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Análise do comportamento de blocos sobre
quatro estacas com cálice embutido
Carlos Antônio Marek Filho
Dissertação apresentada à Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade
de São Paulo, como parte dos requisitos
para a obtenção do Título de Mestre em
Engenharia de Estruturas
Orientador: José Samuel Giongo
São Carlos
2010
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha catalográfica preparada pela Seção de Tratamento
da Informação do Serviço de Biblioteca – EESC/USP
Marek Filho, Carlos Antônio
M323a Análise do comportamento de blocos sobre quatro
estacas com cálice embutido / Carlos Antônio Marek Filho
; orientador José Samuel Giongo. –- São Carlos, 2010.
Tese (Doutorado-Programa de Pós-Graduação e Área de
Concentração em Engenharia de Estruturas) –- Escola de
Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo,
2010.
1. Blocos. 2. Cálice de fundação embutido. 3. Análise
numérica. 4. Estruturas de fundações. 5. Modelos de
bielas e tirantes. I. Título.
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Aos meus pais, Ana e Carlos,
e à minha irmã Carla.
A
GRADECIMENTOS
Ao final desta jornada, agradeço ao Pai Celestial por ter me iluminado e guardado no
caminho pelo qual tenho trilhado.
Agradeço aos meus pais, Ana e Carlos, à minha irmã, Carla, e aos demais familiares pelo
incentivo e apoio nos momentos de dificuldade e pela educação que me deram, responsável
pelas oportunidades que tem surgido em minha vida.
Aos amigos que fiz durante minha graduação na Universidade Estadual de Maringá.
Ao Capítulo Maringá n.º 89, onde fiz muitas amizades e pude cultivar as virtudes de seus
ensinamentos.
À Universidade Estadual de Maringá, pela minha formação. Aos Professores da UEM, em
especial Julio César Pigozzo, Rafael Alves de Souza, José Aparecido Canova e ao professor
Romel Dias Vanderlei, pela amizade e por ter iniciado minha vida científica. Aos
laboratórios de Estruturas e de Materiais de Construção e seus respectivos funcionários.
A todos os meus colegas e amigos da USP: André, Andreilton, Aref, Bruno, Calil, Charles,
Cris, Daniele, Denis, Dorival, Eclache, Emerson, Ellen, Érica, Francisco, Gabriela,
Giovanni, Hidelbrando, Higor, Hugo, Jesus Daniel, Jesus Garcia, Jonas, Luis Fernando,
Mairal, Manoel Denis, Marcela, Marcelo Cuadrado, Marliane, Rodolfo, Rodrigo Barros,
Rodrigo Delalibera, Rodrigo Pagnussat, Valmiro, Walter, Wanderson. Aos colegas e amigos
que dividiram sala na Esquina da Produção: Antonio Carlos, Luiz Aquino, Cátia, Freddy,
Nero, Marcelo Reis, Wagner e Wellison.
Às valiosas amigas de São Carlos e de Maringá, Engenheira Juliana e Arquiteta Marieli.
Tive o privilégio desta amizade iniciada em Maringá se fortalecer em São Carlos.
Ao Professor e amigo José Samuel Giongo pela orientação, amizade e pelos conselhos e
confiança neste trabalho. Uma das melhores pessoas que pude conhecer em São Carlos tendo
a felicidade de ser seu orientado.
Ao CNPq pela bolsa de mestrado concedida.
Ao Departamento de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos, aos seus
funcionários e professores.
“Procurando o bem para os nossos
semelhantes encontramos o nosso.”
Platão
R
ESUMO
MAREK FILHO, C. A. Análise do Comportamento de Blocos sobre Quatro Estacas com
Cálice Embutido. 2010. 190 f. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São
Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.
A racionalização e a industrialização da construção civil têm promovido o sistema construtivo
baseado em elementos de concretos pré-moldados. O comportamento das ligações entre os
elementos pré-moldados constitui uma das principais preocupações dos projetistas, sendo as
ligações entre a superestrutura e as fundações determinantes na estabilidade e na distribuição
de esforços solicitantes da estrutura. O comportamento de blocos sobre estacas com ligações
para pilares pré-moldados possui particularidades em razão do diferente mecanismo de
transferência de forças do pilar para o bloco mediante a ligação. Neste trabalho é estudado o
comportamento de blocos de fundação apoiados sobre quatro estacas com cálice totalmente
embutido para ligação com pilar pré-moldado. O estudo baseou-se em análise numérica não-
linear de modelos tridimensionais considerando a fissuração do concreto, a presença de
armadura e a interface de ligação. O comportamento de blocos com pilares submetidos à força
vertical centrada e excêntrica foi descrito em termos de força última, panorama de fissuração,
fluxo de tensões principais e tensões nas armaduras do bloco. Os resultados indicam a
ocorrência de transferência de esforços do pilar para a fundação a partir das paredes do cálice
de interface lisa, entretanto com intensidade insuficiente para a formação de bielas de
compressão, e o risco da ocorrência de punção em blocos onde os pilares são ligados por
cálices de paredes lisas.
Palavras-chave: Blocos sobre estacas. Cálice de fundação embutido. Análise numérica.
Estruturas de fundações. Modelo de Bielas e Tirantes.
A
BSTRACT
MAREK FILHO, C. A. Analysis of the Behavior of Four-Pile Caps with Embedded
Socket. 2010. 190 f. Dissertação (Mestrado) Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010.
The rationalization and the industrialization of the civil constructions have stimulated the
construction process based on precast elements. One of the main designer’s worries is about
the behavior of the joints between precast elements, and the joints between superstructure and
the foundations which are determinant in the construction stability and behavior of elements.
In reason of the mechanism of transference of the forces from column to pile-cap by socket
connections, the behavior of pile-caps with joints for precast columns has some specificity.
The behavior of four-pile caps with embedded socket for precast columns joints is studied in
this research. The study is based in nonlinear numerical analysis of three dimensional models
considering the cracking in concrete, the reinforcement and the joint interface. The behavior
of pile caps under centered and eccentric vertical force is described by ultimate force,
cracking patterns, principal stresses flow and reinforcements strains. The results suggests that
occurs the transfer of forces from column to the pile cap in the socket walls with smooth
interface, however the intensity is not enough to form the struts, and the risk of development
of punching shear in pile caps which columns are connected by smooth interface socket walls.
Keywords: Pile-caps. Embedded socket foundation. Numerical analysis. Foundations
structures. Strut-and-Tie model.
S
UMÁRIO
1
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 17
1.1 C
ONSIDERAÇÕES INICIAIS
.................................................................................................... 17
1.2 O
BJETIVO
............................................................................................................................. 20
1.3 J
USTIFICATIVA
..................................................................................................................... 20
1.4 M
ÉTODO
............................................................................................................................... 20
1.5 E
STRUTURA DA DISSERTAÇÃO
............................................................................................. 21
2
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...................................................................................... 23
2.1 M
ÉTODO DE
B
IELAS E
T
IRANTES
......................................................................................... 23
2.2 E
STUDOS DESENVOLVIDOS PARA BLOCOS SOBRE ESTACAS
................................................ 27
2.2.1 Pesquisas de caráter experimental ................................................................................... 28
2.2.2 Pesquisas de caráter numérico ou analítico ..................................................................... 40
2.2.3 Considerações finais ........................................................................................................ 48
2.3 P
ROJETO DE BLOCOS SOBRE QUATRO ESTACAS
................................................................... 50
2.3.1 Cálculo das reações e do número de estacas ................................................................... 50
2.3.2 Classificação dos blocos e recomendações quanto à altura ............................................. 51
2.3.3 Espaçamento entre estacas e distância das estacas ao perímetro do bloco ...................... 54
2.3.4 Ligação entre estaca e bloco ............................................................................................ 56
2.3.5 Armadura principal .......................................................................................................... 56
2.3.6 Dimensionamento e verificações ..................................................................................... 59
2.3.6.1 Método das Bielas de Blévot e Frémy (1967) ........................................................ 60
2.3.6.2 Método do boletim 73 do CEB-FIP (1970) ............................................................ 63
2.3.6.3 Critérios da CSA A23.3 (2004) .............................................................................. 66
2.3.6.4 Critérios do ACI 318 (2008) ................................................................................... 67
2.3.6.5 Critérios do EHE (2008) ......................................................................................... 68
2.3.7 Armaduras secundárias .................................................................................................... 68
2.3.8 Considerações finais ........................................................................................................ 70
2.4 L
IGAÇÕES POR CÁLICES DE FUNDAÇÃO
............................................................................... 71
2.4.1 Modelo de Leonhardt e Mönnig (1977) e da ABNT NBR 9062:2006 ............................ 72
2.4.2 Outros modelos e estudos realizados ............................................................................... 78
2.4.3 Considerações finais ........................................................................................................ 90
3
ESTUDO E ANÁLISE DOS MODELOS NUMÉRICOS ........................................... 91
3.1 C
ONSIDERAÇÕES INICIAIS
.................................................................................................... 91
3.2 P
ROGRAMA COMPUTACIONAL
DIANA ................................................................................. 91
3.2.1 Introdução ........................................................................................................................ 91
3.2.2 Modelos constitutivos ...................................................................................................... 92
3.2.2.1 Modelos Total Strain .............................................................................................. 94
3.2.2.2 Modelos incrementais ou plásticos ......................................................................... 98
3.2.2.3 Modelo Maekawa Modificado ................................................................................ 98
3.2.3 Elementos finitos utilizados ........................................................................................... 100
3.2.4 Métodos de solução do sistema de equações não-lineares ............................................. 104
3.3 A
NÁLISE PARAMÉTRICA
..................................................................................................... 106
3.4 R
ESULTADOS DAS ANÁLISES
.............................................................................................. 118
3.4.1 Bloco D de Adebar et al. (1990) .................................................................................... 119
3.4.2 Bloco E de Adebar et al. (1990) .................................................................................... 122
3.4.3 Bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998) .................................................................. 125
3.4.4 Bloco A de Chan e Poh (2000) ...................................................................................... 129
3.4.5 Considerações finais ...................................................................................................... 133
4
BLOCOS SOBRE QUATRO ESTACAS COM CÁLICE EMBUTIDO ................ 135
4.1 C
ONSIDERAÇÕES INICIAIS
.................................................................................................. 135
4.2 M
ODELOS ANALISADOS
...................................................................................................... 135
4.2.1 Parâmetros analisados .................................................................................................... 136
4.2.2 Descrição dos modelos .................................................................................................. 136
4.3 A
NÁLISE DOS RESULTADOS
................................................................................................ 146
4.3.1 Curvas força-deslocamento ............................................................................................ 146
4.3.2 Fluxo de tensões ............................................................................................................ 149
4.3.3 Tensões principais ......................................................................................................... 152
4.3.4 Tensões nas barras das armaduras ................................................................................. 157
4.3.5 Panorama de fissuração ................................................................................................. 166
4.3.6 Forças nas bielas e tirantes............................................................................................. 167
5
CONCLUSÃO .............................................................................................................. 175
6
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 179
I
NTRODUÇÃO
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
1
1
1 I
NTRODUÇÃO
1.1 C
ONSIDERAÇÕES INICIAIS
Os blocos sobre estacas, também chamados de blocos de coroamento, são elementos
estruturais volumétricos, caracterizados por possuir as três dimensões da mesma ordem de
grandeza, cujo papel é conduzir as ações provenientes da superestrutura para as estacas. As
estacas e os tubulões são elementos de fundação adotados como alternativa para transmissão
das ações ao solo quando este não possui resistência adequada nas suas camadas superiores.
Uma vez definida a necessidade dessas fundações baseado nas informações
geotécnicas, intensidades das ações, vizinhança e fatores de ordem técnica e econômica da
obra, faz-se necessário o dimensionamento dos blocos sobre estacas. Atualmente, dois são os
métodos mais utilizados para o dimensionamento destes elementos: a Teoria da Flexão e o
Método das Bielas.
Na maioria das situações, emprega-se a Teoria de Flexão para os blocos ditos flexíveis
e o Método das Bielas para os blocos ditos rígidos. Como a rigidez do bloco é dada por suas
dimensões torna-se necessário o prévio conhecimento das dimensões.
O dimensionamento segundo a Teoria de Flexão é fundamentado na verificação do
equilíbrio em determinadas seções críticas. Desse equilíbrio obtém-se a área de aço necessária
para absorver as tensões longitudinais de tração. O principal código normativo que adota este
método atualmente é o ACI 318 (2008). O Método das Bielas mais clássico e que serve de
base para os códigos normativos que o adotam, tal como a CSA A23.3 (2004) e a EHE
(2008), é o proposto por Blévot e Frémy (1967) que, apesar de não terem sido os precursores
da utilização da analogia de treliça em blocos, talvez tenham sido os primeiros a fazer a
verificação das bielas. A relevância e a abrangência de seus estudos fizeram seu trabalho
tornar se o principal divulgador do método. O Método das Bielas, de forma simples, consiste
na idealização de bielas comprimidas em regiões de fluxo de tensões de compressão e de
18
Capítulo 1
:
Introdução
tirantes onde ocorre o fluxo de tensões de tração. O dimensionamento fundamenta-se na
verificação da compressão das bielas e no dimensionamento dos tirantes.
