Download PDF
ads:
“Amianto, Perigo e invisibilidade: percepção de riscos ambientais e à
saúde de moradores do município de Bom Jesus da Serra/ Bahia”
por
Marcela de Abreu Moniz
Dissertação apresentada com vistas à obtenção do título de Mestre em
Ciências na área de Saúde Pública e Meio Ambiente.
Orientador principal: Prof. Dr. Hermano Albuquerque de Castro
Segundo orientador: Prof. Dr. Frederico Peres da Costa
Rio de Janeiro, dezembro de 2010.
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
3
Esta dissertação, intitulada
“Amianto, Perigo e invisibilidade: percepção de riscos ambientais e à
saúde de moradores do município de Bom Jesus da Serra/ Bahia”
apresentada por
Marcela de Abreu Moniz
foi avaliada pela Banca Examinadora composta pelos seguintes membros:
Prof.ª Dr.ª Vanda D’Acri Soares
Prof. Dr. Carlos Machado de Freitas
Prof. Dr. Hermano Albuquerque de Castro Orientador principal
Dissertação defendida e aprovada em 21 de dezembro de 2010.
ads:
4
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela oportunidade de enriquecimento de vida e sabedoria
e pela luz e proteção que precisei para seguir e alcançar este caminho;
À minha filha Joana de 2 anos, que é a luz de minha inspiração e a força da
minha luta por um mundo melhor;
Ao meu marido Rodrigo, sem o qual eu não teria conseguido terminar mais
etapa em minha vida, por todo o amor e paciência, por toda a dedicação e
amizade, por toda força e companheirismo;
Aos meus pais, João e Maria Santa, pelo apoio, carinho, compreensão e amor
dedicado a mim e à minha filha, o que me formou nesta pessoa cristã e justa;
Aos meus sogros, Pedro Paulo e Nilza, pelo apoio, carinho e ajuda fornecida a
mim, ao meu marido e a minha filha;
Às amigas da ESF Porto das Caixas, Alessandra, Simone, Daniele e Ednalva,
pela compreensão, ausências e amizade no trabalho;
Aos meus orientadores, Hermano e Frederico, pela ajuda, paciência e
orientações, nas quais eu não teria conseguido realizar esta pesquisa;
À amiga do mestrado Alessandra com a qual aprendi a compartilhar amizade,
saberes e momentos difíceis;
Às profissionais Keila, Gabriela e Ane e aos demais profissionais, funcionários e
amigos do município de Bom Jesus da Serra/BA pelo incentivo, ajuda e
aprendizagem mútua;
À Agente Comunitária de Saúde Dijé pelo acolhimento, amizade, ajuda e
confiança em mim depositada;
À todos os moradores de Bom Jesus da Serra/BA participantes desse estudo pela
cooperação, acolhimento, trocas de experiências de vida e enorme contribuição
para esse estudo.
5
Pensamos situar-nos hoje [...] no
ponto de partida de uma nova
racionalidade que não mais identifica
ciência e certeza, probabilidade e
ignorância” (Ilya Prigogine).
6
RESUMO
Atualmente, tornou-se importante para a comunidade científica e para toda a
sociedade, o fato de conhecer como as populações expostas ambientalmente formulam e
respondem aos riscos químicos tecnológicos. Este estudo objetivou analisar a percepção
de riscos ambientais e à saúde de moradores do município de Bom Jesus da Serra/BA,
que se apresenta como uma área especialmente envolvida pela exposição ambiental ao
amianto no Brasil. Foram aplicados questionários mistos validados com moradores
usuários da estratégia de saúde da família desse município. Os sujeitos do estudo foram
selecionados conforme as seguintes características: faixas etárias específicas- uma de 20
a 35 anos e outra a partir de 60 anos; sexo; tempo e local de moradia. A amostra
intencional alcançada foi de 83 sujeitos. Os resultados mostraram que predominou a
preocupação sobre a contaminação do ar pela poeira, mas houve negação dos riscos
ambientais relacionados ao amianto. No que se refere aos riscos à saúde, também
ocorreu invisibilidade pela maioria dos informantes sobre a maior chance de se ter
câncer e doenças pulmonares para quem resida nesse município. A problemática da
exposição ambiental ao amianto no município de BJS se apresentou como uma situação
sanitária única e complexa, sendo caracterizada pelo domínio da naturalização e
familiarização do risco devido ao contexto sociocultural no qual está inserido.
Palavras-chave: Percepção de riscos; Amianto; Invisibilidade; Exposição ambiental.
7
ABSTRACT
It is important for the society as a whole, to know how exposed populations
formulate and respond to chemistry technological hazards. This study aimed to analyze
the perception of environmental risks and health of the residents of BJS/BA city, which
is an area especially involved by environmental exposure of asbestos in Brazil. Mixed
validated questionnaires were used on residents who attend the Family Health
Program” of this city. The subjects of the study were selected according to the next
characteristics: specific age groups - from 20 to 35 years and the other group above 60
years; sex; time and of dwelling. The intencional reached sample comprises 83 subjects.
The results showed that the residents are aware of the danger by breathing the dust but
they ignore it, when it comes to asbestos environmental hazards. Towards health risks,
invisibility of greater chances to get cancer and pulmonary diseases also occurred in the
majority of residents of the city. However, when the word asbestos is introduced in the
same questions, the sense of risk, in the same subjects, increase highly. The issue of
environmental exposure to asbestos in BJS city presents itself as a sanitary and complex
situation, characterized by the power of the naturalization and familiarization of the risk
due to the sociocultural context in which it is inserted.
Keywords: Risk perception; Asbestos; Invisibility; Environmental Exposure.
8
ÍNDICE DE FIGURAS
Página
Figura 1 Localização do amianto nos espaços dos fatores 1 (“medo extremo”) e 2
(“desconhecimento”) que cruzam suas 15 características dos riscos. Fonte: adaptada de
SLOVIC, 1996, p.............................................................................................................65
9
ÍNDICE DE GRÁFICOS
Página
Gráfico 1: Dados absolutos relacionados à questão: “O que mudou para melhor?”,
relacionada aos problemas ambientais do município, p.................................................83
Gráfico 2: Dados absolutos relacionados à questão: “O que mudou para pior?”,
relacionada aos problemas ambientais do município, p.................................................83
Gráfico 3: Dados absolutos referentes à afirmativa: “Morar em Bom Jesus da Serra é
seguro”, p.........................................................................................................................96
Gráfico 4: Dados absolutos referentes à afirmativa: “Trabalhar em Bom Jesus da Serra
é seguro”, p......................................................................................................................96
Gráfico 5: Dados absolutos referentes à afirmativa: “Uma pessoa que mora em Bom
Jesus da Serra tem mais chance de ter câncer que outra pessoa da mesma idade que
mora em outra cidade”, p...............................................................................................110
Gráfico 6: Dados absolutos referentes à afirmativa: “Uma pessoa que mora em Bom
Jesus da Serra tem mais chance de ter doenças pulmonares que outra pessoa da mesma
idade que mora em outra cidade”, p..............................................................................112
Gráfico 7: Dados absolutos e relativos sobre a opinião dos informantes sobre o amianto
fazer mal à saúde, p.......................................................................................................114
Gráfico 8: Dados absolutos sobre a opinião dos informantes sobre o amianto fazer
mal para quem trabalha com ele, p................................................................................124
Gráfico 9: Dados absolutos sobre a opinião dos informantes em relação ao amianto que
existe em Bom Jesus da Serra poder causar câncer na população, p............................127
Gráfico 10: Dados absolutos sobre a opinião dos informantes em relação ao amianto
que existe em Bom Jesus da Serra poder causar doenças pulmonares na população,
p.....................................................................................................................................129
10
ÍNDICE DE TABELAS
Página
Tabela 1: Dados absolutos e relativos sobre a caracterização biográfica da amostra,
p.......................................................................................................................................81
Tabela 2: Dados absolutos e relativos sobre o perfil de escolaridade da amostra, p......82
Tabela 3: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por
problemas ambientais citados pelos moradores da área próxima à mina, segundo as
faixas etárias específicas, p..............................................................................................92
Tabela 4: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por
problemas ambientais citados pelos moradores da área próxima à mina, segundo os
gêneros, p.........................................................................................................................93
Tabela 5: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por
problemas ambientais citados pelos moradores das demais áreas, segundo as faixas
etárias específicas, p........................................................................................................94
Tabela 6: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por
problemas ambientais citados pelos moradores das demais áreas, segundo os gêneros,
p.......................................................................................................................................94
Tabela 7: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados
pelo local de residência, divididos por faixa etária específica, segundo os moradores da
área próxima à mina, p....................................................................................................99
Tabela 8: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados
pelo local de residência, divididos por gênero, segundo os moradores da área próxima à
mina, p...........................................................................................................................100
Tabela 9: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados
pelo local de residência, divididos por faixa etária específica, segundo os moradores das
demais áreas, p...............................................................................................................101
Tabela 10: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados
pelo local de residência, divididos por gênero, segundo os moradores das demais áreas,
p.....................................................................................................................................102
11
Tabela 11: Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de
acometer uma pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não
viva neste município, segundo os moradores da área próxima à mina por faixa etária,
p.....................................................................................................................................105
Tabela 12: Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de
acometer uma pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que o
viva neste município, segundo os moradores da área próxima à mina por gênero, p...106
Tabela 13: Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de
acometer uma pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não
viva neste município, segundo os moradores das demais áreas por faixa etária, p.......107
Tabela 14: Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de
acometer uma pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não
viva neste município, segundo os moradores das demais áreas por gênero, p..............108
Tabela 15: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo
amianto, na opinião dos moradores próximos à mina, segundo a faixa etária, p..........116
Tabela 16: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo
amianto, na opinião dos moradores próximos à mina, segundo o gênero, p.................117
Tabela 17: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo
amianto, na opinião dos moradores das demais áreas, segundo a faixa etária, p..........119
Tabela 18: Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo
amianto, na opinião dos moradores das demais áreas, segundo o gênero, p.................120
Tabela 19: Média dos valores atribuídos à seriedade de vários problemas de saúde
classificados pelo grupo de moradores entrevistados, p................................................131
Tabela 20: Média das notas atribuídas pelos moradores que variaram de 1-10* e se
referiram à percepção sobre a possibilidade de adoecer, p............................................134
12
ÍNDICE DE FOTOS
Página
Foto 1: Amianto crisotila “in natura”, p..........................................................................19
Foto 2: Amianto crocidolita (azul). “in natura”, p..........................................................20
Foto 3: Vila operária desativada na Mina de São Félix, Bom Jesus da Serra, p.............29
Foto 4: Entrada da galeria principal escavada na mina de São Félix, Acervo pessoal,
p.......................................................................................................................................30
Foto 5: Resíduos de amianto depositados no interior da Fazenda São Félix ao lado da
Mina, Bom Jesus da Serra, p...........................................................................................30
Foto 6: Passivo ambiental de amianto, Bom Jesus da Serra/BA, p.................................31
Foto 7: Ruínas e pedras de amianto em Bom Jesus da Serra/BA, p...............................87
Foto 8: Mina de São Félix, p........................................................................................140
Foto 9: Rochas de amianto no centro da cidade de Bom Jesus da Serra/BA, p............147
13
LISTA DE ABREVIATURAS
ABEA Associação Baiana de Expostos ao Amianto
ABREA Associação Brasileira de Expostos ao Amianto
ATSDR Agency for Toxic Substances and Disease Registry
BJS Bom Jesus da Serra
CEP Comitê de Ética em Pesquisa
ENSP Escola Nacional de Saúde Pública
FIOCRUZ Fundação Oswaldo Cruz
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MS Ministério da Saúde
MPF Ministério Público Federal
SEPAR Sociedad Espanõla de Neumología y Cirurgía Torácica
SESAB Secretaria Estadual de Saúde da Bahia
ONG Organização Não Governamental
OPAN Organização Pan Americana da Saúde
USF Unidade de Saúde da Família
WHO World Health Organization
14
SUMÁRIO
RESUMO, p.06
ABSTRACT, p.07
ÍNDICE DE FIGURAS, p.08
ÍNDICE DE GRÁFICOS, p.09
ÍNDICE DE TABELAS, p.10
ÍNDICE DE FOTOS, p.12
LISTA DE ABREVIATURAS, p.13
I-INTRODUÇÃO, p.16
I.1- EXPOSIÇÃO AMBIENTAL AO AMIANTO: UM PROBLEMA DE SAÚDE
PÚBLICA, p.19
I.2- CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA, p.28
I.2.1- A HISTÓRIA DA MINA DE SÃO FÉLIX DO AMIANTO E O PASSIVO
AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE BJS/BA, p.28
I.2.2- O PROBLEMA DA EXPOSIÇÃO AMBIENTAL AO AMIANTO NO
MUNICÍPIO DE BJS/BA, p.32
I.3- JUSTIFICATIVA, p.34
II- OBJETIVOS, p.37
III- MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL, p.38
III.1- CONCEITO DE RISCO, p.38
III.2- VULNERABILIDADES E RISCOS NA SOCIEDADE ATUAL, p.42
III.3- PERCEPÇÃO DE RISCO, p.50
III.3.1-CONCEITO DE PERCEPÇÃO DE RISCO, p.50
III.3.2-ABORDAGENS TEÓRICAS DAS PERCEPÇÕES DE RISCO, p.56
III.3.3-ABORDAGEM PSICOMÉTRICA, p.57
III.3.4-TEORIA SOCIOCULTURAL, 60
III.3.5-FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO DE RISCOS, p.63
IV-METODOLOGIA, p.70
15
IV.1-CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO E ÁREA DE ESTUDO, p.70
IV.2-DESCRIÇÃO DA PESQUISA, p.73
IV.3-AMOSTRA DA POPULAÇÃO PARTICIPANTE DO ESTUDO, p.77
IV.4-QUESTÕES ÉTICAS, p.79
V- RESULTADOS E DISCUSSÕES, p.80
V.1- CARACTERIZAÇÃO BIOGRÁFICA DA AMOSTRA, p.81
V.2- PERCEPÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS, p.82
V.3- PERCEPÇÃO DE RISCOS À SAÚDE, p.91
V.4-INVISIBILIDADE DOS RISCOS DA EXPOSIÇÃO AMBIENTAL AO
AMIANTO, p.136
V.5-FATORES DETERMINANTES NA PERCEPÇÃO DE RISCOS DA
POPULAÇÃO DE BOM JESUS DA SERRA/BA SOBRE A EXPOSIÇÃO
AMBIENTAL AO AMIANTO, p.152
VI- CONCLUSÃO, p.171
VII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS, p.177
VIII- ANEXOS, 190
QUESTIONÁRIO DE PERCEPÇÃO DE RISCO, p. 191
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE- ESCLARECIDO, p. 198
16
I- INTRODUÇÃO
A partir da segunda metade do século XX, ocorreram mudanças na estrutura e no
funcionamento dos ecossistemas do mundo. Algumas destas mudanças foram essenciais
para aumentar a qualidade de vida e de saúde humana através dos benefícios do
aumento da produção de alimento e de água. Entretanto, outras mudanças nos
ecossistemas oriundas do desenvolvimento econômico contribuíram para a degradação
ambiental, o crescimento das iniqüidades e as disparidades socioeconômicas (OPAN,
2009; MCMICHAEL, 2001).
As questões econômicas passam por interesses industriais que por sua vez, sempre
afetam e transformam os ecossistemas locais. Os seres humanos devem aprender a
adequar suas demandas e necessidades socioeconômicas com a preservação da natureza.
Homem e ambiente devem ser postos em cooperação visando à qualidade de vida de
ambos. Neste sentido, a participação social é aspecto fundamental para a construção e
adequação de tecnologias, da complexidade dos contextos e da manutenção da vida e do
ambiente saudáveis (GOMEZ & MINAYO, 2006; BARNES, 2001).
Os impactos da sobrevivência e da ganância humana orientados por prioridades
sociais e econômicas o os custos nos sistemas ecológicos e conseqüentemente, nos
riscos para a saúde das populações (FREITAS, 2003).
Estamos vivendo atualmente mudanças rápidas e globais nos padrões de saúde,
doença e morte humanos, temas relacionados à longevidade desde o século passado. As
transformações têm ocorrido nos campos da modernização social, da tecnologia e da
intervenção em saúde pública. Apesar disto, em regiões pobres do mundo, ainda faltam
aspectos básicos para uma boa qualidade de vida, tais como: saneamento, segurança
pública, qualidade da água para consumo, cuidados higiênicos, moradia, entre outros
(MCMICHAEL, 2001).
As políticas desenvolvimentistas tiveram o seu auge, mas atualmente se
mostram insustentáveis em sua conjuntura, principalmente devido às crises ambiental,
civilizatória e na saúde das populações, que se procedem da distribuição nada equânime
dos produtos e riquezas usufruídos pela geração deste processo econômico e dos
impactos negativos sobre a saúde e o meio ambiente (MIRANDA et al, 2008; SOAREZ
DE OLIVEIRA, 2002).
Nesse contexto, alguns grupos populacionais são mais vulneráveis para
determinados riscos ambientais, pois, além de terem que conviver com problemas de
17
saúde que persistem em regiões pobres do mundo, tais como doenças diarréicas, infecto-
parasitárias e malnutrição, também têm que conviver com riscos à saúde decorrente dos
transtornos físicos (tal como a radiação) e da contaminação química ambiental, que por
sua vez, são originados pela industrialização. Este conjunto de fatores de riscos
ambientais é ocasionado pela degradação ambiental e são responsáveis pela
qualidade de vida e de saúde do espaço urbano e rural (OPAN, 2009; MCMICHAEL,
2001; MIRANDA et al, 2008).
Nos países de economia semi-periférica como o Brasil, a probabilidade de
interação entre contaminantes ambientais e a população é cada vez mais crescente,
devido à intensificação dos processos industriais e ao estímulo ao crescimento
econômico acelerado no país. Assim, no Brasil somam-se os riscos tecnológicos
ambientais às fragilidades sociais, institucionais e cnicas, caracterizando uma maior
vulnerabilidade de sua população (ROSEN, 1994; MIRANDA et al, 2008; PORTO &
FREITAS, 1997).
Dos produtos dos processos tecnológicos industriais, o risco químico se tornou
uma das principais ameaças para a vida dos seres vivos. Assim, um aumento assustador
na circulação mundial das concentrações de substâncias químicas, normalmente
inexistentes em ambientes não industrializados, tem ocorrido desde o período da II
guerra mundial, quando houve um grande desenvolvimento da tecnologia química em
processos e produtos, o que fez emergir um boom de pesquisas sobre análise de riscos
toxicológicos (PORTO & FREITAS, 1997).
Temos o setor da mineração, como um dos processos industriais que mais tem
contribuído para acentuar a degradação ambiental e as situações de injustiças
socioambientais, justamente, por originar riscos químicos ambientais e à saúde.
Segundo Farias (2002) os principais impactos ambientais oriundos da mineração são:
poluição da água, poluição do ar, poluição sonora, e subsidência do terreno. Um
problema ambiental que a mineração, dentre as indústrias químicas, gera durante sua
atividade e após a sua desativação é o passivo ambiental.
As atividades de mineração também geram um aumento da ocupação humana
desordenada nas proximidades da lavra, o que comumente, agrava situações de
vulnerabilidade socioambiental (CARTIER et al, 2009; FARIAS, 2002).
A busca incessante do aproveitamento de recursos minerais, como insumos para
produtividade industrial ao longo da história do Brasil está intimamente relacionada ao
processo de urbanização e crescimento econômico do país. A mineração é um dos
18
setores econômicos básicos e de suma importância para o desenvolvimento econômico
do país, mas deve ser operado com responsabilidade social e sempre seguir os preceitos
de desenvolvimento sustentável (FARIAS 2002; SOUZA, 2002).
Para que realmente existisse um mínimo de preocupação por parte de
empresários e governantes sobre a manutenção de um meio ambiente sustentável
associada à instalação e continuidade de uma indústria de mineração seria necessário o
envolvimento da comunidade atingida diretamente pela atividade antrópica e de
especialistas e representantes de movimentos sociais nos processos decisórios e a
análise conjuntural dos problemas produzidos (SOUZA, 2002).
O setor mineral brasileiro, assim como outras atividades antrópicas, deve sempre
se responsabilizar sobre a gama de problemas ambientais que gera (FARIAS 2002).
Todavia, a mineração geralmente produz riscos ambientais e riscos à saúde dos
trabalhadores e das comunidades que residem na imediação da indústria, pois as
medidas de precaução e compensatórias em relação ao meio ambiente e à saúde nem
sempre são adotadas pelos seus responsáveis e por sua vez, os órgãos de fiscalização e
regulamentação da legislação ambiental em relação à mineração nem sempre cumprem
seus papéis como deveriam.
Por isso, é de extrema importância que as populações mais atingidas diretamente
por uma situação de risco reconheçam a extensão e a profundidade do problema real que
estão expostas e se fortaleçam enquanto estrutura participativa social, para buscar seus
direitos à saúde e ao meio ambiente saudável, como referenciado em nosso Sistema
Único de Saúde (SUS). Porém, na maioria das vezes, não um controle social efetivo
por parte dessas populações, que são as mais fragilizadas em termos de condições e de
qualidade de vida (STEINFUHRER & KUHLICKE, 2009; STEWART-TAYLOR &
CHERRIES, 1998; TAJIK et al, 2007).
Nesse contexto de injustiças socioambientais, a nível global, uma das indústrias
de mineração que mais contribui para a produção da contaminação química ambiental e
dos riscos à saúde humana é a do amianto. A indústria do amianto foi a responsável pela
ampliação de um problema de saúde ocupacional a um problema de saúde pública, que
ainda alcançará patamares assustadores em alguns pontos do globo (CASTRO et al,
2003). Por conta dessa situação em saúde coletiva, buscou-se a seguir, expor sobre a
problemática da exposição ambiental ao amianto e suas repercussões à saúde humana.
19
I.1-Exposição Ambiental ao amianto: um problema de saúde pública
O amianto ou asbesto é um mineral fibroso que se apresenta na natureza como
seis variados tipos de textura, sendo cinco do grupo dos anfibólios e um do grupo das
serpentinas. O amianto crisotila ou “branco” é a única variedade fibrosa do grupo das
serpentinas e que possui algumas características diferentes do amianto anfibólio, tais
como: as fibras são mais curvas, flexíveis, macias e de mais fácil eliminação. Do grupo
dos anfibólios existem: crocidolita (amianto azul), amosita (amianto marrom), tremolita,
antofilita e actinolita. As fibras do crisotila se apresentam como minerais de silicato
hidratado de magnésio (ABREA, 2009; QUEIROGA et al, 2005). As fotos abaixo
mostram exemplos de amiantos crisotila e crocidolita, respectivamente.
Foto 1: Amianto crisotila “in natura”. Acervo pessoal, 2010.
20
Foto 2: Amianto crocidolita (azul). “in natura”. Acervo pessoal, 2010.
relatos do uso do amianto por primórdios da humanidade há 2.500 a.c.,
devido a sua elevada resistência ao calor, como pelos romanos que os extraíam das
minas situadas nos Alpes italianos e nos montes Urais na Rússia e pelos finlandeses que
o misturavam a argila para fazer objetos resistentes ao fogo (ABREA, 2009; D´AREDE,
2009).
No entanto, o amianto se tornou um poluente químico desde o momento que o
introduziram em processos industriais. A primeira fábrica têxtil a explorar, processar e
utilizar o amianto como matéria-prima surgiu nos Estados Unidos em 1896. Mas a
primeira tentativa real de mineração para fins de comércio ocorreu no final do século
XVII, no Canadá. Foram, realmente, as atividades industriais em algumas regiões do
mundo que acentuaram enormemente o risco de contato do homem com o amianto e do
desenvolvimento de doenças, mas além de problemas ocupacionais, pois desde o início
do processo produtivo estavam também envolvidos em sua exposição familiares de ex-
trabalhadores, residentes próximos às fábricas e a população em geral (ABREA, 2009;
MENDES, 2000).
Sendo assim, as formas de exposição ao amianto são classificadas em
ocupacional e ambiental e parecem estar entrelaçadas no processo de adoecimento
humano desde a origem da implantação da mineração de amianto, pois a própria classe
trabalhadora e seus familiares, geralmente, residem próximo à mina e se expõem
duplamente ao mineral (MENDES, 2000; MENDES, 2001; CASTRO et al, 2003).
21
As características físico-químicas do amianto aliadas à sua abundância na
natureza e ao baixo custo na sua exploração, fez com que ele fosse utilizado largamente
pelo setor industrial para a produção de diversos produtos, dentre os quais de
fibrocimento, fricção, têxtil, papel e papelão, filtros, revestimentos de pisos e isolantes
térmicos (QUEIROGA et al, 2005; ABREA, 2009).
As fibras de amianto possuem elevada resistência mecânica e ao calor,
incombustibilidade, boa qualidade de isolante, durabilidade, flexibilidade, elevada
resistência ao ataque de ácidos, álcalis e bactérias e assim, são bioresistentes e altamente
aerodinâmicas, podendo atingir locais bem distantes da fonte de liberação. Estas
características são resumidas nos termos de indestrutibilidade e incorruptibilidade das
fibras de amianto. Por isto, podemos perceber que os resíduos de amianto deixados no
ambiente após um processo industrial se caracterizam em um passivo de difícil solução
(ABREA, 2009; QUEIROGA et al, 2005; MPF, 2009).
É indiscutível a importância econômica do amianto para o país, todavia, o seu
reconhecimento como mineral cancerígeno reascendeu valores de proteção à vida em
detrimento aos interesses de produção, acumulação e consumo de bens materiais
(JANSSEN, 2005).
O fim do uso do amianto está decretado em países onde as legislações
ambientais e movimentos sociais exerceram pressão para o seu banimento, o que
propiciou a transferência das indústrias produtoras deste mineral para países periféricos
ou subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil. A introdução e a perpetuação destas
indústrias nos países periféricos refletem uma sociedade sem legislações ambientais
eficazes e sem sensibilização e participação popular (PEDRA et al, 2008).
O Canadá é um exemplo de país que mais exporta produtos a base de amianto
para países periféricos, perpetuando um processo de injustiças ambientais, nas quais não
são mais aceitas pela sua população (ABREA, 2009; GIANNASI, 2006; VIRTA, 2010).
Os cinco maiores produtores de amianto no mundo (em toneladas/ ano) são:
Rússia (1,000.000); China (250, 000); Brasil (250,000); Kazakhstan (210,000); Canadá
(180,000). O mundo tem cerca de 200 milhões de toneladas de asbestos provenientes de
recursos naturais (VIRTA, 2010).
22
Embora o Brasil seja o terceiro maior produtor (250, 000 toneladas/ano) de
amianto no mundo, a campanha nacional anti-amianto tem favorecido o declínio de sua
utilização, o que tem feito com que o excedente (65%) esteja sendo exportado para
países da Ásia, principalmente, e América Latina. No Brasil, a maior parte do amianto
comercializado é do tipo crisotila ou amianto branco, sendo mais de 90% consumido
pelas indústrias de fibrocimento e têxtil e 10% em materiais de fricção (autopeças) e
indústrias químico-plásticas (VIRTA, 2010; ABREA, 2009).
No entanto, os danos ambientais provocados pela exploração do amianto apenas
foi mais um elemento acrescentado aos malefícios ocasionados pela mineração do
amianto no mundo, porém, foi o adoecimento humano resultante desta prática
econômica que despertou o interesse de diversos segmentos sociais sobre o seu
banimento (FILHO et al, 2001).
A exposição ao amianto, seja ambientalmente seja ocupacionalmente, reflete
uma tendência crescente alarmante de mortes e doenças em indivíduos no mundo
inteiro.
Giannasi (2006) relata:
... Estima-se que a população brasileira direta e ocupacionalmente exposta
atualmente seja de 50.000 pessoas, das quais 3.500 são trabalhadores da indústria
de exploração e transformação- mineração, cimento-amianto, materiais de fricção e
outros. Não há dados sobre os expostos indireta e ambientalmente à fibra
cancerígena, mas estimativas grosseiras apontam para 500.000 pessoas‖.
Neste contexto, o compromisso e a responsabilidade social parecem, realmente,
ser deixados de lado, tanto em relação às áreas de segurança e saúde do trabalhador
como da comunidade diretamente envolvida com a indústria da mineração do amianto
(GIANNASI, 2006).
Embora alguns setores empresariais e governamentais interessados em
relativizar a problemática do amianto entorno da saúde ocupacional no Brasil
permaneçam alegando que a crisotila (amianto branco) “ pura” dentro dos limites
estabelecidos em lei não é tóxica para a saúde humana, casos bem documentados na
literatura internacional, de câncer de pulmão e mesotelioma maligno em grupos
populacionais que residem próximos às imediações de fábricas que utilizem o amianto
23
crisotila em seus processos produtivos (TARRES et at, 2009; CAMUS et al, 1998;
CASTRO et al, 2003; MENDES, 2001).
Sendo assim, mesmo para os produtos considerados a base de amianto crisotila
“puro” e que não contêm o amianto anfibólio, não limites seguros de exposição
humana, pois as fibras crisotilas são reconhecidamente cancerígenas e
pneumoconióticas (XU et al, 2002; MENDES, 2000; ABREA,2009; WHO, 2006).
A partir do final do século XIX, se iniciaram os primeiros estudos de
investigação sobre o amianto e suas conseqüências para a saúde de trabalhadores
expostos ao amianto, a partir da observação freqüente de algumas doenças com
características próprias nestes indivíduos (ABREA, 2009).
Mas os primeiros casos documentados de fato sobre mortalidade atribuída ao
contato com amianto foram feitos por Heródoto, há mais de dois mil anos, que verificou
uma elevada mortalidade entre escravos que produziam mortalhas de amianto (ABREA,
2009).
SEPAR (2004, P. 10) refere que a exposição ambiental se encontra em diversos
países, onde se explora o asbesto, sendo verificada em vários kilômetros ao redor das
minas de fibras de asbestos e os casos de pulmão e mesotelioma são muito superiores ao
esperado.
As doenças consagradas como decorrentes da exposição ao amianto são:
Asbestose, Câncer de pulmão e Mesotelioma, embora outras tenham sido também
associadas ao amianto.
A asbestose é uma pneumoconiose típica, crônica e irreversível que se
caracteriza como uma fibrose intersticial difusa, bilateral, com presença de corpos
asbestóticos, envolvendo um mecanismo imunológico com granulomatose e às vezes,
com comprometimento pleural. As placas pleurais e os derrames pleurais ocorrem
freqüentemente na evolução da asbestose. formação lenta e progressiva de cicatrizes
em todo o parênquima pulmonar, com o surgimento de manifestações clínicas da
doença, em que a predominante é a dispnéia de esforço, usualmente com 10 a 15 anos
de exposição da inalação pelas fibras de amianto (MENDES, 2000; CASTRO &
GOMES, 1997).
24
Há relatos da existência de uma nítida relação de dose-resposta entre a exposição
das fibras de asbesto e o desenvolvimento de asbestose e câncer de pulmão, enquanto
que para o mesotelioma não existe esta relação (MENDES, 2001; CASTRO &
GOMES, 1997).
Em relação ao câncer de pulmão, o asbesto é comprovadamente um fator de
risco para o desenvolvimento de todos os seus subtipos histológicos, incluindo o
carcinoma de células escamosas (ocorre mais freqüentemente em sinergismo com o
fumo), o carcinoma de pequenas células, o adenocarcinoma (ocorre comumente entre
expostos ao asbesto sem sinergismo com o fumo) e o carcinoma de grandes células, os
cânceres histologicamente mistos e os demais tumores pouco comuns. O câncer de
pulmão pode freqüentemente, vir a se desenvolver após a asbestose (MENDES, 2000;
MENDES, 2001).
o Mesotelioma é um tumor maligno predominantemente causado pelo asbesto
e se localiza mais freqüentemente na pleura, embora também se apresente em outras
membranas como o peritônio e o pericárdio (PEDRA et al, 2008; CASTRO & GOMES,
1997).
O mesotelioma pode servir de indicador de exposição prévia ao amianto. O
estudo de Pedra (2008) demonstrou uma tendência crescente de mortalidade por
mesotelioma no Brasil no período de 1980 a 2003. O período de latência do
mesotelioma causado por asbesto é geralmente de 20 a 40 anos. Por isto, mesmo que
ocorra um grande número de mortes por mesotelioma relacionadas à exposição ao
amianto em muitos países que já o baniram, como é o exemplo da Europa, ainda espera-
se que ocorram 100.000 mortes por mesotelioma. As taxas de mortalidade por
mesotelioma se manterão elevadas em alguns países da Europa até o ano de 2015
(GIANNASI, 2006; PEDRA et al, 2008).
Esse longo período de latência se apresenta como um aspecto que pode,
realmente, dificultar a observação de seus doentes, ou seja, até que apareçam os sinais e
sintomas da doença, muitos indivíduos poderiam estar idosos e isto ser um fator de
confundimento para o diagnóstico.
25
Giannasi (2006) descreve:
―Considerando-se a longa latência das doenças atribuídas ao amianto e a sua
produção em larga escala no país, a partir da década de 70, podemos considerar
que o pico de adoecimento em nosso país se dará entre 2005-2015, como vimos
ocorrer na Europa e nos Estados Unidos a partir do final da década de 70‖.
Porém, outros importantes fatores levam a mascarar a visibilidade social das
doenças e suas mortes provocadas pelo amianto, tais como:
Dificuldades do diagnóstico correto de doenças como câncer de pulmão;
asbestose e mesotelioma maligno, uma vez que os sinais e sintomas destas
doenças podem ser confundidos com outras doenças pulmonares e até que se
consiga concluir o diagnóstico, o estadiamento da doença pode estar bem
avançado e ter conduzido o indivíduo ao óbito;
Ausência de qualificação de profissionais de saúde para realizar o diagnóstico
correto e acompanhamento destas doenças, com base em uma história clínica,
socioepidemiológica e ocupacional do indivíduo doente e ainda, que sejam
comprometidos com a notificação destas doenças para o setor de vigilância
epidemiológica de seu município;
Dificuldades de acesso aos serviços de saúde, que garanta a integralidade da
assistência à saúde, uma vez que os doentes podem não ter acesso aos exames
diagnósticos necessários para a conclusão diagnóstica. Um método direto
necessário para investigar uma exposição de amianto prévia e a magnitude do
risco é a análise do conteúdo de amianto no pulmão (CASTRO & GOMES,
1997; MENDES, 2001);
Adequação de Sistemas de Vigilância e Informação em saúde ocupacional e
ambiental que permitam a acurácia dos dados alimentados por regiões de todo o
Brasil (CASTRO et al, 2003; MENDES, 2000; ABREA, 2009);
Acompanhamento da saúde de trabalhadores e ex-trabalhadores exclusivamente
pela empresa, que pode omitir a revelação dos dados reais sobre os doentes e os
tipos de doenças acometidas.
A invisibilidade social dos grupos populacionais mais atingidos pela exposição
ocupacional e ambiental ao amianto, refletindo a negligência por parte da
empresa e do estado sobre os riscos ambientais e à saúde.
26
Filho et al (2001) descreveu sobre patologias ocasionadas pela exposição
ambiental ao amianto:
―Exposições ambientais não-ocupacionais ao amianto também têm sido associadas
ao risco de mesotelioma. O câncer de laringe e alguns tumores gastrointestinais
também foram relacionados ao amianto em alguns estudos‖.
Um aumento da incidência de câncer de pulmão pode ser documentado no
estudo de CHANG et al(1999) entre moradores próximos a diferentes indústrias que
manipulam o amianto em Taiwan, enquanto que no estudo de CAMUS et al (1998) no
Canadá, se demonstrou um excesso de risco de mortalidade de câncer de pulmão entre
mulheres moradores nas proximidades de duas minas desativadas de amianto crisotila.
Doenças pleuro-pulmonares benignas (placas pleurais) e malignas
(mesoteliomas) podem ser evidenciadas em populações residentes próximas às fábricas
que processam o amianto através de estudos como o da Turquia (EMRI et al,2002 ), da
Espanha (TARRÉS et al, 2009)e da Itália (MAGNANI et al, 1995).
Existem doenças documentadas em outras localizações que não seja na pleura e
no parênquima pulmonar devido à exposição ocupacional ao amianto, tais como:
mesotelioma maligno de peritônio, pericárdio e saco escrotal; Câncer da Laringe;
Câncer do Estômago; Câncer do Esôfago; Câncer do Cólon-Reto; Outras localizações:
ovário, vesícula biliar, vias biliares, pâncreas, rim (MENDES, 2000).
Por tudo isso é que a exposição ambiental ao amianto é uma realidade
onipresente no Brasil e no mundo e pode ser caracterizada como um problema de saúde
pública de grande magnitude (CASTRO et al, 2003; PEDRA et al, 2008).
Então, podemos explicar a exposição ambiental ao amianto como a forma que
um indivíduo se expõe as fibras de amianto ou poeira de amianto no meio ambiente por
meio de sua inalação (XU te al, 2002; TARRÉS et al, 2009).
A exposição ambiental ao amianto não alcança no Brasil o manifesto social e
científico que deveria justamente pelo país manter o domínio da governabilidade em
mais este assunto. Mas os setores que englobam a ciência, a política e o movimento
social da ABREA (Associação Brasileira dos expostos ao Amianto) têm exercido
pressões sociais sobre a necessidade urgente do banimento do amianto como a única
27
medida de prevenção dos riscos e proteção à saúde, que poderia atenuar a carga de
morbimortalidade vinculada ao amianto (MENDES, 2001; GIANNASI, 2006).
Atualmente, existe um movimento internacional e nacional a favor do banimento
de todos os tipos de fibras de amianto e de sua substituição por fibras naturais
alternativas. No Brasil, o único tipo de fibra de amianto ainda explorado é o crisotila na
terceira maior mina do mundo e a única do país, que é chamada de CanaBrava e fica
localizada em Minaçu/GO (ABREA, 2009; QUEIROGA et al, 2005; MENDES, 2001).
Contudo, a grande biodiversidade encontrada no Brasil permite que não apenas
os recursos minerais sejam explorados para os processos industriais, mas também que
outros tipos de recursos naturais sejam utilizados com esta finalidade. Por exemplo, o
amianto poderia ser substituído por fibras vegetais na produção de fibrocimento.
existem estudos no Brasil e no mundo que comprovem a viabilidade e a qualidade de
materiais reforçados com fibras vegetais ou outros tipos e que são utilizados algum
tempo por muitos países. Dentre estas fibras substitutivas ao amianto encontramos: fibra
de vidro; fibra de carbono; silicato de cálcio; fibra de celulose; fibras cerâmicas e
diversas fibras orgânicas (TONOLI, 2006; SAVASTANO, 2002; JÚNIOR, 2007).
A importância da substituição do amianto por fibras naturais está na segurança
para o meio ambiente e a saúde humana, além de alguns aspectos econômicos, tais
como: abundância de algumas fibras naturais e baixo custo de sua extração e produção
(SAVASTANO, 2002; JÚNIOR, 2007).
O único modo de realmente aliar o desenvolvimento econômico e social do país
a sustentabilidade ambiental e segurança pública é impulsionar os processos produtivos
com base em padrões tecnológicos que não sirvam única e exclusivamente aos
interesses do capital, mas que utilizem insumos naturais renováveis que não produzam
riscos à saúde humana.
28
I.2-Caracterização do problema
I.2.1- A história da Mina de São Félix do Amianto e o passivo ambiental no
município de Bom Jesus da Serra/BA
70 anos, a industrialização transformou um forte componente ambiental do
município de Bom Jesus da Serra/BA (BJS/ BA) em um poluente que acentuou uma
situação de injustiça socioambiental: o amianto. A região apresentava uma
abundância natural de amianto, mas o contato entre o homem e o mineral foi difundido
através da instalação de uma mineração em 1939.
A mina de São Félix em Bom Jesus da Serra/BA foi a primeira jazida de
exploração de amianto a surgir no país. A empresa SAMA Minerações Associadas
LTDA. degradou uma área de aproximadamente 700 hectares desta mina e parou
após ter exaurido seus recursos minerais, durante o período de 1939 até 1967 e ter
descoberto outra região no país para a ampliação da exploração econômica do amianto,
no estado de Goiás (DIOCLÉCIO, 2008; QUEIROGA et al, 2005).
Essa mineradora permanece explorando cerca de 280 mil toneladas de fibras de
amianto por ano da jazida Canabrava na cidade goiana de Minaçu/GO. Funcionários da
mineradora relatam que a exploração do amianto na mina Canabrava é capaz de gerar
produção por cerca de 60 anos, mas já alcança os 40 (QUEIROGA et al, 2005).
A mina de amianto localizada na fazenda São Félix situada, na época, no vilarejo
de Bom Jesus da Serra/ BA- distrito do município de Poções/BA- foi utilizada por
aproximadamente, três décadas como principal fonte de abastecimento do mercado
nacional de amianto. Antes desta lavra, o Brasil importava todo o amianto que consumia
(MPF, 2009; D´AREDE, 2009).
Nesta fazenda existia uma vila operária (ver foto abaixo) que foi destinada a
abrigar os funcionários e seus familiares na época da ativação da lavra. No interior da
vila, existiam áreas de lazer, educação e religião, destacadas por escola, cinema e igreja.
29
FOTO 3: Vila operária desativada na Mina de São Félix, Bom Jesus da Serra, Acervo pessoal, 2010.
Na igreja de Nossa Senhora das Graças ainda são realizadas missas eventuais
por um padre de Poções. O campo de futebol se apresenta como uma área de lazer para
os moradores de BJS, estando pouco freqüentado, atualmente, devido ao acesso restrito
à área.
D`arede (2009) descreve que houve crescimento populacional e um pequeno
desenvolvimento econômico na região, após a inserção da vila industrial de mineração
do amianto. Sabemos que a industrialização gera empregos e renda, porém, também,
contribui para acentuar as condições ambientais miseráveis de muitos grupos
populacionais vulneráveis. Estes grupos tendem a se aglomerar nas proximidades das
indústrias na busca de sobrevivência e/ou melhores condições de vida (CARTIER et al,
2009).
Pereira & Almeida (2009) relata que a maioria dos moradores do município de
Minaçu/GO percebe a atividade industrial da mina de Cana Brava (de amianto crisotila)
promovida pela empresa SAMA, como responsável pela existência da maior fonte de
renda do município.
Na época, a maioria dos moradores do município BJS buscou emprego na
mineração, deixando um pouco de lado a agricultura de subsistência. Os empregos
formais e informais foram gerados pela indústria, com a participação ativa dos
familiares dos trabalhadores.
Durante as atividades de mineração nas grandes rochas de amianto na região,
trabalhadores escavaram manualmente uma galeria, em forma de gruta, estando sua
30
entrada principal na mina de são Félix a 4 km do centro do município, e se entendendo
até o final da serra, a 1,5 Km do centro, conforme a foto a seguir:
Foto 4: Entrada da galeria principal escavada na mina de São Félix, Acervo pessoal, 2010.
Existem pilhas de rejeitos do “pó do minério” em frente à entrada desta galeria.
Os operários da mina transportavam os rejeitos do processo industrial e os depositavam
entorno da mina, onde formaram pilhas. As mulheres dos trabalhadores ainda
ensacavam esta poeira de rejeitos. A foto abaixo mostra o acúmulo de resíduos
observável até os dias atuais.
Foto 5: Resíduos de amianto depositados no interior da Fazenda São Félix ao lado da Mina, Bom
Jesus da Serra, Acervo pessoal, 2010.
Ao lado deste cenário há uma paisagem de beleza e terror: o vale artificial criado
pela extração de rochas amantíferas que foi tomado pelas águas do lençol freático, e
emergiu em lago, que serve como espaço de lazer da população de Bom Jesus da Serra,
como fonte de abastecimento de água, principalmente, no período das secas e como
31
local de pesca. Os moradores chamam este vale de grande “Cânion” e o lago apresenta
cor esverdeada devido a sua composição de magnésio advindo das rochas de amianto,
como pode ser observado na foto abaixo (DIOCLÉCIO, 2008; D´AREDE, 2009).
Foto 6: Passivo ambiental de amianto, Bom Jesus da Serra/BA, Acervo pessoal, 2010.
Toda essa enorme área degradada ambientalmente no município de Bom Jesus da
Serra/BA se apresenta como o maior passivo ambiental relacionado ao amianto já
deixado por uma empresa no Brasil e que pode estar associado a diversos agravos à
saúde dos ex-trabalhadores e da população local (MENDES, 2001; D´AREDE, 2009).
Como discutimos anteriormente, as características físico-químicas do amianto
permitem caracterizá-lo como um recurso natural não renovável. Então, podemos
entender que os passivos ambientais produzidos por uma indústria de amianto são de
difícil solução.
A negligência por parte de autoridades, empresários e governantes ainda agrava
a resolução do problema.
O fechamento da mina de São Félix do amianto em 1967 não seguiu normas de
negociação entre o minerador, o poder público e a comunidade atingida pelo
empreendimento mineral, como deveria ter ocorrido. Não houve preocupação por parte
da empresa sobre pagamento de multas, indenizações ou para a recuperação da área
danificada (SOUZA, 2002; D´AREDE, 2009).
