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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Gisele Maia Russel
DA PÁGINA DO LIVRO À TELA DO COMPUTADOR: UM PERCURSO
HISTÓRICO PARA A POESIA INFANTIL
São Paulo
2009
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Gisele Maia Russel
DA PÁGINA DO LIVRO À TELA DO COMPUTADOR: UM PERCURSO
HISTÓRICO PARA A POESIA INFANTIL
São Paulo
2009
Dissertação Apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Letras da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Letras.
Orientadora: Profa. Dra. Marisa P. Lajolo
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Gisele Maia Russel
R959d Russel, Gisele Maia.
Da página do livro à tela do computador: um percurso
histórico para a poesia infantil. / Gisele Maia Russel – 2010.
98 f. : il. ; 30 cm + CD-ROM.
Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade
Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.
Bibliografia: f. 104-108.
Orientador: Marisa Philbert Lajolo
1. Literatura Infantil. 2. Poesia. Poesia Visual.
3. Ciberpoesia. 4. Hipertexto. I. Título.
CDD 808.068
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Gisele Maia Russel
DA PÁGINA DO LIVRO À TELA DO COMPUTADOR: UM PERCURSO
HISTÓRICO PARA A POESIA INFANTIL
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Marisa P. Lajolo
Prof. Dr. Luis Camargo
Prof. Dr. Wagner Madeira
São Paulo
2009
Dissertação Apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Letras da Universidade
Presbiteriana Mackenzie como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre
em Letras.
Aprovada em:
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço àqueles sem os quais a conclusão deste trabalho não seria
possível, seja pelo incentivo e confiança, seja pela compreensão e paciência.
Dentre todos, destaco meu esposo Ronaldo pelo auxílio no domínio com as
tecnologias, pelo incentivo e pela paciência em meio à superação de tantas
dificuldades.
À Profa. Dra. Marisa P. Lajolo pela orientação minuciosa e por todo o
aprendizado que me permitiu adquirir em sua convivência.
Ao Prof. Dr. Luis Camargo e ao Prof. Dr. Wagner Madeira pelas preciosas
críticas e sugestões feitas no exame de qualificação.
À equipe gestora da E.E. Marechal Carlos Machado Bitencourt pelas portas
sempre abertas e pela confiança depositada.
A meus familiares pela compreensão pelos momentos ausentes.
A Deus pela força e superação de todos os desafios impostos.
6
RESUMO
Neste trabalho, buscamos traçar um brevíssimo percurso histórico da poesia
infantil brasileira, considerando suas publicações em livros dos fins do século XIX
até as construções poéticas concretizadas com a popularização dos computadores e
da internet: os ciberpoemas.
Inicialmente, traçamos um panorama que busca sugerir algumas significativas
mudanças que as novas tecnologias trouxeram para a literatura e, em especial, para
as relações que envolvem os três elementos formadores de um sistema literário de
acordo com a visão sociológica da literatura defendida por Antonio Candido: autor,
obra e público.
Em seguida, através de um percurso histórico da poesia, expomos alguns
aspectos concretizados em maior evidência nos ciberpoemas que podiam ser
encontrados em textos de diferentes épocas e estilos, são eles: visualidade,
sonoridade, movimento e sinestesia.
Por fim, através da investigação do histórico da literatura infantil brasileira,
apresentamos uma breve análise da obra de Sérgio Capparelli, poeta infantil que
bem ilustra a transição da poesia entre livros e telas, demonstrando a convivência
harmoniosa entre esses dois suportes que pretendemos aqui sugerir.
Palavras-chaves: Literatura Infantil. Poesia. Poesia Visual. Ciberpoesia.
Hipertexto.
7
ABSTRACT
At this work, we try to design a fast historical course of the Brazilian poetry for
children, considering its publication since the end of the nineteenth century until the
poetics constructions that could become concrete with the popularization of the
computers and the internet: the ciberpoems.
At first, we made a panoram that tries to suggest some significant changes the
new techonologies brought to literature, especially to the relations that involve three
elements that constitutes a literary system according to a social view of literature
supported by Antonio Candido: writer, text and public.
Following, through a historical course of poetry, we expose some aspects
better evidenced on ciberpoems that had already been found in texts of different
times and styles: visuality, sonority, movement and sinestesy.
Finally, through the investigation of the historical of Brazilian literature for
children, we present a fast analyse of Sérgio Capparelli’s poems, writer who
demonstrates in his work the transition of poetry between books and screens,
showing the harmonic convivention between both that we are trying to suggest.
Keywords: Literature for children. Poetry. Visual Poetry. Ciberpoetry.
Hypertext.
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................9
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS......................................................................12
2.1. COMPUTADORES E LITERATURA – A PALAVRA ESCRITA E SEUS
SUPORTES................................................................................................12
2.2. A ERA DA HIPERVELOCIDADE E OS NOVOS COMPORTAMENTOS
HUMANOS.................................................................................................15
2.3. O TEXTO LITERÁRIO ENTRE LIVROS E TELAS....................................17
2.4. A INTERNET E O HIPERTEXTO...............................................................19
2.5. A INTERNET E O SURGIMENTO DE UM NOVO SISTEMA
LITERÁRIO................................................................................................23
2.5.1. A internet reconfigurando o autor..............................................................24
2.5.2. A internet reconfigurando o leitor...............................................................27
2.5.3. A internet reconfigurando a obra...............................................................27
3. POESIA E POEMA AO LONGO DA HISTÓRIA: ALGUNS CENÁRIOS.........28
3.1. POEMAS E CIBERPOEMAS: ANTECIPAÇÕES E CARACTERÍSTICAS.31
3.1.1. A visualidade da poesia.............................................................................31
3.1.2. A sonoridade da poesia..............................................................................40
3.1.3. O movimento e a sinestesia da poesia......................................................43
4. LITERATURA E LITERATURA INFANTIL.......................................................45
4.1. PERCURSO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA:
ALGUNS CENÁRIOS.................................................................................47
4.2. A POESIA E AS CRIANÇAS......................................................................53
4.3. NOVAS PERSPECTIVAS DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA......58
5. A CIBERPOESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI: ESTUDO DE CASO...............65
5.1. SÉRGIO CAPPARELLI – UM POETA PARA AS CRIANÇAS...................65
5.2. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI ENTRE LIVROS...........................69
5.3. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI ENTRE TELAS.............................72
5.4. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI SE TRANSFORMANDO NO
TEMPO.......................................................................................................78
6. CONCLUSÕES.................................................................................................84
APÊNDICE............................................................................................................87
9
ANEXO..................................................................................................................94
REFERÊNCIAS...................................................................................................103
10
1. INTRODUÇÃO
Em meados do século XX, ocorre a chamada Segunda Revolução Industrial
ou Revolução Eletroeletrônica, evento que traz para os lares novos meios de
comunicação, como o telefone, a televisão e, mais tarde, os computadores pessoais,
fato que, com o advento da internet, ocasionou grandes transformações na
sociedade, inclusive no mundo dos negócios e das relações pessoais, gerando
novas formas de interação entre o ser humano e a informação, conforme Santos:
Na era da Informática, que é o tratamento computadorizado do
conhecimento e da informação, lidamos mais com signos do que com
coisas. Preferimos a imagem ao objeto, a cópia ao original, o simulacro
(reprodução técnica) ao real. (1986, p. 13)
Evidentemente, tal revolução acarretou também grandes mudanças de
paradigmas para o mundo literário, que começa a ser remodelado à medida que
começam a viabilizar-se novos suportes para a leitura, imensos bancos de
informações que cabem na mão do leitor e, também - o que pretendemos aqui
discutir - a inovação no processo de escrita e leitura, acarretando novos gêneros
textuais, que têm sua divulgação e produção possíveis somente graças a essa
tecnologia.
Da aproximação entre arte, tecnologia e ciência fortalece-se o conceito de
virtualidade na literatura, que deixa de prender-se a um suporte específico, o livro,
para se ambientar em novas mídias desmaterializadas.
Pierre Lévy, porém, discute a “novidade” da situação, considerando que o
texto, apesar da materialidade do suporte livro, sempre foi um objeto virtual:
Desde suas origens mesopotâmicas, o texto é um objeto virtual, abstrato,
independente de um suporte específico. Essa entidade virtual atualiza-se
em múltiplas versões, traduções, edições, exemplares e cópias. Ao
interpretar, ao dar sentido ao texto aqui e agora, o leitor leva adiante essa
cascata de atualizações. (1996, p. 35)
Tais inovações tecnológicas, à primeira vista, podem parecer um problema
para os mais velhos, que precisam rever suas habilidades cognitivas ao se
alfabetizar em uma nova linguagem e em um novo mundo: o digital.
Contudo, acreditamos que para as criança e jovens, que nasceram em
meio a tais revoluções na forma de adquirir conhecimentos, produzir textos e
11
interagir com os amigos, o livro é que exige habilidades com as quais eles não estão
familiarizados, como um maior esforço de concentração, por exemplo.
Daí surge nosso interesse em pesquisar como os computadores estão
influenciando a capacidade leitora dos jovens, o que nos levou a sugerir, no
presente trabalho, que os novos gêneros textuais que surgem nas telas dos
computadores podem parecer mais familiares e, talvez, mais atraentes à criança e
ao adolescente, conquistando-os para o universo da leitura.
Dentre tais gêneros textuais, destaca-se o hipertexto. Mais recentemente,
temos observado o surgimento e crescimento de uma segmentação do hipertexto,
um novo gênero poético, - o ciberpoema - que apresenta características bastante
peculiares, como a participação do leitor na construção do texto, a combinação de
diferentes linguagens evocando sentidos e a estreita relação com as artes gráfico-
visuais. Para esse gênero textual, sabemos da existência das mais variadas
nomenclaturas. Entre elas, infopoesia, poesia virtual, poesia multimídia, hiperpoesia,
tecnopoesia e o termo que utilizaremos no presente trabalho: ciberpoesia
1
.
Chamaremos aqui de ciberpoemas a representação da combinação de
elementos verbais e não-verbais, como textos, artes gráficas, animações, sons etc.,
produzindo efeitos poético-visuais na tela do computador.
Tomando como referência a teoria da recepção que, segundo Terry Eagleton,
“examina o papel do leitor na literatura”, colocando-o como peça-chave, em posição
de destaque no sistema literário, e atribuindo a ele a diversidade de leituras e
significações que podemos observar em um mesmo texto, conforme este autor
explicita:
(...) diferentes leitores tem liberdade de concretizar a obra de diferentes
maneiras, e não há uma única interpretação correta que esgote o seu
potencial semântico. (2006, p. 122)
Temos por objetivo neste trabalho analisar alguns ciberpoemas, concebendo-
os como amostragem de como desdobramento de tendências estéticas
anteriormente presentes em poemas de diferentes estilos, analisando as inovações
que os meios tecnológicos trazem ao universo literário. Entre elas, destaca-se a
1
A preferência ao uso da terminologia “ciberpoesia” foi dada por essa ser a nomenclatura adotada
pelo autor estudado: Sérgio Capparelli. Porém, percebemos que o conceito de ciberpoema se altera
na obra do autor, no decorrer do tempo. Incialmente, no livro “33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual”,
a tecnologia computacional se faz presente somente nos temas dos textos, diferentemente dos sites
em que o autor publica outro tipo de ciberpoema, aonde a tecnologia é parte integrante da obra,
oferecida em novos suportes e construída a partir de recursos computacionais.
12
dessacralização do autor, uma vez que temos na internet um ambiente de
publicação livre, no qual qualquer pessoa pode publicar seus textos sem passar por
nenhum crivo; a emancipação do leitor, que passa a interagir com o texto, decidindo
caminhos a serem tomados em um texto não-linear; e por fim, o texto sinestésico, ou
seja, multisensorial, pois nesse tipo de texto, é possível combinar diferentes
linguagens e mídias (efeitos sonoros, links, animações tridimensionais etc.)
produzindo sentido num mesmo suporte de leitura.
Para responder ao questionamento sobre como a facilidade de acesso à
leitura trazida pelos computadores pode contribuir para inserir as crianças no mundo
literário, buscaremos investigar o novo gênero poético em três níveis: autor, texto e
leitor, procurando pensar o caráter híbrido do ato de leitura na concepção de
Wolfgang Iser, que entende nossas representações de leitura como imagéticas em
um momento e semânticas em outro (ISER, 1999).
Acreditamos ainda que a materialidade de uma obra é capaz de alterar o
comportamento do leitor, afetando desde sua postura física (ler na tela do
computador faz com que a criança busque uma leitura mais rápida e superficial do
texto, resultante da rapidez com a qual está acostumada a interagir com
computadores), até a sua participação na construção do texto, que oferece ao leitor
a possibilidade de seguir seus próprios caminhos na leitura.
Sob a ótica da teoria da recepção de Hans Robert Jauss, centrando-nos em
textos infanto-juvenis, investigaremos na nova forma de construção literária, o objeto
imaginário que ela parece querer produzir no (jovem) leitor, afetando a forma como
ele interpreta e reage diante do texto.
Para isso, nos centraremos na investigação da obra de poesia infantil do
escritor rgio Capparelli.
2
A opção pela análise da obra desse autor deveu-se a
sua capacidade de produzir textos que chamam a atenção do público infantil e,
também, por ser um autor inovador no que se refere a intimidade que tem com
diferentes suportes para publicação de sua obra. Trata-se, além disso, de um
estudioso das comunicações humanas e talentoso poeta, que traz grandes
contribuições para a literatura infantil brasileira.
2
Sérgio Capparelli é poeta mineiro, graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul e doutor em Ciências da Comunicação pela Université de Paris II. Com mais de
quarenta livros publicados, o escritor recebeu diversos prêmios, em especial por sua obra infanto-
juvenil.
13
2. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS
“A tradição é uma beleza que preservarmos, e não um conjunto de grilhões para nos
aprisionar.” (Ezra Pound)
Buscaremos no presente capítulo fundamentar alguns dos problemas e
hipóteses a serem investigados neste trabalho, traçando as principais modificações
que os computadores trouxeram para a literatura, tanto em sua materialidade,
quanto em sua circulação.
2.1. COMPUTADORES E LITERATURA - A PALAVRA ESCRITA E SEUS
SUPORTES
O suporte que abriga a literatura é fator essencial de sua permanência: sem
ele, os textos literários se perderiam no tempo, uma vez que suas outras
manifestações e formas de divulgação o bastante transitórias, como relata Regina
Zilberman:
Livro e literatura constituem, por força da índole da escrita e da
materialidade do papel, as duas faces de uma única moeda. A expansão
do primeiro garantiu a ascensão da segunda, que, até a invenção da
imprensa, circulava entre grupos seletos e aristocráticos; ou então se
sustentava graças à circulação oral, efêmera por natureza. (2000, p. 119)
A partir desta hipótese, verificaremos a partir de agora em alguns episódios
da história do livro e da leitura, as influências e novidades que a materialidade das
obras literárias levaram ao que chamamos hoje de literatura.
Sabemos que muitos foram os suportes que abrigaram a palavra escrita
durante o decorrer da história da leitura: as tabuletas mesopotâmicas (blocos de
argila quadrados) que, reunidas em bolsas ou caixas de couro, formavam um livro;
os rolos de papiro; e o códice, que se apresentava como um feixe de páginas
encadernadas.
3
Acreditamos, de acordo com o pensamento de Roger Chartier, que:
3
MANGUEL, Alberto. Uma História da Leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
14
Manuscritos ou impressos, os livros são objetos cujas formas comandam,
se não a imposição de um sentido exato ao texto que carregam, ao menos
os usos de que podem ser investidos e as apropriações às quais são
suscetíveis. (1994, p. 8)
Confirmando essa afirmação, temos o fato de que todas as transformações
dos suportes da leitura trouxeram mudanças significativas para o ato de ler, como
novas maneiras de manusear o texto e novas formas de divulgação e produção, que
alteraram no tempo os procedimentos e possibilidades oferecidas ao escritor.
Para iniciar um breve comentário sobre algumas dessas transformações,
podemos citar a transição do rolo para o códice, que afetou significativamente a
construção e a recepção dos textos, trazendo a possibilidade de o leitor pôr o dedo
na história (tocando as palavras); a mesma transição acarretou ainda a modificação
da organização do texto, que o precisava mais ser dividido de acordo com a
capacidade de um rolo, e trouxe também a facilidade de seu transporte,
manipulação e consumo, consolidando a prática da leitura silenciosa.
Regina Zilberman pensa o livro como o responsável pelo modo de leitura que
realizamos hoje:
O livro, enquanto objeto material, contudo, não se restringe ao estado de
peça indiferente, soma de papel, tinta e cola. A adoção dessa forma na
posição de suporte da escrita prescreveu determinados modos de leitura:
no Ocidente, onde se expandiu em escala industrial desde o século XV,
incrementando-se a produção depois do século XIX, obriga a que se leia da
esquerda para direita, de cima para baixo e sempre para a frente.
Experiências de vanguarda propuseram outras instruções ao leitor, mas, ao
desmontar o modelo tradicional, acabaram por confirmá-lo pelo avesso.
(2000, p. 107)
Em seus inícios, diversas eram as formatações, os materiais, os tamanhos e
as encadernações dos livros feitos artesanalmente por escribas. Um bom exemplo
são os enormes livros de cultos, construídos para serem lidos à distância, que foram
produzidos pela Igreja Católica no culo V. Esses livros buscavam propiciar uma
leitura sempre coletiva, como observa Manguel:
(...) Alguns desses livros de cultos eram tão imensos que tinham de ser
postos sobre rodinhas para que pudessem ser movidos. No entanto,
muito raramente saíam do lugar. Decorados com latão ou marfim,
protegidos com cantos de metal, fechados por fivelas gigantescas, eram
livros para serem lidos comunalmente e à distância, desautorizando
qualquer leitura íntima ou sentimento de posse individual. (2003, p. 155)
Quando, porém, o jovem Johannes Gensfleich zur Laden zum Gutenberg, no
século XV, nos trouxe a primeira bíblia impressa, outra revolução aconteceu. Até
15
então, o livro tinha o valor da sua unicidade, uma vez que era produzido
artesanalmente por escribas, representando as horas de trabalho e os gastos
realizados para sua produção. A partir da invenção de Gutenberg, o livro começou a
ser produzido em maior escala, de maneira rápida, uniforme e muito mais barata.
Assim, no século XVI, os livros impressos começaram a ser publicados em
larga escala e tomaram várias formas, o que representou a mais notável
contribuição da invenção da imprensa para o mundo da leitura, que foi, é claro, a
ampliação da quantidade de leitores, que passaram a ter maior facilidade de acesso
aos livros, o que acarretou uma democratização da literatura.
Sobre essas transformações, Alberto Manguel ressalta que:
(...) a imprensa, apesar das óbvias previsões de “fim do mundo”, não
erradicou o gosto pelo texto escrito a mão. Ao contrário, Gutenberg e seus
seguidores tentaram imitar a arte dos escribas, e a maioria dos incunabula
tem uma aparência de manuscrito. (...) É interessante observar a
freqüência com que um avanço tecnológico – como o de Gutenberg – antes
promove do que elimina aquilo que supostamente deve substituir, levando-
nos a perceber virtudes fora de moda que de outra forma não teríamos
notado ou que consideraríamos sem importância. (2003, p. 159)
Assim no século XV, a invenção da imprensa de Johann Gutemberg trouxe
efeitos transformadores para a literatura e tornou possível a produção de livros em
larga escala, o que, devido à diminuição do custo de sua produção, deixou-os mais
acessíveis à população, democratizando o acesso à leitura, o que fez com que o
texto passasse a se tornar preocupação de filósofos e objeto de estudo de críticos e
teóricos.
Depois de aproximadamente quinhentos anos, no culo XX, com o advento
da internet, observamos uma nova revolução na produção e circulação da literatura,
que também afeta custos de produção, modos de leitura e, o mais importante, leva-
nos a repensar o conceito de literatura, como veremos mais adiante.
Pulando das páginas impressas dos livros para as telas dos computadores, a
palavra escrita passa a ser lida em interação com outras linguagens, sempre
mexendo com mais de um sentido do leitor, integrada a sons, figuras, referências
etc.
duas hipóteses quanto a essa transição: a primeira delas é a de que as
novas tecnologias remodelarão o conceito de literatura, o que leva alguns estudiosos
desta área de estudo e das comunicações humanas a profetizarem uma futura
16
substituição do livro pelas mídias digitais; a segunda hipótese é a de uma possível
co-existência de livros impressos e digitais complementando-se um ao outro.
Enfatizamos que esta é a opinião da qual partilhamos, pois a leitura e a escrita
antecedem os livros, além de se constituírem somente na mente de quem lê e
interpreta, não possuindo significado antes do ato da leitura. Outro fator que
consideramos para acreditar na co-existência de livros, computadores e e-books
como suportes para leitura são os exemplos de novas tecnologias que surgem e
dividem espaço com outros meios de informação mais antigos, por exemplo, o
cinema que não excluiu o teatro, bem como a televisão que não excluiu o rádio.
Assim, acreditamos na permanência do livro junto com as mídias digitais, que
oferecem novas possibilidades aos leitores que têm a possibilidade de aderir a uma
ou a outra de acordo com suas necessidades e preferências, fazendo com que
ambos os suportes da escrita, livro e tela, convivam harmoniosamente.
2.2. A ERA DA HIPERVELOCIDADE E OS NOVOS COMPORTAMENTOS
HUMANOS
No século XX, mais especificamente em 1946, surgiram os primeiros
computadores. Com a função de armazenamento de informações, o primeiro deles,
o Eniac, era uma máquina de proporções gigantescas que ocupava o espaço de
uma sala inteira.
Com o passar do tempo e, muito rapidamente, esses dispositivos têm se
tornado cada vez menores, mais portáteis e práticos, pois ampliam suas
perspectivas e funções, que deixam de ser somente o armazenamento de
informações, e passam a explorar a capacidade de conexões mundiais, a recepção
e distribuição de informações em tempo real e a disponibilização de um ambiente
híbrido no qual o mundo todo interage e se integra.
Tais mudanças acarretaram o surgimento de uma nova era: a era da
hipervelocidade.
Em meio a tantas revoluções na relação do homem com a máquina,
provavelmente, a área mais afetada foi a da comunicação, como propõe o professor
e pesquisador Denis de Moraes:
17
A era da hipervelocidade reconfigura irreversivelmente os campos da
comunicação e da cultura. A força invisível dos sistemas tecnológicos
subverte toda e qualquer barreira, numa rotação incessante. Os fluxos
infoeletrônicos encurtam a imensidão da Terra, propagando um volume
incalculável de informações. A busca voraz por fluidez baseia-se na
evolução galopante das redes digitais multimídias, as quais operam como
provedoras de dados ubíquos e instantâneos, em uma ambiência de usos
partilhados e interatividades. (2001, p. 67)
Assim, com a aproximação do homem e das máquinas, e, em especial, com a
internet (ferramenta de informação quase que ilimitada, que, além de trazer novas
modalidades e gêneros textuais, exige novos comportamentos e posturas do leitor e
do autor diante do texto), muitas inovações vieram à tona no universo da linguagem
e da literatura.
