Download PDF
ads:
INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA DE ÁGUA DOCE E
PESCA INTERIOR BADPI
ANATOMIA COMPARADA DO ESQUELETO ENDOFRAGMAL NA
FAMÍLIA DE CARANGUEJOS DE ÁGUA DOCE
TRICHODACTYLIDAE (CRUSTACEA: BRACHYURA)
Manuel Enrique Pedraza Mendoza
Manaus, Amazonas
Maio / 2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Manuel Enrique Pedraza Mendoza
ANATOMIA COMPARADA DO ESQUELETO ENDOFRAGMAL NA
FAMÍLIA DE CARANGUEJOS DE ÁGUA DOCE
TRICHODACTYLIDAE (CRUSTACEA: BRACHYURA)
Orientador: Dr. Célio U. Magalhães Filho
Dissertação de mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Biologia de
Água Doce e Pesca Interior do INPA, como
parte dos requisitos para a obtenção do título
de Mestre em Ciências Biológicas.
Manaus, Amazonas
Maio / 2010
ads:
ii
P371 Pedraza-Mendoza, Manuel Enrique
Anatomia comparada do esqueleto endofragmal na família de caranguejos
de água doce Trichodactylidae (Crustacea: Brachyura) / Manuel Enrique
Pedraza Mendoza.--- Manaus : [s.n.], 2010.
xi, 53 f. : il.
Dissertação (mestrado)-- INPA, Manaus, 2010
Orientador : Dr. Célio U. Magalhães Filho
Área de concentração : Biologia de Água Doce e Pesca Interior
1. Trichodactylinae. 2. Dilocarcininae. 3. Carcinologia. 4. Anatomia.
5. Interpleutiros. 6. Interesternitos. 7. Lâmina de junção. I. Título.
CDD 19. ed. 595.3842
iii
Sinopse:
Foram avaliados aspectos da morfologia dos fragmas ventrais e
dorsais, da lâmina de junção e da sella turcica do esqueleto
endofragmal, em representantes das tribos e subfamílias de
Trichodactylidae.
Palavras-chave: Carcinologia, interesternitos, interpleuritos,
lâmina de junção, Trichodactylinae, Dilocarcininae.
iv
Agradecimentos.
Ao Programa de Estudante-Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG) do Ministério das
Relações Exteriores e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CNPq, pela concessão da bolsa de mestrado que tornou possível esta pesquisa;
ao meu orientador, o Dr. Célio Magalhães Filho, por todo seu apoio e orientação
acadêmica no decorrer do mestrado;
à Dr. Barbara Robertson, por sua ajuda na redação do abstract da dissertação;
aos doutores Sérgio Luiz de Siqueira Bueno, do Instituto de Biociências da
Universidade de São Paulo (IBUSP), Georgina Bond-Buckup, da Universidade Federal de
Rio Grande do Sul (UFRGS), Paulo Collins, do Instituto Nacional de Limnología (INALI),
Fernando Álvarez, da Universidad Nacional Autónoma de México (UNAM), pela doação de
material;
ao Dr. Marcos Tavares, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo
(MZUSP), pela sua hospitalidade durante minha visita ao Museu, e sua valiosa acessória
acadêmica no desenvolvimento desta pesquisa, bem como pela doação de material para o
trabalho;
à professora Martha Helena Rocha de Campos, do Instituto de Ciencias Naturales
(ICN) de la Universidad Nacional de Colombia, que me iniciou no mundo da pesquisa
carcinológica e, desde então, tem-me guiado no decorrer da minha vida acadêmica. Ela
também contribuiu com a doação de material para o trabalho;
a meus colegas e amigos das turmas 2008 de mestrado dos Programas de Pós-
Graduação do BADPI e da Entomologia, especialmente a Eduardo Amat, Gersolval Silva,
Galileu Dantas e Taciane Almeida, com quem compartilhei momentos muito bons;
ao M.Sc. Fabio Costa, que me acolheu em sua casa em minhas primeiras estadas em
Manaus e me ofereceu sua amizade incondicional;
ao Dr. Daniel Pimpão, que por mais de um ano foi meu colega de laboratório e me
forneceu constante ajuda no desenvolvimento de dissertação;
a minha e, Lilia Isabel Mendoza Castro, meu pai, Manuel Alfonso Pedraza Vega,
minha avó, Isabel Castro, meu irmão, Camilo Alfonso Pedraza Mendoza, e minha namorada,
Bibiana Arismendi, que constantemente me acompanharam à distância em todo este processo
acadêmico e que me motivam dia a dia para seguir me esforçando.
v
Resumo.
O esqueleto endofragmal é a principal estrutura de suporte do sistema locomotor nos
crustáceos braquiúros. Tem origem cuticular, e está formado a partir das placas dos esternitos
e pleuritos dos oitos somitos torácicos e por suas invaginações internas. Os caracteres da parte
ventral do esqueleto endofragmal, que se refletem externamente nas linhas de sutura do
esterno torácico, são critérios importantes de classificação no atual sistema supragenérico de
Trichodactylidae: [Trichodactylinae e Dilocarcininae (Dilocarcinini + Valdiviini)]. Com o
objetivo de testar essa hipótese de classificação, foram analisados os caracteres internos e
externos do esqueleto endofragmal de 42 indivíduos, entre machos e fêmeas adultos,
pertencentes a 17 espécies e 10 gêneros da família. Para a preparação do material, os
caranguejos foram dissecados, e seus esqueletos submersos por um período de 24 a 48 horas,
numa solução quente de hidróxido de potássio (KOH). A análise foi realizada com o auxilio
de microscópio estereoscópico, e os desenhos das estruturas mais relevantes foram preparados
com o auxílio do programa Adobe Illustrator CS2
a partir de fotografias digitais. Com a
análise anatômica do material dissecado foi possível descrever um grupo de variações na
forma, orientação e grau de interrupção do esterno torácico, teto pleural, fragmas ventrais e
dorsais, assim como da lâmina de junção. De acordo com essas características, as espécies
avaliadas foram reunidas em três grupos, sendo esses agrupamentos consistentes com a
proposta de classificação de Trichodactylidae em subfamílias e tribos. O presente trabalho
ressalta a importância informativa da morfologia do esqueleto endofragmal na taxonomia de
Trichodactylidae.
vi
Abstract.
In brachyuran crustaceans the endophragmal skeleton is the main support structure of the
locomotory complex. Its origin is cuticular and it is formed by the sternite and pleurite plates
of the eight thoracic somites and their internal invaginations. The ventral characters of the
endophragmal skeleton, reflected externally in the suture lines of the thoracic sternum, are a
important classification criteria for the current suprageneric system of Trichodactylidae:
[Trichodactylinae & Dilocarcininae (Dilocarcinini + Valdiviini)]. In order to test this
hypothesis, the internal and external characters of the endophragmal skeleton of 42 adult
crabs belonging to 17 species and 10 genera were examined. For the preparation of the
material, the crabs were dissected and their skeletons submerged in a hot solution of
potassium hydroxide (KOH) for a period of 24 to 48 hours. The analysis of the skeletons was
performed with the aid of a stereomicroscope, and drawings of the most relevant structures
were digitally inked using Adobe Illustrator CS2
based on digital photographs. Variations in
the shape, orientation and level of interruption of the thoracic sternum, pleural roof, ventral
and dorsal phragmas and junction plates were described from anatomical preparations. Based
on these characteristics, the species were separated into three groups, which is consistent with
the proposed classification of Trichodactylidae into subfamilies and tribes. This study
highlights the importance of the morphological characteristics of the endophragmal skeleton
for Trichodactylidae taxonomy.
vii
Resumen.
El esqueleto endofragmal es la principal estructura de soporte del sistema locomotor en los
crustáceos braquiuros. Tiene origen cuticular, y está formado a partir de las placas de los
esternitos y pleuritos de los ocho somitos torácicos y por sus invaginaciones internas. Los
caracteres de la parte ventral del esqueleto endofragmal, que se reflejan externamente en las
líneas de sutura del esterno torácico, son criterios importantes de calcificación en el actual
sistema de supregenerico de Trichodactylidae: [Trichodactylinae y Dilocarcininae
(Dilocarcinini + Valdiviini)]. Con el objetivo de probar esa hipótesis de clasificación, fueron
analizados los caracteres internos y externos del esqueleto endofragmal de 42 individuos entre
machos y hembras adultos, pertenecientes a 17 especies y 10 géneros de la familia. Para la
preparación del material, los individuos fueron diseccionados y sus esqueletos sumergidos,
por un periodo de 24 a 48 horas, en una solución caliente de Hidróxido de Potasio (KOH); el
análisis del material se realizo con el auxilio de un microscopio estereoscópico, y los diseños
de las estructuras más relevantes fueron realizados en el Adobe Illustrator CS2
a partir de
fotografías digitales. El análisis anatómico permitió describir un grupo de variaciones en la
forma, orientación y grado de interrupción del esterno torácico, techo pleural, fragmas
ventrales y dorsales, así como de la lámina de unión. De acuerdo con esas características, las
especies estudiadas fueron reunidas en tres grupos, siendo esas agrupaciones consistentes con
la propuesta de clasificación de Trichodactylidae en subfamilias y tribus. El presente trabajo
resalta la importancia informativa de la morfología del esqueleto endofragmal en la
taxonomía de Trichodactylidae.
