56
Chartier as representações devem ser entendidas como ‘[...]
representações que os grupos modelam deles próprios ou dos
outros’ (1991, p. 183).
22
Sobre a atualidade destas discussões, Judith
Hallet irá comentar que [...] debates sobre a mensagem ideológica da
elegia latina e sua adequação para a pesquisa feminista
prognosticam uma satisfatória transformação dos estudos de
literatura latina (1993, p. 64).
23
Para a autora, estes debates
conduzem para as várias formas de representação das mulheres na
literatura do período; ainda que a elegia seja uma poesia dos meios
sociais mais abastados, de um meio predominantemente
aristocrático, com uma visão de mundo descrita dessa perspectiva
(KENEDY, 1993. p. 1), as mulheres que nela aparecem - matronas,
libertas ou escravas, ricas ou pobres – são iguais em sua ‘natureza’.
(SILVA, 2008, p. 2).
As representações femininas invocadas na poética de Manoel de Barros que
surgem como as figuras cujas virtudes estão pautadas no zelo pela harmonia do lar,
encenam personagens domesticadas e passivas, cujas condutas limitam a
testemunhar sem intervir.
Perrot, em sua obra História da vida privada, faz a seguinte afirmação:
As relações cotidianas entre pais e filhos variam imensamente na
cidade e no campo, onde as manifestações de ternura não são muito
apreciadas, conforme os meios sociais, as tradições religiosas e
mesmo políticas. A concepção que se tem da autoridade e da
apresentação de sua própria pessoa influi sobre as palavras e os
gestos do dia-a-dia. A família, desse ponto de vista, é o lugar onde
se processa uma evolução contraditória. De um lado, o controle do
corpo e da expressão emocional se aprofunda; isso se vê, por
exemplo, na história das lágrimas, a partir de então reservadas às
mulheres, às classes populares, à dor e à solidão, ou ainda na
intensificação da disciplina sobre a linguagem e as atitudes físicas
das crianças, intimidadas a ficar retas, a comer direito, e assim por
diante. De outro lado, a troca de carinhos entre pais e filhos é
tolerada, e até desejada, pelo menos na família burguesa. (PERROT,
1991, p. 157).
Cabe-nos observar que a década de 1930 – não será demais lembrar,
momento em que Barros publicou sua primeira obra, PCSP – foi um período de
muitas conquistas da mulher. Acerca dessa questão, Carlos Martins Júnior, no artigo
22
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados, São Paulo, v.r, n. 11, pp.
180-193, jan./abr., 1991. cf.Glaydson Silva.
23
HALLET, Judith. Feminist Theory, Historical periods, literary cannos, and the study of Greco-Roman
antiqquity. In: RABINOWITZ, Nancy Sorkin, RICHLIN, Amy. (Orgs.) Feminist theory and the
classics. New York: Routledge, 1993. p.44-72.