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mobilidade entre esses exilados (Ez 33,30-33), embora fossem certamente
obrigados à corvéia nas obras públicas e nas terras do rei, santuários etc.
21
Provavelmente deveriam viver naquela teia de canais de irrigação da Babilônia
situados no rio Quebar, que ficava em Tel-Abibe (“colina da primavera”; Ez 3,15), o
rio Aava (Esd 8,15) ou o rio Sud (Bar 1,4). O fato de viverem unidos foi um fator
decisivo para a preservação da sua identidade, como afirma Gerstenberger:
A experiência mostra que emigrantes e pessoas deslocadas à força
gostam de formar grupos protegidos, que, se não forem
demasiadamente pequenos, têm reais chances de preservar sua cultura
por muito tempo. [...] A mentalidade dos emigrantes e expatriados
aparentemente lançou raízes fortes entre os deportados judaítas. Estes
substituíram, no dia-a-dia, a coesão oferecida pelo Estado – este que já
não existia, de fato, mas subsistia na esperança projetada no futuro,
também sob a forma do messianismo davídico – por uma fé comum em
Javé, à qual, agora, todos eram comprometidos através do culto, da
confissão e de símbolos fortes.
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Embora os israelitas estivessem unidos na Babilônia, eram possuídos pela
sensação de não pertencer ao território para o qual foram exilados. Isso provocou
entre eles um sentimento de nacionalismo, que foi fundamental para a sobrevivência
do grupo, que passou a desenvolver ideias e conceitos que o fizeram refletir sobre a
sua história, resgatando assim a memória que consolidaria os valores do grupo
nessa conjuntura de exílio. Said faz uma reflexão a esse respeito:
Nacionalismo é uma declaração de pertencer a um lugar, a um povo, a
uma herança cultural. Ele afirma uma pátria criada por uma comunidade
de língua, cultura e costumes e, ao fazê-lo, rechaça o exílio, luta para
evitar seus estragos. [...] Portanto, os exilados sentem uma necessidade
urgente de reconstituir suas vidas rompidas e preferem ver a si mesmos
como parte de uma ideologia triunfante ou de um povo restaurado.
23
Garmus destaca a presença e importância de anciãos nessa comunidade,
numa espécie de articulação que manteve viva as tradições do grupo.
24
Porém, com
as restrições impostas pelo governo babilônico, provavelmente ao lado dos chefes
de clãs, formou-se gradualmente uma liderança religiosa composta de homens de
linhagem sacerdotal e de escribas, que se tornaram a nova autoridade comunitária,
assumindo o posto mais importante da liderança espiritual. É provável que tenham
21
SOLANO ROSSI, L. A. Cativeiro de Babilônia: uma crise criativa. Estudos Bíblicos, Petrópolis/São
Leopoldo, nº 43, p. 39-43, 1994.
22
GERSTENBERGER, 2007, p. 250-251.
23
SAID, E. Reflexões sobre o exílio. In: Reflexões sobre o exílio e outros ensaios. São Paulo: Cia das
Letras, 2003. p. 49-50.
24
GARMUS, L. A comunidade de Israel em crise: o exílio de Babilônia. Estudos Bíblicos,
Petrópolis/São Leopoldo, nº 15, p. 23-37, 1987.