Em uma casa edificada dentro da fazenda de São Félix ainda residem familiares
de Manoel Cândido de oliveira, para quem foi vendida após o término da lavra. Um
evento em destaque foi a de que o comprador do imóvel rural (fazenda de São Félix)
permaneceu sendo ludibriado pela empresa, uma vez que ele deveria pagá-la qualquer
32
renda que viesse a ser obtida a partir da exploração de reservas minerais encontradas no
terreno, além de que poderia opinar sobre o valor desta exploração (D´AREDE, 2009;
MPF, 2009).
O descaso pela empresa SAMA sobre os problemas ambientais e de saúde
decorrentes do seu processo industrial permanece até o prezado momento.
A empresa SAMA se recusou em celebrar um termo de ajustamento de conduta
por causa do passivo deixado em Bom Jesus da Serra, que poderia ter sido acordado
com vistas à adoção de um plano de recuperação da área ambiental degradada, na qual
ela não o desenvolveu (MPF, 2009).
Todavia, o art. 225, § da Constituição Federal de 1988 impõe àquele que
explorar recursos minerais a obrigação de recuperar os danos ambientais causados pela
atividade de mineração, de acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público
competente, na forma de lei. Outra legislação ambiental pertinente a este fato é o art. 55,
§ único da Lei 9.605/98, que define como crime e infração administrativa, sujeita à
penalidade de multa, o fato de deixar de recuperar a área minerada nos termos da
determinação do órgão ambiental competente (FARIAS 2002).
I.2.2- O problema da exposição ambiental ao amianto no município de Bom Jesus
da Serra/BA
A evolução da propagação da exposição ao amianto por todo o município e áreas
adjacentes reflete a articulação entre os contextos histórico e sócio-cultural em que se
deu o desenvolvimento da mineração. Nesse sentido, descrevemos a seguir a inter-
relação das formas de exposição ambiental ao amianto no município de Bom Jesus da
Serra/BA com as épocas durante e após a exploração industrial.
A exposição ambiental ao amianto no município-alvo desse estudo pode ser
subclassificada em três formas: presença da mina abandonada de amianto; presença dos
rejeitos industriais do “pó do amianto” e presença de rochas de amianto em ruas, casas e
locais espalhados por toda a cidade.
Inicialmente, na época da ativação da mina de São Félix de BJS/BA, a exposição
ao amianto era basicamente ocupacional e paraocupacional, pois os indivíduos que
33
apresentavam a maior carga de exposição eram trabalhadores da empresa em todas as
fases do processo fabril; suas mulheres e crianças através do manuseio de roupas e
objetos dos trabalhadores expostos -a forma citada mais comumente pela literatura
internacional- e por se apresentarem como trabalhadores indiretos, uma vez que
removiam veios de amianto de rochas britadas através da catação manual e ensacavam
os resíduos de amianto (D´AREDE, 2009; MENDES, 2000; MENDES, 2001).
Dessa forma, podemos perceber que as mulheres e as crianças filhas de
trabalhadores se caracterizaram como um grupo extremamente explorado
ocupacionalmente e socialmente na história da mineração nesta região.
Nota-se o agravamento da situação de exposição ao amianto por trabalhadores e
familiares justamente por residirem em áreas circunvizinhas à mina, ou seja, ao seu
local de trabalho. Muitos ex-trabalhadores e seus familiares faleceram, porém, outros
ainda moram no entorno da mina, no povoado Bonfim do Amianto ou ainda, em outros
locais do município.
Posteriormente, com a utilização do amianto para a “urbanização” da cidade, ele
foi espalhado por todos os ares e lugares, consolidando uma situação de exposição
ambiental.
Reafirmando essa situação, temos o fato de que o governo local ainda permitia
que os resíduos de amianto fossem utilizados para construções civis, asfaltamento, entre
outros, até que uma intervenção do ministério blico proibiu esta situação em 2009, o
que restringiu, também, o acesso da população ao local da mina abandonada
(D´AREDE, 2009).
De uma forma geral, toda a população está exposta ao amianto através da
utilização de produtos, ou mesmo, de construções públicas que contenham o amianto,
mas especificamente a comunidade de Bom Jesus da Serra tem sua exposição acentuada
pela presença constante e contínua do amianto em ruas e casas, além da mina e dos
resíduos industriais de amianto.
34
I.3-Justificativa
A partir do exposto acima, percebe-se que no município de Bom Jesus da
Serra/BA os problemas assumem uma dimensão ampla e complexa, pois repercutem nas
esferas da saúde pública e do meio ambiente. Até o presente momento, ainda é possível
verificar riscos ambientais e riscos à saúde mesclados entre condições cio-sanitárias
deficientes neste município, o que nos faz refletir que a população deste município
parece não participar dos processos decisórios locais e está despercebida pelo poder
público.
Dessa situação, pressupõe-se que a comunidade local não tenha percepção do
grave risco à sua saúde, relacionado à exposição ao amianto, através da contaminação
dos diversos compartimentos ambientais da região afetada. Este sério e grave problema
ambiental e de saúde pública aliado às características de uma área pobre e rural,
transformam o município em um alvo de exploração científica entre as ciências sociais e
de saúde (MENDES, 2001; DIOCLÉCIO, 2008).
poucos estudos acerca da contaminação ambiental por amianto e da
percepção da população exposta ao amianto no mundo que levem em consideração a
dimensão social do risco representado pela exposição a este mineral, pois a grande
maioria deles focaliza suas investigações nas análises técnicas do risco. Nesse estudo,
sugeriu-se que a formulação das percepções de risco dos moradores expostos
ambientalmente ao amianto seja aplicável ao seu contexto social próprio, levando em
consideração as experiências da vida cotidiana e os aspectos simbólicos, que geralmente
são pouco problematizados em pesquisas de abordagem psicométrica (TARRÉS et al,
2009; CAPPELLETTO & MERLER, 2003; MAUREL et al, 2009).
Os aspectos sociais devem estar concretamente relacionados às situações de riscos
e os estudos de percepção e de comunicação de riscos devem estimular transformações
sociais nos modos como a sociedade decide (FREITAS, 2000).
Nesse sentido, o envolvimento e o conhecimento dos moradores sobre as
questões de ambiente e saúde que o município de Bom Jesus da Serra/BA apresenta é
um ponto crucial para a elaboração de estratégias de enfrentamento social com o
propósito de melhoria das condições de vida e de saúde locais. Com isso, pretende-se
contribuir, também, para a reflexão dos principais atores sociais envolvidos nos
problemas ambientais gerados e para mudança de comportamentos dos mesmos frente à
35
identificação dos riscos, principalmente em relação à exposição ambiental ao amianto,
além de servir de evidência científica para a imersão e aprofundamento de outras
pesquisas que estão sendo desenvolvidas nesta região.
uma grande necessidade de desenvolvimento de estudos com abordagem
teórico-metodológica integradora entre as áreas biomédica, tecnológica, sociais e
humanas face ao aumento do nível de complexidade dos efeitos dos processos
produtivos sobre a vida biológica e social do planeta e aos limites das respostas pouco
resolutivas sociais e institucionais entorno destes problemas. A tendência à ampliação
social da percepção e tematização pública dos riscos tecnológicos ambientais (tal como
o do amianto) se configura nesse contexto, pois se num primeiro momento do processo
de industrialização, eram os trabalhadores os grandes atingidos pelo desenvolvimento
tecnológico, na atualidade, são as populações circunvizinhas aos sítios industriais,
consumidores e ecossistemas regionais ou mesmo globais que são afetados por estes
riscos universalizados (PORTO & FREITAS, 1997).
À luz desse contexto, os estudos de percepção de riscos com populações
vulneráveis podem se apresentar como um elo de integração entre os interesses de todos
os atores sociais envolvidos no processo decisório sobre uma determinada situação de
risco ambiental e a saúde (FREITAS, 2000). A forma como as pessoas residentes na
região afetada identificam e se posicionam diante dos riscos a que estão expostas, pode
ser um ponto de partida para a tomada de ações e atitudes coletivas no intuito de
transformar a realidade estacionária (TAJIK et al, 2007; STEWART-TAYLOR &
CHERRIES, 1998).
Em alguns países desenvolvidos, os resultados dos estudos de percepção de riscos
servem para a reformulação de políticas entorno dos riscos ambientais e à saúde. Sem o
entendimento de como as sociedades pensam e respondem aos riscos, as políticas e
análises científicas bem intencionadas são ineficazes. Assim, pesquisadores e
autoridades públicas responsáveis pela saúde e segurança precisam entender como o
público percebe e responde aos riscos químicos tecnológicos, a partir de uma análise de
atitudes, valores, crenças e significados que vão bem além das estimativas técnicas do
risco. Um dos fatores que exerce forte influência na construção individual e coletiva da
percepção de riscos é o contexto sociocultural do grupo populacional exposto que por
sua vez, interfere no processo de controle social (MARANDOLA Jr. & HOGAN, 2004;
BARNES, 2001; SLOVIC, 1987).
36
Com o intuito de debater questões relacionadas à percepção de riscos de uma
comunidade ambientalmente exposta ao amianto, surgiram as seguintes perguntas de
pesquisa:
Como os moradores percebem as situações de riscos ambientais do Município?
O que será que eles percebem?
Será que os moradores percebem que as questões ambientais do município
interferem na qualidade de sua saúde e de outras pessoas?
Será que os moradores reconhecem a exposição ambiental ao amianto como um
risco potencial à sua saúde, dentre os problemas ambientais observados no
município de Bom Jesus da serra/BA?
Quais os determinantes da percepção de riscos caracterizados pela exposição
ambiental ao amianto dos moradores do município de Bom Jesus da Serra/ BA?
A partir da problematização da percepção de riscos oriundos da exposição
ambiental ao amianto, pretende-se desenvolver ao longo dos próximos capítulos dessa
dissertação uma lógica que se perceba a importância da inter-relação das áreas de saúde,
ambiente, cultura e sociedade para a construção de práticas e conhecimentos da saúde
pública e meio ambiente.
37
II- OBJETIVO(S)
Geral
-Analisar a percepção de riscos ambientais e à saúde de moradores do município de
Bom Jesus da Serra/ BA.
Específicos
-Identificar se os moradores relacionam as possíveis situações de riscos ambientais do
município de Bom Jesus da Serra/ BA com o desenvolvimento de problemas de saúde;
-Identificar se os moradores reconhecem, dentre os problemas ambientais observados no
município de Bom Jesus da Serra/ BA, a exposição ambiental ao amianto local como
um risco potencial à saúde;
-Conhecer os determinantes da percepção de riscos caracterizados pela exposição
ambiental ao amianto dos moradores do município de Bom Jesus da Serra/ BA.
38
III- MARCO TEÓRICO-CONCEITUAL
III.1- CONCEITO DE RISCO
O risco é um fator de estresse importante para a sobrevivência humana. A
probabilidade de ocorrência de um determinado perigo ou dano ao ser humano faz com
que este desenvolva mecanismos adaptativos para formular soluções para evitá-lo,
reduzí-lo ou eliminá-lo (SLOVIC, 1987).
O conceito de risco tem início no século XIV ganhando conotação de perigo nos
séculos XVI e XVII, juntamente com a estruturação das sociedades em estados-nações.
Antes, os eventos naturais ou decorrentes da ação antrópica eram designados como
outros termos relacionados à fatalidade, e não como risco, na época moderna ele
ganha duas novas dimensões: de controle possível ou provável e de possibilidade de
perda de valores (naturais; materiais; socioculturais, etc.). Trata-se de uma expressão
contemporânea de intensas transformações sociais, culturais, políticas e econômicas que
ocorreram a partir da formação de sociedades no final do renascimento
(MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004; LUIZ & COHN, 2006; FREITAS & GOMEZ,
1997).
O risco é inerente a todas as sociedades, porém tem se tornado um problema
cada vez mais freqüente, em parte pelo desenvolvimento tecnológico desenfreado,
aplicado em diversos campos do saber e que tem agravado iniqüidades socioambientais
e em parte, devido às populações mais vulneráveis aos riscos sejam químicos, físicos ou
biológicos não perceberem a gravidade deles para o ambiente e para sua saúde
(FISCHHOFF, 1995; HABERMANN & GOUVEIA, 2008).
Dessa forma, a proposição de risco tem sido valorizada por ser atribuída ao
acontecimento de alterações ambientais (modificação do clima e do aquecimento global,
poluição química, desastres naturais, etc.) provocadas pela ação do homem e que por
sua vez, repercutem em seu estilo e qualidade de vida. Assim, o risco é uma categoria
que tem recebido cada vez mais atenção por diferentes áreas do saber: ciências sociais,
humanas e da saúde e por isto tem se enriquecido conceitualmente e tem sido aplicado
metodologicamente de forma heterogênea, a partir de diferentes pressupostos
ontológicos. Nesse contexto de interesses, a teoria da probabilidade emergiu e se
afirmou como importante campo de aceitação do risco e valorização da segurança, uma
vez que a análise matemática do mesmo abriu a possibilidade de gerenciamento dos
39
riscos (FREITAS & PORTO, 1997; MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004; LUIZ &
COHN, 2006).
Nesse sentido, a natureza probabilística do risco tem sido muito empregada pelas
ciências humanas e da saúde, principalmente no que se refere aos riscos à saúde. As
implicações ambientais acerca dos riscos da modernidade se associam diretamente com
a qualidade de vida do espaço urbano. Os eventos e sistemas ambientais têm se
apresentado como uma das mais importantes tendências de estudo envolvendo a
categoria risco. As transformações humanas na natureza aliada aos perigos naturais têm
ocasionado profundas conseqüências na vida de todos. Alguns sistemas ambientais são
mais frágeis a eventos externos, em geral de origem antrópica (MARANDOLA JR. &
HOGAN, 2004).
Muitos estudos apontam alguns desastres naturais não como conseqüência de
um fatalismo, mas sim como resultado da interferência da ação humana sobre os
processos e dinâmicas dos sistemas ambientais. Isto ressalta a susceptibilidade e o risco
como condições que alertam para a importância de medidas de proteção e prevenção de
acidentes ou mesmo de medidas corretivas que possam atenuar as situações de risco e
possibilitar maior segurança pública (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004).
Sendo assim, o risco tem sido inserido de forma crescente como um instrumento
essencial para aprimorar o entendimento das inter-relações do ambiente e saúde pública
(CASTIEL, 1996; FREITAS & GOMEZ, 1997).
No âmbito da saúde, o risco tem sido uma importante estratégia de manejo,
análise e gerenciamento de fatores ambientais sobre a ocorrência de problemas de saúde
humana (agravos, doenças, acidentes...). Dentre estes fatores ambientais destacam-se os
riscos oriundos de processos tecnológicos (HACON et al, 2005; FREITAS & PORTO,
1997).
Os riscos ambientais e suas formas de exposições têm sido objeto de
metodologias que visem uma análise global de riscos à saúde. O conhecimento de
processos desencadeadores destes riscos é alvo do monitoramento da vigilância
ambiental. Os componentes: fontes de risco; exposição e agravo à saúde devem estar
combinados para que estratégias e soluções eficazes de prevenção ou redução do
impacto dos problemas ambientais sobre a saúde sejam formuladas e praticadas
(BARCELLOS & QUITÈRIO, 2006).
40
No interior das pesquisas em saúde pública, alguns estudos sobre riscos têm
concentrado o enfoque nas áreas de gestão, toxicologia e epidemiologia. A gestão
ambiental utiliza os estudos de avaliação de risco como importante ferramenta que
integra as questões de saúde e ambiente e tem o objetivo de ser proativa. Neste
contexto, o risco à saúde humana é entendido como a probabilidade de um evento
maléfico ocorrer à saúde e é caracterizado pela união do perigo com a exposição e a
vulnerabilidade (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004; HACON et al, 2005).
A área da toxicologia utiliza o risco como uma ferramenta para alertar sobre o
uso de substâncias tóxicas pelo homem e os limites maléficos desta exposição para a
sua saúde e para isto, possui uma diversidade de técnicas e metodologias para avaliação
de medidas do risco toxicológico. As etapas do manejo do risco incluem a avaliação da
exposição, avaliação da toxicidade, caracterização do risco (que caracteriza a ocorrência
potencial para efeitos adversos à saúde, a evolução incerta e sumariza as informações
sobre o risco) e o gerenciamento do risco (que permite o desenvolvimento das opções
regulamentadoras, a avaliação das conseqüências à saúde pública, econômicas, políticas
e sociais e a tomada de decisões). É esta última etapa que possibilita a comunicação e a
percepção do risco pelas populações expostas (MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004;
HACON et al, 2005).
Já a epidemiologia aliada à bioestatística utiliza o risco como sinônimo de
proporção ou probabilidade da ocorrência de um evento relacionado à saúde em uma
determinada população exposta e sua estimativa é feita através dos coeficientes de
incidência e prevalência. É a estimativa de risco que determina uma maior ou menor
associação entre fatores de risco e determinadas doenças ou agravos (ROUQUAYROL
& ALMEIDA FILHO, 1999; LUIZ & COHN, 2006).
Ainda no campo da epidemiologia, verificam-se pressupostos básicos na
definição do risco que dizem respeito à própria identidade de quantificação dos
eventos/morbidades, ao mascaramento da complexidade do processo saúde-doença por
causa da observação simplicista da natureza homogênea da morbidade e à expectativa
de recorrência e estabilidade nos padrões dos eventos e dos riscos (ROUQUAYROL &
ALMEIDA FILHO, 1999).
Marandola Jr. & Hogan (2004) relatam que alguns autores criaram modelos que
são usados com freqüência no Brasil para avaliação de medidas do risco de perigos
41
ambientais e dentre o mais clássico se situa os elementos de identificação do perigo,
estimativa do risco e avaliação social.
Diante da prioridade de muitos desses estudos quantitativos, o ambiente tem sido
fragmentado em diversos fatores com o intuito de uma busca contínua de associação
entre um fator de risco e uma morbidade. O termo fator de risco se originou justamente
da possível relação entre a condição de saúde e os fatores ambientais (LIEBER e
ROMANO-LIEBER, 2003; COSTA, 2006).
Enfim, a concepção de risco não pode e não deve ser atribuída apenas a
probabilidade de ocorrência do perigo e da sua gravidade, mas é parte de um problema
maior de construção social da percepção e aceitabilidade do risco.
Nesse sentido, a noção de risco recebe variação, assim como as concepções de
saúde e ciência a ele relacionadas, pois ele passa a adquirir uma noção polissêmica
mediante o domínio do seu uso cotidianamente por diferentes campos do saber e por
diferentes sociedades e pode chegar a assumir sentidos positivos ou negativos. Embora
o risco esteja predominantemente atrelado a sentidos negativos, como ocorre com as
ciências da saúde, ele também pode conotar um sentido positivo de emoção, tal como
acontece com situações de risco-aventura (COSTA, 2006; SJOBERG, 2000).
Há freqüentemente uma confusão, tanto para o público quanto para especialistas,
entre as definições de probabilidade de ocorrência de um evento, das próprias
conseqüências da situação de exposição ou de elementos que provoquem estas
conseqüências. O público leigo possui julgamentos sobre a definição de risco como
probabilidade e/ou conseqüência de acordo com a influência de fatores sociais,
psicológicos e culturais, dentre os quais se destacam as experiências vividas em seu
cotidiano, diferentemente dos especialistas que se guiam pelas estimativas técnicas
anuais do risco (SLOVIC, 1996; SJOBERG 2000).
À luz dessas concepções, nesse estudo, o julgamento individual sobre a chance
de vir a ter um problema de saúde decorrente da exposição ao amianto foi caracterizado
como parte da própria definição de risco. Ressalta-se o significado de risco como uma
situação adversa ao estilo de vida humano moderno, geralmente, oriundo de processos
produtivos, que quando percebido individualmente ou coletivamente, é conduzido para
a tomada de decisões e ações para controlá-lo e/ou prevení-lo, mas para que isto ocorra
é preciso romper com paradigmas e barreiras socioculturais, políticas e econômicas.
42
III.2- VULNERABILIDADES E RISCOS NA SOCIEDADE ATUAL
Os teóricos das ciências sociais já elaboraram críticas bem conjuntivas no que se
refere à sociedade de risco. O início das discussões sobre risco em meio à ciência social
foi graças à antropóloga Mary Douglas, que levantou a questão da influência da cultura
nas percepções acerca do risco. A partir disto, o risco adquiriu ampliação e
complexidade em seu processo conceitual e metodológico pelos teóricos sociais Ulrich
Beck e Anthony Giddens, e tomou dimensão como um novo paradigma que se desenha
na base da reprodução social contemporânea (BECK, 2000; GIDDENS, 1990;
MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004).
Estes dois precursores descreveram uma importante transição na estrutura da
organização social: a sociedade industrial para a sociedade de risco. Mas Beck e
Giddens expressaram enfoques bem diferentes sobre a análise da sociedade de risco.
Beck distingue uma primeira sociedade estatal, nacional, industrial e de uma exploração
não tão visível de uma segunda modernidade, reflexiva, globalizada, centrada no
indivíduo e nos riscos da crise ecológica e na turbulência dos mercados financeiros.
Giddens já associa a modernidade a uma sociedade industrial moderna, que por sua vez,
é uma cultura do risco que tem a característica de rompimento com seu passado,
apresentando proteção contra alguns perigos e exposição a outros (GIDDENS, 1990;
BECK, 2000).
MARANDOLA JR. & HOGAN (2004, p.17) relatam que Beck se situa em um
plano mais realista na análise da sociedade de risco, originado da tradição utilitarista,
enquanto Giddens apresenta fortes traços de idealismo originados da tradição
fenomenológica, de construções sociais. Beck analisa a produção e a distribuição dos
riscos mais no plano político-institucional com uma abrangência social mais ampla,
enquanto Giddens analisa os aspectos de riscos sociais, ciência, tecnologia e segurança
no plano mais individual, contemplando a problemática psíquica do eu e da identidade
humana.
Beck (2000) relatou sobre a mudança do paradigma da distribuição da riqueza
social para a distribuição do risco social. Um exemplo que pode ser aplicado a essa
concepção de Ulrich Beck sobre sociedade de risco é os efeitos intimamente
43
relacionados à produção industrial, dentre os quais se situam perigos como o amianto
(JANSSEN, 2005).
Nas sociedades tardo-modernas ou na fase “tardia” da “modernidade” pós-
tradicional - como Giddens (1990) cita-, que estamos vivendo, o risco pode ser
entendido como um reflexo seja em termos ambientais ou particularizado na idéia de
estilo de vida, que provocam descontinuidades abruptas na ordem social destas
sociedades. Por isto, as sociedades de riscos não devem apenas ser contextualizadas ao
nível político ou ao nível individual, mas dentro de um contexto de organização social
(CASTIEL, 1996).
No interior dessa cultura de risco, as práticas sociais são constantemente
examinadas e reformuladas, pois a forma de estruturação social designa a possibilidade
do risco, e não certeza como a perspectiva determinista concebe, mediante o modo de
viver do indivíduo, de seu cuidado com o corpo e auto-identidade (CASTIEL, 1996;
MONKEN & BARCELLOS, 2005).
A contextualidade específica da interação humana em seu espaço/território
permite um entendimento maior da análise da situação de saúde com base, por
exemplos, na identificação dos fatores de risco e nos comportamentos dos sujeitos em
relação a estes, enfim, com base na estruturação da vida social no território. Este
contexto ordenador das práticas sociais liga a integração social, através de
circunstâncias de co-presença (inter-relação próxima dos agentes) à integração
sistêmica, que inclui questões básicas das instituições sociais que se situam no território
onde o sujeito vive (MONKEN & BARCELLOS, 2005; MIRANDA et al, 2008).
A distinção dos níveis e perfis de risco e de vulnerabilidade decorrentes das
desigualdades sociais é possível através do conhecimento dos hábitos, comportamentos
e posicionamentos das pessoas no seu território com base numa construção social e
histórica. É mister a apreensão das práticas sociais cotidianas no território que possam
se originar em vulnerabilidades em saúde (MONKEN & BARCELLOS,2005;
MIRANDA et al, 2008).
Á luz desses conhecimentos, aceita-se a idéia de sociedade globalizada de risco,
mas que, também, de modo particularizado se possa experimentá-lo a qualquer
momento (CASTIEL, 1996).
44
Beck assinala esta sociedade globalizada de risco como produtora dos riscos da
pobreza, principalmente, no mundo industrializado, e dos riscos tecnológicos de caráter
coletivo por causa do capitalismo avançado (CASTIEL, 1996).
Na realidade, deve existir um contraponto nas duas análises por Beck e Giddens,
visto que a distribuição dos riscos nas sociedades de todo o planeta tem se tornando
cada vez mais desigual, embora os riscos ambientais estejam mais globais, atingindo a
todos (FREITAS et al, 2002; MCDANIELS et al, 1996).
A injustiça socioambiental impera, mediante a situação de algumas sociedades
privilegiadas em termos de aspectos econômicos, que possuem localizações geográficas
mais favoráveis em relação à ocorrência de riscos ambientais e sociais, ou seja, residem
em locais bem distantes das fontes dos riscos (HABERMANN & GOUVEIA, 2008;
MCDANIELS et al, 1996).
A distribuição desigual de riquezas pode ser comparada a distribuição desigual
dos riscos, o que fez emergir estudos e aplicabilidades da justiça ambiental. O
movimento de justiça ambiental busca ressaltar a distribuição desigual crescente dos
riscos nos diversos estratos sociais (HABERMANN & GOUVEIA, 2008).
Todavia, a intolerância aos riscos tem sido priorizada a nível internacional,
somente porque os problemas ambientais e de saúde humana têm assumido tal
dimensão que têm atingido as diferentes nações do planeta, inclusive, as principais
responsáveis pelos mesmos. A aceitabilidade dos riscos envolve os interesses de quem
está envolvido no processo, mas especificamente os interesses econômicos dos que
produzem os riscos em detrimento das classes sociais desfavorecidas que estão sob os
riscos (HABERMANN & GOUVEIA, 2008; RENN, 2004).
Barcellos & Quitério (2006) sinalizam:
―A crise ambiental global tem obrigado todos os setores da sociedade a rever
conceitos e valores, explicitado conflitos de interesse e evidenciado a
insustentabilidade do modelo de desenvolvimento. A crise ambiental também é
uma crise de conhecimento. O saber ambiental é, como uma alternativa à
crise, o reconhecimento da complexidade que envolve as relações entre
sociedade e ambiente‖
45
A política desenvolvimentista é insustentável em relação à manutenção da vida,
pois os interessados em defendê-la pensavam que ela apenas iria provocar pequenos
distúrbios sociais, incluindo deterioração da qualidade de vida e ambiente do grupo
populacional atingido. No entanto, a crise ambiental se tornou global e a escassez de
recursos naturais, a contaminação crescente da atmosfera, água e solo, o aquecimento
climático do planeta são exemplos importantes de respostas da natureza ao homem e da
insustentabilidade à vida resultante do aprimoramento das suas formações sócio-
econômicas ambientalmente predatórias e socialmente injustas (SOAREZ DE
OLIVEIRA, 2002).
Nesse contexto, a abundante produção científica sobre avaliação de riscos
tecnológicos, baseada em disciplinas ligadas à engenharia, toxicologia, epidemiologia/
bioestatística e ciências sociais, tem contribuído para a construção do “espírito de risco”
de nossas sociedades modernas e para a difusão pública através de meios de
comunicação em massa (CASTIEL, 1996; PORTO & FREITAS, 1997).
Castiel (1996) agrupa essa produção científica em três principais áreas: a de
verificação/ mensuração do risco se utilizando da prática da medicina prospectiva ou
preditiva; a de avaliação e administração do risco, dirigida a segurança ocupacional e
pública e percepção e aceitabilidade pública; a baseada no enfoque de risco
epidemiológico, voltada para a dimensão da saúde pública, podendo estar referenciada
ao domínio ambiental ou individual.
À luz dessas concepções, as dimensões concretas dos riscos que as sociedades
atuais são submetidas, por causa da socialização da lógica produtivista do capitalismo,
parecem ter sido obscurecidas pela adoração dos riscos como fetiches pela ciência.
Assim, nota-se que as discussões, interesses e valores acerca dos riscos que foram
introduzidos pelas sociedades modernas são norteados pelos seus diferentes projetos. O
debate público, social e político sobre as atitudes e discursos sobre os riscos da
modernidade ganha vital importância em alguns projetos de sociedades mais
organizadas e permanece totalmente oculta em outros (FREITAS, 2003; LUIZ &
COHN, 2006; SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002).
A luta anticapitalista é muito mais complexa e difícil do que se imagina. Esta
dificuldade pode ser claramente observada a nível local. Existe uma indiferença do
trabalhador com o trabalho que exerce e do grupo social com os riscos tecnológicos
46
ambientais que estão submetidos, ou seja, tolerância dos riscos pelos grupos mais
vulneráveis, que são os mais desprovidos de condições dignas de vida e de saúde e
dentre as quais se situam a classe do proletariado e dos moradores residentes nas áreas
circunvizinhas às indústrias. Desta forma, ainda poucos mecanismos que de fato
provoquem mudanças práticas na percepção, aceitabilidade e comportamento nestes
grupos de risco (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002; GIANNASI, 1996; RENN, 2004).
Porto & Freitas (1997) ressaltam que os interesses capitalistas de modernização
e avanço tecnológico desenfreado acabam por produzir riscos de diversas naturezas,
para os quais inexistem medidas adequadas de prevenção e/ou controle pelos grupos
vulneráveis, o que acaba por efetivarem as suas conseqüências.
Nesse nível de análise, é que em todas as sociedades atuais, a governança se
tornou imperante para a construção e a participação coletiva sobre os problemas de
saúde ambiental, inclusive os de segurança química. Das conseqüências dos riscos
tecnológicos atuais, as situações de riscos químicos assumiram dimensão ampla nas
sociedades e se transformaram em questões de governança e não mais apenas de
governabilidade, ou seja, não são apenas questões de responsabilidade estatal e dos
governos, mas sim nos níveis internacional e nacional com a necessidade, também, de
mobilização de atores não governamentais, tais como: indústrias, sindicatos,
consumidores, organizações não governamentais (ONG´s), grupos de cidadãos,
corporações profissionais e instituições científicas (FREITAS et al, 2002). muito
tempo, o Brasil, assim como alguns países em desenvolvimento, enfrenta situações
locais de poluição química originadas da intensificação do processo de industrialização
e urbanização desordenada, nas quais não é capaz de enfrentar e controlar (FREITAS et
al, 2002).
Infelizmente, uma minoria elitizada destes segmentos da sociedade é que dispõe
do poder decisório sobre os riscos ambientais e à saúde e sua conseqüente segurança
pública, principalmente nos países pobres, de economia periférica. Estes projetos de
sociedade moderna são moldados pela perspectiva utilitarista e a concepção elitista de
democracia. Em nosso país, o domínio prático deste tipo de concepção, pois as
instituições governamentais e empresariais são responsáveis por organizar os principais
aspectos da nossa vida cotidiana vinculados aos processos decisórios sobre riscos e
segurança pública, deixando de lado a participação dos cidadãos sobre estas questões.
Para que ocorram mudanças efetivas sobre o enfrentamento dos problemas relacionados
47
à segurança química no Brasil, por exemplo, é preciso que as decisões e acordos sejam
ampliados para a esfera global dos setores governamental e não-governamental, ou seja,
que os problemas sejam discutidos e decididos não no âmbito da governabilidade, mas
sim da governança (FREITAS et al, 2002; FREITAS, 2000).
Em meio à crise ecológica e aos riscos ocasionados pela estrutura organizacional
da sociedade capitalista contemporânea, todos os seus segmentos e de diferentes partes
do mundo deveriam suscitar uma reformulação profunda da sua estruturação e
funcionamento (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002).
Uma nova distribuição de conflitos entre os beneficiados (elite beneficiada pelo
poder capital) e os “portadores” de risco tem emergido uma distribuição dos debates
com base nos efeitos do risco, mais especificamente com base na distribuição justa ou
injusta dos benefícios entre estes dois grupos (RENN, 2004).
Da proposta de FISCHHOFF et al.(1978) How Safe Is Safe Enough?”, que diz
respeito às atitudes frente aos riscos e benefícios tecnológicos, diversos estudiosos têm
convertido esta indagação para o debate sobre a distribuição justa destes riscos, suas
conseqüências e benefícios, com menos ênfase sobre a segurança, pois a tolerância
pública tem girado entorno, principalmente, da distribuição desigual da relação risco-
benefício (RENN, 2004).
Em outras acepções, a aceitabilidade e o manejo dos riscos tecnológicos
ambientais por diferentes grupos sociais pode refletir o agravamento da vulnerabilidade
existente, o que ocorre predominantemente nos países menos desenvolvidos. Por
exemplo, um grupo em específico pode tolerar uma exposição ambiental ao amianto
decorrente de um processo produtivo passado, assim como acontece nesse estudo,
porque se mostra extremamente vulnerável, enquanto que a sociedade em geral parece
não mais tolerar este tipo de perigo (RENN, 2004; JANSSEN, 2005).
A participação individual ou coletiva nos processos de manejo do risco depende
de uma rede indissociável de fatores psicológicos, sociais, culturais, econômicos e
históricos. Barnett & Breakwell (2001) relataram que as diferenças individuais nos
processos de manejo do risco podem ser explicadas em termos dos níveis de tolerância,
que por sua vez, podem ser interferidos pela experiência e interesse sobre o risco.
48
Freitas (2000) relata que a pouca ou ausente participação nos processos
decisórios parece elevar o nível de preocupação pública sobre o risco. Entretanto, o
comportamento de um indivíduo não pode ser necessariamente relacionado à sua
percepção sobre o risco, mas pode contribuir para um melhor entendimento desta
questão e para a elaboração de estratégias eficazes nos processos de comunicação do
risco (STEWART-TAYLOR & CHERRIE, 1998; BARNETT & BREAKWELL, 2001).
Conforme o exposto, os aspectos relacionados aos processos decisórios sobre os
riscos ambientais ressaltam a importância de contextualizar os diferentes modos e níveis
de vulnerabilidades sociais, inclusive para os países industrializados. Para que novas
formas de abordagens de processos decisórios sejam minimamente viáveis, o que tem
sido exigido das sociedades atuais devido a muitos dos novos riscos, inclusive dos
riscos químicos, deve-se combinar extremas incertezas com a possibilidade de danos
extensivos e irreversíveis. Com isto, o processo da incerteza se tornou inerente a
qualquer análise científica e tem sido ressaltado em pesquisas sobre análise de risco,
inclusive toxicológico (DE MARCHI & RAVETZ, 1999; LIEBER E ROMANO-
LIEBER, 2003).
O termo vulnerabilidade tem sido cada vez mais empregado nos meios científicos,
assim como o termo risco e na verdade, um tem relação direta com o outro, pois um
indivíduo ou grupo é considerado vulnerável caso apresente um maior risco para
adquirir determinada situação ou condição danosa do que outro.
Nesse sentido, o conceito de vulnerabilidade deve ser aplicado para um
adequado entendimento sobre os diferentes modos de processos decisórios dos
diferentes grupos populacionais, inclusive no que diz respeito à governança dos
diferentes países sobre os riscos ambientais atuais (FREITAS et al, 2002).
FREITAS et al (2002, p. 252) subdivide a vulnerabilidade em: populacional e
institucional.
O Brasil, assim como outros países menos desenvolvidos, é um país que possui
vulnerabilidade, tanto populacional quanto institucional, em relação aos riscos
ambientais e à saúde pública (FREITAS et al, 2002; PORTO & FREITAS, 1997).
A vulnerabilidade populacional diz respeito à exposição de um grupo
populacional a substâncias químicas decorrente da deterioração ambiental provocada
por um processo industrial presente ou passado, em meio às situações socioambientais
precárias nas quais estão inseridas. As formas e níveis variados de exclusão social deste
49
grupo são produzidos a partir da sua constituição como uma estrutura social fragilizada
em termos de status social, político e econômico (FREITAS et al, 2002; PORTO &
FREITAS, 1997).
Porém, o Brasil, também, apresenta uma sociedade desestruturada em termos de
políticas públicas, processos decisórios e instituições que são responsáveis pelas
pressões e controle social dos problemas da população, incluindo as situações e eventos
de riscos. A governabilidade dos problemas oriundos dos riscos químicos industriais
predomina, perpetuando sua incapacidade de controlá-los e preveni-los. Isto se constitui
em vulnerabilidade institucional (FREITAS et al, 2002).
A visão mecânica do mundo de algumas elites que detêm o poder está regida por
um sistema de valores e de lucros econômicos, que parece não se importar com as
incapacidades, doenças, sofrimentos e mortes que são gerados no meio ambiente e na
sociedade, especialmente nos seus segmentos mais marginalizados.
A vulnerabilidade é uma das ferramentas que pode ajudar na discussão de
medidas no âmbito sócio-político sobre a regulamentação e o controle da
disponibilidade das substâncias tóxicas no meio ambiente provenientes de processos
tecnológicos industriais. As práticas de intervenção nos riscos químicos devem inferir
as mútuas interferências dos fatores sociais, culturais, econômicos, políticos e
biológicos que determinam maior ou menor vulnerabilidade para a sua aplicabilidade,
pois a categoria analítica do risco se mostra insuficiente na eficácia deste processo
(OLIVEIRA & ZAMBRONE, 2006; FREITAS et al, 2002).
Oliveira & Zambrone (2006, p. 101) apud Mann et al (1992) para definir “três
planos interdependentes de determinação de maior ou menor vulnerabilidade de
indivíduos e das coletividades ao adoecimento”: a vulnerabilidade individual; a
vulnerabilidade social; e a vulnerabilidade programática.
O componente individual diz respeito o grau de percepção do indivíduo sobre o
problema e a capacidade de transformar as preocupações em práticas comportamentais;
já o componente social considera que esta percepção e atitude frente ao problema
dependem de aspectos sociais, tais como: o poder de influenciar decisões políticas e de
enfrentar barreiras culturais, além das dimensões individuais; e o componente
programático se refere aos esforços governamentais para disponibilizar recursos sociais
necessários aos indivíduos para controle e prevenção de agravos e danos (OLIVEIRA &
ZAMBRONE, 2006).
50
Enfim, o conceito de vulnerabilidade pode ser entendido como um conjunto de
fatores socioeconômicos, culturais, biológicos e políticos, cuja interação nos traz o
sentido de ampliação da exposição de determinado grupo a um risco específico. No
entanto, a vulnerabilidade só existe quando estão presentes circunstâncias desfavoráveis
para a percepção de riscos e/ou adoção de medidas preventivas e de controle.
III.3- PERCEPÇÃO DE RISCOS
III.3.1- CONCEITO DE PERCEPÇÃO DE RISCOS
A percepção humana é um processo subjetivo, único, assim como a dor humana,
sendo influenciada por diferentes fatores ambientais. A percepção humana é formulada
a partir de processos mentais tais como a motivação pessoal, os valores, os interesses, as
emoções, dentre outros, e varia individualmente de acordo com os aspectos cognitivos,
sociais, econômicos, culturais, etc. (STEWART-TAYLOR & CHERRIES, 1998).
Os esquemas perceptivos são formados a partir de respostas mentais que
representam a realidade percebida, selecionando as necessidades e as informações de
interesse de acordo com os filtros culturais e individuais (motivação), para organizar as
imagens e desenvolver memória (cognição) e, posteriormente, criar expectativas e
estabelecer julgamentos (avaliação) para finalmente formar opiniões e realizar tomada
de ações (DEL RIO, 1999).
O termo percepção tem sido usado para avaliar os processos mentais dos
indivíduos relativos à resposta e ao processamento de informações do ambiente (físico e
comunicativo) via os sensos, geralmente em aplicações psicológicas cognitivas (RENN,
2004).
Nas sociedades atuais, o risco tem se tornado um elemento-alvo importante para a
formulação da percepção humana. Renn (2004) relata que os riscos deveriam ser vistos
por todos os campos científicos, políticos e sociais como um instrumental mental que
permite a predição de perigos futuros e pode facilitar as medidas de redução dos riscos.
As diferentes abordagens e metodologias dos estudos de percepção de riscos têm
se desenvolvido justamente devido à influência múltipla que fatores pessoais e
ambientais exercem no seu processamento e à necessidade de interpretação e integração
de diferentes concepções de riscos, uma vez que a ambigüidade e a incerteza são
inerentes ao risco conceituado (RENN, 2004).
51
Nesse sentido, o contexto sociocultural se mostra como um dos fatores
preponderantes para formulação de percepções humanas, pois embora a fonte de
aquisição de idéias possa ser a mesma, a construção do processo perceptivo resulta em
comportamentos diferenciados entre os indivíduos de um mesmo grupo populacional
(TAJIK et al, 2007).
A teoria cultural dos estudos de percepção de risco tem procurado demonstrar
que os fatores sociais e culturais exercem forte influência no processo de percepção e
aceitabilidade individual do risco (SLOVIC, 1987).
Em relação à percepção de riscos, os determinantes individuais e sociais, muitas
vezes, têm se confrontado e outras vezes, têm se agregado para explicar os resultados
encontrados em muitos estudos de percepções de risco (SITKIN & WEINGART, 1995;
SJOBERG, 1996).
Historicamente, o conceito de risco tem sido centrado no indivíduo, mas se
tornou insuficiente para explicar muitos dos determinantes dos processos de
adoecimentos humanos. Assim, o risco também tem sido construído como um
fenômeno social e cultural e a percepção humana também parece depender deste fato. A
partir destes pressupostos, Douglas e Wildawisky iniciaram trabalhos na década de 80,
para explicar que indivíduos e grupos percebem os riscos diferentemente, com base em
sua carga cultural. Assim, os estudos da teoria cultural foram iniciados por antropólogos
e sociólogos, em resposta aos estudos de percepção de riscos com abordagem
psicológica, que tiveram início por psicólogos nas décadas de 60 e 70 (MARRIS et al,
1998; DOUGLAS & WILDAVSKY, 1982).
Sjoberg (1996, p. 224) em seu questionamento sobre as diferentes abordagens
teóricas sobre os estudos de percepção de risco finaliza: ―A percepção de risco é muito
mais do que simplesmente o processamento da informação‖, e pode ser entendida como
o processamento da informação sensorial oriunda do mundo exterior. Mas até que ponto
outros fatores interferem neste processo de julgamento e atitude frente ao risco?
Podemos compreender que a percepção de um risco real difere do risco percebido,
justamente devido aos diversos fatores pessoais e ambientais que cercam o indivíduo. A
percepção humana não é simplesmente um reflexo ou reprodução daquilo que é
percebido, mas envolve uma codificação e tradução de estímulos externos cerebrais que
vão determinar uma representação do que se percebe (MORIN, 1986).
52
Dessa forma, os estudos de percepção humana se inseriram nos estudos de
avaliação técnica dos riscos. O risco considerado “real” é aquele baseado nas suas
estimativas técnicas anuais, no entanto, ele só é concretizado em um determinado
contexto social (SLOVIC, 1987).
As técnicas de análises de riscos seguem a perspectiva utilitarista e o modelo
cartesiano biomédico, em que os indivíduos são abstraídos de seus contextos sociais e
observados por partes. Estas pesquisas também seguiam o paradigma do ator racional
segundo uma concepção etilista de democracia, ou seja, os cidadãos devem agir em
consonância com o sistema, aceitando passivamente normas e valores impostos por um
grupo que detém o poder dos processos decisórios. As premissas que eram seguidas por
estes tipos de pesquisas diziam que os indivíduos expostos não eram capazes de julgar
os seus próprios interesses e riscos e deveriam aceitar sua limitada participação nos
processos decisórios. Porém, o público em geral não concorda e/ou aceita tão
passivamente os resultados que lhes são impostos por especialistas (FREITAS, 2000).
Embora os especialistas dos estudos de análise de risco garantissem ao público
leigo que ele não pudesse ter um risco maior do que aquele oferecido no cotidiano, este
público reagia às novas tecnologias. Algumas atitudes das comunidades científicas e
políticas buscavam direcionar os anseios e as dúvidas do público leigo exposto para a
aceitabilidade dos riscos através, muitas vezes, da percepção de benefícios que a fonte
destes riscos poderia lhes trazer, sem questionamentos e indagações (FREITAS, 2000).
Um detalhe importante para o descontentamento do público com novas
tecnologias foi a observação de mudanças ambientais locais e globais cada vez mais
freqüentes, como reflexos de riscos provocados por atividades humanas econômicas,
desenhando situações em que ora as populações se vêem ameaçadas ora se vêem
beneficiadas (MCDANIELS et al, 1996).
Com o intuito de um manejo adequado dos conflitos intersetoriais, os estudos de
percepção de riscos surgiram nas décadas de 60 e 70 em meio aos resultados das
pesquisas de avaliação de risco, pois as práticas técnicas-científicas de gerenciamento e
comunicação de riscos não contemplavam as ansiedades e os olhares das comunidades
atingidas (COSTA, 2006; PERES, 2003; MAJOR & VARDY, 1989).
