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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA
CENTRO DE CIÊNCAS RURAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA VETERINÁRIA
MORFOLOGIA COMPARADA DA PITIOSE EM
CAVALOS, CÃES E BOVINOS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
Tessie Beck Martins
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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MORFOLOGIA COMPARADA DA PITIOSE EM CAVALOS,
CÃES E BOVINOS
por
Tessie Beck Martins
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação
em Medicina Veterinária, Área de Concentração em Patologia Veterinária, da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para
obtenção do grau de
Mestre em Medicina Veterinária.
Orientadora: Prof
a
. Glaucia Denise Kommers
Santa Maria, RS, Brasil
2010
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M386m Martins, Tessie Beck
Morfologia comparada da pitiose em cavalos, cães e bovinos / por
Tessie Beck Martins. 2010.
105 f. : il. ; 30 cm
Orientador: Glaucia Denise Kommers
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Santa Maria, Centro de
Ciências Rurais, Programa de Pós-Graduação Medicina Veterinária, RS, 2010
1. Medicina veterinária 2. Pythium insidiosum 3. Dermatite eosinofílica
4. Doenças do trato gastrointestinal 5. Doenças granulomatosas 6. Patologia
I. Kommers, Glaucia Denise. II. Título.
CDU 619
Ficha catalográfica elaborada por Denise Barbosa dos Santos CRB 10/1756
Biblioteca Central UFSM
Universidade Federal de Santa Maria
Centro de Ciências Rurais
Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária
A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado
MORFOLOGIA COMPARADA DA PITIOSE EM CAVALOS, CÃES E
BOVINOS
elaborada por
Tessie Beck Martins
como requisito parcial para obtenção do grau de
Mestre em Medicina Veterinária
COMISSÃO EXAMINADORA:
Glaucia Denise Kommers, PhD
(Presidente/ Orientadora)
Ana Lucia Schild, Dra (UFPel)
Eliza Simone Viégas Sallis, Dra (UFPel)
Santa Maria, 17 de dezembro de 2010.
AGRADECIMENTOS
A Dissertação foi apenas uma das realizações alcançadas durante os últimos dois anos. Diria
até que foi a menor delas. Os momentos memoráveis de alegria e estresse que marcaram o
curso do mestrado, estes sim, é que realmente deveriam ser publicados. Agradeço às pessoas
singulares que fizeram parte deste processo e que, por causa dele, fazem parte da minha vida.
E em especial agradeço:
Aos meus pais e meus irmãos, que me confortaram diariamente e que, por inúmeras vezes,
abriram mão da minha companhia e colocaram os meus objetivos à frente dos deles;
À minha orientadora e mãe científica, Glaucia, que foi, antes de tudo, parceira na escolha e
realização deste trabalho, apoiando minhas ideias mirabolantes e me incentivando com
elogios sinceros. Obrigada pelo carinho e pelas palavras certas ditas nas horas certas;
Aos demais professores do LPV, Claudio, Chico e Fighera, pelas lições e amizade e,
principalmente, pelo apoio. A Domi, minha também mãe científica, por me ensinar os
primeiros passos dessa jornada patológica;
Ao Serginho e a todos os amigos do LPV, por transformar o mundo da patologia, tão estranho
e mórbido, num lugar peculiar e divertido.
RESUMO
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária
Universidade Federal de Santa Maria
MORFOLOGIA COMPARADA DA PITIOSE EM CAVALOS, CÃES E
BOVINOS
AUTORA: TESSIE BECK MARTINS
ORIENTADORA: GLAUCIA DENISE KOMMERS
Local e Data da Defesa: Santa Maria, 17 de dezembro de 2010.
Foram estudados vinte e um casos de pitiose em cavalos (dez), cães (nove) e bovinos (dois). Todos os
casos tiveram a etiologia confirmada pela técnica de imuno-histoquímica. As informações relativas aos dados de
anamnese, forma clínica, localização e macroscopia das lesões e desfecho dos casos foram obtidas a partir de
protocolos de biópsia e necropsia. Para a comparação histomorfológica e histoquímica foram realizadas as
técnicas de hematoxilina e eosina, impregnação pela prata de Grocott, ácido periódico de Schiff, sirius red,
Grocott-sirius red e azul de toluidina. Foram analisadas a quantidade, a distribuição e a integridade das hifas
intralesionais, a capacidade de angioinvasividade, a reação de Splendore-Hoeppli (SH) e o tipo de resposta
inflamatória interespécies. Nos cavalos, as lesões macroscópicas caracterizavam-se por feridas únicas e
focalmente extensas constituídas por tecido fibroso abundante circundando massas amarelas, compactas, firmes
e com ramificações grosseiras lembrando corais (kunkers). Histologicamente, as lesões eram compostas
basicamente por tecido conjuntivo fibroso bem colagenizado, com múltiplas áreas, muitas vezes coalescentes,
constituídas por tecido de granulação jovem, circundando coleções de eosinófilos densas e grosseiramente
circulares (correspondentes aos kunkers). Nos cães foram estudados casos das formas gastrointestinal e/ou
cutânea. As lesões do trato gastrointestinal geralmente consistiam de espessamento segmentar transmural da
parede das vísceras e da gordura mesentérica adjacente. Em todos os casos havia envolvimento dos linfonodos
mesentéricos. As lesões cutâneas se apresentavam como úlceras na junção mucocutânea do lábio, massas no
prepúcio e tórax e nódulos pequenos distribuídos pelo peito, tórax e membro anterior. Nos cães, dois padrões
principais de inflamação foram vistos, isolados ou combinados, independentemente do tecido analisado: um
granulomatoso/piogranulomatoso e um necro-eosinofílico. Nos bovinos, as lesões cutâneas eram múltiplas e
aleatórias e geralmente acometiam um ou mais membros, a região ventral do pescoço e esterno e,
eventualmente, a cauda ou o chanfro nasal. Microscopicamente havia granulomas multifocais ou coalescentes
perfeitamente delimitados em meio ao colágeno dérmico levemente proliferado. A técnica de sirius red foi
particularmente útil para localizar os eosinófilos nos tecidos e confirmar a natureza da reação SH vista em todas
as espécies. Aspectos histomorfológicos tais como a quantidade, distribuição e integridade das hifas
intralesionais, o potencial de angioinvasividade e os tipos de resposta inflamatória e de reação SH parecem estar
implicados nos diferentes tipos de lesão e cursos clínicos da pitiose nas diferentes espécies animais acometidas
pela doença. Evidências de que a cura da pitiose possa estar associada à inflamação granulomatosa foram
observadas.
Palavras-chave: Pythium insidiosum, dermatite eosinofílica, doenças do trato gastrointestinal, doenças
granulomatosas, patologia.
ABSTRACT
MS Dissertation
Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária
Universidade Federal de Santa Maria, RS, Brasil
COMPARATIVE MORPHOLOGY OF PYTHIOSIS IN HORSES, DOGS
AND CATTLE
AUTHOR: TESSIE BECK MARTINS
ADVISER: GLAUCIA DENISE KOMMERS
Santa Maria, December 17th, 2010.
Twenty-one cases of pythiosis involving horses (10), dogs, (nine) and cattle (2) were investigated. In all of them
the etiology was confirmed through immunohistochemistry technique. Data related to clinical course,
localization and macroscopic features of the lesions and cases closure were obtained from biopsies and
necropsies protocols. For compared histomorphological and histochemical characterization, hematoxilin-eosin,
Grocott‟s, Schiff periodic acid, sirius red and Grocott-Sirius red techiques were performed. The aspects
analyzed were intralesional hyphal quantity, distribution and integrity, angioinvasive capability, Splendore-
Hoeppli (SH) and inflammatory reactions inter-species. The equine macroscopic lesions were characterized by
sole focally extensive wounds composed by abundant fibrous tissue surrounding yellowish, dense, firm and
irregular branching coral-like masses (kunkers). Histologically, lesions consisted of well-collagenized
connective tissue with multiple often coalescing areas of immature granulation tissue encircling coarsely round
eosinophil cores (corresponding to kunkers). Dogs presented gastrointestinal and/or cutaneous lesions. The
gastrointestinal ones usually consisted of transmural and segmental thickening of the organs walls and
mesenteric tissue. Mesenteric lymph nodes were always involved. Cutaneous lesions consisted of ulcers in the
lips mucocutaneous junction, masses in the thorax and prepuce and small nodules in chest, thorax and fore
limbs. Two main patterns of inflammation were seen in dogs, alone or combined, independently of the tissue:
one granulomatous/pyogranulomatous and another necro-eosinophilic. In cattle, cutaneous lesions were multiple
and usually affected one or more limbs, ventral neck and sternum and, eventually, tail or muzzle.
Microscopically, there were multifocal to coalescing discrete granulomas along with proliferated dermal
collagen. The sirus red technique was quite useful to localize eosinophils in tissue and confirm the SH reaction
nature, seen in the three species. Histomorphological aspects as quantity, distribution and integrity of
intralesional hyphae, angioinvasive potential and the type of inflammatory and SH reactions seem to be
implicated in the different kinds of lesions and clinical courses in different animal species suffering from
pythiosis. Evidences that pythiosis cure is associated to granulomatous inflammation were observed.
Key Words: Pythium insidiosum, eosinophilic dermatitis, gastrointestinal tract diseases, granulomatous diseases,
pathology.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................................... 8
2.1 Pythium insidiosum............................................................................................................. 8
2.2 Pitiose como infecção natural nas diferentes espécies .................................................... 9
2.2.1. Pitiose equina .............................................................................................................. 9
2.2.2. Pitiose canina............................................................................................................. 10
2.2.2.1. Forma gastrointestinal ........................................................................................... 11
2.2.2.2. Forma cutânea........................................................................................................ 12
2.2.3. Pitiose bovina ............................................................................................................ 13
2.2.4. Pitiose em outras espécies de animais ....................................................................... 14
2.2.5. Pitiose humana .......................................................................................................... 17
2.3 Terapia .............................................................................................................................. 18
2.4 Teoria da patogênese e do mecanismo imunoterapêutico na pitiose ........................... 19
3 MATERIAL E MÉTODOS .......................................................................................... 22
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ................................................................................... 24
5 CONCLUSÕES .............................................................................................................. 97
6 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 98
1 INTRODUÇÃO
A pitiose é uma oomicose grave descrita em animais domésticos e silvestres e
humanos (SANTURIO et al., 2006) do mundo todo, excetuando-se o continente europeu
(BERRYESSA et al, 2008). As apresentações clínico-patológicas dessa enfermidade variam
grandemente entre as espécies (SANTURIO & FERREIRO, 2008) e, embora a doença seja
potencial e frequentemente fatal em todas elas (MENDOZA et al., 2003), relatos de cura
espontânea em bovinos (SANTURIO et al., 1998; GABRIEL et al., 2008; GRECCO et al.,
2009) e cura associada à imunoterapia em cavalos (MENDOZA et al., 2003), cães (HENSEL
et al., 2003) e humanos (KRAJAEJUN et al., 2006).
Apesar dos estudos já realizados sobre a doença e a imunoterapia, não há um completo
entendimento dos mecanismos envolvidos na infecção por Pythium insidiosum, em parte pelas
diferenças entre esse oomiceto e os fungos causadores de micoses em mamíferos
(SANTURIO & FERREIRO, 2008). Sugere-se que o tipo de resposta inflamatória/imune seja
o fator determinante na resolução ou manutenção das lesões (MENDOZA et al., 2003;
MENDOZA & NEWTON, 2005).
Evoluções extremamente importantes no entendimento da provável patogênese e do
mecanismo imunoterapêutico da pitiose equina têm sido embasadas na hipótese de
modificações na resposta imune/inflamatória pós-tratamento. As alterações imunológicas
observadas em equinos curados sugerem que a imunomodulação de uma resposta T auxiliar 2
(T helper 2, Th2) para uma resposta T auxiliar 1 (T helper 1, Th1) possa ser responsável pelas
propriedades curativas da imunoterapia em cavalos (MENDOZA et al., 2003; MENDOZA &
NEWTON, 2005).
Tais observações suportam a necessidade de estudos aprofundados abordando
patologia comparada da pitiose interespécies. Por isso, o objetivo desse trabalho foi avaliar os
aspectos morfológicos e histoquímicos comparados das lesões de pitiose em cavalos, bovinos
e cães, visando estabelecer uma associação entre a resposta inflamatória, o agente etiológico e
os diferentes cursos clínicos da pitiose em animais domésticos.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1 Pythium insidiosum
Pythium insidiosum pertence ao Reino Straminipila (MENDOZA et al., 2005), Filo
Oomycota, Classe Oomycetes, Ordem Peronosporales e Família Pythiaceae
(ALEXOPOULOS et al., 1996). É necessário um ambiente aquático com substrato orgânico
para manutenção do ciclo de vida e temperatura entre 30º e 40º C para reprodução do agente
(CHAFFIN et al. 1995).
Os oomicetos m habilidade de infectar hospedeiros que variam de algas, plantas,
protistas, fungos e artrópodes a animais vertebrados (KAMOUN, 2003). Juntos, fungos e
oomicetos perfazem a maior parte dos patógenos eucarióticos de plantas
(LATIJNHOUWERS et al., 2003). Muitos dos oomicetos patogênicos são responsáveis por
perdas enormes na agricultura, aquacultura e ambiente (PHILLIPS et al., 2007), razão pela
qual a maior parte do conhecimento se mantém limitada às espécies economicamente
importantes, tal como o gênero Phytophtora, e pouco se sabe sobre infecções por outros
oomicetos patogênicos a plantas e/ou animais (KAMOUN, 2003) e sobre a resposta animal à
presença de oomicetos patógenos (PHILLIPS et al., 2007). A infecção pelo suposto oomiceto
Lagenidium sp. foi recentemente descrita em cães (GROOTERS et al., 2003). Entretanto, a
classificação real e definitiva deste agente permanece controversa, pois o sequenciamento do
seu DNA continua indisponível (MENDOZA & VILELA, 2009; MENDOZA et al., 2009).
