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EDITH MARIA MARQUES MAGALHÃES DA SILVA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DAR AULA
POR ALUNOS INGRESSANTES E CONCLUINTES DE
CURSO DE PEDAGOGIA
Rio de Janeiro
Fevereiro 2010
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1
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE
EDITH MARIA MARQUES MAGALHÃES DA SILVA
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DAR AULA
POR ALUNOS INGRESSANTES E CONCLUINTES DE
CURSO DE PEDAGOGIA
Dissertação apresentada à
Universidade Estácio de como
requisito parcial para obtenção
do grau de Mestre em Educação.
Orientadora: Profª. Drª. Helenice Maia
Rio de Janeiro
2010
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2
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
S586
Silva, Edith Maria Marques Magalhães da
Representações sociais de dar aula por alunos ingressantes e concluintes de curso
de pedagogia. / Edith Maria Marques Magalhães da Silva. - Rio de Janeiro, 2010.
106 f.
Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Estácio de Sá, 2009.
Bibliografias: 91 - 98
1. Representação social. 2. Alunos ingressantes, aluno. 3. Pedagogia, alunos
concluintes. I. Título.
CDD 370
3
4
DEDICATÓRIA
À amiga, Maria Nyrce. (in memoriam)
O ser humano cria expectativas de realizações de vida pessoal e profissional.
Alguns sonham e nada fazem...
Outros fazem tudo e chegam...
Mas, alguns sonham, alcançam e não chegam...
Chegar!!!
Representa uma conquista.
Poucos sabem a dor e alegria de chegar até aqui.
Você sonhou...
Alcançou e teve que interromper sua conquista.
Isso não foi bastante para alguém que sabia o que queria.
E você não deixou de sonhar e de novo chegou lá,
mas os percalços da vida interromperam seus sonhos.
A você amiga, dedico essa nossa conquista.
5
AGRADECIMENTOS
Á Deus, pela condução e orientação das sinuosidades da minha vida.
Aos meus amados filhos, mãe, sobrinha, irmã e cunhado, que tanto reclamaram pela
minha ausência “física” nos momentos familiares que sempre foram constantes e
alegres em nossas vidas.
À Vera Neves, pela amizade, orientação, apoio e por acreditar que a irmandade
independe de laços de sangue.
Ao Leandro Duclos, pelo incentivo, parceria e troca de ideias que aperfeiçoaram esse
estudo.
À Simara Costa Guimarães, pela compreensão, apoio e acreditar em tão pouco tempo,
da necessidade do afastamento no trabalho.
Aos colegas do mestrado, por todos os momentos felizes e angustiantes que juntos
vivenciamos e partilhamos.
À Ivone e Margarida, pela exatidão e profissionalismo que sempre estiveram presentes
através do servir.
Aos funcionários da Cantina e Livraria Terra: Eva, Jailson, Hérika e Raquel, pela
dedicação e alegria que estiveram presentes.
As secretárias Ana Paula e Áurea Cristina, pela destreza, atenção, simpatia, aconchego e
por saberem me ouvir em todos os momentos.
Aos alunos do Curso de Pedagogia, da Universidade Iguaçu, que disponibilizaram seus
tempos entre a jornada de trabalho e seus horários acadêmicos, contribuindo com a
nossa coleta de dados.
A todos os professores, pela competência e firmeza nos saberes que contribuíram e
aprimoraram meus conhecimentos.
À Professora Alda Judith, por ter oportunizado o contato com pesquisa. Por meio dessa
trajetória desenvolvemos técnicas que abrilhantaram e ampliaram meus conhecimentos.
A participação no grupo de pesquisa proporcionou momentos integradores e com sua
imensa sabedoria, profissionalismo e confiança retirou o máximo de minhas
potencialidades, me estimulando a querer saber cada vez mais. Minha admiração.
Á Professora Helenice, por ter acreditado e pela escolha de ser minha orientadora. Você
sempre me encantou, desde o meu primeiro dia de suas aulas no mestrado, com suas
palavras, idéias e sabedoria. E admiravelmente guiou minha trajetória no mestrado. No
início, você disse que iria me conquistar e declarei que a conquista deveria ser minha. E
a partir dessa conquista, nos tornamos uma “dupla infalível” por meio da nossa parceria,
realizações, produções e amizade. Você soube me ouvir, aconselhar e orientar em todos
os momentos e se tornou a minha eterna “amada”.
6
O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na
intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos
inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.
Fernando Pessoa
Se não consegues entender que o céu deve estar dentro de ti,
é inútil buscá-lo acima das nuvens e ao lado das estrelas. Por
mais que tenhas errado e erres, para ti haverá sempre
esperança, enquanto te envergonhares de teus erros.
Charles Chaplin
7
RESUMO
Esta pesquisa qualitativa buscou as representações sociais de dar aula elaboradas por 51
alunos concluintes de Curso de Pedagogia oferecido por uma universidade particular
localizada no Rio de Janeiro e as comparou com aquelas também elaboradas por eles
quando ingressaram no nível superior. O referencial teórico-metodológico adotado
combina a abordagem estrutural das representações proposta por Abric (1994) e a
perspectiva processual introduzida por Moscovici (1978) e ampliada por Jodelet (1989).
Dada a complexidade envolvida no estudo das representações foi desenvolvida a
seguinte abordagem multi-metodológica: (1) teste de livre evocação contendo a
expressão indutora dar aula, aplicado em dois momentos: no ingresso e na conclusão do
curso. As palavras evocadas foram submetidas ao software EVOC. No núcleo central da
representação social de dar aula quando ingressantes encontravam-se os elementos
aluno e ensinar; quando concluintes ensinar e planejamento; (2) Para compreender os
sentidos atribuídos aos elementos identificados foram realizadas 20 entrevistas
individuais e dois grupos focais com alunos; (3) Análise da matriz curricular, das
ementas das disciplinas relacionadas à atividade “dar aula” - Didática, Prática
Pedagógica, Currículos e Programas e Estágio e seus objetivos, das bibliografias
indicadas e do conteúdo dessas obras; (4) Análise do material disponibilizado pelos
professores em suas pastas; (5) Análise das anotações dos alunos em sala de aula; e (6)
Análise de Editais dos Concursos Públicos para o Magistério da Secretaria de Educação
dos três últimos anos. Verificou-se que o slogan “ensinar é coisa séria” sintetiza os
processos de objetivação e ancoragem. Com relação à objetivação, todo tipo de carência
dos alunos foi reforçada, o que faz as relações interpessoais serem a maior preocupação
dos futuros professores. A ênfase no relacionamento entre professores e alunos traz as
qualidades paciente, carinhoso e amoroso como aquelas que precisam ser
desenvolvidas, sendo entendidas como competências necessárias ao exercício da
docência. Embora enfatizem a necessidade de estudar, ampliar seus conhecimentos,
estar atualizado, essas tarefas se referem à formação continuada e não à inicial, que é
distorcida. O curso de Pedagogia é considerado bom, as disciplinas são todas
importantes, porém a formação não contribui significativamente para dar aula. Por essa
razão os alunos se sentem preparados apenas para serem pedagogos, o que pressupõe
não dar aula. Se ao ingressarem os alunos pareciam ancorar os sentidos de dar aula nos
modos de dar aula de seus professores, ao concluírem o curso, parecem ancorá-los no
planejamento da ação pedagógica, entendido como um processo de racionalização,
organização e coordenação da ação docente e que necessita conhecimento e
responsabilidade para executá-la.
Palavras-chave: representação social dar aula alunos ingressantes alunos
concluintes - Pedagogia
8
ABSTRACT
This qualitative research sought the social representations to give aimed lessons by the
fifty-one graduated students of Pedagogy offered by private university located in Rio de
Janeiro and compared them with those lessons which the students also aimed when
these entered in Higher Education. The Theoretical-Methodological benchmark which
was adopted combine the purposed structural approach of the representations by Abric
(1994) and the procedural perspective introduced by Moscovici (1978) and developed
by Jodelet (1989). The following multi-methodological approach was developed due to
the complexity of the survey of the representations: (1) free evocation test which
includes the inducing expression of teaching. This test is applied in two periods: in the
entering and in the finishing of the graduation. The evocated words were submitted to
the software EVOC. In the central nucleus of social representation by teaching as
entering students were found the students and teaching elements; as finishing students
were found teaching and planning ones. (2) 20 Personal interviews were done in two
focal groups of students in order to understanding the elements’ meaning identified. (3)
Analysis of the study program, the disciplines referring to “teaching” activity –
Didactic, Teaching Practice, Curricula and study programs and training programs – their
aims, the indicated bibliographies and their contents. (4)Analysis of material provided
by professors in their folders; (5) Analysis of the students notes in the classroom; and
(6) Analysis of the Announcements of the Call for tenders to the Teaching of the
Secretary of the Education around last three years. The main results of the analysis are
that: the slogan “teaching is a serious business” involve having aims and anchoring. In
respect of having aims, any kind of students careless was strengthened. This allows that
the interpersonal relations become the most potential teachers’ concerns. The emphasis
on the relationships between teachers and students show good points: be patient, loving.
However, there are other good points which need to be developed, that is, skills for the
teaching practice. The tasks refer to ongoing education not to the initial formation,
although there is a emphasis on need to study, expanding the knowledge, keeping
updated. Normally, these questions are mixed up. Pedagogy is said to be a good
graduation. All its disciplines are important; however the formation doesn’t contribute
when teaching. Because of that, students think they are only ready to be pedagogues. It
doesn’t mean teaching. When students enter in university, they wish teaching like their
professors, but when they are in the end of their graduation, they realize that have to
plan the pedagogical process, that is, the rationalization process, organization and
coordination of educational action which needs knowledge and responsibility to perform
it.
Keywords: social representation, teaching, initial formation, ongoing formation,
Pedagogy.
9
SUMÁRIO
Introdução ............................................................................................
9
Capítulo 1 – Identidade, Formação e Trabalho Docente ................
17
Capítulo 2 – A Teoria das Representações Sociais ...........................
26
2.1 - A Teoria do Núcleo Central .......................................................................
32
2.1.1 – Trabalhando com o Núcleo Central ..............................................................
34
Capítulo 3 – O Curso de Pedagogia na Instituição de Ensino
Superior ................................................................................................
38
3.1 - A Instituição de Ensino Superior e a proposta curricular do Curso de
Pedagogia .............................................................................................................
42
3.1.1 - Análise da matriz curricular ..............................................................................
44
3.1.2 – Análise das ementas e objetivos propostos .......................................................
45
3.1.3 – Análise das bibliografias ....................................................................................
51
Capítulo 4 – Representações Sociais de dar Aula ............................
62
Conclusão .............................................................................................
87
Referências ...........................................................................................
91
Apêndices .............................................................................................
99
Anexos ..................................................................................................
103
10
INTRODUÇÃO
Em 2005, quando ingressei em uma Instituição de Ensino Superior (IES) como
professora da disciplina Metodologia do Ensino Básico no curso de Pedagogia,
encontrei alguns desafios. Primeiramente, observei que dois terços do universo dos
alunos desse curso eram compostos por professores que atuavam no Ensino
Fundamental e que, por conta da exigência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB n. 9394) promulgada em 1996, recorreram à graduação conforme
determinado em seu artigo 62:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em
nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação, admitida, como
formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil
e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em
nível médio, na modalidade Normal (BRASIL, 1996).
Este artigo estabelece uma inovação no que se refere à formação dos
profissionais da educação e, conforme afirma Saviani (2006, p. 218), “reside na criação
dos institutos superiores de educação como alternativa às universidades” (grifo do
autor). No artigo seguinte, é definido que esses institutos manterão
cursos para formação de profissionais da educação básica, incluído o
curso normal superior, para formar docentes para a educação infantil e
para as primeiras séries do ensino fundamental; formação pedagógica
para diplomados no ensino superior que queiram se dedicar à
educação básica; educação continuada para os profissionais da
educação, de modo geral (LDB 9394/96, Art. 63, inciso I, II,III).
Estabelecimentos de Ensino Fundamental exigiram, então, de seus docentes
comprovação de matrícula em graduação para atender ao disposto no Artigo 87,
parágrafo da LDB: “Até o fim da “Década da Educação”
1
somente serão admitidos
professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço”.
1
A Década da Educação foi imaginada pelo então senador Darcy Ribeiro, que apresentou sucessivas
versões de seu substitutivo da LDB, obtendo a última versão aprovada no Plenário do Senado em 08 de
fevereiro de 1996, com 91 artigos. Tal década seria o período em que a educação receberia atenção
especial da sociedade e do Estado, confiada ao Plano Nacional de Educação (Lei n. 10.172, de 9 de
janeiro de 2001, que aprova o Plano Nacional da Educação e especifica um aumento gradativo dos
recursos destinados à educação, de modo a atingir, ao término dos dez anos de vigência. a garantia do
êxito).
11
Na expectativa da formação docente em nível superior, as salas de aula dos
cursos de Pedagogia superlotaram, sendo a maioria de seus alunos vinculados ao
segmento do Ensino Fundamental, onde atuavam como docentes da rede pública ou
privada e ali estavam para cumprir a legislação. Exatamente o público que encontrei em
meu trabalho.
À época muito se discutiu a respeito do cumprimento da legislação, que tornava
obrigatório o nível superior como formação mínima para os docentes atuarem na
Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental e que registrava 2007
como o ano decisivo para que os professores cumprissem tal exigência, principalmente
os que ainda não haviam feito curso superior. Estes últimos acreditavam que poderiam
perderem seu emprego se não tivessem completado esse nível de ensino.
Esta dúvida se justificava devido a um tropeço na redação do Artigo 87 da LDB
9394/96. Como a Década da Educação teve início em 1997, um ano após a promulgação
da lei, 2007 apareceria como um ponto sem retorno, a partir do qual não mais seriam
admitidos os que não tivessem concluído o ensino superior. Ocorre que, ao invés dos
legisladores escreverem "a partir
do fim da década", redigiram "até o fim da década".
Ao da letra, o que ficava valendo é que entre 1997 e 2007 seriam admitidos
aqueles que possuíssem nível superior, mas após o fim desse período isso deixava de ser
necessário.
Outras perguntas que os alunos faziam ora se referiam à possibilidade de
lecionarem na Educação Básica tendo somente o curso de Pedagogia, ora se o curso
Normal Superior oferecia o mesmo tipo de habilitação que a graduação em Pedagogia;
ora se o antigo Normal (formação em vel médio) iria acabar e seus certificados
perderiam a validade, ou se poderiam “entrar na justiça” se uma escola não os
contratasse por não terem curso superior para lecionar nas séries iniciais.
Essas dúvidas eram advindas da oferta de variados tipos de cursos de formação
para o magistério: normal médio, normal superior e Pedagogia, sendo necessário
esclarecer a eles que, quando se observam formatos curriculares diferenciados para a
formação docente, é preciso conhecer, conforme apontam Gonçalves e Donatoni (2006,
p. 2) as “transformações por que passou a pedagogia ao longo das décadas, sobretudo as
relativas à pedagogia e à identidade profissional no âmbito histórico, epistemológico e
filosófico”. Isso os ajudaria no entendimento sobre a validade de seus diplomas, o
programa de ensino e a grade curricular de seu próprio curso, a profissão que estavam
prestes a abraçar e as atividades que viriam a realizar no âmbito desta profissão.
12
Assim, tomando como ponto de partida o estudo realizado por Silva (1999), que
reconhece a existência de quatro períodos na gênese do curso de Pedagogia
2
, pode-se
verificar que as primeiras propostas para esses cursos valorizavam o “estudo da forma
de ensinar”, regulamentadas pelo Decreto-Lei n 1.190/1939 (BRASIL, 1939) que o
definia como lugar de formação de “técnicos em educação”. Desde então, este curso
vem passando por modificações legais que definem os objetivos, princípios, finalidades
e o perfil do licenciado em Pedagogia. Dentre estas se destacam: Parecer CNE/CP n
5/2005 (BRASIL, 2005), que define as Diretrizes Nacionais para o Curso de Pedagogia;
Parecer CNE/CP n 3/2006 (BRASIL, 2006a), que reexamina o Parecer anterior; e a
Resolução CNE/CP n 1/2006 (BRASIL, 2006b), que institui as Diretrizes Curriculares
Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia na modalidade Licenciatura.
A Resolução n 1/2006 em seu Artigo 2º registra que
as Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à
formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino
Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional
na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas
quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos
(BRASIL,
2006b).
E, em seu Artigo 6º, que trata da estrutura do curso de Pedagogia, estabelece que
esta, entre outras atividades, inclui:
e) aplicação, em práticas educativas, de conhecimentos de processos
de desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos, nas
dimensões física, cognitiva, afetiva, estética, cultural, lúdica, artística,
ética e biossocial; h) estudo da Didática, de teorias e metodologias
pedagógicas, de processos de organização do trabalho docente (idem).
Mas, cabe lembrar, que o universo dos alunos de Curso de Pedagogia não é
composto somente por alunos-professores atuantes nas séries iniciais do Ensino
Fundamental que buscam atender à exigência da legislação. Nele cresce o número de
alunos sem experiência docente e/ou formação em nível médio para o exercício do
magistério, o que torna a docência um grande desafio, pois “ensinar é trabalhar com
2
Os períodos são: (1) identidade questionada, marcado pela falta de regulamentações para o pedagogo;
(2) identidade projetada, caracterizado pelas indicações feitas por Valnir Chagas, em 1970, propõe a
extinção do curso de Pedagogia e a formação do pedagogo na pós graduação; (3) identidade em
discussão, marcado pela reativação, pelo MEC das indicações sustadas; e (4) período de identidade
outorgada, que começa em 6 de maio de 1999, quando a CEEP acata o documento apresentado pela
Anfope.
13
seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos” (TARDIF; LESSARD, 2007,
p.31).
Reconhecer dentre os alunos do Curso de Pedagogia aqueles quem têm alguma
experiência docente pode ser um caminho para iniciar debates que coloquem o trabalho
docente em foco. Mais ainda, identificar dentre eles aqueles que desejam exercer a
docência ao concluir a graduação, pode promover reflexões sobre aquela que considero
ser a principal atividade do magistério: dar aula.
Assim sendo, conhecer as expectativas de futuros professores em relação a sua
própria formação e a sua prática profissional e os saberes teórico-metodológicos que
construíram ao longo de sua trajetória acadêmica é relevante para compreender o
trabalho docente e desencadear novas práticas educativas, pois o processo ensino-
aprendizagem é um conjunto de práticas sociais fundamentadas na cultura própria dos
grupos, permeados por suas crenças, seus valores, suas vivências.
Nas duas últimas décadas, uma miríade de estudos sobre trabalho docente
contribuiu para entender os elementos que estruturam este tipo de empreendimento, que
requer do professor um fazer que atenda a uma diversidade de situações que ocorrem
articuladas e simultaneamente. Essa diversidade envolve aspectos tais como seleção de
conteúdos; organização de programas; escolha de metodologias; acompanhamento da
aprendizagem dos alunos; gestão da classe; estrutura organizacional; condições de
execução das tarefas propostas; opções didáticas; organização e âmbito das atividades;
organização do tempo e do espaço, que levam o professor a mobilizar os saberes
construídos durante a formação e no decorrer do exercício da profissão.
Autores como Freire (1994), Gauthier et al (1998), Guimarães (2004), Tardif
(2002), Tardif; Lessard (2007) e Therrien (1993) consideram que é possível perceber o
trabalho docente como espaço não apenas de mobilização de saberes, mas também de
produção de saberes. Esta perspectiva rompe com a visão do professor apenas como
transmissor de conhecimentos, mas também como produtor de conhecimentos, uma vez
que os saberes docentes estão articulados às situações do fazer do professor, sendo
mobilizados e produzidos nas relações que ele estabelece com o aluno e com outros
elementos que estão presentes em seu trabalho.
A relação de trabalho em qualquer profissão deve estar vinculada ao objeto de
trabalho. Nesse sentido, o trabalho docente exige modalidade adequada de trabalho, de
tecnologia e de conhecimentos diferenciados e constitui uma das chaves para a
compreensão das transformações atuais das sociedades do trabalho, quando se aponta a
14
docência como umas das mais antigas ocupações modernas. “A concepção de
transformação que caracteriza o mundo do trabalho docente constitui um momento
propício para refletir melhor e de maneira crítica sobre modelos teóricos do trabalho
tendo como referência à análise da docência” (TARDIF; LESSARD, 2007, p. 28).
Assim, de acordo com André e Passos (2008, p.1), “é fundamental que se
investigue as concepções e práticas do professor porque não só os conteúdos
trabalhados, mas as formas de trabalhá-los e os valores a eles associados são
relevantes”. Segundo as mesmas autoras, se não fizermos um esforço de
problematização de nossas práticas e se não tentarmos sistematicamente entender os
postulados dos saberes relativos ao ensino, criaremos um abismo cada vez maior entre
aquilo que defendemos e praticamos” (idem, p.6)
Nesse sentido, acredita-se que a presença de um “objeto-humano” modifica
profundamente a própria natureza do trabalho e a atividade do trabalhador. Torna-se
cada vez mais importante lançar um "novo olhar" sobre a forma como interagimos uns
com os outros e como construímos e partilhamos idéias, conceitos e conhecimentos,
pelas suas implicações no modo de interpretarmos, compreendermos e enfrentarmos os
problemas com que nos deparamos no nosso cotidiano.
A Teoria das Representações Sociais desenvolvida por Serge Moscovici (1978,
p. 41) toma com ponto de partida formas de conhecimento da vida cotidiana que têm a
função de possibilitar a comunicação entre os sujeitos e orientar comportamentos e que
ele definiu como representações sociais. Estas, conforme explica o autor, “circulam,
cruzam-se e se cristalizam incessantemente através de uma fala, um gesto, um encontro,
em nosso universo cotidiano”. São as nossas representações que regem as relações que
estabelecemos com os outros e com o mundo, sendo entendidas como "uma modalidade
de conhecimento socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático e
contribuindo para a construção de uma realidade comum a um conjunto social"
(JODELET, 2001, p. 17).
Para Jodelet (2001, p. 22) uma das principais seguidoras de Moscovici, a
representação social é “uma atividade de reestruturação cognitiva do indivíduo, através
da qual ele explica e justifica a identidade que forjou de si mesmo para ser aceito em um
grupo ou para justificar a sua não inserção em um dado grupo”. Portanto, a
representação social reflete sobre algum fenômeno estranho que se torna familiar ao
grupo; isto é, ela é gerada quando determinado fenômeno mobiliza um grupo social, no
sentido de familiarização.
15
Madeira (1998) ao refletir sobre as representações sociais as relaciona a uma
postura frente à educação e ao aprender, tomando as representações sociais como “um
saber prático”, como “sistema de interpretação” que rege nossa relação com o mundo e
com os outros e organiza as comunicações e as condutas sociais. Admite que para
entender os problemas da educação é preciso fazer um grande esforço, pois
a representação social traz em si a história, na história particular de
cada um. Nas variâncias de sua estrutura estão as particularidades de
cada sujeito e, em suas invariâncias, as marcas do sentido atribuído,
por determinados segmentos ou grupos ou, por sua totalidade, dado
um objeto (MADEIRA, 1998, p. 239).
A utilização do referencial teórico-metodológico das representações sociais é
assim pertinente ao escopo desta pesquisa, cujo objetivo é buscar indícios das
representações sociais de dar aula elaboradas por 51 alunos concluintes de curso de
Pedagogia e compará-las com as representações sociais de dar aula por eles produzidas
quando cursavam o primeiro ano da graduação, momento em que participaram da
primeira etapa da coleta de dados empreendida por pesquisadores do Centro
Internacional de Estudos em Representações Sociais e Subjetividade Educação
(CIERS-Ed).
A pesquisa do CIERS-Ed foi desenvolvida por diversas instituições parceiras,
nacionais e internacionais e denominada Representações Sociais do Trabalho Docente
3
.
Seu objetivo era analisar a representação social de trabalho docente produzidas por
estudantes universitários dos primeiros anos dos cursos de Pedagogia e de Formação de
Professores (Licenciatura) e identificar seus elementos constituintes. Isto possibilitaria
compreender a dinâmica da organização destes elementos, focalizar o sujeito que realiza
tal atividade, identificar o processo de construção de sua profissionalidade e a dinâmica
que define a “identidade de ser professor”. Seus primeiros resultados gerais foram
apresentados no III Seminário Internacional e Reunião Técnica dos Grupos de
Pesquisa Associados, em Aveiro, Portugal, em 2008.
Na primeira fase desse estudo participaram 2789 estudantes brasileiros que
responderam um questionário (ANEXO 1) que se inicia com uma questão de associação
livre sendo três as palavras indutoras: dar aula, professor e aluno. Deste total, 300
questionários foram aplicados a alunos que estudavam em diferentes universidades do
3
Ver www.fcc.org.br/pesquisa/ciers.html
16
município do Rio de Janeiro, sendo que desses, 281 cursavam Pedagogia. Foi solicitado
aos futuros professores que escrevessem quatro palavras que lhes viessem à mente
quando ouvissem as expressões indutoras. As palavras evocadas foram submetidas ao
software EVOC (cf. VÉRGES, 1994) que identifica os possíveis elementos do núcleo
central considerando a freqüência (F) e a ordem média de evocação (OME). No Núcleo
Central da representação social de dar aula encontraram-se os elementos ensinar e
aluno; para professor encontrou-se o elemento amigo; e para aluno, aprendente e
criança.
Meu interesse se voltou para as representações sociais de dar aula e, para
empreender a pesquisa em tela, foram localizados 51 alunos dentre os 281 que
participaram daquela primeira fase e que agora cursavam o último período de Pedagogia
em universidade particular localizada no município do Rio de Janeiro, na Baixada
Fluminense, e apontada como referência na região.
Para buscar indícios das representações sociais de dar aula produzidas por esses
alunos ao concluírem a graduação e compará-las com as representações sociais de dar
aula quando cursavam o primeiro ano, foram elaboradas as seguintes questões
norteadoras:
Que representações sociais de dar aula foram elaboradas por alunos do ano
de Pedagogia e que participaram da 1ª etapa da pesquisa do CIERS-Ed?
