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UNIVERSIDADE
FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO
DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FÍSICA
RELAXAÇÃO DE SPIN:
PRINCIPAIS MECANISMOS
EM MICROFIOS E EM FILMES MULTICAMADAS
TESE DE DOUTORADO
Kelly Daiane Sossmeier
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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RELAXAÇÃO DE SPIN: PRINCIPAIS MECANISMOS
EM MICROFIOS E EM FILMES MULTICAMADAS
por
Kelly Daiane Sossmeier
Tese apresentada ao curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fí-
sica, Área de Concentração em Física da Matéria Condensada, da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do
grau de Doutor em Física.
Orientador: Prof. Marcos Carara
Santa Maria, RS, Brasil
2010
Trabalho Parcialmente financiado pela FAPERGS/CNPq/CAPES
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Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Naturais e Exatas
Programa de Pós-Graduação em Física
A Comissão Examinadora, abaixo assinada,
aprova a Tese de Doutorado
RELAXAÇÃO DE SPIN: PRINCIPAIS MECANISMOS
EM MICROFIOS E EM FILMES MULTICAMADAS
elaborada por
Kelly Daiane Sossmeier
como requisito parcial para obtenção do grau de
Doutor em Física
COMISSÃO EXAMINADORA:
Marcos Carara, Dr. (UFSM)
(Presidente/Orientador)
Julian Penkov Geshev, Dr. (UFRGS)
Alexandre Da Cas Viegas, Dr. (UFSC)
Fábio Mallmann Zimmer, Dr. (UFSM)
Rogemar Riffel, Dr. (UFSM)
Santa Maria, 16 de julho de 2010.
Ao Paulo, com carinho.
AGRADECIMENTOS
Embora esta tese de doutorado seja apresentada individualmente, por sua finalidade
acadêmica, ela é o resultado de diversas colaborações. Todos aqueles que contribuíram, de
forma direta ou indireta, para a realização deste trabalho merecem um agradecimento espe-
cial.
Ao professor Marcos Carara, pela orientação, amizade, incentivo, e ensinamentos du-
rante todos estes anos de trabalho.
Aos Professores Schelp, Lucio e Rubem Sommer por suas contribuições ao trabalho e
pela amizade.
Aos professores Horia Chiriac e Antônio Marcos (Teco), pelas amostras e medidas ce-
didas ao trabalho.
Ao Marcelo, pela ajuda na montagem e manutenção de equipamentos e também pela
amizade.
Aos colegas Fábio e Rafael Cabreira, que uniram-se ao “grupo” e acreditaram nele.
Aos ex-colegas do LMMM: Felipe, João, Claudiosir, Ricardo e Marcio que contribuíram
com sua amizade e com sugestões para a realização deste trabalho.
Aos colegas do LMMM: Matheus, Callegari, Thiago, Lu, Rafael, Josué (Monge), Dieiva-
se, Vivian, Luis, Jaguari, Paloma, Diego, Danusa e Paula que participaram de alguma forma
nesta caminhada, seja no laboratório, na oficina ou na parceria de café ou de bar.
À Saionara e ao Fred, sempre dispostos a ajudar.
Ao Paulo pelo incentivo, pelo carinho e pela coragem de seguir comigo.
Ao Ervino e a Luiza por acreditarem e torcerem por mim.
Aos meus irmãos: Magnus e Thaís pelas alegrias e preocupações divididas.
Aos meus pais, por seus bons (e também maus) exemplos. Sou o resultado de vossa edu-
cação e influência. Obrigada.
RESUMO
Tese de Doutorado
Programa de Pós-Graduação em Física
Universidade Federal de Santa Maria
RELAXAÇÃO DE SPIN: PRINCIPAIS MECANISMOS
EM MICROFIOS E EM FILMES MULTICAMADAS
A
UTORA: KELLY DAIANE SOSSMEIER
O
RIENTADOR: MARCOS A. CARARA
Santa Maria, 16 de julho de 2010.
Este trabalho é dedicado ao estudo da relaxação de spin em microfios amorfos recobertos por
vidro com composição nominal de CoFeSiB e em filmes multicamadas de Permalloy/Cu. Nos
microfios, avaliamos o efeito da indução de anisotropia pela aplicação de tensão mecânica e o
efeito do alívio de tensões internas promovido por tratamento térmico aos mecanismos de
amortecimento responsáveis pela relaxação de spin. Nos filmes, avaliamos as modificações
impostas aos mecanismos de amortecimento quando variamos o número de bicamadas. Identi-
ficamos e quantificamos os principais mecanismos responsáveis pela relaxação magnética,
através da investigação da largura de linha de ressonância ferromagnética. Para explicar as
larguras de linha de ressonância ferromagnética observadas consideramos como mecanismo
intrínseco o mecanismo de amortecimento de Gilbert. Como mecanismos extrínsecos conside-
ramos o alargamento da linha de ressonância devido a inomogeneidades magnéticas, consis-
tente com o modelo de espalhamento de mágnons e com a presença de dispersões na anisotro-
pia. O termo intrínseco de relaxação é constante em ambos os conjuntos de amostras estuda-
dos, não variando com o tratamento térmico ou tensão aplicada, no caso dos microfios, nem
com o aumento do número de bicamadas, no caso dos filmes. A contribuição extrínseca de
amortecimento mostrou-se bastante sensível à indução de anisotropias e é uma assinatura das
inomogeneidades estruturais e magnéticas presentes nas amostras.
Palavras-chaves: microfios amorfos, filmes multicamadas, impedância, ressonância ferro-
magnética, mecanismos de amortecimento, relaxação de spin.
ABSTRACT
Tese de Doutorado
Programa de Pós-Graduação em Física
Universidade Federal de Santa Maria
SPIN RELAXATION: DAMPING MECHANISMS IN GLASS-COVERED
MICROWIRES AND MULTILAYERED FILMS
A
UTORA: KELLY DAIANE SOSSMEIER
O
RIENTADOR: MARCOS A. CARARA
Santa Maria, 16 de julho de 2010.
This work is dedicated to investigate the spin relaxation in amorphous CoFeSiB glass-covered
microwires and multilayered films of Permalloy/Cu. The microwires samples were Joule an-
nealed and axially stressed in order to evaluate the modifications in the damping mechanisms
due to the stress induced anisotropy. In the films we were interested in the observation of the
modifications in the damping mechanisms imposed by the number of interfaces in the sam-
ples. We were able to identify the main damping mechanisms responsible for the spin relaxa-
tion in these materials by ferromagnetic resonance experiments. In order to explain the ferro-
magnetic resonance linewidth, we considered the extrinsic magnetic relaxation mechanisms in
addition to the intrinsic Gilbert damping term, the intrinsic one. The extrinsic magnetic re-
laxation takes in to account the broadening induced by the magnetic inhomogeneities and is
consistent with the two-magnon scattering model and anisotropy dispersions. The contribu-
tion from the intrinsic magnetization relaxation is constant in both systems of samples and is
not sensible neither to Joule annealing and applied stress in microwires, nor to the increasing
of the bilayers number in the films. The extrinsic contribution is very sensible to the anisot-
ropy induction and is a signature of magnetic and structural inhomogeneities.
Keywords: amorphous microwires, films, impedance, ferromagnetic resonance, damping
mechanisms, spin relaxation.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................8
2 DINÂMICA DA MAGNETIZAÇÃO. ..........................................................................10
2.1 PRECESSÃO DA MAGNETIZAÇÃO - FMR............................................................18
2.1.1 Ressonância ferromagnética e susceptibilidade dinâmica....................................19
2.1.2 Equação da ressonância em termos da energia magnética livre ...........................25
2.2 AMORTECIMENTO DA PRECESSÃO DA MAGNETIZAÇÃO.............................28
2.2.1 Mecanismos de amortecimento intrínsecos ..........................................................30
2.2.1.1
Termo de amortecimento de Gilbert .................................................................................................... 31
2.2.1.2
Correntes parasitas............................................................................................................................... 32
2.2.2 Mecanismos de amortecimento extrínsecos .........................................................32
2.2.2.1
Ressonâncias locais ............................................................................................................................. 33
2.2.2.2
Espalhamento de mágnons .................................................................................................................. 35
3 MAGNETOIMPEDÂNCIA E LARGURA DE LINHA .............................................46
4 AMOSTRAS....................................................................................................................53
4.1 MICROFIOS AMORFOS ............................................................................................53
4.1.1 Técnica de fabricação de microfios recobertos por vidro.....................................54
4.2 FILMES FINOS............................................................................................................57
4.2.1 Deposição de filmes finos.....................................................................................58
5 APARATO EXPERIMENTAL .....................................................................................62
5.1 TRATAMENTO TÉRMICO........................................................................................62
5.2 SISTEMA EXPERIMENTAL PARA MEDIDAS DE MAGNETIZAÇÃO ...............68
5.3 SISTEMA EXPERIMENTAL PARA MEDIDAS DE IMPEDÂNCIA ......................69
5.3.1 Calibração e compensação do sistema..................................................................71
5.3.2 Porta-amostra ........................................................................................................72
6 RESULTADOS ...............................................................................................................74
6.1 CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA DOS MICROFIOS .........................................74
6.2 CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA DOS FILMES.................................................87
6.3 LARGURA DE LINHA E RELAXAÇÃO DE SPIN ..................................................93
6.3.1 Resultados obtidos para microfios........................................................................93
6.3.2 Resultados obtidos para filmes ...........................................................................100
7 CONCLUSÕES.............................................................................................................107
REFERÊNCIAS....................................................................................................................109
1 INTRODUÇÃO
A aplicação do magnetismo em dispositivos tecnológicos para o armazenamento de in-
formação tem se tornado uma das principais abordagens desta área nos últimos anos. A spin-
trônica, associação de processos de transporte dependente de spin com eletrônica convencio-
nal, tem determinado o atual progresso no magnetismo [1]. Dispositivos eletrônicos de alto
desempenho, tais como sensores de campo magnético e meios de gravação magnética, reque-
rem a habilidade de controlar a dinâmica da magnetização em materiais magnéticos. Entretan-
to, controlar a dinâmica da magnetização não é tarefa fácil. A reversão da magnetização, que
está associada aos meios de escrita e leitura magnéticos, deve ocorrer em nanosegundos ou
mesmo em escalas de tempo ainda menores e a minimização de erros de escrita e leitura re-
quer que a dinâmica da magnetização seja criticamente amortecida [2, 3]. No caso de sensores
de campo magnético, aumentar a sensibilidade é equivalente a reduzir o amortecimento nestes
sistemas. Portanto, estudar a dinâmica da magnetização e entender a forma como se a sua
precessão, os efeitos que promovem o seu amortecimento, são os primeiros passos para o de-
senvolvimento e aperfeiçoamento de muitos dispositivos tecnológicos.
A ressonância ferromagnética (FMR) é a técnica experimental mais utilizada no estu-
do da dinâmica da magnetização pois os processos responsáveis pela relaxação magnética
estão associados à largura de linha de ressonância. Para melhor entender os processos físicos
que governam os efeitos associados ao amortecimento da precessão da magnetização é neces-
sária uma precisa caracterização magnética do material estudado. A FMR (Ferromagnetic
Resonance) é uma técnica bem estabelecida e que proporciona uma caracterização precisa das
amostras magnéticas. Outro aspecto desta técnica é a observação da evolução da magnetiza-
ção em altas frequências. A aplicação da técnica de FMR em conjunto com um analisador de
rede permite observar o comportamento da magnetização variando frequência e campo mag-
nético de forma independente, favorecendo o estudo dos mecanismos responsáveis pelo amor-
tecimento da precessão da magnetização.
O que se propõe neste trabalho é estudar a relaxação da magnetização em microfios
amorfos e em filmes multicamadas. A idéia principal é mapear os principais mecanismos res-
ponsáveis pelo amortecimento da precessão da magnetização e verificar como estes mecanis-
9
mos de amortecimento evoluem, no caso dos microfios, com a tensão e o tratamento térmico,
e, no caso dos filmes, com a variação do número de bicamadas que compõem a amostra.
A tese está dividida em capítulos que tratam da teoria necessária para o entendimento
e interpretação dos resultados, das amostras, do aparato experimental e sistemas de medidas,
da apresentação e discussão dos resultados e conclusão do trabalho. No capítulo1 é feita uma
introdução ao tema, situando o assunto a ser discutido e sua importância para o desenvolvi-
mento científico e tecnológico. O capítulo 2 é dedicado à revisão teórica necessária para o
entendimento da dinâmica da magnetização e seu amortecimento. Neste capítulo a equação
que descreve a dinâmica da magnetização é apresentada e os mecanismos de amortecimento
que devem ser incluídos são discutidos individualmente. O capítulo 3 introduz a técnica expe-
rimental conhecida por magnetoimpedância (MI), que é a técnica aqui utilizada para obter os
dados de ressonância ferromagnética e sua largura de linha e assim dirigir o estudo ao assunto
principal, ou seja, mecanismos de amortecimento associados a precessão da magnetização. O
capítulo 4 é dedicado às amostras estudadas. Neste capítulo são apresentados os processos de
fabricação dos microfios amorfos recobertos por vidro e dos filmes multicamadas. Discute-se
também a distribuição de tensões nos microfios e a respectiva indução de anisotropias. O apa-
rato experimental utilizado para a realização das medidas é descrito no capítulo 5, com suas
particularidades para as diferentes geometrias das amostras estudadas. É apresentada uma
descrição do sistema utilizado para a realização dos tratamentos térmicos nos microfios, os
sistemas de medidas de magnetização e impedância, bem como a calibração e as compensa-
ções necessárias ao sistema de MI. Os resultados obtidos tanto para os microfios quanto para
os filmes são apresentados no capítulo 6. Estes resultados são apresentados em duas etapas. A
primeira é dedicada à caracterização magnética das amostras estudadas. Esta seção é impor-
tante pois o conhecimento da estrutura magnética das amostras estudadas se faz necessário
para a correta interpretação dos mecanismos de amortecimento da precessão da magnetização.
A segunda seção do capítulo 6 traz a principal contribuição científica deste trabalho: os resul-
tados obtidos da largura de linha de FMR. São apresentados e quantificados os principais me-
canismos de amortecimento que contribuem para a relaxação da magnetização nos microfios e
nos filmes multicamadas estudados, bem como a evolução destes mecanismos quando propri-
edades estruturais ou magnéticas das amostras são modificadas.
2 DINÂMICA DA MAGNETIZAÇÃO.
O papel do magnetismo e da dinâmica da magnetização no desenvolvimento de tecno-
logias modernas teve destaque recentemente devido ao prêmio Nobel de física de 2007 que
reconheceu a importância da descoberta do efeito magnetoresistência gigante, que permitiu a
mais recente revolução no desenvolvimento de discos rígidos de computadores. Esses disposi-
tivos são elementos dinâmicos que operam tipicamente em escalas de tempo de nanosegun-
dos. Um ponto crítico nesse tipo de dispositivos é a taxa com que ocorre a dissipação da ener-
gia associada a dinâmica da magnetização e os seus respectivos mecanismos.
Materiais magnéticos o úteis para dispositivos de armazenamento de informação
pois eles podem ser fabricados com duas configurações estáveis que podem ser facilmente
distinguidas. Uma observação empírica de uma destas configurações é que custa menos ener-
gia apontar a magnetização na direção de um eixo do cristal do que para outras direções. Este
fato se deve em parte à forma do material, que afeta a interação dipolar, e também à anisotro-
pia magnetocristalina, que se origina da interação spin órbita. Armazenar informação requer a
reversão de bits, isto é, a rotação da magnetização de uma direção ao longo do eixo fácil, a-
través de uma barreira de energia, para uma direção oposta ao longo do mesmo eixo. Esta
reversão é tipicamente acompanhada pela aplicação de um campo magnético externo. Este
campo externo adiciona uma energia (Zeeman) tal que a direção da magnetização inicial passa
a ser um estado de mais alta energia e a direção final da magnetização passa a representar um
estado de menor energia. Qualquer desalinhamento entre a direção da magnetização e o cam-
po aplicado resulta em um torque na magnetização, que causa sua precessão em torno de um
campo efetivo. Esta precessão não causará a reversão da magnetização. É o fato de esta pre-
cessão ser amortecida que permite a troca da magnetização da direção de alta energia para a
direção de baixa energia.
A dinâmica da magnetização envolve excitações do sistema magnético que podem ser
tanto excitações coletivas (mágnons) quanto excitações de partícula única (Stoner). As excita-
ções coletivas ocorrem, geralmente, em escalas de menores energias e são dominantes para a
maioria dos sistemas até temperaturas na ordem da temperatura de Curie. As excitações de
partícula única tornam-se importantes em altas temperaturas com energia de excitação corres-
pondendo a trocas intra-atômicas. A Figura 2-1 apresenta a energia de uma excitação coletiva,
11
que corresponde a um comprimento de onda dependente da dissipação. Para baixas energias
os mágnons são dominados por interação dipolar e para altas energias eles são dominados por
interação de troca.
Figura 2-1: Espectro de excitações de um sistema magnético. A região de longos comprimentos de ondas (vetor
de onda pequeno) é dominada por interação dipolar e a região de curtos comprimentos de ondas (vetor de onda
grande) é dominada por interações de troca [4].
Mágnons abrangem um intervalo de comprimentos de ondas que se estende por várias
ordens de magnitude. Isto torna difícil tratar todos os mágnons dentro de um único modelo
teórico. Na prática, uma visão completa da dinâmica da magnetização de um sistema requer
uma modelagem múlti-escala onde haja uma ligação entre as diferentes escalas de compri-
mento. O entendimento completo da dinâmica de spin atômico deve considerar três níveis,
que são ilustrados na Figura 2-2: (i) nível de estrutura eletrônica (ii) nível atômico e (iii) nível
micrométrico.
No nível de estrutura eletrônica, a dinâmica da magnetização é essencialmente um re-
sultado da interação coletiva entre os elétrons. Um momento atômico é formado em um sólido
magnético quando o critério de Stoner é satisfeito localmente, originando um spin líquido (S)
e um momento angular orbital (L). O momento magnético é dado por
( )
SLµ
e
g
m
e
+=
2
onde g
e
2 é o fator giromagnético, m é a massa do elétron e e é a sua carga. Tanto a teoria
Micromagnetismo
Vetor de onda
Dinâmica de
spin atômico
Interação de troca
Interação dipolar
energia
Micromagnetismo
Vetor de onda
Dinâmica de
spin atômico
Interação de troca
Interação dipolar
Micromagnetismo
Vetor de onda
Dinâmica de
spin atômico
Interação de troca
Interação dipolar
energia
12
do funcional da densidade de spin dependente do tempo (TD-SDFT Time-Dependent Spin
Density Functional Theory [5]) quanto a teoria do funcional da densidade de corrente depen-
dente do tempo (TD-CDFT Time-Dependent Current Density Functional Theory [6]) são
promissoras como esquemas computacionais para a descrição da dinâmica de spin no nível
eletrônico, mas, elas são computacionalmente muito complicadas para simular sistemas.
Nível eletrônico
Nível atômico
Nível micrométrico
Nível eletrônico
Nível atômico
Nível micrométrico
Figura 2-2: Dinâmica da magnetização em diferentes escalas de comprimento: vel eletrônico, nível atômico e
nível micrométrico [4].
13
No nível atômico, a magnetização é descrita em termos de uma representação discreta,
com variações na orientação dos momentos. As interações intra-atômicas são em geral muito
mais fortes que as interações interatômicas, levando a um momento atômico estável. Nesta
representação, as excitações magnéticas consistem em flutuações da magnitude dos momentos
atômicos e flutuações da orientação dos momentos atômicos com relação a suas posições no
estado fundamental.
Neste trabalho o estudo da dinâmica da magnetização se em escala micrométrica.
Nesta escala a dinâmica da magnetização pode ser entendida em termos de uma magnetização
contínua, M(r,t), descrita pela equação de movimento de Landau-Lifshitz (LL), que será in-
troduzida em detalhes.
É sabido, da mecânica quântica, que existe uma relação de proporcionalidade entre o
momento magnético de spin
µ
µµ
µ
e o momento angular do elétron L. Esta relação pode ser ex-
pressa por:
L
γ
=
2-1
onde
115
smA1021.2
×=
γ
é o valor absoluto do fator giromagnético, que é dado por:
cm
eg
e
2
=
γ
, 2-2
onde g 2 é o fator de Landé, e = -1.6 x 10
-19
C é a carga do elétron, m
e
= 9.1 x 10
-31
kg é a
massa do elétron e c = 3 x 10
8
m/s é a velocidade da luz no vácuo. Pode-se relacionar a taxa
de variação do momento angular com o torque exercido na partícula pelo campo magnético
H
:
Hµ
L
×=
dt
d
. 2-3
Usando-se a equação 2-1 obtém-se uma expressão que descreve a precessão do mo-
mento magnético de spin em torno do campo magnético:
Hµ
µ
×=
γ
dt
d
. 2-4
A frequência de precessão é a frequência de Larmor,
π
γ
ω
2
0
H
= .
A equação 2-4 pode ser escrita para cada momento magnético de spin dentro de um
volume elementar dV
r
:
Hµ
µ
×=
j
j
dt
d
γ
2-5
14
sendo o campo magnético
H
espacialmente uniforme. Tomando-se o volume médio em am-
bos os lados da última equação tem-se:
H
µµ
rr
×
=
dVdt
d
dV
jjjj
1
γ
. 2-6
Sendo o vetor magnetização
M
(
r
) definido tal que o produto
M
(
r
)
dV(
r
) represente o
momento magnético líquido do volume elementar dV(
r
):
( )
r
µ
rM
dV
j
N
j
=
2-7
pode-se então expressar a precessão giromagnética contínua:
HM
M
×=
0
γµ
dt
d
. 2-8
O primeiro modelo dinâmico para o movimento precessional da magnetização foi pro-
posto por Landau e Lifshitz em 1935 [7]. Basicamente, este modelo é composto por uma e-
quação para a precessão contínua, 2-8. A densidade de energia total f
tot
nos permite introduzir
o campo magnético efetivo
H
ef
, que é definido como a derivada funcional de f
tot
com relação a
magnetização:
totMef
H f=
0
1
µ
, 2-9
onde a densidade de energia f
tot
inclui todas as diferentes interações que ocorrem dentro de um
corpo ferromagnético. As energias que devem ser consideradas por terem contribuições rele-
vantes, no caso das amostras estudadas neste trabalho, são: energia de Zeeman, energia mag-
netostática, energia de anisotropia, energia de superfície e energia da troca. Assim, a equação
de LL é:
ef0
HM
M
×=
γµ
dt
d
. 2-10
Pode-se observar que a equação de LL é uma equação conservativa e a equação 2-10
descreve a precessão da magnetização em torno do campo efetivo, conforme ilustrado na
Figura 2-3. No entanto, processos dissipativos também estão presentes na precessão. A natu-
reza microscópica desta dissipação ainda não está clara e é objeto de estudo em várias pesqui-
sas. A abordagem de LL para melhor descrever a precessão consistiu em introduzir a dissipa-
ção de forma fenomenológica. De fato, Landau e Lifshitz introduziram um termo adicional de
torque, responsável pela orientação da magnetização na direção do campo efetivo, ilustrado
na Figura 2-4.
15
Figura 2-3: Precessão contínua da magnetização, conforme equação 2-10.
Figura 2-4: Precessão amortecida do vetor magnetização em torno do campo efetivo, conforme equação 2-11.
Assim, a equação de LL se torna:
( )
ef
2
ef
HMMHM
M
×××=
s
M
dt
d
λ
γ
2-11
onde λ > 0 é uma constante fenomenológica característica do material. É importante observar
que o termo adicional é tal que a magnitude da magnetização é preservada.
