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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE FISIOLOGIA E BIOFÍSICA
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS:
FISIOLOGIA E FARMACOLOGIA
TESE DE DOUTORADO
DESENVOLVIMENTO DA INSUFICIÊNCIA RENAL
PROMOVIDA PELA SEPSE INDUZIDA PELO
MODELO CLP (Cecal Ligation and Puncture):
AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E DE PARÂMETROS
RENAIS E INFLAMATÓRIOS
Viviane Gomes Portella
Belo Horizonte, 2010
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VIVIANE GOMES PORTELLA
DESENVOLVIMENTO DA INSUFICIÊNCIA RENAL
PROMOVIDA PELA SEPSE INDUZIDA PELO
MODELO CLP (Cecal Ligation and Puncture):
AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E DE PARÂMETROS
RENAIS E INFLAMATÓRIOS
Trabalho apresentado ao Curso de Pós-Graduação em Ciências
Biológicas - Fisiologia e Farmacologia da Universidade Federal de
Minas Gerais como requisito parcial para obtenção do título de doutora
em Ciências, na área de concentração de Fisiologia, sob orientação da
Profa. Dr
a
. Maria Aparecida Ribeiro Vieira.
Belo Horizonte, 2010
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Portella, Viviane Gomes
Desenvolvimento da insuficiência renal promovida pela sepse
induzida pelo modelo CLP (Cecal Ligation and Puncture): avaliação
morfológica e de parâmetros renais. [manuscrito] / Viviane Gomes
Portella. 2010.
75 f. : il. ; 29,5 cm.
Orientadora: Maria Aparecida Ribeiro Vieira.
Tese (doutorado) Universidade Federal de Minas Gerais,
Instituto de Ciências Biológicas.
1. Insuficiência renal Teses. 2. Septicemia Teses. 3. Citocinas -
Teses. 4. Fisiologia Teses. 5. Rins Fisiopatologia Teses. 6.
Ligação e perfuração cecal CLP. 7. Sepse. 8. Histomorfometria. I.
Vieira, Maria Aparecida Ribeiro. II. Universidade Federal de Minas
Gerais. Instituto de Ciências Biológicas. III. Título.
CDU: 612.466
Quando a febre é contínua, a superfície interna
do corpo está fria e existe internamente uma grande
sensação de calor e sede, a afecção é mortal ”
Hipocrates, 400 A.C.
Primeira descrição de sepse na história da medicina
AGRADECIMENTOS
À Prof
a.
Maria Aparecida Ribeiro Vieira por confiar em mim me aceitando no
doutorado, pela paciência, pela amizade, pelos ensinamentos e pelo agradável
convívio.
Ao Prof. Jamil Assreuy por seu conhecimento e disponibilidade em nos ajudar
sempre.
Aos meus amigos do Laboratório de Fisiologia Renal, Ana Paula Araújo Ferreira
Ribeiro, Roseli Martins Rezende Pereira, Priscila Elisa da Silveira, Lílian Fernanda
Pacheco e Gustavo Cosenza pelas boas e muitas gargalhadas, companheirismo e
amizade.
Ao Lúcio Ricardo Leite Diniz pelo companheirismo e por participar intensamente da
minha vida nestes últimos quatro anos.
À Kátia Daniela da Silveira pelo enorme apoio no desenvolvimento deste trabalho e
pela amizade que construímos ao longo destes anos.
Aos Professores Jorge Luiz Pesquero, Múcio Flávio Barbosa Ribeiro, Maria
Aparecida Gomes pelo apoio com equipamentos e reagentes para execução deste
trabalho, me recebendo sempre com muita gentileza e cordialidade.
Aos Laboratórios de Endocrinologia, Laboratório de Hipertensão, Laboratório de
Fisiologia Cardiovascular, Laboratório de Biologia do Desenvolvimento, Laboratório
de Imunofarmacologia pela disponibilização de infra-estrutura e por sempre me
receberem com simpatia e cordialidade.
Ao Prof. Geovanni Dantas Cassali do Laboratório de Patologia Comparada pelas
orientações na avaliação histopatológica.
À Prof
a
. Fabíola de Oliveira Paes Leme do Laboratório de Patologia Clinica - Escola
de Veterinária UFMG pelos ensaios da gama glutamil transferase.
À Adelaide por sempre tentar atender nossos pedidos de ratos feitos em cima da
hora.
À secretaria da Pós-Graduação, em nome de Maria Célia da Silva Costa e Cintya
Menezes Fonseca, pela competência nos serviços prestados aos alunos durante o
curso.
Aos técnicos Darcy Ferreira Santos, José Roberto da Silva e José Eustáquio de
Oliveira pela gentileza, atenção e simpatia de todos os dias.
Aos meus queridos amigos e aos colegas da pós-graduação pela troca de
informações, amizade e convívio diário.
Aos funcionários do Departamento de Fisiologia e Biofísica pela ajuda prestada.
Aos meus pais, Célia e Luiz e aos meus irmãos, Wanderson, Uisney e Wladimir pelo
amor, dedicação, compreensão, incentivo, confiança e pela intensa participação em
todos os momentos de minha vida.
Ao CNPq e CAPES pelo apoio financeiro.
ABREVIATURAS
CARS - Síndrome da Resposta Inflamatória Compensatória
CH
2
O livre clearance de água livre
CLP - ligadura e perfuração do ceco
C
osm
clearance osmolar
EAO - Espécies Ativas de Oxigênio
ET-1 endotelina 1
FEH
2
O fração de excreção de água
FEK
+
- fração de excreção de potássio
FENa
+
- fração de excreção de sódio
FSR fluxo sanguíneo renal
FU fluxo urinário
GGT Gama glutamil transferase
GPI Glicosil-fosfatidilinositol
HMG-I Proteína do grupo de alta mobilidade
i.p. - intraperitoneal
ICAM Moléculas de Adesão do tipo intracelular
IL - interleucina 1, 6, 8, 10, 12, 1β
I-NF inibidor de fator de necrose
iNOS - óxido nítrico sintase induzida
IRA Insuficiência Renal Aguda
LPS Lipopolissacarídeos
LTA Ácido lipoteicóico
MARS - Síndrome da Resposta Inflamatória Mista
mmHg - milímetros de mercúrio
MODS - Síndrome da Insuficiência de Múltiplos Órgãos
MPO - mieloperoxidase
NF-kB - fator nuclear da cadeia Kappa beta
NO - óxido nítrico
NOS - óxido nítrico sintase
NT não-treinado
PAF - Fator Ativador Plaquetário
PAM - pressão arterial média
PAMP Pathogen Associated Molecular Pattern
PGs - Prostaglandinas
PKC - proteína quinase C
PLC - fosfolipase C
PMN Neutrófilos polimorfonucleados
PRP Pattern Recognition Receptors
RFG ritmo de filtração glomerular
s.c. subcutâneo
SIRS - Resposta Inflamatória Sistêmica
TLR receptors Toll-like
TNF - Fator de Necrose Tumoral
TNFα - Fator de Necrose Tumoral alfa
TRAF TNF receptor actived factor-6
UTI Unidade de Terapia Intensiva
VCAM Moléculas de adesão do tipo vascular
RESUMO
Neste trabalho, foi investigado o efeito da sepse a longo prazo, sobre o tecido
renal, utilizando o modelo de sepse induzida por ligação e perfuração cecal (cecal
ligation and perfuration, CLP, 10 perfurações) em ratos. Após a indução da sepse, o
aspecto morfológico bem como parâmetros da função renal e inflamatórios foram
avaliados em diferentes tempos (dias 1, 5, 10, 15 e 20), ao longo de 20 dias. A sepse
induziu uma queda drástica na PAS (CLP, 62,0 ± 9,4 mmHg; Sham, 122,0 ± 10,7
mmHg; Controle, 130,0 ±7,1 mmHg) e o hematócrito apresentou-se aumentado (CLP,
54,0 ± 0,7%; Sham, 44,0 ± 0,3%; Controle, 44,0 ± 0,5%), efeitos estes, observados
apenas no dia s-indução. A sepse também produziu aumento das concentrações
plasmáticas de uréia e de creatinina, com concomitante queda do RFG, da proteinúria,
da excreção urinária de yGT e do FU, com concomitante redução da densidade
específica urinária. Esses efeitos já intensos e máximos no dia pós-sepse, assim
permaneceram até 20 dias. As frações de excreção de sódio e de potássio mostraram-
se elevadas somente a partir do dia pós-sepse ao passo que o clearance osmolar e
de H
2
O livre não foram significativamente afetados. Cortes histológicos corados pelo
Tricrômico de Masson evidenciam que a sepse afetou principalmente a estrutura
glomerular sendo, as alterações morfológicas durante a instalação da doença renal (dias
1, 5, 10 e 15 após a indução da sepse), compatíveis com o quadro de glomerulonefrite.
Alterações significativas não foram observadas nos ratos dos grupos Controle e Sham.
A morfometria glomerular de ratos do grupo CLP apresentou diferença significativa dos
demais grupos quanto ao diâmetro da cápsula de Bowman (CLP, 128,0 ± 8,0 µm; Sham,
88,0 ± 11,0 µm; Controle, 91,0 ± 9,2 µm) e diâmetro do espaço de Bowman (CLP, 10,0 ±
0,7 µm; Sham, 7,6 ± 0,7 µm; Controle, 7,2 ± 0,3 µm) enquanto que a morfometria tubular
foi similar nos três grupos estudados e em todos os tempos avaliados. A análise do
perfil inflamatório mostra que a sepse aumentou acentuadamente a atividade da MPO
no 1º dia após a indução de sepse (em unidades relativas: CLP, 68,6 ± 14,5; Sham, 36,5
± 12,0; Controle, 7,4 ± 2,5). Embora a sepse não tenha alterado o conteúdo renal de
RNA mensageiro que codifica TNFα, em nenhum dos dias avaliados, o TNF renal
mostrou-se aumentado apenas no dia pós-sepse (em pg/ml/mg: CLP, 216,0 ± 63,8;
Sham, 97,6 ± 53,0; Controle, 89,9 ± 45,8) enquanto que, neste mesmo dia, o TNF
quase o pôde ser detectado na urina. Nos demais dias analisados, o TNF renal
estava bastante diminuído. Similarmente ao observado para o TNF renal, a IL-6 renal
se encontrava elevada no dia pós-sepse (em pg/ml/mg: CLP, 1086,8 ± 193,9;
Sham, 946,8 ± 298,6; Controle, 441,5 ± 135,4). No entanto, esta citocina também se
encontrava aumentada nos rins do grupo Sham, indicando que o procedimento cirúrgico,
por si, aumentava os níveis renais da IL-6. Nos demais dias analisados, os níveis de
IL-6 renal estavam diminuídos de forma similar nos 3 grupos estudados. As razões
urinárias de TNF/Creatinina e IL-6/Creatinina mostraram-se significativamente
aumentadas ao longo dos 20 dias pós-sepse. O TGFß1 renal apresentou-se elevado
somente no 20º dia após indução da sepse. Os nossos resultados mostraram que a
sepse induzida pelo modelo CLP produz danos profundos na função renal
acompanhada por alterações na estrutura glomerular e induzindo um processo
inflamatório renal. Este quadro se encontra instalado nas primeiras 24 h após a
indução da sepse, o qual permaneceu igualmente afetado durante todo o período
avaliado (20 dias).
ABSTRACT
We have investigated the sepsis long-term effect on the kidney using a cecal
ligation and puncture model (CLP, 10 punctures) in rats. After sepsis induction, the
renal morphological profile as well as renal and inflammatory parameters were
evaluated at different times (days 1, 5, 10, 15 e 20) throughout the experiments (20
days). Sepsis greatly reduced systolic arterial pressure (CLP, 62.0 ± 9.4 mmHg;
Sham, 122.0 ± 10.7 mmHg; Control, 130.0 ±7.1 mmHg) and increased hematocrit
(CLP, 54.0 ± 0.7%; Sham, 44.0 ± 0.3%; Control, 44.0 ± 0.5%), only at the 1
st
day
after sepsis induction. Sepsis also increased plasma urea and creatinine
concentrations, with concomitant reduction in the glomerular filtration rate, total urine
protein, urine yGT, and urine flow, with concomitant decrease in the specific urine
density. The effect were very pronounced and maximum even at the day and
remained high all experiment long (20 days). Sodium and potassium fractional
excretions were elevated only after the 5
th
day although osmolar clearance and free
water clearance were unchanged by sepsis. Histological slices stained by Masson
tricromic showed that sepsis affected mainly the glomerular structure and that
morphological changes during the kidney disease installation (days 1, 5, 10 e 15 after
sepsis induction) were characteristics of glomerulonefritis. No significant changes
were observed in the Control and Sham groups. Sepsis greatly increased diameters
of Bowman‟ capsule (CLP, 128.0 ± 8.0 µm; Sham, 88.0 ± 11.0 µm; Controle, 91.0 ±
9.2 µm) and Bowman space (CLP, 10.0 ± 0.7 µm; Sham, 7.6 ± 0.7 µm; Control, 7.2 ±
0.3 µm) whereas tubular morphometry was not changed. Mieloperoxidase activity
was promptly increased at the 1
st
day after sepsis induction (in relative units: CLP,
68.6 ± 14.5; Sham, 36.5 ± 12.0; Control, 7.4 ± 2.5). Although renal TNFα mRNA
transcription was not affected, renal TNF content was significantly increased only at
the 1
st
day after sepsis induction (CLP, 216.0 ± 63.8 pg/ml/mg; Sham, 97.6 ± 53.0
pg/ml/mg; Control, 89.9 ± 45.8 pg/ml/mg) whereas urine TNF was slightly
detectable and gradually increased until the end of experiment. Renal
TNFremained very low in the following experimental days. Similarly, renal IL-6 was
increased at the 1
st
day and renal IL-6 was very low in all three experimental groups
under study. The urinary ratios TNF/Creatinine and IL-6/Creatinine were
significantly increased all experiment long (20 days). A sepsis-induced increase in
the renal TGFß1 was observed only at 20
th
after induction. Our data showed that
CLP-induced sepsis severely impaired renal function and stimulated a renal
inflamatory response in paralel with changes in the glomerular structure. This profile
was stablished at 24 h after sepsis induction and remained unchangeable until the
20
th
day of observation.
1 JUSTIFICATIVA
A instalação do quadro de insuficiência renal aumenta muito a
morbimortalidade, apesar da terapia renal substitutiva precoce (Brivet et al., 1994;
Bagshaw et al., 2005). A insuficiência renal aguda, associada à sepse, determina um
prognóstico extremamente reservado, com taxas de mortalidade de a80% (Thijs e
Thijs,1998).
A sepse é uma síndrome de alta incidência no mundo inteiro e de alta
mortalidade na maioria dos países. Vários estudos vêm sendo realizados para se
conhecer sua fiosiopatologia, a fim de prevenir as alterações que podem levar o
paciente à morte.
Desta forma, a tendência é que tenhamos cada vez mais, ao longo dos anos,
pacientes se recuperando do quadro de sepse. Segundo Sales Júnior et al. (2006), a
campanha mundial de sobrevivência na sepse (Survival Sepsis Campaign), na qual
as sociedades médicas, em todo o mundo, empregam abordagens rápidas, precoces
e protocoladas das ações terapêuticas, deve ocorrer uma redução na mortalidade da
sepse de 25% até 2010.
Porém, é importante lembrar que a mortalidade deve ser diminuída, mas os
danos de vários órgãos, como os rins, no período pós-sepse ainda é uma realidade
com alta incidência. Portanto, tais órgãos também devem ser alvo de estudos com o
propósito, não de garantir a sobrevivência do paciente à sepse, mas também de
aumentar a sua sobrevida e a sua qualidade de vida.
Com o presente trabalho, visamos não estabelecer as possíveis alterações
renais que podem agravar o quadro do paciente séptico, mas principalmente
acompanhar as alterações que estes possam sofrer no período s-sepse. Isto
poderá viabilizar condutas terapêuticas de forma mais precoce a fim de desacelerar
uma possível perda da função renal ou mesmo evitá-la.
2 INTRODUÇÃO
2.1 Sepse: Definição e Epidemiologia
A sepse é uma síndrome clínica resultante da reposta inflamatória sistêmica do
hospedeiro a infecção, evoluindo nos casos desfavoráveis para o choque séptico,
culminando com a disfunção de múltiplos órgãos (DMSO) (Rangel-Fausto et al.,
2005; Wenzel, 2002).
