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CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
ESTUDO DAS ALTERAÇÕES ANTE-MORTE DA CAVIDADE
ORAL DE MÃOSPELADAS (Procyon cancrivorus) DE VIDA
LIVRE E DE CATIVEIRO
Mônica de Alvarenga Feijó Bianchi
VILA VELHA - ES
2010
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CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
ESTUDO DAS ALTERAÇÕES ANTE-MORTE DA CAVIDADE
ORAL DE MÃOSPELADAS (Procyon cancrivorus) DE VIDA
LIVRE E DE CATIVEIRO
Mônica de Alvarenga Feijó Bianchi
Orientador Prof. Dr. João Luiz Rossi Júnior
VILA VELHA - ES
2010
“Dissertação apresentada ao
Programa de Mestrado em
Ciência Animal do Centro
Universitário Vila Velha, para a
obtenção do título de Mestre em
Ciência Animal.”
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Catalogação na publicação elaborada pela Biblioteca Central / UVV-ES
B577e Bianchi, Mônica de Alvarenga Feijó.
Estudo das alterações ante-morte da cavidade oral de mãos-
peladas (Procyon cancrivorus) de vida livre e de cativeiro / Mônica de
Alvarenga Feijó Bianchi. 2010. -- f.141: il.
Orientador: João Luiz Rossi Junior.
Dissertação (mestrado em Ciência Animal) - Centro Universitário
Vila Velha, 2010.
Inclui bibliografias.
1. Odontologia veterinária. 2. Dentes Doenças. I. Rossi Junior,
João Luiz. II. Centro Universitário Vila Velha. III. Título.
UVV CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
ATA DE APROVAÇÃO
Estudo da prevalência pós-morte das doenças da cavidade oral de mãos-peladas
(Procyon cancrivorus) de vida livre e de cativeiro.
Autor: Mônica de Alvarenga Feijó Bianchi
Orientador: Prof. Dr. João Luiz Rossi Junior
APROVADO como parte das exigências do Programa de Mestrado em Ciência
Animal para obtenção do título de MESTRE em CIÊNCIA ANIMAL
Vila Velha, 30 de julho de 2010
Banca Examinadora
PROF.DR. TARCÍZIO REGO DE PAULA
PROF. DRA. BETANIA DE SOUZA MONTEIRO
PROF.DR. JOÃO LUIS ROSSI JÚNIOR
Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do
que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da
servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus.”
Rm 8:20,21
DEDICATÓRIA
Aos meus queridos “bandidos-mascarados”, os
mãos-peladas. A cada um, que com sua vida,
contribuiu para a realização deste estudo, e a todos
os que enchem e enriquecem a nossa mata. Que
não tenha sido em vão a luta, a dor, as marcas de
uma história e a vida! A esses, juntamente com
todos aqueles que seguram o lado mais fraco da
corda, na relação entre natureza e humanidade,
dedico este meu trabalho, como também tenho
dedicado toda minha vida, minhas forças e meus
sonhos.
AGRADECIMENTOS
A Deus,
Pela incomparável criatividade e bom gosto, quando teve a magnífica idéia
de encher a Terra com os animais, e que me deu a honra de compartilhar minha
vida com eles. O Senhor me guiou por estradas retas, me colocou aqui e sabe o
que me reserva. Mesmo sem conhecer ainda o final da história, já agradeço, porque
sei que o futuro será maior e melhor do que meus mais ousados sonhos e
esperanças.
Aos Animais,
Porque me aceitam com todas as minhas limitações, que tantas vezes me
impedem de ajudá-los na medida em que precisam. Por me olharem com olhos
puros, francos e ausentes de julgamento tudo bem, um pouco arregalados, às
vezes...
Por sua incrível capacidade de entrar bem dentro do meu peito e preencher
meu coração, deixando ele bem quentinho, nas horas sozinhas e madrugadas em
claro.
Ao Toy, Mangarenga, Catarina e Tunga (in memorian), vocês estão
instalados no quarto que Jesus está preparando pra mim! Que saudade!
Obrigada Ariel e Twister, Lord, Valentina tudo a ver, esse nome!, Gardênia
meu amor, Lunica Ripilica eu te roubei do Helder e você me roubou dele!
Guadalupe, caçulinha, ah, tem o Frajola, mais caçulinha ainda... Amo vocês!
À Minha família
Papai Jorge Feijó, mamãe Catarina, tia, Dóris, Magda, minhas irmãs
amadas e também suas proles!
Ninguém nunca acreditou tanto em mim. Obrigada por me darem tantas
coisas boas, a começar pelo colo, e mais o confronto e o consolo, apoio,
encorajamento, ensinamento, suporte e proteção. Obrigada por me transmitirem
seus valores, seus amores e seus genes! Vocês são lindos!
Meu orientador
Ainda estão canonizando gente, por aí? Porque está um bom candidato!
Esse sujeito faz milagres e o martírio ficou por minha conta, posso provar!
Obrigada, João Luiz Rossi Júnior! Desde o começo, até o fim, não me cansei
de te admirar por sua inteligência, seu entusiasmo, sua capacidade de transmitir
ensinamentos, sua acessibilidade, sua jovialidade, seu compromisso e seriedade
com as vidas debaixo do seu cuidado! Acho que esqueci algumas coisas...
Não teria sido possível sem você. Não teria sido tão agradável também.
Meus professores
Quando a gente encontra tanta gente junta, com uma incrível bagagem de
conhecimento e um entusiasmo contagiante, não tem como não ser contagiada.
Obrigada a cada um por tudo que aprendi com vocês.
Ao Centro Universitário Vila Velha UVV
Pela oportunidade de fazer parte, como aluna, desta honrosa casa.
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Espírito Santo (FAPES)
Pelo Auxílio à Pesquisa e Bolsa.
Museus
Aos curadores e pesquisadores, funcionários de todos os níveis, que
dedicam sua vida à preservação do conhecimento! Quantas voltas desnecessárias
a humanidade teria poupado, se desde o começo, houvesse quem, com método e
zelo, colecionasse as marcas que a História criou!
Amigos e colegas
Muito obrigada! Deus lhes pague! - Ahn!?! Quê?! Não é bem assim?
Estou devendo ainda? Puxa, não tem como pagar!
Não sei como começar, mas, algumas pessoas precisam ser citadas aqui,
por tudo que fizeram por mim e passaram por minha causa, nesses anos de tão
maravilhosa convivência! Pra mim, pelo menos!
Obrigada Rosi, minha e com metade da minha idade. Myrna, minha irmã
e mãe também! A vocês duas devo tanto, pelas vezes que as deixei sozinhas,
segurando as pontas! Pelas responsabilidades que assumiram, e que eram minhas.
Por me acompanhar nessa caminhada, aliviando a minha carga! Pelas piadas bem
humoradas, broncas, tapas e beijos! Amo vocês.
A Aurélio e Susana, meus pastores e pais, à Marina Quirgo e Polyana.
Vocês acreditam no que Deus tem pra mim e por isso, me ajudaram a acreditar
também. Vocês acreditaram em mim, e até assinaram por isso, se comprometendo
de fato e de verdade, caso eu não conseguisse! Vocês me amam e eu sei disso. E
eu amo vocês!
Ao grande amigo de todas as horas e companheiro de profissão, Campos,
da Polícia Ambiental. Desde o dia que te emprestei meu cachorro, você passou a
morar no meu coração! Muito obrigada, por me presentear com todas as
emergências dos bichos das matas, que você traz pra mim, de vez em quando! O
mão-pelada baleado foi um desses, lembra?
À Fernanda, Gustavo e toda turma do Parque Estadual Paulo Cézar Vinhas,
por me honrarem com sua confiança, seus animais e tantos presentes.
Ao Vinícius e ao Gustavo, do IBAMA, que tantas vezes trouxeram casos
desafiantes e bichos encantadores. Eu é que saio ganhando, viu?
Aos colegas de profissão, médicos veterinários que têm me apoiado, me
honrado quando confiam seus pacientes aos meus cuidados. Sem vocês, amigos, a
vida seria um osso duro de roer!
Ao Régio, do Instituto de Cirurgia Veterinária, que tem sido um amigo e um
bálsamo pra mim e pros bichos de lá. Vou te restituir, quando a Rosi voltar, viu...
À minha parceira de mestrado, Ana Paula Airosa Casto
Muito obrigada pelas longas horas de trabalho juntas, que passaram tão
rápido, porque você estava ali, a gente brincando de reclamar e fazendo piadinhas
de humor negro você é muito engraçada! Na verdade, a gente gostou muito. E
aprendemos muito, juntas, também.
Lembra dos dentes a mais, na boca dos indivíduos menos evoluídos? Das
viagens pros museus, do terror a bordo de um ônibus!
Eu preciso te agradecer por me ajudar, com sua mente precisa e brilhante, na
compilação desta dissertação, me dando dicas, sugestões, esclarecimentos.
Despertando minha atenção para aspectos que eu ainda não tinha pensado. Você
vai longe!
Ao Helder,
Meu amor maior! Presente que Deus preparou pra mim e que fez minha
vida ganhar novo sentido!
Eu não precisava de motivos pra te agradecer, mas aí, você resolveu criar
um programa de computador pra mim, pra me ajudar a contabilizar os dados
desse estudo. E as fotografias mais lindas! Como se isso não bastasse, nunca saiu
do meu lado, em todas as horas difíceis, abrindo mão de seus próprios interesses,
sacrificando as horas de descanso e finais de semana, da companhia da família e
dos sobrinhos, que você ama tanto! O que mais me impressiona, é como você se
entusiasma com meus sonhos, e como se empenha junto comigo e até mais que eu,
nos meus desafios.
E tem mais! Suas maravilhosas criações, invenções, construções,
instalações, que têm me poupado horas de trabalho e preocupação!
Meu Prof. Pardal, eu te amo! Obrigada por existir.
Ah! Só mais uma coisinha. Conserta logo o relógio cuco, vai...
RESUMO
BIANCHI, M. A. F. Estudo da prevalência pós-morte de doenças da cavidade
oral de mãos-peladas (Procyon cancrivorus) de vida livre e de cativeiro. [Study
of post-mortem prevalence of diseases of the oral cavity of raccoons (Procyon
cancrivorus) free living and in captivity. 2010. Npág145f. Dissertação (Mestrado em
Ciência Animal) - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Centro
Universitário Vila Velha, Vila Velha, 2010.
Enfermidades orais estão relacionadas com casos que envolvem debilitação
paciente, que início ao processamento do alimento, sendo a manutenção da
higidez das estruturas orais, como dentes, periodonto e língua essencial. A maioria
das doenças dos animais de natureza e cativeiro encontra-se associada à
proximidade humana, que resulta da fragmentação e degradação do habitat destes
animais, no isolamento das espécies e no contato mais próximo entre estes e
animais domésticos e o homem. Escolheu-se estudar mãos-peladas (Procyon
cancrivorus), por ser esta uma espécie amplamente distribuída em território
brasileiro, mas com escassa literatura acerca de suas enfermidades orais,
especialmente em vida livre. Foram estudados 104 indivíduos, procedentes dos
acervos do Museu Paraense Emílio Goeldi, Museu Nacional do Rio de Janeiro,
Museu de Mastozoologia da Universidade de São Paulo, e Centro Universitário Vila
Velha, ES. Os sincrânios foram estudados por meio de avaliação direta,
preenchimento de ficha odontológica veterinária e documentação fotográfica, que
relataram anormalidades encontradas, as quais foram classificadas e contabilizadas
para fins estatísticos. Pretendeu-se, assim, estabelecer um parâmetro do estado de
saúde oral da espécie estudada, e sua ocorrência em vida livre e em cativeiro,
relacionando a prevalência dessas com características da ecologia da espécie. Os
achados deste trabalho aludem que os animais de cativeiro foram mais acometidos
com as lesões relacionadas à doença periodontal, como lculo, reabsorção óssea
alveolar, deiscência, fenestração, exposição de furca, além de maloclusão,
apinhamento dentário e os níveis mais graves de desgaste dentário. Os animais de
vida livre apresentaram mais altos índices de fraturas, perdas dentárias ante-morte e
escurecimento dentário, que caracterizam maior trauma dentário, durante o
processo alimentar. A pigmentação dentária foi mais prevalente em animais de vida
livre, mas faltam estudos que configurem essa alteração como uma lesão
característica desse grupo. Faltam estudos sobre esta importante área da
Odontologia Veterinária.
Palavras-chave: Animais selvagens, dente, Odontologia Veterinária, Procyonidae,
pigmentação de esmalte, trauma dentário
ABSTRACT
BIANCHI, M. A. F. Study of post-mortem prevalence of diseases of the oral cavity of crab-
eating raccoon (Procyon cancrivorus) free living and in captivity. [Estudo da prevalência
pós-morte das doenças da cavidade oral de mãos-peladas (Procyon cancrivorus) de vida
livre e de cativeiro. 2010. Npág145f. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal) -
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Centro Universitário Vila Velha, Vila
Velha, 2010.
Oral diseases are related to cases involving impairment patients since initiating the
processing of food, and maintaining the healthiness of the oral structures such as
teeth, periodontal and tongue is essential. Most diseases of animals in nature and
captivity is linked to human proximity, resulting from habitat fragmentation and
degradation of these animals habitats, the isolation of the species and the close
contact between them and domestic animals and manhood. The chosen to study
crab-eating raccoons (Procyon cancrivorus), was taken because this is a widely
distributed species in Brazilian territory, but with limited literature about their oral
diseases, especially in the wild. We studied 104 individuals coming from the
collections of the Goeldi Museum, National Museum of Rio de Janeiro, Mastozoology
Museum of the University of São Paulo and Centro Universitário Vila Velha, ES. The
skulls were studied by direct assessment of sheet filling veterinary dental and
photographic documentation, which reported these abnormalities, which were
classified and recorded for statistical purposes. It was intended, therefore, to propose
a parameter of the oral health status of the species studied, and its occurrence in the
wild and in captivity, linking the prevalence of these characteristics to the ecology of
the species. Our findings allude to the captive animals were most affected with
injuries related to periodontal disease, such as calculus, alveolar bone resorption,
dehiscence, fenestration, furcation exposure, as well as malocclusion, crowding and
severe levels of tooth wear . The free-living animals showed the highest rates of
fractures, ante-mortem tooth loss and tooth blackout, which feature larger dental
injuries during the feeding process. The dental pigmentation was more prevalent in
free-living animals, but there are few studies that configure this change as a
characteristic lesion of this group. Studies on this important area of veterinary
dentistry are lacking.
Keywords: Wildlife, teeth, veterinary dentistry, Procyonidae, pigmentation of enamel, dental
trauma.
SUMÁRIO Página
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 31
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA.............................................................................. 34
2.1. PROCYON CANCRIVORUS BIOLOGIA .............................................................. 34
2.2. ENFERMIDADES ORAIS IMPORTÂNCIA ............................................................ 39
2.3. IMPORTÂNCIA DO APROVEITAMENTO DE ANIMAIS ATROPELADOS, PARA FINS DE
PESQUISA ................................................................................................................ 42
2.4. PREVALÊNCIA DE LESÕES ORAIS EM ANIMAIS, COMPARADA POR AMBIENTE:
CATIVEIRO VERSUS NATUREZA ................................................................................... 43
2.5. O ESTUDO COM SINCRÂNIOS ........................................................................... 47
2.6. AVALIAÇÃO DO PERÍODO DE INSTALAÇÃO DA LESÃO: DIFERENCIAÇÃO ANTE-MORTE
VERSUS PÓS-MORTE ................................................................................................. 50
2.7. ANATOMIA E FISIOLOGIA ORAL ......................................................................... 51
2.8. ANATOMIA DENTÁRIA ...................................................................................... 52
2.8.1. Esmalte ................................................................................................... 53
2.8.2. Dentina .................................................................................................... 54
2.8.3. Polpa ....................................................................................................... 54
2.8.4. Cemento .................................................................................................. 55
2.9. ELEMENTOS DENTÁRIOS E SUAS DESCRIÇÕES .................................................. 55
2.9.1. Incisivos ................................................................................................... 56
2.9.2. Caninos ................................................................................................... 56
2.9.3. Pré-molares ............................................................................................. 57
2.9.4. Molares .................................................................................................... 57
2.9.5. Decíduos ................................................................................................. 58
2.10. POSICIONAMENTO DENTÁRIO E SUPERFÍCIES ................................................... 58
2.11. SISTEMAS DE NOMENCLATURA DOS DENTES ..................................................... 60
2.11.1. TRIADAN modificado ........................................................................... 60
2.12. ALTERAÇÕES DENTÁRIAS REGISTRADAS E SUAS DESCRIÇÕES ............................ 62
3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 72
4. MATERIAIS E MÉTODO ................................................................................... 74
4.1. ANÁLISE DOS RESULTADOS ................................................................... 81
5. RESULTADOS .................................................................................................. 84
6. DISCUSSÃO .................................................................................................... 129
7. CONCLUSÃO .................................................................................................. 142
8. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 144
1. INTRODUÇÃO
A História guarda suas mais remotas referências a respeito da Odontologia
Veterinária desde 600 a.C., quando, na China, conhecedores estimavam a idade
aproximada dos cavalos pela avaliação do desgaste das coroas dentárias. Na
Grécia, foram acrescentadas também, as observações da época de erupção
dentária, como estimativa de idade, ainda em cavalos (ROZA, 2004).
Desde então, com o próprio surgimento da Ciência Médica Veterinária, em
meados do século XVIII, a especialidade foi sutilmente se desenhando, conforme
também surgiam e se aprimoravam os instrumentos cirúrgicos, que permitiam
técnicas, muitas vezes questionáveis e nem sempre eficazes para o paciente que
era submetido ao tratamento (ROZA, 2004).
Mas, foi no século XX, que os grandes avanços voltados para os animais
selvagens se deram, com a constatação de que animais de vida selvagem são
afetados pela maioria dos problemas dentários e dento - maxilares dos humanos.
Enfermidades orais têm sido relacionadas com afecções que envolvem
debilitação geral do paciente, visto que a cavidade oral início ao processamento
de qualquer alimento ingerido pelo organismo e, desta maneira, a manutenção da
higidez das estruturas orais, como dentes, periodonto e língua é essencial para a
sanidade do organismo em geral (PACHALY & GIOSO, 2001).
