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Daniel Braga Hübner
A BIODIVERSIDADE E O TURISMO EM
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BRASIL:
PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
Dezembro / 2007
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Daniel Braga Hübner
A BIODIVERSIDADE E O TURISMO EM
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO BRASIL:
PARQUE NACIONAL DO ITATIAIA
Dissertação apresentada ao Programa
de Mestrado em Turismo e Meio
Ambiente do Centro Universitário
UNA, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre em
Turismo e Meio Ambiente.
Área de Concentração: Turismo e
Meio Ambiente
Orientador: Prof. Dr. Eduardo
Trindade Bahia
Belo Horizonte
Centro Universitário UNA
Dezembro / 2007
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HÜBNER, Daniel Braga
H879b A biodiversidade e o turismo em unidades de conservação do Brasil:
Parque Nacional do Itatiaia / Daniel Braga Hübner. – Belo Horizonte. 2007.
107f.
Orientador: Dr. Eduardo Trindade Bahia
Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Programa de
Mestrado em Turismo e Meio Ambiente.
Bibliografia: f. 99 - 101
1. Turismo 2. Biodiversidade 3. Sustentabilidade Ambiental 4. Parque
Nacional do Itatiaia. I. Bahia, Eduardo Trindade II. Centro Universitário
UNA. III. Título
CDU : 379.85
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Padre Geraldo Magela – Centro Universitário UNA
iii
iv
À natureza!
Sempre dinâmica e transformadora, ela nos ensina a respeitá-la, mesmo que seja na marra...
v
Agradecimentos
A Deus, pela criação da Natureza e todo seu esplendor como um infinito
laboratório de pesquisas, ensinamentos e reflexões, e pela oportunidade e condições para
vencer mais essa etapa;
À minha Mãe e meu Pai, que já há algum tempo têm convivido com minhas
idas e vindas...;
À Margarida, sempre acolhedora e carinhosa, que em muitos momentos tem
me ajudado a entender e dá algum sentido ao cumprimento da missão terrena, e cuja
convivência consigo é um privilégio;
À D. Maria, pelo incentivo, pois sem ele, talvez desistisse;
A todos os Iluminados que passam pelo meu caminho, e têm me ajudado a
superar os desafios: a conquista é nossa e vencer é o nosso destino;
Aos meus alunos, razão de ser da vida de um professor. Aos bons, pela
motivação, gratidão e realizações. Aos ruins, pelo desafio em torná-los bons;
Ao meu orientador, Prof. Dr. Eduardo Bahia, um motivador incondicional que
indicou os caminhos e soluções para o tema desafiador e fascinante;
À UNA, pela coragem de ofertar um Programa de Mestrado em Turismo e
Meio Ambiente, área tão carente de pesquisas, embora necessárias ao nosso futuro;
Ao Prof. Mauri, incansável motivador, cuja percepção está sempre à frente dos
demais;
À Profa. Wanyr, que assume a Coordenação desse Programa de Mestrado, cuja
contribuição foi decisiva para a conclusão desse trabalho;
Aos demais professores e funcionáios da UNA, sempre participantes;
Ao Parque Nacional do Itatiaia e todos os seus incansáveis defensores, dos
vigilantes aos servidores do Ibama, pelo acolhimento, carinho e atenção dispensados ao longo
da pesquisa e da permanência em suas dependências. Muito obrigado a toda a equipe, da parte
baixa e da parte alta, pela acolhida e pelo apoio. Guiado pelo Levy, as pedras no caminho não
evitaram a conquista das prateleiras...;
Ao Prof. Sarahyba, prova de que ainda é possível fazer amigos como
antigamente, uma grata surpresa dessas que pouco temos na vida;
Ao Leo Nascimento, sempre atencioso e acolhedor, apaixonado pelo PNI;
Ao casal amigo Alessandra e Herbert Ugrinowitsch, que me deram condições
para as descobertas necessárias, e um cantinho mágico para a reflexão e concentração
imprescindíveis para o desenvolvimento da pesquisa;
Ao CEFET-MG, pelo apoio financeiro e institucional, necessário à
consolidação do curso técnico em turismo e lazer com a conquista desse título;
Aos turistas, que continuem viajando e visitando as unidades de conservação,
de forma a propagar cada vez mais as ações de manutenção, conservação e preservação do
meio ambiente.
VIVA O TURISMO! VIVA A NATUREZA!
vi
“(...) Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência,
precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência, e tudo será
perdido (...)” – Charles Chaplin
vii
Resumo
Esse trabalho aborda a relação existente entre a biodiversidade e o turismo no
mais antigo Parque Nacional do Brasil: o Parque Nacional do Itatiaia. Apresenta uma análise
detalhada sobre quatro importantes aspectos de sustentabilidade ambiental na percepção dos
turistas que visitam o Parque Nacional do Itatiaia: ecológicos, socioculturais, econômicos e
relacionados ao turismo. Utiliza a técnica estatística da análise fatorial para analisar os dados
coletados na pesquisa desenvolvida e compara-os com dados de pesquisas internacionais
realizadas em unidades de conservação estrangeiras. Discorre sobre as principais
características da biodiversidade e as potencialidades turísticas dos biomas brasileiros:
Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Zona Costeira, Pampa e Mata Atlântica. Como
principais resultados da pesquisa, pode-se citar a avaliação pelos turistas, das condições
ecológicas, sócio-culturais e econômicas. Relaciona os principais desafios e dificuldades da
unidade de conservação estudada e propõe algumas ações e alternativas para a preservação
ambiental no Parque Nacional do Itatiaia, consoante com a prática do turismo nesse espaço,
de maneira equilibrada e sustentada.
Palavras-chave: turismo, biodiversidade, unidades de conservação, sustentabilidade
ambiental, análise fatorial.
viii
Abstract
This work approaches the existent relationship between the biodiversity and
the tourism in the oldest National Park of Brazil: the National Park of Itatiaia. It presents a
detailed analysis on four important aspects of environmental sustainability in the tourists'
perception that you/they visit the National Park of Itatiaia: ecological, sociocultural,
economical and related to the tourism. It uses the statistical technique of the factorial analysis
to analyze the data collected in the developed research and it compares them with data of
international researches accomplished in foreign units of conservation. Those talks about the
main characteristics of the biodiversity and the tourist potentialities of the Brazilian biomes:
Amazonian, Savannah, “Caatinga”, Pantanal, Coastal Area, South Pampa and Atlantic Forest.
As main results of the research, the evaluation can be mentioned by the tourists, of the
conditions ecological, partner-cultural and economical. It relates the main challenges and
difficulties of the unit of studied conservation and it proposes some actions and alternatives
for the environmental preservation in the National Park of Itatiaia, consonant with the practice
of the tourism in that space, in a balanced way and sustained.
Keywords: tourism, biodiversity, units of conservation, environmental sustainability,
factorial analysis.
ix
Lista de Quadros e Figuras
Quadro 1 – Países com maiores biodiversidades..............................................................21
Figura 1 – Biomas brasileiros ...........................................................................................31
Figura 2 – Impactos dos ciclos econômicos nos biomas brasileiros.................................42
Quadro 2 – Estimativa qualitativa dos impactos ambientais nos biomas brasileiros........45
Quadro 3 – Tipologia de valores econômicos da biodiversidade .....................................46
Quadro 4 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais valorados:
preservação e pesca...........................................................................................................47
Quadro 5 – Princípios regentes de intervenção.................................................................48
Quadro 6 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais valorados:
atividades relacionadas ao turismo....................................................................................49
Quadro 7 – Significância do turismo internacional para países pobres e ricos em
biodiversidade...................................................................................................................50
Figura 3 – Relação turismo e biodiversidade....................................................................50
Quadro 8 – Contribuição da utilização sustentável da Amazônia em diferentes setores
econômicos........................................................................................................................52
Quadro 9 – Turismo sustentável e conservação de biodiversidade..................................56
Quadro 10 – Parâmetros de impacto na biodiversidade....................................................60
Figura 4 – Método IBIS-TA da Costa Rica ......................................................................61
Quadro 11 – Princípios comparados do Ecoturismo em vários países.............................62
x
Quadro 12 –
Ecoturismo: conceitos e princípios comparando organizações ...........63
Quadro 13 – Alvos e indicadores referentes ao objetivo da ONU de garantir a
sustentabilidade ambiental................................................................................................65
Quadro 14 – Aspectos de sustentabilidade mais citados na literatura ..............................69
Figura 5 – Unidades de conservação por grupo e por bioma............................................71
Figura 6 – Localização do Parque Nacional do Itatiaia....................................................72
Figura 7 – Planta e orientação dos atrativos do Parque Nacional do Itatiaia
...................74
xi
Lista de Tabelas e Gráficos
Tabela 1 – Número de espécies conhecidas (descritas) no Brasil e no mundo.................29
Tabela 2 – Áreas dos biomas continentais........................................................................31
Tabela 3 – Exemplos de áreas de tensão de países que possuem crescimento em turismo
de mais que 100 por cento.................................................................................................54
Tabela 4 – Perfis dos turistas de Manuel Antônio/Quepos, Texel e PNI..........................81
Tabela 5 – Médias e desvios-padrão para todos os aspectos avaliados na pesquisa.........83
Gráfico 1 – Importância das dimensões de sustentabilidade no PNI.................................84
Tabela 6 – Comunalidades................................................................................................85
Tabela 7– Matriz de Correlação........................................................................................86
Tabela 8 Autovalores e variância para os 13 fatores...............................................86
Gráfico 2 – Autovalores para cada componente ...............................................................87
Tabela 9 – Matriz dos Componentes (sem rotação)..........................................................87
Tabela 10 – Solução com rotação Varimax, com extração de 4 fatores...........................88
Tabela 11 – Matriz dos componentes com rotação, com 6 fatores...................................90
xii
Lista de Abreviaturas
Sigla Significado
CI.............................................................................................................Conservação internacional
CITES
.. ........................ Conservação sobre o comércio internacional de espécies da flora e fauna
selvagens em perigo de extinção
FMI
..................................................................................................Fundo monetário internacional
IBAMA
...............................................Instituto brasileiro do meio ambiente e recursos renováveis
IBIS-TA
...Sistema integral de avaliação de impactos na biodiversidade das atividades de turismo
IUCN...............................................................União internacional para a conservação da natureza
MMA
................................................................................................. Ministério do Meio ambiente
OCDE
............................................Organização para a cooperação e desenvolvimento econômico
ONU
................................................................................................ Organização das nações unidas
PNI
......................................................................................................... Parque nacional do Itatiaia
PNT
.........................................................................................................Plano nacional do turismo
SNUC
....................................................Sistema nacional de unidades de conservacao da natureza
TIES
..........................................................................................The international ecoturism society
UC
.........................................................................................Unidade de Conservação da Natureza
WCD......................................................................................................World Conservation Union
WWF
..........................................................World Wildlife Fund – Fundo mundial para a natureza
SUMÁRIO
1
Introdução...............................................................................................................14
2
Objetivos..................................................................................................................19
3
A importância da biodiversidade e sua relação com o turismo ...........20
3.1 Biodiversidade no Brasil e no mundo..............................................................20
3.1.1 Legislação brasileira sobre meio ambiente e conservação da biodiversidade..... 22
3.1.2 Fauna e flora brasileiras e espécies ameaçadas de extinção......................27
3.2 Biomas brasileiros...........................................................................................30
3.2.1 Amazônia...................................................................................................32
3.2.2 Cerrado ......................................................................................................33
3.2.3 Caatinga.....................................................................................................34
3.2.4 Pantanal .....................................................................................................36
3.2.5 Pampas ou campos sulinos........................................................................38
3.2.6 Zona costeira .............................................................................................39
3.2.7 Mata atlântica ............................................................................................40
3.3 Impactos e valoração da biodiversidade..........................................................44
3.4 Turismo e biodiversidades...............................................................................47
3.5 Ecoturismo: valorização da natureza com a vivência do turismo ...................55
3.6 Uso turístico da biodiversidade no mundo......................................................58
3.7 Turismo e sustentabilidade ambiental.............................................................64
3.8 Turismo em unidades de conservação da natureza..........................................69
3.8.1 Unidades de conservação no Brasil...........................................................70
3.8.2 Parque Nacional do Itatiaia........................................................................71
4
Metodologia ............................................................................................................75
5
Resultados e discussão .......................................................................................80
5.1 Perfil dos turistas.............................................................................................80
5.2 Percepções dos turistas das dimensões de sustentabilidade ............................82
5.3 Interesses dos turistas......................................................................................84
5.4 Análise das entrevistas e observação participante...........................................90
6
Considerações finais ............................................................................................95
7
Referências..............................................................................................................99
8
Anexos.....................................................................................................................102
9
Apêndice ................................................................................................................105
14
1 – Introdução
A atividade turística associada aos ambientes naturais tem colocado em
evidência a importância da preservação, conservação e manutenção das diversas áreas
naturais. Hoje em dia há uma forte consciência dos impactos causados por atividades
turísticas no meio ambiente, sabidamente sensível à presença e ocupação humanas. A
complexidade dos ecossistemas e a dificuldade de avaliação dos impactos, advindos da
exploração turística dos espaços, dificultam a implantação de práticas de conservação. O
planejamento, controle e, principalmente, o monitoramento dos ecossistemas e do meio
ambiente são imprescindíveis à realização das atividades turísticas. Não há, atualmente,
consenso sobre as metodologias a serem utilizadas.
Apesar da importância do tema, não existem muitos trabalhos sobre
sustentabilidade associada ao turismo (DAEMON, 2002; AMEND et al., 2002; COTTRELL
et al., 2004).
Os turistas mostram-se atentos às mudanças ambientais do planeta, mas, como
a maioria da população, por falta de conhecimento ou inércia em relação à mudança requerida
de comportamento, geralmente contribuem pouco para a manutenção dos recursos naturais e o
equilíbrio dos ecossistemas. A biodiversidade associada ao turismo sustentável pode tornar-se
um poderoso instrumento de fomento ao desenvolvimento sócio-econômico de uma região.
Para tal, procura-se ordenar a exploração turística, com a melhoria do relacionamento entre os
turistas e a comunidade receptora com o meio ambiente. Desta forma, os benefícios,
principalmente sócio-culturais, ampliam-se, enquanto minimizam-se os efeitos negativos,
principalmente ambientais, da atividade turística em áreas naturais.
15
Todo patrimônio ambiental exige de todos os envolvidos ações concretas para
garantir que sua existência chegue às gerações futuras, garantindo a sobrevivência de
inúmeras espécies animais e vegetais e até mesmo da própria humanidade.
O conceito de sustentabilidade engloba claramente o meio ambiente, as
pessoas das comunidades envolvidas e os sistemas econômicos (UNSD, 2007). Nesta
perspectiva, há que se considerar um horizonte de ação de longo prazo e a necessidade de
intervenção e planejamento.
Duim e Caalders (2002) discutem a relação entre turismo e biodiversidade.
Eles enfatizam que "medir os impactos do turismo sobre a biodiversidade é uma tarefa
extremamente complexa e cara e os chamados estudos sobre a relação dose-efeito apresentam
diversas fragilidades". Na literatura especializada sobre biodiversidade e turismo, um modelo
muito citado como bem sucedido foi desenvolvido na Costa Rica, localizada na América
Central. Neste país, existe um plano denominado “Sistema Integral de Avaliação de Impactos
na Biodiversidade das Atividades de Turismo” conhecido pela sigla em inglês IBIS-TA. Em
termos gerais, trata-se de um sistema para investigar os impactos positivos e negativos
ocasionados pelas atividades de turismo na biodiversidade, em que são avaliadas
conjuntamente as diferentes formas de impacto (RAINFOREST & CREM, 2006).
A Costa Rica é líder mundial em conservação da natureza (MILLER, 2007).
Estima-se que possui cerca de 500 mil espécies de fauna e flora. Somente uma unidade de
conservação da Costa Rica possui mais espécies de pássaros do que há em toda América do
Norte (Idem).
O país possui um sistema de reservas e parques nacionais que, por volta de
2004, totalizava cerca de um quarto de seu território. Ao todo, os parques e reservas estão
consolidados em oito megarreservas, que sustentam aproximadamente 80% da biodiversidade
da Costa Rica. Cada reserva contém um núcleo protegido, circundado por duas zonas de
16
amortecimento. O resultado turístico e econômico é um sucesso: a maior fonte de renda do
país são os negócios turísticos, cuja receita supera um bilhão de dólares americanos anuais,
sendo dois terços oriundos do ecoturismo (Ibidem).
O Brasil, por sua vez, sempre foi conhecido pela grandiosidade de sua flora e
riqueza de sua fauna. Esta grandiosidade pode ser compreendida pela expressiva diversidade.
Abriga entre 10 a 20% do número de espécies conhecidas pela ciência, e cerca de 30% das
florestas tropicais no mundo (MMA, 1998). Possui o maior número de espécies conhecidas de
mamíferos, peixes de água doce e plantas superiores; o segundo em riqueza de anfíbios, o
terceiro em aves e o quinto em répteis. Por ser um dos países mais ricos em biodiversidade do
planeta (MMA, 1998), pode e deve utilizar todo seu potencial para o desenvolvimento do
turismo.
O objetivo geral deste trabalho foi estudar a relação existente entre a
biodiversidade, o turismo e a sustentabilidade em uma unidade de conservação da natureza.
Para isso, foi realizada uma pesquisa de campo feita com turistas do Parque Nacional do
Itatiaia visando identificar suas opiniões sobre os vários aspectos que envolvem a questão da
biodiversidade e a sustentabilidade no ambiente natural das unidades de conservação (UC’s).
Analisou-se a biodiversidade no Brasil e como o turismo pode utilizar a
biodiversidade para promover o desenvolvimento das localidades e contribuir com a sua
conservação de maneira sustentada.
Essa análise acontece em uma das principais unidades de conservação do país:
o Parque Nacional do Itatiaia. Avalia a questão da biodiversidade no Brasil e seu
relacionamento com o desenvolvimento do turismo em unidades de conservação do país.
O trabalho também descreve as políticas de conservação da biodiversidade em
áreas de interesses turísticos, estímulos para atividades turísticas em espaços protegidos e
impactos decorrentes do turismo sobre a biodiversidade. Apresenta resultados provenientes de
17
pesquisa documental sobre a situação da biodiversidade e sobre a importância dos estudos
ambientais e turísticos já realizados para elaboração do planejamento turístico e que possam
contribuir para a conservação de espécies da fauna e flora brasileira. Discorre sobre algumas
políticas e práticas que contribuem para minimizar os impactos do turismo sobre a
biodiversidade e destaca os principais interessados na conservação da biodiversidade em
outros países. Analisa estratégias e programas oficiais de proteção da biodiversidade
realizados por países e organizações e destaca como o turismo pode contribuir e beneficiar-se
desses programas.
O estudo apresenta também modelos de gestão de unidades de conservação de
outros países e interpreta os resultados da pesquisa realizada no Parque Nacional do Itatiaia.
Compara os resultados com estudos semelhantes desenvolvidos em outras unidades de
conservação pelo mundo e aponta alternativas e propostas para otimizar a utilização turística
dessas áreas, sabidamente sensíveis à presença e ocupação humanas. Fez-se uma análise da
biodiversidade no Brasil e de como o turismo pode utilizar a biodiversidade para promover o
desenvolvimento das localidades e ao mesmo tempo contribuir para sua conservação
(HÜBNER et al., 2007). Em seguida, produziu-se uma pesquisa de campo feita com turistas
do Parque Nacional do Itatiaia visando identificar a sua opinião sobre os vários aspectos que
envolvem a sustentabilidade no ambiente natural das unidades de conservação (UC’s).
Por tudo isso, o estudo proporciona a inserção do turismo nessa prática social e
coletiva: a preservação do meio ambiente. Analisa como ocorre a interação do turismo com o
meio natural e como o comportamento da sociedade interfere na ação turística, por meio do
seu fluxo, impactos e contribuições para uma maior sensibilização e conscientização de
turistas, moradores e empreendedores sobre a importância da preservação. O estudo poderá
contribuir para sistematizar cientificamente ações da atividade turística e tornar-se
18
instrumento de educação ambiental, formando cidadãos mais conscientes e responsáveis pelo
patrimônio biótico e ambiental.
19
2 – Objetivos
O objetivo geral deste trabalho foi estudar a relação existente entre a
biodiversidade e o turismo em uma unidade de conservação da natureza, tendo como objeto
de estudo o Parque Nacional do Itatiaia.