viii
Sumário
1. Introdução ......................................................................................................................1
2. Objetivos ........................................................................................................................4
3.1 Objetivo geral .................................................................................................... 4
3.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 4
3. Material e Métodos ........................................................................................................ 5
3.1. Material............................................................................................................... 5
3.2. Métodos.............................................................................................................. 6
3.3. Elementos de morfologia.................................................................................... 8
3.3.1 Esterno torácico............................................................................................... 8
3.3.2 Esternitos …………........................................................................................ 8
3.3.3 Interesternitos ................................................................................................. 8
3.3.4 Septo mediano ................................................................................................ 9
3.3.5 Lâmina de junção............................................................................................ 9
3.3.6 Pleuritos.......................................................................................................... 9
3.3.7 Teto pleural................................................................................................... 10
3.3.8 Interpleuritos................................................................................................ 10
3.3.9 Sella turcica.................................................................................................. 10
4. Resultados ................................................................................................................... 12
4.1 Generalidades do esqueleto endofragmal de Trichodactylidae.............................. 12
4.1.1 Câmara muscular ventral.............................................................................. 12
4.1.2 Lâmina de junção.......................................................................................... 15
4.1.3 Câmara dorsal............................................................................................... 17
4.1.4 Septo mediano e sella turcica....................................................................... 20
4.2 Caracterização dos grupos...................................................................................... 20
4.2.1 Trichodactylinae.................................................................................................. 21
4.2.2 Valdiviini............................................................................................................. 22
4.2.3 Dilocarcinini........................................................................................................ 23
5. Discussão ........................................................................................................................ 24
6. Conclusões ...................................................................................................................... 29
7. Referências bibliográficas............................................................................................... 30
Figuras................................................................................................................................. 34
Apêndice ............................................................................................................................. 53
ix
Lista de figuras
Figura 1. Trichodactylus fluviatilis ♂02, representação fotográfica e esquemática. A, esterno
torácico, vista ventral; B, esqueleto endofragmal, vista dorsal.................................................11
Figura 2. Representação esquemática da constituição da lâmina de junção em Eubrachyura e
fotografia do esqueleto endofragmal, vista mesial (fotografia de Dilocarcinus pagei ♂01;
esquema modificado de Secretan, 1998) ..................................................................................12
Figura 3. Representação esquemática da vista ventral do esterno torácico. A,
Trichodactylinae (Trichodactylus fluviatilis ♂02); B, Valdiviini (Valdivia serrata ♂01); C,
Dilocarcinini (Dilocarcinus septemdentatus ♂02)...................................................................15
Figura 4. Representação esquemática do esqueleto endofragmal, vista mesial. A,
Trichodactylinae (Trichodactylus fluviatilis ♂01); B. Trichodactylinae (Avotrichodactylus
constrictus ♂02); C, Valdiviini (Valdivia serrata ♀01); D, Dilocarcinini (Dilocarcinus pagei
♂01)......................................................................................................................................... 17
Figura 5. Representação esquemática do esqueleto endofragmal, vista dorsal A,
Trichodactylinae (Trichodactylus fluviatilis ♂02); B, Trichodactylinae (Avotrichodactylus
constrictus ♂01) C, Valdiviini (Valdivia serrata ♂01); C, Dilocarcinini (Bottiella medemi
01)......................................................................................................................................... 19
Figura 6. Fotografia, detalhe esterno torácico, vista dorsal. A, Trichodactylininae
(Trichodactylus fluviatilis ♂02); B, Valdiviini (Zilchiopsis collastinensis 01); C,
Dilocarcinini (Dilocarcinus septemdentatus ♂ 02)..................................................................35
Figura 7. Fotografia, detalhe lâmina de junção, vista antero-mesial. A, Trichodactylininae
(Trichodactylus fluviatilis ♂01); B, Trichodactylininae (Avotrichodactylus constrictus ♂02);
C, Valdiviini (Zilchiopsis collastinensis ♂01); D, Dilocarcinini (Dilocarcinus pagei ♂01)...36
Figura 8. Avotrichodactylus constrictus, representação esquemática. A, esqueleto
endofragmal, vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto
endofragmal, vista mesial ♂02.................................................................................................37
x
Figura 9. Trichodactylus fluviatilis, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♂02; B, esterno torácico, vista ventral ♂02; C, esqueleto endofragmal, vista
mesial ♂01................................................................................................................................38
Figura 10. Trichodactylus petropolitanus, representação esquemática. A, esqueleto
endofragmal, vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto
endofragmal, vista mesial ♂02.................................................................................................39
Figura 11. Trichodactylus panoplus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista
mesial ♀02................................................................................................................................40
Figura 12. Trichodactylus dentatus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01..........................................................41
Figura 13. Trichodactylus borellianus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista
mesial ♀01................................................................................................................................42
Figura 14. Sylviocarcinus devillei, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01..........................................................43
Figura 15. Sylviocarcinus pictus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista
dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial
♀02............................................................................................................................................44
Figura 16. Zilchiopsis collastinensis, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♀01; B, esterno torácico, vista ventral ♀01; C,esqueleto endofragmal, vista
mesial ♂01................................................................................................................................45
Figura 17. Forsteria venezuelensis, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal,
vista dorsal ♀01; B, esterno torácico, vista ventral ♀01; C, esqueleto endofragmal, vista
mesial ♂01................................................................................................................................46
Figura 18. Valdivia serrata, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista
dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial
♀01............................................................................................................................................47
xi
Figura 19. Bottiella medemi, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista
dorsal ♀01; B, esterno torácico, vista ventral ♀01...................................................................48
Figura 20. Goyazana castelnaui, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista
dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial
♀01 ...........................................................................................................................................49
Figura 21. Dilocarcinus pagei, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista
dorsal ♂02; B, esterno torácico, vista ventral 02; C, esqueleto endofragmal, vista mesial
♂01........................................................................................................................................... 50
Figura 22. Dilocarcinus septemdentatus, representação esquemática. A, esqueleto
endofragmal, vista dorsal ♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto
endofragmal, vista mesial ♀01.................................................................................................51
Figura 23.Moreirocarcinus emarginatus, representação esquemática. A, esqueleto
endofragmal, vista dorsal ♂01 ; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto
endofragmal, vista mesial ♀01.................................................................................................52
Figura 24. Moreirocarcinus laevifrons, representação esquemática. A, esqueleto
endofragmal, vista dorsal ♀01; B, esterno torácico, vista ventral ♀01; C, esqueleto
endofragmal, vista mesial ♂01.................................................................................................53
1
1. Introdução
Brachyura, grupo dos caranguejos verdadeiros, possui o maior número de espécies
dentre os crustáceos decápodes (Ng et al., 2008). Das aproximadamente 6.700 espécies
descritas nesse táxon, cerca de 1.300 são consideradas como verdadeiros caranguejos de água
doce, representando aproximadamente uma quinta parte do total de braquiúros conhecidos
(Yeo et al., 2008). Atualmente, considera-se cinco famílias como exclusivas de água doce,
caracterizadas por todas suas espécies desenvolverem o ciclo de vida completamente
independente do ambiente marinho (Cumberlidge & Ng, 2009). As espécies desse grupo
artificial se distribuem praticamente em todos os corpos d`água doce das regiões tropicais e
subtropicais de América do Sul e Central, África, Madagascar, sul da Europa, Índia, Ásia e
Austrália (Sternberg et al.,1999, Cumberlidge et al., 2009).
É sabido que os caranguejos de água doce constituem um grupo polifilético (Sternberg
et al., 1999; Sternberg & Cumberlidge, 2001; Martin & Davis, 2001; Yeo et al., 2008,
Cumberlidge & Ng, 2009), no entanto compartilham características morfológicas, fisiológicas
e comportamentais que são produto da adaptação convergente ao ambiente aquático
continental. Essas características compreendem: baixa taxa de fecundidade, com um número
relativamente baixo de ovos, mas de tamanho grande, desenvolvimento direto dos estádios
larvais no ovo, cuidado parental, taxa de distribuição relativamente limitada pela ausência das
etapas larvais pelágicas e especificidade no habitat, o que como resultado uma alta taxa de
endemismo (Anger, 1995; Sternberg & Cumberlidge, 2001).
Esses artrópodes constituem um componente importante dos ecossistemas aquáticos
tropicais e subtropicais, participam da cadeia trófica como predadores, herbívoros ou
necrófagos, e servem de alimento para vertebrados de maior tamanho (Magalhães, 2003; Yeo
et al., 2008). Além de sua importância ecológica, também fazem parte da dieta de algumas
comunidades rurais e indígenas da Ásia e América do Sul (Magalhães et al., 2006; Costa,
2007; Yeo et al., 2008).
duas famílias de caranguejos de água doce na região neotropical:
Pseudothelphusidae, com cerca de 250 espécies que ocorrem principalmente em sistemas
montanhosos da América do Sul e Central e com distribuições altitudinais que podem chegar
até 3.000 metros sobre o nível do mar (Rodríguez & Magalhães, 2005); e Trichodactylidae,
2
que, com exceção de quatro espécies que ocorrem na parte sul do México, tem distribuição
restrita à América do Sul, habitando as planícies costeiras das Guianas e do Brasil, as
planícies fluviais do Amazonas, Orinoco, Paraguai e Paraná, e as bacias do Magdalena e
Maracaibo (Rodríguez, 1992). Mais de 60% das espécies descritas para esta família ocorrem
no Brasil, sendo que a maioria é endêmica da Amazônia (Magalhães, 2003).
Herbst (1783) descreveu a primeira espécie válida para Trichodactylidae e, desde
então, diversos autores aportaram espécies a este táxon. A monografia de Rathbum (1906),
que compreendeu 21 espécies então descritas e 8 espécies novas, foi a primeira proposta de
classificação para a família, utilizando como critérios taxonômicos caracteres da carapaça e o
abdome. Aproximadamente 60 anos depois, Pretzmann (1968) e Bott (1969),
independentemente, publicaram trabalhos sobre os caranguejos dulcícolas de América do Sul.
Ambos ressaltaram a importância da morfologia do primeiro pleópodo masculino como
critério classificatório. Embora esses autores tenham utilizado caracteres similares em seus
trabalhos de classificação, as interpretações desses caracteres foram diferentes, pelo que se
obteve como resultado dois diferentes sistemas genéricos de classificação (para uma resenha
mais completa consultar Magalhães, 2003).
Rodríguez (1992), em sua monografia sobre Trichodactylidae, propôs o primeiro
sistema de classificação supragenérico para a família como resultado de uma detalhada
análise cladística. O autor reconheceu 10 gêneros agrupados em três tribos e duas subfamílias.
Numa posterior revisão taxonômica, Magalhães & Türkay (1996a), a partir de análises
independentes, propuseram um sistema classificatório similar ao descrito por Rodríguez
(1992), porém reconheceram 15 gêneros agrupados em duas tribos e duas subfamílias. Além
de utilizar os caracteres comumente empregados na taxonomia de Trichodactylidae
(morfologia da carapaça, abdome e estruturas sexuais masculinas), eles empregaram
caracteres do esterno torácico, tanto de sua forma quanto das linhas de sutura demarcadas
nele. Atualmente, esse é o sistema classificatório aceito para a família, no qual são
reconhecidas 49 espécies distribuídas em 15 gêneros e duas subfamílias (Sternberg, 1997; Ng
et al., 2008).
Apesar de ser uma estrutura interna, o esqueleto endofragmal tem sua origem nos
escleritos cuticulares dos esternitos e pleuritos correspondentes aos oito segmentos torácicos
dos braquiúros (Drach, 1950). No limite de dois escleritos consecutivos o formadas
invaginações internas fixas, chamadas de fragmas, que servem de suporte para a adesão das
fibras musculares da coxa, assim como as dos ísquio-basis dos apêndices locomotores
3
(Guinot, 1979). O esqueleto endofragmal, apenas, compreende a armadura central
metamerizada do tórax, excluído elementos da carapaça, epímero branquiotegial e apêndices
motores (Secretan, 2002a).
Embora pequenas modificações morfológicas possam acontecer, a armação geral do
esqueleto endofragmal evoluiu numa direção determinada no âmbito de cada linhagem, sendo
uma estrutura pouco afetada pelas particularidades do modo de vida de cada espécie (Guinot,
1979), de tal forma que a morfologia das estruturas do esqueleto endofragmal oferecem
valiosa informação que pode ser utilizada em análises taxonômicas e filogenéticas com o
objetivo de avaliar as relações existentes entre diferentes grupos de crustáceos e, em especial,
dos crustáceos decápodes (Secretan, 2002a; Ng et al., 2008). Porém, os trabalhos
taxonômicos desenvolvidos com base nos caracteres internos dessa estrutura são escassos,
possivelmente devido ao baixo número de exemplares depositados nas coleções e com
disponibilidade para serem dissecados. Após o trabalho de Guinot (1979), que descreveu as
principais características do esqueleto endofragmal nos braquiúros, caracteres dessa estrutura
têm sido ocasionalmente utilizados na diagnose de gêneros, subfamílias e, mais recentemente,
superfamílias (Magalhães &Türkay, 1996a; Sakai et al., 2006; Cumberlidge & Ng, 2009).
Sternberg & Cumberlidge (2003), com objetivo ajudar a esclarecer a posição
filogenética de Trichodactylidae dentro dos braquiúros, publicaram um artigo, onde baseados
apenas em espécimes de Poppiana dentata e Trichodactylus sp., comparam caracteres do
esqueleto endofragmal entre Trichodactylidae e Portunidae. Como resultado, eles verificaram
um grupo de autapomorfias na forma da sella turcica, importantes na identificação da família.