O estudo criterioso das condições de saúde oral encontradas na
natureza, por meio da avaliação metódica de indivíduos de vida livre, pode ser de
grande utilidade, como modelo padrão e subsídio de informações fisiologicamente
diferentes entre indivíduos, por se tratarem de diferentes espécies ou de populações
da mesma espécie, mas com particularidades diferenciadas, como a região em que
ocorre, na natureza, variação sexual, sazonalidade entre outras.
A escolha de se estudar mãos-peladas (Procyon cancrivorus), se
deu por ser esta uma espécie amplamente distribuída em território brasileiro, que
é capaz de adaptação a grande variedade de biomas (EINSENBERG & REDFORD,
1999 apud REIS, 2006) e, no entanto, em detrimento disto, haja escassa literatura
acerca das enfermidades orais nesta espécie, especialmente em vida livre
(TEIXEIRA & AMBROSIO, 2006). Inicialmente, também se optou por estudar esta
espécie, pela grande incidência de morte por atropelamento, por motivos que serão
discutidos mais adiante. No entanto, por ser um animal pequeno e delicado, em
grande parte das vezes houve perda do material de estudo, tamanha a violência do
impacto, no momento da colisão, a ponto de destruir totalmente a arquitetura
craniana.
O presente trabalho visa identificar e relatar a prevalência de doenças da
cavidade oral, que podem ser detectadas por meio do estudo de sincrânios - peças
compostas de crânio e mandíbula (LOPES, 2008) - de mãos-peladas (Procyon
cancrivorus). Para isso, foram estudados 104 indivíduos, procedentes dos acervos
do Museu Paraense Emílio Goeldi, PA, do Museu Nacional do Rio de Janeiro, RJ, do
Museu de Mastozoologia da Universidade de São Paulo, SP, e do Centro
Universitário Vila Velha, ES. A importância da utilização deste tipo de material,
depositado nas coleções das entidades citadas acima, se pela possibilidade de
repetição das avaliações, caso seja necessário, e o fato da maioria das amostras
serem oriundas de natureza (ROSSI JR., 2007).
Os sincrânios foram estudados por meio de avaliação direta, preenchimento
de ficha odontológica veterinária e documentação fotográfica, onde foram
registradas as anormalidades encontradas, as quais foram classificadas e
contabilizadas para fins estatísticos.
Pretendeu-se, assim, estabelecer um parâmetro do estado de saúde oral da
espécie estudada, e se esta apresenta as mesmas enfermidades orais em vida livre
e em cativeiro, relacionando a prevalência de afecções orais com características da
ecologia da espécie.
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. Procyon cancrivorus biologia
A Família Procyonidae está confinada ao Novo Mundo e inclui seis gêneros
e 18 espécies (EVANS, 2002), dentre elas o Procyon cancrivorus (Couvier, 1792),
conhecido como mão-pelada, guaxinim, rato lavador, urso lavador ou mascarado,
que pertence ao Filo Chordata, a Classe Mammalia, e Ordem Carnívora, único
pertencente ao subgênero Euprocyon (ZEVELOFF, 2002; BELLATINE et al, 2006)
(Figura 1).
Figura 1: Exemplar de Procyon cancrivorus. Fonte: httpretrieverman.files.wordpress.com
200910 (strange-critter1.jpg).
Conhecido como raccoon, o Procyon lotor espécie de guaxinim, prevalente
na América do Norte, foi o primeiro exemplar do gênero a ser classificado por
Linnaeus, em 1758, que lhe conferiu o nome específico lotor, significando “lavador”,
por seu conhecido hábito de molhar os alimentos. Bellatine et al (2006), fazem
referência à peculiaridade do P. lotor, de mergulhar na água tudo o que come,
provavelmente associando aos seus alimentos favoritos que são camarões e rãs.
No entanto, o hábito de manipular os alimentos não está relacionado ao
asseio do animal, que procede desta maneira mesmo em ambientes secos, estando
mais relacionado com sua acuidade táctil. Na verdade, eles têm quatro vezes mais
receptores sensoriais na pele das mãos (Figura 2), do que em seus membros
pélvicos - uma proporção semelhante à dos pés e mãos humanas (ZEVELOFF,
2002).
Figura 2: detalhe de extremidade distal de membro torácico de P. cancrivorus. A ausência
de los colabora com o aumento da sensibilidade táctil
O nome do gênero Procyon, que em latim significa “antecessor do cão” ou
“assim como o cão”, foi conferido em 1780, pelo professor de História Natural
alemão, chamado Gottlieb Storr, que propôs este nome muito antes de ser
conhecida a moderna teoria da evolução das espécies, - de fato quase 30 anos
antes do nascimento de seu maior expoente, Charles Darwin (ZEVELOFF, 2002).
Mas, foi em 1792, que o mão-pelada sul-americano foi primeiramente descrito, por
um naturalista francês chamado Georges Couvier, inicialmente como Ursus
cancrivorus, por considerá-lo pertencente à família Ursidae, descendente de um
antecessor comum, Miacidae, na era geológica (Figura 3). Apenas mais tarde, foi
conferido o nome Procyon cancrivorus, remetendo à sua preferência alimentar de
comer caranguejos, que em latim é expresso pelo termo “cancrejo vorus”.
Figura 3: Evolução da família Procyonidae. Fonte: Evolutionary Tree of Carnivores, Savage
& Long (1986)
Tipicamente, os procionídeos são animais de pequeno a médio porte, farta
pelagem, cauda longa a moderadamente longa, com anéis escuros e óbvia máscara
facial. São animais adaptados a uma grande variedade de biomas, desde florestas
tropicais onde possuem maior ocorrência charcos, até regiões semi-áridas
(REIS, 2006 apud EINSENBERG & REDFORD, 1999). Cada ninhada de P.
cancrivorus pode ter de quatro a seis filhotes e a fêmea cuida dos filhotes durante
um ano (BELLATINE et al, 2006).
Sua longevidade não está bem estabelecida, mas relatos de
sobrevivência de raccoons, por mais de 20 anos em cativeiro, enquanto que em vida
livre, os registros de idade estimada não passam de cinco anos (PHILLIPS &
NOLSON, 2005). O mão-pelada é um animal solitário, de hábitos noturnos e pouco
se sabe a respeito de sua ecologia em vida livre: as limitadas informações se
referem ao cativeiro.
Arispe et al. (2008), em estudo realizado para a avaliação da densidade
populacional, área de ação e atividade do mão-pelada, por meio de registros com
armadilha fotográfica, na região de um bosque de Chiquitano, na Bolívia, reforçaram
a tese da difícil avaliação desta espécie, exatamente por seu hábito noturno e
crepuscular, e aparente distribuição de baixa abundância e variedade.
Ao se comparar a dentição do P. cancrivorus com qualquer membro de outra
família de carnívoros, como a dos felídeos, por exemplo, nota-se marcada diferença
na anatomia dentária, revelando suas diferentes habilidades mastigatórias, a
começar pela grande diferença no número de dentes (procionídeos N= 40, felídeos
N= 30, embora haja exceções nessas duas famílias) (ZEVELOFF, 2002; TEIXEIRA
& AMBROSIO, 2006; ROSSI JR., 2007; PHILLIPS, 2008).
Por um lado, a mordida de um gato doméstico, onça-pintada ou pequeno
felídeo selvagem, apresenta um arranjo, em forma de tesoura, da oclusão dos
dentes carniceiros, o que é realçado pelo fato de a articulação da mandíbula ser
mais baixa, permitindo que a interseção entre os dentes terceiro e quarto pré-
molares superiores e os dentes quarto pré-molar inferior e molar inferior, forme tal
arranjo, altamente especializado na secção de músculos e vísceras - tecidos moles
(ROSSI JR., 2007). Por sua vez, a dentição dos procionídeos é adaptada para dieta
onívora, pela transformação dos dentes carniceiros, que tipicamente possuem
cúspides altas e finas (EVANS, 2002) e que em toda família Procionidea é composto
por quatro cúspides e mais arredondado que o dos outros carnívoros (Figuras 4A e
4B) (ZEVELOFF, 2002).
Figura 4A e 4B: imagem de arcos superiores de P. cancrivorus (A) e de C. thous
(canídeo)(B), respectivamente. Notar a diferença de conformação dos pré-molares dos dois
carnívoros, especialmente os terceiro e quarto pré-molares e o primeiro molar (setas)
Os quartos pré-molares maxilares e os primeiros molares mandibulares são
comumente chamados de carniceiros (VERSTRAETE, 2007). Os dentes molares do
mão-pelada possuem quatro cúspides, são largos, e bem adaptados ao
esmagamento dos alimentos. Sua fórmula dentária é: I 3/3, C 1/1, PM 4/4, M 2/2 =
40 dentes (ZEVELOFF, 2002; TEIXEIRA & AMBROSIO, 2006; PHILLIPS, 2008).
Seus dentes são mais adaptados para mastigação de itens duros, como crustáceos
e conchas de moluscos, que os de seus primos do Norte. Seus quartos pré-molares
são mais maciços, mais largos e têm as cúspides mais arredondadas que os dos
raccoons (ZEVELOFF, 2002).
A cavidade oral representa a entrada do aparelho digestório e qualquer
anormalidade, doença ou disfunção nesta região, tem capacidade de causar efeitos
adversos. Problemas de menor importância geram desconforto e dor, enquanto
doenças orais severas levam à diminuição de ingestão de água e alimento causando
debilidade, alterações sistêmicas e por fim, até a morte do animal.
Até a presente data, não existe descrição dessas afecções em P.
cancrivorus, que por sua posição na cadeia ecológica, representa importante
marcador da saúde ambiental de seu bioma, que compreende a região neotropical
(TEIXEIRA & AMBROSIO, 2006). A doença oral resulta de uma larga variedade de
circunstâncias e o aspecto clínico do processo patológico varia consideravelmente
dentro de uma única espécie, e pode variar enormemente de uma espécie para
outra (FAGAN, 1980). O presente estudo fornecerá base para novas pesquisas nas
áreas relacionadas, como Odontologia Veterinária, Ecologia, Nutrição, Zoologia e
outras afins.
É preciso determinar a importância da mudança no bioma natural desses
animais, pela invasão humana, o que tem levado ao contato com novos alimentos,
com conseqüências diretas na dentição e saúde. Situação reportada em uma
investigação epidemiológica, feita em 17 guaxinins, nos anos 70, na Flórida, onde
foram encontrados três exemplares de P. lotor, com partes dos dentes cobertas de
resíduos de metal, sugerindo que o tenham adquirido, pelo mastigar de latas de
alumínio dos refrigerantes, numa tentativa de alcançar qualquer resíduo líquido, no
interior desses vasilhames (HOFF, 1973).
2.2. Enfermidades orais importância
Nas últimas décadas, a odontologia vem ocupando lugar de destaque no
âmbito veterinário nacional e internacional, ultrapassando limitações
preconceituosas e mostrando-se ao meio veterinário e à população em geral, como
uma disciplina fundamental para a saúde de qualquer espécie animal e não apenas
como uma modalidade de tratamento oferecido aos animais (LOPES, 2008). No
entanto, DuPont (2005) relatou que muitos zoológicos ainda preferem ter um
dentista humano trabalhando com dentes de seus animais, ao invés do profissional
veterinário.
Pachaly & Gioso, 2001, apontaram a cavidade oral, bem como os dentes e
os tecidos associados, como estruturas fundamentais para a sanidade de todos os
animais, já que dá início ao processo digestivo.
Em alces adultos, Stimmelmayr, 2006, conseguiu correlacionar a
mortalidade precoce de animais com o desgaste e a fratura de dentes observados,
concluindo que a eficiência mastigatória, digestiva e a condição corporal são
dependentes da saúde oral e da integridade dos dentes.
Outro trabalho, relacionando as causas de mortalidade e morbidade em
focas (Halichoerus grypus), relatou diversas afecções acometendo estes animais,
como doença periodontal, mal posicionamento dentário, úlceras orais e fratura
patológica de mandíbula, sendo, as últimas, causas de mortalidade nos animais
avaliados (BAKER et al., 1998).
Sainsbury et al., (2004) também atribuem às enfermidades orais importante
papel na mortalidade e morbidade em esquilos (Sciurus vulgaris).
Gioso et al., (2009) descreveram sinais de sofrimento em um exemplar de
sagüi (Callimico goeldii), adulto, pertencente a um zoológico, no Estado de São
Paulo. Dentre as manifestações clínicas encontraram-se apatia, anorexia, edema
unilateral (direito), ptialismo, desconforto e alterações de comportamento. Ao exame
clínico, foi constatada uma fratura do dente canino superior direito, que demandou
pronto atendimento endodôntico pelos autores.
Boyer et al. (2010) relataram um caso de ausência de molares em rato
insular (Rattus rattus), e discutiram a habilidade de sobrevivência a partir do
desenvolvimento de características ecológicas especiais, que permitem a
sobrevivência de morfotipos aberrantes, pois apesar de exibir a falta dos molares, o
fato deste espécime ter atingido a idade adulta, sugere que ele se alimentou de
forma eficiente o suficiente com os seus incisivos, para permitir um crescimento
normal. Análise de conteúdo alimentar indica que o rato sem molares incluiu na
dieta alimentos de origem animal, e não exclusivamente de material vegetal, como
observado em outras populações de ratos do continente.
A literatura existente sobre enfermidades orais em animais silvestres é, em
sua maioria, a respeito de animais mantidos em cativeiro, descrevendo grande
ocorrência de doenças da cavidade oral devido a traumas e a doença periodontal.
As lesões traumáticas geralmente ocorrem em decorrência do estresse de captura
destes animais, acidentes durante brincadeiras ou agressão, e problemas
comportamentais, como morder grades de metal, paredes, portões e cercas (WIGGS
& LOBPRISE 1997; WIGGS & BLOOM, 2003).
Embora haja relatos de que animais não carnívoros raramente sofrem com
trauma dentário, antílopes e marsupiais comumente desenvolvem osteomielite,
decorrente da doença periodontal, conhecida como "mandíbula irregular", que se
supõe que seja causada por trauma oral, em animais alimentados com feno
grosseiro (DUPONT, 2005).
Em estudo realizado em duas populações de P. lotor, uma procedente de
uma área agrícola rural, com baixa densidade populacional humana, e outra de uma
região no entorno de um parque estadual, altamente utilizado por humanos,
demonstrou-se que a condição física dos animais acompanhou o grau de desgaste
dentário. Na soma geral, 107 (20%) dos 546 animais estudados, tinham dentes
quebrados ou perdidos, sendo que entre adultos, os índices de doença periodontal e
de cáries foram significantemente mais altos, na área do parque. Esta diferença foi
atribuída, não somente ao trauma físico do uso dos dentes para abrir latas e
vasilhames encontrados no lixo, mas, a deficiências nutricionais, à consistência e à
quantidade de carboidrato da comida, além da presença de altos níveis bacterianos
no alimento em decomposição, induzindo à doença periodontal e às cáries. No
entanto, a prevalência de dentes quebrados ou perdidos foi similar em ambas as
populações (HUNGERFORD et al., 1999). Os autores relataram tais achados em P.
lotor, porém nada foi descrito em relação ao P. cancrivorus.
2.3. Importância do aproveitamento de animais atropelados, para fins de
pesquisa
O atropelamento de animais é um problema pouco ressaltado, entre as
questões que envolvem a ameaça das espécies da fauna brasileira. Com o
constante aumento da linha viária e do fluxo de veículos no país, este é um impacto
que deve ser considerado (ROSA & MAUHS, 2005).
Esses autores relataram uma prevalência de 9,5% de P. cancrivorus no total
de animais atropelados na rodovia RS - 040, que liga a região da Grande Porto
Alegre ao litoral central do Estado do Rio Grande do Sul. Esta espécie, no entanto,
não foi encontrada nas rodovias que circundam a Estação Ecológica de Águas
Emendadas, no Distrito Federal (BAGATINI, 2006). Tal situação deve-se,
provavelmente, ao fato do bioma cerrado não ser o bioma natural do mão-pelada.
Rosa & Mauhs (2005) concluíram que os resultados obtidos refletiram não
somente as espécies atropeladas, mas também a atividade da fauna ao longo da
rodovia em questão, considerando o fato de que, quanto maior a abundância e
atividade dos animais junto à estrada, maior a probabilidade de serem abatidos por
veículos.
As margens das rodovias apresentam com freqüência, uma vegetação mais
densa e diversificada, em comparação com os campos marginais encontrados ao
longo do trajeto. Este tipo de formação vegetal proporciona um local atrativo à fauna
de pequeno porte, que, por sua vez, atrai predadores maiores. Também é provável
que a morte de qualquer espécie, por veículos automotores, venha a atrair animais
oportunistas à beira das estradas, em busca das carcaças, aumentando a presença
da fauna junto à vegetação marginal das rodovias (ROSA & MAUHS, 2005;
BAGATINI, 2006). A questão do impacto das rodovias é ainda mais agravada
porque se insere em um contexto de paisagens naturais cada vez mais
fragmentadas pela ação humana (BAGATINI, 2006).
No presente trabalho, utilizaram-se 11 animais oriundos de atropelamento
(Figura 5), e os dados serão apresentados nos resultados.
Figura 5: Exemplar adulto de P. cancrivorus, morto às margens de uma rodovia no Estado
de São Paulo. Autor: João Luiz Rossi Junior
2.4. Prevalência de lesões orais em animais, comparada por ambiente: cativeiro
versus natureza
Em 2004, Sainsbury, conduzindo estudo com animais de cativeiro, reportou
que estes, mesmo quando mantidos como animais de estimação apresentam mais
lesões de erupção, oclusão e atrito do que os de vida livre. Este fato deve-se,
provavelmente, a erros de manejo.
Lopes (2008) relatou que as afecções do sistema estomatognático são
freqüentes em lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), tanto em animais mantidos em
cativeiro, quanto em vida livre, e que o desgaste dentário consiste no principal
achado odontológico nos espécimes, seguido por fraturas, anomalias dentárias,
doença periodontal, cárie e lesões traumáticas de tecidos moles e osso
A etiologia da maioria das doenças orais está relacionada com
características físicas de sua dieta e às mudanças químicas a que estas dietas
induzem (FITCH & FAGAN, 1982).
Rossi Jr. et al., 2007, observaram que todos os animais, da espécie Puma
concolor e Panthera onca pesquisados em cativeiro apresentaram graus variados de
lesões orais relacionadas à doença periodontal, enquanto que aqueles pesquisados
na natureza, não apresentaram graus menores de severidade ou até mesmo
ausência de lesões macroscópicas, na cavidade oral. No entanto, não se pode
afirmar se os achados clínicos foram relacionados aos fatores ambientais, ou se os
animais de vida livre não apresentaram as mesmas lesões, por estar em faixa etária
inferior, o que não pode ser avaliado.
