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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
MESTRADO EM ESTUDOS FRONTEIRIÇOS
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL
CAMPUS DO PANTANAL
RAMONA TRINDADE RAMOS DIAS
A MORADIA DOS BOLIVIANOS EM CORUMBÁ-MS:
SINGULARIDADES DO ESPAÇO FRONTEIRIÇO
CORUMBÁ - MS
2010
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1
RAMONA TRINDADE RAMOS DIAS
A MORADIA DOS BOLIVIANOS EM CORUMBÁ-MS:
SINGULARIDADES DO ESPAÇO FRONTEIRIÇO
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação Mestrado em Estudos
Fronteiriços da Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul, Campus do
Pantanal, como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre.
Linha de Pesquisa: Desenvolvimento,
ordenamento territorial e meio ambiente
Orientador: Dr. Edgar Aparecido da
Costa
CORUMBÁ - MS
2010
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2
RAMONA TRINDADE RAMOS DIAS
A MORADIA DOS BOLIVIANOS EM CORUMBÁ-MS:
SINGULARIDADES DO ESPAÇO FRONTEIRIÇO
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Mestrado em Estudos Fronteiriços da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal, como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre. Aprovada em 16/04/2010, com Conceito APROVADO.
BANCA EXAMINADORA
________________________
Orientador: Dr. Edgar Aparecido da Costa
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul)
________________________
1º avaliador: Drª Rosa Ester Rossini
(Universidade de São Paulo)
________________________
2º avaliador: Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani
(Universidade Federal do Mato Grosso do Sul)
3
À Deus:
Senhor supremo de todo o universo e de
todas as pessoas. Minha fortaleza e de quem
sou filha muito amada e infinitamente
agradecida por tantas e tantas bênçãos
recebidas, uma delas a obtenção deste novo
conhecimento, que me torna co-responsável
nas mudanças possíveis na sociedade, ainda
que minha contribuição seja ínfima. Ilumina-
me Senhor e guia minha mente, meu coração
e meus passos para que esta minha
realização humana seja um caminho de
compartilhamentos e me levem a trilhar com
coragem e sabedoria o desafio das
transformações. Porque tudo que de Ti recebo
não é somente meu, mas um presente que
devo partilhar com outros.
4
AGRADECIMENTOS
O Mestrado em Estudos Fronteiriços da Universidade Federal do Pantanal foi
a porta que se abriu para um novo horizonte, repleto com perspectivas de
transformações na sociedade corumbaense, pela possibilidade propiciada em abrir
caminhos para que pudéssemos olhar a fronteira Brasil-Bolívia sob um novo ângulo:
de compartilhamento e solidariedade. Sinto-me honrada em integrar a primeira turma
deste mestrado.
Nunca estamos sozinhos em qualquer caminhada, porque a todo o momento
estamos recebendo algo de alguém, sob as mais diferentes maneiras. Meu
agradecimento sincero para todas as pessoas que direta ou indiretamente me
incentivaram ou participaram nesta minha trajetória, se fizeram presentes, que se
preocupou, que foram solidárias, que torceram por mim:
A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul pela política de qualificação
de seus servidores técnico-administrativos e ao Departamento de Ciências do
Ambiente e Direção do Campus do Pantanal, que oportunizaram o meu afastamento
para que pudesse dedicar-me exclusivamente ao mestrado, contribuindo, dessa
forma, para o meu desenvolvimento profissional e tamm pessoal.
Aos professores que trouxeram seus conhecimentos, suas experiências e
dedicação que foram determinantes para esta formação acadêmica e a aquisição de
nova maneira de olhar a fronteira, especialmente Brasil-Bolívia.
A Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia
de Mato Grosso do Sul pela concessão da Bolsa de Mestrado, cujo auxílio foi
relevante para a realização desta pesquisa.
Aos meus pais Roman (in memorian) e minha mãe Trindade, alicerces
fundamentais em minha formação, bases que sustentam o meu Ser. Mãezinha,
minha primeira e principal incentivadora para a realização de um curso de Mestrado.
Ao meus irmãos: Norma e Maria Auxiliadora, pelo incentivo e carinho e Heraldo (in
memorian) pelo ensinamento de vida e cuja presença é forte em meu coração.
Ao meu esposo Antonio Carlos que me acompanhou em minhas “viagens”,
pacientemente, levando-me a fronteira para a captação das fotos e me ouvindo nos
momentos de euforia, quando me punha a falar, falar... Obrigada por estar comigo.
5
Aos meus filhos, amadíssimos e especiais, principais fontes de força e de
minha metamorfose! Laurinha, Carolzinha e Rafa, nada teria sentido sem vocês.
Dinah, você já faz parte desta “turminha”. Obrigada “crianças” porque somos
espelhos um para outro.
As colegas docentes e técnico-administrativos pela torcida e pelo carinho com
que sempre me incentivaram.
Ao Prof. Dr. Marco Aurélio Machado de Oliveira, pelo estímulo e pelas
contribuições oferecidas na banca de qualificação, proporcionando discussões e
sugestões que me auxiliaram no aprendizado e crescimento deste trabalho.
Ao Prof. Dr. Milton Augusto Pasquotto Mariani, pelo incentivo e carinho e,
tamm, por ter integrado a minha banca de qualificação, cujas contribuições foram
importantes para o meu conhecimento e avanço nesta trajetória.
Ao Prof. Me. Roberto Domingos Galeano, pela atenção, pelo incentivo e
colaboração no anteprojeto para a seleção neste curso. Não me esquecerei da sua
atenção.
À Profª. Teresa Cristina Varela Brasil, pela atenção e apoio que foram
importantes para a fase seletiva para a prova de proficiência em língua estrangeira.
À Profª. Drª Wadia Schabib Hany, por me incentivar e auxiliar em diversos
momentos para a elaboração desta dissertação.
À Rosilvânia Melgar Saucedo pelo apoio na realização das entrevistas,
essenciais para a realização da pesquisa.
Aos colegas de mestrado, pelo convívio, pelas discussões em sala de aula e
nos grupos, que facilitaram o aprendizado coletivamente. São momentos que
sempre serão lembrados com carinho.
À Edna e Laura, parceiras desta caminhada que aprendi a conhecer e que já
fazem parte de minha história e sempre estarão em minhas lembranças.
Às amigas queridas: Edil, Eunice, Lecir, Luci e Maria Lúcia. A amizade é um
suporte em todos os momentos. Sem palavras!
Aos representantes das instituições vinculadas ao tema de migração, que
atenciosamente me acolheram e contribuíram com informações importantes neste
processo de, em especial o Pe. João Marcos Cemadon, Coordenador da Pastoral do
Migrante em Corumbá, Sr. Juan Carlos Mérida Romero – Cônsul da Bolívia em
Corumbá e o Sr. Arthuro Castedo Ardaya - Subsecretário de Ações da Cidadania de
Corumbá e Presidente do Centro Boliviano-Brasileiro.
6
O meu agradecimento muitíssimo especial ao Prof. Dr. Edgar Aparecido da
Costa, pelo extraordinário desempenho profissional, pelos ensinamentos, pela
paciência, pelos momentos compartilhados. O seu entusiasmo e a sua dedicação ao
ensino são contagiantes e foram fundamentais para o meu desenvolvimento e para
descobertas além de minhas fronteiras.
Finalmente, meu agradecimento sincero e irrestrito a todos os migrantes
bolivianos, que gentilmente me ofereceram o seu tempo e a sua confiança ao me
relatarem a sua trajetória de vida para, enfim, se estabelecerem na cidade de
Corumbá, Brasil. Sem a valiosa participação e contribuição dessas pessoas, trilhar
este caminho teria sido difícil de se concretizar. Cada pessoa traz consigo uma
história de vida, cada nome possui um rosto e uma alma particular e são as suas
experiências e sentimentos que dão significados à natureza, ao espaço e a
sociedade. Assim, a história da humanidade vai se compondo e recompondo em
todo tempo e lugar. Deus é Fortaleza!
7
...o mosaico é feito de partes; essas partes se conjugam e
compõem uma única peça. São inúmeros e pequenos
significados que constroem a trama do mosaico. A pequena
peça é fundamental para a construção do todo, e por isso não
pode ser negada, separada. Assim somos nós. Se pensarmos
no espaço humano em que vivemos como peças de um
mosaico, nós entraremos no cerne dos significados que nos
constituem: nós estaremos no coração de nosso horizonte de
sentido. Quando nos referimos aos significados, nós estamos
tratando de realidades materiais e imateriais. Estamos falando
do quarto onde dormimos com nossos travesseiros e lençóis,
mas tamm das pessoas que nos rodeiam, dos amores que
nos despertam. O quarto nos identifica, mas os amores
tamm. O horizonte de sentido é uma conjugação de
inúmeros fatores. A cidade onde moramos, a história já vivida,
a casa que nos abriga, os lugares que freqüentamos, os
amigos que temos, as crenças que professamos, as relações
cotidianas, enfim, tudo isso compõe o nosso mundo particular.
É a partir, deste mundo, que enxergamos o outro mundo, que
não é somente nosso, mas também nosso, assim como o
mirante proporciona ao observador a visão que só é possível a
partir de sua posição geográfica.
Pe. Fábio de Melo, scj
8
RESUMO
A proximidade fronteiriça entre as cidades de Puerto Quijarro-Bovia e Corumbá-Brasil, suas
relações e convivência cotidiana, denotando forte porosidade do ponto de vista dos seus
fluxos, suscitou o desejo de compreender a migração boliviana nessa fronteira, seus anseios e,
ao mesmo tempo, como se processou a ocupação territorial e a produção de suas moradias
nesta cidade brasileira. A moradia, muito além de ser desejada e necessária para a satisfação
como abrigo, como teto, está intrinsecamente relacionada ao contexto cultural e social do ser
humano. Em sua caracterização sempre estarão presentes traços das suas culturalidades, das
subjetividades e das características sociais, econômicas e estruturais da sociedade, portanto,
sendo reformuladas nos diferentes contextos espaços-temporais. O objetivo principal desta
pesquisa foi conduzir uma reflexão sobre a produção de moradias pelos bolivianos que
atravessam a fronteira brasileira para a cidade de Corumbá e observar as singularidades
existentes entre essas cidades fronteiriças. Também se procurou investigar a existência de
redes de cooperação. O processo investigatório foi conduzido mediante a realização de
pesquisas bibliográficas sobre temas como fronteira, migração, território e territorialidades, a
fim de se compreender os reflexos dos fenômenos migratórios, em especial aquele
relacionado a esta fronteira. Também foram realizadas entrevistas com migrantes bolivianos
residentes na cidade de Corumbá, Brasil, orientadas por um roteiro, com questões abertas que
permitiram ao entrevistado responder livremente as indagações referentes ao modo e aos
motivos que envolveram sua migração para esta cidade. Ao mesmo tempo, foi permitida a
livre narrativa de sua história de vida buscando dar vazão às sentimentalidades e
reminiscências que pudessem ser apropriadas para indicar toda riqueza do processo. Além
disso, foram realizadas interlocuções com representantes de instituições ligadas ao contexto
da migração, para a obtenção de informações relacionadas ao processo migratório dos
bolivianos. A pesquisa demonstrou que as redes de solidariedade durante a vinda dos
bolivianos foram sempre muito marcantes, apesar de negada em seus discursos. É possível
creditar essa negação ao entendimento que se faz de cooperação, entendida por eles como
algo institucional ou governamental. Foi observado que esses migrantes buscaram,
primeiramente, melhores condições de trabalho e, a partir daí, se estruturaram para sua
permanência, estabelecendo suas moradias. Independente de suas casas serem próprias ou
alugadas se notou um padrão similar de organização, tanto em Corumbá quanto em Puerto
Quijarro. Na maioria das vezes, se constatou singularidades na forma de utilização do espaço
da moradia percebida nas paisagens, como um território de abrigo e relacionamentos. A forma
de organização desses espaços, ora diferentes ora semelhantes vai se constituindo como
fatores de similaridades. Ao mesmo tempo em que muitas casas de bolivianos em Corumbá
mantêm a estrutura física parecida com as observadas em Puerto Quijarro, outras são
construídas como as corumbaenses.
Palavras chave: Fronteira, Moradia, Migração, Territorialidades.
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RESUMEN
La proximidad fronteriza entre las ciudades de Puerto Quijarro/Bolivia y de Corumbá/Brasil,
sus relaciones y convivencia cotidiana, y la porosidad de los flujos, suscitaron nuestro deseo
de comprender la migración boliviana a través de esta frontera, así como comprender los
anhelos de la población migrante. Al mismo tiempo, nos proponemos estudiar como se gene
el proceso de ocupación territorial y la producción de sus viviendas en la ciudad brasilera. La
vivienda, más que objeto deseado y necesario para abrigo y techo, está intrínsecamente
relacionada con el contexto cultural y social del ser humano. En los detalles constructivos y
espacios de estas viviendas están presentes los signos de costumbres y cultura, además de las
características sociales, ecomicas y estructurales de la sociedad boliviana, condicionadas
por los diferentes contextos de espacio y tiempo. El objetivo principal de esta investigación es
de levantar una reflexión sobre la producción de viviendas de los migrantes bolivianos en la
ciudad de Corumbá, resaltando las singularidades existentes de esas viviendas tanto en la
ciudad de Corumbá como en la vecina Puerto Quijarro. Así mismo, constatamos durante el
levantamiento de datos, la existencia de redes de cooperación entre estos migrantes. El
proceso de nuestra investigación fue realizado mediante levantamiento bibliográfico de temas
que tratan de Fronteras, Migración, Territorio y Territorialidad, con la finalidad de
comprender nuestra problemática y profundizar el estudio de los fenómenos migratorios
específicos de esta frontera. Durante el levantamiento de datos, también realizamos
entrevistas con los migrantes bolivianos residentes en Corumbá/Brasil, orientadas por un
guión, con preguntas abiertas, que permitieron al entrevistado responder libremente el
cuestionario elaborado sobre los motivos que condujeron su migración hacia esta ciudad. De
esta manera propiciamos relatos de historias de vida, que nos dieron la oportunidad de
conocer detalles subjetivos de este proceso. Además de realizar entrevistas con representantes
de instituciones vinculadas al fenómeno migratorio boliviano. En el desarrollo de nuestro
trabajo, observamos una fuerte presencia de redes de solidariedad relacionadas con la llegada
de nuevos migrantes bolivianos, a pesar de estar omitida en sus relatos. Es probable que esta
negación esté relacionada con el apoyo institucional o gubernamental. Constatamos que esta
población busca primeramente, mejores condiciones de trabajo y a partir de ello, resuelve su
hábitat, constituyendo su vivienda, sea propia ó alquilada. Notándose un patrón similar de
organización, tanto en Corumbá como en Puerto Quijarro. En la mayoría de las veces, se
comprosingularidades en la forma de distribucn del espacio, en el lenguaje paisajístico,
en la forma de utilización del terreno y sus edificaciones. La forma de organizar estos
espacios, se va conformando con elementos de similitud. A tiempo de poder observar que
algunas casas de bolivianos en Corumbá, mantienen semejanza con las viviendas de Puerto
Quijarro y, al contrario, otras viviendas son parecidas a las viviendas de los corumbaenses.
Palabras claves: Frontera, Vivienda, Migración, Territorialidad.
10
ABSTRACT
The frontier nearness between the cities Puerto Quijarro-Bolivia and Corumbá-Brazil, their
relations and day-by-day intimacy, denoting strong porosity from the point of view of their
flows, has provoked the desire to understand the bolivian migration in this frontier, their
hopes and how the territorial occupation and the construction of their houses were developed
in Corumbá. The dwelling, besides being desired and necessary to the satisfaction as shelter
and protection, is intrinsically related to the socio cultural context of the human being. In its
characterization it will always be present features of their culture, subjectivities, social
economical and structural characteristics of society, therefore, being reformulated in different
contexts of time and space. The main aim of this research was to conduct to a reflection about
the construction of the dwellings by those bolivians who cross the frontier till Corumbá and
also to observe the singularities that exist between these two frontier cities. It was also
investigated the existence of cooperation nets. The investigatory process was conducted by
the realization of bibliographic researches on themes such as frontier, migration. territory and
territorialities, in order to understand the reflexes of the migratory phenomena, in special the
one related to this frontier. Bolivian migrants that live in Corumbá were interviewed. They
were asked open questions so that they could answer freely the questions related to the way
and the resons which involved their migration to Corumbá. At the same time, they were
allowed a narrative about the history of their lives, aiming at giving avent to sentimentalities
and reminiscences that could be appropriated to indicate the richness of the process.
Furthermore, interlocutions were done with representatives of institutions involved with the
migration context, to get information about the bolivian migratory process. The research
demonstrated that the solidarity nets during their coming were always relevant, although they
deny it in their speeches. It is possible to credit this denial to the apprehension on cooperation,
which they believe to be something institutionalized, governmental. It was observed that these
migrants sought, firstly, better conditions of work and from then on they started to construct a
structure for their stay, settling their dwellings. Irrespective of being owners of the houses or
rent them, it was noticed a similar standard of organization both in Corumbá and Puerto
Quijarro. In most cases, it was ascertained singularities in the way of utilization of the
dwelling space, noticed in the sceneries as a territory of shelter and relationship. The way this
space was organized, sometimes different, sometimes similar, is constituted as factors of
similarities. While many bolivians’ houses maintain the physical structure similar to the ones
in Puerto Quijarro, others are built as the ones in Corumbá.
Key words: Frontier, Dwelling, Migration, Territorialities.
