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independente (Bania, 2008).
Na França, o silêncio acerca do vibrato que pairou nos métodos de flauta do
final do século XVIII, foi, no século XIX, rompido apenas por Victor Coche (1806-1881), no
seu Méthode pour servir à l'enseignement de la nouvelle Flûte, de 1838, no qual ele aborda
um lento vibrato de peito, associando-o ao vibrato que se usa no canto (que o autor chama de
vibration), e usa o chevron
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(>) para indicá-lo. Coche não acrescenta qualquer novidade
quanto a esse tipo de vibrato, exceto no que concerne à recomendação de que seus impulsos
sejam executados com uma intensidade gradualmente menor. Mas seu método tem o mérito
de ter sido o primeiro dirigido à Flauta com chaves de anel, fabricada por Theobald Boehm
(1794-1881) em 1832
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, que viria, porém, a ser aperfeiçoada pelo mesmo fabricante, que criou
sua versão definitiva em 1847: a flauta cilíndrica de sistema Boehm, o tipo de flauta usada
atualmente (Bania, 2008). Note-se, todavia, que, como ressalta Laura Rónai,
(…) o fato de um novo modelo entrar no mercado não condenava todos os modelos
anteriores ao ostracismo imediato (...). Mesmo no século XIX vários modelos de
flauta continuaram a coexistir, inclusive modelos que hoje tenderíamos a classificar
como barrocos: flautas de madeira, cônicas, com poucas chaves. Se dermos uma
olhadela para trás, em direção a esse passado não tão distante, podemos nos
surpreender. A flauta Boehm, que hoje reina absoluta, e que poucos se atrevem a
modificar significativamente, era apenas um dos muitos modelos que disputavam
um lugar ao sol (Rónai, 2008a, p. 75).
Feito o oportuno esclarecimento, prossiga-se a reconstituição histórica,
revisitando agora o final do século XIX.
Na Inglaterra, J. Harrington Young publica, em 1892, o seu método A
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O termo francês “chevron” deriva de “chèvre”, que quer dizer “cabra”. No século XX a associação
cabra/cabrito-vibrato se tornou deveras ofensiva, como já visto na introdução desta pesquisa e como ainda se
verá mais adiante.
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Coche não aborda o vibrato de dedo. Aliás, não há qualquer indicação de flattement nos métodos franceses
posteriores ao L'Art de Delusse. John Clinton (1810-1864) traz no seu método A School or Practical Instruction
Book for the Boehm Flute, de 1846, uma tabela de dedilhados de vibrato digital para essa flauta de 1832, na qual
ele não especifica se os orifícios indicados para o trilo devem ser cobertos total ou parcialmente. Mas como ele
parece seguir a tradição deixada por Nicholson, supõe-se que na maioria das indicações os orifícios devem ser
cobertos apenas parcialmente (Bania, 2008).