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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO
MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO
LOCAL
REUBER DA SILVA FONSECA
REPRESENTAÇÃO, UTILIZAÇÃO E APROPRIAÇÃO DA INTERNET
POR EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS DE BELO
HORIZONTE (MG)
Belo Horizonte
2010
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Reuber da Silva Fonseca
Representação, Utilização e Apropriação da Internet por
Empreendimentos Econômicos Solidários de Belo Horizonte (MG)
Dissertação apresentada ao Mestrado em
Gestão Social, Educação e Desenvolvimento
Local do Centro Universitário UNA, como
requisito parcial à obtenção do título de
Mestre.
Área de concentração:
Inovações Sociais, Educação e
Desenvolvimento Local
Linha de pesquisa:
Processos educacionais: tecnologias sociais
e gestão do desenvolvimento local
Orientadora: Profª Drª Lucília Regina de
Souza Machado
Belo Horizonte
2010
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F676r
Fonseca, Reuber da Silva
Representação, utilização e apropriação da internet por
empreendimentos econômicos solidários de Belo Horizonte (MG) /
Reuber da Silva Fonseca. 2010.
130f.: il.
Orientador: Profª Drª Lucília Regina de Souza Machado
Dissertação (Mestrado) - Centro Universitário UNA 2010. Programa de
Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local.
Bibliografia f. 101 -106
1. Internet 2. Economia social 3. Empreendimentos Desenvolvimento
social. I. Machado, Lucília Regina de Souza. II.Centro Universitário UNA. III.
Título.
CDU: 658.114.8
AGRADECIMENTOS
Desejo expressar os meus sinceros agradecimentos a todas as pessoas que, direta ou
indiretamente, contribuíram para que eu pudesse realizar este Mestrado. De maneira
especial:
À Profª. Lucília Machado, orientadora desta dissertação, por todo esforço, sabedoria,
disponibilidade, compreensão e, acima de tudo, paciência, que fizeram com que
concluíssemos este trabalho. Gostaria de enfatizar a sua força interior, o seu olhar humano
e seu exemplo diuturno e contagiante de otimismo, trabalho e disciplina.
À Profª Maria Aparecida Moura por aceitar participar da banca de exame desta dissertação
e pelas suas críticas e comentários que, sem dúvida, servirão para o meu crescimento,
aprendizado e incentivo à pesquisa.
Ao Prof. Frederico Melo por aceitar participar da banca de qualificação do projeto e da
banca de defesa desta dissertação e, principalmente, pelos seus ensinamentos e
competência incomuns na condução das disciplinas que ministrou.
Ao Prof. Armindo Teodósio por aceitar participar da banca de qualificação do projeto e
incentivar o meu crescimento e visão crítica.
À Profª. Rosalina Braga e à Profª. Eloísa Santos pela competência, organização e
dedicação na administração das disciplinas que me encaminharam para o tema tratado
nesta dissertação.
Aos demais professores do Programa de Mestrado em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento Local, pela oportunidade de crescimento, aprendizado, realização
profissional e pessoal e pela confiança em mim depositada.
Aos meus queridos e queridas colegas do mestrado pelas inúmeras trocas de experiências,
impressões, comentários e compartilhamento das angústias que serviram de estímulo à
realização desta pesquisa.
Aos funcionários do Centro Universitário UNA pela hospitalidade e auxílio que permitiram a
realização deste estudo.
Aos meus familiares pelo estímulo e apoio incondicional desde a primeira hora, valorizando
meus potenciais.
A todos os meus amigos e amigas que sempre estiveram presentes me incentivando com
carinho e dedicação.
À Samari, cúmplice de todos os meus esforços, a quem concedo o titulo de Doutora
Honoris Causa pelos relevantes serviços prestados ao meu coração.
Aos Emprendimentos Econômicos Solidários que aceitaram participar deste trabalho, pois
sem eles as páginas seguintes estariam em branco.
"O que mata o pequeno, o local, não é o tamanho: é o isolamento que trava a sua
iniciativa e o torna dependente dos circuitos cartelizados."
Ladislau Dowbor
RESUMO
A temática desta dissertação se insere dentre as novas questões geradas pela
virtualidade, sobretudo pela crescente migração dos processos comunicacionais e
educacionais para a Internet e seu poder potencial de formação de novos espaços
institucionais e novas subjetividades sociais para Empreendimentos Econômicos
Solidários (EES). O problema que deu início a esta investigação nasceu da falta de
conhecimentos disponíveis sobre como os empreendimentos da economia solidária,
poderiam, agora, contar com o apoio deste novo aliado, a Internet. Desta forma, esta
dissertação tem como objetivo central levantar e analisar a representação, utilização e
apropriação da Internet por empreendimentos econômicos solidários de Belo Horizonte
(MG). Buscou-se, ainda, identificar, a partir da visão de empreendedores econômicos
solidários quais benefícios e limites se interpõem no uso da Internet nos processos de
interlocução com o mercado e a sociedade. Dada a natureza do domínio, foi necessário
se beneficiar da contribuição das duas abordagens metodológicas, a qualitativa e a
quantitativa. Os instrumentos de coleta de dados utilizados nesse estudo foram o
questionário e a entrevista. Conclui-se a partir da amostra estudada, que foi intencional
e cobriu doze EES, que na economia solidária do setor de vestuário de Belo Horizonte
encontram-se avaliações favoráveis à inclusão digital, mas que tal posicionamento não
significa plena apropriação da Internet e adesão à cultura digital. Com base nos dados
obtidos, foram sistematizadas sete hipóteses inspiradoras de novas investigações e
buscou-se sistematizar um conjunto de ações de intervenção educacional, em meio
digital e impresso, embasadas no conceito de letramento digital, focando a utilização da
Internet em três eixos básicos: pesquisar na Internet, publicar na Internet e comunicar-
se digitalmente.
Palavras-chave: economia solidária; empreendimentos solidários; Internet.
cooperativismo; autogestão.
ABSTRACT
The theme of this dissertation falls among the new questions generated by the virtual,
particularly by the growing migration of communication and educational processes to the
Internet and its potential power to form new subjectivities and new institutional spaces
for social economy enterprises. The problem that initiated this investigation comes from
the lack of available knowledge about how social economy enterprises could now count
on the support of this new ally, the Internet. Thus, this work is mainly aimed to raise and
examine the use, representation, and appropriation of Internet by social economy
enterprises in Belo Horizonte, capital of Minas Gerais, Brazil. We sought also to identify,
from the perspective of social economy enterprises benefits and limits which stand in
Internet use in the processes of dialogue with the market and society. Given the nature
of the field, it was necessary to benefit from the contribution of two methodological
approaches to qualitative and quantitative. The instruments for collecting data used in
this study were the questionnaire and interview. It is concluded from the study sample,
which was intentional and covered twelve social economy enterprises, that solidarity
economics in the clothing sector in Belo Horizonte are favorable ratings to digital
inclusion, but that such an approach does not mean full ownership of and accession to
the Internet digital culture. Based on data obtained were systematized seven
hypotheses inspiring new research and sought to systematize a set of actions of
educational intervention in digital media and printed, based on the concept of „digital
literacy‟, focusing on Internet use into three basic axes: search the Internet, posting on
the Internet and communicate digitally.
Keywords: social economy; solidarity enterprises; Internet; cooperatives; self-
management.
LISTA DE FIGURAS
59
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91
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - O Mercado de Vestuário no Brasil.................................................
59
TABELA 2 - Ranking Médio G1 (RM-G1), Ranking Médio G2 (RM-G1) e
Ranking Médio Geral (RM)................................................................................
76
LISTA DE SIGLAS
ABIT - Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
Abravest - Associação Brasileira do Vestuário
ADSL -Asymmetric Digital Subscriber Line
AVA - Ambientes Virtuais de Aprendizagem
BBS - Bulletin Board System
CLT - Consolidação das Leis do Trabalho
CMC - Comunicação Mediada por Computador
DSC - Discurso do Sujeito Coletivo
EES - Empreendimentos Econômicos Solidários
FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador
FEBS - Fórum Brasileiro de Economia Solidária
FGTS - Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
GT - Grupo de Trabalho
Ibict - Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
IEMI - Instituto de Estudos e Marketing Industrial
IM - Mensagem Instantânea
Ipdsc - Instituto de Pesquisa do Discurso do Sujeito Coletivo
Ipea - Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas
Iwubl - Internet World Users By Language
KBPS - Kilobytes por Segundo
MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia
MTE - Ministério do Trabalho e Emprego
ONGs - Organizações não-governamentais
PMBH - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte
PNBL - Plano Nacional de Banda Larga do Brasil
PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira
RM - Ranking Médio
Senaes - Secretaria Nacional de Economia Solidária
LISTA DE SIGLAS
SIES - Sistema de Informações em Economia Solidária
Spetr - Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda
TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação
TSE - Tribunal Superior Eleitoral
VoIP - Voz sobre IP
WWW - World Wide Web
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................
13
CAPÍTULO I - SOCIEDADE EM REDE E ECONOMIA SOLIDÁRIA..............
27
CAPITULO II CARACTERIZAÇÃO DO SETOR E DA AMOSTRA.............
54
CAPÍTULO III - REPRESENTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS
ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS SOBRE A INTERNET ...................................
58
CAPÍTULO IV - FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA INTERNET POR
EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS ..................................
78
CAPÍTULO V - APROPRIAÇÕES DA INTERNET POR
EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS ..................................
93
CONCLUSÕES ...............................................................................................
97
REFERÊNCIAS...............................................................................................
101
APÊNDICES....................................................................................................
107
13
INTRODUÇÃO
A temática desta investigação se insere dentre as novas questões geradas pela
virtualidade, sobretudo pela crescente migração dos processos comunicacionais e
educacionais para a Internet e seu poder de formação de novos espaços institucionais
de novas subjetividades sociais para Empreendimentos Econômicos Solidários (EES).
Os EES são aquelas organizações coletivas, que se propõem autogestionárias, de
caráter permanente, registradas legalmente ou não, e que exercem atividades
econômicas principais de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de
crédito, de comercialização e de consumo solidário. Por meio desta pesquisa, buscou-
se levantar e analisar a representação, utilização e apropriação da Internet por
empreendimentos econômicos solidários de Belo Horizonte (MG) e apontar benefícios e
limites do uso da Internet nos processos de interlocução destes empreendimentos com
o mercado e a sociedade.
O advento da sociedade informacional, estruturada sob a metáfora das redes, trouxe a
possibilidade de expressão e sociabilização mediada por tecnologias de informação e
comunicação (TIC). Essa mudança precipitou novos estudos sobre a virtualidade, seus
elementos e processos dinâmicos.
A inserção, na sociedade, das TICs e a disseminação da cultura derivada de sua
utilização, a cultura digital
1
, comumente representada pela Internet, trouxeram
expectativas de que pudessem promover mudanças sociais, econômicas, políticas e
culturais.
Percebe-se, porém, que dessa inserção surgem questões culturais apontando para
possibilidades aparentemente opostas de se ver este fenômeno, seus fatores e
1
Cultura digital é um conceito novo, não consolidado e seu sentido está em disputa. Nesta pesquisa, esse termo
representa a idéia de que a revolução das TICs é, essencialmente, cultural. Isso significa dizer que a apropriação
plena das TICs criaria possibilidades reais de democratizar os acessos à informação e maximizaria os benefícios
potenciais dos bens e serviços nelas apoiados. O conceito incorpora práticas de uso integral de tecnologia digital,
mas também o uso concomitante de tecnologia digital com outras de outra natureza.
14
possibilidades. De um lado, emergem questões culturais demarcadas pelo
determinismo social, que entendem que a sociedade não está tão preparada para
mudanças mais profundas. Do outro lado, a perspectiva do determinismo tecnológico,
que pressupõe ser a cultura digital uma consequência linear e direta da imersão dos
indivíduos nas lidas com a tecnologia informática.
No desenvolvimento desta pesquisa, tomou-se, como referência, a perspectiva dialética
de considerar a base material da centralidade da tecnologia na vida dos indivíduos e
nas relações sociais, entendendo que a tecnologia é, essencialmente, uma criação
humana e que a condição do homem de sujeito deste processo o faz ter a
responsabilidade de direcionar seu curso.
Atualmente, pode-se dizer que é consensual a avaliação da importância da rede
mundial de computadores como meio de construção, disseminação e uso de conteúdos
digitais. Pode-se, também, dizer que consumir e produzir conhecimento passaram a ser
atividades adjacentes, essenciais.
A Internet vem a cada dia influenciando as relações no mundo do trabalho, as
comunicações interpessoais e os processos educacionais formais e informais,
provocando profundas mudanças nas relações sociais, nos sistemas políticos, nos
sistemas de valores e nas subjetividades. Ela é hoje um dos principais meios de acesso
à informação por socializar todas as criações imateriais que nela residem e transitam
em formato digital.
A grande rede de computadores e a interatividade que esta proporciona são hoje
fatores fundamentais das grandes alterações em curso no mundo do trabalho. Imagens,
conceitos, idéias, interatividade e novas formas de percepção da vida desafiam o
modus operandi do capitalismo taylorista fordista - modelo de organização da produção
centrado em rotinas de trabalho fortemente fragmentado, especializado e empobrecido
de saberes.
15
Cresce o interesse por verificar se a nova realidade da circulação de informações está
contribuindo e de que forma para o surgimento de novos sujeitos sociais e também para
construção de novos espaços institucionais de produção e consumo de informações,
conhecimentos e saberes, tais como: organizações não-governamentais (ONGs),
empreendimentos autogestionários, sindicatos, associações, movimentos sociais e
políticos, dentre outros. Especula-se, ainda, que setores que estiveram até então à
margem do circuito da informação, como o dos empreendimentos da economia
solidária, poderiam, agora, contar com o apoio deste novo aliado, a Internet.
Os EES teriam, supostamente, motivos para aderir ao novo paradigma cultural que a
economia solidária por si supõe uma mudança cultural, uma transposição da ética do
mercado alicerçado na propriedade privada, no respeito à hierarquia, na divisão do
trabalho, etc, para uma nova ética baseada na solidariedade, no trabalho cooperado ou
associado, nas relações horizontais, na propriedade direta dos meios e resultados da
produção.
Por outro lado, a economia solidária tem buscado estimular a formação de redes de
organização de mercados, compartilhar saberes e tecnologias sociais, mobilizar e se
comunicar com os membros do movimento por meios dos meios eletrônicos. Assim, a
pode se supor que sendo uma grande rede, a Internet estaria sendo buscada pelos
empreendimentos de economia solidária até porque ela iria ao encontro do espírito
desta economia.
Se isso for verdade, na economia solidária, a inclusão digital significa adesão por este
modelo de organização social à cultura digital.
No entanto, pode-se levantar o argumento de que as metodologias e tecnologias de
ação em rede não são, a priori, uma solução a favor da democratização e do
fortalecimento da economia solidária na sua relação com o mercado. Seu potencial de
apoio, organização, mobilização, empoderamento (empowerment) e emancipação do
trabalhador cooperado/associado se efetiva conforme a representação e o uso que
16
estes fazem delas e a sociabilidade que constroem em suas relações com base nesta
mediação.
Esta investigação e a proposta de intervenção que nela se apóia se orientaram por uma
proposição básica, que considera que o uso e a apropriação da Internet pelos EES
pressupõem a superação de barreiras que esses empreendimentos encontram ao se
inserir no mercado e na sua comunicação com a sociedade.
A pergunta que motiva esta investigação é, portanto, a seguinte: qual é a
representação, utilização e a apropriação da Internet por empreendimentos solidários
de Belo Horizonte (MG)?
A questão central da investigação diz respeito, portanto, à representação, utilização e
apropriação da Internet; mais especificamente, das seguintes perguntas:
a) Que imagem (concepções e símbolos) Empreendimentos Econômicos Solidários
possuem sobre a Internet com relação ao significado desta rede para esta
modalidade de economia?
b) Quais têm sido as formas concretas de utilização (experiências, duração,
modalidades e tipos de utilização) da Internet por estes empreendimentos?
c) A utilização da Internet por EES tem resultado em apropriações convenientes
aos propósitos desta modalidade de economia e fortalecedoras de sua
identidade e capacidades?
Essa pesquisa demanda a participação reflexiva e crítica dos associados/cooperados
dos empreendimentos solidários selecionados para este estudo. Daí a importância de
se considerar abordagens teóricas e metodológicas capazes de responder essas
indagações.
17
Busca se beneficiar da contribuição das duas abordagens metodológicas, a qualitativa e
a quantitativa, como estratégia de obtenção de um entendimento mais amplo e acurado
do objeto a ser estudado.
Este plano vai ao encontro da tendência, que se observa no mundo acadêmico, de
surgimento de um novo paradigma metodológico, que busca romper com a dicotomia
estabelecida entre a concepção positivista, temerosa das contaminações das análises
dos fatos sociais por valores subjetivos, e o viés interpretativo, que valoriza o resgate da
relação sujeito e objeto nas pesquisas.
No campo da ciência social, atenta-se para um contexto favorável à utilização de um
modelo alternativo de pesquisa, pois a natureza do fenômeno social é complexa e
mutante, e desafia o pesquisador a observar diversos aspectos relacionados ao seu
objeto de estudo. A combinação de metodologias vem ao encontro da necessidade de
aliar objetividade e subjetividade, o quantitativo e o qualitativo, a parte e o todo, o
fenômeno e o contexto.
Demo (1995, p. 231) diz que “Embora metodologias alternativas facilmente se
unilateralizem na qualidade política, destruindo-a em conseqüência, é importante
lembrar que uma não é maior, nem melhor que a outra. Ambas são da mesma
importância metodológica”.
Os métodos quantitativos de pesquisa ganharam maior destaque na corrente positivista
de pensamento, porém como racionalidade e objetividade não são prerrogativas
apenas dessa concepção epistemológica, a utilização destes pelas ciências humanas e
sociais requer tratamento com critério e proporção.
Como afirma Alves (1996, p. 94): “[...] nas ciências chamadas exatas, os ingredientes
têm qualidade e uniformidade garantida. Não é que a ciência seja exata. O que ocorre é
que não há variações.”
18
A abordagem quantitativa nesta investigação foi utilizada para dar conta de exprimir
valores que têm sentido de serem avaliados quando quantificados, principalmente
nos assuntos relacionados ao mapeamento do uso da Internet. Buscou-se, entretanto,
evitar que aspectos pragmáticos e constatações genéricas da pesquisa quantitativa
pudessem subjugar as dimensões qualitativas e mais variadas relacionadas ao estudo
das representações e apropriações.
Norteados pelo paradigma interpretativo, os estudos qualitativos são apropriados à
análise de fenômenos complexos, como o dos objetos desta investigação
(representação, uso e apropriação) e ao entendimento do contexto social e cultural,
elemento crucial para a compreensão dos significados que estes objetos possam ter
para os sujeitos entrevistados.
Nesta investigação, a abordagem qualitativa se mostrou fundamental para observar,
registrar e analisar as questões relativas à representação e apropriação da Internet.
Com base em planejamento flexível, por seu intermédio, buscou-se conhecer se e como
o discurso social se faz presente na representação que os empreendimentos
econômicos solidários têm da Internet, como a utilizam e se esta utilização tem
resultado em apropriações convenientes aos propósitos desta modalidade de
economia, fortalecendo sua identidade e capacidades.
A população referenciada compreendeu todos os EES de Belo Horizonte cadastrados
na plataforma Cirandas.net, um espaço virtual de relacionamento, criado para facilitar a
comunicação, a interação e a divulgação de práticas de Economia Solidária por meio da
Internet. Esta plataforma
2
foi criada pelo Fórum Brasileiro de Economia Solidária com
os objetivos de: a) potencializar o fluxo de saberes, produtos e serviços da Economia
Solidária; b) oferecer ferramentas para a constituição de consolidação de redes e
cadeias solidárias; c) ser um espaço de divulgação da economia solidária e de busca
de seus produtos e serviços; d) permitir a interação entre vários atores em comunidades
virtuais e espaços territoriais, temáticos e econômicos. (FBES, 2009)
2
Endereço eletrônico: www.cirandas.net
19
O Cirandas.net é um site construído para que cada empreendimento de economia
solidária no Brasil tenha um lugar na Internet para apresentar a história, o trabalho do
seu grupo, seus produtos ou serviços. Busca operacionalizar a articulação entre
empreendimentos solidários e a formação de redes e cadeias solidárias.
Em 2009, 1.236 EES de Minas Gerais se encontravam cadastrados nesta plataforma.
Esse número se mostrava equivalente aos apresentados pelo Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE) por meio da ferramenta georreferenciada, baseada na Web, Atlas da
Economia Solidária. Esse sistema acumula informações georreferenciadas dos EES,
que estão registrados no Sistema de Informações em Economia Solidária (SIES).
Com isso, todos os empreendimentos econômicos solidários consolidados em
2005/2007 estavam no cadastro do Cirandas.net, facilitando a formação de unidades de
referência. No entanto, vale ressaltar que estar neste cadastro não significa uso efetivo
desta ferramenta, como pode se observar nos dados coletados por essa pesquisa.
Outro banco de dados consultado foi o do Centro Público de Economia Solidária BH.
O centro público é um espaço multifuncional, diretamente articulado com as entidades e
os empreendimentos econômicos solidários do Fórum Mineiro de Economia Solidária,
criado a partir da parceria entre a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte (PMBH) e o
Ministério do Trabalho e Emprego por meio da Secretaria Nacional de Economia
Solidária. O Centro Público compõem as políticas sociais do município, destacando-se
as de Transferência de Renda, Inclusão Produtiva, Qualificação Profissional, Saúde
Mental e Educação de Jovens e Adultos.
Uma amostra para efeitos de uma investigação corresponde a um subconjunto da
população disponível para estudo. O processo de amostragem envolve riscos e deve
observar critérios de proporcionalidade e representatividade para dar legitimidade a
conclusões com capacidade de generalização. Como este estudo não pretendeu
alcançar tal nível de aprofundamento e abrangência, mas ter caráter exploratório, foi
20
definida uma amostra intencional, que atendesse aos propósitos de examinar o
problema no seguinte contexto: EES sediados em Belo Horizonte, do setor de produção
têxtil e confecção, cadastrados no Atlas da Economia Solidária.
Como conceito operacional de EES, utilizou-se o da Secretaria Nacional de Economia
Solidária (SENAES), definido em função do cumprimento das seguintes características:
a) organizações coletivas e suprafamiliares; b) autogestionárias; c) permanentes (não
são práticas eventuais); d) que podem dispor ou não de registro legal, prevalecendo a
existência real ou a vida regular da organização; e e) que realizam atividades
econômicas principais de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de
crédito, de comercialização e de consumo solidário.
A pesquisa foi realizada em 12 EES do setor de produção têxtil e confecção,
especialmente, no ramo de vestuários e acessórios, de Belo Horizonte (MG),
constituindo essa a amostra intencional.
Os EES estudados têm sua sede administrativa e o seu parque fabril sediados em Belo
Horizonte. Entretanto, a comercialização de seus produtos não se restringe a Belo
Horizonte, ocorrendo em todas as regiões brasileiras.
Os instrumentos de coleta de dados utilizados nesse estudo foram o questionário e a
entrevista.
