29
mulheres que eu conheço deixaram seus parceiros, mudaram de identidade
sexual, simplesmente mudaram toda a sua vidas, e em muitas instâncias,
realmente estragaram suas vidas. E então, gradualmente, descobriram,
bem, você sabe, ela não apenas tinha um marido, ela tinha dois, e um deles
era incrivelmente rico e pagava por tudo. Ela nunca esteve fazendo nada
sozinha, sempre teve uma grande rede de segurança de todas essas
pessoas. E então as pessoas se viraram contra ela, porque o diário não era
verdade. Pessoas eram incapazes de dizer que a escrita de memória e
diário é permitida de ser escrita como uma versão da vida da pessoa, como
a pessoa quer ser conhecida e percebida. Elas ficaram com raiva, e eu acho
que Nin foi realmente uma das primeiras, há 30 ou 40 anos atrás, que foi
atacada por não dizer a verdade. E de repente, a busca pela verdade
começou, e todos os tipos de acadêmicos estavam escrevendo biografias e
dizendo, ‗Aha! Robert Frost era um mentiroso! Fitzgerald era um
mentiroso! Todo mundo era um mentiroso, eles não disseram a verdade‘
41
É importante ilustrar as duas maneiras pelas quais a obra íntima da escritora se
tornou publica. A partir do início da década de 1930, Nin começou a buscar maneiras de
publicizar os diários. Mesmo pensando em publicar o diário na íntegra, inicialmente ela os
transformou em ficção em pequenas obras que nunca tiveram reconhecimento fora do
ambiente dos escritores marginais.
No final dos anos de 1950 ela decide publicar o diário, mas retirando os trechos
que diziam respeito a seu marido Hugh Guiler
42
e outros amantes. O livro teve uma
recepção tão boa do público e da crítica que Anaïs publicou mais seis volumes
posteriormente. No entanto, essas versões eram profundamente editadas e até mesmo
reescritas
43
. Mas antes de morrer, Nin deixou para seu outro marido, Rupert Pole, os
manuscritos de todos os diários. Ele relata o fato no prefácio de Fire - from a journal of love
– The unexpurgated diaries of Anaïs Nin 1934-1937.
41
So when Nin's diaries were published, women in the '60s, in the dawning of the feminist movement,
were reading these diaries and were saying, "Oh my God, here's one woman who really had the perfect life.
She went around the world independently, she lived independently, she did whatever she wanted, she was
in charge of her own sexuality, her own finances, everything. We all want to be Anaïs Nin." Many, many
women I know left their partners, changed their sexual identity, just totally changed their lives, and in
many instances really messed up their lives. And then it gradually filtered out, well, you know, she not only
had one husband, she had two, and one of them was incredibly wealthy, and he paid for everything. She
was never really doing anything on her own, there was always this big safety net of all these people. And
so people turned against her, because the diary wasn't the truth. People were unable to say that memoir and
diary writing are allowed to be the written version of the person's life, as the person wants the life to be
known and perceived. They get angry, and I think Nin really was one of the first, 30 or 40 years ago, who
was attacked for not telling the truth. And suddenly, the quest for the truth took over, and all sorts of
scholars were going out there, writing biographies saying, "Aha! Robert Frost was a liar! Fitzgerald was a
liar! Everybody was a liar, they didn't tell the truth!" (Tradução da autora)
42
Hugh Guiler e Anaïs Nin se casaram em 1923. Ele era um promissor funcionário de um banco, formado
em letras e economia pela Universidade de Oxford.
43
PODNIEKS, Elizabeth. Daily Modernism: The Literary Diaries of Virginia Woolf, Antonia White,
Elizabeth Smart, and Anaïs Nin. McGill Queen‘s Press, New York, 2000, p.285