Em razão da incessante busca pela industrialização da construção, uma demanda
crescente de edificações constituídas por estruturas formadas por elementos pré-moldados. De
acordo com definição da ABNT NBR 9062:2006, o elemento pré-moldado é aquele “...
moldado previamente e fora do local de utilização definitiva na estrutura”. Desse modo
busca-se também atingir situações de maior produtividade e racionalidade da construção civil.
Quando definida a opção pelo sistema estrutural formado por elementos de concreto
pré-moldado, uma das maiores preocupações são as ligações entre os elementos. Em El Debs
(2000), a importância da ligação é justificada pela sua influência tanto na produção como no
comportamento da estrutura finalizada. Uma das ligações de maior influência no
comportamento da estrutura montada é a que liga os pilares aos elementos de fundação. Estas
ligações podem assumir comportamento rígido, semi-rígido ou de articulação, sendo mais
comum a primeira. As principais maneiras de construções das ligações gidas são: por meio
de cálice, por meio de chapa de base, por emenda da armadura com graute e bainha e com
emenda de armaduras salientes.
A ligação por meio de cálices é uma das alternativas mais utilizadas no Brasil e mais
conhecidas no mundo e consiste no embutimento de uma parcela do comprimento do pilar no
elemento estrutural de fundação. As vantagens são: facilidade de montagem e ajuste dos
desvios de execução e a ótima capacidade de transferência de momentos. Em contrapartida a
ligação por cálice externo resulta bastante pronunciada impedindo sua utilização em divisas.
Elliott (2002) ainda cita que as ligações por cálices são as mais econômicas, mas possuem uso
reservado a situações onde elementos de fundação de grandes dimensões não tenham
restrições. Além disso, a opção por ligações em chapa de base, em vez de cálices de fundação,
tende a ser embasada mais por argumentos de produção do que estruturais.
Os cálices podem se apresentar externo, parcialmente embutido ou embutido ao
elemento de fundação, Figura 1.1. O cálice externo consiste na ligação onde a transferência
das forças do pilar para a fundação ocorre totalmente a partir das paredes do colarinho, a
ligação por cálice embutido é aquela onde a transferência das forças ocorre pelas paredes de
uma cavidade embutida no elemento de fundação. O cálice parcialmente embutido consiste de
uma ligação onde parte do pilar está embutida no elemento de fundação e parte está envolvida
pelo colarinho. O cálice embutido apresenta menor dificuldade para montagem da fôrma e
19
Capítulo 1
:
Introdução
possibilidade de ser utilizado em divisa, entretanto apresenta também um maior consumo de
concreto e maiores incertezas quanto ao comportamento do conjunto cálice-bloco.
Figura 1.1 Formas do cálice de fundação
A aplicação do Método de Bielas e Tirantes em blocos possuindo cálice embutido
pode sugerir um procedimento para o dimensionamento de blocos de fundação que possuem a
cavidade para o embutimento do pilar. Todavia, como o Método de Bielas e Tirantes idealiza
uma treliça espacial formada por tirantes tracionados e bielas comprimidas representando o
fluxo de tensões no elemento, e este depende das condições de contorno, ações atuantes,
apoios e características geométricas do modelo, torna-se necessário conhecer o fluxo de
tensões por meio de ensaios experimentais, ensaios fotoelásticos ou análises numéricas.
O advento de programas computacionais baseados no Método dos Elementos Finitos
viabilizou a análise numérica e a obtenção do fluxo de tensões em elementos de concreto e em
especial, as análises não-lineares para a obtenção dos deslocamentos, estados de tensões e
deformações em elementos de maior complexidade. Dessa maneira, é possível estabelecer
modelos de bielas e tirantes mais refinados e que levem em consideração a não-linearidade
física do concreto.
20
Capítulo 1
:
Introdução
1.2 O
BJETIVO
O objeto dessa pesquisa é:
estudar o comportamento de blocos sobre quatro estacas com cálice totalmente
embutido;
estudar a influência de parâmetros como comprimento de embutimento, altura do
bloco e conformação das paredes do cálice no comportamento de blocos sobre estacas,
em especial sobre a geometria das bielas;
construir um modelo numérico para a análise de blocos com ligações com pilar
mediante cálice embutido, que possuem comportamento complexo.
1.3 J
USTIFICATIVA
A pesquisa justifica-se em razão da reduzida quantidade de estudos referentes aos
blocos sobre estacas com cálice de fundação embutido e seu comportamento quando
solicitados por força excêntrica. Além disso, ainda não foi elucidada a influência do
comprimento de embutimento e da conformação das paredes do cálice e do pilar na
transferência de esforços do pilar para o bloco, e, sua interferência na formação dos campos
de tensões no bloco apesar de ser uma das ligações mais recorridas pelos projetistas de
estruturas pré-moldadas.
1.4 M
ÉTODO
Para a investigação do problema propõe-se uma simulação numérica de modelos
expressivos, mediante uso do programa computacional DIANA 9.2 que se baseia no método
dos elementos finitos. Por meio desse programa, realizou-se uma análise não-linear dos
21
Capítulo 1
:
Introdução
modelos na qual se variou as ações, dimensões do bloco, comprimento de embutimento do
pilar e a espessura da laje
1
de fundo. As atividades realizadas foram as seguintes:
levantamento de material bibliográfico bem como acompanhamento de trabalhos em
desenvolvimento e artigos ligados ao tema;
utilização do programa empregado para análise numérica dos modelos adotados;
análise dos modelos e comparação.
1.5 E
STRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Este trabalho desenvolve-se em seis capítulos sendo:
Capítulo 1: Introdução apresenta o tema, a justificativa, os objetivos e o método
utilizado para o desenvolvimento desta pesquisa;
Capítulo 2: Revisão Bibliográfica proporciona os fundamentos do método das bielas
e tirantes seguindo de revisão e discussão de resultados das principais pesquisas a respeito de
blocos sobre estacas, com ênfase aos blocos apoiados sobre quatro estacas. São também
apresentados os principais modelos e recomendações para o cálculo e dimensionamento de
blocos sobre quatro estacas oferecendo ao final uma breve explanação de alguns modelos
utilizados para o cálculo e dimensionamento de alguns tipos de cálices;
Capítulo 3: Estudo e Análise dos Modelos Numéricos este item do trabalho comenta
os principais recursos do programa computacional DIANA, baseado no método dos elementos
finitos, destacando os recursos utilizados nas análises propostas neste trabalho. É feita uma
breve discussão a respeito dos modelos constitutivos disponíveis para o concreto, em especial
os modelos de fissuração, e ao término são feitas análises paramétricas a fim de calibrar as
respostas dos modelos numéricos com alguns resultados experimentais da literatura;
Capítulo 4: Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido são analisados 24
modelos de blocos sobre quatro estacas possuindo cálice de fundação e com pilares
1
Nesse caso o termo laje de fundo talvez não seja o mais apropriado em razão de ser utilizado para elementos de
flexão submetidos a ações predominantemente normais ao seu plano. Todavia, neste e em outros trabalhos
denomina-se a camada inferior do bloco, localizada entre o topo das estacas e a base do pilar, de laje de fundo.
22
Capítulo 1
:
Introdução
submetidos à força vertical centrada e excêntrica. Os resultados obtidos são analisados
criticamente considerando as respostas numéricas comparadas a alguns modelos analíticos;
Capítulo 5: Conclusão – a partir dos resultados apresentados no Capítulo 4, conclui-se
a respeito do comportamento dos blocos analisados e apresentam-se as perspectivas de
pesquisas futuras, a fim de complementar este trabalho e dirimir algumas dúvidas quanto ao
comportamento destes elementos.
R
EVISÃO
B
IBLIOGRÁFICA
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
2
2
2 R
EVISÃO
B
IBLIOGRÁFICA
2.1 M
ÉTODO DE
B
IELAS E
T
IRANTES
Na primeira década do século XX, E. Mörsch apresentou uma analogia de treliça para
aplicação no dimensionamento à força cortante atuante em estruturas lineares de concreto.
Essa proposta foi desenvolvida e generalizada, e hoje consiste no método utilizado para o
dimensionamento de elementos reticulares de concreto submetidos a ação de força cortante e
momento torsor, segundo as principais normas de concreto armado. Ao longo dos anos, o
método foi expandido por pesquisadores como Leonhardt e Mönnig e Rüsch e no final do
século XX, Schlaich e Schäfer apresentaram o método em sua forma mais generalizada e
sistematizada, então denominado de Método de Bielas e Tirantes.
Segundo a ABNT NBR 6118:2003, o método é denominado por Método de Bielas e
Tirantes, entretanto sabe-se que originalmente era conhecido apenas por Método das Bielas,
uma vez que as bielas podem estar comprimidas (escoras) ou tracionadas (tirantes). O nome
mais adequado é Método de Escoras e Tirantes, entretanto neste trabalho será utilizada a
denominação que consta na norma brasileira.
Os elementos estruturais podem ser divididos em regiões B e regiões D sendo as
regiões B aquelas onde a hipótese de Bernoulli é válida, ou seja, a distribuição de
deformações em uma seção qualquer do elemento é linear e, sendo assim, está garantida a
manutenção da forma plana da seção. As regiões D são as regiões descontínuas, onde a
hipótese de Bernoulli não é válida. Conforme Schlaich e Schäfer (1991), regiões na
proximidade de locais onde atuam forças concentradas, cantos, mudanças de direção do
elemento, aberturas e mudança da seção transversal do elemento caracterizam regiões de
descontinuidade. Considerando o princípio de Saint-Venant, a região de descontinuidade pode
ser delimitada por uma região de dimensões da mesma ordem de grandeza da seção
transversal do elemento, conforme ilustra a Figura 2.1. Para as regiões D, os modelos de
bielas e tirantes tornam-se interessantes por representarem, de modo aproximado, o fluxo
interno das tensões.
24
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.1 Exemplos de regiões D
Fonte: ACI 318(2008)
Considerando que a maior parte dos blocos sobre estacas são elementos cujas três
dimensões são da mesma ordem de grandeza e sendo a ação e as reações aplicadas em áreas
relativamente reduzidas do pilar e das estacas respectivamente, fica evidente que o bloco
sobre estacas é um elemento descontínuo em toda sua extensão e sendo assim é conveniente o
seu tratamento por modelos de bielas e tirantes.
Os modelos de bielas e tirantes consistem em representações discretas dos campos de
tensões em elementos estruturais de concreto armado. O Método de Bielas e Tirantes é
fundamentado na idealização de uma treliça formada por barras comprimidas e tracionadas,
denominadas respectivamente de bielas e tirantes, que descrevem o fluxo de tensões em
determinado elemento de concreto estrutural. Além dessa analogia de treliça, o método de
bielas e tirantes prevê o dimensionamento do elemento de concreto a partir da determinação
da área de aço dos tirantes e da verificação da segurança com relação à ruptura das bielas
comprimidas e das regiões nodais.
Em Silva e Giongo (2000) encontra-se explicado o “Processo do Caminho de Carga”,
por meio do qual se pode sistematizar o desenvolvimento de modelos de bielas e tirantes pelo
fluxo de tensões internas. Mas antes de aplicar o processo do caminho de carga é necessário
satisfazer o equilíbrio de todas as forças atuantes no contorno. Após aplicação do processo do
caminho de cargas, dimensionam-se os tirantes e verificam-se as bielas e as regiões nodais.
A modelagem pode oferecer ao projetista mais de uma opção de modelo de bielas e
tirantes, de tal maneira que é possível otimizar a escolha do modelo por intermédio da
consideração do princípio da mínima energia de deformação, pois, segundo Schlaich e
25
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Schäfer (1991), as ações tendem a utilizar o caminho de mínimas forças e deformações,
descrito pela Expressão 2.1, sendo assim é conveniente a escolha do modelo que apresenta
menores comprimentos de tirantes uma vez que estes são mais deformáveis que as bielas.
ܨ
݈
ߝ
௠௜
=
݉
í
݊݅݉݋
(2.1)
Sendo que, F
i
é a força, l
i
é o comprimento e
ε
mi
é a deformação específica média das
barras. As bielas são discretizações de campos de tensão de compressão no concreto e podem
apresentar-se em três configurações típicas ilustradas na Figura 2.2. A distribuição de tensões
paralela é típica de regiões B onde as tensões se distribuem uniformemente sem desenvolver
tensões transversais de tração, a distribuição de tensões em forma de garrafa ocorre quando
forças concentradas são introduzidas e propagadas em curvaturas acentuadas ocasionando
consideráveis tensões de tração transversais. Por fim, a distribuição de tensões radiais é uma
idealização de um campo de tensão com curvatura desprezível, encontrada em regiões D onde
forças concentradas são introduzidas e propagadas de maneira suave sem desenvolver tensões
de tração transversais.