Juares (2008), com objetivo de verificar as relações de Trichodactylidae com outros
grupos de caranguejos marinhos, estudou os sistemas morfológicos de conexão entre o
esqueleto endofragmal e a carapaça, em representantes de diferentes famílias de braquiúros.
Como resultado ela descreveu um sistema de conexão “carapaça x pleura” em três espécies
representantes das subfamílias e tribos de Trichodactylidae.
Os caracteres internos do esqueleto endofragmal, relacionados principalmente aos
cinco últimos somitos torácicos, são refletidos numa série de septos visíveis no esterno
torácico. Magalhães & Türkay (1996a) usaram esses septos como caracteres diagnósticos na
proposta de classificação de Trichodactylidae em subfamílias e tribos [Trichodactylinae e
Dilocarcininae (Dilocarcinini + Valdiviini)]. Entretanto, suas análises ficaram limitadas à
descrição do esterno torácico, devido à pouca disponibilidade de material para dissecção em
coleções carcinológicas. Embora os autores tenham empregado raios-X para complementar as
4
análises, a resolução desse método não é tão precisa quanto à obtida por meio de um estudo
anatômico direto.
Levando em consideração a importância de se obter uma visão clara da taxonomia e
das relações filogenéticas de Trichodactylidae em razão da possibilidade de fornecer
informações a futuros projetos que busquem ampliar o conhecimento integral dos
ecossistemas amazônicos e de seus componentes faunísticos, e tendo em vista a escassez de
estudos anatômicos sobre os Trichodactylidae e da incerteza de suas relações filogenéticas
com os demais grupos de braquiúros, o presente trabalho procurou testar a hipótese
taxonômica proposta por Magalhães & Türkay (1996a) sobre o sistema supragenérico de
Trichodactylidae, realizando uma análise anatômica detalhada do esqueleto endofragmal de
representantes de vários dos gêneros da família trabalhada por esses autores.
2. Objetivos
2.1 Objetivo geral
Testar a validade da classificação supragenérica da família Trichodactylidae proposta
por Magalhães & Türkay (1996a) com base na anatomia do esqueleto endofragmal.
2.2 Objetivos específicos
Caracterizar o esqueleto endofragmal em representantes da família Trichodactylidae
Estabelecer as relações entre os caracteres internos do esqueleto endofragmal e os
caracteres externos utilizados na taxonomia da família
5
3. Material e Métodos
3.1 Material
Foram dissecados um total de 42 indivíduos, entre machos e fêmeas adultos de 17
espécies pertencentes a 10 gêneros de Trichodactylidae. Os gêneros Melocarcinus Magalhães
& Türkay, 1996 e Rodriguezia Bott, 1969, não foram incluídos na análise devido à ausência
de material não-tipo correspondente a representantes destes gêneros nas coleções. Com
respeito às espécies dos gêneros Fredilocarcinus Pretzmann, 1978, Poppiana Bott, 1969, e
Rotundovaldivia Pretzmann, 1968, não foi possível a obtenção de material com
disponibilidade para ser dissecado, por isso também não foram incluídos neste estudo.
A lista das espécies utilizadas é a seguinte:
Subfamília Dilocarcininae Pretzmann, 1968
Botiella medemi (Smalley & Rodríguez, 1972)
Dilocarcinus septemdentatus (Herbst, 1783)
Dilocarcinus pagei Stimpson, 1861
Goiazana castelnaui H. Milne Edwards, 1853
Fosteria venezuelensis (Rathbun, 1905)
Moreirocarcinus emarginatus (H. Milne Edwards, 1853)
Moreirocarcinus laeviformis (Moreira, 1901)
Sylviocarcinus devillei H. Milne Edwards, 1853
Sylviocarcinus pictus (H. Milne Edwards, 1853)
Valdivia serrata White, 1847
Zilchiopsis collastinensis (Pretzmann, 1968)
6
Subfamília Trichodactiylinae H. Milne Edwards, 1853
Avotrichodactylus constrictus (Pearse , 1911)
Trichodactylus borellianus Nobili, 1896
Trichodactylus fluviatilis Latreille, 1828
Trichodactylus dentatus H. Milne Edwards, 1853
Trichodactylus panoplus (von Martens, 1869)
Trichodactylus petropolitanus (Goldi, 1886)
A maior parte dos indivíduos utilizados no estudo foram obtidos na coleção de
crustáceos do Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas (INPA). Exemplares de espécies
não encontradas nessa coleção foram solicitados como doação das coleções carcinológicas das
seguintes instituições: Instituto de Ciências Naturales, Universidad Nacional de Colombia,
Bogotá, Colômbia (ICN), Instituto Nacional de Limnología, Santo Tomé, Argentina (INALI),
Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (MZUSP), Universidade
Federal de Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Brasil, Universidad Nacional
Autónoma de México, Cidade do México (UNAM) (ver apêndice).
Todas as preparações resultantes das dissecações feitas neste estudo foram
conservadas em álcool e depositadas na coleção de crustáceos do INPA, com o número de
tombamento INPA-1837.
3.2 Métodos
As preparações do esqueleto endofragmal foram realizadas conforme o seguinte
protocolo (modificado de Mocquard, 1883):
1. Anotação do sexo dos indivíduos e registro das medidas correspondentes à largura
(cb) e o comprimento (cl) da carapaça, uma numeração consecutiva foi dada para
distinguir indivíduos da mesma espécie e do mesmo sexo (ver apêndice);
2. Remão dos perepodos 1 a 5 mediante corte na altura da coxa;
3. Abertura de um oricio na carapa na altura da rego cardíaca;
7
4. Adição de solão aquecida de hidxido de potássio (KOH) a 30 % no orifício com o
objetivo de macerar os tecidos musculares e viscerais, e limpar o esqueleto
endofragmal de qualquer subsncia orgânica não desejada nas observações. Essa
adição foi feita de modo gradual, em ambiente aberto, até submersão total da
carapaça;
5. Ação da solução de KOH pelo tempo necessário para a maceração dos tecidos (cerca
de 24 a 48 horas, dependendo do tamanho do espécime);
6. Lavagem em água corrente;
7. Limpeza manual do esqueleto, mediante o uso de pinças, para retirada de eventuais
restos de tecidos porventura ainda aderidos às estruturas esqueticas;
8. Seleção de alguns indivíduos para fazer o corte sagital; neste caso o corte foi feito com
tesouras finas, seguindo o eixo médio ântero-posterior do corpo;
9. Adição de álcool a 70%, conforme a necessidade, para evitar a dessecação do
esqueleto no momento do exame;
10. Etiquetagem e preservação do espécime em álcool a 70%;
11. Desito do material testemunho na Coleção de Crustáceos do INPA.
A análise das estruturas do esqueleto endofragmal foi realizada com o auxílio de
microscópio estereoscópico, marca Wild M-8. Efetue alguns desenhos preliminares, com a
ajuda de câmara-clara montada ao microscópio estereoscópico; os desenhos definitivos das
estruturas consideradas de importante valor taxonômico foram realizados com o programa
Adobe Illustrator CS3
®
, o qual permite fazer os desenhos de forma digital tendo como base a
imagem da estrutura digitalizada por meio de fotografia ou scanner. Para a captura das
imagens foi empregada uma câmara fotográfica digital Sony Cyber-Shot
®
DDC-P72 adaptada
à ocular do estereoscópio. Para as fotografias diretas (sem estereoscópio) foi utilizada a
câmara Panasonic Lumix
®
DMC-FZ18. As ilustrações e as fotografias realizadas
correspondem às vistas ventral, dorsal e mesial. Os desenhos correspondentes à vista mesial
foram realizados sobre a metade esquerda do esqueleto endofragmal, resultado do corte sagital.
Para realizar as caracterizações e descrições do esqueleto endofragmal foi adotada a
terminologia empregada em Tavares & Secretan (1993) e Secretan (2002a).
8
3.3 Elementos de morfologia
A seguir, é apresentada uma breve introdução da terminologia e origem das estruturas do
esqueleto endofragmal dos braquiúros.
3.3.1 Esterno torácico
O esterno torácico corresponde a uma placa ventral rígida, orientada horizontalmente, que
protege a região inferior do corpo (Guinot & Quenette, 2005) (fig. 1 A). Por ser uma estrutura
externa seu estudo tem sido mais intenso em relação às outras partes do esqueleto
endofragmal, sendo que sobre essa estrutura estão definidos importantes caracteres, que
ajudam a evidenciar as relações filogenéticas dos crustáceos braquiúros (Guinot, 1979, Guinot
& Bouchard, 1998).
3.3.2 Esternitos
Os esternitos são os escleritos ventrais correspondentes a cada um dos somitos torácicos e
abdominais (Stachowitsch, 1992). O esterno torácico dos eubraquiúros está formado pela
união consecutiva dos esternitos dos oitos somitos torácicos; porém os três primeiros estão
totalmente fusionados entre si, e os cinco esternitos mais posteriores, conservam algum
vestígio da metamerização primitiva (fig. 1 A) (Guinot & Quenette, 2005).
3.3.3 Interesternitos
Os interesternitos, chamados também de endosternitos; são fragmas que se elevam
verticalmente desde a parte interna do esterno torácico até a lâmina de junção. São produto de
uma dupla invaginação da placa externa no limite de dois esternitos adjacentes; sua
designação é dada por uma dupla denominação, ou seja, 4/5, 5/6, 6/7 e 7/8, de acordo aos
respectivos somitos dos quais se originam (Guinot, 1979; Tavares & Secretan, 1993) (figs. 1B
e 2). A extensão transversal dos interesternitos é refletida externamente no esterno torácico
mediante as linhas de sutura (fig. 1 A).
9
3.3.4 Septo mediano
O septo mediano corresponde a uma lâmina orientada longitudinalmente no plano sagital do
caranguejo, é continua com a sella turcica, mas perpendicular a essa. Está formada pela
invaginação mediana do esterno torácico e externamente se reflete na linha mediana (Guinot,
1979) (fig.1 A, B). Embora não se saiba realmente qual é sua função dentro da arquitetura do
esqueleto endofragmal, de acordo com Cochran (1935) essa estrutura representa uma zona de
reforço que permite a inserção dos ramos dos quatro músculos basais do quinto pereiópodo.
3.3.5 Lâmina de junção
A lâmina de junção é o lugar de convergência dos interesternitos com os interpleuritos;
forma-se a partir da fusão das cobertas epicuticulares de duas placas, uma dorsal formada
pelos prolongamentos dos pleuritos, e a outra ventral formada pelo prolongamento dos
esternitos (Drach, 1950; Secretan, 2002b) (fig. 2). Nos cinco somitos torácicos mais
posteriores, a lâmina de junção divide os compartimentos musculares do esqueleto
endofragmal em duas câmaras superpostas: a câmara muscular ventral e câmara muscular
dorsal (Guinot, 1979; Vidal-Gadea et al., 2008); no período da muda de carapaça, acontece
uma reabsorção topograficamente diferenciada, a lâmina de junção é reabsorvida e os
interesternitos e interpleuritos ficam parcialmente conectados (Drach, 1950; Guinot, 1979).
Tanto a lâmina de junção quanto a sella turcica (ver a seguir) correspondem a
importantes novidades evolutivas na organização esquelética dos caranguejos eubraquiúros
(Guinot & Bouchard, 1998). Essas estruturas são conseqüência da reorganização esquelética,
produto da tendência evolutiva de redução do abdome (carcinização). Funcionalmente, ela
mantém todos os elementos do esqueleto soldados numa armação só, formando junto ao
esterno torácico e ao teto pleural uma estrutura contínua (Secretan, 1998, 2002b).