Na realidade, as pesquisas de percepção de risco surgiram em meio aos
movimentos sociais crescentes na Europa e nos EUA que exerceram pressões sociais
53
sobre os processos decisórios de tecnologias e de seus riscos para a sociedade
(FREITAS, 2000).
Os estudos de percepção de risco emergiram da necessidade de incorporar
estratégias de intervenção sobre o problema, levando em consideração a percepção dos
indivíduos e comunidades envolvidos com as situações potencialmente perigosas, em
meio aos resultados técnicos e científicos das análises de risco. Não sentido em
resultados científicos que revelam elevado risco em adquirir um problema de saúde em
um determinado grupo populacional, se nem toma conhecimento sobre o assunto em
questão e nem o questiona (PERES et al, 2005).
Nesse contexto, os estudos de percepção de riscos focalizam a atenção no
conhecimento e na preocupação do público leigo sobre as questões de riscos ambientais
e à saúde, mais especificamente aos problemas à sua volta, em relação às análises dos
especialistas. Estes estudos buscam explicar de que forma a experiência e o senso
comum dos indivíduos se apropriam e dão sentido aos conceitos oriundos de estudiosos
e de meios de comunicação (PERES, 2003; COSTA, 2006).
Em países desenvolvidos, as mudanças de leis e fiscalizações de autoridades e
políticos não têm sido efetuadas a partir dos entendimentos técnicos de comunidades
científicas, mas sim dos resultados de estudos e projetos de julgamentos do público
sobre determinados riscos ambientais e à saúde humana (SLOVIC, 1987; MCDANIELS
et al, 1996).
Os estudos de percepção de riscos têm exercido um papel importante para a
associação do esclarecimento de processos cognitivos individuais com a construção
social de atividades humanas econômicas baseadas em riscos para a saúde humana. A
partir disto, eles têm contribuído para melhorar os processos de comunicação de riscos,
entendimento das respostas do público leigo sobre certos perigos e estímulo aos
esforços de transformações regulatórias de atividades e tecnologias que estejam
causando os riscos (MCDANIELS et al, 1996; SLOVIC, 1997).
Para uma determinada comunidade impactada por riscos tecnológicos
ambientais, os estudos de percepção de riscos visam contribuir para ampliação e
aprofundamento dos conhecimentos adquiridos sobre a situação envolvida e estímulo
a reflexão para tomada de ações sociais e de mudança de comportamentos. Estes tipos
de estudos não teriam sentido caso não afetassem os comportamentos dos sujeitos a
risco (MAJOR & VARDY, 1989).
54
É de extrema importância a consideração sobre o conhecimento e a percepção
do público a respeito dos riscos que estão correndo a partir de determinada situação,
pois a magnitude do risco e a equidade na distribuição dos riscos na sociedade podem
ser valorizadas e incorporadas nas análises e decisões políticas (HABERMANN &
GOUVEIA, 2008).
Entrando no campo mais amplo do gerenciamento dos riscos, os estudos de
percepção de riscos estão aliados aos de comunicação de riscos. Estes últimos possuem
a finalidade de promover nos grupos populacionais impactados campanhas educativas e
estratégias de transformações sociais, em prol da melhoria das condições locais de
saúde e ambiente. O processo de educação em saúde envolve as práticas de
comunicação de riscos, que são extremamente necessárias com os grupos populacionais
expostos (AKKO, 2004; COSTA, 2006).
Muito além de ser meramente o espaço científico-operativo de disseminação de
informações sobre os riscos, o trabalho de comunicação deve combinar elementos de
resolução de conflitos e participação ativa do público nos dois sentidos da mensagem,
em que educação e construção de um consenso são alcançadas. A comunicação de
riscos é afetada significativamente pela percepção de riscos (AKKO, 2004).
Um dos objetivos propostos com os estudos de percepção e comunicação dos
riscos é a mudança de comportamento do sujeito individual e coletivo vulnerável, o que
envolve aspectos muito mais complexos do que se imagina, pois nem sempre, faz parte
de um processo mental iniciado a partir da percepção concreta sobre os riscos.
STEWART-TAYLOR & CHERRIES (1998) levantou a hipótese se uma
associação causal entre percepção de riscos dos trabalhadores sobre o manuseio de
materiais perigosos, comportamento deles durante o trabalho e sua conseqüente
exposição ao amianto, porém não conseguiu estabelecer correlações entre percepção,
comportamento e exposição.
Para afetar o comportamento do sujeito envolvido, o conhecimento da percepção é
um instrumento que pode auxiliar na formulação de estratégias e mudanças que devem
ir muito além da esfera individual, mas, também, alcançar a esfera coletiva, através da
tomada de ações sociais por todo o grupo afetado (STEINFUHRER & KUHLICKE,
2009; STEWART-TAYLOR & CHERRIES, 1998).
55
A mudança de comportamento individual pode se mostrar resistente à medida
que o seu ponto de vista é consolidado anteriormente as informações subseqüentes sobre
o risco, mas quando os indivíduos não possuem uma opinião própria inicialmente, eles
estão aptos a formulação do problema. Informações sobre o risco oriundas de meios
diferentes para o público podem resultar em ações e perspectivas diferentes sobre o
mesmo (SLOVIC, 1987).
Nesse sentido, as pesquisas referentes ao conhecimento e à falta de percepção de
risco podem conter algumas falhas no processo metodológico que podem comprometer
os seus objetivos. Por isto, estas falhas devem ser evitadas ou atenuadas durante a etapa
exploratória da pesquisa e a seguir serão descritas algumas delas:
Avaliação do nível de conhecimento público sobre a natureza e as atitudes
tomadas entorno do perigo;
Identificação de pessoas que processam melhor as informações entorno do
perigo;
Ausência de descrição de uma estrutura conceitual do perigo por parte das
pessoas participantes (JOHNSON, 1993; FISCHHOFF, 1995).
Estas situações devem ser levadas em conta na elaboração e na análise de dados
dos estudos de percepção de riscos.
No entanto, assim como o termo risco tem sido centrado na estimativa
probabilística (como foi discutido anteriormente), a percepção de risco também tem
sido encarada, majoritariamente como uma avaliação individual de quanto é arriscada
uma situação, de acordo com as análises técnicas do risco. A percepção individual do
risco é analisada em termos de estimativas probabilísticas de concordância desta
situação arriscada e de controle da mesma (SITKIN & WEINGART, 1995).
Contudo, há fortes evidências que fatores psicológicos se mesclam às experiências
sociais e culturais para determinar a percepção individual e coletiva do risco
(WILDAVSKY & DAKE, 1990).
Castiel (1996) declara que as percepções de risco são distintas conforme aspectos
socioculturais que incluem idade, gênero, renda, grupo social, ocupação, interesses,
valores, etc., e este fato não pode ser negligenciado pelos especialistas e autoridades em
suas intervenções em saúde ambiental.
56
Por isso, os resultados das pesquisas de percepção de riscos devem considerar os
aspectos psicológicos, socioculturais e os valores morais do público exposto e procurar
ressaltar os interesses dos diversos atores sociais envolvidos no processo (FREITAS,
2000).
III.3.2-ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE OS ESTUDOS DE PERCEPÇÃO DE
RISCOS
As abordagens teóricas de percepção de riscos mais atualizadas e freqüentes se
constituem no paradigma psicométrico e na abordagem sociocultural, embora novas
abordagens tenham sido exploradas (SLOVIC, 1987; PERES, 2003; SJOBERG, 2000).
Os diferentes olhares das pesquisas de percepção de riscos procuram esclarecer do
ponto de vista sociológico e psicológico as estruturas e processos de percepções
pessoais e como as sociedades lidam com os riscos.
A abordagem psicométrica descreve que a percepção de risco não deve ser apenas
relacionada às estatísticas sobre os riscos, mas uma série de características
qualitativas que influenciam no reconhecimento e na magnitude deste risco. Esta
abordagem prioriza a percepção intuitiva do risco que tem como foco principal a
identificação dos aspectos cognitivos e afetivos dos processos de percepção. Algumas
pesquisas sociais e antropológicas relatam que os debates sociais e científicos não
devem ser exclusivamente direcionados para os riscos (SJOBERG, 2000; RENN, 2004;
SJOBERG, 1996).
Os estudos de percepção de riscos têm revelado uma margem de discordância nos
dados, entorno de 20% no paradigma psicométrico e de 90% na teoria cultural. Isto
propiciou o desenvolvimento de um novo modelo que tem explicado em torno de 30 a
40% da discordância dos dados e assim tem se mostrado mais promissor do que as
abordagens anteriores. Este novo modelo se baseia em uma nova avaliação psicológica
da percepção do risco, que abrange os aspectos: sensibilidade do risco, atitude e medo
específico como variáveis explicativas para o fenômeno da percepção (SJOBERG,
2000; MARRIS et al, 1998).
57
Apesar de suas limitações, as abordagens psicométrica e cultural têm favorecido
enormemente para o processo de entendimento das percepções de risco e por isto, esse
estudo irá ressaltar os princípios destas duas abordagens que seguem a seguir.
III.3.3-ABORDAGEM PSICOMÉTRICA
Na literatura atual, a abordagem psicométrica é a predominante sobre os estudos
de percepções de risco, que utiliza como estratégia o desenvolvimento de esquemas
taxonômicos para o entendimento e a predição de respostas acerca do perigo. Para isto,
a abordagem psicométrica se utiliza de escalas psicofísicas e análise de técnicas
multivariadas para produzir representações quantitativas de atitudes e percepções de
risco (SLOVIC, 1987).
Estas percepções são avaliadas qualitativamente e quantitativamente, pois são
relacionadas à ocorrência do risco e o nível de desejo individual para controle e
regulamentação do risco, além de serem relacionadas ao julgamento de outras
características (SLOVIC, 1987).
A abordagem psicométrica foi lançada por FISCHOFF et al em 1978, mas
diversos outros estudos têm se estendido em relação às características iniciais
questionadas do risco. Esse modelo de percepção de risco assume que é possível prever
a forma como os indivíduos pensam sobre o risco através da quantificação de fatores
psicológicos que influenciam na definição subjetiva do risco, ou seja, a avaliação das
complexas opiniões de diferentes indivíduos pode ser feita através técnicas utilizadas
pela psicologia cognitiva e bioestatística. Assim, sob o ponto de vista psicológico, o
paradigma psicométrico se caracteriza por uma proposta metodológica quantitativa
similar aquela empregada na tradicional avaliação técnica do risco (FREITAS, 2000;
SLOVIC, 1987; CASTIEL, 1996).
O método de “preferências expressas e reveladas” fundamenta a abordagem
psicométrica. Estas preferências individuais são obtidas de dados de questionários e têm
sido realizadas de acordo com as técnicas psicométricas, que por sua vez, têm mostrado
que o risco percebido é quantificável e previsível. Assim, são reveladas similaridades e
diferenças entre grupos sobre a percepção e as atitudes frente aos riscos. Atualmente,
estes tipos de estudos tenderam a revelar que a preocupação do público sobre a
58
segurança dos riscos está se transferindo para a distribuição equânime da relação risco x
benefício proveniente de atividades tecnológicas, pois o argumento de Starr, de que as
pessoas tendem a tolerar mais os riscos tecnológicos quando, também são percebidos
mais benefícios oriundos desta fonte, parece ser sustentado pelos estudos de
preferências expressas (SJOBERG, 2000; BLAKE, 1995).
A abordagem psicométrica contribuiu para estabelecer que as estimativas dos
especialistas sobre os riscos diferem das do público leigo, pois os seus julgamentos são
direcionados para algumas características diferentes das que são priorizadas pelos
especialistas. Por exemplo, este tipo de estudo refere que especialistas avaliam o risco
segundo os resultados técnicos anuais das estimativas de risco, enquanto que o público
tende a associar o risco a algumas de suas características qualitativas tais como
catástrofe potencial, voluntariedade, etc.(SLOVIC, 1996).
As técnicas psicométricas parecem demonstrar bem as similaridades e as
diferenças entre grupos em torno das percepções e atitudes sobre o risco. Assim, elas
também, têm contribuído para avaliação de características qualitativas acerca da
aceitabilidade do risco entre as populações (SLOVIC, 1987).
Fischoff et al (1978), buscou avaliar o que chamou de “perfis” do perigo, através
de uma técnica psicológica de avaliação de suas características em um estudo sobre
percepção de risco à radiação. As respostas procuraram estimar o grau de cada perigo
dentro de escalas que foram relacionadas às características inerentes a percepção e
aceitabilidade do risco. Algumas características qualitativas do perigo, independente do
seu tipo, tendem a ser correlacionadas. Por exemplo, se um risco for percebido como
voluntário, ele tende a ser, também, aceito como controlável (SJOBERG, 2000).
Dentro do paradigma psicométrico, os indivíduos devem fazer seus julgamentos
quantitativos sobre o corrente e desejado nível do risco de cada perigo e o desejado
nível de regulação de cada um deles (MARRIS et al, 1998; SJOBERG, 1996).
Porém, existem diversas limitações da abordagem psicométrica e uma que foi bem
destacada por SJOBERG (1996) é o fato de priorizar a cognição do sujeito. Esta
abordagem também implica a comunicação de risco como um problema apenas de
informação e educação e a abordagem cultural parece ser menos clara ainda com
relação a este tema. Mas a mudança da percepção e das atitudes acerca do risco não é
tão fácil e simples assim (FISCHOFF, 1995).
59
Atualmente, outras correntes da psicologia procuram destacar como alguns
sistemas de crenças e valores podem influenciar as percepções de risco, ao invés de se
limitar a atributos específicos dos riscos, como por exemplo, o modelo de crença em
saúde. Este modelo postula que fatores preditores do comportamento que podem ser
agrupados em: suscetibilidade percebida; severidade percebida; benefícios percebidos e
barreiras percebidas (CASTIEL, 1996).
A abordagem psicométrica considera que nem sempre as pessoas têm
conhecimento correto acerca da natureza do perigo e do risco que ele oferece à saúde,
por isto, muitas vezes, tomam decisões utilizando regras cognitivas ou heurísticas
(SLOVIC, 1987).
Uma limitação bem questionada pela teoria cultural em relação ao paradigma
psicométrico é que este não considera os processos socioculturais subjacentes, que são
importantes para a produção dos julgamentos individuais sobre os riscos. Assim, em
parte, esse paradigma não responde as diferenças nas perspectivas individuais do risco
(SJOBERG, 1996).
Como os estudos de percepção de riscos se constituem em um passo anterior ao
desenvolvimento de estratégias de comunicação de risco, eles devem incorporar as
demandas e as especificidades de cada grupo social. Muitos desses estudos de
percepção de riscos o têm analisado os contextos institucionais ou sociais dos
indivíduos ou dos grupos, pois têm focalizado em agregar informações sobre o público
em geral (MARRIS et al, 1998).
Este fato permite a reflexão acerca de uma exposição ambiental a um determinado
agente tóxico em uma comunidade que apresenta péssimas condições de vida em
relação à outra comunidade que receba a mesma dose e a mesma intensidade de
exposição daquele agente tóxico, porém com ótima qualidade de vida, saúde e de
educação de sua população. Com certeza, a identificação do perigo e a apreciação
acerca do risco das duas comunidades serão bem diferentes.
O paradigma psicométrico tem buscado acrescentar variáveis sociodemograficas
dos indivíduos entrevistados e correlacionar com as características clássicas qualitativas
de risco da teoria psicométrica, porém tem falhado neste procedimento. Apesar das
características qualitativas do risco ser consideradas nos estudos psicométricos como
atributos inerentes ao perigo, tendem a expressar as visões dos respondentes sobre o
60
manejo do risco, ou seja, estes “fatores psicométricos” são avaliados diferentemente em
cada ponto de vista individual (MARRIS et al, 1998; SLOVI, 1996).
Embora alguns dados de correlação da pesquisa de MARRIS et al (1998) sejam
fracos, mas sugerem que o tipo de cultura afeta os interesses grupais sobre os diferentes
tipos de riscos, conforme teóricos culturais afirmam sobre este fato.
Enquanto o paradigma psicométrico afirma que a teoria cultural subestima os
aspectos cognitivos dos indivíduos na formulação das percepções dos riscos, a teoria
cultural por sua vez, relata que a teoria psicométrica subestima a influência dos aspectos
culturais nesta formulação (SJOBERG, 1996; MARRIS et al, 1998).
III.3.4-TEORIA CULTURAL
Muitos estudos recentes têm se preocupado com a ligação entre a percepção do
risco e o contexto risco-cultura, pois a primeira se relaciona com a escala individual
enquanto o segundo com a escala coletiva. O contexto risco-cultura é entendido numa
perspectiva construcionista, pelo seu sentido amplo de construção coletiva de valores e
experiências. A percepção do risco a nível individual é fortemente influenciada pelo
contexto social, no qual se destacam os fatores primários (amigos, familiares) e
secundários (figuras públicas, meios de comunicação) (MARANDOLA JR. & HOGAN,
2004).
Marandola Jr. & Hogan (2004, p. 5) descreve:
“... os sociólogos preocupam-se com duas faces simultaneamente: como as
populações percebem o risco, e como a cultura exerce papel neste processo
de construção e formulação dos riscos‖.
Neste sentido, é importante compreender o contexto cultural no qual o grupo
populacional a risco está inserido, pois reflete diretamente na concepção de vida, saúde-
doença e de riscos. As características socioeconômicas do grupo populacional a risco
podem afetar diretamente sua percepção de riscos, por causa da influência das relações
sociais, da educação, do sistema de saúde local e das experiências de vida, além de
outros (CASTIEL, 1996).
61
Sociólogos e antropólogos iniciaram estudos sobre percepção de riscos
direcionados para explicar que as decisões e julgamentos individuais sobre os riscos são
diferentes frente à avaliação objetiva do risco (MARRIS et al, 1998).
A ótica da sociologia procurou abordar o problema dos riscos que afligem a sua
organização a partir de dois níveis: específico e geral. O nível específico se refere a
interpretações dos significados dos riscos na dimensão individual e nos modos como
estas percepções e comportamentos interferem nas práticas de seus cotidianos e o nível
geral se refere à intervenção de instituições e estruturas sociais na configuração do risco
pela sociedade (CASTIEL, 1996).
A teoria cultural se fundamenta em dois pressupostos:
Primeiro, as visões do mundo são compatíveis com os objetivos, as necessidades e
os interesses do grupo social no qual o indivíduo está inserido e isto, influencia
fortemente na percepção de riscos e na tomada de decisões. Relacionamentos sociais
distintos são determinados por diferentes visões do mundo do indivíduo e vice-versa
(MARRIS et al, 1998).
Segundo, algumas características grupais de relações sociais contribuíram para
definir cinco modos de vida ou atitudes dos indivíduos que exercem poder sobre a
percepção da vida e dos riscos à sua volta: atomizados (os riscos estão fora de controle e
a segurança é uma questão de sorte); burocratas (riscos são aceitáveis somente se
controle por parte de instituições); eremitas (riscos são aceitáveis se não coerção de
outros); igualitários (riscos não devem ocorrer a menos que sejam inevitáveis para
proteger o bem público) e empreendedores (riscos devem ser aceitos em troca de
benefícios). As escolhas de como viver e dos riscos que serão aceitos ou não dependem
das formas de organização social dos indivíduos (MARRIS et al, 1998; WILDAVSKY
& DAKE, 1990).
À luz desse contexto, duas versões da teoria cultural (estabilidade e
mobilidade) que têm prejudicado o andamento e a análise empírica deste tipo de
pesquisa. Alguns teóricos contestam a existência de um rigor em relacionar os modos de
vida com os padrões das relações sociais. Outra questão de desacordo entre os teóricos
culturais das duas versões é a utilização de questionários que poderiam testar
características culturais sem referenciar qualquer contexto social específico (MARRIS
et al, 1998; WILDAVSKY & DAKE, 1990).
62
As características cognitivas não podem ser reconhecidas como as únicas
determinantes do processo de percepção de riscos, mas devem ser somadas ao contexto
sociocultural dos indivíduos expostos aos perigos químicos ou físicos oriundos de
atividades econômicas (FREITAS, 2000; MARRIS et al, 1998).
As mudanças de comportamento com o propósito de redução dos riscos não
podem ser indissociáveis do contexto cultural que o grupo humano exposto está
inserido, caso contrário, as estratégias de comunicação e manejo do risco serão
ineficazes. O indivíduo exposto deve compreender corretamente o fato, para que reflita
e esteja disposto a utilizar as estratégias de prevenção do risco.
Os riscos não são considerados como absolutos e a noção e as atitudes de
prevenção dos riscos está diretamente ligada às crenças, metas, motivações, valores e
benefícios que envolvem os indivíduos expostos. O contexto cultural influencia
fortemente os valores desenvolvidos sobre o posicionamento dos indivíduos na
formulação dos riscos e em suas respostas ao risco (SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG,
1994).
Dessa forma, nota-se a importância de se analisar um conjunto de fatores
responsáveis pela percepção de risco, que é averiguada a nível individual, mas agrupada
a nível coletivo para um entendimento global sobre uma determinada população exposta
ao risco.
63
III.3.5-FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO HUMANA DE
RISCOS
Os fatores socioeconômicos, culturais e biológicos existem dentro de um contexto
interativo e contribuem para ampliação do conhecimento a respeito da percepção dos
riscos e das respostas aos riscos, melhorando a interpretação das opiniões e
comportamentos dos indivíduos frente aos riscos.
O processo de compreensão do comportamento e das respostas individuais diante
de riscos e perigos se torna complexo à medida que uma multiplicidade de eventos,
condições e situações de vida, que influenciam diretamente na sua formulação
(MARANDOLA JR. & HOGAN, 2004).
Características qualitativas dos riscos têm sido analisadas em relação à resposta
social a determinado risco ambiental. A amplificação social dos riscos diz respeito aos
diferentes tipos de percepções de riscos de uma sociedade, e apesar de possuir algumas
diferenças intrínsecas, também, apresentam algumas características comuns, tais como
são citadas por HABERMANN & GOUVEIA, (2008, p.1106):
―A sociedade moderna tende a admitir riscos de menor conseqüência e maior
probabilidade (ex. acidente automobilístico) em detrimento dos riscos de alta
conseqüência e baixa probabilidade (ex. acidente em usina nuclear)‖.
HERGON et al (2004) cita alguns dos elementos que exercem forte influência na
percepção e aceitabilidade do risco: o número de pessoas expostas, as percepções
individuais, os fatores sociais, a etnicidade e a equidade, o perigo não familiar e que
cause pavor. Estes diversos fatores têm sido destacados nas pesquisas de percepções de
risco, com a finalidade de uma melhor construção das questões que focalizem o
delineamento do objeto e de uma melhor interpretação e aprofundamento das respostas
dos sujeitos da pesquisa.
Os julgamentos do risco pelo público tendem a ser mais correlacionados a outras
características do que as estimativas técnicas do risco, diferentemente dos especialistas.
A voluntariedade da exposição foi priorizada no estudo de Starr como mediador chave
na aceitabilidade do risco, mas diversos estudos de abordagem psicométrica têm
64
revelado que rias outras características inerentes aos riscos parecem influenciar a
relação entre risco percebido, benefício percebido e risco aceitável (SJOBERG, 2000).
Há algumas cadas, diversos estudiosos têm conduzido a percepção de risco do
público leigo a uma relação íntima com a posição do perigo dentro de um fator espaço,
sendo o de “medo extremo” considerado como o mais importante. Quanto mais próximo
deste fator, mais as pessoas querem ver a redução dos riscos associados ao perigo
através de algumas medidas como legislações restritivas sobre o seu uso. Assim, é feita
a classificação do risco pela percepção pública, enquanto que especialistas tendem a
ranqueá-lo de acordo com a expectativa media anual de mortalidade sobre o risco.
Existem dois fatores: 1- relacionado às dez características dos riscos e classificado como
“medo extremo” e 2-relacionado às cinco características dos riscos e classificado como
“desconhecido”. Estas 15 características se inter-relacionam dentro dos fatores espaços
(SLOVIC, 1996; SLOVIC, 1987).
As posições dos perigos nos espaços dizem respeito à amplitude do fator, sendo
maior à esquerda e menor à direita em relação ao fator 1, por exemplo, o perigo é mais
voluntário quando sua posição tende a ser para esquerda e é menos voluntário quando
tende a ser para a direita. Em relação ao fator 2, este amplitude tende a ser maior quanto
mais para baixo se localiza o perigo dentro do espaço e vice-versa, por exemplo, um
perigo tende a ser mais observável quanto mais para baixo ele se apresenta no gráfico-
espaço.
65
Fator 2**
Asbestos
Fator 1*
Figura 1: Localização do amianto nos espaços dos fatores 1 (“medo extremo”) e 2
(“desconhecimento”) que cruzam suas 15 características dos riscos. Fonte: adaptada de SLOVIC,
1996.
Notas: * Fator 1 se refere às 10 características de grau de controle, medo extremo, catástrofe,
conseqüências fatais, equidade, individual, risco para gerações futuras, facilidade de ser reduzido,
nível do risco e voluntariedade. Fator 2** se refere às 5 características de ser observável, conhecido
pelos expostos, efeitos imediatos, ser novo ou velho, riscos conhecidos pela ciência.
Nesse sentido, o controle e a voluntariedade da exposição ao risco se inter-
relacionam ao conhecimento sobre o perigo. Podemos observar na figura 1 acima, que
Slovic (1996) configura o amianto numa posição espacial moderada dentre os fatores de
risco que causem medo extremo e sejam considerados desconhecidos pelas populações.
Temos um exemplo típico de correlação entre estas características que é a relação
risco-benefício, que parece imperar nos estudos psicométricos de percepção de riscos,
se destacando como um determinante fundamental na preocupação do público sobre a
distribuição justa nesta relação. As conseqüências dos perigos ambientais têm se
mostrado como termos negativos pelo público, mas as suas causas nem sempre
apresentam os mesmos atributos negativos que influenciam na percepção deles. Embora
ocorram alguns potenciais prejuízos ambientais, as pessoas tendem a fazer seus
julgamentos sobre determinados riscos ambientais a partir de alguns benefícios
humanos. Muitas vezes, os indivíduos mais expostos diretamente a alguns riscos tendem
a apresentar sentimentos e opiniões a favor do risco, por causa do benefício que o risco
66
lhe confere. Os indivíduos tendem a desenvolver mecanismos defensivos psicológicos
para procurar entender e aceitar aquele risco como algo que está lhe beneficiando,
muitas vezes, em detrimento, às conseqüências negativas que ele pode provocar
(BLAKE, 2004; CASTIEL, 1996; SLOVIC, 1987).
Segundo a ATSDR (2009), as percepções das pessoas sobre a magnitude dos
riscos são influenciadas por fatores além de dados numéricos, tais como:
Riscos percebidos como voluntários são mais aceitos do que aqueles impostos;
Riscos percebidos sob controle individual são mais aceitos do que aqueles
incontroláveis;
Riscos que têm claros benefícios são mais aceitos do que aqueles que têm pouco
ou nenhum benefício;
Riscos que são mais igualitários na sua distribuição são mais percebidos do que
aqueles que são distribuídos injustamente;
Riscos percebidos como naturais são mais aceitos do que aqueles que são
artificiais;
Riscos percebidos como oriundos de estatísticas são mais aceitos do que aqueles
por catástrofes;
Riscos percebidos através de uma fonte de confiança são mais aceitos do que
aqueles que são originados de uma fonte não verdadeira (falsa confiança);
Riscos percebidos como familiares são mais aceitos do que aqueles que são
exóticos;
Riscos percebidos que afetam os adultos são mais aceitos do que aqueles que
afetam as crianças;
Muitas dessas características qualitativas do risco que influenciam a percepção e
a aceitabilidade do risco tendem a ser correlacionadas com outras, por exemplo, perigos
que tendem a ser julgados como controláveis, também, tendem a ser julgados como
voluntários. Essas correlações podem ser bem realizadas pelas cnicas psicométricas
(SLOVIC, 1987).
Nesse contexto, diversos estudos têm mostrado que algumas características
qualitativas do risco influenciam a percepção do risco e dos benefícios sobre ele.
Embora algumas pesquisas tenham priorizado a voluntariedade da exposição como
mediador chave da aceitabilidade do risco, outras sobre preferências expressas
67
incluíram outras características como fundamentais para a interferência da percepção e
aceitabilidade do risco, que são: familiaridade, controle, catástrofe potencial, equidade e
nível de conhecimento sobre o risco, etc. (SLOVIC, 1987).
Freitas (2000) destaca que os estudos de abordagem psicológica ressaltam alguns
fatores importantes que parecem ampliar a percepção de riscos, que são: a exposição
involuntária ao risco, que diz respeito à ausência de participação prévia na implantação
de tecnologias perigosas e o surgimento de problemas de saúde com efeitos imediatos
em seus entes queridos. No entanto este autor resume que os fatores que mais
contribuem, na sua visão, para elevar os níveis de preocupação do público sobre os
riscos são: exposição involuntária; associação dos problemas de saúde à exposição aos
riscos; conhecimento insuficiente sobre riscos à saúde; ausência da participação direta
nos processos decisórios ou de gerenciamento dos riscos; os riscos em questão não
serem familiares aos indivíduos expostos.
Um fato peculiar nesse estudo e que tem também, sido destacado por diversos
autores é a influência da situação de adoecimento em um familiar ou amigo próximo, o
que contribui para evidenciar as percepções de riscos por pessoas leigas (FREITAS,
2000; SJOBERG, 2000).
O conhecimento do público sobre as definições de risco e suas conseqüências
também é um determinante da percepção de riscos bastante discutido entre os
especialistas. Por exemplo, a relação entre a percepção de uma situação de risco
ambiental nem sempre pode estar atrelada a percepção sobre o processo de adoecimento
humano. Contudo, outros estudiosos que têm criticado a associação pragmática entre
este fator e a percepção de risco (SJOBERG, 2000; WILDAVSKY & DAKE, 1990).
Outro exemplo é a seriedade e magnitude de um evento acidental por descuido
da ação humana sobre uma tecnologia que parece ter uma ampla repercussão sobre a
percepção e a tomada de atitudes a nível coletivo. Os acidentes são caracterizados como
sinais potenciais para um perigo coletivo, desde o acidente químico ampliado de
Bhopal, na Índia (SLOVIC & WEBER, 2001; FREITAS et al, 2002).
No entanto, as catástrofes potenciais nem sempre assumem tamanha extensão de
mobilização social como deveriam. Alguns acidentes que ocasionaram muitas mortes ou
prejudicaram muitas vidas foram capazes de provocar apenas um pequeno distúrbio
68
social. Um potencial impacto social parece estar sistematicamente relacionado às
características do perigo e a localização de onde foi produzido o evento (SLOVIC &
WEBER, 2001).
Em resumo, Sjoberg e Drotz-Sjoberg (1994) agruparam os fatores que são
utilizados, geralmente, para explicar as percepções de riscos em quatro grupos:
1) Fatores relacionados ao tipo de perigo, que incluem a aceitação voluntária;
catástrofe potencial; incerteza científica; grau de controle; nível de conhecimento;
incerteza científica; medo extremo; história recorrente; forma de aparecimento dos
efeitos (repentinamente); irreversibilidade das conseqüências;
2) Fatores relacionados ao contexto social, que incluem os benefícios; equidade;
confiabilidade técnica; meios de comunicação; envolvimento de crianças ou fetos;
conseqüências para as gerações futuras; identidade da vítima.
3) Fatores relacionados com o contexto das opiniões sobre o risco ou ponderações, que
incluem grupo de risco (os riscos afetam o grupo e não apenas um indivíduo); definição
de risco, com ênfase sobre as conseqüências; marco contextual no tempo por uma
experiência negativa;
4) Fatores relacionados com características individuais, que incluem o gênero; idade;
nível educacional; sensibilidade psicológica.
Enfim, as características qualitativas do risco têm influenciado a maneira em que
riscos são percebidos e manejados e podem contribuir, também para elaborar estratégias
de comunicação dos riscos. Assim, o fato da exposição ao perigo ser percebida como
voluntária, controlável, pavorosa, etc. pode condicionar os esforços para manejo do
risco (SLOVIC, 2000). No entanto, embora estas características, destacadas nas
pesquisas psicométricas, sejam aceitas como fatores determinantes em estudos de
percepção de riscos, a contribuição relativa delas para a formulação de opiniões ou
motivação para ação depende dos estilos de vida, fatores ambientais ameaçadores e
valores culturais (SJOBERG, 1996).
É mister destacar que os valores contidos em expectativas e no contexto cultural
são determinantes significantes do olhar subjetivo do risco e que os fatores qualitativos
descritos anteriormente, não podem ser adicionados a estes valores, mas podem ser
usados como canais para comunicar a avaliação de resultados feita por estudiosos.
Assim pressupõe-se que a existência de um processo de percepção intuitiva possa dar
69
suporte a praticamente todas as características qualitativas do risco e que por sua vez,
podem ser mais ou menos respaldadas pela influência sociocultural. Os modelos de
percepção supra-individual revelados pelo conjunto de mecanismos comuns de
percepção de riscos e pelos sinais do senso comum, podem se constituir em uma base
fundamental para se estruturar trabalhos de comunicação de riscos entre diferentes
pontos de vista com o intuito de direcioná-los para o manejo comum dos conflitos
(RENN, 2004).
70
IV-METODOLOGIA
IV.1-CARACTERÍSTICAS DA POPULAÇÃO E ÁREA DE ESTUDO
O município de Bom Jesus da Serra/BA possui uma área geográfica de 411,00
km² e localiza-se na microrregião de Vitória da Conquista no estado da Bahia (SESAB,
2008). A chegada ao município é dificultada pela distância de 30 km, aproximadamente,
dele ao centro do município vizinho Poções e o único acesso é uma estrada hoje
asfaltada sobre a pavimentação com barro, pedras de amianto e rejeitos industriais do
amianto. A vegetação aos redores desta estrada se caracteriza fundamentalmente como
de caatinga, sendo que no momento da visitação a terra não estava seca e pode se
observar a predominância de gramíneas ao longo de todo o trajeto.
Um Povoado de área rural ainda pertencente ao município de Poções é o de
Bandeira Nova e se localiza a aproximadamente, 11 km da mina e do Povoado Bonfim
do Amianto. Este povoado é avistado assim que se entra na estrada que culmina no
município de Bom Jesus da Serra/BA.
Um fato peculiar desta rodovia é a existência de nove cemitérios, além dos
túmulos existentes nos quintais de algumas casas. Um morador da região confirmou esta
situação e relatou que isto se deve a grande quantidade de mortes que vêm ocorrendo há
algumas décadas, mas não associou este fato à implantação da mineração de amianto no
município.
Como as localidades de estudo priorizadas foram o centro do município e área
rural do Povoado Bonfim do Amianto, outras áreas rurais existentes não foram
visitadas. O Povoado Bonfim do Amianto está a 3,5 a 4 km do centro do município e
seu único acesso, também, é através desta estrada. Este povoado está localizado na
imediação da mina desativada de amianto e parece ser constituído, praticamente, de
indivíduos ex-trabalhadores e/ou familiares de ex-trabalhadores.
No âmbito da pesquisa em campo, a análise processual das condições de vida da
comunidade afetada possibilitou uma ampliação do entendimento da contextualidade
determinada pela variação espacial da percepção e produção de riscos e doenças pelos
moradores do estudo (MONKEN &BARCELLOS, 2005). Portanto, para levantamento
das condições de vida, saúde e ambiente do município, foram comparadas as
71
observações feitas em campo com os dados a seguir sobre o município e o estado da
Bahia, que foram obtidos através do departamento de informações em saúde da
secretaria estadual de saúde da Bahia, do Ministério da Saúde e do IBGE.
IV.1.1-Informações demográficas e socioeconômicas
Segundo dados do IBGE de 2009, a população do município de Bom Jesus da
Serra/ BA foi estimada aproximadamente em 10.590 habitantes. Sua densidade
demográfica foi de 25,65 e o grau de urbanização foi de 18,60, de acordo com dados do
censo do IBGE de 2000.
Em todo o estado da Bahia, a proporção de analfabetismo decresceu de 49%
observado em 1991 para 33% em 2000. Enquanto que a taxa de analfabetismo da
população (15 anos ou mais) do município de Bom Jesus da Serra é mais elevada que a
do restante da Bahia que é de 37,39, conforme dados do censo do IBGE de 2000.
Segundo dados do Censo do IBGE de 2000, o município de Bom Jesus da Serra/
BA apresentava o sistema de saneamento bastante precário, incluindo a cobertura da
rede de abastecimento de água na população urbana (76,86), a cobertura de sistemas de
esgotamento sanitário (2,70) e a cobertura de sistemas de coleta de lixo (63,65), que
eram bastante reduzidas em relação às do restante do estado da Bahia (88,80; 56,95;
84,34, respectivamente) e as do Brasil (88,50; 69,52; 90,50).
Observam-se, também, problemas relacionados à ausência de espaços de lazer e
dificuldades na rede de transportes municipais e intermunicipais.
Verifica-se que não há diferenciação no nível de renda da população residente,
exceto para aqueles que ocupam cargos dentro da prefeitura, que é a maior atividade
econômica do município. O perfil econômico do município demonstra um PIB baixo,
que é regido por pequenos negócios locais e pela prefeitura. Atualmente, nas áreas
rurais existe somente a agricultura de subsistência (IBGE, 2009).
72
IV.1.2-Considerações epidemiológicas de Morbidade e de Mortalidade
Dados disponíveis do SIM da diretoria de informação em saúde da Secretaria
Estadual de Saúde da Bahia (SESAB) mostram que, no ano de 2006, o primeiro grupo
de causa de óbitos do estado da Bahia foi de doenças aparelho circulatório, seguidas
por: causas mal-definidas; externas; neoplasias e doenças do aparelho respiratório
(SESAB, 2007).
A região sudoeste, onde se localiza o município de Bom Jesus da Serra,
encontra-se no ano de 2006, como a macrorregião do estado da Bahia com a terceira
maior taxa de mortalidade infantil. Em 2006, as doenças do aparelho respiratório
encontravam-se como a principal causa de óbitos infantis de 1 a 4 anos de idade. As
taxas de mortalidade mais elevadas entre indivíduos com 60 anos e mais apresentavam,
respectivamente, os principais grupos de causa: doenças do aparelho circulatório,
neoplasias e doenças do aparelho respiratório.
Segundo MS (2002), a mortalidade proporcional por doenças do aparelho
respiratório é bem mais elevada que a do restante do estado da Bahia e do Brasil.
No estado da Bahia em 2006, houve um decréscimo da proporção da
mortalidade por causas mal definidas de 15,7% em relação ao ano de 2005 que era de
25,3%. no município de Bom Jesus da Serra, segundo dados do SIM/MS (2003), a
proporção de óbitos por causas mal definidas está em primeiro lugar, seguida por causas
externas, doenças do aparelho circulatório e doenças do aparelho respiratório. Todas
estas causas, exceto as doenças por aparelho circulatório, aparecem como proporções de
mortalidade bem mais elevadas que a do restante do estado da Bahia e do Brasil
(SESAB, 2007).
Segundo dados da SESAB (2008), uma análise na série histórica da taxa de
internações por Infecção Respiratória Aguda em menores de cinco anos no município
do Bom Jesus da Serra demonstrou uma tendência crescente de 2003 a 2008,
principalmente, de 2006 a 2008, sendo mais elevada que a do estado da Bahia.
73
IV.1.3-Informações de saúde
Segundo a SESAB (2007) e informações locais da secretaria municipal de saúde,
a rede assistencial do município de Bom Jesus da Serra inclui um centro de saúde e três
unidades de saúde da família (USF), sendo duas USF localizadas nas áreas rurais e uma
na área do centro e uma unidade básica de saúde que atende a população rural,
também localizada no centro. Há disponibilidade de 25 leitos hospitalares. O hospital de
pequeno porte não possui centro de tratamento intensivo e alguns exames diagnósticos.
Portanto, muitos indivíduos residentes nesse município buscam por conta própria ou são
referenciados pela secretaria municipal de saúde para assistência hospitalar em outros
municípios dentro da mesma macrorregião de saúde ou mesmo em outras
macrorregiões.
A área rural do povoado Bonfim do Amianto, localizado próximo à mina
desativada de amianto, não possui serviço de saúde próximo, e a sua população tem que
se deslocar para o centro para receber assistência à saúde, através de um transporte
coletivo disponibilizado pela prefeitura em horários específicos. Esta área possui uma
distância de 3,5 a 4 km do centro do município.
Segundo dados de SESAB (2007), a macrorregião sudoeste na qual se situa o
município de Bom Jesus da Serra apresentou um número de 118.95 internações de
pacientes na rede SUS, sendo que 115.168 foram da própria macrorregião de residência,
enquanto que apenas 3.783 (3,2%) foram internações de pacientes de outras
macrorregiões.
IV.2-DESCRIÇÃO DA PESQUISA
Trata-se de uma pesquisa de percepção de riscos, de natureza social, baseada na
abordagem qualitativa e foi viabilizada por meio de uma investigação exploratória de
campo no município de Bom Jesus da Serra/ BA, no período de julho de 2010.
A pesquisa qualitativa tem a proposta de compreender e explicar os fatos,
conceitos e significados encontrados nos discursos e textos dos participantes. Como a
pesquisa qualitativa está fundamentada nas ciências sociais e antropológicas, focaliza a
consciência histórica social. Assim, o presente das sociedades humanas é marcado pelas
experiências de vida do passado e pelas construções projetadas para o futuro. O discurso
74
e o conjunto de expressões humanas dos grupos sociais são influenciados por esta
constante dialética entre passado, presente e futuro (GIL, 1999; MINAYO, 2007).
Na pesquisa qualitativa existe uma identidade entre sujeito e objeto, uma vez que
lida com as relações sociais entre pesquisador e pesquisado e que a visão de mundo de
ambos está implicada em todo o processo de conhecimento (MINAYO, 2007).
O pesquisador focaliza sua atenção e explora os significados que os sujeitos dão
às coisas, à vida e à saúde, passando por um dinamismo interno das relações
(MINAYO, 2007).
A pesquisa social permite o conhecimento de fatos, atitudes, crenças e saberes da
população-alvo, estimulando-a a refletir sobre o problema real, com intuito de uma
possível mobilização social para resgate de seus direitos à saúde (MINAYO, 2007;
MINAYO et al, 2003).
Desta forma, a pesquisa social com a população residente no município de Bom
Jesus da Serra/ BA possibilitou o conhecimento e a descrição de um estudo de
percepção de risco em relação aos problemas ambientais e de saúde locais.
A seguir são descritas as etapas do marco metodológico dessa dissertação.
A primeira etapa foi de uma pesquisa bibliográfica sobre os temas:
vulnerabilidades e riscos na sociedade atual; percepção de riscos ambientais e à saúde
humana; abordagens teóricas sobre os estudos de percepção de riscos; indicadores
socioeconômicos, demográficos, epidemiológicos e de saúde do estado da Bahia e do
município de Bom Jesus da Serra/ BA.
Nesta etapa ocorre o levantamento dos pressupostos teóricos conceituais, que
representam os parâmetros básicos filosóficos que norteiam a investigação empírica
qualitativa (MINAYO, 2007).
A pesquisa exploratória inicial se insere no método qualitativo, à medida que
proporciona ao mesmo tempo, a busca da delimitação do tema e da definição do objeto
e a ampliação de informações sobre o assunto investigado, e assim, permite estabelecer
uma visão geral e aproximada do objeto de estudo, que é passível de ser investigado por
meio de procedimentos sistematizados (MINAYO et al, 2003).
75
A segunda etapa compreendeu o estudo etnográfico propriamente dito a partir da
observação participante em campo e aplicação de questionários.
A exploração no campo foi uma etapa preliminar importante para o
conhecimento da região e da população estudadas, e possibilitou a identificação de
situações de perigos ambientais e riscos para a saúde pública local (MINAYO, 2007;
GIL, 1999).
Após reconhecimento do espaço da pesquisa, foi aplicado um questionário
validado baseado nas abordagens psicométrica e cultural de percepção de riscos, com
algumas questões reformuladas, a fim de adequar e incorporar uma importante situação
de risco local que é a exposição ambiental ao amianto (BENTHIN et al, 1993).
O questionário se caracteriza em uma das cnicas utilizadas para a coleta de
dados em pesquisas sociais com abordagem qualitativa e envolve várias discussões
acerca do seu conceito e objetivos (MOURA et al, 1998; MINAYO, 2007).
MOURA et al (1998, p. 56), descrevem os questionários como:
instrumentos compostos de um conjunto de perguntas elaboradas, em geral, com o
intuito de reunir informações sobre as percepções, crenças e opiniões dos
indivíduos a respeito deles próprios e dos objetos, pessoas e eventos presentes em
seu meio ambiente‖.
O questionário foi aplicado individualmente, pelo pesquisador que perguntou e
anotou as respostas fornecidas pelo respondente, ou seja, o questionário se deu em
situação de entrevista (MOURA et al, 1998).