Que representações sociais de dar aula foram elaboradas pelos alunos que
participaram da etapa da pesquisa do CIERS-Ed e que agora estão no último
ano de Pedagogia?
Que mudanças podem ser verificadas nas representações de dar aula após a
trajetória acadêmica desses alunos?
Como esses alunos objetivam e onde ancoram as representações sociais de dar
aula?
Para responder a essas questões, foram elaborados quatro capítulos. O primeiro,
intitulado Identidade, Formação e Trabalho docente, focalizou a importância da
construção da identidade profissional docente abarcada pela relação da formação que
17
enfoca a valorização do saber docente e condições de trabalhos, assim ressaltando que o
professor é identificado como sujeito de um saber e de um fazer.
No segundo capítulo, A Teoria das Representações Sociais, é apresentado esse
referencial teórico-metodológico e discutida a Teoria do Núcleo Central.
No terceiro capítulo, intitulado O Curso de Pedagogia na Instituição de
Ensino Superior, é descrita a Instituição de Ensino Superior onde foi realizada a
pesquisa. Por meio de três seções são analisadas a matriz curricular do curso de
Pedagogia ali oferecido; ementas, objetivos propostos e bibliografias das disciplinas que
estão diretamente relacionadas a atividade docente “dar aula”: Didática I, Didática II,
Prática Pedagógica I (Recreação e Jogos Infantis), Prática Pedagógica II (Integração de
Conteúdos), Prática Pedagógica III (Arte e Educação), Prática Pedagógica IV e V
(Ensino Médio); Estágio Supervisionado; e Currículos e Programas.
O capítulo quatro, Representações Sociais de dar aula, mostra a metodologia
utilizada na coleta de dados no campo e os resultados encontrados.
A Conclusão evidencia que o curso oferecido na IES não contempla durante a
formação dos futuros professores um dos objetivos principais do Projeto Pedagógico do
Curso de Pedagogia que é ensinar a dar aula. Por essa razão os alunos se sentem
preparados apenas para serem pedagogos, o que pressupõe não dar aula.
18
CAPÍTULO 1
IDENTIDADE, FORMAÇÃO E TRABALHO DOCENTE
Os professores são, em geral, considerados os principais responsáveis pelo
desempenho dos alunos, da escola e do sistema no contexto de reformas educacionais.
Nessa perspectiva, é necessário fortalecer o papel do professor considerando sua
formação, as reflexões sobre a identidade docente nos dias de hoje e as condições de
trabalho, ressaltando a implementação das políticas educacionais que visam a melhorar
a educação brasileira. Vieira (2007, p. 20) considera necessário “institucionalizar
estratégias de universalização na educação, associadas às carreiras e ao piso salarial e,
progressivamente, extensivas a todos os profissionais da educação” visando a formação
fator diretamente vinculado à qualidade da educação.
Nesse sentido, ser professor exige modalidade adequada de trabalho, de
tecnologia e de conhecimentos diferenciados. A concepção de transformação que
caracteriza o mundo do trabalho docente constitui um momento propício para refletir
melhor e de maneira crítica sobre modelos teóricos do trabalho tendo como referência
análise da docência (TARDIF; LESSARD, 2007).
A crescente desvalorização do profissional da educação e a constante
precarização das condições de seu trabalho se tornam desafios a serem vencidos, o que
tem oportunizado diversos pesquisadores a dedicarem maior atenção ao estudo da
formação, da profissão, do trabalho e da identidade docente.
No Brasil, o magistério foi submetido a um processo contínuo de desvalorização,
em decorrência, principalmente do baixo salário dos professores, da
desprofissionalização e precarização de seu trabalho, e da formação deficitária,
articulando segmentos do setor da educação em torno de importantes bandeiras: a
universalização da educação básica, a valorização dos educadores e a gestão
democrática.
Muito se tem discutido sobre formação docente e esta constitui um processo que
implica em uma reflexão permanente sobre a natureza, os objetivos e as lógicas que
presidem a concepção de educador enquanto sujeito que transforma e ao mesmo tempo
é transformado pelas próprias contingências da profissão (FREIRE, 1994).
19
Conforme expõe Maia (2009), na década de 1960, os estudos sobre esse tema
docente enfatizavam o conhecimento das disciplinas; em 1970, aspectos didáticos-
metodológicos; em 1980, dimensão sócio-política e ideológica da prática pedagógica;
nos anos 90, compreensão da prática docente e dos saberes dos professores; novos
conceitos para compreensão do trabalho docente; separação entre formação e prática
cotidiana; focalizando a questão técnica e política do trabalho pedagógico.
Na segunda década do século passado, a LDB 9394/96 procurou situar o
professor como o eixo principal da qualidade da educação, apresentando alguns avanços
quanto à formação docente e trazendo em seu bojo questões essenciais como a
associação entre teoria e prática, a exigência do curso superior para educadores da
educação básica, infantil e ensino fundamental e a educação continuada para os
profissionais de educação de diversos níveis.
Contemplar a valorização do profissional da educação, abarca o aperfeiçoamento
continuado, a progressão funcional baseada na titulação e períodos reservados para
estudos. É o que as Diretrizes Nacionais para Formação de Professores da Educação
Básica explicita: a formação deverá garantir uma base comum de formação a todos os
professores, propiciando o repensar acerca do papel da escola, da prática educativa e do
trabalho do professor.
Pode-se definir trabalho de acordo com o Dicionário do Pensamento Social do
Século XX (OUTHWAITE; BOTTOMORE, 1996, p. 384), como o “esforço humano
dotado de um propósito e que envolve a transformação da natureza através do dispêndio
de capacidades físicas e mentais”. Portanto, trabalho é toda atividade na qual o ser
humano utiliza sua energia física e psíquica para satisfazer suas necessidades ou para
atingir um determinado fim, sendo elemento essencial da relação dialética entre o
homem e a natureza, entre o saber e o fazer, entre a teoria e a prática.
Ao focalizar a categoria trabalho, verifica-se que este permite ao homem
expandir suas energias, desenvolver sua criatividade e realizar suas potencialidades. É
através do trabalho que o homem acrescenta um mundo novo (a cultura) ao mundo
natural já existente. É trabalhando que o homem pode modificar o mundo e a si mesmo,
produzir cultura e se auto-produzir.
O trabalho é essencial para o funcionamento das sociedades. No lugar de servir,
trata-se agora de produzi-la. O conceito, a classificação e o valor atribuído ao trabalho
variam assim como as sociedades e seus agentes variam a forma como organizam,
interpretam e valorizam o trabalho. Enquanto existir uma sociedade, existirá trabalho,
20
pois aquela não pode existir sem este, conforme explica Lalive-d’Épinay (1994, p. 58):
O ser humano é definido ontologicamente como um ser do dever, o
trabalho subentendido o trabalho produtor de bens materiais é o
primeiro dos deveres, o meio por excelência de cumprimento dos
outros deveres; a noção de dever está estritamente associada ao
princípio de responsabilidade (ou liberdade) individual,
responsabilidade para consigo e para com os seus, no presente e no
futuro; a responsabilidade individual leva a adotar um comportamento
racional, quer dizer, o esforço, o trabalho, a previsão, a economia;
assim, a realização do indivíduo consiste em encontrar seu justo lugar
na sociedade, passa pela assunção de uma função e papéis precisos
ligados ao trabalho.
Portanto, é necessário o compreender o trabalho desenvolvido pelo professor,
pois a presença de um “objeto-humano” modifica profundamente a própria natureza do
trabalho e a atividade do trabalhador e “ensinar é trabalhar com seres humanos, sobre
seres humanos, para seres humanos” (TARDIF; LESSARD, 2007, p. 31).
Conforme afirmam André e Passos (2008) é fundamental que se investigue as
concepções e as práticas do professor porque não os conteúdos trabalhados, mas as
formas de trabalhá-los e os valores a eles associados são relevantes, pois contemplam o
processo ensino e aprendizagem. É também o que Tardif e Lessard (op.cit) enfatizam ao
defender que o trabalho docente repousa quotidianamente sobre inúmeras e variadas
interações com os alunos e também com os demais atores escolares.
Maia (2009) registra que o trabalho do professor envolve diferentes aspectos tais
como seleção de conteúdos, organização de programas, escolha de metodologias
adequadas para o ensino, acompanhamento da aprendizagem do aluno, gestão da classe,
estrutura organizacional, pressupostos, valores, diferentes entendimentos das políticas
educacionais, condições de trabalho, opções didáticas, organização e âmbito das
atividades, organização do tempo e do espaço. Na atividade docente, o professor
mobiliza saberes construídos durante sua formação e no decorrer do exercício da
profissão (NÓVOA, 1997).
Luckesi (1991, p. 92) ao abordar o tema afirma que o professor desenvolve uma
atividade intencional e que
deverá organizar o seu trabalho, tendo em vista executar mediações
que conduzam à consecução dos objetivos estabelecidos. Se tem como
meta o trabalho pela democratização da sociedade e se compreende
que esta não pode ocorrer sem que os sujeitos possuam sua
independência, importa que o educador, como profissional que tem
21
claro que o setor da Educação é uma das mediações sociais que podem
servir à luta pela democratização, deverá ter conhecimentos dos fins a
serem obtidos, assim como dos princípios e meios científicos e
tecnológicos disponíveis para a obtenção do que se
traçou como
resultado final de seu trabalho.
O trabalho docente constitui uma das chaves para a compreensão das
transformações atuais das sociedades do trabalho, quando se identifica a docência como
umas das mais antigas ocupações modernas. A relação de trabalho em qualquer
profissão deve estar relacionada com o objeto de trabalho. Nesse sentido, o trabalho
docente exige modalidade adequada de trabalho, de tecnologia e de conhecimentos
diferenciados. A concepção de transformação que caracteriza o mundo do trabalho
docente constitui um momento propício para refletir melhor e de maneira crítica sobre
modelos teóricos do trabalho como referência à análise da docência (TARDIF;
LESSARD, 2007).
Como ainda registram André e Passos (2008, p.5) “se não fizermos um esforço
de problematização de nossas práticas e se não tentarmos sistematicamente entender os
postulados dos saberes relativos ao ensino, criaremos um abismo cada vez maior entre
aquilo que defendemos e praticamos”. Assim, conhecer mais de perto quem é o
professor, quais suas condições de trabalho, as práticas que desenvolve e para quem, é
essencial aos estudos sobre trabalho docente.
No decorrer das últimas décadas, o magistério parece ter sido submetido a um
processo contínuo de desvalorização, em decorrência, dos baixos salários dos
professores, da desprofissionalização e da precarização de seu trabalho (cf.
PERRENOUD, 2002; SILVA JR, 2008; TARDIF; LESSARD, 2007, entre outros). As
condições de trabalho dos professores; o modo como sua atividade é realizada nas
escolas; as inúmeras atribuições que lhes são impostas; e as constantes mudanças na
política educacional são alguns dos fatores que influem sobre as expectativas e a
motivação dos professores para exercer sua profissão (OLIVEIRA, 2004).
Os estudos sobre o trabalho docente ganharam fôlego a partir dos anos 70 e vêm
ocupando cada vez mais espaço nas pesquisas sobre professores e suas práticas. Autores
como Marin; Sampaio (2004), por exemplo, analisam as atuais políticas de formação
docente e destacam fatores que propiciam a precarização e a desvalorização do trabalho
docente; Carrolo (1997), Lüdke; Boing (2004) e Sarti; Bueno (1997) focalizam o
desprestígio social sofrido pelos professores ao longo do tempo; Alves-Mazzotti (2007),
22
Freitas (2002) e Tardif; Lessard (2007) registram o acúmulo de atividade, agravada
muitas vezes pela dupla jornada de trabalho, como um dos aspectos que contribuem
para a desmotivação com o trabalho e que precipitam o abandono da profissão; Esteve
(1995) e Cordié (2003) enfatizam o mal estar docente, caracterizado pelo sofrimento
psíquico e esgotamento físico dos professores causados pelas deficiências nas condições
de trabalho
(cf. MAIA, 2009).
A pesquisa sobre o trabalho docente realizado por Souza e Fonseca (2006)
parece ratificar os resultados encontrados por tantos outros pesquisadores: os autores
apontam que as transformações sociais, políticas e econômicas ocorridas nos últimos 30
anos, impuseram nova organização ao trabalho do professor e à estruturação e
valorização das atividades docentes, delas decorrendo sua responsabilização pelas
constantes falhas no sistema educacional brasileiro, o que, consequentemente, provoca
alterações no perfil dos professores e as exigências pessoais e sociais quanto à eficácia
de sua atividade.
Hagemeyer (2004) considera que é necessário identificar as dimensões e
aspectos evidenciados pela prática pedagógica cotidiana, levando em conta as
exigências de mudanças expressas nas reformas e propostas educacionais oficiais, pois a
profissão docente se depara com um processo de valorização/desvalorização. Tal
processo evidencia uma crise na natureza da profissão docente que pode ser definida em
suas causas a partir do próprio processo sociocultural vivido pelos professores.
Hagemeyer (op. cit) afirma que nunca foi tão difícil ser professor como nos dias atuais,
pois foi retirada do professor a função de pensar/agir sobre o processo pedagógico.
No Brasil, a LDB 9394/96, o Plano Nacional de Educação (BRASIL, 2001) e o
Plano de Desenvolvimento da Educação (BRASIL, 2007) se referem ao trabalho e sua
regulação. Na LDB, é registrado que os sistemas de ensinos promoverão a valorização
dos profissionais da educação conforme incisos I a VI do artigo 67:
Como é possível verificar a valorização profissional se o plano de carreira e o
piso salarial não têm base fixada nem são apresentados caminhos concretos para sua
consolidação, ficando todos a cargo dos governos estaduais e municipais?
Em relação ao tempo dedicado para estudos, planejamento e avaliação dos
professores, estes estão incluídos em sua carga de trabalho. Entretanto, observa-se que
essas atividades são realizadas fora desse horário, pois quatro horas diárias são de
efetivo exercício em sala de aula, totalizando 20 horas semanais e cinco horas dedicadas
a planejamento, dividida muitas vezes entre planejamento, reuniões, estudos e demais
23
atividades demandadas pelo trabalho pedagógico. Além disso, a LDB contempla de
maneira subjetiva a condição adequada de trabalho, mas não explicita quais são as
condições mínimas necessárias para que o docente realize satisfatoriamente a sua
atividade educacional.
O Plano Nacional da Educação é resultado da pressão da sociedade, uma vez que
por iniciativa pública de sindicatos, professores, estudantes, pais, comunidade e
contando com o apoio de parlamentares, foi enviado ao Congresso. Entretanto, não
expressou preocupação com o profissional de educação como um todo, colocando em
discussão apenas sua formação.
Ao se pensar no magistério como profissão, faz-se necessário recorrer ao Plano
de Desenvolvimento da Educação e verificar o que é referido ao Piso Nacional Salarial
do Magistério: professor é a primeira categoria profissional a ter um piso salarial
nacional definido em Constituição. Nesse sentido, de acordo com a Lei, os professores
da educação básica pública dos estados, dos municípios, do Distrito Federal e da União
serão beneficiados com o piso nacional do magistério no valor de novecentos e
cinquenta reais, valor a ser pago em 2010, sofrendo reajustes anuais.
A constante precarização das condições de trabalho e a crescente desvalorização
do profissional da educação têm oportunizado pesquisadores a dedicar maior atenção ao
estudo da identidade docente. Dentre eles, se sobressaem os estudos das representações
sociais de professores, uma vez que conceitos, políticas, diretrizes e normas afetos a
estes e a outros objetos do campo da Educação são interpretados e ressignificados pelos
profissionais da área.
Maia (2005), em sua tese de doutorado, mostra que trabalhos desenvolvidos no
final do século passado sobre a educação para o século XXI tornaram-se amplamente
conhecidos e tomados como referência pelos professores. Para ela, por exemplo, o
Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século
XXI, (DELORS, 1999) indicava que o homem do século XXI deveria desenvolver
quatro aprendizagens fundamentais que seriam os pilares do seu conhecimento: adquirir
os instrumentos da compreensão (aprender a conhecer); agir sobre o meio envolvente
(aprender a fazer); participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas
(aprender a conviver); e aprender a ser, que integra as três procedentes; Morin (2000),
ao aprofundar a visão transdisciplinar da educação, propunha sete saberes necessários à
educação do homem do futuro: as cegueiras do conhecimento; o erro e a ilusão; os
princípios do conhecimento pertinente; ensinar a condição humana; ensinar a identidade
24
terrena; enfrentar as incertezas; ensinar a compreensão; ensinar a ética do gênero
humano; e Gutiérrez e Prado (2000, p. 37-38) ao abordarem o tema “ecopedagogia”,
consideravam que o homem do novo século precisaria ser redimensionado, individual e
coletivamente, nos obrigando a uma “profunda mudança de valores, relações e
significações como parte do todo global”.
A temática da identidade constitui relevante objeto de estudo para a teoria social
e para a área da educação. Entender identidade consiste, nesse caso, em saber quem
somos em meio aos significados atribuídos pelos outros, conforme afirmam Moreira e
Câmara (2008).
Segundo autores que trabalham a identidade a partir da teorização cultural,
identidade é um processo, uma produção, algo em movimento, em transformação,
sempre inacabado e construído socialmente. Silva (2000, p. 96-97) assim a ela se refere:
primeiramente, a identidade não é uma essência; não é um dado ou um
fato – seja da natureza, seja da cultura. A identidade não é fixa,
estável, coerente, unificada, permanente. A identidade tampouco é
homogênea, definitiva, acabada, idêntica, transcendental. Por outro
lado, podemos dizer que a identidade é uma construção, um efeito, um
processo de produção, uma relação, um ato performativo. A
identidade é instável, contraditória, fragmentada, inconsistente,
inacabada. A identidade está ligada a sistemas de representação. A
identidade tem estreitas conexões com relações de poder.
Se antes as identidades eram sólidas localizações nas quais os indivíduos se
encaixavam socialmente, hoje elas se encontram com fronteiras menos definidas que
provocam no indivíduo uma crise de identidade (HALL, 2005).
Hall (op. cit) analisa o processo de fragmentação do indivíduo moderno
enfatizando o surgimento de novas identidades, sujeitas agora ao plano da história, da
política, da representação e da diferença. Todos esses aspectos se constituem como fases
de um procedimento analítico que intenta descrever o processo de deslocamento das
estruturas tradicionais ocorridas nas sociedades modernas assim como o descentramento
dos quadros de referências que ligavam o indivíduo ao seu mundo social e cultural. Tais
mudanças teriam sido ocasionadas na contemporaneidade, principalmente, pelo
processo de globalização.
A globalização alteraria as noções de tempo e de espaço, desalojaria o sistema
social e as estruturas fixas e possibilitaria o surgimento de uma pluralização dos centros
de exercício do poder. Quanto ao descentramento dos sistemas de referências, Hall
25
(2005) considera seus efeitos nas identidades modernas, enfatizando as identidades
nacionais, observando o que gerou, quais as formas e quais as conseqüências da crise
dos paradigmas do final do século XX.
Para enfocar questões sobre identidade docente é necessário referir a construção
da identidade profissional docente, uma vez que a formação inicial de professores é
entendida como prioridade na educação brasileira e se refere à formação profissional.
Nóvoa (1999) dirige seu foco de atenção à voz do professor. Para esse autor a
profissão docente foi reduzida a um conjunto de competências e técnicas, gerando uma
crise de identidade em decorrência de uma separação entre o eu profissional e o eu
pessoal. Do seu ponto de vista, os estudos sobre trabalho docente devem levar em conta
diferentes aspectos da história do professor e considerar os saberes construídos pelos
professores. Para ele, cada professor “tem o seu modo próprio de organizar as aulas, de
se movimentar na sala, de dirigir-se aos alunos, de utilizar os meios pedagógicos, um
modo que constitui uma segunda pele profissional” (NÓVOA, 1997, p. 16).
A ênfase nos saberes docentes proporcionou discussões sobre sua relação com a
identidade da profissão docente. Autores como Tardif e Lessard (2007), consideram que
os saberes vão se constituindo a partir de uma reflexão na e sobre a prática,
constituindo, por sua vez, novo paradigma na formação de professores. O professor é
identificado como sujeito de um saber e de um fazer, pois o “conhecimento profissional
é construído ao longo da carreira, apesar das características e trajetórias distintas, o qual
precisa ser conhecido, já que o mesmo norteia a prática educativa” (SILVA, 1995).
A educação é vista como fator de desenvolvimento e transformação humana.
Para tanto, um de seus pontos cruciais é uma formação docente que oriente futuros
professores no sentido de conviver com seus alunos observando os seus
comportamentos, sua maneira de ser, conversando com ele, perguntando, sendo
interrogado por ele e realizando em conjunto suas experiências e vivências, a fim de
auxiliar no processo ensino e aprendizagem e no desenvolvimento.
Nesse sentido, Pimenta (1996) afirma que a educação, não retrata e reproduz
a sociedade, mas também projeta a sociedade desejada. Por isso, vincula-se
profundamente ao processo civilizatório e humano. A autora considera que enquanto
prática pedagógica, a educação tem, historicamente, o desafio de responder às demandas
que os contextos lhes colocam.
Sendo assim, a pesquisa aqui desenvolvida sobre as representações sociais de
dar aula elaboradas por “futuros profissionais” é relevante para compreender o trabalho
26
e a prática docente, pois foi encontrado um único estudo sobre representações sociais de
prática docente no banco de dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES). Intitulado “As representações sociais do ingresso na formação
continuada e da ressignificação da prática docente” (COSTA, 2004), o objetivo era
investigar as representações sociais de ingresso na formação em serviço e de
repercussão do processo formativo sobre a mudança da prática docente por um grupo de
professores formados e formandos de um Instituto de Educação Superior de Natal, Rio
Grande do Norte. Seus resultados indicaram que a formação continuada é considerada
como a (re)construção da formação ao longo do processo formativo e esta
ressignificação incide positivamente na modificação das representações do trabalho
pedagógico e no processo de construção de uma nova identidade profissional.
27
CAPÍTULO 2
A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
As Representações Sociais, conforme explica Jovchelovitch (2008, p. 199), “são
criadas no contexto de esferas públicas destradicionalizadas
4
, onde comunidades são
confrontadas com a diversidade de mundos da vida, práticas que desafiam
constantemente as estruturas de realidades”. Têm, portanto, menos dependência do
conhecimento adquirido tradicionalmente tomando-o como dado e fazem do novo uma
característica comum do cotidiano.
O conceito de representação social foi inicialmente introduzido pelo psicólogo
francês Serge Moscovici em seu trabalho intitulado “A psicanálise: sua imagem e seu
público”, publicado em 1961, na França. Nessa pesquisa, o autor estudou as formas
como a teoria psicanalítica se difundiu no pensamento popular francês e afirmou que
“uma representação é sempre uma representação de alguém, tanto quanto de alguma
coisa e não existem separadas” (MOSCOVICI, 1978, p. 27).
A partir dessa afirmação, estudiosos das representações sociais na cada de 70,
entre eles Celso Sá, questionaram se tudo, então, seria representação social. O autor
explica que “para gerar representações sociais o objeto deveria ter suficiente relevância
cultural ou espessura social (SÁ, 1998, p. 45, grifo do autor). Para abordar o
problema da identificação dos fenômenos de representação social é preciso partir da
construção do objeto de pesquisa, isto é, “não faz sentido tentar estudar a representação
de algum objeto por um dado conjunto social se esse fenômeno não existe” (idem p.
46). Como explica Ibañez (1988 apud SÁ, 1998, p. 46):
O fato de que as representações sociais sejam estruturadas nos indica
(...) que não por que existir uma representação social para cada
objeto em que possamos pensar. Pode ser que um determinado objeto
lugar tão-somente a uma série de opiniões e de imagens
relativamente desconexas. Isto nos indica também que nem todos os
grupos ou categorias sociais tenham que participar de uma [dada]
representação social (...). É possível, por exemplo, que um grupo
tenha uma representação social de certo objeto e que outro grupo se
4
As tradições não permanecem impermeáveis, elas são revisadas e defendidas, assim perdem
precisamente a forma inabalável e inquestionável que, originalmente, as definem. (BECK et al., 1994;
HEELAS et al., 1996 apud JOVCHELOVITCH, 2008).
28
caracterize tão-somente pelo fato de dispor de um conjunto de
opiniões, de informações ou de imagens acerca desse mesmo objeto,
sem que isso suponha a existência de uma representação social.
Jodelet (1989 apud SÁ, 2002, p. 32) ressalta que uma “representação social é
uma forma de saber prático que liga um sujeito a um objeto” e que este pode ser “de
natureza social, material ou ideal, encontrando-se em uma relação de simbolização (está
no lugar) e de interpretação (confere-lhe significados)”, sendo sempre representação de
alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito). Afirma ainda que representar ou se
representar corresponde a um ato de pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um
objeto.
Cada sujeito elabora e lança mão de representações sociais de algo que tem
relação com o grupo ao qual pertence. Não se trata de opiniões sobre o objeto de
representação ou imagens. As representações sociais são aplicadas ao objeto e
promovem transformação para convertê-lo em conhecimento que pode ser utilizado e
compartilhado cotidianamente, regendo comportamentos. Madeira (1991, p. 129) ao
citar Moscovici, aponta que “as representações são fenômenos complexos que
extrapolam categorias puramente lógicas e invariantes”.
Tal complexidade, conforme registra Moscovici (1976 apud SÁ, 2002) em sua
obra seminal, expõe a dificuldade de se captar o conceito de representações sociais, o
que também é apontado por Doise (2001, p. 207), para quem “o conceito de
representações sociais o está perfeitamente claro. Padece de um conteúdo demasiado
amplo e mal definido. Não é facilmente apreendido intuitivamente e ganha sentido
graças ao uso concreto”.
Moscovici partiu do conceito de representação coletiva de Durkheim, que
designava a especificidade do pensamento social em relação ao pensamento individual.
Pensou com e contra Durkheim, e com ele compreendeu o poder da representação para
construir ambientes e confrontar atores sociais como uma força externa, como um fato
social.