As definições atualmente empregadas consideram que a sepse, sepse severa e
o choque séptico representam estágios evolutivos da mesma doença o que não
significa necessariamente um aumento da gravidade do processo infeccioso e sim
da gravidade da resposta sistêmica (Rangel-Fausto et al., 2005).
Em 1991, na Conferência de Consenso feita pela American College of Chest
Physicians and the Society of Critical Care Medicine, foram estabelecidos critérios
para a classificação da sepse e doenças similares (Tabela 1), as quais foram
enquadradas como síndrome da resposta inflamatória sistêmica (Bone et al., 1992).
Além disso, ficou estabelecido que o termo sepse deverá ser utilizado apenas nos
casos onde a infecção é documentada, pois a SIRS pode ser causada por diversas
outras injúrias (além da infecção por bactérias, vírus e fungos), consideradas como
“estéreis”, tais como trauma, queimaduras, choque hemorrágico e pacreatite aguda
(Beishuizen et al., 1999).
Em 2001, nova Conferência Internacional de Definição de Sepse foi realizada e
nela recomendou-se a manutenção das definições de 1991 e a incorporação na
categoria de sinais e sintomas, com intuito de melhor a identificação e definição da
síndrome séptica (Levy et al., 2003; Cunneen e Cartwrith, 2004).
Tabela 1: Definições de SIRS, sepse, sepse grave e choque séptico, conforme
estabelecido na Conferência de Consenso feita pelo American College of Chest
Physicians and the Society of Critical Care Medicine, no ano de 1991.
Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica (SIRS): Conjunto de manifestações clínicas
em resposta a agressão orgânica grave que ocorre necessariamente na ausência de infecção.
Caracterizada pela presença de dois ou mais dos seguintes sintomas: temperatura >38ºC ou
<36ºC; freqüência cardíaca >90 bpm; freqüência respiratória >20 movimentos/minuto;
leucometria >12.000/mm
3
ou <4.000/mm
3
, ou ainda, presença de >10% de bastões.
Sepse: Situação em que presença dos sinais e sintomas descritos acima (SIRS)
secundários a um processo infeccioso.
Sepse Grave: Quadro de sepse associada à disfunção orgânica, tais como cardiovascular,
respiratória, renal, hematológica e do sistema nervoso central.
Choque séptico: Sepse grave com hipotensão arterial e alteração perfusional refratárias à
reposição volêmica adequada.
Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos : Presença de função alterada de órgãos em
pacientes criticamente doentes que necessitam de suporte para manter a homeostase
Apesar do rápido progresso nos cuidados de saúde, nas últimas décadas, a
incidência de sepse tem aumentado ao longo dos últimos setenta anos e, continua
sendo a maior ameaça à vida de pacientes em Unidades de Terapia Intensiva (UTI)
(OsuchowskI et al., 2006). Anualmente, em todo o mundo, ocorrem cerca de 18
milhões de casos de sepse grave (Niederman et al., 1990; Rangel-Frausto, 2005).
Nos Estados Unidos da América a sepse é a principal causa de mortre entre os
paciente de UTI (Hotchkiss & Karl, 2003). Angus et al. (2001), estimaram a
incidência de sepse severa em 751.000 casos por ano nos EUA, correspondendo a
3 casos por 1.000 habitantes, sendo que 28,6% destes casos vão a óbito. Conforme
Antonelli et al. (2007), o choque ptico é causa de 6,3 a 14,7% das admissões em
UTI.
Na Europa 35% dos pacientes internados em UTI‟s apresentam quadro séptico
em algum momento de sua estada, sendo que 27% morrem de sepse, valor que
aumenta para 50% em pacientes com choque séptico (Vincent et al., 2006).
No Brasil, como na América Latina em geral, dados consistentes sobre a
incidência e desfecho dos casos de sepse são escassos. Um estudo realizado por
Silva et al. (2004) sugere que a sepse é um grande problema nas UTIs do Brasil. No
estudo, a incidência de sepse ficou em torno de 57 casos por 1.000 pacientes/dia,
correspondendo a 30,5% das admissões em UTI. A taxa de mortalidade dos
pacientes em diferentes estágios como SIRS, sepse, sepse severa e choque séptico
foi de 24,2%, 33,9%, 46,9% e 52,2%, respectivamente (Figura 1). A taxa de
mortalidade global chega a 22%, sugerindo que a sepse é o maior problema de
saúde pública em UTI‟s do pais..
Figura 1. Taxa de mortalidade SRIS/Sepse avaliada pelo estudo BASES (Silva et al., 2004) em cinco
grandes centros de Terapia Intensiva no Brasil
(Extraído do estudo BASES, Silva et al.,2004)
Apesar de 20 anos de extensas pesquisas e desenvolvimento de numerosas
terapias usadas em ensaios clínicos, os índices epidemiológicos continuam piorando
(Rittirsch et al., 2007). O aumento nas taxas de incidência e de morbimortalidade
relacionadas à sepse nas últimas décadas, está diretamente relacionado aos
avanços médicos obtidos nesse período, crescente número de pacientes
imunodeprimidos, ao uso freqüente de procedimentos invasivos, a freqüência no uso
de antibióticos (geração de mais microrganismos resistentes), além do aumento da
expectativa de vida, que aumenta o número de pacientes idosos (Niederman et al.,
1990; Carvalho e Trotta, 2003; Rangel-Frausto, 2005).
Os custos para o tratamento da sepse excedem o valor de U$ 16 bilhões por
ano nos EUA (Angus et al., 2001). No Brasil, dados do estudo BASES (Brazilian
Sepis Epidemiological Study) mostraram que em 2003, os gastos com pacientes
internados em UTI`s somaram 17,34 bilhões de reais, o que representa de 30 a 35%
dos gastos globais com a área de saúde (Andrade et al., 2006). O Brasil tem entre 9
e 10 mil UTI‟s, e 25% dos leitos destas unidades são ocupadas por pacientes que
desenvolvem sepse (Silva et al., 2004).
A epidemiologia dos agentes etiológicos da sepse foi descrita em estudo
realizado por Pol e Opal (2008) estes afirmam que embora até o início dos anos
1980, bactérias Gram-negativas fossem os principais microorganismos causadores
da sepse, a incidência de Gram-positivas tem aumentado. Uma análise feita nos
EUA no ano de 2000 indicou aumento da incidência de infecções Gram-positivas e
fúngicas, onde 52,1% dos casos de sepse estão associados com bactérias Gram-
positivas, 37,6% com Gram-negativas, 4,7% infecção polimicrobiana, 1% com
bactérias anaeróbias e 4,6% de fungos (Poll e Opal, 2008).
2.2 Fisiopatologia da sepse
A sepse resulta de uma descompensação hemodinâmica decorrente de
presença de agentes infecciosos e mediadores inflamatórios na circulação
sangüínea, levando a distribuição do fluxo sangüíneo na microcirculação.
(Hollenberg et al., 2004).
Historicamente, os sintomas da reposta séptica são decorrentes da resposta
imune. Entretanto, estudos recentes sugerem uma complexa interação entre
inflamação, coagulação e diminuição da fibrinólise ocorrem em resposta a um
“gatilho” imune, por exemplo, a infecção bacteriana (Opal e Esmon, 2003). O início
simultâneo desses três processos tem papel central na fisiopatologia da sepse e o
prosseguimento destes pode desencadear disfunção endotelial e falência múltipla de
órgãos culminando, se não houver tratamento, com óbito (Oberholzer et al., 2000).
Os fatores desencadeantes da reposta inflamatória, por meio, da ativação
celular e da cascata de eventos plasmáticos o principalmente os componentes da
parede celular dos microorganismos, como o ácido lipoteicóico (LTA) e
peptidoglicanos, derivados de bactérias gram-positivas (exotoxinas), ou o
lipopolissacarídeo (LPS), no caso de bactérias gram-negativas (endotoxinas). O LPS
e as exotoxinas são liberados normalmente durante a replicação da bactéria e ou
como conseqüência da sua morte, devido à lise da parede celular (Opal, 2007;
Hallman et al., 2001; Werling e Jungi, 2003).
Na presença do patógeno, dois componentes da resposta imune são
ativados: o inato e o adquirido. A resposta imune inata constitui a primeira linha de
defesa contra a infecção. Nela, uma grande variedade de patógenos são
reconhecidos (de maneira inespecífica) e a resposta desencadeada pelo
reconhecimento, é imediatamente realizada por substâncias solúveis humoral celular
(incluindo monócitos, macrófagos, neutrófilos, células dendritícas, células, células
natural “killer”). Estas deflagram a resposta imune adquirida. Em contraste à
resposta inata, a resposta imune adquirida é caracterizada pelo reconhecimento
altamente específico de antígenos e pela capacidade do sistema de armazenar
“memória imunológica”. A imunidade adquirida, mediada por linfócitos T e B,
reconhecem com alta afinidade microorganismos através da combinação de
receptores com estruturas da parede microbiana.((Bochud e Calandra 2003; Heeg e
Dalpke, 2003).
Agindo de forma integrada e auto-regulada as respostas imune inata e
adquirida, promovem não apenas o combate à invasão de microorganismos, mas
também a limpeza dos restos teciduais, a diminuição da lesão celular na tentativa de
evitar a sua morte. Orquestrando a remodelagem tecidual com proliferação celular e
ação angiogênica, para o restabelecimento da matriz lesada promovendo a
recuperação do hospedeiro, reduzindo a probabilidade de infecção secundária ou
oportunista (Oberholzer et al., 2000; Ayala et al., 2003).
A resposta inata do hospedeiro às infecções causadas por fungos e bactérias é
mediada inicialmente por neutrófilos e monócitos/macrófagos. Estas células
expressam receptores (PRR, Pattern Recognition Receptors) capazes de reconhecer
regiões específicas e conservadas (PAMP, Pathogen Associated Molecular
Patterns), presentes em uma grande variedade de microorganismos (Weigand,
2004). O LPS ativa as células fagocíticas através dos receptors Toll-like (TLR)
complexado à proteína ligadora de LPS e CD14. Após ativação destes receptores
ocorre o recrutamento de várias proteínas citoplasmáticas acessórias, tais como a
proteína adaptadora MyD88 e o receptor para IL-1 associado à quinase (IRAK). O
recrutamento destas proteínas acessórias causa auto-fosforilação das mesmas e,
conseqüentemente, ocorre ativação do TNF-receptor activated factor-6 (TRAF-6).
Este, por sua vez, causa a ativação de várias proteínas, tais como p38, JNK e
IKKα/β, cujas ações convergem para a ativação do fator nuclear kappa beta (NF-κβ)
(Sherwood, 2004). Citocinas pró-inflamatórias são liberadas na circulação sangüínea
levando à ativação de células como neutrófilos, monócitos, macrófagos, plaquetas e
células endoteliais (Figura 2). Aliado a isso, ocorre ativação de várias cascatas de
proteínas plasmáticas como o complemento, a coagulação, o sistema fibrinolítico e
de contato. Mediadores lipídicos como eicosanóides e fator de ativação plaquetária,
bem como radicais de oxigênio e nitrogênio são produzidos e liberados (Beishuizen
et al., 1999; Zanetti et al., 1992).
Atualmente, os papéis de alguns mediadores na patogênese da sepse, estão
bem esclarecidos. Estes mediadores podem induzir alterações profundas na
fisiologia normal da vasculatura e dos órgãos. Apesar de alguns mediadores serem
mais importantes que outros, é provável que mediadores dos microorganismos e do
hospedeiro interajam sendo, sua ação conjunta, responsável pela patogênese da
sepse (Cohen, 2004; Dinarello, 1997; Casey et al., 1993;)
Dentre os mediadores envolvidos na gênese da sepse pode-se destacar:
Citocinas e quimiocinas: A resposta sistêmica à infecção é mediada através
de citocinas produzidas por macrófagos, que estimulam receptores
específicos das células do sistema imunológico e de órgãos alvo. A
citocinas interleucina 1beta (IL-!ß), IL-6, IL-8 e fator de necrose tumoral alfa
(TNF α) o eventos deflagrados precocemente neste processo. Estas
citocinas estimulam a liberação de outros mediadores da resposta
inflamatória como produtos derivados do ácido araquidônico (PGE2, TXA2),
fator ativador de palquetas (PAF), peptídeos vasoativos (bradicinina,
angiotensina, peptídeo intetinal vasoativo, aminas como histamina e
serotonina e uma variedade de produtos derivados do complemento)
(Vincent, 2000)
Óxido nítrico (NO): O aumento na modulação da expressão da óxido nítrico
sintase induzível (iNOS) leva a um aumento na produção de NO que, por
sua vez, pode estar relacionado pelo menos em parte, com a hipotensão
associada à sepse (Szabo, 1998). As primeiras evidências de que o NO
teria um envolvimento na fisiopatologia da sepse vieram com a descoberta
de elevados níveis de nitrato (NO
3
) e nitrito (NO
2
) em pacientes sépticos
(Ochoa et al., 1991; Evans et al., 1993). Aliado a isso, a redução no tônus
vascular vista após a administração de endotoxinas ou citocinas pró-
inflamatórias, e a identificação do fator relaxante derivado do endotélio
(EDRF) como NO, levaram às sugestões de que esta molécula estaria
envolvida nas alterações cardiovasculares que ocorrem no choque séptico
(Vincent et al., 2000). Nas duas últimas décadas, tornou-se evidente que, na
patogênese da sepse, o NO pode atuar de maneira deletéria ou benéfica.
Embora conhecidas as suas propriedades vasodilatadoras, seus efeitos pró-
e antiinflamatórios, bem como oxidantes e antioxidantes, entre outros, têm
sido motivo de discussões e controvérsia (Hauser et al., 2005).
Espécies reativas de oxigênio (ERO), recentemente tem-se identificado as
ERO como mediadores de diversas fases do dano celular e ativação de
células imunes durante a sepse (Zhang et al., 2000).
Proteínas do grupo de alta mobilidade I (HMG-I): recentemente, identificou-
se esta proteína estrutural da cromatina como um dos possíveis mediadores
envolvidos na mortalidade induzida pela sepse (Wang et al., 1999).
Figura 2. Resumo da patologia da sepse. Extraído de Cohen, 2004
A interação dos diversos mediadores leva à depressão miocárdica, alteração da
função vascular e dano em órgãos-alvo (principalmente fígado, rins, pulmões e
sistema nervoso central). A principal conseqüência desta resposta inflamatória é o
comprometimento hemodinâmico, levando a síndrome da insuficiência de múltiplos
órgãos (MODS), que é caracterizada por uma alta mortalidade. Para ser efetiva, a
terapia farmacológica na sepse e SIRS, deve mimetizar e compensar a defesa
natural do organismo com o objetivo de bloquear a resposta inflamatória o mais
rápido possível (Parrilo, 1993).
Os mediadores secundários são responsáveis pela reativação das células
fagocitárias e da cascata inflamatória, formando um ciclo vicioso inflamatório (Bone,
1991). Estudos recentes mostram que pacientes com sepse apresentam
características consistentes com imunossupressão, incluindo inabilidade para
combater infecções e uma predisposição a infecções nosocomiais (Hotchkiss & Karl,
2003).
Uma razão para a falha das estratégias anti-inflamatórias, em pacientes com
sepse, pode ser as mudanças que ocorrem na síndrome durante todo o tempo. Tem
sido postulado que a resposta imune na sepse representa a interação entre dois
fenômenos contrastantes no status inflamatório do paciente. No início, a SIRS é
caracterizada por excessiva produção de mediadores inflamatórios (status
hiperinflamatório) que é, então, progressivamente suprimida pelo desenvolvimento
de uma resposta antiinflamatória (status hipo-inflamatório), a ndrome da resposta
inflamatória compensatória (CARS). Entre estes dois momentos, ocorreria a
síndrome da resposta inflamatória mista (MARS), representando uma homeostase
temporária entre o declínio da SIRS e ascensão da CARS (Russel, 2006). Porém,
Osuchowski et al. (2006) evidenciaram que a resposta inflamatória é dinâmica e que
as citocinas não apresentam um comportamento linear, havendo presença tanto de
citocinas pró-inflamatórias (TNF-α e IL-6), como de citocinas antiinflamatórias (IL-10)
e modulação por antagonistas (IL-1Ra) na fase inicial da sepse.
Paralelamente o estímulo antiinflamatório fisiológico irá propiciar um equilíbrio
destes mediadores promovendo a sobrevida ao paciente. No entanto, se houver um
desequilíbrio destes mediadores, a evolução da sepse será para choque, falência
múltipla dos órgãos e morte.
