Partindo da pedagogia dialógica, o diálogo da criança com os interlocutores, seja
nas diversas formações de grupos (pequenos, médios, ou com toda a classe) na sala
(Pontecorvo & cols., 2005), seja com o professor, favorece a troca de significados e a
construção de conhecimento. Nesse contexto, as trocas comunicativas não-verbais fazem
parte do diálogo (Bonica, 2008; Branco, Pessina, Flores & Salomão, 2004). De um lado,
temos a gramática da ação e da emoção (Español, 2004, 2005), ou seja, as trocas de
olhares, o “chegar junto” entre crianças e professor. De outro, os desenhos: por meio deles
é possível conhecer as características culturais do coletivo em que as crianças vivem
(Gobbi, 2007; Hawkins, 2002; Mckay & Kendrinck, 2001), assim como as idiossincrasias
(os aspectos individuais), além de o desenho infantil, à sua maneira, transmitir alegria,
tristeza, frustrações, confiança, pela função de comunicação do desenho (Kitahara &
Matsuishi, 2006; Pillotto, Silva & Mognol, 2004)
Entretanto, o desenho, sendo simbolismo infantil denotando os objetos, os seres e
as relações entre eles, e por se configurar como um documento singular com informações
infantis transmitidas, nem sempre pode ser entendido sem a mediação da fala infantil. Se,
por um lado, o professor pergunta à criança o que está desenhado, e ela pode achar que seu
desenho precise de tradução, por outro, o canal de diálogo que se abre entre eles é
importante para fazer com que a criança se preocupe em figurar, fabular e imaginar para
atender às demandas do interlocutor, e para interpretar o que fez. Essa interpretação dá
possibilidade à criança de explicitar os significados das coisas e das relações entre as
pessoas por meio de imagens, como ela faz na fala com os sons e com as letras na escrita.
Apesar de sua importância, nem o desenho nem a fala têm representado um
componente curricular na escolarização inicial de crianças. Os educadores estão
preocupados em seguir currículos oficiais que, geralmente, não incluem o desenho como
um fator importante no desenvolvimento cultural infantil. Essa ausência, ou o privilégio da
escrita sobre o desenho (Moreira, 2002), causa prejuízos tanto às crianças – pela
desvalorização dos saberes, das escolhas e dos interesses pessoais – como aos professores
– pela perda da oportunidade privilegiada de ampliar seus conhecimentos sobre seus
alunos. E, principalmente, por não atender ao desenvolvimento do letramento multimodal
(Dyson, 2008; Kendrick & Mckay, 2004), no qual os usos e funções do modo visual e
gráfico vêm mudando e criando novos olhares em direção às produções gráficas livres das
crianças, às oportunidades de livre atuação com imagens, letras, movimentos e brincadeiras
que as apoiem na construção de textos originais, como os propostos no experimento de
Luria (1988; Contijo & Leite; 2002; Bonoti, Vlapos & Metallidou, 2005).