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É interessante notar que Freud dá o nome de transferências (no plural) às
formações inconscientes do pensamento. Isto quer dizer que não se trata de um
fenômeno singular e sim, plural. Aproveitamos o momento para demonstrar, o que
provavelmente será notado ao longo do texto, que utilizamos na maioria das vezes a
palavra “transferência” no singular. O que queremos salientar, é que quando utilizamos
essa forma de escrita (no singular), estamos considerando o óbvio; que a pluralidade se
constitui pela soma do singular. Portanto, consideramos que uma situação analítica se
constitui por múltiplas transferências (T + T + T + T(...) = TS = SA)
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, mas optamos em
muitos momentos por tratá-la em sua singularidade, a fim de tornar mais “simples”,
mais “singular” as explicações sobre o tema.
Voltando ao caso Dora, o que Freud está então chamando de transferências? É
no pós-escrito do caso que ele nos traz pela primeira vez uma definição que carrega um
sentido propriamente psicanalítico. Transferências são:
“Reedições, reproduções das moções e fantasias que, durante o
avanço da análise, soem despertar-se e tornar-se conscientes, mas com a
característica (própria do gênero) de substituir uma pessoa anterior pela
pessoa do médico. Dito de outra maneira: toda uma série de experiências
psíquicas prévia é revivida, não como algo do passado, mas como um
vínculo atual com a pessoa do médico. Algumas dessas transferências em
nada se diferenciam de seu modelo, no tocante ao conteúdo, senão por
essa substituição. São, portanto, para prosseguir na metáfora, simples
reimpressões, reedições inalteradas. Outras se fazem com mais arte:
passam por uma moderação de seu conteúdo, uma sublimação, como
costumo dizer, podendo até tornar-se conscientes ao se apoiarem em
alguma particularidade real habitualmente aproveitada da pessoa ou das
circunstâncias do médico. São, portanto, edições revistas, e não mais
reimpressões” (Freud, 1996/1905, p. 111).
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T = transferência, TS = transferências e SA = situação analítica.