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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO
MARIA FERNANDA FERRARO
Angioedema hereditário: estudo clínico e genético de uma família
brasileira
Ribeirão Preto
2010
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MARIA FERNANDA FERRARO
Angioedema hereditário: estudo clínico e genético de uma família brasileira
Tese apresentada à Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Doutora em
Ciências Médicas.
Área de concentração: Saúde da Criança e do
Adolescente.
Orientadora: Prof. Dra. Luisa Karla de Paula
Arruda
Ribeirão Preto
2010
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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste
trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins
de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
FICHA CATALOGRÁFICA
Ferraro, Maria Fernanda
Angioedema hereditário: estudo clínico e genético de uma
família brasileira. Ribeirão Preto, 2010.
90 p. : il. ; 30cm
Tese de Doutorado, apresentada à Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto/USP Área de concentração: Saúde da Criança e
do Adolescente.
Orientadora: Arruda, Luisa Karla de Paula.
1. Angioedema hereditário. 2. Inibidor de C1. 3. Mutação
genética. 4. Serpinas.
Nome: FERRARO, Maria Fernanda
Título: Angioedema hereditário: estudo clínico e genético de uma família brasileira
Tese apresentada à Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo
para obtenção do título de Doutora em
Ciências Médicas.
Aprovado em: __________________________
Banca examinadora
Prof(a) Dr(a):_________________________ Instituição: ___________________________
Julgamento: _________________________ Assinatura: ___________________________
Prof(a) Dr(a):_________________________ Instituição: ___________________________
Julgamento: _________________________ Assinatura: ___________________________
Prof(a) Dr(a):_________________________ Instituição: ___________________________
Julgamento: _________________________ Assinatura: ___________________________
Prof(a) Dr(a):_________________________ Instituição: ___________________________
Julgamento: _________________________ Assinatura: ___________________________
Prof(a) Dr(a):_________________________ Instituição: ___________________________
Julgamento: _________________________ Assinatura: ___________________________
Dedico este trabalho aos meus pais, Julio e Laide
Julio e LaideJulio e Laide
Julio e Laide – minha fonte
de amor, de princípios e valores, base de toda a minha
formação, a quem amo e devo tudo que sou.
Ao meu avô Vitório Ferraro
Vitório FerraroVitório Ferraro
Vitório Ferraro que, se aqui estivesse,
alegraria-se e vibraria como ninguém...
Agradecimentos
AgradecimentosAgradecimentos
Agradecimentos
A Deus
DeusDeus
Deus que me soprou a vida, que me iluminou sempre, que me deu força nos momentos difíceis,
que me protegeu nas minhas cansativas idas e vindas, que é fonte do amor que nos move
À Dra Luisa Karla Arruda
Dra Luisa Karla ArrudaDra Luisa Karla Arruda
Dra Luisa Karla Arruda, pessoa de imenso valor, que me inspirou desde o primeiro momento
com sua exemplar dedicação e entusiasmo pelo trabalho, e com sua competência invejável!
Pelo estímulo, pela generosidade, pelo imenso aprendizado, pela oportunidade de trabalhar ao
seu lado e pela honra de ser sua aluna; oferecendo-me a sua confiança e apoio.
À Dra Virgínia Ferriani
Dra Virgínia FerrianiDra Virgínia Ferriani
Dra Virgínia Ferriani, pessoa admirável, que, com sua generosidade e comprometimento,
contribuiu em diversos momentos da minha formação e com a realização deste trabalho
Ao Dr Willy Sarti
Dr Willy SartiDr Willy Sarti
Dr Willy Sarti, querido mestre, por todo o apoio na execução deste trabalho, pelo estímulo e
pela convivência tão enriquecedora
Aos Drs Paulo Louzada
Drs Paulo LouzadaDrs Paulo Louzada
Drs Paulo Louzada e Marluce Vilela
Marluce VilelaMarluce Vilela
Marluce Vilela por terem aceitado participar da banca examinadora
e, em especial, à Dra Cleni Machado
Dra Cleni MachadoDra Cleni Machado
Dra Cleni Machado por ter contribuído de maneira tão gentil e cuidadosa na
correção desta tese
A Helen Arcuri
Helen ArcuriHelen Arcuri
Helen Arcuri e ao Prof. Mario Palma
Prof. Mario PalmaProf. Mario Palma
Prof. Mario Palma pela ajuda com a elaboração dos modelos moleculares
Ao Dr. Konrad Bork
Dr. Konrad BorkDr. Konrad Bork
Dr. Konrad Bork, pelo estímulo e disponibilidade em realizar o sequencimento de DNA
inicial em seu laboratório na Universidade de Mainz
Ao amigo Erick Castelli
Erick CastelliErick Castelli
Erick Castelli, com quem aprendi muito, pela inestimável e paciente ajuda sem a qual
esse trabalho não seria possível
À querida Adriana Moreno
Adriana MorenoAdriana Moreno
Adriana Moreno pelo empenho e pela grande contribuição com o trabalho laboratorial
À Ana Bea
Ana BeaAna Bea
Ana Beatriz Rossetti Santos
triz Rossetti Santostriz Rossetti Santos
triz Rossetti Santos que me ajudou a dar os primeiros passos na biologia molecular,
com toda sua paciência, delicadeza e boa vontade
À amiga Ana Paula Lange
Ana Paula LangeAna Paula Lange
Ana Paula Lange por ter sido um anjo quando nada parecia dar certo, pelo empenho
em querer ajudar e, principalmente, pela amizade sincera e desinteressada...
À Michelle Rodrigues Barbosa
Michelle Rodrigues BarbosaMichelle Rodrigues Barbosa
Michelle Rodrigues Barbosa pela cooperação no dia-a-dia do laboratório e, principalmente,
pela amizade e pelo carinho
Aos colegas Alergistas e Imunologistas Carol , Thaís, Gil
Carol , Thaís, GilCarol , Thaís, Gil
Carol , Thaís, Gil e Luana
LuanaLuana
Luana pela contribuição com o
atendimento dos pacientes e pelo companheirismo e convívio durante todo esse período
Aos amigos
amigosamigos
amigos e às Irmãs
IrmãsIrmãs
Irmãs
do pensionato Vita et Pax
do pensionato Vita et Paxdo pensionato Vita et Pax
do pensionato Vita et Pax, que foram minha família e meu lar nos meus
longos dias distante de casa
Ao meu pai Julio
JulioJulio
Julio que, além de todo o apoio, participou ajudando nos mutirões de entrevistas e
coletas; e à minha mãe Laide
LaideLaide
Laide que com suas orações iluminou meu caminho.
Aos meus irmãos, Ana Carolina e Julio Cesar
Ana Carolina e Julio CesarAna Carolina e Julio Cesar
Ana Carolina e Julio Cesar, companheiros da vida inteira, a quem amo com
todo meu coração
Ao meu marido Christiano
ChristianoChristiano
Christiano pelo amor, pela paciência, compreensão, abdicação e por me apoiar
sempre
À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP
FAPESPFAPESP
FAPESP) e à Fundação de Apoio
ao Ensino, Pesquisa e Assistência do Hospital das Clínicas da FMRP/USP (FAEPA
FAEPAFAEPA
FAEPA) pelo
apoio financeiro para a realização desta pesquisa.
Ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ USP
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ USPHospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ USP
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto/ USP – território das
melhores oportunidades de aprendizado, fundamental para a minha formação científica e
profissional e que possibilitou o desenvolvimento deste trabalho
A todas as pessoas (f
ff
funcionários, técnicos, colegas,
uncionários, técnicos, colegas,uncionários, técnicos, colegas,
uncionários, técnicos, colegas,
amigos
amigosamigos
amigos
e familiares
e familiarese familiares
e familiares) que me ajudaram e
estiveram ao meu lado durante toda essa jornada contribuindo com seu conhecimento, boa
vontade e estímulo
À Secretaria de Saúde de Carmo do Rio Claro
Secretaria de Saúde de Carmo do Rio ClaroSecretaria de Saúde de Carmo do Rio Claro
Secretaria de Saúde de Carmo do Rio Claro e aos seus funcionários
funcionáriosfuncionários
funcionários que colaboraram com a
realização da coleta de dados
Aos pacientes
pacientes pacientes
pacientes que, em toda sua simplicidade, souberam valorizar este trabalho, confiaram em
nós e se doaram com genuíno desejo de contribuir. Sem eles, nada disso seria possível!
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da
v
vv
vida
idaida
ida
está no amor que não damos, nas forças que
está no amor que não damos, nas forças que está no amor que não damos, nas forças que
está no amor que não damos, nas forças que
não usamos,
não usamos, não usamos,
não usamos, na prudência egoísta que nada
na prudência egoísta que nadana prudência egoísta que nada
na prudência egoísta que nada
arrisca, e que, esquivando
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do
do do
do sofrimento,
sofrimento,sofrimento,
sofrimento,
perdemos também a felicidade.
perdemos também a felicidade.perdemos também a felicidade.
perdemos também a felicidade.”
Carlos Drummond de Andrade
RESUMO
Ferraro MF. Angioedema hereditário: estudo clínico e genético de uma família brasileira
[tese]. Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
2010.
O angioedema hereditário (AEH) é uma doença autossômica dominante caracterizada por
episódios de edema subcutâneo e/ou submucoso localizado e não pruriginoso. É causado pela
deficiência de inibidor de C1 (C1-INH) funcional, o que leva à inibição insuficiente das
cascatas plasmáticas formadoras de bradicinina. Aumento nos níveis de bradicinina é evento-
chave na patogênese dos episódios de angioedema. Mais de 200 mutações foram descritas no
gene que codifica o C1-INH (SERPING1). Os objetivos deste estudo foram analisar as
características clínicas de uma numerosa família com caso-índice de AEH e investigar o
defeito genético causador da doença nessa família. O heredograma da família foi construído
com 275 indivíduos relacionados distribuídos em 5 gerações. Desses, 165 foram entrevistados
e tiveram amostras de sangue coletadas para análise genética. Os indivíduos que referiam
história de episódios recorrentes de angioedema e/ou crises de dor abdominal foram avaliados
para AEH, incluindo dosagens de C4 e C1-INH. Identificamos uma nova mutação no gene
SERPING1, c.351delC deleção de um nucleotídeo citosina no exon 3 que resulta em
frameshift e stop codon prematuro. Um modelo molecular da proteína truncada hipotética foi
gerado permitindo-nos concluir que, se transcrita, essa proteína não possui atividade
biológica. Vinte e oito membros da família preencheram critérios diagnósticos de AEH e
todos eles apresentaram a mutação c.351delC. Houve ampla variabilidade na apresentação
clínica do AEH nesses pacientes. Os outros 137 indivíduos avaliados sem AEH não
apresentaram a mutação c.351delC. Esta é a família com maior número de indivíduos com
AEH descrita, e este estudo constitui-se na primeira análise molecular de AEH descrita na
América Latina. O presente estudo fornece evidência definitiva da relação causal entre a nova
mutação genética c.351delC e o desenvolvimento de AEH em pacientes de uma família
brasileira.
Palavras-chave: Angioedema hereditário. Inibidor de C1. Mutação genética. Serpinas.
ABSTRACT
Ferraro MF. Hereditary Angioedema: clinical and genetic study of a Brazilian family [thesis].
Ribeirão Preto: Universidade de São Paulo, Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, 2010.
Hereditary angioedema (HAE) is an autosomal dominant disease characterized by episodes of
subcutaneous and submucosal edema. It is caused by deficiency of the active C1 inhibitor
protein (C1-INH), which leads to insufficient inhibition of bradykinin-forming enzymes.
Elevated levels of bradykinin are the key event in the pathogenesis of swelling episodes. More
than 200 mutations in the C1-INH gene (SERPING1) have been reported. The aim of this
study was to analyze the clinical features of a large family with an index case of HAE and to
determine the disease-causing mutation in this family. Family pedigree was constructed with
275 individuals distributed in 5 generations. Of those, 165 were interviewed and had blood
samples collected and analyzed for DNA mutation. Subjects referring history of recurrent
episodes of angioedema and/or abdominal pain attacks underwent evaluation for HAE, which
included measurements of C4 and C1-INH. We have identified a novel SERPING1 mutation,
c.351delC, which is a single-nucleotide deletion of a Citosine on exon 3, resulting in
frameshift with a premature stop codon. A molecular model of the hypothetical truncated CI-
INH protein was generated allowing us to conclude that, if transcription occurs, this protein
has no biological activity. Twenty eight members of the family fulfilled diagnostic criteria for
HAE and all of them presented the c.351delC mutation. Considerable variation in clinical
presentation and severity of the disease was observed among these patients. The others 137
evaluated subjects without HAE do not have the c.351delC mutation. This family has the
largest number of patients with HAE described so far and this study constitutes the first
molecular analysis of HAE described in Latin America. The present study has provided
definitive evidence to link a novel genetic mutation, c.351delC, to the development of HAE in
patients of a Brazilian family.
Keywords: Hereditary angioedema. C1 inhibitor. Genetic mutation. Serpins
LISTA DE APÊNDICES
Páginas
APÊNDICE A -
Termo de consentimento livre e esclarecido ....................................... 83
APÊNDICE B -
Termo de consentimento livre e esclarecido para menores de 18 anos .
85
APÊNDICE C -
Ficha Clínica ...................................................................................... 88
LISTA DE FIGURAS
Páginas
Figura 1 -
Ação do C1-INH em suas diferentes vias de inibição.................................. 20
Figura 2 -
Análise da permeabilidade vascular em camundongos de diferentes
genótipos...................................................................................................
22
Figura 3 -
Prof. Maurício Oscar da Rocha e Silva (1910 – 1988)............................ 23
Figura 4 -
Mecanismo de ação das serpinas ............................................................... 25
Figura 5 -
Algoritmo para diagnóstico de AEH ......................................................... 29
Figura 6 –
Figura 7 –
Figura 8 –
Figura 9 –
Figura 10 -
Figura 11 -
Localização da mutação c.351delC no exon 3 do gene SERPING1............
Cromatograma do sequenciamento de DNA .............................................
Características da proteína inibidor de C1 original e da proteína truncada
resultante da ocorrência da mutação c.351delC.........................................
Modelagem molecular ..............................................................................
Análise de produtos de PCR......................................................................
Heredograma ...........................................................................................
49
50
51
52
53
55
LISTA DE GRÁFICOS
Páginas
Gráfico 1 –
Gráfico 2 –
Gráfico 3 –
Gráfico 4 -
Gráfico 5 –
Gráfico 6 –
Gráfico 7 –
Gráfico 8 -
Idade de início dos sintomas nos pacientes com AEH .............................
Tempo decorrido entre a idade de início dos sintomas e o diagnóstico
em cada um dos pacientes com
AEH.............................................................
Perfil de gravidade entre os pacientes com AEH da família em
estudo......
Comparação da gravidade do AEH entre pacientes do sexo masculino e
feminino .................................................................................................
Frequência de ocorrência dos diferentes sintomas entre os pacientes com
AEH .......................................................................................................
Apresentação clínica entre os pacientes sintomáticos com AEH ..............
