RESUMO
Neste trabalho, foi investigado o efeito da sepse a longo prazo, sobre o tecido
renal, utilizando o modelo de sepse induzida por ligação e perfuração cecal (cecal
ligation and perfuration, CLP, 10 perfurações) em ratos. Após a indução da sepse, o
aspecto morfológico bem como parâmetros da função renal e inflamatórios foram
avaliados em diferentes tempos (dias 1, 5, 10, 15 e 20), ao longo de 20 dias. A sepse
induziu uma queda drástica na PAS (CLP, 62,0 ± 9,4 mmHg; Sham, 122,0 ± 10,7
mmHg; Controle, 130,0 ±7,1 mmHg) e o hematócrito apresentou-se aumentado (CLP,
54,0 ± 0,7%; Sham, 44,0 ± 0,3%; Controle, 44,0 ± 0,5%), efeitos estes, observados
apenas no 1º dia pós-indução. A sepse também produziu aumento das concentrações
plasmáticas de uréia e de creatinina, com concomitante queda do RFG, da proteinúria,
da excreção urinária de yGT e do FU, com concomitante redução da densidade
específica urinária. Esses efeitos já intensos e máximos no 1º dia pós-sepse, assim
permaneceram até 20 dias. As frações de excreção de sódio e de potássio mostraram-
se elevadas somente a partir do 5º dia pós-sepse ao passo que o clearance osmolar e
de H
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O livre não foram significativamente afetados. Cortes histológicos corados pelo
Tricrômico de Masson evidenciam que a sepse afetou principalmente a estrutura
glomerular sendo, as alterações morfológicas durante a instalação da doença renal (dias
1, 5, 10 e 15 após a indução da sepse), compatíveis com o quadro de glomerulonefrite.
Alterações significativas não foram observadas nos ratos dos grupos Controle e Sham.
A morfometria glomerular de ratos do grupo CLP apresentou diferença significativa dos
demais grupos quanto ao diâmetro da cápsula de Bowman (CLP, 128,0 ± 8,0 µm; Sham,
88,0 ± 11,0 µm; Controle, 91,0 ± 9,2 µm) e diâmetro do espaço de Bowman (CLP, 10,0 ±
0,7 µm; Sham, 7,6 ± 0,7 µm; Controle, 7,2 ± 0,3 µm) enquanto que a morfometria tubular
foi similar nos três grupos estudados e em todos os tempos avaliados. A análise do
perfil inflamatório mostra que a sepse aumentou acentuadamente a atividade da MPO
no 1º dia após a indução de sepse (em unidades relativas: CLP, 68,6 ± 14,5; Sham, 36,5
± 12,0; Controle, 7,4 ± 2,5). Embora a sepse não tenha alterado o conteúdo renal de
RNA mensageiro que codifica TNFα, em nenhum dos dias avaliados, o TNF renal
mostrou-se aumentado apenas no 1º dia pós-sepse (em pg/ml/mg: CLP, 216,0 ± 63,8;
Sham, 97,6 ± 53,0; Controle, 89,9 ± 45,8) enquanto que, neste mesmo dia, o TNF
quase não pôde ser detectado na urina. Nos demais dias analisados, o TNF renal
estava bastante diminuído. Similarmente ao observado para o TNF renal, a IL-6 renal
já se encontrava elevada no 1º dia pós-sepse (em pg/ml/mg: CLP, 1086,8 ± 193,9;
Sham, 946,8 ± 298,6; Controle, 441,5 ± 135,4). No entanto, esta citocina também se
encontrava aumentada nos rins do grupo Sham, indicando que o procedimento cirúrgico,
por si, já aumentava os níveis renais da IL-6. Nos demais dias analisados, os níveis de
IL-6 renal estavam diminuídos de forma similar nos 3 grupos estudados. As razões
urinárias de TNF/Creatinina e IL-6/Creatinina mostraram-se significativamente
aumentadas ao longo dos 20 dias pós-sepse. O TGFß1 renal apresentou-se elevado
somente no 20º dia após indução da sepse. Os nossos resultados mostraram que a
sepse induzida pelo modelo CLP produz danos profundos na função renal
acompanhada por alterações na estrutura glomerular e induzindo um processo
inflamatório renal. Este quadro já se encontra instalado nas primeiras 24 h após a
indução da sepse, o qual permaneceu igualmente afetado durante todo o período
avaliado (20 dias).