O gênero Pythium possui mais de 120 espécies, sendo a maioria habitantes do solo e
patógenos de plantas, enquanto apenas P. insidiosum é conhecido por causar doenças tanto em
mamíferos quanto em plantas (ALEXOPOULOS et al., 1996).
Através de estudos filogenéticos de amostras provenientes de animais e humanos de
regiões distintas do globo, foi demonstrado que P. insidiosum se divide em três grupos
filogenéticos: o clado I, contendo apenas isolados do hemisfério oeste, e os clados II e III,
contendo isolados do resto do mundo. Na Tailândia, onde a pitiose humana é endêmica, são
encontradas variantes dos clados II e III (SCHURKO et al, 2003; SUPABANDHU et al.,
2007; CHAIPRASERT et al., 2009). Apesar da hipótese de que a diversidade genética de P.
insidiosum pudesse estar implicada nas diferenças clínicas entre espécies, não se estabeleceu
9
associação de especificidade entre os grupos filogenéticos do oomiceto e as regiões
geográficas ou hospedeiros (CHAIPRASERT et al., 2009).
A pitiose é associada aos climas tropical, subtropical e temperado, tendo sido descrita
em praticamente todo o mundo. diversos relatos em todo o Brasil (SANTOS &
LONDERO, 1974; LEAL et al., 2001; HEADLEY & ARRUDA JR, 2004; TABOSA et al.,
2004), e considera-se que o Pantanal brasileiro seja o local com a maior frequência de pitiose
no mundo (MENDOZA et al., 1996).
A infecção pelo oomiceto P. insidiosum é associada ao contato dos animais com águas
contaminadas, onde ocorre a liberação de zoósporos móveis biflagelados (CHAFFIN et al.,
1995), não havendo, por isso, predisposição de raça, sexo e idade (SANTOS et al., 1987). Os
zoósporos livres na água são atraídos por pelos ou pele danificada. Uma vez fixados na ferida,
se encistam e produzem o tubo germinativo que inicia a lesão (MENDOZA et al., 1993).
O acesso dos animais a fontes de água e ambientes externos é descrito em quase todas
as espécies, sendo que boa parte dos animais permanece algum tempo submerso nela
(IMWIDTHAYA, 1994; MENDOZA et al., 1996; TABOSA et al., 2004; CAMUS et al.,
2004; BUERGELT et al., 2006; BERRYESSA et al, 2008; PESAVENTO et al., 2008;
GRECCO et al., 2009).
2.2 Pitiose como infecção natural nas diferentes espécies
2.2.1. Pitiose equina
Em cavalos, a pitiose se manifesta classicamente como doença cutânea/subcutânea. As
lesões consistem de massas granulomatosas amplas e grosseiramente redondas, em geral
ulceradas, entrecortadas por fístulas que drenam quido serossanguinolento. Nestas fístulas é
possível observar massas necróticas firmes, amarelas e granulares conhecidas como kunkers.
Os animais apresentam intenso prurido e normalmente mutilam a lesão na tentativa de aliviar
o desconforto (MENDOZA & ALFARO, 1986; LEAL et al., 2001).
As lesões geralmente são observadas nas regiões do corpo em contato com a água, e
incluem a extremidade dos membros, partes ventrais do peito e abdômen, face, narinas e
10
cavidade oral (MENDOZA & ALFARO, 1986; CHAFFIN, et al., 1995; MEIRELES et al.,
1993; FOIL, 1996; LEAL et al., 2001; SALLIS et al., 2002). Através dos vasos linfáticos o
agente pode se disseminar para os linfonodos regionais (FOIL, 1996). Claudicação é
frequente nos cavalos atingidos nos membros (MENDOZA & ALFARO, 1986; LEAL et al.,
2001). Prurido, edema e piodermites secundárias nas regiões lesionadas são os principais
achados clínicos em cavalos afetados (LEAL et al. 2001).
A evolução dessa forma clínica é rápida, acompanhada de aumento progressivo das
lesões, emagrecimento e debilidade, culminando com a morte na maioria dos casos. Acredita-
se que a morte esteja associada à liberação de fatores de necrose tumoral TNF-α (LEAL et
al., 2001). Esses fatores são liberados em processos tumorais ou infecções por bactérias gram-
negativas ou outros agentes que possuam lipopolissacarídeos de parede e são os responsáveis
pelo fenômeno de caquexia observados em humanos e animais com essas enfermidades
(KLEIN & HOREJSI, 1997).
alguns relatos de pitiose intestinal (BROWN & ROBERTS, 1988; MORTON et
al., 1991; PURCELL et al., 1994), pulmonar (GOAD, 1984) e lesões cutâneas com
envolvimento ósseo (ALFARO & MENDOZA, 1990; EATON, 1993).
Histologicamente, os kunkers consistem de fragmentos de hifas circundadas e
embebidas por numerosos eosinófilos, intactos e desgranulados, bem como detritos
eosinofílicos abundantes (BROWN & ROBERTS, 1988), com proliferação de tecido de
granulação (GOAD, 1984) e tecido conjuntivo (MILLER, 1985). Nos casos crônicos também
podem ser vistas células gigantes (MENDOZA & ALFARO, 1986).
2.2.2. Pitiose canina
Os cães são a segunda espécie mais afetada pela pitiose, sendo a forma gastrointestinal
mais descrita, seguida da cutânea (SANTURIO et al., 2006). Outras descrições incluem
distribuição prostática (JAEGER et al., 2002) e disseminada (RIVIERRE et al., 2005). Lesões
gastrointestinais segmentares em órgãos diferentes (GROOTERS & FOIL, 2006) e lesões
cutâneas simultâneas num mesmo cão também foram relatadas (DYKSTRA et al., 1999).
Entretanto, lesões gastrintestinais e cutâneas são raramente encontradas juntas num mesmo
cão (GROOTERS, 2003; RECH et al., 2006; PEREIRA et al., 2010).
11
2.2.2.1. Forma gastrointestinal
Os animais em geral são machos de grande porte e têm, em média, 1 a 3 anos de idade
(MILLER, 1985). Como sinais clínicos iniciais apresentam diarreia, vômito, halitose,
anorexia, emagrecimento progressivo, dor abdominal, e massa abdominal palpável
(BENTINCK-SMITH et al., 1989, HELMAN & OLIVER, 1999; MENDOZA et al., 2003),
com evolução que varia de 4 a 135 dias (BERRYESSA et al, 2008).
Radiografia e ultra-sonografia têm sido utilizadas no diagnóstico clínico, as quais
podem revelar espessamento segmentar do trato gastrointestinal, massa abdominal ou
linfadenopatia mesentérica, alterações muitas vezes detectadas também através da palpação
abdominal (GROOTERS, 2003).
Macroscopicamente, o achado mais frequente é o espessamento do intestino delgado,
com ou sem estenose (BENTINCK-SMITH et al., 1989; MENDOZA et al., 2005), associado
a massas no intestino delgado, jejuno e linfonodos mesentéricos (LILJEBJELKE et al., 2002).
Menos frequentemente, ocorre envolvimento do estômago (FISHER et al., 1994), esôfago
(MENDOZA et al., 2003; GROOTERS & FOIL, 2006; BERRYESSA et al, 2008) e faringe
(PATTON et al., 1996). Casos de envolvimento mesentérico sem lesões em outros locais são
frequentes e nesses casos os linfonodos geralmente estão envolvidos em uma massa única,
grande e firme (MILLER, 1985; GROOTERS & FOIL, 2006). As massas são firmes, pálidas
ou amareladas e contêm múltiplas áreas amareladas (HELMAN & OLIVER, 1999). Os
linfonodos podem drenar conteúdo caseoso ao corte (LILJEBJELKE et al., 2002).
O achado histológico básico é uma mistura de inflamação multifocal
piogranulomatosa e granulomatosa com fibrose pronunciada (FISHER et al., 1994; PATTON
et al., 1996), que acomete lâmina própria, submucosa e muscular e deforma parcialmente a
arquitetura do órgão (LILJEBJELKE et al., 2002). Os piogranulomas consistem de focos
necróticos infiltrados e circundados por neutrófilos, macrófagos epitelióides, plasmócitos,
células gigantes multinucleadas e eosinófilos (FISHER et al., 1994), sendo que os últimos são
um componente importante do infiltrado inflamatório (HELMAN & OLIVER, 1999). Quando
envolvimento dos linfonodos mesentéricos e órgãos adjacentes, estes apresentam infiltrado
inflamatório misto e áreas de necrose contendo numerosas hifas (LILJEBJELKE et al., 2002).
Vasculite necrosante e trombos de fibrina são vistos esporadicamente (PATTON et al., 1996;
HELMAN & OLIVER, 1999).
12
As hifas não são aparentes na coloração de hematoxilina e eosina (HE), embora reação
de Splendore-Hoeppli circunde espaços claros no interior dos granulomas (FISHER et al.,
1994; PATTON et al., 1996). Na impregnação pela metenamina nitrato de prata de Grocott
(GMS) elas são largas, com 5 a 7 µm de diâmetro, ocasionalmente septadas e irregularmente
ramificadas (HELMAN & OLIVER, 1999). Em poucos casos, as hifas são levemente
basofílicas e a variação de tamanho é maior, com espessuras que variam de 1,5 a 8,5 µm
(PATTON et al., 1996).
2.2.2.2. Forma cutânea
Como na forma gastrointestinal, os casos de pitiose cutânea geralmente acometem
cães de grande porte de 1 a 3 anos de idade (FOIL et al., 1984; DYKSTRA et al., 1999). As
lesões em geral não são pruriginosas (DYKSTRA et al., 1999) e progridem rapidamente
mesmo sob tratamento com fármacos antifúngicos, antibióticos ou excisão cirúrgica (FOIL et
al., 1984). Raros animais apresentam prurido e automutilação (FOIL et al., 1984).
Inicialmente notam-se áreas levemente elevadas na pele, com eritema e alopecia
(HENSEL et al., 2003). Quando apresentadas ao veterinário, as lesões frequentemente têm
evolução de 1 a 3 meses e consistem de nódulos únicos ou múltiplos ulcerados, de 1 a 8 cm de
diâmetro (DYKSTRA et al., 1999), ou massas ulceradas de até 30 cm de extensão, que
envolvem pele e tecido subcutâneo (FOIL et al., 1984; HOWERTH et at., 1989).
Independentemente do tamanho, as lesões contêm tratos fistulosos que drenam exsudato
serossanguinolento ou purulento (FOIL et al., 1984; BENTINCK-SMITH et al., 1989;
HOWERTH et at., 1989; DYKSTRA et al., 1999; RIVIERRE et al., 2005). Em casos mais
avançados a massa pode envolver, além da derme e tecido subcutâneo, a parede abdominal,
costelas e órgãos internos. Parte desse envolvimento se deve à proliferação de tecido de
granulação misturado a áreas de necrose (BENTINCK-SMITH et al., 1989).
As lesões foram descritas em diversas partes do corpo, tais como cabeça, tronco,
membros, cauda, abdômen, bolsa escrotal e prepúcio (FOIL et al., 1984; HOWERTH et at.,
1989). É também descrita a forma disseminada da doença associada à lesão de pele, com
peritonite séptica e envolvimento de vísceras como intestino, rim, coração e encéfalo (FOIL et
al., 1984).
13
Histologicamente, o padrão de inflamação mais comum no HE é dermatite ulcerativa e
piogranulomatosa (RIVIERRE et al., 2005), composta por áreas de inflamação e necrose da
derme, com numerosos neutrófilos e eosinófilos (HENSEL et al., 2003), às vezes combinadas
a granulomas conspícuos formados unicamente por macrófagos epitelióides e células gigantes
multinucleadas ou repletos de detritos celulares eosinofílicos (FOIL et al., 1984; HOWERTH
et al., 1989). Mastócitos são raramente descritos (HOWERTH et al., 1989). trombose
arteriolar acentuada, fibroplasia e neovascularização em alguns casos (FOIL et al., 1984;
HOWERTH et al., 1989; HENSEL et al., 2003), com raras hifas associadas à parede das
artérias (FOIL et al., 1984).
O GMS revela hifas abundantes nas áreas de inflamação e necrose da derme (FOIL et
al., 1984) e menos numerosas nos granulomas (HOWERTH et al., 1989). Elas têm paredes
espessas e quase paralelas, e variam de 3 a 9 µm (RIVIERRE et al., 2005) a 4,5 a 10 µm, com
poucos septos espessos e ramificações ocasionais (FOIL et al., 1984; HOWERTH et al., 1989;
HENSEL et al., 2003). As estruturas não são vistas na técnica do ácido periódico de Schiff
(PAS) (FOIL et al., 1984; HOWERTH et al., 1989; HENSEL et al., 2003).
2.2.3. Pitiose bovina
A pitiose bovina, até então descrita somente na forma cutânea, foi primeiramente
descrita nos Estados Unidos por Miller et al. (1985), que associaram ao Pythium sp. lesões se
pele de seis animais. Treze anos depois, um novo surto, atribuído à espécie P. insidiosum,
foi relatado em dois bovinos da região do Pantanal brasileiro (SANTURIO et al., 1998). Na
ocasião, o diagnóstico foi estabelecido a partir de cultura microbiológica e técnica de imuno-
histoquímica. Passados alguns anos, foram publicados os três últimos relatos da doença nesta
espécie, relacionados a surtos que envolviam 63, 76 e 16 animais, respectivamente (PÉREZ et
al., 2005; GABRIEL et al., 2008; GRECCO et al., 2009). O primeiro deles ocorreu na
Venezuela, onde a pitiose foi considerada enzoótica, uma vez que se suspeitava que a
granulomatose bovina enzoótica, doença comum na região, fosse atribuída a um fungo.