Alguns exemplos dessas mudanças são as novas variantes lingüísticas (o
internetês e todas as suas abreviações e neologismos), novos gêneros textuais e de
comunicação (e-mails, blogs, chats, além de ciberpoemas, hipertextos, e-books etc.),
a hibridação de linguagens, e o que desemboca em um aspecto bastante
interessante para o foco de nossa pesquisa que é a nova relação do trio autor – obra
público (elementos sicos da constituição de um sistema literário de acordo com
Antonio Candido em “A Formação da Literatura Brasileira”) ao interagir em uma nova
esfera de comunicação, onde a virtualidade se faz predominante.
Nas últimas décadas, a preocupação de especialistas em literatura com os
efeitos que as novas mídias digitais podem trazer para os meios literários tem se
tornado cada vez mais presente, como explica George Landow, um dos maiores
entusiastas do hipertexto:
(...) over the past several decades literary theory and computer hypertext,
apparently unconnected areas of inquiry, have increasingly converged.
Statements by theorists concerned with literature, like those by theorists
concerned with computing, show a remarkable convergence. Working often,
but not always, in ignorance of each other, writers in these areas offer
evidence that provides us a way into the contemporary episteme in the
midst of major changes. (1992, p. 2)
4
4
(...) De forma crescente, nas últimas décadas, a teoria literária e o hipertexto, áreas de pesquisa
aparentemente desconexas, têm convergido. Colocações de teóricos da literatura, assim como
aquelas dos teóricos da computação, manifestam notável convergência. Trabalhando
frequentemente, mas não sempre, na ignorância um do outro, escritores dessas áreas oferecem
evidências que nos trazem um caminho para a epistemologia contemporânea em meio a mudanças
maiores”. (tradução nossa)
18
Assim, podemos dizer que a internet está reconfigurando as características e
funções do texto literário em todos os seus aspectos, conforme verificaremos daqui
por diante.
2.3. O TEXTO LITERÁRIO ENTRE LIVROS E TELAS
Muitos foram os que tentaram, na história da leitura e da literatura, definir
quais os textos que podemos considerar como literários e quais são as
características que assim os definiriam.
Aliás, ampla seria a discussão do que poderíamos entender por literatura.
Seria o conjunto de obras que apresentam algum valor estético? Seriam as obras
escritas por autores canônicos? Seriam as obras que alguém que possui alguma
autoridade no assunto, em determinado contexto histórico-cultural, diz que é
literatura?
Para alguns, como literários podem ser considerados os grandes clássicos
e seus autores, pensando no valor estético que o texto literário deve ter,
sacralizando-o. Outros aceitam quaisquer manifestações escritas como literatura,
pois estes entendem literatura como o registro de uma determinada sociedade em
uma determinada época. Ainda podemos lembrar-nos da definição de literatura mais
comumente ouvida em salas de aula e textos didáticos: “A literatura é a arte da
palavra”, como vemos na obra de Abaurre, Pontara e Fadel:
A Literatura é uma forma de arte, assim como a música, a pintura e a
dança.
O que a diferencia das demais manifestações artísticas é que a Literatura
nos permite, pela interação com seus textos, tomar contato com um vasto
conjunto de experiências acumuladas pelo ser humano ao longo de sua
trajetória, sem que seja preciso vivê-las. (2003, p. 2)
Se o registro escrito produzido por uma determinada sociedade pode ser
considerado literatura, as bulas de remédio e as receitas culinárias o
manifestações literárias? E os poemas que a adolescente apaixonada publica em
seu blog em homenagem ao namorado? E os poemas verbivocovisuais que, em
alguns casos, são compostos apenas por imagens, sem a presença de nenhuma
19
palavra? Se pensarmos em literatura como obras com valor estético, como
poderíamos limitá-las pensando na abstração desse termo?
Refletindo sobre tais questionamentos, sugerimos aqui que a literatura acaba
sendo aquilo que alguém em determinado contexto histórico-cultural consagra como
literatura, como ressaltam as palavras de Jonathan Culler:
(...) Na maior parte do tempo, o que leva os leitores a tratar algo como
literatura é que eles a encontram num contexto que a identifica como
literatura: num livro de poemas ou numa seção de um revista, biblioteca ou
livraria. (1999, p. 34)
Acreditando na impossibilidade de serem elaborados parâmetros para
conceituar literatura, e refletindo aqui sobre sua função, também nos apoiamos nas
palavras de Antonio Candido:
A literatura é pois um sistema vivo de obras, agindo uma sobre as outras e
sobre os leitores; e vive na medida em que estes a vivem, decifrando-a,
aceitando-a, deformando-a. A obra o é produto fixo, unívoco ante
qualquer público; nem este é passivo, homogêneo, registrando
uniformemente o seu efeito. São dois termos que atuam um sobre o outro,
e aos quais se junta o autor, termo inicial desse processo de circulação
literária, para configurar a realidade da literatura atuando no tempo. (1980,
p. 76)
A afirmação acima nos remete à transitoriedade espaço-temporal do que
pode ser considerado como literatura. Em diferentes épocas e lugares, divergem
também os efeitos do texto escrito sobre a sociedade, o que leva a diversas
concepções de crítica e teoria literária, que agregam valores diferentes a uma
mesma obra em épocas distintas.
Mesmo considerando que os juízos de valor da crítica literária também se
alteram no tempo, acreditamos que ela seja de extrema importância na elaboração
de parâmetros da literariedade dos textos, pois é a crítica que, em meio a uma cada
vez mais vasta produção literária, alimenta e define dentre tais produções o que
permanecerá e o que se perderá com o tempo.
Jonathan Culler, apesar de apresentar alguma resistência quanto a essa
idéia, acaba expondo-a em sua tentativa de discutir o que é literatura:
(...) É tentador desistir e concluir que a literatura é o que quer que uma
dada sociedade trata como literatura um conjunto de textos que os
árbitros culturais reconhecem como pertencentes à literatura. (1999, p. 29)
20
Assim, pensamos em como se remodela o papel da crítica literária com o
surgimento da internet, que nos leva a rever nossos conceitos ao definirmos a
literariedade dos textos que circulam na nossa sociedade, desencadeando um
processo de desoficialização da literatura, uma vez que, em um ambiente de
publicação livre, qualquer pessoa pode espalhar suas criações por todo o planeta. E
quem as julgaria como sendo ou não literatura? Os críticos literários? O próprio
leitor? Talvez!
Novamente, nos apoiamos nas idéias de Antonio Candido, para quem, “a
literatura, como fenômeno de civilização, depende, para se constituir e caracterizar,
do entrelaçamento de vários fatores sociais”. (1980, p. 12).
Assim, se as novas tecnologias renovam as relações sociais, a literatura
também é renovada nas três esferas que a constituem, relacionando-se entre si:
autor, obra e público. A interação entre essas três esferas que constituem o sistema
literário é reformulada com a chegada dos textos digitais ou hipertextos, conforme
verificaremos a partir de agora.
2.4. A INTERNET E O HIPERTEXTO
Assim como todas as vezes que surgiram novos suportes de leitura,
mudanças significativas aconteceram nos procedimentos de construção de textos,
com o surgimento dos computadores também não foi diferente e, além de alterarem
a forma de produção e recepção de textos, eles alteraram significativamente a
distribuição e o acesso a tais textos.
Como apontamos anteriormente, qualquer pessoa pode publicar seus textos
livremente na internet, conectando-os a vários outros textos publicados por outras
pessoas, gerando um mar de informações, uma espécie de biblioteca gigantesca
interconectada e interativa batizada em 1964, por Theodor Holm Nelson, como
hipertexto, como relata Marcuschi:
O termo ‘hipertexto’ foi cunhado por Theodor Holm Nelson em 1964, para
referir uma escritura eletrônica não-sequencial e não-linear
, que se bifurca
e permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado de outros
textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. Assim o
leitor tem condições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir
21
de assuntos tratados no texto sem se prender a uma seqüência fixa ou a
tópicos estabelecidos por um autor. Trata-se de uma forma de estruturação
textual que faz do leitor simultaneamente co-autor do texto final. O
hipertexto caracteriza-se, pois, como um processo de escrita / leitura
eletrônica multilinearizado, multisequencial e indeterminado, que, segundo
Bolter (1991: 10), introduz um novo ‘espaço de escrita’, que ele caracteriza
como “escrita eletrônica”, tendo em vista a tecnologia de base. (2006, p. 1)
Como se vê, então, em Marcuschi, a principal característica do hipertexto é
sua não-linearidade, pois, sendo um conjunto composto por vários textos
interconectados através de links, podemos afirmar que sua leitura não é
necessariamente seqüencial, mas oferece múltiplas possibilidades de escolha que
são oferecidas ao leitor. Ao contrário do livro que, de acordo com Zilberman:
(...) impõe um modo característico de leitura, da esquerda para a direita e
de cima para baixo (...) Mesmo a poesia não consegue ultrapassar a
dimensão da página, a não ser que se converta em happening singular e
ocasional. Impera a linearidade, que, em modos mais ligeiros de ficção, se
internaliza, transferindo-se para o desdobramento da trama. Os limites do
livro são os da criação literária, a que se somam as marcas impostas pela
relevância conferida ao autor. O resultado é a obra, produção
eminentemente individual que se manifesta por um objeto, ele mesmo
circunscrito a um espaço fechado. (2000, p. 114)
No hipertexto, não esse espaço fechado, pois não existem limitações para
a distribuição do texto.
Nesse gênero textual, os links se fazem através de palavras-chaves ou
imagens que na maioria das vezes possuem relações hiperonímicas com o texto que
o segue, ou seja, um texto de conteúdo mais abrangente oferece ligações a vários
outros que discutem aspectos mais específicos tratados sobre aquele conteúdo.
(Fig. 1 – Representação gráfica (ideal) de um HIPERTEXTO – Fonte:
http://www.prof2000.pt/users/secjeste/ensinopc/Imagens/fig02.gif)
22
Na figura acima as ilhas de conhecimento (representadas na imagem pelos
círculos) são os textos conectados uns aos outros através de links, que o
representados pelo emaranhado de linhas que unem esses textos.
Para Marcuschi, essa interconectividade é:
Apontada como a característica mais importante do hipertexto, a não-
linearização sugere descentração, ou seja, inexistência de um foco
dominante. Isto é verdade, mas não chega a ser uma novidade, se
observarmos que um texto sempre foi tido como passível de muitas
interpretações e de múltiplas leituras. A deslinearização refere sobretudo
procedimentos de constituição por sistemas de ligações interconectadas
ilimitadamente. (2006, p. 4, grifo do autor)
Alguns autores, porém, apontam a multilinearidade do hipertexto, pois não
entendem a descontinuidade de sua leitura como não-sequencial, mas, sim, como
uma leitura aberta a múltiplas seqüências a serem seguidas de acordo com as
necessidades do leitor, reforçando a participação deste na construção do sentido do
texto.
Outro aspecto inerente ao hipertexto é sua volatilidade. Com alta capacidade
de mutação, o hipertexto torna-se um objeto virtual, conforme explica Marcuschi:
(...) o hipertexto não tem estabilidade (Bolter 1991: 31) e todas as
escolhas são tão passageiras quanto as conexões estabelecidas por
seus leitores; esta característica sugere ser o hipertexto um fenômeno
essencialmente virtual, decorrendo daí boa parte de suas demais
propriedades. (2006 p. 2)
Porém, como comentamos na introdução deste trabalho, para Pierre Levy,
todo texto é um objeto virtual e, entendemos aqui, também mutável, pois o texto não
é matéria e não deve ser confundido com seu suporte. O texto se configura pelo seu
conteúdo, pela sua informação. Independente do suporte no qual se apresenta, o
texto passa a ser objeto significante na mente do leitor, de acordo com sua
interpretação, que pode variar dependendo da sua formação:
As passagens do texto mantêm entre si virtualmente uma
correspondência, quase que uma atividade epistolar, que atualizamos de
um jeito ou de outro, seguindo ou não as instruções do autor. Carteiros
do texto, viajamos de uma margem à outra do espaço do sentido
valendo-nos de um sistema de endereçamento e de indicações que o
autor, o editor, o tipógrafo basilaram. Mas podemos desobedecer às
instruções, tomar caminhos transversais, produzir dobras interditas,
estabelecer redes secretas, clandestinas, fazer emergir outras geografias
semânticas. (1996, p. 36)
23
Reforçando essa idéia, temos a afirmação de Marcuschi (2006) de que “assim
como o hipertexto virtualiza o concreto ele concretiza o virtual.”
O hipertexto é também fragmentado, uma vez que é dividido em imensurável
quantidade de blocos interconectados entre si, possibilitando ao leitor avanços,
retornos e fugas; e também facultando acessibilidade ilimitada, abrangendo todos os
níveis e áreas de conhecimento.
Outras características fundamentais do hipertexto são a multisemiose, pois
ele combina diferentes linguagens e mídias que contribuem conjuntamente para a
produção do sentido do texto; a interatividade, pois oferece ao leitor a possibilidade
de participação e ação na construção e leitura do texto e, por fim, a iteratividade, que
é a natureza intertextual do hipertexto, uma vez que ele está sempre dialogando
com outros textos ao qual está conectado
5
.
Pensamos assim o hipertexto como uma moderna e ampla mídia de leitura,
que exige novas habilidades do leitor e do escritor em um gigantesco texto de
criação coletiva, dependente das habilidades de escritores, cnicos, produtores,
leitores, ilustradores etc., configurando um novo sistema literário, que implica em
novas relações entre autor – obra – público, conforme veremos a seguir.
2.5. A INTERNET E O SURGIMENTO DE UM NOVO SISTEMA LITERÁRIO
Conforme verificamos a agora, várias foram as inovações que os
computadores trouxeram para a literatura. Investigaremos então quais foram essas
modificações dentro de cada um dos elementos que compõem um sistema literário
de acordo com uma teoria sociológica da literatura fundamentada nas idéias de
Antonio Candido, ou seja, o que tem se modificado quanto ao escritor, ao texto e as
relações desses com o público leitor.
5
Para os conceitos de interatividade e iteratividade, ver MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linearização,
Cognição e Referência. 2006. Disponível em: http://www.pucsp.br/~fontes/atividade/17Marcus.pdf.
Acesso em: 06 dez. 2009.
24
2.5.1. A INTERNET RECONFIGURANDO O AUTOR
Se considerássemos a concepção de autoria do senso comum, encararíamos
o autor como o dono de um determinado conhecimento ou de uma determinada
idéia, que, através de um dom ou de uma facilidade especial em manusear a palavra
escrita, pudesse dividi-la com seus leitores de maneira exata e fechada. É essa
noção de autoria que leva a questionamentos como “o que o autor quis dizer com
essa frase?”, por exemplo.
Em nossos estudos, entretanto, preferimos supor que o autor não tem
tamanho poder sobre o texto, considerando que este se concretiza na cabeça do
leitor, criando uma noção de co-criação do texto escrito, ou seja, em resposta à
pergunta explicitada no parágrafo anterior, o texto quer dizer o que o autor busca
significar, mas tal significação dependerá de fatores inerentes à figura do leitor,
como seu conhecimento prévio, suas experiências de vida e sua capacidade
interpretativa.
Regina Zilberman, discutindo o papel do escritor no sistema literário,
argumenta que “(...) ele põe à disposição da audiência um produto que contará ou
não com sua adesão, disputará a preferência por muito ou pouco tempo e lutará por
um espaço institucional”, citando Michel Foucault, para quem a noção de autor
corresponde a um “momento forte da individuação na história das idéias” (2000, p.
110). Pode-se, pois, propor, a partir da formulação de Foucault, que a relação do
escritor com seu tempo é um fator de construção estética e cultural de sua obra.
Assim, com o advento da internet, o poder supremo do autor sobre o texto se
torna ainda menor, pois uma das primeiras transformações a ser notada com essa
tecnologia é o fato de que autor e leitor caminham juntos nos ambientes virtuais,
linkando textos, fazendo escolhas, seguindo percursos em um processo de leitura
intertextual e intermidiático.
Assim, o autor deixa de ser escritor e passa também a ser artista gráfico e
precisa ter habilidades com as ferramentas computacionais, ou ficará na
dependência de alguém que as tenha.
Além disso, com a criação de um ambiente de publicação livre, a figura do
autor tende a ser dessacralizada, pois, nesse meio, não se passa por nenhum crivo,
25
por nenhuma aprovação para se tornar autor. Nas palavras de Regina Zilberman,
não é a primeira vez que se pensa nesse processo de dessacralização do autor:
Quando Roland Barthes, num de seus ensaios, decreta “a morte do autor”,
talvez tenha em mente minimizar a importância dessa figura, tanto mais
que ele propõe substituí-la pela do leitor, definido como “o espaço mesmo
onde se inscrevem, sem que nenhuma se perca, todas as citações de que
é feita a escritura. (2000, p. 111)
Na internet, tanto os clássicos da literatura universal em novo suporte e com
nova formatação, como, em blogs, as publicações de poemas que a adolescente
apaixonada escreve para o garoto de sua escola, convivem harmoniosamente.
Aproximações tão íntimas entre o canônico e o trivial, implicam também na
necessidade de novas habilidades do público leitor, conforme veremos adiante.
2.5.2. A INTERNET RECONFIGURANDO O LEITOR
Mudanças na figura do autor como as acima discutidas - acarretam também
novas exigências e novas funções no papel desempenhado pelo leitor, como
mencionamos anteriormente.
Buscando analisar sob essa perspectiva as influências dos novos tipos de
texto, pretendemos considerar “os efeitos das obras e acontecimentos do passado
desde a perspectiva do leitor, sobre quem ainda repercutem os efeitos dos
movimentos ocorridos em outras épocas”, como aponta Regina Zilberman (2000, p.).
Data das décadas de 60 e 70 do século XX a preocupação da literatura com o
papel do leitor no sistema literário, que surgiu com os ensaios de Hans Robert Jauss
e a Estética da Recepção (vertente da teoria da literatura que se preocupa
primordialmente com o papel do leitor, colocando-o como protagonista do sistema
literário).
Regina Zilberman explica essa protagonização
A autonomia do leitor, no âmbito dos estudos literários, demorou a
aparecer, mas se evidencia quando a sociedade, como um todo, se
mobiliza para se posicionar relativamente à questão da leitura e do livro.
Graças a esse esforço, o leitor alcança o estatuto de proprietário (...). Com
isso, equipara-se ao autor, até então detentor único dos direitos sobre a
26
criação artística; e, quando isso acontece, faculta-se a permissividade, e o
leitor pode intervir, invadindo o que lhe estava vetado. (2000, p. 103)
Na internet, é simulado o ambiente ideal para esta interação do leitor tanto
com o autor, se pensarmos que a comunicação com o autor via e-mail ou site se
torna mais fácil e possível, quanto com o texto, uma vez que o leitor escolhe
percursos de leitura nos textos digitais.
O ambiente virtual de leitura é composto por um gigantesco esquema
hipertextual, que pode oferecer milhares de possibilidades ao leitor, que deve saber
orientar-se e posicionar-se diante desse mar de informações. Marcuschi relata as
reações que o hipertexto provoca no leitor:
No caso do hipertexto, o leitor tem à sua disposição um sem-número de
possibilidades continuativas e não recebe todas as sugestões do autor. O
autor não pode antecipar todos os espaços possíveis que o leitor pode
navegar. (2006, p. 10)
É daí que surge o entendimento do leitor como um co-autor do hipertexto. Ele
trilha seus caminhos na leitura, faz escolhas e tende a buscar uma leitura linear de
um objeto multi-sequencial, pois, na internet, o leitor passa a ser também autor em
duas esferas: quando publica seus próprios textos e quando se orienta e escolhe
caminhos nos textos de outros autores, seguindo um esquema de leitura próprio e
individual, trabalhando o plano da poiesis na leitura.
Porém, para Regina Zilberman, de acordo com a teoria da Estética da
Recepção elaborada por Wolfgang Iser, a participação do leitor no ato de criação é
inerente ao processo de leitura, não sendo, portanto, “criação” do hipertexto:
Numa obra de ficção, personagens, coisas, sentimentos, espaço e até o
tempo aparecem de forma inacabada e descontínua, exigindo
necessariamente a intervenção do leitor. Ele completa lacunas colocadas
pelo texto, tornando-se co-participante do ato de criação. Wolfgang Iser
sublinha que são tais indeterminações que permitem ao texto “comunicar-
se com o leitor”, induzindo-o a tomar parte na produção e compreensão da
intenção da obra. (2000, p. 51)
Portanto, entendemos que apesar de explicitada e intensificada no hipertexto
e nas mídias digitais, a relação dialógica entre leitor e escritor sempre existiu, uma
vez que o autor constrói o significado do texto a partir de sua ideologia, tentando
conduzir o leitor ao entendimento de sua escrita; o leitor, por outro lado, entenderá
essa escrita de acordo com sua formação, seus conhecimentos prévios, sua
experiência pessoal e, também, a visão que ele tem de outros elementos internos ou
27
externos ao texto, como a imagem que ele tem do autor e do suporte em que
encontra o texto, por exemplo.
Para que o leitor alcance seu objetivo na leitura hipertextual, primeiramente, é
preciso que, por meio de suas capacidades cognitivas e seu conhecimento prévio,
ele seja capaz de reconhecer a credibilidade e a qualidade do que lê.
Retomando o pensamento de Paulo Freire de que “a leitura do mundo
precede a leitura da palavra”, encontramos o panorama ideal para tal teoria na
leitura hipertextual, que conta com as experiências do leitor para a seleção e
construção do sentido do conteúdo a ser lido, como retoma Xavier:
6
A leitura do mundo, da realidade que circunscreve o leitor de Paulo Freire
passa a ser profundamente alargada pelo hipertexto. Esse, em tese, deve
expandir os horizontes de expectativa e de surpresa do leitor a patamares
inimagináveis. O hipertexto reúne condições físicas de materializar a
proposta paulofreiriana até às últimas conseqüências. Se para ler /
entender a palavra é necessário saber antes ler o mundo, conforme
apregoava o educador, o hipertexto vem consolidar esse processo, uma
vez que viabiliza multidimensionalmente a compreensão do leitor pela
exploração superlativa de informações, muitas delas inacessíveis sem os
recursos da hipermídia. (2004, p. 172)
Para localizar-se em meio a tantas informações, não podemos deixar de
considerar também a agilidade necessária ao leitor da internet, que precisa ter alta
capacidade de percepção, uma vez que recebe informações que despertam seus
diferentes sentidos ao mesmo tempo, através da combinação de diferentes mídias,
gêneros e linguagens.