Os objetivos específicos foram:
Identificar como a biodiversidade constitui-se como motivação da
visita ao Parque Nacional do Itatiaia;
Analisar como se desenvolve o turismo nesta unidade de conservação a
partir da percepção do turista sobre a biodiversidade e a sustentabilidade
ambiental;
Estudar a sustentabilidade e a atividade turística no ambiente natural da
Unidade de conservação.
20
3 – A importância da biodiversidade e sua relação com o turismo
A biodiversidade representa, devido aos seus múltiplos aspectos científicos e
curiosos, um extenso campo de utilização turística. Locais preparados para receber visitação
turística com o objetivo de apreciar a biodiversidade ocorrem em espaços públicos e privados,
como parques, reservas, florestas, estações ecológicas, etc. A presença humana nestes espaços
deve ser contínuo objeto de estudo e pesquisa, devido à necessidade de manejo destes
ambientes, muitos deles sensíveis e com espécies endêmicas ou ameaçadas de extinção.
O turismo, em alguns casos, é uma atividade que coloca em risco a
sobrevivência de espécies da flora e da fauna. Dessa forma, nota-se a obrigação de planejar e
organizar a atividade turística e suas implicações, positivas e negativas, nos espaços
protegidos, nas unidades de conservação da natureza e áreas naturais diversas.
3.1 – Biodiversidade no Brasil e no mundo
A importância do Brasil na biodiversidade pode ser notada devido às cerca de
200.000 espécies que já foram descritas no país. Estima-se, entretanto, que a biodiversidade
brasileira seja composta por um número 6 a 10 vezes maior (THIELEN, 2001). Com a
participação do Brasil, a América Latina é a maior contribuinte para a biodiversidade
mundial, tanto em cultivos alimentares como em cultivos industriais. Os países sul-
americanos ordenam-se primeiro em angiospermas (Brasil), mamíferos (Brasil), anfíbios
(Colômbia), aves (Colômbia), peixes dulcícolas (Brasil) e borboletas (Peru). O QUADRO 1
mostra os países com maiores biodiversidades no mundo. Brasil, Colômbia, Equador, Peru e
Venezuela possuem mega-diversidade biológica. A América Latina é a região com maior
21
número de espécies endêmicas. O endemismo – que torna as espécies mais vulneráveis à
extinção – é uma grande responsabilidade desses países (THIELEN, 2001).
Se não houver critérios científicos e eficazes para intervenção no meio natural,
muito desta biodiversidade pode ser comprometida, como já é o caso do grande número de
espécies ameaçadas de extinção no país. Assim, ocorre o comprometimento também dos
vários segmentos do turismo que têm a biodiversidade como fator de sustentação.
QUADRO 1 – Países com maiores biodiversidades
Classi-
ficação
Plantas
superiors
*
Mamíferos Aves Répteis Anfíbios Peixes de
água doce
Borboletas
1
Brasil Brasil
Colômbia Austrália Colômbia
Brasil
Peru
53.000 524
1.815 755 583
>3.000
3.532
2 Colômbia Indonésia Peru México
Brasil
Colômbia
Brasil
47.000 515 1.703 717
517
>1.500
3.132
3 Indonésia China
Brasil
Colômbia Equador Indonésia Colômbia
37.000 499
1.622
520 402 1.400 3.100
4 China Colômbia Equador Indonésia México Venezuela Bolívia
28.000 456 1.559 511 284 1.250 3.000
5 México México Indonésia
Brasil
China China Venezuela
24.000 450 1.531
468
274 1.010 2.316
6 África do Sul EUA Venezuela Índia Indonésia R.D. Congo México
23.000 428 1.360 408 270 962 2.237
7 Equador
R.D.
Congo
Índia China Peru Peru Equador
19.000 415 1.258 387 241 855 2.200
8 Peru Índia Bolívia Equador Índia Tanzânia Indonésia
19.000 350 1.257 374 206 800 1.900
9 P.N. Guiné Peru China P.N. Guiné Venezuela EUA R.D. Congo
18.000 344 1.244 305 204 790 1.650
10 Venezuela Uganda
R.D.
Congo
Madagascar P.N. Guiné Índia Camarões
18.000 315 1.094 300 200 750 1.550
*
Angiospermas, Gimnospermas e Pteridófitas
Fonte: Mittermeier et al., 1997.
22
3.1.1 – Legislação brasileira sobre meio ambiente e conservação da biodiversidade
A Constituição da República Federativa do Brasil refere-se ao meio ambiente
em diversos momentos. A primeira referência está no art. 23: “É competência da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos municípios: (...) III: proteger os documentos, as obras e
outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
notáveis e os sítios arqueológicos”. Continua no Inciso VI: “proteger o meio ambiente e
combater a poluição em qualquer de suas formas”; e VII: “preservar as florestas, a fauna e a
flora”.
No artigo 24, “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: [...] VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição”;
VII – “proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico”, e VII –
“responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico”.
A alusão ao meio ambiente volta a aparecer no artigo 170: “A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os
seguintes princípios: [...] VI – defesa do meio ambiente”.
Outra menção do texto constitucional ao meio ambiente aparece no artigo 216:
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: (...) V – os
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico,
paleontológico, ecológico e científico”.
23
Certamente, o mais expressivo é o artigo 225: “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O artigo 225 prossegue, listando as
incumbências do poder público para assegurar a efetividade desse direito.
Alguns autores – Thielen (2001), Rocha (2002), Costa (2002), Pires (2005) –
afirmam ser o Brasil destaque entre os países detentores das melhores legislações sobre meio
ambiente do mundo. Mas ainda há muito por se fazer. É preciso fazer cumprir a legislação e
ser bastante eficiente em sua formulação.
No âmbito internacional, em 1992, 175 países reuniram-se no Rio de Janeiro
para ratificar o Fórum Nacional de Biodiversidade, ocorrido em Washington em 1988,
incluindo a Convenção de Diversidade Biológica.
A Convenção de Diversidade Biológica nasceu da necessidade de analisar a
deterioração da natureza, mais especificamente a extinção e o declínio de espécies. Assim, os
estados iniciaram as ações para promover a conservação da biodiversidade.
Na convenção, biodiversidade é conceituada como
a variabilidade entre organismos vivos de todos os tipos inclui, inter alia,
ecossistemas aquáticos, terrestres, marinhos e outros e os complexos ecológicos de
transição que os separam; isto inclui diversidade dentro de espécies, entre espécies e
de ecossistemas.
Em 2000, o Brasil instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza, o SNUC – LEI 9.985, de 18 de julho de 2000. O SNUC regulamenta as unidades
de conservação e cria duas categorias: as unidades de proteção integral e as unidades de uso
sustentável
1
.
1
A LEI 9.985, de 18 de julho de 2000, apresenta todas as características, categorias e classificações das unidades
de conservação do Brasil.
24
As unidades de conservação da natureza de proteção integral possuem grandes
restrições de uso, tendo como objetivo básico a preservação ambiental. Os recursos naturais
são usados apenas indiretamente, sem causar alterações significativas em seus componentes
naturais, como as pesquisas científicas e a visitação pública educativa, controlada com rigor.
As categorias de manejo que compõem o grupo das unidades de conservação de proteção
integral são:
Estação ecológica;
Reserva biológica;
Parque Nacional;
Monumento Natural;
Refugio de vida silvestre.
As unidades de conservação de uso sustentável possuem restrições mais
flexíveis de utilização, aliando a conservação ambiental com o uso sustentável de parte de
seus recursos naturais. As unidades de uso sustentável são:
Área de proteção ambiental;
Área de relevante interesse ecológico;
Floresta nacional;
Reserva extrativista;
Reserva de fauna;
Reserva de desenvolvimento sustentável;
Reserva particular do patrimônio natural.
Não se pode pensar na relação única e exclusiva da biodiversidade enquanto
recurso natural sem relacionar o seu uso, desde que de maneira sustentada, ao
desenvolvimento social e econômico. A preservação e conservação da biodiversidade
25
constitui-se como um grande valor econômico e social e seu uso, de forma sustentada, deve
atender aos interesses políticos coletivos.
A World Conservation Union (WCD, 1987) reconhece a necessidade de
conservar-se a biodiversidade em três níveis: 1 - a diversidade genética; 2 - a diversidade de
espécies; 3 - a diversidade de ecossistemas. A diversidade genética é essencial para a
existência das espécies, pois permite as adaptações às mudanças ambientais. Por sua vez, a
diversidade das espécies é estratégica para a humanidade, seja na medicina ou na produção de
alimentos. A manutenção de diversidade genética é fundamental para a conservação de
comunidades ecológicas em longo prazo. Os mais diversos processos ecológicos, desde a
extinção de uma espécie até a existência de grupos taxonômicos altamente diversificados,
dependem intimamente da diversificação genética dentro e entre espécies, sendo o
sustentáculo da diversidade biológica nos diferentes ecossistemas. A diversidade de
ecossistemas garante a sobrevivência de espécies endêmicas e a manutenção da diversidade
genética e da diversidade de espécies.
Para a proteção da biodiversidade nos três níveis citados acima, algumas
estratégias foram adotadas pelo Brasil. Entre elas são apresentados os avanços na legislação,
no planejamento e nos programas de manejo de espécies e recomposição da vegetação nativa
(GEO BRASIL, 2002). Há também a ratificação da Convenção sobre Diversidade Biológica
(1992), onde a assinatura do Brasil reassume e reforça o compromisso constitucional de
proteger a biodiversidade e o patrimônio genético do país, dando um novo impulso na história
das unidades de conservação do país (BIODIVERSITAS, 2005).
A elaboração e posterior efetivação de uma lista contendo as espécies
consideradas sob ameaça de extinção (lista vermelha), realizada por meio do estabelecimento
de critérios científicos e consulta a especialistas, constitui-se uma ferramenta legal básica para
a preservação dessas espécies (BIODIVERSITAS, 2005).
26
O principal papel das listas vermelhas é informar e alertar os tomadores de
decisão, profissionais da área de meio ambiente, conservacionistas e a opinião pública em
geral sobre a crescente dilapidação do patrimônio genético que se observa hoje em todo o
planeta. Se bem entendidas, as listas podem e devem influenciar o desenho das políticas
públicas e privadas de ocupação e uso do solo, a definição e priorização de estratégias de
conservação, o estabelecimento de medidas que visem reverter o quadro de ameaça às
espécies, além de direcionar a criação de programas de pesquisa e formação de profissionais
especializados.
As listas vermelhas são um mecanismo utilizado internacionalmente, por
exemplo, como maneira de conter o tráfico e o comércio ilegal de espécies, conforme disposto
nos anexos da Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies da Flora e Fauna
Selvagens em Perigo de Extinção (CITES), da qual o Brasil é signatário desde 1975.
Para classificar as espécies foram propostas categorias de ameaças baseadas
em critérios adotados pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN),
referência mundial na elaboração das Listas Vermelhas. Os critérios da IUCN buscam
evidências relacionadas ao tamanho, isolamento ou declínio populacional das espécies e
extensão de suas áreas de distribuição. A partir desses dados, as espécies são agrupadas
conforme as categorias: extinta, extinta na natureza, criticamente em perigo, em perigo,
vulnerável, quase ameaçada e deficiente em dados.
As informações contidas nestes documentos fornecem subsídios para a
formulação de políticas de fiscalização, criação de unidades de conservação e definição sobre
a aplicação de recursos técnicos, científicos, humanos e financeiros em estratégias de
recuperação da fauna e flora ameaçadas.
A Fundação Biodiversitas, o Ministério do Meio Ambiente, o Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis – Ibama, a Sociedade Brasileira de
27
Botânica, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a Rede Brasileira de Jardins Botânicos e a a
Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte são os organismos responsáveis pela elaboração das
listas vermelhas no Brasil. Nesse processo, a coordenação dos trabalhos conta com o apoio da
comunidade científica brasileira: especialistas, pesquisadores e interessados que contribuem
com seus conhecimentos nessa avaliação. A lista oficial traz um anexo: as espécies antes
classificadas como vulneráveis passam a ameaçadas de sobreexplotação, ou seja, a espécies
com captura tão elevada que supera os níveis de segurança para a sua continuidade.
São duas as listas vermelhas: uma sobre as espécies ameaçadas da fauna
brasileira, e outra dobre a flora brasileira.
3.1.2 – Fauna e flora brasileiras e espécies ameaçadas de extinção
A Fundação Biodiversitas, em parceria com a Conservação Internacional do
Brasil, publicou o livro da Lista da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. A publicação
contém a Lista Oficial homologada pelas Instruções Normativas 03/2003 e 05/2004 do
Ministério do Meio Ambiente (BIODIVERSITAS, 2006).
A Lista Brasileira da Fauna Ameaçada possui 395 espécies terrestres e 239
espécies aquáticas (79 espécies de invertebrados aquáticos e 160 peixes), elaborada através do
conhecimento científico de especialistas, subsídio básico para a definição das políticas de
conservação do nosso país, em dados divulgados pela Fundação Biodiversitas. Encontram-se
aí o Guaiamum, o Caranguejo-uça, além de seis peixes, entre eles o tubarão-azul. A inclusão
desses animais na nova categoria foi aprovada pelos pesquisadores que coordenam a
elaboração da lista. A instrução normativa que norteia as ações define também o
desenvolvimento de planos de manejo que assegurem níveis populacionais viáveis às espécies
sobreexplotadas (BIODIVERSITAS, 2006).
28
Para se ter uma idéia da atual situação da fauna brasileira, do total de 633
táxons apontados na Lista, 624 estão classificados em uma das três categorias de ameaça
(criticamente em perigo, em perigo e vulnerável) adotadas para a avaliação e 09 em uma das
duas categorias de extinção. Os vertebrados somam 67% do total de espécies indicadas sendo
que, entre estes, estão cerca de 13% das espécies brasileiras de mamíferos. O bioma Mata
Atlântica, que é predominante no Parque Nacional do Itatiaia, é o que apresenta maior número
de espécies ameaçadas ou extintas, com 383 táxons, seguido pelo Cerrado (112), Zona
Costeira (92), Campos Sulinos – Pampas (60), Amazônia (58), Caatinga (43) e Pantanal (30).
Isso significa que, em conjunto, Mata Atlântica e Cerrado respondem por mais de 78% das
espécies da lista, ou seja, 495 táxons.
A adoção de estratégias para reverter o processo de espécies ameaçadas
constitui-se num grande desafio para os governantes atuais.
A TABELA 1 apresenta a expressiva biodiversidade brasileira, relacionando os
números do Brasil ao número de espécies conhecidas no mundo.
29
TABELA 1 – Número de espécies conhecidas (descritas) no Brasil e no mundo
REINO / Filo ou Subdivisão Brasil Mundo
VÍRUS 250 – 400 3.600
MONERA – bactérias e algas verde-azuladas 1.100 - 1.350 4.760
FUNGOS 12.500 - 13.500 70.500 – 72.000
PROTISTAS 7.000 - 9.900 75.300
Protozoários 2.600 - 3.900 36.000
Algas 4.100 - 5.700 37.700
PLANTAS 45.300 - 49.500 264.000 – 279.400
Musgos (Briófitas) 3.1 14.000 – 16.600
Samambaias (Pteridófitas) 1.200 - 1.400 9.600 – 12.000
Coníferas – pinheiros (Gimnospermas) 15 806
Plantas de flor com ovário (Angiospermas) 40.000 - 45.000 240.000 – 250.000
ANIMAIS 113.000 - 151.000 1.287.000 - 1.330.000
Invertebrados 107.000 - 145.000 1.236.000 - 1.287.000
Esponjas (Poríferos) 300 - 400 6.000 – 7.000
Corais e águas-vivas (Cnidários) 470 11.000
Vermes achatados (Platelmintos) 900 - 1300 12.200
Vermes redondos (Nematódeos) 1.000 - 2.200 15.000 – 25.000
Minhocas e poliquetas (Anelídeos) 1.000 - 1.100 70.000 – 100.000
Moluscos 2.6 7.000
Estrelas-do-mar, ouriços (Equinodermas) 329
"Artrópodes"
Insetos 91.000 - 126.000 950.000
Centopéias e gongolos (Miriápodes) 400 - 500 11.000 – 15.100
Aranhas e ácaros (Aracnídeos) 5.600 - 6.500 92.500
Crustáceos 2.04 36.200 – 39.300
Cordados (Vertebrados e outros) 6.2 41.400 – 42.200
Tubarões e raias (Condrictes) 150 960
Peixes (com ossos – Osteíctes) 2.66 13.070
Anfíbios 600 4.220
Répteis 468 6.460
Aves 1.677 9.700
Mamíferos 524 4.650
TOTAL
179.000 - 226.000 1.706.000 - 1.766.000
Fonte: GEO BRASIL, 2002 (modificado de Lewinsohn & Prado, 2000).
30
3.2 – Biomas brasileiros
Bioma é conceituado como um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído
pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com
condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em
uma diversidade biológica própria (MMA, 2007). Em outras palavras, um bioma é formado
por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação tem bastante similaridade
e continuidade, com um clima mais ou menos uniforme, tendo uma história comum em sua
formação. Por isso tudo, sua diversidade biológica também é muito parecida.
O Brasil possui sete biomas diferentes, com características e biodiversidade
distintas: Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Pampas – também chamado de Campos
Sulinos – Zona Costeira e a Mata Atlântica. Há também as áreas de transição entre os biomas.
A Mata Atlântica abriga 27% das espécies de plantas conhecidas no planeta. O
cerrado é a savana mais rica entre todas as existentes e cerca de 40% de suas plantas são
endêmicas. Na Caatinga este número chega a 30% das espécies arbóreas e arbustivas
descritas. O Pantanal é a maior planície inundável do planeta e a Floresta Amazônica é a
maior floresta tropical remanescente em todo o globo, detentora de 10% da água doce
disponível no mundo. A proteção e o uso sustentável dos recursos naturais oferecidos por
esses ecossistemas vai garantir a qualidade de vida futura, cabendo à sociedade atual a
consciência da necessidade de uma ação efetiva tanto individualmente como por meio de
políticas públicas que garantam a preservação, tanto das espécies como dos ecossistemas
(MMA, 1998).
A FIGURA 1 mostra os biomas do Brasil e suas áreas de transição, onde são
encontradas espécies de fauna e flora comuns aos biomas originários, desde a época do
31
descobrimento do país. Os biomas continentais brasileiros têm as áreas mostradas na
TABELA 2:
FIGURA 1 – Biomas brasileiros
Fonte: WWF, 2007.
TABELA 2 – Áreas dos biomas continentais
BIOMAS ÁREA (Km
2
) % TERRITORIAL
Amazônia 4.196.943 49,29%
Cerrado 2.036.448 23,92%
Mata Atlântica 1.110.182 13,04%
Caatinga 844.453 9,92%
Pampa 176.496 2,07%
Pantanal 150.355 1,76%
Total 8.514.877 100%
Fonte: adaptado de IBGE(2000).
32
3.2.1 – Amazônia
A floresta amazônica abriga 2.500 espécies de árvores (um terço da madeira
tropical do planeta) e 30 mil das 100 mil espécies de plantas que existem em toda a América
Latina. Dessa forma, o uso dos recursos florestais pode ser estratégico para o
desenvolvimento da região. As estimativas de estoque indicam um valor não inferior a 60
bilhões de metros cúbicos de madeira em tora de valor comercial, o que coloca a região como
detentora da maior reserva de madeira tropical do mundo. A Amazônia é, também, a principal
fonte de madeira de florestas nativas do Brasil. O setor florestal contribuiu com 15% a 20%
do Produto Interno Bruto (PIB) dos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia (GEO
BRASIL, 2002).
Aproximadamente 15% da floresta amazônica original já foi destruída e o
governo federal estima que esse percentual chegue a 25% até 2020. Para inibir o
desmatamento e ampliar os programas de conservação, são utilizadas políticas de estado que
já estão em vigor no país, como a criação de parques e florestas nacionais, os planos de
manejo e o controle do desmatamento via satélite. Um exemplo disso é o Parque Nacional do
Jaú, criado em 1986, o terceiro maior parque de floresta tropical do mundo, com área total
superior à do estado de Sergipe, 22.720 km2 (THIELEN, 2001).
A regeneração da floresta é mais rápida nas áreas manejadas; há evidências de
que o manejo reduz pela metade o tempo necessário para uma segunda extração em florestas
já exploradas. Sendo assim, o manejo florestal é incentivado, especialmente em unidades de
conservação da natureza.
Em comparação com os demais biomas brasileiros, a Amazônia é o que detém
o maior número de áreas de proteção integral (26) e também o maior percentual de florestas
oficialmente protegidas (3,2% da área total do bioma). No entanto, apenas 0,38% da área dos
33
parques e reservas hoje existentes na Amazônia está minimamente protegida de fato, pois os
restantes ainda não foram implementados ou encontram-se muito próximos a cidades (Funbio,
2004).