Níveis séricos do inibidor de C1 de acordo com o score de gravidade
apresentados pelos pacientes com AEH ..................................................
Tratamento profilático utilizado pelos pacientes sintomáticos com AEH
.
58
59
60
60
61
62
63
64
LISTA DE TABELAS
Páginas
Tabela 1 -
Aspectos clínicos e laboratoriais associados a angioedema por várias
causas.....................................................................................................
31
Tabela 2 -
Nomenclatura da mutação identificada de acordo com a numeração de
nucleotídeos e aminoácidos em sistemas padronizados.............................
48
Tabela 3 -
Características clínicas dos pacientes com angioedema hereditário......... 56
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15
2 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 37
3 SUJEITOS E MÉTODOS ................................................................................................. 39
3.1 Sujeitos ............................................................................................................................. 40
3.2 Coleta de dados ................................................................................................................ 40
3.3 Aspectos éticos ................................................................................................................. 41
3.4 Caracterização clínica e score de gravidade ................................................................. 42
3.5 Dosagem do inibidor de C1 e do componente C4 do complemento............................. 42
3.6 Identificação de mutação no DNA ................................................................................. 43
3.7 Modelagem molecular ..................................................................................................... 45
3.8 Análise estatística ............................................................................................................ 46
4 RESULTADOS ................................................................................................................... 47
4.1 Deleção de um único nucleotídeo citosina associada a angioedema hereditário ....... 48
4.2 Modelagem molecular ..................................................................................................... 52
4.3 Evidências de que a mutação c.351delC é causa de angioedema hereditário na
família em estudo .................................................................................................................. 53
4.4 Heredograma ................................................................................................................... 54
4.5 Características dos pacientes com AEH ........................................................................ 54
4.6 Pacientes com angioedema por outras causas .............................................................. 65
5 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 66
6 CONCLUSÕES .................................................................................................................. 72
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 74
APÊNDICES .......................................................................................................................... 82
ANEXOS ................................................................................................................................ 89
15
1 INTRODUÇÃO
Introdução 16
1 INTRODUÇÃO
Angioedema hereditário: considerações gerais
O angioedema hereditário (AEH) é uma doença autossômica dominante causada pela
deficiência do inibidor de C1 (C1-INH). Trata-se de uma doença rara, debilitante e
potencialmente fatal que se caracteriza por episódios recorrentes de edema subcutâneo ou
submucoso localizado e não-pruriginoso.
A prevalência da doença é estimada em 1 caso para cada 50.000 pessoas, sem
diferenças entre grupos étnicos.
1-4
Embora o AEH seja uma condição rara, é a doença humana
mais comum causada por defeito genético em uma proteína do sistema complemento.
5
Angioedema recorrente é um sinal de várias entidades patológicas hereditárias e
adquiridas.
6
Na maioria dos casos, episódios de angioedema são relacionados a processos
alérgicos, e as formas não-alérgicas de angioedema são pouco conhecidas na prática médica
levando frequentemente a diagnósticos incorretos e tratamentos inapropriados, que podem
resultar em sofrimento e riscos desnecessários. A semelhança clínica a condições alérgicas
leva os pacientes com AEH a serem considerados alérgicos e tratados com anti-histamínicos e
corticosteróides, ineficazes nessa doença. As crises de edema abdominal podem mimetizar um
quadro de abdome agudo de tal forma que alguns pacientes com AEH têm sido submetidos a
explorações cirúrgicas desnecessárias, em alguns casos por repetidas vezes.
1
Histórico
Em 1888, Sir William Osler descreveu pela primeira vez uma forma hereditária de
angioedema, conhecida na época como edema angio-neurótico.
7
O defeito bioquímico foi
identificado 75 anos mais tarde quando Donaldson e Evans demonstraram que o soro desses
pacientes continha quantidades diminuídas de uma proteína que era inibidora do primeiro
componente do sistema complemento, designada então como inibidor de C1-esterase
8
atualmente chamado de inibidor de C1 (C1-INH).
1,9
Desde então vários pesquisadores têm
trabalhado buscando um melhor entendimento da genética, da patogênese e um manejo
clínico apropriado para a doença e, com o melhor conhecimento dos mecanismos
bioquímicos, o termo angio-neurótico foi sendo gradualmente abandonado.
Introdução 17
A terapia de reposição com concentrado do inibidor de C1 purificado de plasma
humano começou a ser utilizada na Europa em 1973 para o tratamento de pacientes com
crises agudas de AEH,
1
e em 1980 para o tratamento profilático das crises de angioedema.
10
As primeiras mutações no gene que codifica o inibidor de C1 associadas ao
aparecimento de AEH foram descritas em 1989
11,12
e em 1990-1991 a localização do gene foi
mapeada no cromossomo 11q12-q13.1.
13,14
A sequência completa de nucleotídeos do gene
para o inibidor de C1 foi determinada em 1991 por Carter et al,
15
e a estrutura tridimensional
da molécula foi resolvida em 2007 por Beinrohr et al.
16
Características clínicas
Os sintomas do AEH são causados por extravasamento de plasma para as camadas
cutâneas ou mucosas mais profundas, como consequência da liberação local de peptídeos
vasoativos. Os episódios de angioedema não são acompanhados de urticária e envolvem
tipicamente a pele, o trato gastrintestinal e a laringe.
6,9
Sintomas cutâneos: o edema cutâneo pode afetar qualquer parte do corpo, embora
ocorra tipicamente na face, extremidades e genitais, e se caracteriza por ter margens mal
definidas, não apresentar prurido ou eritema, e desfigurar o local afetado levando à perda
temporária de função.
1
Sintomas abdominais: dor abdominal recorrente ocorre como consequência de edema
da parede gastrintestinal e é referida por cerca de 70% dos pacientes. Esse é um aspecto
distintivo da deficiência de inibidor de C1, já que o envolvimento abdominal é raramente
observado em angioedema por outras causas. Os sintomas podem variar de um desconforto
leve a uma dor intensa, intratável, acompanhada de náuseas, vômitos e/ou diarreia.
1
Os sons
intestinais estão frequentemente diminuídos ou silenciosos e defesa abdominal pode estar
presente ao exame físico. O extravasamento de fluidos para o interstício ou cavidade
peritoneal durante as crises abdominais pode levar a hipotensão clinicamente significante, e
leucocitose moderada pode ser encontrada durante a crise.
1,2
Esse conjunto de achados pode
mimetizar emergências cirúrgicas (abdome agudo), levando a explorações cirúrgicas
desnecessárias em até 1/3 dos pacientes com AEH não diagnosticado.
1
Pacientes com AEH
que apresentam apenas crises abdominais são raros, mas já foram descritos.
17
Sintomas
abdominais com frequência aparecem na infância e podem preceder o edema subcutâneo em
vários anos.
18
Introdução 18
Sintomas laríngeos: os episódios de edema de laringe constituem a situação de maior
risco para os pacientes com AEH, sendo que mais da metade deles desenvolvem pelo menos 1
episódio durante a vida.
19
Dados históricos sugerem que, no passado, 30% dos pacientes com
AEH morriam por asfixia. Mesmo hoje, pacientes eventualmente vão a óbito por asfixia,
particularmente na ausência de diagnóstico apropriado.
1,2
Os sintomas se iniciam mais comumente durante a infância (idade escolar), se
agravam durante a puberdade e persistem por toda vida, com gravidade imprevisível. No
entanto, os sintomas podem ter início em qualquer idade, mesmo durante o 1º ano de vida ou
aos 70 80 anos de idade.
3,9,20
Cerca de 50% dos pacientes apresentam sintomas na primeira
década de vida e outros 30% iniciam os sintomas na segunda década.
1
Estima-se que 5% dos
adultos portadores de mutação no gene C1-INH sejam assintomáticos.
21
A frequência e a gravidade dos sintomas é extremamente variável entre os indivíduos e
costuma variar também no mesmo indivíduo em diferentes períodos da vida. Um
levantamento entre pacientes italianos mostrou que pouco menos de 1/3 dos mesmos com
AEH têm mais do que 1 crise por mês (alguns a cada 5 dias); 40% têm de 6 a 11 episódios por
ano; e os outros 30% têm sintomas infrequentes ou são assintomáticos.
1
Pacientes podem
permanecer longos períodos sem crises de AEH e então os sintomas surgem novamente, por
vezes ainda mais intensos. Não se conhecem as razões para tal variação.
9
Essa variação da
expressão fenotípica não se correlaciona com os níveis séricos do inibidor de C1 e é
habitualmente inconsistente entre os grupos familiares. Dessa forma, se pode concluir que
outros fatores, genéticos ou ambientais, além da deficiência do inibidor de C1 interferem na
tendência do paciente em desenvolver angioedema.
1
Os episódios de angioedema são
esporádicos e normalmente ocorrem sem nenhuma causa precipitante aparente, no entanto,
existem alguns fatores desencadeantes conhecidos, tais como: traumas mecânicos, stress,
procedimentos cirúrgicos ou dentários, alterações hormonais, drogas (ex: inibidores da
enzima conversora da angiotensina, contraceptivos orais) e infecções.
2,21
O padrão de herança autossômica dominante prediria incidência e gravidade
semelhantes entre os sexos, mas a maioria dos especialistas nota uma predominância de
mulheres buscando tratamento. Isso pode representar um viés de seleção, mas pode ser
também reflexo das influências hormonais na gravidade da doença. Estrógenos causam
aumento da freqüência e intensidade das crises. Algumas pacientes são tratadas com a simples
suspensão de contraceptivos orais e muitas mulheres notam que a frequência dos episódios é
maior durante o período menstrual.
9
A gravidez tem efeito variável na gravidade da doença,
mas as crises são raras durante o parto.
2
Introdução 19
As crises de angioedema normalmente seguem um curso previsível. Muitos episódios
são precedidos por um pródromo (normalmente uma sensação de formigamento) e alguns
pacientes referem aparecimento de eritema marginatum um rash serpinginoso, não
pruriginoso e sem formação de pápulas ou placas. O edema classicamente progride nas
primeiras 24 horas e então regride gradualmente nas próximas 48 a 72 horas, mas isso pode
ser variável.
2,9
Trata-se de uma doença com grande impacto econômico e social. A freqüente
necessidade de intervenções médicas, tratamento contínuo a longo-prazo e as interrupções nas
atividades diárias, especialmente no trabalho, levam frequentemente a prejuízos na qualidade
de vida, educação, carreira, além dos altos custos financeiros.
Fisiopatologia
Os sintomas do AEH não são mediados por histamina e não respondem bem aos anti-
histamínicos ou corticosteróides. A doença resulta da deficiência funcional e/ou quantitativa
do inibidor de C1, proteína membro da família das Serpinas (serpin, serine protease
inhibitor), que é o principal inibidor de várias proteases do sistema complemento (C1r, C1s,
MASP 1 e MASP 2) e das proteases do sistema de contato (calicreína e fator XIIa), e um
inibidor menos importante do sistema fibrinolítico (plasmina e plasminogênio tecidual).
Durante as crises de AEH, essas cascatas proteolíticas plasmáticas são ativadas e
várias substâncias vasoativas são liberadas.
2,22,23
Estudos têm demonstrado de forma
consistente que a bradicinina é o principal mediador do aumento da permeabilidade capilar
nas crises de AEH.
20,24
A ativação da cascata plasmática formadora de bradicinina compreende um complexo
processo de 3 passos em que ocorre ativação do fator XII (fator de Hageman), conversão da
pré-calicreína em calicreína plasmática e digestão do cininogênio de alto peso molecular, com
liberação de bradicinina. A cascata é ativada in vitro pela ligação do fator XII e de um
complexo de pré-calicreína e cininogênio de alto peso molecular a superfícies iniciadoras (ex:
silicatos, endotoxinas, cristais de ácido úrico). No entanto, in vivo, traumas na superfície
endotelial ou em outros tecidos podem expor superfícies iniciadoras (ex: proteínas de carga
negativa) que ativam o fator XII e iniciam cascatas fator XII-dependentes. A pré-calicreína
circula ligada ao cininogênio de alto peso molecular e é convertida em calicreína plasmática
pelos fatores XIIa e XIIf. A calicreína plasmática então cliva o cininogênio de alto peso
molecular, liberando bradicinina. O inibidor de C1 se liga ao sítio ativo da calicreína
Introdução 20
plasmática bloqueando a sua habilidade de clivar o cininogênio de alto peso molecular e de
ativar o fator XII. Além disso, ele é o único inibidor plasmático significativo para os fatores
XIIa e XIIf, controlando virtualmente todas as reações da cascata plasmática formadora de
bradicinina (Figura 1).
Figura 1. Ação do C1-INH em suas diferentes vias de inibição.
Na via clássica do complemento o componente C1(protease) é ativado e então agrega C2 e C4
formando a C3 convertase (barras horizontais sobre os nomes indicam ativação). Na via de ativão
do Sistema de Contato, traços de fator XIIa e/ou contato com superfícies iniciadoras ativam o fator
XII que ativa a p-calicreína em calicreína plasmática. Esta, por sua vez, ativa o próprio fator XII e
cliva o cininogênio de alto peso molecular, liberando bradicinina. O fator XIIa também ativa o fator
XI em fator XIa, levando a aumento na formação de fibrina. Na Via Fibrinolítica, o plasminogênio é
ativado em plasmina que cliva a fibrina. Atividade proteolítica (ativação) está indicada pelas setas
verdes e os passos inibidos pelo C1-INH com as barras vermelhas em “T”. (Modificada de Zuraw,
2008).
2
Introdução 21
O primeiro componente do sistema complemento torna-se instável na ausência do
inibidor de C1, ocorrendo uma lenta auto-ativação de C1r. Esta é a provável razão pela qual
os níveis de C4 estão diminuídos em 95% dos pacientes com AEH, mesmo enquanto
assintomáticos. Durante um episódio de angioedema há maior ativação de complemento, os
níveis de C4 tendem a zero e os níveis de C2 caem. O C1 ativado forma complexos com o
inibidor de C1 diminuindo ainda mais os seus níveis. A ativação de C1r e C1s pelo fator XIIf
explica a diminuição nos níveis de C4 e C2 que coincidem com as crises de angioedema. Os
níveis de outros componentes do complemento e de anafilatoxinas são normais.
25
As principais evidências que, em conjunto, demonstram ser a bradicinina o principal
mediador do angioedema na deficiência do inibidor de C1 são as seguintes: 1) pré-calicreína e
cininogênio de alto peso molecular são depletados durante as crises de angioedema e o
cininogênio de alto peso molecular é amplamente clivado;
26,27
2) níveis de bradicinina estão
elevados em plasma de pacientes com AEH e no efluente venoso de um braço edemaciado
comparado com o braço não afetado;
28
3) modelo animal com deficiência do inibidor de C1
apresentando edema e vasodilatação semelhantes aos de pacientes com AEH foi efetivamente
tratado por knockout do receptor B2 da bradicinina (Figura 2);
29
4) uma família com uma
mutação singular do gene C1-INH, que é incapaz de inibir a ativação de C1, mas inibe
normalmente o fator XIIa e a calicreína plasmática, não apresenta evidência de angioedema
em uma grande coorte.