O questionário foi confeccionado pelo pesquisador e preenchido pelo informante, dando
início à coleta de dados junto aos 12 EES selecionados. A construção do instrumento
considerou o trabalho de Abrantes e Piètte (2002), adaptado para o objeto de estudo e
público alvo desta pesquisa. Seu conteúdo incluiu instruções de preenchimento, itens
de Identificação do respondente e as questões pesquisadas, divididas em dois blocos:
a) caracterização do uso e acesso à Internet; b) opinião sobre a Internet. O questionário
conteve questões em sua grande maioria fechadas, adotando-se o formato da escala
Likert de 1-5 em várias delas.
21
O uso da Escala Likert permite avaliar a opinião pessoal do participante, segundo
diferentes graus de intensidades. A cada resposta foi atribuído um número que reflete a
direção da atitude do participante em relação a cada afirmação. Essa escala numérica é
apresentada nos capítulos I e II.
inúmeras vantagens no uso das perguntas fechadas: a) a padronização facilita a
comparação entre os pesquisados; b) a facilidade de transferência dessas informações
para uma base de dados do computador; e c) a existência de opções de resposta torna
a pergunta mais clara ao pesquisado.
Por outro lado, as perguntas fechadas apresentam limitações, pois limitam as opções
de resposta e o pesquisado pode ter dificuldade de expor a sua realidade específica.
Essa desvantagem foi atenuada no questionário com o uso da opção “Outros, Qual?”
que aparece em algumas perguntas.
Na entrevista, foram formuladas perguntas orientadas, com um objetivo definido, frente
a frente com o respondente e dentro de uma interação social. (GIL, 1999; GRESSLER,
2004). Esta é uma cnica de investigação social e sua importância se prova pela sua
enorme flexibilidade: permite identificar variáveis e suas relações, comprovar hipóteses,
orientar outras fases da pesquisa, coletar de dados para uma pesquisa preliminar, etc.
Segundo Gil (1999), a entrevista apresenta vantagens e desvantagens. As vantagens
podem ser resumidas em: a) possibilita obtenção de dados referentes aos mais
diversos aspectos da vida social; b) permite a obtenção de dados em profundidade
acerca do comportamento humano; c) os dados obtidos podem ser classificados e
quantificados; d) não exige que o respondente saiba ler ou escrever; e) maior
flexibilidade no trabalho de investigação (pode-se explicar o significado das perguntas,
captar expressões corporais, tonalidade de voz e ênfase das respostas).
Foram também consideradas as limitações dessa técnica de coleta de dados, quais
sejam: a) a falta de motivação do entrevistado para responder; b) a facilidade de
22
fornecimento de respostas falsas; c) a inabilidade ou incapacidade do entrevistado para
responder (vocabulário insuficiente, problemas psicológicos, cultura); d) a influência
exercida pelo aspecto pessoal do entrevistador; d) a influência das opiniões do
entrevistador sobre as respostas do entrevistado.
Nesta pesquisa, foi adotado o modelo de entrevista semi-estruturada. Ele traz algumas
questões pré-determinadas, mas é aberto à inclusão de outras conforme o
desenvolvimento da interação.
Após o recolhimento, tabulação e tratamento dos dados, passou-se à etapa da análise
e interpretação dos elementos considerados relevantes para responder as questões
desta investigação. Para a análise dos dados dos questionários utilizou-se
procedimento estatístico descritivo e a apresentação por meio de gráficos. Como
suporte técnico utilizou-se, basicamente, o software Excel for Windows.
Os dados coletados nas entrevistas foram analisados com base no referencial
denominado Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). O DSC consiste de uma fala de
síntese, elaborada a partir de estruturas parciais de diversos discursos selecionados por
terem sentidos semelhantes. Estas estruturas o reunidas num conjunto e
apresentadas na primeira pessoa. Esta técnica tem origem nos estudos sobre
representação social de corte sociológico.
O DSC é uma cnica de tabulação, organização e apresentação de dados qualitativos
que permite, através de procedimentos sistemáticos e padronizados, agregar
depoimentos sem reduzi-los a quantidades. (IPDSC, 2010)
Esta técnica consiste em selecionar, de cada resposta a uma questão, os trechos mais
significativos, chamados de “Expressões-chave”. A essas expressões correspondem
algumas “Idéias centrais” que sintetizam o conteúdo discursivo revelado nas
“Expressões-chave”. De posse deste material constroem-se discursos-síntese, na
23
primeira pessoa do singular, representativos do pensamento de um grupo ou
coletividade.
Esse referencial de análise representa um salto na qualidade, na eficiência e no
alcance das pesquisas qualiquantitativas, porque permite que se conheçam e que se
dimensionem em detalhe e na sua forma natural, os pensamentos, representações,
crenças e valores, de todo tipo e tamanho de coletividade, sobre todo tipo de tema que
lhe diga respeito. (IPDSC, 2010)
A análise do DSC teve como referência fundamental o objetivo desta investigação de
analisar a apropriações da Internet por Empreendimentos Econômicos Solidários de
Belo Horizonte possibilitando assinalar os benefícios e limites do uso da Internet nos
processos de interlocução com o mercado e a sociedade.
Com base nestes dados, buscou-se sistematizar um conjunto de ações de intervenção
educacional, em meio digital e impresso, embasadas no conceito de letramento digital
3
,
focando a utilização da Internet em três eixos básicos: pesquisar na Internet, publicar
na Internet e comunicar-se digitalmente.
Essas ações, de caráter educacional, buscam motivar e viabilizar novos processos de
uso e apropriação da Internet pelos Empreendimentos Econômicos Solidários, de forma
a valorizar o atendimento das necessidades organizacionais, estratégicas e
operacionais desta modalidade de economia.
Para a ação de intervenção educacional foi criada uma cartilha impressa intitulada:
“ABC da Internet: Guia prático para uso e apropriação por empreendimentos
econômicos solidários”. O material pedagógico busca destacar a importância das
3
O conceito de letramento digital significa não apenas saber como utilizar as tecnologias digitais, mas entrar em
contato com elas de maneira significativa, entendendo seus usos e possibilidades na vida social. Significa que, para
além do domínio de “como” se utiliza essa tecnologia, é necessário se apropriar do “para quê” utilizar essa
tecnologia. (SOARES, 2002)
24
mídias sociais e como elas vêm transformando a comunicação em geral e as relações
no mundo do trabalho.
O guia oferece indicações que são relevantes para qualquer EES que deseja aumentar
a sua participação nos novos espaços institucionais propiciados pelas tecnologias livres
presentes na grande rede mundial de computadores.
A segunda ação de intervenção se materializou na criação de um blog temático,
colaborativo, para que ações de letramento digital possam ser tratadas pela
comunidade interessada. A plataforma do blog permitirá o fortalecimento da capacidade
de pesquisa, publicação e comunicação digital dos EES e viabilizará a distribuição da
cartilha, em meio eletrônico, aos interessados em conhecê-la.
Espera-se que os EES conectados ao blog troquem livremente experiências e
conhecimentos, além de construírem relações de sociabilidade, no sentido econômico,
político, organizacional e social, por meio do uso e apropriação de ferramentas
interativas de comunicação multidirecional.
A realização deste estudo e as ações de intervenção socioeducacional se mostraram
especialmente relevantes considerando-se a nova sociedade da informação que credita
grande importância à aquisição de novas competências sociais, científicas e
tecnológicas face à necessidade de operar transformações na realidade social, cultural
e econômica.
O contexto de mutabilidade presente na sociedade da informação
coloca a questão das tecnologias de informação e comunicação
(TICs) como elemento central no processo de produção em termos
das práticas culturais, trazendo novas exigências e desafios para a
sociedade (RIBAS; ZIVIANI, 2008, p.3).
Todos os níveis da vida social, cultural e econômica em alguma medida são afetados
pela penetrabilidade das TICs. Elas têm um papel significativo nas possibilidades de
25
acesso, de controle e de armazenamento de informações - são formas de socialização
de informação e conhecimento.
No entanto, assumem também formas de sociabilidade na intermediação das relações
interpessoais. As experiências virtuais emergentes afetam as concepções de espaço e
tempo, e provocam um redimensionamento das relações interpessoais. Essas, hoje,
pautadas pela conexão ou falta de conexão dos indivíduos às redes.
As redes traduzem a lógica de estruturação da sociedade informacional e vêm
assumindo um papel estratégico nas relações sociais e econômicas contemporâneas. É
importante notar que elas têm por pressuposto relações de confiança e o aporte que
cada um traz para seu interior.
No entanto, as redes não estão imunes a conflitos e disputas por poder. As
metodologias e tecnologias de ação em rede não são, a priori, uma solução a favor da
democratização e do fortalecimento da economia solidária na sua relação com o
mercado. Esse potencial se efetiva conforme o uso que os atores fazem delas e a
sociabilidade que constroem em suas relações.
A partir dos anos 80, no Brasil, as redes eletrônicas disseminaram-se nos movimentos
sociais e entre os participantes de organizações da sociedade civil.
O movimento da economia solidária também prova de seu envolvimento com a
promoção dessas iniciativas, quando se percebe que associações, cooperativas de
distribuição e serviços, grupos solidários de produção e trabalho experimentam a
Internet como um meio para a prática da chamada Economia Solidária.
A Internet está abrindo o mercado para os produtos da economia solidária, que
apostam no diferencial socioeconômico. É o caso da loja virtual SocialWeb, que vende
produtos de organizações não governamentais, entre elas aquelas que estão de acordo
com a economia solidária. (LANZARINI, 2003)
26
Portanto, o campo da forma de expressão e ação coletiva em rede apoiada em TIC
mostrou-se pertinente a esta discussão, pois ela traduz uma inteligência coletiva dos
grupos que têm acesso à Internet e efetivam o potencial deste instrumento no
fortalecimento da economia solidária.
As comunidades virtuais, as redes sociais virtuais, os fóruns de discussão, os
Weblogs
4
, os wikis
5
, o twitter
6
, são exemplos de ferramentas em que expressões e
ações coletivas ocorrem e pelas quais estão sendo moldadas por meio da sinergia
entre as pessoas via rede mundial de computadores, a Internet.
Diante do exposto, questionam-se: o uso de metodologias e tecnologias de expressão e
ação coletiva em rede pode fortalecer a economia solidária? A integração dos
conhecimentos adquiridos e compartilhados por diversas pessoas, globalmente
dispersas, tendentes a desconcentrar os poderes centralizados e hierarquizados e a
valorizar a participação de cada indivíduo, proporciona às ações coletivas da Economia
Solidária um poder de se multiplicar, com sucesso, pela Internet?
4
“Publicação facilitada pela Internet, normalmente associada a uma estrutura de pequenos textos com ordem
cronológica inversa, com comentários.” (AMARAL, 2009)
5
São ferramentas da Internet que permitem a criação colaborativa de conteúdos abertos.
6
Plataforma que alia o conceito de microblog e redes sociais.
27
CAPÍTULO I - SOCIEDADE EM REDE E ECONOMIA SOLIDÁRIA
1.1 Homem, tecnologia e conhecimento: uma perspectiva sobre as
transformações pós-industriais
Para Stengers (1990), o desenvolvimento de um conceito e o despertar de interesses
em diferentes setores da sociedade, articulados a um projeto político, constituem-se em
pilares fundamentais para o estabelecimento de um campo científico.
Pode-se dizer, contudo, que as transformações pós-industriais operadas nos sistemas
econômicos, políticos, tecnológicos e sócio-culturais na sociedade atual resultaram, até
hoje, em muito mais especulações do que em respostas.
A Sociedade da Informação ou do Conhecimento ou Sociedade em Rede ou Economia
do Conhecimento ou ainda Nova Economia são expressões que se referem a um
mesmo fenômeno, mas por se diferirem em significados mobilizam um grande número
de estudiosos de vários campos do conhecimento à sua discussão.
O reconhecimento das profundas alterações na relação homem, tecnologia e
conhecimento ao longo do século XX é um ponto comum nessas abordagens. Portanto,
é importante situar as origens deste debate para que os desafios e as oportunidades
presentes na formulação do novo paradigma sócio-cnico que se estrutura no seio da
sociedade pós-moderna sejam compreendidos.
A partir das reflexões produzidas por Castells (2000), Machado (1993) e Mattelart
(2002), observam-se três fatores determinantes das profundas alterações na relação
homem, tecnologia e conhecimento que marcaram todo o século passado e repercutem
ainda hoje.
O primeiro deles se refere à reorganização geopolítica pós Guerra Mundial. Para
Mattelart (2002), a noção de sociedade pós-industrial é fruto de uma construção
28
geopolítica, influenciada por estratégias político-econômicas dos países centrais,
principalmente dos Estados Unidos.
Segundo o autor, foi dentro de um ambiente orientado para a competição de mercado,
na ausência de debates com os cidadãos, que se começou a arquitetar a redefinição
das relações deste país com o resto do mundo (relações centradas em TIC´s).
Neste sentido, Castells (2000, p. 107) aponta que “... foi o Estado, e não o
empreendedor de inovações em garagens, que iniciou a revolução da tecnologia da
informação tanto nos Estados Unidos como em todo o mundo”.
O segundo fator determinante advém da reestruturação produtiva sucedida ao colapso
da hegemonia do modelo taylorista, na segunda metade do século passado. Alguns
reflexos dessa mudança podem ser sintetizados no crescimento do setor de bens e
serviços - centrado no uso e aplicação de informação e conhecimento.
Segundo Machado (1993), observa-se a redefinição do modelo de indústria e o
nascimento de um novo padrão mundial de competitividade capitalista, caracterizado
pela expansão do setor de serviços (tendo o conhecimento como fator de agregação de
valor), a reorganização e alterações na estrutura de empregos, nas relações
trabalhistas, na estrutura ocupacional e nas definições de trabalho qualificado e
trabalho desqualificado.
Outros traços da sociedade da informação que está se tecendo podem ser resumidos
em movimentos em direção às possibilidades de acesso, de controle e de
armazenamento de informações. A revolução tecnológica apresenta-se como fator
determinante para que conhecimentos pudessem ser disseminados de forma ágil.
Para Joseph Straubhaar (2004, p. 63), essa nova sociedade é “... aquela na qual
produção, processamento e distribuição de informação são as atividades econômica e
social primárias”.
29
Para Castells, o ponto de partida para as mudanças observadas está relacionado à
penetrabilidade das TICs em todas as dimensões da atividade humana. Ele alerta que
"... devemos localizar este processo de transformação tecnológica revolucionária no
contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado". (CASTELLS, 2000,
p. 24).
Segundo o mesmo autor, a base material da sociedade contemporânea está sendo
alterada aceleradamente por uma revolução tecnológica concentrada em TIC´s e em
meio a profundas mudanças nas relações sociais, nos sistemas políticos e nos sistemas
de valores.
Deste modo, Castells considera que a nova estrutura social está associada a um novo
modo de desenvolvimento, o informacionalismo. Assim, a sociedade contemporânea
define-se como uma sociedade informacional cuja principal fonte de produtividade
advém da "... ação de conhecimentos sobre os próprios conhecimentos." (CASTELLS,
1999, p.35).
A partir da noção de uma sociedade informacional, conectada via TICs, a palavra rede
ganhou um espaço importante, visto ser essa a lógica de estruturação básica da
sociedade informacional.
Para Castells (1999, p.499),
(...) redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma
ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se
dentro da rede, ou seja, desde que compartilhem os mesmos
códigos de comunicação (por exemplo, valores ou objetivos de
desempenho). Uma estrutura social com base em redes é um
sistema aberto altamente dinâmico suscetível de inovação sem
ameaças ao seu equilíbrio (CASTELLS, 1999, p.499).
A forma de organização das redes apresenta algumas vantagens frente às mudanças
anunciadas, como a maior flexibilidade diante de alterações no meio ambiente; a
30
criação de condições de produção de conhecimento coletivo; o favorecimento da
diversidade e diferenças no meio, entre outras.
A sociedade em rede é, portanto, a forma como se organiza a sociedade informacional
em torno de redes de indivíduos e organizações para formar um novo paradigma sócio-
técnico.
1.2 Desafios à formação de um novo paradigma sócio-técnico inclusivo e
democrático
1.2.1 Novas dinâmicas e velhas questões: inclusão e exclusão da rede
Diante dessas mudanças, muitos pesquisadores dedicam-se à construção de previsões
sobre o futuro da humanidade, que vão de leituras otimistas e paradigmáticas a
percepções difusas e alarmantes.
Entre os pesquisadores paradigmáticos, Pierre Lévy (1996) crê que essas
transformações levarão a humanidade, num futuro não muito distante, a um território
sem fronteiras, democraticamente regido pela batuta de um único governo planetário.
As contribuições de Pierre Lévy são de grande contemporaneidade, pois em um
contexto de decadência do socialismo real e de crise do neoliberalismo, as idéias
anarquistas emergem como a utopia deste tempo.
Pierre Lévy credita suas previsões à abrangência da rede mundial de computadores, à
Internet e às alterações cognitivas profundas decorrentes das interações com essa
tecnologia. Para ele, o espaço cibernético traz consigo uma verdadeira mutação
antropológica que acarreta mudanças na forma de como a sociedade se organizará
daqui por diante. (LÉVY, 1996).
31
Entre os benefícios da Internet, destaca este autor:
No ciberespaço, em troca, cada um é potencialmente emissor e receptor num
espaço qualitativamente diferenciado, não fixo, disposto pelos participantes,
explorável. Aqui, não é principalmente por seu nome, sua posição geográfica ou
social que as pessoas se encontram, mas segundo centros de interesses, numa
paisagem comum do sentido ou do saber (LÉVY, 1996, p. 113).
A Internet tem um papel significativo nos movimentos em direção às possibilidades de
acesso, de controle e de armazenamento de informações é uma forma de
socialização de informação e conhecimento. No entanto, assume formas contraditórias
de produção de sociabilidades na intermediação das relações interpessoais e sociais.
As experiências virtuais emergentes afetam as concepções de espaço e tempo e
provocam um redimensionamento das relações interpessoais e sociais. Essas, hoje,
pautadas pela conexão ou falta de conexão dos indivíduos às redes.
Obstante, uma grande parte da humanidade está ausente desta rede e as perspectivas
de ser incluída ultrapassam a noção de longo prazo.
Em termos de ganho de produtividade e de eficiência na utilização de recursos
produtivos, as TICs representam um sucesso. Contudo, ao longo dos tempos, a
sociedade da informação, como projeto da modernidade, convive com o problema da
exclusão, representada pelo grande contingente de analfabetos digitais. São aqueles
que não têm acesso ao computador, à rede e, sobretudo, à cultura digital.
Segundo Buarque (2001 apud ROCHA, 2008), as tensões entre capital x trabalho, que
caracterizavam as décadas anteriores, “... deslocaram-se para outras categorias
incluídos x excluídos.”. Tem-se agora a chamada “cortina de ouro”, em lugar da idéia de
“cortina de ferro”, que marcava as ideologias. O autor apresenta uma percepção
alarmante para esse processo de apartheid digital, que vem separando ricos e pobres a
partir do acesso ou não-aceso à informação.
32
Fica evidente, nas passagens acima, que a humanidade passa por transformações
profundas e que essa nova dinâmica traz novas, mas também velhas questões que
demandam uma abordagem crítica e interdisciplinar.
1.2.2 Territorialidade e desterritorialização na sociedade em rede
A territorialidade e seu processo inverso, a desterritorialização, são um dos
componentes importantes para análise da sociedade contemporânea.
Souza (2000) considera o controle sobre o espaço vivido como um fator decisivo para a
transformação dos indivíduos em cidadãos e para a elevação do capital social gerador
de desenvolvimento. Neste sentido, é importante se examinar os fundamentos e o uso
do território agora alargado pelo aspecto virtual.
Segundo o autor, os territórios são antes relações sociais projetadas no espaço que
espaços concretos, pois esses representariam apenas as bases materiais das
territorialidades.
Diante do exposto, o conceito de território se alargaria ao ciberespaço ou ao território
virtual informacional. Decorre, portanto, que a apropriação desse espaço virtual pelos
cidadãos reforçaria os laços de confiança comunitária e o senso de comunidade,
ingredientes importantes para o empoderamento e para a participação democrática-
cidadã.
O cidadão se apropria do espaço concreto em função de necessidades inerentes à
reprodução da vida: o habitar e o trabalho, incluindo o lazer. Para isso, necessita de
equipamentos de lazer, oferta de bens e serviços coletivos, de cultura etc. (SANTOS,
1993).
33
No entanto, a existência de interesses divergentes entre os cidadãos e os grandes
grupos econômicos tem provocado, no espaço concreto, a desterritorialização de
grupos fragilizados.
A prática da modernização cria, no território como um todo, em particular nas
cidades, os equipamentos, mas também as normas indispensáveis à operação
racional vitoriosa das grandes firmas, em detrimento das empresas menores e
da população como um todo (SANTOS, 1993, p104).
Segundo Haesbaert (2000, apud CARVALHO, 2004), a desterritorialização é um
processo que culmina em “... espaços sobre os quais os grupos sociais dispõem de
menor controle e segurança, material e simbólica”. Nestes espaços de “excluídos”
verificam-se o “... anonimato, a anulação de identidades e a ausência praticamente total
de autonomia de seus habitantes” (HAESBAERT, 2000).
Para Ianni,
A desterritorialização manifesta-se tanto na esfera da economia, como na
política e cultura. Todos os níveis da vida social, em alguma medida, são
alcançados pelo deslocamento ou dissolução de fronteiras, raízes, centros
decisórios, pontos de referência. (IANNI, 1992, p. 94)
As relações, processos e estruturas globais fazem com que tudo se movimente em
relações conhecidas e desconhecidas, conexas e contraditórias. Esse processo
mundial de desterritorialização tem a ver, também, com as exigências da razão
instrumental. Afeta as concepções do espaço, tempo, lealdade a grupos, valores e
teorias.
É fragrante a dissolução de fronteiras provocada pelas relações sociais mediatizadas
pelas TIC´s, mais precisamente pela Internet. Porém, a desterritorialização provocada
no espaço virtual tem os mesmos efeitos daquela provocada em outras esferas da vida
social?
Segundo LÉVY (1996), o mundo se configura, a partir da popularização da Internet, em
um território sem fronteiras. Do ponto de vista econômico, político e cultural esse
34
movimento se apresenta como campo legítimo para que as pessoas se encontrem, para
ofertar seus saberes, sua cultura, suas identidades e sua produção com mais
autonomia, como propõe o pesquisador?
Para Souza Santos,
É através da imaginação que os cidadãos são disciplinados e controlados pelos
Estados, mercados e outros interesses dominantes, mas é também da
imaginação que os cidadãos desenvolvem sistemas coletivos de dissidência e
novos grafismos da vida coletiva (SOUZA SANTOS, 2002, p. 46).
Alguns movimentos no sentido de criminalizar o acesso, o uso e a apropriação da
Internet pelos coletivos, dissidentes ou não, se potencializaram nos últimos anos, no
Brasil e no mundo provando que a grande rede não é um ambiente democrático
stricto sensu. Exemplos de ações nesse sentido são: o Projeto de Lei 89/2003
7
(BRASIL, 2003) e a Resolução 22.718 do TSE
8
.