Talvez por isso os gêneros digitais estão mais próximos da realidade e do
cotidiano das crianças leitoras.
Considerando que é possível “gostar do que se entende e compreender o
que se aprecia”
3
, sugerimos aqui que, pela proximidade que têm diante do leitor, os
textos digitais sejam capazes de atrair o público jovem para o mundo da leitura,
aproximando-o e envolvendo-o.
6
XAVIER, Antonio Carlos (2004) Leitura, Texto e Hipertexto. In: Hipertexto e Gêneros Digitais – Novas
Formas de Construção de Sentido. Rio de Janeiro: Lucerna.
3
ZILBERMAN, Regina. Fim do Livro, Fim dos Leitores (2000)
28
2.5.3. A INTERNET RECONFIGURANDO A OBRA
Sabemos que o texto é uma espécie de canal de comunicação entre autor e
leitor, construído pela relação dialética entre ambos. Suas características e suas
possibilidades de construção de sentido se modificam de acordo com seu contexto
de produção, bem como pelo suporte onde é publicado.
As novas tecnologias possibilitam à criação da obra literária uma infinidade de
combinações de diferentes gêneros e linguagens, provocando novos efeitos no ato
da leitura. Assim, A aproximação da literatura com as artes gráficas se faz presente
com muita força, remodelando aspectos inerentes ao texto escrito, como é o caso da
linearidade oferecida pelo livro.
A obra veiculada em ambientes digitais tende a ser sempre intertextual,
dialogando com outros elementos informativos, verbais ou não-verbais, aos quais
está conectada através de links.
Nos ambientes virtuais, não limites para o texto, que pode estar interligado
a centenas de outros textos, o que exige maior preocupação com aspectos de sua
coerência, uma vez que os elos entre esses textos devem fazer sentido, caso
contrário haverá uma grande dispersividade que pode levar o leitor a se perder na
compreensão do tema inicial.
Os textos virtuais também passam a ser analisados em outros aspectos além
do conteúdo e das informações que emitem. Eles requerem conhecimentos
multisemióticos em uma análise que considere tanto o conteúdo como a forma, a
dialogicidade como a hipermidialidade e a construção como a divulgação.
29
3. POESIA E POEMA AO LONGO DA HISTÓRIA: ALGUNS CENÁRIOS
“Estes poemas não são para ler. São para ver! Mas isso não quer dizer
que o poeta não tenha voz!” (E. M. de Melo e Castro)
7
Para melhor delinear o objeto de estudo deste trabalho, de acordo com o
pensamento de Antonio Candido, diferenciaremos aqui poesia de poema, tratando
como poesia a qualidade que o poema, obra em verso, tem:
(...) a poesia não se confunde necessariamente com o verso, muito menos
com o verso metrificado. Pode haver poesia em prosa e poesia em verso
livre. Com o advento das correntes pós-simbolistas, sabemos inclusive que
a poesia não se contém apenas nos chamados gêneros poéticos, mas
pode estar autenticamente presente na prosa de ficção (...) (1999, p. 21)
Assim como,
(...) pode ser feita em verso muita coisa que não é poesia. Julgamentos
retrospectivos a este propósito são inviáveis, mas não a percepção de cada
leitor. Assim, embora a poesia didática do século XVIII, por exemplo, fosse
perfeitamente metrificada e constituísse uma das atividades poéticas
legítimas, hoje ela nos parece mais próxima dos valores da prosa. (1999, p.
22)
A partir de tais considerações, podemos sugerir que a poesia existe desde
muito antes da aparição dos primeiros poetas e poemas. Talvez possamos afirmar
que a poesia é um aspecto inerente à linguagem, se considerarmos que sua origem
se confunde com a da própria linguagem, visto que esta pode estar cheia de poesia,
mesmo sem a construção de nenhum poema.
Giambattista Vico, em sua obra Ciência Nova, buscando as origens da língua
latina, percebe a natureza poética da linguagem:
Razão de tais origens, seja de línguas seja de alfabetos, é que os primeiros
povos da gentilidade, por uma comprovada necessidade natural, foram
poetas, e falaram por figuras poéticas. Esta, que é a descoberta basilar
desta Ciência, custou-nos a obstinada pesquisa de toda a nossa vida
literária, mesmo porque às nossas naturezas civilizadas é totalmente
impossível imaginar, e com grande esforço apenas nos é dado perceber,
essa tal natureza poética dos primeiros homens. (1973, p. 26)
7
Apud PERFORMANCES de E. M. de Melo e Castro, Américo Rodrigues e Jorge Sequerra: ciclo
paralelo à exposição O Caminho do Leve.
30
Essa idéia pode ser reforçada se considerarmos a “complexidade do
pensamento primitivo” teorizada por Mikhail Bakhtin em “Marxismo e Filosofia da
Linguagem”, onde o autor nos fala do uso de palavras para designar coisas sem
nenhuma relação entre si, considerando as leis da criação lingüística
essencialmente ligada às leis da psicologia individual (1999), o que nos remete aos
paradoxos e analogias tão freqüentes na linguagem poética.
Postulando, então, que a poesia existia muito antes da literatura,
pensaremos agora como chegamos à construção dos poemas.
Os primeiros poemas, os poetas o os pensavam para serem lidos, mas,
sim, ouvidos, declamados por aedos na Grécia Antiga. Tradição que, como
sabemos, perdura até os dias de hoje.
Com o tempo, pela necessidade de registro de tais poemas declamados foi
que eles passaram a ser registrados graficamente, o que resultou na primeira, por
assim dizer, “documentação” literária. Até então, a escrita era utilizada pelos gregos
e egípcios somente para registro de seus assuntos administrativos e transações
comerciais.
Na língua portuguesa, os primeiros poemas foram cantados pelos jograis do
século XII. Ainda em galaico-português, de onde se origina nossa língua: os
cancioneiros.
Atualmente, por tradição, ainda temos os trovadores que cantam e recitam a
poesia de cordel produzida no norte e nordeste brasileiro acompanhados de
instrumentos como a viola, bem como os saraus poéticos.
Portanto, os poemas talvez devam ser considerados os primeiros textos
escritos sem uma funcionalidade pragmática, com o objetivo apenas de agradar aos
leitores, com imensa preocupação estética e semântica, preocupação essa que
abrangeu a forma, o conteúdo e a sonoridade, elementos que procuraremos discutir
no presente trabalho.
Devido a essa falta de utilidade dos poemas magistralmente celebrada como
“teoria do inutensílio”, de Paulo Leminsky, eles não foram reconhecidos como tendo
valor de troca, o que contribui para que esse gênero textual caia em certo
esquecimento:
A poesia é o princípio do prazer no uso da linguagem. E os poderes deste
mundo não suportam o prazer.
(...)
31
Quem quer que a poesia sirva para alguma coisa não ama poesia. Ama
outra coisa. Afinal a arte tem alcance prático em suas manifestações
inferiores, na diluição da informação original. Os que exigem conteúdo
querem que a poesia produza um lucro ideológico.
O lucro da poesia quando verdadeira é o surgimento de novos objetos no
mundo. Objetos que signifiquem a capacidade da gente de produzir
mundos novos. Uma capacidade in-útil. Além da utilidade.
Existe uma política na poesia que não se confunde com a política que
existe na cabeça dos políticos. Uma política mais complexa, mais rarefeita,
uma luz política ultravioleta ou infravermelha. Uma política profunda, que é
crítica da própria política, enquanto modo limitado de ver a própria vida.
(1986, p. 59)
Portanto, devido à falta de finalidade prática dos poemas eles passam a ser
considerados objetos de reflexão, o que induz ao mito de que poemas são materiais
de leitura dos cultos e eruditos.
Nos tempos atuais, em meio a tantos, tão rápidos e atraentes meios de
comunicação, os textos poéticos parecem estar ainda mais esquecidos. Porém,
observamos que os computadores e a internet têm trazido profundas transformações
na forma de se fazer e ler poemas, disseminando-se o gosto pela arte literária em
uma geração que não é exatamente afeiçoada aos livros, mas que mantêm íntimo
contato com outras mídias de informação. Tais poemas – o que aqui estamos
chamando de “ciberpoemas” - dialogam intensamente com as artes gráficas e
computacionais, sem perder o conteúdo poético, como defende o poeta Ernesto
Manuel de Melo e Castro:
(...) poesia ao fim e ao cabo é a grande projeção virtual da mente humana
e nas novas ciberpoéticas continuamos a ter essa projeção virtual da
mente humana, mas agora é o virtual do virtual, através de alguns
elementos gramáticos importantes, como por exemplo, o movimento, a
velocidade, o rigor, a variabilidade e simultaneidade espaço-temporal e a
transformação. (Apud RODRIGUES, 2006)
Tais composições são os ciberpoemas, que, considerando a natureza
mutatória da arte e da literatura, analisaremos neste trabalho como
desdobramento de tendências estéticas presentes em poemas de diferentes
épocas literárias, sugerindo assim a permanência e a evolução da poesia na história
da leitura.
32
3.1. POEMAS E CIBERPOEMAS: ANTECIPAÇÕES E CARACTERÍSTICAS
Mudanças trazidas pelos computadores às construções poéticas sugerem
uma modificação na construção do texto literário, conforme Juremir Machado da
Silva:
O terceiro milênio será inaugurado com uma literatura narrativa, ancorada
no cotidiano, em busca de complexidade, voltada para o vitalismo social,
capaz de recorrer a procedimentos radicais de estranhamento, de
singularização, de ruptura e de transfiguração, de maneira a aumentar o
tempo da percepção e a evitar as simplificações do reconhecimento.
Literatura de um novo tempo, digital, virtual, planetário, interativo, mas
exposto a todos os perigos da exclusão, não se inscreverá nas estratégias
distintivas do obscurecimento. (...) (2000, p. 77)
Investigaremos a partir de agora alguns aspectos da poesia de diferentes
épocas e estilos que antecipam algumas das características hipertextuais
encontradas nos ciberpoemas.
3.1.1. A VISUALIDADE DA POESIA
O surgimento da escrita deu-se pela necessidade que o homem sentiu de
preservar sua memória através de uma representação da linguagem oral, ou seja, a
linguagem escrita foi criada por necessidades funcionais.
Suas primeiras manifestações foram pictográficas, formas nas quais o homem
utilizava imagens que representavam suas ações, registrando assim os primeiros
hábitos humanos de que se sabe a existência, como podemos observar na imagem
a seguir que representa a escrita rupestre:
33
(Fig. 2 – Arte rupestre - Fonte: ALVES, Gerlúzia de Oliveira Azevedo. Arte Rupestre: O Fazer do Artista Paleolítico)
As formas visuais também foram os recursos da escrita cuneiforme e dos
hieróglifos, que foram manifestações de representação gráfica até chegarmos à
escrita alfabética.
(Fig. 3 – Escrita cuneiforme - Fonte: http://www.casadomanuscrito.com.br/casa/curio_02.htm)
(Fig. 4 – Hieróglifos - Fonte: http://desenhotecnico.wordpress.com/2009/10/21/a-historia-do-desenho-tecnico/)
Opostamente ao que se poderia imaginar, com a chegada da escrita
alfabética, a visualidade da escrita o perdeu sua importância, pelo menos não no
34
texto poético, que sempre produziu significados também, por exemplo, através da
forma como seus versos e estrofes eram dispostos no papel. Isso pode ser notado
mesmo antes dos poemas que cultuavam a forma explicitamente, como os poemas
concretos que conhecemos no movimento modernista, conforme veremos a seguir.
na Antiguidade, em 325 a.C., um poema chamado O Ovo”
8
, de Símias de
Rodes, procura reproduzir na disposição dos versos o formato de um ovo, como
podemos verificar na tradução abaixo de José Paulo Paes:
Neste poema, a disposição dos versos em formato de losango remete ao
formato de um ovo, que é o título do poema. Tratando da fecundidade, do
nascimento, esse poema deixa mais evidente a relação entre significante e
significado através de sua forma. O formato e o tema desse poema foram retomados
por escritores brasileiros como Clarice Lispector e Augusto de Campos, conforme
veremos adiante.
Nesse tipo de construção poética, que através da disposição das palavras
revela formas figurativas que remetem ao tema do poema, percebemos que o ato de
leitura se compõe de dois momentos: o primeiro deles ocorre ao observar o formato
8
O poema O Ovo foi digitalizado a partir de: GUIMARÃES, Denise. (2004) Poesia Visual & Movimento: Da
Página Impressa aos Multimeios. Curitiba. (tese de doutorado)
O Ovo
Acolhe
da fêmea canora
este novo urdume que, animosa
Tirando-o de sob as asas maternas, o ruidoso
e mandou que, de metro de um sopé, crescesse em número
e seguiu de pronto, desde cima, o declive dos pés erradios
tão rápido nisso, quanto as pernas velozes dos filhotes de gamo
e faz vencer, impetuosos, as colinas no rastro da sua nutriz querida,
até que, de dentro do seu covil, uma fera cruel, ao eco do balido, pule
mãe, e lhes saia célere no encalço pelos montes boscosos recobertos de neve.
Assim também o renomado deus instiga os pés rápidos da canção a ritmos complexos.
Do chão de pedra pronta a pegar alguma das crias descuidosas da mosqueada
balindo por montes de rico pasto e gruta de ninfas de fino
tornozelo
que imortal desejo impele, precipites, para a ansiada teta da mãe
para bater, atrás deles, a vária e concorde ária das Piérides
até o auge de dez pés, respeitando a boa ordem dos ritmos,
arauto dos deuses, hermes, jogou-a à tribo dos mortais,
e pura, ela compôs na dor estrídula do parto
do rouxinol dórico
benévolo.
(O OVO, de Símias de Rodes. Tradução de José Paulo Paes)
35
do poema e criar hipóteses sobre seu conteúdo, o segundo é a leitura do texto
propriamente dito que pode confirmar ou excluir as hipóteses levantadas.
Mais tarde, durante o peodo Barroco, entre os séculos XVII e XVIII, a
visualidade dos poemas começa a ser ainda mais cultivada, o que ilustramoa
abaixo, com o texto escrito por Frei Francisco da Cunha em 1747:
Ao bater os olhos no poema e observar seu formato em cruz, que
simbolicamente nos aproxima da temática cristã do poema, o leitor já pode identificar
seus traços de religiosidade, antes mesmo de fazer uma leitura mais aprofundada do
texto, que é composto por uma única frase: “Eu sou o mais empenhado”, que
aparece escrita em diferentes direções a partir do “E” central, dando forma à cruz e
sugerindo o empenho religioso do eu-lírico, que, com isso, intensifica a mensagem
emitida no verso, escrito pelo poeta e frei Francisco da Cunha.
36
Neste poema, escrito no século XVII, podemos notar uma das principais
características da leitura de ciberpoemas na tela do computador: a deslinearização
do texto, ou seja, não uma estrutura linear a ser seguida para a compreensão do
poema.
O poeta brasileiro Fagundes Varela, no século XIX, também se utiliza da
visualidade para falar da religião cristã, desenhando uma cruz através da disposição
dos versos do poema, produzindo sentidos através da combinação de elementos
textuais verbais e não-verbais:
Estrelas
Singelas,
Luzeiros
Fagueiros,
Esplêndidos orbes, que o mundo aclarais!
Desertos e mares, - florestas vivazes!
Montanhas audazes que o céu topetais!
Abismos
Profundos!
Cavernas
E t e r nas!
Extensos,
Imensos
Espaços
A z u i s!
Altares e tronos,
Humildes e sábios, soberbos e grandes!
Dobrai-vos ao vulto sublime da cruz!
Só ela nos mostra da glória o caminho,
Só ela nos fala das leis de - Jesus!
(VARELA, Fagundes. In: Poemas de Fagundes Varela. São Paulo: Cultrix)
37
Outra mostra da visualidade da poesia pode ser observada na obra do poeta
simbolista francês Stephane Mallarmé, que também apresenta sentidos através de
sua forma, como podemos notar no fragmento abaixo, do poema “Um Coup de Dês”
(Um Lance de Dados):
(Fragmento do poema Um Coup de Dês – Mallarmé, 1897)
Nessa obra, bastante inovadora na época de sua produção (1897), podemos
notar a preocupação do poeta com a disposição tipográfica do poema, que foge do
convencional, “lançando” as palavras no papel, sugerindo alguns momentos de
silêncio na leitura por meio dos espaços em branco, além de jogar com as letras
maiúsculas e minúsculas, abusando de recursos visuais e sonoros bastante
inovadores para a época.
Escritos durante a Primeira Guerra Mundial e publicados em 1918, os
caligramas de Guillaume Appolinaire também são frutos da combinação de texto e
imagem, uma compondo a outra, como vemos abaixo na tradução de Álvaro
Faleiros:
38
(FALEIROS, Álvaro. (trad.) (2009) Caligramas. São Paulo: Ateliê Editorial)
Caligramas são poemas escritos de maneira a formar desenhos através da
disposição das palavras. No caso acima, a forma do poema desenha uma pomba
sobre um chafariz, elementos presentes no título do poema.
Esses poemas nos trouxeram os primeiros indícios do que aconteceria no
século XX, durante o movimento concretista. No seu plano-piloto (1958), a Poesia
Concreta foi assim conceituada por Campos:
Poesia concreta: produto de uma evolução crítica de formas, dando por
encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia
concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente
estrutural, espaço qualificado: estrutura espácio-temporal, em vez de
desenvolvimento meramente temporístico-linear. (1975, p. 156)
Nesse período, autores como Décio Pignatari e Augusto de Campos,
exploraram a visualidade da poesia explicitamente, construindo imagens com letras
e palavras em uma poesia moderna, como podemos notar neste poema, que parece
uma retomada do poema de Símias de Rodes:
39
(Augusto de Campos, ”ovonovelo” (1955), Viva Vaia – Poesia – 1949-1979, São Paulo, Brasiliense, 1986, p. 94)
O poema acima apresenta seu texto disposto no formato sugerido pelo título
do poema “ovonovelo”. A temática também tangencia o nascimento e, além disso, o
autor, em todas as “estrofes” utiliza-se de palavras que fazem referência a
circunferências, como “ovo”, “centro”, “zero”, “ponto”, “nó”, “sol”.
No movimento concretista, então, são evidentes os traços da visualidade
que encontramos hoje nos ciberpoemas, inclusive levando-nos a refletir sobre o
conceito de poema. É o caso de uma das vertentes da poesia concreta: os poemas-
sem-palavras ou poemas semióticos que, apesar de não conterem elementos
verbais, têm aparecido em antologias e publicações ao lado dos poemas com
palavras. Um exemplo dessa vertente é outro poema de Augusto de Campos, “Olho
por Olho”, de 1964:
40
(CAMPOS, Augusto. (1964) Olho por Olho)
O poema é constituído por fortes representações imagéticas através de uma
pirâmide formada por fotografias de vários olhos, bocas e símbolos. Campos
diferencia esse tipo de texto da arte exclusivamente pictórica pela sua forte
intencionalidade semântica:
O mesmo ocorre com o poema visual “Olho por Olho”, que não necessita
de “chave léxica” explícita porque se compõe de signos extraídos da
realidade cotidiana: uma esteira de olhos arrancados a personagens
conhecidos conduz a um triângulo formado por sinais de trânsito, de
significado universal: à esquerda, tráfego proibido; no centro, siga em
frente; à direita, direção única à direita; e na vértice superior, termo da
viagem, o sinal geral de perigo. Esse poema “inqualificável” tem, pois, uma
semântica visível a olho nu. (1978, p. 86)
Além do suporte, a visualidade é o que torna um poema exibido em tela um
ciberpoema. É sua aparência, juntamente com seu movimento que o caracterizam e
nos mostram que não foi somente o suporte para a leitura que mudou, mas também
o modo de se fazer e ler poemas, que exige novas habilidades tanto por parte do
autor quanto do leitor, trazendo novos objetivos e ferramentas que o poeta recebe
para atingir o leitor.
41
3.1.2. A sonoridade da poesia
Os poemas surgiram juntamente com a música e, conforme comentamos,
eles foram inicialmente construídos para serem ouvidos, ou seja, os poemas eram
declamados e cantados entre os gregos, com o acompanhamento da lira,
instrumento musical de cordas, o que os levou a serem chamados de uma
composição lírica.
Em língua portuguesa, acredita-se que o primeiro registro gráfico de um
poema é do século XII, provavelmente do ano de 1198. Eram as cantigas cantadas
por trovadores ou menestréis enquanto acompanhadas pelo som de instrumentos
musicais como a flauta e a harpa.
Somente a partir do século XVI é que os poemas passaram a ser
considerados uma manifestação escrita. Mas, mesmo nesta sua representação
gráfica a sonoridade do poema pode ser recuperada, uma vez que através do jogo
de palavras, da pontuação, da divisão em versos, das aliterações, assonâncias e
rimas, o poeta é capaz de conduzir o ritmo e a entonação da leitura do poema.
Confirmando a força da sonoridade na poesia, a tradição de musicar e recitar
poemas é fértil em um país de poucos letrados como o Brasil, onde perdurou
intensamente até o início do século XX, uma vez que esta era a principal maneira de
veicular a poesia, pois o acesso aos livros era bastante limitado para a sociedade
brasileira da época, como relata Candido:
(...) Se as edições eram escassas, a serenata, o sarau e a reunião
multiplicavam a circulação do verso, recitado ou cantado. Desta maneira,
românticos e pós-românticos penetraram melhor na sociedade, graças a
públicos receptivos de auditores. E não esqueçamos que, para o homem
médio e do povo, em nosso século a encarnação suprema da inteligência e
da literatura foi um orador, Rui Barbosa (...) (1980, p. 84)
Ainda hoje, os saraus são comuns em eventos culturais inclusive nas grandes
cidades.
Para ilustrar os efeitos que a sonoridade agrega ao poema, aqui
transcrevemos e comentamos os tão conhecidos versos de Manuel Bandeira, de
“Trem de Ferro”:
42
Trem de ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão
Virge Maria que foi isso maquinista?
Agora sim
Café com pão
Agora sim
Café com pão
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
Oô..
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...
Vou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
43
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente..
(trem de ferro, trem de ferro)
(Manuel Bandeira, Estrela da Manhã in Poesia Completa e Prosa, Rio de Janeiro, J. Aguilar, 1967, p. 281-2)
No poema acima, por exemplo, que relata a experiência pessoal do eu – lírico
ao observar paisagens vistas da janela de um trem, a sonoridade é intensificada à
medida que ao se lerem os versos em voz alta, rapidamente e sem pausas, o som
que produzimos se assemelha ao de um trem de ferro. Tal efeito onomatopéico é
enfatizado pelo uso alternado de sílabas fortes e fracas nos versos “Café com pão”.
Além disso, os versos “Oô” que aparecem no início das estrofes nos remetem ao
som do apito do trem. Assim, as escolhas das palavras pelo poeta trazem
sonoridade ao poema.