Nesse estudo foram aplicadas técnicas histopatológicas, imuno-histoquímicas, sorológicas e
micológicas (PÉREZ et al., 2005). Os dois outros relatos ocorreram em épocas muito
próximas, nas regiões oeste (GABRIEL et al., 2008) e sul do Rio Grande do Sul, Brasil
14
(GRECCO et al., 2009). Em ambos os casos, a identificação do agente etiológico se baseou
em resultados imuno-histoquímicos.
De acordo com informações desses relatos (MILLER et al., 1985; SANTURIO et al.,
1998; PÉREZ et al., 2005; GABRIEL et al., 2008; GRECCO et al., 2009), não
predisposição por sexo e a maioria dos animais afetados é jovem. Ocasionalmente os animais
apresentam prurido, edema, aumento de volume nas articulações e claudicação.
Macroscopicamente observam-se espessamentos dérmicos ulcerados, multifocais, de
tamanhos variados, localizados principalmente nos membros. As lesões cutâneas podem não
estar ulceradas ou podem apresentar tratos fistulosos com material serossanguinolento ou
purulento (MILLER et al., 1985; SANTURIO et al., 1998; PÉREZ et al., 2005).
Microscopicamente as lesões podem ser compostas por granulomas (MILLER, 1985),
piogranulomas (SANTURIO et al., 1998) ou como áreas amplas de necrose com inflamação
mista (PÉREZ et al., 2005).
Em três dos cinco relatos, houve cura espontânea de todos os animais afetados
(SANTURIO et al., 1998; GABRIEL et al., 2008; GRECCO et al., 2009), fato que foi
atribuído em parte à resposta imune/inflamatória diferente da observada em equinos (ausência
de kunkers) (GABRIEL et al., 2008). No surto de 1985, os animais foram destinados à
eutanásia ou abate, por causa da resposta insatisfatória aos diferentes tratamentos (MILLER et
al., 1985). No caso da pitiose enzoótica, não ficou claro o desfecho da doença no rebanho;
sabe-se que alguns animais não conseguiam se levantar devido à dor, o que levou à perda de
peso e, eventualmente, inanição e morte (PÉREZ et al., 2005).
2.2.4. Pitiose em outras espécies de animais
A pitiose é rara em gatos. Quando ocorre, geralmente causa lesões cutâneas de 6 a 20
cm de diâmetro. Além disso, casos isolados de infecções no tecido subcutâneo,
nasofaringe/retrobulbar foram descritas (GROOTERS et al., 2003). Num relato de pitiose
gastrointestinal em dois gatos, os animais tinham perda de peso, vômito e presença de uma
massa palpável na região abdominal. Em ambos os casos, a massa apresentava localização
extraluminal no duodeno e íleo. Na avaliação histológica evidenciou-se enterite
granulomatosa eosinofílica, envolvendo as camadas muscular e serosa, com áreas multifocais
de necrose, no interior das quais havia hifas de P. insidiosum (RAKICH et al., 2005).
15
Dois surtos envolvendo ovinos deslanados de raça mista foram descritos nas cidades
de Catingueira e Coremas, estado da Paraíba, Brasil. Os surtos envolveram 40 de 120 e 8 de
60 animais, respectivamente. O curso clínico variou de 60 a 90 dias e todos os animais
morreram. Os sinais clínicos se caracterizavam por lesões ulcerativas únicas ou múltiplas, de
2,5 a 15 cm, na pele dos membros, abdômen e região pré-escapular. Ao corte, as lesões eram
compostas de tecido amarelo macio circundado por tecido fibroso brancacento.
Histologicamente eram compostas por granulomas coalescentes, com centro repleto de
detritos celulares e hifas circundadas por material de Splendore-Hoeppli e eosinófilos
desgranulados. Ao redor dessas áreas havia macrófagos epitelioides, células gigantes, células
mononucleares e menor número de eosinófilos e macrófagos. Na impregnação pela prata de
Gomori foram vistas hifas em todos os sítios de lesão. Disseminação ocorreu para o pulmão e
linfonodos; acometimento por extensão da lesão cutânea acometeu osso e tendão (TABOSA
et al., 2004). TABOSA et al. (1999), relataram trinta e cinco casos de pitiose em equinos e
três em muares no Estado da Paraíba, enquanto SANTURIO et al. (2008) relataram rinite por
Pythium insidiosum numa ovelha.
Além dos relatos envolvendo humanos e animais domésticos, P. insidiosum foi
também associado a doenças em animais silvestres. O primeiro relato data de 2003, ocasião
em que foi associado à lesão gastrointestinal num grupo de ursos-de-óculos de um zoológico
da Carolina do Sul, Estados Unidos (GROOTERS, 2003). Nos anos seguintes, foram
relatados casos de pitiose pulmonar numa onça-pintada natural da América Central (CAMUS
et al., 2004), pitiose disseminada em um dromedário dos Estados Unidos (WELLEHAN et al.,
2004), e pitiose intestinal em um tigre de Bengala da Flórida (BUERGELT et al., 2006).
Finalmente, a oomicose foi descrita como doença cutânea em uma ave migratória da
Califórnia (PESAVENTO et al. 2008).
No caso da onça-pintada, a evolução do quadro foi de aproximadamente um mês; o
animal apresentava dificuldade respiratória, foi submetido à antibioticoterapia e intervenção
cirúrgica e morreu. As lesões macroscópicas consistiam basicamente de uma massa
multilobular que envolvia boa parte do pulmão esquerdo, aumento de volume dos linfonodos
do hilo pulmonar e oclusão de um dos brônquios primários por um granuloma.
Microscopicamente, havia substituição do parênquima pulmonar por áreas coalescentes de
inflamação granulomatosa, com focos centrais irregulares e intensamente eosinofílicos de
necrose de coagulação separados por tecido conjuntivo. Estes centros eram compostos por
grande número de eosinófilos degenerados e material eosinofílico hialino, e estavam cercados
por um misto de eosinófilos, macrófagos, células gigantes multinucleadas, neutrófilos e
16
plasmócitos misturados a fibroblastos proliferados. No GMS, as hifas tinham 4,4 a 8,3 µm,
eram numerosas e estavam dispostas radialmente na periferia dos centros eosinofílicos. A
intensidade da impregnação pela prata variava conforme o local, sendo que as hifas centrais
eram fracamente argirofílicas quando comparadas às da periferia, as quais eram intensamente
pretas. Lesão semelhante foi vista na traqueia. Apesar do aspecto reativo dos linfonodos, não
havia comprometimento dos mesmos pela pitiose e não foi vista invasividade vascular pelo
agente. Segundo os autores, o envolvimento pulmonar provavelmente ocorreu por extensão
direta através das vias aéreas e alvéolos (CAMUS et al., 2004).
A duração da doença foi maior no dromedário, que morreu seis meses após apresentar
os primeiros sinais clínicos. Inicialmente foi removida cirurgicamente uma massa de 17 x 9
cm localizada na face, com crescimento de um mês e diagnóstico citológico de inflamação
piogranulomatosa. Histologicamente, a inflamação envolvia derme, tecido subcutâneo,
músculo, glândula salivar, mucosa oral e tecido conjuntivo, e consistia de células
inflamatórias mistas e granulomas eosinofílicos de diferentes tamanhos. No GMS, as hifas
tinham 4-6 µm e eram vistas no interior dos granulomas. Dois meses depois, o linfonodo
submandibular removido demonstrou hiperplasia linfoide e acúmulos de eosinófilos
desgranulados circundados por macrófagos e organismos argirofílicos consistentes com P.
insidiosum nos granulomas e luz de vasos. O animal morreu depois de apresentar anorexia,
anemia e perda de peso. No estômago havia espessamento irregular e granular da parede e
áreas multifocais recobertas por sangue e fibrina, que correspondiam à gastrite eosinofílica e
granulomatosa focalmente extensa e transmural. Agregados de células inflamatórias
consistiam de macrófagos circundando núcleos de material amorfo eosinofílico contendo
hifas de P. insidiosum (WELLEHAN et al., 2004).
Basicamente, os sinais clínicos apresentados pelo tigre foram vômito, perda de pelos,
anorexia e emagrecimento, morrendo 10 meses depois do início do quadro. Na necropsia
havia espessamento marcado do jejuno, com comprometimento de 120 cm do órgão, estenose
quase oclusiva, espessamento semelhante no cólon. Também os linfonodos mesentéricos
estavam maiores. Microscopicamente, a mucosa dos intestinos estava espessada por grande
quantidade de macrófagos, eosinófilos, neutrófilos, plasmócitos e linfócitos. A submucosa e
muscular continham piogranulomas, com agregados de neutrófilos, linfócitos e macrófagos e
ocasionais células gigantes. Uma coloração para fungos demonstrou numerosas hifas de 7µm
no interior dessas áreas (BUERGELT et al., 2006).
A ave não apresentava nenhum sinal clínico além das lesões cutâneas, e foi submetida
à eutanásia ao se presumir que as mesmas eram infeciosas. Na pele das asas, torso e pernas
17
havia nódulos amarelos e ulcerados de até 1,5 cm de diâmetro, que correspondiam a áreas de
necrose e detritos caseonecróticos que envolviam diversos folículos da pena. Alguns desses
continham folículos necróticos e os demais estavam vazios. Através do GMS e PAS, foram
visualizadas hifas de 3 a 7 µm de diâmetro associadas à necrose e à parte dos folículos. A
derme profunda era massivamente infiltrada por eosinófilos e menor número de histiócitos e
heterófilos. O agente foi identificado através de PCR. Sobre a extensão da lesão, os autores
sugerem que, por se tratar de uma ave filhote, o ninho poderia ter alguma implicação na
extensão da lesão, ou que pudesse haver alguma condição predisponente não diagnosticada
(PESAVENTO et al., 2008).
2.2.5. Pitiose humana
A maioria dos casos de pitiose humana foi observada na Tailândia e esporadicamente,
em outros países (MENDOZA et al, 1996), incluindo o Brasil (BOSCO et al., 2005). A pitiose
humana tem quatro formas clínicas básicas de apresentação, em ordem decrescente de
ocorrência: vascular, ocular, cutânea/subcutânea e disseminada. A primeira é confinada ao
tecido arterial, não sendo vista infecção de veias. Os pacientes geralmente apresentam
síndromes de insuficiência arterial nas extremidades inferiores. Apresentações clínicas
incluem claudicação, gangrena, febre, parestesia, ausência de pulso arterial, aneurismas, entre
outras. O intervalo médio entre o aparecimento dos sinais e a busca por auxílio médico é de
três meses. Em um levantamento de 102 casos, todos os pacientes com essa forma de pitiose
tinham talassemia (90%) ou outra doença hematológica concomitante. A segunda forma,
ocular, geralmente cursa com úlcera de córnea ou ceratite, e outros sinais incluem dor,
irritação, aumento de volume e diminuição da acuidade visual. A duração média dos sintomas
nesse caso é de 17 dias. Interessantemente, um terço dos pacientes relatou ocorrência de
trauma ocular associado a plantas 10 dias antes do surgimento das lesões. A forma
cutânea/subcutânea cursa com aumento de volume crônico (1 a 3 meses) e formação de
nódulo infiltrativo e ulcerado no braço ou na perna. Histologicamente, -se infecção
eosinofílica crônica na derme e tecido subcutâneo. Os casos de pitiose disseminada variaram
em sua apresentação clínica, mas todos os pacientes morreram. As lesões de pitiose se
resumiam à sepse secundária à gastrite e peritonite por P. insidiosum. Na Tailândia, a pitiose
18
está associada à prevalência das duas formas de talassemia, α e β, e presença de grandes áreas
alagadiças utilizadas para agricultura (KAJAEJUN et al., 2006).
2.3 Terapia
O tratamento da infecção por P. insidiosum em animais e humanos é difícil. Três
métodos terapêuticos são geralmente utilizados para esta doença: cirurgia, quimioterapia e
imunoterapia (MENDOZA et al., 1996).
A cirurgia radical, que consiste da remoção de toda a lesão, é, segundo alguns autores,
a terapia de escolha para o tratamento da pitiose tanto em cavalos quanto em cães (FOIL et
al., 1984; THOMAS & LEWIS, 1998) e humanos, espécie na qual é comum a amputação de
membros como tentativa de eliminar a infecção (WANACHIWANAWIN et al., 2004). A
debridação cirúrgica de lesões de pele em cavalos e cães também é muito popular, mas um
alto índice de recorrência tem sido visto (GAASTRA et al., 2010) e em alguns casos, como
em lesões localizadas na extremidade dos membros, a excisão é inviável (MILLER, 1981).
A utilização de fármacos antifúngicos é pouco eficiente no combate a P. insidosum,
uma vez que os componentes alvos dos fármacos estão ausentes neste oomiceto (FOIL, 1996).
Fármacos utilizados até hoje incluem anfotericina B (FOIL et al., 1984), itraconazole
(DYKSTRA et al., 1999), fluconazole, cetoconazole (RIVIERRE et al., 2005), terbinafina
(PEREIRA et al., 2010) e iodeto de sódio e potássio (MENDOZA et al., 1996).
A falta de escolhas terapêuticas encorajou o desenvolvimento e o uso de imunoterapia
no tratamento da pitiose equina (MENDOZA et al., 2003). Apesar de haver pesquisas
indiretas anteriores (GAASTRA et al., 2010), estudos específicos quanto ao uso da
imunoterapia iniciaram-se em 1981, quando a inoculação de hifas de P. insidiosum
processadas em laboratório foi avaliada num grupo de cavalos naturalmente infectados pelo
agente, sozinha ou atrelada à extirpação cirúrgica das lesões. Num total de 40 cavalos, a
imunoterapia sozinha foi responsável pela cura de 52,5% dos animais. Quando associada à
cirurgia, o índice aumentou em 30% (MILLER, 1981).
A cnica foi utilizada, com modificações e resultados variados, ao longo dos anos 80
e 90 nas diferentes espécies (SANTURIO et al., 2006). No caso dos cavalos, boa parte dos
resultados são animadores, onde se obtêm até 70% de cura nos caso de lesões iniciais
(MENDOZA et al., 1992). Um avanço importante, demonstrado por pesquisadores
19
brasileiros, foi a resolução de lesões crônicas, com mais de um ano de evolução, bem como o
a cura de lesões recorrentes de pitiose equina, fato até então pouco descrito na literatura
(MONTEIRO, 1999).
Resultados importantes têm sido alcançados com o uso da imunoterapia em humanos,
principalmente nos casos de doença vascular, na qual o índice de cura chega a 50%
(WANACHIWANAWIN et al., 2004; KRAJAEJUN et al., 2006). Além disso, num estudo
que avaliou a eficácia da imunoterapia em oito portadores de pitiose arterial, a grande maioria
dos pacientes curados tinha lesões crônicas, de mais de dois meses de evolução. Os autores
creditam a diferença frente aos estudos em equinos à variedade da vacina por eles utilizada
(WANACHIWANAWIN et al., 2004).
No caso dos bovinos, há relatos de cura em 100% dos casos nos quais o tratamento foi
utilizado (MENDOZA & NEWTON, 2005). Vale ressaltar que cura espontânea foi relatada
em três trabalhos de pitiose bovina (SANTURIO et al., 1998; GABRIEL et al., 2008;
GRECCO et al., 2009). Em contrapartida aos bons resultados obtidos em equinos, bovinos, e
humanos, a imunoterapia em cães e gatos tem demonstrado resultados frustrantes. Este fato é
atribuído à longa evolução da doença e debilidade dos animais quando do atendimento
clínico, o que comprometeria a resposta imune à vacina (MENDOZA & NEWTON, 2005).
Alguns pesquisadores recomendam a imunoterapia como uma alternativa importante
para o tratamento da pitiose, principalmente em equinos. Deve-se levar em consideração, no
entanto, que as taxas de cura geralmente são calculadas com base num número pequeno de
animais, e que frequentemente a cura provém da combinação de ações, como terapia
cirúrgica, imunoterapia e administração de agentes antimicrobianos (GAASTRA et al., 2010).
2.4 Teoria da patogênese e do mecanismo imunoterapêutico na pitiose
Apesar do progresso nos estudos sobre a doença e imunoterapia, é importante ressaltar
que ainda não um completo conhecimento dos mecanismos envolvidos na infecção por P.
insidiosum e as explicações para os mecanismos de infecção e de cura são baseados em
hipóteses fundamentadas em observações da doença em humanos e equinos (SANTURIO et
al., 2006).
A provável hipótese de cura da pitiose equina foi consistentemente proposta por
MENDOZA et al. (1996). Em 2003, MENDOZA et al. (2003) descreveram com detalhes os
20
prováveis mecanismos imunológicos envolvidos na cura. Em estudos histopatológicos foi
demonstrado, que com o uso do imunoterápico, as hifas são aparentemente destruídas pela
população de células mononucleares (MILLER, 1981; MENDOZA et al., 2003). Num relato
de cura da pitiose associada à imunoterapia, após 49 dias de tratamento com duas doses de
vacina anti-P. insidiosum, uma biópsia revelou hiperplasia leve da epiderme e fibrose
dérmica, com infiltração leve de macrófagos e plasmócitos. No GMS não foram vistas hifas e
nem nas biópsias subsequentes (HENSEL et al., 2003). A partir disso que foi sugerido que o
mecanismo de cura é decorrente, predominantemente, da resposta imune celular (MENDOZA
& NEWTON, 2005) e que a inclusão de antígenos citoplasmáticos aumenta as propriedades
curativas do imunoterápico. O desaparecimento da resposta eosinofílica e expressão de
acentuada reação mononuclear observados após imunoterapia suportam essa hipótese
(MILLER, 1981; HENSEL et al., 2003; MENDOZA et al., 2003). A patogênese da pitiose
equina e o mecanismo imunoterapêutico propostos (MENDOZA et al., 2003; MENDOZA &
NEWTON 2005) serão sumarizados a seguir.
Propágulos (zoósporos) móveis do oomiceto aquático P. insidiosum contatam o
hospedeiro através de uma ferida aberta. Após o contato, forma-se um tubo germinativo que
mecanicamente penetra os tecidos onde hifas do agente produzem exo-antígenos (exo-Ags)
que são apresentados às células apresentadoras de antígenos (APCs). As APCs secretam
interleucina 4 (IL-4) que direciona os linfócitos T helper naïve (Th0) em T helper 2 (Th2);
estes produzem mais IL-4 e IL-5. Assim, os exo-Ags desencadeiam uma resposta imune Th2
com eosinófilos, mastócitos, IgE, IL-4 e IL-5 e a constante produção de exo-Ags faz com que
a resposta imune trave num modo Th2. Os números elevadíssimos de eosinófilos
desgranulados (reação de Splendore-Hoeppli ; SH) e mastócitos ao redor das hifas de P.
insidiosum são os principais responsáveis pelo dano tecidual extenso e rápido encontrado na
pitiose. Os autores sugerem, baseados em seus dados e nos de outros pesquisadores, que a
produção de SH e a secreção de exo-Ags são ambas as estratégias evolutivas desenvolvidas
por P. insidiosum para assegurar sua proliferação em um tecido hospedeiro (MENDOZA et
al., 2003). Essa hipótese é suportada pelo fato de que hifas viáveis de P. insidiosum têm sido
encontradas somente dentro da reação eosinofílica (kunkers) em cavalos, indicando que o
*
Reação (ou fenômeno) de Splendore-Hoeppli - Nas lesões botrióides (por Staphylococcus aureus), a reação clássica de Splendore-Hoeppli caracteriza-se por uma borda
hialina de material eosinofílico radiado circundando colônias bacterianas. Esse material é tido como uma mistura de debris celulares degenerados e imunoglobulinas do
hospedeiro (BRIDGEFORD et al., 2008). Em lesões conjuntivais, o fenômeno de Splendore-Hoeppli foi definido como consistindo de um material amorfo eosinofílico
circundado por macrófagos epitelióides, células gigantes multinucleadas, linfócitos e eosinófilos. Nessas lesões foram observados dois padrões de imunomarcação, um
revelando predominantemente imunoglobulinas e outro revelando primariamente protna básica principal (MBP) do eosinófilo. Os autores concluiram que a composição do
fenômeno de Splendore-Hoeppli pode variar e pode estar relacionada a vários fatores (READ et al., 2005).
21
agente possa usar a reação de SH e os kunkers para sua sobrevivência (MENDOZA &
NEWTON, 2005). Cura em pacientes humanos tem sido associada à imunoterapia, com taxas
de sucesso de aproximadamente 56%; inclusive em casos crônicos. Nestes casos também é
relatada uma mudança no padrão de ILs que indica troca de resposta Th2 para Th1
(WANACHIWANAWIN et al., 2004). Ainda, um estudo recente que mapeou os antígenos
das hifas através da associação de microscopia eletrônica e anticorpos anti-P. insidiosum no
soro de hospedeiros infectados e demonstrou que o agente expressa múltiplos antígenos
imunodominantes, sendo que a maior parte deles está localizada nas camadas internas da
parede e na própria parede celular, e, embora em menor número, também no citosol, o que
reforça a ideia de que a exposição do citosol poderia estar implicada na troca de resposta
(GARCIA et al., 2007).
3 MATERIAL E MÉTODOS
Foram estudados 21 casos de pitiose provenientes dos arquivos do Laboratório de
Patologia Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (19 casos) e do Laboratório
Regional de Diagnóstico da Universidade Federal de Pelotas (2 casos), compreendendo as
espécies equina (10 casos), canina (9 casos) e bovina (2 casos).
As informações relativas aos dados de anamnese, forma clínica, localização das lesões
e desfecho dos casos foram obtidas a partir dos protocolos de biópsia e necropsia. A avaliação
macroscópica foi realizada a partir dos protocolos e do banco de imagens.
A partir de amostras de tecidos emblocadas em parafina (1 ou 2 amostras por caso),
foram obtidas seções seriadas de 3µm de espessura para a confecção de lâminas de histologia,
histoquímica e imuno-histoquímica (IHQ).
Todos os casos tiveram a etiologia confirmada pela técnica de IHQ, conforme descrito
por Gabriel et al. (2008), utilizando-se o anticorpo policlonal (não-comercial) anti-P.
insidiosum produzido em coelho, com diluições de 1:1000 (cavalos e bovinos) e 1:2000
(cães). Para a técnica de IHQ, foram utilizadas lâminas silanizadas com seções histológicas de
3µm. Após a desparafinização e reidratação dos tecidos, foi realizado quando necessário, o
bloqueio da peroxidase endógena através do uso de peróxido de hidrogênio (10 volumes),
seguido da recuperação antigênica com solução de TRIS-EDTA (pH 9,0) em forno
microondas em potência máxima por 10 minutos. O bloqueio das reações inespecíficas foi
realizado com solução de caseína (30 minutos em temperatura ambiente). O anticorpo
primário foi diluído em PBST e adicionado aos cortes histológicos por 60 minutos a 37°C. O
anticorpo secundário biotinilado e o complexo estreptavidina-peroxidase (LSAB+System-
HRP, Dako Cytomation, K0690) ou estreptavidina-fosfatase alcalina (LSAB+System-AP,
Dako Cytomation, K0689) foram utilizados consecutivamente, incubados à temperatura
ambiente por 30 minutos, e marcados através da adição do cromógeno de tetracloreto de 3-
3‟diaminobenzidina (DAB, Sigma D-5637) ou Liquid Permanent Red (Dako Cytomation,
K0640), respectivamente. As seções histológicas foram contracoradas com hematoxilina de
Harris (quando marcadas com DAB) ou de Mayer (quando marcadas com Liquid Permanent
Red), desidratadas e montadas com resina sintética e lamínulas. Como controle positivo,
foram utilizadas seções histológicas de casos confirmados de pitiose equina e canina. Como
23
controle negativo, foram utilizadas as mesmas seções a serem testadas, com a substituição do
anticorpo primário por diluente de anticorpo (PBST).
Os cortes foram submetidos às técnicas de hematoxilina e eosina (HE), metenamina
nitrato de prata (método de Grocott; GMS), ácido periódico de Schiff (PAS), sirius red (SR) e
azul de toluidina (AT). A técnica de SR para demonstração de grânulos de eosinófilos foi
modificada de WEHREND et al. (2004). A modificação consistiu em deixar as lâminas por 24
horas no corante.
Foi realizada avaliação comparada dos campos nas diferentes técnicas, o que permitiu
correlacionar todos os achados. Através do HE, foram avaliados os seguintes aspectos:
morfologia, localização e extensão da lesão, tipo de resposta inflamatória, bem como
informações adicionais peculiares de cada caso.
A técnica de GMS foi empregada para avaliação das hifas quanto à sua quantidade,
distribuição e características morfológicas. Em casos selecionados de cavalos e cães, a técnica
de GMS foi seguida da técnica de SR, sendo então denominada GMS-SR. Essa modificação
permitiu demonstrar de maneira simultânea a relação entre hifas e eosinófilos.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dados referentes aos animais, à doença (forma clínica e localização das lesões) e ao
desfecho dos casos estão apresentados na Tabela 1. Com exceção dos bovinos, os demais
animais representavam casos isolados de pitiose. Os bovinos pertenciam a rebanhos distintos,
nos quais diversos animais apresentaram quadro clínico idêntico.
Tabela 1 Dados de anamnese, formas clínicas da doença, localização das lesões e conclusão
dos casos de pitiose equina, canina e bovina.
Espécie
Animal
Raça
Sexo
Forma clínica
Localização
Desfecho
Equina
1
n.i.
a
n.i.
Cutânea / SC
n.i.
n.i.
2
SRD
b
F
c
Cutânea / SC
Abdômen
n.i.
3
PSI
F
Cutânea / SC
Abdômen
n.i.
4*
SRD
M
d
Cutânea / SC
Lábio
Eutanásia
5
SRD
F
Cutânea / SC
Mandíbula
n.i.
6
n.i.
M
Cutânea / SC
Lábio
e LSM
e
Eutanásia
7*
n.i.
n.i.
Cutânea / SC
n.i.
n.i.
8
Crioula
F
Cutânea / SC
Abdômen
9
Crioula
F
Cutânea / SC
MPE
f
Eutanásia
10
Crioula
F
Cutânea / SC
Lábio
Canina
1
1
Labrador
M
TGI
g
LNM
h
Morte
2
1
SRD
M
TGI
Estômago
e
LNM
3
1,2
*
SRD
F
TGI / Cutânea
Cólon
/ Lábio
Eutanásia
4
1
SRD
M
TGI
Estômago e ID
i‡
Eutanásia
5
1
Shar-pei
F
TGI
Mesentério
e
LNM
Morte
6
n.i.