Uma abordagem mais realista foi proposta por Gilbert em 1955 [8]. Ele observou que
a equação conservativa 2-10
pode ser derivada de uma formulação lagrangiana onde o papel
das coordenadas generalizadas é desempenhado pelas componentes do vetor magnetização
M
x
, M
y
, M
z
. Neste sistema, a forma mais natural de introduzir a dissipação fenomenológica é
16
considerar uma espécie de força viscosa cujas componentes são proporcionais às derivadas
temporais das coordenadas generalizadas. Mais especificamente, Gilbert introduziu o seguinte
termo adicional de torque:
dt
d
M
s
M
M ×
α
2-12
onde α > 0 é a constante de amortecimento de Gilbert, que depende do material. Pode-se ob-
servar que, da mesma forma que na equação de LL, o termo adicional introduzido por Gilbert
preserva a magnitude da magnetização. A equação 2-11, modificada de acordo com o trabalho
de Gilbert e conhecida por equação de Landau-Lifshitz-Gilbert (LLG), é:
dt
d
Mdt
d
s
M
MHM
M
×+×=
α
γµ
ef0
. 2-13
Apesar das equações de LL e LLG serem similares do ponto de vista matemático,
diferenças entre elas. A equação de LL 2-11 pode ser facilmente obtida da equação de LLG
2-13, como mostra-se abaixo. Multiplicando-se ambos os lados da equação 2-13 pelo vetor
magnetização, obtém-se:
( )
××+××=×
dt
d
Mdt
d
s
M
MMHMM
M
M
α
γµ
ef0
. 2-14
Usando-se a identidade vetorial
(
)
(
)
(
)
bacbabcba =××
e sabendo-se que
0=
dt
dM
M , tem-se:
( )
dt
d
M
dt
d
s
M
HMM
M
M
αγµ
××=×
ef0
. 2-15
Substituindo 2-15 no lado direito da equação de LLG tem-se:
( )
dt
d
Mdt
d
s
M
HMMHM
M
2
ef
0
ef0
α
αγµ
γµ
×××=
. 2-16
Reescrevendo 2-16 de forma mais adequada, tem-se:
( )
( )
ef
2
0
ef
2
0
11
HMMHM
M
××
+
×
+
=
s
M
dt
d
α
αγµ
α
γµ
2-17
que é comumente chamada de equação de Landau-Lifshitz na forma de Gilbert. Pode-se ob-
servar que 2-11 e 2-13 são iguais desde que se faça a seguinte consideração:
2
1
α
γ
γ
+
=
e
2
1
α
γα
λ
+
=
s
M
.
Pode-se dizer que as equações de LL e LLG são iguais apenas no limite de amorteci-
mento tendendo a zero. Trabalhos como o de Kikuchi [9] e Mallinson [10] mostram que, no
17
limite de amortecimento muito forte (
λ
em 2-11 e
α
em 2-17) as equações de LL e
LLG resultam, respectivamente, em:
dt
d
M
e 0
dt
d
M
.
Uma vez que o segundo resultado apresentado acima está de acordo com o fato de que
um amortecimento muito intenso produz um movimento muito lento e o primeiro resultado
não está de acordo com isso, pode-se concluir que a equação de LLG é mais apropriada para
descrever a dinâmica da magnetização.
É importante ter sempre em mente que o termo de amortecimento é fenomenológico,
isto é, ele foi especificamente introduzido para reproduzir da melhor forma possível as obser-
vações experimentais. No entanto, os processos de dissipação de energia em materiais ferro-
magnéticos são numerosos e complicados, podendo ser apenas aproximadamente descritos
por um parâmetro de amortecimento único.
A equação de LLG é a mais apropriada para descrever processos em que a magnitude
da magnetização é conservada. Caso a magnitude da magnetização não seja conservada, a
equação dinâmica que melhor descreverá o processo é a equação de Bloch-Bloembergen [11],
que segue:
(
)
(
)
(
)
z
sz
y
y
T
M
TTdt
d
e
Me
e
Me
e
Me
HM
M
x
x
122
ef0
×=
γµ
,
2-18
onde o eixo z está alinhado com a direção de equilíbrio da magnetização. Ao invés de um
único parâmetro de relaxação, dois tempos de relaxação independentes o utilizados: o tem-
po de relaxação transversal
T
2
, que descreve a relaxação da magnetização na direção de equi-
líbrio e que reduz a magnitude de M, e o tempo de relaxação longitudinal
T
1
, que descreve a
relaxação ao longo das direções de equilíbrio da magnitude total da magnetização
M
s
.
De forma sumarizada pode-se dizer que o amortecimento da precessão da magnetiza-
ção é um processo complicado e irreversível que é análogo ao amortecimento viscoso do
momento linear. Da mesma forma que o amortecimento do momento linear é tipicamente
descrito por algum termo de amortecimento fenomenológico, expressões fenomenológicas
tem sido usadas para descrever a dinâmica da magnetização. Estas expressões possuem um
termo que descreve a precessão não amortecida da magnetização em torno do campo efetivo
somado a um termo que descreve seu amortecimento. A precessão da magnetização quando
analisada através de experimentos de ressonância ferromagnética apresenta a sua ressonância
caracterizada por uma linha de absorção, cuja largura carrega informações sobre os mecanis-
18
mos microscópios de relaxação. A Tabela 1 descreve as expressões mais comuns para o termo
de amortecimento e a largura de linha,
H
, que elas predizem:
Tabela 1: Expressões mais comuns para o termo de amortecimento e a largura de linha H encontrada utilizan-
do-se estes termos de amortecimento na equação dinâmica da magnetização.
Pesquisadores Termo de amortecimento
H
Landau - Lifshitz
( )
HMM ××
2
s
M
λ
λ
γ
s
M
H
0
2
Landau - Lifshitz -Gilbert
tM
s
×
M
M
α
α
0
2
H
Bloch - Bloembergen
2,
/TM
yx
e
(
)
1
/TMM
sz
2
2
T
γ
Historicamente, a dinâmica da magnetização tem sido observada no domínio de fre-
quência através da técnica da ressonância ferromagnética.
2.1
PRECESSÃO DA MAGNETIZAÇÃO - FMR
A ressonância ferromagnética é uma das técnicas experimentais mais antigas e mais
bem entendidas para estudar e caracterizar a dinâmica da magnetização. As primeiras obser-
vações de FMR foram apresentadas por Griffiths em 1946 [12] mas seu correto entendimento
foi possível em 1948 quando Kittel [13] considerou a importância dos campos desmagneti-
zantes na determinação da condição de ressonância.
Entende-se por ressonância ferromagnética a absorção de radiação eletromagnética por
um material ferromagnético. Esta absorção ocorre na presença de um campo magnético em
torno do qual o momento magnético total do material precessiona. A absorção ressonante o-
corre quando a frequência desta precessão coincide com a frequência do campo de radiação
eletromagnética. Em um experimento típico de FMR, a amostra é colocada em um campo
magnético, estático e uniforme, intenso o suficiente para magnetizar a amostra na direção pa-
ralela a este campo. Um campo de radiação de micro-ondas, rf, é aplicado perpendicularmente
19
ao campo estático, de modo que ele tende a perturbar os spins e desviá-los da posição de equi-
líbrio. Se a magnetização é ligeiramente perturbada de sua posição de equilíbrio, ela não re-
torna diretamente, mas, precessa em torno da direção do campo. Perdas de energia associadas
ao movimento da magnetização fazem a precessão da magnetização ser amortecida, com o
alinhamento final ao longo da direção do campo. A fim de estudar este fenômeno, um peque-
no campo senoidal é aplicado perpendicular ao campo estático. Este campo excita o movi-
mento de precessão da magnetização, mas, a menos que a frequência deste campo,
ω
, seja
próxima ou igual a frequência da precessão dos momentos magnéticos,
ω
0
, a energia de aco-
plamento será pequena. No entanto, se
ω
ω
0
o acoplamento é grande e limitado somente
pelo sistema de amortecimento. Em geral,
ω
0
esna faixa de rf e perdas energéticas estão
associadas à precessão da magnetização. Quando a frequência da radiação está próxima da
frequência do modo uniforme, a amostra absorve energia da radiação e o campo rf realimenta
o movimento de precessão dos spins. A ressonância é caracterizada por uma linha de absor-
ção, cuja largura traz informações sobre mecanismos microscópicos associados à relaxação.
2.1.1
R
ESSONÂNCIA FERROMAGNÉTICA E SUSCEPTIBILIDADE DINÂMICA
Nesta seção são apresentadas as expressões para obter a susceptibilidade dinâmica e a
ressonância através desta última. Na Figura 2-5 está representado um material ferromagnético
na presença de um campo externo
H
0
. Os momentos magnéticos,
µ
, sofrem um torque devido
a presença do campo e passam a precessionar em torno de H
0
, de acordo com a equação:
[ ]
0
Hµ
µ
×=
γ
dt
d
. 2-19
Se o material for homogeneamente magnetizado pela ação do campo externo, até um
estado de saturação magnética, a estrutura de domínios magnéticos deste material é quebrada
e toda a amostra comporta-se como um monodomínio. Assim, o problema pode ser tratado
como a precessão da magnetização total do material,
M
, que é a soma de todos os momentos
magnéticos dos elétrons do material por unidade de volume.
O elétron, em um material ferromagnético, pode assumir uma órbita preferencial, oca-
sionando assim uma direção preferencial para seu momento magnético. Se esta direção de
alguma forma for perturbada, um torque age no momento magnético de forma a trazê-lo à sua
20
posição original de mínima energia. Este torque, da mesma forma que o campo magnético
externo, produz um movimento de precessão do momento magnético. Assim, as diferentes
interações no material ferromagnético podem ser tratadas assumindo-se que os spins, respon-
sáveis pelo ferromagnetismo, precessionam com frequência ω
0
não em torno do campo exter-
no,
H
0
,
mas sim em torno de um campo efetivo,
H
ef
, conforme foi mostrado por Landau e
Lifshitz.
Figura 2-5: Material ferromagnético na presença de um campo externo H
0
e de um campo oscilante h(t). A mag-
netização precessiona em torno de H
0
com uma frequência ω.
Se o material estiver na presença de um campo oscilante fraco
h
(t), de alta frequência
e muito menor que o campo externo, a magnetização terá então uma componente oscilante
podendo ser expressa por )(
0
t
mMM
+= com
0
)( Mm <<t
. Isto está representado grafica-
mente na Figura 2-6. A ressonância poderá ocorrer quando a frequência deste campo oscilante
for igual à frequência de precessão de Larmor, ω
0
.
A magnetização, com uma componente estática e outra dinâmica, pode ser escrita da
seguinte forma:
zzyyss
mmMM eeemM
x
+
+
+
=
, 2-20
onde M
s
é a magnetização de saturação e m
y
e m
z
são as componentes oscilantes da magneti-
zação em alta frequência. Deve-se enfatizar que m
y
e m
z
e h tem dimensões de campo (A/m).
21
Figura 2-6: Precessão do vetor magnetização em torno do campo estático H
0
e do campo magnético de alta fre-
quência h(t).
Considerando a energia de Zeeman, energia magnetostática, energia de anisotropia e
energia de superfície, a densidade total de energia pode ser escrita como:
( ) ( ) ( )
222
0
0
2
memeMeHM
zxz0
+=
d
K
Kf
utot
µ
µ
, 2-21
onde d é a espessura da amostra. Incluindo um pequeno campo oscilante, o campo efetivo
obtido pela equação 2-9 é:
( ) ( ) ( )
meemeeMeehHH
xxzzzzef
+++=
s
u
s
M
K
Md
K
00
0
2
2
µµ
. 2-22
Pode-se definir um campo de anisotropia, H
K,
que contém a anisotropia uniaxial, e
uma magnetização efetiva, M
ef,
que contém o termo desmagnetizante e a contribuição de ani-
sotropia perpendicular, da seguinte forma:
s
u
K
M
K
H
0
2
µ
=
e
s
sef
Md
K
MM
0
2
µ
=
. 2-23
Assim, o campo efetivo pode ser reescrito como:
( )
zyxef
eheeHH
z
s
ef
K
m
M
M
H ++=
0
. 2-24
Inserindo a equação 2-24 na equação de LLG 2-17, encontra-se o seguinte conjunto de
equações:
22
+
=
dt
dm
m
dt
dm
m
M
hmm
M
M
m
y
z
z
y
s
zz
s
ef
y
α
γµ
0
0
( )
( )
dt
dm
mMHHm
dt
dm
z
zefKextz
y
αγµ
++=
0
2-25
( )
( )
dt
dm
HHmhM
dt
dm
y
Kextys
z
αγµ
++=
0
.
Este conjunto de equações foi linearizado em
h e m
i
desconsiderando-se os termos que
contém o produto destas quantidades. Feito isto, é preciso introduzir a dependência temporal
do movimento oscilatório )
~
Re(
ti
ii
emm
ω
= , de acordo com o campo de excitação
)
~
Re(
ti
ehh
ω
=
. Enquanto
h
~
é real, os valores de
i
m
~
são complexos, sendo que )
~
Re(
i
m está
no plano com
h
~
. Usando-se a notação exponencial para eliminar a dependência temporal, as
duas equações remanescentes são:
)(
~
)(
~
~
)(
~
)(
~
0
ωωωαω
ωα
ω
ω
ω
imimh
imim
zHyM
efHzy
++=
+
+
+
=
2-26
onde as seguintes abreviações foram feitas, por conveniência:
)(
0 KextH
HH
+
=
γµ
ω
;
sM
M
0
γµω
= e
efef
M
0
γµω
= . 2-27
Pode-se reescrever as equações como uma relação entre )0,
~
(h=h e )
~
,
~
(
zy
mm=m da
seguinte forma matricial:
++
+
=
z
y
efH
H
M
m
m
ii
ii
h
~
~
0
~
ωαωωω
ωωαω
ω
. 2-28
O tensor susceptibilidade,
χ , é obtido invertendo-se a matriz acima, de modo que:
===
0
~
~
~
h
m
m
zzzy
yzyy
z
y
χχ
χχ
hχm
2-29
de onde obtém-se:
( )
+
++
+++
=
0
~
)2(
~
~
2
h
ii
ii
i
m
m
H
efH
efHHefH
M
z
y
ωαωω
ωωαωω
ωωωαωωωω
ω
. 2-30
Nos cálculos acima, supôs-se
α
<<
1 e portanto 1 +
α
2
1. No laboratório, mede-se a
componente
χ
yy
do tensor susceptibilidade cujas componentes real e imaginária são, respecti-
vamente:
23
222222
22
)2()(
))((
efH
res
res
efHM
yy
χ
ωωωαωω
ωωωωω
++
+
=
2-31
e
[
]
222222
22
)2()(
)(
efH
res
efHM
yy
χ
ωωωαωω
ωωωαωω
++
++
=
. 2-32
A frequência de ressonância
ω
res
é dada por:
(
)
HefHres
ωωωω
+=
2
. 2-33
A parte real
yy
χ
expressa a componente de
y
m
~
que está no mesmo plano de h
~
e em fase
com ele, enquanto que a parte imaginária
yy
χ
expressa a componente que está defasada de h
~
por um ângulo de 90º. Então,
ω
res
marca a frequência onde
y
m
~
e h
~
estão defasados por 90º,
uma vez que
yy
χ
(
ω
res
) = 0. Na ausência de perdas
yyyy
χχ
= . A presença da componente
yy
χ
requer um suplemento de energia para manter a alternância da magnetização [14]. As demais
componentes do tensor susceptibilidade são:
222222
)2()(
)2(
efHres
efHM
zyyz
χχ
ωωωαωω
ω
ω
αωω
++
+
=
=
222222
22
)2()(
)(
efHres
res
zyyz
χχ
ωωωαωω
ωωω
++
=
=
222222
22
)2()(
)(
efHres
resHM
zz
χ
ωωωαωω
ωωωω
++
=
222222
2
)2()(
)(
efHres
HM
zz
χ
ωωωαωω
ωωαωω
++
+
=
. 2-34
Um exemplo de
χ
yy
calculado é apresentado na Figura 2-7 que apresenta a componente
real (linha vermelha) e a componente imaginária (linha preta) de
χ
yy
. A linha tracejada na
Figura 2-7 indica a correspondente frequência de ressonância do sistema.
Para estar certo de que a suposição
α
<< 1 leva a uma boa aproximação, pode-se cal-
cular também a frequência de ressonância
ω
res
sem negligenciar os termos correspondentes, o
que leva a:
(
)
HHef
HefH
res
ωαωω
ωωω
ω
2
2
2
+
+
=
. 2-35
24
A expressão 2-35 é equivalente a expressão para a frequência de ressonância obtida
anteriormente, 2-33, para o caso em que α << 1. A parte imaginária da susceptibilidade
yy
χ
representa a absorção da energia eletromagnética gerada pelo pequeno campo de excitação
h(t).
0,0 0,5 1,0 1,5 2,0
-200
0
200
400
600
Susceptibilidade
χ
χ
χ
χ
Frequência (GHz)
χ
'
χ
"
ω
ωω
ω
res
Figura 2-7: Componentes real e imaginária de
χ
yy
, conforme expressões em 2-32. Os seguintes valores foram
utilizados nos cálculos:
γ
= 35 kHz / (A/m),
µ
0
M
s
µ
0
M
ef
1 T,
µ
0
(H
ext
+H
K
) = 0.01 T e
α
= 0,02.
A componente imaginária,
yy
χ
, tem linha com forma lorentziana e alcança um máxi-
mo na frequência de ressonância
ω
res
, que é dada por:
( )
res
ef
ef
αω
ω
ωωω
ωω
α
ω
χ
M
HH
H
M
yy
2
)Max(
+
+
=
. 2-36
A parte real,
yy
χ
, representa a dispersão de micro-ondas e é antissimétrica em torno de
ω
res
sendo nula nesta frequência particular. É devido à presença do amortecimento que o efei-
to “skin”, a profundidade de penetração de um campo alternado em um condutor, permanece
finito. Sem o amortecimento
χ
yy
seria puramente real e o efeito “skin” divergiria, tornando a
amostra magnética completamente transparente para as micro-ondas. Assumindo-se que as
correntes parasitas, correntes induzidas no condutor quando o fluxo magnético através da a-
25
mostra varia, não interferem nas medidas do amortecimento intrínseco, a largura de linha em
frequência ∆ω pode ser descrita por:
(
)
efH
ωωαω
+= 2 . 2-37
É importante ter em mente que
yy
χ
não é precisamente simétrico em torno de
ω
res
e
esta é uma aproximação.
ω
pode ser obtido também calculando-se a separação em frequên-
cia entre o máximo e o mínimo da parte real da susceptibilidade. Esta pode ser uma alternati-
va conveniente, uma vez que é mais fácil obter as frequências de dois extremos do que fazer
um ajuste utilizando as expressões de 2-32. A posição destes extremos pode ser facilmente
obtida das raízes da derivada de
yy
χ
. Encontra-se:
res
efH
res
ω
ωωα
ωω
)2(
1
max
+
=
res
efH
res
ω
ωωα
ωω
)2(
1
min
+
+=
, 2-38
onde
maxmin
ω
ω
ω
=
.
2.1.2 E
QUAÇÃO DA RESSONÂNCIA EM TERMOS DA ENERGIA MAGNÉTICA LIVRE
Na seção anterior, a frequência de ressonância foi derivada da susceptibilidade magné-
tica. É possível também se deduzir a frequência de ressonância diretamente da densidade total
de energia,
f
tot
, como sugerido por Smit e Beljers [15]. A equação de LL na aproximação ma-
crospin é:
ef0
HM
M
×=
γµ
dt
d
2-39
e pode ser trabalhada em coordenadas esféricas, representadas na Figura 2-8.
Uma pequena variação infinitesimal do vetor magnetização pode ser expressa, neste
sistema de coordenadas, por:
ϕ
ϕ
θ
θ
eeeM
θr
sen dMdMdrMd
sss
+
+
=
2-40
onde
M
s
denota a magnetização de saturação,
θ
e
ϕ
são, respectivamente, os ângulos polar e
azimutal da magnetização no sistema de coordenadas esféricas.
26
Figura 2-8: Sistema de coordenadas esféricas.
O campo magnético efetivo apresentado na expressão 2-9, em coordenadas esféricas,
pode ser expresso por:
+
+
=
=
ϕ
ϕθθµµ
eee
F
H
θref
F
M
F
Mr
F
mM
sss
sen
1111
00
. 2-41
Na equação acima
F representa a energia livre do sistema e os termos da equação de
LL podem então ser escritos como:
ϕ
ϕ
θ
θ
ee
M
θ
dt
d
M
dt
d
M
dt
d
ss
sen+=
e
ϕ
θµϕθµ
eeHM
θef
=×
FF
00
1
sen
1
2-42
o que leva às equações de LL em coordenadas esféricas:
ϕθ
γ
θ
=
F
Mdt
d
s
sen
θθ
γ
ϕ
=
F
Mdt
d
s
sen
. 2-43
Para pequenas variações em torno da posição de equilíbrio, a energia livre
F expandi-
da em uma série de Taylor, em primeira aproximação, é dada por:
(
)
22
0
2
2
1
ϕθϕθ
ϕϕθϕθθ
FFFFF +++= , 2-44
27
onde
ϕϕθϕθθ
FFF e ,
são as segundas derivadas da energia livre com relação aos ângulos
citados. As equações de movimento são:
( )
ϕθ
θ
γ
θ
ϕϕθϕ
FF
Mdt
d
s
+=
sen
( )
ϕθ
θ
γ
ϕ
θϕθθ
FF
Mdt
d
s
+=
sen
. 2-45
Os ângulos
θ
e
ϕ
, que satisfazem o conjunto de equações acima, são dados por uma
pequena oscilação harmônica em torno dos valores de equilíbrio
θ
0
e
ϕ
0
:
ti
A
e
ω
θθθ
=
0
,
ti
A
e
ω
ϕϕϕ
=
0
, 2-46
onde
θ
A
e
ϕ
A
são as amplitudes destas precessões. Incluindo estes pequenos desvios da posi-
ção de equilíbrio considerados no conjunto 2-46 nas equações apresentadas em 2-45, o se-
guinte conjunto de equações é obtido:
0
sensen
=+
ϕ
θ
γ
θω
θ
γ
ϕϕθϕ
ss
M
F
i
M
F
0
sensen
=
++
ϕω
θ
γ
θ
θ
γ
θϕ
θθ
i
M
F
M
F
ss
. 2-47
O conjunto de equações acima possui solução o trivial apenas quando a equação se-
cular
(
)
0
2
2
=
res
i
ωωωω
é satisfeita. Assim,
00
,
2
2
2
2
2
2
sen
ϕϕθθ
ϕθ
ϕθ
θ
γ
ω
==
=
FFF
M
s
res
2-48
e
00
,
2
2
2
2
sen
1
ϕϕθθ
θ
ϕθ
γ
ω
==
+
=
FF
M
s
. 2-49
A expressão 2-48, conhecida por fórmula de Smit e Beljers, relaciona a frequência de
ressonância com a energia total do sistema e seus mínimos. É importante notar que a expres-
são de Smit e Beljers foi obtida da equação de LL sem levar em consideração o termo de a-
mortecimento.
28
2.2 AMORTECIMENTO DA PRECESSÃO DA MAGNETIZAÇÃO
Um importante aspecto da dinâmica da magnetização é a taxa com que a energia é dis-
sipada. No experimento de FMR a amplitude da precessão da magnetização será determinada
pela taxa de perdas e pela energia absorvida do campo
rf. Fora da ressonância, no entanto, a
excitação
rf não tem uma relação de fase fixa com a precessão e então a absorção de energia é
pequena. Isso implica que, se não houvesse perdas, a curva de absorção de ressonância (ener-
gia absorvida
versus campo aplicado) poderia ser descrita por uma função delta centrada no
valor de campo aplicado para o qual o campo interno satisfaz a condição de ressonância.
Quando as perdas estão presentes, a amplitude da curva de absorção é finita e sua largura é
diferente de zero. A linha alarga com o aumento das perdas energéticas, portanto, a medida da
largura de linha é uma medida direta das perdas associadas à ressonância.
O ponto de partida para o cálculo das perdas energéticas na ressonância é a precessão
de um sistema de spin. A situação mais simples possível é aquela em que o campo de resso-
nância está aplicado sobre a amostra e o campo de excitação
rf é uniforme em amplitude e
fase. Assim, a precessão da magnetização também será uniforme em amplitude e fase sobre
todo o volume da amostra. Este modo de ressonância é apropriadamente chamado de modo
uniforme.
Uma vez que o modo uniforme é excitado, a amplitude da precessão e a susceptibili-
dade são determinadas por processos pelos quais a energia pode ser transferida do sistema de
spin em precessão para a rede. O modo uniforme não é o único modo normal do sistema mag-
nético. Outros modos de ondas de spin são possíveis para os quais o ângulo de precessão e a
fase variam periodicamente através da rede. O modo uniforme pode ser tratado como modo de
onda de spin com número de onda
k igual a zero, ou seja, comprimento de onda infinito e sem
variação espacial na magnetização. Da mesma forma que os modos normais para vibrações da
rede podem ser quantizados em estados de fônons e tratados como partículas, os modos nor-
mais dos sistemas magnéticos podem ser quantizados em estados de mágnons com proprieda-
des de partícula.
O amortecimento magnético ocorre porque os modos magnéticos de um sistema, pre-
dominantemente spin eletrônico, se acoplam aos modos não magnéticos, elétrons orbitais e
vibrações da rede, permitindo que energia seja transferida. Uma vez que os modos magnéticos
são excitados a temperatura mais alta que os outros modos do sistema, a energia flui predomi-
nantemente dos modos magnéticos para os modos não magnéticos. Os processos de relaxação
29
associados ao modo uniforme podem ser vistos como interações e espalhamentos entre modos
magnéticos, ondas de spin, e os outros modos do sistema, elétrons, fônons, etc. Existem mui-
tos canais físicos de relaxação pelos quais a energia gerada pela precessão do sistema de spin,
modo uniforme de mágnons, pode ser dissipada [16].