30
Introdução 22
Bradicinina
O nonapeptídeo bradicinina é um potente mediador local de vasodilatação e aumento
da permeabilidade vascular, particularmente em vênulas pós-capilares, que produz seus
efeitos através da estimulação dos receptores B2 ligados a Proteína-G (B2R).
A bradicinina foi descoberta pelo médico e cientista brasileiro Dr. Mauricio Rocha e
Silva (Figura 3), no curso de experimentos conduzidos no Instituto Biológico em São Paulo,
ao investigar o papel fisiológico do veneno de cobra jararaca (Bothrops jararaca).
31
Rocha e
Silva et al relataram que a adição de amostra de sangue de cachorro obtida após a injeção de
quantidades diminutas do veneno de jararaca a preparação de intestino de guinea pig, ou a
adição in vitro de soro de cachorro juntamente com veneno de jararaca a essa preparação,
tinham um efeito marcante de contração do intestino. Os autores usaram então o termo
Figura 2. Análise da permeabilidade vascular em camundongos de diferentes getipos.
Foi feita aplicação endovenosa de corante azul de Evans em camundongos de diferentes getipos
e observou-se que o extravasamento do corante após 15-30 minutos foi muito mais extenso nos
camundongos deficientes de C1-INH (Knockout para o gene do C1-INH) (b) do que nos
camundongos wildtype (a). A diferença na extensão do extravasamento ficou claramente
demonstrada pela coloração das patas traseiras dos camundongos de cada genótipo. A
administração de C1-INH humano resultou em redução da permeabilidade vascular, assim como a
combinação de deficiência do receptor B2 da bradicinina (Bk2R) associada à
deficiência de
C1-INH (c). (Modificado de Han et al, 2002).
29
Introdução 23
bradicinina para identificar essa substância presente no plasma ou no soro que produzia um
movimento mais lento do intestino, quando comparado ao efeito de outras substâncias como a
histamina e acetilcolina. Preparação de bradicinina purificada também causou uma queda
brusca e intensa da pressão arterial quando injetada via endovenosa em cães e gatos, levando
a estado de choque, seguida de um lento retorno da pressão arterial a níveis basais.
31
A
presença de um potente agente hipotensor e estimulante de músculo liso em plasma ou soro
oferecia uma nova possibilidade para explicar a etiologia de muitos sintomas que ocorrem em
choque causado por venenos. Estudos subsequentes desenvolvidos por Rocha e Silva e Sérgio
Ferreira na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto resultaram na identificação da fração
peptídica do veneno de Bothrops jararaca que potencializava a ação da bradicinina em vários
órgãos isolados e na pressão arterial de gatos. Os autores demonstraram que esse fator,
denominado Bradykinin Potentiating Factor, causava inibição da ação de enzimas que
degradam a bradicinina.
32
Essas descobertas por pesquisadores brasileiros forneceram a base para o
desenvolvimento dos inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina (inibidores da ECA),
introduzidos em 1981, que são medicações amplamente utilizadas no tratamento da
hipertensão arterial e insuficiência cardíaca congestiva em todo o mundo, com grande
eficácia. De forma interessante, um dos efeitos adversos do uso de inibidores da ECA é o
aparecimento de angioedema que ocorre em cerca de 0,7% dos pacientes, e que se assemelha
ao AEH em muitos de seus aspectos clínicos. O mecanismo principal do angioedema por
inibidores da ECA, que é classe-específico, não é completamente conhecido, entretanto
Figura 3. Prof. MAURÍCIO OSCAR DA ROCHA E
SILVA (1910 1988). Médico pesquisador do Instituto
Biológico, aonde realizou os experimentos que levaram
à descoberta da Bradicinina, em colaboração com o
fisiologista Wilson Beraldo e o hematologista Gastão
Rosenfeld em 1948. Na década de 40 liderou o
movimento para a criação da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência SBPC. Em 1957, no auge de sua
carreira, foi convidado a lecionar na então recém-
fundada Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP,
aonde foi Professor do Departamento de Farmacologia.
O professor, Dr. Maurício Rocha e Silva foi um “homem
culto, criativo e corajoso, inteligência privilegiada,
lutador incansável, trabalhador invencível, um idealista,
um sonhador que se guiou pela intuição”.
34
Introdução 24
evidências consistentes indicam que há aumento da bradicinina por diminuição da degradação
da mesma pela ECA e, possivelmente, deficiência quantitativa e/ou qualitativa de outras
proteases alternativas que têm ação na degradação da bradicinina, incluindo Aminopeptidase
P (APP) e Dipeptidilpeptidase IV (DPPIV).
33
Inibidor de C1: aspectos genéticos, estrutura e mecanismo de ação
O gene SERPING, que codifica o inibidor de C1, inclui 8 exons distribuídos em uma
região de 17kb e está localizado na sub-região q12-q13 do cromossomo 11.
1,35
Codifica uma
proteína de 500 aminoácidos, incluindo um signal peptide de 22 aminoácidos. A proteína
madura tem, portanto, 478 aminoácidos e é fortemente glicosilada (aproximadamente 30% do
seu peso), contendo 13 sítios de glicosilação. Embora a proteína migre com peso molecular
de 104 kDa em análise por SDS-PAGE, o seu peso molecular calculado é um pouco mais
baixo, sendo de 76 kDa. O inibidor de C1 consiste de um domínio N-terminal de 113
aminoácidos e um domínio serpina de 365 aminoácidos. A região N-terminal é área de
glicosilação intensa, entretanto sua função não é bem conhecida. Duas pontes dissulfeto ligam
a Cisteina 101 à Cisteina 406; e a Cisteina 108 à Cisteina 183, conectando os domínios N-
terminal e C-terminal, e acredita-se que essas ligações dissulfeto tenham papel na estabilidade
da molécula. A atividade enzimática está localizada no domínio serpina. A estrutura do
domínio serpina é homóloga àquela de outras serpinas e é essencial para a atividade inibitória
da molécula; a deglicosilação não modifica a atividade enzimática.
36
O inibidor de C1 é membro da superfamília das serpinas, que constituem uma classe
de proteinas altamente conservadas através da evolução, cuja principal função é regular a
atividade das serina proteases. Alfa-1-antitripsina é considerada o arquétipo das serpinas. A
estrutura tridimensional das serpinas mostra que elas são proteínas globulares com α -hélices,
β-sheets e uma alça central reativa móvel (Reactive Central Loop RCL). O domínio serpina do
inibidor de C1 humano recombinante foi recentemente cristalizado na sua chamada “forma
latente” que é a conformação da serpina inativa, sem clivagem da alça central reativa, a partir
de um construct iniciando no aminoácido de número 97 da proteína madura.
16
Após a ligação
covalente do sítio ativo da protease alvo com o resíduo de aminoácido da alça central reativa
do inibidor, a protease é inativada por um mecanismo tipo “ratoeira” sendo transferida do
polo superior ao polo inferior da protna enquanto a alça central reativa é inserida na
molécula (Figura 4).
37
Esse elegante mecanismo é quase invariavelmente destruído por
Introdução 25
mutações pontuais.
5
O complexo serpina-protease é rapidamente eliminado da circulação. No
caso do inibidor de C1, a meia vida plasmática para o clearance de complexos com várias
proteínas alvo varia de 20 a 47 minutos.
36
Figura 4. Mecanismo de ação das serpinas. a) o passo inicial é a ligação da protease livre ao resíduo P1
apresentado pela alça reativa central (RCL) da serpina em sua forma ativa; b) a protease cliva a RCL
causando uma profunda alteração conformacional na molécula da serpina enquanto a protease é
deformada e translocada para o po
lo oposto da molécula do inibidor, resultando em inibição enzimática
por distorção do sítio ativo; c) o complexo exibe novos epítopos que promovem a internalização celular
e degradação. Desta forma, o complexo protease-serpina pode ser considerado, de maneira geral,
biologicamente irreversível, e o mecanismo é considerado como “suicida”. (Modificada de Cugno et al,
2009).
38
Introdução 26
Mutações no gene SERPING1 associadas a angioedema hereditário
De acordo com a base de dados de mutações no gene do inibidor de C1 (HAEdb,
http://hae.enzim.hu), mais de 200 mutações diferentes foram identificadas em pacientes com
AEH até o momento, indicando a heterogeneidade genética da doença.
39
Apesar da extrema
variabilidade na frequência e gravidade dos sintomas, estes não se correlacionam com o tipo
de defeito genético. Mutações missense constituem o maior grupo de mutações no gene
SERPING1 resultando em AEH (34,2%), seguidas por alterações de frameshift (24,4%),
defeitos splice-site (9,4%), mutações nonsense (7,1%), pequenas inserções ou deleções (6,8%)
e mudanças no promotor (1,1%).
39,40
A taxa de mutações espontâneas (mutações de novo) no
SERPING1 é de 25%, ou seja, mutações identificadas naqueles pacientes com AEH que não
possuem história familiar da doença.
1,2,9,40
Apesar do conhecimento das mutações que levam
ao aparecimento do AEH, tem sido descrita de forma consistente uma correlação pobre entre
o tipo particular de mutação, os níveis plasmáticos do C1-INH e o fenótipo da doença.
41,42
Classificação
O AEH tem sido tradicionalmente classificado em dois tipos, de acordo com as
concentrações antigênicas e atividade funcional do C1-INH: AEH tipo I - engloba a maioria
(85%) dos casos e AEH tipo II 15% dos casos. Os dois tipos são indistinguíveis do ponto de
vista clínico, mas são causados por tipos de mutação diferentes. As mutações no gene
SERPING1 que causam AEH tipo I ocorrem por todo o gene e resultam em proteínas
truncadas que não são eficientemente secretadas, levando a níveis antigênicos e funcionais do
C1-INH diminuídos. As mutações que causam o AEH tipo II normalmente envolvem o exon 8
(no sítio ativo ou perto dele) e resultam na secreção de uma proteína mutante que é
disfuncional e, desta maneira, os níveis antigênicos do C1-INH são normais ou pouco
aumentados, mas sua atividade funcional encontra-se reduzida.
1,2,5,40,43
Mais recentemente foi descrito um terceiro tipo de angioedema familiar (AEH tipo III)
no qual os pacientes apresentam níveis antigênicos e funcionais do C1-INH normais.
35,44,45
As
primeiras descrições indicavam a dependência de níveis elevados de estrógeno, sendo que os
sintomas acometiam apenas mulheres, particularmente durante a gestação ou durante
tratamento com estrógenos exógenos. Posteriormente foram descritas famílias com indivíduos
do sexo masculino também acometidos.
6
Clinicamente o AEH tipo III é indistingvel dos
Introdução 27
tipos I e II, exceto por apresentar uma maior porcentagem de episódios faciais de
angioedema.
46
Muitos, mas não todos os indivíduos com AEH tipo III apresentam uma
mutação de ganho de função no fator XII da coagulação que pode induzir ao aumento na
geração de bradicinina.
47-51
Diagnóstico
Longos atrasos no diagnóstico são comuns em pacientes com AEH. O tempo médio
entre o início dos sintomas e o diagnóstico era de 22 anos em 1977 e de um pouco mais que
10 anos em 2005, de acordo com registros Europeus. No Brasil, essa média deve ser ainda
maior considerando-se o pouco conhecimento a respeito da doença e a carência de centros de
referência na maioria das regiões brasileiras.
O diagnóstico deve ser suspeitado em qualquer indivíduo que apresente episódios
recorrentes de angioedema e/ou dor abdominal na ausência de urticária associada e/ou
naqueles indivíduos com história familiar positiva. A avaliação diagnóstica feita antes de 1
ano de idade pode não ser confiável e deve ser confirmada após essa idade (exames falso-
negativos ou falso-positivos podem ocorrer a não ser que seja feita análise genética).
3,4,19,52
Deve-se considerar que, embora a maioria dos pacientes refira história familiar de
angioedema, até 25% são portadores de mutações de novo. Portanto, história familiar não é
necessária para se estabelecer o diagnóstico de AEH.
20
Exames laboratoriais são necessários para confirmar ou excluir o diagnóstico.
Praticamente todos os pacientes com AEH apresentam níveis séricos ou plasmáticos de C4
diminuídos permanentemente, níveis de C2 diminuídos apenas durante as crises de
angioedema e níveis normais de C1 e C3. A dosagem dos níveis de C4 é um teste de
screening eficiente em termos de custo para excluir o diagnóstico de AEH, embora em raros
casos (cerca de 2 %), os níveis de C4 possam estar normais entre as crises. No entanto, uma
dosagem normal de C4 durante uma crise de angioedema torna o diagnóstico de AEH
muitíssimo improvável.
2,3
Para se completar o diagnóstico de AEH, dosagens subsequentes
dos níveis antigênicos e da atividade funcional (em alguns casos) do C1-INH são necessárias.
Níveis antigênicos diminuídos confirmam o diagnóstico de AEH tipo I. Caso os níveis
antigênicos sejam normais, a avaliação da atividade funcional do C1-INH é necessária e, se
diminuída, confirma o diagnóstico de AEH tipo II (níveis antigênicos normais, porém
atividade funcional do C1-INH diminuída). A maioria dos consensos orienta que os testes
sejam repetidos uma vez para confirmação do diagnóstico.
1,3,35
O Quadro 1 indica os critérios
Introdução 28
diagnósticos sugeridos pelo Third C1 Esterase Inhibitor Deficiency Workshop de 2003,
1
e a
Figura 5 apresenta algoritmo para diagnóstico sugerido pelo International consensus
algorithm for the diagnosis, therapy and management of hereditary angioedema de 2010.
3
CRITÉRIOS CLÍNICOS:
Maiores
1. Angiodema auto-limitado, não-
inflamatório, sem urticária, geralmente recorrente e
com duração maior que 12 horas
2. Dor abdominal de remissão espontânea, sem causa orgânica determinada, geralmente
recorrente e com duração maior que 6 horas
3. Edema de laringe recorrente
Menor
4. História familiar de angioedema recorrente e/ou dor abdominal e/ou edema laríngeo
CRITÉRIOS LABORATORIAIS
1. Níveis antigênicos do inibidor de C1 diminuídos em 2 determinações distintas com
paciente assintomático e após o primeiro ano de vida
2. Atividade diminuída do inibidor de C1 em 2 determinações distintas com paciente
assintomático e após o primeiro ano de vida
3. Mutação no gene codificador do inibidor de C1, alterando a síntese ou função da
proteína
O diagnóstico pode ser estabelecido na presença de 1 critério clínico maior (1-3) e 1
critério laboratorial
Quadro 1. Critérios para diagnóstico de angioedema causado por deficiência do inibidor de
C1 (Agostoni et al, 2004, tradução nossa).
1
Introdução 29
Figura 5. Algoritmo para diagnóstico de AEH (Bowen et al, 2010, tradução nossa).