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1. Localização das entrevistas realizadas em Corumbá, em outubro de
2006, por Baeninger; Souchaud (2007). ............................................................
34
Figura 2. Varanda e quintal: singularidades residenciais de Corumbá, Brasil e
Puerto Quijarro, Bolívia.......................................................................................
41
Figura 3. Reuniões em frente às residências: hábitos comuns dos fronteiriços.
42
Figura 4. Semelhanças na paisagem cultural de Corumbá, Brasil e Puerto
Quijarro, Bolívia.................................................................................................
44
Figura 5. Organização espacial das moradias dos bolivianos, na cidade de
Corumbá-MS, Brasil...........................................................................................
46
Figura 6. Varanda: um local de encontro nas moradias dos bolivianos, na
cidade de Corumbá-MS, Brasil...........................................................................
47
Figura 7. Similitudes paisagísticas da fronteira Brasil-Bolívia............................ 47
Figura 8. Moradia localizada em Corumbá, Brasil, antes e após a sua
conclusão, com espaço para a realização de pequeno comércio......................
48
Figura 9. Desfile do Grupo Morenada, na cidade de Corumbá-MS, Brasil,
agosto de 2009...................................................................................................
50
Figura 10. Desfile do Grupo Pujllay, na cidade de Corumbá-MS, Brasil,
agosto de 2009...................................................................................................
50
Figura 11. Andor da Virgem de Urukupiña, em procissão na cidade de
Corumbá-MS, Brasil, agosto de 2009.................................................................
51
Figura 12. Gruta localizada na Feira Brasbol com a imagem da Virgem de
Urukupiña. .........................................................................................................
52
Figura 13. Feira Brasbol em Corumbá............................................................... 52
Figura 14. “Vila” localizada nas proximidades da Feira BRASBOL, em
Corumbá.............................................................................................................
53
Figura 15. Alguns alimentos típicos da culinária boliviana.................................
56
Figura 16. Grupo as Morenadas em apresentação nas ruas de Corumbá........ 57
Figura 17. Ação social para cidadania boliviana de crianças brasileiras, filhas
de bolivianos residentes em Corumbá, Brasil....................................................
58
12
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................
13
1.2 Procedimentos de investigação.................................................................................
14
2. MIGRAÇÃO E PRODUÇÃO DE MORADIAS NA FRONTEIRA.......................
18
2.1 Territorialidades e migrações fronteiriças...............................................................
18
2.2 A fronteira e as possibilidades de migrão............................................................
24
2.3 Migração, redes sociais e a produção de moradias.................................................
29
3 TERRITORIALIDADES E MORADIA DOS BOLIVIANOS EM CORUMBÁ-
MS......................................................................................................................................
36
3.1 Os migrantes bolivianos em Corumbá, no Brasil....................................................
36
3.2 As moradias dos bolivianos na cidade de Corumbá, no Brasil..............................
40
3.3 Os bolivianos que residem em Corumbá e a relação com o lugar de moradia....
49
3.4 Hábitos, costumes, espaços de lazer e interação com a sociedade corumbaense..
54
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
60
REFERÊNCIAS ..............................................................................................................
63
APÊNDICE A ..................................................................................................................
66
APÊNDICE B ..................................................................................................................
75
13
1 INTRODUÇÃO
A proximidade fronteiriça entre as cidades de Puerto Quijarro-Bolívia e Corumbá-
Brasil, caracterizada pela fronteira seca e a estreita relação entre os seus povos, suscitou o
desejo de buscar o conhecimento acerca da migração boliviana para o Brasil, bem como o seu
relacionamento com e na sociedade local. Além disso, buscou-se identificar de que maneira
produziram suas territorialidades para comporem suas moradias.
O objetivo geral desta pesquisa
1
teve como foco a caracterização das moradias dos
bolivianos na cidade de Corumbá, estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil, através da
investigação de seu processo migratório. Nesse sentido, buscou-se conhecer a sua trajetória
nesta cidade e a maneira como estabeleceram e nortearam a fixação de suas moradias. Dessa
forma, foram observados os seguintes aspectos: a) comparação das formas de organização do
espaço de moradia na paisagem urbana de Corumbá e Puerto Quijarro; b) investigação da
atuação das redes de cooperação entre os bolivianos que moram em Corumbá com a Bovia.
Durante o procedimento de pesquisa bibliográfica foram encontrados pouquíssimos
registros sobre o processo migratório do povo boliviano, para a região de fronteira,
especificamente para Corumbá, no estado de Mato Grosso do Sul, no Brasil. Acredita-se que
estes primeiros resultados já são suficientes para destacar algumas das peculiaridades que se
mostram nesta região fronteiriça, sobretudo no arranjo material das moradias dos bolivianos.
Parte-se da premissa de que o migrante carrega em sua bagagem toda uma vivência
simultaneamente individual e coletiva, fato que mesclado às novas experiências, transformam
o indivíduo, mas também a sociedade na qual ele está inserido. Essa inter-relação do novo
com as experiências vividas anteriormente e colocadas num contexto diferente do original,
colaboram na formação de uma identidade fronteiriça.
A referência inicial para identificar a localização dessas moradias foram os dados
levantados na pesquisa realizada por Baeninger; Souchaud (2007), na qual se constatou que as
residências dos migrantes bolivianos estão concentradas em determinados pontos da cidade de
Corumbá, especialmente nos bairros Centro, Cristo Redentor, Dom Bosco, Maria Leite e
Jardim dos Estados, apesar da existência de residências localizadas em quase todos os bairros.
1
Esta pesquisa foi financiada pela FUNDECT - Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e
Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul.
14
As reflexões se deram à luz de alguns conceitos considerados necessários para um
melhor entendimento do processo de formação das moradias e suas influências no setor
habitacional e na paisagem de uma localidade situada em região de fronteira. Os conceitos
escolhidos foram: migração, fronteira, territorialidade, redes e lugar.
O trabalho foi organizado em dois capítulos estruturados de modo a permitir,
primeiramente, uma reflexão teórica sobre o fenômeno migratório e a prodão de moradias
em áreas de fronteira e posteriormente apresentar as singularidades da produção de moradia
dos bolivianos em Corumbá-MS. Portanto, o primeiro capítulo tratou das territorialidades e as
migrações fronteiriças, da fronteira e das possibilidades de migração e dessa associada às
redes sociais e a produção de moradias, dialogando com diversos autores de modo a
contemplar várias posturas teórico-filosóficas. Tal procedimento permitiu perceber os vários
olhares sobre a temática e incorporar elementos de todos eles, no bojo do pensamento
complexo (MORIN, 2007), assumido neste trabalho.
O segundo capítulo apresentou os resultados obtidos na pesquisa de campo, trazendo
as motivações dos migrantes bolivianos mudarem para Corumbá, no Brasil, bem como a
descrição de suas moradias nessa cidade, das suas territorialidades e a relação com o lugar de
moradia, dos hábitos e, por fim, os costumes, espaços de lazer e a interação com a sociedade
corumbaense.
1.2 Procedimentos de investigação
A fim de caracterizar as moradias dos bolivianos residentes na cidade de Corumbá, foi
utilizada uma amostragem a partir da população mapeada pela pesquisa de Baeninger;
Souchaud (2007) que, contando com os dados do IBGE (Censo Demográfico de 2000),
registrou 789 domilios com presença boliviana. A amostragem ocorreu nos bairros de maior
contingente populacional de bolivianos residentes: Centro (imediações da Rua 13 de junho, na
parte comercial da cidade e da Avenida Porto Carreiro, na vila Ferroviária) e Cristo Redentor;
além dos bairros de maior concentração espacial: Dom Bosco, Maria Leite (vila MAPLAN) e
Jardim dos Estados.
Para a definição das amostras optou-se pela utilização do método de amostragem do
tipo não-probabilístico denominado “bola de neve” que consiste na indicação de uma nova
amostra, a partir da recomendação do primeiro entrevistado e assim subseqüentemente, até
15
que fossem atingidos os limites desejados. Foram realizadas 25 entrevistas em residências de
migrantes bolivianos, sendo cinco de cada bairro componentes do universo desta pesquisa.
Todos os procedimentos éticos foram observados em conformidade com parecer favorável do
Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, da UFMS.
Nos tempos atuais, quando a sociedade procura discutir e superar paradigmas
construídos em momentos históricos predecessores e resistentes hodiernamente, os métodos
científicos são muitas vezes questionados sobre sua eficiência anatica. De fato, a vida no
meio técnico-científico-informacional, cunhado por Santos (1997) impõe novas maneiras de
conceber os femenos que dificilmente poderiam ser compreendidos à luz de um único
método. Nesse sentido, esta pesquisa se propôs analisar a construção do espaço das moradias
dos bolivianos em Corumbá no contexto da teoria da complexidade.
Morin (2002) apontou que, na atualidade, as certezas e incertezas do conhecimento e
as transformações do mundo contemporâneo, são pertinentes a um contexto planetário, onde
se apresentam novos problemas e desafios tornando imprescindível um novo olhar para a
busca do conhecimento. Para o autor, não existe uma verdade por si mesma, mas a
informão pode estar revestida de diferentes significados em diferentes contextos. Deste
modo, é preciso buscar um entendimento global para se compreender o singular, porque
fazemos parte de um sistema organizado e interligado em seus mais variados aspectos. O
mundo é globalizado e os problemas atuais são concomitantes em todas as partes, embora
vivenciados de diferentes maneiras, norteados pelos movimentos e relações de cada contexto.
O pensamento complexo nos leva a perceber as questões do comportamento humano e
da sua capacidade de discernir, contextualizar e globalizar as diversas situações. O saber não
deve ser seccionado, mas analisado ao mesmo tempo, como um todo e singularmente. É
preciso ter em mente a sua dimensão global e as particularidades, num processo simultâneo e
dinâmico. A teoria da complexidade não propõe a separação, mas propaga a importância de se
unir, contextualizar, mundializar. Ao mesmo tempo em que reconhece a importância das
singularidades e individualidades, traz em si o conceito da “cultura da complexidade”,
associando-se ao pensamento sistêmico, ao não-linear e ao multidimensional.
Sob a luz destas reflexões é que foram conduzidas as etapas deste trabalho, sempre
tendo em mente que em uma área de fronteira, essas singularidades e individualidades se
mesclam proporcionado, assim, a construção de uma realidade particular, que neste caso foi
estudada com o olhar das Ciências Humanas, mais especificamente de sua área de Geografia.
Inicialmente foram realizados levantamentos bibliográficos em materiais já publicados
(livros, teses, dissertações, artigos impressos e on line etc.) a fim de sustentar teoricamente os
16
resultados advindos dos trabalhos de campo. Esses foram constituídos por interlocuções
diretas com as pessoas de interesse do estudo, quer fossem os imigrantes bolivianos,
representantes de órgãos governamentais e não governamentais que pudessem contribuir com
alguma informação referente ao estudo.
As investigações foram realizadas principalmente nos locais com maior densidade e
maior presença de bolivianos em Corumbá, o que foi considerado suficiente para se perceber
a existência de particularidades e singularidades na forma de produção e organização das
moradias nessas cidades.
Os trabalhos de campo foram dirigidos tendo como eixo orientador entrevistas semi-
estruturadas composto por questões abertas que permitiram ao entrevistador certa
flexibilidade em relação aos questionamentos. Optou-se pela aplicação desta técnica a fim de
que houvesse uma padronização das informações, ao mesmo tempo em que possibilitou
maiores esclarecimentos em pontos particulares a cada indivíduo entrevistado, uma vez que
possibilitou a introdução de outras indagações, conforme foram se apresentando novas
situações ou necessidades. Contou ainda, com apoio de uma assistente de pesquisa, acadêmica
da quarta série do curso de Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
(UFMS/CPAN), de descendência boliviana. Cabe indicar que esse procedimento favoreceu,
sobremaneira, o estabelecimento de contato com os interlocutores desta pesquisa.
Com a intenção de aferir a aplicabilidade da entrevista se adotou como procedimento a
realização de algumas entrevistas, na forma de pré-testes. Esse procedimento foi adotado a
fim de se buscar o aperfeiçoamento do modelo proposto para entrevista, buscando um melhor
direcionamento das questões a serem levantadas. Foi um instrumental de grande valia, pois
nessa etapa foi observada a necessidade de alguns ajustes nas proposições iniciais, além de ter
proporcionado um treinamento para a realização das entrevistas.
Durante essas entrevistas foram conduzidas investigações acerca da existência de
redes de cooperação entre os bolivianos que moram em Corumbá e destes com a Bolívia, a
presença da dupla residência (em ambos os lados da linha imaginária do limite internacional),
lazer e manifestações culturais.
Para comparação das formas de organização do espaço de moradia dos bolivianos na
paisagem urbana das cidades de Puerto Quijarro e Corumbá, dispensou-se a realização de
entrevistas com os bolivianos residentes naquele município, uma vez que essas informações
foram levantadas nas entrevistas realizadas com os bolivianos residentes em Corumbá. Para a
análise dos aspectos físicos das moradias e dos cuidados ambientais na residência (presença
de lixo, água superficial etc.) foram realizadas imagens iconográficas das residências de
17
Puerto Quijarro (inclusive de Arroyo Concepción, distrito daquela unidade municipal), por
meio de amostras de diferentes pontos, contemplando a multiplicidade de formas e usos. A
escolha se deu pelo aspecto visual, buscando-se observar a diversidade, a fim de
posteriormente indicar a unidade dessa diversidade e estabelecer a singularidade de sua
organização espacial. Para as residências localizadas na cidade de Corumbá, foram realizadas
entrevistas, conforme apontadas anteriormente e a reprodução de imagens fotográficas das
resincias para a realização dos procedimentos comparativos.
A partir dos resultados das entrevistas e da análise das fotografias se procurou situar as
comparações de moradias entre as cidades de Puerto Quijarro-Bolívia e Corumbá-Brasil,
observando-se as especificidades a fim de se apontar as semelhanças e os elementos próprios
da convivência com os corumbaenses.
A fim de estimar os impactos que a presença dos bolivianos tem produzido no setor
habitacional em Corumbá, se buscou entrevistar os representantes dos órgãos que tratam do
setor da habitação em Corumbá. Em outras palavras, se procurou indagar dessa relação com o
possível déficit habitacional da cidade sob a ótica dos agentes locais da produção da moradia.
Algumas questões foram consideradas relevantes para o conhecimento das nuances
que permearam este processo de migração: Qual a motivação desses imigrantes para o
deslocamento de seu país? Como e quem foi o contato para a entrada no país (familiares,
amigos, trabalho)? De que forma foi agenciado seu transporte? Onde e como se instalaram
inicialmente? Como ocorreu a obtenção do primeiro emprego e da sua moradia? São essas
inquietações que serão analisadas no decorrer deste trabalho.
A análise desses levantamentos levou em conta a teoria da complexidade, tomando
como referência os vários contextos sócio-econômicos na escala global, nacional e local, com
seu elemento diferenciador que é a própria fronteira. Dessa forma, as experiências
vivenciadas pelos migrantes bolivianos e partilhadas nas entrevistas foram elementos
essências para a fundamentação deste trabalho e para a organização de uma lógica empírica
para a construção científica das informações coletadas.
18
2 MIGRAÇÃO E PRODUÇÃO DE MORADIAS NA FRONTEIRA
2.1 Territorialidades e migrações fronteiriças
Nas palavras de Golgher (2004), “[...] o migrante é o indivíduo que morava em um
determinado município e atravessou a fronteira deste município indo morar em outro
distinto”. Partindo deste pressuposto e da relão do ser humano com o meio, com o espaço
onde exerce seu caráter relacional, modificando-o de acordo com diferentes contextos, pode-
se afirmar que a migração é um importante fator de produção de novas territorialidades.
O ser humano quando se move de um lugar para outro, para outras terras, o faz por
não sentir a satisfação de suas necessidades ou desejos. É, assim, muitas vezes impulsionado a
buscar novos horizontes, quer seja pelo imperativo da necessidade de sobrevivência, quer seja
para a realização de projetos mais elaborados. Nessa acepção, a migração pode ser percebida
como uma aspiração do ser humano pelo seu próprio desenvolvimento, em busca de melhores
condições e qualidade de vida, podendo ser motivada por diferentes fatores, como: políticos,
religiosos, culturais e ecomicos. Este último é, provavelmente, o que mais se destaca. O
aprofundamento do processo de globalização certamente contribuiu para a intensificação dos
fluxos de pessoas interna e externamente à escala nacional. Entretanto, partindo do
pressuposto de que o ser humano é um ser social, esses fatores não podem ser analisados
parcialmente, uma vez que são pertinentes à vida humana.
O processo migratório envolve mudanças que vão muito além de fatores econômicos,
pois a presença de um migrante produz intrínseca interação de culturas e costumes. O contato
com o novo não só induz a mudanças no estilo de vida do migrante como também à sociedade
na qual se insere, já que ambos se influenciam reciprocamente. Contudo, sua presença
provoca a ampliação das necessidades de oferta de moradia e suas conseqüentes variantes:
energia, saneamento básico, escolas, creches, saúde etc. Em contrapartida, as trocas de
experiências, costumes e culturas diferentes, produzem um hibridismo salutar nas formas de
relacionamento com ambiente.
Assim, é incontestável a participação e a influência que esse migrante produz no lugar
que o recebe, quer seja nos aspectos funcionais como simbólicos. Nos aspectos funcionais
como já mencionado anteriormente, pela necessidade de sua subsistência naquele lugar, ou
ainda pela contribuição no campo profissional ou intelectual. No aspecto simbólico, o novo
significado que este lugar terá para o migrante e para aqueles que já viviam ali, através do
19
cotidiano, onde as experiências de vida se manifestam, se trocam e se renovam, recriando o
significado do lugar.