Durkheim (1968 apud MOSCOVICI, 2001) foi o primeiro a identificar tais
objetos como produções mentais sociais extraídos de um estudo sobre a ideação
coletiva. Durkheim definiu as representações coletivas como um conjunto de idéias e
sentimentos partilhados e combinados que vão se acumulando no decorrer do tempo e
que são utilizados e assimilados pelos indivíduos na sociedade. Como para Durkheim
qualquer coisa dentro da sociedade era representação, ele não se importava com a sua
29
estrutura ou dinâmica interna. Para Moscovici (2003, p. 45), “as representações
coletivas de Durkheim incluíam excessos de formas intelectuais, [sendo assim] qualquer
crença, idéia ou emoção presente na sociedade, era considerada uma representação”.
Durkheim tinha uma concepção estática das representações, mas na sociedade
atual, que é a que interessa a Moscovici, as representações possuem caráter plástico, são
consideradas dinâmicas:
Se, no sentido clássico, as representações coletivas constituem em um
instrumento explanatório e se referem a uma classe geral de ideias e
crenças (ciência, mito, religião, etc.), para nós, são fenômenos que
necessitam ser descritos e explicados. São fenômenos específicos que
estão relacionados com um modo particular de compreender e de se
comunicar — um modo que cria tanto a realidade como o senso
comum. É para enfatizar essa de “coletivo” (MOSCOVICI, 2003, p.
49).
Na perspectiva de Moscovici, conforme explica (1993), as representações
deveriam ser reduzidas a formas de conhecimento da vida cotidiana, com a função de
possibilitar a comunicação entre os sujeitos e orientar comportamentos. “São ao mesmo
tempo geradas e adquiridas, retira-se-lhes este caráter preestabelecido, estático, que elas
tinham numa visão clássica. Não são os substratos, mas as interações que contam”
(MOSCOVICI, 1989 apud MADEIRA, 1991, p.129). Portanto, as representações
sociais são entendidas como fenômenos que possuem caráter dinâmico; são formas de
conhecimento da vida cotidiana, tendo por função a elaboração de comportamentos e a
comunicação entre indivíduos.
Moscovici (1978) cria um novo conceito, insistindo sobre a especificidade dos
fenômenos representativos nas sociedades contemporâneas, caracterizadas pela
intensidade e fluidez das trocas e comunicações, pela pluralidade e mobilidade sociais.
Para ele, o estudo de “como, e por que, as pessoas partilham o conhecimento e desse
modo constituem sua realidade comum, de como eles transformam ideias em prática
numa palavra, o poder das ideias – é o problema específico da psicologia social”
(DUVEN, 2003 apud MOSCOVICI, 2003, p. 8).
Durante quatro décadas, Moscovici e seus seguidores, deram continuidade ao
estudo das representações sociais e desenvolveram a ideia da construção duma
psicologia social do conhecimento que caracteriza uma interação e comunicação ligada
aos interesses humanos, tomando uma forma e uma configuração específica a qualquer
momento consequente dos processos de influência social. O autor enfatiza que seu
30
trabalho sobre representações sociais refere-se a “um sistema de valores, ideias e
práticas, com uma dupla função” (MOSCOVICI, 2003, p. 21).
Conforme discute (2002, p. 23), “as representações sociais são reconhecidas
como fenômenos psicossociais históricas e culturalmente condicionadas” e sua
explicação se ao vel de análise posicional, ideológico, intrapessoal e interpessoal,
circulando “através da comunicação social cotidiana e se diferenciam de acordo com os
conjuntos sociais que as elaboram e as utilizam”(idem).
As representações sociais são, portanto, elaboradas e compartilhadas
socialmente e influenciam a forma como os grupos sociais e os indivíduos vêem a
realidade, se comunicam entre si e agem sobre ela. São sustentadas pelas influências
sociais da comunicação, constituem a realidade da vida cotidiana e servem como meio
para estabelecer as associações com as quais nos ligamos uns com os outros
(MOSCOVICI, 2003). Para tanto, evidenciar as relações dos indivíduos e suas
influências sociais recorremos à Doise (1986 apud MADEIRA, 1991, p. 136) ao afirmar
que as “representações sociais são princípios geradores de tomadas de posição ligadas a
inserções específicas num conjunto de relações sociais e organizam os processos
simbólicos que intervêm nestas relações”.
Para Jodelet (2001, p.26), “os estudos de representações têm como matéria
objetos nos quais identificam-se as implicações dos conflitos de idéias e
valores”.Assim, se faz necessário dizer que as representações sociais oferecem
referências para interpretação da realidade e favorecem a construção de valores,
necessidades, interesses de um mesmo grupo. E se diferentes grupos representam um
mesmo objeto segundo sua forma própria, o conhecimento apreendido do objeto passa a
fazer parte no grupo, de suas conversas, aparecendo na forma de frases, visões, jargões,
ditados, preconceitos, estereótipos, soluções e propiciando um efeito de realidade para o
indivíduo.
Jodelet (1984 apud MADEIRA, 1991, p.141) ressalta ainda que a representação
não se inscreve no vazio, ela “encontra sempre um pensado, latente ou manifesto” o
que caracteriza o encontro do novo com este estabelecido gerando o confronto de um
processo complexo de relações. Devido à sua importância na vida social, é tão
fundamental como o estudo do conhecimento científico, uma vez que são as nossas
representações que regem as relações que estabelecemos com os outros e com o mundo
e conectando um sujeito a um objeto.
As representações sociais explicitam como um grupo se relaciona com um dado
31
objeto social, servindo de guia para a ação, orientam a comunicação e a relação com o
mundo e os outros. Ao compreender a ideia de sujeito, de grupo e a relação dos
interesses sociais, reconhecemos que os grupos inventam, diferenciam ou interpretam os
objetos sociais, ou seja, as representações de outros grupos.
Ao construir sua representação de um objeto, o sujeito, de certa forma, o
constitui, o reconstrói em seu sistema cognitivo, “vinculando-os a um sistema de
valores, de noções e práticas que confere aos indivíduos as formas de se orientarem no
meio social e material e de o dominarem”, o que, por sua vez, depende de sua história e
do contexto social e ideológico no qual está inserido (MOSCOVICI, 1978, p. 27)
Nesse sentido Shimizu (1998, p. 109-110) afirma que:
As representações sociais são integradoras por não separarem o que é
exterior (objeto) do que é interior (indivíduo ou grupo), sendo o objeto
parcialmente concebido como o prolongamento do comportamento de
um indivíduo ou grupo, existente em função dos meios que permitem
seu conhecimento e, simultaneamente, o indivíduo ou grupo podem
ser constituídos ao situarem-se no universo social e material por
intermédio deste mesmo objeto.
Moscovici (1969) registra que o universo interno e o universo externo do
indivíduo ou do grupo não são separados; o objeto pertence a um contexto ativo, que
por sua vez é concebido pelo indivíduo ou grupo enquanto prolongamento de seu
comportamento, atitudes e normas às quais ele se refere.
Assim, entende-se que a representação social se refere a algum fenômeno
estranho que se torna familiar ao grupo; isto é, ela “é gerada quando determinado
fenômeno mobiliza um grupo social, no sentido de familiarização, remetendo-nos que
uma representação. É sempre uma representação de alguém, tanto quanto de alguma
coisa” (MOSCOVICI, 2003, p. 106). É um sinal e a reprodução de um objeto
socialmente valorizado.
Todas as interações humanas sejam elas entre duas pessoas, entre pessoas e
grupos ou entre dois grupos, pressupõem representações; “na realidade é isso que as
caracteriza” (op. cit, p. 40). Dessa forma, Moscovici mostra que as representações
sociais se constituem pelo “intercâmbio entre intersubjetividades e o coletivo na
construção de um saber que não se dá apenas como um processo cognitivo (Piaget), mas
que contém aspectos inconscientes (Freud), emocionais e afetivos tanto na produção
como na produção das representações sociais” (LANE, 1993, p. 60).
32
Alves-Mazzotti (2007) considera que ao desenvolver sua grand théorie
psicossociológica, que estabeleceu a matriz teórica a partir da qual têm sido
desenvolvidas abordagens que buscam aprofundar aspectos específicos, Moscovici
(1978) focalizou sua gênese e enfatizou os processos geradores das representações
sociais, definindo dois mecanismos que as formam: a ancoragem e a objetivação, “que
se encontram em relação dialética e que permitem a construção de um núcleo figurativo
que se apresenta com uma estrutura figurativa e simbólica” (MARCONDES; SOUZA,
2003, p. 2).
A ancoragem diz respeito aos processos de classificação e rotulação, os quais
implicam o estabelecimento de uma rede de significações em torno do objeto,
relacionando-o a valores e práticas sociais compartilhadas pelo grupo, demonstrando o
enraizamento social da representação e de seu objeto, que “consiste na incorporação do
estranho numa rede de categorias mais familiares” (SEMIN, 2001, p. 190).
Para Moscovici, ancorar é classificar e rotular e utilizamos esse processo para
nos familiarizar com algo que nos é estranho e, consequentemente, ameaçador; objetivar
é reabsorver o excesso de significações, materializando-as. A ancoragem está ligada aos
valores, crenças e atitudes, uma rede de significados por meio dos quais a novidade é
nomeada, classificada e interpretada.
A objetivação se refere às informações e noções relativas ao objeto que são
filtradas, “condensando-se em imagens ou esquemas, tornando concreto o abstrato,
muda o relacional do saber científico em imagem de uma coisa” materializando a
palavra (idem). Pode ser definida como a transformação de uma idéia, de um conceito,
ou de uma opinião em algo concreto, unindo a ideia do não familiar com a de realidade.
Cristaliza-se a partir de um processo figurativo e social e passa a constituir o núcleo
central de uma determinada representação, seguidamente evocada, concretizada e
disseminada como se fosse “o real daqueles que a expressam, surgindo fórmulas e
clichês que o sintetizam e imagens, que eram antes distintas e aglomeram-se ao seu
redor”. (MOSCOVICI, 2003, p. 73)
A objetivação contribui para tornar a interpretação consensual, traduzindo-a em
imagem. Consiste no processo de integração cognitiva do objeto representado para um
sistema de pensamento social preexistente e para as transformações, histórica e
culturalmente situadas, implícitas em tal processo.
Abric (1998) define a representação como uma visão funcional do mundo, que,
por sua vez, permite ao indivíduo ou grupo dar um sentido às suas condutas e
33
compreender a realidade através de seu próprio sistema de referencias, constituindo um
conjunto de informações, crenças, atitudes e opiniões acerca de um dado objeto. É este
autor que desenvolve a Teoria do Núcleo Central.
2.1 - A Teoria do Núcleo Central
Jean-Claude Abric dedica-se à estrutura das representações sociais e elabora, em
1976, a perspectiva do núcleo central defendendo a necessidade de desenvolver a idéia
de centralidade na organização de uma representação social.
De acordo com o autor, as representações sociais são “o conjunto organizado de
informações, atitudes, crenças que um indivíduo ou um grupo elabora a propósito de um
objeto, de uma situação, de um conceito, de outros indivíduos ou grupos, apresentando-
se, portanto, como uma visão subjetiva e social da realidade” (ABRIC, 2001, p. 156).
Para ele, em toda representação social um organismo sistêmico, estruturado a partir
de um núcleo central e um sistema periférico. Sua teoria se articula em torno de uma
hipótese geral: “toda representação se organiza em torno de um núcleo central” (idem,
p. 162).
A Teoria do Núcleo Central é definida como abordagem complementar ou
abordagem estrutural das representações. Abric (1998) retoma a idéia de modelo
figurativo proposta por Moscovici “naquilo que ela ultrapassa o quadro puramente
genético e trata da estrutura de uma representação constituída” (MOLINER, 1996 apud
CAMPOS, 2003, p. 22) e propõe que a representação social seja regida por um sistema
interno denominado sistema central e como complemento um sistema periférico.
Nesta perspectiva, a representação social de um objeto é organizada em torno de
um núcleo central, constituído por um ou mais elementos que determinam, ao mesmo
tempo, sua significação e sua organização interna, que “não muda facilmente, e um
sistema periférico que serve de pára-choque entre uma realidade que o questiona”.
(FLAMENT, 2001, p. 178).
Ao focalizar a abordagem estrutural proposta por Abric, Campos (2003, p. 21-
22) esclarece as características desse duplo sistema: o sistema central e o sistema
periférico. O primeiro
é estável, coerente, consensual e historicamente determinado, sendo
também ligado às normas e aos valores sociais, constituído pelo
núcleo central e define a organização e o significado da representação.
É “um subconjunto da representação, composto de um ou alguns
34
elementos em torno do qual as representações sociais são organizadas.
O núcleo central é determinado pela natureza do objeto ou pelo tipo de relação
existente entre o grupo e o objeto. Compreende os elementos consensuais que definem a
representação e organizam os demais elementos, que geralmente são mais abstratos. O
núcleo central à representação social o seu significado (ABRIC, 1994). A descrição
de uma representação em termos estruturais é equivalente a identificar os elementos que
compõem o seu núcleo central e buscar os valores e sentidos a eles atribuídos.
A ausência do núcleo central “desestruturaria a representação ou daria uma
significação completamente diferente à representação em seu conjunto” (ABRIC, 2001,
p. 163). O núcleo central é todo elemento que desempenha um papel privilegiado na
representação, no sentido que os outros elementos dependem dele diretamente porque é
em relação a ele que se definem seu peso e seu valor para o sujeito. É importante
salientar que qualquer mudança no elemento central da representação acarreta alteração
na estrutura da representação.
Assim sendo, o núcleo central é o que caracteriza uma representação em si, ou
seja, é o que lhe confere estabilidade e identidade. Consequentemente, é o elemento da
representação mais estável e resistente à mudança. A identificação dos elementos
centrais de uma representação obedece a procedimentos refinados de análise de dados e
a provas de teste de centralidade
5
.
Quanto ao segundo sistema, Flament (1987 apud CAMPOS, 2003, p. 26)
considera os elementos periféricos responsáveis pela estruturação e estabilidade de uma
representação social, “gerando o significado que atravessa a representação inteira”.
Considera que duas representações diferem se seus núcleos centrais forem diferentes,
mas destaca que duas subpopulações podem ter a o mesmo núcleo central, porém, se os
elementos periféricos foram ativados desigualmente, isso quer dizer que os discursos
são diferentes (FLAMENT, 2001).
5
Para Moliner (1994, apud Sá, 2002), a freqüência alta e a prontidão de evocação de determinados
elementos não assegura que eles realmente pertençam ao núcleo central da representação, dado que
aquelas seriam simples decorrência quantitativa de uma ‘propriedade fundamental das cognições centrais,
que reside no laço simbólico que as liga ao objeto de representação’ (p.154). A partir da consideração de
que a ausência de tais elementos, verdadeiramente centrais, implicaria na desestruturação da
representação e na própria perda do conhecimento que ela constitui sobre o objeto, Moliner (op. cit.)
propõe uma forma de se colocar em evidência o valor simbólico e, portanto, a centralidade de um
elemento: perguntar aos sujeitos se, na ausência de tal cognição, o objeto de representação ainda manteria
sua identidade” (BECK, BARROSO-KRAUSE, SÁ, 2007, p. 4), que constitui o teste de centralidade
conhecido como “mise en cause”.
35
Este autor considera que um dos méritos da abordagem estrutural é o papel dos
elementos periféricos no funcionamento de uma representação. O sistema periférico é
“flexível, adaptativo, heterogêneo quanto ao seu conteúdo, ligado ao contexto imediato,
à história pessoal do indivíduo e que permite a adaptação da representação às mudanças
conjunturais, constituído pelos elementos periféricos” (CAMPOS, 2003, p. 22). Está
situado ao redor do núcleo central, faz conexão entre o núcleo central e a realidade
concreta e, diferentemente do sistema central, aceita dentro de si a multiplicidade do
grupo e também de suas contradições.
Os elementos periféricos respondem mais diretamente pela dimensão funcional
das representações sociais e respondem pela dimensão normativa. Possuem três funções
primordiais: função de concretização (compreensível e transmissível), de regulação
(adaptação da representação às evoluções do contexto) e de defesa da representação
(uma vez transformado provoca uma alteração completa da representação) (ABRIC,
2001).
A abordagem estrutural privilegia estudos experimentais (ABRIC, 1989;
MOLINER, 1994a) e enfoca os processos que regulam formação e transformação de
representações sociais. Vários são os estudos voltados a esta abordagem e dentre eles se
destaca a pesquisa de Moliner realizada em 1988, considerada a primeira pesquisa
experimental. Seu objetivo era investigar o papel do núcleo central na transformação de
uma representação, tendo como objeto dessa representação o grupo ideal (FLAMENT,
2001).
A experiência em pauta compreende duas fases, sendo que uma delas visa
questionar um elemento do núcleo central ou um elemento periférico da representação.
Os resultados obtidos mostram que, quando se questiona um elemento periférico, a
maioria dos sujeitos conserva a representação. O que não ocorre quando se questiona
um elemento do núcleo central. O grupo não é mais um grupo ideal, mudando assim a
representação. Nesse sentido, a pesquisa de Moliner visa a analisar e explicar a
dinâmica da evolução e da transformação de uma representação. Assim sendo, é
relevante conhecer a utilização do tratamento de dados e a variedade de técnicas de
coleta que identifiquem os elementos a centralidade de uma representação social.
2.1.1 – Trabalhando com o Núcleo Central
Toda pesquisa de representações sociais se caracteriza por uma “utilização
36
bastante diversificada e criativa de métodos e pelo desenvolvimento contínuo de novas
técnicas, tanto no que se refere à coleta e ao tratamento dos dados” (SÁ, 2002, p. 99).
Para conhecer os elementos que compõem uma representação e a organização
desses elementos é necessário utilizar uma metodologia que possibilite a verificação da
centralidade que “depende tanto de critérios quantitativos, quantos qualitativos”
(ABRIC, 1994
a apud CAMPOS, 2003, p. 23) e da hierarquia posta em evidência (SÀ,
2002).
Dentre a variedade de técnicas de coleta e tratamento de dados que podem
identificar os elementos que compõem o núcleo central e o sistema periférico, a técnica
utilizada nesse estudo é uma das mais usadas na etapa de levantamento de elementos
representacionais: a análise prototípica ou, nos termos de Moliner (1994a), teste de
associação livre de palavras.
Desenvolvido por Vergès (1994), permite a aproximação, a mais exata possível,
da centralidade qualitativa e é apontada por Abric (1994 apud SÁ, 2002, p. 116) como
“uma técnica maior para coletarmos elementos constitutivos do conteúdo de uma
representação, permitindo a atualização de elementos implícitos ou latentes que seriam
perdidos ou mascarados nas produções discursivas”.
O teste de evocação permite computar as freqüências das palavras evocadas e a
ordem média em que aparecem em relação às demais, através da utilização do software
EVOC (Esemble de programmes permettant l’analyse dês evocacations), programa que
leva à configuração de um quadro de quatro quadrantes trazendo informação essencial
para a análise da representação social.
As palavras evocadas com freqüências altas e ordem média de evocação baixa
são aquelas prontamente evocadas e constituem, provavelmente, o núcleo central. É a
memória coletiva do grupo e estão localizadas no quadrante superior esquerdo. No
quadrante de altas freqüências e altas ordens de evocações constituem a primeira
periferia, que representa o fluído social do grupo, localizado do lado superior direito. No
quadrante inferior esquerdo encontram-se os elementos de contraste, elementos de
freqüência e ordem média baixas. No quadrante inferior direito localiza-se a periferia
propriamente dita, apresentando freqüência baixa e ordem média alta. São os elementos
operativos que possivelmente interferem na relação com os elementos do núcleo central.
Trabalhos na área de Educação apresentados na IV Conferência Brasileira sobre
Representações Sociais (IV CBRS) e VI Jornadas Internacionales y III Jornadas
Nacionales de Representaciones Sociales (VI JIRS), ambos realizados em 2009, a
37
primeira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a segunda na Facultad
de Derecho de La Universidad de Buenos Aires (UBA), utilizaram teste de evocação
livre de palavras as quais foram submetidas ao software EVOC. Na IV CBRS, entre 40
pesquisas, 21; e na VI JIRS, de 38 pesquisas, 20.
Essa técnica de levantamento e de identificação do núcleo central não parece ser,
entretanto, suficiente para dar conta da apreensão de uma representação social, uma vez
que seu estudo não pode se resumir a uma lista de palavras desvinculadas do contexto
social e discursivo dos sujeitos. É que essas palavras irão ganhar significados,
filtrados pelos valores e crenças do grupo. Conforme explicam Alves-Mazzotti e
Mazzotti (2009, p. 64-65),
para que essa abordagem [estrutural] seja eficaz, seu estudo não pode
se resumir a um rol de associações de palavras desconectadas do
contexto discursivo no qual essas palavras ganham significados,
matizados pelos valores de quem as proferiu.
Portanto, é necessário empreender a articulação com outros procedimentos em
proveito da produção de resultados capazes de fazer avançar a teoria e a pesquisa das
representações sociais.
Estudos que associam a abordagem processual proposta por Moscovici e a
abordagem estrutural desenvolvida por Abric têm sido realizados por Alves-Mazzotti et
al (2004, 2007, 2009), o que é legítimo, tendo em vista que a proposta de Moscovici é
considerada por Abric como a “grande teoria”, a qual se filiam todos os
desenvolvimentos posteriores.
Na pesquisa desenvolvida por Alves-Mazzotti et al em 2009, a abordagem
estrutural das representações proposta por Abric foi associada ao estudo dos processos
geradores conforme definidos por Moscovici e Jodelet. Nela foram comparadas as
representações sociais de formação para o magistério e trabalho docente produzidas por
professores de Ensino Fundamental com formação em Curso Normal em nível médio e
em Pedagogia e seus formadores. Inicialmente, buscou-se conhecer a estrutura dessas
representações por meio da aplicação de um teste de livre associação de palavras
(abordagem estrutural).
A estrutura da representação social de formação para o magistério para os
professores de curso de Pedagogia, por exemplo, é apresentada a seguir:
38
Quadro 1 - Estrutura da representação de Formação para o Magistério para
professores do Curso de Pedagogia
Palavra evocada ƒ OME ≤2,11
Palavra evocada ƒ
OME > 2,11
ƒ ≥ 4
Formação 7 1,71 Atualização 5 2,80
Pesquisa 4 2,75
ƒ < 4
Amor 3 2,00 Competência 3 2,67
Crítica 3 1,67 Qualidade 3 2,67
Aluno 3 1,33 Compromisso 3 2,33
Desvalorização 3 1,33
Fonte: ALVES-MAZZOTTI, 2007-2009
De posse dos resultados, foram realizadas entrevistas individuais e grupos focais
com professores de cada um dos grupos de referência, com a intenção de compreender
os sentidos agregados aos elementos encontrados nos núcleos centrais daquelas
representações. A partir daí, investigou-se como os professores objetivavam e onde
ancoravam os sentidos dos elementos encontrados no núcleo central das representações
de formação e trabalho docente (abordagem processual).
A metodologia que alia a abordagem estrutural das representações ao estudo
dos processos geradores será realizada nesse estudo.
39
CAPÍTULO 3
O CURSO DE PEDAGOGIA NA
INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR
Do ponto de vista epistemológico, Pedagogia que significa “arte de condução de
crianças”, se tornou a arte e a doutrina da educação até se consolidar como disciplina na
universidade no final do século XVIII, graças, em boa parte, à contribuição de Johann
Friedrich Herbart, filósofo alemão que inaugurou a análise sistemática da educação e
mostrou a importância da psicologia na teorização do ensino.
A Pedagogia é, então, o campo do conhecimento que se ocupa do estudo
sistemático da educação. De acordo com Demo (1998, p. 16),
educação não é ensinar, instruir, treinar, domesticar, é, sobretudo
formar a autonomia do sujeito histórico competente, uma vez que, o
educando não é o objetivo de ensino, mas sim sujeito do processo,
parceiro do trabalho, trabalho este entre a individualidade e
solidariedade.
Freire (1994) vai mais além: a educação não deve ser uma mera transmissão de
conhecimento, mas criar uma possibilidade do educando construir o seu próprio
conhecimento baseado no conhecimento que ele traz de seu dia a dia.
Pedagogia é entendida como modo de ensinar a matéria, o uso de técnicas de
ensino, a normatização
das ações e dos instrumentos didáticos que devem ser utilizados
para qualquer nível de educação. Mattos (1973, p. 44) considera que a Pedagogia
investiga “suas múltiplas facetas e dimensões, em suas manifestações no tempo e no
espaço, em suas complexas relações de causa e efeito com os demais fenômenos que
integram a vida humana em sociedade, dentro do seu condicionamento cultural
imediato”.
O curso de Pedagogia se constitui em um espaço onde se estuda intencional e
criticamente a educação e suas influências na sociedade, partindo de uma formação
teórica, prática, metodológica da educação e do ensino.
No Brasil, pode-se identificar o surgimento do profissional pedagogo no Decreto
Lei n 1.190 (BRASIL, 1939) que cria a Faculdade Nacional de Filosofia, Ciências e
40
Letras e tem preocupação com a formação superior de técnicos em educação e com a
formação de docentes para o curso normal, nível médio. Nessa época, o curso de
Pedagogia tinha a duração de três anos, formava somente bacharel em Pedagogia ou os
denominados “Técnicos da Educação”. O curso de Didática, com a duração de apenas
um ano, preparava para as licenciaturas e recebia os egressos do bacharelado,
contemplando o esquema “3 + 1”.
Para completar seus estudos, o pedagogo necessitava cursar as seguintes
disciplinas:
Quadro 2 – Disciplinas por série Curso de Pedagogia - 1939
1ª série 2ª série 3ª série
Pedagogia Complementos
da Matemática
Psicologia Educacional Psicologia Educacional
História da Filosofia Estatística Educacional História da Educação
Fundamentos Biológicos da
Educação
História da Educação Administração Escolar
Psicologia Educacional Fundamentos Sociológicos
da Educação
Educação Comparada
Administração Escolar Filosofia da Educação
Fonte: SILVA, 1999
Observa-se não havia ênfase nem na prática e nem na metodologia.
Na década de 60, após a primeira Lei Diretrizes e Bases da Educação, Lei n.
4024 (BRASIL, 1961) foi mantido o curso de bacharelado para formação de pedagogo.