A presença de perdas energéticas faz com que o modo uniforme de gnons se difun-
da em estados de fônons, aquecimento da rede, de alguma maneira. O modo uniforme de
mágnons pode difundir-se diretamente em fônons ou espalhar-se em outros estados de mág-
nons que eventualmente relaxam em vibrações da rede. Qualquer reação de espalhamento
individual pode ser caracterizada por um tempo de relaxação que é uma medida do tempo de
vida médio do estado inicial antes de sofrer a transição para o estado final. Se o tempo de re-
laxação total para o modo uniforme de mágnons é longo, eles decaem lentamente em outros
estados e a taxa de relaxação e a largura de linha são pequenas. A largura de linha é inversa-
mente proporcional ao tempo de relaxação total para o modo uniforme de mágnons. Os espa-
lhamentos individuais que podem contribuir ao tempo de relaxação total estão representados
no diagrama apresentado na Figura 2-9. Neste diagrama de blocos pode-se observar que o
modo uniforme de ressonância é excitado pelo campo
rf e o modo uniforme de mágnons e-
ventualmente relaxa em fônons da rede por diferentes canais.
Figura 2-9: Canais de relaxação para o modo uniforme de ressonância [17].
30
Pesquisadores tem trabalhado neste problema de identificação dos canais de relaxação
e processos de perda energética na dinâmica da magnetização desde que Landau e Lifshitz
publicaram o trabalho onde apresentaram a equação fenomenológica do movimento [7] em
1935. A FMR é uma técnica apropriada para a abordagem deste problema pois permite quan-
tificar a taxa de amortecimento do modo uniforme de um material, através da medida da lar-
gura de linha de ressonância.
As contribuições à largura de linha são decompostas em duas classes de efeitos de a-
mortecimento: efeitos
extrínsecos, que são devidos a imperfeições e inomogeneidades da a-
mostra, e efeitos
intrínsecos, que se originam das interações entre os modos magnéticos e não
magnéticos de um sistema e que são intrínsecos ao material. Os efeitos extrínsecos são evitá-
veis e poderiam estar ausentes em uma amostra perfeita, mas os efeitos intrínsecos não são
contornáveis e estariam presentes mesmo em uma amostra perfeita.
Os efeitos de amortecimento extrínsecos surgem de inomogeneidades e podem levar
ao alargamento da linha de ressonância por diferentes formas, inclusive produzindo uma dis-
tribuição de campos de ressonância locais na amostra e o acoplamento do modo uniforme
com o modo não-uniforme de mágnons. Os efeitos de amortecimento intrínsecos originam-se
principalmente de interações fundamentais e inevitáveis entre mágnons e elétrons orbitais.
Estas interações incluem a geração de correntes parasitas e acoplamento spin-órbita. Ainda, o
amortecimento também pode ocorrer pelo espalhamento direto mágnon-fônon ou então uma
pequena contribuição ao amortecimento intrínseco é dada pelo acoplamento do modo unifor-
me de precessão com o campo de radiação. A largura de linha medida reflete tanto a contribu-
ição intrínseca quanto a contribuição extrínseca. Entender os mecanismos básicos do amorte-
cimento e saber separar experimentalmente estas contribuições é de fundamental importância
e um dos objetivos deste trabalho.
2.2.1 M
ECANISMOS DE AMORTECIMENTO INTRÍNSECOS
Os mecanismos de amortecimento intrínsecos estão presentes mesmo em amostras
consideradas cristalograficamente perfeitas, pois a magnetização, mesmo em um cristal per-
feito, não está isolada das demais partes da amostra. Existem interações inevitáveis entre a
31
magnetização e outros graus de liberdade que permitem que a energia se dissipe de um siste-
ma magnético para outro.
2.2.1.1 Termo de amortecimento de Gilbert
Este termo de amortecimento, aqui chamado de amortecimento de Gilbert, é um efeito
de amortecimento intrínseco que está sempre presente na relaxação da magnetização. É o ter-
mo de amortecimento obtido diretamente da minimização da energia livre do sistema magné-
tico [18]. Consideremos o caso estudado neste trabalho, exemplificado por um filme com ani-
sotropia uniaxial,
K
u
, no plano do filme e o sistema de coordenadas conforme especificado na
Figura 2-10. A direção do campo de anisotropia,
H
K
, coincide com o eixo x. A orientação da
magnetização de saturação,
M
s
, é definida pelos ângulos
θ
e
ϕ
e o campo externo H
0
pelo
ângulo
ψ
. A energia livre do sistema aqui representado é dada por:
(
)
(
)
(
)
ϕθθπθϕψθ
222
2
0
cos sen1cos2coscos sen +++=
uss
KMHMF
, 2-50
onde o primeiro, segundo e terceiro termo são, respectivamente, a energia de Zeeman, magne-
tostática e de anisotropia.
Figura 2-10: Sistema de coordenadas considerando-se um filme com anisotropia no plano xy.
Dada a energia do sistema, a largura de linha pode ser obtida conforme demonstrado
em 2-49, mas agora considerando o termo fenomenológico de amortecimento. Sendo:
2
0
,
2
2
4
ss
MHM
F
eqeq
π
θ
ϕθ
+=
e
us
KHM
F
eqeq
2
0
,
2
2
=
ϕθ
ϕ
,
32
quando H
0
>H
K
a largura de linha em frequência será:
(
)
( )
Ksuss
s
G
HMHKMHM
M
+=+=
πγαπ
γα
ω
42242
0
2
0
. 2-51
2.2.1.2 Correntes parasitas
Durante um experimento de FMR, a magnetização precessa a frequências na ordem de
gigahertz. Pela lei de Faraday, a rápida rotação do campo magnético induz um campo elétrico:
t
−∂
=
×
/BE . Este campo elétrico circular conduz os elétrons em correntes parasitas. Este
processo retira energia do modo uniforme e a coloca nas órbitas dos elétrons, amortecendo a
precessão da magnetização.
As correntes parasitas estão relacionadas ao efeito “skin”,
δ
, que é definido como a
profundidade abaixo da superfície do condutor na qual a densidade de corrente decai em 1/e
da densidade de corrente na superfície:
0
2
µωσµ
δ
r
=
2-52
onde
σ
é a condutividade e
µ
r
é a permeabilidade relativa,
µ
r
=
µ
/
µ
0
= 1+
χ
. As correntes pa-
rasitas tornam-se importantes quando a espessura do material estudado é comparável ou maior
que o efeito “skin”. Deve-se levar em conta que a permeabilidade
µ
pode aumentar conside-
ravelmente em frequências próximas a frequência de ressonância ferromagnética, reduzindo a
profundidade de penetração. Ament e Rado publicaram um dos primeiros trabalhos em que se
calcula a contribuição das correntes parasitas para a relaxação da magnetização [19] em fil-
mes magnéticos. Neste trabalho os autores mostraram que, para um filme magnético espesso,
as correntes parasitas levam a uma largura de linha de FMR finita, mesmo na ausência de ou-
tros mecanismos de amortecimento. Este efeito foi chamado de mecanismo de condutividade
de troca pois o alargamento é proporcional a
σ
A
, onde A é a constante de troca.
2.2.2
M
ECANISMOS DE AMORTECIMENTO EXTRÍNSECOS
Os mecanismos de amortecimento extrínsecos resultam de inomogeneidades presentes
na amostra. Estas inomogeneidades incluem diferenças na energia magnetocristalina, varia-
33
ções na anisotropia de superfície, defeitos locais e desvios na espessura da amostra, magnetos-
tricção associada a imperfeições do substrato, entre outras possibilidades. A presença de ino-
mogeneidades nos microfios e nos filmes finos reais torna difícil a tarefa de quantificar os
mecanismos responsáveis pela dissipação da energia nestes materiais. As inomogeneidades
alargam a linha de ressonância obtida através de medidas de FMR e fazem com que os valores
dos termos de amortecimento sejam superestimados. Identificar os fatores associados à ino-
mogeneidades presentes no material e que alargam a linha de ressonância é essencial para a
determinação dos mecanismos responsáveis pela relaxação da magnetização.
Uma abordagem exata dos efeitos de inomogeneidades é um problema bastante com-
plicado, mas, é possível fazer uma abordagem mais ampla, considerando os casos de inomo-
geneidades fortes e inomogeneidades fracas. Inomogeneidades são consideradas fortes quan-
do os campos inomogêneos são intensos se comparados com o campo de troca intrínseco e
com o campo de dipolo. Inomogeneidades são consideradas fracas quando os campos inomo-
gêneos são fracos se comparados com os campos de troca e de dipolo. No limite de inomoge-
neidade forte diferentes áreas da amostra interagem pouco uma com a outra e a amostra apa-
renta ter um grande número de campos de ressonâncias locais. Por outro lado, quando as i-
nomogeneidades são fracas a magnetização da amostra mantém a ordem de longo alcance e
precessa quase uniformemente. As inomogeneidades induzem uma mistura do modo uniforme
de precessão com modos não uniformes causando uma falta de coerência do modo uniforme.
Este limite é tratado como espalhamento de mágnons porque o modo uniforme de mágnons
decai num modo não uniforme [20].
2.2.2.1
Ressonâncias locais
O alargamento da linha de ressonância de FMR devido a ressonâncias locais pode ser
causado por variações espaciais na amplitude da anisotropia ou ainda por variações na distri-
buição angular da anisotropia de grão para grão.
O caso limite para o qual o modelo de ressonâncias locais é aplicado é um conjunto de
grãos magnéticos não interagentes que são medidos simultaneamente. Cada grão prova o
mesmo campo externo aplicado. No entanto, cada grão está sujeito a um campo efetivo ligei-
ramente diferente devido a variações em seus eixos de orientação cristalográficos, variações
em suas anisotropias cristalinas, diferenças na estrutura de defeitos e interações de superfície,
entre outros efeitos. Essencialmente, cada grão magnético experimenta uma contribuição ran-
dômica do campo efetivo e, portanto, tem um campo de ressonância próprio. Então, mesmo se
cada ressonância for perfeita, isto é, uma função delta com relação a frequência aplicada, estas
34
ressonâncias locais continuarão dispersas em torno de algum campo de ressonância médio,
produzindo um alargamento efetivo da ressonância medida.
De forma simples, quando o campo aplicado está alinhado com a direção de equilíbrio
da magnetização, o efeito destas ressonâncias locais na largura de linha medida é dado por:
γ
αω
3
2
0
0
+= HH
. 2-53
Espera-se então que a largura de linha varie linearmente com a frequência e tenha uma
intercepção em um valor diferente de zero [21]. Para frequência zero a intercepção se dá em
H
0
, o que não está associado ao amortecimento do modo uniforme de precessão, mas sim a
uma medida do espalhamento dos campos de ressonâncias locais devido a qualquer das ino-
mogeneidades presentes no sistema. O aumento linear da largura de linha com a frequência de
ressonância daria um alargamento adicional devido ao amortecimento real. dois efeitos a
serem avaliados, que promovem ressonâncias locais no material.
(i)
Variações espaciais na amplitude da anisotropia
A não uniformidade da magnetização, conhecida na literatura como ripplena mag-
netização, pode se manifestar como um fenômeno caracterizado por dispersões espaciais na
amplitude da anisotropia. O modelo a ser considerado para quantificar o amortecimento da
precessão da magnetização devido a ressonâncias locais geradas por dispersões espaciais na
amplitude da anisotropia é baseado em trabalhos que consideram diferentes distribuições de
campos de anisotropias para modelar as inomogeneidades [21, 22, 23]. Diferentes porções da
amostra apresentam diferentes campos de anisotropia e então estas diferentes porções podem
ressonar a frequências diferentes. O alargamento da linha de FMR associado a variações lo-
cais da anisotropia pode ser quantificado medindo-se sua influência na própria frequência de
ressonância ferromagnética:
K
res
K
K
H
H
=
ω
ω
2-54
Assumindo que a relação de dispersão de FMR é a relação de dispersão dada por Kit-
tel [24] para um material com anisotropia uniaxial:
))((
0 sKures
MHHHH +++=
γµω
2-55
onde
γ
é o fator giromagnético, H
K
é o campo de anisotropia e M
s
a magnetização de satura-
ção. Aqui, H
K
> 0 se H e H
K
forem paralelos e H
K
< 0 se H e H
K
forem ortogonais. A largura
de linha em frequência será [25]:
35
res
sK
K
K
MHH
H
ω
γµ
ω
++
=
)(2
2
2
2
0
, 2-56
onde
K
H
representa a amplitude do alargamento da linha.
(ii)
Variações na distribuição angular da anisotropia
A não uniformidade da magnetização, ripplena magnetização, pode se manifestar
também como um fenômeno pelo qual a direção da magnetização varia localmente em relação
a sua direção angular média. Esta variação é uma consequência da distribuição dos eixos de
anisotropia em grãos cristalinos individuais. Os primeiros trabalhos a desenvolverem uma
teoria que levasse em conta a presença de uma distribuição angular da anisotropia datam de
1968 [26, 27]. De acordo com estes trabalhos, além do campo estático de anisotropia, que é
intrínseco, existe um campo desmagnetizante, H
d
, que contribui para o campo de anisotropia
efetivo. A consideração deste campo desmagnetizante leva a uma modificação na relação de
dispersão dada por Kittel, equação 2-55, que passa a descrever o efeito médio destas ondula-
ções na amostra.
(
)
(
)
)(2cos)(cos
2
HHHHHHHHM
dKdKsres
+++++=
φφγω
. 2-57
Este termo desmagnetizante pode ser substituído por um parâmetro mensurável conhe-
cido por campo de ripple”, H
r
:
4/1
]/)2cos[(
)(
KK
r
d
HHH
H
HH
φ
+
=
. 2-58
O alargamento da linha de ressonância devido a ondulações na magnetização pode ser
obtido em termos do parâmetro de “ripple” e tem a forma:
4/3
2/1
)(
)4(
4/1
K
rK
s
rip
HH
HH
M
+
=
πγω
. 2-59
2.2.2.2
Espalhamento de mágnons
Os momentos magnéticos de um sistema ferromagnético interagem fortemente uns
com os outros. Em distâncias curtas a interação se através da interação de troca, o que ori-
gina um alinhamento paralelo dos momentos magnéticos. Em distâncias longas a interação se
através da interação dipolar, o que resulta no alinhamento antiparalelo dos momentos mag-
néticos. A competição destas duas interações leva a formação dos domínios magnéticos.
Em distâncias curtas a força de troca é mais significativa e os spins se alinham com
seus vizinhos formando um domínio magnético. Em escalas de comprimento mais longas a
36
interação dipolar é predominante e produz uma parede de domínio entre domínios com dife-
rentes orientações magnéticas. Estas fortes interações levam a correlações e ordem de longo
alcance no sistema. Considere-se uma amostra de domínio único, o que pode ser obtido pela
aplicação de um intenso campo magnético externo. Devido a forte interação entre os spins, as
excitações magnéticas do sistema são coletivas. Estas excitações são os modos normais do
sistema magnético e são conhecidas como mágnons.
Em um experimento de FMR, na frequência de ressonância para um dado valor de
campo aplicado, assume-se que todos os spins da amostra precessam no modo uniforme, com
vetor de onda k = 0. No entanto, inomogeneidades presentes na amostra podem atuar como
centros de espalhamento fazendo com que um mágnon de frequência f e vetor de onda k = 0
seja espalhado em outro mágnon com a mesma frequência f mas com vetor de onda k 0,
resultando em um alargamento adicional à linha de ressonância. Esta situação está representa-
da na Figura 2-11. O espalhamento de mágnons foi primeiramente proposto como fonte de
contribuição extrínseca à largura da linha de FMR num trabalho de Sparks e colaboradores
[28]. Nesta seção veremos como se pode considerar este mecanismo de amortecimento.
K
0
K = 0
K
0
K = 0
Figura 2-11: Representação do modo uniforme de precessão (esquerda), onde os momentos precessionam em
fase, e do modo não-uniforme (direita), onde a precessão é defasada. A frequência de precessão em ambos os
modos é a mesma.
Para descrever o alargamento da linha de ressonância devido ao espalhamento de
mágnons tomaremos por base o modelo sugerido por Arias e Mills [29]. Considerando-se um
experimento idealizado de FMR, onde o modo uniforme excitado é aquele cujo vetor de onda
paralelo a superfície, k
||
, é zero. Para um filme simples com magnetização M
s
paralela a super-
fície, a frequência deste modo normal, na ausência de anisotropia, é
(
)
[
]
2/1
00
4
s
MHH
πγ
+
.
Na presença de acoplamento dipolar entre spins tem-se comprimentos de onda de spin curtos,
com k
||
10
5
cm
-1
, degenerados em frequência com o modo excitado por FMR [30]. O aco-
37
plamento entre os modos degenerados e o modo uniforme é forte, assim, ondas de spin com
comprimento de onda da ordem das imperfeições estão presentes no material. Considerando
que a dispersão de ondas de spin é tal que o mecanismo de espalhamento de mágnons está
presente, busca-se um modelo de defeitos de superfície que possam acoplar o modo de FMR
aos modos de onda de spin com comprimentos de onda curtos. Seja um filme fino ferromag-
nético como ilustrado na Figura 2-12, cuja magnetização está no plano e paralela ao campo
magnético H
0
.
A onda de spin considerada propaga-se no plano do filme, com vetor de onda
k
||
formando um ângulo
||
k
φ
com o eixo z. A espessura do filme, d, é suficientemente pequena
para que se possa considerar apenas o ramo acústico de ondas de spin.
Primeiramente, é preciso encontrar a relação de dispersão da onda de spin, isto é, a re-
lação entre sua frequência e o vetor de onda. Para descrever as ondas de spin, a magnetização
pode ser escrita na forma:
(
)
),(, tMt
s
rmzrM
+
=
)
2-60
onde :
yrxrrm
ˆ
),(
ˆ
),(),( tmtmt
yx
+
=
. 2-61
y
z
x
||
k
r
?
||
k
r
y
z
x
||
k
r
?
||
k
r
y
z
x
y
z
x
||
k
r
||
k
r
φ
s
M
r
0
H
r
y
z
x
||
k
r
?
||
k
r
y
z
x
||
k
r
?
||
k
r
y
z
x
||
k
r
||
k
r
?
||
k
r
||
k
r
y
z
x
||
k
r
||
k
r
?
||
k
r
||
k
r
y
z
x
y
z
x
y
z
x
y
z
x
||
k
φ
||
k
M
s
H
0
y
z
x
||
k
r
||
k
r
?
||
k
r
||
k
r
y
z
x
||
k
r
||
k
r
?
||
k
r
||
k
r
y
z
x
y
z
x
||
k
r
||
k
r
||
k
r
φ
||
k
r
φ
s
M
r
s
M
r
0
H
r
0
H
r
y
z
x
||
k
r
?
||
k
r
y
z
x
||
k
r
?
||
k
r
y
z
x
||
k
r
||
k
r
?
||
k
r
||
k
r
y
z
x
||
k
r
||
k
r
?
||
k
r
||
k
r
y
z
x
y
z
x
y
z
x
y
z
x
||
k
φ
||
k
M
s
H
0
Figura 2-12: Geometria e sistema de coordenadas utilizado em relação a um filme fino com espessura d.
As amplitudes das componentes dinâmicas da magnetização associadas com a onda de
spin dada podem ser escritas como:
=
||
||||
k
rk
||
k
i
yxyx
etm
dL
tzxm );(
1
);,(
,
2
,
, 2-62
38
onde L
2
é a área do filme e k
||
e r
||
estão no plano xz.
A relação de dispersão para as ondas de spin pode ser obtida escrevendo-se a energia
magnética do sistema por unidade de volume na forma:
{
}
+=
||
k
||||||||||||
kkkkkk
)()()()()()(
2
1
yyyxxx
s
mmEmmE
M
H
. 2-63
Nesta expressão estão incluídas as energias que contribuem para a energia da onda de
spin. São elas:
i.
Energia gerada pelo campo dipolar:
O movimento das ondas de spin dá origem a campos dipolares
H
d
. Estes campos dipo-
lares podem ser representados por:
×= dxdydztzyxetm
dL
H
d
i
d
);,,(.);(
1
2
1
)(
.
2
Ek
||||
||
rk
k
||
. 2-64
A energia devida ao campo dipolar (E
d
) pode ser decomposta em duas contribuições:
uma contribuição de campo dipolar gerado pela densidade superficial de cargas magnéticas
)1(
d
E
, e a outra contribuição devido ao campo dipolar gerado pela densidade volumétrica de
cargas magnéticas
)2(
d
E
. Para filmes finos no limite
1
||
<<
dk
tem-se:
)
ˆ
cos
ˆ
sen()(sen
2
)(
||||
||
||||
||
.
||||
2
)1(
zxemdk
dL
kk
k
i
xkd
φφφ
π
+×=
rk
krE
2-65
e
=
||
||||
.
||
||
2
)2(
)(
2
1
ˆ
4
)(
k
i
yd
em
dk
y
dL
rk
krE
π
. 2-66
A variação linear de
)1(
d
E
com o vetor de onda k
||
é que determina a existência de modos
degenerados com o modo de FMR. Inserindo as expressões 2-65 e 2-66 em 2-64 e resolvendo
a integral tem-se que a contribuição da energia devido ao campo dipolar à energia de excita-
ção de onda de spin é:
)()(sen )()(
2
12
||||
*2
||||||
*
||
|| ||
||
kkkk
x
k k
xkyyd
mmdkmm
dk
E
+
=
φππ
. 2-67
ii.
Energia Zeeman:
39
[ ]
++
==
V
yx
s
s
V
zz
dxdydzzxmzxm
M
H
VMH
dxdydzzxMHE
),(),(
2
),(
22
0
0
0
2-68
onde V é o volume do filme. Descartando o termo constante, a energia de Zeeman do sistema
pode ser escrita como:
[
]
+=
||
)()()()(
2
||||
*
||||
*
0
k
kkkk
yyxx
s
z
mmmm
M
H
E
. 2-69
iii.
Energia de troca:
[ ]
)()()()(
2
1
||||
*
||||
*2
||
2
2
2
||
kkkkk
k
yyxx
s
V
yx
s
t
mmmmD
M
dxdydzmm
M
A
E
+
=
+=
2-70
onde D é um parâmetro associado a constante de troca, dado por:
s
MAD /2
=
.
iv.
Energia de anisotropia de superfície:
)()(
2
1
),(
||||
*2
2
||
kk
k
y
S
ys
s
y
s
s
A
mmH
M
dxdzzxm
M
K
E
==
2-71
onde
dMKH
sss
/2
=
.
Os termos acima citados são as principais contribuições à energia do sistema, mas, pa-
ra filmes muito finos, outras contribuições também podem ser relevantes. Combinando as
contribuições aqui consideradas, o Hamiltoniano da energia pode ser escrito:
[
]
+=
||
)()()()()()(
2
1
||||
*
||||||
*
||
k
kkkkkk
yyyxxx
s
mmEmmE
M
H
2-72
onde
2
||
2
||0||
||
sen 2)( kk
k
DdkMHE
sx
++=
φπ
2-73
e
2
||||0||
2)( kk DdkMHBE
ssy
++=
π
2-74
com
s
MHB
π
4
00
+
=
.
40
Deve-se notar que é possível incluir outras formas de anisotropia neste Hamiltoniano,
tais como a quadruplicidade no plano de anisotropia, mas as dificuldades aumentam conside-
ravelmente se H
0
não for paralelo ao eixo fácil. Assim, por simplicidade, assume-se que H
0
é
paralelo ao eixo fácil, o que faz com que a influência da quadruplicidade da anisotropia sim-
plesmente troque H
0
por H
0
+ H
a
, onde
H
a
é o campo efetivo de anisotropia no plano. Caso
H
0
seja aplicado ao longo do eixo duro e sendo H
0
suficientemente intenso para alinhar a
magnetização ao longo do eixo duro, então H
0
é substituído por H
0
- H
a
. Sendo
γ
o fator gi-
romagnético, neste modelo de Arias e Mills, a frequência de ondas de spin é dada por:
[
]
2/1
||||||
)()()(
kkk
yx
EEω
γ
=
, 2-75
enquanto num experimento de FMR, onde o modo com vetor de onda
0
||
=
k
é excitado, sua
frequência, para um filme com magnetização paralela a superfície, é dada pela expressão:
)4(
00 ssFMR
MHHH
πγω
++=
. 2-76
Substituindo-se as equações 2-73 e 2-74 em 2-75 e mantendo-se apenas os termos até
segunda ordem no vetor de onda, o que pode ser feito pois para um filme fino a contribuição
quadrática da energia dipolar ao vetor de onda é pequena, tem-se:
.)()sen][(2)(
2
||00
22
00||
22
||
2
||
DkHHBHBHdkM
sssFMR
++++=
γφπγωω
k
k
2-77
Na expressão acima nota-se que, no limite para filmes finos, a energia dipolar gera um
termo linear com o vetor de onda na relação de dispersão de onda de spin. a interação de
troca gera um termo quadrático e positivo, o que implica que poderá haver vetores de onda
finitos com modos degenerados com o modo de FMR. A partir da equação 2-77 percebe-se
que a faixa angular de mágnons que podem ser espalhados, ou, que são degenerados com o
modo uniforme, é dada por:
s
HB
H
+
<
0
0
2
||
sen
k
φ
. 2-78
A Figura 2-13 apresenta a relação de dispersão para duas situações limites, calculadas
a partir de valores típicos para os filmes estudados neste trabalho. Depois que o modo de
FMR é excitado, defeitos no material espalham estes modos de FMR com vetor de onda k
||
=0
em modos com vetores de onda finitos, diferentes de zero, e com mesma frequência.