Esse é o caráter da territorialidade, como um processo de construção, desconstrução e
reconstrução dos espaços. Nas palavras de Costa (2009, p. 63), as especificidades do território
[...] são produzidas historicamente pela capacidade e disponibilidade dos recursos e
tecnologia, bem como de acesso a elas pelos diversos segmentos sociais”. A territorialidade
pressupõe, dessa forma, um movimento descontínuo uma vez que cada segmento ou
sociedade terá distintas formas de se relacionar com o espaço, em função de contextos
históricos, culturais, econômicos nos quais estão inseridos, ao mesmo tempo, que se constrói
um novo panorama, ainda se vivencia comportamentos passados. Daí se dizer que a
territorialidade é um movimento descontínuo, porque na medida em que as transformações
ocorrem, podem ser observadas imutabilidades ou mudanças lentas. A territorialidade não
acontece repentinamente, mas de uma forma dinâmica, processual.
Neste aspecto Costa (2009) destaca no movimento T-D-R (territorialização
desterritorialização reterritorialização), que o processo de desconstrução e construção de
novas territorialidades ocorre a todo o momento e concomitantemente. Por esse motivo, a
presença de um elemento novo (um estrangeiro, por exemplo) vai provocando as
transformações cotidianamente. O migrante boliviano em Corumbá foi se adaptando a uma
nova realidade, assumindo novos costumes e se integrando em um novo contexto. Contudo,
ainda mantém as suas raízes e é essa característica que vai alimentando os processos de
modificação do terririo, muito latente nas regiões fronteiriças, onde as diferenças podem ser
percebidas com mais evidências e essa particularidade deve ser considerada para o
planejamento de estratégias de desenvolvimento. O mesmo autor destaca a relevância de se
considerar “o outro lado” para que se possa implantar um planejamento regional eficiente.
Essa questão é de grande importância na região de fronteira, principalmente onde as pessoas
transitam livremente, utilizando assim, a infra-estrutura local, como saúde, transporte, lazer.
Olhar a fronteira sob a perspectiva do diálogo possibilita o incremento de políticas conjuntas
de desenvolvimento.
O SPM (2006), em uma análise sobre as migrações no Brasil, América Latina e Caribe
enumerou como principais raízes da migração, que motivaram a mobilidade de pessoas para
outras terras, fatores como: acumulação da terra, modernização da agricultura, monocultura,
internacionalização da economia, desigual distribuição de renda, considerando-as
essencialmente estruturais. Esse Serviço avaliou que ao longo da história esses migrantes
foram considerados, equivocadamente, como um problema, necessários e indesejados ao
20
mesmo tempo, como mão-de-obra, com direitos trabalhistas “flexibilizados”, uma vez que se
submetiam a qualquer tipo de oferta de trabalho pela necessidade de subsistência.
Neste sentido, embora essa situação ainda possa ser observada, as mudanças
científicas e tecnológicas do mundo contemporâneo podem permitir uma nova modalidade de
migração, a temporal ou temporária. Isso se dá quando o indivíduo se desloca para outras
terras na busca de novos conhecimentos ou prestação de serviços mais especializados.
De acordo com Golgher (2004), os padrões mais recentes de migração apresentam
uma característica bastante diversa, pois se direcionam principalmente dos países em
desenvolvimento para os países do primeiro mundo. Concordamos com o autor quando aponta
que o mundo se moldou, também, pelas influências das migrações e, com o Brasil não foi
diferente, já que a presença de culturas distintas como a dos negros, dos europeus e,
posteriormente de outros povos, mescladas aos indígenas nativos delinearam a identidade do
povo brasileiro.
Vale ressaltar que se continua verificando processos migrarios em direção aos países
menos desenvolvidos. Contudo, a migração não é somente no sentido sul-norte, mas também
sul-sul, ou seja, de países mais pobres para mais ricos e entre países em condições
semelhantes de pobreza. É possível afirmar que para o Brasil migram não somente técnicos
especializados para trabalhar nos serviços mais sofisticados de empresas transnacionais, mas
também pessoal com baixa capacidade técnica, especialmente dos países localizados na zona
de fronteira.
Reconhecendo a indiscutível participação e contribuições técnicas, culturais, que
podem advir da migração de estrangeiros ao país, torna-se imprescindível a implementação de
políticas adequadas que atendam suas necessidades básicas, ou seja, infra-estrutura para a
produção de alimentação, vestuário, educação, moradia, saneamento básico, saúde etc.
possibilitando a esse indivíduo o direito de ocupar o seu espaço sociocultural. Tal
apontamento é pertinente já que a presença de um novo elemento traz em si a necessidade
implícita em se atender a essas queses, para si e para a sua família, já que muitos retornam a
suas origens em busca de seus familiares. Percebendo esse novo personagem como um
elemento de troca mútua, se pode dizer que a migração, apesar das dificuldades, pode ser
positiva tanto para quem migra como para quem recebe, tendo em vista a integração de
experiências culturais, tecnológicas que influenciam no desenvolvimento local.
Bassegio (2004, p. 1) sintetiza o sentido das migrações e a importância de ter um novo
olhar para esse fenômeno:
21
Sabendo que as grandes transformações mundiais sempre foram precedidas de
grandes fluxos migratórios podemos antever uma contribuição positiva das
migrações para o futuro da humanidade. O fenômeno migratório aponta para a
necessidade de repensar o mundo não mais baseado na competitividade, mas na
solidariedade; não na concentração, mas na repartição; o no fechamento das
fronteiras, mas na cidadania universal, enfim, num mundo baseado não no consumo
desenfreado, mas numa sociedade sustentável, onde haja lugar e vida digna para
todos.
Sob esta perspectiva se vislumbra o movimento migratório como construtor de novas
territorialidades pela coexistência de processos espaciais influenciando e sendo influenciado
pelas particularidades de cada um dos atores envolvidos, cujas características específicas
interagem com a identidade local, promovendo mudanças significativas que interferem de
forma fundamental na dinâmica dessa sociedade.
A presença do migrante implica em ocupação do espaço e conseqüente reorganização
do território e, nas palavras de Santos (1997, p. 17) “[...] a principal forma de relação entre o
homem e a natureza, ou melhor, entre o homem e o meio, é dada pela técnica”. Sendo que as
técnicas são um conjunto de meios instrumentais e sociais, com os quais o homem realiza
sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaço”. Sob esta ótica se pode compreender a
inter-relação entre o ser humano, o espaço e suas ações. Dessa forma, os estudos sobre
migração devem levar em conta a reminiscência cultural desse migrante, que terá papel
preponderante na ocupação do novo espaço e, conseqüentemente, na construção de suas
moradias.
De acordo com Raffestin (1993), os homens são os atores responsáveis pela produção
e renovação das territorialidades, porque através de suas ações, necessidades e aprendizagem
são produtores de transformações. Este autor enfatiza o caráter material e imaterial dos
processos sociais que congregam elementos centrais como espaço, tempo histórico, trabalho,
memória e a língua, que determinam e renovam identidades. A construção, desconstrução e
reconstrução de identidades antecedem a territorialização, desterritorialização e a
reterritorialização, uma vez que obedece a diferentes escalas temporais. É conveniente, pois,
uma abordagem múltipla do território pela existência de interconexão entre os territórios, que
podem ocorrer de forma simultânea e sobreposta numa mesma zona, produzindo uma
multiplicidade de atividades, identidades e territorialidades.
Raffestin (1993, p. 143) afirma, ainda, que
É necessário compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se
forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator
sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de
um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator territorializa o espaço.
22
Deste conceito podemos apreender que territorialidade é toda a ação do ser humano
sobre o território, ou seja, toda relão social, política, econômica, cultural que se concretizam
nesse espaço, pelas relações de poder, seja governamental ou pela ação da coletividade. Um
dos aspectos pesquisados neste trabalho procurou apontar o processo de territorialização dos
bolivianos na cidade de Corumbá-MS. Am disso, procurou examinar se houve uma
interferência governamental na instalação dos bolivianos em determinados locais da cidade ou
se a disposição das moradias ocorreu de forma espontânea e, a partir desta informação,
esclarecer se houve influência algum impacto no setor habitacional do município.
No entendimento de Saquet (2007, p. 81):
O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder engendradas
por um determinado grupo social. Dessa forma, pode ser temporário ou permanente
e se efetiva em diferentes escalas, portanto, não apenas naquela convencionalmente
conhecida como o território.
Acompanhando esse raciocínio pode-se apreender que o território é o espaço ocupado
pelo ser humano, onde realiza suas atividades, sendo que a territorialidade é determinada
pelas suas relações, mediatizadas por um determinado grupo social, com o meio. Da mesma
forma, essa territorialidade não precisa necessariamente ser permanente, haja vista que o ser
humano é um ser social e se desenvolve e se transforma ao longo do tempo. Esse
desenvolvimento ou transformações de comportamento influencia na sua relação com a
sociedade, produzindo então novas territorialidades. Ou seja, uma produção espaço-temporal,
porque ocorre em determinado espaço e varia de acordo as transformações sociais.
Saquet (2007, p. 75) acrescenta que o território é “[...] dessa maneira, objetivado por
relações sociais, de poder e dominação, o que implica a cristalização de territorialidades ou
territorialidades no espaço, a partir das diferentes atividades cotidianas”. A territorialização é
marcada por movimentos de apropriação e reprodução das relações sociais e vai além das
relações do poder político, dos simbolismos dos distintos grupos sociais e dos diferentes
fatores ecomicos centrados em seus agentes sociais. Não se pode esquecer o fator tempo no
contexto das relações sociais, considerado como um fluxo contínuo onde o passado, o
presente e o futuro podem ser vividos simultaneamente por diversos indivíduos,
caracterizando o viver humano em diferentes temporalidades e territorialidades.
Nesse sentido, a territorialidade pode ser entendida como toda a ação ou estratégia do
ser humano sobre o território, ou seja, toda relação social, política, econômica, cultural que se
concretiza nesse espaço pelas relações de poder, seja individual, governamental ou pela ação
da coletividade.
23
Saquet (2007), também explica que na desterritorialização estão presentes os mesmos
componentes da territorialização; ocorrem as perdas e reconstruções, a transformação das
relações com o meio, promovendo a reterritorialização. Afirma que os processos de
territorialização, desterritorialização e reterritorialização estão ligados e se complementam
ininterruptamente, não acontecem de forma separada ou individualizada, mas ao mesmo
tempo para diferentes indivíduos. Ou seja, não há uma descontinuidade, mas a reprodução de
aspectos inerentes à vida diária, como as questões econômicas, poticas e culturais. A
reprodução e transformação dessas relações contextualizadas em momentos, períodos e
lugares de forma complexa e heterogênea são os movimentos de desterritorialização e
reterritorialização.
Essa visão é igualmente compartilhada por Haesbaert (2005, p. 6774), quando
apresenta uma crítica ao discurso de desterritorialização e sugere uma nova discussão sobre a
[...] complexidade dos processos de (re)territorialização em que estamos envolvidos,
construindo territórios muito mais múltiplos ou, de forma mais adequada, tornando muito
mais complexa nossa multiterritorialidade”. É fundamental a distião dos conceitos de
“múltiplos territórios” - condição necessária para a manifestação da multiterritorialidade – e
multiterritorialização, que significa o romper das condições que, podem ser tanto simbólicas,
com a destruição dos símbolos, marcos históricos, identidades; quanto concreto, material -
potico e/ou econômico, pelas destruições de antigos laços nas fronteiras ecomico-políticas
de integração.
Haesbaert (2005, p. 6774) afirma que “[...] território, em qualquer acepção, tem a ver
com poder, mas não apenas ao tradicional ‘poder potico’. Ele diz respeito tanto ao poder no
sentido mais concreto, de dominação, quanto ao poder no sentido mais simbólico, de
apropriação”. Este autor cita Lefebvre
2
, que distingue apropriação de dominação
(“possessão”, “propriedade”) o primeiro sendo um processo muito mais simbólico,
carregado das marcas do “vivido”, do valor de uso; o segundo mais concreto, funcional e
vinculado ao valor de troca. Nesta ótica, considera o território como funcional e simbólico,
pois é utilizado tanto para a realização de ações como na produção de significados. É
considerado funcional quando usado como recurso para atender as necessidades humanas e
variam de acordo com cada contexto ou sociedades.
2
LEFEBVRE, Henri. La production de l`espace. Paris: Anthropos, 1986.
24
Haesbaert (2005, p. 6776) afirma que a territorialidade está “[...] intimamente ligada
ao modo como as pessoas utilizam a terra, como elas próprias se organizam no espaço e como
elas dão significado ao lugar” e elenca quatro objetivos principais da territorialização:
Abrigo físico, fonte de recursos materiais ou meio de produção;
Identificação ou simbolização de grupos através de referentes espaciais (a começar
pela própria fronteira).
Disciplinarização ou controle através do espaço (fortalecimento da idéia de
indivíduo através de espaços também individualizados);
Construção e controle de conexões e redes (fluxos, principalmente fluxos de
pessoas, mercadorias e informações). (HAESBAERT, 2005, p. 6778).
Pode-se destacar a premência da relação ser humano-espaço, na medida em que se
considera a territorialidade num determinado espaço, modificado pela ação do ser humano,
através do exercício de suas potencialidades, de seus desejos e necessidades, interagidos com
todos os aspectos inerentes a sua vida social.
Contudo, ao mesmo tempo em que ocorre uma desterritorialização, simultaneamente
se desenvolve uma nova reterritorialização, pois um indivíduo não pode viver sem pertencer a
um território. Nesse caminhar para um novo território, quase sempre existem referências
materiais ou imateriais de um novo lugar e sua decisão de morar passa, muitas vezes, pela
influência de redes sociais.
2.2 A fronteira e as possibilidades de migração
Sasaki e Assis (2000) argumentam que, com fundamento na perspectiva neoclássica, a
migrão internacional é impulsionada, principalmente pelas diferenças salariais entre países.
Assim, o foco do migrante está voltado para o mercado de trabalho e a sua permanência e
sucesso no país para onde migrou está diretamente relacionado com sua educação, experiência
de trabalho, donio da língua da sociedade hospedeira, tempo de permanência no destino e
outros elementos do capital humano. Sassen
3
(apud Sasaki; Assis, 2000) observa ainda que,
apesar dos fatores como a pobreza, desemprego e superpopulação possibilitarem as migrações
é importante identificar os processos que modificam essas condições.
A reorganização da economia mundial nas últimas décadas, bem como a participação
de investimentos estrangeiros em diversos pontos da superfície terrestre produziu variados
fluxos populacionais nessas direções. Dessa forma, com o capitalismo entrando na fase da
3
SASSEN, Saskia. (1988). The mobility of labor and capital: a study in international investment and labor flow,
New York, Cambridge University Pres.
25
internacionalização da produção criaram-se novas condições que facilitam a decisão de
migração como a necessidade de captação de mão-de-obra especializada, permuta de
tecnologias e informações e a expansão no fluxo de circulação de mercadorias e serviços
(SASAKI; ASSIS, 2000).
Na fronteira, esses elementos também aparecem, mas não são únicos. Junto a eles es
a própria condição do viver na fronteira e das oportunidades nela contidas. Nota-se, por
exemplo, pelo senso comum, que alguns moradores de Corumbá trabalham no comércio de
Puerto Quijarro, aparentemente favorecidos pela objetivação de clientela buscada pelos
emprerios bolivianos ou brasileiros. Da mesma forma, observa-se que os bolivianos
atravessam diariamente o limite internacional aproveitando das oportunidades de
oferecimento de seus produtos nas feiras-livres em Corumbá e Ladário.
O processo migratório, apesar de contraditório e complexo e das dificuldades que pode
causar nos países receptores, é também um fator de enriquecimento pelo fato de proporcionar
possibilidades de formação de uma pluralidade cultural. Essas contradições e a complexidade
do fenômeno é fruto da dualidade de significados. Primeiro, pela presença do migrante que
sugere a concorrência por empregos e, segundo pela possibilidade de contribuições ao país
para onde migram. É possível deduzir, a partir de Méndez (2008), que atualmente o processo
migratório tem como fator principal o mercado de trabalho, em decorrência da globalização e
da dificuldade de geração de empregos nos países de origem e a conseqüente desigualdade
social. Essencialmente é possível distinguir duas categorias de trabalhadores estrangeiros: o
trabalhador migrante e o trabalhador fronteiriço. Estas categorias distinguem-se, pela forma
como se relacionam no local. O primeiro deixa definitivamente o seu país e fixa residência no
local onde trabalha e o segundo exerce suas atividades num determinado local e retorna
periodicamente para o seu local de origem. Na cidade de Corumbá, no Brasil, esses dois tipos
estão presentes.
Considerando que esta análise se detém numa zona de fronteira, é importante
distinguir os conceitos e as formas de se ver a fronteira. A conceituação da palavra fronteira
merece uma atenção especial, já que é permeada de significados amplos e complexos, por
envolver questões multidisciplinares, tornando-se polissêmica nos tempos atuais. Para Cataia
(2007) existem, na literatura, duas formas principais de abordagem do tema. A primeira trata a
fronteira como o limite potico, que se refere à demarcação da linha divisória de cada país e
está diretamente relacionada com o poder instituído, para delimitar e preservar a soberania
nacional. A segunda se relaciona com a visão econômica, que aborda a idéia de fronteira sem
26
limites, decorrente da economia transnacionalizada, que opera fluxos financeiros para am
dos limites territoriais, intensificados com o processo de globalização.
Ambas as concepções analisam a fronteira a partir de uma visão da mesma enquanto
periférica, ou seja, vista a partir de um centro. Na primeira, a fronteira é vista como um lugar
distante, até onde vai o limite do que é nosso e onde começa o que é do outro; na segunda, a
fronteira é apenas um espaço apto ou não para atrair investimentos de capital.
Atualmente costuma-se estabelecer a diferença entre limite e fronteira. Para Machado
(1998, p. 42), “[...] enquanto a fronteira pode ser um fator de integração, na medida em que
for uma zona de interpenetração mútua e de constante manipulação de estruturas sociais,
poticas e culturais distintas [...]” (nesse contexto implica a existência do ser humano no
processo de interação); “[...] o limite é um fator de separação, pois separa unidades poticas
soberanas e permanece como um obstáculo fixo, não importando a presença de certos fatores
comuns, físico-geográficos ou culturais”.
Os olhares que se fazem para as fronteiras permitem vislumbrar uma multiplicidade
conceitual. Numa perspectiva dialética, Bezerra; Guimarães; Carvalho (2008) apontam que a
fronteira tanto é uma faixa de contato, como um limite de aproximação, pois ao mesmo tempo
em que representa uma área de separação, apresenta-se também como perspectiva de contato
entre povos.
Já do ponto de vista de quem olha, Nogueira (2007, p. 34) defende o olhar para a
fronteira enquanto centro, cujas referências é que devem nortear as decisões políticas e
administrativas e, principalmente, suscitar o questionamento de uma identidade fronteiriça,
que está interligada com as relações nela contidas, tanto em caráter nacional (interna) quanto
binacional (com outro país). O autor aponta que:
A fronteira pode se constituir num espaço de identidade territorial a partir de
basicamente duas formas: primeiro, quando o ‘ser da fronteira’ diz respeito a um
contraponto às regiões centrais, sendo essencialmente nacional. Aqui a fronteira é
um espaço de referência identitária exclusivamente nacional; e segundo, quando o
‘ser da fronteira’ diz respeito a uma interação de identidade binacional, em que os
dois lados se reconhecem como fronteiriços e com tal identidade e forma de
relacionamento frente aos respectivos estados nacionais. Ser da fronteira aqui
significa uma superão dos limites formais do Estado Nacional, sendo a sociedade
civil o principal agente da interação.
O pertencer a uma região de fronteira implica no reconhecimento das diferenças que
coexistem se complementando e se contrapondo e, ao mesmo tempo, praticando integrações e
desenvolvendo novas realidades sócio-culturais muito específicas. A vivência de atores com
origens e culturas distintas, são também reflexos da estrutura social e organização potica de
seus países (NOGUEIRA, 2007).
27
Numa visão contemporânea de fronteira, Castrogiovanni e Gastal (2004, pp. 1-4) a
definem como um “espaço de trocas e hibridismos culturais” que deve ser vista não como dois
espaços distintos, mas como um “terceiro espaço”, onde a diversidade dá lugar a um
enriquecimento cultural, social e econômico para a região. Perceber a fronteira como um elo
de integração não pressupõe a inexistência de conflitos, tampouco a uniformização de
culturas, mas reconhecer nessas diferenças as possibilidades de trocas e crescimento faz da
fronteira um lugar especial. Esses autores apontam que o Brasil ocupa o terceiro lugar no
mundo em extensão de suas fronteiras, sendo assim, as possibilidades da presença do
migrante em terras brasileiras são também da mesma grandeza. Quando as pessoas cruzam
essas linhas divisórias interagindo de ambos os “lados”, sendo esse movimento contínuo e
intenso, passa-se a ter um lugar comum, de interesses e desejos compartilhados. O migrante
que fixa sua residência em outras terras, o faz impulsionado pela esperança de que nesse novo
lugar encontrará a possibilidade de realização de seus sonhos e aspirações.
Nota-se, nessa fronteira, que existe um intenso contato entre os fronteiriços, seja pela
conveniência comercial ou pelas trocas no sentido lato da palavra. Logo, a proximidade dos
bolivianos residentes em Corumbá dos compatriotas na Bovia (cerca de 5 km para alguns)
pode acenar positivamente para sua permanência e valorização emocional do local de
moradia. Esse sentimento de “pertencer” a um determinado lugar é um processo gradativo e
perpassa primeiramente pela premência de se conhecer o lugar e de se acostumar a esse novo
contexto, para então promover sua socialização com o ambiente e reconhecer as
possibilidades que o novo possui de corresponder as suas expectativas.
O conceito de lugar, sob a ótica da geografia humanística, se traduz convenientemente
pelas palavras de Martins (2005, p.113) quando afirma que “[...] o lugar, por sua essência
humana, é o espaço vivido, no qual as pessoas constroem suas vidas e com o qual elas se
identificam e ao qual associam a sua história”. Acrescenta ainda que o conceito de lugar deva
ser percebido como uma composição socioespacial, pois só se reconhece através da
materialização de elementos inerentes ao cotidiano das pessoas. A inter-relação e coexistência
nos espaços habitados – casas, ruas, a vizinhança de uma forma geral, pessoas, empresas,
lugares, etc. – desses elementos estão intimamente ligados a vida em todos os sentidos.
Talvez a concentração em alguns bairros, o adensamento em algumas porções
específicas no território corumbaense justifique uma aproximação a fim de se produzir a
lugarização dos bolivianos. Entretanto, a dispersão pelos bairros pode também sugerir que a
proximidade territorial estimula a pertença no novo território e que os “guetos” formados
teriam outro sentido, provavelmente relacionado com as reminiscências do grupo.
28
Compartilhando do pensamento de Bassegio (2004) sobre a necessidade de um mundo
sustentável e da cidadania universal, o lugar do migrante na cidade deve estar respaldado no
direito ao exercício de sua cidadania e de uma vida digna postuladas pelas poticas sociais e
pelo próprio empenho pessoal. Sob esse olhar, o migrante passa a ser caracterizado como um
elemento de desenvolvimento, pois suas experiências culturais e profissionais entrelaçadas
com a cultura local podem trazer um inegável enriquecimento mútuo.
Por outro lado, Golgher (2004) observa que “[...] a troca de local de domicílio pode ter
profundos impactos sobre a vida de uma pessoa”. O migrante se mobiliza em busca de novas
oportunidades e isso acarreta a conseqüente alteração do seu modo de viver pela mudança do
seu ambiente nas características sociais, ecomicas, poticas e físicas. Esse ambiente é, na
maioria das vezes, muito diferente e apesar disso pode ser melhor do que o seu local de
origem. Novas experiências lhe são apresentadas e novas relações sociais são materializadas.
Assim, é importante conhecer a história e trajetória desse migrante, seu
relacionamento com a sociedade atual e o que esse novo lugar trouxe de novos significados
para sua vida. Peres; Baeninger; Souchaud (2008) conferem à intensa recomposição dos
territórios e costumes” a história das migrações da América Latina, considerando os fluxos de
mobilidade humana Bolívia–Argentina e também Bolívia–Brasil, identificados pelas
transformações em diferentes dimensões – sociais, demográficas, econômicas, produzidas por
esses migrantes, sendo essa movimentação percebida em lugares específicos de origem e
destino. No caso da migração Bolívia–Brasil em Corumbá, algumas características são
peculiares. Oliveira (1998) utilizando uma pesquisa comparativa entre cidades de Mato
Grosso do Sul já demonstrara que Corumbá era diferente das demais fronteiras pela sua
história, pela sua geografia e pela sua economia, e que seria a principal receptora de diferentes
fluxos de migrantes ao longo dos anos.
Peres; Baeninger; Souchaud (2008) salientam que, um dos fatores que propiciam essa
movimentação de migrantes nessa fronteira, refere-se a sua localização, estando a cerca de
400 km de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, e a apenas 5 km de Puerto
Quijarro – cidade fronteiriça boliviana, a cidade Corumbá mantém relões econômicas muito
mais estreitas com a Bovia do que com o Brasil. Nessas condições, observa-se a ocorrência
de uma migração internacional, fundada numa migração de vizinhança, sendo um “fenômeno
essencialmente local, onde a fronteira e seus moradores são considerados isolados das
dinâmicas continentais”. Além dessa estreita relação econômica e de seu relevante papel na
dinâmica das migrações bolivianas, Corumbá, é um “[...] lugar estratégico de articulação dos
29
fluxos de bens, pessoas e informações, configurando o denominado corredor bi-oceânico”
(BAENINGER; SOUCHAUD, 2008, p. 5).
Não foram encontrados outros registros que relatem a história da migração boliviana
para a cidade de Corumbá e, de acordo com Baeninger e Souchaud (2008) não existem
conexões entre as migrações de bolivianos que indicasse esta cidade como um ponto de
passagem para outros centros do Brasil. Estes autores acreditam que tal fato deve-se a
inexistência de vínculos ecomicos da cidade com os demais centros econômicos brasileiros,
nesse caso não se confirmando a hipótese que esses migrantes se utilizavam da cidade de
Corumbá como uma etapa prévia para a migração para outros centros, como São Paulo. Logo,
os bolivianos vindos para a cidade de Corumbá a tinham como seu alvo de chegada e onde
estabeleceram suas moradias.
2.3 Migração, redes sociais e a produção de moradias
Outra categoria analítica importante no trato das migrações é a rede. Vale destacar que
com a intensificação do processo de globalização, a palavra rede foi se tornando cada vez
mais polissêmica. As redes é tanto um recorte privilegiado de estudo, como também meio de
contato e interação de povos, desenvolvimento de tecnologias e comunicação etc. Se fala em
redes pela atuação de quatro grandes fluxos que são os movimentos de pessoas ou fluxos
migratórios; os movimentos comerciais ou fluxos de mercadorias; os movimentos de
informações ou fluxos informacionais e os movimentos de capitais ou fluxos monerios e
financeiros, evidenciando questões de ordem social, cultural, econômica e política. A
sustentabilidade das redes provém da identificação e afinidade entre seus membros, o que
pressupõe uma relação de cooperação mútua, permitindo o entrelaçamento de iias e ações
dinâmicas e integradas de forma reticular.
Conforme Dias (2007), redes são estruturas de organização onde seus integrantes se
unem de forma direta e igualitária, para a obtenção de objetivos em comum e surgiu como
uma alternativa à estrutura em pirâmide, onde a organização é hierarquizada e seus membros
se comunicam verticalmente e em diferentes níveis.
Para se deslocar de seu país de origem até a chegada ao país receptor o migrante se
utiliza de estratégias variadas que o auxiliam nessa expedição que podem ser consideradas
como territorialidades. No caso do migrante que possui os requisitos de migração necessários,
concernente à documentação exigida, ele se utilizará de suas próprias habilidades para entrada
30
e estabelecimento no país escolhido. O migrante que não preenche esses requisitos e efetiva
sua entrada no país de forma não legalizada, utiliza frequentemente sua conexão pessoal para
tentar garantir sua permanência. Em ambos os casos, as redes sociais são facilitadoras desse
processo, quer sejam através de amigos e familiares ou outros atores que participem do
movimento de saída e chegada, local de hospedagem e, posteriormente, na obtenção de
trabalho para sua manutenção no local.
Para Portes
4
apud Maia (2002, p. 59) “A migração é definida como um processo
criador de redes na medida em que desenvolve uma teia cada vez mais densa de contactos
entre os locais de origem e de destino”. As redes sociais desempenham um papel fundamental
no processo migratório, uma vez que estabelecem conexões com os migrantes e suas
respectivas estruturas sociais, na medida em que cada um vai se utilizando desses
relacionamentos de acordo com o contexto em que está inserido. Maia (2002) destaca a
importância da participação dos diversos atores no processo de movimento migratório e das
redes sociais envolvidas, uma vez que permitem o acompanhamento no tempo e no espaço
dos atores mesmos, possibilitando a análise não apenas pelo fator espacial da diferenciação de
sociedades.
Golgher (2004), também indica como fator relevante no processo migratório a
existência de uma rede social no local de origem e destino do migrante em potencial.
Exemplifica o caso de amigos e parentes que contribuem no pagamento das despesas com a
mudança e no acolhimento do recém-migrado. Nesse sentido de acolhimento o fazem de
diferentes maneiras: disponibilizando-lhe moradia e alimento, bem como a solidariedade
afetiva e apoio na obtenção de trabalho e informações necessárias a sua subsistência no novo
local e facilitando a troca de seu local de domicílio.
Soares; Rodrigues (2005, p. 66) definem a rede social como um conjunto de atores ou
nós (pessoas, objetos ou eventos) que se unem por uma determinada forma de relação. Para
eles os diferentes tipos de relações determinam diferentes redes de relacionamento.
Apresentam três diferenciações para o conceito de redes: a) "rede social" – como sendo um
conjunto de pessoas, organizações ou instituições sociais que se integram algum tipo de
relação, considerando o objetivo pelo qual se organizam (uma rede social pode abrigar várias
redes sociais); b) "rede pessoal" – representada por um tipo de rede social que se estabelece
4
PORTES, Alejandro. (1999). Migrações internacionais: origens, tipos e modos de incorporação. Oeiras: Celta
Editora.
31
através das relações sociais de amizade, parentesco etc.; c) "rede migratória" - precedem a
migração e são adaptadas a um fim específico: a ação de migrar. Os autores acrescentam que
nesse tipo de rede, “quando suas singularidades dependem da natureza dos contextos sociais
que ela articula, uma rede migratória é, também, um tipo específico de rede social que agrega
redes sociais existentes e enseja a criação de outras”. Nesse sentido a rede migratória é "uma
rede de redes sociais" e configura-se na origem e destino - isto é: recortes territoriais, países,
estados, microrreges, municípios, cidades, etc. que se articulam por intermédio de fluxos
migratórios.
Também é importante observar que a rede social, em casos específicos, pode ser
transfronteiriça sendo ocasionada pela realização de atividades impulsionadas por fatores
econômicos, representados pela prática de comércio e atividades profissionais exercidas por
pessoas que vivem de um lado da linha de fronteira e trabalha no outro; pelo fator social,
como por exemplo, crianças que residem num país e estudam no país vizinho, a utilização de
serviços médicos, visitas a familiares que vivem em ambos os lados da fronteira. Essas
situações são todas vislumbradas no dia a dia da cidade de Corumbá. Todos os dias várias
crianças bolivianas atravessam o limite internacional para estudar no Brasil. Da mesma forma
acontece com as buscas por atendimento médico, com os feirantes, trabalhadores. São fluxos
inerentes a esse ambiente fronteiriço. O transito entre os países (Brasil-Bolívia) é livre e da
mesma forma, brasileiros (empresários, trabalhadores, turistas) se deslocam para aquele país
onde mantêm atividades comerciais.
Desta forma, o relacionamento entre esses povos é bastante estreito e, por isso mesmo,
com maior facilidade de que ambos assimilem hábitos e costumes, possivelmente
promovendo uma modificação da identidade local, que naturalmente não ocorre de um dia
para o outro, mas gradativamente, dependendo do nível de integração. Considerando que a
identidade do local perpassa por diversos fatores, como composição da sociedade, contexto
político e outros essa identidade vai ser moldada, também, por componentes sociais, políticos,
econômicos e sociais. Sobre a constituição de uma identidade de um grupo, Haesbaert e
Bárbara (2001, p. 3) expressam que ela é sempre de caráter relacional, ocorrendo [...] por
isso mesmo, a partir da relação entre os que de algum modo são classificados e re-conhecidos
como semelhantes (mas não idênticos) e os ‘outros’”.
Em se tratando de migrão, culturas distintas se complementam e influenciam
significativamente o modo de viver de toda uma sociedade. Especificamente nesta análise,
cabe perceber quais fatores significantes estão envolvidos no processo de transformação de
um espaço, já que a chegada de migrantes, imperiosamente ocasiona a convivência com
32
diferenças, que acabam se mesclando pela vivência do cotidiano. A construção de moradia é
uma das questões mais importantes na vida do migrante e também dos locais, pois será o lugar
onde poderá buscar o seu descanso diário, alimentação, relação com seus familiares e com as
pessoas que estão mais próximas, compartilhando da mesma experiência: o viver, talvez,
muito distinto de como vivia anteriormente. Este foi o ponto fundamental que esta pesquisa
pretendeu destacar: os migrantes bolivianos materializaram suas reminiscências, sua cultura
na arquitetura de suas moradias ou se as mesmas foram moldadas de acordo com as estruturas
locais.
Entendendo a moradia como um local de abrigo, onde o ser humano busca o seu
acolhimento, a sua proteção, ela é ao mesmo tempo, carregada de significados, porque
representa o ser individual, as suas características pessoais, seu poder aquisitivo, seus
sentimentos. Ao mesmo tempo, que representa uma coletividade, posto que o ser humano
como indivíduo social interage com o ambiente, transformando suas estruturações
econômicas, sociais, cultural, potica, panorâmica, enfim sua totalidade. A aspiração por uma
habitação é inerente ao ser humano e está atrelada a outras necessidades de atendimento de
questões básicas (saneamento básico, iluminação, educação, saúde, lazer etc.). Por se tratar
também de uma questão econômica, a construção de moradias movimenta diversos setores da
economia, como a construção civil, os setores imobiliários, a geração de empregos que
impulsionam a realização dessa atividade.