Por traz dessas iniciativas está o lobby de empresas de certificação digital, espécie de
cartórios virtuais; grandes empresas do setor de comunicação, que amargam prejuízos
pela diminuição da sua audiência; indústrias fonográficas, alvo de pirataria; elite
política, preocupada com o poder das mídias sociais, etc.
Por outro lado, a tentativa de controlar a Internet foge do poder até das ditaduras e
regimes autoritários. O governo dos Aiatolás proibiu qualquer divulgação, pela Internet,
das manifestações de protestos pela falta de transparência e indícios de fraude nas
eleições presidenciais no Irã. No entanto, o mundo inteiro recebeu notícias e imagens
via telefones celulares.
7
Um projeto de lei do senador Eduardo Azeredo (PSDB) obriga e criminaliza com reclusão de dois a quatro anos a
conduta contrária à identificação dos usuários da Internet antes de ter início qualquer operação que envolva
interatividade, como envio de e-mails, conversas em salas de bate-papo, criação de blogs, captura de dados (como
baixar músicas, filmes, imagens), entre outros.
8
Dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral e disciplina
(limita) o uso da Internet pelos candidatos.
35
É bastante difundida na Internet a idéia que essa foi criada exatamente para ser
impossível de ser eliminada. Ela nasceu com a perspectiva de ser livre e trouxe
conquistas muito grandes, como a liberdade de informação e de conexão.
As redes, como lógica de estruturação da sociedade informacional, são estruturas
dinâmicas e flexíveis onde as pessoas realizam trocas, colaboram em ações, fundam e
demonstram laços sociais e ampliam o espírito de comunidade.
No entanto, as redes não estão imunes aos conflitos e disputas por poder. Mas afinal,
como cada grupo social se apropria do território? Como se a apropriação do espaço
virtual informacional?
As instituições, as empresas e os mais diversos agentes sociais desenvolvem suas
próprias estratégias de apropriação do território, suas territorialidades, frequentemente
justapostas sobre o mesmo espaço social, em razão do que explodem os conflitos.
(SOUZA, 2000).
No entanto, é imperativo (se provado for necessário) que o controle territorial sobre o
espaço virtual promova o alargamento do espaço social, possibilitando a comunicação
sem entraves, o acesso desburocratizado à informação e principalmente a democracia
do uso e distribuição da informação, recusando assim, qualquer forma de reprodução
de territorialismos, comuns na abordagem de espaços concretos.
1.2.3 Ações coletivas e movimentos sociais: novas identidades sociais na pós-
modernidade
O contexto de mutabilidade presente na sociedade informacional traz novas exigências
e desafios para a sociedade ao se repensar novas práticas sociais, políticas,
econômicas e culturais que ultrapassem as categorias tradicionais de identidade.
36
Uma concepção de identidade dos indivíduos pautada exclusivamente em noções como
classe, gênero, raça, religião, etc, não serve mais como um dispositivo discursivo
mobilizador por meio do qual os diferentes interesses e as variadas identidades
individuais possam ser representadas. (HALL, 2006)
O conhecimento da questão da “crise de identidade” é essencial para que possamos
entender o surgimento do multiculturalismo e a emergência dos movimentos sociais no
século passado.
Segundo Hall (2006), a concepção de identidades e do “eu” vem sofrendo
transformações profundas na sociedade tardia. Para explorar tal afirmação, examina as
concepções de identidade: a) do sujeito do Iluminismo; b) do sujeito sociológico; e c) do
sujeito pós-moderno.
Segundo o autor, a concepção de identidade do sujeito do Iluminismo era marcada pela
razão. Um indivíduo centrado, unificado, consciente, harmônico e coerente, sem
contradições internas, que apresentava um centro essencial, com o qual nascia e se
desenvolvia, sem mudanças significativas, ao longo da vida.
Já a “noção de sujeito sociológico refletia a crescente complexidade do mundo moderno
e a consciência de que este núcleo interno do sujeito não era autônomo, mas era
formado na relação com outras pessoas importantes para ele.” (HALL, 2006, p. 2)
Percebe que a teoria social introduz a interação com o exterior como novo elemento a
influenciar a formação da identidade do sujeito sociológico, rompendo com a concepção
iluminista de identidade pré-determinada. No entanto, nessa concepção, o sujeito ainda
tem um núcleo, ou seu “eu real”, que se modifica nas relações estabelecidas com o
mundo.
Por fim, ao analisar a concepção de identidade pós-moderna, Hall (2006) argumenta
que as transformações estruturais que marcam a sociedade contemporânea abalaram a
37
idéia de sujeitos integrados, centrados, fazendo surgir novas identidades fragmentadas
e descentradas.
Como conseqüência destas mudanças, os sujeitos pós-modernos não identificam mais
seus interesses sociais com somente uma categoria de identidade, mas pelo contrário,
a identidade muda de acordo como o sujeito é representado. (Hall, 2006).
As implicações destas mudanças afetam a forma como as identidades coletivas são
formadas e as ações coletivas se apresentam no campo político.
Como fruto, também, dessas mudanças, nas últimas décadas do século passado,
emergiram em todo o mundo movimentos sociais pela afirmação do indivíduo e de
outras identidades coletivas. Nessa perspectiva, surgiram os movimentos sociais:
feminista, ambiental, negro, da contracultura, pela reforma agrária, pela comida
orgânica - evocando a pluralidade do social. Esse fenômeno pressionou o sistema
econômico e político-institucional a inserir novos atores sociais e suas novas demandas
na arena política e econômica.
O movimento por uma economia solidária surge em meio à apropriação desses novos
espaços com a bandeira de práticas de produção autogestionárias, centradas no
trabalho associado ou cooperado e na propriedade coletiva. No entanto, essas práticas
têm origem histórica mais aprofundada.
1.3 Origem da economia solidária: uma aproximação histórica
A palavra economia vem do grego oikos (casa, lugar) e nomos (regras, normas).
Compreende, portanto, as regras, leis e normas que guiam e gerenciam a casa ou
lugar. Desde a sua origem, traz uma íntima ligação com o imperativo do atendimento às
necessidades humanas. A economia é uma ciência que mobiliza esforços na busca de
formas de organizar, gerir e distribuir recursos escassos para produzir bens com valor
para a humanidade.
38
O conceito da economia solidária incorpora um novo elemento que faz repensar toda a
ciência econômica ao resgatar a necessidade primordial da economia o bem-estar da
humanidade.
Para Mance (2003), a economia solidária se consolida em práticas de produção
centradas na solidariedade (matéria prima do bem-estar), visando sempre a distribuição
da riqueza dentro de uma mesma comunidade, a criação de postos de trabalho e o
aumento da renda das pessoas.
Motchane (2000), professor na Universidade de Paris VII, defende que a economia
solidária tem raízes profundas, na Idade Média. As guildas (associações de socorro
mútuo de mercadores e artesãos), as confrarias (comunidades de leigos), os jurandes
(membros escolhidos para representar corporações), as corporações de ofício e
compagnonnages (organizações operárias de ajuda mútua e de formação profissional)
constituem seus longínquos ancestrais. na Europa do século XIII, as associações de
artesãos surgiram como principal forma de organização dos operários profissionais
franceses e sobrevivem até hoje.
Para Singer (2002), a economia solidária nasceu pouco depois do capitalismo industrial.
Num esforço de reconstituir o contexto histórico, apoiando-se nas contribuições de Cole
(1944), Singer acredita que a economia solidária surgiu na Europa, no fim do século
XVIII, tomando forma mais nítida, a partir do século XIX, na Inglaterra. Sendo que, na
primeira metade do século XIX, esse movimento registrou a existência de mais de 300
cooperativas. (COLE, 1944, p. 22-23 apud SINGER, 2002).
Ponto comum nos estudos, os primeiros teóricos e as experiências iniciais da economia
solidária surgem em meados do século XIX e resgata a reação dos trabalhadores ao
desemprego decorrente da Revolução Industrial e a resistência contra o avanço da
opressão exercida sobre os trabalhadores pelo capitalismo industrial. (SINGER, 2003;
MOTCHANE, 2000; MANCE, 2003)
39
Tragtenberg (1974) discute que a reação intelectual à Revolução Industrial partiu dos
positivistas ligados ao socialismo utópico como Saint-Simon, Proudhon e Fourier, que
teriam se notabilizado por negar o espírito revolucionário e louvar as soluções pacíficas
e organizadoras de restauração do progresso e da ordem social. (TRAGTENBERG,
1974 apud PAES DE PAULA, 2008).
Mas, para Motchane (2000), as cooperativas criadas e apoiadas pelos socialistas
utópicos, apresentaram-se como grande fonte de inspiração da economia solidária.
Diante do pensamento liberal, o socialismo utópico de Saint-Simon (1760-
1825) esboça a visão de um sistema industrial cujo objetivo seria buscar o
melhor bem-estar possível às classes trabalhadoras unidas em associações de
cidadãos, e a redistribuição eqüitativa das riquezas seria competência do
Estado. À mesma época, Charles Fourier (1772-1837) inventaria o
falanstério, onde a repartição dos bens se segundo o trabalho entregue, o
capital empregado e o talento. Pierre Proudhon (1809-1865), crítico radical da
propriedade privada, será o precursor de um sistema de círculos de ajuda
mútua no qual o dinheiro é substituído por "certificados de circulação", e no
qual as sociedades trocam serviços (MOTCHANE, 2000, p. 1).
Singer (2002) destaca o trabalho de Robert Owen, britânico e proprietário de indústrias
têxteis, que começou a propor leis de proteção do trabalhador e proibiu o emprego de
crianças, ainda na primeira década do século XIX, além de limitar a jornada de trabalho
em suas indústriais. Em 1817, Owen apresentou um plano ao governo britânico de
construção de Aldeias Cooperativas, nas quais 1200 pessoas produziriam sua própria
subsistência nas terras e em indústrias construídas com os fundos de sustento dos
pobres. A produção excedente poderia ser trocada entre as Aldeias.
Sobretudo o marxismo se destaca neste cenário de crítica à consolidação do
capitalismo. Por ser uma filosofia da ação, baseada na vontade humana, seu ponto de
partida seria uma revolução a fim de destituir a classe burguesa de seu poder e
instaurar o governo dos proletariados.
Para Motchane (2000), outra fonte de inspiração foi o cristianismo social, corrente de
pensamento reformista que defendia a formação de entidades operárias cristãs.
40
Não obstante, foi sob a forma do cooperativismo que a economia solidária apresentou
fases de significativo crescimento. Segundo Singer (2002, p. 81) “... as cooperativas
eram tentativas por parte de trabalhadores de recuperar trabalho e autonomia
econômica, aproveitando as novas forças produtivas”. Sua estruturação retoma
algumas características da tradição da luta do movimento operário contra a pobreza e a
miséria. Essa primeira fase da história da economia solidária se constituiu de
“cooperativismo revolucionário” com evidentes associações com as reivindicações
operárias e socialistas do capitalismo.
1.4 A economia solidária do século XX
O crescimento do desemprego e da pobreza na Europa, na década de 80, estimulou o
surgimento de novas empresas sociais como resposta a novas necessidades de
geração de emprego e renda. Diante da incapacidade das administrações públicas para
imaginar e por em prática soluções eficazes de combater o grave quadro de pobreza e
desemprego, na Itália, as cooperativas de solidariedade social; bem como seu
agrupamento, os consórcios, se consolidaram a partir da promulgação da lei de 1991.
Estas cooperativas tanto foram uma alternativa de geração de emprego e renda, como
atenderam as necessidades básicas de consumo. (MOTCHANE, 2000)
Segundo Mance (2003, p. 1) o Parlamento Europeu, em 1998,
... apoiou todas as práticas de comércio eco-solidário entre a União Européia e
suas ex-colônias. A França tem hoje uma Secretaria de Economia Solidária e o
Estado e as coletividades delegaram uma parte da ão social e do esforço de
inserção a instituições locais de economia solidária, mantendo, entretanto, o
auxílio financeiro (MANCE, 2003, p. 1).
No entanto, o movimento por uma economia solidária atravessou períodos de declínio
no século XX, como por ocasião da implantação do Plano Marshall na Europa. A
iniciativa propunha a reconstrução dos países aliados da Europa nos anos seguintes à
Segunda Guerra Mundial. O plano permaneceu em operação por quatro anos fiscais
41
(1947-1951) e os países beneficiados cresceram consideravelmente. Os efeitos
proporcionados pelo pleno emprego e a conquista de direitos para os assalariados
diminuíram a procura por outras formas de organização do trabalho, de alternativa
emancipatória ao sistema capitalista, e ao assalariamento do trabalhador.
No Brasil, a economia solidária surge mais tarde, no final do século XX, como resposta
às mudanças estruturais, de ordem econômica e social, ocorridas no mundo nas últimas
décadas.
Contudo, o desenvolvimento da economia solidária no Brasil evidencia que o
movimento, também, não é uma causa unívoca.
Singer (2002), numa crítica aos efeitos alienantes da conquista de direitos para os
trabalhadores assalariados regidos pela CLT, diretamente relacionada com a visão
anarquista que sustenta sua defesa da autogestão, acredita que um dos seus efeitos
negativos foi o surgimento de uma classe média operária acomodada no
assalariamento. Esta teria se apoiado numa militância sindical que lutava pela
conservação do emprego e do assalariamento, como uma espécie de recompensa
social que compensaria a alienação e a subordinação na estrutura organizacional
capitalista da produção.
Este contexto é apontado como uma das causas do desinteresse pela economia
solidária e pelo ingresso do assalariamento nas cooperativas provocando uma
degeneração qualitativa das mesmas, segundo o autor. (SINGER, 2002).
Contudo, o processo de globalização, como um fenômeno capitalista complexo, que se
desenvolveu a partir da Revolução Industrial, aumentou o ritmo das mudanças no
mercado de trabalho. A criação da modalidade de outsourcing de empregos, a
precarização das relações formais, a desregulamentação das relações de trabalho, e o
consequente aumento da informalidade afirmaram-se como tendência em uma
conjuntura de desemprego a partir da década de 80.
42
O desemprego estrutural, fruto da automação e informatização dos processos de
trabalho, somado ao desemprego contingencial, como efeito das crises econômicas que
abateram o Brasil neste período, levaram os trabalhadores a se sujeitar a ocupações
precárias em que seus direitos sociais são abdicados para garantir sua sobrevivência.
Os efeitos alienantes do assalariamento, na visão de Singer (2002), sofrem um declínio
neste período. O aprofundamento dessa crise abriu espaço crítico e institucional para o
surgimento e avanço de outras formas de organização do trabalho, conseqüência, em
grande parte, da necessidade dos trabalhadores encontrarem alternativas de geração
de trabalho e renda.
Desde então as experiências coletivas de trabalho e produção se disseminaram nos
espaços rurais e urbanos. A economia solidária se expandiu a partir de iniciativas
associativas comunitárias e pela constituição e articulação de cooperativas populares
de produção e consumo, das associações de produtores, redes de produção e
comercialização, feiras de cooperativismo e economia solidária, empresas de
autogestão, entre outras formas de organização.
Esse foi o período de expansão da economia solidária que também vem recebendo,
nos últimos anos, crescente apoio de governos municipais e estaduais. O número de
programas de economia solidária tem aumentado, com destaque para os
empreendimentos solidários de financiamento, como os bancos do povo.
1.5 Economia Solidária: um novo projeto de sociedade ou uma solução reformista
pró-trabalho e renda?
O Brasil viveu, mais fortemente no final do século passado, o desmonte da estrutura de
sustentação das políticas sociais de um Estado de Bem-Estar, destinadas a reduzir os
impactos perversos do capitalismo moderno. Os efeitos deletérios dessas políticas de
43
corte neoliberal foram sentidos principalmente nas crises econômicas dos anos 80 e 90
que aprofundaram a crise estrutural do mercado de trabalho do país.
No Brasil, tornou-se imperativa a criação de políticas de fomento e incentivo à geração
de trabalho e renda capazes de combater os males da crise estrutural, assim como a
dificuldade fragrante de acesso ao trabalho formal.
A economia solidária vem se apresentando, nos últimos anos, como uma alternativa
inovadora de geração de trabalho e renda e uma resposta em benefício da inclusão
social.
Diante de tal conjuntura, foi criada a Secretaria Nacional de Economia Solidária
(SENAES), no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), com a publicação da
Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída pelo Decreto n° 4.764, de 24 de junho
de 2003. (MTE, 2009).
A secretaria é resultado da proposição da sociedade civil, organizada em torno do
Grupo de Trabalho (GT) da Economia Solidária, do Fórum Brasileiro de Economia
Solidária, apresentada ao Governo Federal.
A SENAES fomenta e coordena atividades de apoio à Economia Solidária em todo o
território brasileiro, visando à geração de trabalho e renda, à inclusão social e à
promoção do desenvolvimento justo e solidário. Soma-se a outras iniciativas do MTE
que buscam fomentar, incentivar e financiar políticas de geração de trabalho e renda,
tais como o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço (FGTS) e o Sistema Público de Emprego, Trabalho e Renda (Spetr).
É perceptível o conteúdo reformista na proposta da SENAES e de vários autores que se
dedicam ao tema. Neste sentido, o conceito de economia solidária alcançaria objetivos
de alternativa à crise do emprego e afasta-se da perspectiva de alternativa
emancipatória ao sistema capitalista.
44
No entanto, não se deve perder de vista que o mercado é provido essencialmente pela
lógica capitalista de produção e regulação social. Assim, não são inteiramente claros os
caminhos para o sucesso em empreendimentos que se fundamentam em relações de
colaboração solidária, calcadas em valores culturais, sociais, econômicos e políticos,
que concebem o ser humano na sua integralidade, buscando posicioná-lo no início,
meio e fim da atividade econômica.
Os valores, prática e cnicas da economia solidária divergem daqueles difundidos e
compartilhados pelo capitalismo, tais como: o poder centralizado e hierarquizado;
separação entre trabalho e posse dos meios de produção; a acumulação do capital; a
negação, ou manipulação dos conflitos, o uso de mecanismos de controle social, entre
outros.
Forma-se, portanto, a ideologia da harmonia administrativa, desenvolvida por
Tragtenberg (1974) e explanada por De Paula (2008):
(...) ao dissimular a natural tensão entre os interesses dos empresários e dos
trabalhadores, dispersa as energias individuais e sociais direcionadas para a
democratização das relações no mundo do trabalho. Isso possibilita a
perpetuação das relações de dominação, reduzindo as perspectivas de
emancipação humana nas organizações. Em outras palavras, a harmonia
administrativa favorece a produtividade e a ordem nas organizações, mas está
muito longe de promover a liberdade do trabalhador e viabilizar a autogestão
(PAES DE PAULA, 2008, p. 14).
Assim, convém ir devagar com o andor. A ideologia reformista sob a bandeira do
trabalho e renda posiciona a Economia Solidária como um coadjuvante do sistema
capitalista, servindo aos seus interesses de manutenção do status quo, via ocultação
dos conflitos políticos, econômicos e sociais que o cerca.
Dentro da perspectiva de alternativa emancipatória ao sistema capitalista, a Economia
Solidária possibilita que os conflitos presentes no sistema capitalista sejam
equacionados como uma questão de partilha de poder.
45
No Brasil, revela-se em franca expansão essa visão haja vista o engajamento revelado
em inúmeros encontros de organizações ditas de economia solidária dos diversos
quadrantes do país.
Segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), hoje, além do Fórum
Brasileiro de Economia Solidária, existem 27 fóruns estaduais com milhares
empreendimentos, entidades de apoio e rede de gestores públicos de economia
solidária em todo o território brasileiro. (SENAES, 2009)
É um verdadeiro movimento social, organizado em redes de trabalhadores e
trabalhadoras que colaboram na construção de novas relações econômicas e sociais
com princípio ético-político que se afastam do paradigma capitalista moderno - apoiado
na separação entre trabalho e posse dos meios de produção e na acumulação privada
de riqueza e capital.
O capital da empresa solidária é possuído pelos que nela trabalham e apenas
por eles. Trabalho e capital estão fundidos porque todos os que trabalham são
proprietários da empresa e não proprietários que não trabalhem na
empresa. E a propriedade da empresa é dividida por igual entre todos os
trabalhadores, para que todos tenham o mesmo poder de decisão sobre ela.
Empresas solidárias são, em geral, administradas por sócios eleitos para a
função e que se pautam pelas diretrizes aprovadas em assembléias gerais ou,
quando a empresa é grande demais, em conselhos de delegados eleitos por
todos os trabalhadores (SINGER, 2002, p.81).
Um dos objetivos deste esforço é conjugar as potencialidades de produção, venda e
consumo, a troca livre e solidária de saberes e informações, a busca de solução através
de ações locais, o aumento dos espaços de discussão e ação coletiva e o
fortalecimento na luta contra a exclusão e a marginalização.
Nesse sentido, compreende-se por economia solidária o conjunto de atividades
econômicas e sociais de produção de bens e serviços, comércio justo, consumo
solidário, poupança e crédito solirio organizado sob a forma de cooperativas de
produção, crédito, habitação, seguro saúde, educacionais; além de clubes de troca;
associações comunitárias de crédito e banco do povo, bem como, empresas
46
autogestionárias, redes de cooperação, entre outras. Sendo que somente as
organizações que praticam a auto-gestão, podem ser consideradas como
empreendimento solidário.
Considerando essa abordagem, a economia solidária possui as seguintes
características: a) cooperação; b) autogestão; c) dimensão econômica; d) dimensão
social.
a) Cooperação;
Cobre a existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e
capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a
responsabilidade solidária (MTE, 2010).
b) Autogestão;
É o controle direto dos meios de produção pelos produtores auto-organizados. Os
cooperados e/ou associados das organizações exercem atividade participativa de
autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e operacionais dos
empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e
interesses, etc. “Os apoios externos, de assistência técnica e gerencial, de capacitação
e assessoria, não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros
sujeitos da ação”. (MTE, 2010).
c) Dimensão Econômica;
É uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos pessoais e de
outras organizações para fabricação, beneficiamento, comercialização, consumo e
crédito. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica, permeados por
critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais.
(MTE, 2010)
47
d) Dimensão Social.
Expressa na justa distribuição dos resultados alcançados; na equidade de
oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e da melhoria das
condições de vida dos participantes; nas relações que se estabelecem com a
comunidade local; na participação ativa nos processos de desenvolvimento sustentável
de base territorial, regional e nacional; no compromisso com um meio ambiente
saudável; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter
emancipatório; na preocupação com o bem-estar dos trabalhadores e consumidores; e
no respeito aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. (MTE, 2010)
Contudo, a expectativa em torno do caráter alternativo da economia solidária como um
novo modo de produção a superar o modo de produção capitalista exige que se faça
algumas ponderações.
Como assinala Martins (2000, apud GAIGER, 2004), anos instalou-se uma crise na
intelectualidade de esquerda, por sua dificuldade em produzir uma teoria da prática
atual e real das classes subalternas. Esse desencontro entre teoria e prática não é um
fenômeno novo e registrou-se em outros momentos da nossa história política.
A questão tornou-se objeto de intensa discussão, na qual se manejam com
freqüência teses e categorias da economia política marxista - leito de
navegação tradicional do pensamento da esquerda - sustentando
argumentações e respostas de natureza, sobretudo, ideológica e programática.
Nesse contexto, as tentativas de teorizar o tema, com os cuidados que a tarefa
requer, correm o risco de serem apreciadas diretamente por seu impacto
político, por seus efeitos de legitimação sobre as elaborações discursivas
politicamente em confronto, dotadas de elevado grau de finalismo, de
ingredientes teleológicos próprios das ideologias (GAIGER, 2004, p. 184).
A tese apresentada possui conseqüências amplas e profundas e a pressa em formular
respostas seguras é suscetível de críticas. As associações da economia solidária a um
novo modo de produção, não-capitalista (SINGER, 2002; VERANO, 2001) são vista por
48
Gaiger (2004) como formulações precipitadas, chancelando tomadas de posição e
juízos vulneráveis.
Cabe à teoria elucidar as condições para que determinados processos de mudança
social tenham lugar. Diante deste exercício, Gaiger (2004) deixa estremecida a noção
de que a economia solidária constitui uma alternativa ao capitalismo, ao evidenciar a
complexidade dos fatores em jogo.
A introdução de novas forças produtivas, em antítese às que sustentam o modo
material de produção dominante, é um processo eminentemente social, sujeito
a descontinuidades e a reveses, não um fruto instantâneo da materialidade.
Novos arranjos sociais lhe são imprescindíveis para que ponha em xeque, por
contraposição e substituição, as relações de produção com ela incompatíveis,
assim reafirmando, ao longo do tempo, a sua forma social específica.
Desdobrada em repetidos vais-e-vens, em capítulos de desenlace incerto, a
essa dialética os fatos levam a crer que estamos presenciando (GAIGER, 2004,
p. 205).
Conclui-se que os empreendimentos solidários estariam aptos a credenciarem-se como
formas consistentes de vida econômica realmente alternativa caso as múltiplas
iniciativas solidárias se integrassem, na construção de um projeto de sociedade lógica e
socialmente correspondente.
Do contrário, a multiplicação de iniciativas concretas pode deparar-se, em pouco tempo,
com a ausência de ambientes e de mecanismos de retroalimentação, com o risco de vir
a se diluir na economia de mercado. (GAIGER, 2004).
Ressalta-se que é essencial um nível avançado de articulação entre os diversos atores
sociais e de envolvimento da população para se atingir o desenvolvimento desse tipo
de iniciativas.
1.6 O potencial democrático do uso das TICs pela Economia Solidária
Percebe-se que a proeminência da mediação das relações sociais pelas TIC´s na
contemporaneidade vem reconfigurarando os padrões de produção, consumo, de
49
relacionamento interpessoal e de grupos. Conhecimento e informação tornaram-se
fonte de valor econômico, estratégico, político, tecnológico e sóciocultural.
No entanto, o uso democrático destas tecnologias aparece ora como possibilidade
negativa (absoluta ou relativa), ora como alternativa de salvação ou de superação das
relações fetichistas do capital.
No desenvolvimento desta pesquisa, buscou-se estabelecer um posicionamento crítico
com relação a este assunto. Entende-se que a importância das TICs como meio de
superação das limitações de tempo, espaço e, mais recentemente, de informação e
conhecimento necessários para o aumento da produtividade é indiscutível. Portanto,
admitem-se as virtualidades que traz a apropriação desta tecnologia. Contudo, sabe-se
que grandes contingentes populacionais, nos quatro cantos do país, ainda apresentam
baixa escolarização ou escolarização deficiente e que a eletricidade quando chega é
tomada como uma revolução social. Logo, é compreensível que não haja, ainda, uma
conscientização sobre o potencial representado pelas TICs.
A despeito deste quadro social e ideológico ainda desfavorável, as comunidades
virtuais, as redes sociais virtuais, os fóruns de discussão, os blogs, e tantos outros
sistemas têm se mostrado como ferramentas de expressões e ações coletivas,
moldadas graças à sinergia entre as pessoas e organizações e pela via rede mundial
de computadores, a Internet.
Observa-se o surgimento recente de uma tendência de uso das TIC´s pelo poder
público como meio de realização da governança local, digitalizar documentos, acelerar
processos arrecadatórios de tributos, etc. No entanto, assevera Frey (2002, p.1), que “...
boa parte dos governos locais está ainda na prestação on-line de serviços públicos”.
O uso de metodologias e tecnologias de expressão e ação coletiva em rede pode
fortalecer a economia solidária, uma vez que a integração dos conhecimentos
adquiridos e compartilhados por diversas pessoas, globalmente dispersas, tende a
desconcentrar os poderes centralizados e hierarquizados e valorizar a participação de
50
cada indivíduo, proporcionando aos EES o poder de se multiplicar, com enorme
sucesso, pela Internet.
1.7 A atuação em rede como uma nova forma de militância social, cultural, política
e econômica
Entende-se por redes sociais um ou mais conjuntos finitos de atores, ou eventos, e as
relações definidas entre eles. (WASSERMAN; FAUST, 1994 apud SILVA; MATHEUS,
2006).
Os atores são pessoas ou organizações que estejam “interagindo em causa própria, em
defesa de outrem ou em nome de uma organização.” (AGUIAR, 2006, p. 11).
Segundo a pesquisadora, as redes tendem a ser abertas à participação e podem ser
fomentadas por pessoa ou grupos com poder de liderança, que articulam indivíduos em
torno de interesses, necessidades e/ou objetivos comuns.
Essa abertura também está presente quando se analisa sua finalidade. A motivação
inicial que gera a rede e que serve para aglutinar seus participantes tende a se
desdobrar em subsistemas não-deterministas de interesses específicos. Não
possibilidade de previsão nem de garantia de controle de todas as interações que nela
vão surgir”, assevera Aguiar (2006, p. 11).
As redes sociais são, portanto, estruturas dinâmicas não-lineares e flexíveis por meio
das quais as pessoas realizam trocas, interagem em ações, fundam e demonstram
laços sociais.
A estrutura de rede, por definição, não-linear e flexível, possibilita um tipo especifico de
articulação e interação em ações em prol do desenvolvimento local.
51
Verifica-se, portanto, o surgimento de novos espaços de militância social, cultural,
política e econômica, que vem sendo possibilitado pela apropriação da metáfora de
rede pela sociedade civil.
A articulação da sociedade civil em rede segundo Adulis (2005) tem como objetivo
favorecer: a) a circulação e a troca de informações; b) o compartilhamento de
experiências; c) a colaboração em ações e projetos; d) o aprendizado coletivo e a
inovação; e) o fortalecimento de laços entre os atores; f) a manutenção do espírito de
comunidade; e g) a ampliação do poder de pressão do grupo.
Minhoto e Martins (2001) também perceberam que a noção de rede tem sido
apresentada como um novo modelo de interpretação e organização das relações
sociais.
Na perspectiva dos movimentos sociais,
(...) a rede tende a aparecer como ferramenta capaz de construir novas formas
de agregação de interesses e reivindicação de demandas (...) destinada
prioritariamente a auxiliar na construção de uma sociabilidade solidária
(MINHOTO; MARTINS, 2001 p. 89).
A ação coletiva em rede propicia a reconfiguração das relações sociais, ampliando as
formas de se posicionar criticamente no mundo. A Internet tem um papel significativo
nesse movimento, haja vista ser um instrumento que encurta distâncias e facilita o
acesso, o controle e o armazenamento de informações, além de permitir a criação de
espaços virtuais favoráveis à ação coletiva, ao debate de idéias e à construção
colaborativa de conhecimento.
A partir dos anos 80, as redes eletrônicas disseminaram-se nos movimentos sociais e
entre os participantes de organizações da sociedade civil.
52
Em 1981, o Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas), que tem como
um de seus principais objetivos a disseminação de informações na sociedade integrou-
se a um projeto internacional chamado Interdoc, cuja finalidade era o uso do correio
eletrônico para o intercâmbio de informações entre ONGs de todo o mundo.
Participavam do projeto dezenas de entidades da África, América Latina, Ásia e Europa.
Contudo, o uso desse sistema ainda era extremamente oneroso.
Em 1996, segundo Aguiar (2007), centenas de atores sociais, participantes de
organizações da sociedade civil e movimentos sociais usavam a comunicação
eletrônica para articular ações, por meio da Rede Alternex.
A Alternex foi o primeiro serviço brasileiro de acesso à Internet fora da comunidade
acadêmica. Pioneiro no serviço internacional de mensagens e conferências eletrônicas,
por meio dela era possível trocar mensagens com diversos sistemas de correio
eletrônico de todo o mundo, incluindo a Internet.
As ONGs ambientalistas foram pioneiras na utilização da Internet, para articulação das
suas redes sociais, via troca de mensagens e conferências temáticas. (AGUIAR, 2007).
Portanto, o campo da forma de expressão e ação coletiva em rede apoiada em TIC
traduz uma inteligência coletiva dos grupos que têm acesso à Internet. Mas
apresentam-se convenientes aos propósitos da modalidade de economia solidária e
fortalecedoras de sua identidade e capacidades ou participantes desta economia
alternativa tem se utilizado dela e dela se apropriado entendendo seus significados e
potencialidades?
Os benefícios do uso das TICs nos processos de interlocução com as esferas políticas
e com o mercado residem no seu potencial de integração na participação social dos
diferentes setores e instituições da sociedade em aplicativos e sistemas, que viabilizem
53
a construção de espaços de convivência, diálogo, participação, consumo, produção e
geração de alternativas para o desenvolvimento local.
54
CAPITULO II CARACTERIZAÇÃO DO SETOR E DA AMOSTRA
Para a realização deste estudo sobre representação, utilização e apropriação da
Internet por EES, foi definida uma amostra intencional de doze empreendimentos do
segmento da produção têxtil e confecção, sediados em Belo Horizonte e cadastrados
no Atlas da Economia Solidária.
A tabulação dos dados dos questionários revelou que as mulheres são maioria absoluta
nos EES deste setor. A pesquisa revelou, ainda, que o número de associados ou
cooperados varia entre 4 e, aproximadamente, 50 trabalhadores.
Um fato importante a ser considerado é que em conversas informais alguns associados
revelaram que os companheiros, filhos e filhas os ajudam, ainda que ocasionalmente,
em tarefas tais como: transporte de pessoal, logística de mercadorias e pesquisa na
Internet. Mesmo assim, esses “trabalhadores ocasionais” o foram adicionados aos
números expostos acima.
A feira parece ser o principal canal de distribuição dos produtos, tendo sido citado por
todos os EES consultados. Além da feira, a venda por meio de lojas próprias e a
atuação em clubes de compra e troca apareceram na amostragem, ainda que em
reduzido número.
Embora a intenção da pesquisa fosse de se ater ao setor de produção têxtil e
confecção, os dados mostraram que é alta a diversidade de produtos que compõem o
mix de produtos dos EES pesquisados. Dentre os principais produtos constam:
brinquedos pedagógicos, bolsas, toalhas de mesa, aventais, carteiras, garrafas de
água, sacolas ecológicas, banners, saias, pintura em tecido, tapetes, barbantes,
sapatos, porta bijuterias almofadas, „bate mão‟, pano de prato, porta pães, etc.
55
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT), o setor
têxtil e de confecção nacional, compreende mais de 30 mil empresas e gera 1,65
milhões de empregos em toda a sua extensa cadeia produtiva.
O Brasil esna lista dos 10 principais mercados mundiais da indústria têxtil,
bem como entre os maiores parques fabris do planeta; é o segundo principal
fornecedor de índigo e o terceiro de malha, está entre os cinco principais
países produtores de confecção e é hoje um dos oito grandes mercados de
fios, filamentos e tecidos (ABIT, 2010).
A extensão territorial, a variedade cultural, o uso de tecnologias socialmente difundidas
e a inexistência de pré determinação da escala de produção permitem que cada região
brasileira atue de modo diferenciado, inovando nos meios de produção e no tratamento
dos tecidos.
Sejam empresas de micro e pequeno porte, pequenas cooperativas ou grandes
corporações, o segmento é de importância estratégica para o desenvolvimento do país.
A indústria do vestuário tem como principais características apresentar baixas barreiras
de entrada, ser intensiva em mão-de-obra, por sua vez caracterizada,
predominantemente, pelo sexo feminino, “... destacando-se também as mulheres como
proprietárias, estilistas e gerentes”. (ANDRADE, 2002).
Números apresentados pela Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), referentes
exclusivamente
9
ao ramo do vestuário, meias e acessórios indicam que o setor oferece
1.051.772 postos de trabalho e absorve indiretamente um contingente de 4.600.000
trabalhadores. (Abravest, 2009)
O uso de tecnologias socialmente difundidas entre o sexo feminino pode explicar a
predominância das mulheres no setor de vestuário. Características culturais
subjacentes ao desenvolvimento de habilidades, práticas e gostos pela moda podem
ser apontadas como fatores desta predominância feminina neste setor.
9
Não incluídos os demais elos da cadeia têxtil: algodão, fiação, tecelagem e linha lar - cama/mesa/banho
56
Apoiando-se em dados da Abravest e do Instituto de Estudos e Marketing Industrial
(IEMI), ANDRADE (2002) revela que as unidades produtivas do ramo de vestuários
concentram-se na Região Sudeste e que Minas Gerais detém o terceiro maior número
dessas indústrias.
Um estudo sobre o Mercado de Vestuário no Brasil, promovido pelo IEMI, em 2008,
revela alguns dados desse ramo: a) o perfil de suprimento; b) canais de distribuição; c)
perfil da demanda; c) poder de compra.
Tabela 1 - O Mercado de Vestuário no Brasil
Perfil de suprimento
Perfil da Demanda
1% vai para a exportação;
99% para o consumo interno;
Vendas no Varejo alcançaram US$ 43
bilhões (em 2007);
105 mil pontos de venda especializados
(75% dos volumes);
8 mil organizados em redes (são 740
redes especializadas);
Redes especializadas (1) respondem
por 37% dos volumes;
As 5 maiores respondem por 11% do
valor total comercializado;
Importados alcançaram, em 2007, 3,5%
do volume consumido.
70% é consumido pelas classes B e C
(63% da população);
18% é consumido pela classe A (5% da
população);
61% do consumo ocorre nas 150
maiores cidades do país;
Em 12 anos, 30 milhões de
consumidores a mais no mercado.
Resultado: mais consumidores, com
maior poder de compra
Em 12 anos, a renda per capita
aumentou 15% (em termos reais)
Perfil de compra
Canais de distribuição
O consumo de vestuário é maior na
classe B (39%), seguido da classe C
(31%)
A classe A apresenta a 3ª maior fatia.
Grandes lojas varejistas especializadas
são o principal canal de
venda/distribuição
Se considerado o atacado, as pequenas
lojas independentes superam as
grandes redes.
FONTE: IEMI
57
A roupa e os acessórios, produtos da indústria do vestuário, se caracterizam pela
sazonalidade das tendências de modelos, fato típico do campo da moda, determinado
por fatores diversos de ordem temporal, cultural, geográfica e mercadológica. Segundo
Andrade, “A dualidade da roupa, enquanto bem econômico e simbólico, congrega
informações de diversas áreas, como econômica, gerencial, do campo da moda e do
contexto sócio-cultural.” (ANDRADE, 2002, p. 40)
Essas contingências se fazem presentes desde a concepção da idéia, à produção e
distribuição dos produtos para os clientes. Cabe, assim, indagar: que imagem
(concepções e símbolos) os EES possuem sobre a Internet com relação ao potencial e
significado desta rede para esta modalidade de economia? Quais têm sido as formas
concretas de utilização (experiências, duração, modalidades e tipos de utilização) da
Internet por estes empreendimentos? c) A utilização da Internet por EES tem resultado
em apropriações convenientes aos propósitos desta modalidade de economia e
fortalecedoras de sua identidade e capacidades?
58
CAPÍTULO III - REPRESENTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS
SOLIDÁRIOS SOBRE A INTERNET
Por representação está se entendendo, nesta investigação, os recursos de linguagem
que os entrevistados dos empreendimentos econômicos solidários selecionaram para
descrever ou evocar suas percepções e imagens sobre a Internet. Dita de outro modo,
são as concepções e símbolos que os entrevistados conferem à Internet e que servem
para sinalizar o significado que esta rede pode ter para esta modalidade de economia.
Na análise quanti-qualitativa das variáveis submetidas à análise, efetuou-se a
distribuição de frequências das mesmas utilizando o Ranking Médio (RM). A equação
abaixo traduz o cálculo da média, tomando-se as frequências como peso para os
valores das medidas ponderadas na base da categoria de opinião:
Ranking Médio (RM) = (freqüência da categoria de opinião) x (escala atribuída)
total de opiniões
Realizou-se a verificação quanto à concordância ou discordância dos respondentes
face às questões avaliadas por meio da obtenção do RM da pontuação atribuída às
respostas, relacionando à frequência das respostas dos respondentes que fizeram tal
atribuição, onde os valores menores que “0” foram considerados como discordantes e,
maiores, como concordantes, considerando-se a escala utilizada de 5 pontos. O valor
“0” corresponde à alternativa “sem opinião” ou “recusaram opinar”.
A escala atribuída às afirmações é a seguinte: -2. Discordo totalmente; -1. Discordo
parcialmente; 0. Não concordo, nem discordo; 1. Concordo parcialmente; 2. Concordo
totalmente. Ao longo das 24 afirmações, o instrumento apresenta 8 itens com afirmação
negativa. Na tabulação destes dados, a escala atribuída foi invertida e esses itens
receberam: 2. Discordo totalmente; 1. Discordo parcialmente; 0. Não concordo, nem
discordo; -1. Concordo parcialmente; -2. Concordo totalmente.
59
Buscou-se analisar as assertivas em conjunto, por critério de proximidade simbólica das
questões.
0
2
4
6
8
10
12
A Internet é revolucionária, entretenimento ou perda de tempo?
A Internet é revolucio nária”
0
0
0
3
9
A Internet é uma perda de tempo
5
7
0
0
0
A Internet é antes de tudo uma forma de
entretenimento/diversão
4
3
2
3
0
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 1 Opinião sobre a Internet: revolucionária, entretenimento ou perda de
tempo
A leitura do gráfico permite afirmar que a Internet é reconhecidamente vista como uma
revolução pelos respondentes. Essa assertiva ocupou o primeiro lugar no Ranking
Médio (RM=+1,75) aproximando-se da plena concordância (RM= +2).
Os respondentes se manifestaram favoráveis à ideia de que a Internet é revolucionária.
De fato, por ela, qualquer pessoa pode acessá-la e publicar informações. Como
princípio, o direito de acesso livre deveria ser garantido a todos, inclusive aos que não
possuem recursos financeiros e materiais.
Por outro lado, sabe-se que é preciso tomar muito cuidado justamente pelo mesmo
motivo: informações distorcidas ou falsas podem ser publicadas por pessoas com
interesses duvidosos. Considerar a Internet como mídia totalmente revolucionária no
60
sentido de fomento da democracia também exige cautela porque tentativas de controlá-
la não são poucas, apesar de não reconhecer-se ainda uma única experiência positiva
neste sentido.
Quando perguntados se a Internet é uma perda de tempo, os EES se posicionaram
contrários a esta ideia (RM=+1,42). Ainda que 58% tenham discordado parcialmente,
demonstrando. portanto, a existência de algum nível de desconfiança para com a
Internet, a assertiva não recebeu um único voto concordante, nem neutro.
Os mesmo percentuais (58%) dos EES discordaram quando perguntados se a Internet
é antes de tudo entretenimento e diversão. Isso implica dizer que os EES do setor de
confecções de Belo Horizonte conferem à Internet uma importância maior, e que essa
ultrapassa a noção de espaço de entretenimento e lazer, ainda que também possa ser
representada assim. Isso ficará mais evidente nas análises que se seguem.
A figura seguinte complementa a análise desenvolvida acima, quando mostra a opinião
dos EES a respeito da eficiência da Internet na melhoria da comunicação, tanto
pessoal, quando organizacional.
61
0
2
4
6
8
10
12
A internet melhora a comunicação?
A Internet permite melhorar a comunicão
entre as pessoas
0
0
0
4
8
A Internet permite melhorar a comunicão
entre as organizações
0
0
1
2
9
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 2 Opinião sobre a Internet melhorar a comunicação
Para os respondentes, a revolução da Internet parece ser muito visível em seu poder de
melhorar a comunicação. Os empreendimentos solidários pesquisados concordaram
com as assertivas (RM = 1,67), ainda que 33% deles concordem parcialmente com a
assertiva direcionada às pessoas.
Mudanças operadas na comunicação interpessoal e organizacional acarretada pela
Internet são pontos visíveis e amplamente debatidos, pois a produção de conteúdo on-
line se tornou bastante acessível, sendo possível veicular todo tipo de mídia (texto, foto,
som, vídeo, multimídias, etc), além de permitir a construção de todo tipo de “estilo”
(jornalístico, documentário, música, etc).
De fato, a facilidade de exposição de ideias e estilos proporciona uma variedade
enorme de opções de conteúdos por meio da Internet, em contraste com os tradicionais
veículos de mídia (televisão, jornal, rádio, etc), presos, nos espectros eletromagnéticos
de transmissão ou no suporte midiático que requerem para veicular sua produção.
62
Um estudo recente realizado pela PostRank, uma empresa que monitora
acontecimentos e que coleta informações correlacionada com o conteúdo on-line na
Web, mostra como as pessoas estão se comunicando e o que vem mudando na
comunicação social. A adesão à comunicação em tempo real cresce anualmente 30%.
Em 2008, o estudo registrou 342 milhões de pessoas se comunicando por meio de
mídias ou ferramentas sociais. No ano de 2009, esse número pulou para 588 milhões
de internautas que compartilham informações ou debatem em rede. Mais do que nunca
pessoas estão compartilhando, re-tweeting e inserindo links em conteúdos. A
profundidade desse envolvimento e a frequência das comunicações ficam evidentes
quando se analisam os contundentes números das principais mídias sociais: por minuto
são enviados 6000 tweets, 200 comentários são publicados no Wordpress e 150
bookmarks são fixados no Delicious. (POSTRANK, 2010)
Logo, para as organizações é imprescindível o uso da comunicação para suas diversas
dimensões: a interna; a institucional; a de captação de recursos; a de prestação de
contas; a de promoção; dentre outras. Entende-se que o processo comunicacional das
organizações deve dar ênfase também ao aspecto relacional da comunicação.
A Comunicação Mediada por Computador (CMC) possibilita a troca de informações, em
tempo real, entre pessoas de diferentes localidades geográficas, possibilitando a
criação da rede. A comunicação neste ambiente pode dar-se de "um-para-um", "um-
para-muitos" ou até mesmo "muitos-para-muitos" e é que se encontra o grande
diferencial da Internet em relação aos outros meios de comunicação: a capacidade de
interatividade e a construção de relações.
Contudo, estariam os empreendimentos solidários pesquisados conscientes dessas
possibilidades? Estariam eles engajados nessa cultura digital, compartilhando saberes,
colaborando coletivamente e comunicando sua ética solidária ao mercado e à
sociedade?
63
0
2
4
6
8
10
12
A internet favorece a educação e a pesquisa?