Figura 2.2 Configurações típicas de campos de compressão: a) Distribuição de tensões
paralelas, b) distribuição curvilínea ou em forma de garrafa e c) distribuição radial ou em
leque.
Fonte: Strut-and-Tie Resource Website
A verificação das tensões de compressão nas seções transversais das bielas e nos s
pode ser realizada por meio dos parâmetros de resistência fornecidos por pesquisadores, como
Schlaich e Schäfer (1991) e Fusco (1994), ou ainda, pelos códigos normativos internacionais
tais como: CEB-FIP 1990 (1993), Eurocode 2 (2002), CSA A23.3 (2004), ACI 318 (2008) e
EHE (2008). Algumas dessas recomendações para as regiões nodais encontram-se descritas
na Tabela 2.1, entretanto, estes valores devem ser utilizados com parcimônia e não devem ser
comparados entre si, pois, a depender das normas, as resistências características à compressão
26
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
dos concretos possuirão quantis diferentes e serão obtidas em corpos-de-prova de diferentes
formas e dimensões.
O Eurocode 2 (2002) e a EHE (2008) adotam a resistência característica do concreto,
f
ck
, como sendo obtida em ensaios de corpos-de-prova cilíndricos considerando um quantil de
5% e o fator de minoração da resistência do concreto, γ
c
, é de 1,5. O ACI 318 (2008) e a CSA
A23.3 (2004) adotam resistência característica à compressão do concreto obtida em ensaios de
corpos-de-prova cúbicos, considerando um quantil de 1%.
Tabela 2.1 Recomendações para a resistência das regiões nodais
Recomendação
Nós que recebem
apenas bielas, ou
sob apoios ou
pontos de aplicação
de forças
Nós que ancoram
apenas um tirante
Nós que ancoram
tirantes em mais
de uma direção
Nós sob
compressão
triaxial
Schäfer e Schlaich
(1988)
0
,
935
·
݂
௖ௗ
0
,
68
·
݂
௖ௗ
0
,
68
·
݂
௖ௗ
0
,
935
·
݂
௖ௗ
Schlaich e Schäfer
(1991)
1
,
1
·
݂
௖ௗ
0
,
8
·
݂
௖ௗ
0
,
8
·
݂
௖ௗ
1
,
1
·
݂
௖ௗ
CEB-FIP 1990
0
,
85
·
1
݂
௖௞
250
·
݂
௖ௗ
0
,
60
·
1
݂
௖௞
250
·
݂
௖ௗ
0
,
60
·
1
݂
௖௞
250
·
݂
௖ௗ
-
Eurocode 2 (2002)
1
݂
௖௞
250
·
݂
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0
,
85
·
1
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250
·
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0
,
75
·
1
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250
·
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3
·
1
݂
௖௞
250
·
݂
௖ௗ
CSA A23.3 (2004)
0
,
85
݂
0
,
75
݂
0
,
65
݂
-
ACI 318 (2008)
0
,
85
݂
0
,
68
݂
0
,
51
݂
-
EHE (2008)
݂
௖ௗ
0
,
70
·
݂
௖ௗ
0
,
70
·
݂
௖ௗ
3
,
30
·
݂
௖ௗ
Sendo que:
f
ck
é a resistência característica à compressão do concreto;
f
cd
é a resistência de cálculo à compressão do concreto obtida em corpos-de-prova
cilíndricos, considerando um quantil de 5% e um fator de minoração da
resistência igual a 1,5;
f
c
é a resistência característica à compressão do concreto obtida em corpos-de-
prova cúbicos, considerando um quantil de 1%;
Ø
c
é o fator de segurança que minora a resistência do concreto cujo valor é 0,65.
Quanto à resistência das bielas, a CSA A23.3 (2004) sugere que seja calculada pela
Expressão 2.2.
27
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
݂
௖௨
=
݂
0
,
8
+
170
ߝ
0
,
85
݂
(2.2)
Sendo que:
ε
1
é ߝ
+
ߝ
+ 0,002
∙ ܿ݋ݐ݃
ߠ
;
θ
s
é o menor ângulo entre a biela e os tirantes;
ε
s
é a deformação da armadura tracionada que atravessa a biela inclinada num
ângulo
θ
s
em relação à biela.
A CSA A23.3 (2004) oferece subsídios para a determinação da área de concreto da
biela, assim como o CEB-FIP 1990 (1993). A verificação da biela pelo CEB-FIP 1990 (1993)
é feita pelas Expressões 2.3 e 2.4, sendo que a Expressão 2.3 é válida para zonas não
fissuradas e a Expressão 2.4 é válida para zonas fissuradas.
݂
௖ௗଵ
=
0
,
85
·
1
݂
௖௞
250
·
݂
௖ௗ
(2.3)
݂
௖ௗଵ
=
0
,
60
·
1
݂
௖௞
250
·
݂
௖ௗ
(2.4)
O ACI 318 (2008), a EHE (2008) e o Eurocode 2 (2002) também fornecem valores
limites para a resistência das bielas. A norma brasileira ABNT NBR 6118:2003 recomenda a
utilização do Método de Bielas e Tirantes em elementos como os blocos gidos, todavia não
fornece subsídios para a utilização do método sendo necessário recorrer a algumas dessas
obras ou códigos citados.
2.2 E
STUDOS DESENVOLVIDOS PARA BLOCOS SOBRE ESTACAS
Nesta seção do trabalho são discutidos alguns dos principais estudos realizados
durante um período de aproximadamente meio século que contribuíram para o entendimento
do comportamento dos blocos sobre quatro estacas. As pesquisas envolvendo blocos sobre
28
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
duas e três estacas que tiveram seus resultados discutidos contribuíram para a compreensão do
comportamento dos blocos em geral e para o desenvolvimento deste trabalho.
A realização de ensaios experimentais de blocos de fundação, em larga escala,
algumas vezes é limitada por dificuldades técnicas e financeiras. Por isso, em algumas
pesquisas foram realizadas análises em programas computacionais empregando métodos
numéricos, tal como o Método dos Elementos Finitos. Nessas análises é possível obter
resultados em termos de esforços solicitantes, deslocamentos e fissuração, ao longo de todo o
domínio, considerando a não-linearidade física do concreto e a presença de armadura.
Outras pesquisas se detiveram na avaliação de modelos de dimensionamento,
analiticamente, abalizados em resultados experimentais provenientes de outras pesquisas.
2.2.1 P
ESQUISAS DE CARÁTER EXPERIMENTAL
Um dos primeiros estudos data do início da cada de 1950 quando, por meio de
formulações desenvolvidas considerando a teoria da elasticidade bidimensional, Hobbs e
Stein (1957) obtiveram analiticamente a distribuição de tensão em blocos sobre duas estacas,
sendo que esses resultados analíticos foram legitimados pelos obtidos experimentalmente em
modelos de escala 1:2 e 1:3. Os pesquisadores concluíram que os modelos com armadura
principal em forma de arco possuíam melhor eficiência permitindo a redução da área de aço
da armadura.
Entre os anos de 1955 e 1961, Blévot e Frémy (1967) realizaram aproximadamente
cem ensaios experimentais em modelos de blocos sobre duas, três e quatro estacas, em escala
reduzida e em escala natural, com a finalidade de avaliar o comportamento estrutural para
diferentes arranjos de armadura e altura. As condições de apoio das estacas permitiam a
translação, no plano horizontal de todas as seções, e a rotação na seção inferior. Também foi
avaliado o coeficiente de segurança resultante da aplicação do método das bielas. Diferentes
disposições de armadura, e sua influência no estado de formação de fissuras e estado limite
último, foram também examinadas.
Para blocos sobre duas estacas os pesquisadores ensaiaram modelos que possuíam
0,40 m de largura, pilar de seção transversal quadrada, estacas quadradas e biela formando um
29
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
ângulo maior que 40° com a face inferior do bloco. A armadura do tirante possuía dois
arranjos: barras lisas com ganchos e barras com nervuras desprovidas de ganchos, Figura 2.3.
Figura 2.3 - Tipos de armadura avaliados nos modelos sobre duas estacas de Blévot e Frémy
(1967)
Durante os ensaios, Blévot e Frémy (1967) observaram que a ruína, cuja causa foi
atribuída à ruptura por compressão do concreto próximo ao pilar, à estaca ou ambos, foi
precedida por várias fissuras. Após a ruptura da biela, houve o escorregamento das barras com
nervuras e sem ganchos. A fissuração foi induzida por tensões de tração transversais ao fluxo
de tensões de compressão. Após a ruptura do concreto, as forças passaram a ser resistidas
apenas pelas barras da armadura.
Quanto aos blocos sobre três estacas, os pesquisadores utilizaram cinco disposições
diferentes para a armadura, ilustradas na Figura 2.4.
Figura 2.4 - Disposições de armaduras para blocos sobre três estacas avaliadas por Blévot e
Frémy (1967)
Os arranjos a”, be dapresentaram resultados satisfatórios nos ensaios sendo que
a disposição do tipo “d deve possuir armadura preponderante segundo os lados. O bloco
com disposição do tipo c apresentou força última significativamente menor que os
anteriores, justificado pela necessidade de um carregamento perfeitamente centrado para que
30
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
o modelo experimental seja coerente com o analítico. o bloco com arranjo do tipo e
apresentou aproximadamente metade da força última dos demais além de ruptura brusca por
meio de fissura formada ao redor de uma das estacas, caracterizando que a armadura foi
insuficiente para resistir às tensões de tração.
Quanto à fissuração, as armaduras dispostas nos lados e com laços apresentaram
melhor desempenho para as faces laterais e deficiência na face inferior do bloco, quanto à
fissuração. Na maioria dos modelos a ruína se deu pela ruptura à tração do concreto,
observada a partir do surgimento de fissuras que iniciaram na região das estacas, ou seja,
caracterizando o fendilhamento da biela.
Foi observado que para ângulos de inclinação da biela no intervalo de 40° a 55°, as
forças de ruína nos ensaios foram maiores que as calculadas, garantindo assim a segurança
quando respeitado esses valores. para ângulos que não pertencem a este intervalo, as forças
de ruína calculadas foram superiores às obtidas nos ensaios indicando assim uma situação
desfavorável à segurança. Segundo Blévot e Frémy (1967), a segurança à punção do bloco é
garantida desde que seja respeitado o limite inferior, de 40°, da inclinação da biela.
Blévot e Frémy (1967) também ensaiaram blocos sobre quatro estacas com os cinco
arranjos de armaduras, ilustrados na Figura 2.5. A quantidade de aço, em massa, para os
arranjos é equivalente.
Figura 2.5 - Disposições de armaduras para blocos sobre quatro estacas avaliadas por Blévot e
Frémy
Quanto à segurança contra a ruína, os blocos com disposições de armadura a” e d”
apresentaram-se igualmente eficientes, o modelo com arranjo e” apresentou força de ruína
20% menor. Em relação à fissuração, os blocos com armadura nas diagonais apresentaram
grande número de fissuras para forças de pequena intensidade, em especial nas faces laterais
provavelmente ocasionadas pela falta de armadura nessa região, assim como os blocos com
31
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
armadura em forma de laço e segundo as laterais apresentaram maior fissuração na face
inferior. De acordo com Blévot e Frémy (1967), esse aspecto pode ser melhorado pela adição
de uma armadura em forma de malha, sendo que a maior parcela da força seja resistida pela
armadura posicionada segundo os lados.
Nestes blocos, assim como nos blocos apoiados sobre três estacas, foi observado que
as ruínas aconteceram a partir de fissuras iniciadas junto às estacas. Em nenhum dos casos
houve ruína por punção de tal maneira que os resultados experimentais não divergiram das
previsões teóricas obtidas pelo método de bielas e tirantes.
Para todos os blocos cujas bielas possuíam ângulo de inclinação entre 40° e 55° a
ruína foi precedida pelo escoamento da armadura principal e aconteceu para ações superiores
àquelas calculadas pelo método de bielas e tirantes. Blévot e Frémy (1967) ainda recomendam
que, apesar do limite inferior de 40° ser favorável à segurança, é preferível adotar ângulos
maiores que 45° em benefício à economia de aço. Percebeu-se também que para ângulos das
bielas superiores a 55° o bloco teve comportamento de consolo curto.
No Brasil, Mautoni (1972) ensaiou vinte blocos sobre duas estacas com dois arranjos
de armadura: armadura em laçada contínua na horizontal e armadura em forma de bigode. A
ruína dos modelos aconteceu por fendilhamento da biela comprimida com plano de fratura em
seção localizada entre a estaca e o pilar, como ilustra a Figura 2.6. Percebe-se que as fissuras
possuem direção paralela à da biela idealizada mostrando que a ruptura se deu em razão do
campo de tensões de tração, transversal à biela.