Resumidamente, podemos afirmar que a patogênese da sepse é atribuída a
processo inflamatório com resposta inflamatória inicial (Pinsky, 2000). Fazem parte
das citocinas pró-inflamatórias TNFα, IL-1, IL-6, IL-8, IL-12, IL-18, interferon γ (IFNγ)
e a proteína 1 monocitária (MCP-1), que funcionam como mediadores do sistema
imune (Lowry, 1993; Sikora et al., 2001: Abbas e Lichtman, 2005). Eles iniciam
efetivamente o processo inflamatório contra a infecção. TNF α, IL-1, IL-6 são
responsáveis por elevação de proteínas na fase aguda inflamatória, que inclui a
proteína C reativa (PCR) durante a infecção. O aumento do nível sérico destas
citocinas e IFN γ tem sido correlacionada com a gravidade e mortalidade no curso da
sepse (Sikora et al.,2001).
A excessiva produção destes mediadores promovendo estado hiperinflamatório
pode conduzir o paciente a vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular,
hipotensão, choque, falência múltipla de órgãos e morte (Koch, 1998; Oberholzer et
al., 2000; Netea et al., 2003, Cinel & Opal, 2009). No entanto, a resposta
antiinflamatória excessiva resulta na supressão da resposta imune (Loise et al.,
2003).
A sepse ativa também a produção e elevação de citocinas antiinflamatórios
específicas.
A IL-10 é produzida por macrófagos e células dendríticas e esta envolvida no
controle da reação imune inata. Ela inibe a função do macrófago, caracterizando-se
como exemplo clássico de feedback negativo, pois inibe a própria célula que a
sintetiza. Inibe ainda outras citocinas: IL-1α, IL-1ß, IL-8, ela própria IL-10, IL-12, IFNγ
e TNFα (Abbas e Lichtman, 2005).
Assim como as citocinas pró-inflamatórias, elevado nível sérico de IL-10 tem
sido correlacionado com o pior prognóstico na sepse. Sugerindo que a
superprodução pode ser maior preditor de óbito (Derkx et al., 1995; Gogos et al.,
2000)
Portanto, o equilíbrio entre os efeitos das citocinas pró e antiinflamatórias
determina a manutenção da homeostase preservando a função vital do organismo
(Ng et al., 2003)
2.3 Disfunção Renal e Sepse
A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é definida como uma síndrome
caracterizada pela incapacidade do rim em excretar escórias nitrogenadas e manter
o equilíbrio hidroeletrolítico, instalando-se num período variável de horas a dias
(Thadhani, 1996). Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na incidência de
IRA hospitalar (UTI), chegando a 7% das internações hospitalares em alguns
estudos (Nasch, 2002). Em estudos recentes Liangos e cols (2006) mostraram que a
ocorrência de IRA es relacionada com maior mortalidade hospitalar, tempo de
internação e necessidade de suporte pós hospitalização.
Apesar de muitos avanços no tratamento da IRA, a mortalidade permanece
em torno de 50% na maior parte dos estudos realizados oscilando de 30% a 90%
dependendo da população analisada (Mendonça, 2000; Uchino et al.,2005).
A sepse é a principal causa de insuficiência renal aguda (IRA) (Rangel et al.,
1995), principalmente, no ambiente de terapia intensiva. Até 50% dos pacientes com
IRA apresentam sepse isoladamente ou associada a outros fatores de risco. Por
outro lado, na população de pacientes sépticos, a prevalência de IRA é de até 40%,
conforme os critérios adotados para a sua classificação. Num estudo prospectivo, a
incidência de IRA foi de 19% em pacientes sépticos, de 23% naqueles com sepse
grave e de 51% em pacientes com choque séptico (Rangel et al., 1995).
Em estudo mais recente Bellomo e col (2006) relataram que a incidência de
IRA em UTI varia de 1 a 25%. Destacando-se a sepse como principal fator
etiológico, responsável por até 50% dos casos (Bagshaw et al., 2007) com taxas de
mortalidade de 30 a 90% (Scherier e Wang, 2004). Neste âmbito a sepse faz parte
do contexto maior da Síndrome de Disfunção Múltipla dos Órgãos, acometendo
pacientes graves e complexos, submetidos a um número cada vez maior de
procedimentos invasivos (Uchino et al.,2005).
Alguns autores descrevem uma queda na mortalidade dos pacientes com
IRA. Em estudo recente, Waikar e cols avaliaram mais de cinco milhões de
pacientes com IRA hospitalar num período de 15 anos, observando redução na
mortalidade entre 1988 e 2002, o que não retira a possibilidade destes pacientes
apresentarem cronicidade da doença renal.
O conhecimento íntimo do mecanismo molecular causador da IRA na sepse
tem tido um importante avanço. O reconhecimento das endotoxinas pelas lulas-
alvo ocorre através do receptor CD14. O passo inicial das reações desencadeadas
pelos lipopolissacarídeos (LPS) necessita que ele se ligue à proteína carreadora do
LPS (LPS-binding protein, LBP) que irá interagir com o glicosil-fosfatidilinositol (GPI)
que ancora o CD 14 na membrana celular dos neutrófilos polimorfonucleares (PMN).
Esta interação do complexo LPS-LBP com mCD14 (CD14 de membrana) provoca a
fosforilização do complexo: fator nuclear  (NF- ) com seu inibidor (I NF). Esta
fosforilização libera deste complexo, o I NF, permitindo que o NF -  seja
translocado para o núcleo celular. No núcleo, ela se liga a seqüências específicas
nas regiões promotoras de diversos genes. Número substancial de genes tem sido
descrito como alvo do NF- , sendo responsáveis pelo código inicial e pela
transcrição de várias citocinas e quimiocinas como, por exemplo, o TNF-, o PAF,
LTs e PGs. IF-, IL-1, IL-6, IL-8 e IL-12, etc. Estes, quando liberados para a
circulação sistêmica, causa desbalanço significante da hemodinâmica, bem como
disfunção celular e de órgãos que resulta em apoptose/necrose e, assim, podendo
induzir a morte do organismo (Camusi et al., 1998).
Outra via importante é quando o mCD14 é deslocado do GPI de membrana,
sendo liberado na circulação como fator sérico (sCD14). O sCD14, ao ligar-se com o
LPS, irá estimular outros tipos celulares como, por exemplo, células endoteliais e
epiteliais, incluindo as lulas renais. Estas células, além de liberarem os fatores
citados anteriormente, citocinas e quimiocinas, também são capazes de estimular a
formação de moléculas de adesão do tipo vascular (VCAM) ou intercelular (ICAM),
bem como seletinas. Estas proteínas são responsáveis pela adesão de
polimorfonucleares às células endoteliais, iniciando o processo inflamatório, como o
aumento de permeabilidade vascular, o que permite aumento da saída do fluido do
espaço intravascular para o interstício, causando contração deste volume e
hipotensão. Ao lado destas alterações, no túbulo renal, modificações destas
moléculas induzem perda de adesão célula-célula ou célula-substrato (membrana
basal tubular) com desprendimento e necrose destas células, com formação de
cilindros intratubulares que podem obstruir os túbulos e contribuir para a perda da
função (Camusi et al., 1998).
Os mecanismos envolvidos na progressão das doenças renais, desde a injúria
até a fibrose cicatricial, ainda não foram totalmente elucidados. Independente da
causa primária da doença, o padrão histológico comum às nefropatias crônicas inclui
o desenvolvimento de glomeruloesclerose e de lesão tubulointersticial. De acordo
com o mecanismo, pode-se dividir o insulto inicial em imunológico e mecânico ou
hemodinâmico. Após a lesão, seguem-se os passos intermediários, fundamentais à
propagação e cronificação do processo (Mackenzie et al.,1998). O mecanismo
proposto de progressão da lesão renal está esquematizado na Figura 3.
O processo de inflamação e fibrose, que resulta dessa cascata de eventos, tem
como principal conseqüência a perda de um grande número de néfrons. Os néfrons
remanescentes tentam compensar a perda de função, aumentando a taxa de
filtração. A lesão hemodinâmica glomerular é considerada a principal promotora e
perpetuadora da esclerose glomerular, apesar de eventos ligados à hipertrofia do
glomérulo também participarem do processo. Esse mecanismo de adaptação
mantido ao longo do tempo é responsável pela lesão renal progressiva (Hostetter et
al., 2001).
No início do século XXI ainda busca-se uma compreensão melhor da sepse.
Pesquisas visando estabelecer a fisiopatologia da sepse, vem sendo desenvolvidas
há alguns anos. Principalmente, tentando estabelecer a participação dos mediadores
inflamatórios, que parecem ser os principais reponsáveis por alterações vasculares e
hemodinâmicas, que levam a Síndrome de Disfunção de Múltiplos Órgãos (Bernard
et al., 2001).
Não se pode negar avanços em relação ao diagnóstico mais precoce,
rastreamento micirobiano mais eficaz, que possibilita o rápido início do tratamento, o
uso mais otimizado das variáveis hemodinâmicas e das técnicas de suporte
orgânico. Avança-se também para um controle metabólico mais eficaz,
compreendendo a importância do controle glicêmico, diagnosticando e tratando mais
freqüentemente a insuficiência adrenal relativa7. A teoria, a utilização da ventilação
mecânica e terapia nutricional estão igualmente mais bem administrados ao paciente
grave. Surgem freqüentemente novas medicações que visam interferir na cascata
inflamatória e da coagulação (Bernard et al., 2001; Vincent et al., 2005)
Desta forma, com o aumento dos pacientes que sobrevivem a esta patologia,
principal objetivo a campanha mundial de sobrevivência na sepse (Survival Sepsis
Campaign), deve ocorrer uma redução na mortalidade da sepse de 25% até 2010
(Sales Júnior et al.,,2006). Portanto, hoje precisamos ter a preocupação de não
tentar conhecer bem a fisiopatologia da sepse, para oferecer um melhor tratamento
e maior probabilidade de sobrevivência dos pacientes. Mas, também procurar
conhecer seqüelas do quadro séptico, que também podem e comprometem a vida
do paciente.
Figura 3. Esquema de propagação da lesão renal. A lesão foi dividida em agressão,
instalação, propagação e cronificação. O evento final, a perda dos néfrons, resulta em nova
agressão mecânica levando à perpetuação do processo.
Estímulo Antigênico
(imunológico)
Ativação de Linfócitos B e T
Complexo Antígeno-Anticorpo
é depositado
Ativação de Complemento
Agressão Mecânica
(hemodinâmica)
Ativação local e infiltração de mediadores celulares do
processo inflamatório: macrófagos, linfócitos T e B,
células intrínsecas renais, plaquetas e neutrófilos
Fase de
Agressão
Fase de
Instalação da
Lesão
Inflamação
Fase de
Propagação de
Lesão
Moléculas de
Adesão
Citocinas IL-
1, TNF, IL-6,
IFN-γ, IL-2
Derivados do
ácido
araquidônico
: PGs, TxA2,
leucotrienos
Fatores de
crescimento
TGF-β, PDGF,
FGF
Acúmulo de matriz extracelular
Fibrose
Perda de Néfrons
Fase de
Cronificação e
perda de tecido
renal
2.4 Modelo CLP (cecal ligation and puncture)
O modelo de injúria com liberação da flora bacteriana é o que mais se
assemelha ao quadro de sepse em humanos, decorrente de traumas com
perfurações das alças intestinais, colite ou peritonite pós-operatória. Nesse modelo,
após a perfuração da parede intestinal, ocorre a liberação gradativa do conteúdo
cólico para a cavidade peritoneal, induzindo peritonite, a qual pode evoluir para um
quadro de sepse e choque séptico (Brooks et al., 2007).
Apesar desse modelo experimental estar mais próximo a um quadro clínico e,
por isso, ser um modelo mais adequado para o estudo da sepse, a maioria dos
estudos em sepse experimental baseia-se em modelos nos quais a bactéria ou o
LPS são administrados i.v ou i.p. Dados da literatura mostram que a patogênese da
sepse, causada pela administração de LPS ou de bactérias i.v., difere daquela
induzida por um foco infeccioso, como acontece em uma peritonite (Baggy et al.,
1991). A diferença dos resultados obtidos entre esses modelos é devido à
quantidade do estímulo, ao local de indução e à forma de administração (em bolus
ou liberação gradativa), induzindo uma cinética distinta de liberação dos mediadores
inflamatórios (Walley et al., 1996). A partir desses fatos, a utilização do modelo CLP
para o estudo da sepse, descrito inicialmente por Wichtermann et al., (1991), e
Baker et al., (1983), apresenta maior relevância para a compreensão da evolução da
doença.
A intensidade dos danos causados pela sepse induzida pelo modelo CLP é
determinada pelo número de perfurações realizadas e pelo diâmetro da agulha
utilizada. Estudos sugerem que a resposta do grupo submetido à sepse letal
aparece, primariamente, desenvolvendo um maior estresse oxidativo e causa uma
mortalidade alta, em torno de 90%, em 10 dias (Andrades et al., 2005).
Kuhlmann e col (1994) sugerem que a sepse pode ser classificada quanto a
sua gravidade utilizando-se a taxa de mortalidade do grupo experimental estudado.
Desta forma, para obtenção de uma sepse branda ou não letal (0-10% de
mortalidade), moderada ou sub-letal (40-60% de mortalidade), e grave ou letal (90-
100% de mortalidade), para que assim seja avaliada a correlação entre gravidade da
sepse e os efeitos citotóxicos decorrentes desta patologia.
De acordo com Hollenberg et al. (2001) atualmente houve uma modificação
no modelo da CLP para que se possa simular de melhor forma as características
clínicas dos pacientes com sepse abdominal, e esta modificação refere-se à
introdução da ressuscitação volêmica e a utilização de antibióticos de amplo
espectro e para evitar a formação de abscesso pericecal, diminuindo agressividade
da sepse, o que facilita realização de estudos a longo prazo.
3 OBJETIVOS
Avaliar o efeito, a longo prazo (20 dias), da sepse induzida pelo modelo CLP
(Cecal Ligation and Puncture) sobre parâmetros da função renal, sobre o aspecto
morfológico renal e sobre o desenvolvimento do processo inflamatório renal.
3.1 Objetivos Específicos
Avaliar, em diferentes momentos, durante 20 dias se a sepse induzida pelo
modelo CLP promove:
mudanças na ingestão de água e peso corporal;
alterações na função renal;
alterações na pressão arterial sistólica (PAS);
alterações histológicas e morfométricas no rim;
alterações nos níveis plasmático, renal e urinário de citocinas pró-
inflamatórias e pró-fibróticas.
4 MATERIAL E MÉTODOS
4.1 Animais
Ratos Wistar, machos, com peso entre 200 e 250g foram fornecidos pelo Centro de
Bioterismo (CEBIO) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de
Minas Gerais. Todos os ratos foram mantidos em ciclo claro-escuro de 10 12 h, com
livre acesso à água e ração.
Os procedimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética Animal da
Universidade Federal de Minas Gerais (Protocolo n
o
178/8).
4.2 Modelo Experimental
4.2.1 Indução de Sepse por Ligadura e Perfuração do Ceco (CLP)
A indução de sepse foi realizada pelo modelo CLP (Cecal Ligation and
Puncture). Os ratos foram anestesiados com uma solução anestésica de cetamina
10% (15mg/Kg) e xilazina 2% (7,5mg/Kg) por via intraperitoneal.
Após a realização de tricotomia na região abdominal, os ratos foram colocados
em mesa cirúrgica. A assepsia local foi feita com álcool iodado. Os ratos foram, em
seguida, submetidos a uma laparotomia com incisão longitudinal de,
aproximadamente, 1 cm e subseqüente exposição do ceco. Este foi semi-ocluído
com fio de seda, na região próxima à válvula íleocecal. O ceco recebeu dez ou vinte
perfurações com agulha estéril (40 x 12) e, logo após, foi levemente comprimido
para extravasamento do conteúdo fecal. Em seguida, o ceco foi recolocado na
cavidade peritoneal, a qual foi suturada com fio de seda. Posteriormente, a
musculatura e pele também foram suturadas e a região abdominal foi assepsiada
com álcool. Os ratos receberam hidratação com 2 ml de solução fisiológica, por via
subcutânea, para reposição de fluido (Benjamin et al., 2001).
Para a recuperação, os ratos foram colocados em uma caixa devidamente
aquecida, para retorno da anestesia, o qual levava de 60 a 120 min. Os ratos “falso”
operados ou Sham foram submetidos aos mesmos procedimentos cirúrgicos não
sofrendo, contudo, semi-oclusão e perfurações no ceco.