3.3.6 Pleuritos
Os pleuritos correspondem aos escleritos laterais de cada somito torácico ou abdominal
(Stachowitsch, 1992) (fig. 1 B). Distintamente da subordem Macrura, onde as placas pleurais
dos somitos torácicos se orientam verticalmente em relação ao eixo axial do corpo (Secretan,
1980, 2002a), nos braquiúros, devido em parte ao deslocamento dos apêndices motores para
os extremos laterais, os pleuritos estão orientados de forma sub-horizontal (Secretan, 2002b).
10
3.3.7 Teto pleural
O teto pleural ou parede pleural é como se denomina a estrutura formada nos braquiúros pela
agregação das lâminas da cada um dos oito pleuritos torácicos (Guinot, 1979; Secretan, 1998)
(fig. 1 B). Pelo fato de ser uma estrutura interna, englobada pela carapaça, a morfologia desta
estrutura é menos documentada em comparação com o esterno torácico. A porção superior do
teto pleural serve de suporte para as pleurobrânquias, as quais repousam sobre ele.
3.3.8 Interpleuritos
Os interpleuritos, também chamados de endopleuritos, são os fragmas formados a partir da
dupla invaginação dos escleritos laterais no limite de dois pleuritos adjacentes (fig. 2). Assim
como os interesternitos, os interpleuritos também são designados por uma dupla
denominação, 4/5, 5/6, 6/7 e 7/8, de acordo aos somitos torácicos dos quais se originam
(Guinot, 1979).
3.3.9 Sella turcica
A estrutura chamada de sella turcica é considerada como um fragma de transição entre o
tórax e o abdome; tem origem a partir da invaginação do oitavo segmento torácico e o
primeiro abdominal (Secretan, 1998, 2002b). A partir da região mediana da sella turcica se
estendem dorso-lateralmente dois processos laterais, chamados de “asas” da sella turcica, que
são contínuos com os interpleuritos 7/8 (figs. 1 B e 2) (Guinot, 1979). No extremo posterior
do esqueleto, ela forma uma forte conexão transversal entre as duas metades do esqueleto,
preservando assim a unidade estrutural de toda a armação esquelética (Secretan, 1998,
2002b).
11
Figura 1. Trichodactylus fluviatilis ♂02, representação fotográfica e esquemática. A, esterno torácico, vista
ventral; B, esqueleto endofragmal, vista dorsal ( ap. 3/4 = apófise 3/4; i.e. = interesternito. i.p. = interpleurito; ls.
= linha de sutura; ST= sella turcica).
12
Figura 2. Representação esquemática da constituição da lâmina de junção em Eubrachyura e fotografia do
esqueleto endofragmal, vista mesial (fotografia de Dilocarcinus pagei ♂01; esquema modificado de Secretan,
1998) (i.e = interesternito; i.p = interpleurito; ST = sella turcica).
4. Resultados
4.1 Generalidades do esqueleto endofragmal de Trichodactylidae
A organização geral das estruturas do esqueleto endofragmal de Trichodactylidae segue
padrão comum descrito para o grupo dos Eubrachyura (Drach, 1950; Guinot, 1979; Secretan,
1998, 2002b). A lâmina de junção presente nos últimos cinco somitos torácicos permite
distinguir as estruturas do esqueleto endofragmal em duas câmaras musculares superpostas;
uma ventral formada pelos esternitos e seus interesternitos respectivos, e uma dorsal formada
pelos pleuritos e seus interpleuritos (Guinot, 1979; Vidal-Gadea et al., 2008).
4.1.1 Câmara muscular ventral
Em vista ventral, o contorno do esterno torácico é de forma semi-arredondada, sendo mais
estreito na porção anterior que na posterior. Enquanto que nas espécies nas espécies de
Trichodactylinae e de Valdiviini (Dilocarcininae) (fig. 3 A, B) o esterno é quase tão comprido
quanto largo, nas espécies de Dilocarcinini (Dilocarcininae) ele é notoriamente mais
comprido que largo (fig. 3 C).
13
As projeções póstero-laterais dos esternitos, chamadas de episternitos, variam na
forma e no tamanho. Nas espécies de Trichodactylinae e Valdiviini, são pequenas e de forma
subtriangular (fig. 3 A, B); no entanto, nas espécies de Dilocarcinini são mais amplas e sua
forma é subcircular (fig. 3 C). Na região média do esternito 8 se observa o sulco peniano
(“penial groove”), tal como foi descrito por Rodríguez (1992), sendo que em algumas
espécies de Trichodactylinae a porção posterior do episternito 7 é prolongada e cobre
parcialmente esse sulco.
Em vista dorsal, pode-se distinguir uma cavidade, livre de fragmas, formada pela
fusão total dos três primeiros somitos torácicos e a fusão parcial do quarto somito;
posteriormente, está delimitada pela extensão do interesternito 4/5. Essa cavidade,
denominada aqui de cavidade anterior, é de forma subtriangular, mais ampla na parte
posterior que na anterior (fig. 1 B). Como resultado do posicionamento mais posterior do
interesternito 4/5 nas espécies de Trichodactylinae, evidenciou-se que o espaço da cavidade
anterior é maior nas espécies desse grupo em relação às de Dilocarcininae (fig. 3).
Diferentemente dos três primeiros somitos torácicos, os cinco somitos mais
posteriores, que correspondem aos apêndices motores, participam diretamente na formação
dos interesternitos. Nas espécies avaliadas todos os interesternitos são interrompidos
mesialmente (fig. 1B); por conseguinte, cada um está dividido em duas lâminas laterais
1
.
Externamente, a interrupção dos interesternitos se evidência nas linhas de sutura, que
sempre são incompletas transversalmente, observando-se uma fusão dos esternitos na parte
mediana do esterno torácico (fig. 1A).
Em vista mesial, todos os interesternitos projetam-se perpendicularmente desde o
esterno torácico; porém as lâminas dos interesternitos 4/5, 5/6 e 6/7 mudam de orientação
aproximadamente na metade de sua extensão vertical, orientando-se em direção diagonal à
parte posterior do corpo, até se unir na lâmina de junção (fig. 2). Na parte do interesternito
onde acontece a curvatura observa-se uma espécie de lobo mais ou menos amplo, dependendo
da intensidade dessa flexão. Nos interesternitos anteriores essa mudança de orientação é maior
que nos posteriores.
Existem diferenças de intensidade na curvatura vertical dos interesternitos nas
subfamílias e tribos de Trichodactylidae. Nas espécies de Dilocarcinini, a curvatura é maior, e
os lobos de cada interesternito são mais amplos (fig. 4 D); por outro lado, nas espécies de
1
Quando aqui se descrevem os interesternitos, faz-se referência somente a umas das lâminas, uma vez que, por
simetria, a outra lâmina é igual.
14
Trichodactilininae, os interesternitos são bem menos curvados, sendo quase retos em algumas
espécies (fig. 4 A, B). Já as espécies de Valdiviini apresentam um grau de flexão intermédio
entre esses dois grupos (fig. 4 C).
A respeito da extensão no plano horizontal, o nível interrupção do interesternito 4/5,
assim como o do interesternito 7/8, se mantém constante em todas as espécies da família (fig.
1B), porém é contrastante que enquanto o interesternito 7/8 é uma lâmina curta, totalmente
interrompida mesialmente, que fica deslocada lateralmente sob a cobertura da lâmina de
junção, o interesternito 4/5 é o menos interrompido de todos, superando a cobertura da lâmina
de junção e se estendendo até próximo ao centro do esterno torácico.
Os interesternitos 5/6 e 6/7 apresentam diferentes níveis de interrupção nas espécies da
família. Em Trichodactylinae, a extensão horizontal desses fragmas é similar à descrita para o
interesternito 4/5; depois de sobrepassar a cobertura da lâmina de junção, os interesternitos
diminuem sua altura gradualmente, até se fusionar na placa torácica um pouco antes de chegar
ao meio do esterno (fig. 5 A, B).
Em Dilocarcininae, os interesternitos 5/6 e 6/7 se encontram deslocados lateralmente,
restritos embaixo da cobertura da lâmina de junção (fig. 5 C, D); porém, nas espécies de
Valdiviini, observa-se uma crista muito sutil, que é continua com o interesternito 6/7, e que se
prolonga até perto do meio da placa torácica (fig. 6 B).
Em algumas espécies de Trichodactylinae, e todas as espécies avaliadas de Valdiviini,
existe uma espécie de pequenas elevações do esterno torácico, chamadas aqui de
proeminências esternais (fig. 6 A, B). Em Trichodactylinae, essas proeminências são
observadas logo depois da união do interesternito 6/5 ao esterno torácico. Porém em algumas
espécies estão presentes também no extremo mesial do interesternito 5/6 (fig. 6 A). Em
Valdiviini, as proeminências são evidentes no meio do esterno torácico logo no final da crista
correspondente à prolongação do interesternito 6/7 (fig. 6 B); de forma similar a
Trichodactylinae, em algumas espécies essas estruturas estão presentes também no
interesternito 5/6. No esterno torácico essas proeminências são notadas como um par de
pontos, em muitos casos difíceis de distinguir.
15
Figura 3. Representação esquemática da vista ventral do esterno torácico. A, Trichodactylinae (Trichodactylus
fluviatilis ♂02); B, Valdiviini (Valdivia serrata ♂01); C, Dilocarcinini (Dilocarcinus septemdentatus ♂02).
4.1.2 Lâmina de junção:
As observações da lâmina de junção foram realizadas em vista mesial sobre a metade
esquerda do esqueleto endofragmal de cada espécie.
A lâmina de junção está orientada de forma horizontal, estendendo-se mais ou menos
paralelamente ao esterno torácico. É formada pela união dorsal dos interesternitos e a união
16
ventral dos interpleuritos, sendo que no extremo anterior está delimitada pela confluência do
interesternito 4/5 com o interpleurito 3/4 (fig. 2). Posteriormente, é continua com o
interpleurito 7/8, o qual se estende em direção ao eixo médio do corpo fusionando-se com as
asas da sella turcica, integrando assim as duas metades do esqueleto endofragmal.
Com exceção de algumas espécies onde o interesternito 7/8 se encontra separado
mesialmente dessa lâmina (fig. 7 B), todos os demais fragmas dos cinco somitos posteriores
estão completamente unidos a ela.
Em vista mesial foram detectadas notórias diferenças entre as espécies estudadas com
respeito à forma e aos lugares de união dos interpleuritos e interesternitos à lâmina de junção.
Nas espécies de Trichodactylinae os interpleuritos 4/5, 5/6, e 6/7 convergem no mesmo ponto
de união na lâmina de junção, sendo que esse ponto é alinhado ou em alguns casos mais
anterior ao local de união do interesternito 6/7 com a lâmina (fig. 4 A, B); neste caso, os
compartimentos musculares delimitados pelos interpleuritos relacionados são bem estreitos,
quase fechados mesialmente.
Distintamente de Trichodactylinae, em Dilocarcininae os interpleuritos 4/5 e 5/6
convergem no mesmo ponto de união na lâmina de junção, enquanto os interpleuritos 6/7 e
7/8 se unem em posições mais posteriores. Em relação ao ponto de união do interesternito 6/7
na lâmina de junção, em Dilocarcininae os interpleuritos 4/5 e 5/6 se unem bem mais
posteriormente (fig. 4 C, D).