Figura 2.6 - Ruína do modelo ensaiado por Mautoni (1972) e detalhe da armadura em bigode
Fonte: Mautoni (1972)
Mautoni (1972) relata que a armadura em bigode, além de ter apresentado
inconveniência na ancoragem, conduziu a um elevado consumo de aço. a armadura em
32
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
laçada contínua é inconveniente quanto à produtividade e ainda reduz a altura útil do bloco
em razão do seu uso em múltiplas camadas. Por meio deste estudo, Mautoni (1972) conseguiu
estabelecer um procedimento para a determinação da força última do bloco e seu mecanismo
de ruína.
Clarke (1973) ensaiou quinze blocos apoiados sobre quatro estacas e avaliou três
diferentes disposições de armadura: em malha, segundo os lados e segundo as diagonais.
Esses três arranjos de armadura estão ilustrados na Figura 2.7.
Figura 2.7 - Arranjos de armadura dos blocos ensaiados por Taylor e Clarke (1976)
Além da disposição, o pesquisador estudou a influência do tipo de ancoragem das
barras variando-a nos quatro tipos que estão representados na Figura 2.8. Os blocos ensaiados
possuíam espaçamento entre estacas de duas e de três vezes o diâmetro da estaca, resultando
em blocos quadrados de 0,75 m e de 0,95 m de lado respectivamente. As estacas possuíam
0,20 m de diâmetro e altura total de 0,45 m.
Figura 2.8 - Tipos de ancoragens da armadura ensaiados por Taylor e Clarke (1976)
Os resultados destes mesmos ensaios também foram apresentados em um trabalho de
Taylor e Clarke (1976) no qual foi investigada a influência dos detalhamentos de ligações em
estruturas de concreto e elementos cujo comportamento ainda não estava esclarecido, tais
como os blocos de fundação. Nos blocos com armaduras ancoradas conforme os tipos A e B, a
disposição da armadura influenciou na força última do bloco, mas não em seu modo de ruína,
33
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
de tal maneira que a força última dos blocos com armadura segundo os lados foi 15% maior
que a dos blocos com armadura em forma de malha ou disposta segundo as diagonais.
O tipo de ancoragem teve maior influência nos blocos com armadura em forma de
malha. Nos blocos com armadura em malha o tipo de ancoragem B resultou em 5% de
acréscimo da força última em relação à ancoragem do tipo A. Já a ancoragem do tipo C
resultou em força última 30% superior em relação ao tipo A e ainda alterou a forma de ruína,
que ocorreu por flexão e não por cisalhamento. A ancoragem do tipo D não alterou a força
última nem o comportamento em relação ao modo de ruína.
As primeiras fissuras formaram-se na porção central das quatro faces laterais. Com o
desenvolvimento da força, as fissuras se estenderam até o topo do bloco fazendo com que o
bloco fosse seccionado em quatro. Dois tipos de ruptura por cisalhamento foram observados:
a primeira semelhante ao cisalhamento que ocorre em vigas e a outra destacando uma cunha
de concreto na porção central do bloco, Figura 2.9.
Figura 2.9 - Tipos de ruptura por cisalhamento observado por Taylor e Clarke (1976)
Fonte: Taylor e Clarke (1976)
Sabnis e Gogate (1984, apud Delalibera, 2006, p. 16), mediante resultados obtidos em
ensaios de blocos sobre quatro estacas nos quais foram variados a taxa de armadura
distribuída, sugeriram um procedimento de dimensionamento de blocos apoiados sobre quatro
estacas. Os pesquisadores
2
concluíram que valores de taxa de armadura principal superiores a
0,2% têm influência desprezível na força de ruína. Essa constatação permite inferir que,
nestas condições, a ruína do bloco de fundação está atrelada à ruptura da biela por compressão
ou fendilhamento.
2
SABNIS, G. M.; GOGATE, A. B. Investigation of Thick Slab (pile cap) Behavior. ACI Journal. Title n. 81-5,
p. 35-39, Jan/Fev, 1984.
34
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Adebar et al. (1990) ensaiaram seis blocos sobre estacas de altura de 0,60 m, dimensão
do pilar de 0,30 m x 0,30 m e estacas pré-moldadas de 0,20 m de diâmetro. A Figura 2.10
ilustra os modelos de blocos ensaiados.
Figura 2.10 - Modelos de blocos ensaiados por Adebar et al. (1990)
O bloco A foi dimensionado conforme o ACI 318 (1983)
3
, os blocos B, C e D foram
dimensionados pelo Método das Bielas sendo o bloco D semelhante ao bloco B, todavia com
o dobro da armadura a fim de investigar a ruína do bloco antes do escoamento da armadura. O
bloco E era similar ao bloco D, entretanto a distribuição da armadura seguiu o código ACI
318 (1983). Já o bloco F foi construído semelhante ao bloco D, mas sem os cantos chanfrados
de concreto onde seriam os vértices do bloco a fim de avaliar uma hipótese do código ACI. O
bloco C, sobre seis estacas dispostas em planta retangular, foi ensaiado a fim de investigar a
distribuição das reações nas estacas.
Nos blocos A e B, que possuíam uma menor taxa de armadura, as deformações das
barras de aço aumentaram repentinamente assim que se formou a primeira fissura. Os blocos
apresentaram poucas fissuras antes da ruína. Geralmente surgiu uma grande fissura de flexão
em cada espaço entre estacas. Em todos os blocos a ruptura do concreto foi definida pelo
desenvolvimento de novas fissuras.
3
AMERICAN CONCRETE INSTITUTE. Committee 318 (ACI 318-83): Building Code Requirements for
Structural Concrete and Commentary. Detroit, Michigan, 1983.
35
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
O bloco A rompeu com 83% do carregamento calculado conforme código o ACI 318
(1983). No ensaio do bloco B percebeu-se que inicialmente o maior quinhão da força aplicada
era resistido pelas estacas mais próximas do pilar, este comportamento também foi observado
por Munhoz (2004) nos modelos numéricos de blocos sobre cinco estacas, sendo uma delas
centralizada. A ruptura ocorreu após uma significante redistribuição das forças nas estacas. A
força última resistida pelo bloco foi 9% maior que a força estimada pelo Método das Bielas.
Não foi verificado o escoamento do tirante presente ao longo do maior comprimento entre as
estacas, apenas escoou o tirante presente na menor direção.
No bloco C a maior parte da força aplicada foi resistida pelas duas estacas
intermediárias enquanto as outras estacas, mais afastadas do pilar, resistiram a uma pequena
parcela da força aplicada. Os blocos D e E apresentaram ruína antes do escoamento das
armaduras de qualquer um dos tirantes. O bloco F permitiu avaliar o método de
dimensionamento utilizado pelo código ACI 318 (1983), baseado na verificação da flexão e
do cisalhamento em uma seção transversal crítica. Os ensaios indicaram que a força de tração
na parte inferior do bloco não diminui significativamente conforme se aproxima do apoio
como seria esperado no comportamento de flexão. Mediante análise das deformações ao
longo de uma seção transversal, perceberam que não uniformidade na sua distribuição e
que não é adequada a consideração do comportamento de flexão conforme indica o ACI 318
(1983).
O bloco D de acordo com o código ACI 318 (1983) deveria ser 63% mais resistente
que o bloco F, semelhante ao bloco D exceto pelo fato do bloco F não possuir os “cantos”
chanfrados, todavia a diferença entre as forças última foram menores que 7%, comprovando a
previsão feita pelo Método de Bielas e Tirantes e a hipótese de que apenas a porção mais
central do bloco mobiliza resistência e não a seção completa, conforme considera o ACI 318
(1983).
Ainda, Adebar et al. (1990) observaram que as deformações principais de compressão
não atingiram valores críticos em nenhum dos blocos de tal maneira que a ruptura da biela
não se deu por compressão mas por tensões de tração transversais. Por meio destes resultados
experimentais e dos obtidos mediante análise numérica linear baseada no Método dos
Elementos Finitos, os pesquisadores sugeriram um modelo de biela e tirante mais refinado,
possuindo um tirante transversal de concreto para representar o estado de tensões resultantes
do alargamento do fluxo de tensões de compressão na região entre o pilar e as estacas, Figura
2.11.
36
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.11 Modelo de Bielas e Tirantes proposto por Adebar et al. (1990)
As forças últimas dos ensaios foram comparadas com os valores previstos por meio do
ACI 318 e da CSA A23.3 A norma canadense, CSA A23.3, forneceu valores mais próximos
dos observados nos ensaios.
Com o objetivo de estudar o comportamento estrutural de blocos, em especial as
características de força-deslocamento, as deformações da armadura, os padrões de fissuras e a
força última, Iyer e Sam (1995) conduziram ensaios experimentais e análise numérica não-
linear baseada no Método dos Elementos Finitos em blocos sobre quatro estacas.
Utilizando um elemento cúbico isoparamétrico de oito nós para representar o concreto
e um elemento de treliça espacial de dois nós para representar a armadura, foram modelados
três blocos, Figura 2.12, assumindo pilar e estacas de seção quadrada sendo a distância entre
eixos das estacas igual a três vezes a sua dimensão e a altura efetiva do bloco de 0,225 m.
Figura 2.12 - Modelos numéricos de blocos sobre quatro estacas ensaiados por Iyer e Sam
(1995)
Como parâmetros físicos do concreto foram considerados: resistência à compressão do
concreto de 19 MPa, 1,9 MPa de resistência a tração, módulo de elasticidade de 22.077 MPa
37
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
e diâmetro máximo do agregado de 10 mm. Para o aço os parâmetros considerados foram:
resistência ao escoamento de 300 MPa e módulo de elasticidade de 200.000 MPa.
As conclusões de Iyer e Sam (1995) contrastam com as conclusões de Blévot e Frémy
(1967) e de Taylor e Clarke (1976) no que diz respeito ao melhor arranjo de armadura. Nos
resultados experimentais, a força média de ruína para os blocos com armadura em forma de
malha e com armadura sobre as diagonais foram respectivamente 10% e 8% superior à obtida
no bloco armado segundo os lados. Já para os modelos numéricos, a superioridade da força
última dos blocos com armadura distribuída em malha ou sobre as diagonais foi de 7% em
relação ao bloco com armadura segundo os lados.
Assim, os pesquisadores concluíram que os blocos com armadura em forma de malha
são mais gidos e, além disso, observaram que o comportamento dos blocos nos estágios
iniciais de carregamento assemelha-se ao comportamento de viga, com a deformação da
armadura sendo máxima no meio do bloco e diminuindo quando se aproxima das estacas. À
medida que aparecem tantas fissuras que façam com que as tensões do concreto fissurado
sejam transmitidas pela armadura, a deformação da armadura torna-se mais uniforme ao longo
do seu comprimento caracterizando um tirante e, por conseqüência, a resistência do bloco
torna-se dependente da resistência da biela comprimida.
Carvalho (1995) realizou prova de carga em diferentes blocos apoiados sobre grupos
de estacas de pequeno diâmetro com a finalidade de estudar o comportamento quanto à
fissuração, deformações e distribuição de força nas estacas. Também foi avaliada a parcela de
força transferida pelo bloco diretamente ao solo além de terem sido confrontados os
resultados obtidos com as previsões dos modelos teóricos proposto por Blévot e Frémy (1967)
e pelo boletim 73 do CEB-FIP (1970).
Os blocos foram construídos sobre estacas moldadas no local em um campo
experimental sendo que foram avaliados blocos sobre uma, duas, três e quatro estacas. Duas
configurações de blocos sobre três estacas foram estudadas: três estacas segundo os vértices
de um triângulo eqüilátero e três estacas alinhadas. Durante os ensaios foram aferidos os
deslocamentos no bloco, as deformações em alguns pontos da armadura, as reações nas
estacas e a pressão aplicada pela superfície inferior do bloco no solo.
Carvalho (1995) observou que para as cargas de serviço, as armaduras de finalidade
construtivas foram pouco solicitadas, entretanto não conseguiu avaliar os métodos de
dimensionamento, pois o bloco não foi carregado até seu limite, sendo interrompida a prova
38
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
de carga quando as estacas atingiram recalques da ordem de 50 mm. A contribuição da reação
exercida pelo solo na base do bloco foi de 12%, em média, da força aplicada ao conjunto. As
estacas resistiram, aproximadamente, à mesma parcela da força aplicada sendo que as
diferenças apresentadas podem ser remetidas à imprecisão das células de carga.