Carlos (2003, p. 17) aponta que o lugar de habitação não pode ser reconhecido
restritamente sob o conceito de casa, mas sob um olhar mais amplo, porque envolve “vários
níveis e planos espaciais de apropriação”, coexistindo uma relação espaço-tempo. Nesse
sentido, a autora aborda o conceito de “apropriação do espaço para a vida”, sendo a habitão
reconhecida como o primeiro espaço de percepção para o mundo. A casa, então, envolve
outras dimensões espaciais como a rua, depois o bairro; estes criam o primeiro quadro de
articulação espacial no qual se apóia a vida cotidiana”. É nesse movimento que os indivíduos
se identificam com os lugares, construindo a produção de uma identidade fixada na memória e
que lhes outorga a possibilidade de trocas e vivências num novo contexto.
É comum imaginar que o imigrante que sai de suas terras para viver em outra,
simplesmente abdica de suas raízes e abandona seus hábitos e costumes. Pode-se mesmo
afirmar que em função da necessidade de ser aceito e reconhecido em um novo lugar ele
busca as condições necessárias para a sua adaptação a uma nova realidade, pois necessita se
sentir seguro, como é natural em qualquer ser humano. Para que isso ocorra, uma das
primeiras alternativas é procurar uma fonte econômica que lhe ofereça as possibilidades de
33
manter a si e a sua família satisfazendo prioritariamente as questões de moradia e
alimentação. Aliado a isso e, até mesmo, para facilitar a realização desses objetivos iniciais,
buscará interagir e absorver hábitos e costumes da região local. Mudanças intensas poderão
ocorrer, entre elas, o aprendizado de um novo idioma, que facilita a interação com as pessoas
e novo ambiente. Na observação cotidiana, podemos perceber que os residentes bolivianos se
empenham em dialogar com a comunidade local no idioma português. O mesmo acontecendo
na cidade de Puerto Quijarro, quando se comunicam com brasileiros que lá se encontram, o
que demonstra a necessidade de se relacionar de forma amistosa.
Embora as mudanças sejam inevitáveis e até mesmo imperativas, elas nunca serão
totais e, é isso que contribui para a mudança de uma identidade local. O estrangeiro mesmo
que totalmente adaptado ele terá permanecido com a essência de suas experiências vividas,
que não se perde nesse processo de mudança, porque está impregnado em seu modo ser. São
as suas experiências, seus hábitos, seus costumes que o fazem construir uma forma de ver o
mundo e o lugar onde vive. Da mesma forma, ainda que possa ser com menor intensidade, as
pessoas nativas estarão interagindo com o novo elemento e possivelmente absorvendo seus
hábitos e costumes, como por exemplo, a gastronomia.
De acordo com Carlos (2005, p.73), “[...] as relações com o lugar são determinadas no
cotidiano, para além do convencional. O espaço é o lugar do encontro e o produto do próprio
encontro; a cidade ganha teatralidade e não existe dissociada da gente que lhe dá conteúdo e
determina sua natureza”. São as pessoas que dão movimento e significados ao local, ao
espaço onde convivem, de acordo com suas singularidades, ocasionando mudanças constantes
e simultâneas a um determinado território. Neste encontro de migrantes bolivianos com os
brasileiros, especificamente com os corumbaenses, algo deve ter se transformado, na
composição de hábitos e costumes de cada um desses povos.
Para Baeninger; Souchaud (2007) uma das características da migração boliviana é a
sua concentração em poucos lugares, a exemplo do que ocorre com aqueles que se fixaram em
Guaja-Mirim e Porto Velho, no Estado de Rondônia e Corumbá, no Mato Grosso do Sul. A
forte polarização nessa zona de fronteira faz com que a presença desses seja muito mais
marcante do que a de outros migrantes. A migração boliviana é caracterizada por duas
modalidades: a migração de fronteira, denominada “migração de imediações” e a migração
metropolitana ou “migrão metropolitana exclusiva”. Com relação à imigrão boliviana em
Corumbá, esses autores ressaltam que no Censo Demográfico de 2000, do IBGE, foram
registrados 789 domicílios com presença boliviana (mesmo que os filhos ou cônjuges sejam
brasileiros), representando 3,4% do total dos domicílios e totalizando uma população de 3.240
34
pessoas. Foi identificado pela pesquisa que as residências desses migrantes estão concentradas
em determinados pontos da cidade, especificamente no Centro e nos bairros Cristo Redentor,
Dom Bosco, Maria Leite e Jardim dos Estados (Figura 1).
Figura 1. Localização das entrevistas realizadas em Corumbá, em outubro de 2006, por
Baeninger; Souchaud (2007).
Fonte: Baeninger; Souchaud (2007, p. 21).
Portanto, são cerca de 800 moradias que estão com os migrantes do país vizinho.
Evidentemente é um número considerável e que, de certa forma, pressiona o mercado
imobiliário a oferecer mais opções. Observa-se que os bolivianos não aparecem nas
extremidades, na área de expansão urbana. Logo, pressupõe que possuem alguma condição
financeira para investimento inicial em moradia, pois se localizam em localidades já
tradicionalmente ocupadas.
35
36
3 TERRITORIALIDADES E MORADIA DOS BOLIVIANOS EM CORUMBÁ-MS
3.1 Os migrantes bolivianos em Corumbá-MS, no Brasil
Nos trabalhos de campo foram entrevistados imigrantes oriundos de diversas
localidades da Bovia: Concepción, Cochabamba, São Miguel, El Salado, Trinidad, La Paz,
Estação Motacucito, São Rafael de Velasco, Concepción, Roboré, Puerto Suarez, São Rafael
de Velasco, São José de Chiquitos, La Paz, Potossi, entre outras localidades.
Embora as amostras tenham sido estabelecidas aleatoriamente, registrou-se,
majoritariamente, entrevistas com pessoas que residem muito tempo no município de
Corumbá, variando entre 18 e 50 anos. Notou-se que a maioria não fixou residência em Puerto
Quijarro, vizinha à linha divisória internacional. Aquele local foi utilizado apenas como um
ponto de passagem e, também, como um elo com o país de origem, uma vez que raramente
voltaram para o local de saída. Contudo, os entrevistados declararam que realizam visitas
periódicas a parentes e conhecidos nas cidades de Puerto Quijarro e Puerto Suarez, aonde vão
também para participar dos pleitos eleitorais, para aquisições de mercadorias e outras
atividades – denunciando uma possível dupla cidadania.
Sobre a decisão em mudar de país foi apontado, principalmente, a possibilidade de
exercer um trabalho com melhor remuneração para, com isso, produzirem uma melhoria da
qualidade de vida de si próprio e de suas famílias. Outro fator, mas de incidência posterior foi
apontado como a educação para os filhos nascidos no Brasil, sendo também relevante, haja
vista a diferença de qualidade do ensino mencionada por eles. Vale ressaltar que essa questão
foi a segunda mais indicada como uma necessidade em seu país (Bovia).
Conforme os depoimentos obtidos, foi possível perceber que a maioria cursou apenas
o ensino fundamental em suas séries iniciais. Em raríssimas situações foi citada a concluo
do ensino médio e, mesmo do ensino fundamental. Dentre os entrevistados, apenas um
informou ter migrado para Corumbá após a conclusão do ensino superior, porém seu objetivo
não se diferenciou dos demais – via na cidade a realização de suas atividades profissionais e o
sonho de uma vida melhor. Entretanto, pode ser observado que os filhos desses migrantes
puderam desfrutar de melhores condições para a sua formação educacional com grau de
escolaridade superior à dos pais, na maioria das vezes, contemplando o ensino médio e
mesmo o ensino superior, em menor escala. Nos casos em que encontramos filhos ainda
crianças, todas estavam matriculadas na rede de ensino municipal. Assim, é inquestionável
37
que esses migrantes obtiveram êxito, ao menos parcial, em seus anseios, já que de acordo com
as suas falas, a educação escolar é uma ferramenta que os coloca em melhores condições de
conhecimento para desenvolverem atividades profissionais.
Vale destacar que na fala de quase todos os entrevistados se pode perceber que a
pouca qualidade de vida em seus locais de origem foi uma das principais motivações
migratórias. Descreveram ambientes de muita pobreza e dificuldades, inclusive na
alimentação que se baseava principalmente nos alimentos oriundos da lavoura e da criação de
pequenos animais. Reportamos uma narrativa peculiar de um dos entrevistados, que oferece
uma idéia sobre essa condição: “Comemos até bicho... bicho... sabe como é esse bicho? Meu
pai cortava o palmito e fazia um buraco, depois de uns quinze dias aparecia esse bicho, tipo
coró... branco, gordo, gostoso... meu pai ia com minha mãe, pegava no latão e tostava
aquilo.... Noutro ponto de sua fala, esse mesmo senhor faz referência ao consumo de
formigas também tostadas, da mesma forma que o outro inseto que comiam com
mandioca.
A implementação da estrada de ferro ligando Corumbá a Santa Cruz de La Sierra,
cujos trabalhos foram conduzidos por grupo denominado de Comissão Mista, foi,
provavelmente, um facilitador de acesso desses migrantes a esta cidade. Muitos vieram para o
trabalho nessa ferrovia, assim como a utilizaram como a principal via de transporte para
viagens de comércio atividade profissional preponderante, conforme suas narrativas.
Referiam-se ao exercício da pilotagem
5
”, já que na verdade serviam de transportadores de
mercadorias para proprietários de comércio. Esse fato, aliado ao costume de realizarem
passeios na cidade de Corumbá foram os principais fatores que permitiram o conhecimento
deste local, despertando o sonho de transformarem suas vidas para melhor. Posteriormente, os
demais familiares passaram a vir sob a influência e cooperação daqueles que primeiramente
aportaram e aqui se estabeleceram – denunciando a existência de redes de solidariedade.
A maioria veio para o Brasil ainda muito jovem, sem ter realizado uma atividade
profissional, que mantivesse a sua subsistência na localidade. O impulso de uma nova vida
originou-se das dificuldades familiares vividas, conforme apontado anteriormente. Entre os
que afirmaram já terem trabalhado antes, se observou que sua experiência não foi valiosa para
o novo local de estabelecimento. Nos seus locais de origem, trabalhavam principalmente na
agricultura e em Corumbá passaram a se dedicar a outras atividades, como trabalho em
fábrica, hotéis, residências. Essas características dos migrantes bolivianos vêm sendo
5
Alguns denominaram as pessoas que desenvolviam essa atividade como “mulas”.
38
alteradas. Nas conversas com os coordenadores da Pastoral do Imigrante e com o do Centro
Boliviano-Brasileiro ficaram evidentes que os novos grupos bolivianos que tem chegado a
Corumbá, especialmente a partir dos anos 1990, são diferenciados do ponto de vista da
qualificação. Muitos já estão chegando com mais habilidades e capacidades competitivas para
o mercado de trabalho.
Em relão à existência de uma rede estruturada ou formal que efetivamente estivesse
envolvida no processo migratório para o Brasil, os entrevistados verbalizaram que o interesse
pela mudança para esta cidade ocorreu de forma espontânea e individual e o processo
migratório se deu de forma muito particular, sem a interferência e colaboração de outras
pessoas ou instituições. Contudo, como se pode perceber, existiam, sim, as redes, pom com
poucos elos.
O indivíduo é eminentemente um ser social, integrado, consciente ou
inconscientemente nas articulações e atividades da sociedade. Partindo do pressuposto que
redes sociais são a interligação do indivíduo ou organizações, com as relações de trabalho,
amizades, informações e conhecimento que envolve o cotidiano das pessoas, essa rede pode,
muitas vezes, não estar perceptível ao indivíduo, mas é inegável a sua influência no mundo
corporativo. No caso aqui analisado, embora não reconhecida formalmente, pode-se perceber
que as redes sociais estiveram sempre presentes. Os bolivianos quando vieram fixar residência
em Corumbá, já haviam estado nessa cidade por algum motivo. Alguns o faziam para visitar
familiares que já estavam ali residindo. Outros tinham vindo a passeio, que se configurava
numa alternativa de lazer, favorecida pela linha ferroviária que operava entre esses países
desde a década de 1950. Outra condição levantada foi o interesse comercial, na medida em
que vinham para a compra de mercadorias nessa cidade ou ainda, como passagem para a
realização dessa atividade em outros centros. Dessa forma é que tomaram conhecimento deste
lugar e o elegeram como um lugar ideal para uma mudança, não só de residência, mas da
melhoria de suas vidas e de seus familiares. Este desejo foi percebido em todas as entrevistas,
quando indagados sobre as dificuldades que tinham no lugar de origem e suas expectativas
com o novo lugar.
Logo, a existência das redes sociais não apareceu explicitamente, mas implicitamente
ficou evidenciada. Nessa ótica estão as relações interpessoais de um determinado grupo e que
cada pessoa envolvida, independente de uma estrutura hierárquica, representa um elo nesse
relacionamento. É tão natural que muitas vezes não é percebido pelos atores e agentes sociais
envolvidos. O processo migratório dos bolivianos para Corumbá, no Brasil, está diretamente
vinculado ao contexto dessa fronteira que permitiu fluxos na direção de momentos de lazer ou
39
para suas transações comerciais de seus negócios ou do consumo pessoal. Através dessa
relação com o lugar e da existência de conterrâneos que já residiam, puderam perceber
possibilidades que esse lugar oferecia para uma transformação em suas vidas.
Foi possível observar então, dois principais vetores de acesso desses migrantes à
cidade de Corumbá: a) a vontade própria, estimulada pelo interesse de melhoria das condições
de vida, motivo este intensamente ilustrado nas falas dos entrevistados; b) a influência de
outros migrantes (conhecidos ou familiares) que já haviam se estabelecido nesta cidade e, que
por sua vez, auxiliaram no sentido de apoiar os novos migrantes. Em ambas as situações se
observou o desejo latente e uma esperança em modificar sua condição de vida,
frequentemente relatados como muito sofrida e de muitas dificuldades. Assim, aqueles que
foram os pioneiros na vinda para essa cidade, após satisfazer minimamente seus anseios,
tinham como passo seguinte a busca de seus familiares na terra natal.
Por outro lado, também foram relatados, especialmente pelas mulheres, a cooperação
de brasileiros com relação à condição de empregá-los e orientá-los em suas atividades.
Contudo, a facilidade de encontrar uma ocupação foi observada de forma geral,
provavelmente pelo fato de que indistintamente aceitavam qualquer tipo de ofício mesmo
que inicialmente não dominassem as tarefas, se empenhavam em aprendê-las.
Sobre essa “facilidade” e “orientação” em relação ao trabalho e seu real significado
vale a pena alguns questionamentos: o fato desses migrantes se ocuparem de serviços gerais
como, camareiras, pedreiros, domésticas, não estaria mais vinculada à disponibilidade de
mão-de-obra barata que eles representavam? Seria uma condição de aceitabilidade na
sociedade local ou apenas a exploração de seu trabalho como uma mão de obra barata? Essa
questão ganha força considerando que a maioria não desenvolveu essas funções de acordo
com as normas trabalhistas, mas de maneira informal, geralmente condicionada pela
dificuldade de documentação. Vale destacar que a menor remuneração relativa desse migrante
não se constituía, imediatamente, num empecilho para o trabalho, já que comparativamente a
moeda brasileira, sendo mais valorizada que a boliviana, oferecia um poder aquisitivo maior.
De toda maneira, voluntária ou involuntariamente, as redes sociais se fizeram
percebidas ao longo de todo o processo migratório: seja nas relações de trabalho relatadas
como ponto principal que o mantiveram nesta cidade, seja nas relações pessoais que
contribuíram para que esses migrantes fossem motivados a vir e a ficar.
40
3.2 As moradias dos bolivianos na cidade de Corumbá, no Brasil
A moradia, muito além do que ser destinada como teto, abrigo, está revestida de
muitos significados. Na sua construção estão imbricados aspectos culturais, sociais,
econômicos e físicos, cujas diferenças podem ser percebidas nas formas e estruturas nos mais
diversos lugares.
Rapoport (1972, p.65 ) observa que:
La casa no es tan solo una estructura, sino una institución creada para un
complexo grupo de fines. Porque la construcción de una casa es un
fenómeno cultural, su forma e su organización están muy influidas por el
“milieu” cultural al que pertenece. Desde hace mucho tiempo, la casa es,
para el hombre primitivo, algo más que un techi y, case desde el principio, la
“función” era mucho más que un concepto físico o utilitario.
A moradia deve ser entendida como um complexo estrutural, funcional e afetivo que
são componentes indispensáveis ao ser humano. Nas questões estruturais são pertinentes
fatores internos e externos à resincia: internamente, a forma como são organizados as peças
que constituem a casa, a disposição de seus móveis que são colocados de acordo com as
experiências e crenças de cada povo; externamente, o desenho, a paisagem e a moradia como
um espaço de relacionamentos e da manifestação da cultura.
A caracterização das moradias será sempre reflexo do material e imaterial, do poder
econômico, estrutural e simbólico, resultados da ação do ser humano sobre a natureza e o
espaço. Santos (1997) explica que o cotidiano e suas transformações obedecem três ordens: da
técnica, da forma jurídica e do simbólico. Para este autor, a ordem técnica e a ordem da norma
são tratadas como dados. Sendo assim, se pode deduzir que para a estruturação das moradias a
ordem técnica seria a concepção arquitetônica norteadora dessa construção, ou seja, suas
formas físicas e os materiais disponíveis utilizados para esse fim; a ordem jurídica seria as
políticas habitacionais e as questões legais para edificação. Santos (1997, p. 67) aponta que
embora esses fatores sejam relevantes, [...] a força da transformão e mudança, a surpresa e
a recusa ao passado provem do agir simbólico, onde o que é força está na afetividade, nos
modelos de significação e representação [...]”. Para ele a importância do lugar na formação da
consciência vem do fato de que essas formas do agir são inseparáveis, ainda que, em cada
circunstância, sua importância relativa não seja a mesma. Sob este prima, buscou-se analisar
as características singulares das resincias, objeto desta pesquisa.