Neste estudo, o questionário foi misto, ou seja, um instrumento com questões
padronizadas fechadas e outras abertas, o que permitiu um aprofundamento das relações
entre o pesquisador e os atores sociais em campo e uma maior obtenção na flexibilidade
das respostas por parte dos entrevistados. Este espaço de diálogo em campo permite que
as respostas sejam mais completas e claras, pois as perguntas podem ser mais bem
explicadas caso não tenham sido compreendidas pelo entrevistado (MOURA et al,
1998; MAY, 2004).
No interior do questionário, existiu a escala de LIKERT que é uma cnica que
tem despertado interesse em pesquisas psicológicas para a medida de atitudes, valores e
aspectos da personalidade e por apresentar uma construção simples de afirmações que
76
devem expressar o grau de concordância em um contínuo dos pesquisados. Esta técnica
varia através de cinco pontos, usualmente, com os extremos rotulados com as
expressões: “concordo plenamente” e “discordo plenamente” (MOURA et al, 1998).
Sendo assim, nas questões 12 e 15, os participantes indicaram o seu grau de acordo em
relação à opinião emitida do enunciado, através da escolha de uma opção. A escala
opcional tipo Likert permitiu que as questões fossem medidas através da expressão do
ponto de vista dos participantes sobre as situações descritas, que correspondem a
situações de risco documentadas.
Por isto os questionários e as escalas se inserem como bons instrumentos das
pesquisas de percepção de riscos com abordagem psicológica. Nestes tipos de
pesquisas, também podem ser usados, concomitantemente, as entrevistas e os
questionários (SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1994).
Sendo assim, para conhecimento sobre os julgamentos dos riscos de
adoecimento, nos questionários constaram além da técnica de LIKERT, escalas de 10
pontos para as estimativas individuais, que serviram para mensurar as percepções de
risco à saúde dos moradores locais. O sujeito deveria informar o valor de 1 a 10 sobre a
chance de vir a ter uma determinada doença e a seriedade desta doença (BENTHIN et
al, 1993).
Uma limitação do questionário e das escalas é a desejabilidade social, ou seja, a
possibilidade das respostas não corresponderem realmente com a opinião do informante
e sim estarem de acordo com normas e convenções sociais (MOURA et al, 1998).
Acreditamos que houve pouca influência neste sentido.
Em contraste, os questionários possuem algumas vantagens. Eles permitem um
contato direto com os sujeitos de estudo e economizam tempo e gastos para o
pesquisador. Os questionários, também, podem ser aplicados em um grande número de
pessoas, embora os de nível individual demandem maior tempo, em compensação,
um maior enriquecimento das respostas, como dito anteriormente (MOURA et al,
1998; MINAYO, 2007).
A limitação do tempo é um aspecto preocupante das pesquisas qualitativas e
neste sentido, o questionário se constitui em uma ferramenta facilitadora deste processo
(MINAYO, 2007). O curto prazo de tempo em campo não possibilitou readequações
nas questões sobre práticas e saberes da população local. Apesar disto, a observação
77
participante em campo permitiu uma troca de conhecimentos e saberes entre outros
indivíduos moradores do município, além daqueles selecionados para aplicação dos
questionários, e o pesquisador, que por sua vez, identificou comportamentos e
significados atribuídos por eles aos riscos ambientais e à saúde, e especialmente aqueles
relacionados à exposição ao amianto local.
Pelo questionário apresentar uma estrutura preconizada de tópicos, foi possível a
comparação simples entre os mesmos. Desta forma, o aspecto de comparabilidade é
facilitado, inclusive para comparação entre os sujeitos da pesquisa segundo uma
característica comum (MINAYO, 2007).
Por fim, os questionários foram aplicados individualmente, em ambiente
reservado nas unidades de saúde visitadas, após a aplicação do termo de consentimento
livre-esclarecido (MINAYO, 2007).
Na terceira etapa foi realizada a análise de dados por um modelo teórico de
avaliação categorial de conteúdo (GIL, 1999; CAREGNATO & MUTTI, 2006).
Há freqüentemente um confundimento nas pesquisas qualitativas sobre as análises
de discurso e de conteúdo. A descrição detalhada das mensagens dos discursos pelo
pesquisador deve partir de dois pontos: do sentido do discurso quando se trabalha com
análise de discurso e do conteúdo do texto quando se trabalha com análise de conteúdo.
Sendo assim, para que ocorra a inferência dos conhecimentos produzidos nas
mensagens, faz-se necessário a reflexão de algumas abordagens conceituais sociológicas
e antropológicas (CAREGNATO & MUTTI, 2006; NICOLACI-DA-COSTA, 1994).
A abordagem psicométrica de percepção de risco foi considerada para a
construção das questões norteadoras do estudo, mas a teoria cultural do risco foi
também, considerada para a análise de conteúdo nas categorias temáticas.
IV.3-AMOSTRA DA POPULAÇÃO PARTICIPANTE DO ESTUDO
A amostra dos sujeitos do estudo foi não-probabilística do tipo intencional e o
dimensionamento do seu quantitativo foi estabelecido com base na possibilidade do
estudo e na experiência de algumas pesquisas de percepção de riscos com abordagem
78
psicométrica. Assim, a coleta de dados em campo se encerrou ao atingir a estimativa
numérica de 83 sujeitos do estudo (SLOVIC, 1987; MINAYO, 2007).
Há, em parte, uma preocupação e necessidade do estudo ser realizado com uma
amostra numérica considerável, pois enquanto a abordagem cultural de estudos de
percepção de riscos o se preocupa com a quantidade amostral, a abordagem
psicométrica apresenta esta preocupação, devido à aplicação de técnicas estatísticas, o
que não foi feito nesse estudo (SLOVIC, 2000; SLOVIC, 1987).
O importante é alcançar o quadro empírico do objeto em suas várias dimensões e
a questão da validade da amostragem passa por este princípio (MINAYO et al, 2003;
MINAYO, 2007).
Minayo (2007, p. 197) relata que uma amostra qualitativa ideal deve refletir a
totalidade das múltiplas dimensões do objeto de estudo.
Durante as visitas as unidades de saúde, o critério de escolha dos sujeitos seguiu
algumas características específicas, sendo um usuário que se dispôs a responder o
questionário no momento da visita.
Algumas características dos sujeitos da pesquisa foram delimitadas para um
melhor foco da pesquisa, nas quais se situam o contraste de indivíduos jovens e idosos
que vivenciaram ou não a época de exploração da mina de amianto; o gênero; a
identificação do usuário de uma unidade de saúde próxima ou longe na mina desativada
de amianto.
Foram agrupados os sujeitos em duas faixas etárias diferentes: um de 20 a 35
anos e outro a partir de 60 anos e dentro de cada uma das faixas etárias, eles foram
comparados paritariamente pelo sexo. Os sujeitos da faixa etária de 20 a 35 anos devem
residir na área de estudo pelo menos 5 anos, enquanto que os da faixa etária a partir
de 60 anos devem residir na área mais de 50 anos para que tenham participado da
época da exploração da mina de amianto. Alguns eram familiares e outros eram os
próprios ex-trabalhadores da mina.
Os questionários foram aplicados com usuários de duas unidades de saúde
pública do município de Bom Jesus da Serra/ BA, que se localizavam no centro do
município, pois uma atendia exclusivamente as áreas rurais, incluindo o povoado
Bonfim do Amianto (área próxima da mina desativada de amianto), enquanto que a
79
outra atendia somente aos moradores do centro. Este povoado não dispõe de serviço de
saúde como outras duas áreas rurais que dispõe de estratégia de saúde da família.
Esta situação possibilitou a expressão de idéias e significados aleatórios sobre o
assunto, e a obtenção de uma variabilidade grande dos dados.
Levantou-se a hipótese que a percepção de perigos ambientais e riscos à saúde
dos sujeitos do estudo, inclusive sobre o amianto, iria se apresentar diferenciada entre os
dois grupos de faixas etárias distintas, pois os jovens não tiveram contato direto com a
exploração ativa de amianto na época do funcionamento do processo industrial.
IV.4-QUESTÕES ÉTICAS
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa CEP da
ENSP/FIOCRUZ em julho de 2010. O anonimato de tais participantes e a autorização
para a sua participação obedeceram a RESOLUÇÃO 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde, sobre pesquisas envolvendo seres humanos.
Os questionários foram aplicados com prévia autorização dos sujeitos
participantes, por escrito, na forma de um consentimento livre e esclarecido, após a
leitura do mesmo, mediante esclarecimentos pelo entrevistador sobre os objetivos,
riscos e benefícios da pesquisa, da garantia do anonimato e sigilo, do respeito à
privacidade, intimidade e liberdade. O sujeito do estudo teve o direito de recusar e
retirar a sua participação na pesquisa a qualquer momento.
80
V- Resultados e Discussão
A análise dos dados incluiu a separação, a interpretação e o agrupamento dos
dados em categorias, ou seja, primeiro o pesquisador fez uma leitura detalhada das
respostas objetivas e subjetivas, para posteriormente, alocar os dados dentro de padrões
e determinar até que ponto estes se mostraram úteis para os objetivos do estudo
(MOURA et al, 1998; GIL, 1999).
O refinamento das categorias analíticas foi realizado com base nos objetivos e
nos interesses teóricos da pesquisa. O tema foi, também, utilizado como recorte
analítico para as categorias dominantes. Nesse sentido, foram definidas as seguintes
categorias analíticas: Percepção de riscos ambientais; Percepção de riscos à saúde;
Invisibilidade da exposição ambiental ao amianto; Fatores determinantes na
percepção de riscos da população de Bom Jesus da Serra/BA.
A pesquisa ressaltou as características da abordagem psicométrica, que abriu a
possibilidade da realização de uma análise quantitativa mínima dos dados, além dos
dados subjetivos, mas por se tratar de uma pesquisa social não se teve a pretensão da
aplicação de técnicas estatísticas, conforme os estudos com esta abordagem quase
sempre realizam (SLOVIC, 1987). No entanto, os resultados compilados puderam ter
interpretações mais aprofundadas de acordo com as concepções das ciências sociais e
antropológicas.
Os dados iniciais referem-se à caracterização da amostra, que se mostrou
importante para reconhecimento das condições de vida e situação ambiental e de saúde
da comunidade estudada. Em todas as categorias foi incluída a análise descritiva das
variáveis qualitativas e quantitativas do estudo- em termos de seus valores absolutos e
às vezes percentuais, nas tabelas e gráficos-, bem como uma discussão geral sobre as
mesmas, que serão apresentados a seguir:
81
V.1- Caracterização da Amostra
Dos 83 sujeitos do estudo, 36 eram da faixa etária a partir dos 60 anos (19 do
sexo feminino e 17 do sexo masculino) e 47 eram da outra faixa etária de 20 a 30 anos
(24 do sexo feminino e 23 do sexo masculino). Assim, do total de 83 sujeitos, 43 eram
do sexo feminino e 40 do sexo masculino. Em relação ao local de moradia, 48 residiam
na área do centro, 14 na área próxima à mina (02 em frente à mina e 12 no Povoado
Bonfim do Amianto) e 21 em outras áreas rurais. Assim, para fins didáticos, agrupamos
os sujeitos que residiam em área bem próxima à mina (14) e em outras áreas (69). Ver
Tabela 1.
O perfil de escolaridade da população do estudo parece ter se mostrado como
mais um fator de influência sobre o conhecimento e julgamento dos entrevistados sobre
as questões, tal como será discutido em um momento mais adiante.
O agrupamento dos dados revelou que dos 14 sujeitos que residiam na área
próxima à mina: 04 eram analfabetos; 01 realizava leitura; 04 tinham primário
incompleto; 05 tinham ensino médio completo e dos 69 sujeitos das demais áreas: 12
eram analfabetos; 06 realizavam leitura; 21 tinham primário incompleto; 03 tinham
primário completo; 23 tinham ensino médio completo; 04 tinham ensino superior
incompleto. Sendo assim, não existiu um predomínio de um único nível de escolaridade,
mas uma heterogeneidade neste perfil. Ver Tabela 2.
Tabela 1- Dados absolutos e relativos sobre a caracterização biográfica da amostra
Classe N Percentagem
Sexo Feminino 43 51,8%
Masculino 40 48,2%
Idade 20 a 30 anos 47 56,6%
60 a 90 anos 36 43,4%
Local de moradia
Área próxima à mina 14 16,9%
Outras áreas 69 83,1%
82
Tabela 2- Dados absolutos e relativos sobre o perfil de escolaridade da amostra
Nível de escolaridade N Percentagem
Analfabetos 16 19%
Realizavam leitura 07 8%
Primário incompleto 25 30%
Primário completo 03 4%
Ensino médio completo 28 34%
Ensino superior incompleto 04 5%
Total 83 100%
Para fins de comparação, estabelecemos que os níveis de escolaridade mais
elevados se apresentaram como o ensino médio completo e superior incompleto, que
foram os mais elevados níveis alcançados pelos participantes do estudo.
V.2- Percepção de riscos ambientais
Os principais riscos ambientais que foram relatados pelos moradores nas
entrevistas foram: a contaminação do ar pela poeira; a qualidade do solo pela
poeira; e a limitação do abastecimento e fornecimento da água em épocas de escassez.
A contaminação do ar e solo pelo amianto foi uma situação de risco ambiental pouco
relatada.
Tais riscos puderam ser identificados com base nas observações em campo e nas
respostas sobre mudanças que ocorreram nos últimos cinco anos no ambiente do bairro.
89% (74) dos informantes responderam que ocorreram mudanças e 11% (09)
responderam que nada mudou. Destes 74 sujeitos, 72 relataram que houve melhora em
algum aspecto do ambiente do bairro, sendo 11 moradores do povoado Bonfim do
amianto e 61 de outras áreas, e que isto se devia à boa qualidade da água, do ar e do
solo, calçamento, outros (acesso à saúde), menos lixo, menos sujeira. Ver gráfico 1. Em
relação à piora do ambiente do bairro, apenas 20 moradores participantes relataram
algum tipo de piora, que incluiu: mais lixo; mais sujeira; calçamento; qualidade da
água; qualidade do ar; qualidade do solo; outros. Ver gráfico 2.
83
Gráfico 1- Dados absolutos relacionados à questão: “O que mudou para melhor?”, relacionada aos
problemas ambientais do município.
Gráfico 2- Dados relacionados à questão: “O que mudou para pior?”, relacionada aos problemas
ambientais do município.
A análise total dos dados permitiu evidenciar que a maioria dos entrevistados
demonstrou satisfação sobre o ambiente em que mora, enquanto poucos relataram que
alguns aspectos ambientais precisavam ainda melhorar, tais como: ausência de
oportunidades de emprego local; muita poeira; dificuldade no acesso ao transporte;
ausência de coleta de lixo na área rural; ausência de rede de esgotamento sanitário;
água muito clorada; mina abandonada e poeira de amianto. Tais fatos podem estar
ligados a algumas mudanças que ocorreram nas condições de vida e ambiente daquela
população em poucos anos, dentre as quais podemos citar o calçamento das ruas; o
acesso à água potável para consumo; a coleta de lixo da área central; o acesso aos
84
serviços de saúde com a implantação das estratégias de saúde da família. Porém, em
relação à contaminação do ar, água e solo pelo amianto nada foi feito até o momento
desse estudo.
Em relação ao componente ambiental água, houve preocupação por parte de
alguns moradores do estudo sobre a cloração em excesso e o fornecimento intermitente
da água em épocas de escassez na região vizinha do município, porque momentos
que mesmo os moradores que têm água encanada, também, têm de recorrer a fontes
alternativas. Eles informaram que o abastecimento da água para a área do centro do
município vem do açude de Morrinhos do município ao lado - Poções/ BA, enquanto
que para as áreas rurais a água é fornecida através dos carros pipas. Assim, uma parte
das residências do município recebe água canalizada dessa fonte, e a outra parte (zonas
rurais) possui pequenos tanques/ reservatórios que são abastecidos pelos carros pipas
(IBGE, 2009). Apesar disso, a grande maioria dos respondentes informou que a
qualidade da água é boa, porque é tratada e mesmo aqueles das áreas rurais parecem
estar satisfeitos com a água depositada em seus reservatórios.
A análise em campo nos permitiu observar que a baixa qualidade das águas
subterrâneas deve agravar esta situação de escassez em alguns períodos do ano, uma vez
que os lençóis freáticos devem estar contaminados pelo amianto (através das águas que
submergiram em meio à mina) e pelo esgoto (que é despejado sem uma rede de
canalização para tratamento adequado).
Em relação ao solo, enquanto alguns afirmaram que a terra é boa, firme, outros
relataram que o solo é seco por que não chuva. Apenas 18 moradores informaram
que falta um sistema de tratamento de esgoto no município. Nota-se que a maior parte
dos entrevistados não percebe um sério problema para o solo que é a ausência de um
esgotamento sanitário adequado. No entanto, a qualidade do solo esteve em segundo
lugar como o aspecto que mais piorou no município nos últimos cinco anos,
perdendo para a qualidade do ar. Segundo IBGE (2009), 90% dos domicílios do
município não utilizavam nenhum escoadouro para as instalações sanitárias. A
precariedade dos escoadouros sanitários evidencia uma situação ambiental agravante
para o município e que necessita de ações políticas urgentes para a sua mudança.
As condições de saneamento completo incluem um sistema de esgotamento
sanitário, serviços de coleta de lixo e rede de abastecimento de água própria para
85
consumo humano. No Brasil, a falta de saneamento é ainda um problema ambiental
grave que assola as populações das regiões mais pobres do país. O saneamento tem uma
importância considerável na proteção da saúde pública, pois, além de minimizar as
conseqüências da pobreza e proteger o meio ambiente, ajuda a reduzir a incidência de
morbidades de veiculação hídrica e de mortalidade evitável (TEIXEIRA &
GUILHERMINO, 2006).
O lixo foi um aspecto pouco relatado em relação à qualidade do solo. Não houve
preocupação sobre o destino e tratamento do lixo coletado. Porém, a destinação final do
lixo nesse município é mais um aspecto ambiental agravante, uma vez que é realizada
de forma inadequada. Os dejetos são depositados em terrenos baldios e queimados a céu
aberto (IBGE, 2009).
Outro elemento ambiental de importante destaque na percepção de riscos
ambientais foi o ar, pois foi o elemento mais citado em relação à piora de sua qualidade
no município. Esta piora se deve ao desmatamento e queimadas, ao fato da cidade ser
pequena, poluição automotiva, muita poeira e contaminação pelo do amianto. A
percepção sobre a qualidade do ar variou de posições extremas, de ar puro a poluído.
Observe as seguintes falas:
―Não temos poluição do ar devido ao tamanho da cidade‖. (Morador7, 30 anos).
―Há contaminação do ar pelo pó respirável do amianto‖. (Morador7, 30 anos).
A poeira foi um elemento muito destacado entre os informantes, sendo algumas
vezes discriminada em poeira de amianto, como causadora de problemas de saúde para
os que residem naquele município, principalmente na área próxima à mina. Esta poeira
ou “pó de amianto” se refere, também, aos resíduos industriais de amianto deixados em
grande quantidade ao lado da mina propriamente dita. A fala, a seguir, se refere à
qualidade do ar na localidade onde mora- área próxima à mina-.
―Continua a poeira do minério‖ (Morador 53, 69 anos).
Em geral, dos 20 usuários que relataram que houve piora do ambiente do bairro,
05 eram moradores do povoado próximo à mina e apenas um relatou que isto se deve a
qualidade do ar, mais sujeira, qualidade do solo e falta de esgoto, enquanto 15 eram
moradores de outras áreas e para eles a piora se deve a qualidade do solo, ar e água,
mais lixo, mais sujeira, calçamento e outros (desmatamento e esgoto). Do total de 83
86
moradores entrevistados, apenas 05 citou o amianto como um problema ambiental
relacionado ao solo e/ou ar. Apenas uma moradora atribuiu a qualidade do solo e do
ar, concomitantemente, pela contaminação do amianto, pois os demais informaram que
esta ocorre em apenas um dos elementos, assim como o exemplo a seguir:
―A qualidade do ar não chega a 10, porque estamos sujeitos a inimigos invisíveis como o
do amianto‖ (Morador 34, 25 anos).
Tal fato revelou que uma parcela bem pequena dos moradores do estudo parece
perceber a contaminação do ar e solo pelo amianto como um risco ambiental. A
percepção individual e social de riscos ambientais e suas ações de enfrentamento
(adaptações e ajustamentos) passam por implicações e conseqüências (perdas e ganhos)
em diversas escalas, ainda mais quando as causas destes riscos representam processos
tecnológicos industriais. A estimativa técnica do risco pode interagir com a avaliação
social, assim como ocorre em alguns modelos teóricos propostos por alguns estudiosos,
porém, a dicotomia entre o risco “real” e as medidas de precaução pelo grupo exposto é
vista mais por influência de fatores puramente psicológicos do que pelo contexto
cultural. As respostas psicológicas ao risco ambiental refletem uma situação de
costume, de lidar cotidianamente com o risco, fazendo com ele deixe de ser importante,
tornando-o invisível. Aqui, busca-se a integração da percepção de riscos ambientais
tecnológicos por uma comunidade afetada com fatores individuais e construcionistas
socioculturais, frente à importância da riqueza histórica e cultural contidas nos valores e
significados transmitidos pelos moradores (PORTO & FREITAS, 1997;
MARANDOLA Jr. & HOGAN, 2004; BRILHANTE & CALDAS, 1999).
No campo da geografia, alguns autores têm contribuído para a avaliação de
natureza física sobre perigos ambientais de origem antrópica, que são concebidos por
moradores da região em que ocorreram estes eventos, como sendo desastres naturais.
Estes estudos também destacam as conseqüências socioeconômicas, que se apresentam
muitas vezes vinculadas à adaptação social ao risco ambiental (MARANDOLA Jr. &
HOGAN, 2004).
Outro problema ambiental observado em campo e que não foi identificado pelos
moradores do estudo, foi a precariedade das condições da maior parte das habitações do
município, inclusive as das áreas rurais. As telhas de amianto ou cerâmica são utilizadas
para a cobertura destas casas. Desde a época da atividade industrial de exploração do
amianto na região, os alicerces das casas foram construídos com as pedras de amianto e
87
atualmente, as ruas são calçadas com paralelepípedos sobre a pavimentação com estas
pedras. Evidenciou-se que apenas dois moradores, em momentos diferentes da
entrevista, chegaram a informar sobre a presença destas pedras de amianto nas casas:
―... o amianto está presente aqui a todo lugar desde pedras dos alicerces das casas...‖
(Morador 62, 25 anos).
Foto 7: Ruínas e pedras de amianto em Bom Jesus da Serra/BA, Acervo pessoal, 2010.
A foto acima ilustra as ruínas de uma casa no centro da cidade, evidenciando as
pedras de amianto que eram usadas em seus alicerces. preocupação por parte de
alguns estudiosos sobre a deterioração de materiais de construção a base de amianto que
podem dispersar com maior facilidade grandes quantidades de fibras deste mineral no
ar, por um longo período de tempo (XU et al, 2002).
Sendo assim, os moradores da região do estudo desconsideram uma importante
fonte de contaminação ambiental, que é a presença constante e contínua das rochas de
amianto por toda a cidade, nas ruas e nas casas. Ainda hoje, os rejeitos de rochas de
amianto são comercializados e utilizados em obras no município e demais áreas
adjacentes.
Não houve relato, também, sobre a necessidade da criação de espaços de lazer
para o município. A população utilizava, e ainda utiliza em menor proporção, a área da
mina abandonada de amianto como espaço para a realização de feiras, reuniões, banhos,
jogos de futebol, pesca, etc.
Os fatos expostos acima parecem estar relacionados à negação da contaminação
ambiental por amianto em todo o município. Novamente pressupõe-se que as dimensões
88
sociais, culturais e históricas que envolvem o amianto nessa comunidade parecem ter
concretizado a situação de naturalização (invisibilidade) e familiaridade do risco que
ocorre há muito tempo- há aproximadamente 60 anos (D´AREDE, 2009).
O conhecimento das práticas sociais cotidianas de uma comunidade em seu
território, através dos recursos básicos (condições de habitação, trabalho, renda,
alimentação, saneamento básico, recursos sociais, econômicos e culturais dos serviços
de saúde e de educação, de opções de lazer e de organização sociopolítica) que possui e
suas regras de uso, é capaz de indicar os níveis e perfis de risco e vulnerabilidade
decorrentes das desigualdades existentes, pois demonstra que os hábitos e
comportamentos de risco para doenças são construídos historicamente e socialmente
(BARCELLOS & MONKEN, 2005).
No entanto, o posicionamento individual ou coletivo dentro de sua sociedade
local nem sempre está relacionado diretamente à sua percepção sobre o risco, pois
podem existir outros determinantes fundamentais na formulação do pensamento
perceptivo. Este fato pode ser também, transferido ao comportamento do trabalhador
frente aos riscos ocupacionais. Stewart-Taylor & Cherries (1998) não conseguiram
confirmar a hipótese de uma possível associação causal entre percepção de
trabalhadores dos riscos de manuseio de materiais perigosos, seus comportamentos
enquanto trabalham e suas conseqüentes exposições. Estes autores não encontraram
uma associação direta entre percepção de risco e exposição à fibra do asbesto e os
trabalhadores que usavam as ferramentas mais adequadas para remover o asbesto do
material contaminado eram aqueles que demonstraram as percepções de risco mais
pobres.
Existe uma tolerância de grupos vulneráveis sobre os riscos tecnológicos que
experimentam, seja no trabalho, seja no ambiente, pois se observam poucas estratégias
sociais de mudanças na percepção e aceitabilidade destes riscos ambientais (SOAREZ
DE OLIVEIRA, 2002; GIANNASI, 1994).
Um grupo ou comunidade específica pode tolerar uma exposição ambiental ao
amianto decorrente de um processo produtivo passado, assim como acontece nesse
estudo, porque é extremamente vulnerável, enquanto que a sociedade em geral parece
não mais tolerar este tipo de perigo (RENN, 2004; JANSSEN, 2005).
89
As bases para o processamento da percepção e da aceitabilidade da comunidade
de estudo sobre o risco ambiental parecem ser representadas pelas práticas sociais e
culturais construídas historicamente, o que evidencia uma peculiaridade deste grupo
vulnerável e, talvez, de outros grupos que experimentem vulnerabilidades
socioambientais similares. Os problemas socioambientais são agravados pelo acúmulo
de fontes de riscos advindas de um processo produtivo passado, como a disposição
inadequada de resíduos de amianto e a contaminação de mananciais de água, ar e solo
pelo amianto, entrelaçados aos posicionamentos sociais, jurídicos e políticos não
resolutivos sobre os mesmos.
Oliveira & Zambrone (2006, p.101) descrevem que ―O conceito de
vulnerabilidade designa, em termos gerais, as condições de maior ou menor fragilidade
de grupos populacionais, de modo a incluir dimensões políticas e econômicas, além dos
aspectos comportamentais‖.
As condições ambientais adversas criam situações de riscos à saúde que se
configuram numa perspectiva desintegradora e descontextualizada nas populações
vulneráveis (CARTIER et al, 2009). Os diferentes tipos de vulnerabilidades situadas na
comunidade de BJS devido à atual exposição ambiental ao amianto se entrelaçam para
emergir uma situação grave de injustiça socioambiental.
O amianto foi e ainda é considerado por diferentes sociedades como um dos piores
perigos causadores de deterioração ambiental e de graves problemas de saúde pública.
Esta situação é mantida por inescrupulosas empresas e indolentes autoridades
(JANSSEN, 2005).
Os poucos sujeitos do estudo que demonstraram indignação ao relatarem sobre o
amianto, foram os que identificaram uma contaminação ambiental mais ampla, embora
nem sempre espontaneamente. A fala abaixo mostra que o morador consegue perceber a
dimensão ampla da exposição ambiental ao amianto, no entanto, este relato
aconteceu mediante o questionamento do porque do amianto poder causar problemas de
saúde, pois não aconteceu de forma espontânea quando nos referimos apenas aos
problemas ambientais do bairro:
―Tá tudo contaminado aqui pelo amianto, as casas possuem materiais a base de
amianto e assim, as pessoas entram em contato com o pó do amianto‖ (Morador 66,
25 anos).
90
Dessa forma, chegamos à conclusão que alguns ex-trabalhadores da mina e
moradores do município só comentaram sobre o amianto quando realmente foram
questionados sobre tal contaminante e mesmo assim, o associaram a benefícios oriundos
de sua fonte (mineração). As causas dos riscos ambientais se apresentam, muitas vezes,
como atributos positivos - tais como benefícios-, que interferem na percepção de risco,
porém, as suas conseqüências são vistas como atributos negativos (SJOBERG, 2000;
SAVADORI et al, 2004).
Uma moradora chega a relacionar o problema do amianto às doenças que podem
vir a se desenvolverem em qualquer morador dali, por causa dos resíduos deixados pela
indústria e da extensão da mina sobre todo o município:
―Os problemas que agente pode ter é por causa da poeira do amianto da serra da
mina que se estende por toda a cidade de Bom Jesus, porque existia a serra, mas
a mineração é que espalhou toda a poeira do amianto‖ (Morador 57, 30 anos).
Essa fala ilustra a idéia de que a serra formada por rochas de amianto existia
naquele local antes da interferência humana na natureza, mas a sua degradação gerou
poeira e resíduos que se espalharam por toda a cidade e alterou o cenário físico natural,
transformando-o em um local bonito- e perigoso- para visitação e lazer.
McDaniels et al (1996) relatam que as populações se vêem ameaçadas e/ou
beneficiadas freqüentemente pelos riscos ambientais globais provocados por atividades
econômicas humanas. Estes autores ressaltam que as conseqüências ambientais, como
os processos de transformação ambiental que podem refletir em riscos para a saúde
humana e animal, são mais bem encaradas como riscos, situações negativas do que as
suas fontes (tecnologias ou outras atividades humanas), que por sua vez, podem ter
atributos negativos ou positivos que influenciam os julgamentos dos riscos. Quanto
maiores são os benefícios humanos experimentados menores são os riscos ecológicos
percebidos. No entanto, estes riscos ecológicos ambientais são menos visíveis e
compreendidos do que os riscos para a saúde humana.
Há um reconhecimento por diversos autores tanto na literatura nacional como na
internacional, sobre a complexidade das conseqüências ambientais e sociais oriundas
das transformações que os processos tecnológicos industriais provocam na natureza
(PORTO & FREITAS, 1997; BARCELLOS & QUITÉRIO, 2006).
91
V.3- Percepções dos riscos à saúde
Ao lado dos problemas ambientais comuns, o amianto foi relatado,
espontaneamente pela minoria dos entrevistados como fator ambiental responsável por
agravos/eventos relacionados à saúde. A falta de esgotamento sanitário, também, foi
outro aspecto poucas vezes citado como possível causador de alguns problemas de
saúde para os moradores do município de BJS.
A princípio, quando foram questionados se os problemas ambientais poderiam
afetar a sua saúde, um pouco mais da metade respondeu que sim (42 sujeitos). Dos
sujeitos que responderam sim, 09 eram moradores próximos à mina e 33 eram de outras
áreas. Estes nove moradores próximos à mina reconheceram que podem vir a ter câncer
e doenças respiratórias oriundos de problemas ambientais. Observemos nas tabelas 3,4,
5 e 6 que as doenças pulmonares foram as mais relacionadas aos problemas ambientais
do município relatados pelos moradores de todas as áreas, nos quais se destacaram a
contaminação do ar pela poeira, amianto e queimadas.
92
Tabela 3- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por problemas
ambientais citados pelos moradores da área próxima à mina, segundo as faixas etárias específicas.
FAIXA
ETÁRIA
Doença
relacionada
ou não ao
amianto*
Problema
de saúde
20 a 30
anos
A partir
dos 60 anos
Total
Doença
relacionada
ao amianto
Asbestose
04
02
06
Doença
relacionada
ao amianto
Câncer
05
04
09
Doença
relacionada
ao amianto
Doença
pulmonar
05
04
09
Doença não
relacionada
Doença de
pele
05
03
08
Doença não
relacionada
HAS
04
03
07
Doença não
relacionada
Dor de
cabeça
05
02
07
Doença não
relacionada
Alergia
05
03
08
Doença não
relacionada
AIDS
01
01
02
Doença não
relacionada
Diabetes
02
02
04
Doença não
relacionada
Dengue
05
03
08
Doença não
relacionada
Doença do
aparelho
digestivo*
01
03
04
Doença não
relacionada
Doença
renal
03
04
07
Doença não
relacionada
Malária
03
02
05
* Doença relacionada ou não ao amianto se refere à doença associada à exposição ambiental ao
amianto por estudos epidemiológicos.
**Doença do aparelho digestivo se refere a qualquer doença no trato digestivo, exceto câncer, pois
existem fortes evidências científicas de aparecimento de câncer gástrico em populações expostas ao
amianto.
93
Tabela 4- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por problemas
ambientais citados pelos moradores da área próxima à mina, segundo os gêneros.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
04
02
06
Câncer
05
04
09
Doença
pulmonar
04
05
09
Doença de pele
05
03
08
HAS
04
03
07
Dor de cabeça
04
03
07
Alergia
05
03
08
AIDS
01
01
02
Diabetes
02
02
04
Dengue
05
03
08
Doença do
aparelho
digestivo
03
01
04
Doença renal
03
04
07
Malária
03
02
05
Um fato em destaque foram as respostas sobre o termo asbestose nessa e nas
demais questões em que ele foi citado, pois percebemos que muitos acharam que a
doença era algum tipo de verminose. A maioria dos sujeitos do estudo desconhecia o
termo asbestose e enquanto alguns indagaram e responderam segundo suas concepções
erradas sobre a doença, outros não souberam afirmar nada a seu respeito.
Em geral, o câncer foi julgado como um problema de saúde que poderia ser
ocasionado por um problema ambiental do município no mesmo nível que a dor de
cabeça, a alergia e a doença de pele. Em análise comparativa entre os gêneros, as
respostas sobre as doenças relacionadas ao amianto (câncer, asbestose e doença
pulmonar) não se mostraram tão discrepantes, com predomínio do sexo masculino entre
os moradores das demais áreas e uma quase equiparação entre os moradores da área
próxima à mina (Tabelas 4 e 6 ) e em relação às faixas etárias específicas, também não
existiram grandes diferenças, no entanto, houve predomínio de referência destas
doenças pelos jovens (20-35 anos) tanto da área próxima à mina como das demais
áreas. Ver tabelas 3 e 5.
94
Tabela 5- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por problemas
ambientais citados pelos moradores das demais áreas do município, segundo as faixas etárias.
FAIXA
ETÁRIA
Problema
de saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
08
01
09
Câncer
12
10
22
Doença
pulmonar
17
12
29
Doença de
pele
13
10
23
HAS
04
12
16
Dor de
cabeça
12
13
25
Alergia
10
11
21
AIDS
0
03
03
Diabetes
02
04
06
Dengue
07
07
14
Doença do
aparelho
digestivo
06
07
13
Doença
renal
06
04
10
04
03
07
Tabela 6- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados por problemas
ambientais citados pelos moradores das demais áreas do município, segundo os gêneros.
GÊNERO
Problema
de saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
03
06
09
Câncer
10
12
22
Doença
pulmonar
12
17
29
Doença de
pele
08
15
23
HAS
08
08
16
Dor de
cabeça
10
15
25
Alergia
08
13
21
AIDS
02
01
03
Diabetes
02
04
06
Dengue
06
08
14
Doença do
aparelho
digestivo
07
06
13
Doença
renal
04
06
10
02
05
07
O território e os fatores sociais, ambientais e pessoais que contribuem para a
estruturação da vida social nele influem diretamente na vulnerabilidade maior ou menor
95
para determinado evento relacionado à saúde, de acordo com o controle individual e
coletivo sobre o risco de adquirir uma doença. Assim, o local de trabalho e o local de
moradia podem ocasionar problemas de saúde nos indivíduos que atuam neles
(OLIVEIRA & ZAMBRONE, 2006).
À luz desse entendimento, averiguamos que apenas 24 (29%) moradores
estabeleceram uma relação entre o local onde trabalham e/ou residem (o município de
Bom Jesus da Serra/BA) e o desenvolvimento de agravos/eventos à saúde e destes
apenas 07 citaram o amianto como um problema ambiental local que poderia lhes trazer
algum problema de saúde. Destes 24 que responderam sim para a questão- Trabalhar e
residir aqui pode trazer problemas de saúde?-, 08 eram moradores próximos à mina
e 16 eram de outras áreas.
Todavia quando os moradores foram questionados sobre a segurança do lugar, um
número bem maior dos entrevistados afirmou que morar e trabalhar naquele
município era seguro. Um total de 75 participantes (90%) responderam que morar
em Bom Jesus da Serra/BA é seguro, dos quais 59 concordaram totalmente e 16
concordaram parcialmente com esta afirmativa (Gráfico 3) e do total de 68
participantes (81,9%) que responderam que trabalhar em Bom Jesus da Serra/BA é
seguro, 56 concordaram totalmente e 12 concordaram parcialmente com esta afirmativa
(Gráfico 4). Desta forma, podemos observar que um número ainda maior dos
moradores concorda que morar é mais seguro que trabalhar naquele município. Tal fato
pode ser traduzido pela experiência de vida de alguns indivíduos sobre malefícios que o
trabalho na mineração de amianto pode ter lhes trazido e/ou para amigos ou familiares,
mesmo que a mina não se caracterize mais como um local de trabalho mais de 40
anos. Outros motivos também podem ter contribuído para os julgamentos dos
indivíduos sobre a relação entre riscos e segurança local, dentre os quais se destacaram
situações de vulnerabilidades socioambientais indissociáveis das vulnerabilidades
populacional e institucional (FREITAS et al, 2003; FREITAS, 2000).
96
Gráfico 03- Dados absolutos referentes à afirmativa: “Morar em Bom Jesus da Serra é seguro”.
Gráfico 04- Dados absolutos referentes à afirmativa: “Trabalhar em Bom Jesus da Serra é
Seguro”.
A negação sobre a falta de segurança do local de moradia em BJS ajuda a
concretizar uma situação de invisibilidade dos riscos ambientais e à saúde por parte da
maioria dos moradores entrevistados. Dois aspectos importantes que parecem
influenciar este otimismo não realista são a pouca ou nenhuma participação nos
97
processos decisórios sobre os problemas sociais e ambientais locais e uma transposição
de barreiras culturais. Os problemas relacionados à segurança do local de moradia são
percebidos de formas bem diferentes entre as autoridades públicas e a comunidade, pois
a falta de envolvimento deste público no processo de tomada de decisões sobre estes
problemas e os riscos, freqüentemente resultam em conflitos e desconfianças entre estes
grupos (BARNES, 2001; FREITAS, 2000).
Um dado relevante foi o de que os moradores que eram familiares dos ex-
trabalhadores da mina de amianto se mostraram mais preocupados com a questão do
trabalho e da mina, do que os próprios ex-trabalhadores. As experiências negativas de
doenças ou de sua expressão por sinais/sintomas incapacitantes e irreversíveis em seus
amigos ou familiares próximos parecem ter influenciado a percepção de alguns sujeitos
sobre os riscos de se trabalhar na mina e residir próximo a ela. Diversos autores
ressaltam a importância da experiência negativa de vida através de uma doença como
uma aprendizagem que contribui enormemente para a criação de habilidades intuitivas
na percepção dos riscos (SLOVIC, 1987; FREITAS, 2000).
Apesar disso, foi possível observar que alguns moradores ex-trabalhadores da
mina identificaram uma doença decorrente da exposição ocupacional ao amianto por
apresentarem seus efeitos clínicos e terem recebido seu diagnóstico por um médico da
empresa. O pensamento perceptivo do trabalhador acerca dos riscos à sua saúde através
do manuseio de produtos/ recursos perigosos no seu local de trabalho está relacionado
ao tempo de sua experiência no trabalho e aos eventos/problemas de saúde
experimentados (PERES, 2003; SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1990).
Com isso, identificamos que a maior parte dos moradores entrevistados acredita
que residir e trabalhar em Bom Jesus da Serra/BA é seguro (Gráficos 3 e 4). Porém, o
conceito de segurança, na opinião dos informantes, parece nem sempre ser percebido
como um conjunto de condições ambientais que possam ou não favorecer o risco de
desenvolvimento de doenças, ou seja, podem o relacionar a segurança de um local
para se morar ou trabalhar com possíveis riscos ambientais e à saúde.
Na questão-Que tipo de problema você acha que pode ter residindo aqui no
seu bairro?-, as doenças respiratórias predominaram como a maior preocupação de
problema de saúde que poderia ser ocasionado pelo local de moradia, pois foram citadas
por 31 moradores do estudo (Tabelas 7, 8, 9 e 10).
98
Dos 14 participantes da área próxima à mina, metade relatou algum tipo de
problema de saúde em específico por residir em seu bairro, no qual a doença
respiratória foi a mais relacionada ao local de residência, pois foi citada por 07
moradores, seguida pela alergia e doença renal que foram citadas 06 vezes, enquanto
que o câncer se apresentou no mesmo patamar que doença de pele tendo sido citados
apenas 05 vezes (Tabelas 7 e 8). A asbestose foi citada 04 vezes, assim como dor de
cabeça, doença do aparelho digestivo, malária e dengue. Um dado em destaque foi o de
que 04 moradores relataram que qualquer doença poderia lhes afetar, independente do
tipo e 03 relataram nenhum problema de saúde. Podemos ainda observar na tabela 7
que os jovens relataram mais problemas relacionados ao local de residência do que os
idosos e em relação ao gênero (Tabela 8), não existiram dados discrepantes. Em relação
à justificativa destes problemas, 01 morador citou o amianto e 03 citaram a mina de
amianto.
99
TABELA 7- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados pelo local de
residência, divididos por faixa etária específica, segundo os moradores da área próxima à mina.
FAIXA
ETÁRIA
Problema de
saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
03
01
04
Câncer
03
02
05
Doença
respiratória
05
02
07
Doença de
pele
04
01
05
HAS
03
01
04
Dor de cabeça
04
0
04
Alergia
05
01
06
AIDS
01
0
01
Diabetes
03
0
03
Dengue
04
0
04
Doença do
aparelho
digestivo
03
01
04
Doença renal
03
02
05
Malária
04
0
04
100
TABELA 8- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados pelo local de
residência, divididos por gênero, segundo os moradores da área próxima à mina.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
02
02
04
Câncer
02
03
05
Doença
respiratória
03
04
07
Doença de pele
02
03
05
HAS
01
03
04
Dor de cabeça
01
03
04
Alergia
03
03
06
AIDS
0
01
01
Diabetes
0
03
03
Dengue
01
03
04
Doença do
aparelho digestivo
01
03
04
Doença renal
01
04
05
Malária
01
03
04
Entre os participantes das demais áreas, a doença respiratória, também, foi a
doença mais relacionada ao local de residência, sendo citada pelos 24 moradores que
citaram algum problema de saúde, seguida pela alergia, citada por 21 moradores;
doença de pele e hipertensão por 18 moradores; dor de cabeça, câncer e dengue, por 17
moradores, enquanto a asbestose foi citada apenas por 10 moradores. Mais uma vez,
verifica-se a idéia de que a maior preocupação dos moradores em relação à saúde e ao
ambiente que moram diz respeito às doenças respiratórias e à alergia. Ver tabelas 9 e
10. Existiram 06 pessoas que relataram que não sabiam relatar o tipo de problema que
poderiam ter residindo naquele bairro; 14 que relataram nenhum tipo de problema; e 17
que relataram que qualquer problema poderia lhes afetar pelo local onde moram, não
especificando-o.
101
TABELA 9- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados pelo local de
residência, divididos por faixa etária específica, segundo os moradores das demais áreas.
FAIXA
ETÁRIA
Problema de
saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
09
01
10
Câncer
10
07
17
Doença
respiratória
16
08
24
Doença de
pele
11
07
18
HAS
10
08
18
Dor de cabeça
10
07
17
Alergia
14
07
21
AIDS
03
01
04
Diabetes
06
03
09
Dengue
10
07
17
Doença do
aparelho
digestivo
06
05
11
Doença renal
05
04
09
Malária
02
0
02
102
TABELA 10 - Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser ocasionados pelo local
de residência, divididos por gênero, segundo os moradores das demais áreas.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
04
06
10
Câncer
09
08
17
Doença
respiratória
14
10
24
Doença de pele
11
07
18
HAS
10
08
18
Dor de cabeça
10
07
17
Alergia
12
09
21
AIDS
01
03
04
Diabetes
04
05
09
Dengue
06
11
17
Doença do
aparelho digestivo
06
05
11
Doença renal
05
04
09
Malária
0
02
02
Um morador nos transmitiu a idéia de que ele observou tais doenças em muitas
pessoas daquele município, enquanto que outro justificou sua conclusão por serem
doenças comuns, que incluindo-as num território muito mais amplo do que apenas
em seu município, mas em todo o seu país:
―Todo mundo tem‖ (Morador 61, 70 anos).
―Problemas existentes na maioria dos cidadãos brasileiros‖ (Morador 20, 29
anos).