Interessados em avaliar o comportamento de blocos pré-moldados sobre quatro
estacas, Chan e Poh (2000) realizaram ensaios em três blocos, um moldado
convencionalmente, bloco A, e outros dois pré-moldados, blocos B e C. Os blocos pré-
moldados consistiam de uma casca de concreto de 7,5 cm que servia de fôrma para a
concretagem do bloco sendo que as armaduras do bloco estavam ancoradas nesta casca de tal
modo a formar um conjunto. Os blocos A, B e C possuíam dimensões em planta de 100 cm x
100 cm e estacas de seção transversal quadrada de 15 cm. Todos possuíam pilar de seção
quadrada de 20 cm. Os blocos A e B mediam 40 cm de altura e utilizavam mesma armadura, já
o bloco C possuía altura de 30 cm e quantidade maior de armadura, designada para avaliar a
ruptura por cisalhamento.
Chan e Poh (2000) observaram que o comportamento quanto à fissuração e à
capacidade resistente não alterou entre o bloco moldado convencionalmente e o pré-moldado,
além disso, os procedimentos adotados para o dimensionamento levaram a resultados
conservadores sendo que o procedimento adotado para blocos usuais poderia ser aplicado com
segurança neste tipo de bloco pré-moldado.
Mediante ensaios experimentais em nove modelos de escala natural e por meio de
análise numérica considerando a não-linearidade do concreto, mas desconsiderando a
presença de armaduras, Miguel (2000) estudou a formação de fissuras e o modo de ruína de
blocos sobre três estacas. A análise numérica baseada no Método dos Elementos Finitos foi
realizada por intermédio do programa computacional LUSAS.
A pesquisadora constatou que: o Método das Bielas e Tirantes é seguro, com margem
de segurança mínima de 12%; os modelos com armadura segundo os lados combinados com
armaduras segundo as medianas ou combinados com armadura em gaiola apresentaram maior
eficiência quanto à resistência; todos os blocos tiveram ruína por fendilhamento das bielas
seguido do escoamento das barras da armadura principal.
Delalibera (2006) analisou experimentalmente quatorze blocos sobre duas estacas e
simulou numericamente oitenta e um blocos sobre duas estacas a fim de analisar a formação
das bielas de compressão, avaliar a eficiência dos ganchos na ancoragem das barras da
39
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
armadura do tirante e propor um modelo de bielas e tirantes mais refinado para blocos sobre
duas estacas. Mediante a utilização do programa computacional ANSYS, Delalibera (2006)
simulou modelos numéricos baseados no Método dos Elementos Finitos, considerando a
fissuração do concreto e a presença de armaduras. Esses modelos foram divididos em três
grupos, sendo que foram variadas a excentricidade da ação vertical do pilar, a seção
transversal das estacas, a seção transversal do pilar e a altura do bloco. Mediante utilização do
critério ANOVA, de analise de variância, o pesquisador conseguiu avaliar qual a sensibilidade
que o bloco tem com relação aos parâmetros estudados, concluindo que a excentricidade da
força vertical aplicada ao bloco, a altura do bloco, a área da seção transversal do pilar e da
estaca e o acoplamento destes fatores foram os parâmetros que tiveram maior influência na
força última. Delalibera (2006) observou que apenas uma parte da seção transversal do topo
da estaca é solicitada de maneira mais intensa sendo que, aproximadamente, a um terço da
profundidade do fuste as tensões na seção da estaca se uniformizam. Acredita-se que este
comportamento possa sofrer variações quando alteradas as condições de vinculação das
estacas.
O pesquisador, nos ensaios experimentais, constatou que a deformação dos ganchos é
desprezível, assim como havia antecipado Adebar et al. (1990) e Miguel (2000). Este
comportamento pode ser atribuído ao aumento da eficiência da ancoragem promovido pelo
confinamento das barras pelas tensões de compressão oriundas das bielas. Do mesmo modo
pode-se inferir que a redução das tensões nas barras da armadura principal, quando
localizadas próximas às estacas, tenha a mesma razão. Ao rmino de seu trabalho, Delalibera
(2006) sugere um Modelo de Bielas e Tirantes para blocos sobre duas estacas submetidos à
força vertical e momento. Propõe também o dimensionamento de uma armadura de
fendilhamento a fim de limitar a abertura de fissuras paralelas à biela.
Com o propósito de analisar o comportamento de blocos sobre estacas com cálice
externo para ligação com pilar pré-moldado, Campos (2007) realizou estudo experimental em
três modelos de escala 1:2 de blocos com cálice externo apoiados sobre estacas metálicas
onde se variou o comprimento de embutimento em cada modelo. As paredes do cálice e do
pilar foram moldadas com a rugosidade descrita na ABNT NBR 9062:1985 de um centímetro
de amplitude a cada dez centímetros de comprimento e as dimensões do modelo foram tais
que os ângulos de inclinação das bielas de compressão atendessem ao intervalo recomendado
por Blévot e Frémy (1967). Durante os ensaios foram medidos: deslocamentos verticais, da
40
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
face inferior do bloco, e horizontal, a partir de sua face lateral; força aplicada; reações nas
estacas; deformações nas armaduras principais do bloco e do pilar.
Campos (2007) observou que: nos três modelos a primeira fissura surgiu para uma
força de aproximadamente 60% da força última; as forças no tirante reduziram, em média,
31% em seções localizadas no centro das estacas quando comparadas com as forças dos
tirantes no meio do vão; a ruína dos três modelos adveio do fendilhamento das bielas nas
proximidades das estacas, sendo que no terceiro modelo a ruína também foi acompanha pelo
escoamento da armadura principal do bloco; houve a redução da força nas barras da armadura
principal do pilar à medida que aumentou-se a parcela de comprimento de embutimento do
pilar. Este fenômeno pode ser atribuído à transmissão das forças verticais, que antes atuavam
somente na seção transversal do pilar, ao colarinho.
A partir dessas observações, o pesquisador concluiu que: a utilização de blocos com
cálices possuindo maior comprimento de embutimento acarreta menores quantidades de aço,
maior força última e menos fissuração; a recomendação de se considerar 2/3 do comprimento
de embutimento para a transmissão das forças por atrito, feita por Melo (2004), é
conservadora.
2.2.2 P
ESQUISAS DE CARÁTER NUMÉRICO OU ANALÍTICO
Confrontando a força última dos blocos ensaiados experimentalmente por Deutsch e
Walker (1963)
4
, Blévot e Frémy (1967), Clarke (1973), Sabnis e Gogate (1984) e Adebar et
al. (1990) com as forças últimas obtidas segundo as recomendações do ACI 318 (1977), ACI
318 (1983), ACI 318 (1983) seção 11.3 e pelo método de bielas proposto pelos próprios
pesquisadores, Adebar e Zhou (1996) avaliaram os procedimentos para o dimensionamento de
blocos rígidos segundo a norma americana.
Os pesquisadores comprovaram que os procedimentos sugeridos por estes códigos não
são convenientes para blocos rígidos, pois as previsões obtidas pelo dimensionamento ao
cisalhamento foram muito conservadoras e pela flexão foram contra a segurança. Já o método
de bielas e tirantes proposto por Adebar e Zhou (1996) levou a resultados favoráveis à
4
DEUTSCH, G. P.; WALKER, D. N. O. Pile Caps. Civil Engineering Research Project. University of
Melbourne, 1963. 75p.
41
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
segurança e com menor variação em relação aos valores experimentais. Para generalizar o
procedimento de dimensionamento de blocos rígidos e flexíveis, Adebar e Zhou (1996)
recomendam a obtenção da altura do bloco por meio do dimensionamento sugerido pelo ACI
318 nas versões anteriores a 1983, ou seja, verificando o cisalhamento em uma direção na
seção que dista d da face do pilar e em duas direções, em seguida recomendam a verificação
da tensão nas bielas por meio da formulação sugerida pelos autores, que leva em consideração
o acréscimo de resistência promovido pelo efeito de confinamento, e se necessário, aumenta-
se a altura ou as dimensões do bloco para incrementar o efeito de confinamento. Este
procedimento também é adotado pela CSA A23.3 (2004).
A fim de avaliar as rotinas de projeto de blocos de fundação mais utilizadas, Munhoz
(2004) analisou trinta e três modelos de blocos sobre uma, duas, três, quatro e cinco estacas
que foram avaliados analiticamente pelos métodos propostos por: Blévot e Frémy (1967),
CEB-FIP (1970) e EHE (2001)
5
. Estes modelos também foram analisados numericamente
pelo método dos elementos finitos, considerando o comportamento elástico-linear, por meio
do programa computacional ANSYS.
As séries elaboradas pela pesquisadora contemplavam sete modelos para blocos sobre
quatro estacas sob ação de força centrada. Estes sete modelos apresentavam as dimensões do
bloco constantes com variação apenas das dimensões dos pilares. Para facilitar a modelagem e
a criação da malha de elementos finitos, a pesquisadora aproveitou a simetria em uma direção
e definiu estacas retangulares de área equivalente à das estacas circulares, Figura 2.13.
Figura 2.13 - Modelos de bloco sobre quatro estacas analisados por Munhoz (2004)
Fonte: Munhoz (2004)
5
COMISIÓN PERMANENTE DEL HORMIGÓN. EHE: Instrucción Española de Hormigón Armado.
Ministerio de Fomento, Centro de Publicaciones, Madrid, 2001.
42
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Na análise numérica dos blocos sobre quatro estacas, Munhoz (2004) constatou que ao
aumentar o diâmetro das estacas, as tensões de compressão nas bielas decresceram em razão
do alargamento do campo de tensões de compressão além da seção do pilar e estacas, ainda,
houve a diminuição da força de tração no tirante situado na região inferior do bloco,
entretanto não tão expressivo quanto para blocos sobre duas estacas para os quais a
pesquisadora observou diferenças de tensões chegando a 20%.
Os blocos com pilares de seção retangular de 0,20 m x 0,80 m e os blocos com pilares
de seção quadrada equivalente de 0,40 m x 0,40 m apresentaram pequena diferença entre
valores máximos de tensões de tração, ao contrário do que foi observado para os blocos sobre
duas estacas.
A intensidade das tensões de compressão nas bielas dos blocos com pilares de seção
quadrada foi maior que nos blocos com pilares de seção retangular, demonstrando que a
estratégia dos métodos analíticos que propõem a simplificação de um pilar de seção retangular
para um de seção quadrada de área equivalente é conservadora. Esse aspecto pode estar
relacionado à diminuição do ângulo de inclinação da biela idealizada quando se adota essa
simplificação, entretanto o autor acredita que esse procedimento possa resultar contra a
segurança em situações quando o pilar possuir uma seção retangular muito alongada.
Ao término de seu trabalho, Munhoz (2004) sugere um modelo de Bielas e Tirantes
mais refinado, baseado nos resultados obtidos em termos de tensões principais e que se
assemelha com aquele proposto por Adebar et al. (1990)
Ramos (2007) estudou o comportamento de blocos apoiados sobre dez estacas quanto
à distribuição das forças reativas entre as estacas e quanto ao fluxo de tensões nas direções
principais. O estudo foi baseado em resultados de análise numérica não-linear por meio do
programa computacional ANSYS. A fim de considerar a deformabilidade do solo, o
pesquisador empregou elementos de mola, de comportamento elasto-plástico multi-linear, nos
nós de apoio das estacas. Nos modelos analisados o pesquisador variou a altura dos blocos, a
resistência à compressão do concreto, o tipo de ação atuante e o tipo de vinculação, se
deformável ou não.
Ramos (2007) constatou que a resistência à compressão do concreto não exerce
influência significativa no comportamento do bloco. Os resultados obtidos pelo pesquisador
indicam que o comportamento estrutural do bloco depende do tipo de vinculação das estacas,
ou seja, do comportamento do solo e da altura do bloco. Para os blocos em que foram
43
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
simulados apoios deformáveis, houve uma melhor distribuição das reações entre as estacas.
Para a situação de apoios indeformáveis, houve concentração das reações de maior
intensidade nas estacas mais próximas ao pilar. Com o aumento da altura do bloco,
conseqüentemente de sua rigidez, houve a maior uniformização na distribuição das reações
entre as estacas. Os blocos solicitados por momento, além da força vertical, apresentaram
valores de reações nas estacas diferentes daqueles obtidos analiticamente por meio da
utilização da formulação que deriva do cálculo de flexão composta. Essas variações chegaram
a ser superiores a 100% e em alguns casos houve inversão do sinal da reação.
Por meio de análise numérica não-linear baseada no Método dos Elementos Finitos,
Delalibera (2007) estudou o comportamento e as formas geométricas das bielas dos blocos
sobre duas estacas com o cálice embutido sob ação de força axial, horizontal e momento no
pilar. Nessa pesquisa foram analisados 54 modelos, por intermédio do programa
computacional ANSYS, considerando a fissuração do concreto, a presença de armaduras e o
atrito na interface entre as paredes do cálice e do pilar.