41
0 1 2 3 4
1
2
3
4
φ
k
||
= 0
φ
k
critico
||
= 2°
k
||
x 10
4
(cm
-1
)
ω
ω
ω
ω
(k
||
)
(
GHz)
Figura 2-13: Relação de dispersão de onda de spin (2-77). A linha preta mostra que haverão mágnons com vetor
de onda finito degenerados em frequência com o modo uniforme. A linha vermelha representa a relação de dis-
persão calculada para o ângulo crítico a partir do qual não haverão mágnons degenerados em frequência com o
modo uniforme. Os parâmetros escolhidos são valores típicos para um filme de Py: D = 2.5x 10
-17
T m
2
, H
s
=1 T,
4
π
M
s
= 1 T,
γ
/2
π
= 35 kHz/(A/m), H
0
= 0.01 T e d = 100 Å. Aqui, o valor considerado para d é relativo a uma
camada magnética nos filmes estudados.
Conhecendo a relação de dispersão do modo de FMR, resta ainda escrever uma ex-
pressão para a largura de linha devido a contribuição do espalhamento de mágnons. Para isso,
vamos tratar o Hamiltoniano em 2-72 como um Hamiltoniano de spin de ordem zero, com
m
x,y
(k
||
) sendo um operador e trocando
)(
||
*
,
k
yx
m
por seu Hermitiano adjunto
)(
||,
k
+
yx
m
. Tem-
se a seguinte relação de comutação [24]:
||||
,0||||
)](),([
kk
kk
+
=
δµ
syx
Mimm
2-79
onde
h
γ
µ
=
0
e os demais operadores comutam entre si.
O formalismo consiste em examinar a equação de movimento:
( )
[
]
[
]
[
]
)0,(,),,(
)(
)(),()(,
||||||||||
kkkkk
++
+=
βααβαβ
θ
δ
mHtm
t
immttS
t
i
h
h
2-80
cuja função resposta é:
42
( )
[
]
)0,(),,(
)(
,
||||||
kkk
+
=
βααβ
θ
mtm
t
itS
h
. 2-81
Na expressão acima os operadores estão escritos na representação de Heisenberg:
x
e
e
=
β
α
enquanto que
θ
(t) é a função de Heaviside (igual a 1 para t > 0 e igual a 0 para
t < 0 ). É interessante fazer uso de uma transformada de Fourier do tipo:
( ) ( )
= dtetSS
ti
ω
αβαβ
ω
,,
||||
kk
. 2-82
Esta função, quando considerada como uma função da frequência, tem pólos quando
ω
é igual às frequências das ondas de spin do sistema. Na presença de amortecimento ou espa-
lhamento os pólos são deslocados do eixo real e a parte imaginária da frequência é a largura
de linha ou o inverso do tempo de vida do modo.
Para avaliar a contribuição do espalhamento de mágnons é necessário introduzir os
termos que representam este espalhamento no Hamiltoniano e avaliar sua influência na estru-
tura de
(
)
ω
αβ
,
||
k
S
. O termo de espalhamento de mágnons a ser introduzido na expressão 2-72
é:
+
+
+
+
+
=
||||
||||
||||
,
||||||||
,
||||||||
,
||||||||2
)(),()(
2
1
)(),()(
)(),()(
2
1
kk
kk
kk
kkkk
kkkk
kkkk
yyyy
yxyx
xxxx
mVm
mVm
mVmV
2-83
onde
(
)
||||
,
kk
αβ
V
são os elementos matriciais da interação de mágnons. Na presença deste
termo de interação, a expressão 2-81 pode ser escrita de forma mais geral:
( )
[
]
)0,(),,(
)(
;,
||||||||
kkkk
=
+
βααβ
θ
mtm
t
itS
h
. 2-84
Considerando que os defeitos responsáveis pelo espalhamento estão arranjados na su-
perfície de forma aleatória pode-se tomar a média de todas as quantidades sobre o ensemble
de realizações dos defeitos, de forma que a função de correlação
(
)
ω
αβ
;,
||||
kk
S
se torna dia-
gonal no vetor de onda, uma vez que o processo de média restaura a invariância translacional.
Denotando a média por brackets, podemos escrever:
(
)
(
)
(
)
ωδωδω
αβαβαβ
;;,;,
||,||||,||||
||||||||
kkkkk
kkkk
SSS
==
. 2-85
43
Nosso interesse está no modo de FMR, com vetor de onda k
||
= 0, então, precisamos
escrever
(
)
ω
αβ
;0
||
=
k
S
. Assim, tem-se:
( )
[
]
[ ]
Γ++
+
==
iHHBgi
MBH
S
sFMR
ss
00
22
0
2
||
;0
ωγωω
γ
ω
αβ
k
, 2-86
onde:
[ ]
=Γ
||
)(),0(
2
||||
22
k
kk
ωωδ
ω
πγ
N
M
FMR
s
2-87
e
2
||
*
||
2/1
00
||0||0
2
||
)],0(),0([)]([
),0(),0()(),0(
kk
kkk
++
+
+=
xyxys
yyxxs
VVHBHi
VHVHBN
γ
. 2-88
A dependência em campo da largura de linha de FMR pode ser escrita como:
M
s
res
H
M
G
H
2
2
+=
γ
ω
. 2-89
Em 2-89, o primeiro termo representa a contribuição do processo de relaxação intrín-
seco à largura de linha, conhecido por amortecimento de Gilbert, e o segundo termo represen-
ta a contribuição devido ao espalhamento de mágnons, sendo esta representada por
)](/[
00
22
s
M
HBHH ++Γ=
γ
. Agora, para calcular este termo, faz-se necessário estabe-
lecer modelos para a geometria dos defeitos. Assim como Arias e Mills [29], adotamos um
modelo de defeito como o ilustrado na Figura 2-14, que pode estar presente na forma de ilhas
ou depressões. O tamanho deste defeito é considerado pequeno em comparação com o com-
primento das ondas de spin envolvidas no espalhamento de mágnons. No modelo considera-
do, os defeitos são ditos superficiais porém, na prática, outras inomogeneidades, como dife-
rentes tamanhos de grão, também podem atuar como centros de espalhamento de mágnons.
Figura 2-14: Geometria de um defeito retangular com lados a, b e c nas direções x, y e z, respectivamente.
44
A consideração de que os defeitos são suficientemente pequenos leva a uma contribui-
ção predominante da anisotropia de superfície no cálculo dos elementos matriciais. A expres-
são para a largura de linha devido ao espalhamento de mágnons dentro deste modelo é:
+
×
++
×+++
++
=
2/1
0
2/1
0
12
0
2
00
2
0
2
00
22
)2(
)(
sen1)(
1)(
)(
8
s
s
s
s
s
M
HB
H
a
c
HB
c
a
HHBH
HHBD
pbH
H
π
2-90
onde p é a fração da superfície coberta pelo defeito. A equação 2-90 pode ser reescrita levan-
do-se em conta que usualmente, em experimentos de FMR,
s
MH
π
4
<<
, conforme sugerido
por Azevedo e colaboradores em [31]:
2/1
0
2/1
0
2
2
)(
16
s
s
M
HB
H
D
sH
H
+
=
π
2-91
sendo s um fator geométrico característico da rugosidade da superfície da amostra,
= 1
2
c
a
pbs
. A dependência da largura de linha em frequência pode ser relacionada à
dependência da largura de linha em campo, calculada acima, da seguinte forma [32, 33]:
HfPf
A
=
)(
γ
, 2-92
onde P
A
(f), para um filme magnetizado no plano, é:
2
0
4
1)(
+=
f
M
fP
s
A
π
µγ
. 2-93
Conhecendo esta conversão, a dependência em frequência da largura de linha, fazendo
uso da expressão 2-90, pode ser escrita:
+
×
+
++
×+++
++
=
2/1
0
2/1
0
1
2
0
2
0
2
00
2
0
2
00
22
)(
4
1
1)(1)(
)(
8
s
s
ss
s
s
HB
H
sen
f
M
a
c
HB
c
a
HHBH
HHBD
pbH
f
π
µγ
π
γ
2-94
ou, pode-se incluir os termos associados a geometria do defeito em um único termo,
Γ
, e a
expressão acima pode ser reescrita:
45
( ) ( )
+
Γ=
KS
K
A
M
HMH
HH
HfPf
24
sin
12
π
γ
. 2-95
No presente trabalho a contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha de
FMR é considerada na forma como a expressão 2-95. O termo que representa a amplitude da
contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha de FMR,
Γ
, tem fraca dependên-
cia com o campo aplicado e, neste trabalho, será considerado constante.
Outra abordagem pode ser encontrada na literatura, ainda dentro deste modelo, e é a-
presentada por Kuanr e co-autores [34]. Nesta abordagem os autores sugerem escrever
f
da
seguinte forma:
(
)
(
)
(
)
fHMHafff
us
ext
πππγ
4/2422/
int
Γ+++=+=
, 2-96
onde:
(
)
(
)
ss
HBHDsH +=Γ
0
22
//16
πγ
2-97
e
(
)
Df
HBHsH
f
ss
M
2
0
22
2
4
/16
π
γ
+
=
. 2-98
Como a abordagem acima requer o conhecimento de detalhes geométricos dos defeitos
presentes na amostra, ela não é a mais adequada para este trabalho.
3
MAGNETOIMPEDÂNCIA E LARGURA DE LINHA
Neste capítulo é introduzida a técnica experimental conhecida por magnetoimpedância
(MI), utilizada neste trabalho como ferramenta no estudo dos parâmetros de amortecimento da
magnetização. A magnetoimpedância é caracterizada por uma grande variação da impedância
elétrica de um material devido à aplicação de um campo magnético. Essa variação surge da
modificação da profundidade de penetração, que por sua vez depende da permeabilidade
magnética e da frequência da corrente na medida da impedância. a permeabilidade ac de-
pende do campo aplicado e também da frequência. A resposta do material em termos da im-
pedância (Z) terá um termo real (R) e outro imaginário (X), associados a efeitos dissipativos e
à modificação do fluxo magnético no material, respectivamente.
O efeito MI pode ser explicado em termos de mudanças na impedância complexa,
iXRZ
+
=
, dos materiais utilizando fundamentalmente a eletrodinâmica clássica. De modo
geral, a impedância é determinada pela razão entre os campos elétrico, E, e magnético, B, no
material. Portanto, a fim de se obter uma expressão para a impedância, deve-se determinar
preliminarmente esses dois campos.
O efeito da passagem de uma corrente elétrica, I, através de um fio é a produção de um
campo magnético circular que pode magnetizar o material nesta direção. Por esse motivo,
para calcular a impedância de um condutor na forma de fio pode-se fazer a seguinte aproxi-
mação:
B
µ H
φ φ φ
= . 3-1
Esta aproximação é válida considerando-se 0
φ
H ou, no caso da medida de Z, para
uma corrente I baixa o suficiente. Assim, no caso de um fio condutor magnético, tal campo
terá simetria cilíndrica e nos permitirá trabalhar apenas com a permeabilidade circunferencial
do material,
φ
µ
.
O procedimento para o cálculo da impedância em um condutor cilíndrico foi apresen-
tado originalmente no livro de Landau e Lifshitz [35], onde a impedância de um fio, percorri-
do por uma corrente oscilatória de amplitude I
o
e frequência f, é calculada através das equa-
ções de Maxwell para o eletromagnetismo. Conforme cálculo detalhado na referência [36], a
impedância de um fio de raio a, medida a uma frequência ω, é dada por:
47
)(
)(
2
1
1
0
kaJ
kaJ
kaRZ
DC
=
, 3-2
onde J
0
e J
1
são funções de Bessel de ordem zero e de primeira ordem, respectivamente. Para
uma fita com largura t e comprimento l a impedância é dada por:
(
)
kakaRZ
dc
cot
=
. 3-3
Para ambas as geometrias, k está associado à profundidade de penetração por
2
2
m
i
k
δ
=
e
(
)
2/1
=
φ
σωµδ
m
, onde
σ
é a condutividade do material. De modo geral, para os
casos em que a permeabilidade independe da frequência, essa expressão mostra que, para fre-
quências baixas, enquanto Re{Z} é praticamente constante, Im{Z} cresce linearmente com a
frequência. Já para frequências suficientemente altas, ambas as componentes de Z crescem
proporcionalmente a
f
, como se vê na Figura 3-1.
100 1k 10k 100k 1M
0.01
0.1
1
10
µ
= 1000
µ
o
a = 200
µ
m
ρ
= 100
µΩ
cm
Freqncia (Hz)
Z/R
DC
Re{Z/R
DC
}
Im{Z/R
DC
}
Figura 3-1 Evolução das partes real e imaginária de Z com a frequência medida para um fio amorfo, CoFeSiB,
com raio igual a 200
µ
m.
Para um material ferromagnético, a dependência da permeabilidade com o campo ex-
terno aplicado é o principal mecanismo que controla a magnetoimpedância. Sendo assim, o
48
desafio de explicar a resposta da impedância de uma determinada amostra a um campo exter-
no é equivalente ao problema em que se propõe entender a dependência de sua permeabilida-
de magnética com este campo magnético. De modo geral, a permeabilidade pode ser escrita
como um tensor complexo que depende não apenas da frequência e do campo externo mas
também de outros parâmetros, tais como a amplitude da corrente de medida, anisotropias
magnéticas presentes no material, distribuição de tensões internas e externas e da microestru-
tura particular da amostra. O efeito da temperatura também deve ser considerado, uma vez
que ela exerce forte influência em todos os termos da expressão para a energia livre magnética
da amostra.
Uma descrição teórica da MI é
bastante útil para entender resultados experimentais e
para o desenvolvimento de novos materiais que se valham de alto efeito MI. Vários modelos
teóricos de MI já foram desenvolvidos. A principal tarefa da teoria é encontrar uma expressão
apropriada para descrever a permeabilidade circunferencial efetiva que descreva bem a res-
posta da estrutura de domínios particular percorrida por uma corrente ac. Ainda, o movimento
de paredes de domínios e a rotação dos momentos magnéticos também podem contribuir para
a permeabilidade. Modelos quase estáticos, que incluem estes dois termos, foram apresen-
tados por Atkinson e Squire [37], Machado e Rezende [38] e por Chen e colaboradores [39].
Estes modelos, no entanto, não contemplam efeitos dinâmicos como a FMR, sendo válidos
somente para frequências relativamente baixas.
Os estudos de MI com base na permeabilidade concentram-se nos efeitos de sua varia-
ção com a anisotropia, como, por exemplo, indução de anisotropias por recozimentos [40] e
por aplicação de tensões mecânicas [41]. A permeabilidade também tem dependência com a
intensidade da corrente de sonda [42] e com sua frequência, f. Assim, o campo magnético
associado à corrente de sonda pode promover uma magnetização no material reduzindo dessa
forma sua permeabilidade, mas, de acordo com a frequência dessa corrente, diferentes proces-
sos de magnetização podem ser excitados, o que altera também de forma diferente a permea-
bilidade.
A influência do amortecimento produzido por correntes parasitas no movimento de pa-
redes de domínios, na MI, foi estudada por Panina e Mohri, [43], e por Chen e colaboradores
[39]. Com o aumento da frequência as correntes parasitas também aumentam, aumentando
desta forma o amortecimento das paredes de domínios e então a contribuição da rotação dos
momentos passa a ser dominante [44].
A observação da estrutura de domínios revela que para frequências acima de 1 MHz,
quando um alto efeito MI é observado, as paredes de domínios estão completamente estáticas
49
[45]. Assumindo paredes de domínios rígidas e considerando apenas a rotação dos momentos,
a teoria para MI em altas frequências pode ser simplificada.
Das observações feitas aagora pode-se notar que modelos distintos são necessários
para representar os efeitos observados em diferentes faixas de frequências. Como dito ante-
riormente, a profundidade de penetração magnética depende da frequência da corrente usada
para excitar a amostra, além da permeabilidade. Para frequências muito baixas a profundidade
de penetração calculada pode se tornar maior do que as dimensões transversais da amostra, até
mesmo se o material possuir uma alta permeabilidade magnética. Por outro lado, para fre-
quências muito altas a corrente fluirá por uma região muito próxima da superfície do fio e,
neste caso, a impedância passa a depender muito fortemente de efeitos de superfície. Devido a
esse fato é usual classificar o efeito MI de acordo com o regime de frequências no qual se
realizam as medidas. No entanto, esse tipo de classificação pode ser bastante alterado visto
que a frequência que limita cada regime depende principalmente das dimensões do material e
do campo magnético externo. De modo geral, os três regimes de frequências são assim classi-
ficados:
(i)
Regime de baixas frequências ( a
m
>>
δ
).
Para freqüências muito baixas a profundidade de penetração calculada torna-se muito
maior do que as dimensões transversais da amostra e, neste caso, a maior variação na impe-
dância é devido a sua componente imaginária. Neste regime de frequências o efeito magneto-
indutivo é predominante e ocorrem processos de magnetização devido ao movimento de pare-
des de domínios e devido à rotação dos momentos magnéticos [46].
(ii)
Regime de frequências intermediárias ( a
m
~
δ
).
Nesta faixa de frequências as mudanças na impedância complexa da amostra são i-
dentificadas como efeito magnetoimpedância gigante (GMI). As mudanças drásticas da impe-
dância são interpretadas em termos do efeito “skin” clássico em um condutor com permeabi-
lidade magnética escalar, ou seja, ocorre uma sensível variação na profundidade de penetra-
ção da amostra, associada a fortes mudanças na permeabilidade magnética em função do cam-
po magnético aplicado [47]. É neste regime de frequências que a MI é em geral estudada [48]
e [44].
(iii)
Regime de altas frequências ( a
m
<<
δ
).
Basicamente caracterizado pela presença de ressonância ferromagnética, que ocasiona
grandes variações na impedância da amostra em virtude de variações na permeabilidade. A
rotação da magnetização domina completamente os processos de magnetização [49].
50
Os modelos citados acima permitem obter a impedância da amostra quando se conhece
sua permeabilidade. É importante observar que, na FMR, enquanto a componente real da
permeabilidade cruza por zero, a componente imaginária é máxima. Isso é refletido na
magnetoimpedância permitindo que seja determinada experimentalmente a relação de
dispersão de FMR de uma amostra. Como a quantidade mensurável é a impedância complexa,
mas a quantidade interessante do ponto de vista da análise dos materiais é a permeabilidade,
utiliza-se a relação entre ambas para extrair a permeabilidade de uma medida de impedância
[50]. Isso é feito avaliando que em uma medida de Z versus f com campo DC fixo a única
quantidade que varia, além da própria frequência, é a permeabilidade. Logo, a derivada de Z
com relação à f deverá ser proporcional à
µ
φ
. Pode-se demonstrar isto na forma que segue.
Considerando-se um condutor cilíndrico, no limite de 0
ac
I e
λ
<<
l a impedância
dedeste condutor é descrita pela expressão:
)(
)(
2
1
1
0
kaJ
kaJ
kaRZ
DC
=
. 3-4
Sendo:
ωω
d
dka
dka
dZ
d
dZ
=
3-5
onde
)(
)(
2
1
2)(
)(
2
1
2
0
1
0
kaJ
kaJ
kaR
kaR
kaJ
kaJ
R
dka
dZ
DC
DC
DC
=
3-6
e
ωω
2
d
kadka
=
. 3-7
Substituindo (3-6) e (3-7) em (3-5) temos:
2
1
0
22
1
0
)(
)(
4
)(
4
)(
)(
)(
2
k
=
kaJ
kaJR
ka
R
ka
kaJ
kaJ
a
R
d
dZ
DCDC
DC
ωωωω
, 3-8
que pode ser reduzido a:
df
dZil
R
ZZ
d
dZ
DC
ππ
µ
ωω
2
1
4
1
=
=
. 3-9
Assim, uma expressão para a permeabilidade pode ser obtida em termos da impedân-
cia medida:
51
=
DC
R
ZZ
d
dZ
il
1
4
ωω
π
µ
. 3-10
Sendo
,
iX
R
Z
+
=
podemos separar a expressão 3-10 em duas expressões distintas,
que representarão as componentes real e imaginária da permeabilidade:
++=
DC
R
XRX
d
dX
l
ωωω
π
µ
24
}Re{
, 3-11
e
(
)
+=
DC
R
XRR
d
dR
l
ωωω
π
µ
22
4
}Im{
, 3-12
onde
0
µµµ
r
= sendo
r
µ
é a permeabilidade relativa.
Considerando-se uma fita condutora com largura t e comprimento l, a impedância des-
ta fita pode ser descrita pela expressão:
(
)
kakaRZ
dc
cot
=
. 3-13
Novamente:
ωω
d
dka
dka
dZ
d
dZ
=
, 3-14
ωω
2
d
kadka
=
3-15
(
)
)(cot1)cot(
2
kakaRkaR
dka
dZ
DCDC
+=
. 3-16
A substituição das expressões 3-15 e 3-16 em 3-14 permite obter uma expressão para a
permeabilidade e esta expressão pode ser separada em suas componentes real e imaginária,
que são:
+
=
DC
R
XRXX
al
t
ωωω
µ
φ
2
4
, 3-17
e
+
=
DC
R
XRRR
al
t
ωωω
µ
φ
22
4
22
. 3-18
Como visto das equações 3-11, 3-12, 3-17 e 3-18, o espectro em frequências da per-
meabilidade pode ser determinado a partir da derivada do espectro em frequências da impe-
52
dância, medido a um campo fixo, conforme ilustrado na Figura 3-2. Nesta figura são apresen-
tadas as componentes real e imaginária da impedância (triângulos fechados) e as componentes
real e imaginária da permeabilidade (círculos abertos).
A permeabilidade medida é a permeabilidade efetiva, na qual a contribuição ao alar-
gamento da linha de absorção devido ao efeito “skin”, aqui chamado de termo de amorteci-
mento devido a correntes parasitas, está incluído. Porém, a permeabilidade obtida como
descrito acima, considerando-se o eletromagnetismo clássico, é a permeabilidade intrínseca.
Os valores de largura de linha em frequência (f) apresentados na seção de resultados deste
trabalho são obtidos das curvas de permeabilidade intrínseca, logo, o amortecimento devido a
correntes parasitas não deve estar presente. Na prática, temos o espectro da permeabilidade
em frequência para um conjunto de valores em campo, podendo-se obter um gráfico de largu-
ra de linha em frequência em função do campo aplicado. É este conjunto de dados que será
ajustado considerando-se os diferentes mecanismos que contribuem ao alargamento da linha
de ressonância.
Figura 3-2: Espectro de impedância em função da frequência (triângulos fechados) e respectiva permeabilida
de
(círculos abertos) extraída dos mesmos. Resultado obtido para um microfio de CoFeSiB, como feito,
sem tensão
aplicada e H = 30 Oe.
100M 1G
0
500
1000
-1500
0
1500
3000
Re{Z}
Im{Z}
Impedância (
)
Frequência(Hz)
Permeabilidade (
µ
µ
µ
µ
/
µ
µ
µ
µ
o
)
Re{
µ
µµ
µ
}
Im{
µ
µµ
µ
}
4
AMOSTRAS
Este capítulo é dedicado a descrição das amostras estudadas neste trabalho. Apresen-
tam-se as principais características dos microfios amorfos e dos filmes multicamadas estuda-
dos, bem como os métodos de fabricação destes materiais.
4.1
MICROFIOS AMORFOS
Materiais amorfos se caracterizam pela ausência de ordem topológica, translacional,
de longo alcance. No entanto, podem existir unidades que apresentem ordem de curto alcance,
orientadas aleatoriamente. Como consequência da ausência de ordem cristalina estes materiais
em geral apresentam comportamento magnético macio, isto é, têm alta permeabilidade mag-
nética, baixa coercividade e poucas perdas por histerese magnética. Estas propriedades têm
importantes aplicações tecnológicas pois o material apresenta uma rápida resposta ao estímulo
de campos magnéticos. As aplicações tecnológicas de materiais amorfos são baseadas em
características como:
Ausência de anisotropia magnetocristalina: tal anisotropia, associada com a
simetria cristalina não aparece no estado amorfo. Esta característica está rela-
cionada à permeabilidade magnética elevada e força coerciva pequena.
Preparação relativamente fácil de ligas com magnetostricção zero, em diferen-
tes composições.
