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está ligado aos estados nacionais modernos e sua concepção de guardar o que era próprio da
elite. A posse de coleções de objetos, obras de arte e gabinetes
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de curiosidades era, sem
dúvida, reflexo de poder econômico e político e os bens contemplados eram pouco acessíveis
à população “comum”. As coleções distinguiam o possuidor, atribuindo-lhe uma condição de
poder, uma posição de destaque. O acesso aos gabinetes de curiosidades era restrito e esses
lugares eram protegidos, considerando o valor atribuído – principalmente pelos proprietários
– aos objetos que compunham as coleções. Segundo Bittencourt (1997, p.7), o “gabinete é,
pois, um lugar fechado ao público, e por certo não irá perder esta característica no momento
em que começar a ser ocupado pelas curiosidades científicas, trazidas, a partir dos séculos
XV e XVI, como subproduto da expansão européia”.
De acordo com Vasconcellos (2006), o primeiro museu público europeu surgiu em 1683, na
Inglaterra, e seu acesso era restrito a especialistas e universitários. O segundo museu surgiu
em Paris, em meados do século XVIII, também para visita de estudantes e para a classe
artística, no qual foi exposta ao público parte da coleção real francesa. Nesse período a França
possuía grandes coleções de história natural e de arte que deram origem ao Museu do Louvre,
iniciado com a primeira galeria aberta ao público, em 1749, no palácio do Luxemburgo. O
Museu do Louvre propriamente dito foi aberto em 1793 com o nome de Museu Nacional e
viria a ser tornar, nos anos seguintes, “o centro de uma política de museus públicos tratada
pelas autoridades revolucionárias e, posteriormente, pelo Império, com grande interesse”,
conforme relata Bittencourt (1997, p.26). Em 1759, o Museu Britânico foi aberto ao público, a
partir da coleção reunida no gabinete de Sir Hans Sloane, um médico irlandês que durante
suas viagens reuniu uma quantidade significativa e sortida de curiosidades e que antes de
morrer expressou o desejo de deixar seu gabinete como legado para “a humanidade”. O
museu, como um espaço público – diferente dos gabinetes de acesso restrito –, funcionava
regularmente durante os dias de semana e cobrava ingresso dos visitantes, embora não fosse
devidamente organizado com relação à exposição e à classificação dos objetos
(BITTENCOURT, 1997).
Com a ascensão da burguesia na Europa após a Revolução Francesa, uma nova
concepção foi incorporada ao universo museal: a noção de patrimônio, pela qual os
museus dos príncipes e dos reis passaram a ser museus das nações. A partir daí, as
instituições museológicas refletiram, até hoje, seus padrões políticos, estéticos e de
organização, trazendo para dentro delas os seus valores e as suas concepções de
mundo (VASCONCELLOS, 2006, p.18-19).
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“Uma câmara ou reservado ou gabinete foi o termo usado na Europa Ocidental para descrever um lugar
onde raridades eram mantidas, e dentro do qual o conhecedor poderia retirar-se para a contemplação
privada.” (RIPLEY apud BITTENCOURT, 1997, p. 7)