A análise dos dados gerais permitiu perceber que os fatores de riscos ambientais
locais que foram principalmente relacionados à doença respiratória pelos moradores do
estudo foram o clima muito quente; a poeira; o amianto; a mina desativada. O amianto
foi referenciado 07 vezes e a presença da mina também 07 vezes como possíveis fatores
103
locais causadores das doenças respiratórias. Desta forma, foi possível observar que a
principal causa das doenças respiratórias é a alergia derivada da poeira da terra que o
vento levanta, segundo a maioria das opiniões dos moradores entrevistados.
As doenças pulmonares, especificamente as placas pleurais, a asbestose e o
câncer de pulmão, são associadas à inalação das fibras de asbesto, seja de forma
ocupacional ou ambiental (CASTRO et al, 2003; MENDES, 2000). Embora a maioria
dos moradores do estudo reforce a idéia de que elementos alergênicos como poeira
devam estar desenvolvendo as doenças respiratórias freqüentes entre eles, muito
provavelmente esta poeira se deve a terra e às fibras e resíduos de amianto presentes no
local onde moram. As doenças respiratórias ocasionadas pela inalação das fibras de
asbesto podem ser evidenciadas através dos sinais e sintomas de dispnéia e tosse, tal
como parece que ocorre com muitos moradores do município, mas como muitas não
chegam a ser diagnosticadas corretamente, não sabemos exatamente a etiopatogenia
exata. Pressupõe-se este fato através do relato de alguns moradores do estudo,
profissionais de saúde da região e do estudo de D´arede (2009), que observaram que
muitos indivíduos moradores (ex-trabalhadores e seus familiares ou não) do município
apresentam tosse e dispnéia.
A observação prévia das doenças relacionadas ao local de moradia em alguém
conhecido foi mais uma vez um ponto marcante na formulação de percepção de riscos à
saúde para os moradores desse estudo. Um morador opinou sobre os problemas de
saúde que se pode ter residindo naquele bairro, com base em seu conhecimento sobre
muitas pessoas que trabalharam na mina as tiveram e outro porque conhece muitas
pessoas que os têm ou já tiveram:
―Muitas pessoas que trabalharam na mina tiveram estas doenças‖ (Morador 03, 60
anos).
―Muitas pessoas possuem estas doenças (doenças respiratórias e alergia) aqui na
cidade‖ (Morador 31, 30 anos).
Temos outro exemplo de morador do centro que relatou que tem familiares
falecidos que eram ex-trabalhadores da mineração desativada no município e
ainda têm familiares trabalhadores da mineração em Goiás, por isto justifica os
problemas que citou como sendo decorrentes da mina abandonada:
104
―Tio faleceu e o meu avó de câncer no abdômen‖ (Morador 37, 30 anos).
E, ainda, alguns moradores não souberam relatar porque citaram tais
problemas de saúde como decorrentes do local de residência.
Em relação à questão: Você acha que tem uma chance maior ter alguma
dessas doenças comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não viva aqui
no seu município?”, 77% (64) dos moradores responderam que não, 21% (17)
responderam que sim e 2% (2) que não sabiam. A maioria dos moradores acredita que
possuem a mesma chance de vir a ter algumas doenças comparadas a outras pessoas que
morem em outro lugar e alguns ainda acreditam que possuem uma chance menor de ter
doenças tais como as respiratórias, pois o município tem pouca poluição do ar em
relação a outras cidades. Nessa situação, a concepção de poluição do ar parece ser
associada apenas a um tipo de causa, provavelmente aquela causada pela emissão de
gases poluentes por automóveis.
105
TABELA 11- Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de acometer uma
pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não viva neste município,
segundo os moradores da área próxima à mina por faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
Problema de
saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
1
0
01
Câncer
1
0
01
Doença
pulmonar
0
0
0
Doença de
pele
1
0
01
HAS
0
0
0
Dor de cabeça
1
0
01
Alergia
1
0
01
AIDS
0
0
0
Diabetes
0
0
0
Dengue
0
0
0
Doença do
aparelho
digestivo
0
0
0
Doença renal
0
0
0
Malária
0
0
0
Gripe
0
0
0
Cirrose
0
0
0
Diarréia
0
0
0
Dor de
garganta
0
0
0
106
TABELA 12- Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de acometer uma
pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não viva neste município,
segundo os moradores da área próxima à mina por gênero.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
Câncer
1
0
01
Doença pulmonar
1
0
01
Doença de pele
0
0
0
HAS
0
0
0
Dor de cabeça
0
0
0
Alergia
1
0
01
AIDS
1
0
01
Diabetes
0
0
0
Dengue
0
0
0
Doença do
aparelho digestivo
0
0
0
Doença renal
0
0
0
Malária
0
0
0
Gripe
0
0
0
Cirrose
0
0
0
Diarréia
0
0
0
Dor de garganta
0
0
0
Dos que moram próximo à mina, 02 responderam sim e 12 responderam não. Os
02 que responderam sim eram mulheres jovens e sobre suas justificativas: uma não
soube relatar o tipo da doença, apenas que corre um risco muito grande e a outra relatou
um risco aumentado para as seguintes doenças: câncer, dor de cabeça, asbestose,
alergia, doença de pele, por causa da proximidade da sua moradia à mina de amianto.
Ver Tabelas 11 e 12. Assim, nota-se que apenas um morador realmente percebeu risco
à saúde oriundo da exposição ao amianto.
107
TABELA 13- Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de acometer uma
pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não viva neste município,
segundo os moradores das demais áreas por faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
Problema de
saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
7
2
09
Câncer
6
3
09
Doença
pulmonar
7
4
11
Doença de
pele
4
2
06
HAS
1
2
03
Dor de cabeça
2
3
05
Alergia
5
2
07
AIDS
0
0
0
Diabetes
0
0
0
Dengue
1
2
03
Doença do
aparelho
digestivo
4
1
05
Doença renal
3
0
03
Malária
1
0
01
Gripe
2
5
07
Cirrose
1
0
01
Diarréia
0
1
01
Dor de
garganta
1
2
03
108
TABELA 14- Dados absolutos sobre os problemas de saúde com maior chance de acometer uma
pessoa de BJS comparada a uma pessoa da mesma idade, mas que não viva neste município,
segundo os moradores das demais áreas por gênero.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
3
6
09
Câncer
3
6
09
Doença pulmonar
5
6
11
Doença de pele
2
4
06
HAS
2
1
03
Dor de cabeça
3
2
05
Alergia
3
4
07
AIDS
0
0
0
Diabetes
0
0
0
Dengue
1
2
03
Doença do
aparelho digestivo
1
4
05
Doença renal
0
3
03
Malária
0
1
01
Gripe
6
1
07
Cirrose
0
1
01
Diarréia
1
0
01
Dor de garganta
2
1
03
Um morador do centro relatou que acha que não tem maior chance de ter alguma
doença em seu município comparado à outra pessoa que viva em outro lugar, pois
embora se tenha o risco ao amianto, não existe o contato com ele, e por isto não
como provocar doenças. Observe o seu relato:
―... não existindo o contato com o amianto, não como ele provocar doenças‖
(morador 16, 72 anos).
109
Dos 15 (18%) moradores de outras áreas que responderam que maior chance
de ter alguma doença comparada a outra pessoa que não viva naquele município, 10
informaram que isto se deve ao amianto, um devido ao clima e um porque poucos
recursos de tratamento das doenças. Ver Tabelas 13 e 14. Alguns moradores não
souberam explicar o porquê de terem escolhido determinadas doenças, outros não
souberam descrever o tipo de doença que têm maior chance de ter e outros relataram
que eram doenças que apresentam ou já apresentaram no passado.
Novamente é possível salientar que a percepção dos moradores entrevistados
sobre a possibilidade destes eventos/problemas de saúde vir a acometê-los é
influenciada pela sua experiência concreta de vida. Uma moradora identificou que tem
maior chance de ter alguns problemas de saúde porque já os teve anteriormente:
―Por que são doenças que vivi em meu cotidiano: dor de cabeça, alergia, gripe,
dor de garganta‖ (Moradora 42, 28 anos).
A partir do exposto acima, do total de 17 (21%) moradores que responderam que
sim, o câncer e a asbestose foram referenciados 10 vezes e as doenças pulmonares
foram referenciadas 11 vezes. Ver Tabelas 11, 12, 13 e 14. Em relação a estas três
doenças, os jovens responderam mais vezes essa questão do que os idosos, embora
ainda que poucos. Ver Tabelas 11 e 13. Os dados sobre os gêneros se revelaram pouco
significativos, porque foram quase equiparados. Ver Tabelas 12 e 14.
A análise conjunta desses dados permite sugerir a invisibilidade dos riscos à saúde
originados do amianto para a maioria dos moradores do estudo, com destaque para os
moradores próximo da mina e nos faz refletir que o risco “real”, baseado nas estimativas
técnicas, realmente difere do risco percebido e por isto, pode ser concretizado em um
contexto social (SLOVIC, 1987).
Nos relatos transparece a idéia de que as doenças surgem em qualquer pessoa de
qualquer lugar e que não nenhum perigo diferencial para esta comunidade. Ignorar o
risco seja por falta de informação ou por estratégias psicológicas defensivas para a sua
negação, pode ser entendida como uma maneira de pensar, viver e comportar peculiar a
determinadas culturas, em que os riscos, também, parecem fazer parte de uma ordem
natural dos fatos da vida (PERES, 2003; D´AREDE, 2009).
110
Os resultados a seguir, parecem corroborar essa situação de invisibilidade do
risco para a comunidade de estudo por naturalização do mesmo.
Quando colocamos a situação concreta de risco de câncer para o morador de
Bom Jesus da Serra/BA, mas sem citar o amianto, apenas 15 responderam que
concordam totalmente e 11 parcialmente sobre uma pessoa que mora em Bom Jesus
da Serra ter mais chance de ter câncer que outra pessoa da mesma idade que mora
em outra cidade (Gráfico 05). Podemos analisar desta afirmativa, que em geral,
baixa percepção de risco entre os informantes, demonstrando que a maioria não julga ter
uma chance mais elevada de vir a ter câncer do que um morador de outra cidade
qualquer. Esta negação do risco pode ser relacionada a não percepção do morador que o
amianto que existe em Bom Jesus está ao redor de suas residências e que os resíduos de
amianto acumulados na área da mina podem lhes alcançar e, portanto, podem lhes trazer
riscos à saúde.
Gráfico 05- Dados absolutos referentes à afirmativa: “Uma pessoa que mora em Bom Jesus da
Serra tem mais chances de ter câncer que outra pessoa da mesma idade que mora em outra
cidade”.
111
Como veremos mais adiante (veja gráfico 09), quando afirmamos que o
amianto que existe em Bom Jesus da Serra pode causar câncer na população, 40
concordaram totalmente e 10 parcialmente, ou seja, um número bem maior dos
participantes percebe que risco de adquirir o câncer oriundo da exposição ao
amianto, embora minimizado ou negado devido à localização desta exposição.
Observou-se que a maioria dos moradores entrevistados demonstra ter conhecimento
sobre a chance do amianto causar câncer através do seu contato próximo, mas esta
situação parece não atingí-los, tal como é mostrado pela análise das respostas de outras
questões. Tal fato pode ser remetido à experiência e ao contexto sociocultural dos
moradores, pois o predomínio do baixo nível educacional entre eles não seria suficiente
para explicar este nível de conhecimento, o que é constatado pelo estudo de Wildavsky
& Dake (1990).
O potencial danoso do risco, tal como um câncer, pode ser um fator importante
de interferência na formulação da negação do risco por parte de alguns moradores desse
estudo e algumas características inerentes ao risco, comumente comprovadas em
estudos psicométricos, se mostraram possíveis determinantes desta forma de percepção
de risco, tais como: o medo específico e as conseqüências irreversíveis e com
surgimento a longo prazo. Todavia, estas características qualitativas do risco tiveram
realmente sentido quando foram analisadas dentro do contexto histórico e sociocultural
do grupo estudado (SJOBERG, 2000; FREITAS, 2000; MARRIS et al, 1998).
Das análises comparativas entre os sexos (13 homens e 13 mulheres), as
respostas de concordância, seja totalmente seja parcialmente, da afirmativa do gráfico
05 foram equiparadas e quase o mesmo pode ser dito sobre as opiniões das diferentes
faixas etárias analisadas (15 indivíduos da faixa etária de 20 a 35 anos e 11 idosos) e
dos diferentes níveis de escolaridade (15 indivíduos com os níveis mais elevados e 11
com os demais níveis), existindo apenas um discreto predomínio dos indivíduos com
nível mais elevado de estudo e da faixa etária jovem. Mesmo estudos psicométricos têm
evidenciado que resultados comparativos de características individuais como gênero e
idade quando relacionados com as percepções de risco, nem sempre mostram aspectos
importantes para sua determinação, tal como é levantado por estudos da teoria cultural
(SJOBERG, 2000; MARRIS et al, 1990).
112
Podemos concluir o fato similar sobre a maior chance de uma pessoa que
mora em Bom Jesus da Serra de ter doenças pulmonares em relação à outra
pessoa da mesma idade que more em outra cidade (gráfico 06). Desta afirmativa, 17
informaram que concordam totalmente e 13 parcialmente, ou seja, de um total de 83
participantes, apenas 30 responderam que concordam de alguma forma com um risco
aumentado de doenças pulmonares para os que moram no município de Bom Jesus da
Serra.
Gráfico 06- Dados absolutos referentes à afirmativa: “Uma pessoa que mora em Bom Jesus da
Serra tem mais chances de ter doenças pulmonares em relação à outra pessoa da mesma idade que
more em outra cidade”.
Todavia, quando afirmamos que o amianto que existe aqui em Bom Jesus da
Serra possa causar doenças pulmonares na população, 43 concordaram totalmente e
07 concordaram parcialmente, ou seja, quando empregamos o amianto como um fator
de risco ambiental presente no município onde moram para o desenvolvimento das
doenças pulmonares, 50 indivíduos concordaram com isto de alguma forma, mas
acreditando que este amianto estaria longe do local de suas moradias (Gráfico 10).
Em uma análise comparativa de gênero, 19 homens e 11 mulheres responderam
que concordam de alguma forma, com afirmativa do gráfico 06, e sobre a análise
comparativa da idade, houve 20 indivíduos da faixa etária de 20 a 35 anos e 10 idosos.
Comparando também, os níveis de escolaridade, houve 17 indivíduos com os níveis
mais elevados e 13 com outros mais baixos. Estes resultados se mostraram discrepantes,
113
evidenciando que dentre os 30 indivíduos que perceberam que um maior risco de
doenças pulmonares para quem reside em Bom Jesus da Serra, predominaram a faixa
etária juvenil, o sexo masculino e o nível de estudo mais elevado. Em relação ao local
de moradia, apenas o3 sujeitos moradores da área próxima à mina e 27 moradores de
outras áreas do município concordaram com a afirmativa do gráfico 06. Estes dados
demonstram, às vezes, percepções contraditórias uma vez que 11 dos moradores da área
próxima à mina dispuseram a doença respiratória como uma dos principais problemas
de saúde que eles poderiam ter por residir naquele bairro/localidade, enquanto que
apenas 03 concordaram que apresentam maior chance de ter doença pulmonar do que
outra pessoa por residir naquele município.
Observou-se uma característica peculiar do grupo analisado: quando entramos
com as questões específicas sobre o amianto, as respostas dos moradores foram
tendenciadas a ampliar suas percepções sobre os riscos à saúde.
Da afirmativa- Amianto faz mal à saúde-, 71 concordaram totalmente, 02
concordaram parcialmente, 02 discordaram totalmente, 01 não concordou nem
discordou e 07 não apresentaram opinião a respeito. Assim, do total de 83 participantes,
apenas 02 sujeitos apresentaram concepções erradas sobre o amianto e 08 sujeitos não
opinaram sobre esta questão (Gráfico 07).
114
Gráfico 07- Dados absolutos e relativos sobre a opinião dos informantes sobre o amianto fazer mal
à saúde.
Estes dados reforçam a idéia de que conhecimento por parte da maioria dos
moradores, principalmente daqueles próximos à mina, sobre a periculosidade do
amianto à saúde e que tal fato parece estar ligado à experiência histórica de vida destes
moradores. O aparecimento gradual de doenças com sintomatologia respiratória em
trabalhadores e seus familiares, ainda na época do processo industrial ativo, parece ter
principiado um processo de construção de percepção de riscos provenientes do amianto
(D´AREDE, 2009). As definições de risco, que giram ao redor da sua probabilidade
e/ou de suas conseqüências, têm sido alvo de exploração de diversos estudiosos para o
aprofundamento do entendimento da percepção humana sobre riscos tecnológicos
(SJOBERG, 2000; SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1991; SLOVIC, 1987).
A produção de determinados problemas de saúde, que não existiam
anteriormente e que passaram a existir em diversos indivíduos da mesma comunidade
após a mineração, possibilitou a organização de um movimento social local (ABEA)
que por sua vez, estimulou setores da educação e da saúde locais a produzir e ampliar o
conhecimento da comunidade sobre os riscos advindos da exposição ao amianto,
embora ainda adstrito. Diversos estudos ressaltam a importância de pressões sociais por
conta de uma percepção social amplificada do risco para a tomada de decisões de
115
autoridades públicas (MCDANIELS et al, 1994; PORTO & FREITAS, 1997).Neste
caso, mesmo o conhecimento sobre o amianto e suas possíveis conseqüências para a
saúde humana disseminado entre membros dessa comunidade e as próprias intervenções
da ABEA não foram capazes, até o prezado momento, de provocar mudanças práticas e
ações mitigatórias, tanto por parte da população quanto por parte do poder público,
valorizando as vulnerabilidades populacional e institucional (OLIVEIRA &
ZAMBRONE, 2006).
Ainda em uma análise comparativa entre os gêneros e as faixas etárias
específicas, 37 homens e 36 mulheres responderam que concordam de alguma forma,
que o amianto faça mal à saúde e 34 indivíduos da faixa etária de 20 a 35 anos e 29
idosos responderam que concordam de alguma forma com essa afirmativa. Nesse
sentido, existiu uma homogeneidade nas respostas quando comparadas entre os gêneros
e um discreto predomínio dos sujeitos jovens no reconhecimento do amianto como um
agente causador de malefícios à saúde humana.
Todos os 14 moradores próximos à mina entrevistados responderam que
concordam totalmente que o amianto faça mal à saúde. Esta análise pode ser
confirmada com a questão: “Você acha que o amianto pode causar algum problema
de saúde?”, em que todos os moradores próximos da mina responderam que sim,
enquanto que dos moradores das outras áreas, 58 responderam que sim, 03 que não e 08
não souberam relatar. Desta forma, houve um total de 72 (~87%) moradores que
responderam que sim, 03 (~3%) que não e 08(~10%) que não soube relatar (Tabelas 15,
16, 17 e 18). Novamente tais dados permitem comprovar a difusão de conhecimentos
em meio ao grupo de risco.
116
TABELA 15- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo amianto,
na opinião dos moradores próximos à mina, segundo a faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
Problema de
saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
3
3
06
Câncer
7
7
14
Doença
pulmonar
5
8
13
Doença de
pele
3
5
08
HAS
1
4
05
Dor de cabeça
3
4
07
Alergia
4
6
10
AIDS
0
0
0
Diabetes
0
1
01
Dengue
1
2
03
Doença do
aparelho
digestivo
3
5
08
Doença renal
2
5
07
Malária
1
2
03
Gripe
1
4
05
Cirrose
2
2
04
Diarréia
2
3
05
Dor de
garganta
2
4
06
117
TABELA 16- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo amianto,
na opinião dos moradores próximos à mina, segundo o gênero.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
4
2
06
Câncer
8
6
14
Doença pulmonar
8
5
13
Doença de pele
5
3
08
HAS
4
1
05
Dor de cabeça
5
2
07
Alergia
5
5
10
AIDS
0
0
0
Diabetes
0
1
01
Dengue
1
2
03
Doença do
aparelho digestivo
6
2
08
Doença renal
4
3
07
Malária
3
0
03
Gripe
2
3
05
Cirrose
3
1
04
Diarréia
3
2
05
Dor de garganta
4
2
06
118
Um dado relevante foi o conhecimento distorcido de alguns participantes sobre a
forma de adoecimento provocada pelo amianto:
―É um minério, uma fibra que no meio da pedra, que se entrar na pele, no corpo
da gente, aí vira doença ruim‖ (Morador 83 enfrente à mina, 63 anos).
Tal fato pode ser confirmado com a grande quantidade de participantes que
respondeu que dentre os tipos de doenças que podem ser provocadas pelo amianto se
situam: doenças de pele; doença renal; Diarréia; Alergia; Hipertensão; Diabetes;
Cirrose; Úlcera; Dor de garganta; Gripe; Pneumonia; dentre outras. Percebemos através
destes e de outros dados, que muitos participantes desconheciam algumas doenças e
suas etiologias.
119
TABELA 17- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo amianto,
na opinião dos moradores das demais áreas, segundo a faixa etária.
FAIXA
ETÁRIA
Problema de
saúde
20 a 30 anos
A partir dos
60 anos
Total
Asbestose
17
7
24
Câncer
30
14
44
Doença
pulmonar
31
15
46
Doença de
pele
16
14
30
HAS
5
7
12
Dor de cabeça
13
10
23
Alergia
18
14
32
AIDS
0
1
01
Diabetes
1
3
04
Dengue
2
2
04
Doença do
aparelho
digestivo
15
9
24
Doença renal
9
6
15
Malária
1
1
02
Gripe
10
5
15
Cirrose
1
2
03
Diarréia
6
3
09
Dor de
garganta
7
8
15
Outras
0
2
02
120
TABELA 18- Dados absolutos sobre os problemas de saúde que podem ser causados pelo amianto,
na opinião dos moradores das demais áreas, segundo o gênero.
GÊNERO
Problema de
saúde
Feminino
Masculino
Total
Asbestose
10
14
24
Câncer
17
27
44
Doença pulmonar
20
26
46
Doença de pele
13
17
30
HAS
6
6
12
Dor de cabeça
13
10
23
Alergia
15
17
32
AIDS
1
0
01
Diabetes
1
3
04
Dengue
3
1
04
Doença do
aparelho digestivo
7
17
24
Doença renal
6
9
15
Malária
0
2
02
Gripe
1
1
02
Cirrose
0
0
0
Diarréia
0
0
0
Dor de garganta
0
0
0
Outras
1
1
02
Apesar disso, foi possível observar que os três problemas de saúde mais
relacionados ao amianto pelos moradores, concomitantemente, foram: as doenças
pulmonares, o câncer e a alergia. Estes dados reafirmam uma preocupação aparente
dos moradores do estudo sobre estes três problemas de saúde, pois embora muitos não
tenham citado o amianto quando lhes foi questionado anteriormente sobre o porquê de
121
terem escolhido tais doenças como possíveis problemas que podem ser ocasionados
pelo seu local de moradia ou de que forma os problemas ambientais podem afetar a sua
saúde, estas mesmas doenças se apresentaram como foco principal de interesse e receio
por parte da maioria deles.
As doenças pulmonares foram as mais citadas pelos moradores como problema
de saúde que o amianto poderia causar. Embora possam ter uma rie de etiologias, as
doenças pulmonares foram freqüentemente relacionadas ao contato com o amianto pelos
moradores entrevistados, muito provavelmente por se manifestarem através de um
sintoma comum, a dispnéia, que acometeu e ainda acomete muitos ex-trabalhadores da
mina e outros indivíduos moradores do município de BJS. A convivência com pessoas
que apresentam a dispnéia parece ter alertado muitos moradores para a percepção de
possíveis efeitos produzidos pela exposição ao amianto.
Experimentar efeitos clínicos seja por uma intoxicação aguda ou crônica, ou
presenciá-los em outras pessoas, parece despertar no sujeito exposto à substância tóxica
uma ampliação da sua percepção do risco. Peres (2003) demonstrou que o problema de
saúde mais relatado por trabalhadores rurais expostos a agrotóxicos foi dor de cabeça e
que a sua percepção sobre o problema foi concretizada através de experiência própria ou
de outros por apresentar este e outros sintomas característicos da intoxicação aguda por
agrotóxicos.
Todavia, a sintomatologia de doenças pulmonares típicas (asbestose; placa
pleural; câncer de pulmão) provocadas pela exposição ao amianto demora muito tempo
para se manifestar e alertar o indivíduo para sua exposição, pois são desencadeados
efeitos a longo prazo decorrentes desta exposição cumulativa ou não ao amianto. Tal
fato também pode ser interpelado ao surgimento do câncer (câncer de pulmão,
mesotelioma de pleura e peritônio e outros tipos) e seus sinais e sintomas, que foi o
segundo problema de saúde mais relacionado pelos moradores desse estudo (PEDRA et
al, 2009; CASTRO & GOMES, 1997). Quando um efeito clínico chega a se manifestar
é por que a doença se apresenta em um estágio bem avançado no organismo,
refletindo uma situação de irreversibilidade dos danos já produzidos, sofrimento e
incapacidades geradas para o sujeito, seus familiares e toda a sociedade. Assim, é o que
acontece com as “vítimas” da exposição ao amianto (GIANNASI, 1994; ABREA, 2009;
MENDES, 2000).
122
Todo o município de Bom Jesus da Serra/BA está repleto de fibras de amianto
que estão espalhadas por toda a cidade, além da enorme quantidade de resíduos
industriais de amianto na mina abandonada, que o configura como um ambiente
envolvido pela exposição crônica de sua população ao amianto. Se jovens e crianças
permanecerem se expusendo ao amianto, em 20 a 40 anos, ou em um período mais
curto, poderão vir a apresentar câncer e doenças pulmonares. Este longo período de
latência das doenças e seus efeitos é um dos principais motivos da invisibilidade social
da exposição ao amianto como um problema de saúde pública e ocupacional (CASTRO
et al, 2003; ABREA, 2009; MENDES, 2007).
Um estudo com ex-trabalhadores italianos imigrantes de uma mina de amianto
desativada na Austrália verificou que eles desconheciam a relação entre o longo período
de tempo no trabalho e o surgimento de doenças pulmonares graves. Assim, constatou-
se que os ex-trabalhadores não percebiam que a exposição ocupacional ao amianto se
caracterizava como um risco de produzir doenças pulmonares graves (CAPPELLETO &
MERLER, 2003).
Alguns estudiosos em percepções de risco informam que o conhecimento da
relação entre a natureza do risco e o tipo de conseqüência gerada exerce influência sobre
a formulação de sua percepção pelo público (SLOVIC, 1987; SJOBERG, 2000).
A análise conjunta dos relatos dos moradores nos permitiu também perceber que
muitos ex-trabalhadores da mina de amianto haviam morrido e os que ainda vivem
são bem idosos. No entanto alguns ex-trabalhadores desta mina e seus familiares
morreram jovens. Estas mortes pela exposição ao amianto têm ocorrido desde a década
80, quando começaram a aparecer casos com doenças pulmonares que na época foram
diagnosticadas como tuberculose. Atualmente, a empresa ainda realiza exames
periódicos nos ex-trabalhadores para se proteger de possíveis acusações de abandono
(D´AREDE, 2009).
À luz desses conhecimentos, foi possível observar que muitos moradores do
estudo tiveram experiências pessoais (seja experimentando em si próprio seja
presenciando o acontecimento em outras pessoas próximas ou distantes) com algum
efeito em longo prazo produzido pela exposição ao amianto, possibilitando certa
concretude na percepção do risco e transferindo a negação do risco para outro aspecto: a
localização distante do amianto. Assim, os moradores parecem reconhecer os efeitos em
123
longo prazo oriundos da exposição ao amianto, mas negam que eles os atingiriam
porque o perigo não estaria perto eles. Tal interpretação também pode ser
parecidamente constatada por SLOVIC (2000) em seu estudo, no qual adolescentes
fumantes perceberam os riscos em longo prazo, porém, negaram que estes os atingiriam,
pois achavam que iriam cessar os riscos (voluntários) antes que seus efeitos em longo
prazo seriam produzidos em seu organismo.
Observou-se ainda, nos relatos dos respondentes que referiram a alergia como
um problema de saúde que poderia ser causado pelo amianto, que a “poeira de amianto”
era a possível causa deste problema, levando-os a crer por vezes, que também era a
causa de doenças pulmonares.
Sobre os três problemas de saúde -doença pulmonar, câncer e alergia- mais
causados pelo amianto para os moradores, predominaram as respostas dos homens e dos
mais jovens, demonstrando mais uma vez que este gênero e esta faixa etária parecem
perceber mais adequadamente os riscos à saúde provenientes do amianto, tanto entre os
moradores próximos à mina (exceto para as distintas faixas etárias) (Tabelas 15 e 16),
quanto entre os das demais áreas (Tabelas 17 e 18). Dos moradores das demais áreas,
02 relataram que amianto poderia causar qualquer doença, não a especificando e 05 não
souberam relatar o tipo da doença que o amianto poderia causar.
O contexto sociocultural da população de Bom Jesus da Serra mostra
significados especiais que jovens e idosos dão as enfermidades provocadas pelo
amianto. É o conjunto de interconexões de sentimentos, valores, experiências de
membros desta comunidade, que torna a enfermidade como um produto semântico,
inserido em um processo de saúde-doença distinto do olhar interpretativo tradicional
(D´AREDE, 2009). Nesse sentido, os homens e os jovens parecem estar mais ligados
aos fatos reais e terem tomado ciência dos riscos provenientes do problema do amianto
do que as mulheres e os idosos.
Outro fato interessante são os outros problemas de saúde especificados pelos
participantes das demais áreas: doença cardíaca, problemas de visão e tuberculose. O
estudo de CAPPELLETO & MERLER (2003) demonstrou que os trabalhadores de uma
mina na Austrália eram conduzidos a acreditar que as doenças pulmonares que os
acometiam eram tuberculose. Este fato vai de acordo com os relatos de três ex-
124
trabalhadores da mina e moradores do centro que citaram a tuberculose como doença
que poderia ser causada pelo contato com o amianto.
Gráfico 08- Dados absolutos sobre a opinião dos informantes sobre o amianto fazer mal para
quem trabalha com ele.
Da afirmativa-Amianto faz mal para quem trabalha com ele-, 22
concordaram totalmente e 17 concordaram parcialmente, 30 discordaram totalmente e
05 parcialmente, 02 não concordaram nem discordaram e 07 não apresentaram opinião a
respeito. Assim, 39 (~47%) sujeitos apresentaram concepções erradas de fato sobre as
relações de trabalho e exposição ao amianto (Gráfico 08). Estes resultados demonstram
que a maioria dos moradores entrevistados ainda se mostra indecisa quanto às formas de
exposição ao amianto, pois muitos parecem desconfiar que morar próximo à mina
também se configura como um perigo à saúde, como ilustra a fala abaixo:
―Moro próximo à mina, isso é muito perigoso‖ (Morador 27, 27 anos).
Uma agente comunitária de saúde relatou que o perigo da mina está por toda a
parte, pois a serra de amianto se estende até bem perto de todos do centro da cidade e
informou que já teve câncer e diversas pessoas de sua família, também, já o tiveram.
125
Dos 14 moradores próximos à mina, 05 responderam que concordam totalmente
que o amianto faz mal para quem trabalha como ele, 04 que concordam
parcialmente, 04 que discordam totalmente e 01 que discorda parcialmente, enquanto
que a opinião dos moradores de outras áreas permaneceu homogênea sobre esta
afirmativa, uma vez que 30 discordaram totalmente e parcialmente e 30 concordaram
totalmente e parcialmente. Ver gráfico 08. Em análise comparativa entre os gêneros, os
resultados não se mostraram tão discrepantes, mas houve um predomínio das mulheres
em aceitar mais a idéia do amianto fazer mal para quem trabalha do que os homens e
em relação à idade, houve um predomínio dos idosos em aceitar esta mesma idéia sobre
os jovens de 20 a 35 anos.
Nesse contexto, as percepções dos moradores sobre as formas de exposição ao
amianto no município também, parecem fazer parte de suas experiências históricas e
sociais, pois se apresentaram bidirecionais: uma ocupacional clássica e outra limitada
aos que moram aos redores da mina ou para aqueles que a visitam ou passam perto dela,
sendo ambas vistas, aparentemente pelos relatos, como um risco potencial à saúde.
Assim, as formas de exposição ao amianto, também foram encaradas como perigo,
algumas vezes e como o próprio risco, outras vezes. As definições de risco e perigo se
confundem e se entrelaçam mesmo entre cientistas (BLAKE, 1995; CASTIEL, 1996). A
estrutura conceitual do conhecimento do perigo por pessoas leigas pode estar em
desacordo em muitos pontos com especialistas como os toxicologistas. Por exemplo,
muitas pessoas leigas o concebem a exposição como mediadora entre lançamentos
ambientais de produtos químicos e efeitos à saúde (JOHNSON, 1993).
As formas de exposição ao amianto citadas acima pelos sujeitos estão corretas,
porém incompletas (MENDES, 2000; CASTRO et al, 2003; MENDES, 2001). A
identificação do perigo não é tão óbvia como parece nem para o público nem para os
especialistas. Embora, a grande maioria das pesquisas esteja voltada para os efeitos à
saúde da classe trabalhadora, existem dados suficientes que comprovam a exposição
ambiental ao amianto como um fator de risco, também, para o desenvolvimento de
doenças ocupacionais típicas (algumas doenças pulmonares e tipos de cânceres) em
populações residentes nas proximidades das minas de amianto (CASTRO et al, 2003;
MENDES, 2007; NOVELLO, 2006).
A exposição ambiental ao amianto pode ser caracterizada por qualquer meio que
possibilite à inalação de fibras respiráveis de amianto no ambiente. Partindo deste
126
significado mais amplo, há dois pontos que os moradores do estudo parecem não
perceber: primeiro, que os resíduos industriais e as fibras disseminadas de amianto do
local da mina abandonada podem atingir não somente os moradores da área
circunvizinha da mina, mas de todas as outras áreas, quilômetros de distância; e
segundo, que pequenas rochas com fibras crisotilas e crocidolitas que serviram e
ainda servem para a construção de casas, muros e ruas por toda a cidade, pois as pessoas
permanecem as manuseando e as comercializando, além de construções que as contêm e
estão em processo de degradação (XU et al, 2002; SEPAR, 2004; MENDES, 2000).
Uma hipótese levantada é que os moradores podem nunca ter ouvido falar, não
apresentar reminiscências e, conseqüentemente, desconhecer sobre o risco de se
desenvolver uma doença referente a essa forma de exposição ao amianto. Este fato pode
ter levado a uma amplificação da invisibilidade dos moradores do estudo e quem sabe
de toda a comunidade sobre este risco, uma vez que existem poucas discussões
científicas e talvez, também, públicas sobre a manipulação freqüente de pessoas que não
sejam trabalhadores diretos de indústrias na utilização de rochas com fibras crisotilas e
anfibólios como parte da estrutura de casas e ruas.
Em relação à afirmativa- O amianto que existe em Bom Jesus da Serra pode
causar câncer na população-, 40 concordaram totalmente e 10 concordaram
parcialmente; 15 discordaram totalmente e 06 parcialmente; 06 não concordaram nem
discordaram e 06 não apresentaram opinião a respeito. Assim, 60% (50) dos sujeitos
relacionaram o amianto que existe no município à chance de surgir câncer na população
(Gráfico 09). Um fato interessante é que existiram 17 respostas contraditórias no que se
refere à concordância com esta afirmativa e ao mesmo tempo, com a anterior que diz
que o amianto só faz mal para quem trabalha com ele.
127
Gráfico 09- Dados absolutos sobre a opinião dos informantes em relação ao amianto que existe em
Bom Jesus da Serra poder causar câncer na população.
Verificou-se no conjunto dos relatos, que houve uma diferença pequena nas
respostas entre os gêneros, com predomínio dos homens que concordaram mais que o
amianto pode causar câncer na população do município de BJS enquanto que os
resultados foram discrepantes entre os sujeitos de 20 a 35 anos e os acima de 60 anos,
com predomínio desta concordância pelos jovens, tanto entre os moradores próximos à
mina quanto entre os das demais áreas.
Podemos observar, ainda, que algumas respostas foram tendenciadas pelo tipo
de gravidade da doença, conforme interpretações e percepções que se tem do processo
saúde-doença e pelas questões anteriormente realizadas. Sendo assim, os resultados
dessa questão sugeriram que muitos moradores podem ter associado a própria definição
do amianto a um fator de risco para o câncer:
―Fibra cancerígena‖ (Morador 06,29 anos).
―È um minério altamente perigoso, causador de câncer‖ (Morador 8,33anos).
―Pedra que libera a fibra e causa câncer‖ (Morador 16,30 anos).
―Pó cancerígeno‖ (Morador 22,26 anos).
128
No entanto, um dado que merece destaque é que muitos dos sujeitos
interpretaram a afirmativa erroneamente, pois quando se informou que o amianto
poderia causar câncer na população, estes interpretaram como se a doença pudesse se
desenvolver apenas na população residente na imediação da mina de amianto. Por
exemplo, quando lemos essa afirmativa para alguns sujeitos entrevistados, eles
respondiam que concordavam totalmente ou parcialmente, mas afirmavam em seguida
que o amianto pode causar câncer apenas na população que mora ao redor da mina. Tal
fato valoriza a consistência lógica de negação do risco próximo, sendo um elemento
primordial de estratégia psicológica e marcante na população deste estudo. O câncer é
uma doença que faz despertar estresse e medo sobre a probabilidade de sua ocorrência e
suas complicações que incluem incapacidades, dor e sofrimento (OTTO, 2002). O
estudo de Maurel et al (2009) observou um elevado nível de estresse psicológico em
sujeitos expostos ao amianto, por causa de suas percepções de risco de câncer
relacionado ao amianto.
os resultados da afirmativa- O amianto que existe aqui em Bom Jesus da
Serra pode causar doenças pulmonares na população-, foram similares aos da
afirmativa anterior e foram elucidativos para demonstrar que muitos moradores do
município, independente da localização, se próxima à mina ou não, admitem que a
exposição humana ao amianto no ambiente pode trazer doenças pulmonares e câncer
as que apresentam fortes indícios científicos de associação com o amianto-, mas não
reconhecem que este risco pode ocorrer em todo o município. Os dados em conjunto
desta afirmativa mostraram que 43 concordaram totalmente e 07 concordaram
parcialmente; 12 discordaram totalmente e 05 parcialmente; 10 não concordaram nem
discordaram e 06 não apresentaram opinião a respeito. Ver gráfico 10 a seguir.
129
Gráfico 10- Dados absolutos sobre a opinião dos informantes em relação ao amianto que existe em
Bom Jesus da Serra poder causar doenças pulmonares na população.
Assim como a afirmativa anterior, mais da metade dos participantes (60%)
responderam que concordam que o amianto que existe no município pode causar
doenças pulmonares na população, no entanto, permaneceu a interpretação por
parte de alguns sobre a maior probabilidade da doença ser causada apenas na população
residente na imediação da mina de amianto. Embora os tipos de doenças pulmonares
(placas pleurais; asbestose) que possam ser causados pela exposição ao amianto sejam
também graves e irreversíveis, assim como o câncer, os relatos dos informantes não
transmitiram este tipo de conhecimento, apenas que tiveram convivências com pessoas
que apresentaram “falta de ar” e alguma doença pulmonar, sem descrevê-la.
As percepções de indivíduos que residem em um mesmo território sobre os
fenômenos relativos à saúde e à doença se mostram como reflexos das suas condições
de vida e trabalho que abrangem aspectos de natureza material, subjetiva e simbólica.
Estas diferentes dimensões da existência humana influenciam os conhecimentos sobre o
processo saúde-doença, principalmente no que diz respeito à relação homem-natureza e
aos benefícios e interesses de melhores condições materiais que provêm do modo de
produção capitalista (MONKEN & BARCELLOS, 2005; SOAREZ DE OLIVEIRA,
2002; BOLTANSKI, 2004).
130
No que tange aos significados do risco químico para os moradores desse estudo,
os sentidos do risco, aqui, parecem ter sido utilizados de acordo com o repertório
cultural e o contexto que estava relacionado a perdas e ganhos sobre pessoas e
ambientes (SLOVIC, 1997; LIEBER & ROMANO-LIEBER, 2003).
Nesse sentido, o conhecimento dos moradores desse estudo sobre a seriedade de
algumas doenças, principalmente daquelas relacionadas ao amianto, e a chance de vir a
desenvolvê-las foi um ponto fundamental para se chegar à conclusão sobre uma
percepção coletiva otimista a respeito de uma situação de perigo iminente para a vida de
todos daquela comunidade. Assim, nesse estudo optou-se pela abordagem psicométrica
para estruturar o instrumento de avaliação da percepção de moradores do município de
BJS/BA, na qual o embasamento se através da estimativa numérica do pensamento
que adquiri a forma resumida de processos mentais humanos e a dispõe em escalas para
explicação (SLOVIC, 1987; SJOBERG, 2000; SLOVIC, 1997).
A quantificação de determinados problemas de saúde por estes moradores foi
uma estratégia utilizada para avaliar o nível de percepção sobre a seriedade deles e a
probabilidade de sua ocorrência entre os mesmos. Nas tabelas 19 e 20, respectivamente,
agruparam-se os valores médios dados a cada problema de saúde questionado sobre a
seriedade e a chance de vir a tê-lo pelo grupo de moradores participantes do estudo.
É importante informar que a média das notas das duas tabelas a seguir foi
comprometida pelo fato de alguns moradores entrevistados não interpretarem
adequadamente os problemas de saúde questionados e de outros não saberem estimar a
chance de vir a ter alguns destes problemas, dentre os quais citamos: hipertensão (02);
malformação fetal (46); asbestose (37); cirrose (05); dor de garganta (05); AIDS (05);
Malária (09), enquanto 04 moradores relataram que não sabiam quantificar esta chance
para nenhum problema de saúde. Isto pode ter ocorrido devido o desconhecimento deles
sobre a definição, a etiologia e a seriedade de alguns problemas de saúde, tal como
aconteceu com a malária por 16 participantes e a asbestose por 42 participantes, quando
lhes foi questionado sobre a seriedade destas doenças.
Muitos estudiosos da abordagem psicométrica destacam a importância da
influência do conhecimento do público leigo sobre o “risco real” e os processos
relativos à saúde, doença e ambiente sobre suas percepções e atitudes frente ao risco.
Por isto, eles tendem a ressaltar algumas características sociais, por exemplo classe
131
socioeconômica, e individuais, tais como gênero, idade, nível de escolaridade, etc.
Assim, alguns estudos descrevem que o conhecimento da severidade e da ameaça do
risco pode contribuir para aumentar ou diminuir a percepção e o posicionamento dos
indivíduos frente ao risco (RENN, 2004; SJOBERG, 2000; SJOBERG & DROTTZ-
SJOBERG, 1991).
Tabela 19- Média dos valores atribuídos à seriedade de vários problemas de saúde classificados
pelo grupo de moradores entrevistados.
Doença/ Problema de saúde
Média das notas atribuídas à seriedade do
problema pelos moradores do estudo
1-10*
Diabetes
7,8
Câncer
9,7
Úlcera
7,2
Dor de cabeça
5,7
Má formação fetal
6,7
Hipertensão
8,5
Asbestose
8,9
Gripe
4,6
Cirrose
8,8
Diarréia
6,1
Pneumonia
5,7
Doença de pele
7,5
Alergia
5,6
Doença renal
8,5
Dor de garganta
6,1
AIDS
9,7
Malária
8,4
Dengue
8,0
Doença aparelho digestivo
8,0
Doença pulmonar
8,9
*A escala de valores variou de 1 a 10. Um valor alto significou que a pessoa achou que a doença era
muito séria, enquanto que um valor baixo significou que a pessoa achou a doença pouco séria.
Os dados da tabela 19 mostram que os problemas de saúde percebidos com
maior grau de seriedade pelos moradores do estudo, tanto da área próxima à mina
quanto das demais áreas, são doenças confirmadas cientificamente como graves, nas
quais se situam o câncer, a AIDS, a asbestose e as doenças pulmonares (depende do
tipo). Os homens com faixa etária de 20-35 anos identificaram mais estas doenças como
muito sérias. Em geral, os moradores demonstraram um bom nível de conhecimento
sobre as doenças mais sérias, embora este fato não tenha garantido uma melhor
percepção sobre a chance de vir a tê-las.
132
Mesmo que uma pessoa possua um bom nível de conhecimento sobre o risco,
isto não assegurará que a mesma apresentará concomitantemente um elevado nível de
percepção do risco. A lógica de que indivíduos que se enquadram num perfil econômico
desfavorável ou num nível educacional baixo tendem a fazer julgamentos diferenciados
do risco se comparados àqueles pertencentes a uma elevada classe socioeconômica ou a
um elevado nível educacional, faz realmente sentido se as percepções do risco forem
também avaliadas do ponto de vista construcionista sociocultural, pois as interpretações
e os significados que os indivíduos dão à saúde, à doença e ao risco emergem de
valores, interesses, emoções contidos na vida histórica, material e social (SOAREZ DE
OLIVEIRA, 2002; BOLTANSKI, 2004; WILDAVSKY & DAKE, 1990).