17
Figura 4. Representação esquemática do esqueleto endofragmal, vista mesial. A, Trichodactylinae
(Trichodactylus fluviatilis ♂01); B. Trichodactylinae (Avotrichodactylus constrictus ♂02); C, Valdiviini
(Valdivia serrata 01); D, Dilocarcinini (Dilocarcinus pagei ♂01).
4.1.3 Câmara muscular dorsal
O contorno dorsal da armação do esqueleto é cordiforme, sendo mais amplo nos pleuritos 5 e
6, e a partir desse ponto vai estreitando-se até o limite lateral do pleurito 8, onde segue a
forma côncava da sella turcica (fig. 1 B).
Em vista dorsal, aproximadamente as três quartas partes do esterno torácico são
cobertas pelo teto pleural, o qual está dividido em duas placas localizadas nos extremos
laterais do esqueleto (fig. 1 B). Essas placas estão orientadas de forma cônica, sendo que o
ponto mais alto é o extremo mesial do pleurito 4. A extensão transversal do teto pleural supera
a extensão da lâmina de junção.
No extremo lateral dos pleuritos 5 e 6 existem um par de aberturas circulares, que
comunicam as brânquias com as cavidades artrodiais chamadas de forâmenes pleurais (fig.
1B).
18
Em todas as espécies avaliadas, os pleuritos 5, 6 e 7 têm uma saliência na parte
anterior do seu bordo lateral; essas saliências se encaixam em três cumes existentes no bordo
do branquiostergito da carapaça, e permitem o ajuste da carapaça ao esqueleto endofragmal
(Juares, 2008).
Nos pleuritos 7 e 8, o bordo lateral está elevado verticalmente, sendo que no pleurito 8
é mais alto que do 7. Nas espécies de Dilocarcininae esta elevação é mais acentuada, e tem
um entalhe mais ou menos marcado no pleurito 8. Em algumas espécies ainda existe uma leve
depressão no bordo do pleurito 7.
Todos os pleuritos têm forma subtriangular, sendo mais compridos na parte lateral que
na parte mesial, com exceção dos pleuritos 4 e 7 que são de forma sub-quadrangular.
Enquanto que os pleuritos 1 e 2 estão fusionados numa pequena lâmina anterior, o pleurito 4
se destaca por ser a lâmina de maior tamanho dentro da conformação do teto pleural (fig. 1
B).
O bordo mesial do teto pleural é espesso e reto nos pleuritos 2, 3 e metade anterior do
4, especialmente nas espécies de pequeno porte. A partir desse ponto, o bordo fica mais fino,
e apresenta uma descontinuidade em forma de “V” entre os pleuritos 5, 6 e 7.
Segundo o observado neste estudo, em Dilocarcinini existe um deslocamento das
estruturas da câmara dorsal em direção à parte posterior do corpo. Esse deslocamento se
refletido na disposição do teto pleural, onde os pleuritos têm uma orientação mais diagonal
que nas outras espécies de Trichodactylidae. Como referência desse deslocamento, em vista
dorsal o bordo mesial anterior do teto pleural, conformado pelos pleuritos 2, 3 e metade
anterior do 4, é mais comprido e se estende, em vista dorsal, aproximadamente até a porção
posterior da sella turcica. Nos outros grupos, esse bordo se estende aproximadamente até a
porção media do esternito 6 (fig. 5).
Em comparação como os fragmas da câmara ventral, onde todos os compartimentos
musculares formados por eles são mais ou menos do mesmo tamanho; na câmara dorsal o
compartimento delimitado pelo pleurito 4 é bem mais amplo que os compartimentos
contíguos a ele. Além disso, todos os interpleuritos são retos em sua extensão vertical (fig. 2).
Em todas as espécies avaliadas o bordo mesial superior do interpleurito 5/6 está
deslocado lateralmente em comparação com o bordo dos interpleuritos 4/5 e 6/7. Porém, em
Trichodactylinae, esses bordos são arredondados e expandidos mesialmente (fig. 7 A, B), de
tal forma que na maioria das espécies superam por pouco a extensão transversal do teto
pleural, e podem ser observados em vista dorsal do esqueleto (fig. 5 A, B). Em
19
Dilocarcininae, esses mesmos interesternitos têm o bordo superior reto, e todos eles se
projetam diagonalmente desde teto pleural até a lâmina de junção (fig. 7 C, D).
Além dos interpleuritos referidos, existe outra estrutura que se prolonga ao interior
da câmara dorsal em posição anterior ao interpleurito 3/4. Embora na literatura tenha pouca
referência a essa estrutura, Guinot (1979) se refere a ela como a apófise 3/4. Em
Trichodactylidae corresponde a uma lâmina de forma subtriangular, que se prolonga
longitudinalmente desde o bordo mesial superior do interpleurito 3/4 em direção ao pleurito 3,
unindo-se novamente ao teto pleural no limite dos pleuritos 2 e 3 (fig. 2). Sua união com o
interpleurito 3/4 é evidenciada no teto pleural pela presença de um sulco profundo.
Essa apófise corresponde à única estrutura do esqueleto não fusionada à lâmina de
junção, mas seu extremo inferior se expande até chegar perto da curvatura do interesternito
4/5. Embora sua forma seja muito similar em todas as espécies, nas espécies de pequeno porte
é mais espessa e está unida quase integralmente ao teto pleural (fig. 4 B).
Figura 5. Representação esquemática do esqueleto endofragmal, vista dorsal A, Trichodactylinae
(Trichodactylus fluviatilis ♂02); B, Trichodactylinae (Avotrichodactylus constrictus ♂01) C, Valdiviini (Valdivia
serrata ♂01); C, Dilocarcinini (Bottiella medemi 01).
20
4.1.4 Septo mediano e sella turcica
Segundo Sternberg & Cumberlidge (2003), entre as autapomorfias de Trichodactylidae
se destaca a forma da sella turcica. Esses autores a descrevem como extremamente reduzida,
em forma de pneu (rim), e que expõe o septo mediano em toda sua longitude.
De acordo com as observações de este estudo, de fato a sella turcica é uma estrutura
bem reduzida medianamente, que mantém sua conformação quase constante em todas as
espécies avaliadas; nas fêmeas, em correspondência a uma cavidade esterno-abdominal mais
ampla, a sella turcica é mais baixa que nos machos. As lâminas laterais que se estendem
desde a porção mediana (como um funil), denominadas como asas da sella turcica (Guinot,
1979), se continuam com o interpleurito 7/8, que tem orientação quase horizontal, formando
uma espécie de teto que cobre o último segmento torácico, incluindo o interesternito 7/8 (fig.
1 B). No limite posterior do somito 8 existem duas aberturas laterais, de forma semi-
arredondada, que permitem a inserção da musculatura abdominal (figs. 1 B e 2).
O septo mediano, de forma similar à sella turcica, é reduzido no eixo dorsoventral
(fig. 2). Com respeito ao seu comprimento, verificou-se que nas espécies de
Trichodactylininae e Valdiviini corresponde a uma lâmina fina, curta e contínua, que se
estende entre os somitos 7 e 8 (fig. 4 A, B, C); nas espécies de Dilocarcinini, é uma lâmina
comprida mas interrompida (fig. 4 D). Nesse último caso, o septo se estende até o limite
anterior do somito 4, diminuindo progressivamente de altura até se unir com o fundo da
cavidade esterno-abdominal, apresentando entalhes mais ou menos profundos nas regiões que
correspondem à projeção dos interesternitos (figs. 2 e 4 D); esses entalhes também se em
refletidos no esterno torácico como descontinuidades na linha média.
4.2 Caracterização dos grupos
Os caracteres que apresentaram clara variação no esqueleto endofragmal entre as espécies de
Trichodactylidae aqui estudadas foram:
- Tamanho da cavidade anterior
- Forma dos episternitos
- Grau de interrupção dos interesternitos 5/6 e 6/7
- Presença ou ausência das proeminências esternais
- União mesial do interesternito 7/8 com a lâmina de junção
21
- Lobo da curvatura na extensão vertical dos interesternitos 4/5, 5/6 e 6/7
- Comprimento e continuidade do septo mediano
- Local da união dos interpleuritos 4/5, 5/6 e 6/7 na lâmina de junção
- Forma do bordo mesial superior dos interpleuritos 4/5, 5/6 e 6/7
- A extensão do bordo mesial anterior do teto pleural
De acordo com as características do esqueleto endofragmal, foram agrupadas as espécies
avaliadas neste estudo em três grupos, descritos a seguir:
4.2.1 Trichodactylinae [Avotrichodactylus constrictus (fig. 8), Trichodactylus fluviatilis (fig.
9), T. petropolitanus (fig. 10), T. panoplus (fig. 11), T. dentatus (fig. 12), T. boreallianus (fig.
13)]
O esterno torácico é quase tão largo quanto comprido; a cavidade anterior é mais ampla que
nos outros grupos. Os episternitos são estreitos e de forma subtriangular (figs. 3 A e 5 A, B).
Em vista mesial, os interesternitos 4/5, 5/6 e 6/7 são pouco curvados verticalmente, os
lobos que se formam na região da curvatura são reduzidos; devido a isso, os interesternitos
parecem mais altos, e as cavidades da câmara ventral, maiores.
De forma similar ao interesternito 4/5, os interesternitos 5/6 e 6/7 vão diminuindo
gradualmente de altura até se unir ao esterno torácico perto do centro do esqueleto (fig. 5 A,
B). Nas espécies de pequeno porte, as lâminas desses interesternitos são um pouco mais
interrompidas que nas espécies de porte maior; em A. constrictus essas lâminas estão
particularmente pouco desenvolvidas, e se estendem depois de superar a cobertura da lâmina
de junção como um par de cristas baixas (fig. 9 A).
As proeminências esternais são evidentes no extremo mesial do interesternito 6/7 em
T. dentatus (fig. 10 A), T. panoplus (fig. 11 A) e T. fluviatilis (figs. 6 A e 9 A); porem
nessa ultima espécie também são observadas proeminências no extremo mesial do
interesternito 5/6. Em A. constrictus, concordante com os interesternitos mais baixos se
observam algumas proeminências também nos interesternitos 5/6 e 6/7, porém são menos
desenvolvidas que as observadas nas demais espécies (fig. 8 A).
O septo mediano é curto e contínuo, estendendo-se transversalmente entre os somitos
7 e 8 (fig. 4 A, B).
O interesternito 7/8 pode ou não estar unido ao extremo mesial da lâmina de junção;
quando está unido, essa lâmina é mais espessa em seu extremo posterior (figs. 4 B e 7 B).
22
Os interpleuritos 4/5, 5/6, 6/7 e 7/8 convergem a um mesmo ponto na lâmina de
junção, que é alinhado ou anterior com o ponto de união à lâmina do interesternito 6/7 (fig. 4
A, B).
Esses mesmos interpleuritos, anteriormente referidos, estão bem juntos em seu
extremo medial, sendo a cavidade muscular por eles delimitada quase fechada mesialmente
(fig. 4 A, B); e o bordo mesial superior arredondado (fig. 7 A, B). Com exceção de T.
petropolitanus (fig. 13 A), nas demais espécies avaliadas esses bordos superiores superam em
vista dorsal a cobertura do teto pleural (fig. 5 A, B).