Resistividade elétrica mais elevada do que a dos materiais cristalinos, o que
reduz as perdas por correntes parasitas.
Dureza e rigidez mecânica elevadas.
A primeira parte deste trabalho de doutorado é dedicada ao estudo dos principais efei-
tos que contribuem para o amortecimento da precessão da magnetização em microfios amor-
fos recobertos por vidro. Meu trabalho de mestrado, [36], foi realizado com estas amostras e
temos um bom conhecimento da estrutura magnética das mesmas. Fizemos a caracterização
magnética deste material e somos capazes de descrever sua estrutura de domínios. Este co-
nhecimento prévio será de grande valia na observação da evolução dos parâmetros de amorte-
54
cimento. Fios amorfos revestidos por vidro, AGCW (amorphous glass covered wires), foram
preparados pela primeira vez em 1974 por Wiesner e Schneider, [51], utilizando o método
“glass-coated melt spinning”. A figura 4-1 ilustra esquematicamente um AGCW, com seu
núcleo metálico envolto por uma cobertura de vidro. As espessuras típicas para a cobertura de
vidro variam de 2 a 15
µ
m e o raio do núcleo metálico varia de 3 a 30
µ
m.
Pesquisas relacionadas à preparação e às propriedades dos microfios amorfos são rea-
lizadas desde 1980. Em 1981, Ohnaka [52] propôs o novo método “in-rotating-water quen-
ching” para a preparação de fios amorfos. Um segundo estágio de pesquisa relacionado aos
AGCW começou em 1994 e prossegue até hoje uma vez que muitas propriedades a serem
investigadas. Nestas pesquisas o foco é dado aos aspectos relacionados às propriedades mag-
néticas, ao comportamento dos AGCW e às suas possibilidades de aplicação tecnológica.
Muitos resultados novos foram publicados e alguns protótipos de sensores magnéticos basea-
dos nos AGCW foram desenvolvidos e apresentados, [53] e [54].
Figura 4-1: Vista esquemática de um AGCW com as dimensões típicas indicadas. R
v
e R
m
representam as espes-
suras usualmente apresentadas para a cobertura de vidro e para o raio do núcleo metálico, respectivamente.
4.1.1
T
ÉCNICA DE FABRICAÇÃO DE MICROFIOS RECOBERTOS POR VIDRO
Os microfios amorfos recobertos por vidro aqui estudados foram produzidos por Horia
Chiriac, no National Institute of Research and Development for Technical Physics, România.
Estes microfios são fabricados utilizando o método Taylor-Ulitovski, [55], também conhecido
por “glass-coated melt spinning”. Neste método, esquematizado na Figura 4-2 os constituintes
R
v
= 2 – 15 µ
µµ
µm
R
m
= 3 – 30 µ
µµ
µm
R
v
= 2 – 15 µ
µµ
µm
R
m
= 3 – 30 µ
µµ
µm
55
metálicos que irão formar o núcleo metálico do microfio são colocados no interior de um tubo
de vidro “pyrex” com uma das extremidades fechadas. Uma bobina indutora produz um alto
campo, a frequência elevada, que funde quase simultaneamente o metal e o vidro. Através de
um sistema mecânico, o fio é extraído e em seguida resfriado por um jato de água que solidi-
fica o material fundido ainda em sua fase amorfa, formando um fio muito fino composto por
um núcleo metálico revestido por vidro. A fim de impedir a oxidação do material, durante a
fusão o interior do tubo de vidro é mantido em vácuo ou atmosfera de s inerte, argônio em
geral. O revestimento de vidro garante isolamento elétrico e impede a corrosão do núcleo me-
tálico.
Figura 4-2: Representação esquemática do método Taylor-Ulitovski utilizado para a fabricação de microfios
amorfos recobertos por vidro.
A estabilidade inicial do metal derretido é essencial para a estabilidade e a continuida-
de do processo. A massa da liga metálica e a espessura do tubo de vidro são importantes do
ponto de vista das dimensões finais e das propriedades do AGCW. O diâmetro do metal de-
pende principalmente da velocidade com que o fio é extraído pelo sistema mecânico, sendo
este maior quando a velocidade diminui. A espessura do recobrimento de vidro depende prin-
cipalmente da velocidade de escoamento do tubo.
Um conjunto de fatores se soma para determinar o produto final. Para uma dada com-
posição de liga metálica e vidro, as dimensões características e as propriedades do AGCW
obtido são determinadas pela temperatura de fusão da liga metálica, viscosidade da liga na
tubo de vidro
fluído para
resfriamento
microfio amorfo
recoberto por vidro
indutor
liga metálica
tubo de vidro
fluído para
resfriamento
microfio amorfo
recoberto por vidro
indutor
liga metálica
56
temperatura de trabalho, tensão de superfície da liga nesta temperatura, reações químicas en-
tre a liga metálica e o vidro nesta escala de temperatura, reações químicas entre a liga, o vidro
e a atmosfera dentro do tubo.
As características do AGCW são influenciadas também por propriedades básicas do
vidro, como sua temperatura de fusão. Ainda, o vidro não deve cristalizar durante o processo,
isto é, a temperatura da cristalização do vidro deve ser muito mais elevada do que a tempera-
tura de trabalho.
Do ponto da vista da correlação entre as propriedades do metal e do vidro, há três fato-
res que devem ser considerados:
1.
O coeficiente de expansão térmica do vidro deve ser aproximadamente igual ou
ligeiramente menor que o do metal, caso contrário as tensões térmicas geradas du-
rante o resfriamento podem ser tão altas que o vidro se fragmenta e então não se
consegue a produção de um fio contínuo.
2.
A viscosidade do revestimento de vidro deve alcançar um valor alto antes da soli-
dificação do metal. Se o metal for solidificado e o vidro continuar a se estender, o
fio metálico poderá se romper.
3.
As reações químicas entre o metal e o vidro, assim como as reações entre o metal
e a atmosfera dentro do tubo de vidro, devem ser insignificantes.
Tomadas as devidas precauções, o produto final obtido é um microfio amorfo recober-
to por vidro, conforme ilustrado na Figura 4-3.
44µm
25µm
44µm
25µm
Figura 4-3: Imagem de um microfio amorfo recoberto por vidro, CoFeSiB, com diâmetro total de 44
µ
m e diâ-
metro do núcleo metálico igual a 25
µ
m. Esta é uma imagem da amostra estudada neste trabalho, como feita.
57
4.2
FILMES FINOS
Filmes finos são fabricados pela deposição individual de átomos ou moléculas em um
substrato. Um filme fino é definido como um material com uma de suas dimensões reduzida
criado por condensação, uma a uma, de átomos/moléculas/íons de matéria. Historicamente,
filmes finos têm sido utilizados na fabricação de dispositivos eletrônicos, revestimentos ópti-
cos, instrumentos de revestimentos duros e peças decorativas. Filmes finos são materiais tra-
dicionais que fazem uso de bem estabelecida tecnologia, entre outras, a deposição por sputte-
ring. Esta técnica de deposição será descrita na seção seguinte.
O crescimento de filmes finos apresenta características peculiares. O início do cresci-
mento de um filme fino, independente do material ou técnica de deposição, se dá por um pro-
cesso de nucleação aleatória seguido por nucleação e estágios de crescimento. Nucleação e
estágios de crescimento são dependentes das condições de deposição, tais como temperatura
de crescimento, taxa de crescimento, substrato e química. A nucleação e os estágios de cres-
cimento podem ser significativamente modificados por agentes externos, tais como bombar-
deamento de elétrons ou íons. A microestrutura do filme depende das condições da deposição
na fase de nucleação.
O processo de crescimento pode ser sumarizado como consistindo de um processo de
nucleação estatístico, o crescimento controlado de núcleos tridimensionais por difusão de su-
perfície e formação de uma estrutura de rede e o seu posterior preenchimento formando um
filme contínuo. Dependendo dos parâmetros termodinâmicos da deposição e da superfície do
substrato, a nucleação inicial e os estágios de crescimento podem ser descritos em três dife-
rentes modelos [56], estocásticos ou determinísticos, descritos em função da energia térmica,
energia de reação, energia de difusão e energia de desorção. Os diferentes modos de cresci-
mento são descritos na sequência e representados esquematicamente na Figura 4-4.
(a) Crescimento tipo Volmer-Weber (ilhas): ocorre a nucleação de pequenos aglome-
rados, clusters”, diretamente na superfície do substrato. Os cleos, inicialmente separados,
vão crescendo e coalescendo, originando depois um filme contínuo. Este tipo de crescimento
ocorre quando os átomos que compõem o filme se ligam mais fortemente entre si do que ao
substrato.
(b) Crescimento tipo Frank-van der Merwe (camadas): a extensão dos núcleos meno-
res acontece fortemente em duas dimensões, resultando na formação de camadas planas. Nes-
58
te modo de crescimento os átomos estão inicialmente mais fortemente ligados ao substrato do
que entre eles mesmos.
(c) Crescimento tipo Stranski-Krastanov (misto de ilhas e camadas): é uma combina-
ção dos modos anteriores (ilhas mais camadas). Neste caso, após a formação de uma ou mais
monocamadas, o crescimento de camadas subsequentes se torna desfavorável e as ilhas são
formadas.
Figura 4-4: Possíveis modos de crescimento de filmes finos.
As propriedades básicas do filme como composição, fase cristalina, direção de aniso-
tropia, espessura e microestrutura são controladas pelas condições de deposição, o que faz
com que esta classe de materiais exiba propriedades únicas, que não são observadas em mate-
riais na forma “bulk”.
4.2.1
D
EPOSIÇÃO DE FILMES FINOS
As tecnologias de deposição de materiais podem ser consideradas o principal fator a
influenciar no desenvolvimento e melhoramento de dispositivos que envolvem microeletrôni-
ca de estado lido, uma vez que estes são baseados em estruturas materiais criadas por depo-
59
sição de filmes finos. A engenharia eletrônica tem continuamente exigido filmes finos de me-
lhor qualidade e sofisticação para os dispositivos de estado sólido, o que exige uma rápida
evolução das tecnologias de deposição. Os fabricantes de equipamentos têm sido bem sucedi-
dos em seus esforços para cumprir a demanda por melhores e mais econômicos sistemas de
deposição com possibilidades de monitoramento “in situ” e rigoroso controle na determinação
dos parâmetros dos filmes produzidos. Uma razão importante para o rápido melhoramento das
tecnologias de deposição é a melhor compreensão da física e da química de filmes, superfí-
cies, interfaces e microestruturas que se tornou possível pelos notáveis avanços na instrumen-
tação analítica nos últimos trinta anos. A melhor compreensão das propriedades fundamentais
dos materiais leva a um significativo aumento de possibilidades de aplicações tecnológicas e
ao desenvolvimento de novos equipamentos que incorporam estes materiais.
A técnica de deposição mais utilizada para fins científicos é o sputtering. A técnica
consiste na remoção de átomos ou moléculas de um material sólido por transferência de mo-
mentum devido ao bombardeio energético das camadas de sua superfície por íons ou partícu-
las neutras. Apresentando de forma simples, uma alta voltagem é aplicada entre dois discos
circulares, planos e paralelos: um alvo (catodo) e um substrato (anodo), situados a uma pe-
quena distância um do outro. Gás inerte flui entre os eletrodos. Elétrons inicialmente na su-
perfície do alvo causam a ionização do gás, formando um plasma - aproximadamente definido
como uma região confinada com igual concentração de elétron e íons positivos. Como o
plasma é eletricamente neutro e altamente condutivo, uma pequena diferença de potencial
através dele. O potencial negativo do alvo atrai íons positivos da borda do plasma. Estes íons
atingem o alvo e ao penetrá-lo realizam colisões individuais com os átomos do alvo, transfe-
rindo-lhes energia. Como consequência, os átomos do alvo recuam de suas posições de equi-
líbrio, promovendo novos deslocamentos atômicos através de novas colisões em efeito casca-
ta [57]. Eventualmente, parte da energia é transferida aos átomos superficiais e, caso esta e-
nergia cinética seja suficiente, os átomos do alvo podem ser arrancados. Enquanto se desloca
do alvo para o substrato, cada átomo arrancado atinge átomos/moléculas de gás que os defle-
tem e causam perdas de energia. Pela otimização da distância entre o alvo e o substrato, os
átomos se aproximam da superfície do substrato com direções parcialmente randomizadas,
produzindo um filme com espessura razoavelmente uniforme sobre a superfície do substrato.
A deposição por sputtering tornou-se um nome genérico para uma variedade de pro-
cessos. Uma variante destes processos é conhecida por “Magnetron Sputtering” [58], que é
uma técnica de deposição em baixa pressão. Esta é a técnica utilizada no Laboratório de Mag-
netismo e Materiais Magnéticos (LMMM - UFSM) para a produção das amostras na forma de
60
filmes com materiais magnéticos. Neste caso, usam-se campos magnéticos transversais aos
campos elétricos na superfície do alvo. Sputtering com um campo magnético transversal pro-
duz uma série de importantes modificações em relação aos processos básicos. Elétrons secun-
dários gerados no alvo não bombardeiam o substrato porque estão presos em trajetórias cícli-
cas próximas ao alvo e, portanto, não contribuem para o aumento da temperatura do substrato
e não causam danos associados a radiação. A Figura 4-5 mostra uma representação esquemá-
tica de um sistema de deposição por “Magnetron Sputtering” como o encontrado no LMMM.
Figura 4-5: Representação do sistema de deposição disponível no LMMM, utilizado para produção dos filmes
multicamadas objetos de estudo neste trabalho [59]. O sistema de vácuo alcança pressão base de 2 x 10
-7
Torr e
os canhões são alimentados por uma fonte ac (RF) e uma fonte DC. Com os motores de passo o porta substrato e
o “shutter” são giratórios. A atmosfera no interior da câmara é controlada por controladores de gás.
No equipamento disponível no LMMM, o sistema de vácuo alcança pressão base de
2 x 10
-7
Torr e os canhões são alimentados por uma fonte ac (RF) e por uma fonte DC. Neste
sistema de deposição o porta substrato e o “shutter” são giratórios e o seu movimento é con-
trolado por motores de passo. A atmosfera no interior da câmara é controlada por controlado-
res de gás. A distância entre alvo e substrato pode ser ajustada e para a deposição dos filmes
estudados, multicamadas de Permalloy(Py)/Cobre(Cu), esta distância foi mantida constante e
61
igual a 50 mm. A deposição se deu em atmosfera de Argônio (Ar) de 5,2 mTorr e o fluxo de
Ar foi de aproximadamente 21sccm (standard cubic centimeters per minute). O alvo de Py
(Ni
81
Fe
19
) foi colocado no canhão alimentado pela fonte RF, com potência de 65 W e no ca-
nhão alimentado pela fonte DC, com corrente de 25 mA, foi colocado o alvo de Cu. As condi-
ções de deposição foram escolhidas após alguns testes com a intenção de obter uma taxa de
deposição relativamente alta e da mesma ordem para os dois alvos. As taxas de deposição
escolhidas para a deposição das multicamadas foram: Py = 2.68 Å/s e Cu = 1.64 Å/s.
5
APARATO EXPERIMENTAL
Este capítulo apresenta os aparatos experimentais utilizados para a realização das me-
didas nos microfios e nos filmes finos e está dividida em subseções que tratam de técnicas
específicas. A primeira seção será dedicada à descrição da forma como os tratamentos térmi-
cos foram realizados. Ressalta-se aqui que somente os microfios foram submetidos a trata-
mentos térmicos. A segunda seção apresenta as técnicas utilizadas quando da realização das
medidas de magnetização para as duas classes de amostras e a terceira às medidas de impe-
dância, cuja técnica e equipamento utilizados são os mesmos para microfios e filmes finos.
5.1
TRATAMENTO TÉRMICO
No século XIX o físico inglês James P. Joule observou que todo material metálico,
quando submetido à ação de uma corrente elétrica, libera uma quantidade de calor que é pro-
porcional a sua resistência elétrica e ao quadrado da corrente aplicada. Este efeito, que passou
a ser conhecido por efeito Joule em homenagem ao seu descobridor, tem muitas aplicações
que uma grande parte do calor gerado é convertida em energia térmica, aumentando a tempe-
ratura dos condutores. Hoje, os tratamentos térmicos convencionais usam o efeito Joule para
promover os mais variados comportamentos físicos: transições estruturais, elétricas, magnéti-
cas, químicas, e mecânicas. Devido a sua simplicidade e baixo custo, a cnica de aquecimen-
to mais difundida na produção de novos materiais é justamente o aquecimento Joule. Ela é
particularmente adequada para tratamentos térmicos em AGCW pois não é necessário que o
tratamento seja feito em ambiente inerte em função da sua cobertura de vidro.
Como já mencionado anteriormente, as amostras tratadas termicamente são microfios
amorfos recobertos por vidro e, portanto, não apresentam anisotropia magnetocristalina signi-
ficativa, sendo as anisotropias de origem magnetoelástica de papel mais importante. As ten-
sões induzidas devido ao acoplamento vidro-metal se combinam com a magnetostricção,
mesmo que muito pequena, definindo a estrutura de domínios do microfio. Esta estrutura de
domínios pode ser alterada tanto pela aplicação de tensão mecânica como por tratamentos
térmicos apropriados. Uma das dificuldades encontradas no método de aquecimento por efeito
63
Joule é a obtenção da homogeneidade volumétrica na temperatura e a determinação da tempe-
ratura de tratamento.
Em 1993 Allia e colaboradores, [60], apresentaram um modelo simples que permite
estimar a temperatura de um material metálico, em forma de fita, durante o tratamento por
aquecimento Joule. Em 1995, Knobel e colaboradores, [61], apresentaram cálculos semelhan-
tes para fios. Em seguida, Chiriac e colaboradores, [62] e [63], apresentaram os cálculos para
a distribuição radial da temperatura em fios amorfos e também em microfios amorfos recober-
tos por vidro. Em nosso trabalho a temperatura equivalente a uma dada corrente foi calculada
com base nas informações desta última referência.
A análise termodinâmica do aquecimento Joule prevê que uma parte do calor liberado
por efeito Joule aumenta a temperatura da amostra e outra parte é dissipada para o meio. A
taxa de aumento da temperatura da amostra é função de sua capacidade calorífica. Em amos-
tras como as utilizadas neste trabalho, que possuem uma alta razão superfície volume, perdas
por radiação podem ser modeladas pela teoria de Stefan-Boltzmann para a radiação de corpo
negro, ou seja, a taxa de emissão de calor aumenta com a quarta potência da temperatura do
corpo. A relação entre corrente e temperatura e a forma como estas se distribuem ao longo do
material é descrita nas referências [61], [62] e [63]. No caso do material estudado, considera-
se um microfio amorfo revestido por vidro que tenha cleo metálico de raio a e raio total
(metal + vidro) b, como mostra a Figura 5-1. Para simplificar, assume-se que a corrente dis-
tribui-se homogeneamente pelo fio e que transferência de calor relevante ocorre apenas na
direção radial.
A equação de condução de calor de Fourier para ambas as regiões do fio (metal e vi-
dro) são dadas por:
Para o metal (0 ≤ r a):
r
k
j
r
rT
m
m
ρ
2
2
1
d
)(d
=
. 5-1
Para o vidro (ar b):
r
B
r
rT
g
=
d
)(d
. 5-2
64
Figura 5-1: Diagrama esquemático de um microfio amorfo coberto por vidro: a é o raio do núcleo metálico e b é
o raio total do microfio (metal + vidro).
Nestas expressões m se refere ao cleo metálico e g à capa de vidro, j é a densidade
de corrente no fio metálico, ρ é sua resistividade e k
m
sua condutividade térmica. B é um coe-
ficiente que depende do calor gerado no microfio devido ao efeito Joule. As soluções gerais
para as duas regiões são dadas por:
2
2
4
1
)(
r
k
j
CrT
m
m
ρ
=
(metal),
5-3
rBArT
g
ln)( +=
(cobertura de vidro), 5-4
onde A, B e C são coeficientes determinados a partir das condições de contorno, conforme
segue.
O calor na interface metal-vidro deve ser contínuo,
r
dT
k
r
T
k
g
g
m
m
d
d
d
=
. 5-5
Na interface metal-vidro, a temperatura em ambas as regiões deve ser a mesma:
)()( aTaT
gm
= .
5-6
Na superfície externa do fio ocorrem apenas perdas de calor por radiação:
( )
4
0
4
)(
d
d
TbT
kr
T
g
br
g
=
=
σε
,
5-7
65
onde
σ
é a constante de Stefan-Boltzmann,
ε
é a emissividade e T
0
é a temperatura ambiente.
Após algum desenvolvimento, cujos detalhes podem ser encontrados na referência [63], tem-
se as seguintes soluções:
4/1
2
22
4
0
2
22
2
2
1
ln21
4
1
)(
++
+
=
σε
ρ
ππ
ρ
I
ba
T
a
b
k
k
a
r
ka
I
rT
g
m
m
,
5-8
4/1
2
22
4
0
22
2
2
1
ln
2
1
)(
++
=
σε
ρ
ππ
ρ
I
ba
T
r
b
ka
I
rT
g
g
,
5-9
onde
2
ajI
π
= .
Usando as equações 5-8 e 5-9 podemos encontrar a distribuição radial de temperatura
em um AGCW para um dado valor de corrente I. A Figura 5-2 ilustra esta distribuição para I
= 17,8 mA, no caso de um microfio de Fe
77.5
Si
7.5
B
15
com a = 9
µ
m e b = 18
µ
m. Os parâmetros
utilizados pelos autores nos cálculos foram:
κ
m
= 30 Wm
-1
K
-1
,
κ
g
= 1,177 Wm
-1
K
-1
,
ρ
= 1,3×10
-6
Ωm, T
0
= 0 °C.
Figura 5-2: Distribuição radial de temperatura calculada para um microfio amorfo recoberto por vidro, composi-
ção nominal FeSiB, com a = 9
µ
m e b = 18
µ
m. O valor da corrente de tratamento é 17.8 mA. Figura extraída de
[63].
66
Na Figura 5-2 pode-se observar que a temperatura é praticamente homogênea ao longo
do raio do fio e também varia pouco na região do vidro. Convém lembrar que as perdas de
calor nos contatos elétricos feitos para realizar o tratamento térmico não foram levadas em
conta. Certamente, existe um gradiente de temperatura nos extremos do fio, mas aqui este
gradiente de temperatura está sendo desconsiderado uma vez que os extremos das amostras
foram cortados após o tratamento térmico.
Neste trabalho as amostras foram tratadas por aquecimento Joule com correntes de
27.3 mA rms, ac e DC, por 20 minutos e com corrente de 16.5 mA rms, também durante 20
minutos. Os tratamentos com corrente ac foram feitos em frequências de 100 e 500 Hz, mas
somente para corrente de 27.3 mA rms. Os tratamentos foram feitos com o objetivo de pro-
mover um alívio das tensões internas e com isso uma mudança na anisotropia, em relação às
amostras como feitas. A temperatura de recozimento foi estimada como sendo 250 °C quando
a corrente é de 27.3 mA rms e 150 °C quando a corrente é de 16.5 mA rms. Para esta estima-
tiva utilizou-se o procedimento de cálculo descrito anteriormente nesta seção. O tratamento
térmico por aquecimento Joule implica na presença de um campo circunferencial. Não
diferenças entre o tratamento com corrente ac ou corrente DC quando se compara a corrente
(temperatura) a qual a amostra está sendo submetida mas, do ponto de vista do campo magné-
tico gerado pela corrente de tratamento, existem diferenças. Ao fazermos tratamento com cor-
rente alternada (campo alternado) avaliamos eventuais modificações na dinâmica dos domí-
nios magnéticos em relação ao tratamento com campo contínuo. Na superfície do fio o campo
ao qual as amostras são submetidas é estimado, pela lei de Ampère, em 4 Oe. Este campo
seria alto o suficiente para saturar o material na direção longitudinal e possivelmente magneti-
zar uma camada externa da amostra na direção circunferencial.
As temperaturas de tratamento foram escolhidas de forma a manter a estrutura amorfa
do material. O tratamento térmico acima de uma temperatura crítica promove o reordenamen-
to dos átomos e, em geral, a ordem cristalina é estabelecida. Sabendo-se que a resistividade do
material na fase amorfa é maior que na fase cristalina, espera-se uma redução na resistência
quando ocorrer a transição de fase. Na Figura 5-3 observa-se que a resistência aumenta com a
temperatura, o que é típico para a maioria dos metais. No detalhe, observa-se uma pequena
queda no valor da resistência indicando a cristalização do material, o que ocorre em torno de
500 °C, valor próximo ao verificado na referência [62]. Esta observação nos permite conside-
rar que a amostra, após o tratamento térmico a temperatura de 150 e 250 °C, mantém-se na
fase amorfa. Assim, o efeito do tratamento térmico é relaxar tensões armazenadas durante o
processo de fabricação.
67
0 20 40 60
59.0
59.5
60.0
54 56
Tratamento
térmico
Resistência (
)
Corrente (mA)
Tratamento
térmico
T
crist.