3.2.2 – Cerrado
A principal característica do Cerrado são as estações climáticas divididas em
duas estações muito bem diferenciadas: a estação da seca e a estação das chuvas. Essa
característica, que ocorre há milhões de anos, consolidou as formas de vida e a geologia do
local.
O Cerrado é uma savana tropical. A vegetação herbácea coexiste com mais de
420 espécies de árvores e arbustos esparsos. O solo, antigo e profundo, ácido e de baixa
fertilidade, tem altos níveis de ferro e alumínio (MMA, 2007).
Esse bioma também se caracteriza por suas diferentes paisagens, que vão desde
o cerradão (com árvores altas, densidade maior e composição distinta), passando pelo cerrado
mais comum no Brasil central (com árvores baixas e esparsas), até o campo cerrado, campo
sujo e campo limpo (com progressiva redução da densidade arbórea). Ao longo dos rios há
fisionomias florestais, conhecidas como florestas de galeria ou matas ciliares. Essa
heterogeneidade abrange muitas comunidades de mamíferos e de invertebrados, além de uma
importante diversidade de microorganismos, tais como fungos associados às plantas da região
(MMA, 2007).
O Cerrado tem a seu favor o fato de ser cortado por três das maiores bacias
hidrográficas da América do Sul (Tocantins, São Francisco e Prata), favorecendo a
manutenção de uma biodiversidade surpreendente. Estima-se que a flora da região possua 10
mil espécies de plantas diferentes (muitas usadas na produção de cortiça, fibras, óleos,
34
artesanato, além do uso medicinal e alimentício). 759 espécies de aves se reproduzem na
região, 180 espécies de répteis, 195 de mamíferos, sendo 30 tipos de morcegos catalogados na
área. O número de insetos é surpreendente: apenas na área do Distrito Federal há 90 espécies
de cupins, mil espécies de borboletas e 500 tipos diferentes de abelhas e vespas (GEO
BRASIL, 2002).
O Cerrado tem um clima tropical com uma estação seca pronunciada. A
topografia da região varia entre plana e suavemente ondulada, favorecendo a agricultura
mecanizada e a irrigação. Estudos recentes indicam que apenas cerca de 20% do Cerrado
ainda possui a vegetação nativa em estado relativamente intacto (GEO BRASIL, 2002).
Depois da Mata Atlântica, o Cerrado é o ecossistema brasileiro que mais
alterações sofreu com a ocupação humana. Um dos impactos ambientais mais graves na
região foi causado por garimpos, que contaminaram os rios com mercúrio e provocaram o
assoreamento dos cursos de água (bloqueio por terra). A erosão causada pela atividade
mineradora tem sido tão intensa que, em alguns casos, chegou até mesmo a impossibilitar a
própria extração do ouro rio abaixo. Nos últimos anos, contudo, a expansão da agricultura e
da pecuária representa o maior fator de risco para o Cerrado.
3.2.3 – Caatinga
No idioma tupi, Caatinga quer dizer Mata Branca, referência à vegetação sem
folhas que predomina durante a época de seca. A perda das folhas da vegetação da Caatinga é
estratégica. Sem folhas, as plantas reduzem a superfície de evaporação quando falta água.
Estudos recentes mostram que cerca de 327 espécies animais são endêmicas
(exclusivas) da Caatinga. São típicas da área 13 espécies de mamíferos, 23 de lagartos, 20 de
peixes e 15 de aves. Entre as plantas há 323 espécies endêmicas (BIODIVERSITAS, 2006).
35
É da Caatinga a ave com maior risco de extinção no Brasil, a ararinha-azul
(Anodorhynchus spix), da qual só se encontrou um único macho na natureza. Também vive ali
a segunda mais ameaçada do país, a arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). Habitam os
arredores de Canudos (BA), e há menos de 150 exemplares, um décimo da população ideal no
caso de aves, que demoram a se reproduzir (Idem).
Cerca de metade da paisagem da Caatinga já foi deteriorada pela ação do
homem. De 15% a 20% do bioma estão em alto grau de degradação e risco de desertificação
(GEO BRASIL, 2002).
Uma área de Caatinga mais conservada pode abrigar cerca de 200 espécies de
formigas, enquanto nas mais degradadas há de 30 a 40. Na estação seca a temperatura do solo
pode chegar a 60ºC. Comparada a outras regiões brasileiras, a Caatinga apresenta muitas
características meteorológicas extremas: a mais alta radiação solar, baixa nebulosidade, alta
temperatura média anual, baixas taxas de umidade relativa, e, sobretudo, precipitações baixas
e irregulares, limitadas, na maior parte da área, a um período muito curto no ano. Fenômenos
catastróficos são muito freqüentes, tais como secas e cheias, que, sem dúvida alguma, têm
modelado a vida animal e vegetal particular da Caatinga. (GEO BRASIL, 2002).
Assim, as espécies que habitam o bioma tiveram que encontrar maneiras de se
adaptar ao ambiente semi-árido. As mais típicas dentre as 932 espécies de plantas existentes
na Caatinga são prova dessa adaptação. A suculência é uma das principais características
fisiológicas observadas nas plantas da Caatinga, o que lhes permite suportar o período das
secas. Órgãos de armazenamento de água são típicos em alguns casos como o do umbuzeiro
(Spondias tuberos), das barrigudas (Cavanillesia arborea), das maniçobas (Manihot spp.), do
pau-mocó (Luetzelburgia auriculata), do xique-xique (Pilosocereus gounellei), do mandacarú
(Cereus jamacaru), dentre outras. (BIODIVERSITAS, 2006).
36
Estima-se que a vegetação da Caatinga não tenha se alterado por um período
muito longo, como indicam as evidências geológicas. Dessa forma, um acentuado grau de
endemismo, ou seja, de espécies que só existem lá e em nenhum outro lugar, pode ser
observado na flora e em alguns grupos da fauna, como as aves. Em levantamento recente, da
Conservação Internacional do Brasil, CI-Brasil, existem 516 espécies de aves na Caatinga, das
quais 469 se reproduzem na região. Entre estas, 284 (60,5%) dependem de florestas para
sobreviver. De forma mais específica, a conservação da Caatinga é importante para a
manutenção dos padrões regionais e globais do clima, da disponibilidade de água potável, de
solos agricultáveis e de parte importante da biodiversidade do planeta (CONSERVAÇÃO
INTERNACIONAL, 2003).
3.2.4 – Pantanal
O bioma do Pantanal foi reconhecido em 2000 como Reserva da Biosfera.
Essas reservas, declaradas pela Unesco, são instrumentos de gestão e manejo sustentável
integrados que permanecem sob a jurisdição dos países nos quais estão localizadas. O
equilíbrio desse bioma depende, basicamente, do fluxo de entrada e saída de enchentes que,
por sua vez, está diretamente ligado à pluviosidade regional. (MMA, 2007).
Apresenta grande diversidade de espécies de plantas superiores, como árvores
e arbustos (1.647 espécies) e alta diversidade de fauna: 263 espécies de peixes, 122 espécies
de mamíferos, 93 espécies de répteis, 1.132 espécies de borboletas e 656 espécies de aves
(BIODIVERSITAS, 2006). Existem mais espécies de aves no Pantanal (656 espécies) do que
na América do Norte (cerca de 500) e mais espécies de peixes de água doce do que na Europa
(263 no Pantanal contra aproximadamente 200 em rios europeus).
37
As cheias anuais dos rios da região atingem cerca de 80% do Pantanal e
transformam a região em um impressionante lençol d'água, afastando parte da população rural
que migra temporariamente para as cidades ou vilas. O reduzido desnível da região produz a
inundação periódica do Pantanal. Além disso, o relevo faz com que o Rio Paraguai ande bem
devagar. (GEO BRASIL, 2002).
A cada 24 horas, cerca de 178 bilhões de litros de água entram na planície
pantaneira. Todos os anos os rios carregam para o Pantanal cerca de 50 milhões de toneladas
de terra e areia. Somente um terço dos sedimentos deixa a região, fazendo com que o acúmulo
de resíduos altere o leito dos rios e aumente a área alagada. (GEO BRASIL, 2002).
As chuvas fortes são comuns nesse bioma. Os terrenos, quase sempre planos,
são alagados periodicamente por inúmeros corixos e vazantes entremeados de lagoas e leques
aluviais. Na época das cheias estes corpos comunicam-se e mesclam-se com as águas do Rio
Paraguai, renovando e fertilizando a região.
De forma geral, as chuvas ocorrem com maior freqüência nas cabeceiras dos
rios que deságuam na planície. Com o início do trimestre chuvoso nas regiões altas, a partir de
novembro, sobe o nível de água dos rios, provocando as enchentes. Em maio inicia-se a
"vazante" e as águas começam a baixar lentamente. Quando o terreno volta a secar,
permanece sobre a superfície uma fina mistura de areia, restos de animais e vegetais,
sementes e húmus, propiciando grande fertilidade ao solo.
A natureza repete anualmente o ciclo das cheias, proporcionando ao Pantanal a
renovação da fauna e flora local. Esse enorme volume de água, que praticamente cobre a
região pantaneira, forma um verdadeiro mar de água doce onde milhares de peixes proliferam.
Peixes pequenos servem de alimento a espécies maiores ou a aves e animais.
Quando o período da vazante começa, uma grande quantidade de peixes fica
retida em lagoas ou baías, não conseguindo retornar aos rios. Durante meses, aves e animais
38
carnívoros (jacarés, ariranhas e outros) têm à sua disposição alimentação garantida. Aves
grandes e pequenas são vistas planando sobre as águas, formando um espetáculo de grande
beleza, o que favorece o fluxo turístico (GEO-BRASIL, 2002). A pesca representa
aproximadamente 65% do fluxo turístico do Pantanal, que recebe cerca de 700 mil
turistas/ano (MMA, 2007).
3.2.5 – Pampas ou campos sulinos
O Pampa gaúcho é bastante diferente dos demais biomas brasileiros.
Dominado por gramíneas, com poucas árvores, sempre foi considerado mais apropriado para
a criação do gado. Foi a porta de entrada para o gado através da região sul. A outra foi pelo
vale do São Francisco, através dos currais de gado. Em 2004 foi reconhecido pelo Ministério
do Meio Ambiente como um bioma. Na verdade, sua biodiversidade havia sido ignorada por
quase trezentos anos (MMA, 2007).
O único estado brasileiro com esse bioma é o Rio Grande do Sul. Ocupa 63%
do território do estado. Ele também se estende pelo Uruguai e Argentina. Agora o Pampa
sofre uma ameaça muito mais grave: a introdução do monocultivo, do pinus e do eucalipto.
A região coberta pelos campos sulinos apresenta clima subtropical, com
temperaturas amenas e chuvas regulares, sem grande alteração durante o ano. A vegetação
herbácea dos campos varia entre 10 e 50 cm de altura. A mata das araucárias ou pinheiros-do-
paraná, de porte alto e copa em forma de prato, estendia-se do sul de Minas Gerais e São
Paulo até o Rio Grande do Sul, formando cerca de 100.000 km
2
de matas de pinhais.
Devido à riqueza do solo, as áreas cultivadas do Sul se expandiram
rapidamente sem um sistema adequado de preparo, resultando em erosão e outros problemas
que se agravam progressivamente. Atualmente os campos, que já representaram 2,4% da
39
cobertura vegetal do país, são amplamente utilizados para a produção de arroz, milho, trigo e
soja, às vezes em associação com a criação de gado. A desatenção com o solo, entretanto, leva
à desertificação, registrada em diferentes áreas do Rio Grande do Sul (GEO BRASIL, 2002).
3.2.6 - Zona costeira
Grande parte da zona costeira brasileira está ameaçada pela superpopulação e
por atividades agrícolas e industriais. É aí, seguindo essa imensa faixa litorânea, que vive
mais da metade da população humana brasileira, com impacto significativo no bioma. A
densidade demográfica média da Zona Costeira é de 87 hab/km², cinco vezes superior à média
nacional, de 17 hab/km². (MMA, 2007).
A Zona Costeira brasileira é extensa e variada, uma das maiores do mundo. Ao
longo dessa faixa litorânea é possível identificar uma grande diversidade de paisagens como
dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, brejos e falésias. Dependendo da
região, o aspecto é totalmente diferente do encontrado a poucos quilômetros de distância.
Mesmo os ecossistemas que se repetem ao longo do litoral - como praias, restingas, lagunas e
manguezais - apresentam diferentes espécies animais e vegetais. Isso se deve, basicamente, às
diferenças climáticas e geológicas. (GEO BRASIL, 2002).
O Brasil possui 7.367 km de linha costeira, sem levar em conta os recortes
litorâneos (baías, reentrâncias, golfões etc.), que ampliam significativamente essa extensão,
elevando-a para mais de 8,5 mil km. (MMA, 2007).
O litoral está quase todo voltado para o Atlântico Sul. Porém, uma pequena
parcela (no extremo norte do país) debruça-se sobre o Mar do Caribe. O Amapá conta com
uma das maiores áreas costeiras do país (12,3% do total) e o Piauí detém a menor área (0,2%
do total). (MMA, 2007).
40
O fato de a grande maioria dos principais rios nacionais convergir para a Zona
Costeira, alguns carregados de resíduos de agrotóxicos e adubos e efluentes das indústrias, faz
dela uma região muito vulnerável aos impactos ambientais.
É composta por águas frias na costa sul e sudeste e águas quentes nas costas
leste, nordeste e norte, dando suporte a uma grande variedade de ecossistemas que incluem
recifes de corais, dunas, áreas úmidas; lagoas e estuários. As principais ameaças estão na
especulação imobiliária, sobrepesca (industrial e artesanal); na poluição dos estuários e no
turismo desordenado (I Relatório para a Convenção sobre Diversidade Biológica do Brasil -
1998) apud (GEO BRASIL, 2002).
É na zona costeira que se localizam as maiores presenças residuais de Mata
Atlântica. Ali a vegetação possui uma biodiversidade superior no que diz respeito à variedade
de espécies vegetais. Os manguezais, de expressiva ocorrência na zona costeira, cumprem
funções essenciais na reprodução biótica da vida marinha. Enfim, os espaços litorâneos
possuem riquezas significativas de recursos naturais e ambientais, mas a intensidade de um
processo de ocupação desordenado vem colocando em risco todos os ecossistemas presentes
na costa litorânea do Brasil. (MMA, 2007).
3.2.7 - Mata Atlântica
A Mata Atlântica é considerada uma das grandes prioridades para a
conservação de biodiversidade em todo o continente americano. No Brasil, perfazia uma
extensão de aproximadamente 1.306.421 km
2
.
A natureza exuberante marcou profundamente a imaginação dos europeus. A
exploração predatória a que fomos submetidos destruiu mais de 93% deste bioma. Uma
41
extraordinária biodiversidade, em boa parte peculiar somente a essa região, está seriamente
ameaçada (THIELEN, 2001).
A Mata Atlântica abrange as bacias dos rios Paraná, Uruguai, Paraíba do Sul,
Doce, Jequitinhonha e São Francisco. Originalmente estendia-se por toda a costa nordeste,
sudeste e sul do país, com faixa de largura variável, que atravessava as regiões onde hoje
estão as fronteiras com Argentina e Paraguai. (GEO BRASIL, 2002).
Espécies imponentes de árvores são encontradas no que ainda resta deste
bioma, como o jequitibá-rosa, que pode chegar a 40 metros de altura e 4 metros de diâmetro.
Também destacam-se nesse cenário várias outras espécies: o pinheiro-do-paraná, o cedro, as
figueiras, os ipês, a braúna e o pau-brasil, entre muitas outras. Na diversidade da Mata
Atlântica são encontradas matas de altitude, como a Serra do Mar (1.100 metros) e Itatiaia
(1.600 metros), onde a neblina é constante. (GEO BRASIL, 2002).
Distribuído por mais de 17 estados brasileiros, esse bioma é composto de uma
série de fitofisionomias bastante diversificadas, determinadas pela proximidade da costa,
relevo, tipos de solo e regimes pluviométricos. Essas características foram responsáveis pela
evolução de um rico complexo biótico de natureza florestal. Apesar da devastação acentuada,
a Mata Atlântica ainda contém uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil,
com altos níveis de endemismo. (GEO BRASIL, 2002).
A Mata Atlântica também é abrigo para várias populações tradicionais e
garantia de abastecimento de água para mais de 120 milhões de brasileiros, equivalente a 2/3
da população do país. Seus remanescentes regulam o fluxo dos mananciais hídricos,
asseguram a fertilidade do solo, controlam o clima, protegem escarpas e encostas das serras,
além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso. Essa região possui, ainda,
belíssimas paisagens, verdadeiros paraísos tropicais, cuja proteção é essencial ao
desenvolvimento do ecoturismo. (FUNBIO, 2004).
42
Paralelamente à riqueza vegetal, a fauna é o que mais impressiona na região. A
maior parte das espécies de animais brasileiros ameaçados de extinção são originárias da Mata
Atlântica, como os micos-leões, a lontra, a onça-pintada, o tatu-canastra e a arara-azul-
pequena. Além desta lista, também vivem na região gambás, tamanduás, preguiças, antas,
veados, cotias, quatis etc (FUNBIO, 2004).
Apesar da devastação sofrida, a riqueza das espécies animais e vegetais que
ainda se abrigam na Mata Atlântica é espantosa. Em alguns trechos remanescentes de floresta
os níveis de biodiversidade são considerados os maiores do planeta. (THIELEN, 2001).
A Mata Atlântica é uma das florestas tropicais mais ameaçadas do mundo. De
fato, é o bioma brasileiro que mais sofreu os impactos ambientais dos ciclos econômicos da
história do país. Para se ter uma idéia da situação de risco em que se encontra, basta saber que
à época do descobrimento do Brasil ela tinha uma área equivalente a um terço da Amazônia,
ou 12% do território nacional, estendendo-se do Ceará ao Rio Grande do Sul. Hoje, está
reduzida a apenas 7% de sua área original. Áreas específicas, como as florestas de Araucária,
permanecem com apenas 1% da cobertura original. A FIGURA 2 mostra os impactos dos
ciclos econômicos nos biomas brasileiros.
FIGURA 2: Impactos dos ciclos econômicos nos biomas brasileiros
Fonte: Araújo, 2007.
43
Além de abrigar a maioria das cidades e regiões metropolitanas do país, a área
original da floresta também concentra os grandes pólos industriais, petroleiros e portuários do
Brasil, respondendo por nada menos de 80% do PIB nacional.
Durante 500 anos, a Mata Atlântica foi explorada e propiciou lucro ao homem.
Ainda no século XVI, houve a extração predatória do pau-brasil, utilizado para tintura de
tecidos e construção. A segunda grande investida foi o ciclo da cana-de-açúcar. Grandes áreas
de Mata Atlântica foram destruídas, não apenas para abrir espaço para os canaviais, mas
também para alimentar as construções dos engenhos e as fornalhas da indústria do açúcar. O
descaso ambiental era tão grande que, até o final do século XIX, ao invés de alimentar as
caldeiras dos engenhos com o próprio bagaço da cana, prática rotineira no Caribe, optava-se
por queimar árvores para servir de lenha. (THIELEN, 2001).
No século XVIII, foram as jazidas de ouro que atraíram para o interior um
grande número de portugueses. A imigração levou a novos desmatamentos, que se estenderam
até os limites com o Cerrado, para a implantação de agricultura e pecuária. No século seguinte
foi a vez do café, que exerceu um grande impacto sobre a Mata Atlântica. As florestas que
cobriam o Vale do Paraíba, centro da produção cafeeira, foram destruídas com total falta de
cuidado. O café, espécie de origem africana acostumado a crescer em áreas sombreadas, foi
cultivado no Brasil em espaços abertos e desflorestados. As queimadas, feitas de forma
descuidada, espalhavam-se pelas fazendas (IDEM), (Ver figura 2).
E, então, já na metade do século XX, chegou a vez da extração da madeira. No
Espírito Santo, as matas passaram a ser derrubadas para fornecer matéria-prima para a
indústria de papel e celulose. Em São Paulo, a implantação do Pólo Petroquímico de Cubatão
tornou-se conhecido internacionalmente como exemplo de poluição urbana. Esse processo
desorientado de desenvolvimento ameaça inúmeras espécies, algumas quase extintas como o
mico-leão-da-cara-dourada, a onça pintada e a jaguatirica.
44
Em 1993, um estudo realizado por técnicos do Jardim Botânico de Nova
Iorque identificou, na região da Reserva Biológica de Una, no sul da Bahia, a maior
diversidade de árvores do mundo, com 450 espécies diferentes num só hectare de floresta.
O primeiro parque nacional brasileiro foi criado em uma área de Mata
Atlântica, em 14 de junho de 1937. O Parque Nacional do Itatiaia fica entre os estados do Rio
de Janeiro e Minas Gerais e abriga 360 espécies de aves (incluindo gaviões, codornas e
tucanos) e 67 espécies de mamíferos (como a paca, macacos e preguiças). (ANDRADE
FILHO, 2005).
Parte da Mata Atlântica foi reconhecida pela Unesco como Reserva da
Biosfera no começo da década de 90. A Reserva estende-se por cerca de 5 mil quilômetros ao
longo da costa brasileira, com área total de 290 mil quilômetros quadrados. (GEO BRASIL,
2002).
A queima de florestas, ainda comum nos dias de hoje, era a prática mais
empregada na preparação da terra para o plantio. Em 1711, o jesuíta André Antonil
estabeleceu regras para orientar o plantio da cana-de-açúcar: “roça-se, queima-se e alimpa-se,
tirando-lhe tudo o que pode servir de embaraço” (THIELEN, 2001). Neste caso, o
“embaraço” era a própria Mata Atlântica, cujas árvores serviam também como lenha para
alimentar fornalhas da indústria do açúcar.
3.3 – Impactos e valoração da biodiversidade
As pressões antrópicas sobre os biomas brasileiros causaram e causam os mais
diferentes impactos. O QUADRO 2 mostra uma estimativa qualitativa da situação atual dos
biomas nacionais. Todos os impactos apresentados podem trazer danos irreparáveis para
futuras atividades econômicas e de desenvolvimento social, dentre elas o turismo.
45
QUADRO 2 – Estimativa qualitativa dos impactos ambientais nos biomas brasileiros
Biomas
Pressões
Impactos
Amazôni
Cerrad
o
Caatin
ga
Pantanal
Mata
Atlântica
Campos
Sulinos
Zona
Costeira
Extinção de
espécies
Perda do
patrimônio
Natural
Expansão da
agropecuária,
Caça e coleta
predatórias;
Extrativismo
vegetal
Fragmentação do
Habitat
Legenda: - Muito alto - Alto - Médio - Baixo
Fonte: adaptado de Câmara e Santos (2002).
A América Latina possui a maior biodiversidade do planeta. Brasil, Colômbia,
Equador, Peru, Venezuela e México possuem megadiversidade biológica. É também a região
com maior número de espécies endêmicas. O endemismo – que torna as espécies mais
vulneráveis à extinção – é uma grande responsabilidade desses países (THIELEN, 2001).
A biodiversidade de um bioma é formada por espécies nativas, espécies
endêmicas, e espécies exóticas. O endemismo agrava consideravelmente o risco de extinção,
pois uma catástrofe ambiental na área onde sobrevive espécie endêmica pode provocar seu
desaparecimento por completo do planeta, empobrecendo-o em sua riqueza natural e
biológica. A Mata Atlântica, bioma objeto de estudo deste trabalho, possui mais de seis mil
espécies endêmicas de plantas e mais de quinhentos animais vertebrados (exceto os peixes).
(CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL, 2003).
A espécie é nativa quando é originária daquele ambiente onde se encontra. Já a
espécie exótica é introduzida em determinado ambiente diferente do seu ambiente de origem.
A introdução de espécies exóticas em uma área diferente do seu ambiente original constitui-se
em alto risco ambiental, pois, em muitos casos, as espécies exóticas estão livres de seus
46
predadores naturais, que limitam o crescimento da população dessa espécie exótica. Seu
crescimento torna-se incontrolado e sua sobrevivência afeta toda a cadeia ambiental que
poderia estar em equilíbrio antes da introdução dessa espécie, atrapalhando o meio ambiente,
a economia, a saúde e até a cultura da população humana residente naquele espaço.
As implicações da distinção para a valoração econômica dos recursos
associados à biodiversidade, conforme May et al. (1999) se manifestam na tipologia
que discrimina entre os benefícios gerados em nível local, internacional e
global, assim como aqueles que são captados por atores econômicos
privados e aqueles que representam bens públicos, que precisam de ação
governamental para garantir a sua conservação.
O QUADRO 3 apresenta esta tipologia e o QUADRO 4 mostra os
valores atribuídos a bens e/ou serviços naturais de biomas brasileiros onde se
destacam as atividades relacionadas à preservação e à pesca.
QUADRO 3 – Tipologia de valores econômicos da biodiversidade
Benefício Bens privados Bens públicos
Local
Produtos ecossistêmicos (p.e.
caça, madeira, medicinas
tradicionais, forragens nativas)
Valores culturais e religiosos
atribuídos à vida selvagem e aos
ecossistemas naturais
Internacional
Eco-turismo
Algumas medicinas e fontes de
germoplasma agrícola
Global
Valores derivados da existência ou
uso passivo da natureza
Valores de informação e segurança
Fonte: Baseado em PEARCE et al., 1999 (citado por MAY et al., 1999)
47
QUADRO 4 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais
valorados: preservação e pesca
BENS E
SERVIÇOS
BIOMA VALORES ATRIBUÍDOS /
AUTORES
OBSERVAÇÕES
Preservação de recursos
naturais
Noroeste da
Amazônia
Mata Atlântica
Manguezal-SP
US$ 13,34 / mês / pessoa (Pessoa &
Ramos)
US$ 9,08 por pessoa (Holmes et alii)
US$ 5 / ha / ano (Santos et alii)
US$ 230 – $710 / ha / ano (Grasso &
Shaeffer-Novelli)
DAP, ampla gama de
bens naturais RR
DAP, para proteger 7.000
km2 no sul BA
DAP, existência + opção,
Est. Ecol.-SP
DAP, existência,
Cananéia-SP
Pesca artesanal ou commercial
Amazônia
Oriental
Manguezal-SP
Manguezal-PA
Várzea
amazônica
Litoral Sul
US$30 - $36 / família / ano
(Muchagata)
US$ 228 / ha / ano
US$ 470 / ha / ano (Grasso &
Shaeffer-Novelli)
66% a 84% da renda monetária
familiar (Glaser & Grasso)
US$ 909 / família / ano (Câmara)
US$ 559 / ano / pescador
68% da renda (Denardin)
Agricultores de Marabá-
PA
Pesca artesanal
Pesca comercial –
Cananéia, SP
Agricultores, leste do PA
Pescadores de lago,
Santarém-PA
Perdas à poluição e
sobrepesca-RS
Fonte May et al (1999).
3.4 – Turismo e biodiversidades
O turismo tem na biodiversidade uma das possibilidades de atrativo natural,
podendo utilizar-se dela de diversas formas. Atualmente, com a valorização dos cenários
naturais e busca por lazer junto à natureza, fenômeno observado na sociedade contemporânea,
exemplares da fauna e flora muito têm a contribuir com o desenvolvimento da atividade
turística.
48
O QUADRO 5 apresenta questões norteadoras da biodiversidade para fins
turísticos, que devem ser respondidas para elaborar um plano de utilização turística em uma
área natural.
QUADRO 5 – Princípios regentes de intervenção
Impacto: que atividades são (supostamente) as principais causadoras da perda de biodiversidade?
Legitimidade: quem beneficiam e a interesse de quem são realizadas as intervenções?
Viabilidade: até que ponto as partes interessadas mais influentes apoiarão a intervenção?
Eficácia: que tipos de instrumentos são os mais efetivos para alcançar os objetivos desejados?
Fonte: DUIM E CAALDERS, 2002.
O QUADRO 6 mostra os valores atribuídos a bens e/ou serviços naturais de
biomas brasileiros onde se destacam as atividades relacionadas ao turismo.
Christ et al. (2003) destaca que “o turismo é claramente de grande
significância econômica para países em desenvolvimento” e cita Meyer et al. (2000)
2
que
define “hotspots” como “regiões com grande diversidade biológica de espécies endêmicas e
ao mesmo tempo tenham sofrido significativos impactos e alterações decorrentes da das
atividades humanas”.
2
Meyer apud Christ et al., 2003.
49
QUADRO 6 – Valores atribuídos por bioma e bens e/ou serviços naturais
valorados: atividades relacionadas ao turismo
BENS E
SERVIÇOS
BIOMA VALORES ATRIBUÍDOS /
AUTORES
OBSERVAÇÕES
Eco-turismo e Pesca esportiva
Floresta
Amazônica
Mata Atlântica
Manguezal
Pantanal
US$ 26 / ha (Andersen)
US$ 22,08 – US$ 86,21 p/ pessoa
(Holmes et al)
US$ 2,10 / ha / ano (Santos et al)
US$3.583 / ha / ano (Grasso &
Shaeffer-Novelli)
US$ 970 despesas / pessoa / visita
(Seidl/Moraes)
Amazônia Legal, VPL a
6% desconto
DAP, Reserva de Una,
sul da BA
DAP, Estação Ecológica
Jataí-SP
DAP, Pesca esport.,
Cananéia-SP
Pesca esportiva, 46 mil
visitas (1994-95)
Benefício turístico da
recuperação ambiental
Estuário Sul
Litoral Sudeste
Pantanal
US$ 30,24 / pessoa / ano (May, Pró-
Guaíba)
US$ 7,82 / pessoa / mês
US$ 3,31 / pessoa / dia (Faria)
US$ 52,75 - $ 137,51 / licença / ano
(Moran, Moran & Moraes)
DAP, visitantes a dois
parques–RS
DAP, residentes–ES
DAP, turistas
DAP, pescadores
esportivos
Fonte May et al (1999)
A biodiversidade em hotspots varia em países de diferentes tamanhos,
economias, recursos e contextos sociais. O turismo de massa, assim como o de base natural e
de aventura, é um significativo gerador de renda de alguns desses países. O QUADRO 7
mostra como a biodiversidade pode contribuir para a significância do turismo internacional
para países pobres e ricos em biodiversidade.
A FIGURA 3 apresenta a relação entre turismo e biodiversidade proposta por
Duim e Caalders (2002). Observa-se que as atividades relacionadas ao turismo, como
transporte, hospedagem e outras, provocam impactos nos atrativos relacionados à
biodiversidade. É, também, uma tarefa complexa identificar os impactos do turismo no meio
natural e mais difícil, ainda, seria a quantificação destes impactos. Geralmente os planejadores
e gestores turísticos preocupam-se principalmente com a primeira questão e buscam monitorar
50
e quantificar os impactos por meio de métodos de causa e efeito de resultados imprecisos
(DUIM e CAALDERS, 2002).
QUADRO 7 – Significância do turismo internacional para paises pobres e ricos em
biodiversidade (citado por CHRIST et al,2003).
País Área de tensão
“hotspot”
Percentual da população com
renda abaixo de U$1 por dia
a
Percentual de
contribuição da
indústria do turismo
b
Nigéria Floresta Guinean 70 0.5
Madagascar Madagascar e ilhas
do oceano índico
63 3.8
Índia Ghats oeste e Sri
Lanka
44 2.5
Honduras Mesoamérica 41 4.4
Gana Floresta Guinean 39 5.5
Nepal Indo-Burma 38 4.5
a
Banco Mundial, 2001. Indicadores de desenvolvimento mundial.
b
WTTC, 2001. Tabela da Liga dos Países.
Fonte: Conservação Internacional, 1999.
FIGURA 3 – Relação turismo e biodiversidade
Fonte: DUIM e CAALDERS, 2002.
B
I
O
D
I
V
E
R
S
I
D
A
D
E
Impactos positivos e negativos
Impactos diretos e indiretos
Dimensão espacial
Dimensão temporal
Transporte
Hospedagem
Outras
Atividades
Uso e
ocupação
do solo
Contato
físico
Adição de
matéria
Retirada de
matéria
Adição
de biota
Retirada
de biota
Perturbação
Gens
Espécies
Ecossistemas
T
U
R
I
S
M
O
51
Modalidades do turismo como observação de pássaros, pesca amadora, turismo
científico, dentre outras, dependem substancialmente da biodiversidade do local visitado.
Outras formas em que a biodiversidade destaca-se como atrativo turístico são:
Trilhas interpretativas nas quais são destacados aspectos importantes da
fauna e flora;
Plantas medicinais e seus processamentos;
Plantas que são utilizadas como matéria-prima para elaboração de
artesanato;
Localização no habitat natural de plantas comestíveis por seres
humanos e animais;
Contemplação da flora;
Pesquisa da fauna e flora em ambientes naturais;
Relações ecológicas existentes em habitats diversos;
Observações da fauna e da flora;
Fotografias específicas da fauna e flora;
Exploração das múltiplas espécies de flores e época de floração de
determinado ecossistema;
Mergulho com o objetivo de conhecer a fauna e flora aquática;
Turismo pedagógico;
Exploração de aspectos históricos e folclóricos de espécies de vegetais
e animais como, por exemplo, o pau-brasil;
Caminhadas por trilhas em ambientes naturais.
O QUADRO 8 avalia a contribuição da utilização sustentável da Amazônia em
diferentes setores econômicos. O valor de 13 bilhões de dólares devido ao turismo na
52
Amazônia corresponde a mais que o triplo da receita cambial turística de todo o Brasil em
2006, que foi de 4,32 bilhões de dólares (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007). Somente para
efeito comparativo a expectativa do Plano Nacional era gerar 7,13 bilhões em 2007, com a
vinda de nove milhões de estrangeiros ao Brasil (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2003).
O novo Plano Nacional do Turismo – PNT 2007/2010 apresenta, em seu
conjunto de metas, “gerar 5,1 bilhões de dólares em divisas para o ano de 2007; 5,8 bilhões
em 2008; 6,7 bilhões em 2009 e 7,7 bilhões em 2010” (MINISTÉRIO DO TURISMO, 2007).
QUADRO 8 – Contribuição da utilização sustentável da Amazônia em diferentes
setores econômicos.
Recurso natural da Amazônia Valor anual (em dólares) possível de ser obtido com a
exploração sustentável do recurso
Petróleo 650 bilhões
Medicamento e cosmético 500 bilhões
Agricultura e extrativismo 50 bilhões
Minérios 50 bilhões
Carbono 19 bilhões
Turismo 13 bilhões
Madeira 3 bilhões
Total 1,28 trilhões
Fonte: Revista Veja (2001)
3
O estudo trata, de forma específica, da Amazônia, mas pode-se afirmar que as
contribuições de outros biomas brasileiros são de importância significativa. Embora a
biodiversidade seja relacionada de forma mais intensa com o segmento do ecoturismo, outros
segmentos e atividades do turismo se beneficiam dela. Deve-se salientar que muitas das
atividades de preservação ou recuperação de biomas associam-se à melhoria da qualidade de
3
“A floresta dá dinheiro”. Publicado na Revista VEJA, 22 de agosto de 2001, p. 76-81.
53
vida local e regional. Considerações sobre ética ambiental e educação ambiental
complementam a visão necessária da sustentabilidade do turismo ecológico.
Para explorar a relação entre desenvolvimento do turismo, conservação da
biodiversidade e redução da pobreza em nível global, foi produzida e plotada uma série de
mapas de turismo e dados socioeconômicos das áreas prioritárias de biodiversidade definidas
pela estratégia de "área de tensão" da Conservação Internacional (CI). O alvo deste exercício
de cartografia foi explorar se o turismo está aumentando em áreas de alta-biodiversidade e,
dado que a maioria das áreas de tensão localizam-se no hemisfério Sul, cabe verificar se o
turismo é uma ferramenta potencial para redução de pobreza (Ver Anexo1). Para este
exercício, se agregaram somente informações de turismo e dados socioeconômicos em nível
nacional. Os mapas provêem assim um nível amplo de análise e servem apenas para ilustrar
tendências globais e regionais. Não se pretende que eles analisem as ligações entre turismo,
biodiversidade, e sustentos locais dentro de qualquer país específico ou prover conclusões
definitivas sobre a natureza e balança de interações. Espera-se que os mapas
4
elevem a
consciência fundamental de decisores e planejadores sobre as oportunidades e ameaças do
turismo como uma máquina para conservação de biodiversidade e desenvolvimento
econômico.
As tendências refletem aspectos sobre futuros investimentos e áreas onde se
espera um expressivo crescimento do fluxo turístico. A responsabilidade de explorar a
atividade turística com equilíbrio e sustentabilidade exige acompanhamento permanente, para
garantir a conservação da biodiversidade nos futuros destinos turísticos.
A TABELA 3 apresenta dados sobre a relação entre as áreas de tensão em
crescimento do turismo em países diversos.
4
Ver anexo 1: mapa das áreas de tensão.
54
TABELA 3 – Exemplos de áreas de tensão de países que possuem crescimento em
turismo de mais que 100 por cento
Chegadas Internacionais (em
milhares)
Área de tensão / País
1990 1995 2000
Crescimento 1990-2000
(em milhares)
Crescimento
Percentual
1990-2000
Indo – Birmânia
Laos 14 60 300 286 2.043
Myanmar 21 117 208 187 890
Vietnã 250 1.351 2140 1890 756
Macau 2.513 4.202 6.682 4.169 166
Floresta de transição
África do Sul 1.029 4.684 6.001 4.972 483
Caribe
Cuba 327 742 1.7 1.373 420
Ilhas de Caicos 49 79 156 107 218
República Dominicana 1.305 1.776 2.977 1.672 128
Cerrado brasileiro / mata
atlântica
Brasil 1.091 1.991 5.313 4.222 387
Mesoamérica
Nicarágua 106 281 486 380 358
El Salvador 194 235 795 601 310
Costa Rica 435 785 1.106 671 154
Panamá 214 345 479 265 124
Florestas arbóreas
Nigéria 190 656 813 623 328
Andes Tropical
Peru 317 541 1.027 710 224
Madagascar e Ilhas do Oceano
Índico
Madagascar 53 75 160 107 202
Montanhas Arco Orient. e
florestas Litorais
Tanzânia 153 285 459 306 200
Montanhas do sudoeste da
China
China 10.484 20.034 31.229 20.745 198
Verão sazonal
Indonésia 2.178 4.324 5.064 2.886 133
Mediterrâneo
Israel 1.063 2.215 2.400 1.337 126
Sudoeste da Austrália
Austrália 2.215 3.726 4.946 2.731 123
Micronésia/Polinésia
Ilhas Cook 34 48 73 39 115
Fonte: Conservação Internacional (CI), 2003.
55
3.5 – Ecoturismo: valorização da natureza com a vivência do turismo
Pires (2005) adota o conceito de Ecoturismo utilizado pelo Programa de
Ecoturismo da União Mundial para a Conservação, assim definido:
Ecoturismo ou turismo ecológico consiste em viagens ambientalmente responsáveis
com visitas a áreas naturais relativamente sem distúrbios, para desfrutar e apreciar a
natureza – juntamente com as manifestações do passado ou do presente que possam
existir – e que, ao mesmo tempo, promove a conservação, proporciona baixo
impacto pelos visitantes e contribui positivamente para o envolvimento
socioeconômico ativo das populações locais.
No Brasil, por sua vez, há uma definição nacional do conceito, elaborado em
1995 pelo Grupo Interministerial em Ecoturismo
5
, que se sustenta em consonância com a
mesma base conceitual que era construída mundialmente:
Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de
uma consciência ambientalista através da interpretação do meio ambiente,
promovendo o bem-estar das populações envolvidas.
Segundo Pires (2005), o ecoturismo emerge no período pós-Eco-92, devido
“ao reconhecimento pelo ambientalismo como alternativa para a viabilização de propostas,
projetos e ações de caráter ambiental, sobretudo conservacionista, desenvolvidas ou
defendidas pelos seus protagonistas mais representativos”. Dessa forma, o ecoturismo passa à
condição de linha de frente do turismo idealizado como sustentável. O QUADRO 9 apresenta
as ações do turismo sustentável (ecoturismo) que podem beneficiar a conservação da
biodiversidade.
Pires (2005) defende que o ecoturismo colabora com a conservação da
biodiversidade nas seguintes maneiras:
5
Grupo formado por membros da Embratur, do Ibama, empresários, consultores e representantes dos Ministérios
do Meio Ambiente e da Indústria, Comércio e Turismo.
56
DIRETAMENTE por meio da geração de receitas advindas da sua
operação e da oferta de outros serviços aos visitantes, a serem utilizadas
diretamente na proteção, pesquisa e manutenção dessas áreas.
INDIRETAMENTE proporcionando à população local alternativas de
renda em relação à exploração predatória e ilegal dos recursos naturais
dessas áreas, com sua inserção nos serviços requeridos pela atividade
ecoturística.