O bordo mesial anterior do teto pleural, em vista dorsal, estende-se aproximadamente
até a porção media do esternito 6 (fig. 4 A, B). Nas espécies de pequeno porte, esse bordo é
mais espesso, de forma similar à apófise 3/4, que é um pouco mais ampla e está quase
totalmente unida ao teto pleural (fig. 4 B).
Em relação a estas observações, pode-se distinguir dois subgrupos:
Subgrupo A [Trichodactylus fluviatilis, T. petropolitanus, T. dentatus]: Espécies de porte
maior (largura da carapaça maior a 21 mm); lâminas dos interesternitos mais desenvolvidas,
longitudinalmente mais curvadas; endosternito 7/8 separado mesialmente da lâmina de junção
(figs. 4 A e 7 A).
Subgrupo B [T. panoplus, T. borellianus e A. constrictus]: Espécies de porte menor (largura
da carapaça menor a 21 mm); interesternito 6/7 mais baixo, sendo a lâmina de junção mais
espessa nesse ponto; interesternito 7/8 unido mesialmente à lâmina de junção; bordo anterior
do teto pleural espesso, apófise 3/4 quase totalmente integrada ao teto pleural (figs. 4 B e 7
B).
4.2.2 Valdiviini [Sylviocarcinus devillei (fig. 14), S. pictus (fig. 15), Zilchiopsis collastinensis
(fig. 16), Forsteria venezuelensis (fig. 17) e Valdivia serrata (fig. 18)]
A morfologia deste grupo parece ocupar um lugar intermediário, considerando que a maioria
das características observadas são compartilhadas entre os outros grupos descritos.
A aparência externa do esqueleto é similar à descrita para o grupo anterior, tanto nas
proporções do esterno torácico, quanto na forma do teto pleural; porém, o tamanho da
cavidade anterior é um pouco mais reduzido (figs. 3 C, 5 C).
23
Os interesternitos 5/6 e 6/7 ficam deslocados lateralmente embaixo da cobertura da
lâmina de junção; porém, existe uma cresta muito baixa, que parece ser um vestígio do
interesternito 6/7 e que se prolonga até o meio da placa torácica (figs. 5 C, 6 B).
Em todas as espécies foram observadas as proeminências esternais no extremo mesial
da ligeira crista do interesternito 6/7; porém, em S. devillei (fig. 14 A), S. pictus (fig. 15 A)
e Z. collastinensis (fig. 16 A), essas estruturas estão presentes também no que corresponderia
à extensão mesial do interesternito 5/6; nesse caso, essas estruturas são menos pronunciadas
(fig. 6 B).
Em vista sagital, os interesternitos 4/5, 5/6 e 6/7 têm um grau de curvatura
intermediária em relação aos outros dois grupos, não são tão curvados quanto nas espécies de
Dilocarcinini, nem tão pouco curvados como nas de espécies de Trichodactylinae. O mesmo
acontece com os lobos de suas curvaturas (fig. 4 C).
Os interpleuritos 4/5 e 5/6 convergem ao mesmo ponto na lâmina de junção, sendo
que esse ponto está alinhado ou um pouco anterior à lugar união do interesternito 6/7 com a
lâmina; nesse ponto, a lâmina é mais espessa que nos outros lugares (fig. 4 C).
O bordo mesial superior dos interpleuritos 4/5, 5/6 e 6/7 é reto, e se projeta
diagonalmente desde o teto pleural até a lâmina de junção; porém, o interesternito 5/6 está
ligeiramente deslocado lateralmente em relação aos interpleuritos 4/5 e 6/7 (fig. 7 C).
O septo mediano é contínuo, curto e baixo; estende-se entre os somitos 7 e 8 (fig. 5 C).
É especialmente mais baixo nos espécimes examinados de F. venezuelensis (fig. 17),
principalmente na fêmea dissecada.
4.2.3 Dilocarcinini [Bottiella medemi (fig. 19), Goyazana castelnaui (fig. 20), Dilocarcinus
pagei (fig. 21), D. septemdentatus (fig. 22), Moreirocarcinus emarginatus (fig. 23), M.
laevifrons (fig. 24)]
O esterno torácico é mais comprido do que largo, os episternitos são amplos e de forma
subcircular (fig. 3 D). A cavidade anterior é mais reduzida que nos outros grupos; em B.
medemi (fig. 19 A), G. castelnaui (fig. 20 A) e D. septemdentatus (fig. 22 A) se observa, na
porção mediana da cavidade anterior, uma crista muito sutil que se prolonga na direção do
septo mediano (fig. 6 C).
Os elementos da câmara dorsal estão mais deslocados posteriormente em relação ao
observado nos outros grupos. Isso é evidente na vista dorsal do esqueleto, onde o bordo
mesial anterior se estende em vista dorsal aproximadamente até a porção posterior da sella
24
turcica, e o pleurito 4 tem uma orientação mais diagonal que os outros grupos (fig. 5 D). A
abertura muscular que delimita esse pleurito também é muito maior (fig. 4 D). Essa variação
faz com que este grupo possa ser facilmente distinguido dos demais.
Em vista sagital, os interesternitos 4/5, 5/6 e 6/7 são marcadamente curvados e têm um
lobo amplo no local de curvatura (fig. 4 D). De forma similar ao verificado no segundo grupo,
os interesternitos 5/6 e 6/7 ficam deslocados sob a lâmina de junção e, em nenhuma espécie
deste grupo, foram observados as proeminências descritas para os grupos anteriores.
O septo mediano é comprido, estende-se até o somito 4, mas é descontínuo em sua
extensão (fig. 5 D). Enquanto que em B. medemi, G. castelnaui (fig. 20 C), M. emarginatus
(fig. 23 C) e M. laevifrons (fig. 24 C) o septo mediano apresenta um só um entalhe na posição
corresponderia à prolongação do interesternito 5/6, em D. pagei (fig. 21 C) e D.
septemdentatus (fig. 22 C) o septo tem dois entalhes nas posições que corresponderiam as
prolongações dos interesternitos 5/6 e 6/7, mas o correspondente ao 5/6 é menos profundo. Da
mesma forma que o verificado nas proeminências, a descontinuidade no septo mediano
também é refletida no esterno torácico, embora em muitas ocasiões seja difícil de distinguí-la
(fig. 3 C).O bordo lateral dos pleuritos 7 e 8 é alto e tem uma depressão sutil no pleurito 7 e
um entalhe mais profundo na metade do pleurito 8; apenas em B. medemi foram observados
dois entalhes no bordo do pleurito 8.
O bordo superior mesial dos interpleuritos 4/5, 5/6 e 6/7 é similar ao descrito para o
grupo anterior, da mesma forma que a convergência desses fragmas na lâmina de junção;
porém e a união deles na lâmina de junção é sempre bem posterior à união do interesternito
6/7, sendo que em alguns casos estão alinhados com o interesternito 7/8 (figs. 4 D e 7 D).
5. Discussão
A colonização dos ambientes dulcícolas continentais por parte do grupo dos verdadeiros
caranguejos de água doce (aqueles com desenvolvimento direto e cujo ciclo de vida é
totalmente independente do ambiente marinho) aconteceu duas vezes de forma aparentemente
independente na historia evolutiva dos braquiúros (Cumberlidge & Ng, 2009); como
resultado, esses braquiúros constituem um grupo polifilético, composto por duas
superfamílias (Ng et al., 2008; Cumberlidge & Ng, 2009). Alguns estudos têm sugerido a
origem independente de Trichodactylidae (Sternberg et al., 1999; Sternberg & Cumberlidge,
25
2001), porém, ainda não se tem uma idéia clara acerca do grupo marinho mais próximo
filogeneticamente a esse táxon; parte de essa incerteza se reflete em que Trichodactylidae
pertença uma superfamília específica: Trichodactyloidea (Ng et al., 2008).
Entender as relações internas das espécies de Trichodactylidae é um primeiro passo
para compreender a história evolutiva do grupo. O conhecimento da taxonomia dos
caranguejos de água doce tem incrementado notavelmente nas últimas décadas, refletindo-se
no número de novas espécies descritas; para Trichodactylidae, pode ser que o número de
espécies conhecidas esteja muito próximo de representar o número real de espécies na
natureza (Yeo et al., 2008). Entre as recentes revisões taxonômicas sobre essa família,
sobressaem-se os trabalhos de Rodríguez (1992) e de Magalhães & Türkay (1996a, b, c; 2008
a, b). Esses trabalhos coincidem em agrupar as espécies de Trichodactylidae em duas
subfamílias (Trichodactylinae e Dilocarcininae).
A subfamília Trichodactylinae está composta pelos gêneros Trichodactylus,
Rodriguezia e Avotrichodactylus (Magalhães & Türkay,1996a). Neste estudo evidenciou-se
características do esqueleto endofragmal que são comuns a todas as espécies de
Trichodactylinae avaliadas, tais como: a amplitude da cavidade anterior, a extensão dos
interesternitos 5/6 e 6/ até o centro do esterno, a forma arredondada do bordo mesial superior
dos interpleuritos 4/5, 5/6, e 6/7, e convergência desses fragmas num mesmo ponto na lâmina
de junção.
Na classificação de Rodríguez (1992), Trichodactylus borellinus e T. panoplus, estão
agrupadas no gênero Mikrotrichodactylus. Magalhães & Türkay (1996a) não reconheceram
esse gênero, mantendo essas duas espécies em Trichodactylus. Os resultados do presente
estudo sugerem, pelo menos do ponto de vista do esqueleto endofragmal, o agrupamento de
ambas as espécies com Avotrichodactylus constrictus, baseado na união mesial do
interesternito 7/8 à lâmina de junção, e na espessura do bordo mesial anterior do teto pleural e
da parte posterior da lâmina de junção. Considerando que essas espécies também coincidem
em ser de pequeno porte, pode-se conjecturar que os caracteres relacionados ao aumento na
espessura das estruturas do esqueleto são necessários para o fortalecimento de todo o sistema
de locomoção em função do tamanho corporal diminuto. No entanto, a união mesial do
interesternito 7/8, e a cobertura parcial do sulco peniano pelo sétimo episternito, mencionada
por Rodríguez (1992), e observada novamente neste estudo, são caracteres mais sólidos que
podem sinalizar para a revalidação de Microtrichodactylus, bem como para a eventual
constituição de uma subdivisão no nível de tribo em Trichodactylinae. Porém essa hipótese só
26
poderá ser testada após a realização de estudos morfológicos mais abrangentes que envolvam
todas as espécies do grupo.
Os resultados do presente estudo foram totalmente consistentes com as modificações
incorporadas por Magalhães & Türkay (1996a) à classificação de Rodríguez (1992), no que
diz respeito à Dilocarcininae. Essas modificações consistiram na não validação da tribo
Holthuisiini, que somente incluía o gênero Silviocarcinus, transferindo esse gênero a
Valdiviini, e a transferência de Zilchiopsis de Dilocarcinini a Valdiviini.
Com a particularidade de que Sylviocarcinus pictus, S. devillei e Zilchiopsis
collastinensis possuem proeminências esternais também no interesternitos 5/7, a disposição
das estruturas do esqueleto endofragmal dessas espécies foi similar à observada em Valdivia
serrata e Forsteria venezuelensis. A maioria dos caracteres do esqueleto endofragmal que
agruparam as espécies de Valdiviini foi compartilhada por algumas das espécies dos outros
dois grupos, entre esses caracteres se destacam: o septo mediano curto, a presença de
proeminências esternais na prolongação do interesternito 6/7, e o bordo mesial superior dos
interpleuritos 4/5, 5/6 e 6/7 reto. Porém o único caráter próprio deste grupo é a crista que
segue a extensão transversal do interesternito 6/7.