= 500
o
C
Rego de cristalização
Figura 5-3: Curva de resistência versus corrente (temperatura) que determina a região de cristalização da amos-
tra. A cristalização ocorre na temperatura de 500 °C e os tratamentos térmicos realizados estão bem abaixo desta
região.
Os contatos elétricos foram feitos com cola prata, após remoção do vidro nas extremi-
dades do microfio. Os tratamentos foram realizados em atmosfera ambiente, uma vez que a
cobertura de vidro evita possíveis oxidações. O tempo de tratamento, de 20 minutos, é sufici-
ente para estabilizar eventuais relaxações produzidas pela temperatura [64].
Para a realização dos tratamentos térmicos, uma fonte de corrente com controle exter-
no foi utilizada. A amplitude e a forma do sinal de controle determinam a intensidade da cor-
rente (temperatura) e o tipo de tratamento, respectivamente. A Figura 5-4 representa um es-
quema deste aparato.
Figura 5-4: Aparato experimental utilizado para a realização de tratamento térmico.
68
5.2
SISTEMA EXPERIMENTAL PARA MEDIDAS DE MAGNETIZAÇÃO
As curvas de magnetização dos microfios sem tensão aplicada e dos filmes finos fo-
ram obtidas usando um Magnetômetro de Amostra Vibrante, VSM (Vibrating Sample Magne-
tometer). O princípio de funcionamento de um VSM é baseado na lei de Faraday, segundo a
qual um fluxo magnético variável no tempo induz uma força eletromotriz em um condutor.
Em um VSM, a amostra é colocada a vibrar em movimento periódico com relação a bobinas
sensoras estacionárias. Um campo magnético uniforme induz um momento de dipolo propor-
cional a magnetização da amostra. Como a amostra está oscilando, uma força eletromotriz é
induzida nas bobinas sensoras. O sinal induzido nas bobinas é uma voltagem dependente do
tempo que pode ser detectada por meio de associações eletrônicas adequadas. No VSM do
LMMM este sinal é lido com um amplificador “lock-in”. Sendo as bobinas estacionárias e o
campo aplicado independente do tempo e uniforme em toda a área da amostra e das bobinas
sensoras, o efeito medido pelas bobinas é devido apenas ao movimento da amostra.
As curvas de magnetização para os microfios, com tensão aplicada, foram adquiridas
através do método indutivo em um circuito aberto. A Figura 5-5 representa o sistema experi-
mental utilizado para a realização destas medidas. A amostra é colocada no interior de um
solenóide longo com compensação para as bordas para assegurar a aplicação de um campo
magnético homogêneo ao longo da amostra. As amostras foram cicladas em seus laços de
histerese por uma onda triangular homogênea de 1 Hz. O campo magnético, alto o suficiente
para saturar as amostras, foi aplicado ao longo do eixo das mesmas. A corrente elétrica apli-
cada ao solenóide é gerada por uma fonte de tensão controlada por um gerador de funções. A
fim de reduzir o ruído no sistema, um filtro passa baixa foi introduzido entre o amplificador e
o solenóide. As variações de fluxo magnético foram detectadas por uma bobina sensora com
400 voltas e comprimento de 4 mm, feita com fio 44 AWG (American Wire Gauge) enrolado
em torno da parte central da amostra cujo comprimento total é de 60 mm. Outra bobina da
captação, com o mesmo número de voltas e a mesma seção transversal, mas enrolada no sen-
tido contrário, foi adaptada ao sistema a fim de compensar a variação de fluxo induzida pelo
campo magnetizante. O sinal foi amplificado, filtrado e digitalizado por um osciloscópio co-
nectado a um computador por uma interface paralela. As medidas foram realizadas com uma
taxa de amostragem de 1 MS/s e com frequência de corte do filtro pré-amplificador de 100
kHz. A aquisição dos dados e o controle das medidas são realizados através de software co-
mercial, a saber, HPVEE. Para a realização destas medidas, uma das extremidades da amostra
69
foi fixa ao porta-amostra e à outra extremidade da amostra foi conectado um corpo de massa
conhecida.
Através do método indutivo, foi detectado o sinal induzido na forma
dt
MAd
N
dt
d
NV
o
)(
µ
=
Φ
=
onde
Φ
é o fluxo magnético, N é o número de voltas da bo-
bina, A é a seção transversal da amostra,
o
µ
é a permeabilidade magnética do vácuo e M é a
magnetização da amostra. Para se obter as curvas de magnetização faz-se a integração numé-
rica do sinal medido. As curvas resultantes foram normalizadas pela magnetização de satura-
ção.
Figura 5-5: Representação do sistema experimental utilizado para a realização das medidas de magnetização com
tensão aplicada.
5.3
SISTEMA EXPERIMENTAL PARA MEDIDAS DE IMPEDÂNCIA
As medidas de impedância apresentadas neste trabalho foram realizadas utilizando-se
um analisador de espectro HP4396B, associado a um kit de impedância HP4396A1 e uma
cavidade de micro-ondas coaxial. A Figura 5-6 apresenta o diagrama do sistema experimental
utilizado.
70
O HP4396B é um instrumento que funciona como analisador de rede, de espectro ou
de impedância. Neste trabalho utilizamos a opção 010 do HP4396B, a qual adiciona a função
medida de impedância ao equipamento. Instalando esta opção no analisador pode-se medir
diretamente parâmetros de impedância [módulo da impedância (Z), resistência (R), reatância
(X), admitância (Y), condutância (G), susceptância (B)] em frequências de 100 kHz até 1.8
GHz. O instrumento utiliza o método de medida I-V (corrente/tensão) para determinar a im-
pedância de uma amostra. Através deste método, uma impedância desconhecida pode ser cal-
culada a partir dos valores de tensão e corrente medidos. A corrente é calculada utilizando a
tensão medida através de um resistor conhecido com baixo valor de resistência. Na prática,
um transformador de baixas perdas é usado no lugar do resistor para evitar os efeitos causados
pela colocação de um resistor de baixo valor no circuito. O transformador, entretanto, limita a
parte inferior da gama de frequências aplicável.
Figura 5-6: Representação do sistema experimental utilizado para a realização das medidas de impedância.
O porta-amostra, com características diferenciadas para o caso de filmes ou de micro-
fios, é formado por uma cavidade de microondas, que é conectada a porta de saída do
HP4396B, a qual deve ser calibrada com elementos padrões a fim de possibilitar uma medida
da impedância real da amostra.
71
O campo necessário para magnetizar as amostras nesse aparato é fornecido por uma
bobina cuja corrente é determinada por uma fonte de corrente com controle externo. Esta bo-
bina, que possui 8 cm de comprimento por 2,5 cm de diâmetro, é capaz de fornecer campo de
até 350 Oe. O programa utilizado para controlar os parâmetros da medida e adquirir os dados
foi feito em linguagem de programação HPVEE. A comunicação do PC com o conversor e
com o analisador é feita por uma interface paralela IEE488. Através do programa determi-
nam-se os valores de campo nos quais as medidas serão realizadas e adquirem-se os dados de
impedância da amostra em função da frequência.
5.3.1
Calibração e compensação do sistema
Antes da realização de qualquer medida utilizando-se o método I-V é necessário cali-
brar a porta de saída do analisador a fim de estabelecer os parâmetros com os quais o instru-
mento irá trabalhar. Para realizar tal calibração, elementos padrões de aberto, curto e carga
(50 ohms) são conectados à porta de saída do instrumento e cada um dos padrões é medido no
intervalo de frequência determinado. Os dados referentes a esta calibração são armazenados
na memória do instrumento e usados para calcular a impedância da amostra a ser medida. A
calibração define um plano de referência na qual a precisão da medida é otimizada. Entretan-
to, a amostra não pode ser conectada ao plano de calibração ou à porta de saída, pois ela ne-
cessita estar presa aos terminais do porta-amostra. A introdução do porta-amostra requer que
o plano de calibração seja deslocado para a posição da amostra. Esse deslocamento é feito
usando o próprio porta-amostra. Faz-se uma medida da admitância, (1/Z), sem amostra conec-
tada. Idealmente, o resultado desta medida deveria ser nulo em toda a faixa de frequências.
Deslocando-se o plano de calibração da porta da saída, opção oferecida pelo instrumento, es-
tabelece-se a admitância mínima possível.
Alguns critérios devem ser obedecidos para que a compensação do porta-amostra pos-
sibilite a realização de medidas confiáveis. São eles:
1.
A impedância do porta-amostra com os terminais abertos deve ser no mínimo
100 vezes maior do que a impedância da amostra.
2.
A impedância dos terminais do porta-amostra em curto deve ser menor do que
1/100 vezes a impedância da amostra.
72
3.
O valor da impedância da carga utilizada para compensação deve ser conheci-
do e próximo do valor da impedância da amostra.
4.
A carga padrão deve ser estável sob condições de variação de temperatura, flu-
xo magnético e de frequência.
5.3.2
Porta-amostra
O porta-amostra é conectado à porta de saída do analisador que, por sua vez, deve ser
calibrada como descrito anteriormente. Para a realização de medidas em filmes finos usa-se
um porta-amostra diferente do utilizado para a realização de medidas em microfios.
O porta-amostra para filmes funciona como uma linha de transmissão do tipo “micro-
strip” onde o condutor central é substituído pela amostra. O pino de contato entre a amostra e
o conector do equipamento de medida é centrado por um pequeno cilindro de teflon de 8 mm
de diâmetro por 4 mm de altura. O teflon, utilizado nos diferentes porta-amostras, é um mate-
rial adequado por ter permissividade elétrica constante para os valores de frequências traba-
lhados. A Figura 5-7 representa o porta-amostra utilizado para a realização das medidas de
impedância em filmes finos.
Analisador de
impedância
Amostra
(a)
(b)
Analisador de
impedância
Amostra
(a)
(b)
Figura 5-7: Porta-amostra tipo “micro-striputilizado para medidas de impedância em filmes: (a) vista em corte
superior e (b) vista em corte lateral.
O porta-amostra para microfios pode ser descrito como sendo composto por dois sis-
temas: o sistema de medida e o sistema de tração. O sistema de medida é uma cavidade de
73
microondas desenvolvida com o objetivo de fornecer um meio de medirmos a impedância
característica dos microfios. Ela funciona como uma linha de transmissão coaxial, onde o
condutor central é substituído pela amostra e o dielétrico entre a amostra e as paredes externas
da cavidade é o ar. O pino de contato entre a amostra e o conector é centrado por uma peça de
teflon de aproximadamente 4 mm de altura. O sistema de tração é formado por uma peça mó-
vel, à qual é presa uma das extremidades da amostra. Nesta peça móvel conectamos uma mo-
la, devidamente calibrada, que por sua vez é conectada a um parafuso micrométrico com esca-
la. A tensão aplicada é calculada através da relação entre a força aplicada e a seção transversal
da amostra, incluindo o revestimento de vidro. A Figura 5-8 representa o porta-amostra utili-
zado para a realização das medidas de impedância em microfios, com os dois sistemas inte-
grados.
Figura 5-8: Porta-amostra, semelhante a uma linha de transmissão coaxial, utilizado para medidas de impedância
em microfios.
6
RESULTADOS
O principal objetivo deste trabalho é avaliar, via largura de linha de FMR, os princi-
pais efeitos que influenciam na relaxação magnética dos materiais estudados. Queremos reco-
nhecer os principais mecanismos responsáveis pelo amortecimento da precessão da magneti-
zação e entender como estes efeitos evoluem quando a estrutura magnética da amostra é mo-
dificada. Para isso, contamos com nosso conhecimento prévio da configuração magnética
destes materiais. Assim, neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados experi-
mentais obtidos através das medidas de impedância e magnetização, numa seção sobre carac-
terização magnética dos microfios e uma seção sobre caracterização magnética dos filmes
finos. Em seções posteriores apresentamos os resultados obtidos das larguras de linha de
FMR, avaliando os principais mecanismos responsáveis pela relaxação da magnetização para
cada tipo de amostra estudada.
6.1
CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA DOS MICROFIOS
A configuração magnética destas amostras vem sendo por nós estudada através de me-
didas de magnetização, magnetoimpedância e pela observação da ressoncia ferromagnética
desde o meu trabalho de mestrado. Deste estudo resultaram dois trabalhos, [65] e [66], que
apresentam o comportamento e as modificações da estrutura magnética deste material com a
aplicação de tensão mecânica para os diferentes tratamentos térmicos aos quais foi submetido.
Para simplificar a escrita, as amostras foram nomeadas conforme o tratamento térmico e estão
apresentadas na Tabela 2.
A Figura 6-1 apresenta as curvas de magnetização para a amostra como feita, 250 DC,
AC100 e AC500, sem tensão aplicada, obtidas em um VSM. Observando-se a forma das cur-
vas de magnetização verifica-se que elas indicam a presença de uma anisotropia longitudinal
predominante e pouca diferença entre elas quanto ao comportamento da magnetização.
75
Tabela 2: Conjunto de amostras estudadas e a forma como foram nomeadas. Microfio amorfo com composição
nominal de Co
68.15
Fe
4.35
Si
12.5
B
15
, diâmetro total de 44
µ
m e diâmetro metálico de 25
µ
m.
AMOSTRA Corrente de tratamento Tempo de tratamento
Como feita ------- -------
150DC 16.5 mA rms dc 20 minutos
250DC 27.3 mA rms dc 20 minutos
AC100 27.3 mA rms AC 100 Hz 20 minutos
AC500 27.3 mA rms AC 500 Hz 20 minutos
-1.0 -0.5 0.0 0.5 1.0
AC500
Campo (Oe)
AC100
M/M
S
250DC
Como feita
Figura 6-1: Laço de histerese da magnetização para as amostras como feita, 250DC, AC100 e AC500 sem tensão
aplicada. Curvas obtidas em um magnetômetro de amostra vibrante.
A Figura 6-2 apresenta as curvas de magnetização para as amostras como feita,
250DC, AC100 e AC500 submetidas a tensão mecânica de 65 MPa, 130 MPa e 190 MPa,
obtidas via método indutivo. As curvas de magnetização sem tensão aplicada para este con-
76
junto de amostras, através desta técnica, não são apresentadas neste trabalho mas têm o mes-
mo comportamento das curvas para o mais baixo valor de tensão apresentado.
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
Como feita
250DC
-1 0 1
-1.0
-0.5
0.0
0.5
1.0
AC100
M/M
S
-1 0 1
Tensão
(MPa)
65
130
195
AC500
Campo (Oe)
Figura 6-2: Curvas de magnetização das amostras como feita, 250DC, AC100 e AC 500 para três diferentes
tensões mecânicas aplicadas: 65 MPa (quadrados), 130 MPa (círculos) e 195 MPa (triângulos). Estas curvas de
magnetização foram obtidas via método indutivo.
O campo coercivo, H
c
, das curvas de magnetização obtidas por técnicas diferentes não
pode ser diretamente comparado. As curvas de magnetização para amostras tensionadas foram
obtidas para um campo longitudinal variando a 1 Hz, gerando um H
c
maior que aquele medi-
do pelo um método quase estático, VSM.
Pode-se observar na Figura 6-2 que, para os valores mais baixos de tensão aplicada,
independente da corrente de tratamento a que as amostras foram submetidas, as curvas são
quase quadradas. Curvas de magnetização quadradas são características de um sistema mag-
77
nético com anisotropia longitudinal. Neste caso, o principal mecanismo responsável pelos
processos de magnetização é o movimento de paredes de domínios.
Quando as amostras são submetidas a tensões mais elevadas a forma quadrada das
curvas de magnetização se torna menos evidente. Devido ao valor negativo da magnetostric-
ção, uma tensão axial positiva aplicada induz o aparecimento de uma casca externa magneti-
zada circunferencialmente [67]. A modificação da estrutura de domínios se reflete através do
aumento do campo de saturação e pelo arredondamento das curvas de magnetização. Contri-
buem para os processos de magnetização, em tensões mais elevadas, além do movimento de
paredes de domínios no núcleo longitudinalmente magnetizado, a rotação da magnetização
dos domínios circunferenciais da casca externa.
Considerando que estes dois mecanismos, movimento de paredes de domínios e rota-
ção da magnetização, estejam presentes nos processos de magnetização das amostras tensio-
nadas e que eles podem ser ligeiramente distinguidos um do outro nas curvas de magnetiza-
ção, é possível inferir um aumento do volume da casca externa quanto maior a tensão aplica-
da. Para tensões inferiores a 64 MPa, apenas pequenas variações nas curvas de magnetização
podem ser observadas. Isso significa que a casca externa ocupa somente uma pequena porção
da amostra, quando comparada com o volume do cleo. O volume da casca externa aumenta
continuamente até o mais alto valor de tensão aplicada.
A Figura 6-3 apresenta as curvas de magnetoimpedância para a amostra como feita e
para as amostras tratadas com corrente DC e a Figura 6-4 apresenta as curvas de magnetoim-
pedância comparando a amostra como feita com as amostras tratadas com corrente ac. São
apresentadas as curvas sem tensão aplicada, 36 MPa e 90 MPa, sendo que todas as curvas
foram obtidas para a frequência de 11.5 MHz. A escolha desta frequência para apresentar as
curvas de MI é baseada nos limites impostos pela frequência de relaxação de eventuais domí-
nios na direção circunferencial, que se em aproximadamente 600 kHz, e pelos efeitos da
ressonância ferromagnética, que, nas curvas de impedância, iniciam em aproximadamente 30
MHz. Assim, as curvas de MI apresentadas foram obtidas em frequência suficientemente bai-
xa para que se possa desconsiderar o efeito “skin” e alta o suficiente para que apenas a rotação
da magnetização esteja contribuindo para a permeabilidade. Tomadas estas precauções, pode-
se dizer que os picos nas curvas de MI estão associados ao campo de anisotropia. Pode-se
observar nestas duas figuras também a variação da impedância com o campo aplicado.
78
0
50
100
150
(
((
(a)
))
) σ
σσ
σ = 0
Como
Feita
(
((
(b)
))
) σ
σ σ
σ = 36 MPa
0
50
100
150
250DC
Campo (Oe)
-20 0 20
0
50
100
150
-20 0 20
-20 0 20
MI,
Z/Z(H
max
) (%)
(
((
(c)
))
) σ
σ σ
σ = 90 MPa
150DC
Figura 6-3: Curvas de magnetoimpedância. Evolução da MI com a tensão comparando os efeitos do tratamento
DC em relação a amostra como feita. Na primeira coluna (esquerda) do gráfico estão apresentados os resultados
sem tensão aplicada, na coluna do meio apresentam-se os resultados para tensão de 36 MPa e na última coluna
(direita) os resultados para tensão de 90 MPa. Todas as curvas apresentadas foram medidas à frequência de 11.5
MHz.
Os resultados de magnetoimpedância para as amostra não tensionadas, coluna (a) da
Figura 6-3 e da Figura 6-4 são típicos de um material com anisotropia longitudinal, um pico
único, independente da frequência de medida, f, desde que f << f
res
. A evolução da MI com a
tensão aplicada é observada nas colunas (b) e (c) das figuras 6-3 e 6-4. Pode-se observar que,
com a aplicação da tensão, as curvas de MI evoluem de uma estrutura de pico único para uma
estrutura de picos duplos. Esta evolução, observada tanto na amostra como feita como nas
amostras submetidas a tratamentos térmicos, indica a indução de uma anisotropia transversal
pela aplicação de tensão mecânica. Para a mesma tensão aplicada, observa-se que o campo de
anisotropia, H
K
, diminui com o tratamento térmico comparado com a amostra como feita.
79
Para um mesmo tratamento térmico, o campo de anisotropia aumenta com o aumento da ten-
são axial aplicada, o que é esperado para um material com magnetostricção negativa.
0
50
100
150
(
((
(a)
))
) σ
σσ
σ = 0
Como
Feita
(
((
(b)
))
) σ
σ σ
σ = 36 MPa
0
50
100
150
AC500
Campo (Oe)
-20 0 20
0
50
100
150
-20 0 20
-20 0 20
(
((
(c)
))
) σ
σ σ
σ = 90 MPa
AC100
MI,
Z/Z(H
max
) (%)
Figura 6-4: Curvas de magnetoimpedância. Evolução da MI com a tensão aplicada, comparando os efeitos do
tratamento ac em relação a amostra como feita. Na primeira coluna do gráfico estão apresentados os resultados
sem tensão aplicada, na coluna do meio apresentam-se os resultados para tensão de 36 MPa e na última coluna
os resultados para tensão de 90 MPa. Todas as curvas apresentadas foram medidas à frequência de 11.5 MHz.
Em termos de amplitude de MI, para amostras sem tensão aplicada, todas as curvas
são semelhantes. Quando tensão é aplicada, pode-se observar que a amplitude da MI é forte-
mente reduzida para a amostra como feita e para os tratamentos com corrente DC enquanto
que esta redução é menos evidente para as amostras submetidas a tratamento com corrente ac,
em especial a amostra AC500. A diminuição da amplitude da MI com a aplicação de tensão
está associada às modificações nas direções de anisotropias induzidas pela tensão e mudanças
na permeabilidade transversal. Considerando que anisotropia e permeabilidade são quantida-
des inversamente proporcionais [47], a variação observada na amplitude da MI é devida, prin-
cipalmente, a redução na permeabilidade (confirmado pela Figura 6-10 e discutida adiante)
80
promovida pelo aumento da anisotropia. Como os picos nas curvas de MI estão associados ao
campo de anisotropia, pode-se observar o aumento da mesma pelo aumento da separação en-
tre os picos.
As relações de dispersão de FMR, apresentadas nos gráficos que constituem a Figura
6-5, mostram a evolução da FMR com a aplicação de tensão mecânica para as amostras como
feita e as tratadas termicamente. Observando-se a relação de dispersão de FMR para as amos-
tras estudadas, sem aplicação de tensão mecânica, pode-se notar um mínimo na frequência de
ressonância próximo ao campo nulo. Este tipo de curva é característica de materiais com ani-
sotropia longitudinal [49]. Observa-se também um deslocamento deste mínimo em relação ao
campo zero. É sabido [68] que a frequência de ressonância, f
res,
mínima para um material com
anisotropia longitudinal, ocorre quando o volume influenciado pelo campo ac está no estado
desmagnetizado. Esta situação, f
res
nima, no caso das nossas medidas, é alcançada quando o
volume limitado pelo efeito “skin” está desmagnetizado. O campo coercivo da camada efeti-
vamente percorrida pela corrente de sonda é mais elevado do que aquele da parte interna do
fio. Isto ocorre porque a magnetização da camada externa é presa pela rugosidade entre o me-
tal e o revestimento de vidro, o que explica o deslocamento relativo ao campo zero nas medi-
das apresentadas para a dispersão de FMR sem tensão aplicada.
O efeito da tensão aplicada é fazer com que o eixo de anisotropia mude de longitudinal
para transversal na camada externa. Isso pode ser observado pelo fato de que as curvas de
dispersão de FMR apresentam um mínimo próximo ao campo de anisotropia também no ramo
de campos negativos, o que é um comportamento típico de amostras com anisotropia trans-
versal. A linha tracejada segue aproximadamente a evolução do campo de anisotropia trans-
versal, que aumenta com a aplicação da tensão. Aumento este que não necessariamente será
linear. Este aumento no campo de anisotropia transversal é esperado para uma amostra com
magnetostricção negativa, como é o caso. Comportamento semelhante é observado em todas
as amostras. Para a amostra 250DC, no entanto, observam-se dois campos de anisotropia dis-
tintos, para σ > 90 MPa, cuja evolução é indicada por duas linhas tracejadas. Isso indica que a
camada percorrida pela corrente de sonda deve ser dividida em duas, ambas com anisotropia
transversal, mas com valores diferentes.
Os resultados apresentados até agora podem ser analisados levando-se em conta as se-
guintes considerações: (a) é a profundidade de penetração, δ
m
, que define o volume da amos-
tra que será efetivamente percorrido pela corrente de sonda ac, e (b) a distribuição da tensões
no microfio origina uma distribuição de anisotropias ao longo do raio do fio que, por sua vez,
promove a estrutura de domínios discutida.
81
0 12 24 36
126
MPa
144
MPa
0
Campo (Oe)
Freqncia de ressonância
0
90
MPa
0
54
MPa
36
MPa
AC500
0 12 24 36
126
MPa
144
MPa
0
Campo (Oe)
Frequência de ressonância
90
MPa
54
MPa
36
MPa
AC100
0 12 24 36
Campo (Oe)
Frequência de ressonância
250DC
126
MPa
108
MPa
90
MPa
54
MPa
36
MPa
0
0 12 24 36
Campo (Oe)
108
MPa
0
72
MPa
54
MPa
Frequência de ressonância
36
MPa
150DC
0 12 24 36
Campo (Oe)
Frequência de ressonância
72
MPa
54
MPa
18
MPa
36
MPa
0
como feita
Figura 6-5: Relação de dispersão de FMR. Evolução da FMR frente a aplicação de tensão mecânica para a amos-
tra como feita e para os diferentes tratamentos realizados. As linhas tracejadas indicam, aproximadamente, a
evolução do campo de anisotropia com a aplicação de tensão mecânica.