3
Introdução 30
Diagnóstico diferencial
Além da forma hereditária, existe uma forma adquirida de angioedema por deficiência
do inibidor de C1, que não é o foco deste trabalho. O Angioedema Adquirido (AEA) está
frequentemente associado a doenças linfoproliferativas, neoplásicas, infecciosas ou
autoimunes e ocorre pelo consumo acelerado do inibidor de C1, relacionado muitas vezes à
presença de auto-anticorpos que inativam o C1-INH.
1
O AEA apresenta sintomas semelhantes
aos do AEH, mas se diferencia pela ausência de história familiar, idade de início dos sintomas
mais tardia (normalmente durante ou após a 4ª década) e níveis plasmáticos de C1q
diminuídos, como mostra a Figura 5.
2,3,4,53
Angioedema é efeito adverso conhecido da terapia com inibidores da enzima
conversora da angiotensina (I-ECA), ocorrendo em 0,1 a 0,7% dos pacientes tratados. O
angioedema induzido por I-ECA, assim como o AEH, tem como seu principal mediador a
bradicinina e afeta mais frequentemente face, pescoço, lábios, língua e laringe. O mecanismo
do angioedema induzido por I-ECA se dá pela própria inibição da ECA (envolvida na
degradação da bradicinina) que bloqueia a conversão da angiotensina e reduz o catabolismo
da bradicinina, aumentando sua atividade.
33
O angioedema ocorre mais comumente no início
do tratamento com I-ECA, mas pode se desenvolver anos após o uso da droga ter sido
iniciado. Vários fatores de risco para o angioedema induzido por I-ECA têm sido
identificados, incluindo: raça negra, sexo feminino, tabagismo, idade superior a 65 anos,
alergias, obesidade, cirurgia ou trauma nas vias aéreas superiores, apneia do sono e
imunossupressão em receptores de transplantes cardíaco ou renal. Como o angioedema por
I-ECA é um efeito classe-dependente, deve ser feita a substituição da droga por um anti-
hipertensivo de outra classe.
54
Várias formas de angioedema e as principais características diferenciais estão descritas
na Tabela 1.
2
Introdução 31
Introdução 32
Tratamento
O manejo ideal do AEH deve incluir o tratamento das crises agudas, profilaxia de
curto prazo em situações de risco conhecido, e profilaxia de longo-prazo buscando minimizar
a frequência e a gravidade das crises.
Tratamento das crises. Terapia de reposição com inibidor de C1 purificado do plasma,
pasteurizado (Berinert P®, CSL Behring) e nanofiltrado (Cinryze®, ViroPharma) tem se
mostrado altamente efetiva e segura e constitui o principal tratamento para as crises de AEH
em vários países. Em geral, as crises começam a se resolver dentro de 30 a 60 minutos após
injeção intravenosa do inibidor de C1.
2,55,56
A terapia é utilizada na Europa há mais de 30
anos
21
e só foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos em
2009 para o tratamento da crise aguda.
55
O inibidor de C1 não é licenciado e disponível no
Brasil.
Como alternativa, em nosso meio dispomos do plasma fresco congelado. O plasma
fresco congelado contém inibidor de C1 e vários estudos não controlados têm relatado
benefício do seu uso nas crises agudas de AEH. No entanto, esse uso é controverso, uma vez
que o plasma fresco congelado também contém proteínas do sistema de contato que podem
servir como substrato para a geração adicional de bradicinina, o que poderia exacerbar os
ataques em alguns pacientes.
1-3
A experiência clínica indica que o uso de epinefrina na crise
aguda de angioedema pode trazer um benefício transitório, ocasionalmente prevenindo a
necessidade de intubação nos pacientes com angioedema de laringe.
1
Anti-histamínicos e
corticoesteróides não trazem benefícios durante as crises de AEH e não devem ser usados
com essa indicação.
2
Não há dados suficientes para se recomendar formalmente o uso dos
andrógenos ou dos antifibrinolíticos no tratamento da crise aguda, porém, na ausência de
outras alternativas terapêuticas eles podem ser utilizados.
1,3,4
Alguns argumentam que,
embora sejam eficazes na profilaxia das crises de AEH, essas drogas demoram alguns dias
para atingirem seus efeitos terapêuticos o que as torna inapropriadas para o tratamento das
crises agudas.
2
Mais recentemente, novos tratamentosm sido aprovados para as crises de AEH.
poucos meses, uma nova droga para o tratamento das crises de AEH foi aprovada para uso no
Brasil o icatibanto (Firazyr®, Shire), que é utilizado desde 2008 na Europa, mas ainda não
foi aprovado pelo FDA nos Estados Unidos.
55
Trata-se de um peptídeo contendo 10
aminoácidos que atua como antagonista seletivo do receptor B2 da bradicinina. Estudos
Introdução 33
mostraram que o icatibanto reverte o aumento da permeabilidade vascular em camundongos
knockout para o inibidor de C1,
24
inibe a vasodilatação mediada por bradicinina em humanos
e, em estudo de fase 1, mostrou inibição dose-dependente dos efeitos induzidos pela
bradicinina in vivo.
57
Em estudo de fase 2, os sintomas melhoraram significativamente após
tratamento open-label com icatibanto em 15 pacientes com AEH apresentando crises de
angioedema cutâneo ou dor abdominal.
58
Em 2 estudos recentes de fase 3 um placebo-
controlado e outro comparando icatibanto com ácido tranexâmico a aplicação de icatibanto
subcutâneo reduziu o tempo para alívio dos sintomas em pacientes com crises agudas, embora
a diferença tenha atingido significância apenas no segundo estudo.
59
Embora o icatibanto se
apresente como a única alternativa terapêutica eficaz disponível em nosso país, o seu alto
custo ainda limita o uso para a maioria dos pacientes em nosso meio.
O ecallantide (Kalbitor®, Dyax) é uma proteína de 60 aminoácidos com potente ação
de inibição específica para a calicreína plasmática, e não tem efeitos no sistema complemento
ou no sistema da coagulação. Em estudos prévios, envolvendo mais de 100 pacientes com
AEH, o ecallantide mostrou um bom perfil de segurança e eficácia nas crises agudas.
55
Em
recente publicação, Cicardi et al
60
apresentaram os resultados de estudo de fase 3 placebo-
controlado. O uso de ecallantide subcutâneo se mostrou seguro e eficaz quando comparado ao
placebo em crises agudas. A segurança, eficácia e antigenicidade no uso a longo-prazo ainda
devem ser avaliadas. O ecallantide foi aprovado pelo FDA para o tratamento das crises agudas
de AEH em 2009, mas ainda não foi licenciado na Europa e no Brasil.
55
O manejo da dor, a reposição de fluidos e os cuidados de suporte são essenciais, mas
não afetam o prognóstico das crises.
Profilaxia de curto prazo. O tratamento profilático de curto-prazo é útil para prevenir
ataques de AEH em pacientes com exposição programada a situações de risco, tais como
procedimentos dentários, procedimentos médicos invasios ou cirurgias.
Consensos e recomendações baseados em estudos não controlados recomendam que os
pacientes com AEH se protejam de crises graves com uso de:
1) Inibidor de C1 endovenoso (500 a 1500 U administrado 1 hora antes do
procedimento) OU - se não houver disponibilidade do inibidor de C1,
2) altas doses de andrógenos atenuados (ex: danazol 200 mg por via oral 3 vezes ao
dia) por 5 a 10 dias antes do procedimento OU
3) plasma fresco congelado (2U via endovenosa 1 a 12 horas antes do procedimento).
Introdução 34
Embora o plasma fresco congelado seja mais caro quando comparado aos andrógenos
e associado ao risco de infecções, ele é geralmente mais efetivo em prevenir ou minimizar os
ataques – ao contrário do seu papel controverso no tratamento dos ataques agudos.
Profilaxia de longo-prazo. A profilaxia de longo-prazo deve ser considerada para
aqueles pacientes que apresentam crises graves e/ou frequentes (mais que 1 vez ao mês) ou
quando tratamentos efetivos para as crises agudas não estiverem disponíveis. A profilaxia
pode ser feita com andrógenos atenuados, agentes antifibrinolíticos ou concentrado de
inibidor de C1.
1,2,3,35
Andrógenos sintéticos atenuados, como Danazol e Stanazolol, são as drogas mais
comumente utilizadas para o tratamento profilático do AEH. Os mecanismos pelos quais estas
drogas beneficiam os pacientes com AEH não são totalmente compreendidos, mas há
evidências de que elas estimulam a síntese hepática do inibidor de C1 pelo alelo normal,
reduzindo significantemente a frequência das crises. As principais contra-indicações para o
tratamento com andrógenos são: gravidez, lactação, câncer, hepatite e infância. Os efeitos
adversos são dose-dependente e incluem virilização, ganho de peso, acne, hirsutismo,
alteração da libido, alteração na voz, irregularidade menstrual, sintomas vasomotores,
cefaléia, depressão, hipertensão arterial, aterogênese, alteração do metabolismo lipídico,
hepatotoxicidade, neoplasias hepáticas, eritrocitose, cistite hemorrágica e genitália ambígua
em recém-nascidos de mães tratadas durante a gravidez.
1,2,3,35
No entanto, estudos
demonstram que os efeitos colaterais são raros e, em geral, leves, quando se utiliza a dose
mínima eficaz para o controle dos sintomas, mesmo após 10 anos de tratamento.
61,62,63
Assim
sendo, é fundamental que a dose de manutenção seja ajustada individualmente até a mínima
dose efetiva para o controle clínico dos sintomas - exames laboratoriais não são úteis na
determinação da dose. Durante o uso dessas drogas deve ser feito monitoramento semestral
com enzimas hepáticas, perfil lipídico, hemograma e urinanálise, além de ultrasom de fígado
anual. A indução com andrógenos pode ser feita com doses altas (ex: 400 a 600 mg de
danazol/dia) seguida de redução, ou com doses baixas progredindo a doses maiores buscando
a dose de manutenção mais baixa capaz de manter o controle dos sintomas (dose máxima
diária recomendada para manutenção: 200 mg de danazol ou 2 mg de Stanazolol).
1,3,4, 63
Entre os agentes antifibrinolíticos, o Ácido Tranexâmico é mais eficaz que o Ácido
Epsilon Aminocapróico, porém ambos são menos eficazes que os andrógenos para o
tratamento profilático do AEH.
1,3,4
São drogas que atuam diretamente na Via da Coagulação,
inibindo a ativação do plasminogênio em plasmina e, indiretamente, levam a diminuição na
Introdução 35
formação de bradicinina a plasmina possui um efeito catalizador indireto na clivagem do
cininogênio de alto peso molecular.
64
São utilizados principalmente para profilaxia em
crianças antes do estadio puberal Tanner V, em gestantes e em adultos que não toleram ou não
aceitam os riscos dos efeitos colaterais dos andrógenos.
35
Os principais efeitos adversos
incluem mialgia, fraqueza muscular, níveis elevados de creatina fosfoquinase ou aldolase.
Deve ser feito monitoramente semestral com CK, exame de urina, função renal, enzimas
hepáticas e exame oftalmológico anual para avaliação da pressão ocular (risco de glaucoma).
O uso deve ser criterioso se há história familiar de trombofilia ou doença tromboembólica
ativa. A dose não está bem estabelecida, mas recomenda-se início com 20 a 50 mg/kg/dia
(máximo 4 a 6 g/dia), buscando-se a menor dose efetiva para o controle dos sintomas.
3
Em alguns países da Europa e nos EUA o uso da terapia de reposição com
concentrado de inibidor de C1 derivado de plasma para profilaxia a longo-prazo do AEH já
foi aprovado e vem sendo utilizado com sucesso são administradas 500 a 1000 U por via
endovenosa a cada 3 ou 4 dias.
3,4,65
No entanto essa terapia ainda não está disponível no Brasil
nem mesmo para o tratamento das crises agudas.
Pacientes com AEH devem ser advertidos a evitar estímulos que possam precipitar as
crises agudas. Como os inibidores da enzima conversora da angiotensina diminuem o
catabolismo da bradicinina, o seu uso é contra-indicado nos pacientes com AEH. Do mesmo
modo, os estrógenos exógenos (contraceptivos orais e terapia de reposição hormonal) podem
exacerbar os sintomas de AEH.
Angioedema hereditário em nosso meio
O AEH é uma doença pouco conhecida em nosso meio. Há poucos estudos sobre AEH
publicados no Brasil, todos eles focalizados na descrição das características clínicas da
doença:
- em 1992 Solé, Leser e Naspitz descrevem as características clínicas e laboratoriais de 9
pacientes pertencentes a 2 famílias distintas diagnosticados com AEH tipo II, nos quais os
sintomas tiveram início antes dos 10 anos de idade em 78% dos casos; nesses pacientes,
edema de face e de extremidades foram as apresentações clínicas mais comuns.
66
- em um estudo de 2004, Chagas et al descreveram as características clínicas e a resposta ao
tratamento em 10 pacientes com AEH, pertencentes a 4 famílias distintas, e revelaram que,
dentro da mesma família, houve heterogeneidade marcante na apresentação clínica e na
gravidade dos sintomas, além de variabilidade na indicação de tratamento específico.
67
Introdução 36
- em 2009 Jorge et al relataram um caso de associação de AEH com urticária crônica.
68
- em 2007 Grumach et al reuniram todos os casos de AEH diagnosticados nos principais
centros de referência do Brasil, totalizando uma série de 120 pacientes.
69
Não há publicações referentes a mutações identificadas em pacientes com AEH no
Brasil ou na América Latina.
No Ambulatório de Alergia do HC-FMRP-USP, identificamos uma família
procedente de Carmo do Rio Claro (MG) com 275 membros relacionados, distribuídos em 5
gerações, com caso índice de uma paciente do sexo feminino, atualmente com 28 anos de
idade, diagnosticada com angioedema hereditário no ano de 2003. Essa paciente apresentava
história de episódios de edema desfigurante de face, língua, tronco e membros desde a
infância. A frequência dos episódios era semanal e os mesmos duravam cerca de 3 dias. A
avaliação clínica revelou níveis séricos do inibidor de C1 de 31% do valor médio normal e
níveis séricos de C4 diminuídos, além de história familiar de AEH - confirmando o
diagnóstico de AEH tipo I. Em abril de 2004 foi iniciado tratamento profilático com Danazol,
e atualmente ela usa 100 mg 2 vezes por semana com excelente controle dos sintomas. No
presente estudo, nossos objetivos foram determinar a mutação no gene que codifica o
C1-INH, responsável pelo desenvolvimento e transmissão genética do angioedema
hereditário, e realizar a caracterização clínica detalhada dos indivíduos com AEH dessa
família brasileira.
37
2 OBJETIVOS
Objetivos 38
2 OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram:
1. Identificar a mutação no gene que codifica o inibidor de C1 em indivíduos membros
de família com caso índice de angioedema hereditário
2. Estabelecer a relação entre a presença da mutação genética e o desenvolvimento de
angioedema hereditário
3. Realizar a caracterização clínica detalhada e avaliar a resposta ao tratamento em
pacientes da família em estudo com diagnóstico de angioedema hereditário
4. Correlacionar gravidade de sintomas e níveis séricos do inibidor de C1 nos indivíduos
da família em estudo com diagnóstico de angioedema hereditário
39
3 SUJEITOS E MÉTODOS
Sujeitos e Métodos 40
3 SUJEITOS E MÉTODOS
3.1 Sujeitos
O heredograma da família foi construído com 275 indíviduos consanguíneos
distribuídos em 5 gerações. Desses, 165 com idades variando entre 1 e 72 anos, foram
entrevistados e tiveram amostras de sangue coletadas para análise de mutações no gene
SERPING1. Os indivíduos que referiram história de episódios de angioedema e/ou crises de
dor abdominal foram encaminhados ao Ambulatório de Alergia do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto-USP para avaliação clínica e laboratorial, incluindo
dosagens de C4 e inibidor de C1, e o diagnóstico de AEH foi realizado de acordo com
critérios estabelecidos.
1,3
Informações a respeito dos outros 110 indivíduos foram obtidas
através dos familiares próximos que foram entrevistados.
Critérios de inclusão
- Ser membro relacionado da família com caso índice de angioedema hereditário
- Concordar com a participação no estudo após entendimento dos objetivos e assinatura de
termo de consentimento livre e esclarecido
Critérios de exclusão
- Recusar participação no estudo
3.2 Coleta de dados
A coleta de dados e de amostras foi realizada por ocasião de duas visitas à cidade de
origem da família, Carmo do Rio Claro, MG. Com o apoio da Secretaria de Saúde do
Município, que forneceu autorização e toda a infra-estrutura necessária, foram realizadas as
entrevistas clínicas pela investigadora (MFF) e a coleta de amostras de sangue (5 ml) para
análise genética, que teve a ajuda de profissionais de saúde locais. Para cada indivíduo foram
coletados 5 ml de sangue em tubo de coleta de plástico contendo EDTA ((Vacutainer, BD,
Plymouth, UK), que foram em seguida divididos em alíquotas de 1 ml, mantidas em gelo seco
até o retorno ao Laboratório de Alergia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto – USP, onde foram estocadas em freezer a -70ºC até seu processamento.
Sujeitos e Métodos 41
A visita da equipe de pesquisa à cidade de Carmo do Rio Claro gerou grande interesse
da comunidade local. Por ocasião da nossa segunda visita à cidade, a imprensa compareceu ao
local da coleta e realizou algumas matérias e entrevistas para os jornais locais, uma delas
disponibilizada no site da cidade (http://carmodorioclaro.mg.gov.br/noticias.php?idn=89).
3.3 Aspectos éticos
O presente estudo foi aprovado pelo comitê de Ética do Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (anexo A) e todos os indivíduos ou responsáveis
legais assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido autorizando a participação no
estudo (apêndices A e B).
1
3
4
2
Fotos
1, 2, 3 e 4
.
A equipe de pesquisa durante as visitas para coleta de dados e amostras na
cidade de Carmo do Rio Claro (1 e 2) e alguns dos membros da família em estudo que
compareceram à coleta (3 e 4).
Sujeitos e Métodos 42
3.4 Caracterização clínica e score de gravidade
Dados de história clínica, incluindo idade de início dos sintomas, duração e gravidade
das crises de angioedema, tipo de tratamento e resposta terapêutica, fatores desencadeantes
e/ou agravantes dos sintomas e evolução do quadro clínico foram obtidos através do
preenchimento da ficha clínica previamente elaborada (apêndice C).
Score de gravidade para AEH. Um score de gravidade simplificado foi elaborado a partir dos
critérios propostos pelo Third C1 Esterase Inhibitor Deficiency Workshop de 2003.
1
Os
episódios de angioedema foram classificados de acordo com o grau de comprometimento
clínico e a frequência média dos sintomas desde o início da doença. A frequência dos
sintomas foi quantificada da seguinte maneira: mais que 1 episódio por mês = 3 pontos, de 6 a
11 episódios por ano = 2 pontos, menos que 6 episódios por ano = 1 ponto, sem sintomas de
angioedema = 0 ponto. A intensidade dos sintomas foi classificada como: presença de
desconforto, porém sem prejuízo das atividades diárias = 2 pontos, desconforto que afeta as
atividades diárias normais = 4 pontos, crises graves com necessidade de hospitalização = 5
pontos. A soma dos pontos obtidos pela classificação da frequência e intensidade dos
sintomas foi utilizada para classificar a gravidade da doença em 4 níveis: Grave (score > 7
pontos); Moderado (score 5 ou 6 pontos); Leve (score < 4); Assintomático (score = 0), como
mostra o Quadro 2. O score de gravidade foi utilizado por ocasião do diagnóstico e no
seguimento clínico após início do tratamento.
3.5 Dosagem do inibidor de C1 e do componente C4 do Complemento
Níveis séricos do inibidor de C1 (Dade Behring, EUA) e do componente C4 do
complemento foram quantificados por nefelometria, no laboratório de Imunologia Clínica do
HC-FMRP-USP; com valores de normalidade variando de 0.21g/L a 0.39 g/L e 0.1 g/L to 0.4
g/L, respectivamente. Essas dosagens foram feitas para aqueles indivíduos que referiram
história de episódios de angioedema e/ou crises de dor abdominal e nos indivíduos
assintomáticos que apresentaram a mutação no gene SERPING1. Amostras de 5 ml de sangue
foram coletadas em tubos de coleta de plástico com ativador de coagulação e gel para
separação de soro (Vacutainer, BD, Plymouth, UK). Em seguida o sangue foi centrifugado a
3.500 rpm durante 10 minutos para separação do soro que então foi dividido em 2 alíquotas de
Sujeitos e Métodos 43
1 ml cada, uma em microtubo para dosagem do inibidor de C1 e outra em microtubo contendo
100 µl de EDTA para dosagem de C4. Esses tubos foram então armazenados em gelo seco
e/ou frezzer a -70
o
C até serem processados.
Freqüência
Pontos
Mais que 1 episódio por mês 3
Entre 6 a 11 episódios por ano 2
Sintomas infrequentes (<6/ano) 1
Nunca teve sintomas 0
Intensidade
Desconforto, sem prejuízo das atividades diárias 2
Desconforto que afeta as atividades diárias normais 4
Crise grave com necessidade de hospitalização (edema glote, trato
gastrintestinal)
5
Score
1 – GRAVE 7
2 – MODERADO 5 ou 6
3 – LEVE 4
4 ASSINTOMÁTICO (com nível sérico e/ou atividade do C1-INH
diminuídos e/ou presença da mutação no gene do C1-INH)
0
Quadro 2. Score de gravidade para AEH.
3.6 Identificação de mutação no DNA
O DNA genômico foi extraído de amostras de sangue periférico utilizando o kit de
extração de DNA Wizard® Genomic DNA Purification Kit (Promega, Madison, WI, USA),
seguindo as recomendações do fabricante. Sequenciamento completo dos 8 exons do gene
SERPING1 foi realizado em amostras de 2 pacientes da família com diagnóstico de AEH em
laboratório de referência na Universidade de Mainz - Alemanha.
70
Posteriormente, foi feito
sequenciamento parcial do exon 3 em amostra de outros 163 indivíduos membros da família,
além das 2 pacientes analisadas, no Laborátorio de Alergia no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto USP. Para fins de sequenciamento, foi feita
amplificação por Polymerase chain reaction - PCR (MJ Research, New Jersey, USA) da
região de interesse no exon 3 do gene SERPING1 utilizando os
primers sense
Sujeitos e Métodos 44
5`-TCCAGCTTGCCGACAACCAACTCA-3` e anti-sense 5`-TACAGCTTCTTCCCAGAGGCATGG-3`
produzindo um fragmento de 466 pb.
70
As condições para amplificação foram as seguintes: hot start a 94
o
C por 3 minutos
seguido de 30 ciclos a 94
o
C por 30 segundos, 61
o
C por 30 segundos e 72
o
C por 45 segundos;
extensão final a 72
o
C por 2 minutos. As concentrações finais dos reagentes foram: 1X tampão
de PCR (5X Colorless GoTaq reaction buffer); 1,5 mM MgCl
2
; 20 mM dNTP (5 mM de cada
nucleotídeo); 7,5 pmol de cada primer; 1 U de DNA polimerase (Promega, USA) e 100 - 200
ng de DNA genômico, para um volume final de 25 µl.
Os produtos de PCR foram analisados em gel de agarose a 2%, purificados com
Illustra
TM
GFX
TM
PCR DNA and Gel Band Purification Kit (GE Healthcare, UK), e
sequenciados diretamente utilizando o aparelho sequenciador ABI Prism 3100 Genetic
Analyzer (Applied Biosystems, Foster City, CA) e o conjunto de reagentes Big Dye
TM
Terminator V3.1 Cycle Sequencing kit (Applied Biosystems). As sequências obtidas foram
alinhadas à sequência-padrão obtida no GenBank, de forma a se detectar qualquer alteração na
sequência de bases.
Método para designar a localização da mutação pela numeração de nucleotídeos e
aminoácidos. A partir de terminologia padronizada, a mutação foi designada de acordo com
os 3 sistemas de nomenclatura utilizados pela base de dados de mutações do gene do inibidor
de C1 (http://hae.enzim.hu/). Para numeração de nucleotídeos do gene, o Sistema Tradicional
e o Sistema HUGO utilizam como referência a sequência do DNA genômico. O Sistema
Tradicional considera o local de inicialização da transcrição como a posição 1, ou seja, o
primeiro nucleotídeo do exon 1 (correspondendo à posição 1183 da sequência genômica de
referência do GenBank - X54486).
15
O Sistema HUGO utiliza o prefixo “g.” e considera
como número “1” o primeiro nucleotídeo de toda a sequência.
71
A nomenclatura recomendada
pela Human Genome Variation Society (HGVS) (http://www.HGVS.org/mutnomen/) é
baseada na sequência de referência do DNA codificador (cDNA), utiliza o prefixo “c.” e
considera o primeiro nucleotídeo do códon de inicialização da tradução (A do códon ATG)
como nucleotídeo de número 1. Para a numeração dos aminoácidos, utilizamos a
padronização recomendada pela HGVS (Sistema HUGO na HAEdb) que considerada o
aminoácido número 1 como o primeiro aminoácido traduzido incluindo, portanto, a sequência
do signal peptide de 22 aminoácidos. Utilizamos também a nomenclatura pelo Sistema
Tradicional, no qual o primeiro aminoácido da proteína madura é o aminoácido número 1,
contando os primeiros 22 aminoácidos do signal peptide em números negativos.
72,73
Sujeitos e Métodos 45
3.7 Modelagem molecular
Modelagem molecular comparativa foi o método computacional utilizado para
predizer a estrutura tridimensional (3D) da proteína inibidor de C1 truncada por ocorrência da
mutação identificada no exon 3 do DNA de pacientes com angioedema hereditário no
presente estudo. Esta técnica de desenvolvimento de modelos 3D parte de uma sequência
primária conhecida de uma proteína cuja estrutura 3D é indeterminada (inibidor de C1
truncado pela ocorrência da mutação) e utiliza como molde uma ou mais sequências de
proteínas cujas estruturas 3D foram resolvidas e que possuem alta similaridade com a
molécula de interesse. A modelagem molecular utilizada no presente trabalho consistiu nas
etapas descritas abaixo:
74
- Busca por moldes: foi realizada no banco de dados Protein Data Bank
75
(http://www.rcsb.org/pdb). O principal parâmetro utilizado foi a porcentagem de identidade
(superior a 30%) entre a sequência primária do molde e sequência da proteína a ser
modelada.
- Alinhamento: o alinhamento da sequência do molde com a sequência da proteína a ser
modelada foi realizado utilizando o algoritmo ALIGN2D.
- Modelagem: a construção do modelo foi realizada com o programa MODELLER 9v2.
76
O
programa MODELLER gera, a partir da estrutura do molde, um conjunto de restrições que
são aplicadas à sequência de aminoácidos da proteína a ser modelada. Estas restrições
limitam, por exemplo, a distância entre dois resíduos no modelo que está sendo construído,
sendo esta distância baseada naquela entre os dois resíduos equivalentes na estrutura molde.
Esse cálculo de restrições também foi aplicado nas ligações angulares (entre três átomos) e
nos ângulos diedrais (entre quatro átomos).
74
- Avaliação dos modelos: a qualidade estereoquímica do modelo foi analisada usando o
PROCHECK
77
que faz parte do pacote CCP4 (Collaborative Computational Project 4). A
análise da qualidade do modelo foi em seguida implementada usando o programa VERIFY
3D.
78
A dinâmica molecular foi avaliada por simulações físico-químicas.
79
Nesse método,
energia é adicionada ao sistema da proteína pela simulação de um “aquecimento”. Essa
energia promove uma força oposta que movimenta os átomos na molécula para fora das
conformações tradicionais. As ações e reações de centenas de átomos em um dado sistema
Sujeitos e Métodos 46
molecular podem ser simuladas utilizando esta abstração.
79
A dinâmica molecular no presente
estudo foi realizada de acordo com os parâmetros abaixo:
- Pacote de simulação: o programa NAMD
80
na versão 2.7b 1 foi utilizado para a realização
das simulações. Esse programa consiste de um conjunto de programas capazes de executar
todos os passos necessários para a simulação da dinâmica molecular, desde a preparação dos
sistemas até a análise dos resultados obtidos.
- Minimização de energia: cada sistema a ser simulado passou por um processo de
minimização de energia, o que favorece a correta termalização do sistema. Todas as
simulações foram equilibradas por 300 ps.
- Procedimentos de simulação: todas as simulações de dinâmica molecular foram realizadas
conforme amostra isotérmica e isobárica em temperatura de 310 K. O passo de integração
utilizado foi de 2 fs e o tempo real de 5 ns, o campo de força e o arquivo de topologia
escolhidos foram os do programa CHARMM22.
81
O tratamento eletrostático foi feito com
cut-off de 1,4 nm, de forma a garantir que nenhum átomo ou molécula presente na caixa de
simulação fosse considerado mais de uma vez nos cálculos das interações eletrostáticas.
Para avaliar o comportamento global das estruturas foi calculada a Raiz do Desvio
Médio Quadrático (Root mean square deviation, RMSD) para os sistemas, no tempo, tomando
como referência a estrutura após as minimizações. O programa VMD foi utilizado para
visualizar as estruturas geradas ao longo do processo de dinâmica molecular.
3.8 Análise estatística
Para verificar a associação entre a gravidade da doença (através do score de
gravidade) e o sexo foi utilizado o Teste Exato de Fisher. Buscando verificar correlação entre
a gravidade da doença e os níveis séricos do inibidor de C1, foi ajustado um modelo de
regressão linear, através do PROC GLM do software SAS 9.0. As possíveis diferenças entre
os graus de gravidade foram estimadas através de contrastes ortogonais.
47
4 RESULTADOS
Resultados 48
4 RESULTADOS
4.1 Deleção de um único nucleodeo citosina associada a angioedema hereditário
O sequenciamento completo dos 8 exons do gene SERPING1 feito em duas pacientes
da família em estudo diagnosticadas com AEH revelou uma deleção heterozigota de uma das
citosinas em posição 2493, 2494 ou 2495 no exon 3. Independente de qual das 3 citosinas
tenha sofrido deleção, ocorre a formação de novo códon "cca" e conseqüente frameshift.