Nas observações da paisagem representada pelas moradias de Corumbá (Brasil) e
Puerto Quijarro (Bolívia) se percebeu a existência de muitas semelhanças. Embora tenha sido
41
freqüente a afirmação de que as casas em Puerto Quijarro fossem construídas de forma
diferente, com os cômodos no sentido do cumprimento, em Corumbá essa característica
também apareceu em algumas construções. A forma de organizar os modos “em
departamentos”, conforme sugeriu um dos entrevistados, em alusão às casas de Corumbá,
também foi observado no lado boliviano e mencionado por migrante que possui residência em
ambas as cidades. Apesar da diferença de acabamento (qualidade e investimento), se observa
essa aproximação da paisagem residencial, com destaque para o quintal e varanda, bastante
comuns nessas cidades (Figura 2).
Figura 2. Varanda e quintal: singularidades residenciais de Corumbá, Brasil e Puerto
Quijarro, Bolívia.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010
A moradia funciona também como um espaço de relacionamento, no qual as pessoas
se reúnem, tanto com a família, dividindo as experimentações cotidianas; mas também com as
visitas com as quais convivem socialmente. Nota-se, com freqüência, edificações construídas
de forma a destinar uma área especifica para essa finalidade, ilustradas pelas casas com
varandas e/ou quintais, onde diariamente desfrutam da companhia uns dos outros, da mesma
forma como a sala de estar que também possui essa função. Neste sentido, a parte frontal das
residências também desempenha esse papel, como foi observado, tanto em residências
corumbaenses como nas de Puerto Quijarrro, quando se observa a reunião de pessoas em
frente das casas, quer seja em espaços próprios ou nas calçadas (Figura 3).
A maioria dos bolivianos entrevistados afirmou serem proprietários de suas moradias e
que houve determinação, empenho pessoal e familiar muito grande para a obtenção das
mesmas. Não se verificou nenhum benefício institucional que os auxiliasse para o
estabelecimento e construção de suas casas nesta cidade. Indagados sobre essa possibilidade,
42
as respostas foram sempre similares: tudo foi construído devagar, com muito esforço...
minha mulher carregava carrinho com material para o terreno”; “a ajuda que tive foi que pude
comprar o material em prestações”; “comprei a casa em parcelas, a pessoa que me vendeu foi
boa, dividiu para mim em três vezes”; “consegui construir com meu trabalho”.
Figura 3. Reuniões em frente às residências: hábitos comuns dos fronteiriços.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010
Pelas declarações se percebe que os migrantes estavam integrados na sociedade local
pelo trabalho. O fato de poder comprar de forma parcelada demonstra a existência de
comprovação de rendimento e residência, dois fatores fundamentais para comprovar a
formalidade de seu estabelecimento no Brasil. O salário e sua comprovação não só garante a
possibilidade de comprar a prazo, mas também transforma o boliviano num cidadão
corumbaense e, portanto, brasileiro. A dupla nacionalidade dos bolivianos é uma das marcas
dessa fronteira, cujas estratégias ainda carecem de mais investigações.
Essas declarações foram possíveis de serem comprovadas, através de diálogo com o
representante local do setor habitacional, que afirmou não ter conhecimento de nenhuma
potica habitacional para imigrantes e que a aquisição de suas moradias ocorre de forma
individual. Dessa maneira, não foram identificadas existência de redes em nível político ou
institucional que estivessem diretamente voltadas para um acolhimento especial aos migrantes
que vislumbram aqui a possibilidade de uma condição melhor para suas vidas. Vale dizer que
não se pretende, com isso, defender a implementação de políticas específicas para habitação
do imigrante. Trata-se, tão somente, de uma constatação a partir da discussão de necessidades
inerentes ao ser humano, independente de nacionalidades. Acredita-se que uma potica
43
habitacional deve garantir direitos iguais a todos os cidadãos que participam das atividades da
sociedade local.
Em alusão ao tipo de moradia ideal e sobre a forma como estão organizadas suas
resincias atuais, se percebeu um sentimento de satisfação e orgulho pela concretização de
um desejo e da necessidade de um espaço “seu”, conseguido pelo esforço do trabalho e
empenho familiar. O significado da vitória está claramente manifestado nas declarações e nas
comparações com as moradias anteriores e nas moradias onde inicialmente habitavam, antes
da construção de suas casas. Exemplificando, nomeamos algumas características citadas:
aqui no terreno tinha duas peças que eu cobria com latas de óleo, aquelas redondas, que eu
abria e usava para proteger a casa”; “a primeira casa era de tábua... construí depois com o
dinheiro da indenização que recebi da firma”. Mesmo os imigrantes que desfrutavam de uma
condição econômica mais favorável, cujas casas demonstraram melhores atributos,
manifestaram verbalmente o seu contentamento por terem “um abrigo” e tudo o que precisam
de uma casa, afirmando conforto e segurança para viver.
Incentivados a falar em termos comparativos sobre o lugar onde viviam e onde vivem
atualmente, foram mencionados as questões referentes a infra-estrutura do lugar, como, por
exemplo, pode ser observada nas seguintes declarações: “as casas são iguais, aqui tudo é
melhor, é limpo, a prefeitura exige que os terrenos sejam limpos, aqui tem mais higiene”; “lá
as casas do centro são diferentes, no centro tem asfalto, agora que estão construindo casas
mais ajeitadinhas... lá os cômodos passam de porta em porta, não é igual daqui, são
separados”; “aqui o ambiente é melhor, tem mais limpeza”.
A maioria não identificou diferenças na forma de organização das casas, mas foram
citadas como diferenças marcantes as questões referentes à infra-estrutura da cidade, como a
água encanada, energia, asfalto e manifestaram preocupação quanto aos cuidados de limpeza
com o lugar. Em relação ao desenho das moradias se observou que as construções, quando
comparadas (Figura 4), apresentam padrões externos muito similares, embora as disposições
internas aparentem ser organizadas de forma diferente, em algumas situações. Pelas
entrevistas foi possível identificar que em Puerto Quijarro e em outras localidades bolivianas
as construções são feitas no sentido do “comprimento”, ou seja, os cômodos são construídos
lado a lado. Essa forma de construir foi modificada nas residências locais, onde os cômodos
são construídos de forma agrupada, tendo, quase sempre, um corredor de interligação.
Foi observado que grande parte das moradias localizadas em Corumbá permanece de
forma inacabada, principalmente no que diz respeito ao reboco das paredes e outros cômodos
da casa, justificados pela questão financeira dos residentes, que acabam realizando suas
44
construções aos poucos. Essas características também foram notadas em Puerto Quijarro.
Entretanto, em diálogos informais, foi esclarecido que essa prática é comum naquela cidade,
como uma estratégia de se esquivar do pagamento de impostos, já que no município os
impostos são exigidos apenas em construções concluídas. Portanto, não são passíveis de
comparações em termos de estratégias, pois em Corumbá a condição de conclusão ou não da
casa não é prerrogativa para cobrança de imposto. Nesse caso, as condições ecomicas são
os principais fatores explicativos.
Figura 4. Semelhanças na paisagem cultural de Corumbá, Brasil e Puerto Quijarro, Bolívia.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
A moradia está diretamente relacionada como um dos desejos primordiais do ser
humano, não apenas com o sentido de habitação, mas pelo significado nela embutido. A casa
é o porto seguro de todo ser humano, o lugar onde se sente protegido e onde se manifesta toda
sua individualidade e o seu poder. É nesse espaço que se concretiza suas relações mais
afetivas, onde se relaciona com seus entes queridos. A possibilidade de adquirir a moradia
própria torna-se então um dos seus maiores sonhos e a essa realização internaliza o
sentimento de felicidade. Isso pôde ser ratificado nas falas das pessoas entrevistadas, que
manifestaram a tranqüilidade e a alegria de poderem ter construído suas moradias,
verbalizando a felicidade que isso representou em suas vidas e na vida de seus familiares:
aqui é um lugar abençoado e sou feliz, porque construí minha casa e minha família aqui”;
“não sou mais feliz aqui só por causa da saúde, mas tenho minha casa e família”; “tenho o que
preciso para viver bem... minha casa, família, bons vizinhos”; “aqui consegui trabalho e pude
construir a minha casa onde vivo com minha família”, “aqui é um lugar bom, sossegado”.
45
Essa novidade os coloca em um novo status social, principalmente porque essa
realização sempre foi fruto de muito trabalho e esforço pessoal para melhorar as condições de
vida.
Percebeu-se que um número significativo de pessoas entrevistadas já residia em casa
própria, ainda que não concluídas. Usufruíam na cidade, da infra-estrutura necessária para
viver bem, como asfalto (na maioria das ruas), água encanada, luz elétrica, educação dos
descendentes, trabalho, lazer e assim por diante. Reconheceram que essas condições
favorecem uma vida mais confortável e tranqüila e se declararam felizes por estarem morando
no lugar, afirmando que gostam de Corumbá e só retornam à Bolívia esporadicamente. Nesse
ponto, se pode afirmar que esses imigrantes estão perfeitamente integrados com a sociedade
corumbaense, já que muitos estabeleceram relações de trabalho e amizade com os brasileiros.
Com relação ao tipo de moradia dos entrevistados, embora de padrões modestos, a
maioria declarou ser proprietário dos imóveis, que foram construídos a partir da aquisição de
um terreno, onde inicialmente residiam em pequenos cômodos até a organização de suas
moradias nos padrões atuais. Percebeu-se também, que parte dessas residências ainda
permanece sem os acabamentos necessários, como a finalização das paredes, pintura.
Também existiam projetos de edificação de novos cômodos, em residências cujo icio da
construção denota ser de longa data. Esse fato remete estar diretamente vinculado com o
poder aquisitivo desses indivíduos, que relataram que suas casas foram ou estão sendo
construídas paulatinamente, conforme as condições financeiras e considerando a facilidade de
comprarem os materiais em prestações.
Em sua maioria, as casas foram constrdas em terrenos amplos, sendo seus cômodos
distribuídos da seguinte forma: dois a quatro quartos, sala, cozinha, banheiro, área de serviço
e quintal. Notou-se, em muitos casos no mesmo terreno, a existência de outra casa,
geralmente menor, destinada a moradia de algum dos filhos (Figura 5).
A sala e a varanda foram apontadas como os lugares mais importantes da casa, pela
possibilidade de integração e lazer com a família, sendo muitas vezes o lugar onde se realizam
quase todas as atividades familiares (Figura 6). Além disso, a sala destaca-se pela existência
do televisor, onde as pessoas passam grande parte do tempo, como uma forma de
entretenimento.
Essa predomincia de convívio das pessoas na sala e na varanda ou quintal
apresentam similaridades com as residências dos corumbaenses, principalmente nos bairros
mais afastados do centro. Provavelmente a sala tenha sido eleita por ser um dos cômodos
maiores nas residências e onde é comum serem recebidas as visitas, já que é um lugar onde
46
estas poderiam ser mais bem recebidas, pela existência do móvel apropriado (sofá) e também
do televisor que é um dos principais veículos de lazer. No que diz respeito à varanda ou
quintal, também foi indicado como um meio de convivência, possivelmente por se constituir
de uma área ampla e aberta, que permite a circulação mais livre das pessoas, bem como um
refugio do calor intenso que teria dentro das residências, já que o clima da cidade é bem
quente na maior parte do ano. A varanda e, por extensão, o quintal também é o local das
pequenas festas em família, como aniversários, natal, final de ano.
Figura 5. Organizão espacial das moradias dos bolivianos,
na cidade de Corumbá-MS, Brasil.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
A moradia é um espaço destinado ao relacionamento social, no qual as pessoas se
reúnem tanto com a família – para viverem sob o mesmo teto, quanto para receberem parentes
e amigos – a fim de compartilharem de momentos de lazer. Vale ressaltar que a área frontal
da casa, e mesmo as calçadas, desempenham essa função de relacionamento, em ambas as
cidades, constituindo uma forma singular de práticas cotidianas
6
.
6
Cf. Figura 3.
47
Figura 6. Varanda: um local de encontro nas moradias
dos bolivianos, na cidade de Corumbá-MS, Brasil.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
São singulares também, a visão que se tem nas ruas de ambas as cidades (Figura 7),
quando se presencia casas onde as pequenas plantações se misturam com as construções,
tendo as ruas bastante arborizadas, sendo que em determinadas fotos essas ruas se confundem
pela semelhança, seja nas disposições das casas, seja pela vegetação ou pela presença de
pessoas reunidas nas portas de suas casas.
Figura 7. Similitudes paisagísticas da fronteira Brasil-Bolívia.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010.
Outra característica marcante é a forma das construções que servem também para as
atividades comerciais. Essas casas são planejadas deixando uma porta maior com acesso a um
cômodo que posteriormente será utilizado para esse fim. Normalmente se localiza ao lado da
sala de estar, sendo interligada com todo o ambiente construído (Figura 8). Assim que
possível financeiramente já começam a fazer funcionar a atividade comercial na casa. Os
48
recursos conseguidos com a atividade io ajudar na conclusão da obra e apoiar a composição
da renda familiar.
Uma das metas previstas neste processo investigatório previa estabelecer a relação
existente entre o número de resincias com imigrantes bolivianos e a pressão sobre o setor
habitacional da cidade de Corumbá, já que esse número foi estimado em aproximadamente
em 800 moradias (BAENINGER; SOUCHAUD, 2007). Porém a inexistência de um registro
sistematizado inviabilizou a mensuração desse impacto, o que não significa negação de sua
ocorrência já que se trata de uma quantidade considerável. A Pastoral do Imigrante não possui
registros rigorosos das migrações bolivianas para Corum-MS, mas estima algo em torno de
8 ou 10 mil migrantes. Os gestores do setor habitacional de Corumbá, quando procurados
(novembro de 2009) disseram não existir uma estimativa dessa pressão. Contudo, se pode
indicar pelos números sugeridos, a necessidade de pelo menos 2 mil moradias para atender
essa demanda.
Figura 8. Moradia localizada em Corumbá, Brasil, antes e após a sua conclusão, com espaço
para a realização de pequeno comércio.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
Assim, quando nos referimos ao impacto dessas moradias, as colocamos sob os
aspectos inerentes ao seu funcionamento: abrigo e infra-estrutura (água, luz, saneamento,
asfalto etc.) e demais necessidades de lazer e subsistência (farmácias, mercados, praças etc.)
ao ser humano. Nessa ótica, o impacto ocorre, tanto no setor habitacional como nas demais
áreas provedoras de infra-estrutura e equipamentos urbanos, tornando necessária adoção de
políticas e procedimentos que implementem a melhorias para essas pessoas, bem como os
demais cidadãos corumbaenses.
49
3.3 Os bolivianos que residem em Corumbá e a relação com o lugar de moradia
A apropriação do espaço corumbaense pelos migrantes bolivianos ocorreu,
aparentemente, de forma aleatória. Motivados pela expectativa de mudança nos padrões de
vida que tinham em suas origens, buscaram nessa terra os meios para alavancar seus
objetivos. Assim, o trabalho foi o fator que determinou o início desse processo migratório, na
maioria dos casos. Vindo para Corumbá, inicialmente moraram em casas temporárias e,
posteriormente, foram construindo suas moradias nos diversos bairros da cidade.
Embora haja um adensamento de moradias em determinados bairros, a ocupação
desses espaços ocorreu de forma espontânea, já que, de acordo com os relatos, a fixação das
residências se deu por escolha individual, levando-se em conta, a proximidade com o trabalho
e, também, preço de lotes acessíveis. A forma de relacionamento com esse espaço não parece
diferir da maneira dos demais moradores, uma vez que o cotidiano é muito semelhante, sendo
expresso nas informações de trabalhos semanais e descanso nos finais de semana.
Provavelmente a existência de outros moradores bolivianos tenha influenciado nas decisões
de compra de terrenos para a construção de moradias, o que justificaria essa aglomeração de
residências em bairros específicos. Uma característica que pode denotar a procura de
residências.
Uma marca muito presente e que os identifica como um povo boliviano são as festas
tradicionais em comemoração ao dia da Virgem de Urukupa, em 26 de agosto. Nesse caso,
os grupos tradicionais da Bovia se deslocam para a cidade de Corumbá, para apresentações
em desfiles e celebrões religiosas, como missas que são realizadas em igrejas locais e
desfiles. A participação em novenas e festas também foi relatada como uma prática comum e
são realizadas durante os nove dias que antecedem o dia comemorativo dessa Virgem.
Ocorrem ainda procissões que são acompanhadas por grupos de dançarinos
tradicionais da Bovia, como Los Caporales, Pujllay e Morenada (Figura 9 e 10), que seguem
tocando seus instrumentos juntamente com a apresentação de músicas e danças. São
devidamente paramentados com as vestimentas tradicionais desses grupos que leva em
consideração suas raízes históricas. Essa manifestação de fé e cultura se reveste de muita cor e
alegria, diferentemente das procissões religiosas manifestadas pela cultura local do município
de Corumbá (e em geral, no Brasil), onde as mesmas acontecem com orações e cânticos
religiosos em marcha lenta. A fé católica se mostrou preponderantemente em suas crenças
religiosas, demonstrando em suas festividades fortes traços do povo indígena e influência dos
50
jesuítas, como sugere a mistura de representações folclóricas e seus significados e as
celebrações de missas e novenas, por exemplo.