Nessa investigação, Delalibera (2007) variou o comprimento de embutimento do pilar
no bloco, l
emb
, a espessura da “laje” de fundo do bloco, h
s
, a excentricidade da ação vertical e
o tipo de conformação das paredes da interface de ligação. As seções do pilar e das estacas
foram fixadas em valores usuais de seção quadrada, com 40 cm e 30 cm de lado
respectivamente. A taxa de armadura dos blocos também foi fixada em favorecimento à
praticidade da montagem dos modelos sendo justificada em razão da ruína do bloco ficar
definida pela ruptura da biela e não pelo escoamento das armaduras. O bloco não teve
variação das suas dimensões em planta e, em razão da influência na distribuição de tensões no
bloco exercida pela rigidez das estacas e pelo tipo de solo de apoio, foram avaliados alguns
modelos com estacas de comprimento real considerando o solo como meio contínuo. Na
Figura 2.14 são ilustrados os elementos e malhas que foram utilizados em um dos modelos.
44
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.14 Discretização dos elementos de volume (SOLID 65) e de barra (LINK 8)
Fonte: Delalibera (2007)
As principais observações de Delalibera (2007) foram: as tensões nas estacas não o
distribuídas uniformemente sendo a intensidade maior nas regiões da estaca mais afastadas da
borda do bloco; as tensões nas estacas foram uniformizadas a partir de 1/3 do comprimento do
fuste; ocorrem diferenças significativas entre a área da seção da biela junto á estaca quando
calculada conforme os critérios de Blévot e Frémy (1967) e quando obtida da análise
numérica; blocos de interface lisa cujo comprimento de embutimento do pilar e a espessura da
“laje” de fundo são reduzidos possuem capacidade resistente determinada pela punção do
bloco; modelos de bielas e tirantes devem ser modificados de acordo com as ações atuantes no
bloco.
Por meio de uma análise de variância, Delalibera (2007) pôde determinar quais das
variáveis estudadas exerceram maior influência no comportamento estrutural dos blocos
analisados. Nos blocos de paredes lisas solicitado por força axial ou por força axial e
momento, os resultados foram influenciados principalmente por l
emb
seguido de h
s
, sendo que
foi verificado que a presença do momento tem influência no valor de l
emb
. Naqueles
solicitados apenas por momento, o atrito e a resistência dos materiais da interface bloco-
preenchimento-pilar exerceram maior influência na capacidade portante. Nos blocos de
interface rugosa, as variáveis analisadas não exerceram influência significativa na resistência
do bloco, ou seja, a ruína do bloco estará condicionada à ruptura das bielas por compressão ou
fendilhamento, ou ainda, ao escoamento das armaduras do tirante.
45
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Souza et al. (2007) propuseram um modelo de bielas e tirantes adaptável à geometria
do bloco e ao tipo de carregamento que atua na base do pilar em blocos sobre quatro estacas,
Figura 2.15. Este modelo considera a formação das bielas a partir do ponto onde atua a força
vertical excêntrica de tal modo que a inclinação das bielas, o valor da tensão nos tirantes e as
reações nas estacas o obtidos em função do valor da excentricidade da ação vertical do
pilar. O modelo proposto possui restrições quanto à excentricidade, que não deve superar a
região limitada pelo perímetro do pilar, e quanto à existência de estacas tracionadas. A fim de
evitar a ruína por cisalhamento, caracterizada pelo fendilhamento das bielas, os pesquisadores
sugerem limitar os valores das tensões de compressão na base do pilar.
O modelo analítico proposto foi comparado com os resultados obtidos em modelos
numéricos analisados pelo Método dos Elementos Finitos tendo sido considerada a não-
linearidade física. Os resultados indicaram que o modelo de bielas proposto para blocos
submetidos à ação de força excêntrica conduz à situação de segurança, uma vez que a força
última obtida não ultrapassou a dos modelos numéricos.
Figura 2.15 Treliça espacial idealizada para blocos onde atuam força vertical excêntrica
Souza et al. (2007) concluem que o valor limite de compressão na base do pilar deve
ser igual ao proposto por Adebar et al. (1990), 1,0·f
ck
. Os pesquisadores também avaliaram
numericamente os mesmos blocos retirando-se as suas armaduras e concluíram que, para os
modelos analisados, a resistência à tração do concreto, geralmente não considerada nos
projetos, contribuiu significativamente na resistência dos blocos. Apesar de o modelo
abranger boa parte das situações em construções de concreto moldado in loco, ainda existe
46
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
uma demanda por modelos de bielas para o dimensionamento de blocos apoiados em estacas
tracionadas.
Souza et al. (2009) confrontaram os resultados experimentais obtidos em blocos
apoiados sobre quatro estacas ensaiados nas pesquisas de Blévot e Frémy (1967), Clarke
(1973), Suzuki et al. (1998)
6
, Suzuki et al. (1999)
7
, Suzuki et al. (2000)
8
e Suzuki e Otsuki
(2002)
9
com os resultados obtidos por meio do modelo proposto. Para a previsão do
comportamento dos blocos, os pesquisadores propuseram equações que estimam a força
correspondente ao início de fissuração, à força última e a força que provoca o escoamento das
armaduras, sejam elas em forma de malha ortogonal e/ou concentrada sobre as estacas.
Também fizeram previsões do modo de ruína, se por momento fletor ou força cortante. Cada
uma das formulações foi calibrada por meio de um coeficiente cujo valor foi obtido por
intermédio dos resultados experimentais supracitados.
Depois de comparar os valores obtidos experimentalmente com os valores obtidos
pelas equações propostas, Souza et al. (2009) chegaram a coeficientes de variação das
previsões de fissuração e de escoamento da armadura de 0,14 e 0,15 respectivamente, e do
coeficiente de variação da força última de 0,23. Também constataram que em 87% dos
modelos analisados as previsões do modo de ruína foram corretas. Estes dois estudos
evidenciam que a utilização do modelo de bielas e tirantes conduz a um dimensionamento
racional que pode ser aprimorado para a previsão de outros eventos importantes que ocorrem
no bloco em serviço.
Barros (2009) estudou o comportamento de blocos sobre duas estacas possuindo
ligação pilar-fundação do tipo cálice embutido, para pilar pré-moldado. O estudo baseou-se na
análise numérica não-linear de modelos em elementos finitos considerando a presença de
armaduras, a fissuração do concreto e a interface da ligação entre pilar pré-moldado e bloco.
Para analisar o modelo numérico e calibrar os parâmetros de entrada do modelo constitutivo,
o pesquisador utilizou os resultados experimentais e numéricos da pesquisa de Delalibera
(2006), envolvendo blocos sobre duas estacas. Toda a análise foi realizada por intermédio do
6
SUZUKI, K.; OTSUKI, K.; TSUBATA, T. Influence of Bar Arrangement on Ultimate Strength of Four-Pile
Caps. Transactions of the Japan Concrete Institute, v. 20, pp. 195-202, 1999.
7
SUZUKI, K.; OTSUKI, K.; TSUBATA, T. Experimental Study on Four-Pile Caps with Taper. Transactions
of the Japan Concrete Institute, v. 21, pp. 327-334, 1999.
8
SUZUKI, K.; OTSUKI, K.; TSUCHIYA, T. Influence on Edge Distance on Failure Mechanism of Piles Caps.
Transactions of the Japan Concrete Institute, v. 22, pp. 361-367, 2000.
9
SUZUKI, K.; OTSUKI, K. Experimental Study on Corner Shear Failure of Pile Caps. Transactions of the
Japan Concrete Institute, v. 23, 2002.
47
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
programa computacional DIANA sendo que foram comparados os resultados obtidos por este
programa com os resultados obtidos pelo programa ANSYS. Para representar a progressão das
fissuras no modelo, em razão da elevação da intensidade do carregamento, o pesquisador
optou por utilizar o modelo Total Strain que descreve esse comportamento levando em
consideração parâmetros da Mecânica da Fratura. Assim como Souza (2006), que utilizou o
mesmo programa computacional e o mesmo modelo constitutivo na análise de blocos de
fundação, Barros (2009) obteve sucesso na obtenção da força de ruína, entretanto as respostas
em termos de deslocamentos não foram compatíveis com os resultados experimentais, sendo
mais próximas de outros resultados numéricos. Esse comportamento pode ser atribuído às
limitações do modelo em representar os fenômenos considerados e também à presença de
outros fenômenos, tais como fissuras pré-existentes, deformabilidade do pórtico de reação e
desvios que possam ter ocorrido durante os ensaios experimentais, como pequenas
excentricidades.
Um total de vinte e quatro blocos possuindo cálice embutido foram numericamente
analisados sendo que dezesseis deles possuíam também viga lateral de travamento, Figura
2.16. A ligação foi simulada mediante a utilização de elementos de interface na ligação pilar-
graute. O pesquisador justificou o uso dos elementos de interface por considerar que
elementos de contato devam ser utilizados para simular a não-linearidade de contato e que os
elementos de interface podem representar satisfatoriamente as ligações entre concretos. Para o
comportamento da interface foi escolhido o modelo de fricção de Coulomb.
Figura 2.16 Exemplo de um dos modelos analisados por Barros (2009).
Barros (2009) constatou que os blocos cuja espessura da parede do cálice era de 15 cm
obtiveram maior resistência que àqueles cuja espessura era de 20 cm. Esse comportamento
48
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
não é preditivo, de tal modo que pode ser que, em razão da maior espessura da parede do
cálice, uma parcela maior da força tenha sido transferida para a parte inferior central do bloco
resultando em uma menor resistência. A força última atingiu maiores valores nos blocos de
maior altura, tanto para a ligação de conformação lisa quanto rugosa. A presença da viga
lateral de travamento fez com que a intensidade da força última reduzisse para os blocos cujo
ângulo de inclinação da biela era de 55º, esse fenômeno não foi observado quando a
inclinação das bielas era de 45º. Quanto ao fluxo de tensões principais de compressão, o
pesquisador concluiu que, em ambos os tipos de conformação da interface da ligação, houve a
formação de bielas de compressão a partir do início do embutimento do pilar no bloco, sendo
maior a distribuição de tensões de compressão quando a interface era rugosa. Ainda quanto ao
fluxo de tensões, Barros (2009) verificou que há uma grande intensidade de tensões de
compressão na parte inferior do bloco. Isto é um indicativo de que deve ser verificada a
possibilidade de punção do bloco pelo pilar como uma das configurações de ruína do
elemento.
Quanto às tensões nas armaduras, o pesquisador observou que o gancho poderia ser
desprezado, em razão das tensões nas barras serem muito reduzidas em seções ao longo da
face da estaca até a face do bloco. As armaduras secundárias foram mais solicitadas nas
seções em que atravessam as bielas, indicando que uma parcela das tensões transversais à
biela é resistida por esse tipo de armadura.
2.2.3 C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
Os ensaios realizados por Adebar et al. (1990) indicaram que a aplicação do Método
das Bielas conduz a resultados favoráveis a segurança e ainda demonstraram, por meio de um
dos ensaios, que o Método das Bielas representa com maior veracidade o comportamento do
bloco. Além disso, confirmaram a observação feita por Taylor e Clarke (1976) quanto à
reduzida variação da tensão ao longo da armadura do bloco armado sobre os lados, indicando
que a armadura está se comportando mais como o tirante da treliça idealizada do que uma
armadura longitudinal do bloco.
Quanto à disposição das armaduras em blocos sobre quatro estacas, as dispostas
segundo as laterais apresentam maior eficiência em relação às demais disposições tais como
49
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
segundo as diagonais e em malha. Esse fato foi primeiramente observado por Blévot e Frémy
(1967) e posteriormente por Taylor e Clarke (1976) por meio de ensaios experimentais,
entretanto, Iyer e Sam (1995) chegaram a resultados díspares em seu estudo envolvendo
ensaios experimentais e numéricos. Mas, percebe-se que o ângulo de inclinação das bielas dos
modelos ensaiados por Iyer e Sam (1995) é de 54,2°, próximo ao valor máximo indicado por
Blévot e Frémy (1967) de 55° para o uso do Método das Bielas com segurança. Considerando
que o tirante idealizado situa-se sobre as estacas, pela lógica do Método das Bielas, é
conveniente que haverá maior eficiência quando houver maior concentração de armaduras
nessa região, todavia, ao se aumentar o ângulo de inclinação das bielas ocorre uma redução da
força de tração no tirante que pode explicar os resultados obtidos por Iyer e Sam (1995).
Acredita-se que a disposição mais interessante quanto à segurança e quanto à economia seja a
de armadura principal segundo os lados acrescida de armadura mínima em forma de malha
para combater a fissuração na face inferior do bloco.
A respeito da ruína, verificou-se que essa ocorre a partir de ruptura da biela
comprimida, seja pela compressão ou pelo fendilhamento. A ruína nos ensaios de Blévot e
Frémy (1967) foi caracterizada pela ruptura à compressão do concreto próximo à estaca e/ou à
base do pilar. Já Adebar et al. (1990) admite que a ruptura das bielas resultam das tensões
transversais de tração que surgem em razão do alargamento do campo de tensões
compressivas ao longo da biela, fendilhamento.