Outro aspecto que chama atenção é a presença de cantigas no poema. A
partir da sexta estrofe, a musicalidade dos versos remete às canções folclóricas
populares.
A linguagem escrita representando graficamente a linguagem oral também
ressalta os aspectos sonoros do poema. Ao redigir “prendero”, ao invés de
prenderam, “canaviá”, ao invés de canavial e “oficiá”, ao invés de oficial, por
exemplo, o poeta reproduz o idioma falado por brasileiros de regiões interioranas.
Em carta a Mario de Andrade, o poeta Manuel Bandeira revela que esse
poema foi feito sob encomenda para o músico Camargo Guarnieri que dizia gostar
de musicar a poesia bandeiriana. Além dele, sabemos que outros, como Vieira
Brandão, também musicaram esse poema diversas vezes.
Aliás, para Manuel Bandeira, poesia e melodia sempre caminharam juntas,
pois “assim como certos poemas admitem pluralidade de sentido ou de
interpretações, em qualquer texto literário um infinito número de melodias
implícitas” (1998, p. 499).
Nos dias de hoje, a sonoridade ainda se manifesta de forma explícita na
poesia de cordel e dos cantadores do sertão, que declamam seus poemas com o
ritmo imposto pelas rimas e pela métrica de seus versos, acompanhados de suas
violas, além, é claro, dos elementos sonoros que observaremos adiante nas
construções ciberpoéticas.
44
3.1.3. O movimento e a sinestesia da poesia
A primeira vez que, em língua portuguesa, se viu um poema em movimento,
foi quando o poeta Ernesto Manuel de Melo e Castro apareceu em um festival de
poesia com uma faixa e a soltou gerando o movimento de pêndulo, apresentando
pela primeira vez o poema abaixo. Nesse momento, o mundo da poesia foi mais
uma vez revolucionado: o poema ganhava movimento.
9
(CASTRO, Ernesto Manuel de Melo, 1961)
Despertou-se então o interesse dos poetas em trabalhar também com esse
aspecto em seus poemas, o que, com a chegada dos poemas às telas e com o
surgimento de novos recursos de computação gráfica, se tornou tarefa menos difícil,
dando origem a novos estilos e gêneros poéticos, que assim são categorizados por
Denise Azevedo Duarte Guimarães:
Tipo 1. Cine-videopoesia Trata-se de uma linguagem próxima à do
cinema e da TV porque usa exclusivamente as câmeras. Nesse tipo de
poesia tecnológica, o verbal é associado às imagens, numa interação
contínua e motivada.
Tipo 2. Infopoesia ou computer poetry São produções poéticas
exclusivamente ligadas aos computadores, em que se enfatiza o uso de
computação gráfica.
(...)
Tipo 3. Poesia multimídia – São obras que (...) são exibidas tanto nos
monitores dos computadores como nas telas de cinema ou TV. Nesse
caso, consideramos que o termo poesia multimídia pode abranger as
9
LIMA, Vinicius Silva de. (2008) Poesia e Novas Tecnologias. In: Midiálogos: Revista Científica de
Comunicação. (http://www.ump.edu.br/midialogos/ed_02/)
45
situações atuais, nas quais se verifica a mescla de câmeras e recursos de
computação para criar textos poéticos a serem veiculados nos mais
diferentes meios. (2004, p. 205)
De acordo com a classificação acima, achamos conveniente ressaltar que as
produções poéticas digitais podem ser geradas em vários programas
computacionais. Podem ser construídos no Microsoft Power Point ou em programas
de animação como o Adobe Flash Player, porém quando temos textos poéticos que
se utilizam apenas de recursos cinematográficos é a cine-videopoesia que nos
referimos, não os considerando como ciberpoemas na presente análise.
Quanto ao movimento, notamos que ele encontra amplas possibilidades na
utilização de recursos tecnológicos que atualmente são matérias-primas para as
construções poéticas que chamamos de ciberpoemas.
Verificamos até agora, portanto, três aspectos sensoriais presentes em
construções poéticas: visualidade, sonoridade e movimento, aos quais se pode
acrescentar a sinestesia, efeito da combinação de elementos multisensoriais,
gerando uma nova concepção de percepção e leitura de poesia.
Ressaltamos que a sinestesia não é novidade dos ciberpoemas. O poema
“Trem de Ferro” de Manuel Bandeira, por exemplo, cuja sonoridade privilegiamos na
análise, apresenta a combinação de recursos sonoros, imagéticos e, também, de
movimento.
Nos versos da quinta estrofe, por exemplo, “passa ponte / passa poste /
passa pato / passa boi / passa boiada / passa galho / de ingazeira / debruçada”, fica
evidente a construção visual que o poema gera na mente do leitor. Além disso, a
alteração de oclusivas e a onomatopéia que reproduz o som do trem, juntamente
com as imagens fragmentadas sugeridas pelos versos remetem ao trem em
movimento enquanto o observador está rodeado de lembranças.
Esse poema, pois, combina a leitura imagética com os efeitos sonoros e com
as cantigas mencionadas, o que, em conjunto, nos remetem ao movimento do trem
e pode exemplificar o aspecto sinestésico de um poema publicado no papel.
Isto posto, e tendo em vista que a literatura infanto-juvenil talvez seja a
vertente que melhor tem recebido as inovações tecnológicas, talvez pela
familiaridade que a criança e o jovem têm com os meios digitais, discutiremos,
adiante, como tais aspectos visualidade, sonoridade, movimento e sinestesia
manifestam-se na obra poética infanto-juvenil do escritor Sérgio Capparelli.
46
4. LITERATURA E LITERATURA INFANTIL
“Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada.
Estudar é nada
O sol doira
Sem literatura.
(Fernando Pessoa)
10
Antonio Candido, em Literatura e Sociedade, nos leva a refletir sobre a função
social da literatura, uma vez que esta “depende, para se construir e caracterizar, do
entrelaçamento de vários fatores sociais” (1980, p. 12), sugerindo assim que o meio
tem grande influência sobre a obra produzida, bem como a obra também é capaz de
influenciar o meio, uma vez que em circulação, a obra literária tem grande influência
na sociedade que a lê.
Considerando assim que a obra literária é construída por um autor, que tem
condições de evocar imagens e idéias na mente do leitor, podemos considerar que
toda manifestação da literatura (bem como de outras formas de arte) é, de uma
forma ou de outra, agente transformador da sociedade pela qual circula.
Ao pensarmos na literatura infantil, tal hipótese é ainda mais evidente, pois o
autor, ao escrever para uma faixa etária peculiar, em fase de formação, com
pensamentos e opiniões bastante diferentes dos seus, deve valer-se de linguagem,
temas e recursos lingüísticos adequados a esse público específico.
Os primeiros textos infantis de que temos notícias, ainda que não fossem
classificados dessa maneira no momento de sua produção, são as fábulas.
A fábula é um gênero textual que apresenta como marca principal a lição de
moral que a constitui, moral essa que desperta determinados comportamentos em
seus leitores. Talvez daí tenha origem o caráter educativo dos textos destinados a
um público que, por ser tão jovem, ainda está formando suas opiniões e atitudes,
que são guiadas muitas vezes pelos textos que lêem.
10
PESSOA, Fernando. ‘Liberdade’. In:______. Obra Poética. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p.
188
47
Considerando-se que as crianças não escolhem os livros a que terão acesso,
mas, geralmente, quem o faz são os pais ou os programas de livros das escolas
11
, o
cunho pedagógico das obras de literatura infantil sempre foi valorizado, o que levou
à percepção da literatura infantil como um gênero que deve ensinar a seus jovens
leitores valores morais e conteúdos curriculares, como observamos em depoimento
de Olavo Bilac em texto de Advertência e Explicação sobre sua obra de leitura para
o curso médio das Escolas Primárias do Brasil:
(...) Além de servir de oportunidade para que o professor possa realizar as
suas lições, o livro de leitura deve conter em si mesmo uma grande lição.
(...)
E também quisemos que este livro seja uma grande lição de energia, em
grandes lances de afeto. Suscitar a coragem, harmonizar os esforços e
cultivar a bondade eis a fórmula da educação humana. (...) (1931, pp. V-
VIII)
Os objetivos pedagógicos das obras de literatura infantil fizeram com que
estas fossem objeto de estudo muito mais de pedagogos e profissionais da área da
educação do que de críticos literários, o que favorece a por assim dizer -
desqualificação artística dessas obras, bem como a uma curiosa superposição de
livros escolares e livros recreativos.
Cria-se assim uma dicotomia na literatura infantil que envolve a escrita dessas
obras como simultaneamente didáticas e artísticas, o que requer habilidades de
seus escritores que não subestimem a capacidade intelectual e criativa de seus
jovens leitores.
Para que isso seja possível, o escritor Jeronymo Monteiro já sugeriu em
ensaio intitulado Leituras para Menores, publicado no jornal O Estado de S. Paulo
em 13 de agosto de 1941, que a literatura infantil deve apresentar a moral implícita,
através de personagens evolvidas em problemas e situações que levem a criança a
concluir a moralidade presente na história:
É aí, nessas narrativas vivas e movimentadas, onde os homens são
atirados em grandes lutas, que a criança pode beber os ensinamentos de
moral, de um modo perfeitamente prático e único, capaz de lhe penetrar o
entendimento. É que ela grava na mente, de modo preciso, o que se
deve e o que não se deve fazer, acumulando o material que lhe servirá
pela vida afora porque esses ensinamentos não lhe são ministrados sob
11
Para conhecer sobre o principal programa de escolha de livros das escolas públicas brasileiras, o
PNBE, ver apêndice, bem como o acervo disponível em Anexo.
48
a forma de conselhos nem de axiomas, mas sob o aspecto eficiente e
convincente de exemplos movimentados e vibrantes. (1941)
12
Assim, sugerimos aqui que a literatura que irá atrair as crianças será aquela
que fala da fantasia, do inimaginável que se torna imaginável somente no
pensamento de quem ainda não tem barreiras na capacidade criativa, que brinca
com as palavras e com os sentidos, além de possibilitar maiores reflexões e
curiosidades. Encontramos essas características em textos de sucesso de autores
consagrados como Ziraldo, Ruth Rocha, Ângela Lago, Ana Maria Machado e, na
poesia, é bastante evidente o caso do autor estudado neste trabalho, Sergio
Capparelli.
4.1. PERCURSO HISTÓRICO DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA:
ALGUNS CENÁRIOS
A literatura infantil, se considerarmos suas manifestações orais, sempre
existiu. A arte de contar histórias, existente em todas as culturas, perpetua-se no
tempo, levando as mesmas narrativas de gerações para gerações. Com o tempo,
muitas dessas histórias foram publicadas em livros, o que envolve autores que
assinam seus textos e querem reconhecimento por isso, editores que divulgam
obras atribuindo-lhes valor econômico e leitores que sentem prazer em ver histórias
que os encantaram materializadas em suas mãos. São esses elementos que fizeram
com que a literatura infantil se tornasse parte de um sistema literário.
No Brasil, por muito tempo, os livros destinados às crianças e utilizados nas
escolas eram de origem européia.
A literatura infantil teve seus primeiros indícios no Brasil com as traduções de
clássicos da literatura universal, como Contos Seletos das Mil e Uma Noites (1882),
Robinson Crusoé (1885) e Viagens de Gulliver (1888), feitas por Carlos Jansen e
elogiadas por Machado de Assis e Sílvio Romero.
12
Apud ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças – Para conhecer a literatura
infantil brasileira: histórias, autores e textos. 2. ed. São Paulo: Global Universitária, 1988.
49
Somente no fim do século XIX é que aparecem indícios da formação de uma
literatura infantil brasileira, que tem sua formação intimamente atrelada aos eventos
políticos e econômicos da história do país, conforme veremos a seguir.
13
Nossa literatura infantil teve como seus precursores Julia Lopes de Almeida,
que lança Contos Infantis em 1886, Figueiredo Pimentel, com Contos de Fadas;
Histórias da Avozinha; Histórias da Baratinha (1896) e Álbum das Crianças; A
Queda de um Anjo; Teatrinho Infantil (1897) e Zalina Rolim, com Livro das Crianças
(1897)
14
.
Seus temas, inicialmente, buscavam evocar nas crianças pensamentos e
sentimentos que os adultos almejavam que elas tivessem, construindo através da
leitura uma forma de manipulação do comportamento infantil. Dentre tais temas,
fazem-se presentes o civismo, a importância dos estudos, normas de convivência e
o respeito aos mais velhos.
15
São, assim, de natureza política e patriótica os temas
trabalhados nas primeiras obras dedicadas ao público infantil brasileiro, como
podemos notar no poema abaixo de Zalina Rolim, publicado em O Livro das
Crianças, de 1897:
Em Caminho
(Zalina Rolim)
Sou filha de lavradores;
Moro longe da cidade;
Amo os pássaros e as flores
E tenho oito anos de idade.
Quereis seguir-me à campina?
A tarde convida e chama,
O calor do sol declina,
E o horizonte é um panorama.
Neste samburá de vime
Levo cousa apetitosa;
Mas, ai! Que ninguém se anime
A meter-lhe a mão curiosa.
É o jantar do papaizinho;
Manjares de fino gosto;
Carne, legumes, toucinho,
Tudo fresco e bem disposto.
Papai trabalha na roça;
E o campo e os ares explora
Da vista aguda num lanço.
Depois, nos ombros a enxada,
Abraça a Mamãe, sorrindo,
Beija-me a face rosada
E vai-se ao labor infindo.
Em casa também se lida
Daqui, dali, todo o instante,
Que o trabalho é lei da vida
E nada tem de humilhante.
Depois do trabalho, estudo;
Abro os meus livros e leio;
Eles me falam de tudo
O que eu desejo e receio.
Contam-me histórias bonitas,
Falam da terra e dos ares,
De vastidões infinitas,
De rios, campos e mares.
13
LAJOLO, Marisa. ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira – História e Histórias. São
Paulo: Ática, 1987.
14
ZILBERMAN, Regina. LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças. São Paulo: Global, 1986.
15
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira História e Histórias. São
Paulo: Ática, 1987.
50
O dia inteiro labuta;
Tem a pele rija e grossa
E a alma afeita à grande luta.
Mas leal, franco, modesto
Como ele, não há no mundo:
Vive do trabalho honesto,
Cavando o solo fecundo.
Acorda ao nascer da aurora,
Abre a janela de manso,
Mamãe diz que são modelos
De amigos leais e finos;
Que a gente deve atendê-los
Como aos maternais ensinos.
E agora, adeus, até breve.
Eis-me de novo a caminho:
Não esfrie o vento leve
O jantar do meu paizinho.
(ROLIM, Zalina. O livro das Crianças. Boston: C.F.
Hammett & Co., 1897)
Neste poema, o eu - lírico, uma criança de oito anos, narra suas atividades
rotineiras, retratando uma família modelo: pai trabalhador, mãe dedicada, filha
estudiosa e obediente convivendo harmoniosamente em um ambiente rural que
passa a sensação de paz e tranquilidade.
Regulamentando comportamentos, ao falar de livros, o poema nos mostra a
literatura se auto-divulgando, buscando convencer o leitor do valor positivo da
leitura.
A criança, ao ler no poema uma situação ideal, a quer para si e, para isso,
supõe-se que buscará reproduzir o comportamento do eu - rico, sendo também
uma criança dedicada, amorosa e estudiosa.
Em um país com poucos letrados, aonde a literatura tradicional de adultos
não dispunha de amplas possibilidades de divulgação e comercialização, também
exíguo era o mercado da literatura infantil, o que foi um dos fatores que fez com que
essa vertente fosse divulgada exclusivamente na escola, fato que reforça o propósito
educativo de seus textos. Sendo assim, sempre foi uma preocupação da escola
atrair a criança para o mundo da leitura, que foi considerada um instrumento de
acesso ao saber, além de trazer status. Porém, ao utilizar a literatura como
ferramenta de regulamentação do comportamento das crianças, a única coisa que a
escola conseguiu foi afastá-las deste universo de histórias e fantasia.
Monteiro Lobato (1969) em ensaio intitulado Os Livros Fundamentais alerta
sobre o efeito inverso que tais obras têm na formação de crianças leitoras. De
acordo com Lobato, tais obras não fazem nada além de distanciar as crianças da
51
leitura, fazendo-as associar os livros infantis a leituras cívicas e patriotas,
considerando a leitura uma atividade entediante e uma forma de castigo.
16
Ao tempo do Modernismo (1920 1945)
17
, as inovações tecnológicas
contribuem para a divulgação e para difusão da cultura letrada no país.
Nessa época, Monteiro Lobato foi um dos primeiros escritores brasileiros a
produzir uma literatura verdadeiramente infantil. O autor, que é considerado por
muitos críticos literários e educadores como o maior escritor da literatura infantil
brasileira, acreditava em uma literatura feita para crianças que considerasse a
receptividade dessas para com a obra, buscando uma linguagem próxima da
criança, para não deixar o texto enfadonho. Em carta a Godofredo Rangel, Lobato
expressa sua angústia em tirar a literariedade de seus textos para aproximá-los das
crianças leitoras:
Não imaginas a minha luta para extirpar a literatura dos meus livros
infantis. A cada revisão nova nas novas edições, mato, como quem mata
pulgas, todas as “literaturas” que ainda as estragam. (1945)
18
Para o autor, os textos infantis deveriam utilizar-se de uma linguagem próxima
a da criança a fim de que ela se familiarize com elee e aceite-os de maneira positiva.
Mais tarde, no período de 1945 a 1965, quando ocorreu a era Getulio Vargas,
abrem-se novas vertentes na literatura brasileira com o surgimento de vanguardas
como as da poesia concreta, que aqui comentamos, e o romance experimental,
que, por sua vez, abrem novos caminhos para a literatura infantil. O espaço rural
deixa der ser o ambiente privilegiado nesses textos, aparecendo apenas como um
local de origem, para dar espaço à transição do rural para o urbano, uma vez que as
personagens das obras desse período largam o espaço rural para tentar melhores
condições em novos lugares.
Outra presença que começa a insinuar-se na literatura infantil dessa época é
a do indígena, sugerindo em alguns textos a busca de uma cultura própria do Brasil,
como ilustra a obra de Donato:
16
LOBATO, Monteiro. Os Livros Fundamentais. In: _______. A Onda Verde. O Presidente Negro. São
Paulo: Brasiliense, 1964. p. 83-88.
17
ZILBERMAN, Regina. LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças – Para conhecer a literatura
infantil brasileira: histórias, autores e textos. 2. ed. São Paulo: Global Universitária, 1988.
18
Apud ZILBERMAN, Regina; LAJOLO, Marisa. Um Brasil para Crianças – Para conhecer a literatura
infantil brasileira: histórias, autores e textos. 2. ed. São Paulo: Global Universitária, 1988.
52
No começo do mundo, os índios apapocuvas não sabiam acender o fogo.
O que era muito ruim. Eram obrigados a comer alimentos crus, padeciam
frio durante o inverno e passavam as noites no escuro.
Fogo, existia para os urubus. De tanto voarem no alto, acima das
nuvens, haviam descoberto o segredo da imensa fogueira que é o Sol. E,
num dia não muito claro, levaram algumas brasas para casa. Tomavam
conta delas com muito zelo.
Ninguém que não fosse urubu jamais chegara perto das brasas. Os
homens queriam, eles não davam; os animais do campo pediam, eles
negavam; os pássaros queriam, eles recusavam.
O aborrecimento dos homens era enorme. Foi quando Nhanderiquei, o
herói apapocuva, voltou de uma viagem. Valente, forte, esperto, havia
prestado muitos e grandes serviços à tribo. (...) (1982, p. 23)
Podemos notar que o trecho acima é uma lenda indígena que narra o
surgimento do fogo. História que valoriza os mitos e lendas do povo brasileiro,
remetendo à busca pela identidade de nossa literatura infantil.
A partir da segunda metade do século XX, a literatura infantil ganhou força,
passando a ser mais intensamente comercializada, o que ampliou a quantidade de
publicações de livros para crianças, bem como a diversidade de gêneros presentes
nessas obras, incluindo desde a poesia até textos policiais e de ficção científica.
Com a existência de um público consolidado para a literatura infantil, que
ainda se confundia com a população escolar, ainda era forte a representação da
escola nessas histórias, que deixam de uma vez por todas o espaço rural para se
ambientar nos centros urbanos, aonde é revelada uma nova personagem criança,
representada como um ser crítico, inquieto, atuante, como podemos notar no
fragmento abaixo da obra de Ruth Rocha:
- Uma vez, Marcelo cismou com o nome das coisas:
- Mamãe, por que é que eu me chamo Marcelo?
- Ora, Marcelo, foi o nome que eu e seu pai escolhemos.
- E por que é que não escolheram martelo?
- Ah, meu filho, martelo não é nome de gente! É nome de ferramenta...
- E por que é que não escolheram marmelo?
- Porque marmelo é nome de fruta, menino!
- E a fruta não podia chamar Marcelo, e eu chamar marmelo? (1982, p. 9)
Na contemporaneidade, com as novas oportunidades e desafios propostos
pelo século XXI, notamos a busca pelo caráter menos pedagógico e mais artístico
da literatura infantil. De acordo com Gregorin Filho:
Autores como Pedro Bandeira, Carlos Queiroz Telles, Lúcia Pimentel Góes
e Roseana Murray, entre outros, trazem essas vozes das crianças e o
universo cotidiano com seus conflitos para serem lidos, vistos, sentidos e
vivenciados na literatura infantil de hoje, conflitos esses levados às
crianças com uma proposta de diálogo, não somente de imposição de
53
valores, por meio de uma literatura que busca a arte, sua característica
primeira e que procura cada vez mais trazer à tona as discussões sobre a
identidade complexa do povo brasileiro, com todas as nuanças formadoras
de nossa cultural plural. (2006, p. 191)
Porém, a análise de catálogos de divulgação das editoras
19
aponta que ainda
é bastante visível o perfil escolar das obras da nossa literatura infantil, uma vez que
esses catálogos apresentam seus títulos aos professores e à escola de maneira
segmentada, dividida por séries e faixas etárias, além de oferecer aos professores
que irão adotar essas obras “assessoria pedagógica”, “roteiro pedagógico de leitura”,
“projetos pedagógicos”, como se, de alguma maneira, fosse possível levar
professores e alunos a trilharem leituras únicas, ditas como corretas. Frases como
“leituras irresistíveis que certamente irão fisgar os mais jovens” ou “a coleção PARA
GOSTAR DE LER JUNIOR guia os leitores iniciantes nas primeiras viagens ao
mundo da literatura” demonstram a crença em uma literatura infantil que serve de
resgate para trazer as crianças para o mundo dos livros, libertando-as de outras
leituras menos valorizadas socialmente.
19
O catálogo aqui analisado foi a versão 2005/2006 de divulgação das obras da editora Ática.