Nesse contexto, analisaremos, a seguir, o perfil dos moradores que tiveram as
percepções mais elevadas e mais baixas sobre o risco de câncer e de doenças
pulmonares, pois se situaram entre as doenças mais estimadas -por 79 moradores
entrevistados- e por serem as principais conseqüências da exposição ambiental ao
amianto. Embora a asbestose se inclua na classificação de doenças pulmonares, ela foi
questionada separadamente, por representar tal importância como uma doença
específica provocada pela exposição ao amianto, mas sua análise foi comprometida pelo
fato de 41 moradores entrevistados não terem estimado uma nota para a chance de sua
ocorrência.
Para o câncer apenas 11 pessoas o estimaram com os valores mais elevados (8, 9
e 10) sobre a chance de vir a tê-lo, enquanto que 40 pessoas o estimaram com os valores
mais baixos (1, 2 e 3). Dentre as características destes 11 moradores, encontramos 04
mulheres e 07 homens; 09 pessoas da faixa etária de 20 a 35 anos e 02 pessoas idosas;
06 pessoas com os níveis de escolaridade mais elevados e 05 com outros níveis mais
baixos. A análise destes dados demonstrou que dentro deste grupo, houve similaridades
entre os níveis educacionais, mas um predomínio dos jovens sobre os idosos e dos
homens em relação às mulheres. dentre as características dos moradores que
estimaram a chance de ter câncer com os valores mais baixos (1, 2 e 3), encontramos 24
mulheres e 16 homens; 21 pessoas da faixa etária de 20 a 35 anos e 19 pessoas idosas;
09 pessoas com os níveis de escolaridade mais elevados e 31 com outros níveis mais
baixos.
Nesse sentido, podemos concluir que o sexo feminino expressou uma percepção
mais baixa de risco de câncer que o sexo masculino; que os jovens entre 20 a 35 anos
133
expressaram uma percepção de risco de câncer mais elevada que os idosos; e os
indivíduos com níveis de escolaridade mais baixos expressaram uma percepção de risco
de câncer mais baixa que os de nível mais elevado.
Para as doenças pulmonares 20 pessoas as estimaram com os valores mais
elevados (8,9 e 10) sobre a chance de vir a -las, enquanto que 38 pessoas as estimaram
os valores mais baixos (1,2 e 3). Dentre as características dos moradores que atribuíram
os valores mais elevados (8, 9 e 10), encontramos 11 mulheres e 09 homens; 13 pessoas
da faixa etária de 20 a 35 anos e 07 pessoas idosas; 09 pessoas com os níveis de
escolaridade mais elevados e 10 com outros níveis. E dentre as características dos
moradores que atribuíram os valores mais baixos (1, 2 e 3), encontramos 18 mulheres e
20 homens; 21 pessoas da faixa etária de 20 a 35 anos e 17 pessoas idosas; 12 pessoas
com os níveis de escolaridade mais elevados e 22 com outros níveis mais baixos.
Assim, notou-se que os jovens entrevistados expressaram uma percepção de
risco de doenças pulmonares contraditória, uma vez que foram os que atribuíram os
valores mais elevados e os mais baixos ao mesmo tempo e que os indivíduos com níveis
de escolaridade mais baixos expressaram uma menor percepção de risco em relação a
esta doença do que os de nível mais elevado.
Como foi dito anteriormente, reforça-se a idéia da influência das relações
sociais das pessoas da comunidade de BJS, seja através da co-presença ou da
participação sistêmica intersetorial no afirmamento da percepção deste grupo sobre os
riscos à saúde oriundos da exposição ao amianto. Sendo assim, os resultados das
análises das características individuais que mostram os jovens e os homens
entrevistados como sujeitos com maior percepção desta problemática do que os idosos e
as mulheres parecem refletir uma situação de maior participação social e introsamento
com diferentes setores da comunidade dos jovens e dos homens, fazendo um
contraponto com muitos estudos psicométricos que demonstram que as estimativas do
risco geralmente são mais elevadas entre as mulheres e os idosos (SLOVIC, 1987;
SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1991; SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1994).
As experiências dos jovens estavam, geralmente, ligadas ao conhecimento do
adoecimento em um familiar ou colega que trabalhou na mineração; à interferência da
escola, de palestras ou de pesquisadores na região ou à própria história de ter ajudado ao
pai ou outro familiar no trabalho na mineração quando era criança, enquanto que as
134
experiências dos idosos estavam mais relacionadas à sua própria história de ex-
trabalhador da mineração ou de conhecimento de alguém que tenha sido e da presença
de pesquisadores na região.
Tabelas 20- Médias das notas atribuídas pelos moradores que variaram de 1-10* e se referiram à
percepção sobre a possibilidade de adoecer
Doença/ Problema de
saúde relacionado ou
não ao amianto
Moradores das duas
áreas comparadas
Moradores
próximos à
mina
Moradores das
demais áreas
Asbestose
(relacionada)
4,6
4,9
4,3
Câncer (relacionada)
3,7
3,3
4,1
Doenças pulmonares
(relacionada)
4,2
3,7
4,8
Pneumonia
3,8
2,9
4,6
Gripe
6,2
6,0
6,5
Hipertensão
7,1
6,5
7,7
Diarréia
4,5
4,7
4,4
Dor de cabeça
6,2
6,7
5,8
Alergia
4,3
3,5
5,1
Dor de garganta
4,8
5,3
4,4
Dengue
4,6
5,0
4,3
Diabetes
3,8
3,4
4,2
Doença do aparelho
digestivo
3,7
3,6
3,8
Doença renal
3,5
3,2
3,8
Doença de pele
3,5
3,2
3,8
Úlcera
3,4
3,8
3,1
Cirrose
2,5
2,3
2,8
AIDS
2,1
1,9
2,4
Malária
2,1
2,5
1,8
Mal formação fetal
1,6
1,2
2,1
*O valor de 1 a 10 variou conforme a opinião da chance de vir a ter a doença. Uma nota 10
correspondeu a uma chance muitíssima alta de vir a ter a doença, enquanto que uma nota 1
correspondeu a uma chance muitíssima baixa de vir a ter a doença.
A tabela 20 mostra que os resultados das médias das notas de chance de ter
essas 20 doenças atribuídas pelos dois grupos de moradores de localidades diferentes
não se apresentaram muito discrepantes, sendo a pneumonia a doença com as médias
evidenciadas com maior diferença entre os dois grupos de moradores. As médias para
ncer e doenças pulmonares foram um pouco menores entre os moradores próximos à
mina do que os das demais áreas. Cada grupo de moradores informou que hipertensão,
gripe e dor de cabeça eram os problemas de saúde com maior chance de acometê-los,
enquanto que cirrose, AIDS e mal formação fetal eram os problemas com menor chance
135
para os moradores da área próxima à mina e malária, AIDS e mal formação fetal eram
os problemas com menor chance para os moradores das demais áreas.
Comparando as tabelas 19 e 20 podemos observar que AIDS, câncer e asbestose
foram considerados os três problemas de saúde mais sérios para os moradores
participantes, entretanto, gripe, hipertensão e dor de cabeça se revelaram como aqueles
com a maior chance de vir a -los, ou seja, nenhum dos três problemas de saúde
considerados como os mais sérios para os moradores do estudo se apresentou como um
daqueles com elevada chance em adquirí-lo. Este dado parece reafirmar o fato que os
moradores de localidades diferentes do município, possivelmente, não apresentam uma
boa percepção de riscos à saúde provenientes do amianto, apesar da maioria dos relatos
anteriores sobre a relação estabelecida entre o amianto e problemas de saúde. Nem
câncer, nem asbestose, nem doença pulmonar apareceu como um potencial risco para a
saúde pelos moradores entrevistados, tampouco a alergia, que apareceu como um dos
problemas de saúde mais relacionados ao amianto, sugerindo uma situação elucidativa
de negação de vulnerabilidade deste grupo para tais prejuízos à saúde.
No entanto, observou-se no conjunto dos relatos de todas as questões, que
enquanto a maior parte dos participantes permaneceu a negar que apresentavam um
risco maior de desenvolver doenças como o ncer e/ou doenças pulmonares, pois
transpareceram a idéia de não aceitação destes riscos por causa do amianto presente em
seu local de moradia. Observou-se que alguns moradores aceitaram estes riscos para
os que trabalharam com o amianto ou para aqueles que residem bem próximo à mina.
Enfim, um fato marcante foi o de que um grande número de participantes
demonstrou ter experiência de vida em relação a algum aspecto relacionado ao amianto,
independente do gênero, faixa etária, perfil educacional ou local de moradia, o que
parece ter interferido na percepção deles sobre a chance de ter um prejuízo grave à
saúde. Weinstein (1987) demonstrou que a tendência de uma pessoa em assumir que
apresenta menor risco de ter um prejuízo à sua vida, ou seja, apresentar um otimismo
parcial sobre a sua vulnerabilidade ao risco ou à sua conseqüência não é limitado a uma
particular característica de sexo, idade, grupo ocupacional ou educacional e geralmente
ocorre quando ela extrapola a experiência do seu passado para estimar a vulnerabilidade
do seu futuro.
136
Nesse sentido, concluímos que existiu uma invisibilidade pela maioria dos
moradores do estudo sobre a exposição ambiental ao amianto ser um fator de risco para
o desenvolvimento de algumas doenças pulmonares e de câncer para todas as pessoas
que moram no pequeno município de BJS/BA, o que permitiu o surgimento da categoria
temática que será discutida a seguir.
V.4- Invisibilidade dos riscos da exposição ambiental ao amianto
O risco real baseado em estimativas técnicas faz despertar o interesse de
especialistas em realizar pesquisas com determinadas comunidades. No entanto, o risco
real só existe quando contextualizado à vida social e cultural da população a ser
analisada, que geralmente desenvolve suas representações como atributos particulares
de experiências de vida. Notou-se que uma pequena parte deste risco “real” parece ser
percebida pelos moradores desse estudo, possivelmente, pelas suas experiências
concretas de vida, que quanto mais freqüentes eram através de suas práticas sociais
cotidianas no território, maior parecia ser a percepção deste risco. Por exemplo, as
pessoas que conseguiam perceber melhor os riscos à saúde oriundos da exposição ao
amianto eram aquelas que mais tinham observado casos de adoecimento entre seus
membros familiares e amigos ou vizinhos. Uma percepção otimista em relação ao
perigo diminui à medida que vão existindo mais experiências pessoais (WEINSTEIN,
1987).
Nesse sentido, o risco não pode individualizar-se em relação à saúde, não
bastando às pessoas alcançarem informações suficientes dele para adaptarem seus
comportamentos e eliminá-lo de seu convívio. Os resultados encontrados com os
moradores de BJS supõem que a eliminação da situação de exposição ao amianto no
município perpassa por decisões individuais, necessitando dos conhecimentos de uma
grande parte dos aspectos da vida social desta comunidade para o gerenciamento dos
seus riscos. Este fato se insere na busca da reflexão crítica e ética das sociedades
modernas de risco, mas que mesmo esta idéia não dá conta das dimensões socioculturais
(LUIZ & COHN, 2006; CASTIEL, 1996; MARANDOLA Jr. & HOGAN, 2004).
A despeito da questão do conhecimento do grupo de risco nesse estudo, que
sempre assume tal importância em estudos de abordagem psicométrica, ela somente foi
apreendida devido às influências sociais, culturais e históricas da comunidade. Embora
137
alguns especialistas tendam a ressaltar o conhecimento de populações afetadas sobre o
perigo como o aspecto mais importante para os estudos de percepção de riscos, outros
têm criticado este fato com base no entendimento que mesmo que o público obtenha
informações sobre o risco “real”, isto nem sempre o fa apresentar uma elevada
percepção do risco e uma mudança de comportamento para reduzí-lo (DOUGLAS &
WILDAVSKY, 1982; CASTIEL, 1996; SLOVIC, 1987).
Johnson (1993) enfatizou que muitos destes estudos têm investigado somente
como o conhecimento afeta a percepção de risco do público leigo, desconsiderando as
suas preocupações e não as relacionando com as dos especialistas. Assim, ele destacou
três aspectos importantes do papel do conhecimento sobre o perigo que podem
influenciar a percepção de riscos do público, os quais são: a produção do conhecimento;
a disseminação do conhecimento; e o processamento da informação, a respeito de
algumas situações (aversão ao risco; comportamento justificado por fatos; esforços
realizados por muitos deste público para entender a ciência pelos seus próprios meios).
À luz dessas dimensões do risco, observou-se que para a maioria dos moradores
entrevistados o amianto foi caracterizado como perigo, ameaça, mas como algo que faz
parte de suas vidas, principalmente daqueles que têm alguma ligação histórica com a
mineração. Em detalhe, a análise dos relatos revelou definições mais ou menos corretas
sobre o amianto, tendo ocorrido oito distorções, entretanto, 21 sujeitos não souberam
definí-lo de alguma forma. Alguns relataram que ouviram falar sobre amianto, mas
não souberam definí-lo, assim como podemos observar nas seguintes falas:
―Não sei o que é. Já ouvi falar com vizinhos‖. (Morador 1, 29 anos).
―Não sei definir. Ouvi falar com meu cunhado que é ex-trabalhador e na mídia‖.
(Morador 74, 72 anos).
Isto significa que 25% (21 moradores) da população do estudo não souberam
definir o amianto, mas incluindo o percentual 9,6% (8 moradores) das definições
erradas relatadas, temos, aproximadamente, 35% dos sujeitos que desconheciam
exatamente o que era o amianto. É um valor bem elevado para uma comunidade
envolvida pela exposição ambiental ao amianto.
É importante, também, destacar que dos relatos distorcidos sobre a definição
do amianto, um o definiu como doença, cinco como o local da mina e dois como o
próprio produto de uso domiciliar:
138
―É o local que tirou o minério‖ (Morador 80, 61 anos).
―Era uma base de mineração que existia em nossa cidade‖ (Morador 42,28 anos).
―Local aqui de perto, conheço de passagem‖ (Morador 39,30 anos).
―Doença braba‖ (Morador 40, 29 anos).
―É aquela telha Eternit que dá câncer‖ (Morador 54,30 anos).
Há, no entanto, um outro aspecto a ser considerado, que é a forma de produção
desse conhecimento. A maioria dos moradores ouviu falar do amianto com amigos,
vizinhos, professores na escola, familiares de ex-trabalhadores ou porque eram os
próprios ex-trabalhadores da ex-mineração, pesquisadores anteriores, em palestras, na
mídia e por visitarem o local da mina abandonada. De todos os relatos, percebemos que
os moradores que tiveram mais acesso a diferentes formas de informação sobre o
amianto (Escola, Internet, Mídia, Palestras) souberam definí-lo melhor e suas
conseqüências para a saúde:
―Matéria-prima derivada da pedra que contém um alérgico que pode causar câncer’
(Morador 4, 68 anos).
―Uma fibra em forma de lã‖ (Morador 5, 63 anos).
―Pedra com fibra que adoece as pessoas‖ (Morador 13, 29 anos).
―Pedra que têm fibra e pode causar câncer‖ (Morador 15,29 anos).
―São fibras que são extraídas das pedras (pedras fofas de amianto)‖ (Morador 19, 25
anos).
―É uma fibra que pode causar problemas pulmonares e cancerígenos‖ (Morador 27, 27
anos, do Povoado Bonfim do Amianto).
―Pó perigoso que matou muita gente‖ (Morador 45,61 anos).
―Minério que se caracteriza pela lã‖ (Morador 57, 30 anos).
As formas como as informações são obtidas e processadas pelo público têm
uma influência fundamental na formulação da percepção e resposta ao risco, pois são
mediadas por influências sociais transmitidas por amigos, familiares, mídia, etc. Cada
forma de produção da informação sobre o risco é uma parte importante na construção da
tomada de decisão pessoal (SLOVIC, 1997). O impacto do conhecimento produzido por
pessoas leigas sobre o perigo é diferente quando adquirido por experiências pessoais ou
139
por experiências de terceiros (mídia, livros, internet). Algumas pesquisas apontam que
experiências pessoais de prejuízos diretos causados pelo perigo parecem salientar mais a
percepção de riscos do que mensagens prévias de fontes indiretas. Por exemplo, uma
localização de moradia bem próxima ao perigo pode não interferir tanto na percepção de
riscos quanto uma experiência pessoal de acidente ou doença provocada por este perigo
(JONHSON, 1993).
Notou-se que a importância dada pelos moradores do estudo à mina abandonada
de amianto pareceu não estar atrelada à localização de sua moradia, mas aos fatores
sociais e culturais que regem ao seu símbolo, pois para a maioria dos informantes, a
mina revelou-se como um perigo iminente para as pessoas que moram próximo a ela, as
que passeiam em seu interior e as que passam perto dela na estrada. Para alguns poucos,
a mina é percebida como área de lazer e nada mais, enquanto outros demonstram
preocupação que algo deve ser feito na área, mas não sabem exatamente quem deveria
fazer o quê. Observemos algumas opiniões a respeito da mina:
―Destruição, poluição total‖ (Morador 63, 65 anos).
―A mina deveria ser aterrada as valas‖ (Morador 62, 25 anos).
―É necessário uma providência imediata de controle da mina, acredito que os
moradores próximos ainda se prejudicam‖ (Morador 42, 28 anos).
―É um convívio nosso, é um problema ambiental’ (Morador 37, 30 anos).
―Problema sério que necessita de soluções urgentes e eficazes‖ (Morador 19,25
anos).
―Acho perigosa, principalmente, para os moradores próximos e os visitantes
constantes‖ (Morador 22, 26 anos).
―É um problema grave que pode levar a morte‖ (Morador 12, 60anos).
―Quem será a próxima vítima?‖ (Morador 14, 64 anos).
A interrogativa acima, também, é feita por nós pesquisadores e ainda, até quando
existirão vítimas deste processo de produção de doenças perfeitamente evitável?
Poucos foram os moradores que parecem ainda não reconhecer o problema da
mina desativada de amianto e/ou não a associam a um processo industrial que existiu
no município há muito tempo e que deixara os poluentes em todo o ambiente:
140
―Apesar de ser pequena a cidade, não temos grandes indústrias que venham a
poluir o bairro‖. (Morador 2, 27 anos).
Outro dado que chama a atenção na análise é a familiaridade com que alguns ex-
trabalhadores da mina falam sobre ela, associando-a apenas a benefícios:
―Quando o povo trabalhava agente ganhava muito dinheiro‖ (Morador 58,68
anos).
―Achava bom pelo emprego‖ (Morador 79, 73anos).
Os benefícios da atividade de mineração do amianto vinculada ao símbolo da
mina parecem atenuar e/ou invisibilizar a percepção de riscos destes ex-trabalhadores,
influindo na sua aceitação. Talvez, este fato ocorra, também, com seus familiares e
outros moradores do município, mas pelos depoimentos de nosso estudo, averiguou-se
que os moradores que não são ex-trabalhadores tenderam a relacionar a mina a um local
de perigo para a saúde e destruição ambiental, tal como a foto abaixo ilustra esta
realidade:
Foto 08: Mina de São Félix, acervo pessoal, 2010.
É comum indivíduos tenderem a ressaltar os benefícios dos riscos em detrimento
das suas conseqüências, através de mecanismos psicológicos adaptativos que promovem
o destaque de interesses positivos em relação aos negativos. Assim, algumas pessoas
negam certos riscos e enfatizam outros, de acordo com seus próprios interesses ou como
um mecanismo de manter sua posição dentro de um grupo social (DOUGLAS &
WILDAVSKY, 1982; SLOVIC, 1987).
Desconfiou-se, a partir dos relatos, que a maior parte da classe trabalhadora era
analfabeta, desconhecia seus direitos à saúde, à educação e à cidadania e aceitou um
141
plano de saúde particular que a empresa lhe propôs e uma indenização conforme o grau
da doença que os acometia, e assim, preferiu se omitir e morrer, como ainda morrem
muitos, sem saber exatamente que tipo de doença possuía. Desta situação, os gestores
de saúde locais transferem em parte a responsabilidade da assistência à saúde destes ex-
trabalhadores à empresa, que lhes fornecem um plano de saúde particular, realiza
periodicamente alguns exames específicos de saúde e acompanham até a morte os
indivíduos doentes. Muitos deles procuram os serviços de emergência do único hospital
de pequeno porte da cidade por demandas de problemas respiratórios e quando se
agravam, os funcionários do hospital entram em contato com a empresa para transferí-lo
para um hospital particular de outro município (D´AREDE, 2009).
Nesse contexto, observou-se que os moradores entrevistados que mais
naturalizaram o risco, tornando-o invisível, foram os ex-trabalhadores e os moradores
da área próxima à mina. Perante, a obrigatoriedade da convivência contínua com o
perigo e a ausência, até o momento, de ações do poder público que de fato pudessem
transformar esta situação, os moradores tenderam a se familiarizar e naturalizar os
riscos.
As baixas condições socioeconômicas e as raízes culturais locais parecem não
possibilitarem à maior parte do grupo de se deslocar para outros locais distantes do
município e assim, não há outra solução que conviver com os riscos. Este fato é
discutido por Cartier et al (2009), em que grupos vulneráveis a riscos tecnológicos
ambientais se vêem obrigados a residir em locais arriscados como em áreas
circunvizinhas a indústrias por não possuírem condições financeiras para o seu
deslocamento. Em relação à negação de riscos por estes grupos vulneráveis, temos o
exemplo do episódio do Love canal, em que residentes de uma área de Nova Iorque sem
disponibilidade para mudança, tenderam a negar a existência dos riscos locais
(CASTIEL, 1996).
As evidências do risco coletivo e individual são manejadas conforme os interesses
do grupo ou do indivíduo e esta possibilidade de selecioná-las colocam o risco em uma
posição construída por representações socioculturais ao longo do tempo (PERES, 2003;
BARNES, 2001). Os termos familiaridade e naturalidade são constatados por PERES et
al (2005) como dois elementos que perpassam todas as representações feitas por
trabalhadores rurais em seu manejo com agrotóxicos.
142
Ficou claro que as representações do risco/ crenças permeam a construção da
percepção dos riscos dos moradores entrevistados e elementos como familiaridade,
naturalidade e invisibilidade foram pontos importantes para a interpretação das reações
e comportamentos destes indivíduos.
É, contudo, importante destacar que essas distintas representações do risco são
frutos de um enfoque particular de experiências de vida e de uma história de exposição
ao amianto vivida pela comunidade. Este fato foi destacado por Janssen (2005) que
relatou que a percepção de riscos pelo amianto depende mais de características
socioculturais do que de avaliações científicas do risco.
A grande maioria dos sujeitos desse estudo reside no município desde o
nascimento, e por isto, acompanha a situação local do amianto muito tempo. Assim,
a história da exposição ocupacional e ambiental ao amianto no município de BJS nos
ajuda a entender um pouco sobre os significados atribuídos pela comunidade aos riscos
provenientes do perigo ambiental que é o amianto. Segundo o relato de um morador
idoso, a descoberta do mineral na região foi feita pelo seu pai com outros colegas, que o
desconheciam e o enviaram para outro município da Bahia- Jequié- para análise e
posteriormente, começaram a chegar empresários estrangeiros com o interesse em
extraí-lo para fabricação de diversos produtos:
―O meu pai, o velho Manoel, mandou a pedra de para Jequié, analisaram e
vieram os Alemães‖ (Morador 82, 86 anos).
O que era apenas um simples contato esporádico do homem com a natureza, se
tornou um perigo químico iminente para toda a população local. Alguns elementos
químicos podem se apresentar naturalmente no meio ambiente, mas a exploração de
recursos naturais através das atividades antropogênicas possibilitou um aumento da
interação do homem com estes elementos ou com outras espécies químicas destes
elementos (FREITAS, 2003; MIRANDA et al, 2008).
O amianto foi considerado um mineral valioso que trouxe emprego e renda à
comunidade, desde a sua descoberta na região. À medida que foram surgindo casos de
doenças e mortes em trabalhadores e/ou em seus familiares da mina de exploração do
amianto, este foi sendo incorporado à cultura local como um perigo natural. O amianto
fazia parte da subsistência de grande parte da população local.
143
Inicialmente, a consciência dos riscos foi atingida por parte de alguns
trabalhadores da mina e seus familiares quando muitos destes começaram a adoecer e
morrer. Notou-se pelos relatos que os familiares dos ex-trabalhadores tenderam a ter um
maior nível de percepção sobre os riscos do amianto à saúde do que os ex-trabalhadores.
Diversos autores referem que o grau de percepção de riscos da maioria das pessoas é
ampliado quando seus familiares começam a adoecer por causa da fonte-risco
(SLOVIC, 1997; STEWART-TAYLOR & CHERRIES, 1998).
As crenças da família sobre eventos ligados à saúde tem se tornado um marco
para o entendimento sobre comportamentos e respostas aos riscos e às doenças. Estas
crenças podem ser construídas a partir de experiências particulares com certas doenças,
seu relacionamento com profissionais de saúde e nível de educação acerca de questões
relativas à saúde e à doença (MCDANIEL et al, 1999).
A ocorrência de uma doença séria como um câncer em um familiar ou amigo
algum sentido no mínimo, se nota-se uma razão/ causa real para este acontecimento,
pois do ponto de vista psicológico, atitudes voluntárias podem ser descartadas (ex.: uso
abusivo de fumo) e a culpa pode ser colocada em causas externas. Mesmo quando estas
causas externas são percebidas, a responsabilidade individual é transferida para outros,
pois é difícil compreender a importância do envolvimento social nos processos
decisórios partindo da realidade que a responsabilidade de riscos involuntários é
coletiva (RENN, 2004).
Uma mudança importante na saúde de um membro da família pode, além, de
ampliar a percepção do familiar sobre o perigo e suas conseqüências, também, produzir
respostas estressantes e até provocar doenças neste familiar. Os fatores estressantes dos
familiares, muitas vezes se somam e como exemplo do que ocorre no município desse
estudo, isto pode ser decorrente do evento estressante em si que é a doença no seu
familiar, em conjunto, com o reconhecimento do fator principal e causal desta doença,
que significa um perigo iminente para todos. O estresse relacionado à família conduz a
mudanças fisiológicas que, por sua vez, estão associadas com aumento de surgimento
de doenças e de agravamento de outras pré-existentes. (MCDANIEL et al, 1999).
Outra característica da invisibilidade e minimização dos riscos é o fato de que a
natureza dos seus efeitos pode contribuir para acentuar ou reduzir a percepção deles.
Desta forma, a elevação do estresse e da percepção de risco no familiar pode prescindir
144
do tipo de problemas/doenças que podem ser ocasionadas em seu membro doente, que
no caso do amianto, são consideradas crônicas, irreversíveis e com surgimento a longo
prazo (FREITAS, 2000; SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1991). Um doença crônica
e grave em um familiar e seus conseqüentes novos padrões de interação e apoio social
fazem com que todos os membros da família tenham que reajustar seus papéis para lidar
com estressores contínuos da vida familiar. O suporte familiar é considerado como um
importante fator contribuinte para uma maior ou menor resistência corporal do
indivíduo doente (MCDANIEL et al, 1999; MONIZ & TAVARES, 2006).
Maurel et al (2009) demonstra que um elevado nível de estresse ocorreu em
indivíduos expostos ao amianto, independente de sua auto-percepção sobre a
intensidade da exposição ao amianto e o risco da doença presente ou futura relacionado
à exposição ao amianto. Mas o nível de estresse foi acentuado em sujeitos que
percebiam que apresentavam um elevado risco em adquirir câncer. Assim, reconhecer
que os riscos à saúde provenientes de uma poluição química ambiental são bastante
graves pode provocar em indivíduos expostos um maior nível de estresse do que
perceber sobre a elevada probabilidade de sua ocorrência.
Podemos transferir este entendimento para os sujeitos de nosso estudo, o que nos
faz supor que um elevado nível de estresse deve ter sido desencadeado, também, pela
percepção de riscos de doenças sérias que poderão surgir neles. Assim, são formuladas
respostas mentais e físicas aos fatores estressantes (os riscos), dentre as quais, podem
ser situar, respectivamente, em: negação/ naturalidade e comportamento passivo diante
do risco.
MONIZ & TAVARES (2006, p.6) relata:
―As formas de resoluções o adotadas como estratégias para
superar o estresse pela sua minimização, eliminação ou
negação e se relacionam com a existência de resistência
pessoal ao estresse e a presença de uma rede social de
suporte‖.
Trata-se do desencadeamento do estresse humano provocado pelas
conseqüências do risco, o que por sua vez, eleva o seu nível de percepção. No entanto, a
redução do nível de percepção de risco de alguns indivíduos pode advir de uma situação
estressante crônica, como um mecanismo de adaptação que pode passar de um nível
individual para coletivo, de acordo com as influências e práticas sociais dos sujeitos em
145
sua comunidade. Provavelmente, a evolução da tendência das doenças e mortes
supostamente provocadas pelo amianto nos moradores de BJS desencadeou a
necessidade de um tipo de adaptação social ao problema da exposição ao amianto.
As pessoas podem agir dentro de seu grupo social de forma a amenizar certos
riscos e a enfatizar outros como uma estratégia de sustentação e controle pelo grupo
(SLOVIC, 1987; WILDAVSKY & DAKE, 1990).
Dejours (1992) descreve que as estratégias de defesa individuais desaparecem em
prol de uma estratégia coletiva, que é a ideologia defensiva. Isto pode ocorrer quando há
interesse em mascarar, conter e ocultar uma ansiedade grave por todo um grupo social
particular. Esta ideologia surge como um mecanismo de defesa e luta contra perigos e
riscos identificados pelo grupo. Assim, a ideologia defensiva, talvez seja um recurso
adaptativo utilizado coletivamente pelo grupo de moradores entrevistados.
Subjacente aos interesses ideológicos destes moradores, a experiência de alguns
com os efeitos produzidos pela exposição ao amianto pode ter contribuído para a
ampliação da percepção sobre eles, porém, não para a percepção da probabilidade de
sua ocorrência entre eles. Não significa apenas reconhecer o risco de um efeito qualquer
à saúde proveniente da exposição ao amianto, mas de um problema de saúde grave,
crônico e irreversível, como o câncer ou a asbestose, o que eleva muito o nível de
estresse, possibilitando uma resposta psicológica de bloqueio/ negação desta situação,
tal como é evidenciado no estudo de Maurel et al (2009).
Tal fato pode ser observado através da análise conjunta dos dados, que revelou
que a maior parte dos moradores entrevistados parece ter aceitado que o amianto pode
fazer mal à saúde e causar algum problema de saúde, contudo negaram que eles
possuem uma elevada probabilidade de vir a adquirir um problema de saúde grave ou os
problemas mais citados como causados pelo amianto. Estas prerrogativas podem ser
confirmadas com os seguintes dados:
87% da população de estudo acreditam que o amianto possa causar
algum problema de saúde;
88% dos moradores do estudo afirmaram que concordam, seja
parcialmente seja totalmente, que o amianto faz mal à saúde;
Os únicos moradores que discordam desta afirmativa pertencem ao grupo
de ex-trabalhadores, pois nem o sexo, nem a faixa etária e tampouco o
146
local de moradia se mostraram elementos diferenciais na percepção de
riscos sobre o amianto entre os participantes do estudo.
A média do valor dado ao câncer como uma doença séria foi 9,7 e para
doenças pulmonares foi 8,9. Estas doenças foram consideradas graves para a
maioria dos participantes;
60% concordaram de alguma forma, que o amianto que existe no
município pode causar câncer na população;
A média dos valores atribuídos para a chance de ter câncer foi 4,0 e para
as doenças pulmonares foi 4,5, que significa uma baixa percepção de
chance para a maioria dos moradores entrevistados.
Ao analisar as justificativas dos moradores das questões e ao se discutir o
conjunto dos dados, observou-se que a problemática do amianto para os moradores de
BJS gira entorno da percepção e aceitação do risco bem perto de suas casas e vidas.
Partindo desse pressuposto, supõe-se que quando respostas psicológicas de
negação ou minimização do perigo, mudanças nos comportamentos individuais e
coletivos podem não acontecer, tal como é evidenciado com os moradores desse estudo.
As mudanças nos comportamentos e atitudes geralmente sobrevêm aos mecanismos
psicológicos de fuga ou de adaptação ao estressógeno (MAUREL et al, 2009).
Renn (2004) destaca que a “permissão do risco” pode ser guiada pela ignorância
ou obviamente pelo otimismo ou falsa percepção, que satisfazem a prescrição do risco
pragmático e da política tecnológica. Este autor revela que a inabilidade de muitas
pessoas em entender estados probabilísticos ou reconhecer o risco a longo prazo de
fontes de riscos familiares é com certeza um problema a ser considerado em áreas que
podem ser beneficiadas com o trabalho de comunicação de riscos, através de medidas
educacionais e de informação.
A exploração em campo nos possibilitou averiguar que 70 anos, praticamente,
o amianto vem dominando todo o ambiente daquela região. Ainda hoje, os rejeitos de
rochas de amianto são espalhados por toda a cidade e utilizados na pavimentação das
ruas, agora sob o calçamento com paralelepípedos e na construção dos alicerces das
casas. Observemos as duas fotos abaixo sobre a situação ambiental de amianto neste
município:
147
Foto 09: Rochas de amianto no centro da cidade de Bom Jesus da Serra/BA, acervo pessoal, 2010.
D´AREDE (2009) descreve que as rochas de amianto, ainda existentes na região
de BJS, não são compreendidas como ameaça e perigo, e permanecem sendo exploradas
de uma pedreira clandestina, do outro lado da mina, comercializadas e utilizadas pela
comunidade para alicerçar casas, muros e cobrir buracos.
Negar que o amianto esteja presente tão perto das casas ou mesmo no interior
delas e/ou negar que existem grandes riscos à saúde por causa desta situação, talvez,
seja a única solução encontrada por muitos moradores para se proteger do perigo. O
fenômeno da negação do risco tem se mostrado como uma importante característica da
percepção de risco e tem sido relacionado ao que se chama de otimismo não realista,
portanto, tem sido responsável pelo “fato das pessoas muito freqüentemente alegarem
serem menos sujeitas ao risco do que outras” (SJOBERG, 2000, p.2).
A negação do risco predominou nas respostas dos moradores entrevistados em
todas as questões relativas ao ambiente e à saúde, pois os dados revelaram que eles
parecem acreditar que a chance de desenvolver doenças produzidas pelo amianto era
pequena. Este fato também tem sido demonstrado em outros estudos de abordagem
psicométrica. Slovic (2000) relatou que jovens fumantes perceberam que apresentam os
mesmos riscos à saúde dos que os não fumantes.
Quando os riscos são vistos como um destino inevitável, as únicas alternativas
para as pessoas que assim os julgam seriam escapar da situação de risco ou negar a sua
existência. O mecanismo da negação do risco é utilizado quando as pessoas não
enxergam as suas conseqüências como freqüentes e sim como eventos raros de ocorrer.
Embora os riscos à saúde da exposição ambiental ao amianto possam não ser tão raros
assim em meio à comunidade desse estudo (suposições baseadas nos resultados desse
148
estudo e de avaliações técnicas dos riscos), as dificuldades de se visualizá-los os tornam
eventos raros, contribuindo para o reforço psicológico de negação deles (RENN, 2004).
Nesse contexto, a identidade de risco invisível para os moradores pode ser
entendida a partir de construtos sociais sobre o amianto e a mina, que parecem ser
naturais, familiares e pertencentes há algum tempo ao seu mundo de vida cotidiana, pois
passam a idéia de que eles preferem encarar o amianto aos redores de suas casas como
um fenômeno tão natural quanto a sua ocorrência na natureza (D´AREDE, 2009).
Outros, ainda, apresentaram um elemento representativo em destaque: a vontade de
mudar a realidade, mas relataram que se sentem impotentes enquanto sujeitos ativos
deste processo.
É importante destacar que a familiaridade e a naturalidade permitem colocar o
amianto em um patamar mínimo de controle por parte do grupo. Para alguns
participantes, quem exerce o controle atual sobre a situação do amianto no município é
o poder político local e a empresa. Alguns Agentes comunitários de saúde de BJS
revelaram que existiu algum tipo de mobilização com o intuito de controle social
sobre a situação do amianto no município, a partir da ABEA (Associação Baiana de
Expostos ao Amianto), mas que no momento, encontra-se passiva, calada. A
organização social e política local podem interferir na percepção individual e coletiva da
população afetada (FREITAS, 2000).
A ausência de um controle social efetivo sobre os problemas ambientais do
município demonstra a fragilidade da população em termos de condições de vida, o que
a predispõe à governabilidade. As falas dos moradores mostraram que a comunidade
parece perdida, sem confiança e sem esperança na capacidade do poder público em
garantir iniciativas de mitigação das conseqüências do desastre ambiental do amianto
realizado pela empresa SAMA (responsável pela ex-mineração). Desta forma, na falta
de organização e cumprimento do poder público, os riscos ambientais e à saúde pelos
moradores tenderam a ser naturalizados (MCDANIELS et al ,1996; DE MARCHI &
RAVETZ, 1999).
Pode-se perceber na interação com a comunidade que a invisibilidade sobre o
risco parece, de certa forma, amenizar o medo e caracterizá-lo como incontrolável,
porém distante. Assim, embora se reconheça que o amianto produza conseqüências
fatais e conhecidas, ele parece ser percebido como um perigo observável, antigo,
distante e naturalizado e por isto, não ameaçador para aquela comunidade.
149
Muitos moradores parecem utilizar estratégias defensivas para selecionar as
evidências do risco e assim, perceberem aquilo que querem realmente perceber, ou
seja, perceber que o risco não existe; ou que o risco existe, mas não nada a ser feito
para modificá-lo ou ainda, que o risco existe, mas é inalcançável, distante. Estas são as
três situações que podem ser traduzidas, predominantemente, pelas percepções dos ex-
trabalhadores, moradores próximos à mina e das demais áreas, respectivamente.
Se pensarmos do ponto de vista real, a negação dos riscos, majoritariamente
pelos moradores do estudo, fundamenta o comportamento coletivo passivo. No entanto,
a relação complexa percepção-comportamento se mostra por vezes contraditória, tal
como no estudo de Steward-Taylor & Cherries (1996), em que não foi possível
confirmar a hipótese sobre quanto maior o nível de percepção de riscos, mais
direcionado seria o comportamento do trabalhador para reduzir o risco de exposição
ocupacional ao amianto.
Entre os moradores desse estudo, a invisibilidade dos riscos relacionados à
exposição ambiental ao amianto acaba por determinar a permanência desta situação,
assim como contribui para ampliar os riscos à saúde e a degradação ambiental, uma vez
que continuam a explorar as rochas de amianto da região.
Três medidas seguras por parte da população local seriam a não utilização das
pedras de amianto ou de seus produtos a base de amianto em seus domicílios, o combate
a todas as formas de comercialização e uso destas pedras e produtos e a não visitação e
não utilização do espaço da mina abandonada. Outro comportamento adequado seria o
de mobilização social para resgate dos direitos ambientais e a saúde através de medidas
de recuperação da área degradada ambientalmente e melhorias de todos os aspectos
ambientais da cidade com o intuito de conseguir alcançar uma boa qualidade de
ambiente e vida.
As respostas aos riscos dependem de uma série de fatores econômicos, políticos,
culturais e individuais articulados ou não e por isto, têm sido considerados como
construtos sociais que influenciam as atitudes frente aos riscos (MCDANIELS et al,
1996; WILDAVSKY & DAKE, 1990). No entanto, SJOBERG (2000) descreveu se a
percepção é um fator crucial para a mudança de atitude frente ao risco, ela é atribuída a
valores específicos de indivíduos ou grupos.
150
Sitkin & Weingart (1995) revelaram que a percepção de risco parece não
determinar sempre a tomada de decisão de um indivíduo em manter um comportamento
arriscado e quando o indivíduo declara níveis mais elevados de propensão ao risco, ele,
também, refere menos percepção do risco. Assim, sugere-se que a relação entre a
tomada de decisão sobre o comportamento individual perante os riscos e a situação-
perigo seja mediada pela percepção de riscos, mas que isto ocorra de acordo com
valores, ganhos ou perdas específicos das histórias de vida pessoal.
Outro aspecto que parece intermediar a negação do risco e a atitude frente a ele é
a questão da vulnerabilidade, em seus diversos “universos” particulares. A
vulnerabilidade da população de BJS é exacerbada pela invisibilidade dos riscos
ambientais, que por sua vez, também pode determinar o auto-julgamento de
invulnerabilidade pelo grupo. Lapsley & Hill (2010) concluíram que o sentimento de
invulnerabilidade é correlacionado ao comportamento de risco pelo público, mas a
invulnerabilidade como um construto subjetivo difere do otimismo psicológico parcial,
que é um construto de tomada de decisão. Todavia, as duas formas de
invulnerabilidade- invulnerabilidade ao perigo e invulnerabilidade psicológica- foram
mais associadas ao comportamento de risco do que o otimismo. Neste contexto, o
comportamento de risco da comunidade desse estudo pode estar relacionado a uma
percepção coletiva de invulnerabilidade ao amianto.
Assim, pressupõe-se que a invisibilidade dos riscos relacionados ao amianto
venha ocorrendo por toda a comunidade de Bom Jesus da serra/BA 43 anos, e que
também, possa estar acontecendo a 30 anos no município de Minaçu/Go. Uma surpresa
ainda maior foi tomar conhecimento de que o lago de Cana Brava, produzido pela
atividade da mineração desenvolvida pela SAMA a mesma mineradora responsável
pela mina de BJS-, é considerado como uma grande potencialidade turística pelos
moradores locais e por alguns pesquisadores do estado de Goiás, que esquecem ou
desconhecem o perigo desta prática para a saúde pública, uma vez que é uma área
totalmente contaminada pelo amianto e seus resíduos após processamento industrial
(PEREIRA & ALMEIDA, 2009).
Muitas vezes a realidade das percepções de risco pelo público não está em
concordância com as avaliações técnicas dos riscos, no entanto, não pode ser ignorada
para a política de manejo dos riscos, pelo contrário, é um aspecto fundamental para
averiguar possíveis necessidades e mal entendidos que precisam ser explorados através
151
do processo de comunicação de riscos. Em países desenvolvidos, como nos Estados
Unidos, as percepções públicas dos riscos são mais consideradas para o estabelecimento
de prioridades pelos órgãos regulatórios do que as estimativas técnicas do risco. No
Brasil, como são pouco valorizadas as crenças e opiniões públicas sobre os riscos,
atitudes políticas são tomadas sem a participação e a opinião popular (SLOVIC, 1997;
SJOBERG, 2000; FREITAS, 2000; BARNES, 2001).
Nesse contexto, embora a invisibilidade social dos riscos do amianto seja bem
pronunciada cientificamente em nosso país, ainda, reflete uma sociedade que tolera
riscos oriundos de poderosas autoridades e empresas, enquanto que algumas sociedades
têm o considerado como uma ameaça à saúde pública, defendendo o seu banimento total
(CASTRO et al, 2003; MENDES, 2007; JANSSEN, 2005).
Mas décadas, o pensamento a nível global não era este. A percepção da
população mundial sobre o amianto e seus riscos tem evoluído mais consistentemente a
partir da década de 50, com a descoberta da asbestose como uma doença industrial.
Embora medidas de segurança fossem estabelecidas em lei a partir desta época, por
conta do estímulo ao crescimento econômico, nem empregadores nem trabalhadores
tinham interesse em utilizar estas medidas de proteção no trabalho com o amianto. À
medida que pesquisas foram confirmando a associação entre câncer e amianto, pressões
sociais de diversos segmentos das sociedades (cidadãos, ambientalistas, políticos,
cientistas) foram exercidas a fim de banir totalmente o amianto, pois lutavam pelos seus
direitos a um ambiente seguro e livre de riscos. O banimento do amianto em muitos
países reflete a democratização e a emancipação de seus movimentos sociais
(JANSSEN, 2005).
A dimensão abstrata que a invisibilidade dos riscos adquire, conduz ao
mascaramento da dimensão concreta de uma complexa situação de vida do grupo de
moradores do município de BJS e demonstra a necessidade urgente de ações de
comunicação de riscos e ações do poder público voltadas para este e outros grupos
populacionais vulneráveis que estejam situados à margem dos problemas ambientais e
de saúde decorrentes do amianto. No entanto, para que bons resultados do trabalho de
comunicação de riscos sejam à mudança de atitudes na direção da redução e eliminação
dos riscos, diferentes componentes da tríade percepção-comunicação-atitude devem ser
bem estreitados e conhecidos (SJOBERG, 2000; AKKO, 2004).
152
V.5- Fatores determinantes na percepção da população de Bom Jesus da Serra/BA
sobre a exposição ambiental ao amianto
Nesta categoria pretendemos discutir sobre os fatores que se mostraram
marcantes na determinação da percepção de risco de moradores do município de Bom
Jesus da Serra/BA. Seguiremos o agrupamento de determinantes nas seguintes
subcategorias, conforme o estudo de Sjoberg e Drotz-Sjoberg (1994): fatores
relacionados ao tipo de perigo; fatores relacionados ao contexto social; fatores
relacionados com o contexto das opiniões sobre o risco; fatores relacionados com
características individuais.