Convencionamos designar que a deleção ocorre na última citosina do códon posição 2495
na sequência de referência do GenBank para o gene SERPING1 (X54486), considerando a
numeração do Sistema Tradicional (Figuras 6 e 7). Dessa forma, a mutação que identificamos
no presente estudo pode ser designada de três diferentes maneiras: 1. como c.351delC pela
numeração sistemática do cDNA (sequência do GenBank NM_000062.1); 2. como 2495delC
(Sistema Tradicional) utilizando a sequência do DNA genômico; ou 3. como g.3677delC
(Sistema HUGO), que utiliza também a seqüência do DNA genômico (Tabela 2). No presente
trabalho, optamos por nos referir à nova mutação como c.351delC, que é a nomenclatura
recomendada pela Human Genome Variation Society e a mais amplamente utilizada.
Tabela 2. Nomenclatura da mutação identificada de acordo com a numeração de nucleotídeos
e aminoácidos em sistemas padronizados
Alteração de
nucleotídeo
Sistema cDNA (GenBank NM_000062.1) c.351delC
Sistema Tradicional (GenBank X54486) 2495delC
Sistema HUGO g.3677delC
Consequência
molecular
Sistema Tradicional Frameshift
Sistema HUGO Pro117fs
Resultados 49
B
gatagagcctcctcaaatccaaatgctaccagctccagctcccaggatccagagagtttg
-5 D R A S S N P N A T S S S S Q D P E S L 15
caagacagaggcgaagggaaggtcgcaacaacagttatctccaagatgctattcgttgaa
Q D R G E G K V A T T V I S K M L F V E 35
cccatcctggaggtttccagcttgccgacaaccaactcaacaaccaattcagccaccaaa
P I L E V S S L P T T N S T T N S A T K 55
ataacagctaataccactgatgaacccaccacacaacccaccacagagcccaccacccaa
I T A N T T D E P T T Q P T T E P T T Q 75
cccaccatccaacccacccaaccaactacccagctcccaacagattctcctacccagccc
P T I Q P T Q P T T Q L P T D S P T Q P 95
actactgggtccttctgcccaggacctgttactctctgctctgacttggagagtcattca
T T G S F C P G P V T L C S D L E S H S 115
acagaggccgtgttgggggatgctttggtagatttctccctgaagctctaccacgccttc
T E A V L G D A L V D F S L K L Y H A F 135
tcagcaatgaagaaggtggagaccaacatggccttttccccattcagcatcgccagcctc
S A M K K V E T N M A F S P F S I A S L 155
cttacccaggtcctgctcg
L T Q V L L 161
Figura 6. Localização da mutação c.351delC no exon 3 do gene SERPING1. A. Desenho
esquemático da estrutura do gene de 17 kb SERPING1 contendo 8 exons; o local da mutação
c.351delC está indicado no exon 3 pela seta vermelha (modificado de Zuraw e Herschbach,
2000).
70
B. Sequência de nucleotídeos do exon 3 e sequência deduzida de aminoácidos
(www.expasy.org); a citosina que sofreu deleção está indicada em vermelho, o primeiro
aminoácido da proteína madura (N) esindicado em azul, e a região aonde inicia o domínio
serpina está mostrada em verde.
Resultados 50
Figura 7. Cromatograma do sequenciamento de DNA. A. Sequência de bases de DNA de parte do
exon 3 do gene SERPING1 de um indivíduo sem AEH (gene selvagem). B. Sequência de bases da
mesma região mostrando a mutação c.351delC em DNA de indiduo com AEH. A seta indica o
nucleotídeo citosina que sofreu deleção.
A mutação c.351delC resulta em frameshift e aparecimento de stop codon na posição
do códon 31, após o último códon da proteína original (Figura 8). Considerando que seja
transcrita, a proteína truncada seria então constituída por 94 aminoácidos do domínio N-
terminal da molécula original, e 30 aminoácidos adicionais resultantes da transcrição dos 30
códons resultantes do frameshift até atingir o stop codon, portanto consistiria de 124
aminoácidos, e teria peso molecular estimado em 13.3 kDa (
www.expasy.com.br
).
A
B
Resultados 51
A
B
C
MASRLTLLTLLLLLLAGDRASSNPNATSSSSQDPESLQDRGEGKVATTVISKMLFVEPILEVSSLPTTNS
TTNSATKITANTTDEPTTQPTTEPTTQPTIQPTQPTTQLPTDSPTQPLLGPSAQDLLLSALTWRVIQQR
PCWGMLW
Figura 8. Características da proteína inibidor de C1 original e da proteína truncada resultante da
ocorrência da mutação c.351delC . A
. Desenho esquemático da proteína inibidor de C1 de 500
aminoácidos, indicando o signal peptide de 22 aminoácidos, o domínio N-terminal de 112
aminoácidos e o domínio serpina de 366 aminoácidos. A seta vermelha indica o local da mutação
c.351delC. B. Sequência de aminoácidos da proteína truncada hipotética resultante da ocorrência da
mutação c.351delC: o signal peptide está indicado em rosa, seguido de região correspondente a 95
aminoácidos presente
s no inibidor de C1 original até o último aminoácido (Q) antes do início do
frameshift, em azul, e de 30 aminoácidos adicionais até o último aminoácido (W) antes do stop
codon na posição 31, mostrados em laranja. C. Sequência completa de aminoácidos da proteína
inibidor de C1 (código de acesso Swiss-ProtKB: P05155).
MASRLTLLTLLLLLLAGDRASSNPNATSSSSQDPESLQDRGEGKVATTVISKMLFVEPILEVSSLPTTNSTTNSATK
ITANTTDEPTTQPTTEPTTQPTIQPTQPTTQLPTDSPTQPTTGSFCPGPVTLCSDLESHSTEAVLGDALVDFSLKLY
HAFSAMKKVETNMAFSPFSIASLLTQVLLGAGENTKTNLESILSYPKDFTCVHQALKGFTTKGVTSVSQIFHSPDL
AIRDTFVNASRTLYSSSPRVLSNNSDANLELINTWVAKNTNNKISRLLDSLPSDTRLVLLNAIYLSAKWKTTFDPK
KTRMEPFHFKNSVIKVPMMNSKKYPVAHFIDQTLKAKVGQLQLSHNLSLVILVPQNLKHRLEDMEQALSPSVF
KAIMEKLEMSKFQPTLLTLPRIKVTTSQDMLSIMEKLEFFDFSYDLNLCGLTEDPDLQVSAMQHQTVLELTETGV
EAAAASAISVARTLLVFEVQQPFLFVLWDQQHKFPVFMGRVYDPRA
Resultados 52
4.2 Modelagem molecular
Após busca na base de dados PDB (http://www.rcsb.org/pdb) por estruturas
tridimensionais que poderiam servir como molde, foi verificado que não havia molde com
identidade suficiente para gerar um modelo da região N-terminal da molécula, onde ocorre a
mutação c.351delC. Foi então construído um modelo tridimensional quimérico da hipotética
proteína truncada, onde foram utilizados vários moldes incluindo os das proteínas C5a
peptidase e alfa1-antitripsina. Um total de 1000 modelos foi gerado, e aquele que apresentou
melhor escore pelos programas de avaliação foi selecionado (Figura 9A). Um segundo
modelo foi gerado utilizando a estrutura tridimensional determinada por cristalografia do
inibidor de C1, à qual foi adicionado o modelo do domínio N-terminal (Figura 9B). A análise
molecular nos permite afirmar de forma definitiva que a mutação c.351delC resulta na
produção de uma proteína truncada contendo o domínio N-terminal, sem nenhuma
possibilidade de atividade enzimática.
Figura 9. Modelagem molecular. A. Modelo molecular da protna hipotética produzida por ocorrência
da mutação c.351delC. Em azul, representados os 94 aminoácidos presentes na proteína C1-INH original
e, em laranja, os 30 aminoácidos adicionais formados após frameshift, até o aparecimento de stop codon.
B. Modelo mostrando a estrutura tridimensional do domínio serpina da molécula do C1-INH
previamente determinada por cristalografia (código acesso Swiss-ProtKB: P05155, proteína cristalizada
2OAY), que contém a atividade enzimática, adicionado do modelo do domínio N-terminal obtido no
presente trabalho, contendo os 94 aminoácidos presentes na proteína original.
A
B
Resultados 53
4.3 Evidências de que a mutação c.351delC é causa de angioedema hereditário na
família em estudo
A partir da identificação da mutação c.351delC no exon 3, foi desenvolvido método
baseado em sequenciamento de produto de PCR para detecção da mutação em 165 indivíduos
da família em estudo, incluindo aqueles com história de angioedema e seus familiares
consanguíneos (Figura 10). A mutação c.351delC foi identificada em 28 indivíduos, sendo 23
deles pacientes com diagnóstico clínico e laboratorial de AEH tipo I. Os outros 5 pacientes
não apresentam ou apresentaram sintomas de AEH, no entanto, quando avaliados
laboratorialmente, apresentaram níveis séricos diminuídos do inibidor de C1 e de C4.
Observando o fluxograma para diagnóstico de AEH proposto por Bowen et al
3
(Figura 5)
podemos considerar que a história familiar de angioedema positiva, juntamente com níveis
séricos do inibidor de C1 diminuídos o critérios suficientes para o diagnóstico de AEH,
portanto, esses 5 pacientes apresentam AEH assintomático. Todos os pacientes com
diagnóstico de AEH nessa família apresentam a mutação c.351delC. Por outro lado, nenhum
dos 137 indivíduos avaliados que não apresentam a mutação c.351delC preenche critérios
diagnósticos para AEH.
Figura 10. Análise de produtos de PCR.
Gel de agarose após eletroforese de produtos
de PCR mostrando
amplificão de fragmento do exon 3 do gene SERPING1 contendo 466
pares de bases em amostras de 19 pacientes (linhas 2 a 20). Marcador
100 pares de bases, 100 pb a 1000 pb (linha 1).
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Resultados 54
4.4 Heredograma
Coletamos informações de um total de 275 familiares consanguíneos. A primeira
geração de indivíduos dos quais temos informação disponível compreende 9 indivíduos (8 já
falecidos), descendentes de 2 irmãos dos quais não temos informações. Dentre esses 9
indivíduos, apenas dois apresentaram sintomas sugestivos de AEH, segundo relato dos
familiares. Heredograma construído a partir dos nove familiares da primeira geração,
incluindo todos os pacientes com AEH, está apresentado na Figura 11 (vide encarte) e
contem:
- 23 pacientes com AEH e mutação c.351delC
- 5 indivíduos com AEH assintomático e mutão c.351delC
- 137 indivíduos sem AEH e sem mutação c.351delC
- 110 indivíduos que não foram entrevistados e avaliados; desses, 4 com história de
sintomas de AEH (todos falecidos) e 106 sem história de sintomas de AEH, segundo
informações fornecidas pelos familiares entrevistados
- indivíduos identificados com número seguido pela letra “a” são cônjuges (não
descendentes).
A média de indivíduos acometidos com AEH e mutação c.351delC entre os
descendentes de cada indivíduo com AEH ou com história de sintomas de AEH, ou seja, a
taxa média de transmissão da doença foi de 47,6%. Essa taxa variou de 0% (em núcleos
familiares nos quais nenhum descente direto do indivíduo portador da mutação apresentou a
mutação) a 100% (um indivíduo portador teve todos os seus descendentes apresentando a
mutação).
4.5 Características dos pacientes com AEH
O grupo de 28 pacientes que apresentam a mutação c.351delC compreende 23
pacientes com diagnóstico clínico de AEH, e 5 pacientes com AEH assintomáticos. Dentre
esses 5 indivíduos, um é do sexo feminino e tem 8 anos de idade (paciente IV-12 na Tabela 3
e na Figura 11), e os outros quatro são do sexo masculino com idades de 2, 6, 26 e 53 anos
(IV-11, IV-13, III-37 e III-48 respectivamente, na Tabela 3 e Figura 11). Estes 5 indivíduos
m parentes próximos (pais ou irmãos) diagnosticados com AEH e com a mutação
c.351delC, e a avaliação dos níveis séricos do inibidor de C1 e de C4 mostrou níveis
diminuídos em todos eles. Características clínicas dos 28 pacientes com AEH estão
apresentadas na Tabela 3.
Resultados 55
Vide anexo “Heredograma”
Resultados 56
Resultados 57
Resultados 58
A idade média desses pacientes é de 30,9 anos, variando de 2 a 72 anos. Quinze
pacientes (53,6%) o do sexo feminino. Entre os pacientes sintomáticos, a idade média de
início dos sintomas foi de 14,5 anos, variando de 3 meses a 42 anos. Entre as mulheres a
idade média de início dos sintomas foi de 13,2 anos, variando de 3 meses a 40 anos; e entre os
homens foi de 16,6 anos, variando de 3 a 42 anos (Gráfico 1).
O tempo transcorrido entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 15,5 anos, em
média, variando de 1 mês a 40 anos (Gráfico 2).
Gráfico 1. Idade de início dos sintomas nos pacientes com AEH.
Resultados 59
Resultados 60
De acordo com o score de gravidade, 5 pacientes (17,8%) tem doença leve; 7 (25%)
tem doença moderada; 11 (39,2%) tem doença grave e 5 (17,8%) são assintomáticos
(Gráfico3). Observamos que pacientes do sexo feminino apresentam doença mais grave
(Gráfico 4, p=0,04). Vale ressaltar ainda que os 2 indivíduos adultos assintomáticos são
homens.
Gráfico 3. Perfil de gravidade entre os pacientes com AEH da família em estudo.
tulos indicam o número total de pacientes.
Gráfico 4. Comparação da gravidade do AEH entre pacientes do sexo masculino e feminino.
Resultados 61
Angioedema subcutâneo (Fotos 5 e 6) foi a apresentação clínica mais frequente entre
os pacientes sintomáticos (22/23; 95,6%), associado a crises recorrentes de dor abdominal em
10 pacientes (43,4%), a edema de laringe em 2 pacientes (8,6%) ou aos dois em 4 pacientes
(17,3%). Um paciente (4,3%) apresentou dor abdominal recorrente como seu único sintoma
(Gráficos 5 e 6 e Tabela 3).
Gráfico 5.
Frequência de ocorrência dos diferentes sintomas entre os pacientes com AEH.
Fotos 5 e 6. Angioedema de face e lábios apresentado por paciente da família em estudo.
Resultados 62
Os níveis séricos do inibidor de C1 variaram de 9% a 33% (média de 21%, desvio
padrão 7%) do valor médio normal, e não observamos correlação entre os níveis séricos do
inibidor de C1 e a gravidade da doença (Gráfico 7). Os níveis do inibidor de C1 foram
significantemente mais baixos entre pacientes com doença moderada quando comparada a
leve, grave e assintomática (p <0,01); entretanto nenhuma diferença significante foi observada
entre níveis do inibidor de C1 entre pacientes com doença leve, grave ou assintomática.