54
(Fig. 5 – Catálogo de divulgação de obras da Editora Ática 2005/2006)
Além dessas mudanças, no século XXI há uma pluralização de suportes,
espaços e objetivos de leitura, que dão origem a novos gêneros textuais que
parecem ser discriminados pelos adultos (geralmente pais e professores) que
orientam o conteúdo ao qual a criança teacesso. É muito recente, por exemplo, a
aceitação das histórias em quadrinhos nas escolas brasileiras, que foram
consideradas um gênero textual marginalizado, pois se acreditava nas imagens
enquanto facilitadoras do ato da leitura, o que implica ao entendimento de que esta
era uma leitura mais fácil e, portanto, o haveria rito nenhum ao leitor que se
interessasse por ela.
Através deste brevíssimo percurso histórico da literatura infantil brasileira,
podemos notar que prevalecem em nosso contexto as obras que foram construídas
para ser trabalhadas e divulgadas pela escola, o que é natural, uma vez que uma
obra adotada por essas instituições terá uma grande tiragem e muitas vendas,
implicando num considerável valor econômico para as editoras, gráficas e escritores.
Esse fato fez com que muitos textos infantis acabassem por banalizando a
55
capacidade de reflexão da criança por meio de lições de moral e imposições nem
sempre coerentes.
4.2. A POESIA E AS CRIANÇAS
Na poesia, dentre as primeiras publicações dedicadas às crianças brasileira
destaca-se o livro Poesias Infantis de Olavo Bilac, em 1904.
Assim como os outros gêneros da literatura infantil, a poesia também
apresentava cunho pedagógico, buscando normatizar comportamentos futuros de
seus jovens leitores, como notamos no poema abaixo:
A PÁTRIA
Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste!
Criança! Não verás nenhum país como este!
Olha que céu! Que mar! Que rios! Que floresta!
A Natureza, aqui perpetuamente em festa,
É um seio de mãe a transbordar carinhos.
Vê que a vida há no chão! Vê que vida há nos ninhos,
Que se balançam no ar, entre os ramos inquietos!
Vê que luz, que calor, que multidão de insetos!
Vê que grande extensão de matas, onde impera
Fecunda e luminosa, a eterna primavera!
Boa terra! Jamais negou a quem trabalha
O pão que mata a fome, o teto que agasalha...
Quem com o seu suor a fecunda e umedece,
Vê pago o seu esforço, e é feliz, e enriquece.
Criança! Não verás nenhum país como este!
Imita na grandeza a terra em que nasceste!
(BILAC, Olavo. Poesias Infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1949)
Como podemos notar, o poema acima apresenta uma linguagem bastante
rebuscada para uma criança e lhe conselhos e orientações que evidenciam o
patriotismo da poesia de Bilac.
Tal tendência se prolonga a1941, como podemos ver no trecho abaixo do
poema O Sonho de Marina, escrito por Guilherme de Almeida, que ilustra a longa
duração da atitude pedagogizante do texto literário:
Todos sabem que Marina
É muito boa menina,
56
Embora tal não pareça,
Porque é um pouquinho travessa...
Estudiosa, comportada,
Anda sempre muito asseada,
Ouve a mamãe, não reclama,
Vai cedinho para a cama.
(...)
(ALMEIDA, Guilherme de. O Sonho de Marina. São Paulo: Melhoramentos)
Como comentamos, textos para instruir, na verdade, pouco instruem, uma
vez que a criança é capaz de perceber um caráter interesseiro na literatura, que
poda sua imaginação e a afasta do mundo da poesia.
Outro tema trabalhado exacerbadamente na poesia infantil presente nos livros
adotados pela escola era o patriotismo. Como vimos no poema de Bilac, versos que
exaltam a pátria, colocando-a em posição gloriosa, são comuns nos poemas
presentes nas leituras obrigatórias das crianças que estudavam na primeira metade
do século XX.
Acreditamos, porém, que tal característica afasta e distancia a criança do
prazer pela leitura de poemas, como podemos observar no relato do poeta Sérgio
Capparelli, cujos textos serão analisados neste trabalho:
Mais tarde perdemos o interesse pela poesia. No meu caso, quando entrei
na escola e os professores me obrigavam a decorar longos e aborrecidos
versos falando de higiene e de datas festivas. Poesia tinha virado então
sinônimo de obrigação, distanciando-se do prazer e da descoberta. Nessa
época nos vingávamos inventando e descobrindo versos sujos, feitos de
beco de rua. (2008, p. 140)
Assim, podemos notar o tratamento costumeiramente dado à linguagem
poética na escola, onde os poemas são textos sacralizados que devem ser lidos em
ocasiões especiais (dia dos pais, formatura, feriado da independência do Brasil),
sempre para homenagear algo ou alguém, ou, sob outra perspectiva, são textos que,
por trabalharem intensamente com a linguagem, servem de pretexto para minuciosa
análise lingüística, estudos gramaticais, retóricos e estilísticos, além de serem
estudadas suas referências histórico-literárias.
De acordo com o acima exposto, percebemos a necessidade da escrita
imaginativa para a poesia infantil, pois as crianças se prendem a textos que as
levem à reflexão e compreendam que não há barreiras em suas mentes capazes de
pôr limites à sua imaginação.
57
Porém, aparentemente, a partir da segunda metade do século XX, mais
especificamente após a década de 60, abriram-se novos paradigmas na poesia para
crianças. Com poetas como Cecília Meireles, Sidônio Muralha e Vinícius de Morais,
a poesia infantil parece começar a preocupar-se em conhecer o seu leitor para falar
a língua dele, levando os poemas para crianças a desprenderem-se da “pedagogia
de valores tradicionais” para vincularem-se à brincadeira, ao prazer, ao lúdico,
trazendo liberdade a suas estruturas, utilizando-se de recursos lingüísticos para
torná-los atraentes, divertidos e engraçados, criando um universo fantástico e quase
surrealista
20
. O poema A Casa, de Vinícius de Moraes, apresenta essa liberdade de
criação em seu conteúdo:
A Casa
Era uma casa
Muito engraçada
Não tinha teto
Não tinha nada
Ninguém podia
Entrar nela não
Porque na casa
Não tinha chão
Ninguém podia
Dormir na rede
Porque na casa
Não tinha parede
Ninguém podia
Fazer pipi
Porque penico
Não tinha ali
Mas era feita
Com muito esmero
Na rua dos Bobos
Número zero
(MORAIS, Vinícius de. A Casa, In: A Arca de Noé. Rio de Janeiro: Sabiá, 1974)
Este poema, por ter tão forte sonoridade - o que o levou a ganhar versão
musical - está incorporado pelo imaginário infantil brasileiro como uma cantiga de
roda, sendo um dos poemas infantis mais populares entre as crianças de várias
gerações desde a sua publicação. A casa que o autor descreve revela o inesperado,
20
LAJOLO, Marisa e ZILBERMAN, Regina. (1987) Literatura Infantil Brasileira História e Histórias.
São Paulo: Ática.
58
causa estranhamento e incita a brincadeira, por isso perdura no tempo como um dos
favoritos entre o público infantil.
Os recursos de linguagem que envolvem ritmo, como a aliteração, as
onomatopéias, as rimas, são os favoritos para aproximarem a poesia da brincadeira,
da cantiga, da alegria do universo infantil, como podemos ilustrar com o poema
Colar de Carolina, de Cecília Meireles:
Colar de Carolina
Com seu colar de coral
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.
O colar de Carolina
Colore o colo de cal
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
(MEIRELES, Cecília. Colar de Carolina. In: _______ Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1972)
Neste poema, Cecília Meireles abusa de recursos sonoros. A aliteração das
letras c e l e a assonância das vogais a, i e o levam a um som repetitivo que remete
a uma escie de decomposição do nome da menina Carolina. Essa aliteração
intensifica o caráter lúdico da poesia infantil, pois no momento de sua leitura, a
criança brinca, assemelhando o poema aos trava-línguas, brincadeiras desafiadoras
em textos curtos e de difícil pronúncia.
A visualidade é outro recurso que atrai as crianças para a poesia. A ilustração
ou a forma do poema ajudam o jovem e inexperiente leitor a atribuir sentidos aos
textos que lê, como notamos nas duas versões abaixo do poema Um Ovo, de Sérgio
Capparelli:
59
(Fig. 6 e Fig. 7: Duas versões do poema Um Ovo de Sérgio Capparelli)
Na literatura infantil, a ilustração anda sempre juntamente com o texto,
ajudando a criança a inferir informações e possíveis interpretações dos textos que
lê. Nos exemplos acima, uma leitura linear dos textos levaria à perda do sentido do
poema, porém, através do recurso visual, o poeta leva a reflexão sobre a
comemoração da Páscoa, brincando com a mesmice dos presentes de datas que
acabaram por se tornar comerciais.
Na ilustração da esquerda, de Alcy, o poema está mais colorido, sugerindo
uma leitura menos séria e mais pictórica. O poema à direita, ilustrado por Ana
Claudia Gruszynski pelo forte contraste entre preto e branco, nos remete aos
poemas concretos da década de 50, oferecendo uma interpretação que leva à
relação dialógica entre este poema e as estrofes de Ovonovelo de Augusto de
Campos, analisadas no capítulo 2 do presente trabalho.
Na melhor poesia infantil do século XXI, poesia é brincadeira, um jogo de
palavras no qual as crianças encontram a liberdade de concretizar na linguagem
escrita tudo o que a imaginação permitir, com originalidade e humor, como pode ser
exemplificado novamente através da obra de Sérgio Capparelli:
Um Elefante no Nariz
Se acha perigoso
Um elefante no nariz,
Pense bem:
60
Muito pior
Quando ele perde o equilíbrio
E solta um pum.
(CAPPARELLI, Sergio. Um Elefante no Nariz. Porto Alegre: LePM, 2000)
Neste bem-humorado poema, Sergio Capparelli, como faz habitualmente,
diverte a criança por meio da descrição de uma situação impossível: um elefante no
nariz.
Através da análise que levanta alguns aspectos da construção poética infantil
aqui apontados, procuramos discutir alguns dos rumos assumidos pela poesia,
sugerindo que esses textos, que prevêem o comportamento do leitor criança e são
bem recebidos por elas, são os que mais se aproximam da representação de uma
literatura infantil realmente feita para as crianças.
4.3. NOVAS PERSPECTIVAS DA LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Vivemos, nesta primeira década do século XXI, uma fase de transição que
proporciona novos caminhos para a literatura e, em especial, para a literatura
infantil. Dizemos em especial porque sugerimos neste trabalho que as inovações
trazidas ao universo literário têm causas e efeitos diferenciados e mais evidentes
quando falamos da literatura infantil.
A noção de leitura como um hábito visto sempre de maneira positiva, que leva
ao aprendizado, à inteligência e agrega status intelectual ao leitor, que deve
consumir obras dos mais variados temas e gêneros para adquirir um amplo e vasto
repertório de leituras, faz com que incontáveis produções literárias que prometem
despertar o gosto da criança pelo prazer da leitura sejam elaboradas, utilizando-se
dos mais variados recursos gráficos e lingüísticos.
Somando a isso as modificações que as tecnologias m trazido ao universo
literário e o intenso interesse das crianças pelas novas tecnologias, que oferecem
múltiplos caminhos e possibilidades para as criações literárias, alguns autores
decidem investir nos computadores como suporte para publicação de seus textos.
Autores como Ziraldo e Ruth Rocha, que estrearam na literatura muito antes
da popularização dessas novas tecnologias, disponibilizaram na internet algumas de
suas obras completas no formato e-book.
61
No caso de O Menino Maluquinho, obra publicada em livro em 1980, a história
e as ilustrações são as mesmas publicadas em livros e, para virar as “páginas”,
herdadas do livro impresso, a criança deve clicar nos foguetes da direita para seguir
adiante e no da esquerda para voltar.
(Fig. 8: Primeira página da versão eletrônica do livro O Menino Maluquinho, de Ziraldo. Fonte:
http://www.ziraldo.com.br)
Para essa tradicional personagem de Ziraldo há também um site interativo, no
qual a criança encontra links para piadas, tirinhas, curiosidades, jogos etc.
Da mesma maneira, Ruth Rocha disponibilizou on-line o livro “Quem tem
Medo de Ridículo?”, publicado originalmente em livro em 2002:
62
(Fig. 9: Versão eletrônica do livro Quem tem Medo de Ridículo? De Ruth Rocha. Fonte:
http://www2.uol.com.br/ruthrocha/livros.htm)
Outros autores, como Sérgio Capparelli, criam versões eletrônicas de seus
textos publicados em livro, que ganham versões mais vivas e interativas, com
movimento e sonorizações. Seu site http://www.ciberpoesia.com.br, objeto de
análise deste trabalho, é um novo suporte para a publicação de uma nova poesia
infantil:
(Fig. 10: Site de ciberpoesia de Sérgio Capparelli – Fonte: HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
63
Na tentativa de aproximar tecnologia, leitura e literatura, alguns escritores até
mesmo fazem o caminho inverso, ou seja, publicam em livro textos impressos que
possuem diagramação, formatação e requerem estratégias de leitura utilizadas no
computador e no hipertexto, tentando com isso talvez a aproximação entre o jovem
leitor da tela e o mundo dos livros.
Luís Dill, em “Todos Contra Dante”, divide sua narrativa em links, que
aparecem como pequenos quadros de avisos, blogs, diálogos e comunidades de
redes sociais, que sinalizam quando o leitor deve interromper sua leitura para
verificar informações nos links:
(Fig. 11: Página do livro Todos Contra Dante de Luis Dill)
(Fig. 12: Página do livro Todos Contra Dante de Luis Dill)
A história, que tem como tema o bullying e fala sobre discriminação e
preconceito, refere-se a uma aventura de adolescentes que se envolvem num crime
64
que começou como uma brincadeira de criança através de comentários em redes
sociais da internet e acaba com a morte do protagonista Dante, adolescente de treze
anos que, em seu blog, fala de suas angústias, sempre estabelecendo relações
entre sua vida e seus anseios e a obra de Dante Alighieri, “A Divina Comédia”, que
tem seus trechos inseridos como links na história, o que explica a formatação do
texto.
Além disso, podemos notar que a preocupação do autor em envolver o
jovem leitor utilizando uma formatação que é muito mais familiar à geração de
leitores do século XXI do que o livro.
Apesar de o jovem de hoje interagir pouco com os livros, acreditamos que ele
tem acesso a muita informação nos ambientes virtuais e as redes de relacionamento
são muito freqüentadas por eles, que as utilizam de maneira positiva ou negativa,
como é o caso da história de “Todos Contra Dante”.
Assim, essa narrativa proporciona a identificação do leitor com a obra, fator
fundamental para despertar o gosto da criança e do adolescente pela leitura, ao
mesmo tempo em que apresenta ao leitor o clássico da literatura universal “A Divina
Comédia” de Dante Alighieri, autor xará do protagonista da história, com o qual ele
se identifica.
o livro “Perdidos no Ciberespaço”, de Leo Cunha, apresenta uma
interessante formatação. Primeiramente, porque é um poema que trata de um eu -
lírico que está perdido em ambientes virtuais. Segundo, porque trabalha questões da
linguagem virtual com o leitor, informando-o, inclusive, dos aspectos e
características de textos que circulam em ambientes cibernéticos. Mas,
principalmente, por fazer a tentativa de interação do leitor com o texto, pedindo a ele
que complete a história, como vemos nas páginas abaixo:
65
(Fig. 13: Página do livro Perdidos no Ciberespaço de Léo Cunha)
Através da leitura dessa obra, podemos sugerir que, além de trazer para o
livro um leitor das telas, o autor também consegue levar para as telas eventuais
leitores de livros, uma vez que o introduz no ciberespaço e no mundo da
comunicação virtual.
As ilustrações de Guto Lins provocam uma leitura em que texto e imagem
dialogam e interagem, facilitando as percepções do leitor e trazendo as fortes
percepções imagéticas típicas do computador materializadas no papel.
Devemos ressaltar também a intertextualidade que o autor constrói com
contos de fada, como João e o Pé-de-feijão, além de clássicos da literatura
universal, como Dom Quixote e Alice no País das Maravilhas.
Bem sabemos que para discutir literatura da perspectiva do leitor, enfatizando
a hipótese de que é ele quem constrói os sentidos e a interpretação do texto, seria
interessante levar em consideração os gostos, as reações e os efeitos da literatura
infantil manifestadas pela própria criança e que, para tanto, seria bastante produtivo
um projeto ditico que servisse como apoio à análise do comportamento da criança
diante dos novos e dos velhos suportes de leitura de poesia (conforme Apêndice).
No entanto, foi impossível levar a cabo tal projeto no prazo necessário para que
seus resultados fossem incorporados neste trabalho.
66
É do cenário da literatura digital aqui delineado que nos deteremos agora na
análise de alguns textos de Sérgio Capparelli cuja facilidade de trânsito entre livro e
internet torna-o um autor importante para os pontos que esta dissertação aborda.
67
5. A CIBERPOESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI: ESTUDO DE CASO
“Com o passar do tempo, a gente percebe que o autor não está do lado de cá e o leitor do lado de lá.
Que o que foi lido não veio do mundo. Que a vila onde nasci, em Uberlândia, e o cerrado dos campos
gerais, que me fascinava, ocupam um todo que é único. Nesse sentido, o não é o outro rosto do sim.
E que todo autor vive sempre os miasmas e as iluminações de seu tempo.” (Sérgio Capparelli)
21
Sérgio Capparelli é um escritor que bem ilustra os efeitos que as revoluções
tecnológicas ocorridas no final do culo XX trouxeram para a poesia infantil.
Transitando entre livro e tela, o poeta preserva marcas de seus poemas em livros
em seus ciberpoemas e vice-versa.
Para analisar tais efeitos, iniciaremos por uma biografia do autor, que nos
apresentará alguns dos motivos que podem ter sido facilitadores para a construção
de uma poesia infantil híbrida e, então, analisaremos algumas de suas obras
poéticas em livros e em sites, que transitam entre si, absorvendo aspectos inerentes
a um ou outro suporte em sua construção.
5.1. SÉRGIO CAPPARELLI – UM POETA PARA AS CRIAAS
Nascido em Uberlândia no dia 11 de julho de 1947, o mineiro Sérgio
Capparelli é um dos mais importantes poetas da literatura infantil brasileira na
atualidade.
Seu interesse pela leitura pode ter surgido devido à influência de seu pai, que
era “comerciante, caixeiro-viajante e guarda-livros”:
“Meu pai”, diz Sérgio, tinha estudado em um seminário, até quase se
ordenar padre. Por isso, apesar de morar no interior de Minas Gerais, era
um homem culto. Nunca perdeu o interesse por línguas e por filosofia. Ele
lia Voltaire, Bérgson, Goethe e Mecânica de Automóveis. Pouco antes de
morrer, tinha acabado de decorar um dicionário de bolso de inglês e
começava a decorar um grosso dicionário de alemão. Talvez achasse que
inglês e alemão fossem exigidos no paraíso, apesar de agnóstico.
(HTTP://www.capparelli.com.br)
21
HTTP://www.capparelli.com.br
68
no livro 33 Ciberpoemas e Uma bula Virtual, dedicado à tia Maria, “que
escondia os russos em um armário”, o poeta nos revela em seus versos a influência
que essa tia teve na sua formação leitora:
“Mas foi tia Maria que me ensinou a ler.
Me emprestou Dostoievski, Machado e Fernando Pessoa antes dos doze.
Escondia livros num armário metálico, marca Vesúvio,
“Pavel devia matar Strelnikov?”,
Vinha ela fiscalizar minhas leituras.
Depois, pensativa, trancava os russos no armário
E escondia a chave entre os seios.
“Devia ou não devia?”
Até hoje não sei.”
(CAPPARELLI, Sérgio. Um Clique Duplo In: 33 Ciberpoemas e uma Fábula Virtual.
Porto Alegre: L&PM, 1996)
Tempos depois, ao mudar-se para Porto Alegre, rgio Capparelli ingressou
na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (instituição onde hoje é professor
aposentado do programa de pós-graduação em Comunicação) no Centro de Arte
Dramática, porém, mais tarde, pediu transferência para o curso de jornalismo. Ao
terminar o curso, em 1970, Sérgio embarca para Europa, onde se inscreve para o
doutorado na Universidade de Paris II.
O primeiro livro infantil de Sérgio Capparelli foi Os Meninos da Rua da Praia,
publicado em 1978, coincidentemente, no ano em que nasceu sua primeira filha,
Lívia Capparelli. A boa aceitação desse livro levou o autor a escrever outros
destinados a esse público. Seu segundo livro, Boi da Cara Preta, publicado em
1981, era um livro de poemas destinados às crianças.
Em 1983, nasce o segundo filho de Capparelli, Daniel. Além do nascimento
do filho, esse ano é marcado pela morte de sua esposa Eva.
A partir de então, Capparelli leva sua vida entre idas e vindas do Brasil para a
Europa, onde estudou, fez doutorado e dois pós-doutorados, pesquisou e se inspirou
para a criação de diversas de suas obras.
Chamam atenção na produção artística de Capparelli, suas obras de poemas
para crianças. Os versos do autor respeitam a inteligência e a perspicácia do público
infantil, estimulando a capacidade reflexiva das crianças que os lêem. Segue no
quadro abaixo sua produção bibliográfica desde 1973:
TÍTULO ANO GÊNERO
Favela S.A. 1973 Novela
Andrômeda 1977 Novela
69
Comunicação de Massa sem Massa 1979 Ensaio
Os Meninos da Rua da Praia 1979 Novela Infantil
Quebra-cabeça 1981 Novela Infanto-juvenil
Boi da Cara Preta 1981 Poesia
Televisão e Capitalismo no Brasil 1982 Ensaio
Vovô Fugiu de Casa 1982 Ficção
O Alegrete Atravessou a Fronteira 1983 Novela
A Jibóia Gabriela 1984 Poesia Infantil
Meg Foguete 1985 Infantil
As Estrelas do Dr. Otto 1987 Infantil
A Mochila de Gobi 1987 Novela
Come-vento 1988 Poesia Infantil
Tigres no Quintal 1988 Poesia Infantil
Paciência Tem Hora 1989 Infantil
Ditaduras e Indústrias Culturais no Cone Sul da
América Latina
1991 Ensaio
Restos de Arco-íris 1992 Poesia para Adolescentes
A Casa de Afrodite 1993 Novela
O Velho que Trazia a Noite 1994 Ficção
As Meninas da Praça da Alfândega 1994 Novela Infanto-juvenil
Gaspar e a Linha Dnieperpetrovski 1995 Novela
Ana de Salto Alto 1996 Narrativa Curta
33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual 1996 Poesia Infanto-juvenil
Os Piratas do Guaiba 1997 Novela Infantil
O Filho do Padeiro 1997 Contos Infantis
Gilgamesh 1997 Ficção
Teses e Dissertações em Comunicação no Brasil 1998 Ensaio
O Batedor 1998 Novela Infantil
Enfim, Sós. A Nova Televisão no Cone Sul 1999 Ensaio
A Árvore que Dava Sorvete 1999 Poesia Infantil
A Conquista da Liberdade Segundo os
Pássaros
2000 Poesia Infantil
Um Elefante no Nariz 2000 Poesia Infantil
Minha Sombra 2001 Poesia Infantil
Teses e Dissertações em Comunicação no Brasil 2001 Ensaio
Poesia Visual 2001 Poesia para Adolescentes
To sem Freio – O Sexo Antes dos 15 2003 Ficção
111 Poemas para Crianças 2003 Poesia infantil
Duelo de Batman contra a MTV 2004 Poesia para Adolescentes
70
Comunicação e Televisão: Os Desafios da Pós-
globalização no Brasil
2004 Ensaio
A Comunicação Revisitada 2005 Ensaio
Ahi Viene El Congo! 2006 Infantil
Família e Identidade: Porto Alegre do Fim do
Século
2006 Ensaio
O Congo Vem Aí! 2006 Infantil
Uma Colcha Muito Curta 2007 Ficção
50 Fábulas da China Fabulosa (org. e trad.) 2007 Ficção
Zoom na Poesia (Para Professora dos I Grau) 2000 Site
Ciberpoesia 2000 Site
Poemas-ci completos de Li Qingzhao: quem, esta
mulher?
2008 Livro eletrônico
Na tabela acima, podemos notar que Sérgio Capparelli perpassa vários
gêneros em sua produção artística, contemplando adultos, adolescentes e crianças,
porém, para os objetivos deste trabalho, privilegiamos a análise da obra poética
infantil do autor.
Ousado, Sérgio Capparelli gosta de combinar elementos poéticos que
evocam os efeitos mais variados em sua obra e, para isso, lança mão de recursos
que atraem as crianças, como a sonoridade, a visualidade e os temas surrealistas,
aproximação de cantigas folclóricas e das brincadeiras que as crianças fazem com a
linguagem (os trava-línguas e as parlendas, por exemplo).
Nessa tentativa de divertir as crianças através da construção poética,
Capparelli se arriscou na publicação de poemas. Além do livro divulgou sua obra
amplamente em um novo suporte, a internet, o que levou seu trabalho a novos
rumos e seus leitores a novas experiências.
O interesse por novas mídias e a relação destas com os seres humanos não
é preocupação recente do escritor. Em 1980, Capparelli defendeu sua tese de
doutorado na Universidade de Paris II, cujo título é “Estudo sobre a Televisão
Brasileira”.
Dentre as disciplinas que leciona na UFRGS, destaca-se para os objetivos de
nosso estudo “Novos Formatos de Leitura e Internet”, além do projeto de pesquisa
que coordena: “O Navegador Implícito e o Navegador Empírico: Um Estudo de
Poética Digital Imersiva”.
71
Assim, através da observação das atividades profissionais de Sérgio
Capparelli, percebemos que suas manifestações poéticas analisadas neste trabalho
não são apenas frutos da inspiração ou da busca pelo lúdico. Pelo contrário, as
inquietações que levam o poeta a investigar as relações homem / linguagem /
máquina fazem parte de seus estudos e de sua curiosidade epistemológica, como
notamos ao tomar contato com sua produção científica e sua obra ensaística.
Capparelli recebeu diversos prêmios por sua produção bibliográfica. Dentre
eles, quatro Jabutis, sendo o primeiro em 1981 por Vovô Fugiu de Casa, o segundo
em 1983 pelo ensaio Televisão e Capitalismo no Brasil, o terceiro em 1995 por A
Menina da Praça da Alfândega e o quarto, em 2005, por Duelo do Batman contra a
MTV.
Constam ainda em sua prateleira sete títulos “láurea altamente recomendável
para jovens”, um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), um selo
de ouro para livro infanto-juvenil, cinco prêmios açorianos de literatura infanto-
juvenil, dois prêmio Odilo Costa Filho, além do nome do autor constar na lista de
honra da International Board on Books for Young People.
Tal prestígio enfatiza o sucesso do autor em trabalhar com o público infantil e
sua habilidade em conquistar cada vez mais as crianças para o mundo da leitura e,
em especial, da poesia.
5.2. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI ENTRE LIVROS
Conforme vimos na bibliografia apresentada, a obra de Sérgio Capparelli
apresenta vários títulos compostos exclusivamente de poemas. A partir de agora,
apresentaremos algumas obras poéticas de Sérgio Capparelli que marcam seu estilo
e sua repercussão, traçando um panorama do desenvolvimento da escrita do poeta,
até chegarmos às suas produções digitais.
As obras que selecionamos aqui para comentarmos são as que, em nossa
opinião, melhor representam as características da poesia infantil de Capparelli em
diferentes contextos de produção.
72
O primeiro livro de poemas publicado por Sérgio Capparelli é o terceiro de sua
lista de publicações literárias. Boi da Cara Preta foi publicado em 1981 e hoje está
em sua vigésima-nona edição.
Em 1988, o autor publicou Tigres no Quintal, livro está divido em capítulos
representados pelas letras do alfabeto. Na abertura de cada capítulo, sempre um
poema curto, de seis versos, que resulta na palavra escolhida para representar
aquela letra. Por exemplo, para a letra X, temos:
X é para xaxim
Pus num vaso de xaxim
Tomate, agrião, couve,
Cebola, alface e alecrim...
-Nem te conto... O que houve?
A salada era pra mim!
X é para xaxim
(CAPPARELLI, Sérgio. X é para xaxim. In: Tigres no Quintal. São Paulo: Global, 2005)
Bem-humorados, esses poemas o seguidos de um poema de outro autor,
nacional ou estrangeiro, e, na sequência, aparecem alguns poemas que Capparelli
tinha “guardado no bolso”
22
, poemas esses sempre relacionados de alguma forma
com a letra que abre o capítulo.
Os adolescentes também fazem parte do público pretendido pela obra de
Sérgio Capparelli. Seu primeiro livro de poemas destinado a esse público chama-se
Restos de Arco-íris e foi publicado em 1992. Esse livro representa o rito de
passagem da infância para a adolescência, tratando de temas como o amor, a
escola, a morte e outras tantas descobertas tão importantes para o público dessa
faixa etária.
Sua próxima empreitada na poesia é se arriscar nos temas digitais. Em 1996,
época em que a internet ainda era pouco divulgada e o acesso a ela bastante
restrito, o autor se arrisca a publicar o livro que traz sua primeira noção de
ciberpoema: 33 Ciberpoemas e uma Fábula Virtual.
Nesse livro, o ciber desses poemas se encontrava apenas em seus temas.
São poemas publicados em livro e que falam do mundo digital, que utilizam a
linguagem utilizada pelos internautas e que buscam instigar o leitor a conhecer esse
mundo, como podemos ver neste limerick:
22
CAPPARELLI, Sérgio. Tigres no Quintal. São Paulo: Global, 2005.
73
LIMERICK DO COMPUTADOR Nº 1
Havia um computador à lenha no Panamá
Que era muito lerdo, ia bem devagar,
Levava dias pra somar dois e dois
Ou dizia: não sei, somo depois,
Terrível o computador, esse, do Panamá.
(CAPPARELLI, Sérgio. Limerick do computador nº 1. In: 33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual. Porto Alegre: L& PM, 1996)
Limericks o poemas curtos, geralmente com intenção humorística,
compostos por cinco versos com rimas combinadas no esquema AABBA, como
podemos notar no exemplo acima.
Em 2000, em parceria com Ana Cláudia Gruszinsky, o poeta lança seu
primeiro livro que trabalha exclusivamente com a leitura imagética: Poesia Visual.
Essa obra é composta por 31 poemas visuais, sendo um deles, Babel, uma
representação pictórica:
(Fig. 14: Poema Babel publicado no livro Poesia Visual de Sérgio Capparelli)
Este poema sem palavras é representado por uma torre, que está
parcialmente destruída e da qual sai fumaça, o que sugere a continuidade de sua
destruição. No ponto amarelo, há a imagem de uma mulher tocando violino, o que
74
coloca harmonia e destruição dispostos juntamente. Para esse poema, bem como
para outros nove poemas do livro, foram criadas versões ciber na edição do site, que
analisaremos adiante.
Por fim, em 2003, é lançada a antologia 111 Poemas para Crianças, que
reúne a produção lírica de vinte anos de atividade de Sérgio Capparelli como poeta.
Novamente com ilustrações da design Ana Cláudia Gruszynski, os poemas que
aparecem nessa obra foram selecionados e organizados pelo próprio Capparelli, que
os dividiu em seções separadas por temas. Dentre tais seções, temos “Música de
Ouvido”, que apresenta poemas que destacam a sonoridade, “Poemas Visuais”, que
abusam de recursos imagéticos e “Nonsense”, que são poemas que tratam de
“aquilo que não parece ter sentido a não ser o de jogar com a imaginação.”
23
Fecharemos com o comentário sobre essa antologia a análise de livros do
poeta Sérgio Capparelli, porém, após esta data ele ainda lançou o premiado “Duelo
de Batman contra a MTV”, em 2004, e enfatizamos que sua produção de obras
poéticas que encantam adultos e crianças continua crescendo a todo vapor e, como
veremos, se acompanha de uma progressiva aproximação da ciberpoesia.
5.3. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI ENTRE TELAS
Sérgio Capparelli se faz presente em vários sites que divulgam sua obra e
sua carreira acadêmica. Dentre eles, HTTP://www.ciberpoesia.com.br, que
apresenta versões digitais de poemas visuais publicados previamente no livro
Poesia Visual, HTTP://www.ciberpoesia.com.br/zoom, que apresenta orientações
didáticas e pedagógicas para incentivar o uso da tecnologia por educadores,
HTTP://www.tigrealbino.com.br, que é uma revista digital sobre poesia infantil, com a
edição do autor em parceria com Maria da Glória Bordini e Regina Zilberman.
No presente trabalho, nossa análise se focará no site
HTTP://www.ciberpoesia.com.br, que surgiu em 2000 para divulgação do
lançamento de seu livro Poesia Visual.
23
CAPPARELLI, Sérgio. 111 Poemas para Crianças. Porto Alegre: L&PM, 2003.
75
Para alguns dos poemas publicados nesse livro, a empresa W3Haus elaborou
versões digitais que foram batizadas por Capparelli como ciberpoemas(agora com
um significado diferente do utilizado em 33 Ciberpoemas e Uma Fábula Virtual, o
ciber, agora, significa o suporte no qual é veiculado computador e as
características específicas de constituição do texto que essa mídia oferece).
Esta é a tela de abertura do site:
(Fig. 15: Página inicial do site HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
Como podemos notar, o colorido da tela e a formatação levemente
desalinhada da fonte utilizada remetem ao universo infantil. Quando o internauta
passa o mouse sobre os links, o texto começa a tremer, avisando que ao clicar
naquelas letras, ele irá para outra página do site, que é dividido em cinco links.
No primeiro deles, ao clicar sobre o nome dos autores Ana Cláudia
Gruszynski e Sérgio Capparelli, encontram-se breves biografias dos autores, escritas
em uma linguagem de fácil entendimento e em tom humorístico.
Ao clicar no “livro de poesia visual”, ganha-se acesso a uma página que
divulga o lançamento do livro. Nessa gina, uma mini-resenha do livro escrita
em linguagem bastante informal, próxima a da criança.
Porém, as partes que mais nos interessam neste trabalho são os links que
conectam as crianças internautas à poesia e, principalmente, à ciberpoesia.
76
Alguns dos poemas publicados no livro Poesia Visual estão dispostos nas
páginas do site, mas agora conectados através de um link a uma nova versão do
poema que utiliza recursos computacionais em sua composição. Essas versões são
elaboradas por especialistas em computação gráfica da empresa W3Haus, o que
confirma a complexidade da noção de autoria no ciberpoema.
Dois desses poemas chamam um pouco mais a atenção dos pequenos
devido a uma seta puxada do link deles que diz “Super interativo!”. Devido à
curiosidade em investigar tal idéia de interatividade, nos deteremos um pouco mais
na análise do ciberpoema Chá. Esta é a versão visual desse ciberpoema:
(Fig. 16: Poema Chá publicado no livro Poesia Visual de Sérgio Capparelli)
No poema acima, saindo da xícara de chá aparecem os dizeres “deixe a
infusão o tempo necessário até que nossos aromas e nossos sabores se misturem”.
Na versão interativa do poema, a primeira tela apresenta as instruções de
como a criança deve proceder para chegar ao texto poético:
77
(Fig. 17: Início do ciberpoema Chá, disponível em HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
Ao dar início à leitura, a criança seleciona alguns ingredientes que poderão
compor o chá, dentre eles, um bule que despeja letras, alguns corações que batem
aceleradamente, estrelas e a foto de um casal de namorados se beijando:
(Fig. 18: Segunda tela do ciberpoema Chá, disponível em HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
Dependendo dos ingredientes que o leitor escolher para colocar em seu chá,
mudam os efeitos da animação dos versos do poema que saem da xícara de chá,
como se fossem o vapor. Tais efeitos instigam o leitor a recriar o poema para
78
conhecer as outras versões de animação possíveis. Demonstraremos aqui duas
delas, apresentadas de maneira estática, para fins de exemplificação:
(Fig. 19: Ciberpoema Chá, disponível em HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
No caso acima, o letreiro encontra-se na vertical, em letras manuscritas
verdes com estrelas que se movimentam ao som de tambores e aplausos.
Abaixo, segue outra versão:
(Fig. 20: Ciberpoema Chá, disponível em HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
79
Nesta versão, os versos do poema exalam da xícara horizontalmente,
acompanhados de corações que também se movimentam ao som de tambores e
aplausos.
Portanto, sugerimos aqui que as várias versões de um poema que podem ser
produzidas pelo leitor levam-no a reler o poema várias vezes para dele extrair o todo
que o poema pode significar.
Outro poema interativo do site de Sérgio Capparelli chama-se Xadrez e
possui a seguinte versão visual prévia:
(Fig. 21: Poema Xadrez publicado no livro Poesia Visual, de Sérgio Capparelli)
Na versão ciber e interativa, o poema se apresenta em forma de jogo, um
quebra-cabeça a partir do qual a criança monta seu próprio poema através da
formação de palavras com as letras de “amor / ardor / a dor”. A cada clique que a
criança efetua em uma letra para trocá-la de posição, diferentes sons são
produzidos, o que torna a brincadeira bem-humorada, pois esses sons são
inesperados e engraçados.
80
(Fig. 22: Ciberpoema Xadrez, disponível em HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
Outro aspecto que chama atenção nesse poema é a possibilidade de
compartilhá-lo com os próximos leitores na lista apresentada à direita da tela: “veja
os resultados de quem já passou por aqui”.
Pela análise desses dois poemas, buscamos mostrar que através dos
recursos tecnológicos, Capparelli aproxima sua poesia, que sempre se apresentou
lúdica e provocadora, da brincadeira e do jogo.
Assim como a criança não joga um jogo somente uma vez, ela provavelmente
não lerá os ciberpoemas de rgio Capparelli uma única vez. Ela tentará produzir
diferentes versões do poema, se aventurará por novos caminhos nas escolhas
hipertextuais que optar para chegar a novos resultados, o que amplia a reflexão que
a criança fará a partir dos poemas com os quais interage.
5.4. A POESIA DE SÉRGIO CAPPARELLI SE TRANSFORMANDO NO TEMPO
Para analisar como se modificou a construção da poesia no tempo através da
observação da obra infantil de Sérgio Capparelli, analisaremos o poema O Zigue e O
Zague que teve diferentes versões publicadas em diferentes obras.
A primeira publicação desse poema foi no livro Tigres no Quintal, de 1988.
Nessa versão, o poema não é um poema visual. Ele aparece dividido em versos e
estrofes com a seguinte disposição:
81
O ZIGUE E O ZAGUE
O Zigue e o Zague
Seguiam sem direção.
É por aqui?
Por aqui, não?
E sumiram no horizonte
Sem chegar à conclusão.
(CAPPARELLI, Sérgio. (1988) In: Tigres no Quintal. São Paulo: Global)
Nesse livro, como vimos, os poemas aparecem divididos em capítulos por
letras do alfabeto. O poema “O Zigue e O Zague” aparece na letra A. Ao fim do livro,
o autor explica que os poemas possuem uma conexão com as letras que nomeiam o
capítulo em que aparecem, conexão esta direta ou indireta.
Assim, refletimos que neste poema narrativo não nenhuma referência de
quem sejam as personagens Zigue e Zague, nem mesmo a espécie a que
pertencem, porém, a palavra remete ao movimento zigue-zague. Na quarta edição
do livro, ilustrada por Orlando Pedroso, isso fica mais evidente, uma vez que a
ilustração da página deste poema se limita ao tracejo em zigue-zague que atravessa
a folha, como segue:
(Fig. 23: Poema O Zigue e O Zague publicados no livro Tigres no Quintal, de Sérgio Capparelli)
A próxima publicação deste poema é no livro Poesia Visual, onde o poema é
escrito de forma pictográfica, trazendo a sugestão de que as personagens Zigue e
82
Zague são peixes, perdidos, vivendo um dilema que não conseguem resolver,
conforme notamos abaixo:
(Fig. 24: Poema O Zigue e O Zague publicado no livro Poesia Visual, de Sérgio Capparelli)
Nesta versão, em pareceria do poeta com a ilustradora Ana Cláudia
Gruszinky, apesar de constarem os mesmo versos, aparece uma alteração na grafia
do nome das personagens do poema, que passa a ser Zig e Zag e sua imagem é
associada a de dois peixinhos. A escama dos peixes é composta pelas palavras Zig
e Zag e seu contorno são os versos.
A partir daí, os autores criaram para o site HTTP://www.ciberpoesia.com.br o
hiperpoema “Zigue-Zague”, que “estrela” as personagens Zig e Zag (os dois peixes
que aparecem também na versão visual). Neste caso, o poema narrativo aparece
dividido em três cenas conforme seguem:
83
(Fig. 25: Ciberpoema Zigue-Zague, disponível no site HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
Na tela acima, o título do poema é apresentado com as letras trêmulas, como
se estivessem nadando no fundo do mar, que é sugerido pela tela azul e pelas
bolhas.
Em seguida, aparecem os peixes Zig e Zag atravessando a tela em
movimento zigue-zague ao entrar e sair do mar, até se posicionarem nos mesmos
moldes da versão visual do poema, quando são oferecidas ao leitor três cenas para
as quais ele pode seguir, optando se passa ou não pelas três etapas.
A primeira e a segunda delas constam abaixo, mostrando os peixes perdidos
no fundo do mar:
(Fig. 24: Cena 1 do Ciberpoema Zigue-Zague, disponível no site HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
84
(Fig. 26: Cena 2 do Ciberpoema Zigue-Zague, disponível no site HTTP://www.ciberpoesia.com.br)
E, por fim, a cena 3, tela que mostra que os peixes continuam sem resolver
seu dilema, ilustrando o fim da narrativa com a linha do horizonte:
(Fig. 27: Cena 3 do Ciberpoema Zigue-Zague, disponível no site http://www.ciberpoesia.com.br)
No caso desta versão, surge um impasse: até que ponto podemos considerar
essa animação em Macromedia Flash um poema e não uma narrativa hipertextual
de baixa interatividade? Para responder a essa pergunta, enfatizamos que a
primeira evincia de que esse hipertexto continua sendo um texto poético é a
combinação entre imagem e texto, além do tema reflexivo e do fato de que é uma
reescrita de um poema publicado previamente em livros.
Mais tarde, em 2003, esse poema foi publicado na antologia 111 Poemas
para Crianças com nova ilustração de Ana Claudia Gruszinsky:
85
(Fig. 28: Poema O Zigue e O Zague publicado no livro 111 Poemas para Crianças, de Sérgio Capparelli)
Nessa nova versão, Zigue e Zague continuam sendo peixes, mas nos chama
atenção o capítulo em que esse poema se encontra neste livro.
Os capítulos desse livro têm como títulos “Coisas que Eu Sei”, “Esses animais
divertidos” e “Jogo e Adivinhas”. Esse poema encontra-se no capítulo “Nonsense”,
ou seja, sem sentido.
Sendo assim, é desmitificado qualquer enigma a ser desvendado na
interpretação desse poema, pois, ao ser inserido na categoria de poemas que não
precisam ter sentido, sua interpretação se torna ainda mais livre de interpretações
fechadas.
86
6. CONCLUSÕES
Dentro dos objetivos do presente trabalho, ao lado da constatação das
poucas pesquisas sobre a relação entre internet e literatura e da conseqüente
necessidade de maiores investigações sobre o tema, parece indiscutível o fato de
que a web tem provocado mudanças bastante significativas no processo de leitura e
escrita e na construção do que se chama literatura. Daí a proposta aqui apresentada
de investigar processos de produção e significação do hipertexto, uma vez que tais
processos viabilizam uma relação ainda mais íntima e estreita entre autor e leitor,
permitindo que todos expressem, debatam, defendam suas idéias e opiniões na
rede, considerando o texto eletrônico como um lugar de “co-produção de sentidos”,
alterando significativamente a forma de se fazer e ler literatura, bem como
redefinindo suas concepções e os papéis dos elementos que constituem o sistema
literário, atribuindo novas relações entre a tríade autor – obra – público.
Observamos neste trabalho que as modalidades poéticas que surgiram no
decorrer da história nos fazem refletir sobre o que pode ser considerado como
poema.
Vimos que há poemas divididos em versos ou não, há poemas que se utilizam
de recursos visuais, sonoros e até mesmo poemas que são construídos sem
palavras e unidades textuais.
Devido a isso, sugerimos que poemas são manifestações literárias que
contêm poesia, além de trazerem indeterminações em seu conteúdo que levam o
leitor a questionamentos e reflexões.
Essa idéia reforça a noção de que a modalidade literária investigada nesta
pesquisa possa ser considerada como uma construção essencialmente poética, pois
apresenta vazios que serão preenchidos pelo leitor.
Através do percurso histórico que aqui traçamos, buscamos verificar quais os
traços visuais, sonoros e sinestésicos que apareceram durante a história da poesia e
que podemos ver retomados com o desenvolvimento do ciberespaço nas
construções de um novo gênero textual, ao qual nos referimos como ciberpoemas.
Neste trabalho, pudemos notar que assim como a invenção da escrita trouxe
inovações nas artes e nos gêneros literários, os novos recursos tecnológicos
também trouxeram novas formas de representação destas atividades.
87
No percurso poético que aqui estudamos, buscamos verificar quais os traços
visuais, sonoros e mecânicos que apareceram durante a história da poesia e que
podemos ver retomados com o desenvolvimento do ciberespaço nas construções de
um novo gênero textual, ao qual nos referimos como ciberpoemas.
