Prezada autora:
Eu sou aluna da escola E.E. Professor Tito Máximo da 4ª
série. E li os seus livros e gostei muito.
Eu gostei demais do “ As cigarras e as formigas” Ele é muito
legal e divertido. Eu achei da hora. O personagem Amadeu e
das rimas da página 9 do Sr. Amadeu, e da pág. 16 da família
tão feliz.
Eu achei interessante porque ela gosta muito de peças
teatrais e até escreveu livros sobre esse assunto que já é o 5º
volume,
Com carinho
Jéssica Fernandes Santos
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno.
Carta nº 37
Jacareí, 6 de outubro de 2005.
Maria Claudia Machado
Maria eu queria falar para você que eu gostei muito de sua
história que você falou muitas coisas que eu adorei do seu livro.
O nome do livro que eu mais adorei foi o livro: “ As cigarras e
as formigas”. Fala da casa onde as formigas moram e fala na
esquerda da casa das cigarras.
Eu adorei o seu livro.
Tchau
Beijos
Adielen dos Santos
Obs: Manuscrita em papel de caderno.
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Carta nº 38
Balneário Camboriú, 31 de outubro de 2005
Querido autor,
Estou lhe mandando esta carta porque eu li o seu livro “ Hoje
tem espetáculo no País dos prequetés. E achei muito
interessante.
Meu nome é Gabriela estudo na Escola do Estaleiro, tenho 9
anos minha professora se chama Dayane R. Masselai.
O livro é muito legal eu gostei porque as crianças que fazem
parte da história fazem brincadeiras alegres, e eles nunca estão
tristes a primeira brincadeira deles era aumentar a voz quando a
luz ia aumentando.
Obrigado por aceitar esta carta que foi escrita para você. Mande
uma carta para mim.
Gabriela Ramos.
Obs: Carta manuscrita em folha de caderno.
Carta nº 39
Curitiba, 03 de setembro de 2005.
Senhora escritora:
Olá! Como vai a Senhora?
Nós somos alunos da 2ª Etapa do Ciclo II (4ª série), da
Escola Municipal Irati – EF, situada no Bairro Cajuru, na cidade
de Curitiba – Paraná.
A nossa turma leu muitos dos seus livros. Achou todos
interessantes, divertidos e criativos, principalmente “ O menino
Pedro e seu boi voador”.
Também gostamos de escrever e manter contato com
escritores e poetas para que possamos aprender sempre mais.
Pedimos, se possível, que responda a nossa carta.
Com admiração.
91
Alunos da 4aG.
Obs: Carta digitada em papel sulfite com nomes manuscritos de todos os
alunos na parte inferior.
Carta nº 40
-“ Minha visão de Ana Maria Machado por completa”-
Começo com um singelo “Oi” e com um imenso prazer por poder
escrever para você. Posso assim chamá-la de “você”?
Quero começar com esse trecho de seu livro “Contracorrente” de
1999 que diz:
“Sou mesmo contra a corrente. Contra toda e qualquer corrente,
aliás. Contra os elos de ferro que formam cadeias e servem para
impedir o movimento livre. E contra a correnteza que na água
tenta nos levar para onde não queremos ir. No fundo, tenho
lutado contra correntes a vida toda. E remado contra a corrente
na maioria das vezes. Quando as maiorias começam a virar uma
avassaladora uniformidade de pensamento, tenho um especial
prazer em imaginar como aquilo poderia ser diferente”.
Penso que vivemos certamente “contracorrente”, mas não
soltamos nossas amarras do medo que nos impedem de ser
aquilo que verdadeiramente gostaríamos de ser. Tememos
sermos considerados loucos, e seguimos normas da sociedade
que nem sempre são adequadas a nossa realidade. Eu diria
então que somos o que não somos? Não é isso. Digo que temos
poder e muitas vezes não o usamos. E a arte, mais uma vez,
nos mostra que somos ilimitados e nada tão definidos – tudo
muda ou tudo evolui. A Literatura – por exemplo – tem papel
fundamental de não apenas mostrar cultura, mas de
conscientizar aquele que o lê. Nos diversos tipos de Literatura,
acredito que a mais delicada é a Infantil – ela será a grande
chave para a descoberta da arte da escrita para alguém.
Relembro as inúmeras vezes que li “Bisa Bia, Bisa Bel”, e como
me engrandecia ter conhecimento de como eram a vida e
costumes de meus antepassados, era como escutar mamãe
contando suas lembranças de sua mamãe/ vovó. Gostaria
mesmo que aqueles tempos de Bisa Bel voltassem em ação
hoje.
