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paisagem ao longo do dia. De fato, as motivações para estar em determinado local
condicionam a percepção das pessoas. Os cicloturistas viajaram para pedalar, ter lazer,
descansar, conhecer lugares novos, estar com os amigos, aventurar-se e interagir com o
ambiente. Segundo Daniel, quando está viajando, torna-se mais predisposto a perceber o
ambiente. Esse comportamento, que é também uma das finalidades das viagens, é, ao mesmo
tempo, um meio que lhes possibilita alcançar tudo aquilo que os motiva. A intensa interação
entre os cicloturistas e o ambiente faz com que se divirtam, descansem, conheçam lugares
novos, estejam com os amigos e se aventurem.
A percepção é bem diferente de um carro. Há uma interação com o ambiente. Eu sinto o frio, o
calor e o vento. Converso com as pessoas. Eu paro para ver o pássaro ou para qualquer outra
coisa interessante. De bicicleta, fico livre e focado no ambiente. (JOÃO BATISTA)
A cultura, em viagem de bicicleta, é percebida principalmente por meio do contato singular
que se estabelece entre os cicloturistas e os habitantes. Por motivos múltiplos, discutidos no
decorrer deste capítulo, as pessoas se mostram abertas aos viajantes e às suas bicicletas. Ao
mesmo tempo em que elas abrem suas casas, oferecem comida e contam histórias, elas
perguntam sobre a vida dos cicloturistas, porque utilizam as bicicletas e por quais motivos
viajam. Outros aspectos da cultura da região como a música, a arquitetura, os hábitos, as
festas, a comida também são percebidos de forma diferenciada pelos viajantes, fato que pode
ser explicado pela intensa percepção.
A bicicleta lhes proporciona liberdade com relação ao tempo e aos caminhos percorridos. Sua
energia de propulsão é a própria energia dos cicloturistas, o que os torna donos do seu tempo.
Eles decidem quando começar e parar de pedalar, aumentar ou reduzir a velocidade, nadar no
rio, descansar, comer ou conversar com as pessoas. A bicicleta também proporciona acesso
aos mais diversos tipos de estradas e caminhos. Ela pode ser utilizada em asfalto, terra, areia,
trilha de animais, pastos, entre outros terrenos. Essa característica faz com que os cicloturistas
escolham, dia-a-dia, os caminhos a serem percorridos e os locais onde querem chegar. Muitas
cachoeiras, por exemplo, são acessadas somente por meio de trilhas, em que os carros não
transitam, mas as bicicletas sim.
A energia que movimenta a bicicleta é a do próprio viajante. Nas palavras de Artur, “as
distâncias são vencidas pelo próprio esforço.” Além de ser um motivo de orgulho por parte
dos cicloturistas, percorrer paisagens com o próprio esforço faz com que a percepção aconteça