Assim, tentamos induzir a uma conclusão de que os ciberpoemas são
combinações de recursos utilizados em tendências estéticas anteriores
dialogando entre si, compondo poemas que mexem com os vários sentidos do leitor,
implicando novos significados no ato de leitura e novas habilidades no ato de escrita.
Através do estudo da obra poética infanto-juvenil do escritor Sérgio
Capparelli, procuramos demonstrar essas tendências que levam a uma nova
modalidade da obra literária. Modalidade essa interativa e que estabelece maior
interação entre escritor e leitor, que estão intimamente conectados pelo texto.
É comum ouvirmos a crítica de que as crianças não têm acesso à leitura e por
isso não se interessam por ela, porém, na convivência com crianças entre 10 e 12
anos de idade, notamos que essa hipótese pode não ser verdadeira, uma vez que
percebemos o grande interesse que essas crianças têm pelo computador e, em
especial, pela internet, espaço onde sabemos que prevalece o trabalho com a
linguagem escrita
24
.
Assim, buscamos apresentar às crianças conteúdos literários que podem ser
encontrados nesse suporte, que foi como chegamos à obra do escritor Sérgio
Capparelli.
Observamos algumas crianças interagirem com o site
HTTP://www.ciberpoesia.com.br e pudemos notar a intimidade que elas têm com as
ferramentas computacionais, o que pode tornar a leitura mais significativa para o
público infantil.
Acreditamos, no entanto, que se fazem necessárias maiores pesquisas sobre
o tema, uma vez que o mundo tem se tornado cada vez mais digital e, portanto,
passível de novas formas de criações literárias, que deverão acompanhar as
transformações no comportamento e no convívio humano.
A partir de uma perspectiva sócio-histórica do contexto de produção da
Literatura Infantil Brasileira, buscamos verificar os temas e a relevância que eles
teriam na formação de um jovem leitor contemporâneo.
24
A autora do presente trabalho é professora de Língua Portuguesa da Rede Pública Estadual de
Ensino na cidade de Guarulhos / SP, daí o convívio com crianças dessa faixa etária.
88
Para isso, buscamos na Literatura Infantil contemporânea características que
representam o lúdico e a interatividade, despertando na criança o prazer na leitura
do texto literário quando ele se apresenta em uma linguagem próxima à sua e
trabalha temas que fazem parte de seu cotidiano, despertando sua imaginação.
Ao analisarmos a vida e a obra do escritor Sérgio Capparelli, buscamos traçar
um panorama que aponte as modificações que perpassaram a obra do autor de
acordo com o contexto de sua produção.
Assim, pudemos notar que a poesia do autor não ignora as mudanças que
têm ocorrido no mundo literário e os efeitos que essa mudança provoca na recepção
de seu público. Na obra infantil de Sérgio Capparelli fica bastante evidente a
preocupação do poeta em se aproximar de seu leitor, principalmente ao buscar
temas e linguagens que sejam de interesse desse público, divertindo-os e
estimulando-os ao hábito de leitura: o lúdico, a brincadeira, o jogo, a visualidade e a
sonoridade estão presentes em todas as versões de sua obra, contribuindo para
esse estímulo.
Acompanhando a transição de alguns de seus poemas de livros para telas,
podemos sugerir que esses suportes co-existem como formas de divulgação da obra
do autor, em diferentes linguagens que evocam diferentes leituras.
89
APÊNDICE
PROJETO DIDÁTICO: OS COMPUTADORES E A POESIA INFANTIL: NOVAS
TENDÊNCIAS E NOVAS LEITURAS
RESUMO
Com o objetivo de investigar a relação e a interação das crianças com a
literatura digital, foi desenvolvido o presente projeto para levar aos alunos da E.E.
Marechal Carlos Machado Bitencourt da Diretoria de Ensino Região de Guarulhos
Sul uma experiência de vivência no mundo dos poemas e dos ciberpoemas
veiculados pela internet.
A idéia surgiu à medida que, como professora do ciclo II do Ensino
Fundamental, através de uma análise mais profunda, comecei a inteirar-me da
perspectiva estigmatizadora segundo a qual crianças de baixo poder aquisitivo,
alunos da rede pública, não têm acesso à leitura. Constatamos que nem sempre
esta hipótese é verdadeira.
A nosso ver, crianças e adolescentes do século XXI, inclusive estudantes de
escolas públicas geralmente provenientes de famílias de baixa renda, por estarem
em meio a tantos recursos informáticos e tecnológicos, têm, sim, acesso a um amplo
acervo de textos literários e não-literários, publicados em livros fornecidos pelas
escolas ou disponíveis gratuitamente em sites da internet.
Assim, buscamos na atividade que fundamenta a pesquisa aqui projetada
apresentar para os alunos um novo gênero poético que surge nas telas dos
computadores e utiliza-se de aspectos gráficos considerados estimulantes ao gosto
das crianças, como a visualidade e a interatividade, a fim de iniciá-los ao prazer da
leitura do texto literário.
Através de um breve percurso histórico da literatura infantil e dos hábitos das
crianças que participaram da oficina de poesia do projeto elaborado para esta
pesquisa, notamos que a leitura que lhes parece atraente é a leitura com a qual se
90
identificam, ou seja, o texto que envolve o lúdico, a brincadeira, o jogo e a
interatividade, envolvendo em seus temas o jovem leitor.
Para perceber a leitura dessa maneira, a criança precisa desvinculá-la de
obrigações e, para que isso seja possível, é preciso prestar atenção em como a obra
literária é apresentada à criança. Cecília Meireles, em Problemas da Literatura
Infantil, registrou essa importância:
Como se tudo isso não fosse suficiente, a esses livros encantados se
acrescentavam as emoções do dia de recebê-los: palanques floridos,
encerramento de aulas, hinos cívicos, nome na lista dos prêmios,
dedicatórias, aniversários, mesas de doce, Natal, roupa nova, maravilhosos
sapatos transbordantes de presentes... (1984, P. 37)
Sabemos que, nem as crianças e nem mesmo s, adultos, costumamos nos
sentir atraídos por qualquer coisa que nos seja imposta. Portanto, ainda que sejam
escolhidos para o trabalho educacional textos da literatura infantil que correspondam
às expectativas das crianças, ao se estabelecerem modos de leitura que levam a
determinadas interpretações “ditas” como corretas, eles provavelmente não irão
despertar o entusiasmo pela leitura. Ainda é comum entrar em escolas e observar
crianças de “castigo” nos espaços de leitura, provavelmente lendo um livro escolhido
por um professor para que seja feito um trabalho, em conseqüência de não terem
prestado atenção na aula ou por terem sido indisciplinados.
Se é papel da escola ampliar o repertório de experiências e conhecimento de
mundo de seus alunos, como pode ela distanciá-los da leitura? Ao desvalorizar
leituras de gêneros populares entre as crianças, como as histórias em quadrinhos,
os best-sellers e os textos veiculados pela internet, a escola os faz entender que
dois tipos de leitura: um deles para ter prazer (leitura recreativa) e outro para fazer
avaliação (leitura escolar).
Enfatizando que não acreditamos em leituras superiores e leituras inferiores,
acreditamos que todos os gêneros textuais que perpassem o imaginário do leitor e
instigue-os a buscar outros textos são práticas de leitura produtivas e positivas.
Em contato com as crianças, percebemos que elas procuram diferentes tipos
de texto dependendo do propósito de sua leitura. textos que as crianças lêem
com o objetivo de estudo (nesse caso, a internet é o suporte favorito para pesquisa),
e também textos para se divertir, se informar, se aventurar, que são lidos pelas
crianças nos mais variados suportes, como revistas, computadores e, também,
livros.
91
Vale a pena também observar que, enquanto na internet, a criança acessa
qualquer conteúdo livremente, quando falamos da leitura no suporte livro, a
perspectiva é outra. Geralmente, as crianças não escolhem os livros a que terão
acesso. São os pais, professores e estudiosos da área de literatura quem os
escolhem e os compram, por isso, achamos interessante verificar como se compõe o
acervo da Sala de Leitura na qual se desenvolverá a pesquisa.
OS PROGRAMAS DE ESCOLHAS DE ACERVOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS
BRASILEIRAS
Se a leitura de textos literários inicia-se na escola e sob sua supervisão,
consideramos conveniente traçar aqui o percurso de escolha, bem como os critérios
de seleção de livros nas escolas públicas brasileiras. Para isso, buscamos investigar
o principal programa de acervos de livros em escolas públicas brasileiras: o PNBE
(Programa Nacional Biblioteca da Escola).
O PNBE, programa gerenciado pelo FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação) com recursos do Orçamento Geral da União e da
arrecadação do salário-educação, foi instituído em 1997 com o objetivo de
disseminar o hábito da leitura dentro das escolas públicas brasileiras, a partir da
distribuição de acervos que contemplam obras de literatura, pesquisa e referência.
Tais acervos são compostos por obras dos mais variados temas e dos mais
diversos gêneros textuais, entre eles, poesia, história em quadrinhos, crônica,
romance, texto científico e outros.
25
Para a escolha do acervo, as editoras ou os autores devem inscrever suas
obras no programa para que elas sejam avaliadas.
A avaliação tem sido realizada, desde 1997, pelo CEALE (Centro de
Alfabetização, Leitura e Escrita) da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais),
com a contribuição de mestres e doutores de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande
do Sul e Distrito Federal, como explica Maciel:
25
Para ver o acervo enviado às escolas no ano de 2009, ver anexo II.
92
A preocupação recorrente do CEALE é com os critérios de análise, que
estão sendo apurados a cada avaliação e com maior rigor na qualidade
textual, temática e gráfica, não descuidando de propiciar às crianças o
acesso a diferentes gêneros textuais. Foi ainda critério para constituição
dos acervos a seleção, entre as obras consideradas de qualidade, nas
três categorias (prosa, verso e imagem) daquelas que representassem
diferentes níveis de dificuldade, de modo a atender a crianças em
diferentes estágios de compreensão dos usos e funções da escrita e de
aprendizagem da língua escrita, possibilitando formas diferentes de
interação com o livro: a leitura autônoma pela criança (de livros de
imagens, de livros em que a imagem predomina sobre o texto verbal,
quando este é reduzido a poucas palavras) e a leitura mediada pelo
professor. (2008, p. 15)
Após a avaliação, o FNDE negocia com as editoras a aquisição dessas obras,
que são distribuídas pelas escolas de acordo com o número de alunos e os
segmentos de ensino que elas atendem.
O PNBE incentiva o hábito da leitura por ser um grande distribuidor de obras
literárias de boa qualidade, porém, não prevê de que forma acontecerá o trabalho
com essas obras na escola que, em muitos casos, ficam protegidas dentro de
armários que o permitem o acesso das crianças aos títulos adquiridos. Assim,
através deste projeto, temoso intuito de apresentar para crianças parte deste acervo
e estimulá-las ao acesso a ele.
PÚBLICO-ALVO
Alunos de e série do ciclo II do Ensino Fundamental, freqüentadores da
Sala de Leitura da unidade escolar.
DURAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
Tempo previsto: aproximadamente um bimestre.
93
OBJETIVOS
Identificar a noção de poesia e de poema percebida pelos alunos das 4ªs,
5ªs e 6ªs séries da E.E. Marechal Carlos Machado Bitencourt;
Articular o texto poético presente no cotidiano das crianças (músicas,
televisão, propagandas, cinema etc.) à leitura do texto poético literário;
Ampliar o repertório de poemas dos alunos;
Apresentar aos alunos uma nova forma de produção e divulgação da poesia
através da obra publicada no site do autor gaúcho Sergio Capparelli;
Observar e registrar as percepções que os alunos têm da poesia como texto
registrado no suporte livro, bem como no texto interativo do site.
METODOLOGIA
O projeto, como dito, será realizado na Sala de Leitura da E.E. Marechal
Carlos Machado Bitencourt.
A Sala de Leitura da escola foi uma iniciativa de incentivo à leitura
implementada em 2009 pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo em
parceria com o Centro de Referência em Educação Mario Covas. A Sala constitui-se
de um espaço amplo, onde fica disponível um vasto acervo de obras a serem
emprestadas para os alunos da escola.
26
Com caráter mais pedagógico do que a
biblioteca tradicional, na Sala de Leitura a presença de um professor que deve
interagir com toda a escola a fim de despertar nos alunos o gosto e o incentivo à
leitura.
Através dos dados de empréstimo da Sala de Leitura, buscaremos identificar
as preferências de leitura dos alunos de 10 a 12 anos de idade, observando se há
ou não o interesse pela leitura de poemas, selecionando alunos que o possuem o
26
O acervo da Sala de Leitura é composto por obras distribuídas às escolas pelo PNBE, por doações
de pais, professores, editoras etc., além de um acervo específico do programa Sala de Leitura. Para
verificar parte deste acervo, ver anexo II.
94
hábito de tomar emprestado livros de poesia para compor a amostragem para os
efeitos da pesquisa.
A seleção também se valerá de resultados obtidos por meio de entrevistas
com os alunos, que participarão de aulas e oficinas, cujo objetivo é proporcionar a
eles intensa e extensa leitura de poemas, fazendo-os perceber que a poesia está
inserida em seus cotidianos, presente em muitas mídias e suportes além do livro.
Após a realização das oficinas, contaremos ainda com a Sala de Leitura para
observação dos efeitos que essas oficinas tiveram nas práticas leitoras dos alunos.
Tais efeitos poderão ser manifestados através da observação da relação de
empréstimos de livros realizados pelos alunos e por novas entrevistas a serem
realizadas com os participantes do projeto.
DESENVOLVIMENTO
1ª etapa - Diagnóstico
Entrevistas com os alunos sobre o que sabem sobre poesia, bem como
registro de seus gostos e impressões do gênero.
2ª etapa - Desenvolvimento
Apresentação para os alunos de diversas manifestações poéticas de
diferentes épocas e estilos literários;
Aula expositiva na sala de informática para apresentação da obra do autor
Sérgio Capparelli no site HTTP://www.ciberpoesia.com.br ;
Ampliação do repertório dos alunos através da organização de saraus
poéticos;
3ª etapa – Observações e Registros
95
Análise e registro das mudanças de reações dos alunos ao interagirem com
poemas nos livros e nas telas;
Novas entrevistas com os alunos para ouvir deles o que mudou na concepção
que tinham de poesia antes e depois do desenvolvimento do projeto.
96
ANEXO I
ACERVO PNBE 2009 – ENSINO FUNDAMENTAL
OBRA AUTOR EDITORA
Figurinha Carimbada Marcio Araujo A Girafa Editora Ltda
Antologia de Contos Folclóricos Herbert Salles Agir Editora ltda
Bom Dia, Camaradas Ondjaki Agir Editora ltda
Dom Miguel - Rei de Portugal Roberto Athayde Agir Editora ltda
Febeapá 123 Stanislaw Ponte Preta Agir Editora ltda
Nem Tudo Começa com um Beijo Jorge Araujo e Pedro S. Pereira Agir Editora ltda
Quatro Histórias de Ladrão Paulo Mendes Campos Agir Editora ltda
A Moeda do Imperador João Pontes Alis Editora Ltda
O Fantasma do Tarrafal Jean-Yves Loude Alis Editora Ltda
Letras Finais Luis Dill Artes e Oficios Editora
Pintando Poesia - Poemas Inspirados
em Telas de José Sorrenti
Neusa Sorrenti Autêntica Editora Ltda
Roda Sinhá Diva Dorothy S. de A. Carneiro Autêntica Editora Ltda
O Capeta Carybé Jorge Amado Berlendis Editores Ltda
O Livro da Selva- as Histórias de Mowgli Rudyard Kipling Berlendis Editores Ltda
A História do Mundo em Quadrinhos – a
Europa Medieval e os Invasores do
Oriente
Larry Gonick Blocker Comercial Ltda
A Árvore que Canta, o Pássaro que Fala
e a Fonte que Rejuvenesce
Mate Brinque Book Editora
de Livros
A Ilha de Nim Wendy Orr Brinque Book Editora
de Livros
A Maldição de Horrendo Anna Fiemberg Brinque Book Editora
de Livros
Outras Novas Histórias Antigas Rosane Pamplona Brinque Book Editora
de Livros
Verso e Reverso. O Outro Lado das
Histórias
Rosane Pamplona Brinque Book Editora
de Livros
Histórias que eu Vivi e Gosto de Contar Daniel Munduruku Callis Editora Ltda
Você Sabe Assobiar ? Olf Stark Callis Editora Ltda
Arte e Ciência de Roubar Galinha João Ubaldo Ribeiro Códice Comércio
Distribuição e Casa
Editorial Ltda
Luana Adolescente, Lua Crescente Sylvia Orthof Códice Comércio
Distribuição e Casa
Editorial Ltda
Operação Resgate na Jordânia: o
Segredo do Deserto
Luciana Savaget Códice Comércio
Distribuição e Casa
Editorial Ltda
Histórias dos Jawi, um Povo da Tailândia Claire Merelau-Ponty / Pierre
Le Roux
Comboio de Corda
Editora Ltda
Histórias dos Maori, um Povo da
Oceania
Claire Merleau-Ponty / Cécile
Mozziconacci
Comboio de Corda
Editora Ltda
Histórias dos Sugpiaq, um Povo do
Alasca
Claire Merleau-Ponty / Caroline
N. Gillette
Comboio de Corda
Editora Ltda
O Almirante Louco Carlos Felipe Moises (org.) Comboio de Corda
97
Editora Ltda
O Colombo de Chelem e Outras
Histórias Judaicas
Bem Zinet Comboio de Corda
Editora Ltda
O Turbante da Sabedoria e Outras
Histórias de Nasrudim
Samuel Casal Comboio de Corda
Editora Ltda
Os Títeres de Porrete e Outras Peças Frederico García Lorca Comboio de Corda
Editora Ltda
As Fabulosas Histórias de Merlin e do
Rei Artur
Benjamin Bachelier Companhia Editora
Nacional
Fausto Johann Wolfgang Von Goethe Companhia Editora
Nacional
Guilherme Tell Friedrich Schiller Companhia Editora
Nacional
Moby Dick Herman Melville Companhia Editora
Nacional
Oliver Twist Charles Dickens Companhia Editora
Nacional
A Ambição de Macbeth e a Maldade
Feminina
Arivaldo Viana Cortez Editora e
Livraria Ltda
Cabelos de Fogo, Olhos de Água Ângela Leite / Lino de
Albergaria
Cortez Editora e
Livraria Ltda
Histórias que a Menina - Serpente
Contou
Fabio Cardoso dos Santos Cortez Editora e
Livraria Ltda
Histórias Tecidas em Seda Lucia Hiratsuka Cortez Editora e
Livraria Ltda
Leonardo desde Vinci Nelson Moulin / Rubens Matuck Cortez Editora e
Livraria Ltda
Memórias de um Menino que se Tornou
Estrangeiro
Marcos Cesar de Freitas Cortez Editora e
Livraria Ltda
Agbalá Marilda Castanha Cosac & Naify Edições
Ltda
Bárbara e Alvarenga Nelson Cruz Cosac & Naify Edições
Ltda
Chica e João Nelson Cruz Cosac & Naify Edições
Ltda
Dirceu e Marília Nelson Cruz Cosac & Naify Edições
Ltda
Kachtanka Anton Tcheckov Cosac & Naify Edições
Ltda
Livro das Perguntas Pablo Neruda Cosac & Naify Edições
Ltda
O Melhor Time do Mundo Jorge Viveiro de Castro Cosac & Naify Edições
Ltda
Pindorama Marilda Castanha Cosac & Naify Edições
Ltda
Será o Benedito Mario de Andrade Cosac & Naify Edições
Ltda
A Volta ao Mundo em Oitenta Dias Julio Verne DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
As Narrativas Preferidas de um Contador
de Histórias
Ilan Brenman DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
Frankenstein Mary Shelley DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
O Mistério da Terceira Meia Rosana Rios DCL Difusao Cultural
do Livro Ltda
Luluzinha vai às Compras John Stanley Devir Livraria Ltda
Níquel Náusea Tédio no Chiqueiro Fernando Gonsales Devir Livraria Ltda
Suriá a Garota do Circo Laerte Devir Livraria Ltda
A Caverna dos Titãs Ivanir Callado Distr. Record de Serv.