82
Pode ser visto na Figura 6-6, que apresenta a profundidade de penetração na frequên-
cia de ressonância e em campo nulo, que δ
m
aumenta com a tensão aplicada para todas as a-
mostras. Observa-se também que δ
m
é maior para o caso das amostras recozidas com corrente
DC (250DC e 150DC), comparadas com as amostras recozidas com corrente ac. O aumento
de δ
m
com a tensão aplicada é originado por a uma diminuição da permeabilidade transversal.
A Figura 6-7 apresenta a profundidade de penetração na frequência de ressonância e
no campo de anisotropia. Nesta situação, δ
m
não varia significativamente com a tensão nem
com os tratamentos térmicos. Esta figura está sendo mostrada pois é nesta situação que esta-
mos considerando a contribuição do espalhamento de gnons à largura de linha de FMR, a
ser discutida na próxima seção.
Considerando as medidas de magnetização, de MI e de FMR apresentadas em nosso
trabalho, pode-se concluir que, na ausência de tensão aplicada, tanto a amostra como feita
quanto as amostras recozidas apresentam estrutura magnética correspondente a um núcleo
interno magnetizado longitudinalmente, com pouca ou nenhuma contribuição da casca externa
aos processos de magnetização.
0 40 80 120 160
0
1
2
δ
δ
δ
δ
m
(
µ
µ
µ
µ
m)
Como feita
150DC
250DC
AC100
AC500
Teno (MPa)
Figura 6-6: Evolução da profundidade de penetração com a tensão aplicada, para todos os microfios estuda
dos.
Estes são os valores obtidos com campo nulo e na frequência de ressonância.
83
0 40 80 120 160
0
1
2
δ
δ
δ
δ
m
(
µ
µ
µ
µ
m)
Teno (MPa)
Como feita
150DC
250DC
AC100
AC500
Figura 6-7: Evolução da profundidade de penetração com a tensão aplicada, para todos os microfios estudados.
Estes são os valores obtidos no campo de anisotropia e em frequência igual a frequência de ressonância.
A Figura 6-8 apresenta o campo de anisotropia circunferencial, H
K
, para diferentes va-
lores de tensão aplicada e faz uma comparação entre as amostras tratadas com corrente DC e a
amostra como feita. A Figura 6-9 também apresenta os campos H
K
, mas a comparação se
entre as amostras tratadas com corrente ac e a amostra como feita. Os campos de anisotropia
foram obtidos das curvas de largura de linha de FMR cuja posição é bem determinada por um
pico na curva de f versus H, como será visto na seção 6.3.1. Considerando-se a existência de
duas cascas magnéticas circunferenciais envolvendo o núcleo longitudinal, conforme sugerido
na referência 69, H
K1
corresponde ao campo de anisotropia associado a primeira camada
magnética, a camada mais próxima ao núcleo longitudinal, e H
K2
é o campo de anisotropia
associado a segunda camada magnética, a casca mais externa circunferencialmente magneti-
zada. Da relação linear entre H
K
e
σ
e assumindo-se que somente a energia magnetoelástica
contribui para a anisotropia, a magnetostricção de saturação,
λ
S
, pode ser obtida da seguinte
relação:
σ
λ
S
S
K
M
H
3
=
. 6-1
84
0 30 60 90 120
0
5
10
15
20
25
como feita
150DC H
K1
250DC H
K1
150DC H
K2
250DC H
K2
Anisotropia circunferencial (Oe)
Teno (MPa)
Figura 6-8: Anisotropia circunferencial versus tensão aplicada. Comparação entre a amostra como feita e as
amostras tratadas com corrente DC. Os campos de anisotropia, H
K1
e H
K2
, foram obtidos das curvas de largura de
linha de FMR.
0 30 60 90 120 150
0
5
10
15
20
25
Anisotropia circunferencial (Oe)
Tensão (MPa)
como feita
AC100 H
K1
AC500
AC100 H
K2
Figura 6-9: Anisotropia circunferencial versus tensão aplicada. Comparação entre a amostra como feita e as
amostras tratadas com corrente ac. Os campos de anisotropia, H
K1
e H
K2
, foram obtidos das curvas de largura de
linha de FMR.
85
Os valores de
λ
S
obtidos considerando-se a expressão 6-1 estão sumarizados na
Tabela 3. Observa-se que o efeito do tratamento térmico é reduzir o valor de
λ
S
, independente
da corrente de tratamento. Quando se avalia o efeito da tensão aplicada, observa-se que a a-
mostra como feita apresenta apenas uma casca com magnetização circunferencial. As amos-
tras 150DC, 250DC e AC100 apresentam duas cascas magnéticas circunferencialmente mag-
netizadas, sendo que a casca mais externa tem magnetostricção de saturação mais elevada.
Esta segunda casca circunferencial pode ser observada em tensões baixas para a amostra
250DC enquanto que para a amostra 150DC e AC100 ela passa a ser observada para tensões
acima de 54 MPa. A amostra AC500 não apresenta esta segunda casca circunferencial na fai-
xa de tensões estudada. No caso desta amostra o efeito da tensão é apenas aumentar o valor de
λ
S
.
Os resultados apresentados na Tabela 3 para
λ
S
são relativos à porção da amostra efe-
tivamente percorrida pela corrente ac durante as medidas, ou seja, uma camada limitada pelo
efeito “skin”, com aproximadamente 0.5
µ
m de espessura. A magnetostricção de saturação
também pode ser obtida das medidas de magnetização considerando-se que a anisotropia e o
campo de saturação têm aproximadamente os mesmos valores para uma amostra com aniso-
tropia circunferencial, como é o caso. Medindo-se o campo de saturação em função da tensão
aplicada, o valor de
λ
S
pode ser obtido. Usando-se este procedimento verificou-se que, para
todas as amostras,
λ
S
-3 x 10
-7
. Considerando-se que as curvas de magnetização trazem in-
formação da amostra como um todo, pode-se dizer que o efeito do tratamento térmico é tornar
as amostras magneticamente mais homogêneas.
Tabela 3: Valores da magnetostricção de saturação obtidos das curvas de H
K
versus
σ
.
λ
s
1
está associado à região
do núcleo longitudinal e
λ
s
2
à região da casca externa circunferencial.
Amostra
λ
s
1
(x10
-7
)
λ
s
2
(x10
-7
)
como feita - 8 __
150DC - 5 - 13
250DC -4 -9
AC100 -5 -14
AC500 -4 -7
86
A Figura 6-10 apresenta a dependência da contribuição rotacional para a permeabili-
dade circunferencial com o campo aplicado. Cada gráfico que compõe a figura representa
uma das amostras estudadas e apresenta o efeito da tensão aplicada. Pode-se observar que o
efeito da tensão aplicada é diminuir o valor da máxima contribuição rotacional à permeabili-
dade, sendo esta diminuição menos evidente na amostra AC500. Em termos de permeabilida-
de rotacional, a amostra AC500 tem comportamento semelhante a amostra como feita.
Permeabilidade Rotacional (
µ/µ
µ/µ
µ/µ
µ/µ
o
)
0 15 30 45 60
0
1250
2500
3750
Permeabilidade Rotacional (
µ/µ
µ/µ
µ/µ
µ/µ
o
)
Campo (Oe)
Tensão
0 MPa
36 MPa
90 MPa
126 MPa
AC500
150DC
0 15 30 45 60
Campo (Oe)
AC100
0 15 30 45 60
0
1250
2500
3750
Campo (Oe)
250DC
0
1250
2500
3750
como feita
Figura 6-10: Dependência com o campo da contribuição rotacional para a permeabilidade circunferencial. Cada
figura representa uma das amostras estudadas e apresenta o efeito da tensão aplicada.
87
Nesta seção apresentamos os resultados que possibilitam caracterizar magneticamente
os microfios estudados, avaliando os efeitos promovidos pelos tratamentos térmicos e pela
aplicação de tensão mecânica. Estes resultados nos permitem dizer que estas amostras, sem
tensão aplicada, apresentam estrutura de domínios cuja magnetização esorientada longitu-
dinalmente. A aplicação de tensão mecânica faz surgir uma casca externa com domínios cir-
cunferencialmente magnetizados. Com o aumento da tensão aplicada observa-se o surgimento
de uma segunda região circunferencialmente magnetizada mas com orientação levemente
diferente em relação à primeira região circunferencial [65]. As amostras como feita e AC500
não apresentam esta segunda região com orientação circunferencial.
6.2
CARACTERIZAÇÃO MAGNÉTICA DOS FILMES
A caracterização magnética dos filmes multicamadas apresentada nesta tese é feita a-
través de técnicas clássicas como medidas de magnetização, magnetoimpedância e pela ob-
servação da ressonância ferromagnética. Como foi dito, conhecer a estrutura magnética do
material estudado é fundamental para o bom entendimento dos mecanismos responsáveis pela
relaxação da magnetização.
Neste trabalho foram estudadas bicamadas de Py/Cu onde manteve-se fixas as espes-
suras das bicamadas, a saber, Py(100Å) /Cu(25Å), e variou-se o número de bicamadas a com-
porem as amostras. Estas amostras foram produzidas por Antonio M. H. de Andrade durante o
seu trabalho de doutorado. Cada amostra depositada foi dividida em duas amostras a serem
avaliadas: uma amostra teve corte longitudinal em relação a direção de movimento do substra-
to sobre os canhões e a outra teve corte transversal em relação a direção de movimento do
substrato sobre os canhões, conforme ilustrado na Figura 6-11.
Figura 6-11: Representação dos cortes das amostras. A amostra chamada corte longitudinal foi assim denomina-
da pois o corte foi longitudinal em relação a direção de movimento do substrato sobre os canhões e a amostra
chamada corte transversal foi assim denominada pois o corte foi transversal em relação a direção de movimento
do substrato sobre os canhões.
Corte transversal
Corte longitudinal
Movimento do substrato
88
A Tabela 4 apresenta a forma como os filmes multicamadas estudados foram nomea-
dos.
Tabela 4: Conjunto de amostras estudadas e a forma como foram nomeadas. Filmes multicamadas com composi-
ção nominal de Ni
81
Fe
19
/ Cu.
AMOSTRA Composição e n° de bicamadas corte
PyCu 30bi
[Py(100Å)/Cu(25Å)] x 30
Longitudinal e Transversal
PyCu 50bi
[Py(100Å)/Cu(25Å)] x 50
Longitudinal e Transversal
PyCu 70bi
[Py(100Å)/Cu(25Å)] x 70
Longitudinal e Transversal
PyCu 100bi
[Py(100Å)/Cu(25Å)] x 100
Longitudinal e Transversal
A Figura 6-12 apresenta as curvas de magnetização para as amostras estudadas, obti-
das com um VSM. As amostras correspondentes à mesma multicamada, mas com cortes dife-
rentes, estão sobrepostas. Observando-se a forma das curvas de magnetização verifica-se que
as amostras PyCu 30bi, PyCu 70bi e PyCu 100bi apresentam eixo fácil da magnetização lon-
gitudinal ao eixo da amostra. Já a amostra PyCu 50bi apresenta-se quase isotrópica pela ob-
servação das curvas de magnetização mostradas na figura abaixo. Medidas de magnetização
com variação angular de 0 a 360°, com passo de 10°, (não apresentadas) confirmam a direção
do eixo fácil de magnetização das amostras.
Figura 6-12: Laço de histerese da magnetização para os diferentes filmes estudados. Os quadrados fechados
mostram o resultado para amostras denominadas corte longitudinal e os círculos abertos apresentam os resulta-
dos para as amostras denominadas corte transversal. Curvas obtidas em um magnetômetro de amostra vibrante.
-6 -3 0 3 6
PyCu 100bi
Campo (Oe)
PyCu 70bi
PyCu 50bi
M/Ms
longitudinal
transversal
PyCu 30bi
89
As curvas de magnetização podem trazer também informações sobre dispersões na a-
nisotropia. Estas dispersões na anisotropia atuam como mecanismos dissipativos e contribuem
para a relaxação da magnetização, estando presentes na largura de linha de FMR. Como po-
demos obter informação sobre dispersões na anisotropia também através das curvas de mag-
netização, vamos fazê-lo para comparar os resultados, confirmando a credibilidade dos resul-
tados obtidos via largura de linha.
Informações sobre dispersões na anisotropia podem ser obtidas pela derivada segunda
da magnetização com relação ao campo aplicado perpendicularmente à direção do eixo de
fácil de magnetização da amostra, no ramo do laço de histerese entre a saturação e a remanên-
cia da mesma [70] e [71], ou seja,
22
/ dHmHdH
disp
=
, onde
s
MMm /
=
é a magneti-
zação reduzida e H é o campo aplicado. Em uma curva da derivada segunda da magnetização,
respeitando-se o ramo da curva onde esta abordagem é válida (lembrando que o método é
válido para amostras com anisotropia longitudinal ao seu eixo e que deve-se medir a magneti-
zação na direção transversal a este eixo), é possível obter duas importantes informações a res-
peito da estrutura magnética da amostra estudada: (i) o máximo da curva ocorre no campo de
anisotropia do sistema magnético e (ii) a largura da curva traz informações sobre a distribui-
ção de campos de anisotropia. A Figura 6-13 apresenta a proposta curva para um filme
[Py(200Å)Ag(50Å)]x15. Esta amostra foi escolhida para representar a forma como obter in-
formação através deste método pois apresenta anisotropia longitudinal bem definida. Os pa-
râmetros de interesse estão indicados no gráfico.
A Figura 6-14 sumariza os resultados obtidos via método da derivada segunda da
magnetização para as amostras estudadas neste trabalho.
Outra técnica que permite avaliar o campo externo necessário para alinhar os momen-
tos magnéticos na direção do eixo fácil de magnetização é a magnetoimpedância. A Figura
6-15 apresenta as curvas de magnetoimpedância para as diferentes amostras estudadas. A co-
luna da esquerda apresenta os resultados de MI para os filmes cujo corte foi longitudinal e a
coluna da direita mostra estes resultados para o corte transversal. Todas as curvas apresenta-
das nesta figura foram obtidas para a frequência de 74 MHz. Assim como no caso dos micro-
fios, a escolha desta frequência é baseada nos limites impostos pela frequência de relaxação
de eventuais domínios na direção circunferencial e pelos efeitos da ressonância ferromagnéti-
ca. Assim, as curvas de MI apresentadas foram obtidas em frequência suficientemente baixa
para que se possa desconsiderar o efeito “skin” e alta o suficiente para que apenas a rotação da
magnetização esteja contribuindo para a permeabilidade. Tomadas estas precauções pode-se
90
dizer que os picos nas curvas de MI estão associados ao campo de anisotropia. Pode-se obser-
var nestas duas figuras também a variação da impedância com o campo aplicado.
0.0
0.5
1.0
0 20 40 60 80
0
3
6
9
H
disp
dM/dH, -d
2
M/dH
2
(u.a.)
Campo (Oe)
H
K
M/Ms
Figura 6-13: Ramo do laço de histerese medido perpendicularmente ao eixo fácil de magnetização, num filme de
[Py(200Å)Ag(50Å)]x15, representado por símbolos. São apresentadas a derivada primeira (linha preta) e deriva-
da segunda (linha vermelha) da magnetização e estão indicados no gráfico o campo de anisotropia e a dispersão
de anisotropia obtidos por este método.
25 50 75 100
1
2
3
H
K
H
disp
H
K
,
H
disp
(Oe)
n° de bicamadas
Figura 6-14: Campo de anisotropia H
K
, e dispersão de anisotropia
H
disp
, obtidos pelo método da derivada se-
gunda da magnetização para os filmes estudados.
91
Observa-se, pelas curvas de MI, que as amostras cujo corte foi longitudinal em relação
a direção de movimento do substrato sobre o canhão apresentam anisotropia longitudinal ao
eixo da amostra. Esta informação é dada pela forma das curvas de MI, que é típica de uma
amostra com anisotropia longitudinal: um pico único, independente da frequência de medida,
f, desde que f << f
res
. Já no caso do corte transversal, as formas das curvas de MI indicam a
presença de anisotropia transversal ao eixo da amostra. Curvas de MI com picos duplos, cen-
trados em + e – H
K
são curvas típicas de amostras com anisotropia transversal.
0
30
60
90
PyCu 30bi
0
25
50
75
PyCu 30bi
0
30
60
90
PyCu 50bi
0
25
50
75
PyCu50bi
0
30
60
90
transversal
MI,
Z/Z(H
max
) (%)
PyCu 70bi
longitudinal
0
25
50
75
PyCu70bi
-12 -6 0 6 12
0
30
60
90
Campo (Oe)
PyCu100 bi
-12 -6 0 6 12
0
25
50
75
PyCu 100bi
Campo (Oe)
Figura 6-15: Curvas de magnetoimpedância. Evolução da MI com o aumento do número de bicamadas que cons-
tituem os filmes, apresentadas para o corte longitudinal (coluna esquerda) e para o corte transversal (coluna di-
reita). Medidas a frequência de 74.5 MHz.
Em termos de amplitude de MI, para amostras cujo corte foi longitudinal, observa-se
um aumento da mesma com o aumento do número de bicamadas. Este aumento é esperado
pois a amplitude da MI é dependente da espessura [72] e da permeabilidade do filme. Por sua
vez, a permeabilidade deve ser influenciada pela densidade de defeitos presentes no material e
92
pelo tamanho destes defeitos. A densidade de defeitos aumenta com o aumento da espessura
mas o tamanho dos defeitos muda pouco. Os defeitos presentes no material promovem ten-
sões internas e a distribuição destas tensões deverá influenciar o comportamento da permeabi-
lidade magnética [73].
Quando se avalia amplitude de MI, para amostras cujo corte foi transversal, um au-
mento com a espessura dos filmes também é observado, exceto para a amostra PyCu 70bi, que
apresenta variação maior que a amostra PyCu 100bi. Este comportamento pode estar associa-
do a distribuição de tensões que modificam direções de anisotropias induzidas ocasionando
mudanças na permeabilidade transversal.
A Figura 6-16 apresenta as relações de dispersão de FMR para todas as multicamadas
estudadas. Observando-se a relação de dispersão de FMR, para as amostras estudadas cujo
corte é longitudinal, pode-se notar um mínimo na frequência de ressonância próximo ao cam-
po nulo. Como visto na caracterização magnética dos microfios, este tipo de curva para a dis-
persão de FMR, um mínimo em campo nulo, é característica de amostras com anisotropia
longitudinal [49].
Figura 6-16: Relação de dispersão de FMR. Evolução da FMR para os filmes com diferente número de bicama-
das. Os diferentes cortes estão apresentados nas colunas. Na coluna esquerda relação de dispersão de FMR da
amostra corte longitudinal e na coluna direita relação de dispersão da amostra corte transversal. A linha contínua
vermelha é um ajuste considerando o modelo de Smit e Beljers [15], conforme equação 2-48.
-4 0 4 8 12 16 20
PyCu 100bi
PyCu 70bi
PyCu 50bi
PyCu 30bi
Campo
transversal
-4 0 4 8 12 16 20
PyCu 100bi
Campo
Frequência de ressonância
longitudinal
PyCu 70bi
PyCu 50bi
PyCu 30bi
93
Os resultados apresentados na coluna direita deste gráfico apresentam a relação de
dispersão de FMR das amostras cujo corte foi transversal. Estes resultados, com um nimo
próximo ao campo de anisotropia também no ramo de campos negativos, indicam a presença
de anisotropia transversal ao eixo da amostra. As linhas vermelhas contínuas apresentadas na
Figura 6-16 representam um ajuste considerando o modelo de Smit e Beljers e os parâmetros
M
s
e H
K
obtidos neste ajuste são usados posteriormente para ajustar as larguras de linha de
FMR.
6.3
LARGURA DE LINHA E RELAXAÇÃO DE SPIN
Esta seção está subdivida em duas partes. A primeira parte apresenta os resultados ob-
tidos para microfios e a segunda apresenta os resultados obtidos para os filmes multicamadas.
Em ambas as subseções serão apresentados os resultados de largura de linha de FMR, buscan-
do-se obter as informações referentes aos mecanismos responsáveis pelo amortecimento da
precessão da magnetização. Identificamos quais são estes mecanismos e qual a relevância de
cada um deles para a relaxação magnética nas diferentes amostras estudadas.
6.3.1
R
ESULTADOS OBTIDOS PARA MICROFIOS
Aqui, são apresentados os resultados obtidos do estudo da largura de linha de FMR em
microfios, os ajustes incluindo diferentes processos de relaxação e também a evolução destes
processos com a tensão aplicada. Faz-se ainda um estudo das modificações impostas aos me-
canismos de amortecimento da precessão da magnetização pelos diferentes tratamentos térmi-
cos [74].
A Figura 6-17 apresenta os dados de onde são obtidas as larguras de linha. Estão sendo
mostradas as componentes real e imaginária da impedância (triângulos fechados) com campo
aplicado de 30 Oe, que são os dados obtidos diretamente do analisador de impedância. São
apresentadas também as componentes real e imaginária da permeabilidade (círculos abertos)
obtidas conforme descrito no texto deste trabalho. Observa-se nesta figura a amplitude da
94
contribuição rotacional para a permeabilidade circunferencial,
µ
rot
, a frequência de ressonân-
cia, f
res
, e a largura de linha em frequência, f.
100M 1G
0
500
1000
-1500
0
1500
3000
Re{Z}
Im{Z}
Impedância (
)
Frequência(Hz)
f
res
f
Permeabilidade (
µ
µ
µ
µ
/
µ
µ
µ
µ
o
)
Re{
µ
µµ
µ
}
Im{
µ
µµ
µ
}
µ
µµ
µ
rot
Figura 6-17: Medida típica das componentes real e imaginária da impedância (triângulos fechados) para um
microfio amorfo, CoFeSiB, com campo aplicado de 30 Oe. Também são apresentadas as componentes real e
imaginária da permeabilidade intrínseca (círculos abertos), bem como a amplitude da contribuição rotacional
para a permeabilidade circunferencial,
µ
rot
, a frequência de ressonância, f
res
, e a largura de linha em frequência,
f.
A Figura 6-18 apresenta separadamente cada um dos mecanismos considerados como
contribuindo para a relaxação da magnetização e a sua dependência com o campo aplicado.
Neste trabalho serão considerados mecanismos relevantes para o amortecimento da precessão
da magnetização as contribuições de Gilbert, equação 2-51, o amortecimento devido a espa-
lhamento de mágnons, equação 2-95, e a contribuição devido a dispersões de anisotropia, e-
quação 2-56. A linha sólida na Figura 6-18 é a soma quadrática destes três mecanismos de
amortecimento que atuam na relaxação da precessão da magnetização. O procedimento para a
realização dos ajustes da largura de linha é feito por partes. Primeiro, M
S
e H
K
são obtidos dos
ajustes das medidas de f
res
versus H à teoria de FMR e, com estes parâmetros fixos, os dados
de f são ajustados com uma soma dos três parâmetros que representam os mecanismos de
amortecimento considerados. Os ajustes foram feitos para H > H
K
.
Na seção 2.2 deste trabalho discutimos os principais mecanismos que devem ser con-
siderados para o amortecimento da precessão da magnetização. No entanto, na parte experi-
95
mental, alguns destes mecanismos não são considerados e há uma razão para isso. O termo de
amortecimento devido a inomogeneidades na distribuição do campo rf [32] não é relevante no
caso estudado pois este campo está associado a corrente de medida da impedância. Como as
amostras são cilíndricas e a corrente de medida está aplicada ao longo do eixo do microfio, o
campo rf é circunferencial e homogeneamente distribuído sobre todo o volume da amostra,
sendo limitado apenas pelo efeito “skin”. Outro termo de amortecimento citado no texto e que
não foi considerado nos dados experimentais é o termo devido à correntes parasitas [19]. Este
termo de amortecimento não é levado em conta nos ajustes, no caso estudado, pois as medidas
de largura de linha de FMR são obtidas dos dados de permeabilidade circunferencial intrínse-
ca e, basicamente, o procedimento utilizado para obter as curvas de permeabilidade já leva em
conta este efeito. Assim, justifica-se a presença de apenas três parâmetros nos ajustes da lar-
gura de linha de FMR.
Figura 6-18: Dependência com o campo aplicado da contribuição de cada mecanismo de amortecimento à largu-
ra de linha de FMR: a linha vermelha tracejada apresenta a contribuição do termo de Gilbert, a linha verde ponti-
lhada apresenta a contribuição da dispersão de anisotropia, e a linha azul com traço e ponto representa a contri-
buição do espalhamento de mágnons à largura de linha. A linha lida é a soma quadrática destes três mecanis-
mos de amortecimento.