Duas curvas de sobrevivência foram construídas em 2 grupos de ratos que
receberam diferentes números de perfurações cecais: i) Vinte perfurações: nesse
grupo, a taxa de mortalidade foi de 50% em 48 h e ii) Dez perfurações: nesse grupo,
a taxa de mortalidade foi de 25% em 48 h. A curva de sobrevida dos ratos
submetidos ao modelo de sepse (CLP) e de ratos falso-operados (Sham) está
representada na Figura 3. A sobrevivência no grupo que recebeu 10 e 20
perfurações cecais foi de 75% e 50%, respectivamente.
Várias seqüências de cirurgia, cada uma com 10 ratos, foram realizadas até se
conseguir reprodutibilidade da taxa de sobrevivência. Nenhum dos ratos falso-
operados (grupo Sham) morreu durante o período de avaliação.
Além da sobrevivência também foram observados os sinais clínicos de
instalação de uma resposta inflamatória sistêmica como piloereção, tremores,
sangramento ocular, prostração, atonia muscular e diminuição da movimentação.
Como foram sinais intensos, os mesmos foram facilmente identificados nos ratos do
grupo CLP, mas não nos do grupo Sham.
A construção das curvas foi feita a partir da observação dos ratos em intervalos
de 12 h, durante dois dias. Ao rmino dos experimentos, os ratos sobreviventes
foram sacrificados sob anestesia com cetamina 10% (15 mg/Kg) e xilazina 2% (7,5
mg/Kg), por via intraperitoneal.
0 12 24 36 48 60
0
25
50
75
100
10 PERFURAÇÕES
20 PERFURAÇÕES
Sham
TEMPO (h)
Curva de Sobrevivência
%
Figura 3. Curva de sobrevivência dos ratos submetidos à cirurgia de indução de sepse pelo
modelo CLP, que receberam 10 ou 20 perfurações no ceco e de ratos falso-operados
(Sham). Os valores estão expressos em percentagem de sobrevivência nos tempos
indicados até 48 h após a indução da sepse. O grupo CLP é estatisticamente diferente do
grupo Sham (n= 20-40 animais).
Baseados nesses resultados, neste trabalho, a sepse induzida por 10 perfurações
cecais foi o procedimento de escolha. Isto porque houve menor perda de ratos e
uma menor severidade da patologia desenvolvida, o que permite acompanhar a
evolução de possíveis alterações renais por um período de tempo mais longo (20
dias).
4.2.2 Grupos Experimentais
De acordo com a manobra experimental, o estudo foi composto por três grupos:
Controle, Sham e CLP. Ratos de cada um desses três grupos ainda foram divididos
em seis subgrupos para se avaliar o efeito da sepse em tempos diferentes, ao longo
de 20 dias pós-sepse. Os subgrupos foram: 1°dia, 2°dia, 5°dia, 10°dia, 15°dia e
20°dia. Esses tempos foram previamente fixados por meio de experimento piloto.
Durante todo o período, os ratos foram mantidos em gaiolas metabólicas, com
temperatura ambiente controlada e em ciclo de luz claro/escuro de 14/10 h, com livre
acesso à ração e água.
4.3 Protocolo Experimental
Após a cirurgia de indução da sepse e recuperação da anestesia, os ratos
foram colocados em gaiolas metabólicas, individualmente, até o momento do
sacrifício.
Durante todo o experimento as gaiolas metabólicas foram mantidas em uma
sala com controle do ciclo claro-escuro (14/10 h) e da ventilação, além do
monitoramento da temperatura ambiente. A sala possuía um ar condicionado que foi
sempre ajustado para manter a temperatura seca em torno de 23-25C.
A ingestão de água e a produção de urina diárias foram quantificadas
diretamente nos frascos de água e urina que compunham as gaiolas, os quais
tinham capacidade para 100ml.
Cada subgrupo experimental (representados por 1°dia, 2°dia, 5°dia, 10°dia,
15°dia e 20°dia) foi composto por animais controle, Sham e CLP (n= 6-12 animais).
Vale ressaltar que em todos os subgrupos experimentais foram realizadas coletas de
urina, sangue e, em seguida, os ratos foram sacrificados sob anestesia para a coleta
de rim. Sendo assim, o animal definido como pertencendo ao subgrupo 1°dia s-
sepse, passou pelas coletas e foi sacrificado neste dia.
A Figura 4 ilustra o delineamento experimental, mostrando os dias de avaliação
do pós-sepse, sendo realizadas coletas de amostras e sacrifício dos animais dos
grupos Controle, Sham e CLP.
No tempo zero os animais Sham e CLP foram submetidos à cirurgia,
anteriormente descrita.
↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓
0 24 h 48 h 5°dia 10°dia 15°dia 20°dia
Cirurgia * * * * * *
Figura 4. Cronograma de execução do protocolo experimental para avaliação do
desenvolvimento de sepse em ratos. O * indica o momento de coleta e/ou medida de: fluxo
urinário, ingestão de água, densidade urinária, amostras de sangue (pela cauda) e de urina
de 24 h, pressão arterial, sacrifício dos ratos e remoção dos rins.
4.4 Coleta de Material
4.4.1 Coleta de Urina
Amostras de urina foram coletadas durante de 24 h, em todos os momentos
previamente definidos. O volume foi medido em proveta graduada e a amostra foi
centrifugada (3000 rpm, 5 min) para posterior processamento. Alíquotas de 1 a 2
ml foram congeladas a -20
o
C até o momento dos ensaios.
4.4.2 Coleta de Sangue
Para a coleta de sangue, os ratos foram colocados, individualmente, em uma
caixa de madeira aquecida (31 cm altura x 31 cm largura) por um período de cinco
min. O objetivo do aquecimento foi causar vasodilatação na cauda facilitando, assim,
a punção venosa da mesma e evitando o uso de anestésico. Logo após o período
de aquecimento, o rato foi transferido para uma caixa de contenção compatível com
o tamanho do mesmo, deixando exposta apenas a cauda. Após a assepsia da
mesma, cerca de 700 l de sangue foram coletados por punção da veia lateral
esquerda utilizando um catéter BD de calibre 24. As amostras foram coletadas em
eppendorff contendo 30 µl de heparina sódica, utilizada como anticoagulante. O
sangue foi centrifugado a 10.000 rpm por 10 min e o plasma foi armazenado em
eppendorff a -20C.
4.4.3 Coleta de Rim
Após anestesia, os rins dos ratos foram exsangüinados. Para isso, foi
utilizada uma agulha (0,7 x 25 mm) acoplada a uma seringa de 10 ml preenchida
com solução de NaCl 0,9% estéril. A seringa foi introduzida na artéria renal e a
solução de NaCl 0,9% foi injetada lentamente. A manobra foi repetida 3 vezes para
assegurar a completa lavagem dos rins. Em seguida, retirou-se um rim de cada vez,
o qual foi acondicionado em um recipiente apropriado para posterior processamento:
- em eppendorff, à temperatura de -20
o
C para os ensaios bioquímicos;
- em eppendorff, à temperatura de -80
o
C para a análise por reação de
polimerização em cadeia (PCR);
- em tubos falcon de 14 ml contendo formaldeído tamponado a 10% para as
análises histológicas.
4.5 Procedimentos Analíticos
4.5.1 Mensuração e Registro da Pressão Arterial Sistólica
Um sistema de pletismografia de cauda digital (RTBP: Kent Scientifc Co) foi
utilizado para medir a pressão arterial sistólica (PAS) dos ratos. Nesse método, a
artéria da cauda é brevemente ocluída com o aulio de um pequeno „cuff‟, além de
um sensor que também é colocado na cauda do animal. Esse sensor é capaz de
detectar a pulsação arterial e enviar o sinal analógico para um conversor analógico
digital. O sinal digital é então processado por „software‟ apropriado (CODAS).
4.5.2 Volume Globular (hematócrito)
Para a quantificação do hematócrito utilizou-se o método de microhematócrito
onde se obteve a percentagem de hemácias pela centrifugação do sangue, dentro
de um tubo capilar, a 10.000 rpm por 5 min.
4.5.3 Dosagem de Creatinina
A determinação da creatinina foi realizada realizada pelo método de Jaffé
modificado, utilizando-se o kit comercial da Bioclin (Brasil), composto por: i) solução
padrão de creatinina (3mg/dl) (reagente nº 1), ii) solução de ácido pícrico (60 mmol/l)
(reagente nº 2), iii) solução de NaOH (110 mmol/l), Na
2
Co
3
(75 mmol/l) e surfactante
(reagente nº 3) e iv) solução de CH
3
COOH (12,25 mol/l) (reagente nº 4).
Este método consiste em uma reação colorimétrica entre a creatinina e o
acido pícrico, cujo produto é amarelo-avermelhado. A absorbância do composto
formado foi lida em espectrofotômetro (Shimadzu, UV - 160 A, Japão), em
comprimento de onda de 510nm, acertando o zero com o branco. Essa absorbância
foi utilizada para a determinação da concentração de creatinina nas amostras de
urina. Para as amostras de plasma, esse primeiro valor de absorbância é
denominado de A1. Após a leitura de A1, às amostras de plasma e ao branco foram
adicionados 0,050 ml do reagente 4. Após a homogeneização, uma segunda
leitura de absorbância das amostras de plasma (A2) foi feita também a 510 nm,
acertando o zero com o branco.
As amostras de urina foram previamente diluídas 1:25 e não passam pela
etapa de acidificação, como o plasma. A concentração de creatinina, em mg/dl, foi
calculada a partir da seguinte fórmula:
Creatinina
(mg/dl)
= (A1-A2/absorbância padrão) x 3
Como a reação segue a lei de Lambert-Beer, o fator de calibração pode ser
usado.
Fator de calibração = concentração do padrão / absorbância do padrão
Creatinina (mg/dl)
= (A1-A2) x fator de calibração
RFG (ml/min)= ([Creatinina]
urina
x Fluxo urinário ) / [Creatinina]
plasma
A fração de excreção de água (FE
H2O
) foi avaliada segundo a equação:
FE
H2O
(%) = FU /RFG x 100
4.5.4 Uréia Plasmática
Os níveis de uréia plasmática foram determinados por teste enzimático
colorimétrico utilizando-se o kit Bioclin (Belo Horizonte, MG). O princípio básico da
reação é a hidrólise da uréia em íons amonium (NH
4
+
) e dióxido de carbono (CO
2
),
através da enzima urease. Em pH alcalino e na presença de salicilato e hipoclorito
de sódio, a amônia origina um composto esverdeado, cuja intensidade de cor é
proporcional à concentração de uréia na amostra analisada. A leitura da absorbância
foi feita a 630 nm em espectrofotômetro. Os valores foram calculados com base em
um fator de calibração e a concentração de uréia expressa em mg/dl.
Fator de calibração = concentração do padrão / absorbância do padrão
Uréia plasmática (mg/dl)
= absorbância da amostra x fator de calibração
4.5.5 Densidade Urinária
A densidade urinária específica (DEU) foi mensurada em refratômetro portátil
RT 10 ATC, aplicando-se uma gota da amostra sobre o sensor. Caso o valor obtido
da densidade ultrapassasse 1,050, a amostra era diluída 1:2 em água ultra pura
sendo, o valor dos dois últimos dígitos, multiplicado por dois.
4.5.6 Proteinúria
A dosagem de proteína foi feita nas amostras de urina por colorimetria
usando-se o kit Sensiprot (Labtest®, Lagoa Santa, MG, Brasil), disponível
comercialmente. O teste se baseia na formação de um complexo pela reação entre o
vermelho de pirogalol e o molibdato de sódio que, quando combinado com a
proteína presente na amostra, em meio ácido, desenvolve um cromóforo de cor azul.
A cor formada foi quantificada a 600 nm, sendo proporcional à concentração de
proteína presente na amostra.
Os valores foram calculados com base em um fator de calibração e a
concentração de proteína urinária foi expressa em mg/dL.
Fator de calibração = concentração do padrão / absorbância do padrão
Proteínas urinárias (mg/dl)
= absorbância da amostra x fator de calibração
4.5.7 Gama Glutamil Transferase Urinária
A dosagem da enzima gama glutamil transferase (УGT) na urina УGT foi feita
nas amostras de urina pelo método cinético de Szasz modificado (1977) utilizando kit
da Synermed e de acordo com as instruções do fornecedor. Este ensaio foi realizado
na Escola de Medicina Veterinária/UFMG.
4.5.8 Dosagem de Sódio e Potássio
As concentrações de dio (Na
+
) e potássio (K
+
) nas amostras de plasma e
urina foram determinadas por fotometria de chama (CELM, FC180). O fotômetro de
chama mede a intensidade da radiação emitida pelos átomos excitados dos metais-
terrosos e a intensidade dessa emissão é proporcional a concentração desses
metais nas amostras. Previamente à leitura das amostras, o fotômetro foi calibrado
com as soluções padrões de sódio (140 mEq/ll e potássio (5mEq/l). As amostras de
plasma foram diluídas 1:200 para a leitura de sódio e potássio. as amostras de
urina foram diluídas 1:200 para a leitura do sódio e 1:6000 para a leitura do potássio.
FE
Na+
(%) = QE
Na+
/QF
Na+
x 100 // FE
K+
(%) = QE
K+
/QF
K+
x 100
FR
Na+
(%) = 100 - FE
Na+
// FR
K+
(%) = 100 - FE
K+
Sendo: FE, fração de excreção; FR, fração de reabsorção.
4.5.9 Osmolalidades Plasmática e Urinária
A medição das osmolalidades do plasma e urina foi feita utilizando o
osmômetro de ponto de congelamento (Microsmette, Advanced Instruments). As
amostras de plasma foram diluídas 1:2 e as amostras de urina foram diluídas 1:5.
Previamente à leitura das amostras, o osmômetro foi calibrado com soluções
padrões cujas concentrações eram 100 mOsm/kg, 290 mOsm/kg e 500 mOsm/kg.
C
osm
(ml/min) = Osmolalidade
urina
(µOsm/ml) / Osmolalidade
plasmática
(µOsm/ml) x FU
(ml/min)
C
H2O
(ml/min) = FU (ml/min) - C
osm
(ml/min)
Sendo: C, clearance; osm, osmolar; FU, fluxo urinário
4.6 Dosagem da Enzima Mieloperoxidase
Para medir o acúmulo de neutrófilos no rim, foi utilizado o todo de
quantificação da atividade da mieloperoxidase (MPO), como previamente descrito
(De Matos et al., 1999).
Antes da realização do ensaio, retirou-se um fragmento de 100 mg das
amostras armazenadas a -20
o
C. Tal fragmento foi mantido num tubo plástico
FALCON
®
de 14 ml mantido em banho de gelo durante todo o processamento.
Adicionou-se, então, 1.9 ml de tampão 1 (NaCl 0,1M, Na
3
PO
4
0,02M, Na
2
EDTA
0,015M pH 7,4). O tecido foi homogenizado na presença do tampão 1 e o
homogenato foi centrifugado a 10.000 rpm, durante 10 min. O sobrenadante foi
desprezado e, em seguida, adicionou-se 1,5 ml de solução gelada de NaCl 0,2% ao
precipitado remanescente. Após 30 segundos, adicionou-se 1,5 ml de solução
gelada de NaCl 1,6% e glicose 5%. O precipitado foi homogeneizado rapidamente e
centrifugado a 10.000 rpm durante 10 min. O sobrenadante foi novamente
desprezado sendo, então, adicionados 1,9 ml de tampão 2 (Na
3
PO
4
0,05M, HETAB
0,5% p/v pH 5,4) ao precipitado remanescente. Uma nova homogeneização foi
realizada e o homogenato foi armazenado a -20 ºC em „eppendorf de 2 ml até a
realização do ensaio.
Para o ensaio propriamente dito, as amostras foram, inicialmente,
descongeladas à temperatura ambiente e, em seguida, novamente congeladas em
nitrogênio líquido e descongeladas a seguir, em água corrente. Os congelamentos e
descongelamentos foram repetidos por 3 vezes. Após esses ciclos, as amostras
descongeladas foram centrifugadas a 10000 rpm durante 15 min. O sobrenadante
dessa centrifugação foi utilizado no ensaio.
Os sobrenadantes das amostras (25 μl) foram adicionados, em duplicata, a
uma placa de ELISA de 96 poços. O branco (tampão 2, 25 μl), também em duplicata
foi acrescentado à placa. O ensaio prosseguiu pela adição de 25 μl de
tetramethylbenzine (3,845 mg/ml em dimetilsulfóxido) e incubando a placa a 37 ºC
em estufa, por 5 min. Após este período, 100 μl de H
2
O
2
foram adicionados (0,002%
em tampão 2) e a placa foi novamente incubada a 37 ºC, 5 min. Para finalizar, 100 μl
de H
2
SO4 (1 M) foram adicionados aos poços e a leitura das absorbâncias foi
realizada em leitor de ELISA a 450 nm.
Para o cálculo da atividade da mieloperoxidase a média das absorbâncias das
duplicatas foi multiplicada por 0,93 e, a esse produto, foi somado 0,0031. Esse
resultado foi multiplicado pelo fator de diluição. Os resultados foram expressos como
número de neutrófilos x 10
5
.
4.7 Conteúdo renal de RNA mensageiro para TNFα, TGFβ1 e IL-10
O conteúdo renal de RNA mensageiro que codifica receptores de TGFβ1 e
TNFα e IL-10 foi determinado utilizando a reação polimerase (PCR) em tempo real.
A partir da busca na base de dados NCBI (National Center for Biotechnology
Information) foi possível selecionar a seqüência dos RNA mensageiros das proteínas
sob estudo em questão em ratos. De posse da seqüência completa, foram
identificadas as seqüências codificantes, que foram então utilizadas para a seleção
dos primers para cada uma das proteínas estudadas, relacionados na Tabela 2.
Tabela 2. Seqüência de DNA dos pares de primers utilizados para amplificação do
cDNA das proteínas avaliadas neste estudo.
Proteínas
Primers
Receptor TGFβ1
Sense 5’-TTGCCCTCTACAACCAACACAA-3’
Anti-sense 5’-GGCTTGCGACCCACGTAGTA-3’
Receptor TNFα
Sense 5’-CGTGTTCGTGGTGTGTTGGT-3’
Anti-sense 5’-GCGCCGACCGCTAT GAG-3’
Sense 5’- ATGTTCCAGTATGACTCCACTTCACG-3’
GAPDH
Anti-sense 5’-GAAGACACCAGTAGACTCCACGACA-3’
A expressão renal do RNA mensageiro foi determinada utilizando a reação em
cadeia da polimerase em tempo real (RT-PCR).
Para a preparação das amostras para a RT-PCR foram realizadas as
seguintes etapas:
4.7.1 Extração do RNA Mensageiro
Para a extração do RNA mensageiro, foi utilizado um fragmento de 100 mg
contendo porções da córtex e medula renal. O fragmento foi armazenado em um
tubo estéril, a 80
o
C até o momento da extração.
As amostras foram descongeladas e, a elas, adicionado 1 ml de RNAzol para
cada 100 mg de tecido. Em seguida, foram trituradas com a ajuda de um
homogeneizador e permaneceram em repouso por 15 min, no gelo. Em seguida,
foram adicionados 200 l de clorofórmio para cada ml da suspensão obtida que foi,
então, homogeneizada em agitador de tubos, por 15 seg. Estes tubos foram
incubados durante 2-3 min no gelo e centrifugados a 10.000 rpm, por 15 min. A fase
aquosa obtida foi transferida para um novo tubo no qual foram adicionados 500 l de
isopropanol para cada ml de suspensão, procedendo-se nova homogenização. Nova
incubação no gelo foi feita por 10 min e o homogeneizado foi centrifugado (10.000
rpm, por 10 min, a 4 ºC). O sobrenadante foi removido e, ao precipitado contido no
tubo, foi acrescentado 1 ml de etanol 75% gelado para cada ml de suspensão. Outra
homogenização foi feita em agitador de tubos, seguida por centrifugação (5.000 rpm,
por 5 min, a 4 ºC). Após esta centrifugação, o sobrenadante (fase etanólica) foi
descartado, mantendo-se o tubo aberto para a secagem do precipitado à
temperatura ambiente. Por fim, o precipitado foi ressuspenso em 30 l de água
DEPEC.
A determinação da concentração de RNA mensageiro foi realizada em
alíquotas obtidas a partir da diluição das amostras em água deionizada (1:200). A
absorbância foi lida em espectrofotômetro nos comprimento de onda de 260 e 280
nm. Os tubos contendo as amostras foram mantidos a -80 ºC até o momento do uso
e a concentração de RNA foi obtida de acordo com a equação abaixo:
[RNA] = Absorbância a 260 nm x 40 (1 O.DRNA = 40 µg/mL) x 200 (diluição)
1000
4.7.2 Transcrição Reversa
Imediatamente antes do início da transcrição reversa, uma alíquota do RNA
mensageiro extraído foi diluída em água milliQ, de forma a obter uma solução de
RNA com concentração de 0,2 g/L. Para a transcrição, foram pipetados, em um
tubo de centrífuga (tipo “eppendorf”), 1,8 µl de dNTP 10 mM, 2,5 µl de RT buffer 5X,
1,0 µl de DTT 100 mM, 0,2 µl de RNAsin 10.000 U, 1,0 µl de oligo dT (1:10) 50
ng/ml e 5 µl (1,0 µg) de RNA a 0,2 µg/µl. O tubo contendo essa mistura foi colocado
no termociclador previamente programado com o seguinte protocolo: 70
o
C por 5
min, 4
o
C por 5 min, e 25
o
C. Nesse ponto, ao atingir 25
o
C, a ciclagem deve ser
interrompida, pelo acionamento do botão “pause”, para permitir a adição de 1 µl da
enzima trascriptase reversa 200 U diluída 1:4. O botão “pause” foi acionado
novamente para reiniciar a ciclagem: 25
o
C por 5 min, 37
o
C por 60 min, 70
o
C por 5
min, 4
o
C por 5 min. Ao cDNA obtido (12,5 µl), foram adicionados 17,5 µl de água
milliQ estéril. A alíquota de 30 l obtida foi armazenada a 20
o
C.
4.7.3 PCR em Tempo Real
A PCR em tempo real foi realizada em placa de 96 poços apropriada para o
procedimento. Para evitar pipetagens sucessivas diretamente nos poços, foi
previamente feita uma mistura dos constituintes comuns a todas as reações em tubo
eppendorf estéril. O volume final dessa mistura foi variável dependendo do número
de reações a ser executado. Para cada poço da placa, foi transferida uma alíquota
de 20 µl da mistura que consistiu de 2,5 µl de tampão Sybr 10x, 2,0 µl de uma
mistura dNTPs (200 M cada), 3 µl de MgCL
2
, 2 µl do “primer sense”, diluído 1:80
em água milliQ (100 nM), 2 µl de “primer antisense”, diluído 1:80 em água milliQ
(100 nM), 0,125 µl de polimerase (Amplitaq Gold) (0,25U/l) e 8,725 µl de água
milliQ. O cDNA (5 µl), preparado conforme descrito no item anterior, foi adicionado a
cada poço da placa. O volume final em cada poço (reação) foi de 25ul. Os poços
foram cobertos com tampas apropriadas e a placa submetida à centrifugação a 1500
rpm, por 1 min, para a homogenização das reações. Em seguida, a placa foi
transferida para o equipamento de PCR em tempo real (ABI PRISM 7000 Sequence
Detection System Applied Biosystems).
4.8 Dosagem de Citocinas
As concentrações de interleucina seis (IL-6) e do TNFα na urina, no plasma e
no rim foram determinadas usando Kit ELISA Duo Set (R&D Systems, Minneapolis,
MN), que emprega a cnica tipo sanduíche, ou seja, padrões, amostras e
conjugados são pipetados na placa e, se houver IL-6, e TNFα, estes são
apresentados como sanduíche pelos anticorpos imobilizados e pelo anticorpo
monoclonal específico para a citocina. Após a lavagem para remoção de outras
substâncias não ligadas ao anticorpo e/ou reagentes, um substrato ácido foi
adicionado à solução que desenvolveu coloração na proporção da quantidade de IL-
6 e TNFα ligados. A intensidade da cor foi medida por leitura de densidade óptica
em leitor automático de Elisa, em comprimento de onda de 450 nm. As
concentrações de IL-6 e TNFα na urina, plasma e no rim, foram calculadas a partir
dos resultados obtidos na curva padrão, realizada com IL-6 e TNFα recombinante
para ratos, dosados no ensaio.
Após o descongelamento das amostras, microplacas de 96 orifícios foram
sensibilizadas com anticorpos monoclonais para IL-6 e TNFα. Nestas placas foram
adicionados 50 μl de urina e de macerado do tecido renal (diluição1:2), 50 μl dos
controles positivos e negativos e 50 μl da IL-6 e TNFα nas concentrações de 2000;
1000; 500; 250; 125; 62,5 e 31,2 pg/ml para obtenção da curva padrão. A seguir,
100 μl de conjugado policlonal anti IL-6 e anti TNFα marcado com peroxidase
foram adicionads às placas com posterior incubação, por 3 h, à temperatura
ambiente. Após o período de incubação, foram realizadas 4 lavagens com solução
detergente. Em seguida, foi adicionado aos orifícios das placas, o substrato formado
por peróxido de hidrogênio (0,02%) e tetrametilbenzina (2%). A reação foi
interrompida, 30 min após o seu início, utilizando ácido sulfúrico 1M. A intensidade
da cor foi medida por leitura de densidade óptica em leitor automático de Elisa, em
comprimento de onda de 450 nm. As concentrações de IL-6 e TNFα na urina e no
rim foram calculadas a partir dos resultados obtidos na curva padrão construída com
IL-6 e TNFα recombinante para ratos dosados no ensaio.
Para que não houvesse interferência da concentração urinária nos valores de
IL-6 e TNFα, foi feita a razão entre as concentrações de IL-6 e de TNFα urinários e
da concentração de creatinina urinária (IL-6 ur/Cr
u
e TNFα ur/Cr
u
), dosada na mesma
amostra.
4.9 Análise Histológica
Cortes longitudinais do rim esquerdo foram coletados de animais controle,
Sham e CLP, conforme descrito no item 4.4.3. Os rins foram armazenados em
paraformaldeído tamponado, até o processamento histológico. As lâminas montadas
contendo 3 fatias de 4 μm de tecido renal foram coradas em hematoxilina e eosina
(HE), ácido periódico de Schiff (PAS) e tricrômico de Masson.
As lâminas foram, qualitativamente, examinadas utilizando-se microscopia
convencional (Axoplan 2.0, Zeiss).
4.10 Análise Morfométrica
As secções de rim de 4 µm, retiradas sempre longitudinalmente com presença
de área medular e cortical, foram coradas pelas técnicas de hematoxilina e eosina,
para avaliação morfométrica.
Posteriormente foram adquiridas imagens digitais do tecido com aulio do
microscópio óptico modelo Olympus BX 41 (objetiva de 40x, 60x e 100x), acoplado a
uma câmara digital Olympus Q Color. Imagens adquiridas de 10 campos para
glomérulos e 30 para túbulos, por lâmina, foram submetidas às análises
morfométricas utilizando-se o programa Image J.
Através desse equipamento, estabeleceram-se os seguintes parâmetros
histológicos a serem analisados: diâmetro da cápsula de Bowman (Fig. 5A),
diâmetro do tufo glomerular (Fig. 5B), diâmetro do espaço de Bowman (calculado
pela subtração do diâmetro da psula de Bowman do diâmetro do tufo glomerular)
e diâmetro dos túbulos proximais.
Figura 5. Medida do diâmetro da cápsula de Bowman (A) e do diâmetro do tufo glomerular
(B). Coloração: HE; aumento de 60x. A linha delgada amarela indica a extensão da medida
na imagem da tela do computador usando o programa Image J, correntemente usado em
morfometria.
A
B
4.11 Análise Estatística
Os resultados foram apresentados como médias erro padrão da média (X
EPM).
Os dados obtidos nos grupos Controle, Sham e CLP em cada momento
avaliado (subgrupo experimental) foram analisados por ANOVA seguida de teste de
Newman-Keuls e Two-way-ANOVA seguida de teste Bonferroni. O nível de
significância considerado foi p≤0,05.
A comparação ao longo do tempo nos animais CLP, em parâmetros que
apresentaram diferença entre estes e os demais animais, foi realizada utilizando-se
One-Way-ANOVA com pós teste Newman-keuls, para considerados significativos
p≤0,05. O programa de estatística usado foi o GraphPad Prism 4.0.
5 RESULTADOS
Os resultados apresentados, a seguir, são dados experimentais referentes à
investigação do efeito da sepse, em ratos, utilizando o modelo onde a sepse foi
induzida por perfurações no ceco seguidas de extravasamento do conteúdo cecal
(modelo de sepse CLP, cecal ligation perfuration, 10 perfurações), sobre o rim. O
trabalho focalizou, basicamente, sobre a investigação de parâmetros da função renal
e avaliação do aspecto morfológico renal e do desenvolvimento do processo
inflamatório renal
5.1 Efeito da Sepse sobre o Peso Corporal e a Ingestão de Água
A Figura 6 mostra o peso corporal dos ratos dos grupos Controle, Sham e
CLP ao longo dos vinte dias de avaliação experimental. Os ratos Controle e Sham
tiveram aumento do peso de, aproximadamente, 80 gramas ao final do período
avaliado 20 dias). os ratos do grupo CLP apresentaram uma perda significativa
de peso, em torno de 50 gramas, não havendo diferença entre os momentos da
avaliação. Cabe ressaltar que a quantidade de ração ingerida pelos ratos dos três
grupos foi semelhante.
1
2
5
10
15
20
0
100
200
300
400
Controle
Sham
CLP
*
**
***
Tempo (Dias)
Peso
gramas
Figura 6. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre o
peso corporal ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a média ± erro
padrão da média (n = 8 -12/tempo). *p<0,05, ** p<0,01 e *** p<0,001 vs Controle e vs Sham.
a ingestão de água pelos ratos do grupo CLP foi significativamente maior do que
nos ratos Controle e Sham durante todo o período avaliado (20 dias) (Fig. 7).
1
2
5
10
15
20
0
10
20
30
40
50
60
Controle
Sham
CLP
***
***
**
***
**
**
Tempo (Dias)
Ingestão de Água
ml
Figura 7. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre a
ingestão de água ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a média ± erro
padrão da média (n = 8 - 12/tempo). ** p<0,01 e *** p<0,001 vs controle e vs sham.
Além disso, também foram observados, nos ratos CLP, sinais clínicos como
piloereção, tremores, sangramento ocular, prostração, atonia muscular e diminuição
da movimentação, principalmente no primeiro dia pós-sepse. A piloereção e a perda
de massa muscular foram observadas ao longo dos vinte dias de avaliação. nos
ratos dos grupos Controle e Sham não foi detectada nenhuma alteração clínica ou
comportamental.
5.2 Efeito da sepse sobre a Pressão Arterial Sistólica
A Figura 8 compara a pressão arterial sistólica (PAS) nos três grupos
experimentais avaliados nesse estudo (Controle, Sham e CLP). A PAS apresentou-
se bastante reduzida no grupo CLP, redução esta observada apenas no dia pós-
indução da sepse (CLP, 62,0 ± 9,4 mmHg; Sham, 122,0 ± 10,7 mmHg; Controle,
130,0 ±7,1 mmHg). Nos dias 5 e 15 pós-sepse, a PAS no grupo CLP encontrava-se
elevada, com valor similar aos valores de PAS medidos nos grupos Controle e Sham
(Fig. 8).
1
5
15
0
100
200
Controle
Sham
CLP
*
Tempo (Dias)
Pressão Arterial Sistólica
mmHg
Figura 8. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre a
pressão arterial sistólica em 3 tempos ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 4/tempo. *p<0,05, vs Controle e vs Sham.
5.3 Efeito da Sepse sobre o Volume Globular (Hematócrito)
A Figura 9 mostra que os ratos do grupo CLP apresentaram aumento do
volume globular observado somente no dia pós-indução da sepse (CLP, 54,0 ±
0,7%; Sham, 44,0 ± 0,3%; Controle 44,0 ± 0,5%). A partir do dia pós-sepse, o
hematócrito encontrava-se reduzido, com valor similar aos valores de hematócrito
observados nos grupos Controle e Sham (Fig. 9).
1
2
5
10
15
20
0
10
20
30
40
50
60
Controle
Sham
CLP
*
Tempo (Dias)
Volume Globular Médio
(%)
Figura 9. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre o
volume globular (hematócrito) medido ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 3/tempo). *p<0,05 vs Controle e vs Sham.
5.4 Efeito da sepse sobre a Função Renal
5.4.1 Creatinina Plasmática e Ritmo de Filtração Glomerular
Conforme ilustrado na Figura 10 (painel superior), a sepse promoveu um grande
aumento da concentração plasmática de creatinina. Concomitantemente, houve
queda do RFG (Fig. 10, painel inferior), estimado pelo clearance da creatinina. Estes
efeitos eram máximos no dia pós-sepse e assim permaneceram até o final do
período observado (20 dias).
1
2
5
10
15
20
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Controle
Sham
CLP
***
***
***
***
**
***
Tempo (Dias)
Creatinina Plasmática
(mg/dl)
1
2
5
10
15
20
0
1000
2000
3000
4000
Controle
Sham
CLP
***
***
***
*** ***
***
Tempo (Dias)
Ritmo de Filtração Glomerular
(ml/24h)
Figura 10. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a creatinina plasmática (painel superior) e o ritmo de filtração glomerular, estimado pelo
clearance de creatinina (painel inferior), ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 6 - 12/tempo). ** p<0,01 e *** p<0,001 vs
Controle e vs Sham.
5.4.2 Uréia Plasmática
De forma semelhante à creatinina, os níveis elevados de uréia plasmática (Fig.
11) também indicam que os ratos do grupo CLP apresentaram um considerável
comprometimento da função renal quando comparados aos ratos dos grupos
Controle e Sham, em todos os tempos analisados. Este efeito também era
máximo no dia pós-sepse e assim permaneceu ao final do período observado
(20 dias).
1
2
5
10
15
20
0
25
50
75
100
125
150
Controle
Sham
CLP
***
***
***
***
***
***
Tempo (Dias)
Uia Plasmática
(mg/dl
Figura 11. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a concentração plasmática de uréia ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 3 - 4/tempo). *** p<0,001 vs Controle e vs
Sham.
5.4.3 Fluxo Urinário e Fração de Excreção de Água
A Figura 12 mostra que a sepse também produz um aumento acentuado do
fluxo urinário na maioria dos tempos avaliados ao longo de 20 dias. Este aumento,
associado à queda do RFG (Fig. 10, painel inferior), refletiu em aumento da fração
de excreção de H
2
O (Fig. 13).
1
2
5
10
15
20
0
5
10
15
20
25
30
Controle
Sham
CLP
*
*
*
Tempo (Dias)
Fluxo Urinário
(ml/24h)
Figura 12. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
o fluxo urinário ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a média ± erro
padrão da média (n = 4 - 12/tempo). *p<0,05 vs Controle e vs Sham.
1
2
5
10
15
20
0
2
4
6
8
Controle
Sham
CLP
***
** **
*
*
***
Tempo (Dias)
Fração de Excreção de Água
%
Figura 13. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a fração de excreção de H
2
O ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a
média ± erro padrão da média (n = 6 - 12/tempo). *p<0,05, ** p<0,01 e *** p<0,001 vs
Controle e vs Sham.
5.4.4 Densidade Urinária, Proteinúria e Enzima Gama Glutamil Transferase
Urinária
A Figura 14 mostra que a sepse promoveu uma diminuição drástica da
densidade específica urinária (DEU), observada em todos os dias avaliados ao longo
dos vinte dias pós-sepse. Tal diminuição se deve ao processo séptico e não ao
procedimento cirúrgico, visto que não há diferença significativa entre os grupos
Controle e Sham, em nenhum dos momentos avaliados.
1
2
5
10
15
20
1010
1030
1050
1070
1090
Controle
Sham
CLP
***
***
***
***
***
***
Tempo (Dias)
Densidade Específica Urinária
Figura 14. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a densidade especifica urinária ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam
a média ± erro padrão da média (n = 3 - 8/tempo). ***p<0,001, vs Controle e vs Sham.
Em consonância com os resultados mostrados anteriormente, os ratos
submetidos à sepse apresentaram proteinúria intensa. Este efeito, observado no
dia pós-sepse, permaneceu elevado ao longo dos 20 dias de observação (Fig.
15).
1
2
5
10
15
20
0
300
600
900
1200
1500
Controle
Sham
CLP
***
**
***
***
***
***
Tempo (Dias)
Proteinúria
(mg/24h)
Figura 15. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a excreção urinária de proteína ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam
a média ± erro padrão da média (n = 3 - 8/tempo). **p<0,01 e *** p<0,001 vs Controle e vs
Sham.
Pela Figura 16 pode-se observar que houve correlação entre a proteinúria
(aumentada) e a excreção urinária de creatinina (diminuída) (relação UP:C). Os ratos
do grupo CLP apresentaram um aumento desta relação durante todos os dias
avaliados, o que caracteriza um agravamento da lesão renal nesse grupo (CLP).
1
2
5
10
15
20
0.0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
3.0
Controle
Sham
CLP
***
**
***
***
***
***
Tempo (Dias)
UP:C
Figura 16. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a relação proteína/creatinina urinárias (UP:C) ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 3 - 8/tempo). **p<0,01 e *** p<0,001 vs
controle e vs Sham.
A Figura 17 mostra os níveis da enzima уGT na urina dos ratos dos 3 grupos
estudados. No 1º dia pós-sepse a уGT urinária apresenta-se significativamente
aumentada nos ratos submetidos à CLP, assim como no , 10º e 20º dias. No
dia, a excreção urinária dessa enzima reduz para, aproximadamente, metade
daquela observada no 1º dia, nos grupos Controle e Sham.
1
2
5
10
15
20
0
3
6
9
12
15
18
Controle
Sham
CLP
**
*
*
*
Tempo (Dias)
GT
Unidade/24h
Figura 17. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
a excreção urinária da enzima gama glutamil transferase (уGT) ao longo de 20 dias após a
indução. Os valores representam a média ± erro padrão da média (n = 6/tempo). *p<0,05 vs
Controle e vs Sham.
5.4.5 Sódio, Potássio e Água Livre
A Tabela 2 sumariza os valores médios das concentrações plasmáticas e
urinárias de sódio, potássio e das osmolalidades plasmáticas e urinárias nos três
grupos experimentais (Controle, Sham e CLP) conforme determinações feitas nos
dias 1, 10 e 20 pós-indução de sepse. Apenas as concentrações de sódio, potássio
e osmolalidade urinárias foram afetadas pela indução da sepse, as quais
apresentaram-se reduzidas, quando comparadas aos grupos Controle e Sham,
apenas no dia pós-sepse. Nos 10 e 20 da avaliação, nenhuma diferença
significativa foi observada entre os três os grupos sob estudo.
As frações de excreção de sódio (Fig. 18) e de potássio (Fig. 19) não foram
afetadas pela sepse no 1º dia pós-indução da mesma. No entanto, a partir do 5º dia,
tanto a fração de excreção de sódio (Fig. 18), quanto à fração excreção de potássio
(Fig. 19) foram significativamente aumentadas nos ratos do grupo CLP.
Tabela 2. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre
as concentrações plasmáticas e urinárias de sódio e potássio e das osmolalidades
plasmáticas e urinárias avaliadas nos dias 1, 10 e 20 dias após a indução.
Parâmetro
Controle
Sham
CLP
Dias após indução de sepse
1° Dia
10° Dia
20° Dia
1° Dia
10° Dia
20° Dia
1° Dia
10° Dia
20° Dia
[Na
+
] pl
mEq/l
141±3
139±3
139±3
137±1
147±5
141±2
138±2
140±3
139±2
[Na
+
] ur
mEq/l
111±7
97±7
126±20
123±23
86±8
119±19
14±24
***
69±8
100±9
[K
+
] pl
mEq/l
4,5±0,3
4,8±0,2
4,4±0,2
4,6±0,2
4,7±0,2
4,3±0,2
4,3±0,1
4,8±0,5
4,0±0,1
[K
+
] ur
mEq/l
315±53
580±60
382±742
310±29
580±61
367±10
179±24
**
383±63
322±47
Osm pl
mOsm/l
285±3
283±4
283±6
288±6
283±5
282±2
250±15
275±5
286±2
Osm ur
mOsm/l
3545±101
4118±184
3396±106
3477±284
4359±330
3207±86
1442±152
*
2655±44
2471±382
[ ], concentração; Osm, osmolalidade; pl, plasma; ur, urina; Os valores representam a média ± erro padrão da media.
***p<0,001; **p<0,01;* p<0,05
1
2
5
10
15
20
0.0
1.5
3.0
4.5
6.0
7.5
Controle
Sham
CLP
*
*
***
Tempo (dias)
Fração de Excreção de Sódio
(%)
Figura 18. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre a fração de excreção de sódio ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 3 - 8/tempo). *p<0,05 vs Controle e vs
Sham.. *p<0,05 e ***p<0,001 vs Controle e vs Sham.
1
2
5
10
15
20
0
150
300
450
600
Controle
Sham
CLP
**
**
***
Tempo (Dias)
Fração de Excreção de Potássio
%
Figura 19. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre a fração de excreção de potássio ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 3 - 8/tempo). **p<0,01 e ***p<0,001 vs
Controle e vs Sham.
Conforme mostrado na Figura 20, a sepse não afetou, significativamente, o
clearance osmolar (Figura 20A) nem o clearance de H
2
O livre (Figura 20B).
1
2
5
10
15
20
0
100
200
300
A
Tempo (dias)
Clearance
Osmolar
(ml/24h)
1
2
5
10
15
20
-250
-200
-150
-100
-50
Controle
Sham
CLP
B
Tempo (dias)
Clearance
de H
2
O Livre
(ml/24h)
Figura 20. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre o clearance osmolar (A) e clearance de H
2
O livre (B) ao longo de 20 dias após a
indução. Os valores representam a média ± erro padrão da média (n = 6 - 12/tempo).
5.5 Efeito da Sepse sobre o Aspecto Morfológico Renal
5.5.1. Análise Histológica
Para se estimar a quantidade de glomérulos com alteração parcial ou
completa, foi necessário definir a esclerose glomerular de acordo com: existência de
alteração segmentar ou total de um glomérulo causada por deposição mesangial de
material hialino, aumento da matriz dessa estrutura, colapso de capilares
glomerulares e adesão do tufo à cápsula de Bowman (Grond et al., 1986; Laferty e
Brenner, 1990).
Cortes histológicos típicos de rins de ratos dos grupos Controle, Sham e CLP,
após preparo (como descrito no item 4.4.3) e coloração pelo Tricrômico de Masson
estão mostrados na Figura 21. Alterações significativas não foram observadas nos
ratos dos grupos Controle (Fig. 21A) e Sham (Fig. 21B). nos ratos do grupo CLP
foram observadas alterações principalmente na estrutura glomerular. A Figura 21 (C
a F) mostra a evolução das alterações morfológicas durante a instalação da doença
renal observada nos dias 1 (C), 5 (D), 10 (E) e 15 (F) após a indução da sepse. As
setas nos painéis da Figura indicam as lesões observadas. Pode-se observar a
ocorrência de proliferação difusa das células mesangiais com expansão da matriz, o
que confere um aspecto lobulado aos tufos glomerulares. Nas micrografias D a E
(Fig. 21) ainda pode-se observar que alças capilares têm a parede espessada com
desdobramento da membrana basal glomerular e interposição da matriz mesangial
no espaço subendotelial, o que são alterações compatíveis com o quadro de
glomerulonefrite. A Figura 21F (20 dias pós-sepse) apresenta esclerose glomerular
parcial com começo de adesão ao tufo glomerular.
A Figura 21G apresenta corte histológico de rim no 10° dia onde pode-se
observar a presença de núcleo picnótico e vacuolização, o que sugere processo de
necrose tubular.
Figura 21. Cortes histológicos de rins de ratos dos grupos Controle, Sham e CLP corados por
Tricômico de Masson (aumento: 40x) e HE (G, aumento de 60x). A, corte de rim de rato do
grupo Controle; B, corte de rim de rato do grupo Sham. Os painéis C, D, E e F representam
rins de ratos do grupo CLP nos dias 1, 5, 10 e 20, respectivamente. G representa um corte
histológico de rim de rato CLP no 10º dia pós-sepse.
A
B
C
E
D
F
G
5.5.2 Análise Morfométrica
A morfometria glomerular de ratos do grupo CLP apresentou diferença
significativa dos demais grupos quanto ao diâmetro da cápsula de Bowman (Fig.
22A) e diâmetro do tufo glomerular (Fig. 22B).
1
5
10
20
0
30
60
90
120
150
Controle
Sham
CLP
*
*
A
Tempo (dias)
Diâmetro da Cápsula de Bowman
(
m)
1
5
10
20
0
50
100
150
Controle
Sham
CLP
*
*
B
Tempo (dias)
Diâmetro do Tufo Glomerular
(
m)
1
5
10
20
0.0
2.5
5.0
7.5
10.0
12.5
Controle
Sham
CLP
C
Tempo (dias)
Diâmetro do Espaço de Bowman
(
m)
Figura 22. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP sobre o
diâmetro da cápsula de Bowman (A), diâmetro do tufo glomerular (B) e diâmetro do espaço
de Bowman (C) ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a média ± erro
padrão da média (n = 3/tempo). *p<0,05 vs Controle e vs Sham.
com relação ao diâmetro do espaço de Bowman (Fig. 22C) não houve diferença
significativa.
A análise morfológica renal revelou alterações glomerulares como maior
diâmetro da cápsula de Bowman e do tufo glomerular, compatíveis com
nefrosclerose presente em diferentes momentos de instalação nos ratos do grupo
CLP.
Com relação à análise morfométrica tubular (Fig. 23) não foi constatada
diferença significativa entre os grupos. Este fato pode ter sido decorrente da
presença de túbulos proximais atrofiados e outros hipertrofiados, o que pode tornar a
média de seus diâmetros equivalente às dos grupos Controle e Sham.
1
5
10
20
0
10
20
30
40
Controle
Sham
CLP
Tempo (Dias)
Diâmetro dos Túbulos Proximais
m
Figura 23. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre o diâmetro dos túbulos proximais ao longo de 20 dias após a indução. Os valores
representam a média ± erro padrão da média (n = 3/tempo).
A Tabela 3 sumariza os valores médios para os diâmetros medidos nas
diferentes estruturas.
Tabela 3. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos sobre os diâmetros
da cápsula de Bowman, do tufo glomerular, do espaço de Bowman e dos túbulos proximais medidos nos
dias 1, 10 e 20 dias após a indução.
Diâmetro
Controle
Sham
CLP
(µm) Dias após indução de sepse
1° Dia
10° Dia
20° Dia
1° Dia
10° Dia
20° Dia
1° Dia
10° Dia
20° Dia
Cápsula de
Bowman
91,0 ± 8,3
91,0 ± 5,1
91,0 ± 9,2
89,0 ± 8,9
91,0 ± 10,0
88,0 ± 11,0
91,0 ± 11,3
125,0 ± 5,1*
128,0 ± 8,0*
Tufo Glomerular
83,0 ± 9,3
79,0 ± 7,8
88,0 ± 9,2
80,0 ± 11,9
86,0 ± 9,8
84,0 ± 11,7
88,0 ± 10,0
112,0 ± 9,4
119,0 ± 11,9
Espaço da Cápsula de
Bowman
7,5 ± 0,6
7,3 ± 0,3
7,2 ± 0,3
7,9 ± 0,3
9,8 ± 0,9
7,6 ± 0,7
7,7 ± 0,5
11,0 ± 0,7***
10,0 ± 0,7***
Túbulos Proximais
33,0 ± 0,1
28,0 ± 2,3
29,0 ± 1,3
31,0 ± 3,8
30,0 ± 2,0
29,0 ± 2,8
33,0 ± 2,9
*
30,0 ± 5,3
25,0 ± 3,9
Os valores representam a média ± erro padrão da média. ***p<0,001; **p<0,01;* p<0,05 vs Controle e vs Sham.
5.6 Investigação do Processo Inflamatório Renal após Indução de
Sepse por CLP
5.6.1 Atividade da Mieloperoxidase Renal
O acúmulo de neutrófilos foi avaliado pela medida da atividade da
mieloperoxidase (MPO) que é um indicador indireto do número de neutrófilos. Como
mostrado na Figura 24, a atividade desta enzima foi acentuadamente aumentada
nos ratos do grupo CLP em comparação aos ratos dos grupos Controle e Sham.
Interessantemente, os níveis de MPO renal no grupo CLP, 24 h após a indução de
sepse, diminuíram progressivamente até que seus valores se tornassem
semelhantes àqueles observados nos grupos Controle e Sham.
1
2
5
10
15
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Controle
Sham
CLP
***
*
Mieloperoxidase
Uindades Relativas
Figura 24. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre a atividade da enzima mieloperoxidase (MPO) renal 20 dias após a indução. Os
valores representam a média ± erro padrão da média (n = 4/tempo). *p<0,05, ***p<0,001 vs
Controle e vs Sham.
5.6.2 Envolvimento de Citocinas Pró-Inflamatórias
A Figura 25 mostra que a sepse não afetou, significativamente, o conteúdo
renal de RNA mensageiro que codifica TNFα, em nenhum dos dias avaliados Por
exemplo, no dia pós-sepse, o conteúdo de RNA mensageiro (em unidades
arbitrárias) foi 1,24 ± 0,41, 1,28±0,57 e 1,25±0,46 nos grupos Controle, Sham e CLP,
respectivamente.
1
5
10
20
0
1
2
3
4
5
6
Controle
Sham
CLP
Tempo(Dias)
RNAm TNF
Unidades Arbitrárias
Figura 25. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre o conteúdo de RNA mensageiro que codifica TNF no tecido renal ao longo de 20
dias após indução. O conteúdo de RNA mensageiro foi determinado utilizando-se a PCR em
tempo real. Os níveis de expressão da proteína, relacionados aos veis de expressão do
GAPDH, foram expressos como média ± erro padrão da média (n = 4/tempo) de unidades
arbitrárias de fluorescência obtidas durante a fase de ampliação exponencial (Ct) do cDNA.
Para confirmar ou descartar um possível envolvimento do TNF e da IL-6 nas
lesões renais produzidas pela sepse, os níveis dos mesmos foram determinados no
plasma, rim e urina. Cabe ressaltar que nem o TNF nem a IL-6 foram detectados no
plasma em nenhum dos dias pós-sepse analisados. No entanto, conforme pode ser
observado na Figura 26A, o TNF renal encontrava-se aumentado apenas no dia
pós-sepse enquanto que, neste mesmo dia, o TNF quase o pôde ser detectado
na urina (Fig. 26B). Nos demais dias analisados, o TNF renal estava bastante
diminuído. Em contraste ao TNF renal e embora não tenha alcançado significância
estatística devido à grande variabilidade experimental, houve tendência de aumento
do TNF urinário ao longo dos 20 dias analisados.
1
2
5
10
15
20
0
50
100
150
200
250
300
Controle
Sham
CLP
A
**
Tempo (D)
TNF
Renal pg/ml/mg
1
2
5
10
15
20
0
1000
2000
3000
4000
Controle
Sham
CLP
*
B
Tempo (Dias)
TNF
Urina pg/24 h
Figura 26. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre os níveis de TNF no rim (A) e na urina (B) ao longo de 20 dias após a indução. Os
valores representam a média ± erro padrão da média (n = 4 - 8/tempo). *p<0,05, **p<0,01
vs Controle e vs Sham.
A Figura 27 ilustra os níveis de IL-6 renal e urinário ao longo de 20 dias após
a indução de sepse pelo modelo CLP. Similarmente ao observado para o TNF
renal, a IL-6 renal se encontrava elevada no dia pós-sepse (Figura 27A). No
entanto, esta citocina também se encontrava aumentada nos rins do grupo Sham,
indicando que o procedimento cirúrgico, por si, já aumentava os níveis renais da IL-6
(Fig. 27A). Nos demais dias analisados, os níveis de IL-6 renal estavam diminuídos
de forma similar nos 3 grupos estudados. a IL-6 urinária estava bastante
diminuída nos dois primeiros dias pós-sepse, nos 3 grupos analisados. No entanto,
no 5º e 10º dias, embora sem alcançar significância estatística, os níveis urinários de
IL-6 encontravam-se elevados quando em comparação com os demais dias
analisados (Fig. 27B).
1
2
5
10
15
20
0
300
600
900
1200
1500
Controle
Sham
CLP
***
A
Tempo (Dias)
IL - 6 Renal pg/ml/mg
1
2
5
10
15
20
0
10000
20000
30000
40000
50000
Controle
Sham
CLP
*
B
Tempo (Dias)
IL-6 Urinário pg/24h
Figura 27. Efeito da sepse induzida pelo modelo CLP sobre os níveis de IL-6 no rim (A) e na
urina (B) ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a média ± erro
padrão da média (n = 4 - 8/tempo). *p<0,05, ***p<0,001 vs Controle vs Sham.
A Figura 28 mostra as razões TNFa urinário / Creatinina urinária (Figura 28A) e
IL-6 urinária / Creatinina urinária (Figura 28B) ao longo de 20 dias pós-sepse. No 20º
dia de observação, houve um aumento acentuado de ambas as razões nos ratos
com sepse.
5 10 15 20
0
1
2
3
4
5
Controle
Sham
CLP
**
A
Tempo (dias)
TNF
urina
/Creatinina
urina
5 10 15 20
0
100
200
300
400
500
600
700
800
Controle
Sham
CLP
***
B
Tempo (dias)
IL 6
urina
/Creatinina
urina
Figura 28. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre as razões TNF urinário / Creatinina urinária (A) e IL-6 urinária / Creatinina urinária (B)
ao longo de 20 dias após a indução. Os valores representam a média ± erro padrão da
média (n = 4 - 8/tempo). **p<0,01 e ***p<0,001 vs Controle e vs Sham.
5.6.3 Envolvimento de Citocinas Pró-Fibróticas
A Figura 29 ilustra o efeito da sepse sobre o conteúdo renal de RNA
mensageiro que codifica TGFß nos diferentes dias avaliados. Apenas no 20º dia
após indução, o RNAm renal para o TGFß foi significativamente aumentado pela
sepse (em unidades arbitrárias: CLP, 2,84 ± 0,03; Sham 0,95 ±0,04; Controle, 0,96
± 0,03).
1
5
15
20
0
1
2
3
Controle
Sham
CLP
*
Tempo(dias)
RNAm Renal para TGF
1
(Unidades Arbitrárias)
Figura 29. Efeito da sepse (10 perfurações cecais) induzida pelo modelo CLP em ratos
sobre o conteúdo de RNA mensageiro que codifica TGFβ1 no tecido renal ao longo de 20
dias após indução. O conteúdo de RNA mensageiro foi determinado utilizando-se a PCR em
tempo real. Os níveis de expressão da proteína, relacionados aos veis de expressão do
GAPDH, foram expressos como média ± erro padrão da média (n = 3 - 5/tempo) de
unidades arbitrárias de fluorescência obtidas durante a fase de ampliação exponencial (Ct)
do cDNA. *p<0,01 vs Controle e vs Sham.
6 DISCUSSÃO
A sepse é uma patologia grave, com alta incidência (cerca de 18 milhões por
ano no mundo inteiro) (Niederman et al., 1990; Rangel-Frausto, 2005) e com
mortalidade em torno de 30% dos pacientes (Antonelli et al., 2007; Vincent et al.,
2006; Silva et al., 2004). Diante destes números, a sepse se tornou alvo de estudo
de muitos grupos de pesquisa. A partir daí, começaram a ser conhecidas as
alterações por ela causadas tais como hipotensão e hipoperfusão e alterações
imunológicas, que dão origem a sintomas que podem levar o paciente à morte em
poucas horas. Com o melhor conhecimento da fisiopatologia da sepse foram
desenvolvidos modelos prognósticos, como APACHE (Acute Physiological and
Chronic Health Evaluation II) e SOFA (Sepsis - Related Organ Failure Assessment),
para se classificar a gravidade do quadro séptico. O que também possibilitou
modificação em protocolos terapêuticos.
Não se pode negar os avanços em relação ao diagnóstico mais precoce, ao
rastreamento microbiano mais eficaz que possibilita o rápido início do tratamento e
ao uso mais otimizado das variáveis hemodinâmicas e das técnicas de suporte
orgânico (Benjamin et al., 2004). Avança-se também para um controle metabólico
mais eficaz onde compreende-se a importância do controle glicêmico,
diagnosticando e tratando mais freqüentemente a insificiência adrenal relativa (Van
den Berghe et al., 2001; Annane et al., 2002). A utilização da ventilação mecânica e
terapia nutricional estão igualmente mais bem administradas aos pacientes graves
(Wheeler et al., 1999; Knobel et al., 2000). Surgem freqüentemente novos fármacos
que visam interferir nas cascatas inflamatória e da coagulação, minimizando os
malefícios por elas causados (Hotchkiss e Karl, 2003)
Desta forma, com o aumento dos pacientes que sobrevivem a esta patologia,
que é o principal objetivo da campanha mundial de sobrevivência na sepse (Survival
Sepsis Campaign), deve ocorrer uma redução na mortalidade de 25% a 2010
(Sales Júnior et al., 2006).
Segundo estudo realizado por, Bagshaw et al. (2005), a incidência de morte
no primeiro ano pós sepse ocorre em cerca de 10% dos pacientes acometidos.
Porém, o estudo não descreve as causas da morte destes pacientes. Contudo, fica
claro que o paciente após sepse possui fragilidades, o que leva-se a pensar que
alterações na resposta imune e danos em órgãos vitais, ocorridos durante a sepse,
aumentam a probabilidade de morte destes pacientes poucos anos após a sepse.
A sepse possui características fisiopatológicas diferentes de acordo com o
momento analisado, podendo ser aguda (instalação do quadro séptico) e crônica
(recuperação do quadro séptico). Os estudos atuais não permitem a compreensão
da trajetória completa da doença e, principalmente, desconhecemos os mecanismos
de morte na fase crônica.
O modelo CLP, utilizado em nosso estudo, causa peritonite polimicrobiana,
realidade bem similar à conhecida em humanos. Assim como também reproduz a
taxa de mortalidade, cerca de 30% dos pacientes. Por isso, o modelo pareceu ser o
mais indicado para a mimetização da sepse humana e assim eventualmente permitir,
em nosso estudo, uma melhor compreensão de seus mecanismos no que diz
respeito à função renal.
6.1 Avaliação Inflamatória Renal
A fisiopatologia da sepse está relacionada a uma interação complexa entre o
hospedeiro e o microorganismo infectante. São vários os processos envolvidos
sendo que o principal está relacionado à ativação de células inflamatórias tais como
os leucócitos, macrófagos teciduais, lulas dentríticas e eosinófilos. Estas, por sua
vez, desencadeiam ativação pertinente do endotélio, do sistema imune, de citocinas
pró e antiinflamatórias e do sistema de coagulação (Cohen, 2004).
A primeira linha de defesa contra tais infecções é ativada quando um
patógeno atravessa a barreira natural do hospedeiro. Dentre as células efetoras do
sistema imune inato, as mais importantes são os neutrófilos e macrófagos, que são
capazes de fagocitar e digerir os patógenos, secretar citocinas e quimiocinas, além
de coordenar mecanismos adicionais de resposta do hospedeiro. O fato de expor os
neutrófilos a bactérias ou produtos bacterianos ativa essas células como parte da
resposta inflamatória, obtendo como resultado final a retirada do patógeno (Janeway
e Medzhitov, 2002).
Em nosso estudo, a quantificação de neutrófilos no tecido renal foi feita,
indiretamente, através da atividade da mieloperoxidase (MPO). A sepse aumentou a
atividade dessa enzima, aumento este, observado 24 h após a indução e que
permanece até o 2
o
dia. Desta forma, nota-se que participação ativa do rim no
quadro séptico, sendo que ele não sofre as conseqüências da doença sistêmica,
mas também apresenta um processo inflamatório local.
Estes resultados são similares aos obtidos por Ueki et al. (2005), onde foi
observado aumento da atividade de MPO em tecidos renal, pulmonar, diafragma e
fígado. Allcock et al. (2001), utilizando o modelo de sepse induzida pelo LPS,
também detectaram aumento de neutrófilos no rim através atividade da MPO. Em
estudos realizados com o modelo de isquemia e reperfusão foi sugerido a
participação dos neutrófilos na patogênese e no agravamento da disfunção renal
com ativação neutrofílica e infiltração podendo ser regida por outros leucócitos
(Sener et al., 2005).
A resposta dos órgãos à sepse é heterogênea. Como descrito por Andrades
et al. (2005) alguns apresentam maiores níveis de danos celulares sendo que estes
danos aparecem mais precocemente que em outros órgãos, como acontece com os
rins e pulmões.
Os animais Sham apresentaram aumento da MPO somente no primeiro dia,
provavelmente, em decorrência do procedimento cirúrgico onde houve exposição da
alça intestinal. Este aumento, além de não ter sido significativo, foi revertido após 48
h.
Kuligowski et al. (2006) chamam a atenção para o fato de que a
microvasculatura glomerular é essencialmente um plexo de capilares e que, na
maioria dos leitos capilares, não ocorre recrutamento de leucócitos. Quando ocorre,
os leucócitos causam deformações no estreito trânsito glomerular. Soma-se a isto a
complexidade desta interação, que é reforçada pelo papel fundamental das
plaquetas que se acumulam nos capilares glomerulares e fornecem uma fonte de
moléculas de aderência tecidual. Este é um dos fatores que contribui, possivelmente,
para a glomerulonefrite desenvolvida pelos animais submetidos à sepse.
O TNFα é o primeiro mediador inflamatório a ser produzido em resposta a um
estímulo infeccioso, sendo considerado um mediador primário do sistema imune
inato, o qual é crucial para induzir proteção local (Van Deventer et al., 1990; Ulloa e
Tracey, 2005). Quantidades mínimas de TNFα contribuem para a defesa do
hospedeiro por limitar a propagação de organismos patogênicos para a circulação
sanguínea. Este fenômeno é observado durante uma resposta inflamatória bem
sucedida, na qual a duração e a magnitude da liberação de TNFα não são
exacerbadas (Tracey, 2002; Ulloa e Tracey, 2005).
No entanto, quando a produção é excessiva e prolongada, esta se torna
deletéria para o organismo (Netea et al., 2003), uma vez que supera a regulação
normal da resposta imune induzindo ativação de outras citocinas, óxido nítrico e
espécies reativas de oxigênio, os quais promovem inflamação e lesão tecidual,
potencialmente, letal (Tracey, 2002; Ulloa e Tracey, 2005).
Esta situação é especialmente notada na sepse grave, onde excessiva
produção desta citocina pró-inflamatória, a qual causa aumento da permeabilidade
capilar, provoca lesão tecidual e morte por falência orgânica (Tracey, 2002; Ulloa e
Tracey, 2005).
Segundo Cunneen e Cartwright (2004), durante o processo infeccioso, o nível
sérico de TNFα eleva-se durante os primeiros 30 a 90 min após a exposição ao LPS
com pico entre 3 e 4 h. Em nossos estudo, inicialmente, o TNFα foi quantificado no
plasma 24 h após a indução da sepse, mas o mesmo encontrava-se em
concentração tão baixa que não foi detectável pelo método utilizado. Segundo
Küster et al. (1998), em estudo multicêntrico com 101 recém-nascidos apresentando
sepse neonatal tardia, os níveis de citocinas apresentam-se elevados dois dias
antes de ser feito o diagnóstico de sepse. Isto poderia, pelo menos em parte,
explicar a não detecção de TNFα plasmático (concentração muito baixa) em nosso
estudo. Isto, provavelmente, ocorre devido à meia vida fugaz desta citocina em
pacientes que evoluem bem, ou seja, pacientes que normalmente sobrevivem à
sepse (Küster et al,. 1998).
Em nosso estudo, o conteúdo renal de RNAm para transcrição de TNFα não
estava aumentado em nenhum dos momentos avaliados. Provavelmente, esse
aumento de RNAm poderia ter ocorrido em período anterior ao primeiro período
analisado (durante as 24 horas iniciais pós-sepse), uma vez que o TNFα tem função
inicial no processo inflamatório e a inflamação gerada no tecido renal teria sido
desencadeada. Soma-se a isto, o fato de que o TNFα estava aumentado tanto no
rim, às 24 h s-sepse, como na urina, a partir do 5
o
dia. Esta seqüência indica que
a inflamação no tecido renal começaria imediatamente após a indução e
permaneceria por dias.
Estudos anteriores mostraram que aumento significativo na expressão de
RNAm para TNF-α em período de tempo tão curto quanto 30 min, em resposta a
diferentes estímulos como angiotensina II ou oclusão coronariana (Taishi et al.,
2008; Francis et al., 2004; Kalra et al., 2002). Além disso, existe uma propriedade
conhecida da citocina para amplificar sua própria secreção em um “feed-forward”
(Chrousos, 2000). Através de um estudo bem organizado e abrangente, Taishi et al.
(2008) relataram que o TNF-α aumentou significativamente a expressão de RNAm
para IL- (56 vezes), TNF-α (43 vezes) e IL-6 (5 vezes) em 30 min, em cultura de
células hipotalâmicas de ratos. O mesmo tratamento em cultura de células corticais
aumentou os níveis de RNAm para IL-(> 30 vezes), TNF-α (> 50 vezes) e IL-6
(30 vezes) também em 30 min. Estes dados sugerem que o TNF-α pode aumentar a
sua própria expressão, bem como de outras citocinas em um período curto de
tempo.
Shahid et al. (2008) demonstraram que a administração aguda da pró-
citocina TNFα, em camundongos, promoveu profundas alterações renais, o que
resultou em decréscimos no fluxo plasmático renal (FPR) e no ritmo de filtração
glomerular (RFG), mas causou aumento no fluxo urinário e na excreção de sódio
sem, no entanto, alterar a pressão arterial. Esta observação está de acordo com os
resultados do nosso trabalho.
Segundo estudo realizado por Zhang et al. (2004), o TNFα estimula a ação
de mediadores inflamatórios solúveis, como a prostaglandina E
2
, no SNC. Estes
iniciam mecanismos neurais que alteram a atividade nervosa simpática, levando a
mudanças na pressão arterial e também no fluxo urinário. No entanto, no nosso
estudo não houve alteração na pressão arterial após 48 horas de indução, sugerindo
que a partir deste momento não houve estimulação da atividade simpática em grau
suficiente para influenciar a hemodinâmica e a função renal.
Em nosso estudo, observamos uma drástica queda do RFG, a partir de 24
h de sepse. Haque e Majid (2004) verificaram que o TNFα reduziu tanto o FPR,
como o RFG em ratos sendo, a redução do RFG, parcialmente atenuada pelo L-
NAME. No entanto, a redução do FPR foi reforçada, indicando que, na condição de
inibição da NOS, o TNFα tem uma influência semelhante nas resistências p- e
pós-glomerulares, o que teria auxiliado na manutenção do RFG, em condições
normais, mesmo que tenha havido queda acentuada no FPR. Sabe-se que a
magnitude do RFG depende do equilíbrio entre as forças de filtração, portanto, das
resistências vasculares pré- e pós-glomerular (Navar et al., 1993).
No presente estudo, foi verificada natriurese 48 h após indução da sepse,
apesar do efeito vasoconstritor e de hipofiltração do TNFα. No entanto, parece que
este efeito do TNF-α foi devido à sua influência direta sobre a reabsorção tubular de
sódio aumentando a fração de excreção de mesmo. Estudo anterior, in vitro, relatou
que o TNF-α exerce ação inibitória direta sobre a atividade da Na
+
,K
+
-ATPase,
Na
+
,K
+
,2Cl
-
-ATPase-cotransporte e canal epitelial de sódio (EnaC) no córtex e
medula renal (Kreydiyyeh e Markossian, 2006). Assim, é concebível que um possível
efeito natriurético do TNFα, em nosso estudo, poderia ser devido à sua ação
inibitória direta sobre transportadores tubulares de sódio. Porém, estudos que
avaliem esses transportadores de forma mais direta são imprescindíveis.
Assim como ocorreu com o TNFα, a IL-6, no rim, mostrou-se aumentada no 1
o
dia pós-sepse e na urina, no 5
o
dia. Níveis renal e urinário de IL-6 têm sido relatados
em experimentos envolvendo endotoxemia. Por este motivo, a IL-6 é utilizada, tem
sido usada na prática clínica, como marcador de doenças inflamatórias renais como
pielonefrites e situações de nefrotoxidade (Kayama et al., 1997).
A IL-6 também é considerada um importante marcador de resposta
inflamatória sistêmica, pois, frente a um agravo infeccioso, alcança rapidamente
picos altos de concentração sérica, o que a caracteriza como uma citocina de
alarme à infecção (Casey, 2000; Ceccon, 2002). Aparentemente, a IL-6 não é um
marcador direto da sepse, pois reflete os efeitos em rede da produção prévia da IL-
1ß e TNFα (Dinarello, 1997; Casey, 2000).
Ao contrário do TNFα, os níveis séricos de IL-6 estão significativamente
elevados e sustentados por tempo mais longo, na maioria dos pacientes sépticos,
refletindo a intensidade da resposta inflamatória (Loisa et al., 2003). Diferentemente,
em nosso estudo, a IL-6 assim como o TNFα não foram detectados no plasma.
A participação da IL-6 na patogênese da insuficiência renal, decorrente da
sepse, parece ocorrer de maneira similar à do TNFα, porém, poucos estudos tentam
explicar sua participação nas alterações glomerulares e tubulares. A IL-6 é o
parâmetro mais utilizado na clínica, devido à meia-vida plasmática baixa do TNFα
(Bellomo et al., 2007; Horner et al., 2007; Lakhmir et al.,2007).
Um aumento da expressão renal de RNAm para TGFß1 foi observado, em
nosso estudo, no 20
o
dia após a indução da sepse. O TGFß1 tem sido considerado
um dos fatores de crescimento capaz de induzir modificações no fenótipo e na
função de células mesangiais, e por isso, tem sido considerado o principal
mecanismo fisiopatogênico no rim (Roelofs et al., 1998). Enquanto a expansão de
matriz mesangial e intersticial podem resultar da ativação direta da rede de
sinalização do TGFβ, em células mesangiais e miofibroblastos, a cascata de
sinalização do TGFβ pode ainda iniciar efetores pró-apoptóticos em diversas células
renais (Schiffer et al., 2001; Schuster et al., 2002), inclusive podócitos, resultando
em depleção podocitária que pode preceder a glomeruloesclerose (Coimbra et al.,
2000). O TGFβ pode também estar envolvido na transdiferenciação epitélio-
mesenquimal, a qual tem sido implicada no acúmulo de miofibroblastos e atrofia
tubular, que são fatores que contribuem para a fibrose renal (Zeisberg et al., 2003).
A expansão da matriz mesangial e espessamento da membrana basal
glomerular podem ser devido ao aumento do acúmulo de proteínas normalmente
presentes nestas estruturas (Mason e Wahab, 2003). Aumento na síntese de
colágeno, laminina e fibronectina tem sido demonstrado em modelos humanos e
experimentais de nefropatias (Mason e Wahab, 2003). Além disso, o TGFß1 tem
sido apontado como o principal mediador do aumento destas proteínas de matriz
extracelular na nefropatia diabética (Massague e Chen, 2000; Bottinger e Bitzer,
2002). Portanto, a glomerulosclerose é um processo pelo qual o glomérulo normal e
funcional é substituído por tecido fibroso, acumulando depósitos na matriz
extracelular (MEC). Isto representa uma via comum para a perda primária de
funcionamento de glomérulos associada a doenças díspares como glomerulonefrite
crônica, uropatia obstrutiva e infecção retroviral (Schnaper et al., 2003).
Em nosso estudo, foram observadas alterações na morfometria glomerular,
como aumento da cápsula de Bowman e do tufo glomerular, a partir do 5
o
dia. Esta
análise quantitativa revela, dentro de uma mesma população, se estruturas
assumem tamanhos e formas diferentes decorrentes de mudanças no ambiente
como, por exemplo, acúmulo de células, ação de citocinas, etc. O resultado da
morfometria glomerular somado ao aumento da expressão gênica de TGFß1
indicam, de forma consistente, a ocorréncia de glomeruloesclerose.
Na avaliação histopatológica de rins dos ratos CLP foi possível observar
espessamento da membrana basal e expansão da matriz mesangial bem como a
presença de alguns glomérulos esclerosados. Com estes dados, pode-se afirmar
que o rim encontra-se em pleno processo de instalação de uma doença, que poderá
evoluir para o quadro crônico, pois as alterações notadas são características de
glomerulonefrite. Portanto, alguma intervenção poderá ser feita, neste momento,
para se minimizar esta evolução da doença para uma provável insuficiência renal
crônica (IRC).
No presente estudo, nenhuma alteração na morfométrica tubular foi
observada. Este fato pode ser devido à presença de alguns túbulos proximais
estarem hipertrofiados e outros atrofiados o que, na média da avaliação
morfométrica, não fornece alteração detectável. No entanto, o aumento da excreção
urinária da gama glutamil transferase, enzima componente da borda em escova, é
um indicativo de necrose em células tubulares proximais (Ali, 1995). Na análise
histopatológica também foi possível visualizar núcleos picnóticos e maior
vacuoalização de lulas tubulares. Desta forma, os nossos dados indicam que,
embora a sepse tenha produzido lesao tubular, esta não apresentou em um padrão
único, ou seja, teve perfil heterogêneo.
Embora a necrose tubular aguda seja a evidência mais comum de lesão renal
na sepse (Camusi, 1998), este tipo de lesão histológica nem sempre ocorre na
insuficiência renal aguda devido à sepse. Como sugerido por Langenberg (2008),
em um estudo rigoroso das alterações histológicas que ocorrem no rim, nenhum
padrão histopatológico tubular único pode ser confiavelmente associado à
insuficiência renal aguda séptica.
6.2 Avaliação da Função Renal
A sepse é uma patologia bastante estudada e o envolimento do rim, nesta
síndrome, é consenso geral (Thijs e Thijs, 1998). Porém, estudos que avaliem a
função renal por um período mais longo, no pós sepse, são inexistentes.
As alterações renais são decorrentes do processo inflamatório e das abruptas
mudanças hemodinâmicas. Estes dois fenômenos, inflamatório e hemodinâmico,
ocorrem simultaneamente e podem interagir-se potenciando ora um efeito, ora outro
efeito.
Em nosso estudo, a indução de sepse promoveu alterações na função renal já
a partir de 24 h de observação, sendo que as mesmas permaneceram até o ultimo
dia de avaliação. Isto indica estar havendo uma progressão da doença mesmo com
a melhora do quadro séptico.
Alterações como diminuição do RFG, aumento da proteinúria, aumento na
fração de excreção de sódio e na de potássio sem alteração no clearance osmolar e
no clearance de água livre foram observadas durante todo o período avaliado (20
dias). Estas alterações na função renal ocorrem numa tentativa de manter a
homeostasia do organismo.
A pressão arterial sistólica (PAS) nos ratos do grupo CLP estava
drasticamente diminuida 24 h após indução da sepse, provavelmente, devido a uma
intensa vasodilatação que, neste tempo, ocorre. Nos tempos subsequentes, a
PAS apresentou valores semelhantes aos dos ratos dos grupos Controle e Sham.
o fluxo urinário, bastante aumentado 24 h pós-sepse, permaneceu elevado em todos
os outros dias avaliados, o que pode ser explicado pelo aumento intenso da
excreção urinária de proteínas. O fato de que o FU esteve igualmente elevado em
todos os dias avaliados (Fig. 12 ) e que a concentração urinárias de sódio e de
potássio (Tab. 2) estavam acentuadamente diminuídas no 1
o
dia s-sepse, indica
que estaria havendo inicialmente (1
o
dia) uma reabsorção aumentada desses
eletrolitos, o que poderia corrigir a queda na PAS.
O hematócrito nos ratos CLP também esta aumentado, o que caracteriza um
estado de desidratação intensa.
Segundo Cavazzoni e Dellinger (2006), o perfil hemodinâmico da sepse
grave e choque séptico é inicialmente caracterizado por componentes
hipovolêmicos, cardiogênicos e hipoperfusão. Nas fases iniciais de
sepse, aumenta o vazamento capilar venoso e aumento da
capacitância o que resultará em diminuição do retorno venoso para o
coração. As citocinas liberadas também podem causar depressão miocárdica direta.
Para se evitar o choque cardiogênico, a volemia deve ser restabelecida. Isto
explicaria, pelo menos parcialmente, a diminuição inicial (1
o
dia) nas concentrações
urinárias de sódio e de potássio e aumento na ingestão de água nos ratos que
sobreviveram à sepse, em nosso estudo. Observação interessante foi que a
mortalidade aumentou para 60% dentro do grupo de ratos CLP que não aumentaram
a ingestão de água. Esta observação está de acordo com o relato de que um
suporte fluidoterapico melhor e mais adequado diminuiu a taxa de mortalidade entre
os pacientes sépticos (Hotchkiss et al., 2003).
O restabelecimento da hipovolemia normalmente resulta em um
um estado de resposta hiperdinâmica. Porém, sinais de hipoperfusão tecidual podem
persistir. Isso é, muitas vezes, chamado 'choque distributivo', podendo estar
relacionado à má distribuição do fluxo sanguíneo regional (esplâncnica, mesentérica
e renal) ou em nível microvascular e/ou uma incapacidade para utilizar o oxigênio
celular, apesar do fornecimento de oxigênio estar adequado (hipóxia citotóxica)
(Cavazzoni e Dellinger, 2006). Tais alterações podem levar à diminuição do RFG e à
lesão da microvasculatura glomerular desenvolvendo a proteinúria.
Em um estudo desenvolvido por Langenberg (2007), onde se utilizou ratos
desenvolvendo um estado hiperdinâmico circulatório semelhante ao observado em
pacientes sépticos desenvolvendo IRA, mostrou que a recuperação da função renal
pode ocorrer em paralelo com vasoconstrição vascular renal e diminuição do fluxo
sanguíneo renal, em 48 h de observação. Em nosso estudo, não foi observado
melhora do quadro em 20 dias de avaliação permanecendo, não o RFG
diminuído, mas também ocorrendo aumento nas concentrações plasmáticas de
creatinina e uréia, assim como aumento da relação da proteína e creatinina
urinárias, que nos fornece uma estimativa da progressão da lesão glomerular
(Schwab, 1987; Ginsberg, 1983). Tais conflitos, podem ser explicados devido às
diferenças nos modelos experimentais utilizados que, no estudo de Langenberg
(2007), foi o modelo de infusão de E. coli por via intravenosa, o que poderá gerar um
quadro séptico extremamente diferente daquele induzido pelo modelo CLP.
Com relação à função tubular, Langenberg (2007) relatou que houve uma
recuperação tubular dentro de 48 h após o tratamento com gentamicina, tornando
improvável que tenha ocorrido a necrose tubular grave.
Pouco se sabe sobre a fisiopatologia endotoxêmica da disfunção tubular onde
ocorre falha na concentração de urina e um aumento da fração de excreção de sódio
(Schmidt et al., 2007). Os poucos estudos a respeito atribuem a disfunção tubular às
citocinas, quais deterioram as bombas trocadoras, como já discutido anteriormente.
Nosso estudo também revelou um aumento na fração de excreção de sódio, a
partir do 5
o
dia de avaliação. Este aumento poderia ser explicado caso houvesse
aumento da secreção de aldosterona. Segundo Brown, em revisão recente (2008),
a aldosterona está relacionada com a inflamação e a instalação da fibrose, por
desencadear aumento de espécies reativas de oxigênio. Deste modo, em nosso
estudo, um possível aumento de aldosterona poderia ser mais mais um estímulo
para a síntese de TGFß1 e outros fatores pró-fibróticos.
Por fim, afirmamos que muitos aspectos sobre a insuficiência renal decorrente
da sepse devem ser melhor estudados. Os aspectos hemodinâmicos e inflamatórios
devem ser bem investigados no rim, tanto por suas ações no glomérulo quanto nos
túbulos. Deve-se sempre levar em consideração, que o paciente em sepse
apresenta peculiaridades inerentes ao estágio de desenvolvimento em que a sepse
é diagnosticada (mais precoce ou mais tardio) e assim os pacientes que sobrevivem
sofrerao as conseqüências das manifestações a que foram submetidos. Desta
forma, deve-se ter cautela, por exemplo, ao considerar estudos sobre indivíduos
durante a sepse e indivíduos que a ela sobreviveram, extrapolando conclusoes
como se as manifestacoes fossem similares. Condutas terapêuticas novas também
devem ser buscadas minimizar a progressão de lesão renal.
Figura 30. Esquema resumindo as alterações renais induzidas pela sepse pelo modelo CLP
ao longo de 20 dias de avaliação.
Figura 31. Esquema resumindo as alterações inflamatórias renais induzidas pela sepse pelo
modelo CLP ao longo de 20 dias de avaliação.
7 CONCLUSÕES
A sepse promove profundas alterações na função renal, que podem ser
irreversíveis;
As alterações inflamatórias renais persistem agravando a disfunção renal;
A insuficiência renal desenvolvida devido à sepse poderá se tornar crônico;
Mais estudos são necessários para melhor compreensão das alterações
renais decorrentes da sepse, principalmente quanto a função tubular.
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