PERMANENTEMENTE servindo como meio estratégico de
disseminação da consciência ecológica e ambiental, ampliando a base social
de apoio à conservação da biodiversidade e da natureza.
QUADRO 9
– Turismo sustentável e conservação de biodiversidade
Turismo sustentável (que utiliza os princípios de ecoturismo) pode contribuir diretamente a conservação
de biodiversidade:
Oferecendo alternativas de sustento menos destrutivas às comunidades locais e proprietários de
terras em zonas de transição e corredores de conservação, distanciando-se da regulação de gado
intensivo, monocultura, caça e turismo insustentável;
Provendo um incentivo para o público e proprietários de terras em ecossistemas críticos
conservando propriedades de rica biodiversidade permanentemente, oferecendo renda ao produtor,
baixo impacto ambiental e uso econômico;
Proporcionando para os gestores de áreas protegidas recursos financeiros adicionais de visitações
e doações; e
Elevando a consciência da visita, promovendo o envolvimento da comunidade e dos interessados
por conservação, e gerando apoio político para a conservação e educação ambiental durante a
viagem.
Fonte: Conservação Internacional (CI), 2003.
O turismo, como toda atividade humana, produz impactos sobre o ambiente
onde é realizado e desenvolvido. Mas, comparado a outras atividades, é bem menos agressivo,
além de ter uma significativa capacidade de educar seus participantes para a prática da
conservação e preservação do meio ambiente. Pode constituir-se como um poderoso fator de
desenvolvimento para determinadas regiões. Quando praticado com a preocupação da
57
sustentabilidade, o turismo gera impactos mínimos e efeitos negativos reduzidos, tanto no
ambiente natural como nos valores culturais das comunidades envolvidas, representados pelos
patrimônios material e imaterial presentes nas localidades e regiões onde se realiza o eco-
turismo. Cabe ressaltar que a prática da Educação Ambiental atua na formação cultural dos
participantes, para que se possa assumir uma nova postura diante da preservação, conservação
e melhoramentos do meio ambiente, especialmente natural (GEO BRASIL-IBAMA, 2002).
Em 2002, as Nações Unidas e a Organização Mundial do Turismo declararam
como sendo o Ano Internacional do Ecoturismo, com a realização do evento denominado
Cúpula Mundial do Ecoturismo, em Quebec/Canadá. Em seu documento final
6
, além de
reconhecer que o ecoturismo incorpora os princípios do turismo sustentável sejam em suas
variáveis econômicas, sociais e ambientais, sua prática possui especificidades além do
conceito de turismo sustentável:
Contribui ativamente para a conservação do patrimônio natural e
cultural.
Inclui as comunidades locais e indígenas em seu planejamento,
desenvolvimento e exploração, contribuindo para o seu bem-estar.
Interpreta o patrimônio natural e cultural do destino para os visitantes.
Presta-se melhor aos viajantes independentes, assim como aos circuitos
organizados para grupos de tamanho reduzido.
Devido ao seu caráter especifico e diferenciado, o ecoturismo possui
enfoques próprios, dependendo do objetivo de sua realização, sempre preocupado com a
preservação e conservação do ambiente onde é desenvolvido. Sendo assim, Pires (2005) o
classifica como:
6
Declaração de Quebec sobre o Ecoturismo. Quebec/Canadá, maio de 2002. Extraído de PIRES, 2005.
58
Enfoque educativo e interpretativo
Enfoque lúdico e recreativo
Enfoque científico e especialista
Enfoque esportivo e de aventura
Enfoque místico e esotérico
Em se tratando de um segmento tão abrangente, e cuja prática é extremamente
relevante e atual, devido principalmente ao desenvolvimento que em muitos momentos ocorre
em áreas naturais, de preservação ambiental e unidades de conservação, o ecoturismo
interessa a todos. Alguns setores da sociedade, porém, devido à sua atuação e realização da
atividade ecoturística, destacam-se: os agentes de fomento, as empresas de turismo e outros
setores que atuam na área, governos em todos os seus níveis, organizações públicas e privadas
nacionais e internacionais, instituições de ensino e pesquisa, comunidades envolvidas,
imprensa e finalmente o público participante que realiza a atividade.
3.6 – Uso turístico da biodiversidade no mundo
A preocupação em utilizar o turismo como um instrumento de educação para a
conservação da biodiversidade e a preservação da natureza é tema comum na literatura
internacional.
COCHRANE (2006) desenvolveu um estudo em parques nacionais da
Indonésia, país que se destaca pela riqueza de sua biodiversidade, e afirma, sobre a Unidade
de Conservação de Bromo, que:
Considerando que Bromo é um dos parques mais populares na Indonésia, um
contexto ideal se apresenta a gerar mais consciência entre os formadores de opinião:
a habitação urbana, e a população crescentemente educada para o valor de conservar
a biodiversidade e da função e utilidade de parques nacionais (COCHRANE, 2006)
59
Na literatura especializada que relaciona biodiversidade e turismo, um modelo
muito citado como bem sucedido é o caso da Costa Rica, localizada na América Central.
Nesse país existe um plano denominado “Sistema integral de avaliação de impactos na
biodiversidade das atividades de turismo”, conhecido como IBIS-TA. Em termos gerais, trata-
se de um sistema para investigar os impactos positivos e negativos ocasionados pelas
atividades de turismo na biodiversidade, em que são avaliadas conjuntamente às diferentes
formas de impacto (Rainforest Alliance & CREM BV, 2006).
O impacto ambiental provocado pelo turismo na biodiversidade quase sempre
não é perceptível imediatamente, mas ao longo do tempo. No caso da fauna, o barulho e a
presença permanente de turistas em determinado habitat de alguma espécie pode ocasionar
sua migração para outra área. No caso da flora, plantas e gramíneas podem desaparecer, sendo
pisoteadas freqüentemente com a abertura de trilhas. Há de se considerar o combatido hábito
ainda existente de deixar lixo ao longo do percurso natural percorrido. São materiais diversos
como plásticos, cigarros, latas, etc., que precisam, em alguns casos, de centenas de anos para
serem completamente absorvidos pela natureza.
Por isso, o IBIS-TA determina o impacto potencial máximo, através da análise
de diversas variáveis que influenciam o turismo. Mensurar os efeitos reais das atividades
turísticas em determinada área é muito difícil e custoso. Assim, o IBIS-TA mede o impacto
teórico potencial de uma atividade turística específica.
O impacto na biodiversidade é representado por treze tipos de impactos
potenciais, os chamados
parâmetros de impacto na biodiversidade, através de quatro passos
que formam a estrutura principal do sistema.
Dos treze parâmetros, oito são parâmetros negativos, e cinco positivos,
conforme demonstrado no QUADRO 10.
60
Os quatro passos do método costa-riquenho são:
1. Um exame rápido, que determina se é necessário uma advertência de
“alerta vermelho” para a atividade turística que está sendo analisada.
2. Uma avaliação do impacto potencial, com relação aos parâmetros de
impacto positivo e negativo na biodiversidade.
3. Uma avaliação do impacto potencial total dos parâmetros de impacto
negativo na biodiversidade e uma avaliação do impacto potencial total dos
parâmetros de impacto positivo na biodiversidade.
4. Uma avaliação final que combina os totais dos parâmetros de impactos
negativos e positivos na biodiversidade: o impacto final na biodiversidade.
QUADRO 10 – Parâmetros de impacto na biodiversidade
Parâmetros de impacto na biodiversidade considerados como impacto negativo
potencial:
1
Conversão negativa da terra;
2 Erosão mecânica (zonas terrestres e marinhas);
3 Contaminação e eutroficação;
4 Dano e destruição de árvores, plantas ou corais;
5 Perturbação de animais;
6 Uso da terra, ocupação de espaço;
7 Sobreexplotação
1
;
8 Outros parâmetros negativos;
Parâmetros de impacto na biodiversidade considerados como impacto positivo
potencial:
9 Educação sobre conservação da natureza;
10 Conversão positiva da terra;
11 Conservação da natureza mediante valor econômico agregado
2
;
12 Contribuição direta à conservação da natureza;
13 Outros parâmetros positivos.
1
O qual leva a reduzir as populações ou indivíduos de flora e fauna silvestres e diminui a
variedade genética.
2
O turismo contribui em preservar a área.
Fonte: Rainforest Alliance & CREM BV, 2006.
61
Os quatro passos principais que compõem o sistema, juntamente com os treze
parâmetros da biodiversidade são representados esquematicamente na FIGURA 4:
Ecossistemas
Passo 2: avaliação de pontuação por parâmetro de impacto
Passo 1:
FIGURA 4: Método IBIS-TA da Costa Rica
Fonte: Rainforest Alliance & CREM BV, 2006.
Além da Costa Rica, Austrália e África do Sul também se destacam no uso da
biodiversidade para a exploração turística. O QUADRO 11 compara as questões norteadoras
que orientam a prática do ecoturismo em áreas naturais no Brasil, Austrália e África do Sul.
Algumas instituições e organismos internacionais também desenvolvem ações
e projetos de turismo em áreas naturais, assim como os paises. Esses organismos dispõem
também de modelos de orientação para desenvolvimento do turismo de forma equilibrada.
Analisam aspectos culturais, sociais e políticos juntamente com as questões ambientais e a
Avaliação
de alerta
vermelho
8 parâmetros
5 parâmetros
Impacto negativo
Impacto positivo
Passo 3: avalia
ç
ão do im
p
acto ne
g
ativo total e avalia
ç
ão do im
p
acto
p
ositivo
t
otal
Passo 4: avaliação do impacto global
62
preocupação com a conservação e a preservação da natureza. Por medidas jurídicas ou
educativas, atuam com a conscientização dos agentes envolvidos, capacitação e a orientação
aos turistas sobre a maneira correta de se comportar em um ambiente natural, conforme
demonstra o QUADRO 12. As organizações apresentadas são a Sociedade Internacional de
Ecoturismo (TIES na sigla em inglês, The International Ecoturism Society
7
), a União
Internacional de Conservação da Natureza (IUCN) e o Sierra Club, uma operadora
internacional de serviços turísticos com destacada preocupação socioambiental.
QUADRO 11 – Princípios comparados do Ecoturismo em vários países
Brasil
Ecoturismo deve:
o Utilizar de forma sustentável o patrimônio natural e incentivar a sua conservação;
o Utilizar de forma sustentável o patrimônio cultural e incentivar a sua conservação;
o Buscar a formação de uma consciência ambientalista pela interpretação do (meio) ambiente;
o Promover o bem-estar das populações envolvidas (visitantes e visitados).
Austrália
Ecoturismo deve:
o Ser promovido de forma honesta e realista;
o Contribuir para a permanente conservação de áreas naturais;
o Atender e satisfazer, solidamente, às expectativas dos clientes;
o Contribuir para o desenvolvimento e bem-estar de comunidades locais;
o Envolver e estimular a interpretação cultural, sobretudo as tradicionais;
o Incorporar melhores práticas para o turismo ambientalmente sustentável;
o Integrar atividades que criem oportunidades para a interpretação de áreas naturais onde ocorre a
visitação;
o Fomentar a experiência pessoal em áreas naturais de forma a conduzir ao desfrute e ao
aprendizado.
África do Sul
Ecoturismo deve:
o Ter por objetivo a valorização e melhoria da qualidade de vida;
o Ser uma experiência ampla, combinando atrativos culturais e naturais;
o Exigir profissionalismo de fornecedores e operadores;
o Oferecer os recursos e a hospitalidade das comunidades locais;
o Promover o comportamento responsável dos visitantes;
o Encorajar e promover a participação de comunidades locais nos empreendimentos
o como atores e gestores atuantes;
o Ser planejado de forma participativa com os grupos de interesse locais (autoridades,
administradores, operadores, comunidades tradicionais, etc.), compartilhando responsabilidades e
benefícios;
o Considerar o meio ambiente como “produto ecoturístico”, devendo ser manejado de forma
eficiente e eficaz, assegurando sustentabilidade e máximo benefício para as comunidades locais;
o O manejo das áreas abertas à visitação deve ser responsabilidade de todos (autoridades, visitantes,
comunidades locais e operadores).
Fonte: FUNBIO, 2004.
7
A TIES, fundada em 1991, é a primeira ONG de ecoturismo mundial. Ver <www.ecoturism.org>
63
QUADRO 12 –
Ecoturismo: conceitos e princípios comparando organizações
TIES
Ecoturismo deve:
o Preparar visitantes, de forma a minimizar impactos negativos em áreas ambiental e culturalmente
sensíveis;
o Preparar visitantes para o contato com as comunidades locais;
o Preparar visitantes para o adequado comportamento, na adequação da flora e da fauna nativas;
o Prevenir impactos nas culturas tradicionais e no meio ambiente com utilização de guias e condutores
capacitados, mesmo com posturas mitigatórias ou corretivas;
o Evitar atividades em áreas subadministradas ou supervisitadas;
o Assegurar que operadores tenham equipes clientes e que participem de todas as políticas
empresariais, de forma a prevenir impactos culturais e ambientais, assim como orientar
adequadamente a clientela;
o Contribuir para a orientação das áreas visitadas;
o Prover oportunidades de trabalho e pequenos negócios para a comunidade local;
o Oferecer alojamento em meios de hospedagem que não causem impacto negativo ao meio ambiente.
IUCN
Ecoturismo deve:
o Proteger recursos naturais e culturais;
o Promover o comportamento adequado de participantes;
o Envolver comunidades locais, trazendo-lhes benefícios;
o Trazer benefícios para o meio ambiente e para a vida silvestre;
o Fomentar éticas e práticas ambientais conservacionistas e basear-se nelas;
o Concentrar-se nos valores intrínsecos dos recursos disponíveis, sem modificá-los, para que se tornem
atrações;
o Ser orientado para a conservação do meio ambiente, e não para o exclusivo uso humano,
transformando-o para sua conveniência;
o Promover experiências em contato com o meio ambiente natural e as eventuais manifestações
culturais locais;
o Atender às expectativas dos visitantes em termos de apreciação, informação e/ou educação
ambientais;
o Envolver planejamento participativo, utilizando para tanto subsídios obtidos de operadores,
comunidade local e usuários.
SIERRA CLUB
Ecoturismo deve:
o Proteger recursos naturais e culturais;
o Ter seu planejamento de forma a respeitar os direitos, as expectativas e as necessidades de
populações tradicionais;
o Ter seu planejamento de forma a respeitar a capacidade de carga e a biodiversidade;
o Ter seu desenvolvimento integrado a planos biorregionais de uso do solo, não comprometendo
hábitats e biomas;
o Ter seu desenvolvimento evitando áreas frágeis, que contenham espécies animais e vegetais ou
ameaçadas;
o Ter infra-estruturas em áreas protegidas e em seu entorno limitadas àquelas necessárias para a
manutenção básica e para serviços de apoio;
o Respeitar rotas migratórias de vida silvestre e os corredores que interligam hábitats e ecossistemas;
o Considerar a visitação a partir da distribuição eqüitativa e racional dos visitantes de forma a não
comprometer áreas sensíveis e frágeis;
o Ter seu planejamento considerando o manejo de resíduos, o uso de alternativas limpas de energia e a
recuperação de áreas degradadas;
o Quando envolver embarcações, considerar o armazenamento, transporte e adequada disposição de
lixo e efluentes produzidos na viagem;
o Proibir ou ter o uso estritamente controlado ou limitado de veículos impróprios para áreas sensíveis,
em recuperação ou com espécies ameaçadas (helicópteros, jet-skis, ultraleves, etc.);
o Apoiar e encorajar esforços de conservação de áreas nacionais e internacionais com ações e
contribuições efetivas.
Fonte: FUNBIO, 2004.
64
3.7 – Turismo e sustentabilidade ambiental
A idealizadora do conceito de desenvolvimento sustentável, Gro Harlem
Brundtland, presidiu a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU
e foi primeira-ministra da Noruega por duas vezes. Definiu no relatório
Nosso Futuro
Comum, também conhecido como Relatório Brundtland, o conceito de desenvolvimento
sustentável em 1987 :
Desenvolvimento sustentável: aquele que é capaz de suprir as necessidades da
geração atual sem comprometer a capacidade de atender às necessidades das
gerações futuras. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Os preceitos deste relatório orientaram a realização da 2ª. Conferência das
Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento – a ECO 92 – que ocorreu em
1992 no Rio de Janeiro. O relatório também serviu de base para a criação da Agenda 21, o
principal plano de ação adotado nessa ocasião que objetivava garantir a sustentabilidade das
atividades humanas e a melhoria da qualidade de vida das atuais e futuras gerações.
A ONU criou uma base de dados de indicadores para atingir objetivos de
desenvolvimento no milênio (UNSD, 2006). Assim, ela estabeleceu uma estrutura com 8
objetivos, 18 alvos e 48 indicadores para medir o progresso, tendo por base um consenso de
especialistas do Secretariado das Nações Unidas, FMI, OCDE e Banco Mundial. Os oitos
objetivos são:
1. Erradicar a pobreza extrema e a fome.
2. Alcançar a educação primária universal.
3. Promover a igualdade de gêneros e a capacitação profissional de
mulheres.
4. Reduzir a mortalidade infantil.
65
5. Melhorar a saúde maternal.
6. Combater o HIV/AIDS, malária e outras doenças.
7. Garantir a sustentabilidade ambiental.
8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.
No que concerne à sustentabilidade ambiental, há três alvos, com respectivos
indicadores, conforme o QUADRO 13.
QUADRO 13 – Alvos e indicadores referentes ao objetivo da ONU de garantir a
sustentabilidade ambiental
Alvo
Indicadores
Proporção de terra coberta por florestas (FAO).
Relação entre a área protegida para manter a diversidade biológica e a
área superficial total (UNEP-WCMC).
Uso de energia (kg de equivalente em petróleo) por US$1000 de PIB
(PPP) (IEA, WORLD BANK).
Emissões de dióxido de carbono per capita (UNFCCC, UNSD) e
consumo de CFCs que reduzem o ozônio (UNEP -Ozone Secretariat).
1. Integrar os princípios do
desenvolvimento sustentável em
políticas e programas dos países e
reverter a perda dos recursos
ambientais
Proporção da população que usa combustíveis sólidos (WHO).
Proporção da população com acesso sustentável a uma fonte de água
adequada urbana e rural (UNICEF-WHO).
2. Até 2015, reduzir à metade a
proporção de pessoas sem acesso
sustentável e seguro a água potável
e condições sanitárias.
Proporção da população com acesso a serviço sanitário adequado, urbano
e rural (UNICEF-WHO).
3. Alcançar, até 2020, uma melhoria
significativa do padrão de vida de,
pelo menos, 100 milhões de
favelados.
Proporção de famílias com acesso a posses habitacionais seguras (UN-
HABITAT)
Fonte: UNSD, 2006.
Esse quadro define, por meio de seus alvos e indicadores, as características
mais importantes da sustentabilidade ambiental. Deve-se notar que (FORTES, 2006):
66
O alvo 1 aponta para o capitalismo natural; entretanto, seus indicadores
não apontam para resultados de metodologias ou tecnologias para atingir, de
forma eficiente (radical) o alvo.
Os únicos indicadores de poluição são a emissão de CO
2
e o consumo
de CFCs.
Não há um indicador (alvo 2) associado a qualquer tecnologia eficiente
referente a recursos hídricos.
O turismo bem planejado, sustentável, pode ser um suporte para os três alvos
citados.
As áreas fundamentais do desenvolvimento sustentável aplicadas ao turismo
envolvem definição da população/comunidade relevante (sob uma perspectiva global,
nacional, regional) condescendente para o caso abordado. Assim, busca o horizonte de tempo
de longo prazo, ou seja, através do desenvolvimento contínuo. As dimensões de
sustentabilidade referem-se: ao meio ambiente, à identidade cultural, ao bem-estar econômico,
e à estabilidade social (GOELDNER et al., 2002)
Entretanto, apesar de grande discussão acadêmica, uma análise crítica da
sustentabilidade associada ao turismo não é otimista:
1. Há um descompasso entre entidades de nível internacional (IUCN,
UNEP, WWF ou WTO) e agências não governamentais (WTTC, Tour
Operators Initiative for Sustainable Tourism Development, dentre outras) e a
prática diária do turismo em várias escalas (COTTRELL et al., 2004). Estes
autores são francamente pessimistas quanto à implementação de políticas de
desenvolvimento sustentável do turismo por governos e empresas particulares.