M
TGI
IG
j
Morte
7
3
Labrador
F
TGI / Cutânea
IG / Tórax
Morte
8
Pastor
Alemão
M
Cutânea
Prepúcio
, Pênis
e Escroto
n.i.
9
Boxer
M
Cutânea
Multifocal
Morte
Bovina
1
4
SRD
n.i.
Cutânea
Multifocal
Cura
espontânea
2
5
SRD
M
Cutânea
Multifocal
Cura
espontânea
a
n.i.: não informado;
b
SRD: sem raça definida;
c
F: fêmea;
d
M: macho;
e
LSM: linfonodos sub-mandibulares;
f
MPE: membro posterior esquerdo;
g
TGI: trato gastrointestinal;
h
LNM: linfonodos mesentéricos;
h
mesentério
perinodal;
i
ID: intestino delgado;
j
IG: intestino grosso; *: foi isolado P. insidiosum da amostra submetida para
cultura microbiológica;†: o animal foi submetido a necropsia, mas não consta informação sobre o tipo de morte
(espontânea ou eutanásia);
: tecido examinado neste estudo;
1
TROST et al. (2009);
2
RECH et al. (2004);
3
PEREIRA et al. (2010);
4
GABRIEL et al. (2008);
5
GRECCO et al. (2009).
25
Nos cavalos, informações sobre a idade e o aspecto macroscópico das lesões estavam
disponíveis em quase todos os protocolos. Em nenhum deles, no entanto, estava discriminado
o ambiente onde o animal era mantido e se este tinha ou não acesso à água. O tempo de
evolução das lesões variou de 1 a 12 meses. Dos 10 casos, metade correspondia a exames de
necropsia, onde os animais morreram ou foram submetidos à eutanásia por causa da gravidade
das lesões. Este dado é bastante citado na literatura, uma vez que os animais geralmente
morrem em decorrência da doença (LEAL et al., 2001).
Todas as feridas eram únicas e estavam confinadas aos tecidos cutâneo e subcutâneo.
Das cinco amostras oriundas de biópsias, uma correspondia a um nódulo na mandíbula
(Cavalo 5) e duas foram coletados a partir de tumorações na região abdominal (Cavalos 2 e
3). Nos protocolos de necropsias, estavam descritas feridas focalmente extensas na face,
envolvendo lábio superior e parte das narinas, com até 16 x 10 x 6 cm de diâmetro (Cavalos 4,
6 e 10) (Figura 1); na porção distal do membro posterior, envolvendo a segunda falange, com
22 cm de extensão (Figura 2); e na porção caudo-ventral do abdômen, com 30 cm de diâmetro
(Cavalo 8) (Figura 3). Em geral, as ferida são únicas (LEAL et al., 2001; SALLIS et al.,
2003). Às vezes são vistas duas ou mais lesões, que podem ter início simultâneo, sendo uma
em geral localizada no membro (CHAFFIN, 1992).
Macroscopicamente, as lesões consistiam de úlceras amplas ou massas fibrosas
ulceradas, com superfícies irregulares, brancas ou amarelas e cobertas de secreção serosa ou
serossanguinolenta. Ao corte eram firmes e brancacentas e continham numerosas fístulas
externas tortuosas, de bordos rugosos e enegrecidos. Os tratos eram preenchidos por massas
tubulares destacáveis, visíveis na superfície natural, que se desprendiam facilmente à pressão
do tecido. Tais massas eram amarelas, compactas, firmes e levemente friáveis, tinham
ramificações grosseiras e mediam de 0,4 a 8 cm de comprimento, lembrando corais (kunkers)
(Figura 4). Em alguns casos, a ferida se estendia até o tecido subcutâneo ou tecido muscular
subjacente; em apenas um caso, havia aumento de volume generalizado da cabeça, sendo que
um dos linfonodos submandibulares estava preenchido por kunkers.
Os resultados da imuno-histoquímica para pitiose equina estão ilustrados nas Figuras 5
e 6. A maioria das seções histológicas de pele estavam extensamente ulceradas e recobertas
por filamentos de fibrina, neutrófilos e por agregados bacterianos basofílicos, interpretados
como contaminação bacteriana secundária. A maior parte das amostras era composta
basicamente por tecido conjuntivo fibroso bem colagenizado, proliferado a partir da derme até
o tecido subcutâneo. Em meio a este tecido havia múltiplas áreas, muitas vezes coalescentes,
26
constituídas por tecido de granulação jovem, circundando áreas tintorialmente eosinofilicas,
correspondentes aos kunkers vistos na macroscopia (Figura 7).
Tais estruturas eram compostas por coleções de eosinófilos densas e grosseiramente
circulares, bem delimitadas, com numerosos núcleos celulares pouco definidos (muitas vezes
vistos apenas como fragmentos de cromatina) e trabéculas de colágeno hialinas esparsas
(áreas de colagenólise) em quantidades variadas (Figura 8). Uma variação no padrão do
colágeno associado aos kunkers foi descrita anteriormente (BRIDGES & EMMONS,
1961). Inflamação eosinofílica e colagenólise estão frequentemente associadas, pois as
proteínas catiônicas presentes nos grânulos dos eosinófilos, essenciais na defesa do
hospedeiro, também podem causar acentuado dano tecidual e contribuir para a colagenólise,
as quais são comuns a muitas doenças cutâneas eosinofílicas (GINN et al., 2007).
Quanto à fibrose acentuada, sabe-se que eosinófilos estão intimamente associados à
remodelação tecidual, cicatrização e fibrose, através da estimulação da proliferação de
fibroblastos e produção de colágeno. Ainda, a célula participa de maneira importante na
angiogênese. Essas observações sugerem que os eosinófilos abundantes nos kunkers poderiam
ser responsáveis pelo tecido de granulação exuberante, acompanhado de fibrose massiva em
alguns casos (MUNITZ & LEVI-SCHAFFER, 2004).
Uma variação da pitiose cutânea equina foi descrita no Pantanal brasileiro. As lesões
subcutâneas caracterizavam-se por grandes massas teciduais recobertas por pele
hiperpigmentada, eventualmente com pelos, sem ulcerações e presença de sinus com pouca
secreção serossanguinolenta e fragmentos de kunkers. Histologicamente, as lesões eram
semelhantes às descritas nos casos típicos, exceto pela epiderme, que apresentava-se
hiperplásica. A presença de kunkers com hifas viáveis no interior das lesões sugere que o
sistema imunológico conseguiu apenas isolar a área infectada sem eliminar o agente
infeccioso; o acompanhamento da evolução natural foi prejudicado pelo uso da imunoterapia,
que induziu a cura em quatro animais. A ocorrência desses casos pode estar relacionada a
diferenças individuais na susceptibilidade e resistência à doença (LEAL et al., 2001).
Segundo a teoria clássica que explica a formação dos kunkers, estruturas observadas
apenas nos cavalos, uma vez que os zoósporos adentram o tecido, imediatamente o hospedeiro
aciona leucócitos. Os eosinófilos se aderem ao micélio formado na tentativa de fagocitá-lo;
assim eles perdem os núcleos, fusionando o citoplasma uns com os outros, formando ao redor
da hifa um depósito hialino semelhante à reação de Splendore-Hoeppli. Durante tal processo,
Neste trabalho, o termo kunker será utilizado para designar tanto a estrutura macroscópica (conceito clássico,
que remete à forma de rocha), quanto o corresponde histológico, a fim de facilitar a correlação entre ambos.
27
outros eosinófilos se juntariam aos anteriores até formar massas necróticas de 5 a 20 cm de
diâmetro, os kunkers propriamente ditos (MENDOZA, 1987).
Através do sirius red (SR), ficou óbvia a participação dos eosinófilos na formação dos
kunkers (Figura 9). Os grânulos corados individualmente permitiram estabelecer que os
eosinófilos aportam pelos tecidos periféricos e confluem em direção às massas, liberando seus
grânulos, por exocitose, ao redor de cada hifa (Figura 10). A exocitose, forma mais
característica de desgranulação dos eosinófilos, é vista em enteropatias inflamatórias e
infecções invasivas, onde os grânulos específicos se fundem com a membrana plasmática e
expulsam seu conteúdo para o meio extracelular (HOGAN et al., 2008). Além disso, a
eficácia do corante sirius red na identificação dos eosinófilos no tecido provê um método
superior às técnicas convencionais, as quais provavelmente subestimam o grau de eosinofilia
tecidual. A técnica de SR produz uma coloração significativa dos grânulos intracelulares, o
que torna mais confiável a identificação morfológica dos mesmos (CARVALHO et al., 2003).
Os kunkers estavam, muitas vezes, circundados por neutrófilos, localizados em uma
fenda tecidual ampla, que os separava do tecido de granulação adjacente (Figura 11). Na
periferia dos mesmos havia imagens negativas de hifas. Em raros casos, viam-se focos
idênticos, porém bem menores, que sugeriam estágios iniciais de novos kunkers. Nestas
pequenas áreas, que foram chamadas de “mini-kunkers, via-se poucas hifas (2-3) já
intensamente circundadas por eosinófilos (Figura 12).
Em raros casos, em meio ao tecido de granulação, havia agregados discretos e
inconstantes de histiócitos. Infiltração massiva de eosinófilos era vista também nos tecidos
periféricos aos kunkers, muitas vezes associados a raros linfócitos e plasmócitos. Não foram
vistas células gigantes (CGs) multinucleadas. Alterações poucos frequentes incluíam
pequenos trombos arteriais, áreas focais de edema e contaminação bacteriana da borda dos
kunkers próximos às superfícies ulceradas.
Apesar das lesões de pitiose cutânea equina serem comumente descritas como áreas de
inflamação granulomatosa por diversos autores (MILLER & CAMPBELL, 1984;
MENDOZA & ALFARO, 1986; GINN et al., 2007), nos cavalos deste estudo não foram
vistos os componentes celulares característicos deste tipo de inflamação (i.e. macrófagos
epitelióides e CGs), sendo a lesão então classificada como dermatite e paniculite eosinofílicas
associadas a tecido de granulação. Três doenças clínicas (pitiose, basidiobolomicose e
conidiobolomicose) são coletivamente conhecidas como ficomicose (BROWN & ROBERTS,
1988), fato que poderia explicar o uso do termo “granulomatoso”, que é descrito nas outras
micoses (zigomicoses), para descrever também a lesão causada pelo P. insidiosum.
28
A técnica de GMS demonstrou estruturas tubuliformes (hifas, predominantemente
confinadas à periferia dos kunkers (Figura 13). Elas eram vistas também, em menor número,
dispersas pelo centro do kunker. As hifas eram robustas, bem delimitadas e salientes,
esparsamente septadas, com paredes lisas, quase paralelas, dilatações discretas e inconstantes
e escasso material protoplasmático (morfologia compatível com hifas íntegras) (Figura 14).
Algumas eram notavelmente longas e outras eram vistas como pequenos orifícios circulares
de limites nítidos, os quais correspondiam a cortes transversais. Os cavalos tinham quantidade
moderada (8/10) ou acentuada (2/10) de hifas. As hifas eram consistentemente PAS-
negativas, tanto na periferia quanto no centro dos kunkers (Figura 15). A técnica do PAS,
amplamente utilizada na identificação de fungos, geralmente não cora as hifas de P.
insidiosum (GROOTERS, 2003) e essa falha na coloração provavelmente ocorre porque,
diferentemente dos fungos, a parede celular dos oomicetos não contém quitina
(ALEXOPOULOS et al., 1996), substância que é demonstrada pela técnica do PAS
(CULLING et al., 1985).
As áreas de maior destaque na técnica de SR eram os kunkers, que coravam em
vermelho brilhante. Apesar de compactos, eles tinham áreas aleatórias coradas mais
intensamente, principalmente na periferia, que correspondiam a agregados de eosinófilos
íntegros ou desgranulados circundando hifas (Figura 16). Essa correlação era óbvia quando se
observavam comparativamente os campos no GMS e no SR e, especialmente, na técnica de
Grocott-Sirius red (GMS-SR) (Figuras 17 e 18). Também ficou mais bem evidenciada a
infiltração dos tecidos periféricos por eosinófilos e a distinção entre neutrófilos e eosinófilos
na faixa que circundava os kunkers, o que era apenas suposto no HE (Figura 19). Ao redor de
várias hifas, havia um halo granular estreito e fortemente eosinofílico, interpretado como
reação semelhante ao fenômeno de Splendore-Hoeppli. (designada reação SH-símile). Através
da observação em imersão (1.000x), foi possível identificar claramente que o material SH-
símile consistia de múltiplos grânulos SR-positivos que se aglutinavam sobre as hifas (Figura
20).
Os mastócitos, identificados pela técnica de AT, foram raramente vistos no interior
dos kunkers (de 0 a 8 por campo de grande aumento; CGA) e variavam em quantidade no
tecido de granulação que circundava os kunkers (em média, 20 a 25/CGA, podendo chegar a
50/CGA). Os mastócitos tinham quantidades moderadas de grânulos no citoplasma.
Mastócitos e eosinófilos participam de um ciclo auto-perpetuante complexo. Os eosinófilos
produzem mediadores responsáveis pela diferenciação, ativação, proliferação e sobrevivência
dos mastócitos (MUNITZ et al., 2004). Em resposta, os mastócitos ativados liberam
29
mediadores que favorecem o recrutamento e ativação dos eosinófilos, como IL-5 e fator
estimulador de colônia granulocítica-monocítica (BACHELET et al., 2006; ROTHENBERG
& HOGAN, 2006). A correlação positiva entre o número de eosinófilos e macrófagos tem
sido demonstrada em estudos sobre parasitas no trato gastrointestinal (TGI) (COLLOBERT-
LAUGIER et al, 2002). Estas observações poderiam explicar o alto número de mastócitos em
meio à inflamação e, consequentemente, o aporte constante de eosinófilos ao redor dos
kunkers.