O Parecer CFE n 251/62 (BRASIL, 1962) estabeleceu em sua primeira
redação o
currículo mínimo e a duração do curso de Pedagogia. Relatado pelo Conselheiro Valnir
Chagas, introduziu alterações curriculares no Curso de Pedagogia, sendo aprovado e
homologado pelo então Ministro da Educação e Cultura, Darcy Ribeiro. Este parecer
apontava a necessidade do professor primário ser formado em ensino superior.
Nesse período, o curso de Pedagogia se volta para a formação dos profissionais
pedagogos, os “Técnicos de Educação”, e o professor de disciplinas pedagógicas do
curso normal, através do bacharelado e da licenciatura.
Regulamentada pelo Parecer CFE n 292/62 (BRASIL, 1962), a licenciatura
previa o estudo de três disciplinas: Psicologia da Educação, Elementos de
Administração Escolar, Didática e Prática de Ensino, sendo essa última sob forma de
Estágio Supervisionado. Permanecia, portanto, a dualidade bacharelado e licenciatura
em Pedagogia.
41
O curso de Pedagogia oferecido pela IES lócus dessa pesquisa, iniciou suas
atividades na década de 70, de acordo com as diretrizes da reforma universitária, Lei n.
5.540/68 (BRASIL, 1968), que fixou as normas de organização e funcionamento do
ensino superior e sua articulação com a escola média. Esta Lei foi normatizada no
Parecer n 252/69 (BRASIL, 1969a) de autoria também de Valnir Chagas, que
regulamenta as habilitações do Curso de Pedagogia, prescrevendo a unidade entre
bacharelado e licenciatura, fixando a duração do curso em quatro anos.
Esse Parecer trata do currículo mínimo e da duração para o curso de Graduação
em Pedagogia apresentando uma proposta mais elaborada de formação superior,
propondo a formação de professores para o ensino normal e de especialistas paras
atividades de orientação, administração, supervisão e inspeção no âmbito de escolas e
sistemas escolares, com uma estrutura curricular que teria uma parte comum e outra
diversificada. Traça um perfil mais claro para o curso de Pedagogia e para o pedagogo,
enfatizando sua atuação e especificando a licenciatura. A Resolução CFE n 2/69
(BRASIL,1969b), do mesmo ano, fixou no Art. 2º, as disciplinas necessárias para a
integralização do Curso de Pedagogia e, no Art. 3º, os requisitos para obtenção das
habilitações específicas do curso.
Com o processo de desenvolvimento social e econômico do país e o aumento da
exigência ao acesso à escola, cresceram as cobranças de qualificação docente no que diz
respeito ao trabalho com a criança e com o adolescente de classes populares e ao
atendimento a gestão pública e escolar. O objetivo era atender as necessidades das
funções especificas e descentralizadas para melhor fluidez no sistema escolar e de
ensino, visando autonomia e crescimento institucional.
Na década de 1980, em atendimento às exigências da atuação dos professores da
Educação Pré-Escolar e anos iniciais do Ensino Fundamental, várias reformas
curriculares atingiram os Cursos de Pedagogia, enfatizando a preocupação com o
processo de ensinar, aprender e de gerenciar o sistema escolar e de ensino, criando uma
diversidade de habilitações.
O número de ingressantes para o Curso de Pedagogia aumenta e a maioria desses
professores passa a atuar nas primeiras ries do Ensino Fundamental sem ter qualquer
experiência docente, o que gera um problema.
Conforme o Parecer CNE/CP n 5/05 (BRASIL 2005) a atuação do pedagogo
estaria relacionada ao magistério nas escolas Normais e as suas respectivas habilitações,
levando em conta sua formação e prática pedagógica no processo de influir, orientar,
42
acompanhar e transformar no processo de ensino aprendizagem, e não ao exercício do
magistério naquele nível de ensino. Isso gerou inúmeras críticas aos cursos de
Pedagogia, que não enfatizavam a prática pedagógica.
A trajetória do Curso de Pedagogia tem como marco a construção no cotidiano
das instituições de ensino superior. Os anos 90 são um marco da formação docente para
atuação na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, devido às
exigências da LDB 9394/96. Seu Artigo 61 define os profissionais da educação:
Art. 61 - Consideram-se profissionais da educação escolar básica os
que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido formados em
cursos reconhecidos, são: (redação dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
I – professores habilitados em nível médio ou superior para a docência
na educação infantil e nos ensinos fundamental e médio; (redação
dada pela Lei nº 12.014, de 2009)
II trabalhadores em educação portadores de diploma de pedagogia ,
com habilitação em administração , planejamento, supervisão,
inspeção e orientação educacional, bem como com títulos de mestrado
ou doutorados nas mesmas áreas; (redação dada pela Lei nº 12.014, de
2009)
III – trabalhadores em educação, portadores de diplomas de curso
técnico ou superior em área pedagógica ou afim. (incluído pela Lei
12.014, 2009)
A formação dos profissionais da educação se encontra no mesmo artigo em seu o
parágrafo único e seus incisos:
Parágrafo único: A formação dos profissionais da educação de modo a
atender às especificidades do exercício de suas atividades, bem como
aos objetivos das diferentes etapas e modalidades da educação básica,
terá como fundamentos: (Incluído pela Lei nº 12.014, 2009)
I – a presença de sólida formação básica, que propicie o conhecimento
dos fundamentos científicos e sociais de suas competências de
trabalho; (Incluído pela Lei nº 12.014, 2009)
II a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
supervisionados e capacitação em serviço; (Incluído pela Lei
12.014, 2009)
III – o aproveitamento da formação e experiências anteriores, em
instituições de ensino e em outras atividades. (Incluído pela Lei
12.014, 2009)
A formação dos docentes no que se refere a seu campo de atuação está no Artigo
62, que contempla a formação mínima para o exercício do magistério na Educação
Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, assim como no Artigo 2º das
Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Pedagogia:
43
As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à
formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e
nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino
Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional
na área de serviços e apoio escolar, bem como em outras áreas nas
quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos (BRASIL, 2006).
As legislações anteriores nortearam a organização do Curso de Pedagogia até
recentemente e foram descartadas por ocasião da aprovação da LDB 9394/96 e das
Diretrizes Curriculares Nacionais, que regulam o Curso de Pedagogia atualmente.
3.1 - A Instituição de Ensino Superior e a proposta curricular do Curso de
Pedagogia
A IES onde foi realizada a pesquisa está localizada na Baixada Fluminense no
Estado do Rio de Janeiro, uma região que carece de ações em prol do seu
desenvolvimento, tendo em vista que desde a metade do século XX sua imagem ficou
consolidada como de grandes problemas sociais e de violência urbana que perdura até
hoje.
Foi a primeira universidade a se instalar na região e em seu balanço social se
destacam a formação e a capacitação de profissionais para o município bem como a
prestação de serviços universitários à população. Atualmente, firma-se como uma
instituição comprometida com o desenvolvimento humano em todas as suas dimensões
de forma crítica, inovadora e socialmente responsável. Sua missão é formar
profissionais, visando à plena associação entre ensino, pesquisa e extensão, a fim de
gerar conhecimento e desenvolver saberes, e contribuir, por meio de ações afirmativas,
para o desenvolvimento integrado da sociedade nos âmbitos local, regional e nacional.
(PROJETO PEDAGÓGICO DO CURSO DE PEDAGOGIA, 2006, p. 1).
A LDB 9394/96 traz, dentro de sua normatização, uma filosofia mais
democrática e uma orientação mais liberal para a organização de novos cursos, exigindo
das instituições uma atuação mais dinâmica, principalmente, das universidades.
O PNE-2001 propõe a erradicação total do analfabetismo e a luta pela
permanência do aluno na escola e para se atingir tais metas exigir-se-ão professores
mais informados, atualizados e habilitados no manejo com os discentes. Nessa direção,
a IES oferece o curso de Magistério da Educação Infantil e Fundamental com os
objetivos gerais de capacitar professores para atuar na Educação Infantil e nas séries
44
iniciais do Ensino Fundamental e habilitar educadores para que possam atuar
compreendendo que sua formação é um processo permanente onde se faz necessário
recuperar o conceito de práxis como a união indissolúvel entre reflexão e ação (idem).
Entre os objetivos específicos do PPC de Pedagogia estão: formar professores-
pesquisadores comprometidos com a realidade sócio-político-educacional, em especial,
da Baixada Fluminense, dando-lhes formação teórico-prática; contribuir para que os
futuros profissionais desenvolvam uma perspectiva mais crítica visando a
transformação da sociedade; e colaborar para a construção de uma sociedade
democrática e solidária através de uma prática democrática no processo ensino e
aprendizagem.
Este Projeto é norteado pela Resolução CNE n.1/06, que institui Diretrizes
Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, Licenciatura, e é referendado pela
Resolução CONSEPE
6
n. 245/2006 e pela Resolução CONSUNI
7
n. 257/2006. O
mesmo tem a sua funcionalidade de forma integral atendendo as legislações vigentes.
Com relação ao perfil profissiográfico dos alunos que frequentam o curso,
consta na Proposta do curso de Pedagogia que os futuros professores deverão utilizar
conhecimentos das ciências humanas aplicadas e metodologias adequadas à prática
pedagógica como garantia de uma ação eficiente na produção de um mundo onde as
barreiras físicas, ideológicas e culturais se tornem cada vez mais inócuas e onde o
conhecimento deixa de ser propriedade de grupos privilegiados. Deverão possuir
equilíbrio emocional e aguda sensibilidade no trato dos problemas resultantes do
exercício do contato humano permanente e adotar sólida formação cultural, de
conhecimento das normas cultas da ngua nacional, condição essencial para a
transmissão de idéias e para a apreensão das linguagens visuais/gestuais.
O futuro educador precisará estar imbuído de determinação na busca de
capacitação permanente e de comprometimento com a realidade educacional vigente no
país e em sua comunidade, pensando globalmente e agindo localmente.
O curso de Pedagogia oferece a formação para o exercício integrado de
docentes, gestão dos processos educativos escolares e não-escolares, produção e difusão
do conhecimento científico e tecnológico do campo educacional, sendo a docência a
6
Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão. É o órgão deliberativo e consultivo em matéria de
ensino e pesquisa.
7
Conselho Universitário. É órgão máximo da Universidade nos aspectos deliberativo e consultivo,
exercendo atividade normativa, acadêmica e jurisdicional de superior instância, sendo competente para
traçar a sua política geral, nos termos estatutários e regimentais.
45
base da formação oferecida.
Após leitura intensa e apreciação do Projeto Pedagógico do Curso, coloca-se em
questão sua aplicabilidade com intuito de identificar a relação teoria e prática. Para
tanto, foram selecionadas a matriz curricular, ementas e bibliografias de disciplinas que
estivessem relacionadas a “dar aula” para análise, que serão apresentadas em sequência.
3.1.1 - Análise da matriz curricular
Foi identificada na estrutura curricular do curso de Pedagogia a integralização de
carga horária distribuída em seis semestres e dividida em três eixos norteadores: Ética
para os e períodos; Cidadania para os e períodos; e Cotidiano Escolar para os
e períodos. Na matriz curricular, foram verificadas as disciplinas que compõem
cada eixo norteador, conforme exposto na Tabela 1.
Tabela 1 – Matriz Curricular do Curso de Pedagogia
Eixo 1
Ética
Eixo 2
Cidadania
Eixo 3
Cotidiano
Escolar
1º Período
500h
2º Período
500h
3º Período
560h
4º Período
550h
5º Período
560h
6º Período
430h
Introdução à Filosofia
80h
Filosofia da
Educação
80h
Metodologia da
Pesquisa I
60h
Fundamentos da
Educação de Jovens
e Adultos
60h
Currículos e
Programas
60h
Projeto na
Escola Básica
60h
Introdução à Informática
40h
História da
Educação II
60h
Sociologia Geral
80h
Princípios e Métodos
de Alfabetização
Infantil
60h
Avaliação da
Aprendizagem
60h
Educação
Comparada
60h
História da Educação I
60h
Psicologia da
Educação II
60h
Fundamentos da
Educação Infantil
60h
Sociologia da
Educação
80h
PMGE
80h
Prática
Pedagógica V
(Ensino Médio)
80h
Psicologia da Educação I
60h
Economia da
Educação
60h
Prática Pedagógica
II
(Integração dos
Conteúdos)
60h
Estatística Aplicada
à Educação
60h
LIBRAS
60h
Orientação de
Monografia
60h
Expressão Oral e Escrita
80h
Normas
Instituintes da
Educação
Brasileira II
60h
Estágio
Supervisionado
80h
Prática Pedagógica
III (Arte e
Educação)
60h
Tecnologias da
Educação
60h
Oficina –
Instrumentos de
Avaliação
40h
Normas Instituintes da
Educação Brasileira I
60h
Didática II
80h
Oficina – Política da
Infância e da
Juventude e
Responsabilidade
Civil da Educação
40h
Metodologia da
Pesquisa II
40h
Estágio
Supervisionado
0h
Estágio
Supervisionado
70h
Didática I
80h
Prática
Pedagógica I
(Recreação e
Jogos Infantis)
60h
Princípios e Métodos
da Supervisão
Escolar
80h
Estágio
Supervisionado
70h
Prática Pedagógica
IV (Ensino Médio)
60h
Projeto Político
Pedagógico
Escolar
60h
Oficina de Relações
Interpessoais
40h
Oficina de
Redação
40h
Fundamentos da
Educação Especial
60h
Princípios e Métodos
da Orientação
Educacional
80h
Oficina – Produção
de Textos
Acadêmico
40h
Neurofisiologia 40h Oficina –
Informática
Educativa
40h Pedagogia das
Organizações Não
Escolares
60h
Fonte: PCC de Pedagogia, 2006.
46
A carga horária totaliza 3.200 horas de efetivo trabalho acadêmico, com a
seguinte distribuição de acordo com o Artigo das DCN: 2.800 horas dedicadas às
atividades formativas; 300 horas dedicadas ao Estágio Supervisionado; e 100 horas de
atividades teórico-práticas de aprofundamento (BRASIL, 2006).
Da análise da matriz curricular foi possível identificar que as disciplinas
distribuídas em eixos norteadores, têm como ênfase abordagens pertinentes aos eixos,
como estabelecido no PPC. Entretanto, cabe questionar a disposição de algumas
disciplinas nos respectivos eixos.
No eixo 1 Ética são oito disciplinas em cada período, totalizando 16, sendo
que Introdução à Informática, Normas Instituintes I e II, Prática Pedagógica I
(Recreação e Jogos Infantis) e Economia da Educação deveriam compor o eixo 2.
No eixo 2 Cidadania 50% das 18 disciplinas que o compõem se enquadra
melhor no eixo 3, são elas: Metodologia da Pesquisa I e II, Fundamentos da Educação
Infantil, Prática Pedagógica II (Integração dos Conteúdos), Estágio Supervisionado,
Princípios e Métodos da Supervisão Escolar, Estatística Aplicada à Educação e Prática
Pedagógica III (Arte e Educação).
Das 16 disciplinas disponibilizadas no eixo 3 Cotidiano Escolar –Libras se
integra melhor no eixo 2 e Oficina Produção de Textos Acadêmicos no eixo 1. As
demais são integradoras das atividades inerentes as práticas vivenciadas na escola.
Percebe-se um paradoxo entre o que está exposto no PPC e matriz curricular,
pois mesmo descrito que as disciplinas dão prioridades aos contextos implícitos nos
eixos norteadores, sua distribuição não condiz com os mesmos. Considerando que sejam
respeitadas a diversidade nacional e a autonomia pedagógica das instituições na
elaboração das matrizes curriculares, o PPC deve ser revisto, estando em consonância
com as Diretrizes Curriculares do Curso de Pedagogia, baseado nos núcleos de estudos
básicos, de aprofundamento e diversificação de estudos, voltado às áreas de atuação
profissional e de estudos integradores que proporcionará enriquecimento curricular
.
Os três eixos norteadores devem contemplar em sua plenitude a formação
integral do futuro docente, intensificando valores que constroem a ética profissional, o
respeito pelo indivíduo e sua existência e a vivência do contexto escolar.
3.1.2 – Análise das ementas e objetivos propostos
Ao verificar as disciplinas que compõem a matriz curricular, foram selecionadas
aquelas que considerei relacionadas a “dar aula”: Didática I, Didática II, Prática
47
Pedagógica I (Recreação e Jogos Infantis), Prática Pedagógica II (Integração de
Conteúdos), Prática Pedagógica III (Arte e Educação), Prática Pedagógica IV e V
(Ensino Médio); Estágio Supervisionado; e Currículos e Programas.
Nos ementários dessas disciplinas, foi possível identificar a complexidade de
cada unidade que compõe os conteúdos programáticos, seus objetivos e as bibliografias
indicadas. Cada disciplina foi analisada de forma a identificar no PPC de Pedagogia a
conformidade com as DCN, isto é, se as disciplinas contribuirão para que o sujeito faça
“uso necessário do conhecimento didático, metodológico, cultural, servindo-se do
aparato teórico-prático para construir em ação seus saberes disciplinares, didáticos,
metodológicos” (FRANCO; LIBÂNEO; PIMENTA, 2007, p. 82).
A disciplina Didática I é distribuída em quatro unidades: 1.Educação e Didática:
construção de conceitos em uma perspectiva crítico-dialógica; 2.O ensinar e o aprender
no atual contexto social; 3.Contextualização dos objetivos e conteúdos de ensino na
perspectiva do planejamento como ato dialógico-político-ético-pedagógico; e
4.Elaboração de planos de ensino e projetos de trabalho. Essas unidades evidenciam a
preocupação com elementos constitutivos da Didática no sentido de desenvolver e
aplicar uma práxis pedagógica envolvendo o conceito de educação e as formas de
orientação do ato educativo, norteadas pelo objetivo geral:
Analisar a educação e a didática como um processo crítico-dialógico-
cooperativo na sociedade, para uma construção do conhecimento de
forma dinâmica e consciente, fornecendo subsídios para uma reflexão
crítica da prática pedagógica, onde o planejamento de ensino, os
objetivos educacionais e a pedagogia de projetos tenham como base o
diálogo com o contexto social, de modo a ocorrer o processo
educativo (PPC de Pedagogia, 2006, p.13)
A disciplina Didática II se distribui em cinco unidades: 1.Processo de
planejamento; 2.Projeto político pedagógico; 3.Estrutura do projeto de ensino-
aprendizagem; 4.Desafios pedagógicos do projeto de ensino-aprendizagem; e 5.Roteiro
de elaboração do projeto ensino. Ao analisar o objetivo geral e as unidades da
disciplina, percebe-se a ênfase dada à construção do projeto político pedagógico e à
importância do planejamento e suas “implementações adequadas nas fases pertinentes
ao fazer docente no exercício do processo ensino-aprendizagem“ (PPC de Pedagogia,
2006, p.15).
Um desafio que parece estar subjacente as unidades distribuídas nas duas
disciplinas, é trabalhar as práticas pedagógicas numa perspectiva integrada à qualidade
48
da educação. Assim, os temas abordados na disciplina Didática deveriam ser
“referenciados ao contexto da escola brasileira de hoje, na qual devem situar o professor
com suas condições de trabalho e formação e o nosso aluno, com sua realidade
psicológica e sociocultural” (ANDRÉ, 1999, p.172), valorizando suas práticas docentes.
Não referência à pesquisa específica sobre o ensino, ou seja, a pesquisa sobre
didática, tendo em vista que a elaboração de um projeto é fundamentada pela busca de
conhecimento caracterizando a pesquisa. Lüdke (2000, p. 81) afirma que a questão é
resolver o “pleno vigor de discussão, dando ensejo justamente as perspectivas bastante
promissoras”, colocando como proposta provocativa “a pesquisa um dos meios mais
importantes, se não o mais importante, de se situar o componente didático no processo
educativo”.
O planejamento é entendido como necessário na prática docente, mas não se
pode deixar de lado que a realidade educacional é muito mais heterogênea e plural do
que a descrição, a problemática, os desafios e as alternativas, conforme cita Candau
(2008, p. 13):
Um dos desafios do momento é ampliar, reconhecer e favorecer
distintos lócus, ecossistemas educacionais, diferentes espaços de
produção da informação e do conhecimento, de criação e
reconhecimento de identidades, práticas culturais e sociais. De caráter
presencial e/ou virtual. De educação sistemática e assistemática. Onde
diversas linguagens o trabalhadas e pluralidades de sujeitos
interagem, seja de modo planejado ou com caráter mais livre e
espontâneo.
A disciplina Prática Pedagógica I (Recreação e Jogos Infantis) propõe atividades
recreativas distribuídas em três unidades: 1.O jogo didático e a recreação na escola
fundamental; 2.Aplicação de recreação e jogos e 3.Teorias da aprendizagem. Seu
“objetivo é compreender a importância do lúdico como fator de desenvolvimento do
aluno e planejar atividades recreativas de cunho didático”. (PPC de Pedagogia, 2006, p.
14).
A partir do período, surge a disciplina Estágio Supervisionado que se mantém
nos demais períodos, cuja proposta é uma maior integração curricular na busca de
estabelecer relações entre os campos, formas e processos de conhecimento, conforme
propõe Santomé (1998, p.124):
49
Falar da estrutura curricular refere-se exclusivamente à estratégia de
planejamento e análise utilizada como ajuda pelos professores e
demais profissionais da educação para decidir o que deve ser incluído
no currículo. [...] Assim, não deve obrigar ao uso de apenas uma
estratégia metodológica, embora devamos tentar fazer com que não
incentive erros passados, como os de separar em disciplinas isoladas
todo o conteúdo, reduzi-lo a peças de um grande quebra-cabeças que
talvez nunca seja montado e que não permite construir um
conhecimento autenticamente significativo.
A proposta é, portanto, promover a interação de áreas específicas. Teoria e
prática educativa são consideradas o núcleo articulador da formação do educador, na
medida em que os dois devem ser trabalhados simultaneamente, constituindo uma
unidade indissolúvel. Assim, como afirmam Candau e Lelis (1999, p. 13) “os
componentes curriculares devem trabalhar a unidade teoria-prática sob diferentes
configurações, para que não se perca a visão de totalidade da prática pedagógica e da
formação como forma de eliminar distorções decorrentes da priorização de um dos dois
pólos”.
As disciplinas relacionadas ao Estágio Supervisionado serão, então, apresentadas
em conjunto.
Na Prática Pedagógica II (Integração dos Conteúdos), desenvolvida no
período, há discordância entre o título que consta no ementário e o que está nos
Conteúdos Programáticos. Como esta disciplina formula orientações para a prática com
base na própria ação e propõe princípios e normas relacionados aos fins e meios da
educação, contemplei os objetivos do ementário: “Compreender a integração dos
conteúdos como prática necessária no processo de ensino e aprendizagem” e “Planejar
atividades escolares com base na integração dos conteúdos que abarcam determinantes
específicos para a prática docente” (PPC de Pedagogia, 2006, p.17).
No período, a disciplina Prática Pedagógica III (Arte e Educação) tem como
objetivo geral “compreender a arte como fato histórico, contextualizado nas diversas
culturas, respeitando sua contribuição à educação” (PPC de Pedagogia, 2006, p.19),
pautado no artigo da DCN de Pedagogia, inciso II que descreve o núcleo de
aprofundamentos e diversificação de estudos na alínea “b”: “avaliação, criação e uso de
textos, materiais didáticos, procedimentos e processos de aprendizagem que
contemplem a diversidade social e cultural da sociedade brasileira” (BRASIL, 2006).
No 5º período, a disciplina Currículos e Programas traz em suas três unidades os
títulos: 1.O planejamento curricular no contexto dos demais planejamentos em
50
educação; 2.Metodologia e elaboração do currículo; e 3.Ideologia e Currículo. Seu
objetivo geral é um desafio: “analisar criticamente a teoria do currículo, sob os pontos
de vistas filosófico, ideológico, epistemológico, científico, legal e técnico de modo a
decidir conscientemente sobre o desenvolvimento do currículo” (PPC de Pedagogia,
2006, p.20).
Retorna-se ao Projeto Político Pedagógico que tem sua funcionalidade na escola,
lugar de concepção, realização e avaliação pautadas nas necessidades dos alunos,
espaço privilegiado de formação. É “neste espaço, contexto de trabalho docente, que se
torna possível a reflexão sobre a prática real, a discussão, a troca, a busca de soluções
para os problemas do cotidiano” (NASCIMENTO, 1997, p. 82). A disciplina estaria
voltada para a construção de um projeto que privilegiasse o trabalho coletivo, o
comprometimento e o enraizamento da escola em sua realidade.
É indiscutível negar a importância da efetivação do currículo integrado. Para
tanto, acredito que um currículo e uma pedagogia democráticos devem começar pelo
reconhecimento dos diferentes posicionamentos sociais e repertórios culturais nas salas
de aula, bem como das relações de poder entre eles. Canen e Canen (2005) enfatizam a
perspectiva de currículo sem fronteiras, ilustrando potenciais da perspectiva
multicultural.
O currículo deve contemplar “conteúdos e estratégias de aprendizagem que
capacitem o ser humano para a realização de atividades nos três domínios da ação
humana: a vida em sociedade, a atividade produtiva e a experiência subjetiva”.
(BRASIL, 1999). Portanto, incorporam-se como diretrizes gerais e orientadores da
proposta curricular os quatro Pilares da Educação: aprender a conhecer; aprender a
fazer; aprender a viver e aprender a ser, baseados no Relatório para a UNESCO (United
Nations Educational, Scientific and Cultural Organization, 1999) da Comissão
Internacional sobre Educação para o Século XXI, coordenada por Jacques Delors, como
eixos estruturais da educação na sociedade contemporânea.
Sendo o curso de Pedagogia destinado à formação de professores para exercer
funções de magistério na Educação Infantil, anos iniciais do Ensino Fundamental,
cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, Educação Profissional na área de
serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos
pedagógicos, acredito ser urgente uma formação global e específica para o profissional
professor, pois considero que ser professor é, acima de tudo, uma profissão.