Sei que você, assim como Maria José Dupré com seu livro
“Éramos seis”, e sua personagem Carlinhos, José Mauro
Vasconcelos com o “Meu pé de laranja lima”, e outros clássicos
de nossa Literatura Infantil, foram essenciais para despertar em
mim o gosto pela leitura e o desejo de ler cada vez mais e, como
não bastasse, eu ficava colocando parte das minhas leituras da
forma que gostaria que fossem contadas, inocente, não sabia
que isso era a gota da escrita brotando dentro de mim dizendo-
me: “Você também pode contar suas histórias que gritam dentro
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de você” – pensei: “Eu, escrever?”. Suspirei e decidi ler mais até
me achar por esses labirintos me ter a certeza de que era isso
mesmo que queria fazer na minha vida, ou até mesmo, como
necessidade de escrever como complementação do que “SOU”
– pequenino demais, mais cheios de sonhos que nunca morrem.
Confesso que me acho um pouco louco, porque sorrio quando
estou sofrendo, e choro quando quero me limpar por dentro. E
sei, hoje um pouco mais maduro, o porquê de ver a vida de
forma que a vejo, o de não me calar diante a um ato de injustiça
e também sei os momentos em que fui fraco e precisei ser forte,
aprendi no meu passado a pensar, através do que construí – um
leitor de sua língua e de sua cultura. O leitor de Ana Maria
Machado.
As suas escritas tiveram uma marca notória nesse garoto
chamado Michel (que sou eu) na minha formação de
pensamento. Aprendi a me manifestar com: “Era uma vez um
tirano”...
Como agradecer isso ? A sua responsabilidade de escrever para
o público infantil e juvenil de forma ética.
Eu poderia dizer que sou mais um acaso da vida, mas não me
deixei ser. Segui os seus conselhos e os de seus pais – ser
humilde, mas lutar para ter acesso à leitura e à cultura.
Você disse: “ Os críticos em geral dizem que eu escrevo com
uma visão crítica, sobre temas como: a rebeldia, o combate ao
autoritarismo, a ética, a fome, a injustiça... Mas do meu ponto de
vista não é bem assim: eu acho que cada vez estou querendo
contar uma história diferente, acontecida comigo mesma ou com
gente que eu conheço, e transformada pelas coisas que eu
sonho ou imagino a parti daí.”
Sei que este é o seu segredo, “escrever simples e no pouco
contar tudo”, assim o leitor entende e compreende a dinâmica
do livro de que está lendo e não se cansa. Suas histórias
acontecem na vida cotidiana das pessoas e seus sonhos
requerem uma bagagem da qual você tem.
São livros simples que dizem o que devem dizer. Linguagem
apropriada ao seu tempo e eu diria: escritas imortais. Aquelas
que daqui a cinquenta anos ao serem lidas ou relidas estarão
ainda tocando o coração.
Quero registrar não só a Ana escritora, mas como o próprio título
da minha carta diz “ Ana – por completa”, dedico algumas linhas
para aplaudi-la pelo seu papel político no nosso país.
Uma mulher independente, porta voz da sua força. Obrigado. Ou
melhor, nosso país ao qual divido com você a agradece.
Obrigado também pelo seu romance “ Aos quatro ventos”, logo
em 1991 quando uma doença vem dar seu ao ar de graça a
você – doenças gostam de fazer graças com a gente – bobas
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são as que não tentam impedir o seu caminho – mas eu sabia
que Ana era forte.
Obrigado pelo “ Texturas” um dos mais enriquecidos livros seus,
lá estão contidos muitas coisas que me ajudam a pensar sobre
meus futuros personagens e livros, se é que serão escritos.
E muitos outros obrigados.
Obrigado por ter vindo a minha cidade, e eu ter tido a grande
oportunidade de conhecer quem faz parte de minha vida literária.
Torço para que esta carta não seja esquecida – de que a Ana
Maria Machado é amada por pessoas anônimas (assim como eu
era), pois sou consciente de que você conquistou seu espaço, e
isso nada tem preço.
“ Existe mãos que escrevem o que o seu pensamento pede,
tecem seus próprios corações e encantam outros corações.
Desafiam a si próprios e a sua língua. A majestade de gritar o
seu pudor, ou de deixar aflorar seu sentimento e encantamentos.
Muitos deles (que escrevem) não desejam mudar ou
revolucionar – desejam progredir e alimentar a sede da alma.