É mais agradável aprender com a Internet do
que com os livros
0
4
2
4
2
Para fazer uma pesquisa os livros são mais
eficazes que a Internet
5
2
0
5
0
A Internet é uma ameaça para a ngua
portuguesa”
4
5
0
1
2
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 3 Opinião sobre a Internet favorecer a educação e a pesquisa
Quando questionados sobre a eficácia dos livros, frente à Internet, na recuperação de
dados, como se requer em pesquisas, os EES se dividiram, havendo um certo equilíbrio
entre os que discordam (58,3%) e os que concordam (41,7%). O Ranking médio dessa
assertiva foi de apenas +0,58.
A curiosidade deste resultado está relacionada à consagrada agilidade que a Internet
possui na recuperação de dados, principalmente, quando do surgimento e
aprimoramento dos mecanismos de busca. Solução essa de grande uso e valor aos
que navegam e pesquisam na Web a partir de palavras-chave.
A Internet facilita o trabalho de pesquisa porque a informação vem em tempo real, de
fontes globalmente localizadas. O internauta tem acesso a livros eletrônicos, materiais
didáticos, apostilas, apresentações, deos, etc, na comodidade do lar, do escritório, ou
em qualquer outro lugar coberto por conexão a rede sem fio.
64
De fato, o acesso à produção científica também é um marco qualitativo na rede,
acumulando experiências de divulgação e construção colaborativa de material didático
de livre acesso. Neste sentido, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia (Ibict), lançou o projeto do Portal de Livros Didáticos Eletrônicos, em fase de
implementação pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT); o Livro Didático Público,
desenvolvido pelo Projeto Folhas, da Secretaria da Educação do Estado do Paraná; e a
Wikilivros são experiências de material didático de livre acesso. (MOCHIUTE, 2009)
No sentido do ditado que diz que “uma imagem vale mais que mil palavras”, o Google
lançou recentemente mais um aplicativo relacionado à busca de informações na
Internet, que usando imagens. Ele se chama Google Goggles e permite ao usuário
de celulares e outros dispositivos móveis que rodam o sistema operacional Android 1.6
ou superior, ao invés de digitar seus critérios de pesquisa (palavras-chave), apenas
“aponte” o celular e fotografe. A busca visual é uma tecnologia ainda incipiente, mas
permite a pesquisa de marcos históricos e tusticos, capas de livros, obras de arte, etc.
Assim, para esse tipo de pesquisa, não importa a língua e ortografia local.
Ao se confrontarem com a assertiva: “É mais agradável aprender com a Internet do que
com os livros”, mais uma vez os dados obtidos revelam um certo equilíbrio dentre os
respondentes. Concordaram com a afirmação 50% deles; o restante se dividiu em
discordantes (33,3%) e não souberam opinar (17,3%).
Hoje, certamente, a Internet ajuda na democratização do aprendizado. Desde seu
início, experiências que visavam testar seu potencial como ambiente de aprendizagem
vem sendo construídas, com relativo sucesso. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem
(AVA) permitem que o aluno seja ativo no processo de aprendizagem e tenha o controle
de seus estudos. Os aprendizes participam das aulas através de chats, de portfólios, de
vídeo-aula, de fóruns de discussão e o utilizam com outros alunos para esclarecer
dúvidas, que são mediadas por tutores, monitores ou professores. Nestas ferramentas
65
os próprios alunos podem responder às vidas dos colegas, contribuindo
coletivamente para o acúmulo e uso do conhecimento.
Assim sendo a Internet é uma ferramenta poderosa para o aprendizado, mas requer
leitura, pesquisa, contextualização, comparações, como em qualquer outro ambiente de
aprendizado - o que pode oferecer barreiras a alguns.
Em um espaço tão promissor para a educação formal (assim como para a
experimentação de novas relações com o saber e o aprender), a Internet é,
frequentemente, acusada por alguns linguistas, educadores e pensadores de toda a
ordem de ser um território com pouca preocupação com os aspectos formais da língua.
É visível em comunicação por meio de aplicativos ou sistemas de mensagem
instantânea (IM), tais como o MSN, ICQ, e o Yahoo Messenger, o uso de abreviações;
forma de grafia que tenta imitar a linguagem infantil; emoticons; e outros símbolos
utilizados para agilizar a escrita e a comunicação.
No entanto, ao contrário do que muitos pensam, é sensível que algumas formas de
escrever podem ser ainda mais trabalhosas do que a escrita normal, como o recurso
comum de alternar letras maiúsculas com minúsculas.
Por ser um assunto polêmico, foi introduzida na pesquisa uma questão que buscou
saber se os respondentes viam na Internet uma ameaça à língua portuguesa. O
resultado indica que 75% dos EES discordam desta possibilidade. Este resultado talvez
tenha a ver com o fato de poucos relataram utilizar os IM e chats, onde os desvios de
linguagem estão mais presentes, como se pode observar no capítulo que trata sobre o
comportamento de uso da Internet.
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0
2
4
6
8
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12
É fácil utilizar a internet?
Aprende-se muito facilmente a utilizar a
Internet
0
6
0
2
4
Para utilizar a Internet, é necessário
conhecer bem inglês
5
3
3
0
1
Para utilizar a Internet é preciso conhecer
bem informática”
3
2
2
2
3
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 4 Opinião sobre a facilidade de uso da Internet
Apesar de indicarem que a Internet é revolucionária, que melhora a comunicação e que
facilita o aprendizado por meio dela, os respondentes mostraram-se divididos (50%
concordam e outros 50% discordam) sobre a assertiva que buscou saber se é muito
fácil aprender a utilizar a Internet. Com RM=+0,33 essa assertiva se aproximou da
opção neutra (RM=0) e poderia representar o motivo pelo qual 58,3% do EES
pesquisados não utilizarem a Internet no seu esforço de produção, comercialização e
distribuição da produção.
Pelos dados obitidos nessa pesquisa não se pode derivar essa dificuldade de
aprendizado da existência de vernáculos em língua estrangeira, flagrantemente em
inglês. Afinal 67% dos EES discordaram da afirmativa que para utilizar a Internet é
importante conhecer bem o inglês. Por outro lado, a idéia associada à necessidade de
conhecer bem a informática empreenderia uma barreira ao uso da Internet para 42%
dos respondentes. Essa assertiva apresentou RM= 0, posicionando-se em quarto lugar
no ranking, próximo das assertivas que foram avaliadas como negativas na Internet.
67
0
2
4
6
8
10
12
A internet é confiável, indispensável, organizada ou requer
controle?
Uma vez que se tenha começado a utilizar a Internet
não dá para passar sem ela
1
4
2
2
3
M uitas vezes é difícil encontrar o que se procura na
Internet
4
1
4
3
0
Deveria controlar-se o que há na Internet (exemplos:
" sites" racistas, pornográficos, etc.)”
4
0
1
0
7
Normalmente podemos confiar nas informações que
encontramos na Internet
2
5
3
2
0
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 5 Opinião sobre a confiabilidade, importância e controle da Internet.
Entre as assertivas acima, duas se destacam por revelarem uma imagem negativa da
Internet. Quando os EES se depararam com as afirmações do tipo: deveria controlar-se
o que na Internet (...) e não podemos confiar nas informações que encontramos na
Internet, foram obtidas respostas bastante conservadoras, no sentido da necessidade
de controle da rede e denunciando a falta de credibilidade nas informações veiculadas.
Uma crítica mais consistente destas questões é apresentada na análise feita da Figura
8.
Por hora, apresenta-se uma análise das assertivas relacionadas com a dificuldade de
se achar o que se procura na Internet e se a Internet se torna indispensável no dia-a-dia
dos usuários.
Os pesquisados posicionaram-se contrários a assertiva: “Muitas vezes é difícil encontrar
o que se procura na Internet”. No Ranking Médio essa afirmação recebeu a pontuação
+0,50, indicando que as respostas a esta questão não foram hegemônicas. Verificou-se
68
que 33,33% dos EES não souberam ou quiseram opinar sobre a questão e que 25%
opinaram a favor da assertiva, indicando uma dificuldade de se achar o que se procura.
Esse resultado indica que apesar dos vários aplicativos e sistemas de busca alojados
na Internet, principalmente na Web, os resultados das pesquisas nestes sistemas
podem não refletir o que se deseja saber, em termos de precisão, confiabilidade,
formato da informação, etc.
O resultado para a assertiva: “Uma vez que se tenha começado a utilizar a Internet não
dá para passar sem ela” apresentou-se muito próximo ao ponto médio, com RM= +0,17.
Isso indica que a Internet para os EES pesquisados não é percebida como elemento
intrínseco e imprescindível às atividades do seu dia-a-dia.
Esse resultado seretomado quando da análise da assertiva que busca compreender
se a Internet é uma ferramenta indispensável para um empreendimento da economia
solidária.
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0
2
4
6
8
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12
O futuro da Internet
A Internet vai substituir a televisão
3
4
0
3
2
Daqui alguns anos ter Internet vai ser tão
natural como ter telefone ou televisão
0
1
1
2
8
No futuro, as pessoas vão passar a
comprar quase tudo através da Internet
1
1
3
4
3
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 6 Opinião sobre o futuro da Internet
Quando questionados se a Internet substituirá a televisão, os pesquisados revelaram
discordar da assertiva (RM=-0,25) ostentando que a Internet ou não concorre com a
televisão ou que ainda concorrente, a televisão permanecerá como veículo de mídia.
Essa assertiva será analisada com mais propriedade na análise da Figura 9, que traz a
posição das 24 assertivas no RM.
Contudo, apesar de contrários à ideia de substituição e pouco favoráveis à Internet
constituir-se elemento indispensável às suas atividades, os EES posicionaram-se
fortemente a favor da afirmação de que daqui alguns anos ter Internet vai ser tão
natural como ter telefone ou televisão (RM= +1,42).
Quando se observa como esses dois últimos elementos estão, intrinsecamente, ligados
à cultura brasileira, não seria de se estranhar que a presença da Internet, tornando-se
tão natural, não iria incorporar-se, da mesma maneira, no dia-a-dia das atividades dos
70
EES? Estariam, então, esses assumindo uma postura de negação do valor da Internet
no seu dia-a-dia, como artifício de defesa frente às mudanças que a incorporação deste
elemento causaria em seus processos, no relacionamento com o mercado, nos saberes
arraigados, etc? Ou seriam os EES possuidores de uma visão, que não compreende as
potencialidades da Internet, tão disseminadas na literatura científica e incorporadas
pelo senso comum? Ou ainda, compreendendo, ainda sim recusam a dialogar com a
cultura digital por meio da Internet?
Reforçando o valor do questionamento acima, os pesquisados concordaram com a
assertiva que relaciona o comportamento de compra no futuro e o poder da Internet
oferecer o que se deseja ou necessita. Frente a essa ideia, os EES concordam que as
pessoas vão passar a comprar quase tudo por meio da Internet (RM=+0,58).
Isso implica em dizer que eles acreditam que a Internet participará ativamente de um
dos atos mais corriqueiros do dia-a-dia, o da compra. Como poderiam então acreditar,
tão acanhadamente, que não dá para viver sem ela?
71
0
2
4
6
8
10
12
A internet favorece os empreendimentos da economia solidária?
Para trabalhar na sociedade de amanhã vai ser
necessário dominar a Internet
2
0
1
3
6
A Internet favorece o crescimento de cooperativas e
associações”
0
0
3
4
5
A Internet aproxima os empreendimentos de seus
clientes”
0
0
2
4
6
A Internet é uma ferramenta indispensável para um
empreendimento da economia solidária”
1
3
2
3
3
A internet favorece o ativismo político e ajuda os
movimentos sociais”
1
0
5
2
4
A Internet facilita a comercialização justa de produtos
e serviços solidários”
0
1
4
3
4
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
Figura 7 Opinião sobre a Internet favorecer empreendimentos econômicos
solidários
As assertivas agrupadas na figura acima revelam, entre outras coisas, que o fato dos
respondentes acreditarem na necessidade de dominar a Internet para trabalhar na
sociedade de amanhã (RM= +0,92); que a Internet aproxima os empreendimentos de
seus clientes (RM=+1,33); que favorece o crescimento de cooperativas e associações
(RM= +1,17); e que facilita a comercialização justa de produtos e serviços solidários
(RM= +0,82), eles não apresentam firmes convicções sobre a indispensabilidade da
Internet para a economia solidária (RM=+0,33).
Esses dados revelam que uma desconfiança para com a Internet, ainda que não
possa ser possível estabelecer relações de causalidade.
72
Que conclusão chegar ao se deparar com uma imagem, a princípio, contraditória,
representada, por um lado, pelo reconhecimento da Internet como revolucionária, que
aproxima os empreendimentos de seus clientes, que favorece o cooperativismo e
associativismo e a comercialização justa de produtos e serviços solidários; e por outro
lado, pela desconfiança de que esse mesmo instrumento não se tornou indispensável
para esses empreendimentos econômicos solidários, posto que, essa forma de
organização econômica está fundamentada no trabalho associado ou cooperado e na
produção e comercialização justa de produtos e serviços? Algumas hipóteses serão
discutidas na conclusão desta pesquisa e evidenciam, tão logo, a necessidade de
pesquisas mais aprofundadas sobre a temática da virtualidade na economia solidária.
Quando apresentados à assertiva da Internet favorecer o ativismo político e ajudar os
movimentos sociais, percebe-se uma concordância dos entrevistados (RM=+0,67).
Contudo, é significativo o número de EES que não quiseram ou não souberam opinar a
este respeito (33,33%).
Em síntese, a Figura 8 mostra a avaliação geral dos 24 aspectos estudados nessa
dimensão da pesquisa, indicando aspectos negativos sobre a Internet nas barras
horizontais superiores e os aspectos mais positivos (barras horizontais inferiores), por
ordem ascendente de incidência, construídos pelo Ranking Médio (RM).
73
RM
-2,00 -1,00 0,00 1,00 2,00
A Internet é revolucionária”
A Internet permite melhorar a comunicação entre as pessoas”
A Internet permite melhorar a comunicação entre as organizações”
A Internet é uma perda de tempo”
Daqui alguns anos ter Internet vai ser tão natural como ter telefone ou televisão”
A Internet aproxima os empreendimentos de seus clientes”
A Internet favorece o crescimento de cooperativas e associações”
Para utilizar a Internet, é necessário conhecer bem inglês
Para trabalhar na sociedade de amanhã vai ser necessário dominar a Internet
A Internet facilita a comercialização justa de produtos e serviços solidários”
A Internet é antes de tudo uma forma de entretenimento/diversão
A Internet é uma ameaça para a língua portuguesa”
A internet favorece o ativismo político e ajuda os movimentos sociais”
Para fazer uma pesquisa os livros são mais eficazes que a Internet
No futuro, as pessoas vão passar a comprar quase tudo através da Internet
Muitas vezes é difícil encontrar o que se procura na Internet
É mais agradável aprender com a Internet do que com os livros”
Aprende-se muito facilmente a utilizar a Internet
A Internet é uma ferramenta indispensável para um empreendimento da economia solidária”
Uma vez que se tenha começado a utilizar a Internet não dá para passar sem ela”
Para utilizar a Internet é preciso conhecer bem informática”
A Internet vai substituir a televisão”
Deveria controlar-se o que na Internet (exemplos: "sites" racistas, pornográficos, etc.)
Normalmente podemos confiar nas informações que encontramos na Internet
Sem opinião
Situação de "concordância"
Situação de "discordância"
Figura 8 Diagrama de Pareto da opinião sobre a Internet, construída pelo
Ranking Médio (RM)
Pode-se observar que nenhum dos aspectos atingiu 100% de concordância (RM = +2)
ou discordância (RM= -2), sendo relativamente pequena a situação na faixa negativa
(0> RM >-2). No contexto dos dados referentes à representação da Internet pelos EES,
percebe-se que 87,50% dos aspectos analisados se encontram na faixa positiva (0<
RM <+2), indicando uma imagem positiva da Internet pelos EES pesquisados.
Dentre os aspectos analisados como negativos sobre a Internet, destaca-se a
desconfiança nas informações encontradas neste ambiente (RM = -0,58). As
oportunidades plurais de acesso, produção e disseminação de conteúdos, muitas vezes
expressos por opinião própria em blogs, fóruns e outros espaços de discussão,
transformariam a Internet num domínio da livre comunicação, extinguindo algumas
barreiras sociais e fronteiras geográficas. O que se segue à grande quantidade de
informação que circula hoje na grande rede é o imperativo de que cada um saiba
74
selecionar as melhores e mais confiáveis fontes de informação, ainda que os passos
para o desenvolvimento dessa habilidade não estejam muito claros.
Um outro aspecto negativo para os pesquisados é aquele relacionado à necessidade
de controle do conteúdo da Internet (RM = -0,50), uma vez que como domínio de livre
comunicação, a Internet estaria a serviço da inexperiência, improbidade ou malícia de
pessoas ou grupos que se utilizam da rede para a expressão de ideias e práticas
discriminatórias, atos ilícitos e, ainda, pensamentos não hegemônicos.
Todavia, a defesa do controle destes conteúdos impõe várias questões, entre elas: 1)
Sabendo que a Internet não se restringe a uma nação - nem a uma união dessas e nem
pode ser concebida como propriedade intelectual de alguém, quem (ou o que) deveria
controlar o seu conteúdo?; 2) Quais categorias seriam utilizadas para discernir entre o
legítimo exercício da liberdade de expressão de ideias não hegemônicas e as práticas
que geram prejuízo à propriedade ou imagem de alguém?; e 3) No meio de tanta
diversidade de ofertas informativas o seria mais democrático e efetivo demarcar,
claramente, a presença na Internet do pensamento divergente da pessoa/grupo
prejudicado, em vez de limitar a condenar a comunicação social ou tentar controlar
o acesso a conteúdos e/ou o direito a produzi-los?
Estar conectado é se dispor a relacionar-se consigo mesmo e com os outros numa
complexa teia de dúvidas, hesitações e problemáticas. Nesse sentido, o conflito é
inevitável e revela-se na informação que se lê e igualmente na que se produz.
Na análise do terceiro aspecto representado como negativo percebe-se que um
desacordo com a afirmação que tenta admitir a obsolescência da televisão frente à
inovação da Internet. Os EES responderam não acreditar que a Internet possa substituir
a televisão (RM = -0,25). Infere-se que a Internet e seus serviços contemporâneos, para
os pesquisados, não se confundem com a televisão e podem conviver harmonicamente.
Por outro lado não se pode negar o movimento de convergência para a Internet de
conteúdos e programações de outras mídias, inclusive a televisão. A TV pelo
75
streaming
10
por meio da Internet é uma opção tecnológica crescente e deixou de ser
um passatempo para geeks
11
e aficionados por novas tecnologias. Permite-se escolher
entre milhares de canais, em tempo real, e decidir quais programas utilizar para
visualizar as TVs em streaming. No entanto, a qualidade da transmissão depende da
velocidade e da qualidade da conexão à Internet.
Os efeitos deste movimento são estudados
12
e podem estar por trás da diminuição,
apurada nos últimos anos, da audiência das grandes redes de televisão. As novelas
criaram hábito ao telespectador e o veículo sempre esteve presente nas grandes
questões de interesse político-social, inclusive interferindo nos acontecimentos, como
na campanha para o impeachment do então presidente Fernando Collor.
Nas análises que se seguem buscou-se descrever convergências e divergências de
opiniões sobre a Internet entre dois grupos distintos. O grupo 1 (G1) é formado pelos
EES que responderam nunca ter utilizado a Internet (com padrão de respostas entre as
opções 1 e 2 na primeira questão do questionário) e o grupo 2 (G2) é o que respondeu
ter utilizado a Internet, ainda que poucas vezes (com padrão de respostas entre as
opções 3 e 4 da primeira questão do questionário).
A Tabela 2 mostra a avaliação dos 24 aspectos levantados, construídos pelo Ranking
Médio G1 (RM-G1), Ranking Médio G2 (RM-G2) e Ranking Médio (RM). Percebe-se
que o padrão de resposta dos grupos apresenta divergências em vários pontos.
10
Uma forma de distribuir informação multimídia numa rede de computadores através de pacotes.
11
Usuário avançado de tecnologias de informação e comunicação, especialmente da Internet. Culturalmente
adaptado a virtualidade e ao digital.
12
A pesquisa O Futuro da dia, realizada em outubro de 2008, pela Deloitte e pelo Harrison Group, empresa
independente dos EUA, concluiu que enquanto a televisão continua na preferência de entretenimento de mais de 66%
dos pesquisados nos EUA, Inglaterra, Alemanha e Japão, no Brasil esse índice é de 46%. A pesquisa confirma
mudanças de hábito no país e mostra a força da Web como mídia. A experiência de assistir à TV, enquanto o
telespectador faz outras atividades demonstra o grau de dispersividade do telespectador, o que faz da TV um mero
coadjuvante como veículo de informação e entretenimento.
76
Tabela 2: Ranking Médio G1 (RM-G1), Ranking Médio G2 (RM-G1) e Ranking Médio
Geral (RM)
Assertivas RM-G1
RM-G2 RM
a “A Internet é revolucionária” 1,57 2,00 1,75
b
“A Internet não é uma perda de tempo”
1,57 1,20 1,42
c “A Internet permite melhorar a comunicação entre as pessoas” 1,43 2,00 1,67
d “A Internet permite melhorar a comunicação entre as organizações” 1,43 2,00 1,67
e “É mais agradável aprender com a Internet do que com os livros” 0,57 0,00 0,33
f “Aprende-se muito facilmente a utilizar a Internet” 0,57 0,00 0,33
g “Uma vez que se tenha começado a utilizar a Internet não dá para passar sem ela” 0,14 0,20 0,17
h
“Muitas vezes não é difícil encontrar o que se procura na Internet”
0,29 0,80 0,50
i
“A Internet não é antes de tudo uma forma de entretenimento/diversão”
0,57 0,80 0,67
j
Não deveria controlar-se o que há na Internet (exemplos: "sites" racistas, pornográficos, etc.)”
0,00 -1,20 -0,50
k
“Para fazer uma pesquisa os livros não são mais eficazes que a Internet”
0,43 0,80 0,58
l
“A Internet não é uma ameaça para a língua portuguesa”
1,00 0,20 0,67
m
“Para utilizar a Internet, não é necessário conhecer bem inglês”
1,00 0,80 0,92
n
“Para utilizar a Internet não é preciso conhecer bem informática
0,00 0,00 0,00
o “A Internet vai substituir a televisão” -0,71 0,40 -0,25
p “Daqui alguns anos ter Internet vai ser tão natural como ter telefone ou televisão” 1,00 2,00 1,42
q “No futuro, as pessoas vão passar a comprar quase tudo através da Internet” 0,43 0,80 0,58
r Para trabalhar na sociedade de amanhã vai ser necessário dominar a Internet” 0,29 1,80 0,92
s “Normalmente podemos confiar nas informações que encontramos na Internet ” -0,29 -1,00 -0,58
t “A Internet favorece o crescimento de cooperativas e associações” 0,86 1,60 1,17
u “A Internet aproxima os empreendimentos de seus clientes” 1,00 1,80 1,33
v “A Internet é uma ferramenta indispensável para um empreendimento da economia solidária” -0,29 1,20 0,33
x “A internet favorece o ativismo político e ajuda os movimentos sociais” 1,00 0,60 0,67
w “A Internet facilita a comercialização justa de produtos e serviços solidários” 0,14 1,40 0,83
2) Com o objetivo de facilitar o entendimento do leitor deste trabalho adotou-se a forma negativa na apresentação dos dados, diferentemente do questionário aplicado.