1-Fatores relacionados ao tipo de perigo:
-Voluntariedade do risco:
A observação em campo com a análise dos resultados permitiu mostrar que
embora o risco seja involuntário, atualmente, para toda a população do município,
alguns indivíduos ainda têm atitudes de exposição voluntária, pois insistem em
comercializar e manipular as rochas de amianto ou mesmo freqüentar a mina, sabendo
ou não que é um lugar extremamente perigoso. Apesar disto, a maioria dos moradores
demonstrou ter grande preocupação sobre a mina abandonada e os rejeitos de amianto
que se encontra em seu interior, relacionando-os a um risco para a saúde humana.
Entretanto, o risco parece ser aceito, o que condiz mais com o fato de ser caracterizado,
também, como voluntário, conforme é referenciado por diversos estudiosos no assunto.
Ao mesmo tempo, o risco parece despertar grande preocupação, estando adequado com
a característica de involuntário (SJOBERG, 2000; SLOVIC, 1987; ATSDR, 2009).
Nesse nível de análise, podemos entender que a experiência do risco da
população desse estudo é involuntária, devido ao impacto psicológico e grande interesse
dos sujeitos ocasionado pela freqüência contínua e diária do risco e à própria construção
sócio-histórica de imposição do risco. A percepção do risco pelas pessoas no início da
inserção do risco, na época da implantação da mineração na cidade revela-se,
possivelmente, bem diferente da atualidade. No âmbito desse entendimento, temos o
estudo de Barnett & Breakwell (2001), que identificaram que a experiência do risco era
153
melhor descrita quando se incluíam medidas de positividade e negatividade nos
resultados em relação à sua voluntariedade ou não e que o alcance do impacto desta
experiência estava diretamente relacionado à sua freqüência. Por exemplo, este estudo
mostrou que a inter-relação das experiências involuntárias com o interesse sobre o risco
era positiva, enquanto que esta relação com experiências voluntárias era negativa. Os
indivíduos quando experimentam uma situação de risco de forma involuntária, ou seja,
experimentam o risco por causa das ações de outros (ex.: fumante passivo), passam a se
interessar mais pelo risco, mas quando experimentam uma situação de risco de forma
voluntária (ex. fumante ativo), a preocupação sobre o risco é menor. Pode ser difícil
para o sujeito encarar a situação real de risco como proveniente única e exclusivamente
de sua própria responsabilidade.
Este fato, também, pode ser observado em nosso estudo com a negação ou
minimização do risco por alguns moradores que eram ex-trabalhadores da mina de
amianto, pois como suas participações no risco eram voluntárias e não são mais,
embora muitos desconhecessem na época de suas atividades laborais a profundidade e a
extensão dos problemas que poderiam ser ocasionados pelo amianto, procuram reagir de
forma a não se preocuparem muito com a fonte do risco.
O estudo de Slovic (2000), também, reafirmou essa idéia através da
demonstração de um nível de negação por parte de adolescentes fumantes (que se
expõem voluntariamente ao risco) sobre os riscos a curto prazo para a saúde.
-Grau de controle:
Os riscos ambientais e à saúde no município do estudo se caracterizam, também,
como incontroláveis (a exposição ao amianto se encontra disseminada em várias áreas
do ambiente), confrontando-se mais uma vez com a característica de involuntariedade, e
assim conseqüentemente, podem estar favorecendo para elevar os níveis de preocupação
da comunidade de estudo sobre o risco (SLOVIC, 1987; SJOBERG, 2000; ATSDR,
2009).
No estudo de Sjoberg (2000), o nível de controle percebido do perigo foi
questionado pelos respondentes (em qual grau a pessoa poderia se proteger do perigo) e
diferenças significantes foram apontadas nas avaliações sobre o grau de controle entre o
risco geral (para qualquer pessoa) e o risco pessoal, sendo este sempre com um controle
maior sobre o risco (estratégia de negação do risco). Assim, neste estudo o grau de
154
controle foi aparentemente uma importante variável na contabilidade para a negação do
risco.
Lapsley & Hill (2009) relatam: ―Invulnerabilidade subjetiva e otimismo parcial
mostram-se também ser empiricamente construtos distintos com capacidades
diferenciais para adaptação e predizer ao risco‖.
Sujeitos podem prever um risco baixo ou inexistente conforme não admitem a
sua vulnerabilidade à exposição ao perigo e demonstram certo grau de controle pessoal
sobre esta situação. Ao encontro dessa hipótese, temos o otimismo de muitos moradores
que referiram uma chance baixa de vir a ter câncer e doenças pulmonares (ocasionadas
classicamente pela exposição ao amianto) residindo em seu município e, também,
demonstraram que o risco (a mina abandonada de amianto) é incontrolável, mas está
distante, ou seja, guiados pelo empirismo assumem que o risco está sob certo grau de
controle para eles.
SLOVIC (2000) confirma em sua pesquisa o que os outros estudiosos
investigaram também, que jovens fumantes minimizam ou negam o risco oriundo de
cada cigarro fumado porque eles acreditam que irão parar de fumar antes que algum
prejuízo à saúde ocorra. Nesta pesquisa os jovens acreditam que o risco voluntário está
sob controle, pois ele deixará de existir antes que ocorram as suas possíveis
conseqüências.
-Familiaridade: e Naturalização:
A familiaridade é considerada outra característica intrínseca ao perigo que
interfere na percepção e aceitabilidade do risco (SLOVIC, 1987; FREITAS, 2000).
Riscos exóticos, não familiares contribuem, geralmente, para elevar o nível de
preocupação dos indivíduos e para a não aceitação deles (FREITAS, 2000; ATSDR,
2009).
McDaniels et al (1996) explicam que quando as atividades humanas da vida
diária, que se caracterizam em fontes de riscos ecológicos globais, são completamente
familiares, elas passam a ser aceitas como algo indispensável à sua vida cotidiana. Uma
situação perigosa pode produzir efeitos maléficos no meio ambiente e/ou na saúde a
curto ou em longo prazo, mas quando se caracteriza como uma atividade ou elemento
155
familiar, que faz parte da vida cotidiana das pessoas, os seus atributos negativos não são
percebidos por elas (BRILHANTE & CALDAS, 1999).
Nesse sentido, quando os riscos e as suas fontes em questão são familiares aos
indivíduos expostos, a preocupação sobre eles é reduzida e há melhor aceitabilidade, é o
que parece ocorrer com os moradores desse estudo. Apesar do amianto ser considerado
pelo público geral como um risco exótico em algumas pesquisas, ele aqui faz parte de
uma contextualização cultural, social, econômica e histórica no município, sendo
caracterizado como um risco naturalizado (invisível) ou minimizado (FREITAS, 2000;
SLOVIC, 1987).
Os moradores relataram sobre o amianto e a mina desativada como algo comum
e familiar desde a época da instalação da mineração no município. Ao terem descoberto
o amianto em meio ao mundo natural, desconhecido, os homens moradores,
“apropriadores” de uma região abundante neste mineral, passaram a personificá-lo em
imagens simbólicas e pensamentos míticos, o que segundo D´AREDE (2009) ajudou a
comunidade a apreender sobre este mundo natural e a domesticá-lo, mas que se
concretizou a partir do início da atividade da mineração no local.
É justamente na construção de conhecimentos e experiências na sua vida
cotidiana, a partir de sua relação com o mundo natural (amianto) que o homem encara
com tanta naturalidade a presença de rochas de amianto espalhadas por toda a cidade,
oriunda de sua manipulação e comercialização para diversos fins, ainda freqüente, que
não é vista como risco.
Portanto, a percepção e o comportamento de risco da comunidade de Bom Jesus
da Serra parecem ser fortemente influenciados pelas heranças sócio-culturais
constituídas em nosso imaginário, onde se deve considerar o caráter de ―estocagem‖
do conhecimento adquirido na luta pela sobrevivência” (D`AREDE, 2009, p.53).
-Medo extremo:
Este, talvez, seja um fator importante para a negação de alguns moradores do
estudo sobre a possibilidade de ocorrência de câncer e doenças pulmonares entre
pessoas residentes no município de Bom Jesus da Serra/BA, doenças que
possivelmente, pelas estimativas técnicas do risco, já devam acometer ou já acometeram
alguns moradores e/ou ex-trabalhadores da mina. Outra razão para chegarmos a essa
156
conclusão é que a maioria dos moradores do estudo parece perceber a seriedade dessas
doenças, não desejando que as mesmas venham a acometê-los.
Considerar o risco como invisível para alguns pode ter sido, também, uma
estratégia atrelada ao medo extremo sobre os seus tipos de conseqüências e a
irreversibilidade destas, uma vez que a grande maioria dos entrevistados pareceu ter
conhecimento sobre problemas graves de saúde decorrentes da exposição ao amianto.
Os próprios termos perigo, risco incidem pensamentos que envolvam um medo
específico de que algo ruim ocorra. Embora a percepção pública de risco de uma
determinada tecnologia ou atividade industrial seja relacionada ao medo específico de
apenas uma das suas possíveis conseqüências ou de apenas um tipo de perigo quando
muitos outros podem ser associados, devemos buscar entender os elementos que
cerceam esta percepção para que novas estratégias possam ser desenvolvidas com o
intuito de amplificação social do risco. O mesmo perigo também poderá gerar um maior
ou menor medo nas pessoas, o que dependerá do tipo de atividade ou tecnologia
envolvida. Por exemplo, um estudo mostrou que as tecnologias de diagnóstico de raio-x
e de poder nuclear foram percebidas de formas muito diferentes, embora ambas
envolvam radiação ionizante (SJOBERG, 2000; SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG,
1994).
As causas do medo e os tipos de riscos que se tem mais medo por sujeitos de
uma comunidade específica parecem se interligarem numa construção de redes mentais
de percepção e atitude individual com significados que refletem a interferência de
fatores cognitivos, sociais, culturais, econômicos. Os estudiosos Wildavsky & Dake
(1990) indagaram qual teoria poderia melhor predizer quem tem medo, do que e por
que, dentre as diversas modalidades de teorias que relatam sobre as percepções de riscos
baseadas no conhecimento, personalidade, economia, política ou cultura e em suas
análises referiram que a teoria cultural tem uma grande contribuição na explicação do
medo e da percepção do público sobre uma variedade de riscos, pois dependem da
maneira que este sustenta seu modo de vida.
- Forma de aparecimento dos efeitos e irreversibilidade das conseqüências:
Embora muitos moradores tenham relacionado o amianto ao desenvolvimento de
doenças graves (câncer, doença pulmonar), a maioria não identificou uma chance
elevada de ter uma destas doenças apenas por residir no município de Bom Jesus da
157
Serra (BA), o que transcede a idéia de que existe um bloqueio psicológico por parte de
alguns no reconhecimento que o amianto possa produzir neles efeitos graves à saúde. A
probabilidade da ocorrência destes efeitos nos moradores evidenciou uma situação de
invisibilidade dos riscos à saúde. O estudo de Sjoberg (2001) apresentou a
probabilidade do risco como um preditor mais importante nos estudos de percepção do
risco do que os efeitos oriundos do perigo.
No entanto, as percepções de alguns moradores sobre o risco e suas
conseqüências eram mais bem formuladas por aqueles que tiveram experiências de
convívio com problemas de saúde crônicos em amigos e familiares. Este fator de
surgimento de efeitos crônicos e irreversíveis nos próprios indivíduos ou em outros ao
seu redor, proporcionados pelo perigo, pode ter contribuído para desencadear a
percepção de riscos neles (FREITAS, 2000).
O longo período de latência das doenças causadas pela exposição ao amianto é
um dos fatores que certamente contribui para invisibilizar o risco nessa comunidade,
assim como ocorre na sociedade (ABREA, 2009; MENDES, 2000).
O estudo de Sjoberg & Drottz-Sjoberg (1991) evidenciou que os empregados de
uma indústria de radiação nuclear que deram valores mais elevados para o risco, eram
os que estavam mais estressados com as conseqüências deste risco. Há a possível
relação entre perceber as possíveis conseqüências drásticas para a saúde e o ambiente e
o nível de preocupação sobre o risco. A população, em geral, tende a aceitar menos os
riscos de elevadas conseqüências e baixa probabilidade, tal como um acidente em uma
usina nuclear (HABERMANN & GOUVEIA, 2008).
Os sujeitos que conseguiram melhor perceber as possíveis conseqüências para a
saúde provenientes do perigo, foram aqueles que melhor identificaram as formas de
exposição e os que atribuíram notas mais elevadas para a chance de vir a ter estas
conseqüências. Apesar disto, nenhum morador nos falou diretamente sobre a
irreversibilidade destas conseqüências e que os efeitos poderiam surgir a longo prazo,
mas pressupõe-se que alguns deles entendem a natureza cumulativa do risco, como
podemos observar na seguinte fala:
―Agente adquiri as doenças pela inalação do amianto, que acontece todo o dia‖.
(Morador 25, 28 anos).
158
Slovic (2000) averiguou que o aparecimento de efeitos a curto ou a longo prazo
foi percebido de acordo com o tipo de exposição ao perigo, se aguda ou crônica,
conforme descreveu: “...a maneira em que as pessoas percebem os riscos cumulativos a
longo prazo está associada com exposições repetidas ao perigo‖(SLOVIC, 2000,
p.265).
Contudo, a natureza não cumulativa do risco parece não ser percebida pelos
moradores desse estudo. Mesmo aqueles moradores que informaram o câncer como
possível problema de saúde decorrente da exposição ao amianto, tivemos a impressão
que eles desconhecem os tipos de cânceres que poderão ser acometidos e a sua relação
dose-resposta, ou seja, uma única dose de exposição pode produzir efeitos irreversíveis
e malignos, apesar de não termos tido a intenção de aprofundar esta investigação.
Entender que uma ou poucas fibras de amianto inaladas poderiam causar um
mesotelioma maligno parece ser um conhecimento que nunca foi sequer introduzido
entre qualquer indivíduo dessa comunidade exposta. Este, talvez, seja mais um dos
motivos da não percepção adequada pelo grupo dos tipos de efeitos que poderão ser
produzidos em seu organismo proveniente da exposição ao amianto.
-Incerteza científica:
Alguns moradores demonstraram que não acreditam que possam a vir a ter
doenças graves e mortes devido ao risco da exposição ao amianto, ou seja, ainda
indagam sobre a probabilidade dos efeitos graves decorrentes da exposição ao amianto
na forma de questionamento da ciência. Alguns alegaram que a maioria dos ex-
trabalhadores que tiveram contato direto com o amianto morreu de velhice. Um relato
interessante de um ex-trabalhador morador evidenciou a descrença sobre o risco e a
invisibilidade de suas conseqüências:
―As pessoas que morreram aqui, morreram acima dos 70 anos. Não vou contra a
ciência, mas...‖ (Morador 61, 70 anos, ex-trabalhador da mina de amianto).
Este caso pode evidenciar que pessoas idosas com história pessoal de exposição
a um fator de risco (amianto) durante grande parte de sua vida que não tenham
apresentado até o atual momento, sintomatologia clínica correspondente a um agravo
severo ou tenham falecido em idade bem avançada, geralmente se recusam a perceber a
ideologia do risco.
159
Castiel (1996) descreveu que as situações de exposição não se apresentam de
modo a permitir que as previsões dos agravos sejam certas e indiscutíveis e assim,
sempre haverá a possibilidade de ocorrerem imponderabilidades incontroláveis. Por
causa disto, muitos discursos populares são resistentes às características inerentes aos
pressupostos da probabilidade e podem ser baseados, muitas vezes, em experiências
pessoais e representados por: alguém de idade avançada, cuja exposição a fatores de
risco no decorrer da vida não alterou sua saúde ou sobrevida ou alguém jovem, sem
história de exposição que, inesperadamente, sucumbe em virtude a um evento vinculado
a um reconhecido fator de risco.
O público leigo tende a dar menor importância à confiabilidade científica do que
ao desconhecimento dos efeitos resultantes do risco para a formulação de sua percepção
do risco, pois acreditam que claros limites no conhecimento científico pelos
especialistas (SJOBERG, 2000).
Embora muitos ex-trabalhadores da mina e moradores possam ter doenças
resultantes da exposição ambiental e/ou ocupacional ao amianto, podem não apresentar
os sinais e sintomas físicos por causa do longo período de latência, o que pode estar
contribuindo para a falta de credibilidade científica e julgamento errado do risco.
O público parece reconhecer mais os limites da ciência, do que os próprios
especialistas e especificamente sobre os riscos. A interferência do conhecimento
científico sobre novos riscos oriundos de novas atividades industriais e tecnológicas,
tais como a aplicação médica e em alimentos da biotecnologia, pode se revelar como
um fator preditor da percepção de riscos. O público julga os riscos provenientes de
aplicações médicas da biotecnologia como novos e menos reconhecidos pelas pessoas e
pela ciência (SAVADORI et al, 2004).
No entanto, Renn (2004) destaca que a discrepância entre a avaliação técnica por
especialistas e a avaliação intuitiva pelo público sobre os riscos não se deve, em
primeira instância, à incerteza sobre resultados estatísticos ou à expressão de processos
de pensamentos inverificáveis, mas sim de um indicador de avaliação multidimensional,
em que assumir o risco é apenas um dos muitos fatores de influência na percepção de
riscos.
160
2-Fatores relacionados ao contexto social:
-Distribuição equânime de riscos e benefícios:
Os benefícios do risco foram relatados por ex-trabalhadores da mina e
moradores, mas não por seus familiares ou qualquer outro sujeito entrevistado. O fato
dos familiares de ex-trabalhadores ressaltarem apenas malefícios ocasionados pelo risco
parece ter sido interferido pelos danos causados a alguém conhecido ou querido, por
meios de comunicação e por pesquisadores locais.
As pessoas tendem a mudar suas percepções de riscos quando o alvo é diferente,
pois percepções diferentes quando os riscos atingem grupos diferentes. As
estimativas do risco pelo público leigo se modificam quando o risco é relacionado aos
seus familiares, a eles mesmos ou a outros grupos (SJOBERG, 2000).
Em relação aos ex-trabalhadores, estes ressaltaram benefícios da época da
atividade de mineração de amianto no município, tais como: renda e emprego para a
população local.
Muitas vezes, os indivíduos mais expostos diretamente a alguns riscos tendem a
apresentar sentimentos e opiniões a favor do risco, por causa do benefício que o risco
lhe confere. Os indivíduos tendem a desenvolver mecanismos defensivos psicológicos
para procurar entender e aceitar aquele risco como algo que está lhe beneficiando,
muitas vezes, em detrimento, às conseqüências negativas que ele pode provocar ou
provocou. PERES (2003) demonstrou este fato com trabalhadores rurais em relação à
sua exposição direta aos agrotóxicos.
MCDANIELS et al (1996), também, demonstrou a influência dos benefícios
humanos como um aparente fator moderador na percepção do risco ambiental e a
potencial influência da dissonância cognitiva em bloquear todo o reconhecimento das
conseqüências de nossas atividades diárias, que ambos devem servir como obstáculos
grandes para perceber a relação entre muitas destas atividades e os problemas
ambientais globais.
Os benefícios da fonte do risco (tecnologia ou atividade industrial, por exemplos)
ressaltados por indivíduos, se constituem em fatores que influenciam fortemente as suas
percepções de risco (SJOBERG, 2000).
161
Slovic (1996) ressaltou entre suas diversas pesquisas sobre percepções de riscos
da radiação que a percepção e aceitabilidade pelo público são determinadas pelo
contexto em que a radiação é usada, incluindo os benefícios do seu pela medicina.
No estudo de Savadori et al (2004), também, se pode evidenciar que as dimensões
que envolveram os benefícios, a aceitabilidade dos riscos, os poucos prejuízos para o
homem e o meio ambiente e a ausência de riscos que causem bastante medo
constituíram o primeiro fator preditor da percepção de riscos sobre a aplicabilidade
médica da biotecnologia, que foi denominado de “aplicação proveitosa e inócua”. O
público leigo parece aceitar, muitas vezes, a fonte de riscos pelos benefícios que eles
percebem em receber, porém não tolerar muito os efeitos produzidos por ela.
Nesse sentido, a relação risco-benefício parece ser sempre analisada e percebida,
seja por especialistas seja pelo público leigo.
-Participação direta nos processos decisórios ou de gerenciamento dos
riscos:
Embora muitos moradores tenham demonstrado insatisfação com a situação de
risco pelo amianto, se mostraram incapazes de desenvolver ações individuais ou
coletivas a fim de atenuá-la ou eliminá-la de seu meio de convívio. Alguns moradores
relataram que não sabiam quais ações eles poderiam estar desenvolvendo para atenuar a
situação de risco.
Existem reuniões com a participação de alguns cidadãos e da ABEA local para a
tomada de decisões acerca de medidas de resgate da área degradada ambientalmente.
Apesar disto, estas iniciativas limitadas parecem ainda não serem capazes de mobilizar
grande parte da população para participar da busca por melhoria das condições de vida e
trabalho no município e pela redução da situação de exposição ambiental ao amianto. A
organização de um movimento social (ABEA) no município parece ter influenciado a
percepção do risco por parte de muitos moradores, mas que no momento parece estar
desarticulada pelos relatos de alguns informantes. A ausência da participação nos
processos decisórios sobre o risco pelo grupo populacional afetado é um fator que
contribui para elevar sua preocupação sobre ele (FREITAS, 2000).
As diferentes participações dos indivíduos nos processos de manejo do risco
podem ser explicadas em termos de diferenças individuais sobre os níveis de tolerância
e interesse sobre o risco. As diferenças individuais em relação à experiência e ao
interesse sobre o risco podem ser incorporadas nos processos de comunicação dos riscos
162
(BARNETT & BREAKWELL, 2001). Sendo assim, o comportamento individual frente
o risco pode ajudar num entendimento maior sobre sua percepção e na elaboração de
estratégias eficazes nos processos de comunicação do risco, embora com limitações,
tendo em vista a importância também da percepção e do posicionamento do grupo neste
processo.
Além disso, as características socioeconômicas do grupo exposto parecem
interferir na participação e tomada de decisões sobre o risco a nível coletivo.
predominância de condições socioeconômicas desfavoráveis entre os sujeitos do estudo,
o que pode intervir na tomada de decisões por eles e contribuir, conseqüentemente, para
a redução do seu poder de contratualidade e de pelejar por seus direitos. Esse dado pode
ser concretizado por outros autores que identificaram vulnerabilidades socioeconômicas
de comunidades residentes em áreas circunvizinhas a complexos industriais. Os riscos
produzidos atualmente pelo amianto na população de estudo foram oriundos da
instalação de um grande processo industrial desativado 43 anos no município de
Bom Jesus da Serra/BA (CARTIER et al, 1999; PORTO & FREITAS, 1997;
AUGUSTO et al, 2009).
Embora a industrialização possa gerar renda e trabalho, as condições
socioeconômicas dos grupos de moradores que residem em áreas próximas às fábricas,
podem, também, se tornar piores e em conjunto com as situações de riscos industriais
químicos, são acentuadas as injustiças socioambientais. Este contexto de desigualdades
e vulnerabilidades pode influenciar fortemente na percepção e posicionamento do grupo
frente aos riscos, que nesse caso parece estar influenciando negativamente (CARTIER
et al, 1999; PORTO & FREITAS, 1997).
Um dos aspectos do contexto social que determina maior vulnerabilidade da
presente comunidade de estudo ao adoecimento proveniente da exposição ao amianto é
justamente o baixo poder de incorporar as informações a mudanças práticas devido ao
baixo poder de influenciar decisões políticas e de romper com barreiras culturais e
socioeconômicas, e dentre elas estão: o grau de escolaridade, a história da mineração e
do amianto no município, as condições de vida e trabalho locais (OLIVEIRA &
ZAMBRONE, 2006).
Enfim, o pouco envolvimento do grupo nos processos decisórios sobre os
problemas relacionados à segurança do lugar contribui para diferentes pontos de vista e
163
respostas entre as autoridades e o público. A estrutura de governabilidade perpetua uma
situação de iniqüidades socioambientais, enquanto que a governança faz uma ponte
entre os conflitos e interesses dos dois grupos, reduzindo riscos e construindo um local
mais seguro para se viver, através de um trabalho conjunto com as comunidades
(FREITAS, 2000; FREITAS et al, 2002; BARNES, 2001).
3-Fatores relacionados com o contexto das opiniões sobre o risco:
-Grupo de risco e alvo do risco:
A análise dos dados parece demonstrar que a maioria dos moradores entende que
os riscos afetam o grupo e não apenas um indivíduo e que por isto, existem ponderações
de risco para muitos, principalmente para os que residem bem próximo à mina, e não
para um só indivíduo.
A impressão de que o risco parece atingir apenas um grupo de moradores que
moram bem próximo à mina pode estar influenciando a formulação da percepção e da
aceitabilidade do risco pela população do município. O entendimento correto sobre o
sentido amplo de exposição ambiental ao amianto mais uma vez parece não se afirmar,
através da preocupação de muitos moradores sobre os riscos à saúde apenas para as
pessoas que residem em áreas circunvizinhas à mina e trabalhadores.
Supõe-se assim, que os informantes não percebem que todo o grupo é vulnerável
a essa situação de risco (da mesma forma que não assumem o risco coletivo), porque
tem pouco ou nenhum controle sobre o risco de adquirir uma doença por causa da
exposição ambiental ao amianto e para aqueles que já apresentam efeitos clínicos,
porque têm pouca ou inadequada assistência à saúde, exceto os ex-trabalhadores da
mina que possuem um tratamento e acompanhamento médico pela empresa
(OLIVEIRA & ZAMBRONE, 2006).
A manutenção do comportamento de risco pelo grupo pode ser explicada pela
percepção errada da maioria dos moradores sobre a sua invulnerabilidade ao perigo e
suas conseqüências, decorrente, talvez, de uma resposta psicológica adaptativa
individual ou coletiva (DEJOURS, 1992; LAPSLEY & HILL, 2010). Lapsley & Hill
(2010) explica que uma abordagem que trata a invulnerabilidade como otimismo
parcial, ou seja, uma funcionalidade adaptativa advinda de um processo de cognição de
parcialidade que importuna a tomada de decisão individual e que faz os indivíduos
assumirem mais condições favoráveis para si próprios do que para outros.
164
À luz desses conceitos, a percepção do risco apresenta variabilidade intergrupal
ou intragrupal, conforme o alvo direto deste risco, ou seja, as pessoas não percebem da
mesma forma o risco real quando ele atinge a elas mesmas, aos seus familiares, ou à
população em geral. Quando diferentes alvos do risco são propostos em estudos de
percepção do risco, verifica-se que os valores atribuídos ao risco pelos sujeitos são bem
diferentes. Neste caso, a experiência direta ou indireta do indivíduo com o risco
influencia em sua percepção realista, pois ter experimentado uma situação de vida com
as conseqüências do risco em si mesmo, em familiares ou em outras pessoas de sua rede
social ou não favorece uma percepção bastante diferenciada do risco (SJOBERG, 2000).
Aqui, indagou-se sobre a comparabilidade da percepção do risco entre
indivíduos que residem em localidades diferentes. É claro que incertezas nas
afirmativas feitas no presente estudo sobre a maior chance de uma pessoa que more no
município de Bom Jesus da Serra/Ba de vir a ter um câncer e uma doença pulmonar em
relação à outra pessoa que more em outra cidade, e ninguém poderia estar certo que o
risco de apresentar uma destas doenças é menor ou maior do que outra. Existe uma
situação complexa de exposição ambiental ao amianto neste município que sugere pelas
estimativas técnicas do risco que as pessoas que residam nesta cidade, principalmente
na imediação da mina, devam apresentar um elevado risco de ter câncer de pulmão,
asbestose, doenças pleural benigna e mesoteliomas malignos, dentre outras (MENDES,
2000; MENDES, 2001; PEDRA et al, 2008).
Uma das importantes causas dessa variação na percepção do risco entre alvos
diferentes (indivíduos ou grupos de localidades diferentes) é o fenômeno da negação do
risco, que também predominou em nosso estudo e é responsável pelo “fato das pessoas
muito freqüentemente alegarem em ser menos sujeitas ao risco do que outras”
(SJOBERG, 2000, p.2). A negação da caracterização coletiva como um grupo de risco,
por sua vez, parece estar relacionada à falta de atitudes para modificar esta situação de
risco.
-Definição de risco, com ênfase sobre as conseqüências:
O nível de conhecimento da população pesquisada sobre amianto e sua
severidade pode ser considerado bom, embora tenham existido poucas definições
erradas. Verifica-se que o nível de conhecimento de tecnologias, atividades ou produtos
perigosos e seus relacionamentos com a percepção de riscos tem sido alvo de interesse
em diversos estudos, a partir do pressuposto que as definições do risco, perigo e suas
conseqüências para o grupo populacional mais atingido possa ser um potencial e
165
importante fator na percepção de risco (SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1991;
SJOBERG & DROTTZ-SJOBERG, 1994).
Contudo, no que se refere à percepção de definição de risco ou chance, temos a
impressão que os respondentes, na maior parte das vezes, o relacionaram unicamente à
probabilidade de ocorrência de um evento relacionado ao ambiente ou à saúde e não
como uma conseqüência ou uma combinação de conseqüências e probabilidades. O
termo “chance” foi descrito no lugar do risco em algumas questões, por se tratar de um
significado mais sutil para designar a probabilidade da ocorrência da doença no
indivíduo entrevistado e que tem origem da epidemiologia que o utiliza também, como
ferramenta mensurável para estabelecer algumas associações causais em estudos que
não podem se utilizar do risco (SILVA, 1999).
No estudo de Sjoberg & Drottz-Sjoberg (1991) em que se investigaram
detalhadamente as definições de risco usadas pelos sujeitos e as relações entre as
definições de risco e os valores-índices do risco, agruparam padrões de respostas e
analisaram quatro tipos que se mostraram mais logicamente bem definidos: definição
pura de probabilidade; definição como probabilidade e combinação de probabilidade e
conseqüências, sendo a primeira como a definição principal; definição pura desta
combinação; e definição como conseqüências e combinação, sendo o risco definido
principalmente como uma questão de conseqüências. Porém, a definição que se
mostrou majoritária foi a que o significado do conceito do risco depende inteiramente
da natureza do evento, de sua probabilidade.
É mister enfatizar que o risco é considerado, na atualidade, como um vocábulo
polissêmico que ao adquirir um estatuto ontológico permanece acompanhando o
enfoque quantitativista, guiado pelo discurso biomédico, mas incorpora características
próprias qualitativas. Assim, o risco pode passar a indicar mesmo neste modelo
cartesiano que há muitas incertezas em sua conceituação, mas ainda sendo encaminhada
para três principais definições, tais como: a própria idéia de perigo; a possibilidade de
ocorrência; e a combinação destas duas concepções com os seus aspectos qualitativos.
A sociologia faz crítica a este entendimento e institui o risco como um construto
histórico e cultural. A natureza do evento ou da situação do risco possui concepções
distintas conforme seu contexto social (CASTIEL, 1996; BLAKE, 1995).
166
BLAKE (1995) relata que a noção de risco passou a agregar o perigo mais
―outrage‖ que corresponde aos aspectos qualitativos do risco- mais aceitos pelos
estudos psicométricos-, que costumavam ser ignorados por cientistas, mas atualmente,
muitos deles passaram a considerá-los em suas avaliações técnicas do risco.
Tendo esses conceitos como referência, a percepção pública dos riscos
ambientais- potenciais danos provocados no meio ambiente- nem sempre está atrelada
aos riscos à saúde- potenciais danos à saúde, embora a sociedade em geral tenha
percebido mais a possibilidade de ocorrência de eventos/problemas de saúde
relacionados aos problemas ambientais oriundos de processos produtivos, por causa das
mudanças ambientais globais, que têm sido propagadas através de diferentes meios,
principalmente, os de comunicação em massa, que por sua vez, podem distorcer
algumas informações transmitidas sobre a tríade risco-ambiente-saúde (MCDANIELS
et al, 1996; SLOVIC, 1997; BLAKE, 1995).
Em relação aos eventos possíveis relacionados à saúde produzidos pela
exposição ao amianto, a maioria dos moradores revelou que efeitos como câncer e
doenças pulmonares, dentre outras doenças podem ocorrer pelo contato com o amianto,
o pode ter ajudado na ampliação da percepção do risco. O conhecimento insuficiente e,
algumas vezes, distorcido dos moradores entrevistados sobre a etiopatogenia e
severidade de algumas morbidades pode ter favorecido a uma percepção minimizada ou
invisível do risco. Alguns estudiosos afirmam que a percepção individual da severidade
ou ameaça do perigo contribui para o aumento do julgamento do risco (FREITAS,
2000; AAKKO, 2004; RENN, 2004).
Entretanto, o nível de conhecimento do perigo e do risco em si puramente, não
deve contribuir para uma modificação na resposta individual de percepção do risco, a
inter-relação de outros importantes fatores também deve ser considerada. Wildavsky &
Dake (1990) trazem uma importante crítica sobre a teoria do conhecimento para
explicar a percepção de risco: o conhecimento do perigo nem sempre gera um bom nível
de percepção do risco. Se fosse verdade que quanto mais tivessem conhecimento sobre
o risco tecnológico, oriundo de um elevado nível educacional ou de conhecimento
atualizado sobre os resultados das estimativas técnicas do risco, mais os indivíduos se
preocupariam sobre o risco, mas é simplesmente o contrário que esses autores provaram
acontecer.
167
-Marco contextual no tempo por uma experiência negativa:
Uma experiência negativa de vida através do acometimento de uma doença séria
e, às vezes, até de morte se mostrou um fator preponderante na percepção de riscos dos
moradores desse estudo, pois foi observado nas respostas de quase todas as questões.
As experiências prévias negativas apresentam-se como respostas mentais de
valência emocional mais marcante para o indivíduo do que as positivas e desta forma, o
indivíduo lembra com mais facilidade de emoções negativas e as insere no
processamento da percepção e atitude frente às experiências atuais, do que as emoções
positivas (BALLONE, 2002).
Notou-se que os sujeitos que melhor souberam conceituar o amianto, suas fontes
de exposição e riscos para a saúde eram indivíduos que tinham vivenciado alguma
experiência prévia de doença ou morte neles próprios, em algum familiar ou amigo
próximo. Estas experiências negativas individuais parecem ter contribuído para
ampliação da percepção de efeitos adversos à saúde decorrentes do contato com o
amianto. As lembranças do que ouviram e viram sobre o risco é um aspecto que, com
certeza, interfere nas avaliações diferentes sobre o risco entre o público leigo e os
especialistas (SLOVIC, 1987; FREITAS, 2000).
A experiência pessoal do risco ou de sua conseqüência se constitui em um dos
pilares fundamentais da percepção intuitiva do risco.
PERES (2003, p.78) descreve:
Experiência, informação e background cultural formam uma tríade
indissociável de determinantes da percepção de riscos, embora estes
não esgotem os fatores relacionados com a construção da percepção
de riscos em populações e/ou grupos populacionais específicos‖.
No estudo de Sjoberg & Drottz-Sjoberg (1991) observou-se que o nível de
conhecimento de trabalhadores sobre a radiação e seus riscos era relacionado com o
tempo de experiência no trabalho e com os riscos da radiação, concluindo-se que os que
eram menos experientes consideravam os riscos maiores.
168
A capacidade de reação dos seres humanos frente a uma situação
ambientalmente perigosa faz com que habilidades de percepção e prevenção de riscos
sejam criadas diante de experiências e aprendizagens passadas (SLOVIC, 1987).
Muitos moradores relataram que ouviram falar sobre o amianto e suas
conseqüências para a saúde através de amigos, vizinhos, familiares, palestras e internet.
A atuação de diversos ambientes sociais (escola, secretaria de saúde, ABEA local,
pesquisadores, família) parece contribuir enormemente para a elaboração dos
julgamentos individuais e coletivo sobre o risco pelos moradores do município de BJS.
Assim, as experiências e aprendizagens por diferentes meios de comunicação podem ter
contribuído para a formulação da percepção de risco dos sujeitos entrevistados.
Aakko (2004) relata, também, que a percepção de riscos é fortemente
influenciada por eventos passados e pela previsão de eventos futuros. Diferentes ramos
da ciência se utilizam de experiências prévias para formular e interpor novos
questionamentos e críticas e quando são relacionados aos riscos da sociedade moderna,
se utilizam de instrumentos interdisciplinares para prever novos ou velhos
acontecimentos.
4-Fatores relacionados com características individuais:
Destacamos os seguintes fatores relacionados com características individuais dos
moradores entrevistados:
Gênero: Embora as mulheres geralmente expressem mais alta percepção
do risco do que os homens (SLOVIC, 1987; SJOBERG & DROTTZ
SJOBERG, 1994), esse estudo demonstrou que houve, possivelmente,
uma percepção mais elevada do risco entre os homens. O estudo de
Sjoberg & Drottz-Sjoberg (1991) revelou que as mulheres concordaram
mais freqüentemente do que os homens que o risco é maior ou menor de
acordo com a seriedade de suas conseqüências;
Idade: Embora, também, as pessoas mais velhas geralmente emitam
estimativas mais altas sobre os riscos (SLOVIC, 1987; SJOBERG &
DROTTZ-SJOBERG, 1994), esse estudo parece ter constatado o
169
contrário, uma vez que as pessoas da faixa etária de 20 a 30 anos tiveram
uma percepção maior do risco do que os idosos;
Educação: Em geral, a análise comparativa dos dados demonstrou que os
indivíduos com nível de escolaridade mais elevado (ensino superior
incompleto e ensino médio completo) expressaram uma maior percepção
da chance de ter câncer e doenças pulmonares do que aqueles com níveis
escolaridade mais baixos. Alguns estudos reforçam a idéia de que
pessoas com níveis de escolaridade mais elevados tendem a estimar os
riscos com valores mais elevados do que aquelas com níveis mais
inferiores (SLOVIC, 1987; SJOBERG & DROTTZ SJOBERG, 1994).
Sjoberg & Drottz-Sjoberg (1991) averiguaram que os sujeitos com nível
educacional mais elevado eram mais favoráveis em definir o risco como
uma combinação de conseqüências e probabilidades, enquanto que os de
nível intermediário tenderam a definir o risco mais como probabilidade
unicamente. No entanto, pressupõe-se que o nível educacional seja
apenas um dos fatores que devam exercer influência sobre a
interpretação do risco.
Localização da moradia: A análise total dos dados esclareceu que os
moradores de todas as áreas parecem não perceber o câncer e as doenças
pulmonares, incluindo a asbestose, como as de maior risco de acometê-
los, pois, enquanto os moradores próximos à mina parecem não priorizar
estas doenças, os moradores das demais áreas parecem priorizar apenas
as doenças pulmonares. O local de moradia seja ao redor da mina ou em
outro ponto do município não demonstrou ser um aspecto que levasse a
uma percepção diferencial do risco em relação ao amianto, pois após o
fechamento da mineração em 1967, muitos ex-trabalhadores e seus
familiares passaram a residir em diversas áreas do município, além da
região circunvizinha à mina.
Esses dados permitiram concluir que a percepção de risco pode ser influenciada
por distintas características individuais, mas quando inseridas em um contexto
sociocultural próprio da população exposta. Alguns estudos psicométricos têm buscado
correlacionar variáveis sociodemográficas (gênero, idade, ocupação, lugar de
170
residência) com percepções de risco, tão logo incorporadas na análise das características
qualitativas do risco, mas seus resultados têm mostrado fracas correlações.
O estudo de Sjoberg (2000) confirmou o que outros estudos, principalmente os
da teoria cultural do risco, têm criticado sobre a análise comparativa de características
individuais, por estas o se mostrarem promissoras para o entendimento da percepção
de risco. Este fato aponta que as percepções de risco não devam ser muito relacionadas
aos perfis de “personalidade” do perigo e nem às características próprias das pessoas
que percebem os riscos, que por sua vez, também são ajustadas nestes mesmos perfis
psicométricos (MARRIS et al, 1990).
171
VI- Conclusão
A percepção de riscos ambientais e da magnitude dos riscos à saúde entre
moradores da área próxima à mina e os das demais áreas do município de BJS/BA
parece não ter se mostrado tão heterogênea quanto se esperaria que fosse devido à
proximidade da mina. A análise conjunta dos dados evidenciou que a maior parte dos
moradores que participaram desse estudo parece não perceber que a exposição
ambiental ao amianto ocorre praticamente em todos os lugares do município por causa
da disseminação das rochas de amianto, embora a mina propriamente dita se apresente
como a ameaça maior, por causa da degradação da área das rochas e do acúmulo das
“pilhas” de resíduos de amianto gerados durante o processo fabril e que estão
depositados neste espaço físico.
A exposição ambiental ao amianto em BJS realmente se apresenta como uma
situação de risco ambiental e à saúde humana bastante complexa e a definição de
caracterizá-la pelo contato do homem com as fibras respiráveis de amianto no ambiente
interno ou externo ao seu domicílio pode não ser interpretada e compreendida
adequadamente pelos moradores entrevistados. A percepção de algum grau de risco à
saúde por poucos moradores pareceu se remeter às formas de contato com amianto em
ambientes que contenham descarte de resíduos de amianto e de residir nas proximidades
da mina desativada (CASTRO et al, 2003; TARRES et al, 2009; MENDES,2000).
Freqüentar locais públicos onde haja materiais ou construções de amianto degradados e
ambientes que contenham o descarte de produtos ou das próprias rochas de amianto não
foi citado em nenhum momento como possível forma de exposição ao amianto pelos
moradores.
Todavia, mesmo as estimativas técnicas do risco não fazem alusão a grupos ou
indivíduos expostos ambientalmente por manusear freqüentemente fragmentos das
rochas de amianto ou por residir em locais que contenham estes fragmentos em sua
estrutura física, que são as situações que ocorrem com freqüência nesse município.
Estudos têm documentado casos de asbestose, mesotelioma e câncer de pulmão em
grupos expostos clássicos, como mulheres e crianças filhas de trabalhadores ou pessoas
que residam em áreas circunvizinhas às minas ativadas ou não e/ou em áreas
contaminadas pelos resíduos industriais de amianto (PEDRA et al, 2008; MENDES,
2000; MENDES, 2007).
172
Em relação aos riscos à saúde provocados por esse tipo de exposição ao amianto,
muitos moradores não demonstraram minimizar a seriedade destes riscos e muito menos
o grau de periculosidade dado ao amianto, mas negaram que estes riscos pudessem
atingir todos os que residem na região de BJS, percebendo somente o perigo para
aqueles que vivem próximos à mina. A invisibilidade destes riscos parece ter sido
afirmada por representações de familiaridade e naturalidade do perigo pelos moradores.
No entanto, as representações dos riscos se revelaram, às vezes, ambíguas, mas como
atributos peculiares que foram sendo construídos historicamente e validados dentro da
sociedade local, com pequenas distinções entre os grupos de ex-trabalhadores,
familiares de ex-trabalhadores e demais moradores.
Os resultados sobre alguns importantes determinantes da percepção de riscos
desses moradores parecem estar de acordo com Slovic (1987), que coloca o amianto na
dimensão de riscos desconhecidos para os expostos e para a ciência como
incontroláveis, catastróficos, involuntários, que tendem a aumentar, causem pavor,
produzam conseqüências fatais, que não são facilmente amenizadas e com potencial
impacto para gerações futuras.
No tocante à comparabilidade dos dados referentes às características de gênero e
faixa etária (de 20 a 35 anos ou a partir dos 60 anos), observou-se que embora tenha
sido marcante que jovens e homens pareçam perceber mais os riscos à saúde
provenientes da exposição ambiental ao amianto do que idosos e mulheres, o fato mais
relevante diz respeito aos poucos sujeitos que conseguiram aceitar estes riscos. Diversos
estudos têm demonstrado que se mostram inconsistentes as relações entre os
julgamentos individuais do risco e os fatores de risco objetivos, pois os critérios para
formulação de opiniões variam consideravelmente entre diferentes grupos sociais.
Quando a percepção se mostra otimista em relação ao risco (não realista), negando-o,
isto parece estar mais relacionado à experiência passada de vida para predizer a sua
vulnerabilidade futura do que a aspectos característicos dos indivíduos ou dos riscos
(WEINSTEIN, 1987).
Nesse sentido, essa situação de negação dos riscos por parte da maioria dos
moradores se torna ainda mais agravante, em função da dimensão do problema da
exposição ambiental ao amianto sobre as más condições de vida, ambiente e saúde desta
população, além dela não participar dos processos decisórios locais sobre estes
problemas, exceto pela intervenção restrita da ABEA.
173
Observou-se após 40 anos do término da atividade industrial no município de
BJS, a ausência de ações práticas de recuperação da área degradada ambientalmente e
de melhorias das condições de vida e saúde da população local, em especial dos ex-
trabalhadores e seus familiares e dos moradores da imediação da mina desativada de
amianto. Atualmente, a empresa SAMA- responsável pela mina abandonada de amianto
em BJS conseguiu certificados de Sistema de Gestão SAMA baseados nas normas ISO
9001 e 14001, por apresentar e realizar projetos com medidas mitigadoras para
recuperação das áreas ambientais usadas pela mineração em Goiás (PEREIRA &
ALMEIDA, 2009).