Por analogia, supomos que os procionídeos possam apresentar o mesmo
padrão de lesões. Fagan & Edwards (1980) referiram que resultados significantes
encontrados em uma espécie não podem ser completamente ignorados, ao se
considerar outra espécie similar.
Médicos Veterinários de animais selvagens deveriam adotar e seguir um
estrito protocolo para exame da cavidade oral de um animal, sempre que
anestesiado (FECCHIO et al., 2008; GIOSO et al., 2008).
Apesar de algumas afecções serem mais prevalentes, é importante que o
exame da cavidade oral avalie tanto os tecidos duros: dente e osso (presença de
cálculo, cárie, fratura, mobilidade e desmineralizações) como os tecidos moles: lábio,
língua, gengiva, palato, bochechas e faringe (inchaços, sangramentos, ulcerações e
coloração) (Figura 6) (FECCHIO et al., 2010).
Figura 6: Avaliação dentária realizada em jovem exemplar de P. cancrivorus, submetido à
anestesia geral, para tratamento de dermatobiose, decorrente de ferimento por arma de
fogo. Nota-se pigmentação em esmalte de dente canino direito e incisivos inferiores.
Uma atenta revisão da literatura sugere fortemente que animais selvagens,
cativos ou não, e animais domésticos são afligidos com a maioria das doenças e
desordens dentárias e maxilofaciais, relatadas na população humana (FITCH &
FAGAN, 1982). Estudos de Johnson (2007) demonstram que a doença dentária e
fratura de caninos são as desordens mais comuns em P. lotor, porém o mesmo autor
não relatou nenhuma desordem oral em P. cancrivorus.
As infecções da cavidade oral podem estar diretamente relacionadas com
enfermidades dentárias primárias como: erupção dentária deficiente, maloclusão,
desgaste e abrasão precoce, fraturas com ou sem exposição pulpar e doença
periodontal (ROSSI JR. et al., 2007).
A maioria dos animais exóticos não é tratada clinicamente, até que sua
doença esteja agudamente exacerbada ou tenha progredido cronicamente até o
ponto de uma incapacidade ou debilitação óbvias (FITCH & FAGAN, 1982).
Não uma rotina estabelecida para procedimentos dentários em animais
exóticos, na maioria dos zoológicos. Cada caso varia de acordo com as
circuntâncias espécie-específicas, incluindo, mas não se limitando a anatomia,
bioma, dieta, nível nutricional e práticas de manejo do animal individualmente
(GIOSO et al., 2009).
Diversos fatores contribuem para que haja diagnóstico tardio das
enfermidades que acometem os animais selvagens, tais como a alta periculosidade,
o variado número de espécies, recintos amplos e coletivos, a falta de conhecimento
científico e a adaptação dos animais selvagens à manifestação clínica tardia das
doenças, incluindo as de cunho odontológico. A alta periculosidade impossibilita um
contato íntimo com os animais selvagens, como visto na relação dos proprietários
com animais domésticos. Esta relação, cada vez mais íntima, permite que o
proprietário identifique alterações como halitose, fratura dentária, incômodo à
palpação, dentre outras, relação inexistente com animais selvagens (FECCHIO et
al., 2010).
Prevenir problemas médicos da cavidade oral preserva a eficiência do
processo digestivo, contribui para a manutenção da saúde, melhor habilidade
reprodutiva, aumenta a expectativa de vida e melhora, substancialmente, a
qualidade de vida para o paciente (FECCHIO et al., 2008). Rossi Jr. (2007), em
trabalho realizado com animais da espécie Puma concolor e Panthera onca de
cativeiro e vida livre, concluiu que alterações comportamentais podem ser
decorrentes de alterações no sistema estomatognático que levaram a dificuldade ou
incapacidade de predação.
Em cativeiro, o condicionamento ou treinamento animal vem se tornando
uma tendência crescente e vem sendo aplicado em diversas instituições para
facilitar o manejo e os procedimentos veterinários de rotina. Esta prática reduz o
estresse relacionado a estes procedimentos e ainda melhora a qualidade de vida
dos animais que vivem em cativeiro. É uma ferramenta extremamente valiosa para o
manejo se realizada de maneira correta e responsável, contribuindo para a
segurança de todos: profissionais, técnicos, tratadores e dos próprios animais
(FECCHIO et al., 2010).
2.5. O estudo com sincrânios
O termo sincrânio descreve o conjunto composto por neurocrânio,
esplancnocrânio e mandíbula (Figura 7), quando são considerados juntamente, com
a finalidade de se evitar as freqüentes confusões sobre a porção exclusiva do
cranium (SIMÕES LOPES, 2006).
Figura 7: Sincrânio de Procyon cancrivorus, coletado em natureza e posteriormente
depositado na coleção de mastozoologia do Museu de Mastozoologia MZUSP.
A investigação osteológica pode revelar inúmeras informações úteis sobre a
saúde ante-morte de um espécime, tais como afecções infecciosas e físicas
(COOPER & COOPER, 2008). Os acervos de história natural dos museus são fonte
de conhecimento e compreensão sobre as espécies e seus biomas. É possível obter
informações sobre o tipo de alimentação desses animais, durante a vida, o grau de
poluição química que os circundava, enquanto forrageavam plantas, por exemplo, e
possivelmente outras informações que ainda não sabemos revelar (ELBROCH,
2006). Tal fato se torna viável porque os dentes, formados por tecido duro e
mineralizado mais que os próprios ossos sendo o tecido mais duro do
organismo, são por vezes, o único vestígio da existência de espécies extintas
(KOWALESKI, 2005).
Estes acervos são valiosos tesouros, que guardam uma imensurável fonte
de base de dados, talvez ainda nem explorados pelos estudiosos, e que perdura
desde o momento de seu tombamento até o futuro mais remoto, protegido com
ciência e zelo por seus curadores. Estas coleções contêm dados críticos, que
podem ser usados em momentos de decisões a respeito da conservação da
biodiversidade. Coletivamente, os dados coletados sobre determinada espécie
descrevem sua distribuição no tempo e no espaço (Figura 8). Como uma fonte de
conhecimento mais compreensível e confiável sobre uma grande variedade de taxa,
esses registros têm imenso potencial de responder a uma série de questionamentos,
que serão fundamentais na conservação das espécies (PONDER et al., 2001).
.
Figura 8: Sincrânio de P. cancrivorus com ficha de tombamento do Museu Nacional do Rio
de Janeiro anexada, contendo várias informações, que se tornam úteis, conforme o objetivo
de estudo.
Pode-se afirmar que o exame pós-morte de crânios e de outros ossos
costumava ser negligenciado em Medicina Veterinária. Felizmente, o número de
estudos sobre enfermidades em animais silvestres que vem utilizando este material,
tem aumentado significativamente, associando-se a outros exames, como avaliação
radiográfica e microscópica (COOPER & COOPER, 2008).
Além disso, a possibilidade de realizar estudos comparativos sobre a
evolução dos animais, correlacionando o tipo de dieta e de afecções dentárias
existentes séculos atrás e na atualidade, podem trazer respostas e fomentar a
busca por inúmeras outras. Esta modalidade de estudo vem sendo realizada em
humanos muitos anos, e cada vez mais aplicada à Medicina Veterinária, como
estudos sobre lesão de reabsorção dentária felina, que têm avaliado espécimes dos
séculos XIII a XIV (BERGER et al., 2004).
Uma grande variedade de lesões inflamatórias e traumáticas e possíveis
doenças metabólicas e de desenvolvimento puderam ser diagnosticadas em
esqueletos de gorilas, avaliados por Cooper & Cooper (2008). Tais afecções
incluíram abscessos periapicais, fraturas dentárias e reabsorção alveolar.
Diversos trabalhos têm sido realizados com auxílio de crânios, para a
avaliação de lesões ósseas e dentárias e correlação de achados dentários e ósseos
com o tipo de bioma e dieta, em diferentes espécies animais, dentre elas: coelho
(OKUDA et al, 2001), ferret (CHURCH, 2007), gambá (Didelphis albiventris e
Didelphis marsupialis) (AGUIAR et al., 2004), gato asselvajado (VERSTRAETE et
al., 1996a, b), girafa (Giraffa camelopardalis) (CLAUSS et al., 2007), leão (Panthera
leo) (VAN VALKENBURGH, 1988), leão-marinho (Otaria byronia e Arctocephalus
australis) (SANFELICE & FERIGOLO, 2008), lêmure (Lemur catta) (CUOZZO &
SAUTHER, 2004), lobo (Canis lupus) (VAN VALKENBURGH, 1988; PAVLOVIĆ et
al., 2007), onça-pintada (Panthera onca) (VAN VALKENBURGH, 1988; ROSSI JR.,
2007), suçuarana (Puma concolor) (VAN VALKENBURGH, 1988; ROSSI JR., 2007),
urso-pardo (Ursus arctos) (WENKER et al., 1999), urso-polar (Ursus maritimus)
(SONNE et al., 2007) e lobo-guará (Chrysocyon brachyurus) (LOPES, 2008).
2.6. Avaliação do período de instalação da lesão: diferenciação ante-morte
versus pós-morte
Quanto à possibilidade de verificação do período em que se instalou
determinada lesão em crânios avaliados, Elbroch (2006) afirmou que
freqüentemente faltam dentes em crânios de animais mais velhos e que este achado
pode ser diferenciado de perdas ocorridas ante-morte. Se forem observados dentes
quebrados, mas arredondados na borda da fratura, o achado indica sinal de
desgaste e que esta perda ocorreu quando o carnívoro era vivo, e tinha idade mais
avançada.
Rossi Jr., 2007 constatou que algumas alterações congênitas ou adquiridas
de conformação craniana foram possíveis de ser constatadas em peças
anatômicas. Os dentes perdidos em vida (ante-morte) possuíam a borda do osso
alveolar correspondente remodelado ou completamente absorvido, enquanto que
nos dentes perdidos após a morte (pós-morte) não havia nenhum remodelamento do
osso alveolar.
Perfurações causadas por projéteis de arma de fogo e os ossos alveolares
de elementos dentários perdidos são reparados inicialmente por um tecido ósseo
esponjoso mais macio, que preenche a área comprometida. Se o animal sobreviver,
após um trauma, dentes quebrados sofrerão desgastes das bordas das fraturas e
terão um aspecto mais alisado, podendo ter alteração de cor com tempo.
(ELBROCH, 2006).
Doenças e traumas deixam sinais visíveis nos crânios e nos demais ossos
dos animais. Alterações na superfície óssea do crânio ou no osso alveolar e nas
raízes dos dentes que sofreram remodelação podem revelar enfermidades que o
animal sofreu quando vivo (ELBROCH, 2006).
Rossi Jr., 2007 rereriu que, com relação aos trabalhos com
sincrânios, as análises neste tipo de material foram extremamente valiosas, pois
revelaram condições adversas que os animais enfrentaram em ambiente natural,
que provavelmente não tenham sido determinantes de suas mortes. Os processos
reparadores encontrados nos ossos do crânio e dentes foram indicativos de que os
animais passaram por enfermidades e que conseguiram sobreviver a elas.
2.7. Anatomia e fisiologia oral
As estruturas orais possuem diferentes funções, como a introdução de
alimentos e fluidos para dentro do canal alimentar, proteção contra predadores e
rivais, por exemplo, proteção contra microrganismos, perda de calor (principalmente
em cães) e comunicação (HARVEY & EMILY, 1993).
Elbroch (2006) afirmou que a forma e a função dos dentes são instrumentos
importantes para se conhecer os hábitos de vida de um animal. A análise dos dentes
foi uma ferramenta importante para compreensão da evolução e taxonomia,
tornando possível classificar mamíferos e outros animais.
As funções e tendências adaptativas das espécies são refletidas pelos
elementos dentários. A dentição carnívora, bem como a de alguns onívoros e
herbívoros, consiste tipicamente de dentes com seqüência de erupção específica,
com maturação e fechamento dos ápices radiculares (WIGGS & LOBPRISE, 1997).
A maioria dos carnívoros possui dentição do tipo heterodonte, isto significa
que diferentes grupos de dentes estão presentes na dentição destes animais, sendo
eles: incisivos, caninos, pré-molares e molares. Além disso, possuem uma troca de
dentição durante a vida, ou seja, uma dentição decídua ou primária, e uma dentição
chamada permanente, sendo classificados, desta maneira, como difiodontes
(LOPES, 2008).
Na maioria dos carnívoros, os pré-molares e especialmente os dentes
carniceiros são dentes secodontes, com cúspides cortantes, dispostos de maneira
semelhante a uma tesoura (LOPES, 2008). Nos mãos-peladas, porém, os dentes
carniceiros o bunodontes, ou seja, dentes com cúspides achatadas, não afiadas
na face oclusal, dispostas de maneira a permitir ações de esmagamento e trituração,
como o primeiro e segundo molares superiores e segundo e terceiro molares
inferiores no cão (WIGGS & BLOOM, 2003).
Tipicamente, entre os carnívoros, os dentes incisivos são usados para roer,
coçar e cortar, como o rompimento do cordão umbilical; os dentes caninos servem
para segurar, rasgar e perfurar; os pré-molares são usados para cortar e segurar; e
os dentes molares, usados para triturar (HOLMSTROM, 1998). Mais uma vez, uma
peculiaridade se dá com os procionídeos, que também utilizam os quartos pré-
molares para trituração.
O posicionamento anormal da dentição decídua pode resultar em
maloclusão dos dentes permanentes, ocasionando comprimentos alterados na
mandíbula e na maxila (GIOSO & CARVALHO, 2005). A seqüência de erupção dos
dentes decíduos e permanentes, assim como a maturação e o fechamento dos
ápices radiculares, é pouco documentada na maioria das espécies animais (WIGGS
& BLOOM, 2003).
2.8. Anatomia dentária
A dentição de carnívoros se assemelha com a humana. diferenças no
número e forma, mas a anatomia básica é similar. Cada dente tem uma coroa
superfície acima da gengiva e uma ou mais raízes logo abaixo da gengiva. A
estrutura do dente maduro é composta por dentina, que é coberta com esmalte na
porção coronal e por cemento nas raízes. O centro do dente contém a polpa ou o
sistema endodôntico (GORREL, 2004).
Os dentes o fixados aos ossos por fibras colágenas, constituindo o
ligamento periodontal ou alvéolo-dental. A esta articulação, dá-se o nome de
gonfose (KOWALESKI, 2005).
A gengiva fixa-se ao dente, por meio do epitélio juncional, que em seu
estado hígido, fixa-se ao esmalte, formando um sulco gengival de aproximadamente
2 mm de profundidade (GIOSO, 2003).
2.8.1. Esmalte
Nos dentes dos carnívoros, o esmalte corresponde a uma fina camada que
recobre a coroa dentária. Esta estrutura é considerada a mais dura e mais
mineralizada do organismo, sendo formado predominantemente por cristais de
hidroxiapatita (GORREL, 2004). Não possui vascularização ou inervação. Possui
coloração branca translúcida, apesar de, muitas vezes, aparentar mudança na
coloração, devido à transmissão de cor da dentina subjacente (TEN CATE, 1988;
HARVEY & EMILY, 1993).
2.8.2. Dentina
É composta por cristais de hidroxiapatita, fibras colágenas,
mucopolissacarídeos e água. A dentina é uma estrutura porosa, sendo recoberta na
coroa por esmalte, e na raiz por cemento. (TEN CATE, 1988).
A estrutura que corresponde ao principal componente do dente maduro é
feita de dentina, que durante toda vida é continuamente depositada, por meio de
túbulos dentinários contendo prolongamentos citoplasmáticos dos odontoblastos,
células especializadas, localizadas na polpa dentária (GORREL, 2004).
2.8.3. Polpa
A polpa dentária é composta de tecido conjuntivo, largamente permeado por
finos vasos sanguíneos, linfáticos e por terminações nervosas mielinizadas e não
mielinizadas, além de células mesenquimais indiferenciadas. Os odontoblastos, que
se encontram na periferia, são responsáveis pela produção de dentina, dentre outras
funções. Na coroa, a seção contendo a polpa é chamada de câmara pulpar e na
raiz, ou raízes, é chamada de canal radicular (TEN CATE, 1988, GORREL, 2004,
LOPES, 2008).
2.8.4. Cemento
O cemento é um tecido avascular, semelhante ao osso, que recobre a
superfície das raízes dentárias. Não contém canais de Havers e é bem mais denso
que o osso e menos calcificado que o esmalte ou a dentina. Mas, assim como a
dentina, o cemento sofre deposição contínua, durante a vida (GORREL, 2007).
Geralmente, recobre a porção cervical da raiz como uma fina camada, que se torna
mais espessa à medida que se aproxima do ápice (REITER et al, 2005). Através do
cemento, as fibras do ligamento periodontal prendem-se ao dente e, do outro lado,
ao osso alveolar. O ligamento periodontal realiza, assim, a sustentação do dente no
interior de seu alvéolo, funcionando como um amortecedor de impacto (NEWMAN et
al, 2002). Também é responsável pelos processos reabsortivo e reparativo, no
entanto, num grau menor do que o osso (GORREL, 2007).
2.9. Elementos dentários e suas descrições
Todos os dentes são similares, em termos de estrutura, mas há variações
significantes em termos de tamanho, forma e função (WIGGS & LOBPRISE, 1997).
2.9.1. Incisivos
Assim como descrito em cães e gatos, os dentes incisivos dos procionídeos
são unirradiculados. São em número de três, em cada hemi-arco, inseridos no osso
incisivo. Seu tamanho diminui do incisivo lateral para o medial, sendo os superiores
um pouco maiores que os inferiores. Suas raízes são finas e compridas. A face
oclusal, conforme sofre desgaste apresenta diminuição das cúspides,
transformando-se em verdadeira face (ROZA, 2004; KOWALESKY, 2007;
VERSTRAETE, 2007).
2.9.2. Caninos
De modo similar aos outros indivíduos pertencentes à sua ordem, também
os dentes caninos dos mãos-peladas são os mais compridos de toda arcada,
possuem raiz única e longa, que chega a ter duas vezes o tamanho da coroa. São
em número de quatro e estão fortemente inseridos, dois no osso maxilar superior e
dois na mandíbula. Sua coroa é ligeiramente pontiaguda e curva, principalmente
nos inferiores (ROZA, 2004; KOWALESKY, 2007; VERSTRAETE, 2007).
Funcionalmente, também são usados para predação e autodefesa (ZEVELOFF,
2002).