Gráfico 6. Apresentação clínica entre os pacientes sintomáticos com AEH.
tulos indicam a porcentagem entre os pacientes sintomáticos com AEH.
Resultados 63
Treze pacientes (56%) estão sendo tratados com Danazol: um deles utiliza 400 mg por
dia, seis utilizam 100 mg três vezes por semana, cinco usam 100 mg duas vezes por semana, e
um (adolescente de 15 anos) toma 100 mg 1 vez por semana. A maioria dos pacientes em
tratamento com Danazol mantém bom controle dos episódios de angioedema e não referem
efeitos colaterais: uma paciente refere ganho de peso. Não observamos alterações na função
hepática nas avaliações laboratoriais semestrais realizadas no seguimento desses pacientes por
até 6 anos. Apenas o paciente que faz uso de doses mais elevadas de Danazol (400mg/dia)
apresentou discreta elevação nos valores das enzimas hepáticas e nas dosagens de colesterol e
triglicérides, além de queixar-se de muitas cãibras após o início do tratamento. Duas crianças
faziam tratamento profilático com Ácido Tranexâmico e apresentavam controle parcial dos
sintomas, no entanto, uma delas desistiu do tratamento devido a queixas de efeitos adversos,
mas que, aparentemente, não estão relacionadas ao efeito da medicação como dor no peito,
falta de ar e ganho de peso excessivo (Gráfico 8).
Gráfico 7. Níveis séricos do inibidor de C1 de acordo com o score de gravidade apresentados pelos
pacientes com AEH. Mediana, valores do primeiro e terceiro quartil, e valores mínimos e máximos
estão indicados.
Resultados 64
Em concordância com estudos realizados em outras populações,
19
os fatores
desencadeantes de episódios de angioedema em nossos pacientes incluíram uso de inibidores
da ECA, uso de estrógenos, período pós-gestacional, stress emocional, procedimentos
dentários e traumas físicos. Além disso, alguns pacientes relacionaram episódios de
angioedema com fatores considerados atípicos - de acordo com os dados da literatura - como
ingestão de alimentos (carne de porco, 4 pacientes; camarão e abacaxi, 1 paciente), uso de
Dipirona (5 pacientes) e contato com produtos químicos (alvejantes, inseticidas 2
pacientes). Houve grande heterogeneidade em relação ao comportamento da doença durante
as gestações. Das oito pacientes com AEH que são mães, três referiram melhora dos sintomas
durante as gestações, três acharam que os sintomas se intensificaram e duas não perceberam
mudanças na frequência ou intensidade dos sintomas. Quatro pacientes (III-35, III-42, IV-29 e
IV-31 na Tabela 3) referiram exacerbação importante dos sintomas de AEH com o uso de
contraceptivos orais, inclusive uma delas (III-42) permaneceu assintomática durante um longo
período após a suspensão da medicação. Todas as pacientes com diagnóstico de AEH foram
orientadas a evitar o uso de contraceptivos orais e terapia de reposição hormonal,
Gráfico 8. Tratamento profilático utilizado pelos pacientes sintomáticos com AEH. A. Número de
pacientes em diferentes tratamentos. B. Número de pacientes que utilizam diferentes doses de
Danazol.
A
B
Resultados 65
considerando o risco de agravamento da doença associado ao aumento dos níveis de
estrógeno.
4.6 Pacientes com angioedema por outras causas
Além dos 28 pacientes que tiveram diagnóstico confirmado de AEH, outros 23
indivíduos membros da família foram encaminhados para avaliação clínica e laboratorial no
Ambulatório de Alergia do HC-FMRP devido a queixas como: episódios únicos ou
recorrentes de angioedema, dores abdominais recorrentes e edemas de extremidades e/ou de
face não característicos de angioedema. Foram realizadas dosagens dos níveis séricos do
inibidor de C1 e de C4 para todos esses indivíduos e todos apresentaram níveis normais. Em
investigação subsequente encontramos como possíveis diagnósticos para esses pacientes:
angioedema alérgico (níveis muito elevados de IgE total, testes cutâneos positivos, relação
temporal com ingestão de alimentos específicos), angioedema induzido por drogas
(contraceptivos orais e anti-inflamatórios não-esteroidais), hipertensão arterial com uso de
bloqueadores dos canais de cálcio, hipotireoidismo, intolerância à lactose, parasitose
intestinal, gastrite (confirmada por endoscopia digestiva) e angioedema idiopático.
66
5 DISCUSSÃO
Discussão 67
5 DISCUSSÃO
O presente estudo é o primeiro a descrever uma mutação genética entre pacientes com
AEH na América Latina. Avaliamos uma numerosa família de uma pequena cidade do
Sudeste do Brasil (Carmo do Rio Claro, Minas Gerias), com um caso índice de angioedema
hereditário tipo I diagnosticado no Ambulatório de Alergia do HC-FMRP em 2003. A análise
do seqüenciamento completo do gene SERPING1 dessa paciente e de um familiar com
diagnóstico de AEH mostrou deleção de um único nucleotídeo citosina no exon 3 que resulta
em interrupção prematura da síntese da proteína, impedindo a produção de inibidor de C1
biologicamente ativo. Seqüenciamento parcial do exon 3 incluindo a região de localização da
mutação em outros 163 membros da família revelou que todos os 28 pacientes da família que
preenchiam critérios diagnósticos de AEH apresentavam a mesma mutação c.351delC,
incluindo 5 indivíduos assintomáticos com níveis séricos do inibidor de C1 e de C4
diminuídos.
Análise sistemática de mutações no gene SERPING1 tem sido realizada em várias
séries de casos de AEH
70,72,82,83
e aproximadamente 200 mutações distintas foram
identificadas até o momento, localizadas através de toda a extensão do gene. Prova de forte
associação entre uma mutação específica e uma doença pode ser obtida por estudos de
segregação em grandes famílias. No entanto, em doenças como o AEH, caracterizadas por
mutações exclusivas em pequeno número de familiares, essa abordagem raramente é aplicável
e o papel patogênico da mutação é normalmente deduzido pelas evidências de que elas
interferem na produção da proteína. Extensa busca na literatura e em base de dados de AEH
revelou que a família avaliada no presente estudo é a que contém o maior número de
indivíduos com AEH descrita. O presente estudo com uma família tão numerosa fornece
dados definitivos que indicam o papel patogênico dessa nova mutação no gene SERPING1,
c.351delC, no desenvolvimento de AEH.
descrição de adultos assintomáticos que carreiam mutações no gene do C1-INH e
estima-se que representem até 5% dos pacientes com AEH.
21
Na família de nosso estudo,
observamos freqüência de 17,8% de pacientes com AEH assintomático, dentre os portadores
da mutação c.351delC. A ausência de sintomas nesses pacientes pode ser em parte explicada
pela baixa idade da maioria deles 3 são crianças com menos de 9 anos de idade e 1 é adulto
jovem de 26 anos sendo, portanto, possível que ainda venham a manifestar os sintomas da
doença. De forma interessante, embora tenhamos observado que os sintomas de AEH
tenderam a iniciar na infância ou adolescência, em alguns de nossos pacientes os primeiros
Discussão 68
sintomas correram numa idade mais tardia, depois dos 40 anos. Isto indica que o início de
sintomas mais tardiamente na vida não deve ser considerado como elemento para afastar o
diagnóstico de AEH.
No presente estudo, a análise genética foi essencial para que pudéssemos fazer o
diagnóstico de AEH de forma precoce, antes mesmo do aparecimento de sintomas, em 5
indivíduos da família em estudo, o que indica que a análise genética de rotina representa uma
valiosa ferramenta para a prevenção e tratamento adequado de crises agudas e potencialmente
fatais de angioedema. Benefícios adicionais da análise genética incluem: permitir o
diagnóstico de AEH em crianças menores de um ano de idade, uma vez que nessa faixa etária
os níveis séricos de inibidor de C1 são variáveis, sendo comuns resultados falso-positivos e
falso-negativos;
3
eliminar a preocupação de desenvolver a doença ou de transferir uma
mutação genética para os descendentes, entre aqueles indivíduos que são membros de famílias
de pacientes com AEH, mas que não apresentam a mutação.
As propriedades estruturais do inibidor de C1 são bem conhecidas. A estrutura do
domínio serpina (aminoácidos 113-478), que contém a alça central reativa (reactive center
loop RCL), essencial para a atividade biológica, mostra aspectos comuns a outras moléculas
de serpinas. Por outro lado, a atividade biológica da porção N-terminal da molécula do
inibidor de C1 é desconhecida. Busca em banco de dados não revelou nenhuma homologia
significante do domínio N-terminal com outras proteínas conhecidas, e para a confecção do
modelo apresentado no presente estudo, foram utilizadas múltiplas seqüências. A mutação em
nosso estudo ocorreu na sequência que codifica o aminoácido 95 da proteína madura, portanto
ficou aparente que se uma proteína for formada, se uma forma truncada com 124
aminoácidos, incluindo apenas o domínio N-terminal, sem qualquer possibilidade de alguma
atividade biológica, ao contrário da proteína “selvagem” de 478 aminoácidos.
Com raríssimas exceções
84
todos os pacientes com deficiência do inibidor de C1 são
heterozigotos para o defeito genético, portanto, os níveis funcionais esperados para o inibidor
de C1 em pacientes com AEH tipo I ou tipo II seriam em torno de 50% do normal,
considerando-se o alelo normal a funcionar adequadamente. No entanto, os níveis sanguíneos
são tipicamente abaixo dos 50% em pacientes com AEH. Nos pacientes do presente estudo, os
níveis séricos do inibidor de C1 foram de 21% em média, variando de 9% a 33%, mesmo em
períodos assintomáticos. Uma possível explicação para essa diminuição abaixo de 50% (que
seria esperado numa condição heterozigota) é que a diminuição dos níveis de inibidor de C1
resulta em aumento da ativação de algumas ou de todas as proteases reguladas por ele. Essas
proteases ativadas consomem o inibidor de C1 produzindo assim níveis séricos bem abaixo
Discussão 69
dos 50% esperados.
36
Estudos in vivo do catabolismo do inibidor de C1 em pacientes com
AEH são consistentes com essa explicação.
85
Além disso, em pacientes com algumas
mutações, é possível que o RNAm ou a proteína mutada possam produzir um efeito
supressivo na transcrição ou na tradução do alelo anormal.
86,87
A literatura especializada observa que a gravidade do AEH é altamente variável e que
não se correlaciona com os níveis séricos do inibidor de C1. No presente estudo, verificamos
uma extrema variabilidade na apresentação clínica da doença em 28 indivíduos de uma
mesma família e com o mesmo defeito molecular de base, reafirmando o conceito de que
mutações específicas não predizem o fenótipo de pacientes com AEH, assim como na maioria
das doenças genéticas.
40
Também não houve correlação entre a gravidade dos sintomas e os
níveis séricos de inibidor de C1 nesses pacientes. Uma observação importante é que em uma
das crianças com AEH dor abdominal recorrente foi o único sintoma presente. Portanto,
embora dor abdominal recorrente tenha várias etiologias possíveis, pode ser útil incluir o
AEH no diagnóstico diferencial, especialmente em crianças com história familiar positiva
para angioedema.
Apesar do progresso na elucidação das características bioquímicas e moleculares do
AEH, os mecanismos que levam à iniciação e resolução das crises permanecem
desconhecidos. Fatores ambientais e outros fatores como polimorfismos no receptor da
bradicinina, ou em proteínas do sistema de contato, ou ainda variações nos níveis e/ou função
das cininases provavelmente modificam a gravidade da doença. No entanto, a contribuição
desses fatores ainda não foi elucidada.
O padrão de herança autossômica dominante prediria incidência e gravidade
semelhantes entre os sexos, entretanto a maioria dos especialistas nota predominância de
mulheres buscando tratamento. No presente estudo, envolvendo um número elevado de
pacientes com AEH de uma única família, observamos que não houve diferença na incidência
de AEH entre os sexos, mas sim uma tendência a uma apresentação mais grave da doença
entre pacientes do sexo feminino, em concordância com observações de outros autores.
1,9
Isso
pode representar reflexo das influências hormonais na gravidade da doença, uma vez que
situações em que ocorre aumento de estrógenos levam, muitas vezes, a aumento da freqüência
e intensidade das crises de angioedema em pacientes com AEH. De forma interessante, nossos
pacientes com AEH incluíram 2 indivíduos do sexo masculino (III-45 e II-12) que apresentam
remissão dos sintomas por mais de 24 anos, o que não ocorre com nenhuma das pacientes do
sexo feminino; e ainda, os 2 indivíduos adultos assintomáticos também são do sexo
masculino.
Discussão 70
A prevalência média de casos de AEH nos diferentes subgrupos acometidos pela
doença nessa família foi de 47,6%, o que é condizente, embora não exatamente, com a taxa de
transmissibilidade de 50% esperada em condições heterozigotas autossômicas dominantes. No
entanto, é importante lembrar que essa média pode ser um pouco maior na realidade, uma vez
que 106 indivíduos assintomáticos que não foram avaliados para a presença da mutação
c.352delC, e entre eles podem ainda existir alguns portadores da mutação c.351delC, ou seja,
pacientes com AEH assintomático.
Em diferentes partes do mundo, longos atrasos no diagnóstico em pacientes com AEH
são relatados de forma freqüente. Em nosso estudo, o tempo transcorrido entre o início dos
sintomas e o diagnóstico variou entre 1 mês e 40 anos, com média de 15,5 anos. Entretanto,
deve-se considerar que tratam-se de indivíduos pertencentes a uma mesma família, o que
facilitou progressivamente o diagnóstico entre eles. Dados de registros Europeus estimam
que o tempo médio entre o início dos sintomas e o diagnóstico foi de 22 anos em 1977, e de
um pouco mais que 10 anos em 2005. Esses dados reforçam a idéia de que o AEH é uma
doença ainda pouco conhecida e diagnosticada em todo o mundo. No Brasil, um registro
nacional de casos feito por Grumach et al,
69
contabilizando dados dos principais centros de
referência do país, totalizou 120 casos diagnosticados. Considerando-se a prevalência média
da doença de 1 caso para cada 50.000 habitantes, teríamos uma estimativa de cerca de 3800
casos de AEH na população brasileira. Esses dados demonstram claramente como o AEH é
extremamente sub-diagnosticado em nosso meio. Essa falha no diagnóstico pode ter sérias
consequências, tendo em vista que o AEH é uma doença que traz um grande impacto na
qualidade de vida dos pacientes e que pode ser altamente debilitante e até mesmo letal (mais
de 50% dos pacientes apresentam pelo menos 1 episódio de edema de glote durante a vida e
que a taxa de letalidade gira em torno de 30% quando esses episódios não são diagnosticados
e tratados apropriadamente).
No grupo de pacientes em tratamento profilático com andrógeno atenuado (Danazol)
observamos boa resposta ao tratamento com doses mais baixas do que as recomendadas
1
em
12/13 pacientes e, nessas doses, não observamos efeitos adversos importantes. No entanto,
não dispomos atualmente de nenhuma alternativa terapêutica eficaz e segura para o
tratamento das crises de AEH em nosso meio. Segundo relato de familiares, 2 mulheres da
família em estudo (I-2 e II-10 na Figura 11) foram a óbito em consequência de crise de AEH.