Das três espécies estudadas, a canina foi a única que apresentou mais de uma forma
clínica da doença. Os cães apresentavam exclusivamente as formas gastrointestinal ou cutânea
em cinco e dois casos, respectivamente, e as duas formas simultâneas nos dois casos restantes
(forma mista). haviam sido confirmados e publicados três casos gastrointestinais ou mistos
(vide Tabela 1). Cinco cães morreram e dois foram submetidos à eutanásia; um cão foi
submetido à necropsia sem a informação sobre o tipo de morte; não se sabe o desfecho do
caso restante. As lesões eram únicas e focalmente extensas à exceção do Cão 9, que tinha
lesões cutâneas no peito, tórax e um dos membros anteriores.
Nas lesões que envolviam o TGI, a duração dos sinais clínicos variou de dois dias a
três meses. Os principais sinais clínicos relatados foram emagrecimento progressivo, dor
abdominal, inapetência, diarreia, vômito, fezes sanguinolentas e presença de massa abdominal
palpável.
As lesões do TGI geralmente consistiam de espessamento segmentar transmural
marcado da parede das vísceras e da gordura mesentérica adjacente, aderência do mesentério
à serosa visceral e avermelhamento marcado da mucosa (Figura 21), que, em alguns casos
apresentava úlceras multifocais (Figura 22) e achatamento focal das vilosidades. Em três
casos havia envolvimento dos linfonodos mesentéricos, que ora formavam uma massa
volumosa que ocupava boa parte da cavidade abdominal, com até 8 cm de diâmetro, ora
estavam individualmente aumentados de volume (Figura 23). Ao corte, as alterações do TGI
consistiam de áreas difusamente vermelho-escuras, com múltiplos nódulos amarelos ou
esverdeados infiltrados na mucosa e submucosa (algumas vezes interpretados como áreas de
necrose), e quantidades variadas de fibrose (Figura 24). Os linfonodos tinham áreas
amareladas irregulares no parênquima. A cavidade abdominal estava preenchida por sangue
no Cão 1 e por aproximadamente dois litros de líquido viscoso, marrom-escuro, turvo e fétido
no Cão 5.
30
Nos casos cutâneos e mistos, as lesões de pele tinham evolução de aproximadamente
seis meses. Foram tentados diversos tratamentos sem que as mesmas curassem. Todos os
animais eram provenientes de área rural, onde tinham acesso à água.
As lesões de pele acometiam locais distintos em cada cão, e se apresentavam nas
formas de úlcera extensa na junção mucocutânea do lábio superior e na face lateral do tórax,
múltiplas úlceras e aumento de volume envolvendo prepúcio (Figura 25) e saco escrotal e
nódulos pequenos e irregulares, que drenavam pus, distribuídos pelo peito, tórax e membro
anterior (Figura 26). Ao corte, viam-se áreas de hemorragia e necrose ou nódulos amarelos
pequenos e irregulares. A massa que envolvia o prepúcio era firme e brancacenta. Na
extremidade do pênis havia uma área focalmente extensa vermelha e irregular na mucosa.
Os resultados da IHQ para as lesões da pitiose canina estão ilustrados nas Figuras 27 e
28. Nos cães, dois padrões principais de inflamação foram vistos, isolados ou combinados,
independentemente do tecido analisado. O padrão granulomatoso consistia de macrófagos
epitelióides e CGs do tipo Langhans combinadas em diferentes proporções, formando focos
em geral conspícuos, circundados ou não por finas trabéculas de tecido conjuntivo (Figuras 29
e 30). Raramente, viam-se granulomas com centros de necrose caseosa e parede infiltrada por
linfócitos e plasmócitos (Figura 31). O segundo padrão, denominado necro-eosinofílico, era
caracterizado por áreas eosinofílicas amorfas facilmente identificáveis no campo de menor
aumento. Tais áreas consistiam de focos de necrose, contendo detritos celulares, focos de
colagenólise; quantidades variadas de eosinófilos e numerosas imagens negativas de hifas
(Figuras 32 a 34); algumas lembravam (histologicamente) as formas inicias dos kunkers
descritas nos cavalos. Uma resposta histiocítica multifocal leve, caracterizada por histiócitos
com citoplasma vacuolizado, era ocasionalmente observada adjacente às áreas de inflamação
necro-eosinofílica. Os focos combinados das duas últimas respostas eram considerados
piogranulomas. Padrões muito semelhantes de inflamação foram descritos num estudo de 60
casos de pitiose gastrointestinal canina (MILLER, 1985). Entretanto, em muitos relatos de
pitiose em cães, a inflamação é designada somente como granulomatosa e/ou
piogranulomatosa (FISHER et al., 1994; HELMAN & OLIVER, 1999; HENSEL et al., 2003).
Neste estudo, hifas fracamente basofílicas foram raramente observadas. Esse fato já foi
descrito anteriormente (DYKSTRA et al., 1999) embora, em geral, as hifas de P. insidiosum
dificilmente sejam vistas pelo HE (THOMAS & LEWIS, 1998).
Nos casos acometendo o TGI, as alterações histológicas afetavam de uma a todas as
camadas da parede, concentrando-se principalmente na submucosa e muscular. Na forma
cutânea, as lesões se estendiam da epiderme, muitas vezes ulcerada, até o panículo adiposo.
31
Em 4/9, houve predomínio do padrão granulomatoso sobre o necro-eosinofílico (dois casos no
TGI, um cutâneo e o único nodal). Em três cães, observou-se relação inversa, (dois no TGI e
um cutâneo). No Cão 7, houve predomínio da resposta granulomatosa no TGI e da necro-
eosinofílica na pele. No Cão 5, foi visto apenas o padrão granulomatoso, no TGI. Achados
poucos frequentes incluíam necrose fibrinoide da parede das artérias, particularmente
exuberante no linfonodo do Cão 1, angioinvasividade e pequenos trombos arteriais.
A morfologia das hifas no GMS variava de acordo com o tipo de resposta inflamatória
de maneira bastante constante. Nas áreas necro-eosinofílicas, elas eram mais numerosas e
impregnaram fortemente pela prata. Estavam morfologicamente íntegras, por vezes longas,
com paredes lisas e quase paralelas e diâmetros regulares (Figura 35). As hifas observadas no
centro dos granulomas ou no citoplasma de CGs, por outro lado, eram menos numerosas,
mostravam-se degeneradas (como fragmentos pequenos, irregulares e tortuosos) e, muitas
vezes, menos argirofílicas (Figura 36). No Cão 5, onde havia o padrão granulomatoso,
raras hifas era visíveis (Figura 37). Hifas não foram vistas fora das áreas de inflamação,
apenas confinadas aos granulomas e CGs (Figura 38). A distribuição numeral irregular entre
as diferentes áreas havia sido relatada em cães (MILLER, 1985) e onça-pintada (CAMUS
et al., 2004).
A técnica de SR evidenciou quantidade moderada de eosinófilos nas áreas necro-
eosinofílicas. Nos casos em que predominava a inflamação granulomatosa, havia eosinófilos
íntegros distribuídos aleatoriamente entre os granulomas e, principalmente, nas áreas de
fibrose. Vale ressaltar que nas áreas de necrose, onde há grande quantidade de detritos
celulares e os eosinófilos estão em sua maioria desintegrados, o que se são áreas de
coloração vermelha homogênea e muito tênue, sem delimitação dos grânulos (Figura 39).
No entanto, tal como nos cavalos, algumas hifas eram circundadas por grânulos fortemente
SR-positivos, muitas vezes formando o halo vermelho da reação SH-símile (Figura 40).
Pelo GMS-SR (Figuras 41 e 42), a reação entre a presença de eosinófilos e a
morfologia (integridade) das hifas pode ser bem caracterizada. Pela técnica de AT, observou-
se que, em ambas as formas clínicas, a quantidade de mastócitos intra ou peri-lesionais variou
de ausente a muito leve (1 a 5/CGA).
Os bovinos pertenciam a rebanhos distintos, nos quais diversos animais apresentaram
quadro clínico idêntico e cura espontânea da doença. No primeiro surto, descrito por Gabriel
et al. (2008), 76 bovinos que pastoreavam num campo com canais de irrigação foram
afetados; os animais apresentaram resolução espontânea das lesões em duas a três semanas.
Os 16 bovinos acometidos no segundo surto (GRECCO et al., 2009) permaneciam numa área
32
alagada da propriedade. Os últimos casos surgiram até 90 dias depois do primeiro e a
resolução e cicatrização das lesões aconteciam em intervalos de poucas semanas a dois meses.
As lesões macroscópicas tiveram pouca variação entre indivíduos e entre surtos. Eram
múltiplas e aleatórias e geralmente acometiam um ou mais membros (Figura 43). Com menor
frequência eram vistas na região ventral do pescoço e esterno e, eventualmente, na cauda; um
dos bovinos do segundo surto apresentava lesão dorsal ao chanfro nasal, nas proximidades da
narina direita (Figura 44).
A apresentação inicial variou de elevações nodulares ulceradas de tamanhos diversos a
pequenas áreas alopécicas e deprimidas ou planas com edema adjacente e aspecto
hemorrágico. Com o passar do tempo, em ambos os casos as lesões evoluíam para úlceras
profundas hemorrágicas ou recobertas por crostas, podendo chegar a 15 cm de diâmetro nos
casos mais graves. Alguns focos drenavam exsudato purulento. Ao corte, o tecido da biópsia
era esbranquiçado, firme e com áreas puntiformes acinzentadas na região profunda da derme.
Em todos os bovinos afetados as lesões regrediram espontaneamente em períodos variáveis de
poucas semanas a dois meses, sem a necessidade de tratamento. A etiologia foi confirmada
por IHQ (Figuras 45 e 46).
Alterações histológicas idênticas foram observadas nos dois bovinos. A característica
mais marcante foi a presença de granulomas multifocais ou coalescentes perfeitamente
delimitados em meio ao colágeno dérmico levemente proliferado. Foram vistas duas variantes
dos granulomas. A primeira consistia de um centro de macrófagos epitelióides e/ou CGs de
Langhans circundado por uma zona estreita de macrófagos com citoplasma muitas vezes
vacuolizado e, perifericamente, uma cápsula delicada de tecido conjuntivo (Figura 47). A
segunda variante continha quantidades variadas de leucócitos polimorfonucleares (PMNs) no
centro, que aparentavam um misto de eosinófilos e neutrófilos (piogranulomas) (Figura 48).
Os macrófagos epitelióides e CGs apareciam em proporções variáveis, podendo estar presente
apenas um tipo de célula macrofágica. No interior de ambos os tipos de granulomas, dentro
das CGs ou em meio aos PMNs, eram visíveis raras imagens negativas de hifas.
Circundando algumas das poucas hifas presentes nos piogranulomas havia reação SH-
símile, formando um halo eosinofílico espesso e franjado. A apresentação clássica da reação
de SH, que consistia de uma bordadura fracamente eosinofílica e de contornos irregulares foi
vista raramente, circundando hifas no interior dos granulomas. Interessantemente, a reação
SH-símile era circundada por eosinófilos, enquanto que a reação SH clássica estava
intimamente relacionada (através de fagocitose) a macrófagos e células gigantes (Figuras 49 e
50). Na pitiose bovina, reação eosinofílica proeminente ao redor das hifas foi interpretada
33
como SH em um relato (PÉREZ et al., 2005) e em outro estudo foi descrito um material
granular refringente com formato de clava circundando as hifas (MILLER, 1985).
Através do GMS, assim como visto nos cães, as hifas dos bovinos, todas confinadas
aos granulomas, demonstravam genericamente um aspecto morfológico desintegrado, exceto
aquelas envoltas pelas reações SH e SH-símile, as quais eram morfologicamente íntegras
(Figuras 51 e 52). Apresentações histológicas descritas na pitiose bovina incluem
piogranulomas com centro repleto de neutrófilos e eosinófilos (SANTURIO et al., 1998),
granulomas com centros caseosos (MILLER, 1985) e áreas multifocais de necrose com
eosinófilos, neutrófilos, plasmócitos, macrófagos e CGs (PÉREZ et al., 2005). Hifas foram
vistas dentro das CGs, de folículos pilosos e de áreas de necrose (MILLER, 1985;
SANTURIO et al., 1998; PÉREZ et al., 2005).
Pelo SR, definiu-se que o centro dos piogranulomas era preenchido quase
exclusivamente por eosinófilos (Figura 53); raros neutrófilos estavam presentes. Através da
observação em imersão, foi possível identificar com clareza que o material SH-símile
consistia de múltiplas esférulas SR-positivas aglutinadas sobre as hifas (Figura 54). Notou-se
também que imediatamente ao redor da hifa franjada havia vários eosinófilos desgranulados e
alguns poucos íntegros. A reação SH clássica não corou pelo SR. Alguns eosinófilos também
eram vistos na parede e ao redor dos piogranulomas, porém em menor quantidade.
No AT, pouquíssimos mastócitos (2 3/CGA) eram vistos principalmente ao redor
dos vasos próximos aos granulomas. O citoplasma continha poucos grânulos metacromáticos
dispersos.
A avaliação comparada dos campos foi fundamental para se estabelecer uma
correlação fidedigna entre o aspecto morfológico da lesão, a localização e grau de integridade
estrutural do agente causador da lesão (hifas do P. insidiosum), e a resposta celular/tissular
envolvida no processo.