Aquele que pensa jamais se vê fraco demais, pois vê na
fraqueza algo a ser aprendido. E daí, quando o nosso ego se
manifesta, as tintas se acabam e o conhecimento volta a
renascer e a moldar o seu tempo presente. Tudo o que temos
hoje veio do ontem e foi se aperfeiçoando e agora temos em
mãos passado e presente, com bastante esperança e sonhos no
futuro. Escrever requer no mínimo responsabilidade e liberdade.
No Brasil existe uma mulher – Ana Maria Machado – que da
suas fraquezas fez-se guerreira e, de suas letras soube trazer a
magia da literatura e a vontade de sempre colher sonhos no
difícil lugar onde se constrói riquezas literárias e despreza-se a
educação, não por culpa dos inocentes, mas daqueles que se
calam”
Michel Leandro – m13 de agosto 2007
Termino com Guimarães:
“ O senhor... Mire e veja: o mais importante e bonito, do mundo,
é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram
terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou
desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que
me alegra, montão”.
Com todo e sempre amor
Michel Leandro
Obs: A carta de Michel é digitada, não veio acompanhada de dados pessoais
como a sua idade, gráu de escolaridade e origem, como vieram quase todas
as outras. Mas sem dúvida, deixando de lado a coerência, é de todas a mais
extensa!
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Carta nº 41
Balneário Camboriú, 31 de outubro de 2005
Olá Senhora, Ana Maria Machado
Meu nome é Ana Carolina tenho 10 anos e estudo na
escola municipal do estaleiro e minha professora é Dayane
Regina Masselai, escrevo esta carta porque eu li seu livro “Cinco
Estrelas”, muito interessante e legal porque ele tem cinco
estrelas com histórias divertidas.
Gostei das histórias Infância e Não me Deixes, foi as história que
eu gostei mais, a Infância gostei da menina que lia um livro que
não acabava mais e Não me Deixes porque é romântico.
Me despeço aguardando retorno.
Ana Carolina dos Santos
Obs: Cartinha manuscrita em papel de caderno.
Carta nº 42
Querida Ms. Ana Machado. Me gusto su cuento camilon Comilon
me llamo Alan.
Estoy em segundo grado. Leer libros.
A mi favoritos son Camilon Comilon. Quanto mas cotas tiene?
Yo tengo dos pero usted tiene hermanos o hermanas? Yo tengo
hermano de misma edad.
Gracias Alan Torres.
Obs: Esta é uma das três cartas que foram remetidas por leitores do exterior;
interessante é observar que as cartas estão redigidas em castelhano sendo
que a sua origem é da América do Norte (N.York)
Carta nº 43
Querida Ms. Machado, Mi nombre es Gustavo. Ami me gusta tu
cuento. Tu cuento estaba muy chistoso Y l oleei muchas veses.
Me gusto mucho Y lo tem em um libro que tiene muchas hojas.
Es um libro pesado y es de color rojo de trofeos. Ana Maria
Machado como es bracil es grande o pequeno ?
Gracias,
Gustavo Morales
Obs: Carta manuscrita em papel de cartas.
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Carta nº 44
Mrs. Forster
Urlis School
720 Central Park
Round Lake
600 – 3
Querida Ms. Machado.
Yo estoy em la escuela Mi nombre es Brian. Tengo siete años.
El cuento de Camilon Comilon es chistoso. Ana. Tienen hijos o
animales o um bebe brasileño. Gracias por el cuento de Camilon
Comilon.
Gracias
Brian Torres
Obs: Carta manuscrita em papel de cartas de fundo amarelo.
Carta nº 45
Governador Valadares, 29 de junho de 2007
Eu sou a Lara Ponciano Pereira, eu estudo no Centro
Educacional Pica- Pau Amarelo a minha sala é o 2º ano do
Ensino Fundamental.
Eu adorei o seu livro “Na praia o luar quer o mar”.
Você está de parabéns, amei ele, é ótimo!
Espero ler mais livros seus, seu nome é lindo!
Meu projeto está dentro do seu livro proteger o ambiente.
E por favor mande alguns livros.
O meu projeto se chama “ O meio ambiente é da
responsabilidade de todos”
Eu gosto tanto de seus livros que é a segunda vez que leio livros
seus. Parabéns!
Beijos
Lara
Obs: Carta manuscrita em papel de caderno.
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Carta nº 46
Oi sou a Vitória !!
Eu acho que vc é a melhor escritora do mundo inteiro não tem
ninguém melhor do que vc !!