Figura 9. Desfile do Grupo Morenada Achachis em homenagem à
Virgem de Urukupiña, na cidade de Corumbá-MS, Brasil, agosto
de 2009.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
Figura 10. Desfile do Grupo Pujllay, na cidade de
Corumbá-MS, Brasil, agosto de 2009.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
51
A comemoração ao dia da Virgem de Urukupinã é uma das mais importantes tradições
boliviana no campo religioso, sendo realizada anualmente no mês de agosto, reunindo
bolivianos residentes em Corumbá e em Puerto Quijarro. Geralmente a festa inicia-se com a
celebração de uma missa em uma das igrejas locais e, posteriormente a imagem da santa é
transportada em altar (Figura 11 e 12) para a Feira BRASBOL, onde possui um altar
permanente. Esta feira é uma espécie de camelódromo, situada nas proximidades da área
central da cidade de Corumbá e nela são vendidos produtos de comerciantes locais e,
predominantemente (mais de 90%) de comerciantes bolivianos. Ao lado dessa feira localiza-
se um espaço para estacionamento de veículos e é nesse local, que as atividades
comemorativas se realizam durante o dia, com eventos recreativos, danças e músicas típicas,
bem com o consumo de bebidas e comidas, que, de acordo com os entrevistados são
oferecidos gratuitamente por patrocinadores da festa.
Figura 11. Andor da Virgem de Urukupa, em procissão
na cidade de Corumbá-MS, Brasil, agosto de 2009.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009
52
Figura 12. Gruta localizada na Feira Brasbol, onde a imagem da
Virgem de Urukupiña, fica abrigada permanentemente.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009.
Essa festa se prolonga no decorrer do dia, no entorno da feira Brasbol (Figura 13),
onde se observa fortemente a territorialidade dos bolivianos. Embora essa denominação da
feira indique a união Brasil – Bolívia (BRASBOL) para a exploração comercial, ela agrega
em sua maior parte a atuação de comerciantes bolivianos. Dessa forma, muitas vezes a
comunidade se refere a ela como “feira boliviana”.
Figura 13. Feira Brasbol.
Autor: DIAS, R.T.R., 2009
53
Além disso, a concentração de moradias de bolivianos na cidade de Corumbá está
evidenciada nos arredores dessa feira, que foi confirmada, através de conversas informais com
moradores locais, que justificaram a escolha desse local para suas residências em função da
proximidade com a feira Brasbol e também de uma escola onde seus filhos estudam. Vale
salientar que essa localidade fica estrategicamente localizada na via de acesso à Bovia. Foi
localizada a presença de três agrupamentos
7
(“vilas”) nas imediações da feira (Figura 14).
Acreditava-se que pudesse ser uma forma de dos bolivianos se agruparem numa alternativa de
se manterem fortalecidos diante do novo. Ou, ainda os territórios da exclusão, em
conformidade com Haesbaert (2004). Entretanto, essas suposições perdem força
argumentativa quando esses moradores afirmam que escolheram esse lugar de moradia por ser
de fácil acesso ao trabalho e a escola. Outra negação para essa hipótese foi encontrada na
composição dos moradores dessas “vilas”. Um desses agrupamentos era constituído por onze
residências, sendo cinco de moradores bolivianos e seis de moradores brasileiros, sugerindo
não ser a nacionalidade o motivo da escolha do lugar, mas a facilidade para a realização de
suas atividades cotidianas.
Figura 14. “Vilalocalizada nas proximidades da Feira BRASBOL, em
Corumbá.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010
7
o um conjunto de casas constrdas num mesmo terreno (lote), postas lado a lado.
54
De um modo geral se pode afirmar que o migrante boliviano convive amigavelmente
com a população corumbaense. Se levar em conta que o novo pode ter diferentes graus de
aceitação e resistência em qualquer situação, esse fato é especialmente verdadeiro quando se
trata de um elemento novo no ambiente, neste caso o migrante, quer seja por aquele que chega
ou por aquele que recebe. O migrante vai para um lugar e precisa criar novas redes de
sociabilidade até que possa integrar-se de fato. Ao mesmo tempo a população precisa
conhecê-lo para que haja relacionamentos amistosos. De ambos os lados é preciso que as
pessoas estejam desprovidas de idéias e pensamentos pré-concebidos. No que concerne
especificamente ao migrante boliviano este tema carece de uma análise mais cuidadosa, para
se verificar a ocorrência das escalas de aceitação e/ou resistência.
Num primeiro momento muitas colocações apresentadas na entrevista não denotaram
sentimento de oposição à presença desses migrantes na cidade de Corumbá, tendo em vista
manifestações de que esta seria uma terra abençoada e de um povo bom e solidário. Argüidos
sobre o relacionamento com a vizinhança foram verbalizadas situações de boa convincia e
de pessoas que se auxiliam mutuamente. Não podemos afirmar com isto à ausência de
preconceitos de ambas as partes, entretanto, acreditamos que possivelmente houve uma boa
aceitabilidade deste novo elemento nesta localidade, tanto assim que umas das principais
características da cidade de Corumbá é a presença marcante de migrantes das mais diversas
partes do mundo.
3.4 Hábitos, costumes espaços de lazer e interação com a sociedade corumbaense
As entrevistas foram realizadas com migrantes que vieram entre as décadas de 1940 e
1980, na sua maioria muito jovem. Este fato possivelmente contribuiu para que esse
movimento de transformação cultural fosse mais rapidamente incorporado. Muitos deixaram
de praticar hábitos comuns de seu país natal, adaptando aos novos costumes locais. A partir de
conversas com o coordenador do Centro Boliviano-Brasileiro se verificou que nas décadas
mais recentes vem ocorrendo um movimento de resgate das tradições, conforme discutiremos
mais adiante.
Com relação aos costumes referentes à alimentação, atividades de lazer, trabalho e
religiosidade, se verificou uma intensa modificação e mantido principalmente os costumes
religiosos e em menor intensidade os hábitos alimentares. Grande parte dos entrevistados se
declarou católica, antes e após a migração, sendo comum observar a exposição de imagens
55
sacras nos diferentes espaços da casa (sala, quarto, cozinha), dispostos em móvel específico
ou em quadros afixados nas paredes. Também se presenciou a existência de uma “capelinha”
com imagem da Virgem de Urukupiña ou outra santa (numa das casas havia um oratório com
a imagem de Nossa Senhora Aparecida).
Os entrevistados indicaram que no lugar de onde vieram havia poucas opções de lazer,
uma vez que moravam majoritariamente em áreas rurais. Em suas palavras, moravam no
mato”, motivo pelo qual também foi amplamente citado a agricultura como principal
atividade de trabalho. Também foi muito citada como forma de lazer a música e a dança,
seguidos de igreja e do futebol. Essas manifestações foram mantidas, na maioria das vezes,
pois Corumbá não oferece opções tão diferentes.
Também foram mencionadas as participações em celebrações semelhantes as
realizadas no Brasil, que são as comemorações cívicas e religiosas e o carnaval. Dentre essas
foram destacadas as festividades em homenagem às Virgens de Cotoca, Copacabana e
Urukupa. A festa em comemoração à Virgem de Urukupiña foi a celebração que se manteve
mais fortemente em seus hábitos culturais na mudança de local de residência de um país para
o outro.
No tocante a alimentação os pratos mais citados, além da sopa, que foi uma citação
unânime: o picante de frango que também é um prato com caldo; o marradito, uma espécie de
risoto ou arroz de carreteiro, mas de consistência com pouco caldo (Figura 15); e os alimentos
da roça como legumes e verduras, com destaque para o milho, batatas e animais de pequeno
porte, como galinha, porco, cabrito. Além disso, foram mencionados como bebidas típicas:
chicha (a base de milho ou amendoim, pode conter álcool ou ser consumido sob a forma de
suco), mocochinche (suco de pêssego desidratado e cozido) e a paceña (cerveja tipicamente
boliviana e já muito conhecida nesta fronteira).
A esses hábitos, algumas vezes deixados ou substituídos, foi incorporado outros da
culinária brasileira. Desses, o feijão parece ter sido o prato que passou a ser mais utilizado em
seu consumo alimentar. A principal diferença na alimentação diz respeito à maneira de
preparo dos alimentos, sendo que na Bovia são consumidos principalmente sob a forma de
cozidos, enquanto no Brasil se prefere os guisados e alimentos sem caldos, conforme
observação dos migrantes entrevistados. Entretanto, esses alimentos foram bem assimilados
por eles que passaram a fazer uso do arroz com mais frequência, feijão, massas e assados.
A cidade de Corumbá incorporou alguns dos hábitos e costumes desses migrantes com
destaque para: a saltenha, um salgado com recheio de frango e batatas, e; o arroz boliviano,
56
uma espécie de risoto onde são integrados ao arroz ingredientes como o milho, ervilha,
batatas, bananas fritas e molho de frango ou carne moída.
Frango picante Chicha Mocochinche
Arroz boliviano Saltenhas Sopa de mani (amendoim)
Figura 15. Alguns alimentos típicos da culinária boliviana.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010
Quanto às atividades culturais, as músicas e danças típicas mais mencionadas foram:
taquirari, chavena, diablada, cumbia, entre outras. É marcante a influência dos povos
indígenas que ficaram fortemente preservadas em suas tradições. As danças se revestem de
significados, representados nos ritmos e coreografias que lembram suas celebrações religiosas
de culto aos deuses da natureza, com diversas denominações. As vestes também denotam a
influência espanhola absorvida em seus costumes. Nessas ocasiões podemos notar a alegria de
seus ritmos e cores, característicos desse povo (Figura 16).
Também foi observado que, após longos anos distante de sua terra natal esses
migrantes foram perdendo o envolvimento com a sua tradição nativa, quer seja no campo
cultural de suas festividades, como no cotidiano, visto que absorveram muito mais os
costumes locais do que as vivenciadas em suas raízes. Um exemplo disso é o idioma que se
mostrou dicomico. Muitos falaram da importância do idioma como um elo com seu país e
de sua transmissão para os filhos, mas contraditoriamente se esforçam para se comunicarem
em português. Os filhos nascidos no Brasil falam cotidianamente o português e na maioria das
vezes, apenas compreendem e não falam o idioma de seus pais.
57
Figura 16: Grupo as Morenadas em apresentação nas ruas de Corumbá.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010.
Uma hipótese provável – mas que carece de estudos mais aprofundados – é a de que
esses migrantes, por terem vindo muito jovem para o Brasil e pela necessidade de
comunicação para aceitação na nova terra, teriam se empenhado em absorver os costumes
locais, abrindo mão de suas tradições. Outra possibilidade poderia ser o fato que um número
significativo desses migrantes era indocumentados
8
, o que também explicaria algumas vezes
não se declararem bolivianos, considerando que poderia ser um fator de rejeição ou
complicações civis.
Em relação às organizações político-sociais dos bolivianos em Corumbá, destacam o
Centro Boliviano-Brasileiro e o Consulado Boliviano, além da Pastoral do Migrante. Em
trabalho recente e por iniciativa da Prefeitura de Corumbá/Subsecretaria de Ações da
Cidadania, e do Consulado Boliviano, com apoio de diversas entidades foi realizada uma ação
social que garantiu a emissão de registro de nascimento para filhos de migrantes bolivianos
nascidos no Brasil. Esse direito é garantido por Lei, sendo gratuito para crianças de até doze
anos. Essa atividade foi realizada durante o último domingo de fevereiro de 2010 na sede do
Centro Boliviano-Brasileiro, contando com a participação da Defensoria do Povo - Bolívia e
8
Termo utilizado pelo Coordenador da Pastoral do Migrante para indicar os indivíduos que se estabeleceram na
cidade sem visto legal. Possuíam os documentos de seu país de origem, mas viviam de forma clandestina em
Corumbá-MS.
58
de representantes de cartórios daquele país, que proporcionou a obtenção desse direito (Figura
17). O objetivo principal, de acordo com os pronunciamentos das autoridades envolvidas,
voltou-se principalmente no sentido de estimular o reconhecimento da cidadania boliviana,
além de garantir o exercício de seus direitos legais na Bovia.
Figura 17. Ação social para cidadania boliviana de
crianças brasileiras, filhas de bolivianos residentes em
Corumbá, Brasil.
Autor: DIAS, R.T.R., 2010
O atual presidente do Centro Boliviano-Brasileiro (CBB) se referiu a uma proposição
dessa instituição onde se evidencia a preocupação de uma efetiva integração do povo
boliviano à comunidade corumbaense e, ao mesmo tempo resgatar suas tradições. Para isso o
estatuto da instituição vem sendo reformulado de forma participativa e o centro vem
programando atividades, como: criação e manutenção de um grupo de dança; conjunto
musical que executa canções bolivianas e latinas; incluo das festas em comemorão da
Virgem de Urukupiña e das três bandeiras no calendário cultural de Corumbá, que são
comemorativas das virgens Cotoca, Caacupê e Conceição (Bovia, Paraguai e Brasil),
realizadas em 8 de dezembro; utilização do espaço da sede do CBB para a realização de
eventos educacionais, sociais e culturais; estímulo do turismo na Bolívia; campanhas de
solidariedade, com finalidade social e da saúde para fronteira Brasil-Bolívia (Projeto El Faro),
entre outras possibilidades.
A Coordenação da Pastoral do Migrante desempenha papel importante no apoio aos
bolivianos, principalmente espiritual, psicológico e também para orientar e acompanhar os
procedimentos da regulamentação de estabelecimento na cidade e, em algumas situações,
59
promovendo pequenos auxílios financeiros. Às vezes esses auxílios são concedidos em forma
de passagens nos casos de migrantes que resolvem retornar ao seu país e que não tenham
condições de tal ensejo. Na Bolívia, existe a uma organização (ONG) de apoio psicológico
aos migrantes que retornam às suas casas, com problemas de desagregação familiar,
decorrentes do afastamento de pais e filhos, ou mesmo de casais que migram separadamente e
encontram outros parceiros. No caso de retorno ao país de um dos genitores ou mesmo de
ambos, os los afetivos, algumas vezes, já foram corrompidos pelo tempo e pela distância.
Além disso, essa instituição promove e participa de pesquisa e debates com a comunidade e
governo local sobre questões da migração, em especial Brasil-Bolívia, para a busca de
soluções para problemas comuns.
Portanto, esses costumes, práticas cotidianas trazidas dos locais de origem foram
mescladas aos hábitos encontrados na nova terra, produzindo um indivíduo culturalmente
híbrido. Talvez, as motivações de integração com a população local, pelos motivos
elencados, tenham colocado em risco tradições seculares herdadas de sua origem, daí a
importância das ações das entidades sociais representativas desses grupos em Corumbá.
60
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho procurou abordar os aspectos inerentes ao processo migratório e as
conseqüências sobre a organização das moradias do migrante boliviano na cidade de
Corumbá, Brasil. Neste ponto, se observou que esses migrantes buscaram nesta cidade,
primeiramente, melhores condições de trabalho e, a partir daí, se estruturaram para sua
permanência e construção de suas moradias. Independente de suas casas serem próprias ou
alugadas se notou um padrão aproximado de organização, tanto em Corumbá como em Puerto
Quijarro. Na maioria das vezes, se conservou na paisagem a existências de plantações,
pequenos animais e espaço para descanso e conversas (Ex. bancos de madeira em frente das
casas e plantas). Essas características são comumente observadas tanto nesta cidade brasileira
quanto na boliviana.
Com relação aos hábitos e costumes, o que se pode perceber é que apesar desta
fronteira ser permissiva, de fácil acesso e trânsito das pessoas, tanto de bolivianos quanto de
brasileiros, a fronteira cultural ainda é uma questão a ser transpassada. Esta condição de
convivência tão próxima, verificada no cotidiano e manifestada por esses imigrantes deveria
ter possibilitado uma maior incorporação de suas práticas tradicionais. Mas o que na verdade
se percebeu foi que os migrantes bolivianos assimilaram muito mais do que os brasileiros os
costumes de cada povo. A culinária, por exemplo, não foi incorporada aos hábitos locais, com
poucas exceções, como a saltenha e o arroz boliviano.
Contraditoriamente o migrante boliviano ao mesmo tempo em que procurou se
adequar aos hábitos e costumes corumbaenses, também manteve fortes vínculos com a terra
natal, como visto nas participações em festas tradicionais bolivianas, visitas freqüentes a
Puerto Quijarro e outras cidades da Bolívia. Essa prática faz com que o migrante boliviano
cultive suas raízes ao mesmo tempo em que busca se integrar nas atividades locais como uma
forma de se sentir pertencente ao lugar. Suas atitudes são influenciadas tanto pelos hábitos
originais quanto pelos locais, transformando a sua maneira de viver, de organizar o espaço de
suas moradias e seu relacionamento com a sociedade.
A presença de um novo elemento no relacionamento humano sempre ocorre
impregnada de significados, muitas vezes conflitantes, de sentimentos, expectativas e medos,
pelo que pode advir. Estes sentimentos ficam muito mais latentes em uma região de fronteira
e, em especial nas fronteiras abertas, onde a convivência diária coloca em confronto a sua
capacidade de adaptação e transformação. O migrante, neste caso o boliviano, chega ao lugar
61
com esperança de encontrar um trabalho digno que melhore sua qualidade de vida –
afirmativa unânime em todas as entrevistas. Ao mesmo tempo, se mostra receoso com o que
vai encontrar, já que está se colocando num novo terririo, onde tudo lhe é diferente. O
habitante local, também manifesta sentimento dual: ao mesmo tempo em que acolhe, sente
receio do diferente. Reconhecer as diferenças, que o migrante trás consigo, as formas
diferentes de viver e a riqueza de suas experiências contribuem para um hibridismo, uma nova
perspectiva daquilo que se pode viver – transformações no cotidiano da sociedade.
O que se percebeu foi um grande desprendimento do migrante boliviano para facilitar
a sua aceitação neste lugar, afirmando que aprenderam muito com a vinda para Corumbá e
que sempre procuraram “fazer tudo certinho”. Ao mesmo tempo relataram com quase
unanimidade a recepção e colaboração dos corumbaenses na vida cotidiana.
A forma de organização das moradias dos bolivianos em Corumbá, se em algum
momento foram muito díspares, as singularidades parecem ser mais evidentes no contexto
atual, já que foram observadas estruturas muito semelhantes, tanto no aspecto físico, quanto
no desenho materializado e no significado atribdo as suas moradias: abrigo, conforto,
relacionamento. Estas observações foram fortemente manifestadas quando se referem a casa
como um lugar de proteção e também onde se realizam mais frequentemente seus momentos
de descanso e lazer.
A pesquisa permitiu observar uma estreita relação entre o povo boliviano e o
corumbaense, manifestada nas relações cotidianas. Esta argumentação se reforça nos
matrimônios, oficiais ou não, entre brasileiros e bolivianos nos batizados vistos com
reciprocidade de nacionalidades. Tal afirmativa é corroborada pela análise da quantidade de
crianças envolvidas nesse contexto, considerando que parcela significativa dos casais teve
entre cinco e dez filhos, quase todos batizados por casais brasileiros. Portanto, relacionamento
pessoal desta fronteira, mostra um cotidiano de tolerância, de aceitação, não se limitando à
convivência espacial, as também a solidariedade entre os indivíduos.
Uma das proposições desta pesquisa foi analisar a forma de atuação das redes de
cooperação entre os bolivianos que moram em Corumbá com a Bovia. No discurso desses
migrantes ficou evidenciada a importância que essas redes sociais tiveram, na medida em que
possibilitaram certo conforto na vinda para o novo território. A participação de amigos e
família, as relações de trabalho e escola foram manifestações concretas da existência dessas
redes e determinantes nesse processo. Por outro lado, com relação à acolhida que tiveram
pelos habitantes de Corumbá essa se mostrou positiva, podendo ser considerada, mesma,
como facilitadora de suas permanências na cidade de Corumbá.
62
Logo, essas redes sociais de migração sempre estiveram presentes ao longo da
história, pessoais, civis, sem interferência de instituições formalizadas, governamentais ou
não. Entretanto, os formatos de redes sociais de migração foram se modificando ao longo dos
anos, o que pode ser corroborado pela participação de instituições como o Centro Boliviano-
Brasileiro, o Consulado da Bolívia em Corumbá e a Pastoral do Migrante de Corumbá, que
desenvolvem ações, individualmente e/ou em parcerias, visando a adequação e o
desenvolvimento social e da cidadania desses migrantes.
O espaço fronteiriço é um lugar de relações híbridas, produzidas pelo contato entre
dois povos, de dois países. Assim, as ações políticas devem entender a fronteira como um
lugar de transposição, onde as práticas cotidianas quando bem conhecidas, facilitam o
planejamento para melhorar a condição de vida dessa população. O corumbaense não se vê
como um indivíduo fronteiriço, atribuindo essa condição para o boliviano. Na verdade ambos
são fronteiriços, pois dividem um espaço de contato entre dois territórios nacionais. Daí a
necessidade de construir algumas estratégias que fortaleçam essa identidade.
As reflexões tricas e o diálogo com as pessoas – os migrantes bolivianos e seus
representantes – se constitram de importante fonte de conhecimento abrindo as portas e
revelando um novo olhar sobre esta região. Entretanto tudo, o que se pode apreender ainda é
pouco diante deste universo tão rico e peculiar, impossível de se dimensionar no tempo
destinado para a realização deste trabalho.
Dessa maneira, este trabalho foi altamente instigante, mas não pretendeu ser
conclusivo; essencialmente, procurou levantar informações a fim de fomentar a discussão
sobre esta região de fronteira. É importante reconhecer as particularidades deste território que
deve ser visto não apenas como dois espaços político e geograficamente delimitados, mas
onde seus cotidianos se entrelam, em suas práticas e experiências de vidas. Reconhecer o
caráter singular dessa região e que se deve ter um olhar diferenciado é o primeiro passo para
planejamento e articulação de ões conjuntas com o mesmo objetivo: desenvolvimento local
e qualidade de vida de seus habitantes. O fronteiriço não é um ser sozinho, mas, sobretudo um
mutante coletivo!
63
REFERÊNCIAS
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> Acesso
em 10 set 2008.
66
APÊNDICE A
67
Plano de entrevista para realização de pesquisa com imigrantes bolivianos residentes na cidade de
Corumbá-MS, com a finalidade de realizar a caracterização de moradias nesta cidade e identificar se
há e quais são as semelhanças na conformação de suas moradias com a de bolivianos que vivem
em Puerto Quijarro-Bolívia. Trata-se de uma pesquisa para defesa de dissertação, referente ao
Curso de Pós-Graduação em Mestrado de Estudos Fronteiriços da Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul, Campus do Pantanal.
Data da entrevista: ___/___/__
Entrevistador: ____________________________________________________________________
1 Identificação e dados familiares
Entrevistado(a): ___________________________________________________________________
Data de Nascimento: ______/______/_________
Nome do Pai: _____________________________________________________________________
Nome da mãe: ____________________________________________________________________
Nº de residentes na casa: _________ Adultos: _____ Crianças: _____
Com quem vive: __________________________________________________________________
Endereço: _____________________________________Bairro: _____________________________
Sexo: F ( ) M ( ) Idade: _________________________
Se casado(a): Casou-se com: brasileiro (a)? ( ) boliviano(a) ( ) Outro ( ) ________________
Se tem filhos:
Quantos? ______________________ Naturalidade dos filhos: __________________________
Escolaridade dos filhos: ____________________________________________________________
Se adultos, em que trabalham? ______________________________________________________
Qual o idioma de origem? ___________________________________________________________
Se os filhos são brasileiros conhecem esse idioma? Sim ( ) Não ( ) Por quê?
2 Escolaridade:
Onde estudou? Bolívia ( ) Brasil ( ) Outro ( ) ________________________
( )Ensino fundamental (incompleto) ( )Ensino fundamental (até 8ª série)
( )Ensino Médio (incompleto) ( )Ensino Médio (incompleto)
( ) Técnico ( ) Superior (curso)_______________________
( ) Pós-graduação ___________________________________________________
68
3 Ocupação Profissional:
3.1 Trabalho formal? Sim ( ) Não? ( )
( )Profissional liberal ( )Funcionário público ( )Funcionário de empresa privada
( )Empresário ( )Estudante ( )Aposentado ( ) Outro ____________________
3.2 No Brasil, teve trabalhos registrados em carteira? Sim ( ) Não? ( )
3.3. O que fazia antes de vir para cá? __________________________________________________
3.4. Onde trabalha atualmente? ______________________________________________________
3.5. O que faz? ___________________________________________________________________
4 Dados de migração
4.1. Local de nascimento:
____________________________________________________________
4.2. Em que ano veio para o Brasil? ___________________________________________________
4.3. Com quem veio? ( parentes, amigos, família – quais?)
_______________________________________
4.4. Se veio antes para outra cidade, quando veio para Corumbá? ___________________________
4.5. Lugares onde viveu antes de vir para Corumbá – quanto tempo em cada lugar:
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
4.6. Como ficou sabendo da existência de Corumbá?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
4.7. O que você imaginava que pudesse realizar/encontrar em Corumbá?
________________________________________________________________________________
4.8. Qual o motivo que fez com que viesse para esta cidade?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
4.9. Estava acontecendo algum fato importante na Bolívia, quando veio para o Brasil? Sim ( ) Não?
( ) Se Sim, qual era esse acontecimento?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
4.10. Esse fato foi determinante na decisão de sair do seu país? ( ) Sim ( ) Não Por quê?
69
_________________________________________________________________________________
4.11. Veio para o Brasil com visto oficial? Sim ( ) Não? ( )
Se não, como foi? __________________________________________________________________
4.12. Você é naturalizadc(a) brasileiro(a)? ( ) Sim ( ) Não
4.13. Conserva dupla nacionalidade? ( ) Sim ( ) Não
4.14. Quais os meios utilizados para a vinda até Corumbá?
)carro ( )ônibus ( )trem ( ) barcos ( ) animais ( )outro ________________
4.15. Quais pessoas (parentes, amigos, outros) ou instituições (ongs, igreja, associações,
prefeituras, outros) contribuíram para a vinda até Corumbá?
4.16. O que acha que perdeu por ter vindo para outras terras? ______________________________
4.17. Do que mais sente falta?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
4.18. O que achou ganhou com a mudança? ____________________________________________
________________________________________________________________________________
5 Informações sobre a moradia
5.1. A casa é: ( ) própria ( ) alugada ( ) cedida ( ) outros ___________________
5.2. Se própria, foi: ( ) adquirida ( ) construída a partir da compra do terreno.
5.3. Se foi construída, foi: ( ) financiada por _____________ ( ) por recursos próprios
( ) mutirão ( ) herança ( ) outra forma ___________________
5.4. Como era a vida na cidade onde morava?
________________________________________________________________________________
5.5. Como era a sua moradia no local onde morava anteriormente?
________________________________________________________________________________
5.6. O que mais gostava na casa onde morava: __________________________________________
5.7. O que menos gostava? __________________________________________________________
5.8. O que mudou com a vinda para Corumbá? ( ) Melhorou? ( ) Piorou ( )
Por quê? _________________________________________________________________________
5.9. Se morava antes em Puerto Quijarro: O que você acha diferente da forma de organizar sua casa
em Corumbá do local que antes morava?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
70
5.10. Se não morava em Puerto Quijarro: Tem iia do jeito de organizar as casas em Puerto
Quijarro? O que é diferente de Corumbá? _______________________________________________
________________________________________________________________________________
5.11. A sua casafoi organizada ((construída) de forma semelhante às construções de casas na
Bolívia?
( ) Sim ( ) Não Por quê?
5.12. Se não, em que elas são diferentes?
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
5.13. Como era a infra-estrutura do local? O que havia disponível?
( ) água tratada ( ) energia ( ) asfalto ( ) coleta de lixo
( ) praça ( ) igrejas ( ) outros ____________________________________________________
O que era diferente daqui?
________________________________________________________________
5.14. Em sua casa existe algum espaço dedicado a atividades religiosas? ( ) Sim ( ) Não
5.15. Como esse espaço é organizado? ________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
5.16. Qual a área da casa que considera mais importante? Por quê?
_________________________________________________________________________________
5.17. Por que escolheu morar no bairro onde está atualmente? ______________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
5.18. Morou antes em outros bairros? ? ( ) Sim ( ) Não
5.18. Morou antes em outros bairros? ? ( ) Sim ( ) Não
Quais e por quanto tempo? __________________________________________________________
5.19. Contou com algum tipo de apoio local (institucional) para instalação de sua moradia? Sim ( )
o ( )
Em caso afirmativo, qual? ___________________________________________________________
5.20. O que considera mais importante na composição de uma moradia ideal? _________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
5.21. A sua moradia está organizada da forma como gostaria antes vir para Corumbá? Sim ( ) Não
( ) Por quê? _____________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
71
Se não, o que gostaria que fosse diferente?
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
5.22. Aqui em Corumbá está satisfeito(a) com a forma como está morando? Sim ( ) Não ( ) Por
quê?
_________________________________________________________________________________
5.23. Sobre o lugar onde mora:
O que mais gosta?_________________________________________________________________
O que menos gosta?________________________________________________________________
5.24. Descreva quantos são e como estão distribuídos os cômodos da casa:
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
5.25. Elaborar croqui de ocupação de todo o lote. Casa. Quintal. Espaços de lazer. Descrever cada
espaço.
6 Costumes e Relações sociais
6.1. Mantém vínculos com pessoas da origem?
Família ( ) Amigos ( ) Profissional ( ) Outros ( )_____________________________________
6.2. Se não, por quê? _______________________________________________________________
6.3. Se sim, de que forma: ( )cartas ( )visitas ( )internet ( )outros _______________________
6.4. Qual a freqüência? _____________________________________________________________
6.5. Que tipo de lazer desfrutava antes da migração? ______________________________________
_______________________________________________________________________________
6.6. E aqui?
_________________________________________________________________________________
72
6.7. Praticava alguma atividade religiosa? Sim ( ) Não ( ) Qual? ___________________________
6.8. Mantém a mesma prática aqui? Sim ( ) Não ( ) Em caso negativo, por quê? ______________
6.9. Quais as festas tradicionais do lugar de onde veio? ____________________________________
________________________________________________________________________________
6.10. Mantém essas celebrações aqui? Sim ( ) Não ( ) Em caso negativo, por quê? ___________
_________________________________________________________________________________
6.11. Descreva como funciona o seu cotidiano (o que faz e para onde vai - deslocamentos):
Durante a semana: ________________________________________________________________
Nos finais de semana: ______________________________________________________________
6.12. O que gosta de fazer nos momentos de lazer? ______________________________________
6.13. Costuma ir a algum lugar em especial? Sim ( ) Não ( )
Se sim, qual? _____________________________________________________________________
6.14 Costuma ir vai à Bolívia? ( ) Sim ( ) Não Em caso afirmativo:
Com que freqüência? _______________________________________________________________
Em quais lugares costuma ir?_________________________________________________________
Com qual finalidade?
___________________________________________________________________
6.15. Você participa de alguma organização, associação apenas com bolivianos? Sim ( ) Não ( )
Qual?___________________________________________________________________________
____
6.16. E mista (brasileiros e bolivianos)? Sim ( ) Não ( ) Qual?
________________________________________
6.17. Você é filiado a algum partido político em Corumbá? ( ) Sim ( ) Não
6.18. E na cidade onde morava? ( ) Sim ( ) Não
6.19. Como se relaciona com os vizinhos? ______________________________________________
________________________________________________________________________________
6.20. Você é padrinho/madrinha de crianças brasileiras? ___________________________________
6.21. Você tem filhos com padrinhos/madrinhas brasileiras? ________________________________
6.22. Em seu país de origem aconteciam festas populares? Quais? __________________________
_________________________________________________________________________________
6.23. Costumava participar dessas festas? Sim ( ) o ( )
_________________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________
73
6.24. Quais as festas mais comemoradas em Puerto Quijarro? ______________________________
_______________________________________________________________________________
6.25. Como elas acontecem? _________________________________________________________
________________________________________________________________________________
6.26. Em Corumbá, participa de festas populares? Quais? __________________________________
________________________________________________________________________________
6.27. O que isso representa para você? ________________________________________________
________________________________________________________________________________
6.28. Quais os costumes de seu país que você mantém mesmo morando em outro lugar?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
6.29. Quais os costumes aqui de Corumbá que passou a fazer parte de sua vida?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
6.30. O que acha da convivência com os brasileiros?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
6.31. Nesse sentido, teve ou tem alguma dificuldade que gostaria de mencionar?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
6.32. E, alguma experiência positiva, que achou importante?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
74
6.33. Com relação a costumes gastronômicos e culturais:
- O que mais consumiam na bolívia? __________________________________________________
- Quais os pratos e bebidas típicas? ___________________________________________________
- Quais as danças típicas de seu país? ________________________________________________
________________________________________________________________________________
- Quais são as músicas típicas de seu país? ____________________________________________
________________________________________________________________________________
6.34. E aqui em Corumbá, mantém os mesmos hábitos alimentares? Sim ( ) Não ( )
O que mudou? ___________________________________________________________________
6.35. E com relação às músicas e danças, mantém os mesmos hábitos em Corumbá?
Sim ( ) Não ( )
O que mudou? ___________________________________________________________________
6.36. Ensinou aos filhos as tradições e a cultura de seu país? Sim ( ) Não ( )
Por quê? ________________________________________________________________________
6.37. Como define o lugar onde mora?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
6.38. Você gosta de morar em Corumbá? Sim ( ) o ( )
Por quê? ________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
Observações: ____________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
75
APÊNDICE B
76
Apêndice B
Plano de entrevista para realização de pesquisa com instituições governamentais e não
governamentais, para responder questões acerca da trajetória dos migrantes bolivianos
para a cidade de Corumbá-MS. Trata-se de uma pesquisa para defesa de dissertação,
referente ao Curso de Pós-Graduação em Mestrado de Estudos Fronteiriços da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal.
Trata-se de uma entrevista semi-estruturada onde serão abordadas as seguintes
questões:
- Existe um controle estatístico de residências de imigrantes nesse órgão?
- Se sim, qual o número de residências de migrantes bolivianos? ______________
- Existe algum programa de apoio habitacional para imigrantes? Sim ( ) Não ( )
- Em caso afirmativo, como ocorre esse apoio?
- Existe algum controle do número e resincias dos bolivianos que residem em
Corumbá-MS? Como é feito esse controle?
Obs.: Como se trata de questões abertas, outras indagações poderão surgir no
decorrer da entrevista e serão processadas no momento oportuno.
Pretende-se buscar essas informações primeiramente nos seguintes órgãos:
Secretaria Executiva de Infra-Estrutura e Habitação - Corumbá-MS
Delegacia de Polícia Federal de Corum- MS
Serviço Pastoral do Imigrante
Centro Social Boliviano-Brasileiro
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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