Com base em alguns aspectos histomorfológicos comparados foram feitas
considerações sobre a patogênese da pitiose inter-espécies. Destacam-se os aspectos
relacionados à: 1) quantidade, distribuição na lesão e viabilidade das hifas (inferida a partir da
morfologia das mesmas), associadas ao tipo de resposta inflamatória; 2) reação de Splendore-
Hoeppli; e 3) angioinvasividade pelo agente.
Quanto ao primeiro aspecto, os cavalos tiveram a maior quantidade de hifas, seguidos
pelos cães e bovinos, em ordem decrescente. Nos cavalos, as hifas em geral estavam
confinadas aos kunkers e apresentavam-se íntegras (Figura 55). Nos cães, as características de
integridade, bem como o número das hifas, variaram conforme o tipo de resposta
34
inflamatória, estando as hifas íntegras e mais numerosas no centro das áreas de inflamação
necro-eosinofílica e hifas, na grande maioria das vezes, escassas e degeneradas no centro dos
granulomas ou no citoplasma de CGs (Figura 56). Nos bovinos, as hifas eram escassas,
estavam confinadas aos granulomas/piogranulomas e apresentaram geralmente um aspecto
degenerado; algumas estavam recobertas por grânulos de eosinófilos (Figura 57).
Basicamente, as hifas que foram consideradas íntegras pelo GMS, estavam envoltas por
eosinófilos e/ou grânulos de eosinófilos (kunkers nos cavalos, áreas necro-eosinofílicas nos
cães e centro dos piogranulomas nos bovinos) quando observadas no HE e no SR (reação SH-
símile). Deste modo, observou-se que a resposta granulomatosa foi a mais eficaz no combate
as hifas, o que talvez justifique, pelo menos em parte, o curso clínico auto-limitante observado
nos bovinos de três relatos (SANTURIO et al., 1998; GABRIEL et al., 2009; GRECCO et al.,
2009).
A resposta eosinofílica no cavalo, no qual a doença geralmente é progressiva e fatal,
tem sido atribuída como ineficaz no combate e eliminação do oomiceto (MENDOZA et al.,
2003). Vale lembrar que os kunkers são utilizados como material para cultura do agente
devido à grande viabilidade das hifas intralesionais (MENDOZA, 1987). Considera-se que a
constante liberação de exo-antígenos pelas hifas de P. insidiosum trava a resposta imune num
modo dirigido pelos linfócitos do subgrupo T auxiliar-2 (T helper 2; Th2), atraindo cada vez
mais eosinófilos. Estes desgranulam sobre as hifas (formando os kunkers), isolando-as da
ação de células inflamatórias mononucleares mais efetivas no seu combate, as quais
participam da resposta granulomatosa vista nos bovinos (MENDOZA et al., 2003;
MENDOZA & NEWTON, 2005). A resposta macrofágica é caracteristicamente guiada pelos
linfócitos do subgrupo T auxiliar-1 (T helper 1; Th1) (ABBAS, 2005). O eosinófilo pode
regular a polarização da célula T através da síntese de indoleamina 2,3-dioxigenase (IDO),
uma enzima envolvida no metabolismo do triptofano, convertendo-o a cinurenina. A
cinurenina, por sua vez promove o desequilíbrio entre as respostas Th1 e Th2 através da
promoção da apoptose das células Th1 (ODEMUYIWA et al., 2004).
De um modo geral, as observações deste estudo vêm ao encontro da hipótese
formulada sobre o mecanismo de ação da imunoterapia em cavalos, onde a exposição de
antígenos citoplasmáticos de P. insidiosum (presentes no inóculo) ao sistema imune mudaria a
resposta do hospedeiro do modo Th2 para o Th1, e, consequentemente, de eosinofílica e
deletéria para granulomatosa e eficaz, levando muitas vezes à cura dos cavalos tratados
(MENDOZA et al., 1996; MENDOZA et al., 2003; MENDOZA & NEWTON, 2005). A
imunidade mediada por células (cell-mediated immunity, CMI) é considerada como o
35
principal mecanismo da imunidade adquirida contra fungos. Em infecções por Histoplasma
capsulatum, Cryptococcus neoformans e Candida sp., a resposta mediada por Th1 é
considerada protetora e a resposta mediada por Th2 é prejudicial ao hospedeiro (ABBAS et
al., 2000).
A predominância de citocinas tipo Th1 sobre Th2 está correlacionada com a proteção
contra diversas micoses (ROILIDES et al., 1999; SHOHAM & LEVITZ, 2005). Na
candidíase, a diferenciação das células T CD4+ em células Th1 ou Th2 e o desenvolvimento
de respostas Th-específicas são fatores essenciais na determinação da susceptibilidade ou
resistência do hospedeiro às infecções invasivas. O desenvolvimento de resposta Th1 é
influenciado pela ação conjunta de citocinas tais como interferon (INF)-c, interleucina (IL)-6,
fator de necrose tumoral (TNF)-a, e IL-12, combinadas à ausência de citocinas Th2, como IL-
4 e IL-10, as quais inibem a resposta Th1. Por isso, a progressão da doença está associada à
predominância da resposta Th2 (ROMANI, 2002).
Alguns autores postulam que, embora o paradigma Th1/Th2 seja útil para explicar a
propensão da resposta imune a formar respostas dominantes mediadas ou por células ou por
anticorpos, o mesmo é uma supersimplificação de uma rede imunoregulatória muito mais
complexa. Eles afirmam, entre muitos aspectos, que as respostas Th1 e Th2, por si, não
tipificam a resposta imune a inúmeros patógenos e que as respostas tipo 1 ou tipo 2 podem ser
vistas nas doenças causadas tanto por patógenos que residem no interior de macrófagos e
induzem IL-12 e subsequente produção de INF- (tipo 1), quanto naquelas causadas por
alérgenos potentes que induzem IL-4 e IL-5 (tipo 2). Afirmam também que as principais
citocinas regulatórias, IL-4, IL10 e IL-12, não exercem necessariamente efeitos negativos (IL-
4 e IL10) ou positivos (IL-12) sobre as células Th1; e por fim, afirmam que a resposta T-
celular a dados patógenos ou antígenos é heterogênea e que pode não ocorrer uma
predominância entre as respostas Th1 e Th2 (BROWN et al., 1998). Essa abordagem sobre o
modelo Th1/Th2, associada aos mecanismos da resposta aos fungos discutida mais adiante,
poderia explicar a resposta inflamatória ao P. insidiosum vista nos cães deste estudo. Viu-se
que, embora um deles tivesse apenas resposta granulomatosa (tipo 1) associada ao agente, os
demais apresentaram, em geral uma resposta ambígua formada tanto por componentes da
resposta tipo 1 (resposta granulomatosa) quanto por componentes da resposta tipo 2 (resposta
necro-eosinofílica).
O modo como um tipo de resposta se sobrepõe e domina a outra in vivo é
extremamente complexo e determinado por diversos fatores, que incluem (i) o tipo de célula
apresentadora de antígeno (antigen presenting cell, APC) (célula dendrítica versus macrófago
36
versus linfócito B); (ii) a citocina envolvida no momento da apresentação do antígeno, a qual
pode ser influenciada pela natureza do patógeno ou do antígeno; (iii) a regulação das células T
diferenciadas por citocinas; (iv) a dose e afinidade do antígeno pelo receptor da célula T, (v) o
momento e o nível de sinais co-estimulatórios expressados tanto da APC para a célula T
quanto da célula T para a APC durante as respostas primária e secundária, o que também
depende da regulação por citocinas; e (vi) a cessação das respostas T e B específicas através
da morte celular induzida por ativação (BROWN et al., 1998). Esse conjunto de fatores
provavelmente norteia os diferentes tipos de resposta inflamatória observados entre e mesmo
dentro das espécies analisadas neste estudo.
Em todas as espécies, porém com frequência e intensidade variáveis, as hifas estavam
circundadas por um halo granular estreito e fortemente eosinofílico, constituído de grânulos
SR-positivos que se aglutinavam ao redor delas. Esta observação corrobora de forma clara
com alguns autores (MENDOZA & ALFARO, 1986) na observação da participação dos
grânulos de eosinófilos no que tem sido descrito como reação SH-símile.
O fenômeno SH é associado a causas infeciosas e não-infecciosas (READ et al.,
2005). Para alguns autores, trata-se de depósitos de complexos antígeno-anticorpo (SMITH &
VON LICHTENBERG, 1967) e para outros, de acúmulos de proteína básica principal (major
basic protein; MBP) do eosinófilo (HAMANN et al., 1989). Num estudo que comparou duas
lesões conjuntivais que cursavam com a reação SH em humanos, os resultados foram bastante
interessantes. Na primeira lesão, na qual a reação de SH estava associada a grande número de
células, a imunomarcação foi compatível com imunoglobulinas; a segunda reação, circundada
por eosinófilos desgranulados e inflamação granulomatosa, foi fortemente positiva para MBP.
Os autores, que atribuíram as lesões à helmintíase, formularam uma hipótese baseada no
tempo de evolução dos granulomas no momento da biópsia: durante os estágios iniciais da
infecção pelo parasita, ocorreria deposição de anticorpos, com formação de um complexo
imune e fixação do complemento. Com o tempo, eosinófilos seriam atraídos e desgranulariam
ao redor do agente, tornando-se incorporados ao material. Desse modo, os aspectos
histológico e imuno-histoquímico seriam diferentes de acordo com a evolução da lesão
(READ et al., 2005). Essa hipótese justificaria os dois padrões morfológicos de reação SH
observados nos bovinos deste estudo. Interessantemente, neste trabalho o padrão de
imunocomplexos provável foi visto apenas nos bovinos, o que poderia indicar uma variação
na abordagem dos eosinófilos frente às hifas cobertas por imunoglobulinas.
Um dos muitos aspectos intrigantes da pitiose é a variação na frequência de invasão
vascular (ou angioinvasividade) de acordo com as diferentes espécies. Sabe-se que essa
37
característica é particularmente marcante na pitiose humana, que cursa com vasculite e
trombose acentuadas, muitas vezes culminando em gangrena e consequente amputação de
membros ou remoção cirúrgica radical das áreas afetadas (WANACHIWANAWIN et al.,
2004; KRAJAEJUN et al, 2006). Neste trabalho, angioinvasividade discreta foi vista
raramente em alguns cães. Por outro lado, foi notável nos cavalos a presença constante de
uma artéria degenerada, de pequeno ou médio calibre no centro dos kunkers (Figura 58), fato
já relatado anteriormente (MILLER & CAMPBELL, 1984; GOAD, 1984).
Tal observação poderia sugerir uma participação da invasão da parede vascular na
gênese e disseminação local das hifas na forma cutânea. Uma vez que os kunkers neste estudo
estão frequentemente associados a uma artéria degenerada e que múltiplos kunkers o vistos
na mesma lesão, sem que haja hifas no tecido em meio a eles, suspeita-se que as hifas utilizem
os vasos como meios de disseminação a curta distância, migrando localmente sem produzir
metástases em outros órgãos, pelo menos na maioria das vezes. A ausência de hifas na parede
das artérias degeneradas no interior dos kunkers poderia estar associada ao tempo de evolução
das lesões, considerando-se que as hifas geralmente distribuíam-se centrifugamente para a
periferia dos mesmos. Invasão acentuada da parede vascular descrita num gato com pitiose no
TGI não resultou em disseminação da lesão para outras partes do organismo (RAKICH et al.,
2005), fato que talvez justificasse a hipótese acima. As hifas invadiriam a parede da artéria
através degradação do tecido por enzimas (RAVISHANKAR et al., 2001).
Em humanos, sugere-se que ocorra invasão direta das artérias tão logo tenha ocorrido
penetração cutânea, e que o tamanho do inóculo possa estar relacionado ao grau de invasão
arterial. No caso de lesões múltiplas, inoculações simultâneas poderiam estar envolvidas
(KRAJAEJUN et al, 2006).
Enquanto a pitiose é descrita em animais imunocompetentes (MILLER, 1985;
GROOTERS, 2003, GROOTERS et al., 2003) do mundo todo (MENDOZA et al., 1996), a
pitiose humana ocorre quase que exclusivamente na Tailândia, associada à doenças
hematológicas em até 99% dos casos (KRAJAEJUN et al., 2006). Pensa-se que estes casos
sejam atribuídos à deficiência na resposta macrofágica secundária à talassemia
(WANACHIWANAWIN et al., 2004).
Os oomicetos desenvolveram a habilidade de infectar plantas e animais independentes
de outros micróbios e é provável que tenham desenvolvido mecanismos ímpares de
patogenicidade. Com as múltiplas ferramentas moleculares e sequenciamento genético, tem se
conseguido um progresso significativo no entendimento das bases moleculares de infecção
por esses agentes (KAMOUN, 2003). Pesquisas moleculares recentes, por exemplo,
38
demonstraram que a resposta imune dos animais parece ter diversas formas de responder ao
ataque dos oomicetos. Estes agentes podem ser capazes de manipular e evitar as defesas e/ou
respostas imunes do hospedeiro, como evitar a fagocitose por macrófagos, suprimir a
expressão de genes MHC classe II, suprimir a formação de espécies reativas de nitrogênio e
desencadear uma resposta mediada por Th2 (PHILLIPS et al., 2007). No caso do P.
insidosum, acredita-se que a indução da resposta eosinofílica, com formação de SH-símile,
possa ser um mecanismo de evasão da resposta imune, desenvolvido pelo patógeno como
parte de seu processo evolutivo (MENDOZA et al., 2003).
39
Figura 1 Pitiose equina, pele e tecido subcutâneo, lábio superior. Massa vegetante firme,
ulcerada com 16 x 10 cm, que envolve o lábio superior e as narinas e se estende até o tecido
subcutâneo. A superfície é brancacenta e apresenta inúmeras cavitações repletas de
concreções amarelas (kunkers).