Obs: 1) As frases em negrito expressam uma imagem negativa sobre a internet, por essa razão receberam uma escala invertida do tipo 5-1 no tratamento dos
dados.
Na assertiva que propunha analisar se é mais agradável aprender com a Internet do
que com os livros, o G2 (usuários da Internet) mostrou-se neutro ou não soube opinar
(RM-G2 = 0), enquanto que o G1 (não utilizam a Internet) concorda com a assertiva
(RM-G1= 0,57).
Resultado semelhante foi obtido quando se analisou se se aprende muito facilmente a
utilizar a Internet, o G2 não se posicionou sobre a questão (RM-G2 = 0), enquanto que
o G1 acredita ser muito fácil aprender a usar a Internet (RM-G1= 0,57). Resultado,
curioso, que sugere que o não uso da Internet pelo grupo não está ligado a uma
imagem de barreira (dificuldade) de aprendizado, ou aversão à tecnologia. Isso implica
na necessidade de aprofundamento em questões que busquem compreender os
motivos desse grupo não utilizar a Internet.
Na assertiva que buscou identificar se se deveria controlar o que há na Internet,
percebe-se que o grupo de EES que utiliza a Internet em suas atividades, carrega o
77
espectro do controle ao conteúdo (RM-G2= -1,20), divergindo daquele que não utiliza a
Internet (RM-G2= 0).
Outra divergência captada relaciona-se com a assertiva que buscava analisar se a
Internet vai substituir a televisão. Percebe-se que a conservação da televisão como
mídia popular foi defendida pelo G1 (RM-G2= -0,71), enquanto o G2, talvez por estar
mais adaptado à cultura digital, concebe a substituição da televisão pela Internet. (RM-
G2= 0,40).
Com importantes reflexões para essa pesquisa, a análise da assertiva que dispõe sobre
a Internet como uma ferramenta indispensável para um empreendimento da economia
solidária apresenta uma divergência entre os dois grupos. O G2 se posicionou favorável
à assertiva, ou seja, acredita que a Internet é indispensável para o EES (RM-G2 =
1,20). Esse resultado figura como uma avaliação positiva da Internet como ferramenta
polivalente de comunicação e informação também para empreendimentos da economia
solidária. o G1 posicionou-se contra a afirmação da Internet como ferramenta
indispensável para um EES (RM-G1= -0,29).
78
CAPÍTULO IV - FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA INTERNET POR
EMPREENDIMENTOS ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS
Este capítulo tem como objetivo descrever as formas concretas de utilização da
Internet pelos Empreendimentos Econômicos Solidários pesquisados. Por utilização se
entende, nesta pesquisa, a ação de tornar útil, empregar, praticar, explorar, se servir,
de usar a Internet como meio, instrumento ou procedimento visando a um fim preciso.
Esta descrição contempla experiências, duração, modalidades e tipos de utilização.
Na análise de algumas questões, retomou-se a técnica da distribuição de frequência
utilizando o Ranking Médio, aqui denominado Ranking Médio das Atividades (RM-AT) .
A escala atribuída às atividades exercidas na Internet ficou assim: -2. Nunca; -1.
Raramente; 0. Ocasionalmente; 1.Frequentemente ; 2. Muito Frequentemente. Isso
significa que os valores menores que “0” são considerados como “Atividade rara” e,
maiores, como “Atividade frequente”, considerando-se a escala utilizada de 5 pontos. O
valor “0” corresponde a “Atividade ocasional”.
0
1
2
3
4
5
menos de 1
mês
entre 1 e 6
meses
entre 6
meses e 1
ano
entre 1 e 2
anos
mais de 2
anos
Quando utilizaram a internet pela primeira
Figura 9 Quando os EES utilizaram a Internet pela primeira vez
Os dados da Figura 9 revelam que o primeiro uso não ultrapassa o período de 1 ano,
sendo que a maioria respondeu utilizar a Internet há mais de 2 anos.
79
O início
13
da Internet, no Brasil, data de 1988. As conexões inicialmente foram feitas
pelo setor acadêmico e a situação permaneceu assim até meados de 94, quando a
Internet ultrapassou as fronteiras acadêmicas e começou a chegar ao ouvido dos
usuários domésticos e empresas. Contudo, o grande boom da rede aconteceu ao longo
do ano de 1996. A Internet brasileira cresceu vertiginosamente, tanto em número de
usuários, quanto de provedores e de serviços prestados por meio da rede. (GUIZZO,
1999).
Inicialmente, a Internet se circunscrevia a alguns poucos serviços oferecidos em rede.
Foi o tempo dos BBSs
14
, cujo acesso era feito, normalmente, em terminal de modo
texto. A popularidade dos BBSs decresceu com a massificação da World Wide Web
(WWW), pois o acesso a essa implicava custos de comunicação menores,
conectividade mais atraente, e ambiente gráfico de trabalho, que facilitavam a sua
utilização. Hoje, a Internet apresenta uma série de serviços, entre eles o correio
eletrônico; a Web; a comunicação instantânea; a colaboração em massa; o
compartilhamento de arquivo; o acesso remoto; a transmissão de mídia; e a telefonia na
Internet - VoIP (Voz sobre IP).
Em 2009, o Ibope apontou um crescimento de 8,2% de usuários e, ao todo, 67,5
milhões de brasileiros foram considerados digitalmente incluídos, acessando a web
regularmente de casa, do trabalho, da escola, de lan houses ou de bibliotecas.
A presença na rede de empreendimentos capitalistas remonta ao início das atividades
da Internet no país e são vários os usos e experiências positivas neste sentido. Ao
romper barreiras geográficas e temporais, a Internet possibilita aos funcionários,
gestores, fornecedores, revendedores e clientes trocarem dados, informações, decisões
13
A Internet no Brasil iniciou-se em setembro de 1988 quando no Laboratório Nacional de Computação Científica
(LNCC), localizado no Rio de Janeiro, conseguiu acessar a Bitnet, através de uma conexão de 9 600 bits por segundo
estabelecida com a Universidade de Maryland. (GUIZZO, 1999)
14
Bulletin Board System.(BBS) é um sistema e software, que permite a conexão de computadores por meio de
telefone e interagir com ele.
80
e conhecimento de forma extremamente mais ágil, favorecendo a criação de uma nova
cultura digital.
Transcorridos mais de 14 anos, questiona-se: a existência deste gap entre o início da
Internet no Brasil e o acesso recente desta pelos EES pode ser responsável pela tímida
presença destes na Internet? Seria esse o maior impedimento para que esses
marquem claramente a sua presença na rede e compartilhem os benefícios da cultura
digital? Existem outras barreiras a dificultar a posse deste ambiente?
0
1
2
3
4
5
nas
próprias
instalões
na escola
do bairro
na
biblioteca
do bairro
num
telecentro
numa lan
house
noutro local:
"prefeitura"
não recorda
Lugar onde utilizaram a internet pela primeira vez
Figura 10 Lugar onde os EES utilizaram a Internet pela primeira vez
Na Figura 10 observa-se que a maioria dos EES identificados como usuários da
Internet a utilizou pela primeira vez nas próprias instalações. Isso sinaliza que esses
empreendimentos possuem o próprio computador para assessorá-los em suas
atividades.
É notório que o ascendente declínio dos preços dos equipamentos (hardwares) e
programas (softwares), na última década, permitiu a acessibilidade digital de famílias,
micros e pequenas empresas (MPE), e como se constata, de empreendimentos
econômicos solidários.
81
O governo federal manteve nos últimos anos uma política fiscal de redução das
alíquotas de importação de computadores e componentes, e desonerou o setor com o
objetivo de provocar a queda dos preços e incentivar a produção nacional.
Concomitantemente, o crescimento do mercado de crédito contribuiu para o acesso a
esse bem. É comum a venda de computadores, no varejo, em 12, 18 e 24 parcelas
ainda que os juros praticados sejam altos.
Algumas políticas blicas de estímulo ao uso de computadores com sistema
operacional livre também foram adotadas pelo Governo Federal, beneficiando alguns
setores e classes profissionais. É o caso do “Projeto Computador Portátil para
Professores
15
que busca promover a “inclusão digital” dos professores da educação
básica, profissional e superior de ensino, por meio da compra de computadores
portáteis e programas de computador (softwares), neles instalados, com valores
reduzidos.
Uma estratégia que tem se mostrado promissora, no âmbito do movimento da economia
solidária, é a parceria desta com o movimento pró-software livre. Essa ação conta com
o apoio do Governo Federal e busca alargar o fluxo de informação entre as redes
colaborativas e fornecer serviços e suportes em tecnologia para grupos da economia
solidária; por outro lado, fortalece o espírito da autogestão nos profissionais do software
livre.
Contudo, constatou-se que não há programa, projeto ou ação pública Federal que
beneficie a aquisição de TICs pelos empreendimentos da economia solidária.
Consequentemente, estes estão à mercê da oferta do mercado, que atualmente os
beneficiam com preços e condições atraentes, mas que podem se retrair ao menor
suspiro de incerteza nas condições macroeconômicas.
15
Resultado da articulação entre indústrias de computadores e bancos por intermédio da Presidência da República,
Ministério da Educação - MEC, da Ciência e Tecnologia MCT, e da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos -
ECT, destinado aos professores em atividade do ensino básico, profissional e superior das instituições credenciadas
junto ao MEC. O objetivo central do Programa é facilitar aos professores a aquisição de computadores portáteis.
82
0
1
2
3
4
5
temos apenas um
computador onde
não há ligação à
Internet
temos mais de um
computador, mas
não há ligação à
Internet
temos apenas um
computador onde há
uma ligação à
Internet
temos mais de um
computador e há
uma ligação à
Internet em pelo
menos um deles
temos mais de um
computador e há
ligação à Internet em
todos eles.
Característica da infraestrutura informacional
Figura 11 Característica da infraestrutura informacional dos EES
Talvez por falta de estímulo à aquisição destes equipamentos, no caso específico dos
EES pesquisados, verificou-se que a infraestrutura informacional é pequena, constituída
por um ou dois equipamentos, onde ligação à Internet. Esse baixo número não deve
ser visto, a princípio, como empecilho ao uso da Internet, visto que, os EES
pesquisados são de micro porte e o número de equipamentos (maior ou menor) não
representa um bom indicador de qualidade de uso ou apropriação do espaço
cibernético - no sentido de uma interlocução virtual e intensiva com o mercado e
sociedade.
Todavia, o acesso à rede fundamenta-se, o exclusivamente, na existência de
equipamentos (hardwares) e programas (softwares), que ofereçam a configuração
mínima necessária à conexão.
Além do computador é necessário o servo de provedores de Internet, responsáveis
pela conexão dos equipamentos à grande rede.
83
0
1
2
3
4
5
nos conectamos à
internet por conexão
discada (a56 kbps)
nos conectamos à
internet por um
modem ADSL
(banda larga)
nos conectamos à
internet por cabo
(banda larga)
nos conectamos à
internet via dio
(banda larga)
nos conectamos à
internet por
tecnologia 3G (banda
larga)
Característica da conexão a internet
Figura 12 Característica da conexão a Internet dos EES
A figura 12 revela o tipo de conexão à Internet do EES consultados. Essa conexão pode
ser gratuita (ou com preços relativamente baixos), como se processa em grande parte
nos serviços acesso discado. Contudo, os serviços de conexão discada apresentam
algumas limitações, como a dependência de infraestrutura de telefonia fixa (e os custos
envolvidos com a sua assinatura) e a limitada velocidade de transmissão (download e
upload) de até 56 Kbps (Kilobytes por segundo), considerada muito baixa para desfrutar
os serviços da Web 2.0
16
.
Por outro lado, a conexão banda larga
17
, possibilita ao máximo a experiência de ver
conteúdos de vídeos, música e imagens; utilizar serviços de VoIP; compartilhar
arquivos; etc. O acesso a serviços de conexão rápida pode ser oferecido em diferentes
tecnologias, entre elas: por meio de modem ADSL, por cabo, por meio de ondas de
radiofrequência - utilizando antenas ou por redes de telefonia celular 3G.
16
Conceito adotado para caracterizar a segunda fase da Internet, tendo como plataforma a Web. Fase
reconhecidamente interativa de geração de comunidades, serviços e aplicativos baseados em redes sociais, conteúdos
aberto, computação em nuvem, tag´s, etc .
17
O Brasil ainda não tem uma regulamentação que indique qual é a velocidade mínima para uma conexão ser
considerada de banda larga. Admite-se como banda larga, neste trabalho, os serviços de acesso que disponibilizam
uma conexão que possua velocidade superior à velocidade padrão dos modems atualmente utilizados (56 kbps -
kilobytes por segundo).
84
A tabulação dos questionários revelou que a maioria dos EES pesquisados utiliza
serviços de conexão rápida (banda larga), indicando possuírem condições de acesso a
vários aplicativos e sistemas populares na Internet. Dados de uma pesquisa recente
revelam que o número de assinaturas de Internet banda larga, no final de 2009 eram de
10,4 milhões de acordo com o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) e o
Comitê Gestor da Internet (CGI) (IPEA, 2009).
Porém, no Brasil, país com dimensões continentais, a banda larga ainda é honrosa e
não alcançou todo o território nacional. No sentido de contornar as lacunas de mercado
e de acesso, o Governo Federal lançou o Plano Nacional de Banda Larga do Brasil
(PNBL), que propõe levar Internet de até 1 Mbps a preços acessíveis a 50% dos
domicílios urbanos brasileiros até 2014. O plano ainda está em fase de elaboração, pois
muito se discute em torno de sua implementação.
É possível supor que a conexão dos EES, em banda larga, poderá tornar-se uma
realidade mais frequente quando o PNBL for implementado no país, gerando a
possibilidade da universalização do acesso e do aumento da velocidade do fluxo das
informações, que se estabelecem na atualidade. Ainda, possibilitaria o uso mais
intensivo e diversificado de aplicativos e sistemas, singulares e essenciais, ao aumento
da inovação e produtividade.
85
0
1
2
3
4
5
menos de 1/2 hora
por dia
entre 1/2 hora e 1
hora por dia
entre 1 hora e 2
horas por dia
entre 2 horas e 5
horas por dia
mais de 5 horas
por dia
Tempo que passam conectados a Internet nos dias de semana
Figura 13 Tempo que os EES passam conectados nos dias de semana
O tempo que passam conectados a Internet indica qual a importância desta nas
relações dos EES com o mercado e sociedade. A pesquisa revelou que o tempo médio
de conexão nos dias de semana, ou seja, dias úteis ou produtivos, encontra-se entre 1
e 2 horas por dia, sendo que um tempo mais largo (entre 2 e 5 horas) foi relatado por
alguns EES.
Esses dados sugerem que o uso da Internet não é tão intensivo nos dias de semana,
servindo, possivelmente, a tarefas mais específicas e pontuais, confirmando os
resultados advindos do Ranking Médio de frequência das atividades exercidas na rede.
Quando se compara esse tempo médio de navegação com o padrão brasileiro, em
ambientes doméstico e residencial verificam-se semelhanças. Desde que o indicador foi
criado, o Brasil sempre obteve altas marcas, estando constantemente na liderança
mundial. Segundo o Ibope Nielsen Online, o país (com média de 48 horas e 26 minutos
por internauta, em julho de 2009) ficou na frente dos Estados Unidos (42 horas e 19
minutos), Reino Unido (36 horas e 30 minutos), França (33 horas e 22 minutos), Japão
(31 horas e 55 minutos), Espanha (31 horas e 45 minutos), Alemanha (30 horas e 25
minutos), Itália (28 horas e 15 minutos) e Austrália (23 horas e 45 minutos). O tempo
sobe para 71h30m se for considerado o uso de aplicativos e sistemas on-line
86
(comunicadores instantâneos, tocadores de música, programas de download e de VoIP,
entre outros). (CARPANEZ, 2009).
Isso revela que os EES apresentam um comportamento de uso, no quesito tempo
médio de navegação, que se aproxima ao encontrado nos internautas domésticos e
residenciais. Contudo, ainda que faltem indicadores específicos, especula-se que
empreendimentos capitalistas conectados à grande rede apresentam um tempo muito
superior de navegação. Seria isso fonte de vantagens competitivas para essas
empresas?
0
1
2
3
4
5
muito raramente
(1 ou 2 vezes)
raramente
(mensalmente)
ocasionalmente
(quinzenalmente)
frequentemente
(semanalmente)
muito
frequentemente
(diariamente)
Frequência de uso da internet
Figura 14 Freqüência de uso da Internet pelo EES
A frequência de uso da Internet, medida em períodos de meses, quinzenas, semanas e
dias, soma-se ao tempo de conexão. A maior parte dos EES apresenta uma frequência
diária de conexão, ainda que tenham sido relatadas frequências mais dispersas, como
as semanais. Esses dados relacionam-se com um dos aspectos da qualidade de
informação, conhecida como atualidade.
A atualidade é a qualidade que confere novidade à informação, que afasta o risco da
obsolescência, de tornar-se “notícia velha”, e assim pouco útil ao tomador de decisão.
Portanto, aquele que mantêm uma frequência diária de conexão à rede estaria
87
recebendo informações mais atuais, potencialmente mais úteis às tomadas de decisão
por diminuir o risco da obsolescência.
Utilizando-se deste discernimento, conclui-se que seria mais útil aos EES acessarem,
menos horas, diariamente, a longas horas de conexão, em um único dia da semana.
0
1
2
3
4
5
nunca raramente ocasionalmente frequentemente muito
frequentemente
Frequência com que retornam a sites visitados
Figura 15 Frequência com que os EES retornam a sites já visitados
O hábito de retornar a sites visitados indica favoritismo e/ou fidelização à fonte de
conteúdo. Alguns endereços eletrônicos possuem grande audiência na Internet e
podem ser classificados pelo conteúdo que apresentam: notícias (emprego, política,
economia, serviços blicos, etc); entretenimento (cinema, televisão, bandas,
exposições, moda, humor, etc.); esporte (futebol, corridas de automóveis, etc.);
comércio (empresas, lojas virtuais, produtos, etc.); educação (instituições de ensino,
informação sobre cursos, etc.); música, jogos e vídeos (MP3, compartilhar vídeos, jogos
online etc.); ativismo e sem fins lucrativos (ONGs, Terceiro Setor, ecologia, etc.);
ciências e tecnologias (Informática, software, atualizações, produtos inovadores, etc.);
pessoas e blogs (blogs de personalidades, blogs de jornalistas independentes, etc);
referências e anuários (meteorologia, mapas, ginas amarelas, etc.); religião e
espiritualidade (doutrinas, dogmas, orações, etc); viagem e turismo (pacotes turísticos,
88
tíquete aéreo e rodoviário, destinos turísticos, etc.) e comunicação em rede (Chat,
fóruns, grupos de discussão, debates, etc.).
Os EES ao serem consultados sobre a frequência com que retornam a sites
manifestaram fazê-lo ocasionalmente, ou ainda, raramente. Esse dado apresenta
relação com o que se apurou no RM de frequência de atividades exercidas na rede,
onde verifica-se que a atividade mais frequente é a pesquisa em sites de busca. Esses
sites de busca distinguem-se por apresentar listas diferentes de resultados aos
argumentos introduzidos na pesquisa (palavras-chave). Essa lista variável diminui a
possibilidade desses empreendimentos elegerem sites como favoritos e dificulta as
ações de fidelização desses. Contudo, esse comportamento indica uma fidelização aos
sites de busca, ainda que eles, normalmente, não produzam conteúdos próprios.
0
1
2
3
4
5
nunca raramente ocasionalmente frequentemente muito
frequentemente
Frequência com que imprimem as páginas que consultam
Figura 16 Frequência com que os EES imprimem as páginas que consultam
Quando solicitados a opinar sobre a frequência com que imprimem as páginas que
consultam na Internet, a maioria dos EES respondeu fazê-lo frequentemente, ainda que
alguns outros relatem raramente imprimir as páginas.
A consciência ambiental vem aumentando, admiravelmente, nas últimas décadas e
esse movimento também tem seu reflexo no comportamento de uso da Internet. A
89
facilidade proporcionada pelos computadores traz uma pressão sobre o meio ambiente
na forma de impressões não responsáveis.
Uma das características da sociedade em rede é a ampla adoção do formato digital. O
aumento e a evolução dos conteúdos digitais certamente foi um fator de suma
importância para o crescimento da transmissão de grande volume de informação de
forma rápida, confiável e conforto para os usuários. O formato digital representa-se na
imaterialidade de seu conteúdo, liberto do suporte material ou midiático que distingue
as tradicionais mídias. Diante das amplas possibilidades de transferência,
armazenamento e visualização de conteúdos digitais, a manutenção de conteúdos
textuais, em formato digital, evitando impressões que não sejam indispensáveis
constitui ação sustentável crescente entre os internautas.
Portanto, o hábito de imprimir as páginas, identificado na pesquisa, deve levar a
questionamentos se os EES estão conscientes das questões relacionadas à
sustentabilidade? Ou seria essa uma prática necessária, para comunicar com os
associados, dado o reduzido número de equipamentos nos EES e a pouca cultura
digital da maioria? Ou ainda, seria uma forma de relutância à adoção de novos
comportamentos, como, por exemplo, a leitura na tela do computador?
0
1
2
3
4
5
nunca raramente ocasionalmente frequentemente muito
frequentemente
Frequência com que visitam sites noutras línguas
Figura 17 Frequência com que os EES visitam sites noutras línguas
90
A Internet caracteriza-se como uma rede global que conecta povos, culturas, mercados,
de todos os continentes. Uma rede onde se estabelecem relações, muitas das quais por
meio da língua escrita.
Segundo indica a página web Internet World Users By Language (Iwubl), o idioma
português está em quinto (77.6 milhões de usuários) na lista de idiomas mais presentes
na Internet. Está atrás do inglês que representa 499.2 milhões de usuários, do chinês
(407.7 milhões), do espanhol (139.8 milhões) e do japonês (96 milhões). De 2000 a
2009 os sites em português cresceram 923.9 %. (INTERNET WORLD STATS, 2010)
Os dados da pesquisa junto aos EES revelam que esses não acessam conteúdo em
outras línguas. O desconhecimento de outros idiomas pode explicar tal comportamento,
mas o deveria representar uma barreira real para que os EES acessassem
conteúdos textuais em sites noutras nguas. existem na Internet aplicativos e
sistemas gratuitos que permitem a tradução, em tempo real, de todo o conteúdo de um
site. É o caso do Worldlingo, do Google Tradutor, e de tantos outros.
91
Ranking Médio (RM-AT)
-2 -1 0 1 2
utilizar sites” de pesquisa (exemplos: Google, Yahoo!, BuscaPé, etc.)
procurar informações acerca de coisas que os interessem
visitar sites” (páginas Web)
enviar mensagens por correio eletrônico (e-mail)
procurar imagens
fazer o "download" de imagens, vídeos ou músicas
assistir a vídeos
criar conteúdo para o seu próprio site”
ouvir sicas
comunicar diretamente com outros usuários da Internet (exemplos: MSN, Skype, Chat etc.)
deixar comentários nos "sites" que visitam
responder a pesquisas e questionários
participar em grupos de discussão (exemplos: yahoo groups, google groups, etc)
encomendar ou comprar produtos (exemplos: discos, revistas, etc.)
Atividade ocasional
Atividade frequente
Atividade rara
Figura 18 Diagrama de Pareto das atividades exercidas na Internet pelos EES,
construída pelo Ranking Médio (RM)
O Ranking Médio das Atividades, representado no diagrama acima, oferece uma
adequada visão da natureza das atividades exercidas na Internet pelos EES. Verifica-
se que a despeito da maioria possuir conexão rápida à Internet, o seu uso por eles
caracteriza-se, ainda, como básico ou embrionário. Constatou-se que 64,28% dos
respondentes se encontram na faixa dos que possuem atividade rara (0>RM-AT>-2).
na faixa que se caracteriza pelo uso mais intensivo encontram-se atividades, tais como:
procura de informações de maior interesse (RM-AT=+1,0); uso de sites de busca (RM-
AT=+1,2) e visita a páginas Web (RM-AT=+0,8).
O uso de mensagens eletrônicas (RM-AT=0,0), surpreendentemente, representa,
dentre os respondentes, atividade ocasional, assim como a procura por imagens. Esse
dado revela mais uma surpresa, visto que o correio eletrônico constitui-se um serviço
92
amplamente utilizado tanto por internautas, quanto por empresas para comunicar-se
com seus funcionários, fornecedores, clientes, etc.
Outra contradição percebida: a liderança da atividade de compra pela mediação da
rede apareceu como o uso mais raro (RM-AT= -1,6). Sabe-se que a função compra em
empreendimentos ecomicos assume um papel transacional intenso, podendo ser
fonte de vantagens competitivas, pois a escolha certa dos insumos e fornecedores
repercute no preço final do produto ou serviço a ser ofertado. A Internet permite acesso
rápido e direto a fornecedores de bens e serviços, facilitando a atividade de
identificação e seleção de fornecedores, assim como favorece a obtenção de vantagens
financeiras nas transações por meio da rede.
Percebe-se também o raro uso dos aplicativos de comunicação instantânea (RM-AT= -
1,2), divergindo da frequência observada em usuários domésticos e residenciais. Os
aplicativos de mensagem instantânea são utilizados, amplamente, também, em
empreendimentos econômicos, sendo classificados como sistemas colaborativos, ou
seja, aquele que permitem a interação entre indivíduos e grupos, para realizar trabalhos
interdependentes.
Um estudo realizado pela Universidade Estadual de Ohio em colaboração com a
Universidade da Califórnia mostra que usar mensagens instantâneas não diminui a
produtividade dos funcionários, como alguns céticos defendem. Segundo os
pesquisadores, ao contrário, os usuários de ferramentas de mensagem instantânea (ou
MI, na sigla) não se distraem tão facilmente quanto aqueles que não utilizam o serviço e
acabam por substituir o uso de outras tecnologias como telefone e e-mail, oferecendo
uma alternativa mais rápida e barata de comunicação. (TERRA, 2008)
93
CAPÍTULO V - APROPRIAÇÕES DA INTERNET POR EMPREENDIMENTOS
ECONÔMICOS SOLIDÁRIOS
Nesta pesquisa, o termo apropriação foi tomado no seu significado de tornar algo ou
alguma coisa como própria ou conveniente ao uso e a determinadas destinações,
implicando a possibilidade de adaptações visando ao atendimento de necessidades.
Portanto, este último capítulo tem como objetivo identificar se a utilização da Internet
pelos EES tem resultado em apropriações convenientes aos propósitos desta
modalidade de economia e fortalecedoras de sua identidade e capacidades.
Os discursos dos sujeitos foram coletados em entrevistas, transcritos, analisados,
organizados, reunidos e sintetizados a partir da técnica de análise de Discurso do
Sujeito Coletivo (DSC), que conforme explicam Lefèvre & Lefèvre (2003, p. 56), pode
ser apresentado de várias maneiras, satisfazendo a intenção do pesquisador.
Deste modo, optou-se por apresentá-lo na forma de dois discursos-síntese, reunindo a
maioria das expressões-chave de cada respondente ao conjunto das questões do
instrumento de coleta de dados. Esses discursos representam duas idéias centrais,
expressas nas falas dos sujeitos coletivos. A primeira se refere à apropriação da
Internet para aperfeiçoar o desempenho de algumas funções administrativas e outra
concerne apropriações que não têm esse propósito.
A seguir, apresenta-se o discurso-síntese dos empreendimentos econômicos solidários
que se manifestaram por apropriar da Internet para aperfeiçoar o desempenho de
algumas funções administrativas:
Para o nosso empreendimento solidário, a Internet é importante. Eu
tenho acesso a informações, projetos, modelo de folder, um
material qualquer... Fico informado sobre os movimentos sociais,
sobre as notícias. Às vezes não dá para participar de uma reunião,
94
então eu acesso pela Internet tudo o que aconteceu e eu ganho
tempo. Nosso empreendimento se beneficia com essas
informações. Eu também comprei máquinas pela Internet e é
comum pesquisar preços de matérias-primas, mas a compra é in
loco. É mais prático assim. Algumas contas nossas são pagas pela
Internet, mas é a nossa contadora que faz isso. Mas eu sei que a
questão principal da Internet é a divulgação dos nossos produtos.
Geralmente por e-mail, eu convido as pessoas a conhecer os
produtos da gente. Nos eventos, nas feiras, eu anoto os e-mails das
pessoas e depois envio para elas os modelos dos produtos, a
tabela de preços, fotos, etc. vendi uma vez assim, para Belém.
Conheci a cliente na feira, mas os contatos foram por e-mail. Ela
comprou e nós enviamos por SEDEX. Mas agora estamos
procurando fazer um site para divulgar melhor os nossos produtos
para outros estados. Eu também uso a Internet para conhecer
outros produtos de outras pessoas, de outros lugares. utilizamos
a Internet para recrutar voluntários. Visitamos faculdades e alguns
alunos se colocam a disposição para ajudar. eu sempre mando
e-mails para essas pessoas que se ofereceram. Assim, elas vão
repassando os e-mails da gente. Dessa forma a gente consegue
ajuda. Internamente, também, é comum comunicarmos pela
Internet. Normalmente por e-mail. Mas algumas de nós m MSN, e
participam da rede de relacionamento, o Orkut. Eu também me
comunico com o pessoal da economia solidária. Acessamos o site
para pesquisar sobre o Fórum de Economia Solidária. Então estou
sempre em contato, para ver o que está acontecendo nos
movimentos.
Agora, apresenta-se o discurso-síntese dos empreendimentos econômicos solidários
que manifestaram não fazer apropriação da Internet para aperfeiçoar o desempenho de
funções administrativas:
95
Eu acho que a Internet é importante para mim. Se vonão sabe
usar então pode se sentir excluída. Tanto que tem gente mais velha
agora que quer aprender. Porque a Internet é boa para o ofício e
também pra casa, ou seja, para a vida particular. Pra viajar,
hospedar-se num hotel. A Internet é de fato importante, que eu
acho que a gente poderia aproveitar mais da Internet. Eu podia ir
além, e diminuir um pouco do meu trabalho. Eu acho que falta fazer
curso, se especializar melhor. Se eu dominasse a Internet,
então eu poderia interagir mais com o grupo, com as colegas.
Poderia, ainda, ensinar as colegas também. Então eu acho que o
que pega é o conhecimento. No empreendimento ainda não utilizo a
Internet para comercializar os produtos porque o grupo começou
agora. Ainda não está organizado para isso. Preciso de mais
informação, de mais conhecimento para fazer isso. Primeiro é
necessário fazer um site com os nossos produtos e isso é caro.
Então ainda não tenho condições. O grupo está um pouco novo.
Então ainda não está totalmente organizado para fazer esse tipo de
coisa. Mas eu acho que no futuro nós vamos chegar lá. É uma
coisa que eu estou pensando em fazer sim. A intenção é usar a
Internet para crescer. Nós também o utilizamos a Internet para
divulgar os produtos. Talvez por falta de tempo, de pensar nisso.
Como disse, o grupo está começando agora, então agora que
estamos organizando. No entanto, pretendemos divulgar tanto pelo
Brasil, como para fora. É importante, vai melhorar 100%. Também
não utilizamos a Internet para selecionar fornecedores, comprar
matéria prima, insumos, pelos motivos expostos anteriormente,
ainda não estamos bem organizados para isso. Além disso, eu
compro ainda em quantidade pequena e tenho os lugares onde
comprar. Então, sempre compro e comparo os preços e cá.
Mas é bom estar atualizando. Fazer uma pesquisa. Vou passar a
96
fazer isso na Internet. Quanto à utilização da Internet para recrutar
novos cooperados/ associados, também não possuímos essa
prática. Ainda está sendo na base da conversa. Nem todo mundo
tem condição para ter Internet. Mas pode ser que eu adote essa
prática. Não pensei nisso antes. Ainda não tivemos essa
necessidade, mas se tiver uma demanda, provavelmente adotarei.
Acredito. Também não utilizamos a Internet para treinar
cooperados/ associados. Porque não chegamos ainda neste nível.
Somos um grupo pequeno, estamos sempre face-à-face. Creio que
esse tipo de treinamento é para um grupo maior. Além disso os
treinamentos são muito eventuais. Então eu acho melhor ser
chamado pra um treinamento presencial onde se a pessoa,
conversa com ela. Corpo-a-corpo mesmo. Nós achamos melhor
assim. Por outro lado, acho que é uma questão de aproveitar mais
os serviços que a Internet possui. Pela Internet poderia trabalhar
com outros grupos e empreendimentos de outros bairros. Ajudaria.
Mas vamos chegar lá. Com o tempo vamos usar. Quanto a utilizar
a Internet para pagamentos de contas, eu não confio. Eu não faço
transação financeira pela Internet, porque ainda não tenho essa
confiança. Eu tenho muito receio ainda. Clonagem de cartão de
crédito, do banco, de documentos. Contudo, provavelmente,
futuramente, utilizaria sim. Quanto a nos comunicarmos com os
cooperados/associados e com os movimentos sociais pela Internet,
eu acho que coisas pequenas poderiam resolver-se mais
rapidamente se utilizássemos essa comunicação. Seria para ler um
e-mail, uma informação. Mas falta equipamento no nosso grupo.
97
CONCLUSÕES
A conjuntura contemporânea faz emergir o sentimento da necessidade de mergulhar
em uma cultura cuja abordagem contemple o digital.
Os EES teriam supostamente motivos para aderir ao novo paradigma cultural porque a
economia solidária estimula uma mudança de cultura, a formação de redes e se insere
em um mercado competitivo. Contudo, verifica-se a partir da amostra estudada, que foi
intencional e cobriu doze agrupamentos, que na economia solidária do setor de
vestuário de Belo Horizonte encontram-se avaliações favoráveis à inclusão digital, mas
que tal posicionamento não significa plena apropriação da Internet e adesão à cultura
digital.
Os dados obtidos e apresentados comprovam que não é a falta material (de
equipamentos) que impede a apropriação da Internet pelo EES, muito menos um olhar
negativo sobre essa. em alguns casos a inclusão digital, mas sem que haja
mudança cultural os empreendimentos acessam a Internet, mas mantém estilos de
gestão anteriores.
Embora as teorias afirmem que a emergência das TICs inaugura uma nova cultura (a
cultura digital), a realidade tem mostrado que nem sempre o acesso de pessoas ou
grupos a estas tecnologias possibilitam efetiva mudança cultural, pois esta implica
hábitos, atitudes e comportamentos de novo tipo.
Logo, percebe-se que há defasagem, desencontro ou contradição com o que preconiza
a teoria. Esta pesquisa, de natureza exploratória, pretendeu sondar questões que
precisam ser mais penetradas e estudadas. Neste sentido, propõe-se que investigações
posteriores considerem sete hipóteses :
1) Relação custo x benefício
98
A organização autogestionária pressupõe um equilíbrio das forças de trabalho entre
aqueles que participam das atividades econômicas. Logo, alguns trabalhadores reagem
negativamente à investida da cultura digital, uma vez que isto pressupõe uma
mobilização de tempo e trabalho cujo retorno não está muito claro aos participantes
desta modalidade de economia.
2) Conflitos na concepção de trabalho: o trabalho intangível (intelectual) x tangível
(produtivo-operacional)
A inserção na cultura digital introduz novas tarefas, rotinas e processos. Alguns desses
intangíveis, de difícil mensuração, como por exemplo, a função da pesquisa. Isso
poderia ser alvo de críticas por aqueles que comungam de uma cultura tradicional, que
contabilizam os ganhos somente na produção tangível, isto é, na quantidade de
produtos produzidos. Assim evita-se o uso e a apropriação da Internet porque este
grupo pode ser estigmatizado como preguiçoso e acusado de não compartilhar dos
esforços coletivos da produção.
3) A instabilidade dos laços econômicos na modalidade solidária
A Economia Solidária vista pelo viés da complementação da renda, portanto, como uma
atividade periférica, “um bico”, implica em vínculos trabalhistas instáveis e uma
preferência por capacitações cujos retornos sejam imediatos. Esse cenário favorece um
comportamento reativo frente à necessidade de mudança de hábitos e desenvolvimento
de novas competências e habilidades que a cultura digital estabelece.
4) Economia Solidária não estimula a competitividade
O discurso teórico corrente explica o surgimento das TICs e defende a sua apropriação
devido à lógica da competitividade. Contudo, a economia solidária pressupõe formas
alternativas de organização da economia e se fundamenta na ética da solidariedade. A
competitividade cede o lugar à mutua cooperação, à solidariedade, ao amor. Uma
99
economia pautada nesta premissa não carece fazer uso das TICs para aumentar a
produtividade, a inovação e a competitividade.
5) A sociabilidade afetuosa das feiras
Muitas das resistências se depositam na durabilidade da cultura da feira como um
patrimônio social. A feira como expressão visível do mercado em rede, das trocas
tácitas, do calor humano. A feira como tecnologia de organização de mercados,
socialmente difundida na Economia solidária, onde os EES constroem relações de
sociabilidade mais afetuosas, que aquelas mediadas pelas TICs.
6) A auto-imagem e a proatividade
A crença das pessoas em seu potencial para benefício próprio, de terceiros e de tudo
ao seu redor representa a proatividade. Os trabalhadores da economia apresentam
uma auto-imagem negativa, uma sensação baixa de auto-eficácia. As pessoas que
assim se consideram têm maior dificuldade para empreender ações de inserção na
cultura digital porque se sentem incapazes de se apropriar da Internet para solucionar
seus problemas.
7) Questões de gênero e tecnologia
A ciência e tecnologia foram, por muito tempo, vistas como atividades masculinas. As
relações de gênero, permeadas pelas relações de poder levaram à definição de
profissões que seriam atribuídas às mulheres. O uso de tecnologias socialmente
difundidas entre as mulheres, no setor de vestuário, pode explicar a desconfiança
dessas no uso de tecnologias avançadas na dimensão do trabalho. Isso porque, por
vezes, essas tecnologias replicam as relações de poder e substituem as relações
humanizadas que essas dispõem no setor.
A população estudada é rica de conhecimentos (opiniões, valores e atitudes), contudo,
estes conhecimentos é que vão se constituir, muitas vezes, em barreiras.
100
Por meio deste estudo exploratório, algumas das barreiras culturais que esses
empreendimentos encontram ao se inserir no mercado e na sua comunicação com a
sociedade por meio da Internet puderam ser conhecidas.
As informações obtidas sobre as características e peculiaridades da representação, uso
e apropriação da Internet pelos EES apontam para a necessidade de novas pesquisas.
Esta pesquisa permitiu constatar que o número de publicações sobre o tema é ainda
muito pequeno diante da importância do problema, reforçando a necessidade de novas
pesquisas.
A virtualidade das relações na Internet molda uma nova cultura que a priori pode ser
disseminada a qualquer pessoa e ou grupo. A literatura acadêmica propensa à visão do
determinismo tecnológico mostra-se frágil quando se depara com indivíduos ou grupos
sociais que buscam direcionar o seu curso e uso segundo os seus interesses - ainda
que não estejam muito claros quais sejam esses.
Com a devida atenção e com a preocupação de se evitar cair em determinismos, sejam
tecnológicos ou sociais, buscou-se retirar desta investigação elementos para a
elaboração de dois produtos técnicos a serem disponibilizados publicamente, uma
cartilha e um blog, destinados especificamente aos EES do setor estudado, cujos
projetos se encontram anexados aos apêndices desta dissertação.
101
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107
APÊNDICE A Questionário de pesquisa
Avisos
1) As respostas às perguntas contidas neste questionário permanecerão
estritamente confidenciais e serão utilizadas para fins científicos.
2) Não haverá ônus financeiro por tal participação.
3) Trata-se de colaboração voluntária.
4) O participante é livre para interromper a participação em qualquer momento.
5) O participante será esclarecido sobre dúvidas que tiver a qualquer momento da
pesquisa.
6) O participante receberá os endereços e telefones dos pesquisadores caso
necessite utilizá-los.
108
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA
BLOCO 1 - IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO
Nome:
Razão social (caso possua):
Endereço:
Bairro:
Cidade:
Estado:
Cep:
Telefone:
Fax:
E-mail:
Site:
Pessoa para contato:
Cargo/setor:
Telefone:
Fax:
Ramo de atividade:
Início das atividades:
Nº total de cooperados(as)/associados(as):
Divisão por gênero: [ ] Homens [ ]
Mulheres
Principais produtos:
Canais de distribuição:
Vendas diretas do fabricante: [ ] Sim [ ]
Não
Lojas próprias: [ ] Sim [ ] Não
Atacadista: [ ] Sim [ ] Não
Varejistas: [ ] Sim [ ] Não
Representante: [ ] Sim [ ] Não
Clube de compra ou troca: [ ] Sim [ ] Não
Feiras: [ ] Sim [ ] Não
Porta a porta: [ ] Sim [ ] Não
BLOCO 2 CARACTERIZAÇÃO DO USO E ACESSO À INTERNET
1) Entre as 4 frases propostas, escolha aquela que melhor identifica este empreendimento
econômico solidário (EES):
<Marque somente um dos quadrados>
1
nunca utilizamos a Internet e nunca vimos outro EES fazê-lo
2
nunca utilizamos a Internet mas já vimos outros EES fazê-lo
3
nós já utilizemos a Internet 1ou 2 vezes
4
nós já utilizamos a Internet várias vezes (mais de 2 vezes.)
Observação:
Se marcou o quadrado 1 ou 2 , ir diretamente para a página 5, no “BLOCO 3 -
OPINIÃO SOBRE A INTERNET” sem responderes às perguntas 2 a 11.
109
2) A primeira vez que utilizaram a Internet foi:
<Marque somente um dos quadrados>
1
nas suas próprias instalações
2
na escola do bairro
3
na biblioteca do bairro
4
num telecentro
5
numa lan house
6
noutro local. Qual? ___________________________________
7
não recorda
3) Utilizaram a Internet pela primeira vez há:
<Marque somente um dos quadrados>
1
menos de 1 mês
2
entre 1 e 6 meses
3
entre 6 meses e 1 ano
4
entre 1 e 2 anos
5
mais de 2 anos
4) Até agora utilizaram a Internet:
<Marque somente um dos quadrados>
1
muito raramente (1 ou 2 vezes)
2
raramente (mensalmente)
3
ocasionalmente (quinzenalmente)
4
frequentemente (semanalmente)
5
muito frequentemente (diariamente)
5) A seguir estão mencionadas várias atividades que se podem fazer na Internet. Em geral, vocês
utilizam a Internet para:
< Para cada atividade marque somente um dos quadrados>
Atividade
1
2
3
4
5
Nunca
Raramente
Ocasionalmente
Frequentemente
Muito frequentemente
a
visitar “sites” (páginas Web)
b
procurar informações acerca de
coisas que os interessem
110
c
utilizar sites de pesquisa
(exemplos: Google, Yahoo!,
BuscaPé, etc.)
Atividade
1
2
3
4
5
Nunca
Raramente
Ocasionalmente
Frequentemente
Muito frequentemente
d
comunicar diretamente com
outros usuários da Internet
(exemplos: MSN, Skype, Chat
etc.)
e
enviar mensagens por correio
eletrônico (e-mail)
f
participar em grupos de
discussão (exemplos: yahoo
groups, google groups, etc)
g
responder a pesquisas e
questionários
h
procurar imagens
i
assistir a vídeos
j
ouvir músicas
k
fazer o "download" de imagens,
vídeos ou músicas
l
encomendar ou comprar
produtos (exemplos: discos,
revistas, etc.)
m
deixar comentários nos "sites"
que visitam
n
criar conteúdo para o seu
próprio “site”
o
Se fizerem regularmente uma
atividade na Internet que não
esteja mencionada, por favor,
diga qual é:
_________________________
_________________________
_________________________
6) Acontece de voltar a "sites" que já visitaram:
<Marque somente um dos quadrados>
1
nunca
2
Raramente
3
ocasionalmente
4
frequentemente
5
muito frequentemente
111
7) Quando utilizam a Internet imprimem as páginas que consultam:
<Marque somente um dos quadrados>
1
nunca
2
raramente
3
ocasionalmente
4
frequentemente
5
muito frequentemente
8) Visitam "sites" noutras línguas:
<Marque somente um dos quadrados>
1
nunca
2
Raramente
3
ocasionalmente
4
frequentemente
5
muito frequentemente
9) Entre as 5 frases propostas, aquela que melhor descreve a sua infraestrutura informacional é:
<Marque somente um dos quadrados>
1
temos apenas um computador onde não há ligação à Internet
2
temos mais de um computador, mas não há ligação à Internet
3
temos apenas um computador onde há uma ligação à Internet
4
temos mais de um computador e há uma ligação à Internet em pelo menos um deles
5
temos mais de um computador e há ligação à Internet em todos eles.
10) Entre as 5 frases propostas, aquela que melhor descreve a sua conexão é:
<Marque somente um dos quadrados>
1
nos conectamos à internet por conexão discada (até 56 kbps)
2
nos conectamos à internet por um modem ADSL (banda larga)
3
nos conectamos à internet por cabo (banda larga)
4
nos conectamos à internet via rádio (banda larga)
5
nos conectamos à internet por tecnologia 3G (banda larga)
112
11) Em geral, nos dias de semana (segunda, terça, quarta, quinta e sexta) quanto tempo passam
conectados à Internet?
<Marque somente um dos quadrados>
1
menos de 1/2 hora por dia
2
entre 1/2 hora e 1 hora por dia
3
entre 1 hora e 2 horas por dia
4
entre 2 horas e 5 horas por dia
5
mais de 5 horas por dia
BLOCO 3 - OPINIÃO SOBRE A INTERNET
12) Seguem-se várias frases que exprimem determinadas opiniões sobre a Internet. Mesmo que
nunca tenham utilizado a Internet, por favor, OPINE.