51
As disciplinas Prática Pedagógica IV e V (Ensino Médio) estão estruturadas em
dois períodos, mas contém as mesmas três unidades: 1.Métodos e técnicas de ensino
aplicadas ao Curso de Formação de Professores; 2.Objetivos das disciplinas
pedagógicas; e 3.O cotidiano escolar nas classes de formação de professores. Seus
objetivos parecem evidenciar a prática pedagógica e o saber apropriado pelos alunos do
Curso de Pedagogia: conhecer a estrutura e o funcionamento dos cursos de Formação de
Professores e seu cotidiano; escolher, adequadamente, os métodos e técnicas para cada
situação específica de aprendizagem; dominar o conhecimento sobre os objetivos das
disciplinas pedagógicas na elaboração do plano de aula; e planejar com segurança suas
aulas práticas. A intenção é criar relações com a atividade prática do ensino
estabelecendo significados para a atividade pedagógica.
A disciplina Estágio Supervisionado contempla a Educação Infantil, o Ensino
Fundamental, o Ensino Médio e a Educação Jovens e Adultos. Nas atividades de estágio
é enfatizada a prática, respaldada pela instrumentalização proporcionada pela Didática,
por meio de sua dimensão técnico-normativa do modo de ensinar.
O que se verifica é que tais disciplinas têm, de modo geral, o objetivo a
formação de professores para exercer funções de magistério, levando em conta a
associação entre teoria e prática, que
à primeira vista a relação teoria e prática é bastante simples. A prática
seria a educação em todos os seus relacionamentos práticos e a teoria
seria a ciência da Educação. A teoria investigaria a prática, sobre a
qual retroage mediante conhecimentos adquiridos. A prática, por sua
vez, seria o ponto de partida do conhecimento, a base da teoria e, por
efeito desta, torna-se prática orientada conscientemente (PIMENTA,
1997, p. 99).
Conforme apontado por Candau (1997) é fundamental identificar o contexto em
que se situa a problemática da formação de professores, por conta da descaracterização
e desvalorização social da educação, de forma a contribuir para promover mudanças na
prática docente. Considero que as práticas pedagógicas devem ser voltadas à
diversidade cultural dos alunos que chegam às escolas Práticas essas freqüentemente
ignoradas nas práticas pedagógico-curriculares desenvolvidas por professores”
(CANEN, 1997, p. 205).
Ao analisar as ementas e os objetivos, pôde-se observar que as disciplinas
propõem contribuir para formação docente não apenas por evidenciar preocupação com
52
elementos constitutivos do currículo como também visar o ensino e a aprendizagem
como elementos de integração culturais, estabelecendo relação entre teoria e prática.
Propõem-se a contribuir diretamente com a prática de dar aula, ou seja, enfatizam a
valorização da instrumentação do conhecimento, competências e habilidades do modo
de ensinar.
3.1.3 – Análise das bibliografias
Identificar o contexto das bibliografias e sua relação com os ementários sugere a
verificação da compreensão da integração dos conteúdos e sua fundamentação teórica.
Dentre as 52 obras indicadas nas referências bibliográficas foi verificada
desatualização quanto ao ano das publicações: são 33% dos títulos anteriores ao ano
2000. Considerando a exigência do MEC para a aprovação de Cursos, é necessária uma
constante atualização das obras indicadas
de forma a atender o contínuo avanço do
conhecimento. Somente 45% dos títulos atendem as exigências do MEC.
Quanto à data de edição dos Parâmetros Curriculares Nacionais e da
Reorganização Curricular Nacional disponibilizados pelo MEC e suas secretarias, os
volumes são aqueles de sua primeira edição, correspondendo a 8% de indicações nas
bibliografias do Curso de Pedagogia. Entretanto, vale registrar que tais obras foram
elaboradas e disponibilizadas para as redes de ensino e escolar após homologação da
LDB 9394/96 com a finalidade de cumprir “um duplo papel de difundir os princípios da
reforma curricular e orientar o professor, na busca de novas abordagens e metodologias”
(BRASIL, 1997-1999) e mesmo após uma década nenhum outro material foi elaborado.
Foram identificadas que 14% das obras indicadas não possuem data de edição, o que
impossibilitou verificar sua atualização editorial.
Dentre as obras citadas, 15% delas aparecem em diferentes disciplinas e
períodos, 6% dos autores tiveram mais de uma obra indicada e os demais títulos
correspondendo a 79% são de autores diversos.
Na tentativa de explicar o fazer pedagógico que abrange “o que ensinar” e
“como ensinar” articulado “para quem” e “para que”, verifiquei nos Editais dos
Concursos Públicos para o Magistério da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro dos
três últimos anos, se a bibliografia indicada para estudo compatibilizavam com aquelas
do Curso de Pedagogia: somente o título “Globalização e Interdisciplinaridade: o
currículo integrado” atendia a nossa investigação e dentre os autores apenas José Carlos
Libâneo e Philippe Perrenoud foram citados com outras obras.
53
Ao me debruçar sobre as indicações de literatura, selecionei títulos de obras que
constam nas disciplinas que se referem “a dar aula”: Didática I, Didática II, Prática
Pedagógica I (Recreação e Jogos Infantis), Prática Pedagógica II (Integração de
Conteúdos), Prática Pedagógica III (Arte e Educação), Prática Pedagógica IV e V
(Ensino Médio), Estágio Supervisionado, Currículos e Programas.
Os autores, de modo geral, enfatizam que a formação do pedagogo deve
assegurar a formação em pesquisas e o exercício de atividades educativas nas escolas e
em espaços não-escolares.
Libâneo (2006, p. 11) ao apresentar sua obra declara que a Didática “se nutre
dos conhecimentos e práticas desenvolvidos nas metodologias específicas e nas outras
ciências pedagógicas para formular generalizações em torno de conhecimentos e tarefas
docentes comuns e fundamentais ao processo de ensino”, não podendo ser tratada como
atividade restrita ao espaço da sala de aula.
Nos capítulos 1, 2 e 3 considera que educação é uma atividade humana
necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades, compreendendo os
processos formativos nos quais os indivíduos estão envolvidos, podendo ocorrer em
instituições específicas, escolares ou não. Esclarece ainda a distinção entre educação,
instrução e ensino. Ressalta que a instrução refere-se à formação intelectual, formação
e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas” e que o ensino corresponde “às
ações, meios e condições para realização da instrução” (LIBÂNEO 2006, p. 17).
Considera que o trabalho do professor é uma modalidade de trabalho pedagógico que
deve estar fundamentado numa sólida formação teórica-prática articulada pelas
exigências concretas do ensino, pois é a efetiva tarefa de ensinar, permeada pela
experiência.
Nos capítulos 4 e 5 dedica-se ao processo de ensino na escola. Para ele, o
trabalho docente deve ter como referência a prática social de forma que o professor e o
aluno sejam parte integrantes no processo de ensino e estudo ativo.
A relação entre os componentes do processo de ensino, capítulos 6 e 7, descreve
a importância dos objetivos educacionais e a interação entre conteúdos, viabilizados
pelos métodos de transmissão e assimilação. Afirma que a “prática educacional se
orienta para alcançar determinados objetivos, por meio de uma ação intencional e
sistemática” (LIBÂNEO, 2006, p. 120). Aponta a relevância e o lugar que os conteúdos
de ensino ocupam na vida escolar e destaca que no ensino devem ter três elementos: a
matéria, o professor e o aluno:
54
O ensino dos conteúdos deve ser visto como a ação recíproca entre a
matéria, o ensino e o estudo dos alunos. Através do ensino criam-se as
condições para a assimilação consciente e sólida de conhecimentos,
habilidades e atitudes e, nesse processo, os alunos formam suas
capacidades e habilidades intelectuais para se tornarem, sempre mais,
sujeitos da própria aprendizagem. Ou seja, a matéria a ser transmitida
proporciona determinados procedimentos de ensino, que, por sua vez,
levam as formas de organização do estudo ativo dos alunos (op. cit, p.
128)
.
Considera que o método é o caminho para atingir um objetivo e define como
ações do professor pelas quais se organizam as atividades de ensino e dos alunos para
atingir objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo específico.
Os capítulos 8 e 11 têm como objeto a aula” e o seu espaço. O autor entende
que a aula é uma relação entre meios e condições pelos quais os professores
administram e estimulam o processo de ensino e de aprendizagem em função da
atividade própria do aluno. Para que uma aula se realize se faz necessária uma
estruturação didática que estabeleça uma seqüência do ensino da matéria a ser ensinada.
Aspectos afetivos e emocionais também contribuem para ensejo dessa organização para
o alcance dos objetivos do processo de ensino. Nesse sentido, ele enfatiza que a relação
entre professores e alunos, as formas de comunicação, a relação afetiva e emocional, os
procedimentos interativos e dinâmicos também contribuem para o sucesso do processo
de ensino e aprendizagem.
Finalizando, os capítulos 9 e 10 tratam de dois temas muitos discutidos e
polêmicos: a avaliação e o planejamento, considerados como atividades que supõem o
conhecimento da dinâmica interna do processo de ensino e aprendizagem e das
condições externas que co-determinam a sua efetivação. Libâneo (2006, p. 195)
descreve que “avaliação é uma tarefa complexa que não se resume à realização de
provas e atribuição de notas”. E que, a “mensuração apenas proporciona dados que
devem ser submetidos a uma apreciação qualitativa”. Por isso aponta no capítulo 9
subtemas tais como definição de avaliação escolar; avaliação na prática escolar;
características da avaliação escolar; instrumentos de verificação do rendimento escolar e
atribuição de notas e conceitos.
Para o autor, não sendo suficientemente necessário orientar ou, muito menos,
prescrever ações práticas para a concretização das práticas educativas, o professor
necessita estabelecer linhas básicas de direção e realização do ensino, sendo uma delas o
55
ato de planejar: “O planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui tanto a
previsão das atividades didáticas em ternos da sua organização e coordenação em face
dos objetivos propostos, quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de
ensino” (LIBÂNEO, 2006, p. 221).
Sendo sabedor que planejamento é um processo de racionalização, organização e
coordenação da ação docente, articulando atividade escolar e a problematização do
contexto social, o autor contribui neste capítulo com os subtemas: a importância do
planejamento escolar; requisitos gerais para o planejamento; plano de escola, plano de
ensino e plano de aula.
Com essa obra, o autor esclarece que a Didática não investiga apenas objetivos,
conteúdos, métodos, conexões entre ensino e aprendizagem e as condições e formas que
vigoram no ensino, mas também os fatores materiais e sociais reais condicionantes das
relações entre docência e aprendizagem.
A segunda obra analisada é o livro intitulado de “Metodologia de Projetos: uma
ferramenta de planejamento e gestão” de Heloísa Lück. Para ela, todos os profissionais
que têm responsabilidade de estabelecer uma unidade de ação, responsáveis pela
efetivação de objetivos e produção de resultados são chamados de gestores. Para que
suas tarefas sejam realizadas e melhorar suas operações, é necessária a sobrevivência e a
competitividade da organização moderna, através da interação do planejamento e da
ação. Define planejamento como um “processo dinâmico e complexo que envolve, além
de uma dimensão técnica (forma), a dimensão conceitual e a dimensão política (fundo)”
(LÜCK, 2005, p. 12).
Essa obra é divida em seis capítulos. No denominado “Escopo geral do método
de projetos” enfatiza a importância do projeto, a necessidade de sua elaboração, as
vantagens do método de projetos na gestão em geral e na promoção de melhorias e
avanços organizacionais e funcionais. Mesmo diante dessas necessidades a autora
considera que ainda se encontram resistências ao planejamento, tendo em vista que
alguns gestores por conta do atraso do envolvimento na implantação de uma ação ou
transformação no contexto de seu trabalho demoram para a executá-la e outros evitam
se comprometerem.
Os capítulos 2 a 5 se destinam aos aspectos de elaboração, características,
dimensões de elaboração e na estruturação de projetos. A autora considera que para que
um projeto seja elaborado deve haver um “processo de maturação de ideias,
caracterizado por observações, análises, comparações, reflexões e sistematizações”
56
(LÜCK, 2005, p. 49). Aponta que uma das características de um projeto é a
“delimitação do foco do projeto, a partir da circunscrição da atenção para questões
específicas, consideradas prioritárias ou fundamentais” (LÜCK, 2005, p. 51).
A efetivação dos projetos acontece quando o atribuídas as condições de
enfoque no futuro, participação e envolvimento, tomada de decisão e processo mental
interativo. Elaborar projetos é um processo complexo, que envolve várias dimensões
interativas e interinfluentes. Todo e qualquer projeto, seja de “pesquisa, seja de
intervenção, seja de pesquisa-ação, e independentemente de sua finalidade, tem em sua
estrutura os mesmos elementos comuns” (LÜCK, 2005, p. 91).
Por fim fica o desafio de implementar um projeto, considerado pela a autora um
momento de esforço especial e concentrado, uma vez que é para realizar objetivos
dentro de um prazo e com gastos e ações controlados dentro do proposto. A obra orienta
a elaboração de um projeto quanto ao oferecimento e direcionamento e os elementos
para sua execução e avaliação.
Em “Planejamento: projeto de ensino-aprendizagem e projeto político-
pedagógico”, Vasconcellos (2006) utiliza metodologia dialética de abordagem da
realidade, empreendendo análise crítica do problema, projetando novas perspectivas e,
principalmente, buscando alternativas de práticas concretas e transformadoras.
Conforme afiança no prefácio, essa obra está baseada em três grandes eixos: realidade,
finalidade e mediação, sendo este desdobrado em duas partes, e organizada em quatro
partes.
Na primeira, o autor busca entender melhor o problema do planejamento
educacional, pois planejar é uma atividade que faz parte do ser humano, muito mais do
que imaginamos à primeira vista, conforme aponta Vasconcellos (2006, p.14):
No desejo de ajudar a transformar a prática educativa, tendo em vista
que a escola deva cumprir um papel social de humanização e
emancipação, onde o aluno possa desabrochar, crescer como pessoa e
como cidadão, o onde o professor tenha um trabalho menos alienado e
alienante, que possa repensar sua prática, refletir sobre ela, re-
significá-la e buscar novas alternativas.
Na segunda parte, tece comentários sobre a ação de planejar e o seu sentido,
priorizando a necessidade disso, suas finalidades e fundamentos conceituais. Traz uma
perspectiva histórico-antropológica e epistemológica do planejamento e questiona um
ponto decisivo para a significação do planejamento: a própria percepção do sujeito da
57
necessidade de mudança e a verificação da viabilidade da ação.
Na terceira e quarta partes, aborda a operacionalização de um projeto, indicando
algumas perspectivas teórico-metodológicas de como planejar no âmbito da sala de aula
e da escola. Afirma que o Projeto Ensino-Aprendizagem, hoje em dia, é considerado
como Projetos em função de seu significado mais vivo e dinâmico, correspondendo ao
plano didático e o Projeto Político-Pedagógico ao plano global da instituição. Para ele, o
Projeto de Ensino-Aprendizagem está atrelado a uma concepção de educação, que, por
sua vez está relacionada às concepções de conhecimento e de currículo. Entende que o
currículo não pode ser pensado simplesmente como uma relação de conteúdos a serem
transmitidos para um sujeito passivo.
Finalizando, descreve conceitos e metodologias de elaboração do Projeto
Político-Pedagógico, o qual envolve uma construção coletiva de conhecimento que
propicia uma metodologia de trabalho que possibilita re-significar a ação de todos os
agentes da escola. Vasconcellos (2006) acredita que diante da complexidade e
importância do planejamento no âmbito da educação sua obra possa contribuir
apontando caminhos e ajudando na transformação da prática e de um ensino
significativo.
A obra intitulada “Projeto político-pedagógico da escola: uma construção
possível” é organizada por Veiga (2004) e dirigida à construção do projeto político-
pedagógico. Os autores focalizam a construção e princípios norteadores do projeto
político-pedagógico e consideram que este tem sua funcionalidade na escola, lugar de
concepção, realização e avaliação, pautado nas necessidades dos alunos e sendo um
espaço privilegiado de formação. Abordam os seguintes temas: o sentido da gestão
escolar que viabiliza um projeto político-pedagógico globalizador e interdisciplinar; a
construção coletiva de um projeto político-pedagógico numa visão justa e democrática;
a autonomia como modelo de um novo padrão de política, planejamento e gestão
educacional; sobre o planejamento participativo que atua no sentido da construção de
identidades, da escola e dos sujeitos que ela congrega; reflexão co-participativa
afirmando a constituição simbólica da escola desde o imaginário social, a
intencionalidade política da escola e a mediação da docência em sala de aula;
socialização de reflexões e experiências que possam contribuir com o processo de
reorganização da escola em projetos; relatos de experiência do processo de construção
de um projeto político-pedagógico.
58
Na obra “Pedagogia diferenciada: das intenções à ação”, Perrenoud (2000, p. 90)
afirma que diferenciar o ensino é “fazer com que cada aprendiz vivencie, tão
frequentemente quanto possível, situações fecundas de aprendizagens” e que se deve
ajustar o ensino às características individuais, priorizando as exigências das igualdades e
o êxito escolar.
Nos capítulos 1 e 2, com os títulos “Da indiferença às diferenças nas pedagogias
diferenciadas: itinerários” e “Pedagogias diferenciadas: situação atual”,
respectivamente, o autor evidencia a exigência pela igualdade contra a indiferença às
diferenças e seu fator histórico. Apresenta a Pedagogia Diferenciada que tem por
objetivo dar a todos chances de aprender, quaisquer que sejam sua origem social e seus
recursos culturais, lutando contra ao fracasso escolar.
Uma pedagogia diferenciada é uma pedagogia racional, idéia presente desde
1966, mas que foram necessários “de 10 a 20 anos até que a diferenciação pedagógica
tornasse a palavra de ordem dos sistemas educativos nos países economicamente
desenvolvidos” (PERRENOUD, 2000, p. 28). Nesta perspectiva, se avaliam os limites
da ação em uma classe fechada entre quatro paredes e dentro de um programa anual e se
trabalha sobre as estruturas que tornam possíveis dispositivos mais favoráveis à
diferenciação.
O autor ressalta no capítulo 3 a preocupação da pedagogia diferenciada com a
relação didática sobre o sentido do trabalho escolar e a relação entre os saberes e sua
utilização, favorecendo a construção de conhecimentos transmissíveis e de
competências. Perrenoud (2000, p. 58) define transferência de conhecimentos como
“mecanismo que permite a um sujeito utilizar em um novo contexto conhecimentos
adquiridos anteriormente”.
Nos capítulos 4 e 5, intitulados “Dominas a distância cultural na relação com o
saber, com a estética e com a norma” e “Da dificuldade de pensar uma escolaridade sem
graus anuais”, o autor se ocupa com a relação dialética que não existe entre cultura,
saberes, valorização e exigência da escola, da família e das classes sociais. Diversos
questionamentos são feitos de forma a adequar a escolarização e a realidade cultural. No
segundo texto, o autor tenta esclarecer o conceito de individualização dos percursos de
formação, que se faz somente sobre os ritmos, as trajetórias e os procedimentos para se
chegar a domínios semelhantes.
Nos capítulos seguintes são questionadas a escolaridade sem graus anuais, os
ciclos de aprendizagens, que devem ser valorizados diante da possibilidade de melhor
59
formação de base da totalidade dos alunos, fazendo funcionar dispositivos didáticos em
comparação com os que se conhece. O autor avalia as reformas que introduzem os
ciclos de aprendizagem e propõe a construção de um “plano de conjunto, para saber, no
mínimo, em que direção deseja-se orientar as transformações; depois executá-lo
aceitando uma certa desordem e novas negociações, para dar conta das condições locais
e das preferências de cada um” (PERRENOUD, 2000, p.115).
No capítulo 8, Perrenoud esboça uma organização alternativa denominada
modular para os ciclos de aprendizagem, mais estável, interna a cada ciclo, com
módulos temáticos. Nessa perspectiva, repensa as estratégias de escolas inovadoras,
visando também a valorização da profissionalização.
No livro “Educação e qualidade”, Demo (1998) discute os conceitos quantidade
e qualidade: a primeira aponta para o horizonte de extensão; a segunda para a
intensidade. Para ele, a qualidade começa pela adequação da quantidade.
Salienta que o conhecimento e a educação são obras humanas, para tanto devem
ser vistas na busca da qualidade. O autor afirma que é “sempre importante aprimorar as
táticas de ensinar e aprender, seja porque a maioria da informação não é construída ou
reconstruída, mas apenas absorvida, armazenada, sistematizada e repassada” (DEMO,
1998, p. 27).
O autor discorre sobre a competência construtiva e participativa, enfatizando que
a prática docente não reduz “o aluno a objeto de aprendizagem, destruindo a relação de
sujeitos que o aprender a aprender supõe” (DEMO, 1998, p. 53). Prioriza a formação do
educador, pois entende que com professores adequados será mais fácil introduzir
inovações que levem à educação de qualidade, tanto na educação básica quanto na
superior. A qualidade no ensino superior é condição primordial para a “transformação
da pedagogia, pois é nele que está a principal oportunidade de renovação acadêmica e
de recuperação da qualidade educativa” (DEMO, 1998, p. 117).
Por fim, o autor questiona as práticas dos cursos de treinamentos para
professores da educação básica. Afirma que as práticas continuam as mesmas, tais como
aulas cópias para copiar; não conseguem teorizar a sua prática, impossibilitando sua
renovação; alguns professores não ultrapassam o mero ensino e a mera aprendizagem
por duas razões claras: definem o professor como repassador de aulas e o aluno como
receptor disciplinado (DEMO, 1998). Por isso considera que “escola e universidade têm
diante de si desafios muito próprios, que são: gerir o talento, administrar a criatividade e
manejar a rebeldia crítica. [...] Pois, não basta administrar é indispensável saber
60
construir e participar” (DEMO, 1998, p. 146).
A sexta obra analisada tem o título de “Globalização e Interdisciplinaridade: o
currículo integrado”, assinada por Santomé, está dividida em seis capítulos e traz as
origens da modalidade de currículo integrado. O autor faz “comentários sobre os
conteúdos culturais que se manejam nos centros de ensino, chama poderosamente a
atenção a denúncia sistemática do distanciamento existente entre a realidade e as
instituições escolares” (SANTOMÉ, 1998, p. 9) Aponta o trabalho prático e reflexivo
dos professores em sala de aula e para tanto oferece numerosas sugestões práticas para
facilitar a elaboração de propostas de cunho integrado e de unidades didáticas.,
favorecendo a qualidade dos sistemas educacional.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que também integram a
bibliografia do curso, são considerados um guia que pretende “auxiliar o professor na
sua tarefa de assumir, como profissional, o lugar que lhe cabe pela responsabilidade e
importância no processo de formação do povo brasileiro” (PCN, 1997, p. 9). Constituem
um referencial de qualidade para a educação. Neles são destacados aspectos do
cotidiano da prática pedagógica, a serem transformados continuamente pelo professor:
rever objetivos, conteúdos, formas de encaminhamento das atividades,
expectativas de aprendizagem e maneiras de avaliar; refletir sobre a
prática pedagógica, tendo em vista uma coerência como os objetivos
propostos; preparar um planejamento que possa de fato orientar o
trabalho em sala de aula; discutir com a equipe de trabalho as razões
que levam os alunos a terem maior ou menor participação nas
atividades escolares; identificar, produzir ou solicitar novos materiais
que possibilitem contextos mais significativos de aprendizagem; e
subsidiar as discussões de temas educacionais com os pais e
responsáveis (idem, p.10 )
A “prática do professor, mesmo de forma inconsciente, sempre pressupõe uma
concepção de ensino e aprendizagem que determina sua compreensão dos papéis de
professor e aluno, da metodologia, da função da social da escola e dos conteúdos a
serem trabalhados” (idem, 1997, p. 39). O ensino ganha autonomia em relação à
aprendizagem, cria seus próprios métodos, ressignificando a unidade entre
aprendizagem e ensino, uma vez que, sem aprendizagem o ensino não existe.
A proposta dos PCN do Ensino Médio é de “contextualizar; evitar a
compartimentalização, mediante a interdisciplinaridade; e incentivar o raciocínio e a
capacidade de aprender”. (BRASIL, 1999) Assim, as propostas de reforma curricular
para o Ensino Médio se pautam nas constatações sobre as mudanças no conhecimento e
61
seus desdobramentos no que se refere à produção e às relações sociais de modo geral.
A última obra analisada tem como título “O estágio na Formação de Professores:
unidade teoria e prática?” e é assinada por Selma Garrido Pimenta. Tem como objetivo
“buscar alternativas para a redefinição do estágio como componente curricular da
formação de professores. Tendo como base a análise das atividades de estágio”
(PIMENTA, 1997, p. 13).
Pimenta (1997, p. 21) afirma que o “estágio deve possibilitar a aquisição da
prática profissional, especialmente a de dar aulas”, considerado a parte mais prática do
curso. A autora examina os conceitos de prática predominante nos cursos de formação
de professores associado à prática de ensinar.
Em sua primeira parte, a autora faz um levantamento histórico a partir dos anos
1930 com as leis estaduais. Na segunda, intitulada “Práxis ou indissociabilidade entre
teoria e prática e a atividade docente”, aborda a atividade docente, considerada
sistemática e científica, pautada na Didática, sendo uma das áreas da Pedagogia, Ciência
da Educação. A atividade docente é práxis e toma o conceito a partir de Marx: “práxis é
a atitude (teórico-prática) humana de transformação da natureza e da sociedade. Não
basta conhecer e interpretar o mundo (teórico) é preciso transformá-lo (práxis)”.
(PIMENTA, 1997, p. 84).
Nesta obra, a autora mostra a contribuição da Didática ao estudo do processo de
ensino-aprendizagem sistemático e intencionalmente. Afirma que “a identificação do
paradigma positivista na Didática, no qual a dissociação entre teoria e prática
predomina. [...] que a teoria determina a prática, seja considerando-se a prática como
experimentação das proposições teóricas” (PIMENTA, 1997, p. 107).
A terceira parte é reservada para descrição de um projeto de estágio
desenvolvido em dois Centros Específicos de Formação e Aperfeiçoamento do
Magistério (CEFAM), a coleta dos dados e a devida interpretação da pesquisa de
campo.
Concluindo, Pimenta (1997) olha a realidade e garimpa os germes indicadores
da unidade teoria e prática. Identifica o estágio como uma atividade teórica de
conhecimento da práxis dos professores, sendo um dos componentes do currículo do
curso de formação de professores.