Se a SAMA não pretende ser punida em Minaçu/Go, foi pelos Ministérios
público Federal e Estadual da Bahia desde 2009. No entanto, até o prezado momento, a
população de Bom Jesus da Serra aguarda as medidas compensatórias de fato (MPF,
2009).
É assim, muitas vezes, a lógica do produtivismo se mascara conclamando a
preservação da natureza e vida e a subordinação da práxis social aos seus princípios,
com o auxílio do procedimento do cientificismo que fetichiza os riscos a que a
sociedade é submetida (SOAREZ DE OLIVEIRA, 2002).
O passivo ambiental de amianto foi mais um importante elemento originado de
uma atividade industrial, que se inseriu em um grupo tipicamente marginalizado,
acentuando a injustiça socioambiental sofrida por ele, pois a coexistência deste
problema com outros permanentes tais como a falta de saneamento, más condições de
moradia e emprego, colocou o município afetado em uma posição singular no processo
de produção de doenças.
Frente a essa realidade complexa, uma abordagem interdisciplinar das ciências
da saúde (Gestão, Toxicologia e Epidemiologia) e sociais (Psicologia, Sociologia e
Antropologia) pode contribuir para a elaboração de processos decisórios e estratégias de
gerenciamento, através do diálogo entre elas e os atores sociais envolvidos. Esse estudo
se situa na perspectiva social e apesar de ter contribuído um pouco com a percepção de
riscos através de formas de incorporação do saber daqueles que vivenciam as situações
e eventos de riscos, não pode ser considerado sozinho para a formulação do processo de
manejo dos riscos, necessitando que haja uma contextualização integradora em suas
várias dimensões quantitativas e qualitativas (PORTO & FREITAS, 1997).
174
Esse estudo permitiu introduzir um elemento comunicativo de reflexão e
consciência sobre os riscos a uma pequena parcela da população ambientalmente
exposta ao amianto, frente apenas aos seus questionamentos. Com o intuito de
promover transformações nas atitudes individuais e coletivas de grupos de risco, os
estudos de percepção de riscos servem, muitas vezes, para subsidiar projetos e
estratégias de comunicação de riscos (PERES, 2003).
Entretanto, é mister investigar se a educação e a informação poderão superar as
concepções erradas dos moradores sobre os riscos que eles enfrentam da exposição ao
amianto, pois mesmo medidas de informações bem estruturadas podem não ser capazes
de mudar os comportamentos de risco de algumas pessoas (SLOVIC, 2000).
Por isso, averigou-se que trabalhos de comunicação em saúde sobre os riscos
deveriam ser investidos no interior dessa comunidade, uma vez que esforços educativos
sobre o amianto promovidos por órgãos blicos locais, por exemplo, parece ter
atingido a poucos. grande importância na realização de projetos e ações de
comunicação de riscos a partir do conhecimento de padrões de percepção de riscos para
estruturar e implementar medidas de informação para ação e para o estabelecimento do
diálogo sobre conflitos em grupos que ignoram e aceitam riscos, não reconhecendo os
efeitos a longo prazo ou a elevada probabilidade de apresentar sérias doenças (RENN,
2004; AKKO, 2004).
Os valores das comunidades expostas, que são evidenciados pela percepção
intuitiva dos riscos, devem se entrelaçar aos resultados das avaliações técnicas dos
riscos de forma a aumentar o reconhecimento individual e coletivo de potenciais perigos
que conduza à concepção de novas ferramentas e modelos de avaliação e gestão de
risco, por parte das autoridades públicas e do próprio público (RENN, 2004).
Os aspectos socioculturais que incluem idade, gênero, renda, grupo social,
ocupação, interesses, valores, conseqüências pessoais, etc. influenciam conjuntamente e
diretamente na construção das percepções humanas sobre os riscos e por isto, não
podem ser negligenciados pelas autoridades sanitárias em suas intervenções
epidemiológicas convencionais em saúde ambiental e pelas autoridades públicas em
seus processos de análise e gerenciamento dos riscos, incluindo reformulações na
legislação e assegurando seu cumprimento (CASTIEL, 1996).
175
Dessa forma, para que os indivíduos se tornem verdadeiros sujeitos históricos,
sociais e políticos, é preciso que estejam articulados aos seus contextos familiares, ao
meio ambiente e à sociedade na qual se inserem. Esta situação faz parte do princípio
fundamental de nosso SUS que é a integralidade. Gestores do SUS devem priorizar
ações voltadas para atender as reais necessidades da população através da constituição
de canais e espaços que garantam a efetiva participação da população e o controle social
na gestão de políticas públicas, principalmente, referente aos fatores ambientais tais
como: saneamento, qualidade do ar, solo e água para consumo, desastres, ambiente do
trabalho, fatores químicos e físicos envolvidos nos processos industriais, substâncias
químicas no meio ambiente, etc. (CARTIER et al, 2009; HARBERMAM & GOUVEIA,
2008).
Exemplos de situações práticas de equidade e integralidade seriam as redes
sociais. As redes sociais são constituídas por unidades sociais de poder que por sua vez,
estão interligadas em estruturas organizacionais alternativas e refletem o conjunto de
indivíduos vítimas de um ambiente, incluindo nele o do trabalho, deteriorado e inseguro
(GIANNASI, 2006).
Os grupos populacionais em grande risco de fatores ambientais merecem uma
atenção especial por parte dos governantes, empresários e gestores deste país, pois se
apresentam extremamente vulneráveis aos agravos e problemas de saúde e ambientais.
Atitudes de fato devem ser concretizadas como estratégias reais de articulação
transversal para redução das diferenças entre necessidades, possibilidades, territórios e
culturas dos grupos populacionais do Brasil, inclusive no que se refere à
governabilidade dos riscos (CARTIER et al, 2009).
Na tríade indissociável riscos-economia-política, busca-se pelo meio acadêmico o
desenvolvimento de instrumentos legais que possam contribuir para uma melhor
definição das estratégias relativas à prevenção e mitigação dos riscos identificados, a
partir da introdução de mais participação do público nas avaliações dos riscos e na
tomada de decisão sobre os mesmos, a fim de tornar o processo de decisão mais
democrático e aumentar a aceitabilidade do público nos resultados decididos (SLOVIC,
1997).
Como conclusão, defende-se o aumento da responsabilidade institucional das
empresas e dos órgãos políticos brasileiros, fornecendo assistência à saúde e
intervenções ambientais para a população de Bom Jesus da Serra/ BA, afetada
176
diretamente pelas precárias condições de vida e de saúde e pelo maior passivo ambiental
de amianto no Brasil, bem como uma rediscussão mais aprofundada dos aspectos
políticos e éticos ligados aos grupos populacionais mais expostos aos contaminantes
químicos, tal como o amianto, à segurança química pública e ao banimento do seu uso
no Brasil, uma vez que este apresenta uma biodiversidade rica em fibras naturais que
poderiam ser utilizadas exclusivamente na produção de fibro-cimento (DE MARCHI &
RAVETZ , 1999; TONOLI, 2006).
Nesse contexto, esse estudo de percepção de riscos espera ter contribuído com
apreensão de experiências dos indivíduos da comunidade de BJS afetadas pela
exposição ambiental ao amianto e das estratégias de enfrentamento que desencadeiam,
assim como a sua capacidade de adaptação e resiliência no contexto das relações sociais
e políticas em que se situam, para que possam ser planejadas ações que suportem os
objetivos estratégicos e táticos dos indivíduos, comunidades e organizações envolvidas.
No momento, o banimento de todas as formas de amianto no Brasil seria
realmente uma atitude responsável e conduzida pelo princípio da precaução, a fim de
reduzir mortes e sofrimentos perfeitamente evitáveis, principalmente, dos grupos
populacionais mais vulneráveis. Enquanto em muitos países desenvolvidos, as ações
concretas de governantes e órgãos regulatórios têm sido promovidas a partir das
percepções do público leigo sobre complexos perigos, através de construções sociais
globais que geram, por sua vez, mudanças nos riscos globais, no Brasil as atitudes
sociopolíticas ainda se encontram atreladas à mediocridade de uma pequena elite
dominante sobre os problemas de saúde e ambiente, sem que permita que ideologias e
fenômenos complexos sejam discutidos, compartilhados e decididos socialmente
(CASTRO et al, 2003; BARNES, 2001).
177
VII- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AAKKO, E. Risk communication, risk perception and public health. Wisconsin Medical
Journal, v. 103, n.1, 2004.
ABREA- Associação Brasileira de Expostos ao Amianto- O que é o amianto?Amianto
no Brasil. Invisibilidade social das doenças. Documentos Resoluções e congressos.
Disponível em <http: www.abrea.com.br>. Acesso em 25 maio 2009.
ATSDR- Agency for Toxic Substances and Disease Registry .NURS 735 APPLIED
TOXICOLOGY. Module 3a Supplement: ATSDR's Risk Communication Primer.
Available from <http://aquaticpath.umd.edu/appliedtox/module3-astdr.html>. Access
on 22 Nov. 2009.
AUGUSTO, L G S et al. Risco ambiental e contextos vulneráveis: implicações para a
vigilância em saúde. Inf. Epidemiol. Sus. v.11, n.3 p.155-158, 2002. Disponível em:
<http:WWW.scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01046732002000
300005&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0104-1673>. Acesso em: 07 Julho 2010.
BALLONE, G J. Estresse, ansiedade e esgotamento. Rev. Mente e cérebro. Fev.1997.
Disponível em: <Http: www.epub.org.br/cm/n11/doencas/estresse.htm>. Acesso em: 06
abril 2004.
BARCELLOS, C; QUITÉRIO, LAD.
Vigilância ambiental em saúde e sua implantação
no Sistema Único de Saúde. Rev. Saúde Pública v.40, n.1, São Paulo jan./fev. 2006.
BARNES, P. Regulating safety in an unsafe world (risk reduction for and with
communities). Journal of Hazardous Materials, n.86, p.2537, 2001.
BARNETT, J; BREAKWELL, G M. Risk perception and experience: hazard
personality profiles and individual differences. Risk Analysis, v.21, n.1, 2001.
BENTHIN, A et al. A Psychometric study of adolescent risk perception. Journal of
Adolescence, v.16, p.153-168, 1993.
BLAKE, E R. Understanding Outrage: How Scientists Can Help Bridge the Risk
Perception Gap. Environ Health Perspect, v.103, Suppl 6, p.123-125, 1995.
178
BECK U. A sociedade global do risco: uma discussão entre Ulrich Beck e Danilo Zolo
Entrevistador: Danilo Zolo. Tradução provisória portuguesa de Selvino José Assmann
[entrevista na Internet]. Florianópolis: UFSC/Dept. de Filosofia; jul. 2000. (Subsídios
de Estudo). Disponível em: http:<//www.cfh.ufsc.br/~wfil/ulrich.htm>. Acesso em: 20
março 2010.
BRILHANTE, O M; CALDAS, L Q A. Gestão e avaliação de risco em saúde
ambiental. Rio de Janeiro: Fiocruz, 1999.
CAMUS, M et al. Nonoccupational exposure to chrysotile asbestos and the risk of lung
cancer. N Engl J Med. v.338, n.22, p.156571,1998. [PubMed] Disponível em:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9603793>. Acesso em: 20 Jul. 2010.
CAPPELLETO F; MERLER E. Perceptions of health hazards in the narratives of Italian
migrant workers at an Australian asbestos mine (1943-1966).Soc Sci Med., v.56, n.5,
p.1047-59. Mar 2003.
CAREGNATO, R C A; MUTTI, R. Pesquisa qualitativa: análise de discurso versus
análise de conteúdo. Texto contexto - enferm., Florianópolis, v. 15, n. 4, Dec. 2006.
Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01047072006000400017&ln
g=en&nrm=iso>. Acesso em 22 Nov. 2009.
CARTIER, R et al. Vulnerabilidade social e risco ambiental: uma abordagem
metodológica para avaliação de injustiça ambiental. Cad. Saúde Pública v. 25, n.12,
p.2695-2704, Dez. 2009. Disponível em:
http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010211X2009001200016
&lng=en. doi: 10.1590/S0102-311X2009001200016. Acesso em: 07 Jul. 2010.
CASTIEL, L. D. Vivendo entre exposições e agravos: a teoria da relatividade do risco.
História, Ciências, SaúdeManguinhos, v. III, n.2, p. 237-264, Jul.-Oct. 1996.
179
CASTRO, H.A., GOMES V.R.B. Doenças do Aparelho Respiratório Relacionadas à
Exposição ao Asbesto. Rev. Pulmão, RJ, v. 6, nº3, p.162-170, 1997.
CASTRO, H. A. et al. A luta pelo banimento do amianto nas Américas: uma questão de
saúde pública. Ciência e saúde coletiva, Rio de Janeiro, v.8, n.4, p.903-911, 2003.
CHANG, HY et al. Risk assessment of lung cancer and mesothelioma inpeople living
near asbestos-related factories in Taiwan. Archives of Environmental Health n.3, v.54,
p.194-201, 1999.
COSTA, M. A. Percepção socioambiental e qualidade de vida dos moradores de
Pirapora do Bom Jesus SP. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (mestrado) Instituto
Oswaldo Cruz, Ensino em Biociências e Saúde, 2006. 86 f.
D`AREDE, C O. O tempo das águas e dos ventos: significações do asbesto atribuídas às
viúvas e ex-trabalhadores da mina de São Félix em Bom Jesus da Serra, Bahia, Brasil.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Medicina. Curso
em Pós-graduação em Saúde, Ambiente e Trabalho. UFBA: Salvador, 2009. iv, 179 f.
DE MARCHI, B. & RAVETZ, J. Risk management and governance: A post-normal
science approach. Futures, n.31, p. 743-757, 1999.
DEL RIO, V. Cidade da Mente, Cidade Real: percepção ambiental e revitalização na
área portuária do Rio de Janeiro. In: Percepção Ambiental: a experiência brasileira.
São Paulo: Studio Nobel; 2 ed. São Carlos, SP: Universidade Federal de São
Carlos,1999, 3-22p.
DEJOURS, C. A Loucura do Trabalho. São Paulo: Cortez, 1992.
DIOCLÉCIO, L.A morte branca do sertão:
40 anos está sendo praticado um crime contra o meio ambiente. Folha do Meio
Ambiente é uma publicação da Folha do Meio Ambiente Cultura Viva, Editora Ltda,
SRTV Sul, 18 de Setembro de 2008.
180
DOUGLAS M, WILDAVSKY A. Risk and culture. Berkeley: University of California
Press; 1982.
EMRI, S et al. Lung diseases due to environmental exposures to erionite and asbestos in
Turkey. Toxicology Letters. v. 127, I.1-3, P.251-257, feb. 2002. Disponível em:
<WWW.sciencedirect.com. doi:10.1016/S0378-4274(01)00507-0>. Acesso em: 19 Jan.
2010.
FARIAS, C E G. Mineração e meio ambiente no Brasil. 2002. Relatório preparado para
o CGEE PNUD. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/11321671/Mineracao-
e-Meio-Ambiente-No-Brasil>. Acesso em: 12 agosto 2010.
FILHO V W et al. Amianto no Brasil: conflitos científicos e econômicos. Rev Ass Med
Brasil, v.47, n.3, p. 259-61, 2001.
FISCHHOFF, B. Risk Perception and Communication Unplugged: Twenty Years of
Process. Risk Analysis, v.15, n.2, 1995. Disponível em:
<http://www.soc.iastate.edu/Sapp/Fischhoff.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2009.
FISCHHOFF, B. et al. How Safe Is Safe Enough? A Psychometric Study of Attitudes
Towards Technological Risks and Benefits”. Policy Sciences, n.9, p. 127-152, 1978.
FREITAS, CM. Problemas ambientais, saúde coletiva e ciências sociais. Revista
Ciência & Saúde Coletiva, v. 8, n.1, p.137-150, 2003.
__________. A contribuição dos estudos de percepção de riscos na avaliação e no
gerenciamento de riscos relacionados aos resíduos perigosos. In: CLS SISSINO & RM
OLIVEIRA (orgs.), Resíduos Sólidos, Ambiente e Saúde: uma visão multidisciplinar.
Rio de Janeiro: Fiocruz, 2000. p 111-128.
FREITAS, CM et al . Segurança química, saúde e ambiente - perspectivas para a
governança no contexto brasileiro. Cad. Saúde Pública, v. 18, n1, p.249-256, jan-fev,
2002.
181
FREITAS, C M, GOMEZ, C M. Análise de riscos tecnológicos na perspectiva das
Ciências Sociais. História, Ciências, Saúde Manguinhos, v.3, n.485-504, 1997.
GIL, AC. Métodos e técnicas de pesquisa social. SP: Ed. Atlas, 1999.
GIANNASI, F. O amianto no Brasil: uso controlado ou banimento? Revista Brasileira
de saúde ocupacional, v.22, p.17-24, 1994.
GIANNASI, F. Ação fiscal como ferramenta complementar para o sistema de gestão de
segurança e saúde no trabalho. 2006. Disponível em <http//:
www.abrea.org.br/CONASEMT.pdf>. Acesso em 20 maio 2009.
GIDDENS, A. As conseqüências da modernidade. Editora Unesp, São Paulo. 1990.
GOMEZ, C M; MINAYO, M C S. Enfoque ecossistêmico em saúde: uma estratégia
transdisciplinar. INTERFACEHS Revista de Gestão Integrada em Saúde do Trabalho
e Meio Ambiente- v.1, n.1, Art 1, ago 2006. Disponível em: http:
<//www.interfacehs.sp.senac.br/br/artigos.asp?ed=1&cod_artigo=11>. Acesso em: 15
nov 2009.
HABERMANN, M; GOUVEIA, N. Justiça Ambiental: uma abordagem ecossocial em
saúde. Rev Saúde Pública, v.42, n.6, p.1105-11, 2008.
HACON SS et al. Avaliação de risco para a saúde humana: uma contribuição para a
gestão integrada de saúde e ambiente. Cad Saúde Coletiva, v. 13, n.4, p. 811-836, 2005.
HERGON, E. et al. Factors of risk perception and risk acceptability: a contribution for
the knowledge of the perception of the risk associated with blood transfusion. Transfus
Clin Biol., v. 11, n.3, p.130-7, Jul.2004.
IBGE- INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Busca por
cidades. Bom Jesus da Serra. 2009. Disponível em: <http:
http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1>. Acesso em 23 Jan. 2010.
182
JANSSEN, J H. Wonder matter and assassin. The perception of the asbestos danger as a
mirror of the time 1930-1990. Gewina., n.28, v.1, p.38-53, 2005.
JOHNSON, B. Advancing understanding of knowledge’s role in lay risk perception.
Risk, v.3, p.189-212, 1993. Disponível em:
<http://www.piercelaw.edu/risk/vol4/summer/johnson.htm>. Acesso em 25 nov. 2009.
JÚNIOR, U M L. Fibras da semente do açaizeiro (Euterpe Oleracea Mart.): Avaliação
quanto ao uso como reforço de compósitos fibrocimentícios. Dissertação (Mestrado).
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Pós-Graduação em Engenharia
e Tecnologia dos Materiais PGETEMA. PUCRS: Porto Alegre, 2007. 141p.
LAPSLEY, D K; HILL, P L.Subjective Invulnerability, Optimism Bias and Adjustment
in Emerging Adulthood. J Youth Adolescence, V.39, P.847857, 2010.
LIEBER RR, ROMANO-LIEBER NS. Risco, incerteza e as possibilidades de ação na
saúde ambiental. Rev Bras Epidemiol., v.6(supl.1), p.1-14, 2003.
LUIZ, OC; COHN, A. Sociedade de risco e risco epidemiológico. Cad. Saúde Pública,
Rio de Janeiro, v.22, n.11, p. 2339-2348, nov, 2006.
MAGNANI, C. et al. Pleural maligant mesotelhioma and non-ocupational exposure to
asbestos in Casale Monferato, Italy. Occup. Environ Med; v.52, p.362-367, 1995.
MAJOR, G; VARDY, G F. Public perception of risk and its consequences: the case of a
natural fibrous mineral deposit. IARC Sci Publ., v.90, p.497-508, 1989.
MANN, J. M.; TARANTOLA, D. J. M.; NETTER, T. W. Aids in the world: the global
aids policy. Boston: Mass, 1992. In: OLIVEIRA, MLF; ZAMBRONE, FAD.
Vulnerabilidade e intoxicação por agrotóxicos em agricultores familiares do Paraná.
Ciência, Cuidado e Saúde Maringá, v. 5, Supl., p. 99-106. 2006.
MARANDOLA J R., HOGAN, D J. O risco em perspectiva: tendências e abordagens.
Geosul, v.19, n.38, p. 25-58, jul./dez., 2004. Disponível em:
<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT09/Eduardo%20e%20Dan
iel.pdf>. Acesso em: 25 novembro 2009.
183
MARRIS, C et al. A Quantitative Test of the Cultural Theory of Risk Perceptions:
Comparison with the Psychometric Paradigm. Risk Analysis, v. 18, n. 5, 1998.
MAY, T. Pesquisa social: questões, métodos e processos. 3 ed. Porto Alegre: Ed.
Artmed, 2004.
MAUREL M, et al. National Network of Asbestos Post-Exposure Survey, Paris C.
Factors associated with cancer distress in the Asbestos Post-Exposure Survey (APEXS).
Am J Ind Med,. v. 52, n.4, p.288-96, Apr. 2009.
MCDANIEL et al. Terapia Familiar Médica. Porto Alegre: Ed. Artes Médicas, 1999.
MCDANIELS, T et al. Perceived ecological risks of global change: A psychometric
comparison of causes and consequences. Global Environmental Change, v.6, n.2, p.159-
171, 1996.
MCMICHAEL, A J. Human frontiers, environments and disease- past patterns,
uncertains futures. Cambridge: Cambridge University press; p. 1-30, 2001.
MENDES, R. Efeitos da inalação de fibras de asbesto (amianto) sobre a saúde humana:
estado atual do conhecimento e fundamentação científica para uma política de
priorização da defesa da vida, da saúde e do meio ambiente. Brasília (DF): IDEC, 2000.
__________. Asbesto (amianto) e doença: revisão do conhecimento científico e
fundamentação para uma urgente mudança da atual política brasileira sobre a questão.
Cad. Saúde Pública, v.17, n1, p.7-29, jan-fev, 2001.
___________. Amianto e política de saúde pública no Brasil. Cad. Saúde Pública, v.
23, n. 7, July 2007.
MINAYO, MCS et al. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 22.ed. Petrópolis:
Vozes, 2003.
MINAYO, MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 10.ed.
São Paulo: Hucitec, 2007.
184
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Indicadores epidemiológicos do município de Bom Jesus
da serra. Disponível em:
<http://dtr2002.saude.gov.br/caadab/indicadores/bahia/BOM%20JESUS%20DA%20SE
RRA.pdf>. Acesso em 15 abril 2009.
MIRANDA, A. et al . Territórios, ambiente e saúde. Ed: FIOCRUZ, 2008.
MONIZ, M A; TAVARES, C M M. Análise de fatores estressantes entre usuários de
um centro de atenção psicossocial. Enfermagem Brasil, v. 05, n. 1, Jan.-Fev. 2006.
MONKEN, M. & BARCELLOS, C. Vigilância em saúde e território utilizado:
possibilidades teóricas e metodológicas. Cadernos de Saúde Pública, v.21, n.3, p. 898-
906, 2005.
MORIN, E. Para sair do século XX; tradução de Vera Azambuja Harvey. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
MOURA, M L S et al. Manual de elaboração de projetos de pesquisa. Rio de janeiro:
EdUERJ,1998.
MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DA
BAHIA. Documento para ação civil pública contra a empresa SAMA S/A
MINERAÇÕES ASSOCIADAS. Vitória da Conquista/ BA: 2009.
NICOLACI-DA-COSTA, AM. A análise de discurso em questão. Psic: Teor Pesq., v.
10, n.2, p. 317-31, 1994.
NOVELLO, C H. Vigilância em Saúde do Trabalhador e Controle Social: O Caso do
Amianto no Estado do Rio de Janeiro. Rio de janeiro, 2006. Dissertação (mestrado)-
Programa de pós-graduação em Saúde pública e meio ambiente, ENSP/ FIOCRUZ,
2006. 132f.
OLIVEIRA, MLF; ZAMBRONE, FAD. Vulnerabilidade e intoxicação por agrotóxicos
em agricultores familiares do Paraná. Ciência, Cuidado e Saúde Maringá, v. 5, Supl., p.
99-106. 2006.
OPAN- Organização Pan-Americana da Saúde. Enfoques ecossistêmicos em saúde:
perspectivas para sua adoção no Brasil e países da América Latina. Série Saúde
Ambiental 2. Brasília: Ed. FIOCRUZ, 2009.
185
OTTO, S. Oncologia. Rio de Janeiro: Ed. REICHMANN & AFFONSO EDITORES,
2002.
PEDRA, F et al. Mesothelioma Mortality in Brazil, 19802003. INT J OCCUP
ENVIRON HEALTH, v.14, p.170175, 2008.
PEREIRA, L M; ALMEIDA, M G. A percepção e vivências dos moradores de Minaçu-
GO sobre paisagens construídas. 2009. CULTUR Revista de Cultura e Turismo, ano
03, n. 01, jan 2009. Disponível
em:<http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/edicao4/artigo_4.pdf>. Acesso em: 16
jun. 2010.
PERES, F. ONDE MORA O PERIGO?O processo de construção de uma metodologia
de diagnóstico rápido da percepção de riscos no trabalho rural. Tese (doutorado).
Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. Campinas, SP:
[s.n.], 2003. 134p.
PERES, F et al. Percepção de riscos no trabalho rural em uma região agrícola do Estado
do Rio de Janeiro, Brasil: agrotóxicos, saúde e ambiente. Cad. Saúde blica, Rio de
Janeiro, v. 21, n. 6, Dec. 2005.
PORTO, M F S; FREITAS, C M. Análise de riscos tecnológicos ambientais:
perspectivas para o campo da saúde do trabalhador. Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro,
v.13, n.2, p.59-72, 1997.
QUEIROGA, N C M et al. Amianto. In: Rochas e Minerais Industriais. CETEM: 2005.
ROSEN, G. O industrialismo e o movimento sanitário (1830-1875). In: Uma história da
saúde pública. São Paulo: Hucitec Ed. Unesp; Rio de janeiro: Abrasco; p.151-218.
1994.
RENN O. Perception of risks. Toxicology Letters, v.149, n. 1-3, p. 405-13, 2004.
ROUQUAYROL, MZ, ALMEIDA FILHO N. Epidemiologia & Saúde. 5.ed. Rio de
Janeiro: MEDSI, 1999.
186
SAVADORI, L et al. Expert and public perception of risk from biotechnology. Risk
Analysis, vol. 24, n. 5, 2004.
SAVASTANO Jr., H. Uso de fibras naturais em substituição ao amianto na construção
civil. In: Conferência Paulista de
Produção + Limpa. FISP- Faculdades Integradas de São Paulo. Universidade de São
Paulo: São Paulo, 2002.
SECRETARIA DE SAÚDE DO ESTADO DA BAHIA (SESAB). Departamento de
Informações em Saúde. Perfil epidemiológico. Abril, 2007.
_________________________. PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E DE SAÚDE.
Oficinas estratégicas para elaboração do Plano Estadual de Saúde PES 2008 a 2011
BAHIA. AGOSTO/2008.
SEPAR- SOCIEDAD ESPANÕLA DE NEUMOLOGÍA Y CIRUGÍA TORÁCICA.
Normativa sobre el asbestoy su patologia pleuro-pulmonar. BARCELONA: Edita:
Ediciones Doyma, S.L. 2004. Disponível em:
<http:www.salud.jcyl.es/sanidad/cm/images?idMmedia=82922>. Acesso em: 20 maio
2009.
SITKIN, S B; WEINGART, L R. Determinants of risky decision-making behavior: A
test of the mediating role of risk perceptions and propensity. Academy of Management
Journal, vol.38, n.6, p. 1573- 92, Dec 1995.
SLOVIC, P. Perception of Risk. Science, New Series, v. 236, p. 280-285, 1987.
________. Perception of risk from radiation. Nuclear Technology Publishing, vol. 68,
n.3/ 4, p. 165-180, 1996.
_________. Public perception of risk. Journal of Environmental Health, v. 59, n. 9, p
22, 3p, 2 charts, May 1997.
_________. What Does it Mean to Know a Cumulative Risk? Adolescents' Perceptions
of Short-term and Long-term Consequences of Smoking. Journal of Behavioral
Decision Making, v.13, p. 259±266, 2000.
187
SLOVIC, P; WEBER, E U. Perception of Risk Posed by Extreme Events. Prepared for
discussion at the Conference “Risk Management strategies in Uncertain World”,
Palisades, New York, April, 2001.
SJÖBERG, L. A discussion of the limitations of the psychometric and cultural theory
approaches to risk perception. Radiation Protection Dosimetry, v. 68, n.314, p.219
225, 1996.
___________. Factors in Risk Perception. Risk Analysis, v. 20, n.1, 2000.
SJOBERG, L; DROTTZ-SJOBERG, B-M. Knowledge and Risk Perception Among
Nuclear Power Plant Employees. RiskAnalysis, v. 11, n. 4, 1991.
_________________________________.Radiation and Society: Comprehending
radiation risk. Proceedings of an International Conference on Radiation and Society.
Comprehending radiation risk, Paris, p.24-28, October, 1994.
SILVA, IS. Cancer Epidemiology: Principles and Methods. IARC/WHO, 1999. Cap.5.
SOAREZ DE OLIVEIRA, A M. Relação homem/natureza no modo de produção
capitalista Scripta Nova, Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales,
Universidad de Barcelona, v.VI, n. 119 (18), 2002. Disponível em:<
http://www.ub.es/geocrit/sn/sn119-18.htm>. Acesso em: 27 out. 2010.
SOUZA, M. G. Fechamento de Mina: Aspectos Legais. 2002. Disponível em:
<http://www.brasilminingsite.com.br/artigos/artigo.php?cod=31&typ=1>. Acesso em:
13 jul. 2010.
STEWART-TAYLOR, AJ; CHERRIES, J W. Does Risk Perception Affect Behaviour
and Exposure? A Pilot Study Amongst Asbestos Workers. Ann. occup. Hyg., vol. 42.
no. 8. pp. 565-569. 1998.
188
STEINFUHRER, A.; KUHLICKE, C. Risk perception, community behaviour and
social resilience (Task 11 of Integrated project FLOODsite -Integrated Flood Risk
Analysis and Management Methodologies). Department of Urban and Environmental
Sociology. Feb. 2009.
TAJIK M, et al. Environmental policies, politics, and community risk perception: case
study of community contamination in Casper, Wyoming. New Solut., v.17, n.4, p.354-
61, 2007. PubMed PMID: 18184626. Available from:
<http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18184626?dopt=Abstract>. Acess on: 22 nov.
2009.
TARRÉS, J et al. Asbestos-related diseases in a population near a fibrous cement
factory. Archivos de Bronconeumología
V. 45, I.9, p.429-434, Sept. 2009. Disponível
em:<http://www.sciencedirect.com/science>._Acesso em: 10 out. 2009.
TEIXEIRA, JC; GUILHERMINO, R L. Análise da associação entre saneamento e
saúde nos estados brasileiros, empregando dados secundários do banco de dados
indicadores e dados básicos para a saúde 2003-IDB 2003. Eng. Sanit. Ambient. V.11,
n.3, July/Sept., 2006.
TONOLI, G H D. Aspectos produtivos e análise do desempenho do fibrocimento sem
amianto no desenvolvimento de tecnologia para telhas onduladas. Dissertação
(Mestrado). Universidade de São Paulo. Faculdade de zootecnia e Engenharia de
Alimentos. USP:Pirassununga, 2006. 129p.
VIRTA, R. Asbestos. In: USGS- U.S. Geological Survey. Mineral commodity
summaries 2010: U.S. Washington: United States Government Printing Office, 2010.
Disponível em: <http://www.usgs.gov>. Acesso em 23 julho 2010.
WEINSTEIN, N D. Unrealistic Optimism about Illness Susceptibility: Conclusions
from a Community Wide Sample. Journal of Behavioral Medicine, v.10, p.481500,
1987.
WHO- WORLD HEALTH ORGANIZATION. Eliminación de las enfermadades
relacionadas con el amianto . Fonte: Ginebra; Organización Mundial de la Salud.
2006. 4 p. WHOLIS - Sistema de Informação da Biblioteca da OMS ID: a89951
189
Disponível em:<http://whqlibdoc.who.int/hq/2006/WHO_SDE_OEH_06.03_spa.pdf>.
Acesso em: 13 abril 2009.
XU et al. Mechanisms of the Genotoxicity of Crocidolite Asbestos in Mammalian
Cells:Implication from Mutation Patterns Induced by Reactive Oxygen Species.
Environmental Health Perspectives, vol. 110, n. 10, October 2002.
WILDAVSKY, A; DAKE, K. Theories of Risk Perception: Who Fears What and Why?
Daedalus, Platinum Periodicals, v.119, n.4, p.41, 1990.
190
ANEXOS
191
I- QUESTIONÁRIO PERCEPÇÃO DE RISCO
N
o
do Questionário___________ Data: / /
Local: ________________________________________
Nome:_________________________________________________________________
Idade:______________________ Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
Estado Civil:_____________________
Escolaridade: ( ) Analfabeto ( ) Realiza Leitura ( )
Primário Incompleto ( ) Primário Completo ( )
( ) 1
o
Incompleto ( ) 1
o
Completo ( ) 2
o
Incompleto ( ) 2
o
Completo
( ) Superior Incompleto ( ) Superior Completo
1 - De cinco anos para cá, o que mudou no ambiente do seu bairro / localidade?
( ) Sim ( ) Não
1.1 - O que mudou para melhor?
( ) Qualidade do Ar ( ) Qualidade do Solo ( ) Qualidade de Água
( ) Calçamento
( ) Menos sujeira ( ) Menos lixo ( ) Outros (especifique):
______________________________________________________________________
1.2 - O que mudou para pior?
( ) Qualidade do Ar ( ) Qualidade do Solo ( ) Qualidade de Água
( ) Calçamento
( ) Mais sujeira ( ) Mais lixo ( ) Outros (especifique):
______________________________________________________________________
192
2 - Se votivesse que dar uma nota de 1 a 10 para o ambiente do seu bairro /
localidade, que nota você daria? Nota:___________ Por que?
______________________________________________________________________
3 - Se você tivesse que dar uma nota de 1 a 10 para a qualidade do ar do seu bairro /
localidade, que nota você daria? ___________ Por que
______________________________________________________________________
4 - Se você tivesse que dar uma nota de 1 a 10 para a qualidade da água do seu
bairro / localidade, que nota você daria? ___________ Por
que?__________________________________________________________________
5 - Se você tivesse que dar uma nota de 1 a 10 para a qualidade do solo do seu
bairro / localidade, que nota você daria? ______ Por
que?__________________________________________________________________
6 - Você acha que esses problemas ambientais podem afetar a sua saúde? ( ) SIM
( ) NÃO De que forma(s)?
( ) Doenças respiratórias ( ) Dor de cabeça ( ) Câncer
( ) Dengue
( ) Doenças de pele ( ) Alergia ( ) Doenças
do Aparelho Digestivo
( ) Asbestose ( ) AIDS ( ) Doença
Renal
( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Malária
Outras: __________________________________________________________
7 - Trabalhar e residir aqui pode trazer problemas de saúde?
( ) SIM ( ) NÃO Por que?
_________________________________________________________________
193
8 - Que tipos de problema você acha que pode ter residindo aqui no seu bairro?
( ) Doenças respiratórias ( ) Dor de cabeça ( ) Câncer
( ) Dengue
( ) Doenças de pele ( ) Alergia ( ) Doenças
do Aparelho Digestivo
( ) Asbestose ( ) AIDS ( ) Doença
Renal
( ) Hipertensão ( ) Diabetes ( ) Malária
Outras: __________________________________________________________
9 - Vou pedir a você que notas de 1 a 10 para algumas doenças. Dar nota baixa
significa que você considera essa doença pouco séria. Dar nota alta, por sua vez,
significa que você acha essa doença muito séria. Assim, uma nota 10, por exemplo,
corresponde à uma doença extremamente séria, enquanto uma nota 1 corresponde a uma
doença muito pouco séria. Já uma nota 5 corresponde a uma doença mais ou menos
séria.
Diabetes ( ) Gripe ( ) Dor de garganta ( )
Câncer ( ) Cirrose ( ) Aids ( )
Úlcera ( ) Diarréia ( ) Malária ( )
Dor de cabeça ( ) Pneumonia ( ) Diarréia ( )
Má formação (fetal) ( ) Doença de Pele ( ) Dengue ( )
Hipertensão ( ) Alergia ( ) Doenças do Aparelho
Digestivo ( )
Asbestose ( ) Doença Renal ( ) Doenças Pulmonares ( )
10 - Você acha que pode vir a ter alguma das doenças que eu vou falar a seguir? Vou
pedir a você que notas de 1 a 10 para essas doenças. Caso ache que você tem uma
chance muito grande de vir a ter essa doença, dê uma nota alta. Caso ache que você tem
uma chance muito pequena de vir a ter essa doença, uma nota baixa. Assim, uma
194
nota 10, por exemplo, corresponde à uma chance muitíssimo alta de vir a ter a doença,
enquanto uma nota 1 corresponde a uma chance muitíssimo baixa de vir a ter a doença.
Já uma nota 5 corresponde a uma chance nem muito alta nem muito baixa.
Diabetes ( ) Gripe ( ) Dor de garganta ( )
ncer ( ) Cirrose ( ) Aids ( )
Úlcera ( ) Diarréia ( ) Malária ( )
Dor de cabeça ( ) Pneumonia ( ) Diarréia ( )
Má formação (fetal) ( ) Doença de Pele ( ) Dengue ( )
Hipertensão ( ) Alergia ( ) Doenças do Aparelho
Digestivo ( )
Asbestose ( ) Doença Renal ( ) Doenças Pulmonares ( )
11 Você acha que tem uma chance maior de ter alguma dessas doenças comparado a
uma pessoa da mesma idade, mas que não viva aqui no seu município? ( ) SIM ( )
NÃO Qual doença?
Diabetes ( ) Gripe ( ) Dor de garganta ( )
Câncer ( ) Cirrose ( ) Aids ( )
Úlcera ( ) Diarréia ( ) Malária ( )
Dor de cabeça ( ) Pneumonia ( ) Diarréia ( )
Má formação (fetal) ( ) Doença de Pele ( ) Dengue ( )
Hipertensão ( ) Alergia ( ) Doenças do Aparelho
Digestivo ( )
Asbestose ( ) Doença Renal ( ) Doenças Pulmonares ( )
Por que você acha que tem chance maior de ter essa doença que outra pessoa que
não viva aqui?___________________________________________________________
12 - Agora nós vamos falar algumas frases, afirmações, e você deverá responder se
concorda ou não concorda com elas. Você pode concordar totalmente, concordar
195
parcialmente, ou mais ou menos, não concordar nem discordar (quando não tem
certeza), discordar parcialmente, ou mais ou menos, ou discordar totalmente.
a) Morar em Bom Jesus da Serra é seguro.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente
( ) Não tenho opinião a respeito
b) Trabalhar em Bom Jesus da Serra é seguro.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
c) Uma pessoa que mora em Bom Jesus da Serra tem mais chances de ter câncer
que outra pessoa da mesma idade que more em uma outra cidade.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
d) Uma pessoa que mora em Bom Jesus da Serra tem mais chances de ter
doenças pulmonares em relação a outra pessoa da mesma idade que more em
uma outra cidade.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
13 Você sabe o que é amianto? ( ) Sim ( ) Não O que é?
______________________________________________________________________
196
13.1 Onde você ouviu falar sobre isso?
___________________________________________________________
Quem falou? _________________________________________________
13.2 Você acha que o amianto pode causar algum problema de saúde?
( ) Sim ( ) Não Qual?
Diabetes ( ) Gripe ( ) Dor de garganta ( )
Câncer ( ) Cirrose ( ) Aids ( )
Úlcera ( ) Diarréia ( ) Malária ( )
Dor de cabeça ( ) Pneumonia ( ) Diarréia ( )
Má formação (fetal) ( ) Doença de Pele ( ) Dengue ( )
Hipertensão ( ) Alergia ( ) Doenças do Aparelho Digestivo ( )
Asbestose ( ) Doença Renal ( ) Doenças Pulmonares ( )
Outras:
________________________________________________________________
Por quê? ________________________________________________________
14 Você já ouviu falar que existe amianto aqui no município (mina abandonada)? ( )
SIM ( ) NÃO
Onde ouviu? __________________________________
Quem falou? _____________________________________
O que acha sobre isso?
______________________________________________________________________
15 - Agora nós vamos falar algumas frases, afirmações, e você deverá responder se
concorda ou não concorda com elas. Você pode concordar totalmente, concordar
parcialmente, ou mais ou menos, não concordar nem discordar (quando não tem
certeza), discordar parcialmente, ou mais ou menos, ou discordar totalmente.
197
a) Amianto não faz mal para as pessoas, só para o ambiente.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
b) Amianto não faz mal nem para o ambiente, nem para as pessoas.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
c) O amianto que existe aqui em Bom Jesus da Serra pode causar câncer na
população.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
d) O amianto que existe aqui em Bom Jesus da Serra pode causar doenças
respiratórias na população.
( ) Concordo Totalmente ( ) Concordo parcialmente ( ) Não
concordo nem discordo
( ) Discordo Parcialmente ( ) Discordo totalmente ( ) Não
tenho opinião a respeito
198
II- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado para participar da pesquisa “Percepção de riscos ambientais
e à saúde de moradores do município de Bom Jesus da Serra/BA”. Você foi selecionado
por ser morador deste município e por causa da sua idade. Sua participação não é
obrigatória. A qualquer momento você pode desistir de participar e retirar seu
consentimento. Sua recusa não trará nenhum prejuízo em sua relação com o pesquisador
ou com a instituição. O objetivo principal deste estudo é Analisar a percepção de riscos
ambientais e à saúde de moradores do município de Bom Jesus da Serra/BA. Sua
participação nesta pesquisa consistirá em responder as perguntas do questionário. Esta
pesquisa não oferecerá riscos de qualquer natureza aos seus participantes. Os benefícios
relacionados com a sua participação nesta pesquisa são: a análise da percepção de riscos
ambientais e à saúde de moradores deste município pretende contribuir para a promoção
do desenvolvimento de estratégias de transformações sociais, em prol da melhoria das
condições locais de saúde e ambiente e de servir de evidência científica para a imersão e
aprofundamento de outras pesquisas que estão sendo desenvolvidas nesta região.
Esclareço que os dados obtidos neste questionário ficarão sob nossa responsabilidade,
isto é, de Marcela de Abreu Moniz, RG: 12519934- IFP/RJ, CPF: 095.354.907.02
Enfermeira de saúde da família- mestranda do Programa de Pós-graduação em Saúde
Pública e meio ambiente da Escola Nacional de Saúde Pública- ENSP /FIOCRUZ Rio
de Janeiro e orientadores Dr. Hermano de Albuquerque de Castro e Dr. Frederico Peres-
pesquisadores do Centro de Estudos e saúde do trabalhador e Ecologia humana da
FIOCRUZ e professores do Programa de Pós-graduação em Saúde Pública e meio
ambiente da ENSP /FIOCRUZ RJ. As informações obtidas através dessa pesquisa
serão confidenciais e asseguramos o sigilo sobre sua participação. Os dados da pesquisa
podem vir a ser publicados/divulgados, mas será garantido o sigilo e o anonimato dos
participantes. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço
institucional do pesquisador principal e do CEP, podendo tirar suas dúvidas sobre o
projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento, além, de recusar a dar
informações que julgue prejudiciais a sua pessoa, solicitar a não inclusão em
documentos de quaisquer informações que tenha fornecido e desistir, a qualquer
momento, de participar da pesquisa.
199
Responsável: Marcela de Abreu Moniz
______________________________________________________________________
Pesquisador principal: Marcela de Abreu Moniz. Rua Adolfo Saldanha, 183. Rocha. São
Gonçalo/RJ.Contato: [email protected]; Tel profissional: (21)3639-2019; Tel
residencial: (21) 37157757 cel: (21) 8810-8062. CEP/ENSP/ FIOCRUZ- Comitê de
Ética em Pesquisa-Rua Leopoldo Bulhões, 1.480 Térreo. Manguinhos - Rio de
Janeiro - RJ / CEP. 21041-210.Tel e Fax - (21) 2598-2863.Mail :
[email protected]://www.ensp.fiocruz.br/etica.O horário de atendimento ao
público do CEP/ENSP é de 14:00 às 17:00.
Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa
e concordo em participar.
______________________________________________________________________
Sujeito da pesquisa
Bom Jesus da Serra, 2010.
200
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo