83
I regarded the sweet mouth. Here was indeed the triumph of all
things heavenly — the magnificent turn of the short upper lip —
the soft, voluptuous slumber of the under — the dimples which
sported, and the color which spoke — the teeth glancing back, with
a brilliancy almost startling, every ray of the holy light which fell
upon them in her serene and placid, yet most exultingly radiant of
all smiles. I scrutinized the formation of the chin — and here, too, I
found the gentleness of breadth, the softness and the majesty,
the fullness and the spirituality, of the Greek — the contour which
the god Apollo revealed but in a dream, to Cleomenes, the son of
the Athenian. And then I peered into the large eyes of Ligeia. For
eyes we have no models in the remotely antique. It might have
been, too, that in these eyes of my beloved lay the secret to which
Lord Verulam alludes (POE, 1981, p.168, grifo nosso).
106
Aqui, o narrador, ao descrever os lábios de Ligeia bem como sua
expressão quando sorri, a associa a uma realidade superior, celeste e mítica.
Podemos constatá-lo ao destacar alguns dos vocábulos empregados: “triumph”
(do inglês, triunfo), “heavenly” (do inglês, celeste), “magnificent” (do inglês,
magnífico), “serene” (do inglês, sereno), ”placid” (do inglês, plácido), “radiant” (do
inglês, radioso), “gentleness” (do inglês, graciosidade), “softness” (do inglês,
suavidade), “majesty” (do inglês, majestade), “fullness” (do inglês, plenitude),
“spirituality” (do inglês, espiritualidade). A expressão “holy light” (do inglês, luz
sagrada) não foi empregada ao pé da letra pelo tradutor, porém é muito simbólica
uma vez que invoca o caráter divino das feições de Ligeia. Não por acaso, o
narrador associa sua expressão ao do deus grego Apolo, célebre por sua beleza.
Entretanto, ao descrever os olhos de Ligeia, o narrador faz alusão a Lorde
Verulam, um dos títulos de Francis Bacon (1561), filósofo ao qual o próprio
narrador citara anteriormente:
106
“
Olhava a encantadora boca. Nela esplendia de fato o triunfo de todas as coisas celestes: a
curva magnífica do curto lábio superior, o aspecto voluptuoso e macio do inferior, as covinhas do
rosto, que pareciam brincar, e a cor que falava; os dentes, refletindo, com uma irradiação quase
cegante, cada raio da luz que sobre eles caía, quando ela os mostrava num sorriso sereno e
plácido, que era, no entanto o mais triunfantemente radioso de todos os sorrisos. Analisava a
forma do queixo, e aqui também encontrava a graciosidade da largura, a suavidade e a
majestade, a plenitude e a espiritualidade grega, aquele contorno que o deus Apolo só revelou
num sonho a Cleómenes, o filho do ateniense. E depois eu contemplava os grandes olhos de
Ligéia. Para os olhos, não encontramos modelos na remota antiguidade. Podia ser, também, que
naqueles olhos de minha bem-amada repousasse o segredo a que alude Lorde Verulam”
(MENDES, 1981, p.64, grifo nosso)