Em relação aos blocos com cálice embutido, por intermédio das análises numéricas de
Delalibera (2007) e de Barros (2009), acredita-se que quando a ligação possuir interface lisa,
o comportamento do bloco dependerá do comprimento de embutimento e da espessura da
“laje” de fundo do bloco. Para um comprimento de embutimento e uma espessura da laje de
fundo reduzida, os resultados indicam que a capacidade resistente do bloco será regida pela
resistência à punção da camada inferior situada sob a base do pilar. Em relação ao
comportamento do bloco cujo cálice de fundação possui interfaces rugosas, os pesquisadores
admitiram o mesmo desempenho de uma ligação monolítica.
50
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
2.3 P
ROJETO DE BLOCOS SOBRE QUATRO ESTACAS
A seguir são descritos os principais métodos e critérios para o dimensionamento e
detalhamento de blocos apoiados sobre quatro estacas. As recomendações foram obtidas de
códigos normativos e de autores e pesquisadores consagrados na área.
2.3.1 C
ÁLCULO DAS REAÇÕES E DO NÚMERO DE ESTACAS
O número de estacas é determinado a partir da capacidade de carga da estaca adotada
no projeto. A capacidade de carga das estacas corresponde ao menor valor entre a máxima
força que a estaca é capaz de transmitir ao maciço, de forma a respeitar os limites de
resistência e de deformação, e a máxima força que a seção da estaca resiste como elemento
estrutural.
Tomando como base um bloco sobre estacas cuja base do pilar possua reação em
forma de força vertical e de momento em duas direções, Figura 2.17, Schiel (1957) sugere o
cálculo das reações das estacas por intermédio da Expressão 2.2.
Figura 2.17 Bloco sobre um número qualquer de estacas submetido à ação vertical excêntrica
A aplicação dessa expressão para o cálculo das reações das estacas deriva do cálculo
de flexão composta de um corpo infinitamente rígido, desse modo, aplicada aos blocos rígidos
51
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
apoiados sobre estacas verticais que possuam mesma seção transversal e mesmo
comprimento.
ܴ
=
ܰ
݊
±
ܯ
௬ௗ
ݔ
ݔ
±
ܯ
௫ௗ
ݕ
ݕ
(2.2)
Sendo que:
R
i
é a reação da estaca cujo centróide situa-se em
x
i
, y
i
;
N
d
é a força vertical da reação do pilar somada ao peso próprio do bloco;
M
xd
é o momento em torno do eixo
x
;
M
yd
é o momento em torno do eixo
y
;
n
é o número de estacas.
O estaqueamento é determinado de forma iterativa até que sejam atendidos os critérios
de segurança e economia. A Expressão 2.2 vem sendo usada satisfatoriamente em projetos de
fundações, no entanto é oportuno observar os resultados obtidos em algumas pesquisas que
sugerem que a maior parte da força aplicada ao bloco é transmitida às estacas que se
encontram mais próximas ao pilar. Munhoz (2004) verificou este comportamento nos blocos
apoiados sobre cinco estacas, sendo uma delas centralizada. Este fenômeno pode ser atribuído
ao fato dos blocos não possuírem rigidez infinita, apesar de serem classificados rígidos, e a
tendência das forças internas serem conduzidas a uma situação de equilíbrio que atenda ao
princípio de mínima energia, portanto pelo menor caminho, conforme descrito no item 2.1.
2.3.2 C
LASSIFICAÇÃO DOS BLOCOS E RECOMENDAÇÕES QUANTO À ALTURA
Geralmente os blocos são classificados quanto ao seu comportamento em rígidos e
flexíveis. Essa classificação é feita a partir das dimensões do bloco e, desse modo, pode
apresentar variações de acordo com a bibliografia consultada. A ABNT NBR 6118:2003
admite que os blocos sejam rígidos quando a altura h do bloco atende à Expressão 2.3:
52
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
ܽ
ܽ
3
(2.3)
Sendo que:
h é a altura do bloco;
a é a dimensão do bloco em uma direção;
a
p
é a dimensão do pilar na mesma direção considerada em a.
Nos blocos flexíveis admite-se o comportamento de viga ou de laje maciça com
dimensionamento baseado na determinação da armadura principal, que resistirá às tensões de
tração longitudinais em uma seção crítica, e na determinação da altura necessária para que o
bloco resista à força cortante em uma seção crítica. Nos blocos gidos não é comprovado o
comportamento de viga, ou seja, a distribuição de deformações ao longo de uma seção do
bloco não apresenta linearidade. Sendo um elemento estrutural caracterizado pela
descontinuidade, a ABNT NBR 6118:2003 recomenda a adoção de modelos teóricos
adequados para o cálculo e dimensionamento de blocos rígidos.
Em relação à altura do bloco, Guerrin (1955) recomenda que a altura útil d atenda à
Expressão 2.4.
݀
0
,
70
݈
ܽ
2
(2.4)
Sendo que:
d é a altura útil do bloco;
l
e
é a distância entre eixos das estacas.
Os ensaios conduzidos por Blévot e Frémy (1967) permitiram estabelecer
recomendações para a aplicação com segurança do método das bielas em blocos cujo ângulo
de inclinação da biela, θ, atenda o intervalo entre 40° e 55°, contudo bielas com ângulo de
inclinação inferior a 45° resultam em grande área de seção transversal de armadura de tal
modo que são recomendados valores superiores a 45°. Dessa maneira, para atender a
recomendação de ângulos entre 45° e 55°, a altura útil do bloco sobre quatro estacas pode ser
determinada pela Expressão 2.5:
53
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
0
,
71
݈
݀
<
݈
(2.5)
O Boletim 73 do CEB-FIP (1970) apresenta recomendações para o dimensionamento
de blocos cuja altura h esteja compreendida no intervalo dado pela Expressão 2.5.
݈
2
݈
(2.6)
Sendo que as dimensões l
c
e h estão indicadas na Figura 2.18.
Figura 2.18 Dimensões utilizadas pelo Boletim 73 do CEB-FIP (1970)
As recomendações do boletim 73 do CEB-FIP (1970) não são aplicáveis aos blocos
nas quais a altura h é maior que o dobro de l
c
, pois neste caso o bloco teria uma rigidez muito
elevada. Em blocos cuja altura h é inferior ao limite dado pela Expressão 2.6, o boletim
recomenda o dimensionamento segundo a mais adequada das teorias, de vigas ou de placas.
Tratando dos blocos apoiados sobre quatro estacas, Calavera (2000) faz a distinção
entre blocos rígidos e flexíveis baseando-se na distância entre eixos de estacas, l
e
, e na altura
do bloco, h. Calavera (2000) sugere que o bloco seja considerado gido quando atender à
Expressão 2.7, caso contrário será considerado flexível.
݈
3
(2.7)
Montoya (2000) faz a distinção entre blocos rígidos e flexíveis baseando-se na medida
l
c
, contabilizada desde a face do pilar até o eixo da estaca, e na altura total do bloco, h,
54
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
conforme ilustrado na Figura 2.18. O bloco será considerado rígido se a Expressão 2.8 for
verificada em todas as direções:
݈
2
(2.8)
Na situação das dimensões do bloco não atenderem à Expressão 2.8, este será
classificado como flexível. Essa distinção é a mesma adotada pela norma espanhola de
concreto armado, EHE (2008).
A altura útil do bloco recomendada por Montoya (2000) é calculada pela Expressão
2.9.
݀
=
ܨ
500
ܾ
0
,
14
0
,
34
(2.9)
Sendo que:
F
d
é a força axial transmitida pelo pilar em kN;
b é a largura do bloco em m na seção em que será verificada à força cortante.
Essa expressão permite obter uma altura útil suficiente para evitar, na maioria dos
casos, a verificação da resistência à força cortante e dispensar a utilização de armadura para
resistir às tensões tangenciais.
2.3.3 E
SPAÇAMENTO ENTRE ESTACAS E DISTÂNCIA DAS ESTACAS AO
PERÍMETRO DO BLOCO
O espaçamento mínimo entre as estacas é determinado com a finalidade de evitar a
sobreposição de tensões no maciço e para atender às restrições impostas pelo processo
construtivo, seja de escavação ou de cravação da estaca. Este efeito de grupo das estacas deve
ser considerado também entre as estacas pertencentes aos blocos vizinhos. De acordo com a
ABNT NBR 6122:1996, “A carga admissível de um grupo de estacas ou tubulões não pode
ser superior à de uma sapata de mesmo contorno que o do grupo, e assente a uma
profundidade acima da ponta das estacas ou tubulões igual a 1/3 do comprimento de
penetração na camada suporte [...]”, sendo que a distribuição de pressões deve ser calculada
por um dos métodos consagrados na Mecânica dos Solos.
55
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
A ABNT NBR 6118:2003 estabelece que, no caso de conjunto de blocos e estacas
rígidos e sendo a distância entre eixos de estacas de duas vezes e meia a três vezes o diâmetro
da estaca, pode-se admitir que a distribuição de cargas nas estacas seja plana. Para os blocos
flexíveis, a norma brasileira de concreto recomenda que esta hipótese seja revista.
Alonso (1983) e Moraes (1978) recomendam um espaçamento mínimo igual a duas
vezes e meia o diâmetro da estaca, caso seja pré-moldada, e de três vezes se a estaca for
moldada in loco. Para ambos os casos o espaçamento deverá ser maior que 60 cm. Em
Montoya (2000) é recomendado um espaçamento mínimo entre eixos de estacas de duas vezes
o diâmetro desta, caso seja circular, e 1,75 vez a diagonal da estaca se a seção da mesma for
quadrada e em ambos os casos os valores devem ser superiores a 75 cm. Calavera (2000)
sugere que o espaçamento entre eixos de estacas deve ser de duas vezes o seu diâmetro, sendo
melhor se for três vezes, a menos que as estacas funcionem predominantemente pela
resistência de ponta.
Quanto à distância do eixo da estaca à face do bloco, Figura 2.19, Alonso (1983)
indica a distância mínima por meio da Expressão 2.10.
Figura 2.19 Distância do eixo da estaca à face do bloco, Alonso (1983)
ݑ
ܴ
+
ܿ
+
௧௜௥
௘௦௧
2
+
15
ܿ݉
(2.10)
56
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
sendo que:
Ø
tir
é o diâmetro da armadura do tirante;
Ø
est
é o diâmetro da estaca.
Montoya (2000) e Calavera (2000) indicam que a distância da face da estaca à face do
bloco deve ser maior ou igual à metade do diâmetro da estaca e não menor que 25 cm.
2.3.4 L
IGAÇÃO ENTRE ESTACA E BLOCO
Tanto Calavera (2000) como Montoya (2000), recomendam a construção de um lastro
de concreto de 10 cm sobre o qual será moldado o bloco, que tem sido considerado adequado
pela prática da construção nacional. Segundo estes autores, as estacas precisam ter um
comprimento de 10 cm a 15 cm dentro do bloco. Alonso (1983) indica que a estaca precisa
ultrapassar o topo da camada de concreto não estrutural em 5 cm a 10 cm.
A ABNT NBR 6122:1996 estabelece que caso a estaca não atinja o nível da cota de
arrasamento especificado em projeto, deve-se completar ou demolir o excesso, se for o caso.
Quanto à demolição, devem ser tomadas precauções para que a cabeça da estaca não fissure.
2.3.5 A
RMADURA PRINCIPAL
De acordo com a ABNT NBR 6118:2003, o dimensionamento de blocos pode ser feito
por modelos tridimensionais, lineares ou não, e modelos de bielas e tirantes tridimensionais,
sendo este preferível por definir melhor a distribuição de esforços. Nos blocos rígidos, mais
de 85% da armadura principal deve ser disposta nas faixas definidas pelas estacas,
estendendo-se de face a face do bloco e terminando em gancho nas duas extremidades, sendo
que para barras com diâmetro igual ou superior a 20 mm devem ser usados ganchos com
dobras de 135° ou 180°.
57
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Montoya (2000) também indica que a armadura principal precisa ser alojada em faixas
sobre as estacas, sendo essa faixa da largura da estaca mais duas vezes a distância da face
superior da estaca até o centro de gravidade da armadura.
Segundo Blévot e Frémy (1967), a armadura poderá ser disposta conforme os arranjos
ilustrados na Figura 2.20, com preponderância das armaduras segundo os lados ou em laço.
Figura 2.20 Possíveis disposições de armaduras, Blévot e Frémy (1967)
O boletim 73 do CEB-FIP (1970) indica que as armaduras precisam ser dispostas de
tal modo que sejam corretamente ancoradas além das estacas periféricas, podendo se
considerar que, quando a armadura inferior atravessar a superfície cilíndrica centrada no eixo
da estaca e cujo diâmetro é igual a três vezes o diâmetro da estaca, a armadura pode equilibrar
uma força igual a 80% da reação da estaca. Somente as barras ancoradas além do plano axial
da estaca, perpendicular às barras, podem ser consideradas. Esta recomendação ainda é
favorecida pelos resultados de Delalibera (2007) e Barros (2009), que observaram que a partir
da face da estaca as barras da armadura apresentam uma brusca redução dos valores das
tensões.