2.9.3. Pré-molares
É nos dentes pré-molares que os procionídeos mostram mais evidentemente
sua adaptação à dieta onívora, pois seus quartos pré-molares são mais maciços e
redondos, e por isso, considerados “pesados” e mais adaptados à mastigação e
trituração, que à laceração, como os dos outros carnívoros. Neste quesito, dentro
de sua família, o P. cancrivorus é o que de longe mais se adaptou à mastigação de
substâncias duras, como exoesqueletos de caranguejo e conchas de moluscos,
pois, com exceção de seus primeiros pré-molares, seus dentes carniceiros o mais
maciços e têm cúspides ainda mais amplas e arredondadas, que as de seus
parentes raccoons (ZEVELOFF, 2002).
Fora essas particularidades, seguem a normalidade anatômica descrita
em cães e gatos, possuindo uma, duas ou três raízes, coroa de forma cônica, com
elevação principal no centro e outras duas elevações menores, chamadas cúspides.
Colocam-se em série de volume crescente no sentido mésio-distal, ou seja, o
primeiro pré-molar é menos volumoso que o segundo, e este menor do que o
terceiro, que é menor do que o quarto. A face vestibular é mais convexa que a
lingual (ROZA, 2004; VERSTRAETE, 2007; KOWALESKY, 2007).
2.9.4. Molares
Os molares, trirradiculados, com exceção do primeiro inferior, têm formato
carniceiro, apresentando suas superfícies oclusais niveladas em forma de mesa
(ROZA, 2004; VERSTRAETE, 2007; KOWALESKY, 2007).
2.9.5. Decíduos
Os dentes decíduos ou secundários são menores, mais finos e afiados que
os permanentes. Os incisivos e caninos decíduos o morfologicamente similares
aos seus permanentes.
Os p-molares decíduos diferem dos seus sucessores permanentes, pois
se assemelham ao dente que está próximo na linha: por exemplo, o quarto pré-molar
superior decíduo lembra o primeiro molar permanente. Esta é a razão pela qual
alguns textos referem-se a um primeiro molar decíduo em vez de um quarto pré-
molar decíduo, o que é anatomicamente incorreto, mas é baseado em
características de semelhança morfológicas. Os primeiros pré-molares em cães não
têm precursores decíduos. O termo dentição mista refere-se a período, durante o
qual, ambos os dentes decíduos e permanentes estão presentes (VERSTRAETE,
2007).
2.10. Posicionamento Dentário e Superfícies
Para fins de referência anatômica, diversos autores descrevem os seguintes
posicionamentos dentários e superfícies (ROZA, 2004; HOLMSTROM, 2007;
KOWALESKY, 2007):
Superfície apical Relacionada ao ápice radicular.
Superfície coronal Relacionada à coroa, superfície mastigatória do dente, também
chamada de incisal nos dentes incisivos e oclusal nos pré-molares e molares.
Distal Parte além da linha mediana imaginária, que se segue a curva dos arcos
dentais.
Face Vestibular ou Facial - A superfície do dente mais próxima face. O termo facial é
impróprio para pacientes veterinários, porque pouca delimitação entre o rosto e
bochecha. Bucal e labial são mais precisos.
Margem incisal - A superfície de mordida dos dentes anteriores.
Interproximal - Entre as superfícies mais próximas de dentes adjacentes.
Labial - A superfície do dente mais próxima aos lábios (dentes anteriores).
Linha Angular - linha imaginária formada pela junção de duas superfícies verticais
adjacentes, ou paredes de um dente.
Face lingual - A superfície do dente mais próxima da língua.
Face Mesial É a face do dente mais próxima à linha média do arco dental, em
direção ao plano entre os incisivos centrais direito e esquerdo.
Oclusal - As superfícies de mastigação dos dentes caudais, que consistem de
cúspides, cristas e sulcos. Os incisivos e caninos não possuem uma face oclusal.
Palatal - A superfície do dente em direção ao palato. Também designada como face
lingual.
Sublingual - As estruturas e as superfícies debaixo da língua.
2.11. Sistemas de nomenclatura dos dentes
2.11.1. TRIADAN modificado
Um grande número de sistemas de identificação tem sido utilizado para os
registros dentários. Em alguns sistemas, um número é dado a cada
dente, enquanto em outros, usam-se números e símbolos para designar um dente.
Os sistemas em que os números são utilizados sozinhos são mais facilmente
adaptáveis para uso em computadores (HOLMSTROM, 2007). Dentre esses,
destaca-se o Sistema TRIADAN modificado, que por seu largo uso no meio
científico, foi o escolhido para a confecção dos odontogramas deste estudo.
Este sistema caracteriza-se por conferir a cada dente um número de três
dígitos. O primeiro dígito representa o quadrante em que o dente está inserido,
sendo numerado no sentido horário. Para os dentes permanentes, o número 1 é
conferido ao quadrante maxilar direito, ao esquerdo é 2, ao quadrante mandibular
esquerdo é 3 e ao quadrante inferior direito é 4 (Figura 9). Quadrantes para os
dentes decíduos são representados pelos meros 5, 6, 7 e 8, este último
representando o quadrante mandibular direito (HOLMSTROM, 2007).
O sistema TRIADAN modificado é assim denominado por ter sido adaptado
para a medicina veterinária do modelo humano, que contém apenas dois dígitos, ao
invés de três, pelo fato de alguns carnívoros terem mais de 10 elementos dentários
em cada quadrante, inviabilizando, assim, a representação pelos números 1 a 9
(ROZA, 2004).
Figura 9: Diagrama representando os quadrantes direitos e esquerdos maxilares e
mandibulares, segundo a notação do sistema Triadam modificado.
Os elementos dentários individuais são representados por dois
dígitos, com 01 correspondendo ao primeiro dente da linha mediana, seguindo
distalmente em ordem crescente, ao longo do arco dentário.
A regra de quatro e nove é usada para simplificar as notações entre as
diferentes espécies. Um dente quatro é sempre o dente canino e um dente nove é
sempre o primeiro molar, em ambos os arcos, maxilar ou mandibular. Por exemplo,
504 representa o dente canino primário direito da maxila, e 309 representa o
primeiro molar secundário inferior esquerdo. Em espécies como o gato, quando o
maxilar primeiro pré-molar estiver ausente, os dentes no lado direito da maxila
secundário são 101, 102, 103, 104 (105 em falta), 106, 107, 108 e 109. Os dentes
secundários direitos mandibulares do felino são 401, 402, 403, 404, 407, 408, e 409
(405 e 406 estão desaparecidos). Os números não são usados quando um dente é
normalmente ausente na espécie (HOLMSTROM, 2007).
110 109 108 107 106 105 104 103 102 101
410 409 408 407 406 405 404 403 402 401
201 202 203 204 205 206 207 208 209 210
105 104 103 102 101
301 302 303 304 305 306 307 308 309 310
105 104 103 102 101
Maxila
Mandíbula
D
E
Fácil de usar, este sistema é útil para lidar com uma única espécie, ou
quando os registros com odontogramas são usados. Uma vez aprendido, permite
mais facilidade ao citar e escrever nos registros, e ao descrever os dentes
envolvidos na possível doença ou tratamento (HOLMSTROM, 2007).
2.12. Alterações dentárias registradas e suas descrições
A doença oral resulta de uma larga variedade de circunstâncias e a
aparência clínica do processo patológico varia consideravelmente dentro de uma
simples espécie, e pode variar enormemente de uma espécie para outra (FAGAN,
1980).
Quando ocorrem defeitos congênitos, devem-se avaliar padrões genéticos e
padrões ambientais, como venenos ou produtos químicos tóxicos, e/ou grandes
desequilíbrios nutricionais.
O mal posicionamento dos dentes pode ocorrer, como giroversão, que é a
rotação do elemento dentário sobre seu próprio eixo (ROZA, 2004) e apinhamento
dentário, favorecendo o acúmulo de debris alimentares e bactérias por dificultar a
higienização local (LOPES, 2008).
Quando um espaço inter-dental encontrado, é mais extenso do que o
habitual, passa a ser chamado de diastema, como o espaço encontrado entre o ente
canino e o primeiro pré-molar. O espaço entre o dente incisivo lateral maxilar e o
dente canino maxilar é chamado de espaço oclusal (VERSTRAETE, 2007).
Oclusão ou mordida se refere à forma como os dentes se interpõem, quando
as maxilas são fechadas. Quando normal implica na perfeita justaposição dos
dentes, na integridade dos arcos dentários e no funcionamento normal das
articulações têmporo-mandibulares (VERSTRAETE, 2007). Oclusão anormal
(maloclusão) pode indicar um defeito hereditário do crânio ou o crescimento da
mandíbula. Um erro comum é olhar apenas como os incisivos se coaptam, porém, a
interação de todos os tipos de dentes deve ser avaliada para determinar se existe
assimetria de crânio ou problema de comprimento da mandíbula (DODD, 2007).
Maloclusão tem sido relatada em diversos carnívoros selvagens, sendo
considerada uma afecção mais propensa em animais de cativeiro do que em
animais de vida livre. A etiologia pode estar relacionada a problemas ambientais,
nutricionais, textura da dieta, estresse, trauma e doença periodontal (WIGGS &
LOBPRISE, 1997; WIGGS & BLOOM, 2003).
Rossi Junior (2007) relatou a prevalência de maloclusão em sincrânios de
onça-pintada (Panthera onca) e suçuarana (Puma concolor) de vida livre,
correspondendo a 12% e 7%, respectivamente.
Fitch & Fagan (1982) descrevem uma severa desordem palatina, causada
por maloclusão de molares em guepardos adultos, mantidos em cativeiro. Este
defeito foi denominado erosão palatina focal (FPE). O contato dos molares
inferiores malocluídos com a mucosa palatal pareceu ser a fonte primária de
irritação. A infecção aconteceu quando restos de alimento e de capim se alojaram
na região afetada, que eventualmente evoluiu para severa perfuração palatina, com
abertura para a região nasal e amesmo levando a desordens sistêmicas. FPE
parece ser o resultado de fatores dietéticos, já que todos os animais afetados
recebiam dieta comercial macia. A falta das atitudes normais de morder, cortar e
puxar a presa poderia ter resultado em maloclusão, causada pela atrofia por desuso
do aparato mastigatório.
Embora seja pouco diferente de outros problemas ortopédicos encontrados
pelo clínico veterinário, em animais exóticos e selvagens, este assunto deve ser
tratado de forma especial, pois é nos tecidos da cabeça e pescoço que se
encontram os mais essenciais e/ou vitais estruturas por cm² do que em todo o
restante do corpo. Além disso, não-união de fraturas é um dos principais
problemas, especialmente da mandíbula e o edema causa considerável injúria
secundária nos tecidos, que podem facilmente resultar numa compressão obstrutiva
da traquéia, levando a outras complicações (FAGAN, 1982).
As fraturas e desgaste dentários são descritos em diversas espécies de
carnívoros mantidas em cativeiro, como ursos, lobos, coiotes, raposas, leões,
leopardos, tigres, jaguatiricas, furões e raccoons, principalmente nos dentes
incisivos, caninos e carniceiros (WIGGS; BLOOM, 2003). Estas lesões dentárias em
animais de cativeiro são, em parte, atribuídas ao ambiente cativo, principalmente por
mordedura de grades, barras e cercas, brincadeiras e mastigação de objetos ou
brinquedos inapropriados ou problemas comportamentais (WIGGS & BLOOM,
2003). No entanto, Lopes (2008), demonstrou que esta afecção dentária também
ocorre com freqüência em vida livre, e provavelmente a causa nestes casos esteja
relacionada às características e hábitos alimentares do lobo-guará em natureza.
Nos casos em que ocorre um impacto muito intenso sobre os dentes, pode
haver extensão da linha de fratura aos alvéolos, necrosando os cementócitos, o
que impede o ligamento periodontal de promover a união da raiz do dente com o
processo alveolar, resultando da perda dentária (BAART & KWAST, 1982). Outro
fator que pode propiciar a perda dentária, sem que necessariamente ocorra trauma
direto ao dente, se observa durante o processo de reparação e consolidação das
partes fraturadas do hemi-arco dental (HILLSON, 1990). Além disso, no caso de
traumas, se restarem fragmentos de raízes nos alvéolos, não ocorrerá completa
remodelação alveolar e estes fragmentos podem tornar-se focos potenciais de
infecção (SHAFER et al., 1979; ROSSI JR., 2007).
Os dentes podem sofrer processos mecânicos que levam ao seu desgaste
prematuro. A abrasão é causada quando se tem uma ação mecânica sobre o dente
que causa estresse no esmalte e dentina. O atrito é um processo de desgaste
normal na coroa, usualmente causado devido à mastigação. A superfície dentária é
capaz de suportar certo limite fisiológico de atrito. Se os dentes possuem injúrias ou
maloclusão, este limite é vencido e o atrito causa desgaste excessivo dos dentes, o
que pode ocorrer em lutas ou contato freqüente com objetos duros e grades de
recintos (FORRIER et al., 1969; BRINKMAN & WILLIAMS, 1975; WIGGS &
LOBPRISE, 1997).
Pode-se classificar o desgaste dentário nos seguintes níveis (ROSSI JR., 2007):
Nível 0: sem desgaste.
Nível 1: desgaste somente de esmalte.
Nível 2: formação de dentina terciária.
Nível 3: exposição da câmara coronária.
Nível 4: desgaste total da coroa até o nível radicular, com separação completa das
raízes nos dentes multirradiculados.
Lopes (2008) citou que o desgaste dentário consistiu no principal achado
odontológico em lobos-gruará, seguido por fraturas, anomalias dentárias, doença
periodontal, cárie e lesões traumáticas de tecidos moles e osso. Embora o desgaste
dentário seja considerado um processo fisiológico, utilizado inclusive para estimativa
de idade em muitas espécies, pode levar à perda acentuada da superfície dentária,
comprometendo a função. Alguns trabalhos descrevem exposição pulpar associada
ao desgaste e as implicações desta afecção para o animal precisam ser
investigadas.
Em estudo conduzido com dentes de sincrânios de quatro espécimes de P.
cancrivorus sob microscopia eletrônica de varredura, Koenemann et al., (2009)
encontraram sinais relevantes característicos de micro desgaste, como a presença
de orifícios e riscos cruzados. Por meio da análise do esmalte, constataram a
presença de um numero maior de riscos cruzados do que de orifícios Não se
observou, em nenhum dos dentes analisados, a presença do esmalte danificado
(com profundos orifícios e grandes riscos), como é possível ocorrer em animais com
hábitos alimentares carnívoros, nem tampouco sinais pouco numerosos, a exemplo
dos observados em animais especializados, como insetívoros, sugerindo que sua
dieta não seja constituída por itens rígidos (p.ex., ossos), mas de alimentos de
consistência relativamente macia, consoante com um hábito trófico onívoro.
. erosão é a perda localizada, crônica, e patológica da superfície dentária
através de dissolução química causada por substâncias ácidas e quelantes, sem
envolvimento bacteriano (TEN CATE & IMFELD, 1996). A cárie, que não é um
problema grave em animais exóticos, além da displasia de esmalte, é
essencialmente uma conseqüência localizada e significativa da mudança do
ambiente, induzida por mudança de dieta ou de desenvolvimento (FAGAN, 1980).
Fenestração e deiscência correspondem a tipos de alterações ósseas, que
podem ocorrer principalmente na face vestibular do osso alveolar, embora também
possam acometer as faces lingual e palatina. A fenestração caracteriza-se por uma
lesão circunscrita ao osso alveolar, que expõe a raiz dentária, sendo recoberta
apenas por periósteo e gengiva. Neste caso, a margem da crista óssea alveolar
permanece intacta. Quando estas áreas descobertas por osso estendem-se ae
envolvem a margem da crista alveolar, o defeito ósseo recebe a denominação
deiscência (NEWMAN et al.,2002; LOPES, 2008).
Lopes (2008) atribui algumas das possíveis causas da fenestração e da
deiscência, como sendo contornos radiculares proeminentes, posicionamento dos
dentes, como protrusão vestibular das raízes e força oclusal, associados à
espessura óssea delgada. Isto porque em seus estudos verificou que os casos de
defeitos ósseos alveolares observados ocorreram somente na maxila, que possui
delgada cortical óssea, com prevalência nos dentes quarto pré-molar, primeiro e
segundo molares. Tais dentes estão sujeitos a acentuada carga mastigatória em
carnívoros e, principalmente, o dente quarto pré-molar superior (carniceiro), que
apresenta raízes vestibulares proeminentes.
Com relação à deiscência, a mesma autora sugere a possibilidade de esta
alteração óssea ser fisiológica na espécie estudada, que animais sub-adultos, em
fase de troca de dentição, apresentaram deiscência bilateral, corroborando com
estudos anteriores em outras espécies, e que parece ser uma confluência da
fenestração óssea e de reabsorção horizontal progressiva, além do fato de que o
posicionamento dos dentes não parece estar envolvido na etiologia destes defeitos
em animais (LOPES, 2008).
Um pequeno trauma leva a uma doença degenerativa crônica, um trauma
importante resulta em fratura dos dentes (FAGAN, 1982). O mesmo autor propõe
uma classificação do dente traumatizado onde:
Classe 1: fratura simples da coroa dentária, envolvendo pouca ou nenhuma dentina.
Classe 2 : fratura extensa da coroa, envolvendo considerável dentina, mas não o
tecido pulpar.
Classe 3: fratura extensa da coroa, envolvendo considerável dentina e expondo a
polpa dentária.
Classe 4: O dente traumatizado se torna desvitalizado, com ou sem a perda da
estrutura da coroa.
Classe 5: Perdas dentárias como resultantes do trauma. Subluxação completa ou
parcial.
Classe 6: Fratura de raiz, com ou sem comprometimento da coroa.
Classe 7: Deslocamento de um dente, sem fratura da coroa ou da raiz.
Classe 8: Fratura da coroa em massa e sua remodelação.
Classe 9: Injúrias traumáticas ao dente decíduo, ou primário.
A bactéria na saliva continuamente banha o dente, e, com o tempo, vai
invadir os tecidos pulpares e levar a uma pulpite necrótica irreversível, que
eventualmente resultará numa resposta inflamatória apical, cujos resultados serão a
disseminação da infecção ao longo dos espaços do ligamento periodontal, ou segue
pela corrente sanguínea aos dentes adjacentes e tecidos e, com o tempo gera
outros problemas orais (FAGAN, 1982). No arco superior, uma seqüela comum são
fístulas infra-orbitárias. no arco inferior, a infecção pode levar a fístulas
mandibulares (PACHALY, 2006).
Fagan (1982) constata que de um ponto de vista etiológico, tudo que
acontece dentro ou ao redor da cavidade oral, direta ou indiretamente, resulta ou
contribui para o desenvolvimento da doença periodontal.
A doença periodontal pode ser definida por incluir todos os distúrbios
associados com os tecidos circundantes e de apoio à dentição, que incluem a
gengiva, ligamento periodontal e osso alveolar. A gengivite é o primeiro passo da
doença periodontal e é definida como a inflamação dos tecidos fibrosos que cobrem
os processos alveolares das arcadas superiores e inferiores e ao redor dos colos
dos dentes. Os fatores etiológicos que contribuem para uma gengivite inflamatória
são abrasão, fatores locais, reação/alergia a fármacos, alteração hormonal,
sistêmica ou idiopática (FAGAN, 1982).
Na distribuição da doença periodontal, de acordo com o grau de
enfermidade, tendência dos animais de cativeiro em apresentar periodontite mais
avançada, com alguns espécimes manifestando o grau mais elevado da doença,
enquanto que animais de vida livre apresentaram graus mais brandos,
principalmente gengivite e periodontite inicial (LOPES, 2008).
Na medida em que ocorre a remodelação do osso alveolar, a região
interproximal das raízes se evidencia, o que, em dentes multirradiculares é
denominado exposição de furca. Classifica-se exposição de furca em três estágios,
segundo a Veterinary Dental Nomenclature, desenvolvida pelo AMERICAN
VETERINARY DENTAL COLLEGE (AVDC):
Grau 1: a sonda periodontal penetra na região de furca do dente multirradicular em
profundidade inferior à metade da distância até a face contralateral do dente, em
qualquer direção.
Grau 2: a sonda periodontal penetra mais da metade da profundidade da região de
furca, sem atravessar para o outro lado.
• Grau 3: a sonda periodontal atravessa a região de furca, para o outro lado.
Rossi Jr., 2002, descreveu a incidência de escurecimento dentário,
acometendo indivíduos de Panthera onca e Puma concolor, fazendo diferenciação
do escurecimento interno, ou seja, na dentina, devido a traumatismos que levam a
rompimento de vasos pulpares e penetração de substância nos túbulos dentinários,
causando o escurecimento do elemento dentário, de causas externas, que levam a
pigmentação superficial do esmalte, que pode ser influenciada pela dieta.
Mais tarde, o mesmo autor relatou o escurecimento dentário presente em um
indivíduo de Panthera onca, mas não pode estabelecer se o fato da pigmentação
estar aderida ao esmalte dentário foi uma conseqüência no preparo da peça
anatômica (sincrânio) ou impregnação de origem alimentar (ROSSI JR, 2007).
Musaranhos m como característica o esmalte dentário pigmentado de
vermelho. Esta coloração é causada por ferro e acredita-se que torne o esmalte
mais resistente ao desgaste. Dez espécimes de toupeira (Blarina brevicauda) foram
examinados para quantificar a concentração percentual de ferro, utilizando um
microscópio eletrônico de varredura, em conjunto com um espectrômetro de energia
dispersiva. Variação substancial de ferro foi encontrada entre as cúspides individuais
dos molares e as dos dentes de diferentes posições. Especificamente, as cúspides
associadas à mastigação e moagem, em oposição ao corte, tinham mais ferro
incorporado ao seu esmalte. Além disso, o majorado primeiro molar exibiu
densidade de ferro mais alta, que a dos dentes mais posteriores. Estes resultados
sugerem que a densidade aumentada de ferro é expressa nos dentes, e partes dos
dentes, que estão sujeitas a maiores tensões e são mais propensos à fratura e
desgaste excessivo (STRAIT & SMITH, 2006).
O pigmento amarelo do dente incisivo do rato albino normal torna-se visível
na proximidade do ponto médio da superfície convexa, coberta de esmalte. A
pigmentação ocorre em uma área incisal da região onde a espessura total do
esmalte já foi atingida e depois que a maturação ocorreu. O pigmento está confinado
à zona exterior do esmalte. Esta zona é relativamente resistente aos ácidos em
comparação com a porção subjacente não pigmentada do esmalte. Conforme os
grânulos de pigmento amarelo se depositam no esmalte, desaparecem dos
ameloblastos. Uma cutícula primária é descrita como presente por toda a superfície
do esmalte, exceto na a zona proximal da matriz do esmalte, onde está sendo
depositada. O possível papel desta cutícula na calcificação (maturação) e sideração
(pigmentação) é discutido (STEIN & BOYLE, 1959). No entanto, Miles, 1963,
questiona a presença do ferro como elemento responsável pela pigmentação do
esmalte em roedores, que análises em dentes de capivara, coelhos e crânios de
vários macacos-rhesus demonstraram altos níveis deste metal em dentes não
pigmentados.
Para a realização deste estudo, foram utilizados 104 sincrânios de
espécimes de P. cancrivorus, oriundos de natureza ou de cativeiro, procedentes de
diversas regiões brasileiras, e pertencentes aos acervos do Museu Paraense Emílio
Goeldi, PA (MPEG), do Museu Nacional do Rio de Janeiro UFRJ, RJ (MN), do
Museu de Mastozoologia da Universidade de São Paulo, SP (MZUSP), e do Centro
Universitário Vila Velha, ES (UVV).
3. OBJETIVOS
O presente trabalho visa identificar e relatar o padrão de dentição fisiológico
e a ocorrência alterações da cavidade oral e sua prevalência, que podem ser
detectadas por meio do estudo de sincrânios de mãos-peladas (Procyon
cancrivorus).
Pretendeu-se, assim, estabelecer um parâmetro do estado de saúde oral da
espécie estudada, sua frequência e se esta apresenta as mesmas enfermidades
orais em vida livre e em cativeiro, relacionando a prevalência de afecções orais com
características da ecologia da espécie.
Avaliar e realizar odontograma de sincrânios de Procyon cancrivorus
Registrar e catalogar as principais alterações dos elementos dentais
encontradas, para futuras referências, nas diversas áreas de interesse.
4. MATERIAIS E MÉTODO
Foram estudadas arcadas dentárias de 104 indivíduos da espécie Procyon
cancrivorus, que foram a óbito por motivos diversos, nem sempre referidos nos
materiais tombados estudados. Porém, toda informação registrada foi catalogada
nas fichas individuais, os odontogramas. Dentre as causas-mortis observadas,
encontravam-se acidentes, como afogamento ou atropelamento, além de
traumatismos por armas de fogo, porém, na maioria dos casos, não houve registro
do motivo da morte.
O estudo se deu por meio de sincrânios, preparados por diversos métodos
de maceração, conforme técnicas específicas escolhidas, segundo a conveniência
de cada instituição, configurando diferenças importantes e notórias em cada peça
estudada. Dentre elas, encontrou-se diferença de coloração nos ossos cranianos,
presença de fraturas dentárias longitudinais pós-morte, ausência dentária pós-morte,
deposição de material orgânico resquicial, estando algumas em perfeito estado de
conservação e outras bastante avariadas.
As coleções examinadas foram listadas abaixo, ordenadas por nome da
instituição a que pertencem, número de tombo, data da coleta, sexo, região
brasileira, onde foi coletado o espécime, e estado de conservação do sincrânio.
Além disso, foram separados por ambiente em que o animal vivia, sendo
classificados por cativeiro e vida livre, quando possível averiguar a procedência.
Quando um dado não estava referido no material estudado, foi classificado como
não determinado.
Todo esse material está depositado nos acervos do Museu Paraense Emílio
Goeldi, PA (MPEG) (Tabela 1), Museu Nacional UFRJ, RJ (MN) (Tabela 2), Museu
de Mastozoologia da Universidade de São Paulo, SP (MZUSP) (Tabela 3), e Setor
de Anatomia Veterinária do Centro Universitário Vila Velha, ES (UVV) (Tabela 4):
Tabela 1 Coleção do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
TOMBO
COLETA
GÊNERO
REGIÃO
CONSERVAÇÃO
NATUREZA
25393
1998
N/D
Norte
Ruim
CATIVEIRO
4200
1917
Macho
N/D
Boa
4201
1934
Fêmea
N/D
Regular
4202
1941
Macho
N/D
Boa
4213
1908
Fêmea
N/D
Boa
4211
1939
Fêmea
N/D
Boa
4209
1908
Fêmea
N/D
Boa
4207
1944
Macho
N/D
Boa
4206
1917
Macho
N/D
Boa
4205
1941
Fêmea
N/D
Boa
4204
1936
Macho
N/D
Boa
4203
1936
Macho
N/D
Boa
NÃO DETERMINADO
8856
-
N/D
N/D
Regular
2716
-
N/D
N/D
Boa
3256
-
Macho
N/D
Ruim
721
1935
Fêmea
Norte
Regular
6821
-
Fêmea
N/D
Boa
4212
1935
N/D
N/D
Boa
4210
1937
Fêmea
N/D
Boa
4208
1935
Macho
N/D
Regular
Tabela 2 Coleção do Museu Nacional UFRJ
MUSEU NACIONAL UFRJ
TOMBO
COLETA
GÊNERO
REGIÃO
CONSERVAÇÃO
NATUREZA
25657
1984
Fêmea
CentroOeste
Regular
25310
1984
N/D
Sudeste
Regular
28802
1989
Fêmea
Sudeste
Regular
32377
-
N/D
Sudeste
Boa
32384
1940
Fêmea
Sudeste
Ruim
32395
1954
N/D
Sudeste
Ruim
1497
1936
N/D
Nordeste
Boa
4870
1936
N/D
Norte
Ruim
4896
1936
Fêmea
Norte
Regular
4897
1936
N/D
Norte
Boa
5503
1939
Fêmea
Sudeste
Ruim
5504
1941
Fêmea
Sudeste
Ruim
5643
1939
Macho
N/D
Boa
7256
1942
Fêmea
Sudeste
Boa
7612
1943
Fêmea
Sudeste
Boa
7625
1940
Fêmea
CentroOeste
Boa
11203
1944
Macho
Nordeste
Regular
23884
1953
N/D
Norte
Boa
23885
1945
Macho
Sudeste
Boa
23886
1954
Fêmea
Sudeste
Ruim
23887
1952
Fêmea
Nordeste
Regular
NÃO DETERMINADO
25690
-
N/D
N/D
Ruim
25689
-
N/D
N/D
Regular
32374
-
N/D
N/D
Ruim
2378
-
N/D
N/D
Boa
32380
-
N/D
N/D
Ruim
32381
-
N/D
N/D
Ruim
Tabela 2 Coleção do Museu Nacional UFRJ (continuação)
MUSEU NACIONAL UFRJ
TOMBO
COLETA
GÊNERO
REGIÃO
CONSERVAÇÃO
32382
-
N/D
N/D
Regular
32383
-
N/D
N/D
Regular
32387
-
N/D
N/D
Regular
71087
2002
N/D
CentroOeste
Regular
71090
2003
Fêmea
CentroOeste
Ruim
SACOLA I
-
N/D
N/D
Regular
SACOLA II
-
N/D
N/D
Ruim
SACOLAIII
-
N/D
N/D
Regular
3094
-
N/D
N/D
Regular
345
-
N/D
N/D
Ruim
1044
-
N/D
N/D
Boa
3087
-
N/D
N/D
Regular
7577
-
N/D
N/D
Ruim
32379
-
N/D
N/D
Ruim
Tabela 3 Museu de Mastozoologia da Universidade de São Paulo, SP (MZUSP)
MUSEU DE ZOOLOGIA DA USP
TOMBO
COLETA
GÊNERO
REGIÃO
CONSERVAÇÃO
NATUREZA
25393
1998
N/D
Norte
Ruim
19848
1979
N/D
C.Oeste
Regular
19846
1979
N/D
C.Oeste
Regular
4225
1932
Macho
C.Oeste
Regular
4224
1933
Fêmea
C.Oeste
Regular
2418
2006
Fêmea
Sudeste
Regular
6194
-
Fêmea
Sudeste
Ruim
CATIVEIRO
9613
1985
Fêmea
N/D
Ruim
NÃO DETERMINADO
21627
1987
N/D
Sudeste
Regular
19852
1985
Fêmea
N/D
Regular
19794
1968
Macho
Norte
Regular
19379
1984
Fêmea
Sudeste
Ruim
11824
1978
N/D
N/D
Ruim
5559
1985
Fêmea
Sudeste
Ruim
4230
1985
Macho
Sudeste
Ruim
1180
1903
Fêmea
Sudeste
Boa
4223
1932
Fêmea
C.Oeste
Regular
2826
1910
Macho
Sudeste
Regular
2439
1907
N/D
Sudeste
Regular
2562
1907
Macho
Sul
Boa
22363
1987
N/D
N/D
Boa
22362
1987
N/D
N/D
Boa
22364
1987
N/D
N/D
Boa
Tabela 3 Museu de Mastozoologia da Universidade de São Paulo, SP (MZUSP)
(continuação)
MUSEU DE ZOOLOGIA DA USP
2306
-
N/D
Sul
Ruim
22365
1987
N/D
N/D
Regular
1806
1905
N/D
Sudeste
Boa
2064
2005
Fêmea
Sudeste
Regular
2307
-
N/D
Sudeste
Boa
2337
1897
Macho
Sul
Regular
1673
1904
Fêmea
Sul
Regular
22418
1987
N/D
N/D
Regular
2651
1908
Macho
Nordeste
Boa
2809
1909
Macho
Sudeste
Regular
2824
1910
Macho
Sudeste
Regular
2825
1910
N/D
Sudeste
Regular
1437
1904
N/D
Sul
Boa
22366
1987
N/D
Sul
Regular
21628
1987
N/D
N/D
Regular
Tabela 4 Centro Universitário Vila Velha, ES (UVV)
CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA
TOMBO
COLETA
GÊNERO
REGIÃO
CONSERVAÇÃO
NATUREZA
CX MENOR
2008
N/D
Sudeste
Ruim
SM-04
2008
N/D
Sudeste
Ruim
SM-89
2008
N/D
Sudeste
Regular
SM-56
2008
N/D
Sudeste
Regular
SM-74
2008
N/D
Sudeste
Regular
SM-19
2008
N/D
Sudeste
Ruim
Na avaliação da cavidade oral, foram considerados os seguintes parâmetros
de estado de saúde oral: ausência dentária; exposição de dentina ou cemento;
desgaste dentário; posicionamento dos dentes, que podem ser causa de
maloclusão, hábitos oclusais parafuncionais e perda de suporte ósseo, entre outras;
traumatismo e doença periodontal, evidenciada por reabsorção de crista alveolar,
cálculo dentário e exposição de furca, segundo recomendado por Rossi Jr. (2002).
A classificação de doença periodontal nos sincrânios restringiu-se à
avaliação do osso alveolar, devido à ausência dos tecidos moles que compõem o
periodonto. Logo, a doença periodontal grau um (gengivite) não pode ser avaliada
neste grupo, assim como a mobilidade, por não haver os tecidos moles inerentes.
Os sincrânios foram avaliados quanto à presença de assimetria e lesões
ósseas e de oclusão. Os dentes e osso alveolar foram inspecionados visualmente.
A reabsorção óssea foi estimada em milímetros, por sonda milimetrada,
tomando-se a medida da distância entre a junção amelo-cementária (JAC) e a crista
alveolar, nas faces ósseas mesial, vestibular, distal e palatina ou lingual. Foi
estabelecida a subtração padrão de 1,5 mm a partir da JAC, a fim de caracterizar a
medida do espaço biológico, ocupado pelo epitélio juncional e inserção conjuntiva.
Para determinação de fenestração e deiscência ósseas, foi adotada
metodologia descrita por Davies et al. (1974), isto é, considerou-se deiscência o
defeito ósseo vertical apresentando medida de crista óssea igual ou superior a 4
mm, comparada à crista alveolar adjacente, com base na JAC; e fenestração a
descontinuidade óssea circunscrita, localizada no osso maxilar causando exposição
radicular, sem comprometimento da margem da crista alveolar. A ausência dentária
foi distinguida entre ante e pós-morte de acordo com a forma e o padrão da margem
óssea alveolar. Considerou-se a perda dentária ante-morte, quando observadas, na
região do osso alveolar correspondente, as seguintes características: contorno
irregular ou arredondado da crista óssea alveolar, diminuição da profundidade do
alvéolo, reação periosteal exuberante e aumento da vascularização, evidenciada
pela presença de grande número de foraminas (VERSTRAETE et al., 1996b).
Essas aferições foram tomadas com sonda milimetrada de uso odontológico.
O trabalho foi realizado nas bancadas dos museus mencionados, sobre base
milimetrada. Os exames físicos dos sincrânios foram feitos macroscopicamente
utilizando-se documentação fotográfica, e os resultados obtidos foram catalogados
individualmente em fichas odontológicas específicas para a espécie.
As fichas odontológicas, denominadas odontogramas, foram confeccionadas
com base no modelo do Laboratório de Odontologia Comparada (LOC), vinculado ao
Departamento de Cirurgia (VCI) da FMVZ-MZUSP, adaptadas especialmente para
serem utilizados em sincrânios da espécie estudada. O odontograma pode ser
considerado o meio mais eficiente de arquivar os achados clínicos odontológicos
observados durante o exame oral.
A facilidade de compreensão desta ficha clínica permite rápido acesso à
condição oral do paciente, acompanhamento da evolução de uma doença ou do
resultado de um tratamento (LOPES, 2008).
Os resultados encontrados foram encaminhados para elaboração de testes
estatísticos que demonstrem a significância dos resultados obtidos na avaliação dos
sincrânios de Procyon cancrivorus.
4.1. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Para avaliação dos resultados, foi realizada análise descritiva e comparativa
dos dados obtidos entre indivíduos de vida livre e de cativeiro. As informações foram
compiladas em planilha criadaem programa de computação especialmente
desenvolvido para este estudo (Figura 11), em linguagem Delphi, e os valores
armazenados e gerenciados em banco de dados Microsoft Office Access 2007®i,
que foi denominado Odontograma de Procyonídeos.
Figura 11: imagem de monitor de microcomputador de um odontograma preenchido, com
dados do indivíduo n = 1044 MN, onde constam os registros dos dentes acometidos com as
diversas alterações legendadas no alto da página.
Foram descritos dados contendo identificação do animal, número de
tombamento, acervo a que pertencia a amostra, Região e bioma, sexo, idade
estimada, além das alterações diagnosticadas; foram desenvolvidas planilhas para
cada alteração oral encontrada, distribuídas de acordo com cada aspecto que se
pretendeu estudar.
O número de espécimes e dentes incluídos na análise estatística variou,
dependendo da afecção avaliada, devido à ausência de informações, em alguns
casos, a respeito da procedência, sexo, além da ausência de dentes ou parte do
sincrânio.
5. RESULTADOS
Dentre os 104 sincrânios de P. cancrivorus avaliados, todos os sincrânios
com dentição permanente apresentaram fórmula dental I 3/3, C 1/1, P 4/4, M 2/2 =
40, caracterizados pela presença do elemento dentário ou pelo espaço alveolar
correspondente, nos casos de perda dentária.
Do total avaliado, 20 pertenciam ao Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG),
41 ao Museu Nacional UFRJ do Rio de Janeiro (MN), 37 ao Museu de Zoologia da
USP (MZUSP) e seis ao Centro Universitário Vila Velha, Espírito Santo (UVV).
Toda informação armazenada a respeito do animal, que estava contida no
material estudado foi recolhida, mas nem todos possuíam registro completo, ficando
alguns dados não determinados (Figura 12). Entretanto, os dados colhidos foram
contabilizados e analisados para avaliação de significância estatística.
Figura 12: Dados catalográficos contidos em caixa de armazenamento de sincrânio de P.
cancrivorus, pertencente ao MN. Estes dados incluem o número de tombamento,
procedência, ano da coleta, coletor, ambiente e causa da morte, entre outros.
Os dados foram classificados por sexo (Figura 13), biomas (Figura 14),
região brasileira onde foram coletados os indivíduos (Figura 15), sendo que um
pertencia à Argentina, cidade de Buenos Aires (n = 2562 MZUSP), que para fins
estatísticos foi incluído no grupo da região Sul, e causa da morte, que foi referida em
raros registros, sendo 11 por atropelamento, um por afogamento e 90 por causas
não determinadas.
Figura 13: Distribuição de variação sexual por cada acervo separadamente
0
10
20
30
40
50
60
MPEG
MZUSP
MN
UVV
Total
8
9
3
0
20
8
11
12
0
31
4
17
26
6
53
Machos
Fêmeas
Indeterminado
Figura 14 Distribuição de percentuais de sincrânios provenientes dos diversos ambientes, no
total de 104 sincrânios estudados
Figura 15: Distribuição de percentuais de sincrânios provenientes das diversas regiões
brasileiras
Os indivíduos 2716 MPEG, 19846 MZUSP, 19379 MZUSP, 2826 MZUSP, 2439
MZUSP, 1806 MZUSP, 2064 MZUSP, 2307 MZUSP, 6194 MZUSP, 25310 MN, 1497
11%
33%
56%
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado
7%
4%
31%
6%
8%
44%
N
NE
SE
S
CO
ND
MN, 4870 MN, 4896 MN, 4212 MPEG e 4870 MN foram excluídos das estatísticas,
por apresentarem dentição mista, num total de 15 sincrânios (Tabela 5).
Tabela 3: Distribuição de animais com dentição mista, relacionando número de tombo, ano
de coleta, bioma, sexo, região e causa da morte, por acervo
TOMBO
COLETA
AMBIENTE
SEXO
REGIÃO
CAUSA MORTIS
MPEG
4212
1935
N/D
N/D
N/D
N/D
2716
N/D
N/D
N/D
N/D
MN
23886
1954
Natureza
Fêmea
Sudeste
N/D
4896
1936
Natureza
Fêmea
Norte
N/D
4870
1936
Natureza
N/D
Norte
N/D
1497
1936
Natureza
N/D
Nordeste
N/D
25310
1984
Natureza
N/D
Sudeste
Atropelamento
MZUSP
6194
-
Natureza
Fêmea
Sudeste
N/D
19846
1979
Natureza
N/D
C.Oeste
N/D
2307
N/D
N/D
Sudeste
N/D
2064
2005
N/D
Fêmea
Sudeste
N/D
1806
1905
N/D
N/D
Sudeste
N/D
2439
1907
N/D
N/D
Sudeste
N/D
2826
1910
N/D
Macho
Sudeste
N/D
19379
1984
N/D
Fêmea
Sudeste
N/D
Por se tratar exclusivamente de animais procedentes de atropelamento por
veículos automotores, o número de indivíduos avaliados neste estudo, provenientes
do acervo do Setor de Anatomia do Centro Universitário Vila Velha, foi muito
diminuído, devido à gravidade das lesões geradas pelo impacto, que repetidas vezes
atingiu de forma devastadora os ossos, inclusive os da cabeça (Figura 16)
Figura 16: Material remanescente de espécime de P. cancrivorus atropelado, pertencente ao
Museu Nacional. Nota-se completa fragmentação das peças, que em sua maioria, não
estão completas.
As principais alterações orais observadas nos P. cancrivorus estão
resumidas na (Figura 17), onde anomalia dentária (AD), erosão de esmalte (EE),
doença periodontal (DP), fratura dentária (FD), fatura de esmalte (FE), pigmentação
de esmalte (PE), e outras alterações (O).
Figura 17: Prevalência de afecções orais relacionadas com bioma
0
20
40
60
80
100
120
AD
EE
DP
D
FD
FE
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado
ANOMALIAS DENTÁRIAS
As anomalias dentárias foram observadas em 61 espécimes,
correspondendo a 68,54% do total de 89 animais. Tais alterações foram
classificadas quanto a: anatomia dentária, posicionamento e número de dentes.
Giroversão e apinhamento dentário tiveram maiores percentuais neste estudo,
sendo descritos mais adiante. Outros achados de anomalias dentárias foram
notados, porém pouco freqüentes, como pode ser observado na figura 18, onde
apinhamento dentário (AD), giroversão (GV), ausência dentária (NE), persistência de
decíduo (PD), maloclusão (MO) e diastema (DI).
Figura 18: Anomalia dentária distribuída por ambiente
Com relação à anomalia dentária de número, foi observada ausência de
dentes, mas não a presença de dentes supranumerários. A ausência dentária foi
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
AD
GV
0D
PD
MO
DI
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado
observada em três espécimes (3% do total dos sincrânios avaliados), acometendo, o
elemento dentário 202 ou 203 do indivíduo n = 721MPEG (Figura 19), 105 e 205 em
n = 3094MN (Figura 20), e o 105 n = 7577MN (Figura 21). Não foi possível efetuar-
se exame radiográfico para caracterizar o tipo de ausência dos elementos dentários.
As ausências ante-morte incluíram agenesia congênita ou dentes inclusos, onde a
falta do elemento dentário esteve relacionada com a total ausência do espaço
mandibular correspondente, onde se inseriria normalmente aquele dente.
Figura 19: 721MPEG - Espaço alveolar, resultado da perda pós-morte de um incisivo, onde
deveria haver mais um. O exame visual não permite a diferenciação do elemento faltante.
Figura 20: 3094MN Ausência bilateral de 105 e 205, sem espaço vestigial correspondente,
que se espera que esteja presente em caso de perda dentária
Figura 21: 7577MN Ausência de espaço alveolar referente ao elemento dentário 105
Foram totalizados 64 indivíduos com perdas dentárias. As perdas ante-morte
ocorreram em 38 (42,7%) indivíduos, e as consideradas pós-morte em 52 (58,42%)
(Figura 22).
Figura 22: Distribuição de lesões de perda dentária ante-morte, pós-morte e dente não
erupcionado pelo total de 89 sincrânios contabilizados
Por meio das figuras 23 e 24 se evidenciam as diferenças, quanto à
morfologia óssea alveolar, observadas nas ausências dentárias ante e pós-morte, ao
exame visual.
PERDA ANTE-MORTE
PERDA PÓS-MORTE
NÃO ERUPCIONADO
Figura 23: Ausência dentária pós-morte,
Detalhe dos espaços alveolares corres-
pondentes apresentando ausência de
remodelação
Figura 24: Perda dentária ante-morte de 306 e 406. Notar a remodelação óssea alveolar
ocorrida na região onde faltam os dentes. Processo evidenciado no hemi-arco direito
No presente estudo, não foi realizada investigação radiográfica de anomalias
de raízes. Os achados aqui relatados foram ocasionais, em dentes que se soltaram
após a morte e foram preservados, não tendo, portanto, relevância estatística,
servindo apenas como relato da presença de tais alterações na espécie estudada.
Três espécimes, todos de procedência não determinada apresentaram dentes
maxilares com raízes fusionadas. Foram os indivíduos 5559 MZUSP (107 e 207),
21627 MZUSP (109) (Figura 25), e 32381 MN (106 e 206) (Figura 26). Não foi
observada esta afecção em dentes mandibulares.
Figura 25: 21627 MZUSP Elemento dentário 109. Nota-se deformação radicular, onde
ocorreu fusão de duas raízes
Figura 26: 32381 MN Dentes 106 e 206, apresentando fusão radicular. Ambos os dentes
pertenciam a um mesmo indivíduo
A presença de raiz acessória foi observada em dois sincrânios (Figuras 27,
28 e 29), 4205 MPEG (206) e 4213 MPEG (309 e 409).
Figura 27: 4213 MPEG Presença de raiz acessória em 409
Figura 28: 4205 MPEG Raiz acessória em face vestibular de segundo pré-molar maxilar
esquerdo
Figura 29: 4213 MPEG espaço alveolar suplementar, onde havia a inserção de raiz
acessória bilateral, nos primeiros molares mandibulares
Dentre as anomalias de posicionamento dos dentes, foram observados 46
indivíduos acometidos com giroversão dentária (GV), 51,68% do total de 89
estudados (Figuras 30 e 31), afetando especialmente os pré-molares (PM)
mandibulares, sendo que, dentre esses os segundos pré-molares (2PM),
bilateralmente, foram os mais atingidos (44=49,43%), seguidos pelos terceiros pré-
molares (3PM) (15=16,85%), sendo que a giroversão combinada, entre dois ou mais
dentes mais prevalente foi a que afetava ambos os dentes, bilateralmente
(13=.14,6%). Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa desta
alteração entre os indivíduos provenientes de cativeiro e os de vida livre (66,66% X
62,96%, respectivamente).
Figura 30: Giroversão dentária acometendo os elementos 405, 406, 407, 306 e 307. Não
pode ser observada alteração em 305, por estar ausente e ter raiz única.
Figura 31: Giroversão dos ED 105 e 205, afecção de rara ocorrência nos animais estudados
Vinte e sete sincrânios apresentaram apinhamento dentário,
equivalente a 30,34% do total avaliado, sendo 10 em animais de cativeiro (83,33%
dos animais de cativeiro), seis de vida livre (22,22% dos animais de natureza) e 11
de procedência desconhecida (22% dos animais de origem não determinada).
Houve diferença significativa entre os animais de vida livre e de cativeiro (Figura 32).
Figura 32: Distribuição de lesão de apinhamento dentário (AD) por ambiente
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado
AD
Os dentes incisivos inferiores e primeiro pré-molar superior foram os mais
acometidos (Figuras 33 e 34).
Figura 33: Apinhamento dentário em incisivos inferiores. Nota-se desgaste irregular das
faces oclusais.
Figura 34: Apinhamento dentário acometendo 205.
Foi observada persistência de dente decíduo nos indivíduos 4223 MZUSP
(706) (Figura 35), e 23885 MN, que apresentou fragmento entre 306 e 307 (Figura
36), além de aumento de espaço alveolar em 407, onde possivelmente havia a
presença tardia do 807 (Figura 37). Esse mesmo indivíduo apresentou fragmento de
507 (Figura 38).
Figura 35: 4223 MZUSP persistência do dente 706. Nota-se deslocamento lingual de 306
Figura 36: 23885 MN Presença de fragmento de coroa de dente decíduo (entre 306 e 307)
Figura 37: 23885 MN Espaço alveolar aumentado em 407, sugerindo perda recente de
dente 807, pela comparação com a alteração similar, encontrada no dente contralateral
Figura 38: 23885 MN - Esse mesmo indivíduo apresentou fragmento de 507
MALOCLUSÃO
A investigação de maloclusão (Figura 39) foi prejudicada, no presente
estudo, pelo pobre estado de conservação de grande parte dos sincrânios, ou por
fraturas cranianas e de mandíbula ante-morte, que impediram a perfeita coaptação
entre maxila e mandíbula, com congruência da articulação têmporo-mandibular.
Mas, nas amostras que estavam viáveis, foram encontrados 10 casos de maloclusão
(11,23% do total de espécimes estudados), sendo cinco em animais de cativeiro
(41,67% dos animais de cativeiro estudados) e cinco de procedência não
determinada (10% dos animais de origem não determinada), não sendo encontrada
em animais conhecidamente de natureza.
Figura 39: Ausência de alinhamento entre os quadrantes maxilar e mandibular, promovendo
desgaste excessivo (seta) e irregular das faces oclusais. Notam-se lesões de remodelação
alveolar distribuída por toda extensão de mandíbula e maxila e deiscência em 209 e 210
EROSÃO DE ESMALTE
Erosão de esmalte foi encontrada em 24,72% dos mãos-peladas
examinados e foi mais prevalente nos dentes incisivos (Figura 40) e caninos. Não
houve diferença estatística entre os animais oriundos de cativeiro e os de vida livre.
Figura 40: Erosão de esmalte afetando os dentes 101, 102, 103, 104, 201, 202, 204, 303,
301, 403 e 404.
Foi encontrada uma lesão sugestiva de cárie em dente 309, indivíduo n =
4209 MPEG, que não pode ser confirmada microscopicamente (Figura 41).
Figura 41: lesão sugestiva de cárie em dente 309, n = 4209 MPEG
DOENÇA PERIODONTAL
Nos sincrânios estudados, diversas alterações evidentes na morfologia do
osso alveolar puderam ser observadas, indicativas de doença periodontal (Figuras
42, 43 e 44).
Figura 42: 4213 MPEG - Reabsorção óssea maxilar, acometendo órbita, osso lacrimal,
forame esfenopalatino, fossa pterigopalatina e arco zigomático que se encontra aberto
Figura 43: 4213 MPEG Fratura alveolar possivelmente pós-morte. Nota-se importante
lesão de reabsorção alveolar adjacente e presença de cálculo dentário.
Figura 44: 4213 MPEG - Reabsorção óssea palatina
Foram encontrados 76 indivíduos com doença periodontal, 85,39% do total
de sincrânios estudados. Desses, 11 (12,36% do total) eram de cativeiro e 19
(21,35% do total) de natureza. Relativamente, essas alterações representaram
91,67% e 70,37% respectivamente, do total dos animais de cativeiro e de vida livre
estudados. A distribuição das lesões indicadoras de doença periodontal está listada
na tabela 11 e representada na Figura 45.
Figura 45: Representação gráfica da distribuição das doenças relacionadas com doença
periodontal, por ambiente e no total, onde cálculo (C), exposição de furca (EF), fenestração
(F), reabsorção alveolar (RA), deiscência (DC)
A presença de cálculo nos diversos graus acometeu 52 sincrânios,
equivalente a 58,43% do total, sendo que 10 em 12 animais de cativeiro
apresentaram esta afecção (83,33%), e 14 em 27 espécimes procedentes de
natureza (51,85%). Quanto à graduação das lesões, 10 amostras derivadas de
cativeiro apresentaram grau acima de 2 (83,33% do total de animais de cativeiro),
enquanto que 11 (40,74%) de vida livre e 24 (48%) de origem não determinada,
perfazendo um total 45 espécimes. Foi encontrada diferença estatisticamente
significativa na amostra estudada. A figura 46 apresenta a incidência da lesão nos
diversos elementos dentários.
0
10
20
30
40
50
60
C
EF
F
RA
DC
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado
Total
Figura 46: Distribuição média dos diversos índices de cálculo, classificados por dentes dos
animais avaliados
Os dentes mais afetados foram os quartos pré-molares (42,30%), os
primeiros molares inferiores (40,38%) e os terceiros pré-molares superiores
(34,61%), em todos os ambientes estudados (Figuras 47, 48 e 49).
Figura 47: Prevalência do acometimento de cálculo graus 2 e 3, por tipo dentário em animais
de cativeiro
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
110
109
108
107
106
105
104
103
102
101
201
202
203
204
205
206
207
208
209
210
310
309
308
307
306
305
304
303
302
301
401
402
403
404
405
406
407
408
409
410
GRAU 1
GRAU 2
GRAU 3
0
5
10
15
20
25
4pms
1mi
3pms
1ms
4pmi
2ms
3pmi
2mi
2pms
Cativeiro
Grau 2
Grau 3
Figura 48: Prevalência do acometimento de cálculo graus 2 e 3, por tipo dentário em animais
de vida livre
0
5
10
15
20
25
4pms
1mi
3pms
1ms
4pmi
2ms
3pmi
2mi
2pms
2pmi
Vida Livre
Grau 2
Grau 3
0
5
10
15
20
25
4pms
1mi
3pms
1ms
4pmi
2ms
3pmi
2mi
3pms
2pmi
Não Determinado
Grau 2
Grau 3
Figura 49: Prevalência do acometimento de cálculo graus 2 e 3, por tipo dentário em animais
de origem desconhecida
Diferença estatisticamente significativa foi encontrada entre espécimes de
diferentes biomas (Figura 50).
Figura 50: distribuição percentual da presença de cálculo, por bioma
Exposição de furca foi encontrada em 26 sincrânios (29,21%), sendo mais
prevalente nos segundos e terceiros pré-molares mandibulares.
Os defeitos ósseos de fenestração óssea alveolar (F) (Figura 51), e de
reabsorção óssea alveolar (RA) foram encontrados, respectivamente, em 17,98%
(n=16) e 50,56% (n=45) dos 89 sincrânios avaliados.
cativeiro
natureza
83,33%
40,74%
Figura 51: Fenestração óssea alveolar expondo raiz mesial de dente 108
Dentre os espécimes que apresentaram RA, 30 (33,70%) apresentaram
deiscência, pois as lesões ultrapassaram a 4 mm (Figura 52), cinco eram
provenientes de cativeiro (41,67% dentre todos os animais de cativeiro), seis de vida
livre (22,22% do total de vida livre) e 19 de origem não determinada (38%).
Figura 52: Medição de lesão de reabsorção alveolar em 109. Nota-se deiscência em 110
(seta)
A prevalência de deiscência se deu nos segundos molares superiores, em
sua maioria, mas também foi observada em outros dentes, como nos primeiros
molares maxilares, além de um caso nos dentes 101, 102 e 103, n = 6821 MPEG,
conforme mostra figura 53.
Figura 53: Deiscência envolvendo os dentes incisivos superiores direitos.
Nos casos de fenestração óssea, três eram animais de cativeiro (27,27%),
três de vida livre (11,11%) e 10 de origem desconhecida (20%). Observou-se
diferença estatística significativa entre animais de cativeiro e de vida livre quanto a
estes defeitos ósseos. Fenestração bilateral foi um achado eventual (26,7%), na
face vestibular da região molar de sincrânios apresentando dentição mista, que não
entraram nas estatísticas acima, sendo que dentre esses não houve determinação
da procedência (Figura 54). Não houve casos de deiscência e fenestração
observados em mandíbula, se limitando à maxila.
Figura 54: Presença de fenestração óssea na face vestibular em raiz mesial de 608, em
espécime com dentição mista
DESGASTE DENTÁRIO
O desgaste dentário esteve presente em 85 exemplares, totalizando 95,51%
dos sincrânios estudados, nos diversos graus (Figura 55).
Todos os animais de cativeiro e de vida livre estudados apresentaram algum
grau de desgaste, 13,48% e 30,33% do total de indivíduos estudados,
respectivamente.
Figura 55: Desgaste nível III acometendo 307, 308, 407 e 408. Desgaste nível II em 306 e
406 bilateral. Fratura complicada de coroa em 404, com exposição de câmara pulpar e
formação de dentina terciária.
Não foi observada diferença significante entre os indivíduos
procedentes de cativeiro ou de natureza (100% acometidos, os dois grupos). No
entanto, ao se comparar a incidência dos níveis mais graves, encontrou-se 75% de
animais de cativeiro e 55,55% de vida livre, acometidos com pelo menos um dente
com desgaste dental nível III ou IV (Figura 56). Foi observada correlação entre o
nível de desgaste e problemas de maloclusão, em animais pertencentes ao acervo
do MPEG, coletados entre o período de 1908 e 1944, todos pertencentes a Jardim
Zoológico.
Figura 56: Relação entre níveis de desgaste dentário e ambiente D0: sem desgaste, D1:
desgaste somente de esmalte, D2: formação de dentina terciária, D3: exposição da câmara
coronária e D4: desgaste total da coroa até o vel radicular, com separação completa das
raízes nos dentes multirradiculados.
Os dentes mais afetados foram os incisivos e os molares. Estão listados por
níveis de desgaste graus 3 e 4 nas figuras 57, 58 e 59, distribuídos por total,
cativeiro e vida livre.
Figura 57: Prevalência do acometimento de desgaste dentário níveis 3 e 4, por tipo dentário
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D1
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D3
D4
Cativeiro
Vida Livre
Indeterminado
Total
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80
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3pm
2pm
1pm
c
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2i
1i
Total de Sincrânios
Nível 3
Nível 4
Figura 58: Prevalência do acometimento de desgaste dentário níveis 3 e 4, por tipo dentário,
em animais de cativeiro
Figura 59: Prevalência do acometimento de desgaste dentário níveis 3 e 4, por tipo dentário,
em animais de vida livre
0
20
40
60
80
100
120
140
160
2m
1m
4pm
3pm
2pm
1pm
c
3i
2i
1i
Cativeiro
Nível 3
Nível 4
0
50
100
150
200
250
300
2m
1m
4pm
3pm
2pm
1pm
c
3i
2i
1i
Vida Livre
Nível 3
Nível 4
Os dentes mais acometidos com desgaste nível 4, foram os 1M e os 4PM,
conforme demonstrado na figura 60.
Figura 60: Prevalência do acometimento de desgaste dentário nível 4, por tipo dentário no
total dos animais avaliados
O desgaste dentário foi assiduamente acompanhado de formação de dentina
terciária, conforme aumentava sua graduação, ocorrendo em 89,88% dos animais
com desgaste, inclusive em dentes decíduos 19379 MZUSP (Figura 61).
0
10
20
30
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50
60
70
2m
1m
4pm
3pm
2pm
1pm
cs
3is
2is
1i
Figura 61: 19379 MZUSP - Desgaste nível II em dentes 507 e 508. Dentina terciária é
responsável pela região escurecida
Em 11 casos foi encontrada exposição de câmara pulpar, onde havia
desgaste nível quatro, sendo que três sincrânios eram provenientes de cativeiro,
cinco de vida livre e três de procedência não determinada (Figura 62). A face
oclusal dos dentes carniceiros de grande parte dos animais avaliados, apresentando
níveis de desgastes acentuados, causaram maloclusão, conforme observado em
figura 63. A figura 64 ilustra a intensidade do desgaste dentário encontrado no
presente estudo.
Figura 62: Desgaste nível 4 em 208, com exposição de câmara pulpar. Notam-se
superfícies lisas e polidas, com desgaste regular da coroa dentária, além de desgaste
oclusal acentuado de molares, com formação de dentina terciária e escurecimento dental.
.
Figura 63: aspecto lateral da oclusão de um P. cancrivorus com desgaste nível III, em faces
oclusais de molares.
Figura 64: detalhe da profundidade de desgaste de coroa, sem nenhum sinal de sofrimento
do elemento dentário.
FRATURA DENTÁRIA
As fraturas dentárias foram observadas em 38 espécimes de 89 estudados,
correspondendo a 42,69% do total de animais avaliados. A distribuição das fraturas
dentárias segundo o bioma dos animais pode ser observada na Figura 65.
Figura 65: Gráfico ilustrando incidência de fratura dentária (FD) e fratura de esmalte (FE) por
ambiente
Foram observadas fraturas complicadas e não-complicadas, ou seja, com e
sem exposição de polpa nos animais, como pode ser observado nas figuras 66 e 67.
Figura 66: Fratura complicada (com exposição de câmara pulpar), envolvendo coroa e raiz
na face vestibular de 408.
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5
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20
25
30
35
40
45
cativeiro
natureza
nd
total
FD
FE
Figura 67: Fratura dentária não complicada em face vestibular, envolvendo a coroa em 106
e 408 (setas). Fratura de esmalte em 104 (evidenciado por elipse), 406 e 407
Em 15 casos foi encontrada exposição de câmara pulpar, onde três
sincrânios eram provenientes de cativeiro, sete de vida livre e cinco de procedência
não determinada. Foram observadas três fraturas dentárias em espécimes jovens,
com dentição mista. A figura 68 mostra fratura complicada, com exposição de polpa
em dente decíduo.
Figura 68: Fratura envolvendo coroa e expondo câmara pulpar em 808, face vestibular.
Foi observada diferença estatisticamente significativa quanto à prevalência
de fratura dentária entre os animais de vida livre (62,96%) e os de cativeiro (33,33%)
2=1,064, p=0,3023) e quanto ao número de fraturas encontradas entre os dois
grupos (U=369,0, p=0,6376).
Os dentes mais acometidos foram os pré-molares, grupo dentário que em
conjunto atingiu 45,7% dos dentes acometidos com fraturas, sendo que destes, os
primeiros pré-molares foram os mais afetados (18,52%). Após isso, se seguiram os
caninos (28,4%), que foram os mais prevalentes, quando considerados
individualmente. Os incisivos apresentaram índice de 19,75%, seguidos pelos
molares (6,1%) (Figura 69).
Figura 69: distribuição de fraturas dentárias por tipos dentários
Dentina terciária também foi formada para proteção dos dentes afetados (Figura 70).
Figura 70: Sincrânio típico de P. cancrivorus, apresentando diversas lesões características
de traumas dentários, que tiveram significativa prevalência no presente estudo. Notam-se
fraturas bilaterais em canino maxilar e nos mandibulares, com formação de dentina terciária
e aplainamento das superfícies fraturadas, evidenciando seu uso continuado, mesmo após a
implantação de tal gravidade de afecção, que chegou a expor a câmara pulpar, nos
elementos afetados. Nota-se desgaste grau 4 nos incisivos inferiores remanescentes, que
também apresentam formação de dentina terciária e exposição de polpa.
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1pmi
cs
ci
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3ii
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3
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3
1
N° de fraturas
Fraturas de esmalte também foram observadas em 41 espécimes, sendo
mais prevalente em caninos, seguido por pré-molares, incisivo e molar (Figura 71).
Os animais de cativeiro apresentaram alta incidência dessa afecção (81,5%),
enquanto que os de vida livre se restringiram a 48%.
Figura 71: Gráfico representando a prevalência de fratura de esmalte por elemento dentário,
sendo mais alta em caninos, seguido por pré-molares, incisivo e molar
OUTRAS LESÕES
Escurecimento dental
Foram documentados 23 casos de escurecimento dental (Figuras 72 e 73),
todos relacionados com trauma dentário e envolvimento de polpa, muitas vezes
exposta. Dentre os indivíduos observados, um era procedente de cativeiro, 1,12%
do total dos animais cativos, e quatro de natureza, 4,49% dos animais de vida livre.
20,22% (18) eram de animais de origem não determinada.
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1ms
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ci
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3is
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20
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3
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3
Número de fraturas de esmalte
Figura 71: Escurecimento dental interno, acometendo segundo molar mandibular
Figura 73: Escurecimento dental interno, relacionado com fratura de coroa promovendo
exposição de câmara pulpar. No detalhe, reabsorção óssea alveolar e aumento de espaço
alveolar, sugerindo doença periodontal reativa. Nota-se desgaste acentuado nos dentes
vizinhos, além de fratura em quarto pré-molar maxilar, também com exposição pulpar
Pigmentação de esmalte
Dos indivíduos avaliados, 63 (70,78%) apresentaram algum nível de
pigmentação dental externa, isto é, circunscrita ao esmalte. Desses, apenas um
indivíduo de cativeiro apresentou esta alteração (1,12% do total avaliado e 8,33% do
total de animais de cativeiro), enquanto que 23 sincrânios procedentes de natureza
(25,84% do número total de sincrânios e 85,19% entre os de vida livre) foram
contabilizados. 39 sincrânios com pigmentação de esmalte (43,82% do total e 78%
dos não determinados) foram encontrados entre os indivíduos sem origem
catalogada. O aspecto do esmalte pigmentado e não pigmentado está demonstrado
nas figuras 74 e 75, respectivamente.
Figura 74: 7625 MN Sincrânio de fêmea oriunda de natureza, depositada no Museu
Nacional da UFRJ. Nota-se importante pigmentação em coroas dos dentes ilustrados na
figura
Figura 75: 4203 MPEG ausência de pigmentação em esmalte dos dentes de um macho
mantido em Jardim Zoológico pertencente ao acervo do Museu Paraense Emílio Goeldi
No único caso de animal jovem, em troca de dentição oriundo de natureza,
já se observa intensa pigmentação de esmalte em caninos mandibulares (Figura 73).
Figura 73: Escurecimento dental externo, acometendo caninos e pré-molares primários
6. DISCUSSÃO
A utilização de sincrânios para avaliação das afecções orais, no presente
trabalho, foi extremamente valiosa, pois este é um material resistente e duradouro,
passível de ser conservado por período indeterminado, ficando acessível à pesquisa
científica, nas suas mais diversas formas. De fato, conforme ressalta Rossi Jr.
(2007), possibilidade de no futuro a pesquisa ser ampliada, da mesma maneira
que ocorreu com Colyer (1936), que posteriormente foi complementado por Tucker
(1954).
Outro aspecto referente ao estudo de sincrânios coletados e depositados
nos acervos de instituições de ensino e pesquisa é o fato de se permitir contato com
o material preservado, pertencente àquele táxon, que muitas vezes é de difícil
acesso no seu ambiente natural. Fato especialmente relevante, quando se trata do
Procyon cancrivorus, alvo do presente estudo, que, conforme salientam Arispe et al.
(2008), em avaliação da densidade populacional, área de ação e atividade do mão-
pelada, a observação desta espécie é difícil, exatamente por seu hábito noturno e
crepuscular, além de aparente distribuição de baixa abundância e variedade.
Os ossos e dentes também são excelentes fontes de avaliação das
condições adversas, que os animais enfrentaram em ambiente natural, que
provavelmente não tenham sido determinantes das suas mortes, e que o seriam
possíveis de se observar enquanto vivos (ROSSI JR, 2007).
As observações realizadas no presente estudo concordaram com diversos
autores, que relataram marcante diferença na anatomia dentária do P. cancrivorus,
em comparação com outros membros da ordem carnívora, revelando suas diferentes
habilidades mastigatórias, que inclui número e forma dos elementos dentários
(ZEVELOFF, 2002; TEIXEIRA & AMBROSIO, 2006; ROSSI JR., 2007; PHILLIPS,
2008).
Especial contraste se observou nos dentes carniceiros, que além de
apresentarem forma e função bastante distintas das de outros carnívoros,
apresentaram relevantes diferenças nos tipos, formas e graduação das afecções ou
transformações ocorridas durante a vida, pelo uso do aparato mastigatório, quando
comparados com outras espécies estudadas, como os cães domésticos (GIOSO &
CARVALHO, 2005), cães e gatos (KOWALESKI, 2005); felídeos selvagens (ROSSI
JR, 2007), e lobos-guará (LOPES, 2008). Os achados do presente trabalho
também corroboram com Koenemann et al. (2009) que observaram maior
abundância de sinais nos quartos pré-molares, que nos molares, que os autores
não descreveram desgaste em dentes incisivos, que foram os mais acometidos no
presente estudo.
Foi observada alta incidência de variadas afecções dentárias, em condições
semelhantes de ocorrência, como o traumatismo, que incluiu desgaste (95,5%),
fraturas de esmalte (46%) e dentárias (42,7%), anomalias dentárias (61%) e doença
periodontal (85,4%), sendo que um mesmo animal costumava apresentar
intensidade e prevalência parecidas de mais de uma lesão, concomitantemente.
Tais achados concordam com estudos de Hungeford et al. (1999), em raccoons,
onde indivíduos que apresentavam escore elevado para uma afecção oral, tendiam
a ter valores elevados para todos os outros índices.
Referente aos traumas, este estudo concorda com Johnson (2007), que
descreveu a doença dentária e fratura de caninos como as desordens orais mais
comuns em Procyon lotor, embora não tenha feito relato em Procyon cancrivorus.
Os mesmos achados são também relatados em canídeos selvagens, onde as lesões
traumáticas prevaleceram (WIGGS & LOBPRISE, 1997), em lobos-guarás,
(FURTADO et al. 2006; LOPES, 2008) e em felídeos selvagens de cativeiro
(Panthera onca e Puma concolor), que apresentaram alta prevalência de fratura e
desgaste dentário (ROSSI JR, 2007).
Embora a literatura moderna atribua ao ambiente de cativeiro maior
ocorrência de fraturas dentárias, geralmente relacionadas com problemas
comportamentais e de agressividade (WIGGS & LOBPRISE, 1997; WENKER et al.,
1999; PACHALY & GIOSO, 2001; WIGGS & BLOOM, 2003), o presente estudo
concorda com Verstraete et al. (1996a), Hungeford et al. (1999), Furtado et al.
(2006) e Lopes (2008), demonstrando que esta afecção dentária também ocorre
com freqüência em vida livre, e relacionam a provável causa com características e
hábitos alimentares característicos dessas espécies, em natureza.
No presente trabalho, em que a ocorrência de fraturas complicadas e níveis
de desgaste acentuado foram mais prevalentes do que os encontrados por Lopes
(2008), em Chrysocyon brachyurus, e por Rossi Jr (2007) em Panthera onca e Puma
concolor. Supõe-se que esse fato se dá, provavelmente, pela dieta alimentar do P.
cancrivorus, que é particularmente composta de conchas de mariscos e cascos de
crustáceos (ZEVELOFF, 2002; TEIXEIRA & AMBROSIO, 2006; PHILLIPS, 2008).
Além disso, os freqüentes achados de instalação de dentina terciária
reparadora nos dentes afetados com desgaste ou fraturas complicadas, bem como o
arrasamento das superfícies fraturadas, apontam para a adaptação desta espécie ao
tipo de alimentação de que faz uso, pois implica no uso continuado e prolongado dos
dentes afetados, em detrimento de possíveis dificuldades mastigatórias, decorrentes
de dor ou prejuízo da função do elemento dentário afetado.
Também é possível que a alta habilidade de se adaptar à disponibilidade de
novos alimentos, um comportamento que depois pode ser copiado por outros
guaxinins, inclusive os mais jovens (ZEVELOFF, 2002), possa ser um fator
compensatório da deficiência oral. Boyler et al. (2010) sugerem que fato parecido
tenha ocorrido com um exemplar de Rattus rattus, que mesmo não apresentando os
molares, atingiu a idade adulta, que usava normalmente os incisivos durante o
processo mastigatório e apresentou conteúdo alimentar diverso de outras
populações de sua espécie, incluindo alimentos de origem animal, e não
exclusivamente de material vegetal.
No entanto, Rossi Jr. (2007), em trabalho realizado com animais da espécie
Puma concolor e Panthera onca de cativeiro e vida livre, concluiu que mudanças
comportamentais podem ser decorrentes de alterações no sistema estomatognático
que levam à dificuldade ou incapacidade de predação. De forma análoga, pode-se
argumentar que os procionídeos sofram interferência equivalente, pois mastigam
sua comida elaborada e cuidadosamente (ZEVELOFF, 2002), sendo este hábito
importante etapa no processo digestivo. O que é ratificado por Lopes (2008), que
afirmou que, mesmo sendo o desgaste dentário considerado um processo
fisiológico, utilizado inclusive para estimativa de idade em muitas espécies, pode
levar à perda acentuada da superfície dentária, comprometendo a função.
De fato, segundo Phillips & Nolson (2005), raccoons podem viver até 20
anos em cativeiro, enquanto que em vida livre, os registros de idade estimada não
passam de cinco anos. Este dado se torna importante, quando avaliamos a
diferença entre o número e a gravidade de fraturas dentárias em animais
provenientes de cativeiro (33,33%) e de vida livre (62,97%). Mas, tal fato
provavelmente não se relaciona com o nível de desgaste, que foi encontrado em alta
prevalência nos seus mais diversos graus, de forma similar tanto em animais de
cativeiro, como de vida livre, reforçando a idéia de que o desgaste, mesmo
proeminente, faz parte da biologia dos P. cancrivorus. Somando-se a isso
Hungerford et al. (1999) observam que, em raccoons, as conseqüências decorrentes
de afecções orais são menos severas, por serem estes, animais que conseguem
segurar ou apreender o alimento com os dentes e membros torácicos, além de
utilizar ampla variedade de fontes alimentares, que são considerados
oportunistas, o que pode ser estendido a seu primo sul-americano, o mão-pelada.
Dessa forma, a literatura descreve resultados semelhantes encontrados em
Procyon lotor, que por ser da mesma família do Procyon cancrivorus, guarda
bastantes semelhanças, e constata que, em detrimento de maior ocorrência das
afecções avaliadas, os animais que mantiveram contato mais próximo com o
homem, apresentaram maiores índices de saúde e peso corporal, além de maior
longevidade (HUNGEFORD, 1999; PHILLIPS & NOLSON, 2005). No entanto,
ganho de peso e uma longa vida de confinamento não podem ser
confundidos com bem estar. Por outro lado, os altos índices de
atropelamento nas estradas, que cada vez mais amiúde cortam as matas e habitats
dos animais, em todo o mundo, ilustram bem os malefícios do contato próximo com
o homem.
Durante a avaliação dos sincrânios, encontraram-se 12,36% dos animais
com exposição de câmara pulpar, sem indícios de fratura dentária, o que é
condizente com os achados de Wenker et al. (1999), em pesquisa realizada com
ursos pardos de cativeiro e vida livre.
No que se refere à fratura de esmalte, no entanto, a prevalência desta
ocorrência não acompanhou a de fratura dentária, que foi mais prevalente em
animais provenientes de natureza, que animais de cativeiro apresentaram maior
incidência de fratura de esmalte (81,5%), enquanto que os de vida livre se
restringiram a 48%. Esse fato pode ser devido à maior ocorrência de lesões de
oclusão e apinhamento dentário, observados no presente estudo, que foram
significativamente mais freqüentes em animais mantidos em cativeiro.
Com relação aos dentes mais afetados pelo desgaste dentário, achados
deste estudo concordaram com Wenker et al. (1999) em ursos-pardos e Lopes
(2008), com lobos-guará, que relataram os incisivos como os mais acometidos. No
entanto, no caso dos mãos-peladas, o desgaste dos pré-molares e molares,
especialmente os quartos pré-molares e primeiro molares, não apresentaram
diferença significativa da ocorrida em incisivos. Além do mais, os dentes mais
acometidos com desgaste nível 4, foram exatamente os carniceiros, o que confirma
a característica da espécie de mastigar bem os alimentos, que em grande parte das
vezes é duríssimo.
Assim como Rossi Jr (2002), em estudo com felídeos selvagens, que
correlacionou desgaste prematuro de esmalte ou dentina, com maloclusão, dentre
outras causas, foi observada correlação entre o nível de desgaste e problemas de
maloclusão, em animais pertencentes ao acervo do MPEG, coletados entre o
período de 1908 e 1944, todos pertencentes a Jardim Zoológico. Os dentes mais
afetados por desgaste foram os incisivos e os molares.
Mesmo sendo relatada a maloclusão, em diversos carnívoros selvagens,
como uma afecção mais propensa de ocorrer em animais de cativeiro do que em
animais de vida livre (WIGGS & LOBPRISE, 1997; WIGGS & BLOOM, 2003), os
achados deste estudo ressaltam que há possibilidade de ter havido influência da
localização e procedência da maioria dos animais de cativeiro avaliados, que
possivelmente pertenciam ao mesmo Jardim Zoológico, o que não foi registrado, no
momento do tombamento do material avaliado. Circunstâncias ambientais
nutricionais, textura da dieta, estresse, trauma e doença periodontal (WIGGS &
LOBPRISE, 1997; WIGGS & BLOOM, 2003) podem ter sido decisivas na
implantação e manutenção dessas lesões, mas outra hipótese a ser verificada é a
possibilidade de transmissão genética dessas características, no caso de se tratar
de um mesmo ramo familiar.
Nisso concordam Fitch & Fagan (1982), que em estudo realizado com
guepardos, levantaram a hipótese de que quase todos os casos de erosão palatina
focal (FPE) descritos na espécie podem ter sido herdados, sugerindo fatores
genéticos, uma vez que foram encontrados em animais importados de uma mesma
área do sudoeste da África, em 1970, ou dos seus descendentes.
Com relação a traumas, Rossi Jr. (2002, 2007) e Lopes (2008), inferem que
a localização anatômica e o tamanho dos dentes podem predispor a diferentes
forças durante sua utilização, levando a fraturas. O dente canino foi citado como o
mais afetado, pelos dois autores, o que se equiparou a este estudo, onde os caninos
foram os dentes mais prevalentes (28,4%), quando considerados individualmente.
No entanto, os pré-molares, grupo dentário que em conjunto atingiu 45,7% dos
dentes acometidos com fraturas, foram de longe os mais afetados, sendo que
destes, os primeiros pré-molares foram os que mais sofreram (18,52%).
Ainda foram documentadas perdas dentárias ante-morte, num percentual de
42,7% dos sincrânios avaliados, número bastante expressivo e que corrobora com a
singularidade da biologia do animal estudado.
Foram observados, também, 23 casos de escurecimento dental (25,84%),
todos relacionados com trauma dentário e envolvimento de polpa, muitas vezes
exposta. Rossi Jr. (2002) relatou baixa incidência dessa afecção em felídeos
estudados, apesar da alta freqüência de traumatismo e relaciona o escurecimento
interno dos dentes com o rompimento de vasos pulpares e penetração de substância
nos túbulos dentinários.
Nas coleções de todos os acervos estudadas no presente trabalho, as
anomalias dentárias foram altamente prevalentes, correspondendo a 68,54% do total
de animais. Tais alterações foram discrepantes das encontradas por Rossi Jr. em
pumas e onças-pintadas, e Lopes, que observou que apenas 26,5% do total de
lobos-guarás apresentavam anomalias dentárias.
Dentro das lesões incluídas no grupo de anomalias dentárias, os achados
desse estudo também não foram condizentes com Lopes (2008), que relatou a
presença de raiz acessória e o apinhamento dentário como as afecções mais
prevalentes em lobos-guarás, enquanto que, em mãos-peladas, os casos de
giroversão, com 51,68%, obtiveram os maiores percentuais observados. Não
houve diferença quanto à incidência de giroversão dentária encontrada por bioma. A
maior incidência no P. cancrivorus pode ter sua causa relacionada com sua
conformação craniana, que é mesocefálica, enquanto que os Chrysocyon
brachyurus são dolicocefálicos (LOPES, 2008). Porém, mais estudos são
necessários para configurar esta hipótese.
Apinhamento dentário também foi um achado freqüente, com 30% dos
sincrânios acometidos, sendo que foi mais prevalente em animais procedentes de
cativeiro, 83,33%, contra 22,22% dos oriundos de vida livre. Como essa alteração
foi também associada a outras afecções de conformação, como maloclusão, e
desgaste irregular, e pela procedência da maioria das amostras de cativeiro ser de
um único acervo, conforme discutido alguns parágrafos acima, faz-se necessária
uma investigação mais criteriosa das prováveis causas dessa alteração,
especificamente.
Foram encontrados 76 indivíduos com doença periodontal, 85,39% do total
de sincrânios estudados, sendo que a maior incidência foi em animais procedentes
de cativeiro. Estes achados foram compatíveis com Hungeford (1999), em P. lotor,
que encontrou maior prevalência e maior gravidade dessas lesões em animais de
um parque, com grande proximidade humana, em contrapartida com o grupo de
natureza. Esses dados também são compatíveis com diversos relatos na literatura
(WIGGS &LOBPRISE, 1997; WENKER et al., 1999; MILES & GRIGSON, 2003;
WIGGS & BLOOM, 2003; ROSSI JR., 2007; LOPES, 2008). Da mesma forma que
estes autores, o presente estudo confere às alterações da dieta e hábitos
alimentares, grande parte da responsabilidade por esse conjunto de lesões.
Assim como a presença de cálculo, que também foi um achado freqüente
(58,43%), e que divergiu bastante, conforme o ambiente de procedência. 83,33% do
total de animais de cativeiro estudados apresentaram esta afecção, enquanto que
apenas metade do grupo dos espécimes procedentes de natureza.
A presença dessa lesão em mãos-peladas difere notoriamente da
encontrada por Rossi Jr. (2007) em P. onca, onde não foi observada essa lesão.
Quanto ao grau, as amostras derivadas de cativeiro apresentaram o dobro de
ocorrência de coeficientes mais elevados, quando comparados com os de vida livre.
Neste caso, concorda-se relato em literatura de que a etiologia da maioria das
doenças orais está relacionada com características físicas de sua dieta e às
mudanças químicas a que estas dietas induzem (FITCH & FAGAN, 1982).
Erosão de esmalte foi encontrada em 24,72% dos mãos-peladas
examinados e foi mais prevalente nos dentes incisivos e caninos, o que diferiu de
Rossi Jr. (2002), que relatou baixa incidência dessa lesão, afetando principalmente
caninos e pré-molares. Foi encontrada uma lesão sugestiva de cárie, que não pode
ser confirmada microscopicamente, mesmo obstáculo encontrado por Rossi Jr.
(2002), que conferiu a tal lesão a denominação de destruição amelo-dentinária.
Lopes (2008) descreveu que 11,4% dos animais avaliados apresentaram dentes
acometidos por lesões sugestivas de rie, sem variação significativa de ambiente,
com o que também concordou o presente trabalho. Este autor também não realizou
análise microbiológica nem histopatológica das lesões para confirmação do
diagnóstico de cárie.
Hungeford et al., (1999), no entanto, referiram que em raccoons acometidos
com ries, a maior prevalência se deu na região de um parque, onde o contato com
seres humanos e seus alimentos foi intenso. Motivo pelo qual os autores acreditam
que não só traumas físicos, pelo fato usarem os dentes para abrir vasilhames e latas
de lixo foram responsáveis por diversas afecções orais, dentre elas gengivite e
doença periodontal, mas também deficiências nutricionais específicas, além da
consistência e composição rica em carboidratos da dieta, somando-se à presença
de elevado nível de decomposição bacteriana. Talvez, tal achado não tenha sido
tão freqüente nos sincrânios provenientes de cativeiro observados no presente
estudo, pelo fato dos animais serem oriundos de zoológicos, que oferecem melhor
qualidade dietética do que os restos alimentares humanos roubados de latas de lixo
no parque em questão.
Reabsorção óssea alveolar foi encontrada em metade dos sincrânios
avaliados, resultado similar ao encontrado por Lopes (2008) em lobos-guarás. No
entanto, em estudo realizado com canídeos selvagens, Miles e Grigson (2003)
afirmaram que a reabsorção óssea alveolar é incomum nestes animais, sendo
observada, ainda, prevalência mais elevada em algumas espécies do que em
outras. A mesma constatação foi feita com relação à baixa incidência em sincrânios
de P. onca e P. concolor, segundo documentado por Rossi Jr., (2007).
Maior prevalência de deiscência se deu nos segundos molares superiores,
mas, também foi observada em outros dentes, como nos seus vizinhos, os primeiros
molares maxilares. O dobro da ocorrência foi em animais de cativeiro. Lopes
(2008), no entanto, não encontrou diferença no número de animais acometidos nos
dois ambientes. Esses achados, uma vez mais, revelam importante diferença na
biologia do P. cancrivorus, quando comparado com outros carnívoros,
especialmente no que tange aos hábitos alimentares, fazendo-nos reavaliar alguns
dos critérios de classificação de carnívoros.
De fato, a alta incidência dessa afecção nos espécimes de lobos-guará
avaliados por Lopes (2008) sugere ao autor a possibilidade deste defeito ósseo ser
fisiológico na espécie, que animais sub-adultos, em fase de troca de dentição,
apresentaram deiscência bilateral. Fato semelhante se deu com os P. cancrivorus
avaliados, que apresentaram 50% dos indivíduos em troca dentária com os mais
diversos níveis de deiscência alveolar.
A incidência de fenestração óssea foi similar à encontrada por Lopes (2008),
em lobo-guará e mais observada em animais de cativeiro que de vida livre.
Fenestração bilateral foi um achado eventual (26,7%), na face vestibular da região
molar de sincrânios apresentando dentição mista, que não entraram nas estatísticas,
sendo que em todos os casos, a procedência não constava das fichas de
tombamento. Tal fato sugere que essa alteração seja parte de um processo
fisiológico, não influindo no estado de saúde oral do mão-pelada. Outra suposição é
levantada por Miles & Grigson (2003), que afirmaram que, apesar da etiologia ainda
ser desconhecida, não dúvida que estas lesões ocorram em outras espécies,
podendo ser decorrentes não apenas de afecções locais, mas possivelmente
relacionadas à atrofia esquelética ou à osteoporose. Hipótese ratificada por Lopes
(2008), mas, que demanda maiores estudos.
As estatísticas de perdas dentárias não foram incluídas no grupo de
anomalias dentárias, pois sua causa foi traumática ou posterior à morte do animal.
No transcorrer do presente estudo não houve possibilidade de se realizar
avaliação radiográfica dos sincrânios, pois não foi permitida a retirada das peças dos
acervos estudados, dificultando o diagnóstico preciso de certas afecções, como
ausência dentária por agenesia ou não-erupção, incidência de anomalias de raízes,
além da avaliação da idade do animal, no momento da morte, pela espessura da
câmara pulpar e canal radicular.
Pigmentação de esmalte
Por se tratar de um achado que apresentou relevante divergência na
prevalência ocorrida entre os animais de cativeiro e os oriundos de natureza,
durante a elaboração deste estudo, um parágrafo à parte foi separado, para discutir
essa alteração.
Na verdade, não se trata de uma manifestação sugestiva de causar algum
dano ao animal, e também, ainda não foi estabelecido que possa trazer algum
benefício, mas, certamente, tem sua importância fundamentada no potencial de ser
usada como um meio de se estabelecer o ambiente de procedência de um animal,
ou peça anatômica, que inclua um elemento dentário.
Repetidas vezes, em atendimento ambulatorial, o médico veterinário se
depara com um animal selvagem, socorrido por populares ou órgãos de defesa
animal, sem nenhuma constatação a respeito de sua história ou procedência.
Situação que interfere de maneira negativa na escolha do manejo alimentar e
ambiental, aumentando o estresse e podendo ser fator agravante do estado de
saúde. Até mesmo a destinação daquele indivíduo é um desafio, gerando grandes
dificuldades aos centros de triagem de animais silvestres. Fato semelhante ocorre
com exemplares coletados e preservados em acervos de mastozoologia, onde estas
informações não foram fornecidas, na época do tombamento, e que se tornam vitais,
conforme o objetivo de determinada pesquisa.
Dos indivíduos avaliados, 63 (70,78%) apresentaram algum nível de
pigmentação dentária externa, isto é, circunscrita ao esmalte. Desses, apenas um
indivíduo de cativeiro apresentou esta alteração (1,12% do total avaliado e 8,33% do
total de animais de cativeiro), enquanto que 23, dentre 27 sincrânios procedentes de
natureza (25,84% do número total de sincrânios e 85,19% entre os de vida livre)
foram contabilizados. 39 sincrânios com pigmentação de esmalte (43,82% do total
e 78% dos não determinados) foram encontrados, entre os indivíduos sem
informação de origem catalogada. Tal ocorrência se destaca como uma alteração
bastante proeminente em animais de vida livre, em detrimento dos animais mantidos
em cativeiro.
Uma hipótese relevante é que a constituição da dieta de ambos os grupos
possa ser responsável por esta alteração, já que na natureza é constituída dos mais
diversos materiais, como folhas, cascas de árvores, materiais fibrosos, o que difere
substancialmente dos alimentos consumidos por animais confinados, ou em contato
íntimo com o ser humano e seus rejeitos.
Estudos da composição desta pigmentação em toupeiras (Blarina
brevicauda) sugerem que, quando presente, ela torne o esmalte mais resistente ao
desgaste, especificamente, nas cúspides associadas à mastigação e moagem, em
oposição ao corte. Estes resultados sugerem que tal fato se especialmente nos
dentes, e partes dos dentes, que estão sujeitas a maiores tensões e são mais
propensos à fratura e desgaste excessivo (STRAIT & SMITH, 2006).
Tal constatação é compatível com os achados de traumas dentários do
presente estudo, que foram mais numerosos e mais graves em animais que se
alimentavam no seu bioma natural.
Em ratos albinos, pigmento amarelo no dente incisivo ocorre em uma área
incisal e está confinado à zona exterior do esmalte. Esta zona é relativamente mais
resistente aos ácidos, em comparação com a porção subjacente não pigmentada do
esmalte. O possível papel desta cutícula, na calcificação (maturação) e sideração
(pigmentação), é discutido (STEIN & BOYLE, 1959).
Por tais considerações, salienta-se que investigações mais detalhadas se
fazem necessárias, que, uma vez estabelecido um padrão ambiental, dietético ou
fisiológico para a incidência desta alteração pigmentar, nas mais variadas espécies
animais em que ocorre, talvez haja a possibilidade de se caracterizar a procedência
de um indivíduo encontrado, vivo ou morto, que vem desacompanhado de
informações quanto à sua origem e histórico. Por outro lado, talvez possa ser
plausível a descoberta de algumas novas formas de defesa da saúde oral das
espécies implicadas.
7. CONCLUSÃO
O Procyon cancrivorus apresenta particularidades no padrão de dentição, que
o distinguem dos demais pertencentes à Ordem Carnívora. A forma de seus
dentes carniceiros é mais arredondada e maciça;
A função de seus dentes pré-molares também acompanha o formato
bunodonte, que são mais usados na trituração e mastigação dos alimentos,
por se tratar de um animal onívoro;
As afecções orais são freqüentes nessa espécie, tanto em animais mantidos
em cativeiro quanto de vida livre;
Animais de cativeiro foram os mais acometidos com as lesões relacionadas à
doença periodontal, como cálculo, reabsorção óssea alveolar, deiscência,
fenestração, exposição de furca, além de maloclusão, apinhamento dentário e
os níveis mais acentuados de desgaste dentário;
Os animais de vida livre apresentaram mais altos índices de fraturas, perdas
dentárias ante-morte e escurecimento dentário;
Os hábitos alimentares dos animais de natureza são responsáveis por
importantes enfermidades na espécie estudada;
A principal anomalia dentária observada nos mãos-peladas consistiu na
giroversão dentária, acometendo principalmente os segundos e terceiros p-
molares mandibulares, bilateralmente;
Fenestração e deiscência foram achados freqüentes na região de quarto pré-
molar e molares superiores, independente do bioma;
A pigmentação dentária foi mais prevalente em animais de vida livre.
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