67
2. As propostas para melhoria do turismo europeu, de forma sustentável
(COMM/ENTR/I1, 2007), compreendem uma série de recomendações
difíceis de serem implementadas, em curto ou médio prazo, numa sociedade
tal como a nossa:
Reduzir os efeitos sazonais de demanda;
Analisar o impacto do transporte;
Melhorar a qualidade dos empregos associados ao turismo;
Manter e melhorar a prosperidade da comunidade e sua qualidade de
vida, dadas as mudança em ordem;
Minimizar o uso de recursos naturais e a produção de lixos ou
desperdícios;
Conservar e dar valor à herança cultural e natural;
Garantir descanso e férias para todos os envolvidos;
Usar o turismo como um instrumento no processo de Desenvolvimento
sustentável global.
De acordo com Li et al. (2006), apesar de o desenvolvimento do turismo poder
resultar em impactos negativos sobre os recursos naturais pelo seu mau uso e má gestão, há
aspectos positivos a se considerar. Assim, o turismo pode ajudar a melhorar a conservação de
recursos naturais, como demonstrado em seu estudo na reserva de biosfera de Jiuzhaigou,
China. O estudo mostrou que os residentes participaram do turismo e até mesmo desistiram de
plantações e da caça. Concluíram que é possível balancear a conservação de recursos naturais
com o desenvolvimento econômico.
Entretanto, há que se apresentar os efeitos da inércia da administração
governamental e da perda de oportunidades para o setor privado, no que concerne ao turismo,
ou seja, há que se conscientizar governo, empresas particulares, mídia, os usuários do turismo
68
e a população, para os efeitos do turismo sobre o meio ambiente, e, mais particularmente
nesse trabalho, sobre a biodiversidade. Em outras palavras, há necessidade de pesquisas e
exposição pública dos mecanismos de sustentabilidade do turismo e sua importância.
Para Goeldner et al. (2002), as dimensões de sustentabilidade referem-se ao
meio ambiente, à identidade cultural, ao bem-estar econômico e à estabilidade social. Assim,
cabe aos gestores do destino turístico definir o que deve ser sustentado.
O QUADRO 14 apresenta os itens mais mencionados na literatura sobre
aspectos da sustentabilidade conforme Ankersmid e Kelder, citados por Cottrell et al. (2004).
Para medir a percepção de turistas no que se refere à sustentabilidade em suas
dimensões ecológica, econômica e sócio-cultural de dois destinos turísticos (Manuel Antônio,
na Costa Rica, e Texel, na Alemanha) Cottrell et al. (2004) utilizaram 20 itens e uma escala
Likert de 5 pontos. Estes itens são os 15 listados no QUADRO 14 adicionado de itens que se
referiam a: segurança, hospitalidade local, proteção insuficiente da natureza, poluição e
número excessivo de turistas na natureza.
69
QUADRO 14 – Aspectos de sustentabilidade mais citados na literatura
Aspectos ecológicos
1 Poluição do ambiente, da água e do ar.
2 Perturbação de plantas e animais.
3 Perda de variedade de plantas e animais.
4 Perda de plantas e animais raros.
5 Exaustão de água e recursos energéticos.
Aspectos sócio-culturais
1 Aglomeração, muitos turistas ao redor.
2 Problemas sociais tais como criminalidade, alcoolismo, vandalismo e drogas.
3 Perda do estilo de vida e dos costumes tradicionais locais.
4 Urbanização, muitas construções (hotéis, restaurantes, etc.) efetuadas com prejuízo de
áreas verdes.
5 Intolerância dos habitantes locais com o turismo.
Aspectos econômicos
1 Aumento de preços de serviços e produtos turísticos.
2 Distribuição desigual das receitas do turismo.
3 Distribuição desigual de pagamentos mais altos e mais baixos no mercado de trabalho do
setor turístico.
4 Uso de produtos locais típicos dos quais não só o turista, mas também a comunidade local
se beneficiam.
5 Chances iguais para homens e mulheres no mercado de trabalho do setor turístico.
Fonte: Cottrell et al. (2004).
3.8 – Turismo em Unidades de Conservação da natureza
ROCHA (2002) e DIEGUES (2002) relatam que historicamente a primeira
Unidade de Conservação da Natureza foi o Parque Nacional de Yellowstone, nos Estados
Unidos em 1872, sendo os motivos para sua criação a preservação dos atributos cênicos, a
importância histórico-cultural e o potencial para atividades de lazer.
No Brasil, muitos autores afirmam ser o Parque Nacional do Itatiaia (PNI) a
primeira Unidade implantada de Conservação da Natureza, criado pelo Decreto Federal n
o.
1.713 de 14 de junho de 1937 (ANDRADE FILHO, 2005). Este autor cita o Decreto Federal
70
n
o.
8.843 de 26 de julho de 1911, assinado pelo então Presidente da República Hermes da
Fonseca, criando uma Unidade de Conservação, no atual Estado do Acre, embora a unidade
de conservação da natureza jamais tenha sido implementada. Sendo assim, pode-se concluir
que o Parque Nacional do Itatiaia é, de fato, a primeira unidade de conservação brasileira.
3.8.1 – Unidades de Conservação no Brasil
Atualmente o Brasil possui mais de mil Unidades de Conservação da Natureza,
incluindo UCs federais, estaduais, municipais e privadas, distribuídas em mais de 75 milhões
de hectares. Esta área representa aproximadamente 8% do território nacional. As áreas de
proteção integral correspondem a aproximadamente 3% do território nacional. A
recomendação do IV Congresso Internacional de Áreas Protegidas, ocorrido em Caracas, em
1992, é que a área total de UCs seja de 10% do território, considerando o mínimo de proteção
integral por bioma. Conclui-se, portanto, que o Brasil está vulnerável nos aspectos de
proteção da sua biodiversidade (MMA, 2007).
A FIGURA 5 demonstra o percentual de unidades de conservação da natureza
no Brasil, por grupo e por bioma.
71
FIGURA 5: Unidades de conservação por grupo e por bioma.
Fonte: – Geo Brasil, 2002.
As unidades de conservação da natureza, administradas pelo governo federal,
são divididas entre parques nacionais e florestas nacionais, muitas vezes denominados
“parna” e “flona”, respectivamente. No Anexo 2, a relação destas unidades de conservação é
dividida por estado e região.
3.8.2 – Parque Nacional do Itatiaia
O Parque Nacional do Itatiaia localiza-se na divisa dos Estados do Rio de
Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, na Serra da Mantiqueira. Situa-se geograficamente entre
os paralelos 22º19’ e 22º45’ latitude sul e os meridianos 44º15’ e 44º50’ de longitude oeste.
Fica ao sudoeste do Estado do Rio de Janeiro, no município de Itatiaia, e a sudeste do Estado
72
de Minas Gerais. A FIGURA 6 mostra a facilidade de acesso ao parque a partir de três dos
maiores centros emissores de turistas do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
FIGURA 6 – Localização do Parque Nacional do Itatiaia. (PNI, 2007).
O PNI possui dois planos muito distintos, denominados parte alta e parte baixa.
A parte baixa, toda localizada em Itatiaia, município do Rio de Janeiro, é a área originária do
Parque, desde sua fundação em 1937, com 10 mil hectares. A expansão do Parque Nacional
do Itatiaia ocorreu em 1982, através do decreto No. 87.586, de 20 de setembro de 1982,
assinado pelo então Presidente Figueiredo, ampliando sua área para quase 30 mil hectares.
A parte baixa, onde se localiza a sede administrativa do PNI/IBAMA, compõe-
se de atrativos diferentes dos das montanhas. Além da forte presença de macacos, esquilos,
quatis, jacus, aves variadas e inúmeras plantas, com destaque para as bromélias, na parte
baixa encontram-se o centro de visitantes, um museu, as cachoeiras do Maromba e do
Poranga, o lago azul e o mirante do Último Adeus, um excelente ponto de observação da
paisagem de todo o PNI.
73
O acesso à parte baixa, saindo do Rio de Janeiro ou São Paulo, é pela Rodovia
Presidente Dutra (BR 116) até a cidade de Itatiaia, na altura do km 316. A viagem dura
aproximadamente 2h h 30min vindo do Rio de Janeiro e 3 horas saindo de São Paulo.
A parte alta, também conhecida como Planalto, é composta por montanhas e
espécies típicas de ambientes frios. Nota-se com freqüência a presença de araucárias e outras
espécies encontradas somente em campos de altitude, onde a alteração na paisagem é
facilmente percebida durante o percurso que dá acesso à região. O montanhismo é prática
freqüente entre os visitantes da parte alta, devido à presença de uma belíssima cadeia de
montanhas, onde estão o pico das Agulhas Negras, o Morro do Couto, o Cume das Prateleiras,
a Pedra do Altar e outros. No acesso à parte alta, localiza-se a pousada em maior altitude do
Brasil, a Pousada Alsene, que está a 2400 m de altitude. Conforme a legislação ambiental
brasileira, toda construção acima de 1.800 m de altitude encontra-se em APP – Área de
Proteção Permanente, definida pelo SNUC.
A parte alta do PNI está na divisa dos Estados do Rio de Janeiro e Minas
Gerais sendo os seus limites inseridos nos territórios dos municípios de Itatiaia, no estado do
Rio de Janeiro, e Itamonte, Alagoa e Bocaina de Minas, em Minas Gerais.
A FIGURA 7 mostra a localização da parte alta, da parte baixa e dos principais
atrativos existentes no parque.
74
FIGURA 7: Planta e orientação dos atrativos do Parque Nacional do Itatiaia
Fonte: PNI, 2007.
A cobertura vegetal do parque é predominantemente de palmito Jussara,
eotherpes edulis, que corresponde a cerca de 40% da área total do parque nacional do Itatiaia.
Esta árvore precisa de aproximadamente 170 anos para atingir seu tamanho adulto como as
existentes no PNI, de acordo com afirmações dos servidores do Ibama.
Em seu território, o PNI possui 12 nascentes de Rios e Córregos: Campo Belo,
Taquaral, Tapera, Alambari, Aiuruoca, Maromba, Itaporani, Rebouças, Bonito, Água Branca,
Preto e Agulhas Negras (PNI, 2007).
75
4 – Metodologia
O estudo iniciou-se com pesquisa de gabinete compreendendo pesquisa
bibliográfica e exploratória sobre as questões relacionadas à biodiversidade e ao turismo.
Nessa fase, foram elaborados os instrumentos de pesquisa e coleta de dados necessários à
pesquisa de campo. Optou-se pela utilização de questionários e entrevistas. Definiu-se pela
utilização de questionários de pesquisa, para aplicação junto aos turistas que visitavam a
unidade de conservação e entrevistas com os gestores da mesma unidade.
O questionário foi composto por três partes e teve por objetivo avaliar, as
dimensões de sustentabilidade (primeira parte), a importância dada pelos turistas aos atrativos
relacionados à biodiversidade (segunda parte) e aspectos tipológicos dos turistas (terceira
parte). (Apêndice 2).
A primeira parte avaliou os aspectos relacionados ao parque e seu entorno. A
elaboração dessa etapa baseou-se no método desenvolvido pelo estudo Measuring the
Sustainability of Tourism in Manuel Antonio/ Quepos end Texel: a tourist perspective,
desenvolvido em 2004 pelos pesquisadores da Universidade Wageningen – Holanda – Stuart
Cotrell, René van der Duim, Patrícia Ankersmid e Liesbeth Kelder, conforme artigo publicado
no Journal of Sustainable Tourism, 2004. O artigo aponta, em sua descrição metodológica,
uma tabela com a definição de três aspectos de sustentabilidade: ecológico, sócio-cultural e
econômico. Acrescentou-se um quarto aspecto: aspectos relacionados ao turismo, ou seja,
ofertas de programas de educação ambiental e políticas de divulgação do parque. Para avaliar
cada aspecto selecionou-se de cinco a sete itens. O entrevistado pontuou cada item de 1 a 5,
sendo 1 = péssimo, 2 = ruim, 3 = regular, 4 =bom e 5 = ótimo.
A segunda parte avaliou o interesse dos turistas em relação aos atrativos
relacionados à biodiversidade e à prática da atividade turística na unidade de conservação.
76
Essa parte era composta de 13 itens, podendo cada item ser avaliado em uma escala de zero a
quatro pontos, onde quatro representava o máximo interesse.
A terceira parte teve por objetivo a caracterização dos turistas. O modelo do
questionário aplicado encontra-se no apêndice 2.
Elaborado o questionário de pesquisa, foi realizada a aplicação dos
questionários de pré-teste. Essa fase da pesquisa ocorreu de 4 a 9 de abril de 2007, aplicados
na parte baixa do PNI. Identificada a necessidade de ajustes, foram realizados tão logo no
retorno a Belo Horizonte para continuidade e reaplicação para a coleta de dados definitiva.
Os questionários, já ajustados, foram aplicados aos turistas presentes no Parque
Nacional do Itatiaia em abril e maio de 2007.
A abordagem aos turistas ocorreu no Posto 3 do Ibama, que funciona como
sede dos atrativos da parte alta, e na ponte do Maromba e Lago Azul, locais de grande
concentração de visitantes na parte baixa.
O tamanho da amostra foi calculado pela fórmula a seguir (SILVA, 2004):
2
2
e
qpz
n
=
em que: n = tamanho da amostra; z = margem de confiança na distribuição normal; p =
probabilidade de sucesso; q = complemento da probabilidade; e = margem de erro.
Considerou-se a situação menos favorável que é p=0,5 (q=0,5). Para um nível de confiança de
95% (z=1,96) e uma margem de erro é de 9,5%, o valor de n=107.
Do total de 107 questionários de pesquisa aplicados junto aos turistas, não
houve a presença de estrangeiros, sendo a origem dos turistas os diversos estados da
federação. De acordo com as informações dos servidores do Ibama, a presença de estrangeiros
concentra-se mais nos meses de outubro a dezembro, na primavera, sendo a observação de
pássaros uma motivação de viagem que merece ser destacada, apesar de haver outros
77
interesses por parte desses turistas. Suas origens são variadas, segundo os servidores, sendo
notada grande presença de ingleses, alemães, australianos, japoneses, norte-americanos e
canadenses. O período de coleta de dados foi de 19 de abril a 2 de maio de 2007,
compreendendo um período de alta demanda devido ao feriado de 1º. de maio, Dia do
Trabalho.
Encerrada a aplicação dos questionários, esses dados foram tabulados e
analisados em seguida à aplicação, em Belo Horizonte, com a utilização da informática
através do software Microsoft Excel e SPSS. O tratamento dos dados coletados baseou-se em
interpretações empíricas e estatísticas, utilizando a técnica da análise fatorial para validar os
aspectos quantitativos.
As respostas às questões relativas aos principais interesses do turista durante
sua visita ao parque foram analisadas por meio da técnica estatística de análise fatorial. Teve-
se em mente reduzir o número de variáveis independentes por meio de fatores, que são
combinações lineares dos 13 itens do questionário, não correlacionados entre si.
Amend (2001) explicitando a metodologia utilizada para analisar as
características do mercado ecoturístico da região do Parque Nacional da Barra do Superagüi,
esclarece que “(...) o questionário deve ser construído de tal forma que o objetivo da pesquisa
esteja claro ao entrevistado (não disfarçado)”. Este autor fez uso da análise fatorial para a
realização de sua pesquisa, e afirma que esta técnica “(...) pode ser utilizada como apoio na
determinação das características do mercado ecoturístico. Não dispensa, no entanto, uma
análise empírica da situação local, que depende em última instância do conhecimento da
localidade de análise”.
O questionário de pesquisa foi o principal instrumento de coleta de dados, mas
não o único. Além dos 107 questionários aplicados junto aos turistas, foram entrevistados os
78
principais servidores do Ibama, que forneceram importantes informações acerca do uso
turístico da unidade de conservação.
A observação participante também foi significativa, dada a presença constante
no PNI, a convivência diária com os agentes envolvidos com a administração, presença e
ocupação do espaço da primeira unidade de conservação do país. Foram informações
necessárias à interpretação do contexto, que forneceram subsídios fundamentais para a
explicação e entendimento dos dados coletados, sustentando a análise e as conclusões dessa
pesquisa.
A observação participante é uma técnica de pesquisa qualitativa, onde o
pesquisador convive com os envolvidos no estudo durante o tempo de realização da pesquisa,
de forma a obter dados confiáveis, que auxiliam na interpretação e análise dos resultados.
Essa técnica proporcionou informações que muito auxiliaram na coleta de dados e outras
decisões relacionadas à pesquisa. Permitiu conhecer muitos dos problemas e desafios da
unidade de conservação, os empreendimentos existentes nas dependências do parque, a
relação entre o Ibama e os moradores, o acervo a ser explorado, a existência de
aproximadamente 180 sítios de segunda residência existentes na parte baixa do parque e
detalhes sobre flora, fauna, cobertura vegetal e singularidades do PNI não seriam possíveis
sem a convivência com a equipe do Ibama.
As informações sobre o PNI foram obtidas através de pesquisas em
documentos do acervo da própria unidade de conservação (fontes primárias), documentos do
governo federal, como leis, decretos, portarias, instruções normativas, entre outros; e em
entrevistas junto aos servidores do Ibama. Foram entrevistados o Chefe do Parque, maior
responsável hierárquico pela unidade de conservação, o chefe de pesquisa, que apontou
caminhos e disponibilizou a consulta ao acervo do parque, além do Coordenador do Programa
79
de Uso Público e Ecoturismo, que forneceu as mais precisas informações sobre a prática do
turismo, do ecoturismo e muitos outros dados cruciais para a realização desse estudo.
Para a realização dessas entrevistas, foi elaborado um questionário semi-
estruturado (apêndice 1). Este serviu para orientar a condução da entrevista e permitir a
captação qualitativa das informações necessárias à realização dessa pesquisa.
80
5 – Resultados e discussão
O capítulo 5 é dedicado à apresentação dos dados coletados na pesquisa. A
seguir, serão discutidos os resultados obtidos com a análise dos dados coletados, tanto no
questionário como nas entrevistas e observação participante.
5.1 – Perfil dos turistas
A TABELA 4 mostra os perfis dos turistas que visitavam o Parque Nacional do
Itatiaia, no período da pesquisa e os de turistas do Parque Nacional de Manuel Antônio, em
Quepos, e a ilha Texel, na Holanda. Conforme Duim (2005), no Parque Nacional Manuel
Antonio, situado na Costa Rica, suas praias são muito bonitas, mas a infra-estrutura é muito
falha. Há pouca informação sobre atividades turísticas, dependência de guias locais, um
centro de visitantes deficiente e administradores do parque sem treinamento. Apesar destes
problemas, o Parque Manuel Antônio exerce uma forte atração sobre os turistas. Por outro
lado, Texel, uma ilha da Holanda, apresenta atrações costeiras, que, tal como Manuel
Antônio, podem se transformar em atrações fatais, pela agressão ao meio ambiente e à
sustentabilidade, de forma geral. Embora estes dois exemplos, da Costa Rica e da Holanda, se
refiram a atividades de praia, optou-se por mostrar uma comparação de perfis de turista, pois
os três requerem medidas de sustentabilidade.
81
TABELA 4 - Perfis dos turistas de Manuel Antônio/Quepos, Texel e PNI.
Variáveis de perfil Manuel Antônio
N=300
Texel
n=299
Parque Nacional do
Itatiaia n=107
Gênero
Masculino 48% 47% 48,5%
Feminino 52% 53% 51,4%
Média de idade (anos) 35 42 35,8
Nível educacional
Baixo
*
5 15 0
Médio
**
18 31 8%
Superior
***
78 54 92%
Tempo de permanência (noites) 7,5 12,4 1,8
Visitação repetida
Visitas prévias 19% 68% 76,6%
Primeira vez que visita 81% 32% 23,4%
*
Nível educacional baixo: até o 1º. Grau //
**
Nível educacional médio: 2º. Grau //
***
Nível educacional
superior: superior em diante.
Fonte: Cotrell et al., 2004 e esse trabalho.
Assim, da Tabela 4 pode-se concluir que:
Não há diferença significativa entre o número de turistas de sexo
feminino e masculino, no PNI e em Manuel Antônio e Texel.
A grande maioria dos visitantes (92%) do PNI tem nível superior de
escolaridade superior à de Manuel Antônio e Texel.
O PNI tem 76,6% de turistas que retornam, percentagem próxima à de
Texel; talvez devido à deficiência de infra-estrutura, Manuel Antônio recebe
uma grande percentagem de turistas de primeira visita, que não retornam em
sua grande maioria.
82
5.2 – Percepções dos turistas das dimensões de sustentabilidade
Analisaram-se as dimensões de sustentabilidade, ou seja, os aspectos
ecológicos, sócio-culturais e econômicos, conforme sugerido por Cottrell et al. (2004) aos
quais foram adicionados sete itens específicos ao turismo no PNI. As pontuações médias para
cada item estão mostradas na TABELA 5.