Figura 2 Pitiose equina, pele e tecido subcutâneo, extremidade do membro posterior
esquerdo. Lesão proliferativa e ulcerativa com 22 cm de diâmetro, drenando líquido
serossanguinolento.
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1
2
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Figura 3 Pitiose equina, pele, porção retro umbilical do abdômen. Ferida extensa e ulcerada
de aproximadamente 30 cm de diâmetro. Abundante tecido de granulação.
Figura 4 Pitiose equina, kunker. Estrutura facilmente removida de uma fístula da Figura 3.
Massa amarela, compacta, firme e levemente friável, com ramificações ramificações
grosseiras. Esta e demais massas mediam de 0,4 a 8 cm de comprimento.
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3
4
43
Figura 5 Pitiose equina, pele. Imunomarcação positiva de hifas de Pythium insidiosum na
periferia do kunker. Imuno-histoquímica, método da estreptavidina-biotina-peroxidase.
Figura 6 Pitiose equina, pele. Hifas positivas de Pythium insidiosum na periferia do kunker.
Imuno-histoquímica, método da estreptavidina-biotina-fosfatase alcalina.
.
44
45
Figura 7 Pitiose equina, pele. Proliferação de tecido conjuntivo fibroso bem colagenizado
que se estende a partir da derme. Em meio ao tecido, áreas tintorialmente eosinofílicas
coalescentes (kunkers). Úlcera focalmente extensa substituindo a epiderme. Hematoxilina e
eosina.
Figura 8 Pitiose equina, pele. Kunker. Coleção de eosinófilos densa e grosseiramente
circular, bem delimitada, com numerosos núcleos celulares pouco definidos e trabéculas de
colágeno hialinas esparsas (áreas de colagenólise). Hematoxilina e eosina.
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7
8
47
Figura 9 Pitiose equina, pele. Kunker formado basicamente por eosinófilos SR-positivos.
Notar artéria de médio calibre ao centro e faixa de neutrófilos SR-negativos ao redor do
kunker. Sirius red.
Figura 10 Pitiose equina, pele. Grande quantidade de eosinófilos confluindo em direção aos
kunkers ou desgranulando sobre as hifas de Pythium insidiosum. Sirius red.
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0
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Figura 11 Pitiose equina, pele. Kunker circundado por neutrófilos e separado do tecido de
granulação periférico por uma fenda ampla. Hematoxilina e eosina.
Figura 12 Pitiose equina, pele. Mini-kunker, um kunker nos estágios iniciais de formação.
Os eosinófilos desgranulam sobre as hifas, que nessa imagem aparecem como imagens
negativas. Hematoxilina e eosina.
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Figura 13 Pitiose equina, pele. Kunker. Hifas distribuídas quase que exclusivamente na
periferia. Raras são vistas no interior do kunker. Técnica de Grocott.
Figura 14 Pitiose equina, pele. Vista aproximada da periferia de um kunker. As hifas
robustas, bem delimitadas e salientes, esparsamente septadas, com paredes lisas, quase
paralelas, dilatações discretas e inconstantes e escasso material protoplasmático (morfologia
compatível com hifas íntegras). Técnica de Grocott.
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Figura 15 Pitiose equina, pele. As hifas são PAS-negativas, tanto na periferia quanto no
centro dos kunkers. Ácido periódico de Schiff.
Figura 16 Pitiose equina, pele. Kunker. Apesar de compactos, neles áreas aleatórias
coradas mais intensamente, principalmente na periferia, que correspondem a agregados de
eosinófilos íntegros ou desgranulados circundando hifas. Sirius red.
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Figura 17 Pitiose equina, pele. Borda do kunker em contato com o tecido de granulação
periférico. Correlação entre os eosinófilos e as hifas íntegras de Pythium insidiosum. Notar a
presença dos eosinófilos nos tecidos periféricos ao kunker. Técnica de Grocott-Sirius.
Figura 18 Pitiose equina, pele. Kunker, hifas de Pythium insidiosum numerosas e íntegras
em meio aos eosinófilos. Técnica de Grocott-Sirius.
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Figura 19 Pitiose equina, pele. Distinção entre eosinófilos e neutrófilos na faixa de
leucócitos de circunda o kunker. Sirius red.
Figura 20 Pitiose equina, pele. Reação Splendore-Hoeppli-símile. Ao redor de várias hifas,
havia um halo granular estreito e fortemente eosinofílico formado por múltiplos grânulos SR-
positivos que se aglutinavam sobre as hifas. Sirius red.
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Figura 21 Pitiose canina, intestino grosso. Espessamento segmentar transmural e
avermelhamento marcados da parede.
Figura 22 Pitiose canina, estômago. Avermelhamento marcado e úlceras multifocais na
mucosa.
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Figura 23 Pitiose canina, linfonodos mesentéricos. Nodos individualmente aumentados de
volume. Nota-se também espessamento segmentar do duodeno (à esquerda na foto).
Figura 24 Pitiose canina, intestino grosso. Espessamento transmural marcado e massa junto
à inserção do mesentério. Áreas amplas de hemorragia, com múltiplos nódulos amarelos ou
esverdeados infiltrados na mucosa e submucosa. Peça fixada.
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Figura 25 Pitiose canina, pele. Múltiplas úlceras e aumento de volume envolvendo prepúcio
e saco escrotal. A massa que envolvia o prepúcio era firme e brancacenta.
Figura 26 Pitiose canina, pele. Nódulo pequeno e ulcerado, que drenava pus. Ao corte,
nódulos amarelos pequenos e irregulares.
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Figura 27 Pitiose canina, intestino. Hifas positivas de Pythium insidiosum no centro de um
piogranuloma. Imuno-histoquímica, método da estreptavidina-biotina-peroxidase.
Figura 28 Pitiose canina, pele. Hifas positivas de Pythium insidiosum associadas e no
interior de células gigantes tipo Langhans. Imuno-histoquímica, método da estreptavidina-
biotina-peroxidase.
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Figura 29 Pitiose canina, pele, padrão granulomatoso. Foco conspícuo de macrófagos
epitelióides e células gigantes do tipo Langhans circundado por fina trabécula de tecido
conjuntivo. Hematoxilina e eosina.
Figura 30 Pitiose canina, intestino, padrão granulomatoso. Macrófagos epitelióides e células
gigantes do tipo Langhans combinadas formando foco conspícuo em meio ao tecido
conjuntivo proliferado. Hematoxilina e eosina.
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Figura 31 Pitiose canina, mesentério, padrão granulomatoso. Granulomas com centro de
necrose caseosa. Hematoxilina e eosina.
Figura 32 Pitiose canina, pele, padrão necro-eosinofílico. Área eosinofílica amorfa
composta por foco de necrose contendo detritos celulares, focos de colagenólise, eosinófilos e
numerosas imagens negativas de hifas. Hematoxilina e eosina.
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Figura 33 Pitiose canina, intestino, padrão necro-eosinofílico. Área focal de necrose com
numerosas imagens negativas de hifas. Hematoxilina e eosina.
Figura 34 Pitiose canina, pele, padrão necro-eosinofílico. Área focal de necrose com
bastantes detritos celulares e numerosas imagens negativas de hifas. Hematoxilina e eosina.
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Figura 35 Pitiose canina, intestino, padrão necro-eosinofílico. Hifas numerosas, bem
delimitadas e fortemente impregnadas pela prata, por vezes longas, com paredes lisas e quase
paralelas e diâmetros regulares (morfologia de hifas íntegras). Técnica de Grocott.
Figura 36 Pitiose canina, intestino, padrão granulomatoso. Hifas degeneradas (fragmentos
pequenos, irregulares e tortuosos) numa área ampla de reação granulomatosa. Técnica de
Grocott.
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Figura 37 Pitiose canina, intestino, padrão granulomatoso. Hifas degeneradas (fragmentos
pequenos, irregulares e tortuosos) no centro do granuloma. Técnica de Grocott.
Figura 38 Pitiose canina, intestino, padrão granulomatoso. Hifa degenerada (fragmentos
pequenos, irregulares e tortuosos) no interior de uma célula gigante de Langhans. Técnica de
Grocott.
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Figura 39 Pitiose canina, intestino, padrão necro-eosinofílico. Área de necrose com grande
quantidade de detritos celulares e eosinófilos, em sua maioria, desintegrados, sem delimitação
dos grânulos. Ao centro há numerosas imagens negativas de hifas. Sirius red.
Figura 40 Pitiose canina, intestino, padrão necro-eosinofílico. Hifa intimamente relacionada
aos eosinófilos e circundada por grânulos fortemente Sirius red-positivos (reação de
Splendore-Hoeppli-símile). Sirius red.
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Figura 41 Pitiose canina, intestino, padrão necro-eosinofílico. Área de necrose com grande
quantidade de detritos celulares e eosinófilos Sirius red-positivos associados a hifas íntegras.
Técnica de Grocott-Sirius.
Figura 42 Pitiose canina, intestino, padrão granulomatoso. Hifas degeneradas associadas a
macrófagos epitelióides e no interior de células gigantes do tipo Langhans e raros eosinófilos.
Técnica de Grocott-Sirius.
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Figura 43 Pitiose bovina (surto 2), pele. Úlcera hemorrágica focal na extremidade de um
membro.
Figura 44 Pitiose bovina (surto 2), pele. Úlcera hemorrágica parcialmente coberta por crosta
e exsudato purulento no chanfro nasal.
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Figura 45 Pitiose bovina, pele. Escassas hifas positivas de Pythium insidiosum no centro de
um piogranuloma. Imuno-histoquímica, método da estreptavidina-biotina-peroxidase.
Figura 46 Pitiose bovina, pele. Hifas de Pythium insidiosum associadas a células gigantes do
tipo Langhans. Imuno-histoquímica, método da estreptavidina-biotina-peroxidase.
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Figura 47 Pitiose bovina, pele. Granuloma composto por um centro de macrófagos
epitelióides e células gigantes do tipo Langhans circundado por uma cápsula delicada de
tecido conjuntivo. Hematoxilina e eosina.
Figura 48 Pitiose bovina, pele. Piogranuloma com macrófagos epitelióides na periferia e
centro formado por um misto de eosinófilos e neutrófilos e circundado por cápsula de tecido
conjuntivo infiltrada por linfócitos. Hematoxilina e eosina.
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Figura 49 Pitiose bovina, pele, granuloma. A apresentação clássica da reação de Splendore-
Hoeppli foi vista raramente, em geral associada à fagocitose por células gigantes.
Hematoxilina e eosina.
Figura 50 Pitiose bovina, pele, granuloma. A apresentação clássica da reação de Splendore-
Hoeppli consistia de uma bordadura fracamente eosinofílica e de contornos irregulares.
Hematoxilina e eosina.
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Figura 51 Pitiose bovina, pele, piogranuloma. Hifas escassas, pequenas e fracamente
argirofílicas no interior de um piogranuloma. Técnica de Grocott.
Figura 52 Pitiose bovina, pele, piogranuloma. Fragmento pequeno de hifa (detalhe da foto
anterior). Técnica de Grocott.
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Figura 53 Pitiose bovina, pele. Piogranuloma. O centro dos piogranulomas era preenchido
quase exclusivamente por eosinófilos; raros neutrófilos estavam presentes. Sirius red.
Figura 54 Pitiose bovina, pele. Piogranuloma. Reação Splendore-Hoeppli-símile ao redor de
uma hifa, formada de múltiplas esférulas SR-positivas aglutinadas sobre a parede. Notar os
eosinófilos parcialmente desgranulados ao redor da reação. Sirius red.
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Figura 55 Pitiose equina, pele. Kunker coberto por hifas íntegras. Técnica de Grocott.
Figura 56 Pitiose canina, intestino, padrões necro-eosinofílico e granulomatoso. Área de
necrose com grande quantidade de detritos celulares e eosinófilos associados a hifas íntegras
(a esquerda na foto) adjacente à área de reação granulomatosa, com hifas degeneradas no
interior de células gigantes (a direita na foto). Técnica de Grocott-Sirius.
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Figura 57 Pitiose bovina, Piogranuloma. Hifa recoberta por grânulos de eosinófilos. Sirius
red.
Figura 58 Pitiose equina, pele. Kunker. Notar a artéria degenerada no centro do mesmo.
Hematoxilina e eosina.
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5 CONCLUSÕES
1. diferenças marcantes quanto à quantidade, distribuição e integridade das hifas
intralesionais entre as espécies estudadas: a) são mais abundantes nos cavalos, seguido pelos
cães e bovinos, em ordem decrescente; b) particularmente no cão observaram-se diferenças na
integridade das hifas conforme o tipo de resposta inflamatória e c) hifas íntegras estavam
geralmente relacionadas com inflamação eosinofílica e hifas degeneradas estavam associadas
à resposta granulomatosa.
2. Angioinvasividade discreta foi vista somente nos cães. Evidências de possível
utilização de artérias para a disseminação das lesões cutâneas/subcutâneas em cavalos foram
observadas.
3. A técnica de sirius red foi particularmente útil para localizar os eosinófilos nos
tecidos e confirmar a natureza da reação de Splendore-Hoeppli, a qual pode ou não ser
constituída por grânulos de eosinófilos.
4. O tipo de resposta inflamatória parece estar implicado nos diferentes cursos clínicos
da pitiose nas diferentes espécies animais estudadas.
5. Foram observadas evidências morfológicas de que: a) a perpetuação das lesões de
pitiose está associada à resposta eosinofílica e b) a cura da pitiose possa estar associada à
inflamação granulomatosa.
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