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Autuori (s/d) assinala que, em se tratando de oferecer psicanálise gratuita nas
instituições, parece consensual entre os psicanalistas que, mesmo com adaptações, a
psicanálise encontra-se presente na saúde mental, como recurso teórico e clínico, sendo
necessário, portanto, sustentá-la. A autora segue a argumentação referindo-se a Freud
(1919/1918), e seu posicionamento de defender que a psicanálise pode contribuir no
tratamento da “miséria neurótica que existe no mundo”, reconhecendo que as classes
mais empobrecidas da população devam ter acesso à assistência em saúde mental.
Ressalta, no entanto, a importância que a psicanálise não perca de vista seus
fundamentos ao habitar novos terrenos.
O segundo aspecto refere-se ao segmento social a que pertence, geralmente, os
sujeitos que procuram ajuda nos serviços públicos de saúde. Freud (1919/1918), em
“Linhas de Progresso na Terapia Psicanalítica” vislumbra a possibilidade do acesso à
psicanálise pelas camadas sociais mais empobrecidas:
Os senhores sabem que as nossas atividades terapêuticas não tem um
alcance muito vasto. Somos apenas um pequeno grupo e, mesmo
trabalhando muito, cada um pode dedicar-se, num ano, somente a um
pequeno número de pacientes. Comparada à enorme quantidade de
miséria neurótica que existe no mundo, e que talvez não precisasse
existir, a quantidade que podemos resolver é quase desprezível. Ademais,
as nossas necessidades de sobrevivência limitam o nosso trabalho às
classes abastadas, que estão acostumadas a escolher seus próprios
médicos e cuja escolha se desvia da psicanálise por toda espécie de
preconceitos. Presentemente nada podemos fazer pelas camadas sociais
mais amplas, que sofrem de neuroses de maneira extremamente grave.
(...) Por outro lado, é possível prever que, mais cedo ou mais tarde, a
consciência da sociedade despertará, e lembrar-se-á de que o pobre tem
exatamente tanto direito a uma assistência à sua mente, quanto o tem,
agora, à ajuda oferecida pela cirurgia, e de que as neuroses ameaçam a
saúde pública não menos do que a tuberculose, de que, como esta,
também não podem ser deixadas aos cuidados impotentes de membros
individuais da comunidade.(p.180)
Neste trabalho, Freud (1919/1918) prevê ainda a gratuidade de tais tratamentos,
ainda que os psicanalistas necessitem de adaptar a técnica ao novo contexto. No que diz