Não se observaram, em média, pontuações abaixo de regular. Observa-se uma
boa homogeneidade das pontuações de cada item das 3 dimensões de sustentabilidade. A
maioria dos itens teve pontuação acima de 4 (entre bom e ótimo), com exceção dos aspectos
econômicos que tiveram a maioria de respostas abaixo de 4 (entre regular e bom).
Para a dimensão ecológica, o uso racional de água e fontes energéticas foi o
que teve a maior nota mostrando ser o item que mais preocupa os turistas. Este resultado
difere do resultado encontrado na pesquisa de Manuel Antônio/Quepos e Texel que tiveram
como prioridade a preocupação com preservação de plantas e animais e poluição ambiental
(citados em ambos os locais), autenticidade cultural e exaustão de recursos naturais.
Na dimensão sócio-cultural observa-se que o item segurança recebeu a maior
pontuação média, e os outros itens tiveram pontuações muito próximas sendo que a menor
pontuação recaiu sobre o item contribuição do turismo para a melhoria da infra-estrutura
local.
Para a dimensão econômica, a maior pontuação foi para o item Preço para o
turista de serviços, produtos e taxas do parque, sendo que a menor pontuação foi dada ao
item Oferta de produtos e souvenires para o turista.
83
TABELA 5: Médias e desvios-padrão para todos os aspectos avaliados na pesquisa
Aspectos ecológicos
média
Desvio-
padrão
coeficiente
de variação
1- Ausência de poluição do meio ambiente, água, ar e solo 4,2 0,6 15,4%
2- Ausência de distúrbio e perda de variedade de plantas e animais 4,1 0,8 19,0%
3- Preservação de atrativos naturais 4,2 0,7 15,9%
4- Uso racional de água e fontes energéticas 4,3 0,7 15,3%
5- Medidas de proteção de plantas e animais 4,2 0,9 21,8%
Aspectos sócio-culturais
média
Desvio-
padrão
coeficiente
de variação
1- Preservação do estilo de vida local e hábitos tradicionais dos habitantes 4,0 0,8 20,9%
2- Segurança na area 4,5 0,9 19,2%
3- Arquitetura e urbanização na área 4,2 0,9 22,5%
4- Quantidade adequada de turistas ao redor dos atrativos naturais 4,1 0,8 18,8%
-
Ausência de aversão e hostilidade dos habitantes em relação aos turistas 4,2 0,8 19,5%
6- Contribuição do turismo para a melhoria da infra-estrutura local 3,9 1,0 26,0%
Aspectos econômicos
média
Desvio-
padrão
coeficiente
de variação
1- Preço para o turista de serviços, produtos e taxas do parque 4,1 0,8 20,5%
2- Remuneração e oportunidades de trabalho para pessoas da região 3,9 0,9 24,0%
3- Oferta de produtos e souvenires para o turista, no parque 3,2 1,2 38,6%
4- Oportunidades iguais para homens e mulheres no mercado de trabalho
da região
3,8 1,0 25,1%
5- Influência de investimentos de pessoas de outras regiões na economia
local
3,8 1,0 27,3%
Aspectos relacionados ao turismo
média
Desvio-
padrão
coeficiente
de variação
1- Ofertas de programas de educação ambiental 3,9 0,9 23,5%
2- Disponibilidade de guias e condutores especializados 3,9 1,0 26,0%
3- Políticas externas de divulgação do parque e seus atrativos (publicidade) 3,9 1,0 25,8%
4- Disponibilidade de informações turísticas 3,9 1,0 26,7%
-
Qualidade do centro de visitantes e infra-estrutura de atendimento aos
turistas
3,7 0,9 25,6%
6- Opções de atividades turísticas em áreas naturais 4,6 0,7 15,5%
7- Destaques dados aos aspectos da biodiversidade do parque 4,2 0,9 22,5%
O GRÁFICO 1 apresenta as médias globais para cada aspecto, separadamente.
Observa-se que os aspectos ecológicos são os mais valorizados. Por outro lado, os aspectos
econômicos receberam a menor nota das quatro dimensões, mostrando que este aspecto
necessita de um olhar mais cuidadoso por parte dos planejadores.
84
GRÁFICO 1 – Importância das dimensões de sustentabilidade no PNI.
3,4
3,6
3,8
4,0
4,2
4,4
Aspectos
ecológicos
Aspectos
cio-
culturais
Aspectos
econômicos
Aspectos
relacionados
ao turismo
Pontuação por dimensão
5.3 – Interesses dos turistas
As respostas às questões relativas aos principais interesses dos turistas durante
a visita ao parque, foram analisadas por meio da técnica estatística de análise fatorial. Teve-se
em mente reduzir o número de variáveis independentes por meio de fatores, que são
combinações lineares dos 13 itens do questionário, não correlacionados entre si.
Os resultados da análise fatorial, utilizando a matriz de covariância, pelo
método de componentes principais são apresentados a seguir.
A análise fatorial inicia-se com a avaliação da comunalidade de cada item. Ela
pode ser interpretada como a proporção da variância do item que é explicada pelos fatores.
Portanto, quanto maiores as comunalidades, maior a informação sobre os 13 itens contida nos
fatores selecionados (TABELA 6).
85
TABELA 6 – Comunalidades
Inicial Extração
Quantidade de espécies de animais e plantas (M1) 1,000 ,888
Diversidade de espécies de animais e plantas (M2) 1,000 ,799
Roteiros interpretativos em áreas naturais (M3) 1,000 ,539
Fotografia da natureza (M4) 1,000 ,443
Caminhadas (M5) 1,000 ,684
Observação de pássaros e animais de uma forma geral (M6) 1,000 ,751
Observação de plantas (M7) 1,000 ,841
Observação da paisagem (M8) 1,000 ,664
Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade (M9) 1,000 ,563
Gastronomia baseada em produtos da região (M10) 1,000 ,747
Plantas medicinais (M11) 1,000 ,664
Atividades relacionadas à fauna e flora aquática (M12) 1,000 ,686
Lazer com a família e/ou amigos (M13) 1,000 ,658
Método de extração: Análise dos componentes principais.
A TABELA 7 apresenta a matriz de correlação dos fatores analisados. A
notação M1, M2, etc, refere-se a cada item avaliado, de acordo com a TABELA 6.
Na TABELA 8 apresentam-se os autovalores que permitem que se decida o
número de fatores a serem extraídos. O primeiro fator explica 36 % da variância dos 13 itens;
esse valor é obtido dividindo-se o autovalor pela soma dos autovalores. O segundo fator
explica aproximadamente 15 % e, portanto o primeiro e segundo fatores juntos explicam 51%
da variância, e assim por diante. Um critério usual para seleção de fatores é selecionar apenas
aqueles cujos autovalores são maiores que 1. Dessa forma, da TABELA 5, são selecionados 4
fatores que juntos explicam 69% da variância dos itens.
86
TABELA 7 - Matriz de Correlação
M1 M2 M3 M4 M5 M6 M7 M8 M9 M10 M11 M12 M13
Correlação M1 1,000 ,749 ,498 ,117 ,125 ,556 ,326 ,351 ,169 ,169 ,153 ,341 ,076
M2 ,749 1,000 ,330 ,225 -,031 ,555 ,414 ,391 ,173 ,163 ,243 ,354 ,054
M3 ,498 ,330 1,000 ,299 ,355 ,329 ,340 ,314 ,266 ,321 ,453 ,421 ,180
M4 ,117 ,225 ,299 1,000 ,157 ,219 ,384 ,162 ,145 ,258 ,435 ,155 ,208
M5 ,125 -,031 ,355 ,157 1,000 ,048 ,062 ,114 ,216 ,274 ,119 ,342 ,153
M6 ,556 ,555 ,329 ,219 ,048 1,000 ,750 ,567 ,259 ,269 ,450 ,414 ,095
M7 ,326 ,414 ,340 ,384 ,062 ,750 1,000 ,685 ,399 ,245 ,415 ,365 ,044
M8 ,351 ,391 ,314 ,162 ,114 ,567 ,685 1,000 ,272 ,087 ,225 ,181 -,041
M9 ,169 ,173 ,266 ,145 ,216 ,259 ,399 ,272 1,000 ,269 ,316 ,481 ,049
M10 ,169 ,163 ,321 ,258 ,274 ,269 ,245 ,087 ,269 1,000 ,549 ,597 ,560
M11 ,153 ,243 ,453 ,435 ,119 ,450 ,415 ,225 ,316 ,549 1,000 ,518 ,214
M12 ,341 ,354 ,421 ,155 ,342 ,414 ,365 ,181 ,481 ,597 ,518 1,000 ,374
M13 ,076 ,054 ,180 ,208 ,153 ,095 ,044 -,041 ,049 ,560 ,214 ,374 1,000
Sig.(1-tailed) M1 ,000 ,000 ,117 ,103 ,000 ,000 ,000 ,043 ,043 ,061 ,000 ,221
M2 ,000 ,000 ,011 ,376 ,000 ,000 ,000 ,039 ,049 ,006 ,000 ,295
M3 ,000 ,000 ,001 ,000 ,000 ,000 ,001 ,003 ,000 ,000 ,000 ,034
M4 ,117 ,011 ,001 ,056 ,013 ,000 ,050 ,071 ,004 ,000 ,058 ,017
M5 ,103 ,376 ,000 ,056 ,315 ,266 ,125 ,014 ,002 ,115 ,000 ,061
M6 ,000 ,000 ,000 ,013 ,315 ,000 ,000 ,004 ,003 ,000 ,000 ,168
M7 ,000 ,000 ,000 ,000 ,266 ,000 ,000 ,000 ,006 ,000 ,000 ,329
M8 ,000 ,000 ,001 ,050 ,125 ,000 ,000 ,003 ,189 ,011 ,033 ,341
M9 ,043 ,039 ,003 ,071 ,014 ,004 ,000 ,003 ,003 ,001 ,000 ,309
M10 ,043 ,049 ,000 ,004 ,002 ,003 ,006 ,189 ,003 ,000 ,000 ,000
M11 ,061 ,006 ,000 ,000 ,115 ,000 ,000 ,011 ,001 ,000 ,000 ,015
M12 ,000 ,000 ,000 ,058 ,000 ,000 ,000 ,033 ,000 ,000 ,000 ,000
M13 ,221 ,295 ,034 ,017 ,061 ,168 ,329 ,341 ,309 ,000 ,015 ,000
TABELA 8 – Autovalores e variância para os 13 fatores.
Variância total explicada
Autovalores Soma da extração das cargas ao
quadrado
Somas da rotação das cargas ao
quadrado
Compo-
nente
Total % da
variância
%
acumulada
Total % da
Variância
%
acumulada
Total % da
Variância
%
acumulada
1 4,715 36,273 36,273 4,715 36,273 36,273 2,592 19,942 19,942
2 1,943 14,946 51,218 1,943 14,946 51,218 2,308 17,752 37,693
3 1,179 9,069 60,288 1,179 9,069 60,288 2,303 17,717 55,411
4 1,090 8,382 68,670 1,090 8,382 68,670 1,724 13,259 68,670
5 ,950 7,309 75,979
6 ,762 5,862 81,841
7 ,620 4,769 86,610
8 ,512 3,938 90,548
9 ,360 2,765 93,314
10 ,303 2,331 95,645
11 ,268 2,058 97,703
12 ,181 1,391 99,093
13 ,118 ,907 100,000
Método de extração: Análise dos principais componentes
O GRÁFICO 2 comprova o resultado apresentado na TABELA 8. Observa-se
que a partir do componente 5 os autovalores caem abaixo de 1.
87
GRÁFICO 2 – Autovalores para cada componente
Autovalores
13121110987654321
g
5
4
3
2
1
0
Número do Componente
A TABELA 9 apresenta a matriz fatorial que contém os coeficientes atribuídos
a cada item da escala nos 4 fatores extraídos. A interpretação dos fatores depende da
magnitude desses coeficientes, ou pesos, atribuídos a cada item.
TABELA 9 – Matriz dos Componentes (sem rotação)
Componentes
1 2 3 4
M1 ,628 -,371 ,597 1,789E-02
M2 ,637 -,428 ,417 -,192
M3 ,660 9,783E-02 ,206 ,227
M4 ,460 ,153 -,335 -,310
M5 ,312 ,396 ,115 ,645
M6 ,767 -,370 -6,146E-02 -,146
M7 ,746 -,333 -,414 -4,069E-02
M8 ,590 -,474 -,262 ,149
M9 ,515 ,105 -,288 ,451
M10 ,587 ,603 4,695E-02 -,189
M11 ,673 ,286 -,290 -,212
M12 ,716 ,369 ,135 ,137
M13 ,321 ,605 ,223 -,373
Método de extração: Análise dos principais componentes (4 componentes extraídos)
Em geral, em uma solução inicial, todos os itens apresentam coeficientes altos
no primeiro fator e, assim, este fica sendo uma “média” de todas as informações sem
nenhuma interpretação própria. Para contornar esse problema, sugere-se sempre analisar uma
solução com rotação, que resulta num conjunto de fatores distintos, cada um representando
uma característica comum aos itens presentes no fator.
88
Essa solução com rotação é apresentada na TABELA 10. Foi utilizada a
rotação Varimax, que é a mais comumente utilizada. A rotação Varimax é um método de
rotação ortogonal, cujo objetivo é minimizar o número de itens que têm altos coeficientes em
cada fator, simplificando a interpretação dos mesmos. Pode-se observar que, extraindo-se
quatro fatores, o percentual da variabilidade explicada não é alterado pela rotação, sendo igual
a 69%. Na TABELA 10 são apresentados os coeficientes associados a cada variável em cada
um dos 4 fatores selecionados. Para facilitar a interpretação dos resultados, os coeficientes são
apresentados em cores de acordo com a sua magnitude. Os 4 maiores coeficientes para cada
fator foram destacados em azul e os 4 menores coeficientes foram destacados em vermelho.
Os itens “Roteiros interpretativos em áreas naturais” e “Fotografia da natureza” ficaram
marcados em 2 fatores pela pequena diferença entre os números, tornando difícil a opção de
cada um deles por um ou por outro fator. Estes itens não têm uma parte significativa de sua
variância explicada por um único fator.
TABELA 10 – Solução com rotação Varimax, com extração de 4 fatores.
Componentes
12 3 4
Quantidade de espécies de animais e plantas
,111 4,04E-02 ,922 ,153
Diversidade de espécies de animais e plantas
,276 ,103 ,842 -5,205E-02
Roteiros interpretativos em áreas naturais
,205 ,268 ,430 ,490
Fotografia da natureza
,470 ,466 -3,90E-02 -5,20E-02
Caminhadas
-8,54E-02 ,105 1,03E-02 ,816
Observação de pássaros e animais de uma forma geral
,661 ,159 ,537 3,12E-02
Observação de plantas
,871 ,105 ,246 ,107
Observação da paisagem
,713 -,159 ,319 ,168
Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade
,442 6,89E-02 -2,53E-02 ,602
Gastronomia baseada em produtos da região
,101 ,806 8,99E-02 ,281
Plantas medicinais
,510 ,613 3,59E-02 ,162
Atividades relacionadas à fauna e flora aquática
,188 ,533 ,296 ,528
Lazer com a família e/ou amigos
-,171 ,787 9,30E-02 3,28E-02
Método de extração: Análise dos principais componentes (4 componentes extraídos)
Método de rotação: Varimax com normalização Kaiser (a rotação convergiu em 7 iterações).
Da TABELA 10 pode-se concluir que os quatro fatores se referem aos aspectos
ligados a:
89
Fator 1 – contemplação da natureza;
Fator 2 – lazer com a família;
Fator 3 - quantidade e diversidade de animais e plantas e
Fator 4 - estudos e pesquisas.
A solução com 4 fatores foi selecionada de forma técnica, a partir do critério
de selecionar os fatores com autovalor maior que 1. Como houve uma dificuldade de
interpretação dos resultados com 4 fatores, pelo fato apontado acima, tentou-se a solução com
6 fatores de forma a elevar o percentual de explicação de 69% para 82% na solução.
A TABELA 11 apresenta os resultados para 6 fatores. Observa-se, nesse caso,
que o fator 1 concentra os fatores que se relacionam com a observação da natureza, o fator 2
com quantidade e diversidade de animais e plantas, o fator 3 com comida e lazer, o fator 4
com atividades relacionadas à pesquisa e estudos, o fator 6 parece estar ligado aos esportes ao
ar livre, ficando o fator 5 mais ligado à fotografia da natureza. Aqui, também, há dificuldade
de interpretação, já que o item “Roteiros interpretativos em áreas naturais” não se encaixa
claramente em um fator e o item “Plantas medicinais” apresenta altos valores em 2 fatores.
Os resultados com 6 fatores não permitem uma melhor interpretação dos
fenômenos em relação aos resultados de 4 fatores, o que sugere que os 4 fatores apresentados
acima, na tabela 8 explicam satisfatoriamente os 13 itens relacionados com o interesse dos
turistas que visitam o parque.
90
TABELA 11 - Matriz dos componentes com rotação, com 6 fatores
Componentes
1 2 3 4 5 6
Quantidade de animais e plantas
,204 ,913 5,01E-02 4,24E-02 -1,07E-02 ,143
Diversidade de espécies de animais e plantas
,276 ,846 4,88E-02 7,748E-02 ,108 -,119
Roteiros interpretativos em áreas naturais
9,45E-02 ,486 9,02E-02 ,222 ,393 ,500
Fotografia da natureza
,172 4,18E-02 ,102 -5,85E-02 ,884 ,107
Caminhadas
3,90E-02 -2,18E-02 ,154 ,133 2,93E-02 ,914
Observação de pássaros e animais de uma
forma geral
,707 ,451 ,172 ,192 ,128 -,100
Observação de plantas
,844 ,159 5,91E-02 ,250 ,276 -1,88E-02
Observação da paisagem
,873 ,177 -6,26E-02 4,98E-02 2,60E-02 ,165
Participação em pesquisa e estudo sobre
biodiversidade
,232 1,76E-02 -2,45E-02 ,839 2,71E-02 ,149
Gastronomia baseada em produtos da região
5,63E-02 7,91E-02 ,774 ,343 ,224 ,106
Plantas medicinais
,161 ,126 ,307 ,487 ,629 -6,52E-02
Atividades relacionadas à fauna e flora
aquática
,112 ,308 ,506 ,636 5,34E-02 ,184
Lazer com a família e/ou amigos
-3,41E-03 1,36E-02 ,902 -,101 6,62E-02 8,82E-02
Método de extração: Análise dos principais componentes 6 componentes extraídos)
Método de rotação: Varimax com normalização Kaiser (a rotação convergiu em 7 iterações).
5.4 – Análises das entrevistas e observação participante
Nas entrevistas junto aos servidores do Ibama, surgiram informações acerca de
pesquisas desenvolvidas, espécies de fauna e flora, especialmente as nativas, as endêmicas e
as ameaçadas de extinção. Os servidores informaram também sobre os principais problemas e
os grandes desafios e dificuldades enfrentadas no PNI, como os incêndios florestais e a
necessidade de treinamento permanente das brigadas anti-fogo, a conflitante convivência com
moradores, especialmente na parte baixa, onde existem residentes e empreendimentos
91
hoteleiros, e na parte alta, com comunidades tradicionais. Relataram os problemas da
ocupação humana, como lixo, esgoto e veículos, que provocam atropelamentos de animais.
As entrevistas junto aos servidores do Ibama – Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e Recursos Renováveis – foram imprescindíveis para decidir qual o caminho a
seguir. Poucos são os estudos sobre turismo no PNI. A biodiversidade possui maior produção
de trabalhos, mas a integração dessas duas temáticas até então não havia se realizado, visto
que os estudos sobre biodiversidade já desenvolvidos foram realizados, majoritariamente, sob
a perspectiva da botânica e da biologia em geral. Em consulta ao acervo de trabalhos de
pesquisa de mestrado e doutorado realizados no PNI, foram encontrados títulos da área de
Biologia, Botânica, Engenharia Florestal, Medicina Veterinária, Ecologia e ciências afins,
com diversos aprofundamentos e diversidade de análise. Alguns desses estudos abordam a
questão da prática do turismo dentro da Unidade de Conservação, sem, contudo, aprofundar
essa perspectiva, tratando o turismo de maneira superficial apenas para afirmar seu
acontecimento na unidade de conservação. Essa constatação motivou a continuação da
pesquisa, com todas as dificuldades e contratempos encontrados, e ofereceu a energia
necessária à sua conclusão.