Analisar a matriz curricular, as ementas das disciplinas que a compõem, seus
objetivos, as bibliografias indicadas e o conteúdo dessas obras é tentar compreender o
que os alunos lêem, estudam e discutem em sala de aula e que se relaciona à atividade
62
“dar aula”. É identificar nas falas dos alunos alguma relação entre a fundamentação
teórica, os discursos dos discentes e docentes. É procurar a identificar a presença de
slogans pedagógicos
8
que persistem nas obras indicadas e dentre eles estão a “relação
teoria e prática” que se faz necessária nas “práticas pedagógicas”, objetivando uma
“educação de qualidade” articulada por um currículo integrado que contemple o
“processo ensino e aprendizagem” através de um “planejamento educacional”. Tais
slogans como explica Carvalho (2001, p. 155) “obnubilam a especificidade da tarefa
educativa em instituições escolares e ignoram os desafios concretos da ação docente
nessas instituições”.
8
“A expressão slogan educacional é utilizada por Scheffler (1974), para caracterizar certas expressões e
palavras de ordem que se tornam símbolos de movimentos ou doutrinas educacionais e cuja função é
atrair novas adesões ou reforçar a união dos aderentes em torno de certos princípios teóricos e práticos”
(CARVALHO, 2001, p. 157)
63
CAPÍTULO 4
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE DAR AULA
Por iniciativa do pesquisador que elaborou a Teoria das Representações Sociais,
Serge Moscovici, foi criado o Centro Internacional de Estudos sobre Representações
Sociais e Subjetividade (CIERS-Ed), em 2006, pelo Departamento de Pesquisas
Educacionais da Fundação Carlos Chagas, com o apoio do Laboratório Europeu de
Psicologia Social (LEPS) da Maison des Sciences de l´Homme de Paris (MSH) e contou
com a assessoria e participação da pesquisadora Denise Jodelet.
Seu o objetivo é de realizar investigações científicas no âmbito da educação por
meio do estudo da teoria das representações sociais em articulação com outros
referencias teórico-metodológicos de modo a analisar e refletir sobre os processos
educacionais bem como seus consequentes sociais, desenvolvidos em instituições de
ensino.
O CIERS-Ed mantém uma equipe de professores que desenvolvem pesquisas
sobre representações sociais de trabalho docente. Compõem esta equipe pesquisadores
de quatro universidades, formalmente conveniadas: Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo; École des Hautes Etudes en Science Sociales (EHESS/ França);
Universidade de Aveiro (DCE/Portugal); e Universidad de Belgrano (UB/Argentina).
No Brasil, destaca-se Universidade Estácio de Sá, que possui no Programa de Mestrado
e Doutorado, uma Linha de Pesquisa em Representações Sociais e Práticas Educativas.
Ao iniciar o Mestrado em Educação nessa Instituição, conheci a pesquisa
Representações Sociais do Trabalho Docente desenvolvida pelo CIERS-Ed cujo
objetivo era buscar as representações sociais de trabalho docente produzidas por
estudantes universitários dos primeiros anos de cursos de graduação (Pedagogia e
Licenciaturas), identificar seus elementos constituintes e compreender a dinâmica da
organização desses elementos.
Na primeira etapa da coleta de dados, participaram 2789 alunos de primeiro ano
(primeiro e o segundo períodos) que estudavam em diferentes universidades brasileiras.
A eles, foi aplicado um teste de associação livre e a partir das palavras indutoras aluno,
professor e dar aula, solicitando-lhes que associassem quatro palavras que lhes viessem
64
à mente quando cada uma daquelas fossem mencionadas. Foi pedido também que
apontassem para cada palavra indutora a de maior importância, de forma colocar o
número 1 para a mais importante e o número 2 para a de segunda importância e assim
sucessivamente. Também foi aplicado um questionário sendo que na primeira parte
constavam perguntas que possibilitavam definir o perfil do respondente e na segunda 20
perguntas abertas e fechadas relacionadas à sua futura profissão.
As palavras evocadas foram submetidas ao software EVOC (VÉRGES, 1994)
que identifica os possíveis elementos do núcleo central considerando a freqüência (F) e
a ordem média de evocação (OME). Os resultados gerados foram gravados em CD-
ROM onde constava uma planilha com a relação dos 2789 sujeitos, as palavras
evocadas, o gráfico com os resultados dos possíveis elementos que compunham o
núcleo central, o relatório completo do rangmot
9
e o resultado do rangfreq
10
.
No Núcleo Central da representação social de professor encontram-se os
elementos amigo, competência, dedicação, exemplo, importante, inteligente,
responsabilidade, sabedoria, aluno, aula, companheiro, profissão, profissional, trabalho,
criança, educação, educador, ensinar, mediador, mestre e orientador; de aluno, os
elementos atenção, compreensão, dedicação, paciência, amigo, inteligente, pessoa,
professor, aprender, aprendizagem, ensinar, estudo, bagunça, criança, disciplina e
escola; de dar aula encontram-se os elementos atenção, dedicação, importante, prazer,
responsabilidade, sala, transmitir, aluno, criança, aprender, educação, educar, ensinar,
ensino e professor.
Após o estudo desses resultados, verificou-se que dentre os 2789 alunos que
participaram da primeira etapa, 300 estudavam em universidades localizadas no Rio de
Janeiro, sendo que desses, 281 cursavam graduação em Pedagogia. Desses ainda, foi
possível localizar 51 alunos que estavam lotados em universidade da Baixada
Fluminense, na qual desempenho a função de docente. Surgem daí o objeto (dar aula) e
os sujeitos (51 alunos) da minha pesquisa.
Assim sendo, preparei uma planilha com o resultado do teste de associação livre
aplicado: as palavras evocadas por ordem de evocação dos 51 alunos, respeitando a
mesma numeração recebida quando faziam parte do grupo maior quando compunham
os 281 alunos, para melhor identificação desses sujeitos. Nesse momento não foi
9
Relação das palavras evocadas, em ordem alfabética, com o quantitativo por ordem de evocação; com a
distribuição total das freqüências das palavras evocadas e o total de palavras evocadas diferentes.
10
Resultados dos quatro eixos ortogonais com os elementos que compõem o núcleo central, a primeira
periferia, elementos de contrastes e elementos periféricos propriamente ditos.
65
realizado o ajuste de palavras evocadas, por considerar o ajuste do processo na
composição anterior.
11
As palavras evocadas deveriam ser submetidas ao software EVOC, permitindo
identificar os possíveis elementos que compunham o núcleo central das representações
sociais de dar aula dos 51 alunos ingressantes nessa universidade. Entretanto, tendo em
vista as dificuldades de acesso ao programa, desenvolvi os procedimentos utilizados no
tratamento de dados “manualmente”, isto é, calculei a freqüência e a freqüência média
de evocação, a ordem média de evocação e a média das ordens médias de evocação.
Mais tarde, tendo oportunidade de usar o programa, pude verificar que os resultados
encontrados foram os mesmos quando da utilização do programa.
O relatório rangmot foi preparado permitindo localizar as freqüências das
palavras e suas evocações. Para esse grupo de alunos, foram contabilizadas 197 palavras
evocadas e 89 palavras evocadas diferentes. Com esses resultados foi feito o corte da
freqüência em sete, que possibilitou preparar o resultado do rangfreq, identificando os
possíveis elementos que compõe o núcleo central da representação social de dar aula:
aluno, ensinar e professor.
Os resultados do rangfreq são colocados em quatros eixos ortogonais: no
primeiro eixo encontram-se os elementos aluno, ensinar e professor que compõem o
núcleo central com freqüência superior e igual a 7 (ƒ ≥ 7)
e OME menor que 2,25 (OME
2,25); o elemento aprender compõe a primeira periferia com freqüência superior a 7
> 7)
e OME superior a 2,25 (OME > 2,25); educação, dinâmica e escola são os
elementos de contrastes com freqüência inferior a 7 < 7) e OME inferior a 2,25
(OME < 2,25); como elementos periféricos amor, responsabilidade, criativo e
planejamento com freqüência inferior a 7 <7) e OME superior a 2,25 (OME>2,25)
(Ver Tabela 1, Apêndice 1).
Como não foi solicitado aos alunos que justificassem as palavras evocadas, o
que contribuiria para analisar a estrutura dessa representação e “questionar a
imprescindibilidade de um dado elemento para a representação” (VERGARA, 2008, p.
248), busquei esses 51 alunos que agora estavam no último ano de seu curso com o
objetivo de comparar as representações sociais de dar aula por eles elaboradas ao
11
Logo após a identificação das palavras evocadas, é necessário fazer a limpeza do corpus. Para tanto, é
preciso ter atenção nas diferentes palavras que possuem o mesmo sentido nas falas dos sujeitos, a
existência de diferentes sinônimos nas diversas evocações e a mesma palavra evocada que possui sentidos
diferentes. Após o ajuste das palavras, geralmente é preparado um pequeno dicionário para identificar as
palavras substituídas, gerando um arquivo denominado “ajuste de palavras”.
66
ingressarem e ao concluírem a graduação e verificar se houvera alguma mudança nessa
representação social provocada por suas trajetórias acadêmicas. Com eles, além de
aplicar novamente o teste de livre evocação e o questionário, realizei entrevistas
individuais e dois grupos focais.
Num primeiro contato, lhes foi esclarecida a relevância da pesquisa e a
importância de sua colaboração. Solicitei, em seguida, que preenchessem o mesmo
questionário aplicado quando cursavam o primeiro e segundo período de Pedagogia (1º
ano).
Esses alunos estudam no horário noturno. Dentre eles, 51% não dependem
financeiramente de seus responsáveis; 90,2% são do sexo feminino; 29,4% estão na
faixa etária de 24 a 30 anos e 47,1% na de 31 a 41 anos; 45,1% se consideram pardos e
27,5% brancos; 55% mantêm união estável ou estão casados; 58,8% das mães e 41,2%
dos pais possuem somente até a série do ensino fundamental (atualmente ano). A
renda familiar gira em torno de até 3 salários nimos para 41,2% e 74,5% possuem
internet em casa.
As perguntas fechadas foram divididas em grupos de acordo com o teor dos
questionamentos. Assim sendo, as questões quanto à futura profissão revelam que
82,4% pretendem dar aula assim que se formarem; 53% acreditam que vão encontrar
alunos com nível de aprendizagem mais baixo comparado com a sua formação recebida;
e 51% dessas dificuldades estão relacionadas à idade dos alunos. A maioria (84,4%)
acredita que seus alunos terão conseguido aprender até o final do ano.
As questões seguintes foram divididas em dois blocos, sendo que as de número
sete a 10 relacionadas às dificuldades de aprendizagem dos alunos, referem-se a fatores
ligados a eles mesmos, aos professores, à escola e a seus pais; e as de 11 a 13 referem-se
à superação dessas dificuldades. Os alunos concluintes acreditam que as dificuldades de
aprendizagem dos alunos estão relacionadas à falta de base (68,6%); 52,9% acreditam
que as práticas dos professores são inadequadas e que a escola está distante da realidade
dos alunos (47,1%); 68,6% responsabilizam a família na não participação e
envolvimento com a escola.
Para superar essas dificuldades, os alunos concluintes do Curso de Pedagogia
afirmam que os alunos devem ser conquistados pelos seus professores (52,9%); deve
haver mais envolvimento dos professores com seus alunos (41,2%); e que os mesmos
possam reorganizar as suas práticas docentes (41,2%); 47,1% gostariam que houvesse
parceria entre a escola e a comunidade.
67
As questões 15 a 19 enfatizam a formação docente: 90,2% acreditam que os
professores devem estar motivados na busca de novos métodos de ensino. Quanto à
expectativa de entrar no magistério, 51% afirmam que os alunos aprenderão se os
professores estiverem preparados. No que se refere à sua escolha profissional, esta é
referenciada pela família (78,4%), mas 80,4% de seus amigos acham que não vale a
pena ser professor e 60,7% consideram a profissão parecida a do psicólogo.
As questões que se referem à formação foram intensificadas na questão de
número 14: a composição do curso de Pedagogia deve ter 30,5% de conteúdos
específicos; 32,3% de conhecimentos didáticos e metodológicos de ensino; 31,3%
destinados a prática de ensino (estágio); e 5,9% em diversos fatores, tais como formação
continuada, palestras/debates/congressos, informática educativas, relações humanas,
conhecimentos gerais, cursos de extensão, arte educacional, filosofia, primeiros
socorros, pesquisa e práticas de estágio.
A pergunta aberta, de número 20, revela que a profissão docente está relacionada
ao comprometimento, à persistência e à dedicação que os professores devem ter ao
exercer a sua profissão, conforme apontam os alunos:
Ser um educador não é tarefa fácil devido aos inúmeros problemas
que estão presentes no dia a dia da escola, mas é preciso ser
persistente e ter muita dedicação (A 6).
A partir do momento que optei pela educação, sinto-me
compromissada com a educação e suas mudanças e quanto ao salário,
quando escolhi a profissão sabia de todos os problemas que
poderiam surgir (A 14).
Tais descrições permitem afirmar que a visão dos alunos, futuros professores, é
de conscientização de um trabalho árduo diante do acúmulo de tarefas entremeado pelo
baixo salário, cenário escolar, nível dos alunos e suas dificuldades de aprendizagem, o
que necessita um certo “malabarismo profissional” (TARDIF, LESSARD, 2007, p.157).
O professor precisa buscar novas metodologias que irão enriquecer a sua prática docente
e persistir com compromisso e dedicação, visando o processo ensino e aprendizagem.
Num segundo momento, foi aplicado um teste de evocação livre contendo
apenas a expressão indutora dar aula. As palavras evocadas foram, também,
submetidas ao software EVOC. Para obter os resultados foi desenvolvido o mesmo
procedimento: planilha de evocações, mini dicionário de ajuste de palavras e relatórios
rangmot e rangfreq.
68
Entre a 200 palavras evocadas pelos 51 alunos concluintes, 81 eram diferentes.
A análise do relatório rangmot permitiu efetuar o corte na freqüência quatro, obtendo a
tabela rangfreq com a possível estrutura da representação social de dar aula. No núcleo
central. com frequência superior e igual a 7 7)
e OME inferior e igual a 2,24
(OME≤ 2,24) estão os elementos ensinar e planejamento; na primeira periferia os
elementos com freqüência superior e igual a 7 7)
e OME maior que 2,24 (OME
2,24) estão os elementos conhecimento, aluno, escola e responsabilidade; os
elementos de contrastes professor, dedicação e criatividade tinham freqüência inferior
a 7 < 7) e OME inferior a 2,24 (OME < 2,23); e os elementos periféricos com
frequência inferior a 7 ƒ < 7) e OME superior a 2,24 (OME>2,24) estão compromisso,
amor, competência, pesquisa e prazer. (Ver Tabela 2, Apêndice 2).
Observa-se que o elemento ensinar aparece no núcleo central das duas
representações sociais. No sistema periférico foram identificadas palavras relacionadas
à profissão docente, elementos considerados operativos e que possivelmente interferem
na relação com os elementos do núcleo central.
Quando ingressantes, os 51 alunos se referiram à responsabilidade e à
criatividade e agora, como concluintes, enfatizaram o compromisso e a competência
do professor, que busca conhecimento por meio da pesquisa e tem prazer ao exercer a
profissão.
Amor é o elemento que permanece no sistema periférico nos dois momentos, o
que pode ser explicado pela relação histórica e socialmente construída de que para
exercer o magistério é preciso ter amor à profissão. É o que expressou a aluna:
São tantas emoções que vivemos. São momentos lindos. Sei tudo que
a educação é capaz de me dar, eu sei e não deixo de amar. Se chorei
ou se sorri o importante são as emoções que vivo (A 24 ).
Diante dos percalços da profissão a aluna 25 diz que só com o amor pode-se
mudar o mundo:
Para ser professor é necessário que tenha amor a profissão, não se
iluda achando que vai ficar rico, mas tenha certeza que se você se
esforçar poderá ter uma vida digna e acima de tudo pense em cada
criança que você abrirá os olhos para o mundo do conhecimento e
lembre-se se você quer mudar o mundo comece na sala de aula
mudando seus alunos, pois eles serão o futuro do país
69
Para compreender o surgimento da palavra planejamento no núcleo central da
representação de dar aula para os alunos concluintes que antes estava localizado na
periferia, foram entrevistados 20 alunos dentre os 51 que participaram da pesquisa do
CIERS e da pesquisa em tela, sendo esse o único critério para seleção dos sujeitos.
As entrevistas com alunos concluintes do Curso de Pedagogia foram realizadas
no semestre de seu último ano, em 2009. Consistiram numa conversa intencional
(RIZZINI; CASTRO; SARTOR, 1999) do tipo semi-dirigida com tópicos voltados à
investigação quanto à atuação profissional, formação normal em nível médio,
características do Curso de Pedagogia e dar aula. O roteiro se encontra no Apêndice 3.
Primeiramente, foi explicada aos alunos a necessidade da realização da
entrevista e acordado que as mesmas aconteceriam antes do início das aulas, o que
perdurou aproximadamente por três meses.
Dentre os participantes, 10 não trabalham atualmente; mas entre os que
trabalham, quatro atuam em setores relacionados à educação, mas não lecionam; dois
trabalham fora da área educacional e somente quatro lecionam. Sete alunas fizeram
Curso Normal e para elas também perguntei qual havia sido a contribuição desse tipo de
a formação para a graduação. E quanto ao sexo, somente um aluno do sexo masculino
.
Durante as entrevistas foram perguntadas as razões para a escolha do Curso de
Pedagogia. Para alguns, foi em função da seleção do Programa de Universidade para
Todos (PROUNI) ou melhores condições de mensalidades:
Na verdade a Pedagogia na escolha foi uma das minhas opções,
porque sou bolsista e nem acreditaria que um dia estaria fazendo um
curso de Pedagogia, mas Deus é que sabe das coisas, eu agora to
apaixonada pelo curso (A 2).
Bom, na verdade, foi uma oportunidade que eu tive através do
PROUNI eu entrei. Tive uma oportunidade e entrei no Curso, mas
na época quando eu entrei não foi aqui no Rio, foi em Brasília. E
quando vim pra já tinha um ano de curso, em Brasília. E aí,
gostei do curso e quando vim pra transferida vim para o mesmo
curso, tive a opção de trocar para outro curso, mas preferi continuar no
curso, pois eu gostei do que tive lá (A 8).
Eu não escolhi fazer Pedagogia. Na época Pedagogia foi um dos
cursos que eu precisava escolher para o PROUNI. Então, o curso de
Pedagogia por professora foi o que eu consegui a gratuidade total, em
História eu consegui um desconto. Entrei na Pedagogia com intenção
de trocar o curso, mas depois me apaixonei pelo curso (A 12).
70
Porque na época, foi um curso que me chamou atenção por estar se
abrindo aos espaços não escolares e a mensalidade se encaixava no
meu orçamento (A 16).
Outros buscaram o curso por acaso:
Na verdade eu queria fazer Psicologia e eu escolhi por falta de outras
modalidades. Eu escolhi Pedagogia, achando que Pedagogia tinha uma
ligação muito íntima com a Psicologia, então eu não sabia o que era
Pedagogia. Eu não conhecia o que era Pedagogia até eu entrar na
universidade (A 9).
Primeiro eu passei em Letras na UERJ, passei em Geografia na UERJ
também. comecei e não gostei, não consegui me adaptar. A minha
chefe que falou faz Pedagogia, faz Pedagogia. eu falei bom vou
tentar (A 10).
Eu escolhi, aliás não foi uma escolha... Na verdade foi assim...a
oportunidade veio pra eu fazer o curso e no momento que eu
procurei...procurei...eu achei..cai na Pedagogia, então não foi uma
escolha ...foi aproveitar uma oportunidade que me foi concedida. [...]
Foi porque eu me mudei pra cá.tem pouco tempo e meu esposo
falou...oh, moramos perto de uma universidade, você escolhe um
curso e faz a matrícula. A oportunidade foi essa, aproveitar que
estamos perto e ele decidiu pagar e resolvi fazer (A 5).
Para outros, ainda, o curso contempla a formação profissional:
Olha, eu escolhi Pedagogia porque me alicerce e está
desenvolvendo atividades da realidade e atuando na área de educação
(A 11).
Pra dar continuidade a profissão que eu escolhi que é o magistério,
que é dar aula. Então, Pedagogia vai completar (A 1).
A Pedagogia surgiu na minha vida como uma forma de
aprimoramento da minha práxis (A 15).
Escolhi Pedagogia porque precisava embasar minha prática e dominar
uma teoria que norteia o sistema educacional no qual estou inserida
(A 17)
Estar cursando Pedagogia também faz parte das expectativas de alguns alunos,
mas se refere ao desejo de futuramente serem proprietários de uma escola:
Com a idéia de abrir uma escola e está por dentro do que acontece e se
estuda nessa área (A 19).
71
Por não ter o curso que gostaria e por ter vontade de abrir uma escola
(A 18).
Para alguns alunos a escolha do curso está relacionada ao desejo de trabalhar em
projetos ou atividades relativas à educação:
Era mais pela visão que eu queria, era mais voltada pra isso, pra
escola, cotidiano escolar. E até depois no futuro vai me ajudar
bastante (A 4).
Foi perguntado o que seriam essas visões e o aluno respondeu que havia gostado
de ajudar nessa atividade na escola, sendo um trabalho feito no ato de ensinar, uma vez
que atuou como professor de música numa Igreja.
Com relação à matriz curricular e as disciplinas que a compõe, embora, uma boa
parte dos alunos não tenha feito opção pelo curso, a maioria afirma que o curso é muito
bom e proveitoso. Apontam as disciplinas Filosofia, Didática e Psicologia como as que
mais gostaram, mas sem grande representatividade, considerando que cada disciplina
teve quatro indicações, o que também acontece quando apontam as disciplinas que
menos gostaram. Justificam que as disciplinas que gostaram colaboraram para sua
formação, sendo a Didática a mais importante por tratar de conhecimentos teóricos e
práticos necessários à prática docente; e Filosofia e Psicologia, ambas voltadas para os
aspectos sociais e psicológicos que orientam a prática da reflexão e relação com o outro.
Quanto às disciplinas que contribuíram ou não contribuíram para sua prática
docente, dos 20 entrevistados, seis afirmaram que todas disciplinas contribuíram e nove
consideraram que as disciplinas Didática, Prática Pedagógica e Estágio incorporaram
conceitos vivenciados na prática. Na investigação da disciplina que não contribuiu para
a prática docente, 11 alunos afirmaram não ter como indicar, pois todas se interligam e
são importantes para a formação e o trabalho docente.
Como a disciplina Estágio foi apontada como uma das que mais contribuíram e
indicada como aquela que possibilitou a integração teoria e prática, perguntei como foi
efetivado o estágio nas escolas. Os alunos, em sua maioria, responderam que fizeram o
estágio conforme o estabelecido pela disciplina: observando, colaborando e finalizando
com práticas em salas de aula. Apontaram, ainda, as atividades desenvolvidas na
Educação Especial e Infantil como as mais interessantes e proveitosas.
Os alunos acreditam que o curso trouxe bastante conhecimentos e se sentem
preparados para o exercício do magistério, mas enfatizam apenas o que aprenderam
72
sobre relação interpessoal (Alunos 4 e 8) e sobre a utilização em outros ambientes não-
escolares (Alunas 9 e 11):
Com certeza o curso contribuiu, porque a Pedagogia é...seja qualquer
profissão que eu vou exercer ela é importante, porque aquela visão
educacional das coisas, então [...] Com base, exatamente pelas
relações humanas ...com as pessoas é no modo da tolerância maior
...saber acontecer , identificar né, de aceitar o espaço do outro, então
eu acho que isso...que a Pedagogia me ensinou bem (A 4).
Bom, quando eu entrei realmente eu queria alguma coisa ligada a
educação porque eu gosto de lidar com pessoas, bom eu queria fazer
uma especialização de recursos humanos , não sei se vou conseguir
isso , mas a Pedagogia eu acho que ela ajuda a gente a ter esse contato
...saber lidar com as pessoas. Então eu acho que de uma maneira geral
o contato com as pessoas que na Pedagogia não tem como você não
viver sem o contato com as pessoas [...] com a convivência com as
pessoas de todas as fases: seja criança, adolescente, sejam
adultos...então você tem contato com vários tipos de pessoas, várias
faixas de idades. [...] com certeza, na minha visão realmente numa
área agora, tipo recursos humanos, a Pedagogia realmente
conectada com isso que eu quero (A 8).
Com certeza o curso contribuiu porque o pedagogo na sua gama de
conteúdos ele tem uma formação humanística. Então ele valoriza o ser
humano como pessoa e como um todo. Essa contribuição ela vai se
dar porque eu tenho vários ambientes para eu escolher...que eu posso
atuar. Tanto posso atuar na escola, como nas Forças Armadas, como
nas ONG, como no IBGE, e uma gama de aberturas, então a
Pedagogia ela vai me dar essa possibilidade de escolher com o lugar
que eu quero atuar, desenvolver o que eu aprendi na faculdade (A 9).
Olha, eu estou aberta no Curso de Pedagogia na área de educação
mesmo. Mas, pelo fato de eu ser formada em auxiliar e técnico de
enfermagem, eu também estou tentando explorar a área Pedagogia
Hospitalar.Abrindo concurso ou até particular mesmo, que venha
oferecer vaga pra mim (A 11).
Poucos são os que consideram que o curso contribuiu para sua prática
pedagógica:
Aprendi muito acerca da prática pedagógica na realidade, que difere
em alguns pontos do que aprendemos na teoria e também aprendi a
manter uma postura mais voltada à prática docente (A 16).
Acredito que contribui, pois como disse anteriormente o Curso de
Pedagogia embasou minha prática, norteando o trabalho que já estava
sendo desenvolvido conduzindo-o de maneira mais eficaz (A 17).
O que se pode concluir é que a procura pelo curso de Pedagogia nem sempre é
73
feita por opção profissional, por isso as disciplinas que parecem mais contribuir para o
desenvolvimento pessoal dos alunos são aquelas voltadas às relações interpessoais. Por
outro lado, as disciplinas Didática e Estágio contribuem para o desenvolvimento
profissional, uma vez que coloca os futuros professores em contato direto com a
realidade da sala de aula e com a prática docente.