Beijos
Vitória.
Obs: Cartinha escrita em papel sulfite, manuscrita, com desenho na parte
inferior de um livro aberto entre dois corações.
Carta nº 47
Americana, 22 de agosto de 2005
Cara amiga Ana Maria Machado:
Olá, sou Maria Angélica, tenho 11 anos, estudo na Escola
Municipal do Ensino Fundamental “ Emei Prof. Florestan
Fernandes” em Americana, SP.
Eu li o livro “Balas, bombons e caramelos” adorei, pois isso
ajuda a conscientizar as crianças a não passar o dia inteiro
mastigando.
Boa sorte, que Deus ilumine sua carreira de escritora.
Um abraço
Maria Angélica
Obs: Carta manuscrita em fl. de caderno, com azul e destaques em vermelho.
Carta nº 48
Americana, 22 de agosto de 2005
Minha Cara Amiga:
Eu gostei muito do livro severino faz chover, ele tem muitas
idéias para fazer chover na sua terra que é muito seca. . .
Eu gostaria de saber quanto tempo demorou para você fazer
esse livro? E como teve essa idéia? Na hora das ilustrações
você foi falando para Graça Lima ou ela mesma sem sua ajuda
ilustrou o seu livro?
E gostaria de agradecer a dedicação que você teve ao fazer
livros infantis para as crianças lerem e suas histórias são muito
boas. Parabéns e sorte para fazer muitos livros.
Até
mais Nothan
Obs: Carta manuscrita em folha de caderno, Nothan demonstra curiosidade
de como foram feitas as ilustrações de “Severino faz chover”
97
Carta nº 49
Juina-MT, 23 de agosto de 2007.
Querida Ana Maria Machado:
Eu sou Yuri Antonio Batista, tenho 30 anos
Eu estou na 4ª série e estudo na Escola Artur Antunes Francaro
Eu li o seu livro e achei muito bom e gostei do livro Estrela
Um abraso. E da um livro.
Yuri.
Obs: Cartinha curta manuscrita em papel de caderno.
Carta nº 50
Sarandí, 20 de junho de 2005
Prezada Ana Maria Machado:
Nós, os alunos das 6as séries B e C do Colégio Estadual
Olavo Bilac, em Sarandí (PR) estamos escrevendo esta carta
porque o seu livro “Bisa Bia, Bisa Bel” foi estudado em nossa
sala e todos gostamos muito.
Também gostamos muito de sua biografia e achamos muito
interessante você ter começado como escritora de adultos e
agora estar se dedicando ao público infantil e infanto – juvenil.
Adoramos saber que você morou no exterior, foi jornalista,
professora e que os sucessos de algumas de suas histórias não
ficaram unicamente no nosso país. Mas que foram traduzidos
para outros idiomas.
Com você, Ana, todos nós aprendemos que em qualquer
situação, haja o que houver, aconteça o que acontecer, jamais
podemos desistir de nossos sonhos e objetivos, e ter certeza
que ao alcançar o sonho sempre tem algo mais a nossa espera (
como aconteceu com os pais do gêmeos Maria e Vitor).
Outra coisa, com relação ao livro “ Bisa Bia, Bisa Bel”, foi a
oportunidade de pensar o que podemos fazer, para melhorar e
muito o mundo de nossos bisnetos, para que no futuro eles
vejam uma lembrança nossa e digam:
“ Nos orgulhamos muito de nossos bisavós, como eles
foram importantes em nossas vidas”
Gostaríamos muito que você nos escrevesse. Aguardamos
ansiosos a resposta.
Beijos e abraços dos alunos do Colégio Olavo Bilac e da
Profa. Célia.
Obs: Carta manuscrita em folha de caderno com margens enfeitadas,
acompanha um desenho grande, em papel sulfite, que representa Isabel,
protagonista de “Bisa Bia, Bisa Bel”.
98
K96L Kulesza, Bohdan Stanislaw.
Leitores como correspondentes: cartas de pequenos leitores à Ana Maria Machado /
Bohdan Stanislaw Kulesza – 2009.
117 f. : il. ; 40 cm.
Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade Presbiteriana
Mackenzie, São Paulo, 2010.
Bibliografia: f. 67-69.
Orientador: Marisa Philbert Lajolo
1. Literatura Infantil. 2. Leitura 3. Correspondência. 4. Ana Maria Machado. 5.
Antonio Candido. 6. Mikhail Bakhtin.
I. Título.
CDD 808.068
99
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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