Crises graves podem ser letais quando não tratadas apropriadamente, por isso, é
imprescindível que as novas drogas desenvolvidas para o tratamento das crises incluindo o
antagonista de receptor da bradicinina (icatibanto), o inibidor da calicreína plasmática
Discussão 71
(ecallantide) e, em especial, o concentrado do inibidor de C1, sejam registradas e tenham seu
uso viabilizado para os pacientes com AEH no Brasil.
72
6 CONCLUSÕES
Conclusões 73
6 CONCLUSÕES
1. A mutação c.351delC no gene que codifica o inibidor de C1, SERPING1, tem ligação
causal definitiva com o desenvolvimento de angioedema hereditário tipo I em
membros de uma família brasileira
2. Se transcrita, a proteína codificada a partir do gene com a mutação c.351delC é
truncada e sem atividade biológica
3. A análise genética permite o diagnóstico precoce de angioedema hereditário em
portadores assintomáticos da mutação c.351delC
4. ampla variabilidade de apresentação e gravidade clínicas do angioedema
hereditário em pacientes da mesma família com a mutação c.351delC
5. Não correlação entre a gravidade clínica e os níveis séricos do inibidor de C1 nos
pacientes com diagnóstico de angioedema hereditário que apresentam a mesma
mutação genética.
74
REFERÊNCIAS
Referências 75
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hereditary angioneurotic edema. J Clin Invest. 1993 Mar;91(3):1258-62.
82
APÊNDICES
Apêndices 83
APÊNDICE A – Termo de consentimento livre e esclarecido
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO -
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO – MONTE ALEGRE – FONE: 3633 1000 FAX 3633 1144 – CEP: 14048-900
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Nome da pesquisa: ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO: ESTUDO CLÍNICO E
GENÉTICO DE UMA FAMÍLIA BRASILEIRA
Pesquisadoras responsáveis: Dra. Maria Fernanda Ferraro (CRM 109.221) e Prof. Dra. Luisa
Karla de Paula Arruda (CRM 50.494) (orientadora)
Local da Pesquisa: Ambulatório de Alergia (AALE) do Hospital das Clínicas e Laboratório
de Imunologia Clínica, Departamento de Clínica Médica, FMRP-USP
Objetivos e Procedimentos do Estudo:
O angioedema hereditário é uma doença que pode passar de pai para filho. Esta
doença causa o aparecimento de edemas (inchaços) em rias partes do corpo, por exemplo,
face, mãos, pés, língua, laringe e intestinos. As pessoas que têm esse problema apresentam
sintomas variáveis: algumas têm edemas muito freqüentes, outras só de vez em quando, outras
têm muitas dores de barriga devido ao inchaço do intestino. Algumas vezes, os sintomas são
leves e incomodam apenas um pouco, mas, outras vezes, as crises podem ser muito graves,
levando até mesmo à morte por asfixia quando acontece o edema de glote.
A sua família tem muitas pessoas que apresentam esse problema. É importante que
todos sejam avaliados para que possamos ter certeza do diagnóstico e iniciar o tratamento
para evitar as crises de inchaço. Pretendemos também fazer o estudo genético (DNA) de cada
um para que possamos saber quem tem o defeito nos genes (material que passa de pai para
filho) que causa a doença. Com isso poderemos orientar a todos da sua família quanto ao
diagnóstico, o tratamento, a chance de ter a doença no futuro e a chance de ter um filho com a
doença. O estudo da sua família nos ajudaa entender melhor essa doença e, assim, poderá
ajudar também a outras famílias no futuro.
Você está sendo convidado a participar do presente estudo. Para isso, precisaremos
coletar 5 ml do seu sangue para o estudo genético e, se você tiver história de edemas, mais 10
ml para dosar os componentes do sangue que levam ao inchaço, em 2 ocasiões.
Caso você não aceite participar do estudo, não haverá nenhum prejuízo e você será
atendido normalmente no nosso ambulatório no Hospital das Clínicas, caso necessite.
Apêndices 84
Desconforto e riscos esperados
A punção venosa para coletar o sangue pode causar um pequeno desconforto e em
alguns casos, formar um pequeno hematoma no local, mas será realizada por pessoa treinada,
pertencente ao grupo de pesquisa.
Em caso de qualquer dúvida ou evento associado ao estudo, contactar:
Dra. L. Karla Arruda – Hospital das Clínicas da FMRP-USP, 6º Andar, Sala 632
Tels: (016) 3602-3279 (laboratório); (016) 3972-3718 (residência); (016) 8137 2172 (celular)
ou
Dra. Maria Fernanda Ferraro - Laboratório de Alergia – Anexo A, Bloco B – FMRP-USP
Tels: (016) 3602-3279 (laboratório); (034) 3235-9674 (residência); (034) 9997-1778 (celular)
Eu, ____________________________________________________________________
R.G.____________________________________, abaixo assinado, tendo recebido as
informações acima e ciente dos meus direitos abaixo relacionados, concordo em participar da
pesquisa.
1. A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento acerca dos
procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados à pesquisa e o tratamento a que serei
submetido.
2. A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar do
estudo sem que isso traga prejuízo à continuação do meu cuidado e tratamento.
3. A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial da
informação relacionada com a minha privacidade.
4. O compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que esta
possa afetar minha vontade de continuar participando.
5. O compromisso de que serei devidamente acompanhado e assistido durante todo o período
de minha participação no projeto, bem como de que será garantida a continuidade do meu
tratamento, após a conclusão dos trabalhos de pesquisa.
Declaro, ainda, que concordo inteiramente com as condições que me foram apresentadas e
que, livremente, manifesto a minha vontade em participar do referido projeto.
Data: _____/_____/_______
Assinatura do paciente
Pesquisador responsável
Apêndices 85
APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido para menores de 18 anos
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO -
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO – MONTE ALEGRE – FONE: 3633 1000 FAX 3633 1144 – CEP: 14048-900
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO- MENORES DE 18 ANOS
Nome da pesquisa: ANGIOEDEMA HEREDITÁRIO: ESTUDO CLÍNICO E
GENÉTICO DE UMA FAMÍLIA BRASILEIRA
Pesquisadoras responsáveis: Dra. Maria Fernanda Ferraro (CRM 109.221) e Prof. Dra. Luisa
Karla de Paula Arruda (CRM 50.494) (orientadora)
Local da Pesquisa: Ambulatório de Alergia (AALE) do Hospital das Clínicas e Laboratório de
Imunologia Clínica, Departamento de Clínica Médica, FMRP-USP
Objetivos e Procedimentos do Estudo:
O angioedema hereditário é uma doença que pode passar de pai para filho. Esta doença
causa o aparecimento de edemas (inchaços) em várias partes do corpo, por exemplo, face,
mãos, pés, língua, laringe e intestinos. As pessoas que têm esse problema apresentam sintomas
variáveis: algumas têm edemas muito freqüentes, outras de vez em quando, outras têm
muitas dores de barriga devido ao inchaço do intestino. Algumas vezes, os sintomas são leves
e incomodam apenas um pouco, mas, outras vezes, as crises podem ser muito graves, levando
até mesmo à morte por asfixia quando acontece o edema de glote.
A sua família tem muitas pessoas que apresentam esse problema. É importante que todos
sejam avaliados para que possamos ter certeza do diagnóstico e iniciar o tratamento para evitar
as crises de inchaço. Pretendemos também fazer o estudo genético (DNA) de cada um para
que possamos saber quem tem o defeito nos genes (material que passa de pai para filho) que
causa a doença. Com isso poderemos orientar a todos da sua família quanto ao diagnóstico, o
tratamento, a chance de ter a doença no futuro e a chance de ter um filho com a doença. O
estudo da sua família nos ajudará a entender melhor essa doença e, assim, poderá ajudar
também a outras famílias no futuro.
Apêndices 86
Seu (sua) filho(a) ou o menor pelo qual você é o responsável legal está sendo
convidado a participar do presente estudo. Para isso, precisaremos coletar 5 ml do menor para
o estudo genético e, se ele (ela) tiver história de edemas, mais 10 ml para dosar os
componentes do sangue que levam ao inchaço, em 2 ocasiões.
Caso você não aceite que seu (sua) filho(a) ou o menor pelo qual você é o responsável
legal participe do estudo, não haverá nenhum prejuízo e o menor será atendido normalmente
no nosso ambulatório no Hospital das Clínicas, caso necessite.
Desconforto e riscos esperados
A punção venosa para coletar o sangue pode causar um pequeno desconforto e em
alguns casos, formar um pequeno hematoma no local, mas será realizada por pessoa treinada,
pertencente ao grupo de pesquisa.
Em caso de qualquer dúvida ou evento associado ao estudo, contactar:
Dra. L. Karla Arruda – Hospital das Clínicas da FMRP-USP, 6º Andar , Sala 632
Tels: (016) 3602-3279 (laboratório); (016) 3972-3718 (residência); (016) 8137 2172 (celular)
ou
Dra. Maria Fernanda Ferraro - Laboratório de Alergia – Anexo A, Bloco B – FMRP-USP
Tels: (016) 3602-3279 (laboratório); (034) 3235-9674 (residência); (016) 9997-1778 (celular)
Eu, ____________________________________________________________________
R.G.____________________________________, abaixo assinado, responsável legal pelo
menor
_______________________________________________________, tendo recebido as
informações acima e ciente dos meus direitos abaixo relacionados, concordo que meu (minha)
filho (a) ou o menor pelo qual sou o responsável legal participe da pesquisa.
1. A garantia de receber a resposta a qualquer pergunta ou esclarecimento acerca dos
procedimentos, riscos, benefícios e outros relacionados a pesquisa e o tratamento a que serei
submetido.
2. A liberdade de retirar meu consentimento a qualquer momento e deixar de participar no estudo
sem que isso traga prejuízo à continuação do meu cuidado e tratamento.
3. A segurança de que não serei identificado e que será mantido o caráter confidencial da
informação relacionada com a minha privacidade.
4. O compromisso de me proporcionar informação atualizada durante o estudo, ainda que esta
possa afetar minha vontade de continuar participando.
Apêndices 87
5. O compromisso de que serei devidamente acompanhado e assistido durante todo o período de
minha participação no projeto, bem como de que será garantida a continuidade do meu
tratamento, após a conclusão dos trabalhos de pesquisa.
Declaro, ainda, que concordo inteiramente com as condições que me foram apresentadas e que,
livremente, manifesto a minha vontade de que meu (minha) filho (a) ou o menor pelo qual sou
o responsável legal participe do referido projeto.
Data:___/___/_____
Assinatura do pai, mãe ou responsável legal pelo menor
Pesquisador responsável
Apêndices 88
APÊNDICE C – Ficha Clínica
NOME: __________________________________________________________________
SEXO:
DATA NASC.: _____/_____/_________ IDADE:_________________________________
NOME DO
PAI:______________________________________________________________________________
NOME DA MÃE: ____________________________________________________________________________
TELEFONE PARA CONTATO: ( )____________________________
EPISÓDIOS DE ANGIOEDEMA: SIM NÃO (SE SIM CONTINUAR RESPONDENDO)
IDADE INÍCIO SINTOMAS:____________________ IDADE DA MENARCA: _____________________
TIPO SINTOMAS: PELE LARINGE TRATO GASTRINTESTINAL
GRAVIDADE: DESCONFORTO, SEM PREJUÍZO DAS ATIVIDADES DIÁRIAS
DESCONFORTO QUE AFETA AS ATIVIDADES DIÁRIAS NORMAIS
CRISE GRAVE, NECESSITA ATENDIMENTO MÉDICO/HOSPITALIZAÇÃO
FREQUÊNCIA: mais de 1 vez ao mês 6 a 11 vezes/ano menos que 6 vezes ao ano
FATORES DE MELHORA:_______________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
FATORES DE PIORA: __________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________
GRAVIDEZ USO DE ACO
PERÍODO DE MAIOR INTENSIDADE DOS SINTOMAS: ____________________________________
______________________________________________________________________________________
DOENÇAS ASSOCIADAS: _______________________________________________________________
USO DE MEDICAÇÕES: ________________________________________________________________
PARENTES COM AE:___________________________________________________________________
______________________________________________________________________________________
OBS: _________________________________________________________________________________
2°
° °
° PARTE
DATA:_____/_____/_______
DATA INÍCIO TRATAMENTO: ___/_____/_______ MEDICAÇÃO/DOSE: _______________________
TRATAMENTO ATUAL: _______________________ DOSE: ________________________________
RESPOSTA AO TRAT/O: ASSINTOMÁTICO SINTOMAS LEVES E ESPORÁDICOS
SINTOMAS LEVES FREQUENTES SINTOMAS GRAVES
EFEITOS COLATERAIS:_________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________________
89
ANEXOS
Anexos 90
ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa
22a
12 12a
1414a
40a 40
41
41a
42a 42 43 43a 44a 44 45 46 47
14
15
16
17
18
19
20 21 22 23 26
25
25a 27 28
48 48a
29a 29 31a 31 32 3330 34 36 3735a 35
38 38a
39 40 41a 41 42 43 44
45 46 47 48
49 50
49
49a
50a 50
51a 51
52a 52
5353a 54 54a 55
1
2 3 4 5 6 7 8 9
11 12 13 14
24 24a
10
51
39a
I
II
III
IV
22a
1a 1
2
3a 3
1
2
1
4
4a
4
5
6
7
6a
6
10 11 12
7 7a
13 14 15 16 17
8a 8
18
19
20a 20 21
22
23
4 5
9
9a
24 25 26 26a 27 28 29a 29 30 31
32
6 8 9
10a 10
33 33a 34
37
37a3635a 35
11 12
13
11a 11
38 39
1
1a
3 3a
5
98a 8
3 10
24a
7
13
13a
56 57 58a 58 59a 59 60
15
15a
61a
61 62
63
64 64a 65 65a
16 16a
66a 66 67a
67
68 69 69a 70 70a
17a 17
71 71a 72a 72 73 74 75 75a 76 77
78
79 80 81 82 83
18 18a 19
20 21 22a
22
84 85 86 87
23 23a
87a 88 88a 89a 89
24a 24
90 90a 91 92 93a 93 94 95 96
25 25a
97 98 99 100
26a 26
101 102
27 28
103
33a 4 4a
5
5a
52 53 54 55 56
57
58 59 60a 60 61 62 63
64
65 66
67 68
69
70 71 72 73
74 75 76 77 78 79 80 81
82
83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98
15 16 17 18
V
? ?
6
? ?
7
8
9 9a
29 30 31a 31 33 34 35 36 3732 37a
104
105 106 107 108 109 110 111 112 113
2a2
1a 1
Indivíduos com AEH e mutação c.351delC
Indivíduos sem AEH e sem mutação c.351delC
Indivíduos não avaliados
Indivíduos com AEH assintomático e mutação c.351delC
Indivíduos falecidos com história de sintomas de AEH
Caso índice
Figura 11. Heredograma
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