Completando a coleta dos dados, optou-se pela técnica de grupo focal,
considerada uma ferramenta usada para determinar reações, opiniões dos integrantes e o
objeto observado (DIAS, 2000). Foram então realizados dois grupos focais: um com 12
e outro com oito alunos.
O grupo A (com 12 participantes) compareceu à sala de aula uma hora antes do
início das aulas na primeira semana do mês de dezembro; o grupo B (com 8
participantes) na semana seguinte, no mesmo horário acordado. Enquanto mediadora,
estimulei a participação e interação entre todo, deixando que cada um fosse emitindo
sua opinião espontaneamente. Inicialmente expliquei os procedimentos da técnica
utilizada e solicitei permissão para gravar, enfatizando que as identidades seriam
preservadas.
Foi preparado um roteiro que levava em conta os resultados do teste de livre
evocação de palavras, tanto aquele realizado quando eram iniciantes, quanto
concluintes. O roteiro se encontra no Apêndice 4.
No início, na participação do Grupo A, os olhares correram pela sala, mas pelo
fato de ser professora deles, aos poucos foram ficando à vontade e perdendo a timidez,
fato não ocorreu com o Grupo B.
Todas as perguntas foram feitas aos dois grupos e as falas registradas em
gravação em áudio transcritas. Após leitura exaustiva do material coletado, procedeu-se
a análise de seu conteúdo, segundo as proposições de Bardin (1977): desvendando
significações de diferentes tipos de discursos, baseando-se na inferência ou dedução,
mas respeitando critérios específicos propiciadores de dados em freqüência e estruturas
temáticas.
A seguir, tem-se a etapa da codificação, na qual são feitos recortes em unidades
de contexto e de registro. De acordo com Bardin (1977), unidade de registro (UR),
apesar de dimensão variável, é o menor recorte de ordem semântica que se liberta do
texto, podendo ser uma palavra-chave, um tema, objetos, personagens, etc. Já unidade
de contexto (UC), em síntese, deve fazer compreender a unidade de registro, tal qual a
74
frase para a palavra. Nesta pesquisa foi tomada como unidade de contexto todas as falas
registradas e como unidade de registro, o tema que daquele se sobressaía.
Na fase da categorização, foram observadas as regras de exclusão mútua,
homogeneidade, pertinência, objetividade, fidelidade e produtividade, fazendo emergir
sete categorias: (1) Ensinar, (2) Dar aula, (3) Planejar, (4) Saber, (5) Fazer, (6)
Dificuldades enfrentadas para dar aula e (7) Formação, que serão apresentadas em
sequência.
Recorrendo Moran (2009), Ensinar se refere à flexibilidade espaço-temporal,
pessoal e de grupo, menos conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e de
comunicação. Ensinar tem que ter significado, cooperação e especificidade.
Com relação a ensinar, os participantes se referem a “dar alguma coisa”,
“receber algo”, caracterizando uma troca entre pessoas, como afirmam as alunas:
Ensinar...dar aula...tá relacionado com troca...dar alguma coisa.
Porque ninguém ensina nada a ninguém ...ensina alguma coisa a
alguém (A 4).
Eu acho que não é você ensinar, você dar, mas também receber.
Acho que tão compacto o dar aula...o que você vai ensinar , mas o
que você recebe...o ensinar e o aprender. que é uma troca a
palavra ensinar é um equívoco, deveria ser de repente uma troca
mútua...melhor elaborada já que você vai ensinar...você ensinando
você vai dando e você recebendo. Eu acho que poderia formar
uma frase e não só uma palavra (A 20).
Nesse sentido, Russo (2004, p. 72) afirma que o aluno encontra em sala de aula
“um clima de comunicação, de troca de ideias, de cordialidade, de amizade, [...] a
aprendizagem se realiza de maneira mais espontânea e mais consciente, fazendo com
que o aluno alcance, cada vez mais, melhor integração escolar e maior confiança em si”.
Nessa perspectiva, o que é deixado de lado é o fazer pedagógico, como explica Rays
(2000, p. 50):
O verdadeiro fazer-pedagógico é aquele capaz de refletir corretamente
cada situação de aprendizagem a partir do exame concreto da
realidade onde educador-educando estão inseridos, envolvendo,
cuidadosamente, todos os dados necessários à sua solução que
intrinsecamente será sempre parcial, porém aproximar-se-á mais das
necessidades educacionais concretas.
75
Dar aula se refere a metodologias e técnicas diferentes que vão sendo adaptadas
às necessidades dos alunos (MORAN, 2009). Entretanto, os alunos identificam dar aula
com o espaço físico destinado para essa atividade e a relacionam com amor, paciência e
carinho. Assim, dar aula está relacionado à estrutura da escola, ao espaço onde se
procede a aprendizagem, identificada como um processo de dar e receber:
A estrutura, prédio, escola...exatamente assim uma coisa muito
tradicional...que eu acho hoje que o ensino vem mudando tanto, mas
ainda não conseguiu fazer com que a gente pense...até agente no
Curso de Pedagogia vai pensar em dar aula tá na cabeça...Ensinar.
Mas, quando a gente volta na sua Pedagogia a gente que não é
ensinar....não só dar, mas dar e receber ao mesmo tempo (A 8).
Acho que não é só transmitir o conhecimento, uma troca desses
conhecimentos. um convívio entre pessoas...há...há um futuro a se
planejar diante desses ensinamentos. Ensinar a todo momento em todo
lugar, mas a sala de aula é o ambiente de ensinar. Mesmo que seja em
outro local, automaticamente você pensa na sala de aula (A 15).
Os alunos parecem trazer à discussão a afirmação de Russo (2004, p. 28): o
“papel principal do educador é ensinar, este ensinar deve estar de acordo com a
aprendizagem formativa”, conforme as falas registradas a seguir.
[Ensinar] tá diretamente ligado ao trabalho do pedagogo , que é
conduzir a aprendizagem é...não somente ensinar, mas como educar
também, eu acho que a ligação que tem é essa ...direta é essa em
ensinar o aluno mesmo ...o cidadão (A 5).
Bom eu acho que vem rápido para eles falarem, porque ensinar que
eles querem ir na escola...eles falam ensinar, na cabeças deles
funciona assim, mas não é assim. A gente tem que receber o aluno e
passar o que? a parte da educação que eles não têm em casa , a
educação vem de casa, mas a escola é que completa isso (A 7).
Porque é um processo histórico, até de falar em escola você pensa
logo em ensinar, né...tá muito ligado uma coisa com a outra. E é a
escola, o dar aula muito além do ensinar, muito além disso.[...] Ah
hoje em dia o papel do professor é muito maior da época que eu
estudei, porque a criança precisa mais do professor porque a família
deixando...tá falhando em algumas coisas. Então você pega a
criança e tem que educar, passar boas coisas para elas ...ensinar não só
o conteúdo, mas ensinar a ser gente, a conviver socialmente, em várias
coisas. (A 10).
Porque dar aula está associado a aprendizagem., aprendizagem leva o
que? Ao ensinar. Então os alunos associam muito o ensinar ao dar
aula. E na verdade o profissional pedagogo dentro da sala de aula faz
76
mais do que ensinar, educar com compromisso e responsabilidade...é
para educar (A 1).
Ensinar, portanto, está relacionado a algo mais amplo: dar a educação que não é
dada em casa pela família. Somente três alunos relacionaram dar aula a ensinar alguma
coisa a alguém, ao contexto de ensino e aprendizagem:
É pelo fato que quando vem a palavra dar aula a gente pensa no
docente e vários alunos. Acho que eles associaram isso, ao contexto
da sala de aula, aluno e professor, pensaram nisso a imagem, acho que
foi por aí (A 11).
Eu creio que em relação a isso, quando evocaram ...quando a gente
chega você vem com um desejo muito grande de aprender, eu creio
que essa palavra a gente espera muito daquele que está à frente , para
que você possa estar pronto também para ensinar. As expectativas, eu
acho da maioria de aprender é muito grande então eu acho que de
repente seja por aí...aprender , ensinar, aprender com alguém (A 12).
Eu acho que dar aula já é o princípio que a gente toma desde de cedo
de ensinar conhecimento. E dentro da aula tem o professor
obviamente que vai te ensinar, acredito que tenha sido por causa disto.
(A 16).
Para dar aula o professor precisa ter compromisso, responsabilidade, amor,
carinho e paciência, pois só assim haverá êxito no processo ensino e aprendizagem:
Porque dar aula está associado a aprendizagem, aprendizagem leva o
que? Ao ensinar. Então os alunos associam muito o ensinar ao dar
aula. E na verdade o profissional pedagogo dentro da sala de aula faz
mais do que ensinar, educar com compromisso e responsabilidade...é
para educar (A 1).
É em relação a pesquisa, mas eu vejo isso. Eu vejo que você tem
que dar aula, mas tem que ter comprometimento...você tem que ter
compromisso com aquilo que você ta fazendo...você tem que ter amor,
não adianta só eu chegar na sala de aula pegar o conteúdo “nua e crua
ali e passar para o aluno sem ter estudado ...sem ter carinho ...sem ter
paciência pra ensinando aquilo. Porque colégio é uma extensão da
casa do aluno, então que [...] dele. Mesmo, hoje em dia ele sendo um
pouco terrível., né.[...] O compromisso que eu penso ...tem muitos
profissionais hoje que embora a gente ganhe pouco...eles vão
pegam qualquer coisa e alguns nem planejam aula. Não tem carinho
com o que vão fazer e eu acho que qualquer profissão . Qualquer um é
“doutor” na sua profissão e por falar nisso tem que ser respeitado ,
você não quer fazer aquilo...então não faz , mas se vai fazer ...faz com
carinho e amor (A 6).
77
Para ensinar e dar aula, portanto, é preciso ter amor e paciência, além de dar
carinho. O que parece ficar negligenciado é aquela que é considerada a tarefa primordial
do professor: ensinar alguma coisa a alguém (ROLDÃO, 2007) e isso se refere aos
conteúdos que os alunos precisam aprender para poderem competir no mundo fora da
escola. Ensinar é contribuir para o desenvolvimento de habilidades e de atitudes que
devem estar ao alcance do aluno, pois ensinar é bem mais do que foi citado pelos
alunos. A função de ensinar sendo caracterizada, pela figura dupla transitividade e pelo
lugar de mediação, ou seja,
configura-se assim, nesta leitura, essencialmente como a
especificidade de fazer aprender alguma coisa (a que chamamos de
currículo, seja de que natureza for aquilo que se quer ver aprendido) a
alguém (o ato de ensinar se atualiza nesta segunda transitividade
corporizada no destino da ação, sob pena de ser inexistente ou gratuita
a alegada ação de ensinar) (ROLDÃO, 2007, p. 95).
O que se conclui é que, mesmo depois de três anos de formação docente, os
alunos consideram que ensinar é um ato de amor e não percebem a “docência
permanece essencialmente uma prática centrada nos alunos, em torno dos alunos, para
os alunos” (TARDIF; LESSARD, 2007, p.141), mas descaracterizar a identidade
profissional do professor, dando ênfase ao amor e carinho é entender o processo de
ensino como compensador das dificuldades afetivas, sociais e econômicas das famílias.
Estudos conduzidos por Alves-Mazzotti (2007) e Sampaio; Marin (2004), por exemplo,
mostram que o professor vem mudando seu papel, chegando a uma desvalorização
profissional e desprestígio social, o que resulta em crescente abandono da profissão.
No núcleo central da representação social de dar aula, quando os alunos estão
concluindo o curso, permanece a palavra ensinar, mas a palavra planejamento caminha
da periferia para o centro, saindo o elemento aluno. Os sentidos atribuídos a esse
elemento parecem estar relacionados a “uma atividade que faz parte do ser humano,
muito mais inclusive do que imaginamos à primeira vista“, como afirma Vasconcellos
(2006, p. 14).
Com relação a planejar, então, dois fatores parecem estar relacionados a essa
ação: o primeiro se refere aos objetivos da aprendizagem, aonde se quer chegar, em
torno do que se quer ensinar e para quem, conforme afirmam as alunas:
Porque a partir do planejamento é que traça os métodos e objetivos
que o professor quer atingir. Quando existe um planejamento ele pode
78
acompanhar as coisas dentro da sala de aula...e ao final averiguar se
atingiu o objetivo ou não. Então, acho que a relação ta aí. [...] Isso...é
a postura mesmo é, saber o que se vai fazer na Aula, é não chegar
achando que é e que pode ser dado qualquer tipo de conteúdo...de
como fazer. Tem que saber identificar o que e quais as necessidades
que a turma dele precisa. [...] Ter um olhar diferenciado ...saber o
teórico, a prática né...ter um olhar diferenciado mesmo. Ele precisa
amar a profissão ...o que faz (A 5).
Eu acredito que você planejando você deseja chegar, então você
planeja e você ta sempre avaliando aquilo que você ta trabalhando,
então o planejamento é forma mais eficaz de se chegar ao objetivo (A
17).
Essa coisa do planejamento é uma coisa mais ampla, porque dar aula
eu vejo que uma coisa que quase... não é o final, mas é o meio pra o
final. E quando você pensa no planejamento é aquilo que a [...] você
pensa na avaliação, nas suas alterações...é como fosse um projeto
maior daquele que dar aula. e pronto. Você pensa nas pessoas que
estão ali, como receberem, como é que você vai transmitir. Então
planejamento é para e elabora de uma maneira mais completa...eu
acho que mais específico pra aquele grupo que está recebendo. A
partir do momento que você ta planejando você tem o objetivo a
atingir...tudo bem. Mas, eu acho que o importante nisso tudo que no
planejamento você ta direcionar para aquele grupo , de repente o
planejamento de uma turma não é o mesmo de uma outra , mesmo
sendo da mesma série. Eu acho que é importante organizar o
planejamento e não ficar no dar aula...planejar com dar aula achei
interessante (A 20).
Para essa palavra dar aula o planejamento é a base para que ocorra
tudo dentro do que tem ser realizado, para a organização, colocar a
competência em ação. O professor sem o planejamento pode perder o
seu objetivo, pode não alcançar os seus objetivos, por isso que no final
veio a palavra planejamento é porque durante o curso todo nós
formando e como esses alunos responderam não tem condição de
trocar o planejamento (A 11).
O segundo fator é a cnica que se faz necessária e presente em todas as
atividades, sendo um dever do professor:
É...porque a gente tem que fazer? O professor tem que planejar a aula,
essa associação é válida ...deve ser feita, porque? Se você não planeja
como você vai dar aula? Como eles agora estão concluindo que dizer e
estão sabendo realmente qual é a finalidade e o motivo de dar aula e
planejamento. Eu acho que quando o professor começa a planejar a
aula dele ...ele deve que passar isso também, essa relação é mútua., né.
É equiparada (A 7).
Porque como concluintes a bagagem de conhecimento deles
aumentaram, então eles tem uma visão maior de dar aula. E o
planejamento está diretamente ligado ao dar aula. Como na nossa vida
79
planejar é primordial, na sala de aula o planejamento é também muito
importante, então eles já têm o conhecimento dessa prática (A 1).
Por serem alunos concluintes, no começo da faculdade a gente pensa
que dar aula um ato simples, mas com passar do tempo a gente
percebe que sem o planejamento a gente não faz nada. A gente planeja
para dar aula, a gente planeja para avaliar, até se tiver alguma coisa
errada pra o que fazer sem o planejamento a gente não faz nada
disso (A 18).
O professor tem que planejar a sua aula, até para que os alunos fiquem
quietos. O professor tem saber o que aquela turma necessita, conhecer
a realidade dos alunos, para planejar as suas atividades de acordo com
as necessidades da turma (A 15).
Eu acho que sendo alunos concluintes a gente também tá concluindo
agora, sabe que a gente tem muita coisa a ver com planejamento, a
gente sabe que no princípio a gente imaginava o dar aula como
alguma coisa espontânea ensinar, hoje em dia a gente pensa de
outro modo, a gente sabe que dar aula não é uma coisa simples, tem
que haver uma planejamento, tem que pensarem no aluno, tem que
pensar no tema, pensar como você vai avaliar... acredito nisso (A 16).
Para os alunos concluintes dar aula é coisa séria”, pois somente acontece se
houver planejamento, que leva em conta a eficácia do processo de aprendizagem.
objetivos a serem atingidos e se não houver planejamento possivelmente não darão aula.
O ato de planejar não é simples e se faz através de organização, tem inicio, meio e fim:
Eu acho que o planejamento é uma organização acima de tudo. Então
você tem que aprender a organizar o pensamento, organizar tema,
organizar o que vai ser feito na sala de aula, organizar tudo em volta
do aluno, saber a realidade dele para passar, para transmitir. E
sobretudo o planejamento é envolvido a organização...na realidade ,
no tema, da vida do aluno (A 19).
O planejamento é, portanto, um dever do professor, necessário para garantir a
continuidade do seu trabalho, mas ainda se encontram professores que não sabem
planejar suas atividades por desconhecer conhecimentos teóricos e práticos (RUSSO,
2004). “A função mais evidente do planejamento do ensino é transformar e modificar o
programa a fim de moldá-lo às circunstâncias únicas de cada situação de ensino”
(CLARK; PETERSON, 1982 apud TARDIF; LESARD, 2007, p. 212).
Para comparar as duas estruturas da representação social de dar aula, foi
necessário buscar concepções construídas ao longo do curso de Pedagogia. Assim, foi
perguntado aos alunos o que o professor precisa saber e fazer para dar aula e quais as
dificuldades que eles enfrentam para dar aula. Em seguida, se pretendiam dar aula.
80
As três categorias saber, fazer e dificuldades para dar aula não se limitam a
estabelecer ”as técnicas específicas de direção da aprendizagem, mas abrangem também
os princípios gerais, os critérios as normas práticas que regulam toda a atuação docente
enquadrando-se um conjunto racional de amplo sentido e direção”, conforme define
Mattos (1973, p. 63).
Com relação a saber, metade dos alunos participantes afirmaram que os
professores precisam saber e dominar o conteúdo que irão ministrar e ter segurança no
que faz. Mas ainda enfatizam a afetividade que deve permear a relação professor-aluno:
Ele precisa saber o conteúdo daquela aula, mas também precisa saber
como lidar com o aluno. E também ficar o mais próximo do aluno
dentro do necessário (A 2).
Precisa dominar o conteúdo sim, porque a função da escola é ensinar,
é passar esse conteúdo pra criança, mas ele precisa também saber
relacionar-se com seu aluno, entender que o seu aluno, porque seu
aluno é uma pessoa (A 10).
Também concordo que ele precisa saber muitas coisas, mas acho que
tem que ter segurança do que faz, dar uma aula segura e ter o
conhecimento da matéria, dos alunos da realidade de todos. E por
acaso alguém perguntar alguma coisa e não souber saber lidar com
aquilo, dizer que vai pesquisar depois e depois vêm com a resposta...
isso contribui bem para o aluno para que o venha atrapalhar a sua
aula (A 18).
Eu acho que ele tem que ser professor...eu acho que ele tem que saber
é ...a matéria que ele vai lecionar, o ensinamento que ele teve pra
passar para o aluno e a forma de como ele vai fazer isso...dependendo
da turma ele tem saber passar os ensinamentos., ele tem que saber dar
aula, realmente tem que saber controlar a turma , ele tem que ter uma
dinâmica boa e tem que ser capaz de dar aula (A 7).
O saber do professor também se refere ao conhecimento que ele precisa ter sobre
a realidade do seu aluno, onde ele está inserido:
Ele precisa saber que a turma ela nunca será homogênea desde já ele
tem que criar estratégias para que ele alcance toda a turma se possível,
ele também que saber que as aulas dele têm que ser condizente com a
realidade daquele coletivo (A 9).
Precisa saber muita coisa, mas assim como uma resposta, eu acho que
ele precisa saber muito da realidade daquele local. Porque eu acredito
que partir dali daquela realidade ele vai conseguir, vai construir, vai
planejar em algo mais direcionado. Então, acho que basicamente o que
81
ele precisa saber muita coisa, mas saber a atualidade, a realidade
daquele local onde ele está inserido (A 20).
O professor é um profissional que constrói saberes de variados matizes. De
acordo com Tardif (2002), esses saberes podem ser agrupados em quatro categorias:
saberes de formação profissional, saberes disciplinares, saberes curriculares e saberes
experienciais (ou práticos). Aqui, os alunos parecem se referir a eles, sobretudo àqueles
que construíram ao longo de sua formação, mas não estabelecem relação com os saberes
da prática, o que parece ir de encontro ao PPC: promover a interação de áreas
específicas, onde teoria e prática educativa são consideradas o núcleo articulador da
formação do educador.
O que o professor precisa fazer para dar aula está relacionado a estudos,
pesquisas, à atualização, ao desenvolvimento profissional, à busca constante de
conhecimento:
Antes de tudo ele tem que estar sempre pesquisando e se atualizando,
acho que dar aula parte de um envolvimento, envolvimento do
profissional e acaba sendo envolvimento do aluno também, porque ele
vem trazendo coisas novas e o professor tem que se aprofundar para
estar satisfazendo a curiosidade (A 17).
Ah! Ele tem que ler muito, pesquisar muito, às vezes até as coisas que
não gosta muito ...eu mesmo não gosto muito de ler, mas eu tenho lido
muito ...me sono, começo a ler e começo a cochilar. Mas, a ele
precisar ler muito e pesquisar muito. Ele precisa ta muito por dentro
de tudo, ele precisa antenado ele precisa moderar (sic) a linguagem
da informática, ele precisa estar atualizado (A 12).
Fazer o que os professores aqui no curso de Pedagogia fazem, se
atualizando, sendo pesquisador, questionador, sempre querendo a
mais, naquela visão além (A 15).
O que ele precisa fazer? Ele precisa ser constantemente pesquisador,
ele precisa estar atualizado constantemente (A 10).
O fazer aparece relacionado a planejar, o que parece garantir o sucesso da aula,
“fazer diferença”:
Pra dar aula...fazer a diferença dentro da sala de aula. Que algum
professor consegue fazer a diferença e prender a atenção da turma. Se
ele não tem uma bem planejada, se ele não tem uma aula ativa, que
prenda ...ele não consegue dá uma boa aula não (A 6).
82
Ele precisa se dedicar ao ensino, se ele não se dedicar e organizar a
sua vida de modo como será o planejamento, o que será relevante para
a vida de seus alunos ...ele não vai conseguir ir muito longe....alcançar
seu objetivo (A 2).
Para dar aula o professor enfrenta dificuldades e essas desventuras da profissão
docente, emergem significativamente na prática cotidiana profissional, conforme
apontam os alunos:
O professor enfrenta realmente muitas dificuldades, dificuldades essas
que são diferenças sociais, culturas, recebemos crianças com muitas
desigualdades, mas essas dificuldades, nós professores que devemos
transformar em desafios. Etapas...etapas que vão sendo superadas com
o passar do tempo vão sendo mais transformadoras para atingir um
maior êxito pra todo mundo (A 13).
Eu acho que muito mais a indisciplina dentro da sala é a maior
dificuldade. Também em relação a falta de recurso , é material pra
poder trabalhar, de repente um retroprojetor ou algum computador que
pudesse fazer uma apresentação, porque eu acho assim ...o tecnológico
muito presente na escola, mas ele muito guardado. Eu acho que
se a gente conseguisse utilizar esse material que guardado é ótimo
quando a escola tem. Mas, ele também é um problema quando a
escola não tem. Eu acho que a tecnologia bombando, mas ao
mesmo tempo quando a escola poder ter, ela tem e não é utilizado
muitas outras escolas não tem o material né é um déficit para o
professor. O professor fica sem o material pra poder dar uma aula
criativa, para poder aula diferente justamente para poder chamando
a atenção dos alunos, aquele principalmente de uma certa disciplina
importante. Eu acho que a maior dificuldade é a indisciplina e em
relação ao material também., e se a gente for falar em relação a salário
tudo bem, também salário, mas eu acho que quando você tá motivado,
tem material e você consegue trabalhar na turma ...você passando por
cima daquela indisciplina, você conseguindo chamar a atenção ...eu
acho que vale muito a pena, vale a pena você ter saído da sua e ter
chegado na escola. Eu acho que nesse sentido vale a pena (A 8).
Acredito que a maior dificuldade é o tempo. O professor tem uma
carga horária não em uma escola, às vezes mais de duas. A dupla
jornada de trabalho impede que ele estude mais, né...se capacite mais.
Eu acredito que o tempo é uns dos grandes vilões (A 2).
O professor enfrenta dificuldades nas expectativas daquele com quem
ele lida na troca. Às vezes, você vem cheio de vontade, você preparou
a sua aula e as dificuldades às vezes no relacionamento. As
dificuldades [...] muitos professores chegam e querem fazer e o
conseguem fazer, se o aluno não deixar. Então, eu acho que está no
relacionamento. É muito difícil (A 12).
Eu acho que as dificuldades que o professor enfrenta em sala de aula
começa desde a desvalorização do professor, porque quando a gente
83
tantas pessoas relacionadas a violência, indisciplinas dentro de sala
de aula, né...eu acho que remete um pouco a desvalorização do
professor. Porque é tudo aquilo, o serviço...o conhecimento daquele
trabalho que ele realiza, o trabalho fica desvalorizado. O aluno mesmo
que ele não venha realizar ou queira praticar alguma coisa, eles
acabam prejudicando porque eles acham que o professor es
fragilizado. Decorrentes das questões do trabalho mesmo do professor,
eu acredito que a desvalorização profissional eu acho que é um ponto
muito forte. Eu acho que a partir daí vem a indisciplina, a intolerância
em sala de aula, que contribui também para o trabalho do professor.(A
20).
As dificuldades enfrentadas pelo professor para dar aula se referem ora aos
alunos (diferenças sociais e culturais; desigualdades; violência; indisciplina dentro da
sala de aula; intolerância, relacionamento com os alunos), ora à falta de condições (falta
de recurso material; baixos salários; falta de tempo para se dedicar a estudar mais em
função da necessidade da dupla jornada de trabalho para melhorar o salário) que
provocam a desvalorização do próprio professor e de seu trabalho. A conseqüência é um
profissional fragilizado, cujo papel é posto em questão a todo momento.