Ao contrário das espécies de Valdiviini, as de Dilocarcinini podem ser agrupadas por
um conjunto de características bem definidas do esqueleto endofragmal, únicas a este grupo.
Além da disposição mais posterior dos elementos da câmara dorsal, representado pela
extensão posterior do bordo mesial anterior do teto pleural, o contorno estreito do esterno
torácico, e o septo mediano comprido e com entalhes, são caracteres que permitem delimitar
claramente o grupo.
No que concerne à Dilocarcininae, notou-se que as espécies estudadas correspondentes
a Valdiviini apresentaram características do esqueleto endofragmal que podem ser
consideradas como intermédias entre os outros dois grupos, compartilhando caracteres tanto
com as espécies de Dilocarcinini quanto com as de Trichodactylinae. Quanto aos caracteres
exteriores da carapaça, existem caracteres morfológicos que permitem o agrupamento das
espécies dessa subfamília, tais como: a presença de cicatrizes pós-gástricas (“postgastric
pits”), pelo menos os somitos abdominais 3 a 5 fusionados, canais exalantes não confinados
na parte lateral do endostoma, e a morfologia do primeiro gonópodo do macho mais complexa
que nas espécies de Trichodactylinae (Magalhães & Türkay, 1996a).
Portanto, os caracteres do esqueleto endofragmal que delimitam Dilocarcininae
seriam: o deslocamento lateral dos interesternitos 5/6 e 6/7, o bordo superior dos
interpleuritos 4/5, 5/6 e 6/7 reto, e o interpleurito 6/7 unido posteriormente à convergência dos
27
interpleuritos 4/5 e 5/6 na lâmina de junção. Ao contrário de Magalhães & rkay (1996a),
que mencionaram que Dilocarcininae tem o esterno torácico mais estreito que
Trichodactylinae, nas espécies avaliadas no presente estudo Trichodactylinae e Valdiviini
foram mais próximos entre si, pois em ambos os grupos o esterno torácico é amplo, com
episternitos estreitos e subtriangulares, enquanto que em Dilocarcinini o esterno é mais
estreito e com episternitos mais amplos.
Guinot (1979) fez um estudo abrangente sobre a morfologia externa e interna de
representantes da subordem Brachyura. Um capítulo desse trabalho foi dedicado ao estudo do
esqueleto endofragmal, descrevendo essa estrutura em espécies de numerosas famílias de
braquiúros. Apesar da abrangência taxonômica de seu estudo, a maioria de suas observações
se restringiu à descrição dos caracteres da câmara muscular ventral (esternitos, interesternitos
e septo mediano), fazendo pouca referência aos caracteres de câmara muscular dorsal. A
autora concluiu que a condição primitiva da configuração do esqueleto endofragmal é dada
pelo grau de interrupção das lâminas dos interesternitos, enquanto que o septo mediano é um
caráter mais variável de acordo com o modo de vida de cada espécie ou grupo de espécies.
Seguindo esse critério, a condição mais primitiva do esqueleto endofragmal em
Trichodactylidae seria encontrada nas espécies de Trichodactylinae. Essa afirmação é
consistente com o cladograma apresentado por Rodríguez (1992) e Sternberg (1997), onde
essa subfamília está posicionada como o grupo mais basal da família. Por outro lado, o
deslocamento lateral dos interesternitos seria a condição mais derivada e, por conseguinte,
seria um caráter consistente para suportar o agrupamento de Valdiviini e Dilocarcinini.
No mesmo trabalho, Guinot (1979) sugere que a tendência evolutiva é que a fusão dos
somitos torácicos aconteça primeiro nos somitos anteriores e a interrupção dos interesternitos
seguiria esse padrão. Nas espécies de Trichodactylidae aqui estudadas observou-se uma
situação contrária, em que uma interrupção mediana maior no fragma posterior
(interesternito 7/8), e menor no fragma anterior (interesternito 4/5). Isso sem duvida
evidenciaria uma novidade na organização das estruturas do esqueleto endofragmal na
família. A marcada redução mesial do interesternito 7/8 foi definida como uma
autapomorfia para a família nos trabalhos de Sternberg & Cumberlidge (2003) e Cumberlidge
& Ng (2009).
Além da interrupção do interesternito 7/8, Sternberg & Cumberlidge (2003)
descreveram também como particularidades para a família a forte redução dorso-ventral da
sella turcica e do septo mediano. Entre as espécies do presente estudo verificou-se que não
existem variações significativas na conformação da sella turcica e na redução dorso-ventral
28
do septo mediano, podendo os mesmos ser considerados como caracteres diagnósticos para a
família. A apófise 3/4 também foi uma estrutura que apresentou pouca variação nas espécies
avaliadas, e poderia ser considerada em futuros estudos morfológicos, como um critério de
comparação do esqueleto endofragmal de Trichodactylidae.
Sternberg & Cumberlidge (2003) também afirmaram encontrar uma conformação
quase idêntica na lâmina de junção e no teto pleural nas espécies de Trichodactylidae por eles
analisadas. Porém, no presente estudo são descritas notáveis variações nessas estruturas,
importantes na definição das subfamílias e das tribos. A descrição feita por esses autores a
respeito da lâmina de junção corresponde a algumas espécies de Trichodactylinae, e é
imprecisa ao afirmar que mesialmente o pleurito 7 seja do mesmo tamanho que o pleurito 4.
As observações feitas por Juares (2008) acerca dos sistemas de conexão entre a
carapaça e o sistema endofragmal foram também constatadas nas espécies aqui estudadas,
evidenciando que o sistema de conexão “carapaça x pleura” descrito pela autora pode ser
generalizado para a família.
Drach (1950) descreveu três níveis gerais de organização do endoesqueleto dos
crustáceos decápodes. Esses níveis são consistentes com a linha evolutiva considerada para
essa ordem de Crustacea. O autor definiu os níveis de organização do endoesqueleto
principalmente pelo grau e forma de fusão entre as estruturas esqueléticas. O nível de
evolução III, característico de Eubrachyura (caranguejos verdadeiros), corresponde a um
esqueleto contínuo com todas suas lâminas soldadas entre si, onde a reabsorção de seus
elementos durante a muda ocorre de forma topograficamente diferenciada. Devido à grande
diversificação dos eubraquiúros, Guinot (1979) propôs quatro estados evolutivos do esqueleto
endofragmal com base no grau de interrupção horizontal das lâminas dos interesternitos, a
saber: A, B, C e D. De acordo as observações deste estudo, o esqueleto endofragmal de
Trichodactylidae corresponde ao nível III C, definido como esqueleto com todas as lâminas
endosternais incompletas e mais ou menos confluentes, a condensação é evidente”. Esse
grupo também compreende a maioria das famílias de Eubrachyura (Guinot, 1979), entre elas
Portunidae, considerada por alguns autores como o possível grupo mais próximo a
Trichodactylidae (Cumberlidge & Ng, 2009). Os trabalhos de Sternberg & Cumberlidge
(2003) e Juares (2008) compararam parcialmente estruturas do esqueleto endofragmal de
Trichodactylidae com representantes de outras famílias de braquiúros marinhos, ambos os
autores coincidiram em encontrar similaridades com alguns grupos Portunoidea. A descrição
do esqueleto endofragmal de Trichodactylidae feita no presente trabalho pretende contribuir
para que futuros estudos comparativos possam ser feitos, tendo uma visão mais ampla e
29
completa da morfologia das estruturas internas do sistema de suporte da musculatura
locomotora, visando a encontrar o grupo filogeneticamente mais próximo a Trichodactylidae.
6. Conclusões
A análise anatômica do esqueleto endofragmal corroborou a validade da classificação
supragenérica da família Trichodactylidae proposta por Magalhães & Türkay (1996a),
sendo esse sistema de classificação coerente não apenas com os caracteres da câmara
ventral, parcialmente refletidos no esterno torácico, mas também com caracteres
relacionados à lâmina de junção, e da câmara dorsal do esqueleto endofragmal;
As linhas de sutura, observadas no esterno torácico são bons indicadores da longitude
e da continuidade dos fragmas da câmara ventral do esqueleto endofragmal; no
entanto, informações mais completas acerca da morfologia desses fragmas, como sua
elevação e sua orientação vertical, podem ser conhecidas mediante a avaliação
interna dessas estruturas;
Dada a relevância das informações do esqueleto endofragmal para a taxonomia de
Trichodactylidae, e considerando as dificuldades que se tem em alguns grupos de
braquiúros, (por exemplo, Pseudothelphusidae), nos quais a maioria dos caracteres
externos são muito uniformes entre as espécies da família, o estudo do esqueleto
endofragmal é uma boa alternativa na busca de novos caracteres que ajudem a
evidenciar relações de afinidade filogenéticas;
Será de grande relevância a inclusão de informações provenientes dos caracteres do
esqueleto endofragmal em futuros estudos que busquem avaliar as afinidades
filogenéticas de Trichodactylidae com outros grupos de braquiúros, tendo em vista a
importância da configuração do esqueleto endofragmal na classificação intrafamiliar
dessa família.
30
7. Referências bibliográficas
Anger, K. 1995. The conquest of freshwater and land by marine crabs: adaptations in life-
history patterns and larval bioenergetics. Journal of Experimental Marine Biology and
Ecology, 193: 119-145.
Bott, R.1969. Die Süsswasserkrabben Süd-Amerikas und ihre Stammesgeschicte. Eine
Revision der Trichodactylidae und der Psedothelphusidae östlich der Anden (Crustacea,
Decapoda). Abhandlungen der Senckenbergischen Naturforschenden Gesellschaft, 518: 1-
94.
Cochan, D. 1935. The skeletal musculature of the blue crab, Callinectes sapidus Rathbun.
Smithson. misc. collns, 92(9): 1-76.
Costa, E. M. 2007. O caranguejo de água doce, Trichodactylus fluviatilis (Latreille, 1828)
(Crustacea, Decapoda, Trichodactylidae), na concepção dos moradores do povoado de
Pedra Branca, Bahia, Brasil. Biotemas, 20(1): 59-68.
Cumberlidge, N.; Ng, P. 2009. Systematics, evolution, and biogeography of freshwater crabs
In Martin, J.; Crandall, K.; Felder, D. Decapod Crustacean Phylogenetics. Boca Raton, Fl.
CRC Press Taylor & Francis Group. p. 491- 508.
Cumberlidge, N.; Ng, P.; Yeo, D.; Magalhães, C.; Campos, M.; Alvarez, F.; Naruse, T.;
Daniels, S.; Esser, L.; Attipoe, F.; Coltilde-Ba, F.; Darwall, W.; Mcivor, A.; Baillie, J.;
Collen, B.; Ram, M. 2009. Freshwater crabs and the bioldiversity crises: Importence,
threats, status and conservation challenges. Biological Conservation, 142: 1665-1673.
Drach, P. 1950. Les étapes évolutives de l’endosquelette chez lês Crustacés Décapodes.
Comptes Rendus Hebdomadaires des Seances de l’Academie des Sciences, 231 (25): 1563-
1565.
Guinot, D. 1979. Données nouvelles sur la morphologie, la phylogenèse et la taxonomie des
Crustacés Décapodes Brachyoures. Mémories du Muséum National D’Historie Naturelle,
Paris. Tomo A, 112. 354pp.
31
Guinot, D.; Bouchard, J. 1998. Evolution of the abdominal holding systems of brachyuran
crabs (Crustacea, Decapoda, Brachyura). Zoozystema, 20 (4): 613-671.
Guinot, D.; Quenette, G. 2005. The spermateca in podotreme crabs (Crustacea, Decapoda,
Brachyura, Podotremata) and its phylogenetics implications. Zoozystema, 27 (2): 267-342.
Herbts, J.F.W. 1793. Versuch einer Naturgeschichte der Krabber und Krebse, nebst einer
Systematischen Bescheibungiher verschiedenen Arten. Berlin, Gottlieb August Lange.
szX1, p 87-182.
Juares, A. 2008. Conexões morfológicas entre carapaça e esqueleto endofragmal nos
caranguejos de água doce Trichodactylidae Milne-Edwards, 1853 (Crustacea: Decapoda:
Brachyura). Relatório final do estágio curricular para obtenção do título de bacharel em
ciências biológicas, Universidade Estadual Paulita “Júlio de Mesquita Filho”, São José do
Rio Preto, São Paulo. 61pp.
Magalhães, C. 2003. Famílias Pseudothelpusidae e Trichodactylidae. In: Melo, G. A. S.
Manual de identificação dos Crustácea Decápode de água doce do Brasil. São Paulo:
Editora Loyola. p. 143-287.
Magalhães, C.; Türkay M. 1996a. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family
Trichodactylidae I. The generic system with description of some new genera (Crustacea:
Decapoda: Brachyura). Senckenbergiana biologica, 75: 63-95.
Magalhães, C.; Türkay M. 1996b. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family
Trichodactylidae II. The genera Forsteria, Melocarcinus, Sylviocarcinus and Zilchiopsis
(Crustacea: Decapoda: Brachyura). Senckenbergiana biologica, 75: 97-130.
Magalhães, C.; Türkay M. 1996b. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family
Trichodactylidae III. The genera Fredilocarcinus and Goyazana (Crustacea: Decapoda:
Brachyura). Senckenbergiana biológica, 75: 131-142.
Magalhães, C.; Türkay M. 2008a. Taxonomy of the Neotropical freshwater crab family
Trichodactylidae IV. The genera Dilocarcinus and Poppiana (Crustacea: Decapoda:
Trichodactylidae). Senckenbergiana biológica, 88: 185-215.
32
Magalhães, C.; rkay M. 2008b. Taxonomy of the neotropical freshwater crab family
Trichodactylidae V. The genera Botiella and Rotundovaldivia (Crustacea: Decapoda:
Trichodactylidae). Senckenbergiana biologica, 88: 217-230.
Magalhães, C.; Barbosa, U. C.; Py-Daniel V. 2006. Decapods crustaceans used as food by the
yanomami indians of the Balawa-ú village, state of Amazonas, Brazil. Acta Amazonica,
36(3): 369374.
Martin, J.W.; Davis, G. E. 2001. An updated classification of the recent Crustacea. Natural
History Museum of Los Angeles. USA, Science Series. vol. 39, 124 pp.
Mocquard, F. 1883. Recherches anatomiques sur l’estomac des crustaces Podophthalmaires.
Annales des Sciences Naturelles. Zoologie et Paleontologie. Tomo XVI: 1-311.
Ng, P.; Guinot, D.; Davie, P. 2008. Systema Brachyurorum: Part I. An Annotated Checklist of
Extant Brachyuram Crabs of the World. The Raffles Bulletin Of zoology, 17: 1286.
Pretzmann, G. 1968. Die Familie Trichodactylidae (Milne Edwards 1853) Smith 1870
(Vorläufige Mitteilung). Entomologisches Nachrichtenblatt, 15 (7-8): 70-76.
Rathbum, M. J. 1906. Le crabs d’eau douce (Potamidae). Nouvelles Archives du Museum
D'Histoire Naturelle De Paris, 8 (4): 33-122.
Rodríguez, G., 1992. The freshwater crabs of America. Family trichodactylidae and (Suppl.)
to the family Pseudothelphusidae. Orstom, Faune Tropicale 31, Paris. 189pp.
Rodríguez, G.; Magalhães. 2005. Recent advances in the biology of the neotropical freshwater
crabs family Pseudothelphusidae (Crustacea, Decapoda, Brachyura). Revista Brasileira de
Zoologia, 22(2): 354-365.
Sakai, K.; Türkay, M.; Yang, S. 2006. Revision of the Helice/Chasmagnathus complex.
(Crustacea: Decapoda: Brachyura). Abhandlungen der Senckenbergischen
Naturforschenden Gesellschaft, (565): 1-76.
Secretan, S. 1980. Le plan de base do squelette axial d’un Custacé d[ecapode macoure et sa
terminologie. Comptes Rendus Hebdomadaires des Seances de l’Academie des Sciences,
291 (D): 877-880.
33
Secretan, S. 1998. The sella turcica of crabs and the endophragmal system of decapods.
Journal of Natural history, 32: 1753-1767.
Secretan, S. 2002a. Monographie du squelette axial de Nephrops norvegicus (Linné, 1758).
Zoosystema, 24(1): 81-176.
Secretan, S. 2002b. La lame de juntion, base de l’organisation phragmale des decapodes
brachyures. Crustaceana, 75 (3-4): 637-641.
Stachowitsch, M. 1992. The Invertebrates: An Illustrated Glossary. Wiley-Liss, New York,
676 pp.
Sternberg, Rv. 1997. Cladistics of the freshwater crab family Trichodactylidae (Crustacea:
Decapoda): appraising the reappraisal. Journal of Comparative Biology, 2 (1): 49-62.
Sternberg, Rv.; Cumberlidge, N. 2001. Notes on the position of the true freshwater crabs
within the brachyrhynchan Eubrachyura (Crustacea: Decapoda: Brachyura).
Hydrobiologia, 449: 21- 39.
Sternberg, Rv.; Cumberlidge, N. 2003. Autapomorphies of the endofragmal system in
trichodactilyd freshwater crabs (Crustacea: Decapoda: Eubrachyura). Journal of
Morphology, 256: 2328.
Sternberg, Rv.; Cumberlidge, N.; Rodríguez, G. 1999. On the marine sister groups of the
freshwater crabs (Crustacea: Decapoda: Brachyura). Journal of Zoological Systematic and
Evolutive Research, 37: 19-38.
Tavares, M. & Secretan, S., 1993. La notion de thelycum et de spermatheque chez les
Crustaces Decapodes. Comptes Rendus de L´Académie des Sciences. 316: 133138.
Vidal-Gadea, AG.; Rinehart, M.D.; Belanger, J.H. 2008. Skeletal adaptations for forwards
and sideways walking in three species of decapods crustaceans. Arthropod Struture &
Development, 37: 95-108.
Yeo, D.; Ng, P.; Cumberlidge, D.; Magalhães, C.; Daniels, S.; Campos, M. 2008. Global
diversity of crabs (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in freshwater. Hydrobiologia, 595:
275286.
34
Figuras
Figura 6. Fotografia, detalhe esterno torácico, vista dorsal. A, Trichodactylininae (Trichodactylus fluviatilis
♂02); B,Valdiviini (Zilchiopsis collastinensis 01); C, Dilocarcinini (Dilocarcinus septemdentatus 02). (ant =
região anterior do corpo; c.i.e = crista interesternito; c.c.a = crista da cavidade anterior; i.e = interesternito; p.e =
proeminências esternais; ST = sella turcica; s.m. = septo mediano).
35
Figura 7. Fotografia, detalhe lâmina de junção, vista antero-mesial. A, Trichodactylininae (Trichodactylus
fluviatilis ♂01); B, Trichodactylininae (Avotrichodactylus constrictus ♂02); C, Valdiviini (Zilchiopsis
collastinensis ♂01); D, Dilocarcinini (Dilocarcinus pagei ♂01). (ant = região anterior do corpo; dor = região
dorsal do corpo; i.p = interpleurito; i.e = interesternito; l.j = lâmina de junção; ST = sella turcica).
36
Figura 8. Avotrichodactylus constrictus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01;
B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial ♂02.
37
Figura 9. Trichodactylus fluviatili, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂02; B,
esterno torácico, vista ventral ♂02; C, esqueleto endofragmal, vista mesial ♂01.
38
Figura 10. Trichodactylus petropolitanus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal
♂01; B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial ♂02.
39
Figura 11. Trichodactylus panoplus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01; B,
esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 02.
40
Figura 12. Trichodactylus dentatus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01; B,
esterno torácico, vista ventral ♂01.
41
Figura 13. Trichodactylus borellianus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01;
B, esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
42
Figura 14. Sylviocarcinus devillei, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01; B,
esterno torácico, vista ventral ♂01.
43
Figura 15. Sylviocarcinus pictus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01; B,
esterno torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 02.
44
Figura 16. Zilchiopsis collastinensis, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal 01; B,
esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial ♂01.
45
Figura 17. Forsteria venezuelensis, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal 01;
B, esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial ♂01.
46
Figura 18. Valdivia serrata, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal ♂01; B, esterno
torácico, vista ventral ♂01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
47
Figura 19. Bottiella medemi, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal 01; B, esterno
torácico, vista ventral 01.
48
Figura 20. Goyazana castelnaui, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal 01;
B, esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
49
Figura 21. Dilocarcinus pagei, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal 02;
B, esterno torácico, vista ventral 02; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
50
Figura 22. Dilocarcinus septemdentatus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal
01; B, esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
51
Figura 23.Moreirocarcinus emarginatus, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal
01 ; B, esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
52
Figura 24. Moreirocarcinus laevifrons, representação esquemática. A, esqueleto endofragmal, vista dorsal 01;
B, esterno torácico, vista ventral 01; C, esqueleto endofragmal, vista mesial 01.
Apêndice
Medições dos espécimes e suas respectivas instituições de origem. N= número do espécime; Cb = largura da
carapaça; Cl = comprimento da carapaça.
Espécie
Sexo
N
Cb
Cl
Coleção
B. medemi
01
41,2
34,45
ICN
G. castelnaui
01
56,22
45,28
MZUSP
01
42,97
35,46
D. pagei
01
36,16
27,6
INPA
02
42,15
31,85
01
42,11
34,38
02
37,7
30,4
D. septemdentatus
01
39,45
30,94
INPA
01
42,25
33,5
M. emarginatus
01
02
31,23
33,11
28,54
30,15
INPA
M. laevifrons
01
02
01
34,20
36,70
27,32
29,54
31,79
23,71
INPA
S. devillei
01
64,32
61,11
INPA
01
58,48
55,97
S. pictus
01
33,5
27,3
INPA
01
23,1
25,1
Z. collastinesis
01
34,99
29,77
MZUSP
01
50,25
44,77
F. venezuelesis
01
33,05
39,3
ICN
01
28,4
25,45
V. serrata
01
01
31,92
33,27
25,55
26,78
INPA
T. fluviatilis
01
28,84
25,21
INPA
02
32,34
28,12
01
34,08
30,07
02
37,76
31,94
T. petropolitanus
01
29,44
27,18
MZUSP
02
26,96
26,68
01
31,13
29,38
T. panoplus
01
16,32
14,33
UFRGS
02
16,11
14,38
01
14,5
13,08
02
14,38
13,12
T. dentatus
01
27,12
24,27
INPA
T. borellianus
01
12,15
9,98
INAL
01
13,54
11,46
02
13,51
11,74
A. constrictus
01
20,89
18,42
UNAM
02
19,6
18,56
01
18,62
16,93
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo