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outra das muitas expressões da nova consciência de universalidade. A Consciência
do mundo do ponto de vista de seu fim, do mesmo modo que o cristianismo. O
evento final pode ser o fim da história, da pré-história, tanto quanto a infinidade da
perfeição eterna – em qualquer destes casos, o presente é relativizado porque se
encontra iluminado pelos holofotes do futuro. (p. 34, grifos da autora)
Em confronto com o terceiro estágio da consciência histórica – o da universalidade
não refletida – quando o mito universal carecia de um ponto de referência coletivo e não havia
um “aqui e agora”, posto que todos os momentos entre salvação e juízo final eram
semelhantes, na universalidade refletida o foco são os sujeitos representativos, os temas são
coletivos, o assunto é o “grande homem” em seu “aqui e agora”. Diz Heller (1993):
Assim, a ênfase sobre o tempo real (dentro da estrutura do tempo ideal) ressalta-se
na teoria e na prática da consciência do mundo histórico. O passado (aquilo-que-
ainda-não-é-presente) é interpretado como “diferente” em comparação com nossos
tempos. Em conseqüência, hábitos e valores do passado são desvalorizados. O
passado e o presente têm de ser apreendidos cientificamente. Só é válido o
conhecimento científico e os valores tornam-se objetos de pesquisa e não os seus
limites. A idéia de que a razão deve estabelecer, um estado ou sociedade ética (ou
moral), no futuro (uma idéia decisiva em Kant, que viveu na fronteira entre duas
eras históricas), é mais do que nunca relegada ao plano de fundo. A “dialética” da
virtude (“Tugend”) e o “processo mundial” (Weltlauf) o primado da atitude religiosa
como contrária àquela de ordem moral, a ênfase no “além do bem e do mal” ou na
“ciência liberta dos valores”; tudo isto exprime, em essência a mesma preocupação.
A universalidade do “tempo ideal” e a metodologia do tempo real são iguais. É claro
que a vida privada pode orientar-se pelos sistemas tradicionais de conduta, da
mesma forma que antes, e até antigos tipos de filosofias morais (como estoicismo e
epicurismo) podem ordenar, mais adiante, os variados modos de vida, sem que se
tornem componentes teóricos de uma reflexão universalista. (p. 35, grifos da autora).
O homem, agora, é visto como aquilo que ele é na história, na civilização, o que o
obriga a responder a questões mais relevantes do que “aquilo que ele é”, como “o que é
história, o que é civilização”. Suas motivações, boas ou más, passam a ser explicadas pela
história. E a história, aqui, confunde-se com civilização. Ao universalizar-se, o homem
universaliza a história. Heller (1993) acrescenta:
Neste percurso, o homem torna-se sujeito da história, mas não a pessoa. Esta fica
sujeita à história. O homem é universal, mas a pessoa, não. Identifica-se a pessoa
com o universal chamado “o homem”, apenas quando ele ou ela se torna sujeito da
história ou, então, quando renuncia completamente a esta. Considera-se a pessoa
tanto como contingente, como o homem genial ou o homem da renúncia (à história).
Esta “pessoa contingente” persegue seus próprios objetivos, cumpre com seu dever,
dele ou dela, como um instrumento para propósitos “mais elevados” (do espírito do
mundo, das leis históricas, das estruturas inconscientes). É através dele, ou dela, que
a História, o inconsciente e as “leis” se realizam. Os protagonistas dos romances do
século dezenove são pessoas extremamente contingentes, são derrotados por poderes