Quanto à formação, cabe lembrar Tardif e Lessard (2007): em sua trajetória o
professor constrói e reconstrói seus conhecimentos conforme a necessidade de sua
utilização, suas experiências, seus percursos formativos e profissionais visando à
formação docente. Assim, foi também perguntado aos futuros professores se pretendiam
dar aula e dentre eles, 12 pretendiam dar aula, quatro afirmaram que não esse desejo,
e três declararam que não pensam, se acontecer. Esse posicionamento parece ser
justificado, sobretudo, pela não escolha do curso de Pedagogia. Este foi apenas um
curso superior possível de freqüentar.
Ao perguntar aos alunos concluintes se o curso os preparou para dar aula, a
maioria disse estar preparada para ser pedagogo, não para dar aula. A insegurança e o
medo de errar geram sensação de incompletude, o que é comum a todos os alunos de
qualquer curso:
A gente sempre sente insegurança, nunca estamos segura totalmente.
Preparou...preparou, mas a gente faz com uma certa insegurança.
Ainda com incerteza. Porque é o medo de errar, porque quando a
gente erra com o ser humano é muito sério, então é o medo de errar.
Então a gente sempre insegura procurando aprender mais pra não
falhar tanto (A 10).
Eu to tentando, eu to...não estou preparada. Eu estou segura, mas
preparada...eu acho que o preparar é no sentido de estar completo.
84
Você nunca vai estar completo, sempre vai haver necessidade de fazer
algo mais, de aprender algo mais, de ter algo mais, acho que completo
a gente nunca vai estar (A 12).
Como professora eu não me sinto preparada porque adolescente e
crianças [pausa] eles são muitos complicados cd um tem uma história.
É justamente o prender a atenção deles é você ter domínio da turma...é
eles te respeitarem , e nós temos adolescentes que não respeitam ainda
mais que os pais hoje em dia eu vejo no colégio particular como em
colégio estadual ou municipal os pais acham que o professor tem que
educação pro filho. Não mais igual época que a minha mãe me
dava educação em casa e tinha que colocar em prática no colégio, não.
O aluno vem puro pra sala de aula e pra você mondar ele por
completo. Não vai mais contribuir pra formação. [...] Sim, me sinto
sim...mais ou menos preparada.Mas, me sinto mais preparada como
pedagoga pra sair na relação de professor na responsabilidade
burocrática dentro do colégio...porque é todo mundo adulto...a gente
sabe que vai ter problemas de relacionamento, mas...eu gosto muito de
trabalhar em grupo. Porque eu acho que trabalhar em grupo e com
idéia de todo mundo você consegue realizar um trabalho melhor. Eu
acho que enquanto pedagoga nessa relação interpessoal acho que você
se sai melhor com crianças do que com os adolescentes (A 6)
Educação Infantil não, eu acho que não tenho estrutura, não tenho
conhecimento pra poder pra poder estar alfabetizando ...em relação a
alfabetização não. Isso eu tenho certeza que eu não tenho base pra
poder estar dentro de uma sala de aula. Mas, em relação aos demais
adultos...que já mais entendimento , os processo são outros eu acredito
que sim. Mas em relação à Educação Infantil, não (A 8).
Sim. Porque...porque...eu fiz o curso...o que falta...eu me sinto
preparada...o que falta ainda é prática, porque o teórico eu tenho. O
que falta pra mim é a prática. Então eu acho, o que acho não...acredito
que eu entrando em sala de aula, com tudo que aprendi ...com todo
conhecimento que eu tenho ...eu vou evoluir bem (A 5).
A presença de um quadro de incertezas e anseios mostra que 60% dos alunos
concluintes chegam ao término de graduação inseguros para desempenhar sua futura
profissão. Entendo como Mariano (2005, p. 2) que
o professor se defronta com intensas aprendizagens. Enfrenta
contradições em sua postura e em sua prática por não conseguir
coadunar aspectos que, em seu imaginário, são antagônicos, como, por
exemplo, ser bonzinho e ser rigoroso. Apesar de todas as dificuldades,
o novato visualiza a importância da formação básica. Ademais,
encontra-se, embora trabalhando em um ambiente coletivo, isolado,
passando por uma solidão que parece tornar ainda mais difícil esse
início de carreira.
85
Alguns se sentem preparados para certas etapas e outras não. Entre os alunos,
30% se sentem, mas consideram ser necessário aprofundar mais os estudos:
Sim. Sinto-me segura e creio que com dedicação, boa vontade e
estudando (atualizando) sempre conseguirei atingir meus objetivos (A
13).
Sim. Porque tivemos uma vasta visão na matéria de Educação Infantil,
as aulas eram teóricas e práticas, onde simulava situações encontradas
em sala de aula (A 15).
Sim, porque a base teórica adquirida no curso de Pedagogia é muito
importante para a prática do professor (A 14).
Me sinto preparada para dar aula, mas sobretudo buscar cada vez
conhecimento para estar me atualizando sempre (A 19).
Apesar de tudo e de todas as situações, os alunos destacam o que foi mais
importante no curso para que se sentissem preparados: a troca e o apoio entre os colegas
e professores:
A troca de experiências, tanto com os colegas na sala de aula, as
experiências que trouxeram aqui na sala de aula.para compartilhar
comigo, e tanto as experiências dos professores, que espelhei muito
para a minha preparação (A 1).
Olha tudo foi muito importante...os professores, as disciplinas, mas eu
acho também que essa união dos colegas, entendeu, essa aproximação
dos colegas ajuda muito. Porque você troca muito com os colegas,
né...então você também aprende muito com eles, eu acho isso
demais (A 10).
O mais importante foi o incentivo dos professores, apesar de todas as
dificuldades que passei durante o curso, por motivos diversos, os
professores foram grandes incentivadores, fizeram até mais do que eu
esperava, ma surpreenderam várias vezes. O diálogo, relacionamento
foram muito proveitosos (A 20).
Muitas coisas foram importantes no curso de Pedagogia, porém
destaco a troca de experiências dos colegas e professores durante as
discussões e debates em sala de aula, esta vivência auxiliou a minha
leitura de mundo e a importância do pedagogo dentro da unidade
escolar e no espaço não-escolar, na realização e acompanhamento dos
projetos e nas relações interpessoais (A 17).
Os alunos confirmam que as disciplinas de Didática e Estágio foram importantes
e contribuíram para sentirem preparados, apontando que é indispensável a relação de
unidade entre teoria e prática na formação do professor:
86
A Didática foi muito importante e os estágios dão uma base muito
boa. A Didática dá uma base pra gente se preparar, enfrentar os
alunos. Podendo dar aquela aula e poder ser avaliado pelo professor.
Também nas observações a gente aprende muito com as aulas que os
professores estão dando. Até compensam um pouco, o que faltou por
eu não ter feito Normal...faltou no próprio Curso de Pedagogia (A 2).
Acho que foi o estágio., que ajuda muito, a gente. É que nos é
colocado cara a cara com a turma. ...o que eu vou fazer...o que eu vou
desenvolver então acho que o estágio contribui muito (A 5).
Mais importante...eu acho que foi realmente a prática. Eu acho que a
prática e o apoio da Faculdade - de alguns professores quando a gente
teve dificuldades na prática. Eu acho que isso contribuiu, porque
dentro da faculdade a gente tem muito...no curso de Pedagogia a gente
tem muita teoria , muita teoria...muita teoria. Quando você vai para a
parte prática você olha pra aquela toda teoria e você fala: e agora? Que
eu vou fazer com essa teoria toda? quando você volta pra a
faculdade e você fala: professora me ajuda!!! E você que o é
nada daquele tumulto que você pensou que pudesse ser. E os
professores te dão um apoio melhor e você consegue enxerga de outra
maneira. Eu acho em relação a prática e você poder recolher na
faculdade e alguns professores que tiveram a sua disposição, pra
poder ta te ajudando...eu acho que isso mais contribuiu (A 8).
Após a análise das entrevistas e grupos focais, busquei verificar como os alunos
concluintes objetivam e onde ancoram os sentidos atribuídos a dar aula.
Com relação à objetivação, todo tipo de carência dos alunos foi reforçada, o que
faz as relações interpessoais serem a maior preocupação dos futuros professores. A
ênfase no relacionamento entre professores e alunos traz as qualidades paciente,
carinhoso e amoroso como aquelas que precisam ser desenvolvidas, sendo entendidas
como competências necessárias ao exercício da docência.
Embora enfatizem a necessidade de estudar, ampliar seus conhecimentos, estar
atualizado, essas tarefas se referem à formação continuada e não à inicial, que é
distorcida. O curso de Pedagogia é considerado bom, as disciplinas são todas
importantes, porém a formação não contribui significativamente para dar aula. Por essa
razão os alunos se sentem preparados para serem pedagogos, o que pressupõe não dar
aula.
“Dar aula é coisa séria”. Se ao ingressarem os alunos pareciam ancorar os
sentidos de dar aula nos modos de dar aula de seus professores ao longo de sua trajetória
acadêmica, o que não lhes parecia ser tão sério, uma vez que desconheciam o que seria
necessário para desempenhar essa atividade, ao concluírem o curso, parecem agora
87
ancorar na ação de planejar, que não é “uma tarefa simples”.
Os futuros professores, após sua trajetória no curso de formação, passaram a
perceber a ação de planejar como uma atividade de previsão das ações docentes,
fundamentadas em opções político-pedagógicas, tendo como referência situações
didáticas concretas (CHIQUITO, 2007). Possivelmente, o planejamento começou a ser
visto como um processo de racionalização, organização e coordenação da ação docente.
88
CONCLUSÃO
Esta pesquisa buscou conhecer as Representações Sociais de dar aula produzidas
por alunos concluintes do curso de Pedagogia e compará-las com suas representações
sociais enquanto ingressantes nesse curso. Conhecer tais representações pode contribuir
para o debate sobre cognição, processos e práticas docentes.
Com relação às representações sociais de dar aula elaboradas pelos 51 alunos do
ano de Pedagogia e que participaram da etapa da pesquisa do CIERS-Ed após a
aplicação do teste de associação livre e submissão das palavras evocadas ao software
EVOC (VÉRGES, 1994), os possíveis elementos que compunham o núcleo central eram
ensinar, aluno e professor. Porém, a falta de justificativas para essas palavras não
permitiu a análise dos sentidos a elas atribuídos, o que motivou buscar esses alunos que
agora estavam no último ano de seu curso.
Quanto às representações sociais de dar aula elaboradas pelos 51 alunos
cursavam o último ano de Pedagogia, após aplicação do mesmo teste de livre evocação,
foi encontrado um novo elemento no núcleo central, planejamento, e permaneceu o
elemento ensinar. Isso indica que as representações sociais de dar aula quando os alunos
ingressam no curso são diferentes daquelas quando o concluem (FLAMENT, 2001).
Com o objetivo de comparar as duas representações sociais e verificar se a
mudança foi provocada pelas trajetórias acadêmicas dos alunos, foram realizadas 20
entrevistas individuais e dois grupos focais com alunos; análise da matriz curricular, das
ementas das disciplinas relacionadas à atividade “dar aula”; análise do material
disponibilizado pelos professores em suas pastas; análise das anotações dos alunos em
sala de aula; e análise de Editais dos Concursos Públicos para o Magistério da Secretaria
de Educação dos três últimos anos.
O elemento planejamento que aparece no núcleo central da representação social
de dar aula é percebido pelos alunos concluintes como um instrumento ou ferramenta
que organiza a ação docente. A palavra planejamento no núcleo central da representação
social de dar aula conduz à atividade de ensinar e, para tanto, o planejamento é a
ordenação do “que” e do “quando” ensinar.
A análise do questionário aplicado aos alunos concluintes revela que quanto à
futura profissão eles pretendem dar aula assim que se formarem; consideram que as
89
dificuldades que encontrarão com seus alunos estejam relacionadas aos professores, aos
pais, à escola e aos próprios alunos, sendo essas dificuldades superadas pelos alunos por
meio da conquista de seus professores. Ainda afirmam que os professores devem estar
motivados na busca de novos métodos de ensino e dessa forma propiciarão uma melhor
aprendizagem.
As entrevistas realizadas revelaram que os alunos não fazem escolha pelo curso
de Pedagogia por opção profissional, mas mesmo assim afirmam que o curso é bom,
proveitoso e que as disciplinas vivenciadas na prática serão as que mais contribuirão
para profissão futura.
A permanência do elemento ensinar no núcleo central é caracterizado pela troca
entre pessoas, dar alguma coisa a alguém ou receber algo. E que o espaço físico é
delineado para o procedimento da aprendizagem, onde o professor deve ter
compromisso, responsabilidade, carinho, amor e paciência. Com o surgimento do
elemento planejamento no núcleo central, percebe-se que para esses alunos concluintes
a referência está relacionada aonde se quer chegar, em torno do que se quer ensinar e
para quem, abarcados pelas técnicas necessárias e presente nas atividades propostas
necessárias para garantir a continuidade do trabalho do professor.
Das entrevistas individuais foram identificadas sete categorias: ensinar, dar
aula, planejar, saber, fazer, dificuldades enfrentadas para dar aula e formação, que
evidenciam um cenário pertinente à relação da teoria e prática vivenciada num curso de
formação de professores, corroborando as falas de seus formadores.
Com intuito de comparar as estruturas da representação social de dar aula foram
buscadas concepções construídas ao longo do curso sobre saber e fazer para dar aula e
dificuldades encontradas para dar aula, considerando-se que essas categorias regulam a
atuação docente, enquadrando-se num conjunto racional de amplo sentido e direção.
Neste contexto, percebe-se a preocupação desses futuros docentes com sua formação ao
afirmarem que os professores precisam saber e ter domínio dos conteúdos, estarem
sempre dispostos e envolvidos com a formação continuada e que as maiores
dificuldades enfrentadas ora estão relacionadas aos alunos e ora à falta de condições
para dar aula, o que remete a uma atividade fragilizada caracterizada pela
desprofissionalização.
Prosseguindo a abordagem multi-metodológica, foram analisadas a matriz
curricular, as ementas das disciplinas relacionadas à atividade “dar aula” Didática,
Prática Pedagógica Currículo e Programas e Estágio e seus objetivos, as bibliografias
90
indicadas e do conteúdo dessas obras. Nessa análise identificou-se um paradoxo
considerando a disposição das matrizes em eixos norteadores, conforme determinado
nas diretrizes curriculares e a relação dessas disciplinas correlacionadas nos eixos
adequados. O que leva inicialmente a questionar a proposta dessa matriz com a relação
à teoria e à prática aos estudos integradores que proporcionará enriquecimento
curricular.
O estudo comparativo das ementas das disciplinas com o material
disponibilizado pelos professores em suas pastas e as anotações dos alunos em sala de
aula, mostra certa relação entre as propostas estabelecidas pelos professores e seus
ementários e o trabalhado realizado em sala de aula. Mas, foram identificadas obras que
não contemplam de forma integradora as ementas, o que contribui para a pouca
compreensão e integração dos conteúdos e da teoria que os fundamentam.
O estudo das bibliografias indicadas e análise de Editais dos Concursos Públicos
para o Magistério da Secretaria de Educação dos três últimos anos, revelou que as 52 ali
obras indicadas não estão em consonância com as exigências dos Editais, tendo em vista
que somente dois autores estão presentes em ambas listagens com obras diferenciadas,
ou seja, nos ementários do Curso em questão e os Editais de Concursos blicos para o
Magistério. Portanto, somente uma única obra coincidia.
Desta forma, tentar compreender o que os alunos lêem, estudam e discutem em
sala de aula e que se relaciona à atividade “dar aula”, é identificar nas falas dos alunos
alguma relação entre a fundamentação teórica, os discursos dos discentes e docentes. É
procurar a identificar a presença de slogans pedagógicos que persistem nas obras
indicadas e dentre eles verificou-se a presença da “relação teoria e prática” que se faz
necessária nas “práticas pedagógicas”, objetivando uma “educação de qualidade”
articulada por um currículo integrado que contemple o “processo ensino e
aprendizagem” através de um “planejamento educacional”.
Finalmente, os alunos objetivam o exercício da docência na ênfase da relação do
professor e aluno, ao afirmarem que as relações interpessoais serem sua maior
preocupação, devendo ser pacientes, carinhosos e amorosos em suas práticas. Ancoram
as representações sociais de dar aula na ação de planejar agora concluintes e afirmam
que esta não é “uma tarefa simples”, o que evidencia uma mudança, pois ao ingressarem
pareciam ancorar os sentidos de dar aula nos modos de dar aula de seus professores ao
longo de sua trajetória acadêmica, o que não lhes parecia ser tão sério, uma vez que
desconheciam tal atividade.
91
Conclui-se que o Curso de Pedagogia em questão precisa ser repensado e
reformulado, pois embora os alunos o considerem bom, que as disciplinas são todas
importantes, revelam que a formação ali oferecida não contribui significativamente para
dar aula. Por essa razão os alunos se sentem preparados apenas para serem pedagogos, o
que pressupõe não dar aula. Sendo um dos objetivos principais do curso ensinar os
professores a darem aula, que esse é exatamente o objetivo que o curso não alcança.
92
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100
APÊNDICE 1
UNIG – INGRESSANTES (51) / RANGFREQ
Tabela 1- Possível composição do cleo central e dos sistemas periféricos para DAR
AULA
OME < 2,29
OME > 2,29
Evocação F OME Evocação F OME
F > 7
Ensinar 17 1,87 Aprender 8 2,88
Professor 7 2,00
Aluno 14 2,07
F < 7
Educação 4 1,25 Amor 5 2,60
Dinâmica 4 1,75 Responsabilidade
4 2,75
Escola 5 2,00 Criativo 5 3,00
Planejamento 5 3,00
101
APÊNDICE 2
UNIG – CONCLUINTES(51) – RANGFREQ
Tabela 2 - Possível composição do núcleo central e dos sistemas periféricos para DAR
AULA
OME <
2,24
OME > 2,24
Evocação F OME Evocação F OME
F > 7
Planejamento 7 1,48 Responsabilidade
8 2,25
Ensinar 17 2,00 Aluno 9 2,56
Escola 9 2,56
Conhecimento 10 2,70
F < 7
Dedicação 4 1,50 Compromisso 6 2,33
Educação 4 1,75 Competência 5 2,60
Criatividade 4 1,75 Amor 6 2,67
Professor 6 2,00 Pesquisa 5 2,80
Prazer 5 2,80
102
APÊNDICE 3
Roteiro de Entrevista – Alunos Concluintes de Curso de Pedagogia
Nº ___
Data: ___/____/____
1. Sexo
2. Idade:
3. Você trabalha? Onde? O que faz? (atividade)
4. Você cursou Magistério? Onde? Quando?
Como foi seu curso? Que disciplina você mais gostou? Por que? O que você aprendeu
nessa disciplina?
Que disciplina menos gostou? Por que? O que você aprendeu nessa disciplina?
Você fez Estágio? Quanto tempo durou? O que você fez durante o Estágio? O que você
aprendeu?
5. Por que escolheu Pedagogia? Explore a resposta.
Como foi seu curso? Que disciplina você mais gostou? Por que? O que você aprendeu
nessa disciplina?
Que disciplina menos gostou? Por que? O que você aprendeu nessa disciplina?
Qual disciplina você considera que mais contribuiu para a sua prática docente?
Qual disciplina você considera que menos contribuiu para a sua prática docente?
Você fez Estágio? Quanto tempo durou? O que você fez durante o Estágio? O que você
aprendeu?
6. Você acha que o curso de Pedagogia vai contribuir para sua profissão? Por que?
Como? Explore a resposta.
103
APÊNDICE 4
Roteiro do Grupo Focal – Alunos Concluintes de Curso de Pedagogia
1. Em uma pesquisa realizada com alunos iniciantes do curso Pedagogia, foi
solicitado que eles dissessem quatro palavras que viessem à sua cabeça quando
ouvissem a palavra dar aula. A palavra que apareceu com maior freqüência foi
ensinar” e “aluno” Por que você acha que eles associaram a palavra “ensinar”
e “aluno” a dar aula? Explore a resposta.
2. Em outra pesquisa agora realizada com alunos concluintes do curso Pedagogia,
foi solicitado que eles dissessem quatro palavras que viessem à sua cabeça
quando ouvissem a palavra dar aula. A palavra que apareceu com maior
freqüência foi “planejamento” e “ensinar”.Por que você acha que eles
associaram a palavra “planejamento” e “ensinar”a dar aula? Explore a
resposta
3. O que você acha que o professor precisa saber para dar aula?
4. O que você acha que o professor precisa fazer para dar aula?
5. Que dificuldades você acha que o professor enfrenta para dar aula?
6. Você pretende dar aula?
7. Você se sente preparado para desempenhar sua profissão futura? Por que?
8. O que foi mais importante no curso para que você se sentir preparado?
104
ANEXO 1
Questionário - CIERS-Ed
Aguarde instruções orais para começar a responder
EXEMPLO (ACOMPANHE AS INSTRUÇÕES)
Escreva as primeiras quatro palavras que vêm a sua mente quando eu falo a palavra
FECHADURA.
( ) -------------------- ( ) ---------------------- ( )-------------------- ( ) -----------------
Agora, aponte as duas de maior importância para você, colocando o número 1 para a
mais importante e 2 para a de segunda importância.
Ouvindo as palavras que serão apresentadas a seguir, proceda da mesma forma que na
questão anterior.
Escreva as quatro palavras que vêm a sua mente cada vez que eu apresentar uma nova
palavra. Coloque o mero 1 para a mais importante e 2 para a de segunda
importância.
(a) ( ) ------------------- ( ) ------------------- ( )-------------------- ( ) -----------------
(b) ( ) ------------------- ( ) ------------------- ( )------------------- ( ) -----------------
(c) ( ) ------------------- ( ) ------------------- ( )-------------------- ( ) -----------------
ATENÇÃO
Responda também o questionário de perfil
Prezado colega
Tudo bem? Como você solicitou urgência, respondo rapidamente as questões que você
fez sobre minha futura profissão.
1) Terminarei o curso dentro de:
(a) 1 ano
(b) 2 anos
(c) 3 anos
(d) 4 anos
NAS QUESTÕES A SEGUIR, RESPONDA COMO SE VOCÊ ESTIVESSE
ESCREVENDO UMA CARTA A UM ANTIGO COLEGA DE ESCOLA QUE PEDIU
INFORMAÇÕES SOBRE SUA FUTURA PROFISSÃO.
Marque com um X APENAS na alternativa que VOCÊ considera mais importante melhor
105
2) Vou me formar como professor:
(a) licenciado na disciplina de ___________________________
(b) do ensino fundamental - 1ª à 4ª série
(c) de educação infantil
3) Na verdade penso em lecionar imediatamente depois de formado.
(a) sim
(b) não
4) Acho que como professor vou encontrar alunos que, comparados à turma da Escola
que fizemos juntos, apresentarão nível de aprendizagem:
(a) melhor que a nossa
(b) com o mesmo nível que a nossa
(c) com nível mais baixo que a nossa
5) Isto é, apresentarão:
(a) muitas dificuldades de aprendizagem
(b) dificuldades comuns à idade e série
(c) poucas dificuldades de aprendizagem
6) Acho que ao final de um ano
(a) uma grande parte desses alunos terá conseguido aprender o que ensinei
(b) uma pequena parte realmente terá aprendido
(c) todos conseguirão aprender os conteúdos ensinados
As dificuldades de aprendizagem dos alunos referem-se a fatores ligados a eles mesmos,
a nós professores, à escola e a seus pais. Em relação:
7) a eles mesmos, o fator primordial é que eles:
(a) encontram-se sem base para o curso
(b) são indisciplinados
(c) estão desinteressados pelo curso
8) aos professores, o fator primordial é que estão:
(a) sem oportunidades de aperfeiçoamento
(b) com práticas docentes inadequadas
(c) sem autonomia pedagógica
9) à escola, o fator primordial é que está:
(a) com turmas superlotadas
(b) com classes heterogêneas
(c) sem material didático
(d) distante da realidade do aluno
10) à família, o fator primordial é que:
(a) faltam condições para os pais orientarem seus filhos
(b) há interesse dos pais pela educação dos filhos, porém sem conhecimento do caminho
a seguir
(a) falta participação e envolvimento nas atividades da escola
106
Para superar as dificuldades de aprendizagem acredito ser necessário que:
11) os alunos:
(a) conscientizem-se da importância da escola
(b) sejam orientados por regras claras de comportamento
(c) sejam conquistados pelo professor
12) os professores:
(a) envolvam-se mais com os alunos
(b) reorganizem sua prática docente
(c) retomem sua postura de educadores
13) a escola:
(a) modifique-se para atender aos interesses do aluno
(b) construa uma parceria com a comunidade
(c) estimule mais a atuação dos professores
14) Pensando na formação dos professores, proponho os seguintes tópicos à serem
contemplados no curso e apresento, também, a porcentagem que cada um deles deverá
ter na composição de todo o curso.
%
(a) Conteúdo específico
(b) Conhecimento didático e metodológico de ensino
(c) Prática de Ensino ( estágio)
(d) Outros. Indique quais?
______________________________________
______________________________________
_____________________________________
TOTAL 100%
15) Com relação a minha motivação para ser um professor, sinto-me:
(a) desafiado a buscar novos métodos de ensino
(b) descrente do processo de ensino
(c) num impasse entre o desafio da busca e o desânimo por não atingir meus objetivos
16) Se eu fosse dar um conselho para você que quer ingressar no magistério eu diria:
(a) não espere muito dos alunos
(b) não deixe escapar o sonho de ensinar seus alunos
(c) seus alunos aprenderão se você estiver preparado
17) Minha família acha que fiz uma boa escolha profissional.
(a) sim
(b) não
porque _________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
18) Meus amigos falam que ser professor:
107
(a) vale a pena
(b) não vale a pena,
porque _________________________________________________________
_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
19) Para mim a profissão de professor é mais próxima a de:
(a) médico
(b) padre/pastor
(c) advogado
(d) pedreiro
(e) engenheiro
(f) psicólogo
(g) outra profissão. Qual?_____________________
20) Gostaria ainda de dizer que ____________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
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