98
de Imprensa SA
A Luz é como Água Gabriel Garcia Marquez Distr. Record de Serv.
de Imprensa SA
Meninos, eu Conto Antonio Torres Distr. Record de Serv.
de Imprensa SA
O livro de Aladim Malba Tahan Distr. Record de Serv.
de Imprensa SA
Cordel em Arte e Versos Moreira de Acopiara Duna Dueto Editora
Ltda
Sei por Ouvir Dizer Bartolomeu Campos de
Queiros
Edelbra Indústria
Gráfica e Editora
O Enigma das Amazonas Luiz Galdino Edições Escala
Educacional SA
Histórias Maravilhosas de Povos Felizes Julio Emilio Braz Edições Escala
Educacional SA
A Invenção de Hugo Cabret Brian Silznick Edições SM Ltda
Cobra-grande, Histórias da Amazônia Sean Taylor Edições SM Ltda
Contos de um Reino Perdido Erik L’Homini Edições SM Ltda
Contos e Lendas de Macau Alice Vieira Edições SM Ltda
Eleguá Carolina Cunha Edições SM Ltda
Malcriadas Maria José Silveira Edições SM Ltda
Nenhum peixe aonde ir Maria Francine Herbert Edições SM Ltda
Volta ao Mundo dos Contos nas Asas de
um Pássaro
Catherine Gendrin Edições SM Ltda
Uma História de Amor Carlos Heitor Cony Ediouro Gráfica e
Editora SA
Marley e Eu John Grogan Ediouro Publicações de
Lazer e Cultura Ltda
Os Melhores Contos de Cães e Gatos Flavio Moreira da Costa Ediouro Publicações de
Lazer e Cultura Ltda
Sundjata o Príncipe Leão Rogério Andrade Barbosa Ediouro Publicações de
Lazer e Cultura Ltda
13 dos melhores contos da mitologia Flavio Moreira da Costa Ediouro Publicações de
Passatempos e
Multimídia Ltda
Confissões de um Vira-lata Orígenes Lessa Ediouro Publicações de
Passatempos e
Multimídia Ltda
Antologia Poética Ledo Ivo Ediouro Publicações
SA
Eu, Robô Isaac Assimov Ediouro Publicações
SA
Histórias Extraordinárias Edgar Allan Poe Ediouro Publicações
SA
O Príncipe Feliz e Outros Contos Paulo Mendes Campos Ediouro Publicações
SA
BGA o Bom Gigante Amigo Roald Dahl Editora 34 Ltda
Diário de um Adolescente Hipocondríaco Aidan Macfarlane Editora 34 Ltda
Limeriques das Causas e Efeitos Tatiana Belinky / Andrés
Sandoval
Editora 34 Ltda
O Jardim Secreto Francis Burnett Editora 34 Ltda
Pluto ou um Deus Chamado Dinheiro Anna Flora Editora 34 Ltda
Tumbu Marconi Leal Editora 34 Ltda
Amigos Secretos Ana Maria Machado Editora Abril SA
Ninguém Sabe o que é um Poema Ricardo Azevedo Editora Abril SA
A Insônia do Vampiro Ivan Jaf Editora Abril SA
Contos Mágicos Persas Fernando Alves Editora Aquariana Ltda
Destino em aberto Marisa Lajolo Editora Ática SA
Eu Passarinho Mario Quintana Editora Ática SA
99
Os Restos Mortais Fernando Sabino Editora Ática SA
Pode me Beijar se Quiser Ivan Ângelo Editora Ática SA
A Estranha Máquina Extraviada José Jacinto Veiga Editora Bertrand Brasil
Ltda
A Filha do Fabricante de Fogos de
Artifício
Philip Pullman Editora Bertrand Brasil
Ltda
O Velho e o Mar Ernest Hemingway Editora Bertrand Brasil
Ltda
Reis, Viajantes e Vampiros Lia Neiva Editora Bertrand Brasil
Ltda
70 Historinhas Carlos Drummond de Andrade Editora Best Seller Ltda
Papos de Anjo Sylvia Orthof Editora Best Seller Ltda
Meu Pai não Mora mais Aqui Caio Riter Editora Biruta Ltda
O Segredo do Colecionador Ana Cristina Massa Editora Biruta Ltda
A Bolsa Amarela Lygia Bojunga Editora Casa Lygia
Bojunga
A Casa da Madrinha Lygia Bojunga Editora Casa Lygia
Bojunga
Corda Bamba Lygia Bojunga Editora Casa Lygia
Bojunga
O Mário que não é de Andrade Luciana Sandroni Editora Claro Enigma
Ltda
Uma Voz do Outro Mundo Margarida Patriota Editora Dimensão
Anabela Procura e Acha mais do que
Procura
Flávia Savari Editora Dimensão
Vou te Contar, meu Camarada Glaucia Lemos Editora Dimensão
Quem me Dera ser Feliz Julio Emilio Braz Editora do Brasil SA
Treze Noites de Terror Luiz Roberto Guedes Editora do Brasil SA
Ainda uma Vez - Adeus! Ivana Versiari Editora Dubolsinho
Ltda
Beto, o Analfabeto Drummond Amorim Editora Dubolsinho
Ltda
Bichos Tipográficos Guilherme Mansour Editora Dubolsinho
Ltda
Benjamim, o Filho da Felicidade Heloisa Peres Lima Editora FTD SA
Medéia: o Amor Louco Eurípedes Editora FTD SA
Os Miseráveis Victor Hugo Editora FTD SA
Um Estudo em Vermelho Artur Conan Doyle Editora FTD SA
Viagem ao Centro da Terra Julio Verne Editora FTD SA
Vinte mil Léguas Submarinas Julio Verne Editora FTD SA
Histórias do Japão José Arrabal Editora Fundação
Peirópolis Ltda
A Prosa do Mundo Maurice Merleau-Ponty Editora Gaia Ltda
Estórias da Casa Velha da Ponte Cora Coralina Editora Gaia Ltda
Sete Histórias Luiz Vilela Editora Gaia Ltda
Vila Boa de Goiaz Cora Coralina Editora Gaia Ltda
A Turma do Pererê - As manias do
Tininim
Ziraldo Editora Globo SA
A Vaca e o Hipogrifo Mario Quintana Editora Globo SA
As Crônicas Marcianas Ray Bradbury Editora Globo SA
Maluquinho por Arte - Histórias em que a
Turma Pinta e Borda
Ziraldo Editora Globo SA
Memórias da Emília Monteiro Lobato Editora Globo SA
O Aprendiz de Feiticeiro Mario Quintana Editora Globo SA
O Picapau Amarelo Monteiro Lobato Editora Globo SA
Viagem ao Céu Monteiro Lobato Editora Globo SA
Adeus, Ponta do meu Nariz! Edward Lear Editora Hedra Ltda
Autobiografia de um Super-herói Alexandre de Souza Editora Hedra Ltda
100
Saga Animal Índigo Editora Hedra Ltda
Um Dálmata Descontrolado Índigo Editora Hedra Ltda
Contos da Selva Horácio Quiroga Editora Iluminuras Ltda
Contos e Fábulas Charles Perrault Editora Iluminuras Ltda
O Ex estranho Paulo Leminski Editora Iluminuras Ltda
Tudos Arnaldo Antunes Editora Iluminuras Ltda
A Peleja do Violeiro Magrilim com a
Formosa Princesa Jezebel
Fabio Sombra Editora Lê Ltda
Chico o Caminhador Fernando Brante Editora Lê Ltda
Tiro no Escuro Rita Espeschit Editora Lê Ltda
É Proibido Comer a Grama Wander Piroli Editora Leitura Ltda
Ficção - Histórias para o Prazer da
Leitura
Miguel Sanches Neto Editora Leitura Ltda
O Matador Wander Piroli Editora Leitura Ltda
A Mala de Hana Karen Levini Editora Melhoramentos
Ltda
Guerreiros da Vida Márcia Kupstas Editora Melhoramentos
Ltda
Minha Tia me Contou Marina Colasanti Editora Melhoramentos
Ltda
Os Gatos David Taylor Editora Melhoramentos
Ltda
Sonhos em Amarelo Luiz Antonio Aguiar Editora Melhoramentos
Ltda
Soul Love - à Noite o Céu é Perfeito! Linda Waterhouse Editora Melhoramentos
Ltda
Um Estudo em Vermelho Artur Conan Doyle Editora Melhoramentos
Ltda
Ana Pedro Miguel Jorge Editora Mercuryo Ltda
Diário de um Apaixonado - Sintomas de
um Bem Incurável
Fabrício Carpiryar Editora Mercuryo Ltda
Forrobodó no Forró Elias José Editora Mercuryo Ltda
Palmas para João Cristiano Ana Maria Machado Editora Mercuryo Ltda
Burle Marx Vera Beatriz Siqueira Editora Moderna Ltda
Cultura da Terra Ricardo Azevedo Editora Moderna Ltda
O Imperador Amarelo - Fábulas, Lendas
e Ensinamentos dos Antigos Mestres
Chineses
Philip F. Williams Editora Moderna Ltda
A Megera Domada em Cordel Marco Haurelio (adap.) Editora Nova
Alexandria Ltda
No Começo de Tudo Domingo Pellegrini Editora Nova
Alexandria Ltda
O Corcunda de Notre Dame em Cordel João Gomes de Sá (adap.) Editora Nova
Alexandria Ltda
Os Miseráveis em Cordel Klévisson Viana (adap.) Editora Nova
Alexandria Ltda
Antologia Poética Marly de Oliveira Editora Nova Fronteira
SA
Do Outro Lado tem Segredos Ana Maria Machado Editora Nova Fronteira
SA
Fita Verde no Cabelo João Guimarães Rosa Editora Nova Fronteira
SA
O Beijo no Asfalto - graphic novel Nelson Rodrigues Editora Nova Fronteira
SA
O Herói e a Feiticeira Lia Neiva Editora Nova Fronteira
SA
Aventuras de Alice no País das
Maravilhas
Lewis Carrol Editora Objetiva Ltda
Mais Comédias para Ler na Escola Luis Fernando Veríssimo Editora Objetiva Ltda
101
O Menino que Vendia Palavras Ignácio de Loyola Brandão Editora Objetiva Ltda
Uólace e João Victor Rosa Amanda Strauss Editora Objetiva Ltda
O Brasil das Placas - Viagem por um
país ao pé da letra
José Eduardo Camargo Editora Original Ltda
Raimundo - cidadão do mundo Fabio Yabu Editora Original Ltda
O Reencontro Fred Uhlman Editora Planeta do
Brasil Ltda
Codinome Duda Marcelo Carneiro da Cunha Editora Projeto Ltda
Insônia Marcelo Carneiro da Cunha Editora Projeto Ltda
Confidências, Confusões... e Garotas Gustavo Reis Editora Prumo Ltda
Frenesi - Histórias de Duplo Terror Heloisa Seixas Editora Prumo Ltda
A Última Viagem do Navio Fantasma Carme Sole Vendrell Editora Record Ltda
Asterix e a Volta às Aulas Albert Uderzo Editora Record Ltda
Asterix nos Jogos Olímpicos R. Goscinny Editora Record Ltda
Histórias de Alexandre Graciliano Ramos Editora Record Ltda
Mundo de Sombras Ivanir Calado Editora Record Ltda
Dom Quixote de la Mancha Miguel de Cervantes Editora Revan Ltda
Jornada pelo Rio Mar Eva Ibbotson Editora Rocco Ltda
Leonardo e a Invenção Mortal Robert Harris Editora Rocco Ltda
Contos e Lendas Afro-brasileiros – A
criação do mundo
Reginaldo Prandi Editora Schwarcz Ltda
D. João Carioca Lilia Moritz Editora Schwarcz Ltda
O Visconde Partido ao Meio Ítalo Calvino Editora Schwarcz Ltda
Viagem pelo Brasil em 52 Histórias Silvana Salerno Editora Schwarcz Ltda
Guerra Dentro da Gente Paulo Leminski Editora Scipione SA
O Mundo é pra ser Voado Vivina de A. Viana Editora Scipione SA
O Segredo das Tranças e Outras
Histórias Africanas
Rogério Andrade Barbosa Editora Scipione SA
Sociedade da Caveira de Cristal Andrea Del Furgo Editora Scipione SA
Teiniaguá - A princesa moura encantada Caio Riter Editora Scipione SA
Ururau, Praga e Pica-pau Celso Sisto Editora Scipione SA
Histórias de Mukashi Contos Populares
do Japão
Lucia Hiratsuko Elementar Publicações
e Editora Ltda
Janelas e Tempo Teruko Oda Escrituras Editora e
Distribuidora de Livros
Ltda
Zôo Imaginário Sérgio de Castro Pinto Escrituras Editora e
Distribuidora de Livros
Ltda
A Cinza das Horas Manuel Bandeira Frente Editora Ltda
Estrela-de-rabo e Outras Histórias
Doidas
Nilma Gonçalves Lacerda Frente Editora Ltda
Uma Rede para Iemanjá Antonio Callado Frente Editora Ltda
O Vendedor de Judas Tercia Montenegro Fundação Democrito
Rocha
12 Horas de Terror Marcos Rey Gaudi Editorial Ltda
Meu Livro de Cordel Cora Coralina Gaudi Editorial Ltda
A Volta da Graúna Henfil Geração de
Comunicação Integrada
Comercial Ltda
Jogo do Pensamento Vivina de Assis Viana Geração de
Comunicação Integrada
Comercial Ltda
Eu vi Mamãe Nascer Luiz Fernando Emediato Geração Editorial Ltda
A Vaca Voadora Edy Lima Global Editora e
Distribuidora Ltda
Assassinato na Literatura Infantil João Carlos Marinho Global Editora e
Distribuidora Ltda
102
Coração Roubado Marcos Rey Global Editora e
Distribuidora Ltda
Melhores Contos Moacyr Scliar Moacyr Scliar Global Editora e
Distribuidora Ltda
O Caneco de Prata João Carlos Marinho Global Editora e
Distribuidora Ltda
O Rapto do Garoto de Ouro Marcos Rey Global Editora e
Distribuidora Ltda
O Segredo da Nuvem Ignácio de Loyola Brandão Global Editora e
Distribuidora Ltda
Jogo de Adivinhar Bicho Invisível Bernardo de Mendonça Graphia Projetos de
Comunicação Ltda
Romance da Onça Dragona Bernardo de Mendonça Graphia Projetos de
Comunicação Ltda
Pais Filhos e Outros Bichos Raul Drewnick Ibep Instituto Brasileiro
de Edições
Pedagógicas Ltda
Santos Dumont Fernando Jorge Ibep Instituto Brasileiro
de Edições
Pedagógicas Ltda
Triste Fim de Policarpo Quaresma Lima Barreto Ibep Instituto Brasileiro
de Edições
Pedagógicas Ltda
Jogo Duro Ernesto Rodrigues In pacto Comércio de
Revistas Ltda
Pai que Voa Mario Goulart In pacto Comércio de
Revistas Ltda
Ajuricaba Marcio Souza Instituto Callis
Luiz Gama Myriam Fraga Instituto Callis
Zumbi Carla Caruso Instituto Callis
Mesmo a Noite sem Luar tem Lua Lourenço Diaféria Jinkings Editores
Associados Ltda me
O Agito de Pilar no Egito Flavia Lins E Silva Jorge Zahar Editor Ltda
Para Conhecer Chica da Silva Keila Grinberg Jorge Zahar Editor Ltda
O Santo e a Porca Ariano Suassuna José Olympio Editora
História da Velha Totônia José Lins do Rego José Olympio Editora
O Menino do Dedo Verde Maurice Dryon José Olympio Editora
Quatro Dias de Rebelião Joel Rufino dos Santos José Olympio Editora
Assassinato na Biblioteca Helena Gomes JPA Ltda
De Punhos Cerrados Pedro Bandeira JPA Ltda
O Mágico de Verdade Gustavo Bernardo JPA Ltda
Viagens de Gulliver Jonathan Swift JPA Ltda
O Tesouro do Quilombo Ângelo Machado Lacerda Editores Ltda
Perdido no Ciberespaço Leo Cunha Larousse do Brasil
Participações Ltda
Jack Farrell e a Serpente Emplumada Jean Angilles LGE Editora Ltda
A Alma do Urso Gustavo Bernardo Livraria e Papelaria
Saraiva SA
Bichário - Poemas Otoniel S. Pereira Livraria e Papelaria
Saraiva SA
Histórias do Mundo que se Foi (e Outras
Histórias)
Cyro de Mattos Livraria e Papelaria
Saraiva SA
Procurando Assombração e Outras
Histórias
Márcia Maria B. Fernandes Livraria e Papelaria
Saraiva SA
Alexandre o Grande Dominique Joly Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Contos e Lendas da Ilíada Jean Martin Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Contos e Lendas da Odisséia Jean Martin Livraria Martins Fontes
103
Editora Ltda
Contos e Lendas do Tempo das
Pirâmides
Christian Jacq Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Matilda Roald Dahl Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Murugawa Yaguare Yama Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Romeu e Julieta, Macbeth, Henrique V,
Sonhos de uma Noite de Verão e Júlio
César de Shakespeare
Geraldine McCaughrean
(adap.)
Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Uma Floresta de Histórias Rina Singh Livraria Martins Fontes
Editora Ltda
Antes do Depois Bartolomeu Campos de
Queiros
Manati Produções
Editoriais Ltda
Sobre Vôos Lalau e Laurabeatriz Manole Ltda
Kafka e a Boneca Viajante Jordi Sierra I. Fabra Martins Editora Livraria
Ltda
O Chupa-tinta Eric Sanvoesin Martins Editora Livraria
Ltda
Poemas para Crianças - Fernando
Pessoa
Alexei Bueno (org.) Martins Editora Livraria
Ltda
Um Canudinho para dois Erick Sanvoesin Editora Livraria Ltda
Contos de Mirábile Edino de Almeida Pereira Mazza Edições Ltda
Um Menino Invisível José Marcelo R. Freire Mazza Edições Ltda
Na Terra dos Gorilas Rogério Andrade Barbosa Melhoramentos de São
Paulo Livrarias Ltda
O Cão dos Baskervilles Artur Conan Doyle Melhoramentos de São
Paulo Livrarias Ltda
Tecedor de Palavras Humberto Ak’Abal Melhoramentos de São
Paulo Livrarias Ltda
50 Fábulas da China Fabulosa Sérgio Capparelli / Márcia
Schmaltz
Newtec Editores Ltda
Deuses, Heróis e Monstros Carmen A. Seganfredo / A.S.
Franchini
Newtec Editores Ltda
Uma Colcha muito Curta Sérgio Capparelli Newtec Editores Ltda
Deus segundo Laerte Laerte Olho d’água Comércio
e Serviços Editoriais
Ltda
O Papagaio que não Gostava de
Mentiras e Outras Fábulas Africanas
Adilson Martins Pallas Editora e
Distribuidora Ltda
Fernando Pessoa: o Amor Bate à Porta Elias José Pia Sociedade de São
Paulo
Mãe África: Mitos, Lendas, Fábulas e
Contos
Celso Sisto Pia Sociedade de São
Paulo
As Aventuras de Pinóquio Carlo Collodi Pia Sociedade de São
Paulo
Eneida as Aventuras de Enéias Virgilio Pia Sociedade de São
Paulo
História da A Burleigh Mutén Pia Sociedade de São
Paulo
Histórias Aumentadas conforme são
Contadas
Mario Bag Pia Sociedade Filhas
de São Paulo
Odisséia as Aventuras de Ulisses Homero Pia Sociedade Filhas
de São Paulo
Contos de Shakespeare Mary Lamb (org.) Pixel Media
Comunicação Ltda
Memórias de um Cabo de Vassouras Origenes Lessa Pixel Media
Comunicação Ltda
Zé Beleza Teresinha Éboli Pixel Media
104
Comunicação Ltda
A Bola que Rola Vários RHJ Livros Ltda
Contos Contidos Maria Lucia Simões RHJ Livros Ltda
P.s. Beijei Adriana Falcão Richmond Educação
Ltda
Bem do seu Tamanho Ana Maria Machado Salamandra Editorial
Ltda
O Segredo (mas jura que não conta pra
ninguém?)
Christiane Gribil Salamandra Editorial
Ltda
Peter Pan James Matthew Barrie Salamandra Editorial
Ltda
Ladrões de Histórias João A. Carrascoza Saraiva SA Livreiros
Editores
Pra Você Eu Conto Moacyr Scliar Saraiva SA Livreiros
Editores
Primeiras Lições de Amor Elias José Saraiva SA Livreiros
Editores
Bateu Bobeira e Outros Babados Fanny Abramovich Uno Educação Ltda
Em Busca de um Sonho Walcyr Carrasco Uno Educação Ltda
Malasaventura - Safadeza do Malasartes Pedro Bandeira Uno Educação Ltda
Minhas Rimas de Cordel Cesar Obeidi Uno Educação Ltda
Transplante de Menina Tatiana Belinky Uno Educação Ltda
10 Pãezinhos - Meu Coração não Sei
Por quê
Fábio Moon / Gabriel BA Via lettera Editora e
Livraria Ltda
105
REFERÊNCIAS
ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela Nogueira; FADEL, Tatiana.
Português – Língua e Literatura. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2003.
ALMEIDA, Guilherme de. O Sonho de Marina. São Paulo: Melhoramentos,
1941.
ANTONIO, Jorge Luiz. Tecno-arte-poesia: Análise de Procedimentos. Interact
Revista de Arte, Cultura e Tecnologia, Lisboa, ed. 15. Disponível em:
http://www.interact.com.pt/15/pt/ed15/interfaces/tecno-arte-poesia. Acesso em: 08
dez. 2009.
ANTUNES, Benedito. (Org.) Memória, Literatura e Tecnologia. São Paulo:
Cultura Acadêmica, 2004.
BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. São Paulo: Hucitec,
1999.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da Manhã. In: Poesia Completa e Prosa. Rio de
Janeiro: J. Aguilar, 1967.
BILAC, Olavo; BONFIM, Manuel. Através do Brasil. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1931.
______. Poesias Infantis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1949.
CAMPOS, Augusto de. Poesia, Antipoesia, Antopofagia. São Paulo: Cortez &
Moraes, 1978.
CAMPOS, Augusto de. Viva Vaia Poesia 1949-1979. São Paulo:
Brasiliense, 1986.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 6. ed. São Paulo: Nacional, 1980.
______. O Estudo Analítico do Poema. São Paulo: FFLCH-USP, 1999.
106
______. Formação da Literatura Brasileira. São Paulo: FAPESP, 2009.
CAPPARELLI, Sérgio. Restos de Arco-íris. 9. ed. Porto Alegre: L&PM, 1985.
______. 33 Ciberpoemas e uma Fábula Virtual. 7. ed. Porto Alegre: L&PM,
1996.
______. Poesia Visual. 3. ed. São Paulo: Global, 2000.
______. Um Elefante no Nariz. 6. ed. Porto Alegre: L&PM, 2000.
______. Tigres no Quintal. 3. ed. São Paulo: Global, 2005.
______. 111 Poemas para Crianças. 8. ed. Porto Alegre: L&PM, 2008.
CHARTIER, Roger. A Ordem dos Livros: Leitores, Autores e Bibliotecas na
Europa entre os Séculos XIV e XVI. Trad. Mary Del Priore. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília, 1994.
COSTA, Angélica Gago da.; RAMALHO, Eliane de Medeiros; TEIXEIRA,
Junia Ramalho. A Literatura Infantil e o Livro Eletrônico. In: Anais do XXVIII
Congresso da SBC. Belém, 2008.
CULLER, Jonathan. Teoria Literária Uma Introdução. Trad. Sandra Guardini
R. Vasconcelos. São Paulo: Beca, 1999.
CUNHA, Leo. Perdidos no Ciberspaço. São Paulo: Larousse Jr, 2007.
DILL, Luis. Todos Contra Dante. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
DONATO, Hernâni. Conto dos Meninos Índios. o Paulo: Melhoramentos,
1982.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura Uma Introdução. Trad. Waltersin
Dutra. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
FALEIROS, Álvaro. (Trad.) Caligramas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.
FILHO, José Nicolau Gregorin. Literatura Infantil Brasileira: Da Colonização à
Busca da Identidade. Via Atlântica, São Paulo, n. 9, junho / 2006. Disponível em: <
http://www.fflch.usp.br/dlcv/posgraduacao/ecl/pdf/via09/Via%209%20cap13.pdf>
Acesso em: 10 dez. 2009.
FIORIN, José Luiz. Introdução ao Pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática,
2006.
FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler em Três Artigos que se
Completam. 42. ed. São Paulo: Cortez, 1992.
107
GONÇALVES, Magaly Trindade; AQUINO, Zélia Thomaz; SILVA, Zina Bellodi.
(Org.) Antologia Escolar de Literatura Brasileira. 1. ed. São Paulo: Musa, 1998.
GUIMARÃES, Denise Azevedo Duarte. Poesia Visual & Movimento: Da
Página Impressa aos Multimeios. 2004. Tese (Doutorado em Letras) Universidade
Federal do Paraná, Curitiba, 2004.
HATHERLY, Ana; TELES, Gilberto Mendonça; SANTOS, Zulmira.
(Investigadores). História e Antologia da Literatura Portuguesa do Século XVII.
Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2004.
ISER, Wolfgang. Problemas da Teoria da Literatura Atual. In: LIMA, Luiz da
Costa. Teoria da Literatura em suas Fontes. 2. ed. Rio de Janeiro, Civilização
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