Há um programa de uso público e ecoturismo, responsável por toda utilização
turística do Parque Nacional do Itatiaia. Este programa, em acordo com a portaria No. 19 de
21 de janeiro de 2005, que cria o Programa Nacional de Voluntariado em Unidades de
Conservação, qualifica guias e condutores locais para acompanhamento dos turistas nas
dependências internas do parque, tanto na parte alta como na parte baixa. Embora não seja
obrigatório o acompanhamento de guias credenciados, os trabalhos dos condutores são
recomendados pelo parque, que disponibiliza, inclusive, uma lista de contatos dos condutores
credenciados no próprio sítio do parque nacional na internet. Desse modo, os turistas se
responsabilizam pelo pagamento e controle dos serviços contratados; o parque se isenta de
92
responsabilidades diversas, até mesmo de segurança e integridade dos turistas. O Ibama é
responsável pela coordenação desse programa. A coordenação também se responsabiliza pelo
controle do acesso de turistas às dependências do parque, tanto a entrada de pessoas como de
veículos, na parte alta e baixa do PNI.
O PNI recebe aproximadamente 70 mil visitantes por ano, sendo 80% na parte
baixa. Além dos visitantes de turismo, o parque é freqüentado pelos moradores e servidores
do Ibama e instituições de pesquisa, escolas e grupos de treinamento militar. (PNI, 2007).
No Parque Nacional do Itatiaia, observa-se grande demanda de visitantes
interessados em sua enorme riqueza de bromélias, observação de pássaros e seus respectivos
cantos, paisagens montanhosas, macacos e o sapo vermelho e preto conhecido como
flamenguinho, melanoprhyniscus moreirae, responsável pela interdição de uma estrada de
acesso a atrativos no planalto entre os meses de setembro a dezembro, época de sua
reprodução, principalmente por tratar-se de uma espécie endêmica. A riqueza da sua
biodiversidade conta também com aproximadamente 365 espécies de aves, mais de 50
espécies de mamíferos e mais de 5.000 espécies de insetos (Idem).
Nas entrevistas, esses servidores relataram que o PNI possui dois importantes
documentos de gestão da unidade: o Plano de Manejo, elaborado em 1982; e o Plano de Ação
Emergencial, de 1994. Os servidores foram enfáticos em afirmar que ambos encontram-se
desatualizados, mas consideram muito importante a existência desses instrumentos.
Os principais problemas e ameaças à biodiversidade do PNI são muitos. Nas
entrevistas junto aos servidores do Ibama, foram listados os que são considerados mais
graves:
Questão fundiária: devido principalmente à falta de indenização por
parte do poder público, todos que possuem propriedades em áreas do parque
não foram retirados. Somente na parte baixa existem aproximadamente 180
93
sítios ocupados, além de empreendimentos de hospedagem, com prédios que
chegam a 4 andares;
Incêndios: embora exista um trabalho preventivo e a formação de
brigadas, os incêndios constituem ameaça grave. Há também a colocação de
fogo pelos próprios moradores para preparação e demarcação de solo para
agricultura e pecuária, além de alguns moradores insistirem em colocar fogo
no lixo doméstico;
Atropelamentos e animais eletrocutados: muitos animais são
atropelados ou eletrocutados na área do parque. Uma rodovia federal, a BR-
485, corta seu território. Embora seja de velocidade controlada a até 40 km/h,
muitos ultrapassam o limite recomendado. A estrada é passagem de inúmeros
animais, freqüentemente observados na rodovia. Outros são eletrocutados na
estrutura de distribuição de energia elétrica existente no PNI, tanto na parte
baixa quanto na parte alta;
Caçadores e coletores de palmito: embora cause indignação, observa-se
a presença de caçadores em alguns momentos e trilhas do parque, bem como
os coletores de palmito, espécie que corresponde a 40% da cobertura vegetal
do parque. Atualmente a coleta de espécies de animais e plantas é controlada, e
somente autorizada para a realização de estudos e pesquisas. Mesmo assim, a
coleta de mamíferos está suspensa para garantir a sobrevivência das espécies.
Os macacos são exemplos dessa postura adotada pelo PNI;
Esgoto, lixo: a questão do esgoto, devido à presença e ocupação
humana, e o lixo produzido por moradores e até mesmo turistas são também
problemas de impacto ambiental observados no PNI.
94
Atualmente, há coleta regular do lixo doméstico dos habitantes do PNI,
realizado pela Prefeitura Municipal de Itatiaia. Observa-se a existência de fossas em
residências do PNI, um alto risco de contaminação do meio ambiente, especialmente do solo e
da água.
95
6 – Considerações finais
Esse estudo descreve a relação da biodiversidade com o turismo em uma
unidade de conservação da natureza do Brasil e destaca formas de aproveitamento dessa
biodiversidade para fins turísticos. O desenvolvimento de estudos envolvendo turismo e
biodiversidade em UC’s exige por parte dos pesquisadores superar esforços como:
complexidade da pesquisa, distância da unidade de conservação, sazonalidade da demanda
turística, dentre outros. Assim sendo, essa análise constitui-se como uma possibilidade de
trazer ao ambiente acadêmico a tênue relação entre turismo e biodiversidade que ocorre no
Brasil, sendo um importante instrumento para análise e reflexão para estudos futuros.
A análise dos dados obtidos possibilitou informações sobre a opinião dos
turistas sobre a biodiversidade do PNI. A biodiversidade constitui um importante atrativo
turístico, e o Brasil, sendo detentor de megabiodiversidade, descrita anteriormente, deve
beneficiar-se disso. Novas pesquisas deverão ser realizadas com o objetivo de conhecer as
opiniões de turistas nacionais e estrangeiros sobre o tema, colaborando para a elaboração de
produtos turísticos que tenham a biodiversidade como fator motivador. Como se sabe, os
segmentos do turismo de natureza vêm crescendo em todo mundo, destacando-se em muitos
países, como a Costa Rica.
O parque enfrenta inúmeros problemas, descritos no capítulo 5.4, que
necessitam de soluções para não colocar em risco a própria biodiversidade. Recomenda-se a
realização de novos estudos sobre o turismo tanto no Parque Nacional do Itatiaia como nas
demais unidades de conservação da natureza do Brasil. Estes estudos certamente apontarão
inúmeras possibilidades de desenvolvimento turístico relacionado ao meio ambiente, que
possibilitarão absorver potenciais demandas turísticas deste segmento.
96
A realização de diversas obras no PNI durante a coleta de dados dificultou em
parte a realização da pesquisa. Isto pode ter contribuído para afastar muitos turistas (tanto
brasileiros como estrangeiros), que, sabendo da realização das obras, prefeririam outro destino
turístico naquele momento, desejando visitar o PNI após o encerramento das melhorias em
suas edificações.
O estudo permitiu fazer uma análise crítica da sustentabilidade associada ao
turismo em UC’s e aponta as dificuldades de se conseguir o desenvolvimento sustentável
desta atividade conforme analisado no capítulo 3.7. Entretanto, pode-se afirmar que a
atividade turística contribui como instrumento de educação ambiental para a conservação da
natureza. A prática do turismo controlado e equilibrado em uma unidade de conservação
permite o aprendizado e o desenvolvimento da consciência ambiental, de forma educativa,
visando a preservação e a conservação do meio ambiente, tão almejada e cada vez mais
necessária à sobrevivência de inúmeras espécies, até mesmo a humanidade.
Diante disso apresenta-se a seguir, outras conclusões importantes desse estudo:
O Parque Nacional do Itatiaia é freqüentado por turistas maduros (idade
média de 36 anos), de ambos os sexos, com nível de formação superior, que
retornam ao Parque em outras oportunidades (77%).
De forma geral, os turistas avaliaram como adequadas as condições
ecológicas, sócio-culturais, econômicas e do turismo oferecido. Entretanto,
dadas as diferentes conceituações associadas a estes tópicos, diferenciam-se,
abaixo, as avaliações.
Os turistas avaliaram como adequadas as condições ecológicas
percebidas de ausência de poluição, preservação do ambiente, uso racional de
água e energia e a proteção dispensada a plantas e animais.
97
No que concerne aos aspectos sócio-culturais, os turistas avaliaram
mais positivamente o aspecto de segurança do PNI, e consideraram como
adequada a interação com os habitantes locais (pela ausência de aversão aos
turistas e pela melhoria de qualidade de vida). Os turistas não se manifestaram
de forma entusiasmada sobre a arquitetura, urbanização e atrativos turísticos.
As condições econômicas do PNI foram as que receberam a pior
avaliação, principalmente no que concerne à disponibilidade de souvenires. Os
aspectos de oportunidades de trabalho e condições econômicas dos nativos de
sexos diferentes também sofreram restrições na avaliação.
A qualidade de informações e infra-estrutura de apoio ao turismo
sofreu restrições. Entretanto, as opções de atividades turísticas nas áreas
naturais foram consideradas excelentes.
Pode-se afirmar que os turistas do PN do Itatiaia apreciam as
características ecológicas do parque, mas não se sentem tão bem com relação à
comodidade e aspectos sociais, culturais, econômicos e turísticos de
sustentabilidade.
A atividade turística pode favorecer o aspecto essencial para a proteção da
biodiversidade: a educação. Mas, também é uma atividade impactante, embora menor se
comparada a outras atividades econômicas como a mineração, a siderurgia, indústria
extrativa, energética e muitas outras. Os efeitos negativos do turismo e os impactos no meio
ambiente decorrente devem ser analisados para que sua prática ocorra de forma sustentada e
equilibrada.
Trata-se de um estudo abrangente e muito significativo, visto que a
biodiversidade apresenta-se como um autêntico insumo para o desenvolvimento do turismo
98
sustentado em áreas naturais e unidades de conservação no Brasil. A análise fatorial utilizada
permite destacar os itens de maior relevância para o desenvolvimento do turismo nas UC’s. O
turismo pode ser um eficaz instrumento de conscientização sobre a preservação da natureza.
A preservação em si não é um ato turístico, decorrente de uma viagem, passeio ou fim de
semana, mas pode ser ensinada e aprendida em uma vivência turística, e perpetuar-se. Assim
o turismo passa a ser um instrumento de preservação e educação sendo legítimo desejar que a
atividade continue e prospere cada vez mais.
99
7 – Referências
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102
8 – Anexos
Anexo 1:
Fonte: Conservação Internacional, 2003.
103
Anexo 2:
Parques e Florestas Nacionais no Brasil, agrupados por região:
Região Estado Unidades de Conservação
Acre Parque Nacional da Serra do Divisor
Floresta Nacional do Amapá
Parque Nacional do Cabo Orange
Amapá
Parque Nacional das Montanhas do Tumucumaque
Floresta Nacional do Amazonas
Floresta Nacional de Cubaté
Floresta Nacional de Cuairi
Parque Nacional do Jaú
Amazonas
Parque Nacional Pico da Neblina
Floresta Nacional de Cuxianã
Floresta Nacional Saracá-Taquera
Floresta Nacional Tapajós
Pará
Parque Nacional da Amazônia
Parque Nacional de Pacaás Novos
Parque Nacional da Serra da Cutia
Rondônia
Floresta Nacional do Bom Futuro
Parque Nacional do Monte Roraima
Parque Nacional da Serra da Mocidade
Roraima
Parque Nacional de Viruá
Região
Norte
Tocantins Parque Nacional do Araguaia
Fonte: MMA
Região Estado Unidades de Conservação
Parque Nacional da Chapada Diamantina
Parque Nacional de Monte Pascoal
Parque Nacional do Descobrimento
Bahia
Parque Nacional Marinho de Abrolhos
Parque Nacional de Ubajara
Floresta Nacional do Araripe
Ceará
Parque Nacional de Jericoacoara
Maranhão Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
Parque Nacional do Catimbau
Pernambuco
Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha
Parque Nacional de Sete Cidades
Parque Nacional da Serra das Confusões
Parque Nacional da Serra da Capivara
Região
Nordeste
Piauí
Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba
Fonte: MMA
Região Estado Unidades de Conservação
Distrito Federal Parque Nacional de Brasília
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros
Goiás
Parque Nacional das Emas
Mato Grosso
do Sul
Parque Nacional da Serra da Bodoquena
Parque Nacional da Chapada dos Guimarães
Região Centro-
oeste
Mato Grosso
Parque Nacional do Pantanal Mato-Grossense
Fonte: MMA
104
Região Estado Unidades de Conservação
Floresta Nacional Rio Preto
Parque Nacional do Caparaó
Espírito Santo
Parque Nacional dos Pontões Capixabas
Floresta Nacional Passa Quatro
Parque Nacional Grande Sertão Veredas
Parque Nacional da Serra da Canastra
Parque Nacional da Serra do Cipó
Parque Nacional Cavernas do Peruaçu
Minas Gerais
Parque Nacional das Sempre-Vivas
Parque Nacional do Itatiaia
Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba
Parque Nacional da Tijuca
Parque Nacional da Serra da Bocaina
Rio de Janeiro
Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Floresta Nacional Capão Bonito
Região
Sudeste
São Paulo
Floresta Nacional de Ipanema
Fonte: MMA
Região Estado Unidades de Conservação
Floresta Nacional Açungui
Floresta Nacional de Irati
Parque Nacional do Iguaçu
Parque Nacional de Superagüi
Paraná
Parque Nacional da Ilha Grande
Floresta Nacional São Francisco de Paula
Floresta Nacional de Passo Fundo
Parque Nacional dos Aparados da Serra
Parque Nacional da Serra Geral
Rio Grande do
Sul
Parque Nacional da Lagoa do Peixe
Floresta Nacional do Caçador
Floresta Nacional Três Barras
Região
Sul
Santa Catarina
Parque Nacional de São Joaquim
Fonte: MMA
105
9 – Apêndice
Apêndice 1
Entrevista semi-estruturada com os servidores do Ibama/PNI.
Questões
1 – Quais as principais áreas de pesquisa no PNI?
2 – Já foi feito algum estudo turístico ou junto aos turistas? Se sim, esse estudo provocou
alguma modificação na gestão do turismo e da biodiversidade no PNI?
3 – Como é feita a gestão do turismo e da biodiversidade no PNI?
4 – Quais os principais impactos causados no parque, provocados tanto pelo turismo quanto
por outros fatores?
5 – O Parque possui Plano de Manejo?
6 – Há algum profissional do Turismo no quadro de servidores do Parque?
7 – Como ocorre o fluxo turístico no PNI?
9 – Dentro das ações desenvolvidas no PNI, qual a importância do turismo?
10 – O parque do qual V. Sa. gerencia, possui estatísticas de visitação?
11 – Em caso afirmativo, seria possível disponibilizar as informações principais, como:
Quais são as principais origens dos visitantes do parque?
Qual o número total de visitantes?
Qual a escolaridade dos visitantes?
12 – Foi realizado no parque algum estudo/levantamento de capacidade de carga?
13 – O parque possui infra-estrutura para visitação?
14 – O parque possui guias ou condutores locais? Em caso afirmativo, o acompanhamento
durante a visitação é obrigatória?
15 – O parque possui roteiros e/ou trilhas interpretativas?
16 – Existe alguma atividade de interpretação ambiental relacionada à biodiversidade?
106
Apêndice 2: Questionário de pesquisa – Coleta de dados junto aos turistas.
QUESTIONÁRIO DE PESQUISA IDENTIFICAÇÃO N
0
: _________
Data: _____/_____/_____ Hora: _________Pesquisador: _____________________
INSTRUÇÕES: Este instrumento de coleta de dados objetiva o levantamento de
informações relacionadas à percepção do turista sobre Parque Nacional e interesse a
biodiversidade neste.
Não há resposta certa ou errada e sim a sua percepção sobre a biodiversidade.
É importante ressaltar que os dados coletados serão instrumentos de pesquisa e mantidos
sem a identificação do respondente.
Certo da sua colaboração, antecipo meus sinceros agradecimentos.
Atenciosamente,
Daniel Braga Hübner – Pesquisador
Mestrando em Turismo e Meio Ambiente – UNA-MG
Professor do Curso Técnico em Turismo e Lazer do Centro Federal de Educação
Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG
Avalie os aspectos relacionados ao parque e seu entorno, considerando sua percepção
sobre os itens:
1- Péssimo 2- Ruim 3- Regular
4 - Bom 5- Ótimo Não respondeu – NR
Aspectos ecológicos 1 2 3 4 5 NR
1- Poluição do meio ambiente, água, ar e solo
2- Distúrbio e perda de variedade de plantas e animais
3- Destruição de atrativos naturais
4- Diminuição de água e fontes energéticas
5- Medidas de proteção de plantas e animais
Aspectos sócio-culturais
1- Perda do estilo de vida local e hábitos tradicionais dos habitantes
2- Segurança na área
3- Arquitetura e urbanização na área
4- Quantidade de turistas ao redor dos atrativos naturais
5- Aversão e hostilidade dos habitantes em relação ao turista na região
6- Contribuição do turismo para a infra-estrutura local
Aspectos econômicos
1- Preço para o turista de serviços, produtos e taxas do parque
2- Remuneração e oportunidades de trabalho de pessoas da região
3- Oferta de produtos e souvenirs para o turista comprar no parque
4- Oportunidades iguais para homens e mulheres no mercado de trabalho
5- Influência de investimentos de pessoas de outras regiões na economia local
Aspectos relacionados ao turismo
1- Programas de educação ambiental
2- Guias e condutores especializados
3- Políticas de divulgação do parque e seus atrativos
4- Informações turísticas
5- Centro de visitantes e infra-estrutura de atendimento aos turistas
6- Opções de atividades turísticas em áreas naturais
7- Destaque dado aos aspectos da biodiversidade do parque
107
Qual seu interesse em relação aos itens abaixo:
Escala crescente sendo que 0 representa nenhum interesse e 4 o máximo de interesse.
1
Quantidade de espécies de animais e plantas
0 1 2 3 4
2
Diversidade de espécies de animais e plantas
0 1 2 3 4
3
Roteiros interpretativos em áreas naturais
0 1 2 3 4
4
Fotografia da natureza
0 1 2 3 4
5
Caminhadas
0 1 2 3 4
6
Observação de pássaros e animais de uma forma geral
0 1 2 3 4
7
Observação de plantas
0 1 2 3 4
8
Observação da paisagem
0 1 2 3 4
9
Participação em pesquisa e estudo sobre biodiversidade
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Gastronomia baseada em produtos da região
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Plantas medicinais
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Atividades relacionadas à fauna e flora aquática
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Lazer com a família e/ou amigos
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PERFIL TURISTA
1.1) Origem: _________________________UF: _________
1.2) Idade: ___________ 1.3) Sexo: ( ) M ( ) F
1.4) Grau de escolaridade:
( ) Sem escolaridade ( ) Até 1º grau comp. ( ) Até 2º grau comp. ( ) Superior
( ) Pós-grad.MBA ( ) Mestr./Dout.
1.5) Profissão:
( ) Estudante ( ) Empresário ( ) Profissional liberal ( ) Militar
( ) Aposentado ( ) Func. público ( ) Funcionário de empresa privada ( ) Outros
1.6) Faixa de renda mensal (SM = salário mínimo). Se estrangeiro, responder em dólares.
( ) Até 2 SM ( ) Mais de 2 até 5 SM ( ) Mais de 5 até 10 SM ( ) Acima de 10 SM
1.7) Motivo da viagem:
( ) Lazer ( ) Negócios ( ) Estudo/Pesq ( ) Outros
1.8) Visitou este parque anteriormente?
( ) Não ( ) Sim, uma vez ( ) Sim, de 2 a 5 vezes ( ) Sim, mais de 5 vezes
1.9) Tempo médio de permanência na região (ou neste tipo de viagem):
( ) um dia ( ) De dois a três dias ( ) Quatro ou mais dias
1.10) Com quem está visitando o parque?
( ) Sozinho ( ) Cônjuge ( ) Com a família ( ) Grupo de amigos
( ) Grupo de Turismo ( ) Grupo de estudo ( ) Outros: ___________________
1.11) Onde está hospedado
( ) Hotel/pousada no parque ( )Camping ( ) Casa de parente/amigo ( ) Não está hospedado
( ) Hotel/pousada na região ( ) Outros:
1.12) Como ficou sabendo deste parque:
( ) Vídeo ( ) TV e Rádio ( ) Parentes ou amigos ( ) Jornal, Revista ou Folhetos
( ) Internet ( ) Agência de Viagem ( ) Outros
1.13) Durante sua estada em quais atividades pretende se envolver: (sem limite de respostas)
( ) Caminhar ( ) Relaxar/descansar ( ) Estudar ( ) Banho em ambiente natural
( ) Visitar caverna ( ) Aprender sobre a região ( ) Pescar ( ) Apreciar a natureza/
( ) Fotografia ( ) Outra atividade
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