0 50 100
0
100M
200M
300M
total
Gilbert
Magnons
Dispersão de anisotropia
f (Hz)
Campo (Oe)
H
k
96
Como já mencionado no texto, o termo de Gilbert está sempre presente, mesmo em
uma amostra perfeita, pois este termo é devido a interações fundamentais que dão origem ao
magnetismo, tais como interação de troca e acoplamento spin-órbita [75]. A largura de linha
em frequência devido ao termo de Gilbert pode ser escrita conforme a equação 2-51. Desta
expressão pode-se ver que este termo contribui ao alargamento da linha de ressonância vari-
ando de forma linear com o campo aplicado, como também pode ser observado na Figura
6-18.
Dispersões na anisotropia da amostra fazem surgir ressonâncias locais. Diferentes por-
ções da amostra podem apresentar diferentes campos de anisotropia e estas porções podem
ressonar a diferentes frequências para um mesmo valor de campo aplicado, resultando em um
alargamento adicional da linha de ressonância. O alargamento na linha de ressonância associ-
ado com dispersões da anisotropia pode ser descrito pela expressão 2-56. Desta expressão
pode-se notar que a principal característica deste mecanismo de amortecimento, no caso de
amostras com anisotropia transversal, é um máximo em H = H
K
, o que também é observado
na Figura 6-18.
Em um experimento de FMR, na frequência de ressonância para um dado valor de
campo aplicado, assume-se que todos os spins da amostra precessam no modo uniforme com
vetor de onda k = 0. No entanto, inomogeneidades presentes na amostra podem espalhar um
mágnon de frequência f e vetor de onda k = 0 em outro mágnon com a mesma frequência f
mas com vetor de onda k 0, resultando em um alargamento adicional à linha de ressonância
[76]. Estas inomogeneidades podem ser espaciais, significando diferentes campos de aniso-
tropia locais, ou ainda podem ser inomogeneidades na interação de troca local. Para avaliar a
contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha é necessário descrever sua rela-
ção de dispersão e descrever também como cada inomogeneidade contribui para o espalha-
mento, conforme discutido na seção intitulada espalhamento de mágnons. Apesar do modelo
de Arias e Mills [29] calcular o termo de amortecimento devido a mágnons para o caso espe-
cífico de filmes finos, os autores chamam atenção de que a assinatura deste espalhamento está
no termo
(
)
[
]
K
HBH +
/sen
1
, que tem origem na natureza da dispersão das ondas de spin
e que não é influenciado por detalhes da matriz de espalhamento. A expressão 2-95 foi utili-
zada para ajustar os dados relacionados ao amortecimento devido a espalhamento de mág-
nons. A forma como este termo contribui para o alargamento da linha de FMR está apresenta-
da na Figura 6-18.
97
Como os mecanismos de amortecimento apresentam um comportamento diferente
com o campo magnético aplicado, espera-se que da análise da dependência de f com o cam-
po seja possível separar a contribuição de cada um destes mecanismos de amortecimento atu-
ando na relaxação da precessão da magnetização dos microfios e avaliar sua evolução com a
tensão aplicada e com o tratamento térmico.
A Figura 6-19 apresenta os dados de f versus H para o conjunto de amostras estuda-
das e diferentes tensões aplicadas. A linha sólida representa os ajustes incluindo os três meca-
nismos de amortecimento descritos anteriormente. É interessante notar quão sensível é a lar-
gura de linha em frequência à presença de anisotropia no material. Os máximos nas curvas de
f versus H ocorrem no campo de anisotropia. Com a aplicação da tensão, algumas amostras
apresentam dois máximos que confirmam a existência de duas regiões da amostra com dife-
rentes anisotropias, como já discutido na seção anterior, na relação de dispersão de FMR, Fi-
gura 6-5. Porém, a presença destas regiões com diferentes anisotropias é mais evidente nas
curvas de largura de linha.
Na Figura 6-19 pode-se observar que os ajustes são bons na região de campo em que
as expressões de trabalho são válidas (H > H
K
). Para todas as amostras, observa-se o aumento
do campo de anisotropia com a tensão aplicada. A presença de duas regiões com diferentes
anisotropias pode ser observada em todas as amostras, exceto na amostra AC500. Mas, a ten-
são necessária para induzir tal estrutura de domínios é maior para a amostra AC100 (90
MPa) do que para 150DC (70 MPa) e 250DC (50 MPa).
O mecanismo de amortecimento de Gilbert, obtido dos ajustes de f, não apresenta
uma dependência clara com a temperatura de tratamento, apresentando valores entre 0.02 e
0.035 para as amostras estudadas. Ainda, a tensão aplicada não influencia este termo de amor-
tecimento. Este comportamento é esperado pois o mecanismo de amortecimento de Gilbert
está associado às interações locais fundamentais do magnetismo, como citado anteriormente.
A Figura 6-20 apresenta a contribuição de dispersões na anisotropia à largura de linha
de FMR. Esta contribuição é obtida dos ajustes apresentados na Figura 6-19. Para valores
baixos de tensão aplicada, entre 0 e ~ 40 MPa, as amostras apresentam valores de H
K
simila-
res e quase constantes. Quando as amostras são submetidas a tensões maiores, observa-se um
aumento no valor de H
K
. Este aumento do alargamento da linha de ressonância, devido à
dispersões na anisotropia com a tensão aplicada, pode ser atribuído ao surgimento da segunda
casca magnetizada circunferencialmente, uma vez que ambas as regiões contribuem de forma
semelhante para a largura de linha de ressonância, conforme descrito pela equação 2-56.
98
Figura 6-19: Largura de linha de FMR versus campo aplicado para todos os microfios estudados. Observa-se o
efeito da tensão aplicada às medidas de largura de linha de FMR. Os mbolos representam os dados experimen-
tais e as linhas sólidas são os ajustes incluindo os três mecanismos de amortecimento: Gilbert, mágnons e disper-
são de anisotropia. A tensão equivalente a cada curva (em MPa) está indicada numericamente à direita e acima
de cada curva que compõe os gráficos.
0 1 5 3 0 45
30 0
f
R
(M Hz)
1 26
5 4
90
C am po (O e )
0
AC5 00
1 1 8
7 2
3 6
1 8
1 5 0 D C
2 00
3 00
f
R
(M H z)
36
am ostra c om o fei ta
72
54
18
0 15 30 45
126
90
C a mpo (O e)
54
0
AC100
0 15 3 0 4 5
300
400
C am po (O e)
f
R
(M Hz )
90
54
18
0
2 50 DC
f (MHz)
f (MHz)
f (MHz)
0 1 5 3 0 45
30 0
f
R
(M Hz)
1 26
5 4
90
C am po (O e )
0
AC5 00
1 1 8
7 2
3 6
1 8
1 5 0 D C
2 00
3 00
f
R
(M H z)
36
am ostra c om o fei ta
72
54
18
0 15 30 45
126
90
C a mpo (O e)
54
0
AC100
0 15 3 0 4 5
300
400
C am po (O e)
f
R
(M Hz )
90
54
18
0
2 50 DC
f (MHz)
f (MHz)
f (MHz)
99
0 25 50 75 100
0
15
30
45
Como feita
150DC
250DC
AC100
AC500
H
K
(Oe)
Teno (MPa)
Figura 6-20: Evolução das dispersões na anisotropia com a tensão aplicada para todos os microfios estudados.
A contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha em frequência é apre-
sentada na Figura 6-21. Sabendo que o espalhamento de mágnons se devido a presença de
inomogeneidades topológicas e magnéticas, pode-se creditar parte desta contribuição à rugo-
sidades na interface metal-vidro, que está sempre presente nas amostras estudadas.
0 45 90
1.5
3.0
4.5
6.0
7.5
Como feita
150DC
250DC
AC100
AC500
Γ
Γ
Γ
Γ
(u.a.)
Tensão (MPa)
Figura 6-21: Contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha de FMR. Evolução com a tensão
aplicada para todas as amostras estudadas.
100
Quando se observa o efeito da tensão aplicada no termo de amortecimento devido ao
espalhamento de mágnons percebe-se uma pequena redução no valor de
Γ
com o aumento da
tensão aplicada. Esta redução pode ser explicada pelo melhor alinhamento da casca externa
com a direção circunferencial [65] reduzindo portanto parte das inomogeneidades magnéticas.
Avaliando o efeito do tratamento térmico no comportamento do parâmetro
Γ
, observa-
se um aumento da contribuição de mágnons com o tratamento térmico, comparando-se as
amostras tratadas com a amostra como feita. Ainda, este aumento é maior para o tratamento
DC, comparado com os efeitos do tratamento ac. A principal característica dos materiais a-
morfos é a ausência de ordem estrutural de longo alcance, no entanto, existem unidades ran-
domicamente orientadas que apresentam ordem de curto alcance. Esta ausência de anisotropia
cristalina é responsável pelas propriedades magnéticas macias deste tipo de materiais. O com-
portamento magnético médio é determinado principalmente pela anisotropia magnetoelástica
intrínseca cuja origem está no acoplamento entre as tensões internas armazenadas durante o
processo de fabricação e a magnetização local, através da magnetostricção. Em geral as pro-
priedades magnéticas podem ser melhoradas pelo tratamento térmico a temperaturas inferio-
res à temperatura de cristalização. Neste caso a tensão interna e, consequentemente, a aniso-
tropia magnetoelástica, são reduzidas. Durante o tratamento, suficiente energia térmica é for-
necida ao material, promovendo pequenas modificações nas posições dos átomos e ocasio-
nando a nucleação de grãos cristalinos [77]. Como o material continua em sua fase amorfa
após o tratamento térmico, um aumento no tamanho de grãos significa aumentar o tamanho
médio das inomogeneidades presentes na amostra. Na referência [20] os autores mostram que
a contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha de FMR é fortemente influen-
ciada pelo tamanho de grão. Desta forma, o aumento nas inomogeneidades devido à nuclea-
ção de grãos cristalinos promovida pelo tratamento térmico é o mecanismo responsável pelo
aumento nos valores de
Γ
para as amostras tratadas, em comparação com a amostra como
feita.
6.3.2
R
ESULTADOS OBTIDOS PARA FILMES
Nesta subseção são apresentados os resultados obtidos das medidas de largura de linha
de FMR para os filmes estudados. Para este conjunto de amostras, apresentamos os ajustes
101
incluindo os diferentes processos de relaxação e também a evolução destes processos com o
número de bicamadas que compõem as amostras.
A Figura 6-22 apresenta os dados de onde são obtidas as frequências de ressonância e
as larguras de linha para os filmes. São mostradas as componentes real e imaginária da per-
meabilidade com campo aplicado de 14 Oe. Estes dados são obtidos conforme descrito no
texto deste trabalho. Observa-se nesta figura a amplitude da contribuição rotacional para a
permeabilidade circunferencial,
µ
rot
, a frequência de ressonância, f
res
, e a largura de linha em
frequência, f.
500M 1G 1.5G 2G
f
res
Re{
µ
µµ
µ
}
Im{
µ
µµ
µ
}
Permeabilidade (u.a.)
Frequência (Hz)
µ
µµ
µ
rot
f
Figura 6-22: Medida típica das componentes real e imaginária da permeabilidade,
µ
e
µ
, para o filme multica-
mada [Py(100Å)Cu(25Å)]x30, corte longitudinal, com campo aplicado de 14 Oe. Também são apresentadas a
amplitude da contribuição rotacional para a permeabilidade circunferencial,
µ
rot
, a frequência de ressonância, f
res
,
e a largura de linha em frequência, f.
A Figura 6-23 apresenta, separadamente, cada um dos mecanismos de amortecimento
que estão sendo considerados como contribuindo para a relaxação da magnetização dos filmes
e sua dependência com o campo aplicado. São considerados mecanismos relevantes para o
amortecimento da precessão da magnetização nos filmes o amortecimento de Gilbert, o amor-
tecimento devido a espalhamento de mágnons e o amortecimento devido a dispersões de ani-
sotropia. A linha sólida na Figura 6-23 é a soma quadrática destes três mecanismos de amor-
tecimento. Assim como no caso dos microfios, no caso dos filmes o procedimento para a rea-
102
lização dos ajustes da largura de linha é feito por partes. Aqui, primeiramente obtém-se M
s
e
H
K
dos ajustes das medidas de f
res
versus H à teoria de FMR. H
K
é também obtido pelo méto-
do da derivada segunda da magnetização apresentando valores muito próximos aos anteriores.
Com estes parâmetros fixos, os dados de
f
são ajustados com uma soma dos três mecanismos
de amortecimento considerados. Novamente, os ajustes foram feitos para H > H
K
, região onde
são válidas as expressões utilizadas para o ajuste.
Figura 6-23: Dependência da contribuição de cada mecanismo de amortecimento à largura de linha de FMR com
o campo aplicado: a linha vermelha tracejada apresenta a contribuição do termo de Gilbert, a linha verde ponti-
lhada apresenta a contribuição da dispersão de anisotropia e a linha azul com traço e ponto representa a contribu-
ição do espalhamento de mágnons à largura de linha de FMR. A linha lida é a soma quadrática destes três
mecanismos de amortecimento.
Na apresentação dos resultados referentes aos microfios vimos que alguns dos meca-
nismos de amortecimento que podem estar presentes atuando na dissipação da energia de sis-
temas magnéticos, e que foram discutidos na parte teórica do trabalho, o foram considera-
dos na parte experimental. No caso dos filmes, as mesmas justificativas continuam válidas. O
termo de amortecimento devido a inomogeneidades na distribuição do campo rf [32] não é
relevante no caso estudado pois o campo rf está associado a corrente de medida da impedân-
cia. A corrente de medida está aplicada ao longo do eixo do filme e o campo rf associado a ela
pode ser considerado como estando homogeneamente distribuído sobre todo o volume da a-
0 5 10 15 20
100M
200M
300M
400M
500M
total
dispersão anisotropia
Gilbert
magnon
Campo (Oe)
F (Hz)
H
k
103
mostra, sendo limitado apenas pelo efeito “skin”. Os efeitos de borda podem ser desconside-
rados [78]. Outro mecanismo de amortecimento citado no texto e que também não foi consi-
derado nos dados experimentais obtidos para filmes é o termo devido à correntes parasitas
[19], lembrando que as medidas de largura de linha de FMR são obtidas dos dados de perme-
abilidade circunferencial intrínseca. Assim, justifica-se a presença de apenas três parâmetros
nos ajustes do alargamento de linha de FMR para os filmes estudados.
A contribuição do termo de amortecimento de Gilbert à largura de linha em frequência
no caso dos filmes é, igualmente ao caso dos microfios, descrita pela equação 2-51. A varia-
ção deste parâmetro com o campo aplicado é pequena e linear.
Tanto dispersões na amplitude da anisotropia como na orientação da mesma podem
fazer surgir ressonâncias locais. Para o caso estudado observou-se que os efeitos de anisotro-
pias locais eram bem descritos pela expressão 2-56 que considera dispersões na amplitude da
anisotropia. Desta expressão pode-se notar que a principal característica deste mecanismo de
amortecimento é ter um máximo em H = H
K
, o que também é observado na Figura 6-23.
Por fim, para o ajuste dos dados de largura de linha de FMR em filmes finos magnéti-
cos considerou-se também o espalhamento de mágnons. Da mesma forma que na subseção
anterior considerou-se a presença de inomogeneidades atuando como centros de espalhamento
de mágnons, inicialmente com vetor de onda k = 0 e frequência f, em mágnons com vetor de
onda k 0 e mesma frequência f [76]. A contribuição deste processo de espalhamento de
mágnon ao alargamento da linha de ressonância foi avaliada segundo o modelo de Arias e
Mills [29], pela expressão 2-95. A forma como este termo contribui para o alargamento da
linha de ressonância está apresentada na Figura 6-23.
Em uma comparação entre os resultados obtidos para cada conjunto de amostras, mi-
crofios e filmes, nota-se que a contribuição de cada mecanismo de amortecimento para a rela-
xação magnética é característica de cada amostra estudada. No caso dos microfios, a relevân-
cia de cada mecanismo é fortemente influenciada pela variação do campo magnético aplicado
enquanto que para os filmes estas variações não acontecem tão significativamente. Para os
microfios, quando o campo aplicado está próximo do campo de anisotropia, o principal meca-
nismo contribuindo para o alargamento da linha de ressonância é a dispersão de anisotropias
e, para campos mais elevados, a principal contribuição para o alargamento vem do espalha-
mento de mágnons. Para os filmes, o principal mecanismo responsável pelo amortecimento da
precessão da magnetização é a dispersão de anisotropia, mesmo para campos mais intensos.
A Figura 6-24 apresenta os dados de
f versus H para o conjunto de filmes estudados.
As linhas sólidas representam os ajustes incluindo os três mecanismos de amortecimento des-
104
critos anteriormente. É interessante notar que, assim como no caso dos microfios, a largura de
linha em frequência dos filmes é bastante sensível à presença de anisotropia no material. Os
máximos nas curvas de
f versus H ocorrem no campo de anisotropia. Os ajustes são relati-
vamente bons, na região de campo em que são realizados. Infelizmente, para campos mais
intensos que os apresentados, as amostras entram em ressonância em frequências acima do
limite do aparato experimental utilizado.
0 10 20
200M
300M
400M
longitudinal
N°. de bicamadas
30
50
70
100
f
R
(Hz)
Campo(Oe)
(a)
0 10 20
200M
300M
400M
transversal
N°. de bicamadas
30
50
70
100
f
R
(Hz)
Campo (Oe)
(b)
Figura 6-24: Largura de linha versus campo aplicado para todos os filmes estudados. A figura (a) apresenta os
resultados para as amostras denominadas corte longitudinal e a figura (b) traz os resultados para corte transver-
sal. Observa-se o efeito da variação do número de bicamadas que compõem os filmes às medidas de largura de
linha de FMR. Os símbolos representam os dados experimentais e as linhas sólidas são os ajustes incluindo os
três mecanismos de amortecimento: Gilbert, mágnons e dispersão de anisotropia.
105
O mecanismo de amortecimento de Gilbert, obtido dos ajustes de f, não apresenta
uma dependência clara com o número de bicamadas sendo praticamente constante para todos
os filmes estudados e com valor bem próximo a 0,001.
A Figura 6-25 apresenta a contribuição de dispersões na anisotropia à largura de linha
de FMR obtida pelo ajuste considerando a equação 2-56, para amostra com corte longitudinal
e para amostra cujo corte foi transversal. Observa-se também nesta figura, representada por
símbolos cheios, a contribuição de dispersões da anisotropia obtida pelo método da derivada
segunda da magnetização, para o corte transversal.
Observa-se um aumento das dispersões de anisotropia com o aumento do número de
bicamadas PyCu. Este aumento é esperado pois o “ripple” na magnetização é uma assinatura
de inomogeneidades presentes na amostra. Com o aumento do número de bicamadas aumenta
o número de regiões de interface onde existem rugosidades, além disso, na medida em que as
bicamadas vão sendo crescidas essa rugosidade aumenta. Rugosidades atuam como inomoge-
neidades, contribuindo para a maior dispersão de anisotropia [78].
25 50 75 100
0.5
1.0
1.5
via d
2
M/dt
2
longitudinal
transversal
n° de bicamadas
H
K
(Oe)
Figura 6-25: Contribuição de dispersões na anisotropia ao alargamento da linha de ressonância em função do
número de bicamadas Py/Cu nos filmes estudados. Os símbolos vazios são os resultados obtidos pelo ajuste da
largura de linha de FMR para os cortes longitudinal e transversal. Os símbolos cheios mostram a contribuição de
dispersões na anisotropia obtida pelo método da derivada segunda da magnetização, para o corte transversal.
106
Outra observação a fazer na Figura 6-25 é quanto a diferença observada entre os resul-
tados obtidos para as amostras longitudinal e transversal. Trabalhos que investigam a variação
de anisotropia com o ângulo medido [79, 80] dão conta de que a contribuição de dispersões na
anisotropia à largura de linha de FMR deveria ser a mesma para
φ
= ou
φ
= 90°. Nestes
mesmos trabalhos pode-se observar que esta contribuição é bastante sensível a variações an-
gulares. Portanto, a diferença que observamos entre os dois conjuntos de amostras, longitudi-
nal e transversal, indica uma imprecisão no corte das amostras.
A contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha em frequência é apre-
sentada na Figura 6-26. O espalhamento de mágnons, assim com as dispersões na anisotropia,
também é um mecanismo de relaxação imposto por inomogeneidades presentes na amostra.
Observa-se o aumento do termo que a contribuição do espalhamento de mágnons com o
aumento do mero de bicamadas, uma indicação de que as rugosidades nas interfaces são os
principais responsáveis pelo espalhamento de mágnons.
25 50 75 100
1.5
3.0
4.5
n° de bicamadas
Longitudinal
Transversal
Γ
Γ
Γ
Γ
(a.u.)
Figura 6-26: Contribuição do espalhamento de mágnons à largura de linha de FMR. Evolução com o número de
bicamadas para os cortes longitudinal e transversal.
7
CONCLUSÕES
Neste trabalho apresentamos um estudo da relaxação magnética em microfios amorfos
recobertos por vidro e em filmes multicamadas de PyCu. O estudo se deu pela observação da
largura de linha de FMR. Identificamos os principais mecanismos que contribuem para o a-
mortecimento da magnetização e avaliamos como estes mecanismos de amortecimento evolu-
em. No caso dos microfios observou-se a variação dos mecanismos de amortecimento associ-
ados a precessão da magnetização quando a estrutura magnética das amostras é modificada.
Para tal, os microfios foram submetidos a diferentes tratamentos térmicos e suas característi-
cas magnéticas determinadas com a aplicação de tensão mecânica. No caso dos filmes avali-
ou-se a evolução dos mecanismos de amortecimento com o número de bicamadas, ou seja, as
modificações impostas por um maior número de interfaces nas amostras.
Em ambos os conjuntos de amostras estudadas observou-se que os principais mecanismos
que contribuem para o alargamento da linha de ressonância são: amortecimento de Gilbert,
dispersões na anisotropia e espalhamento de mágnons.
O termo de amortecimento de Gilbert contribui ao alargamento da linha de ressonância
de forma linear com o campo e não apresenta uma dependência clara com a temperatura de
tratamento e tensão aplicada, no caso dos microfios, nem com o número de bicamadas, no
caso dos filmes.
A contribuição ao alargamento na linha de ressonância devido a dispersões da aniso-
tropia apresenta, como principal característica, um máximo em H=H
K
para ambas as geome-
trias estudadas quando o campo aplicado é ortogonal à direção de anisotropia. A largura de
linha de ressonância se mostra bastante sensível às anisotropias presentes no material. Este
mecanismo de amortecimento contribui de forma similar e quase constante para todos os mi-
crofios quando submetidos a tensões inferiores a 40 MPa. Para tensões mais elevadas obser-
va-se um aumento desta contribuição ao alargamento da linha de ressonância, o que está asso-
ciado ao surgimento de uma segunda camada magnética circunferencialmente magnetizada.
No caso dos filmes observa-se um aumento das dispersões de anisotropia com o aumento do
número de bicamadas indicando que as regiões de interfaces entre camadas magnéticas são
inomogêneas, ou seja, apresentam algum tipo de rugosidade.
108
O espalhamento de mágnons é devido à inomogeneidades topológicas e magnéticas.
No caso dos microfios estudados pode-se creditar parte desta contribuição às rugosidades na
interface metal-vidro. O efeito da tensão aplicada é uma pequena redução na contribuição do
espalhamento de gnons ao alargamento da linha de ressonância. Esta redução na contribu-
ição do espalhamento de mágnons com a tensão pode ser explicada pelo melhor alinhamento
de diferentes regiões da casca externa com a direção circunferencial. Ainda no caso dos mi-
crofios, quanto ao tratamento térmico, observa-se um aumento do termo de amortecimento
devido a espalhamento de mágnons quando as amostras são submetidas a tratamento térmico.
Ainda, este aumento é maior para o tratamento DC, comparado com os efeitos do tratamento
ac. A explicação para esse fato pode estar relacionada a menor quantidade de inomogeneida-
des internas nas amostras ac comparadas com as DC, fato que esintimamente relacionado à
magnetostricção apresentada pelas amostras. No caso dos filmes, observa-se o aumento do
termo que a contribuição do espalhamento de mágnons com o aumento do número de bi-
camadas, uma indicação de que as rugosidades nas interfaces são os principais atuantes no
espalhamento de mágnons.
Ao final deste trabalho conseguiu-se estabelecer uma ferramenta confiável para deter-
minar e separar os diferentes mecanismos responsáveis pela relaxação de spin nos materiais
estudados. A observação de que as interfaces são os principais mecanismos de amortecimento
nos filmes multicamadas abre caminho para um estudo mais detalhado das interfaces em sis-
temas com exchange bias, por exemplo, que são sistemas nos quais a qualidade da interface
influencia diretamente no acoplamento entre as camadas Ferro-Antiferromagnéticas.
109
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