< Para cada atividade marque somente um dos quadrados>
Classificação
1
2
3
4
5
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
a
“A Internet é revolucionária”
b
“A Internet é uma perda de
tempo”
c
“A Internet permite melhorar a
comunicação entre as pessoas”
d
“A Internet permite melhorar a
comunicação entre as
organizações”
e
“É mais agradável aprender com
a Internet do que com os livros”
f
“Aprende-se muito facilmente a
utilizar a Internet”
g
“Uma vez que se tenha começado
a utilizar a Internet não para
passar sem ela”
h
“Muitas vezes é difícil encontrar
o que se procura na Internet”
i
“A Internet é antes de tudo uma
forma de
entretenimento/diversão”
113
j
“Deveria controlar-se o que há na
Internet (exemplos: "sites"
racistas, pornográficos, etc.)”
k
“Para fazer uma pesquisa os
livros são mais eficazes que a
Internet”
Classificação
1
2
3
4
5
Discordo
totalmente
Discordo
parcialmente
Não concordo,
nem discordo
Concordo
parcialmente
Concordo
totalmente
l
“A Internet é uma ameaça para a
língua portuguesa”
m
“Para utilizar a Internet, é
necessário conhecer bem inglês”
n
“Para utilizar a Internet é preciso
conhecer bem informática”
o
“A Internet vai substituir a
televisão”
p
“Daqui alguns anos ter Internet
vai ser tão natural como ter
telefone ou televisão”
q
“No futuro, as pessoas vão passar
a comprar quase tudo através da
Internet”
r
Para trabalhar na sociedade de
amanhã vai ser necessário
dominar a Internet”
s
“Normalmente podemos confiar
nas informações que
encontramos na Internet ”
t
“A Internet favorece o
crescimento de cooperativas e
associações”
u
“A Internet aproxima os
empreendimentos de seus
clientes”
v
“A Internet é uma ferramenta
indispensável para um
empreendimento da economia
solidária”
x
“A Internet facilita a
comercialização justa de
produtos e serviços solidários”
w
“A internet favorece o ativismo
político e ajuda os movimentos
sociais”
Obrigado pela tua participação!
114
APÊNDICE B Roteiro semi-estruturado de entrevista
BLOCO 4 APROPRIAÇÃO DA INTERNET PELO EES
Qual a importância da internet para que vocês possam atingir seus objetivos?
Vocês utilizam a internet para comercializar os seus produtos? (Por que não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar a comercialização dos seus
produtos?
Vocês utilizam a internet para divulgar os seus produtos? (Por que não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar a promoção e propaganda dos
seus produtos?
Vocês utilizam a internet para selecionar fornecedores e comprar matéria-prima ou
insumos para a produção? (Por que não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar as suas compras?
Vocês utilizam a internet para pagar contas ou tributos? (Por que não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar o trabalho da tesouraria?
Vocês utilizam a internet para recrutar novos funcionários ou associados/cooperados ?
(Por que não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar o recrutamento de pessoal?
Vocês utilizam a internet para treinar os funcionários ou associados/cooperados ? (Por
que não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar a atividade de treinamento?
Vocês utilizam a internet para comunicar com os(as) associados(as)/cooperados? (Por que
não?)
o Como a internet tem sido utilizada para melhorar a comunicação interna entre
os(as) associados(as)/cooperados ?
115
APÊNDICE C Transcrição das entrevistas
Entrevista nº 1
Importância da internet para atingir objetivos
Ah, eu gostaria de ter mais. Saber mesmo, sabe. Porque, quando chegasse o
computador pra Fulana, pra monitora, ela ia me chamar e pronto. - Não, vem aqui,
vamos fazer. se você o sabe você fica sendo a excluída. Se você soubesse
mesmo, já dominasse, ai você fica mais interagindo. Interage mais com o grupo, com as
colegas. Pode ensinar as colegas também, né! Então eu acho que faz falta mesmo a
internet pra a gente sabe. Faz falta a internet. Para a gente poder aprender mais. Tanto
que tem gente agora, né! Até as mais velhas dizem que se tivesse aqui entravam (sic).
Sabe?! Porque eu chegava no ano passado contanto que é legal, não sei o que...
hoje todo mundo quer. Todo mundo fica esperando ter uma oportunidade. Porque nos
temos uma sala aqui cheio de computadores(...)”
“É bom para o ofício, pra casa também. Às vezes em casa eu me sinto meio excluída.
Eu vejo a minha sobrinha com 10 anos dando um show no computador e eu com 54...
Eu vejo a mãe dela... Ela veio com a internet, ! Então você fica meio assim... Você
vem aqui, aqui, aqui. Você faz: gente então deixa eu aprender. Não então, você fica
se sentindo uma analfabeta. Ai você fala assim: - gente do céu, tem que aprender! É
bom para o trabalho é bom para casa. Pra você estar viajando, estar num hotel, né! (...)”
Utilização da internet para comercializar os produtos
“Ainda, não!”
“Porque aqui nos vamos começar na loja da gente. Nós estamos entrando...”
Utilização da internet para divulgar os produtos
“Pretendemos.”
“Para divulgar mesmo, tanto pelo Brasil, como para fora.”
“É importantíssimo, vai melhorar assim muito pra a gente, sabe. Nossa eu vou
conhecer. Porque tava eu falando ontem. Eu conversei com uma moça sentada ao meu
lado e a menina: - Você trabalha com o que? Eu trabalho na entidade. - Ah, o que é a
entidade? Você pensou se tivesse na internet já. Nossa muito mais gente ainda
(conheceria). Eu falo da entidade nos 4 cantos do mundo, né! Pessoas já estão
conhecendo. Imagina com a internet, né!? Ia melhorar 100 %.”
116
Utilização da internet para selecionar fornecedores, comprar matéria prima, insumo
“Isso nós pretendemos. Nossa pretensão. Essa é a nossa intenção. É uma prioridade.”
Utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados
Ainda não. Ainda ta sendo, assim, na base da conversa. A Fulana ta conversando, mas
não ta na internet não. Nem todo mundo que tem, né, a condição. Tudo ta na fase
assim... não chegou em recrutar pela internet não.
Utilização da internet para treinar cooperados/ associados
“Vamos usar. Com o tempo nos vamos usar. Aqui vai ser colocado e vai ter que... nos
vamos ter que... Alguém vai ter que nos ensinar e nós vamos ter que aprender.”
Utilização da internet para se comunicar com os cooperados/ associados e Economia
Solidária
É, a Fulana comunica comigo assim. Comunica com o Fulano. Com as incubadoras,
com os parceiros da gente. Tudo com a internet.
117
Entrevista nº 2
Importância da internet para atingir objetivos
“A internet é porque a gente necessita dela para receber informações, projetos, sabe.
Mais inteirado nos movimentos sociais que estão por ai, sabe. Nas notícias. Então,
assim, para ficar mais por dentro dos problemas que envolvem a economia solidária e a
gente se beneficiar mais com isso.”
Utilização da internet para comercializar os produtos
“ Não, ainda não.”
Porque a gente ainda não está organizado para isso. A gente não tem habilitação. A
gente precisa de mais conhecimento para fazer isso. Então...
Necessidade além do conhecimento, para comercializar os produtos na internet:
“É, primeiro é fazer um, uma página com os nossos produtos. Isso fica caro, a gente
fazer isso. Então a gente ainda não tem condições. O grupo ta um pouco novo, tem
pouco tempo que a gente trabalha, né. Então a gente ainda não está totalmente
organizado para fazer esse tipo de coisa. Mas eu acho que no futuro nós vamos chegar
lá.”
Prazo para comercializar por meio da internet:
“ Ah, é médio prazo.”
Utilização da internet para divulgar os produtos
Para divulgar a gente utiliza. Por exemplo, quando a gente vai participar de uma feira,
por exemplo agora a gente ta tentando colocar o produto da gente na Feira do
Empreendedor, então o SEBRAE mandou para a gente a informação pra a gente vai
tentar (sic) tirar fotos de outros produtos. Por exemplo, promoverem para a gente
alguma coisa. A gente fez curso no Sebrae, tudo. A gente participou de encontros
no SEBRAE.”
Utilização da internet para selecionar fornecedores, comprar matéria prima, insumo
“Ainda não.”
Os impedimentos:
118
“É a mesma resposta anterior, porque a gente ainda não está bem organizado para
isso. A gente precisa se organizar mais.”
Utilização da internet para pagamentos
“Não, não. A gente não utiliza.”
Utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados
“Também não”
Planos de utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados:
“É pode ser. A gente não pensou nisso. Mas é um caso a pensar.”
Utilização da internet para treinar cooperados/ associados
“ Também não.”
Planos de utilização da internet para treinar cooperados/ associados:
“Acho que sim. Nós vamos chegar lá. Acho assim que é uma questão da gente mesmo
aproveitar mais os serviços que a internet coloca para a gente.”
Utilização da internet para se comunicar com os cooperados/ associados
“Já, isso a gente faz, né. Pouco, mas a gente faz. A gente receber (sic) informações de
outros grupos, a gente receber informações do centro público, do Fórum de Economia
Solidária. Então a gente tem...”
Utilização da internet para se comunicar com movimentos sociais e outros
empreendimentos solidários
A internet é importantíssimo, que eu acho que a gente ainda está um pouco a
quem do que a gente poderia aproveitar mais da internet, né fulano. A gente podia ir
além e assim. A gente podia assim, diminuir um pouco de nosso trabalho fazendo
assim. Eu acho que falta a gente fazer curso. Especializar melhor. (...) O conhecimento.
O que pega a gente é o conhecimento.”
119
Entrevista nº 3
Importância da internet para atingir objetivos
“É divulgação, né. Porque a gente utiliza a internet principalmente para divulgar o nosso
produto. Mandando e-mail, . Então, geralmente é isso. Estamos procurando, agora,
fazer um site, né. E fazendo pesquisa e tudo. Mas sabemos que a questão principal da
internet é a divulgação dos nossos produtos.”
Utilização da internet para comercializar os produtos
“Também. Já, já. A gente estava com um site, né! A gente enviemos (sic) através do
site e por email. Porque a gente um cartão com o e-mail, as pessoas ligam. A gente
já enviou até pra outros estados, tá?! Através do contato da internet, na internet.”
Utilização da internet para divulgar os produtos
“Sim, muitas vezes.”
“Hoje em dia é enviando e-mail. Porque a gente anota nos eventos e nas feiras que a
gente participa. A gente anota os e-mail das pessoas. Pega os contatos. Depois a gente
envia para elas listas de preços, de produtos, de fotos, etc.”
Utilização da internet para selecionar fornecedores, comprar matéria prima, insumo
“Máquinas. Para comprar máquinas. Toda vez que vai comprar algum tipo de máquina
a gente primeiro pesquisa na internet, tá?! Pesquisa material também. Preço de
material. A gente faz muito isso.”
“Compra não. Geralmente a compra (de material) é in loco. Mas a pesquisa toda é feita
pela internet. Porque é mais prático para a gente, né! Não tem que sair.”
Utilização da internet para pagamentos
“Não.”
“Eu não confio. Principalmente por isso. Transação financeira pela internet eu ainda não
tenho essa confiança.” Então eu não faço nada. Não utilizo cartão de crédito. Nada
disso. Conta de banco. Não mexo com a internet”
Utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados
“Não, não. Ainda não.”
120
“Ainda não tivemos essa necessidade, né!”
Planos de utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados:
“Provavelmente sim. Se tiver uma demanda, né! Provavelmente sim.”
Utilização da internet para treinar cooperados/ associados
“Não”
“Porque não chegamos ainda neste nível, né!”.
“Porque como somos um grupo pequeno, ainda, né! A gente está sempre face-a-face.
Não tem essa necessidade, né! Então eu creio que esse tipo de treinamento é um
grupo maior, né! Então, atualmente a gente não tem essa necessidade.”
Utilização da internet para se comunicar com os cooperados/ associados
“Sim.”
“E-mail. E-mail e site de relacionamento, né! Também.”
Utilização da internet para se comunicar com movimentos sociais e outros
empreendimentos solidários
“Pra pesquisar, pra ver. Com certeza! Então. É que a gente trabalha com a questão da
igualdade racial, né! Então tem muito isso. Muita rede. Então a gente está sempre em
contato, ! Então tem que entrar para ver o que está acontecendo nos movimentos,
né!”
121
Entrevista nº 4
Importância da internet para atingir objetivos
Oh, o nosso objetivo é o seguinte: a internet nos ajuda no momento em que a gente
consegue passar para as pessoas que vão acessar... Geralmente por e-mail, a gente
manda os modelos novos, o que a gente tem, o que a gente não tem. Para contar para
outras entidades, né! Tipo e-mail. Vão repassando e-mail para as pessoas conhecerem
nossos produtos. Porque a gente não tem um blog. A gente não tem nada assim,
comercial para os nossos produtos. A gente manda falando que tem e onde a gente tá.
Porque a gente não vai fazer tipo um catálogo. A gente não tem. A gente manda
convidado as pessoas a conhecer os produtos da gente.
Utilização da internet para comercializar e divulgar os produtos
“Já.”
“Foi... Nós fizemos a feira da economia solidária, em Belém. Conheci uma senhora
que tava montando uma lojinha. Então ela comprou 25 pares de sapatos na nossa mão,
que foi mandado pelo SEDEX. A gente tem contato ahoje. que ela compra muito
pouco agora. Quando vem aqui, pega alguma coisa. A primeira experiência nossa foi
essa. Mandar daqui pra Belém.
Outras experiência
“Não. Geralmente é e-mail que as pessoas mandam. Você tem sapato dessa cor? -
Olha, eu vou passar lá. Mas experiência mesmo foi só essa.
Melhora na forma de comercialização
“Muito. Muito. Muito. Porque você consegue, né, falar com as pessoas o que você tem,
que pode (sic) vir aqui. Não mostra pela internet porque senão fica muito aquela coisa.
Você fica mostrando na internet e daqui a pouco ta vendo seu sapato não sei onde.
Aquela coisa... E é complicado, né! As vezes a pessoa vê na internet, ai vem aqui e não
tem. Então a gente faz assim: oh tem uma cor nova lá, tem um modelo novo aqui. É
assim que a gente faz. Aí a pessoa vem aqui e vê.”
Utilização da internet para selecionar fornecedores, comprar matéria prima, insumo
“Não”
122
“Não, a gente, Por que a gente tem... Como é... Pelo menos os sapatos. Como o
sapato vem de uma pessoa que tem mais tempo com o sapato, ela tem os
locais. Aquela coisa. Agora, quando é alguma coisa assim que... linha, vamos supor,
tinta. A gente já sabe onde a gente vai. No ponto do artesão ou a casa do (...) e o outro
é a casa do artesão. Então a gente sabe, a gente compara os preços e cá. E a
gente ta sempre comprando lá ou se surge uma outra coisa a gente vai ver onde é bom.
Vai aqui. Olha o preço aqui. Olha o preço ali.”
Pesquisar preços pela internet
“Não. A gente prefere pessoalmente mesmo. É muito melhor. Porque ai você já chega e
já resolve.”
Utilização da internet para pagamentos
“Já. A taxa da prefeitura a gente paga pela internet. Porque é até a contadora que faz
isso, né! Ela paga pela internet.”
Restrições quanto ao uso para pagar contas
“Não. Não. Eu só não faço porque assim, no contrato que a gente tem com a contadora,
né! Que a gente tem que fazer. Ela faz isso com a gente. Mas quando não pode eu
mesmo vou e pago. Ela manda a boleta (sic) para mim. Mas a maioria das vezes ela faz
pela internet.”
Utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados
“Já, voluntários. Ta com a gente fazendo algum tipo de evento que a gente precisa. A
gente vai muito nessas faculdades. UFMG.”
“Foi uma menina. Uma vez eu dei uma entrevista pra menina da UNA. Curso de
serviço social. Ela falou assim: Ah, se precisar de alguma coisa a gente a
disposição. eu sempre mando e-mail para aquela pessoa que se ofereceu. coloco
alguma coisa no e-mail da gente e elas vão repassando. Aí a gente consegue.”
Utilização da internet para treinar cooperados/ associados
"Não. Não, nunca utilizamos. Mas a gente num...”
Perspectiva de uso:
“Ah, se fosse necessário. Porque nossos treinamento, eles são muito assim...
eventuais, né! Então assim, eu acho melhor ser chamado pra vir ficar dois, três dias.
123
Você vê a pessoa, conversar com ela. Com se fosse corpo-a-corpo mesmo. Nós
achamos melhor assim.”
Utilização da internet para se comunicar com os cooperados/ associados
“Ah, de mais! Nós comunicamos muito pela internet.”
“Email mesmo, quem tem SMS (MSN), né! Até quem tem... orkut. Mas quando
necessário. Mas eu detesto. Eu gosto mesmo do email, Então para mim é email
mesmo pronto e acabou. Mas usam esses três tipos.”
Utilização da internet para se comunicar com movimentos sociais e outros
empreendimentos solidários
“Tem diariamente. Diariamente a gente faz. Qualquer comunicado que a a gente pedir:
um tipo de modelo de folder, um material, a gente usa a internet.
124
Entrevista nº 5
Importância da internet para atingir objetivos
“Divulgar, né, o nosso trabalho, as nossas mercadorias.”
“Pegar outras idéias também, né! De outras pessoas, de outros lugares”
Utilização da internet para comercializar os produtos
“Ainda, não.”
Por que a gente começou agora, também, aqui, né! Mas é uma coisa que a gente ta
pensando em fazer sim. Divulgar o trabalho pela inernet.
Utilização da internet para divulgar os produtos
“Não, ainda, não!”
“ Falta mesmo de tempo, de pensar nisso.”
Utilização da internet para selecionar fornecedores, comprar matéria prima, insumo
“Não, ainda, não!”
Porque tem muito tempo que a gente fabrica, então a gente tem os lugares onde a
gente compra. Mas é muito bom ta atualizando, né! Fazer uma pesquisa. A gente vai
passar a fazer isso sim.”
Utilização da internet para pagamentos
“Não, ainda, não!”
Sobre a possibilidade de vir a utilizar
“Não. Eu tenho muito receio ainda. Clonagem né! De cartão, de documento”
Utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados
125
“Não, porque a gente não precisa de funcionário ainda, né! A gente está começando
agora. Primeiro empreendimento. Então só nós duas mesmo.”
Sobre a possibilidade de vir a utilizar
“Utilizaria, sim. Utilizaria.”
Utilização da internet para treinar cooperados/ associados
“Não. Nós não temos ainda, né! Funcionários...”
Sobre a possibilidade de vir a utilizar
“Utilizaria. Utilizaria, sim.”
Utilização da internet para se comunicar com os cooperados/ associados e Economia
Solidária
“A gente usa sim. Tem lá o pessoal da economia solidária. Tem o site. A gente
comunica sim.”
“A gente ganha tempo, ! Facilidade. Às vezes não para participar de uma reunião.
A gente pela internet tudo o que aconteceu. Então facilita, agiliza bem o tempo da
gente, né!”
126
Entrevista nº 6
Importância da internet para atingir objetivos
“É o melhoramento de nossas vendas, né!”
“Para a gente poder ter mais oportunidades de expor nosso produto e ele ser mais
conhecido.”
Utilização da internet para comercializar os produtos
“Não, ainda não.”
Porque o grupo, a gente começou ele agora, né! Fazem 2 meses (sic), né, que a gente
está neste grupo. Então a intenção é fazer, é usar a internet para a gente crescer.
Usos para a internet
“Pra a gente poder unir nosso grupo, né! Pra a gente poder conseguir outros espaços,
pra a gente, né! Ter venda.”
Utilização da internet para divulgar os produtos
“Não, ainda não usamos.”
“ Pelo grupo ta começando agora, então agora que a gente, né, ta planejando isso.
Crença na potencialidade da internet para divulgação:
“Com certeza!”
A internet ou o panfleto, qual a mais eficaz:
“A internet, porque eu acho que ela atinge, assim, um público maior.”
Utilização da internet para selecionar fornecedores, comprar matéria prima, insumo
“Não, ainda não.”
“Pela a gente (sic) ta comprando... A gente compra ainda em quantidade pequena,
então a gente não, né! Num olha em termos de quantidade assim ainda. Mas agora a
127
intenção é olhar, né. Agora para pesquisar porque é um grupo maior, então a
compra é maior.”
Utilização da internet para pagamentos
“Não, ainda não.”
“Provavelmente, futuramente, a gente utilizaria sim, né. Agora, no momento, o. A
gente não usa.”
Utilização da internet para recrutar novos cooperados/ associados
“Não, não!”
“O motivo é pelo grupo ter começado agora, então a gente ta vendo que... os
tutores e os alunos. a gente não tem ainda aquela, né, pessoas para poder fazer
isso, ainda não. Nosso grupo é ainda pequeno e ta começando agora.”
Crença na potencialidade da internet para recrutar:
“Acreditamos.”
Utilização da internet para treinar cooperados/ associados
“Não porque a gente não tem (funcionários).”
“Aí pra a gente seria bom. Por que a gente poderia ta trabalhando com pessoas de
outros bairros, né! De repente a gente encontraria com grupos de outros bairros, né!
Por exemplo Betim. Aí teria como a gente se comunicar. Ajudaria.”
Utilização da internet para se comunicar com os cooperados/ associados
“Usaríamos, usaríamos. Às vezes são coisas pequenas que você pode resolver rápido,
né. No caso seria assim.”
“Seria mais assim para comunicar um tutor com o outro. Às vezes um aluno. um e-
mail. De repente só uma informação”
Utilização da internet para se comunicar com movimentos sociais e outros
empreendimentos solidários
“Ainda não. Por a gente não ter no nosso grupo ainda para a gente usar de lá. a
gente não usa ainda não.”
APÊNDICE D Print screen da tela do blog temático
www.abcdainternet.wordpress.com
APÊNDICE E Briefing da cartilha
Este material pedagógico teve a intenção de destacar a importância das mídias sociais
e como elas vêm transformando a comunicação em geral e as relações no mundo do
trabalho.
Trata-se de uma cartilha com caráter de guia, que oferece indicações relevantes para
qualquer EES que deseja aumentar a sua participação nos novos espaços institucionais
propiciados pelas tecnologias livres presentes na grande rede mundial de
computadores.
Dados Técnicos
Título: “ABC da Internet: Guia prático para uso e apropriação por
empreendimentos econômicos solidários”.
Autor: Reuber da Silva Fonseca
Projeto gráfico e diagramação: Reuber da Silva Fonseca
Formato: policromia em formato A5.
Impressões: inicialmente 100 exemplares em policromia
Número de páginas: 12
Arquivo eletrônico: está disponível no blog “ABC da Internet”, no endereço:
www.abcdainternet.wordpress.com
130
Elementos da Cartilha
Capa (Ilustrada)
Contra-capa (elementos técnicos, realizador, apoiador)
Página 01 “Uma palavra inicial” (apresentação da iniciativa)
Página 02 “O que é a internet?” (conceito e histórico)
Página 03 e 04 “Porque deveríamos nos apropriar da internet?” (Detalhar o
potencial democrático do uso das TICs pela Economia Solidária)
Página 05 “Como começar?” (Definição de uma estratégia de apropriação)
Página 06 e 07 “Redes sociais” (conceitos, dicas e cases)
Página 08 e 09 “Sites, blogs e microblogs” (conceitos, dicas e cases)
Página 10 e 11 Wikis e grupos de discussão” (conceito, dicas e cases)
Página 12 “Recomendações Finais” (recomendações, links interessantes e
convite para conhecer o blog “ABC da Internet”).
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
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Baixar livros de Economia Doméstica
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Baixar livros de Educação - Trânsito
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