Leonhardt e Mönnig (1978) recomendam que quando a força se distribuir
espacialmente entre três ou mais estacas, os tirantes precisam ser dispostos concentrados
sobre as estacas nas direções em que a distância entre elas são menores. No caso de blocos
quadrados sobre quatro estacas, essa disposição é obtida distribuindo a armadura em faixas
laterais sobre as estacas.
Fusco (1994) comenta que a disposição de armadura segundo os planos que contêm as
bielas ocasiona a superposição de rias camadas de armadura na região central, em blocos
sobre muitas estacas. Entretanto, no caso de blocos sobre quatro estacas, são ilustradas as
disposições de armadura em faixas laterais e diagonais, sobre as estacas, e armadura em
58
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
malha uniformemente distribuída não sendo feita qualquer observação quanto à eficiência dos
tipos de arranjos.
Segundo Calavera (2000), a armadura principal calculada pela analogia de treliça é
disposta em faixas sobre as estacas de largura igual ao diâmetro destas. Montoya (2000)
indica, para blocos rígidos e flexíveis, a distribuição da armadura principal em faixas laterais,
sobre as estacas, de largura igual ao diâmetro da estaca mais duas vezes a distância entre o
topo da estaca e o centro de gravidade da armadura dos tirantes.
A descrição da ABNT NBR 6118:2003 quanto ao plano a partir do qual se pode
considerar a ancoragem é dúbia, pois é indicado que a ancoragem seja medida a partir da face
das estacas, podendo ser considerado o efeito favorável da compressão transversal promovida
pela reação da estaca e pelas bielas, entretanto não é especificada qual face da estaca deve ser
considerada. Para os blocos flexíveis, devem ser atendidos os requisitos relativos às lajes. O
comprimento de ancoragem é obtido a partir da Expressão 2.11.
,
௡௘௖
=
ߙ
ܣ
,
௖௔௟௖
ܣ
,
௘௙
=
ߙ
௧௜௥
4
݂
௬ௗ
݂
௕ௗ
ܣ
,
௖௔௟௖
ܣ
,
௘௙
,
௠௜௡
(2.11)
Sendo que:
l
b,nec
é o comprimento de ancoragem necessário;
α é 1,0 para barras sem ganchos e 0,7 para barras com gancho, cujo cobrimento
no plano normal ao do gancho for no nimo de Ø
tir
, ou quando houver barras
transversais soldadas;
l
b
é o comprimento de ancoragem básico;
A
s,calc
é a área de aço calculada;
A
s,ef
é a área de aço efetiva;
Ø
tir
é o diâmetro da armadura do tirante;
l
b,min
é o comprimento de ancoragem mínimo, que é o menor valor entre:
0,3 ∙ ℓ
10 ∙ ∅
௧௜௥
10 ܿ݉
;
f
yd
é a resistência ao escoamento, de cálculo, do aço da armadura;
f
bd
é a resistência de aderência, calculada pela Expressão 2.12.
59
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
݂
௕ௗ
=
ߟ
ߟ
ߟ
݂
௖௧ௗ
(2.12)
sendo que:
η
1
é 1,0 para barras lisas, 1,4 para barras entalhadas e 2,25 para barras nervuradas;
η
2
é 1,0 para situações de boa aderência e 0,7 para situações de má aderência;
η
3
é 1,0 para Ø
tir
< 32 mm e (132- Ø
tir
)/100 para Ø
tir
32 mm;
f
ctd
é 0,15 ∙ ݂
௖௞
ଶ/ଷ
.
Quanto à ancoragem, Fusco (1994) indica que todas as barras devem possuir ganchos
ou dobras de extremidade, situados além da posição da estaca, sem necessidade de
comprimentos retos de ancoragem.
Montoya (2000) recomenda que a ancoragem das barras seja feita a partir de um plano
vertical que passe pelo eixo de cada estaca. A ancoragem pode ser por prolongamento reto ou
mediante barras transversais soldadas. Montoya (2000) indica que o efeito benéfico da
compressão vertical da estaca nas barras permite reduzir em 20% o comprimento de
ancoragem destas.
Leonhardt e Mönnig (1978) recomendam a ancoragem reta das barras dos tirantes, em
razão das elevadas tensões compressivas que as armaduras estão submetidas na direção
perpendicular ao plano horizontal das estacas.
A norma canadense CSA A23.3 (2004) também admite a ancoragem dispensando o
uso de ganchos nas extremidades das barras.
2.3.6 D
IMENSIONAMENTO E VERIFICAÇÕES
Os métodos mais utilizados para o dimensionamento de blocos de fundação são
baseados na Teoria de Flexão ou no Método de Bielas e Tirantes. Como os blocos flexíveis
apresentam o comportamento análogo ao de placas, é plausível a consideração da hipótese de
Bernoulli, já para blocos rígidos é mais recomendado o Método de Bielas e Tirantes. A seguir
60
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
são descritos os procedimentos de dimensionamento de blocos sobre quatro estacas pelo
Método de Bielas e Tirantes e pelo boletim 73 do CEB-FIP (1970). Os critérios adotados pelo
CSA A23.3 (2004), ACI 318 (2008) e EHE (2008) são discutidos com brevidade.
2.3.6.1 M
ÉTODO DAS
B
IELAS DE
B
LÉVOT E
F
RÉM Y
(1967)
Conforme apresentado no item anterior, é recomendado o dimensionamento do bloco
pelo Método das Bielas quando este for considerado rígido. Os tirantes são idealizados no
plano médio da armadura principal, logo acima do plano de arrasamento das estacas. As
bielas são idealizadas com seus eixos inclinados, tendo início em um ponto contido na seção
do pilar na altura em que intercepta a face superior do bloco e indo até o ponto em que o eixo
das estacas intercepta o plano médio da armadura que constitui os tirantes.
O método consiste no cálculo da força de tração nos tirantes, e dimensionamento das
respectivas armaduras, e na verificação das tensões de compressão nas bielas em seções
localizadas na proximidade do pilar e das estacas.
O método que segue foi idealizado considerando ações centradas, pilares de seção
quadrada e estacas eqüidistantes ao centro do pilar. Em blocos apoiados sobre quatro estacas,
Blévot e Frémy (1967) sugerem o dimensionamento mediante equilíbrio da treliça idealizada
na Figura 2.21.
Figura 2.21 Modelo de Bielas e Tirantes para blocos apoiados sobre quatro estacas
61
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
O cálculo da armadura é feito a partir da força que atua no tirante. Caso os tirantes
fossem dispostos nas diagonais do bloco, esta força seria calculada pela Expressão 2.13.
ܴ
௦௧
=
ி
ି
ଵ଺
(2.13)
Sendo que:
R
st
é a força no tirante;
F
d
é a força axial na base do pilar, que atua sobre o bloco;
l
e
é a distância entre eixos das estacas;
a
p
é o dimensão do pilar de seção quadrada;
d é a altura útil do bloco.
De acordo com os arranjos ilustrados na Figura 2.20, a força R
st
nas armaduras que
formam os tirantes segundo os lados e em forma de laço, para as disposições i, ii, iii e iv, é
calculada pela Expressão 2.14, que difere da Expressão 2.13.
ܴ
௦௧
=
ி
,
೗ೌ೏೚
ି
ଵ଺
(2.14)
Sendo F
d,lado
a parcela da força resistida pela armadura segundo os lados ou em forma
de laço. A parcela F
d,lado
da força deve estar compreendida entre 50% e 65% de F
d
, se a
armadura complementar for constituída por faixas dispostas sobre as diagonais, e entre 75% e
85% de F
d
se a armadura complementar for constituída por barras uniformemente distribuídas
em malha.
A área de aço da seção transversal da armadura de cada um dos tirantes é obtida por
meio da Expressão 2.15:
ܣ
=
ೞ೟
೤೏
(2.15)
as armaduras em malha ou segundo as diagonais são dimensionadas de acordo com
as expressões indicadas na Tabela 2.2:
Tabela 2.2 - Expressões para a determinação da força resultante nas barras e área de aço da
armadura secundária
Disposição Força resistida Área de aço
Segundo as diagonais
࢙࢚
,
࢙ࢋࢉ
=
,
࢒ࢇࢊ࢕
૚૟
=
࢙࢚
࢟ࢊ
Em malha
࢙࢚
,
࢙ࢋࢉ
=
,
,
࢒ࢇࢊ࢕
=
࢙࢚
࢟ࢊ
62
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Na expressão que representa a força resistida pela armadura em malha, o coeficiente
1,2 foi indicado por Blévot e Frémy (1967) com a finalidade de considerar a eficiência
reduzida que as barras em malha apresentaram nos ensaios experimentais.
Calavera (2000) e Montoya (2000) adotam o mesmo procedimento para blocos
rígidos, entretanto não consideram a formação da biela no topo do bloco e sim a partir de 0,15
de d do topo do bloco. Para eles, toda a força é resistida pela armadura que está disposta em
faixas sobre as estacas.
A verificação da biela faz parte do dimensionamento de blocos pelo Método de Bielas
e Tirantes. Para os blocos sobre quatro estacas, as tensões de compressão nas bielas nas
proximidades do pilar devem ser verificadas pela Expressão 2.16.
ߪ
௖௕
,
=
ܨ
ܣ
ݏ݁݊
ߠ
<
0
,
9
݂
௖௞
(2.16)
sendo que:
σ
cb,p
é a tensão de compressão na biela, em uma seção próxima ao pilar;
F
d
é a força axial na base do pilar, que atua sobre o bloco;
A
p
é a área da seção transversal do pilar;
θ é o ângulo de inclinação da biela, calculado pela Expressão 2.17;
ߠ
=
ܽݎܿݐ݃
ି
(2.17)
As tensões de compressão nas bielas nas proximidades das estacas devem ser
verificadas pela Expressão 2.18.
ߪ
௖௕
,
=
ܨ
4
ܣ
ݏ݁݊
ߠ
<
0
,
9
݂
௖௞
(2.18)
Sendo que A
e
é a área da seção transversal da estaca. A rigor a tensão limite de
compressão em seções próximas ao pilar é superior às tensões limites em seções próximas às
estacas, em razão do estado multiaxial de compressão logo abaixo do pilar.
Baseado nos mesmos resultados encontrados por Blévot e Frémy (1967), Moraes
(1976) propõe limites mais brandos para a resistência da biela nas seções próximas à estaca e
63
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
ao pilar. Atualizando os valores propostos por Moraes (1976) com os coeficientes de
segurança recomendados na ABNT NBR 6118:2003 tem-se que, tanto para seções próximas
às estacas quanto ao pilar, o limite é de 1,5·f
ck
.
2.3.6.2 M
ÉTODO DO BOLETIM
73
DO
CEB-FIP
(1970)
As hipóteses consideradas para o cálculo são de que a distribuição de forças das
reações das estacas, sobre a superfície de apoio do bloco é plana. Na ocorrência de forças de
tração sobre a superfície de apoio, o equilíbrio será assegurado pela resistência da estaca à
tração, considerando-se também o peso próprio da estaca, a resistência ao arrancamento, a
área de armadura longitudinal e a eficiência da ancoragem dessa armadura no bloco. Na
situação do bloco estar submetido a ações horizontais, estas serão equilibradas pelas forças de
atrito desenvolvidas entre a face inferior do bloco e o solo não sendo admitida redução da
força de tração na armadura principal em razão dessa força de atrito.
O dimensionamento da armadura inferior é feito na seção S
1
, situada a 0,15·a
p
internamente a face do pilar, sendo que a
p
é a dimensão do pilar medida na direção normal ao
plano da seção S
1
, conforme ilustra a Figura 2.22. A altura útil da seção S
1
é igual à altura útil
da seção paralela à S
1
e situada na face do pilar, devendo ser no máximo igual a uma vez e
meia o valor de
l
c
, que é a distância medida do eixo da estaca à face do pilar. Caso o bloco
possua várias estacas, a dimensão
l
c
será tomada a partir do eixo da estaca mais afastada da
face do pilar.
64
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.22 - Posição da seção de referência S
1
A área da seção transversal da armadura inferior do bloco é calculada para resistir ao
momento fletor originado pela totalidade das reações das estacas situadas entre a seção S
1
e a
face lateral do bloco, paralela a essa seção e que não atravessa o centro do pilar. Nos blocos
apoiados sobre quatro estacas, essas armaduras podem ser dispostas conforme indicado na
Figura 2.23.
Figura 2.23 Disposição de armaduras segundo os lados e diagonais
A verificação do cisalhamento é feita para a força cortante que atua na seção de
referência S
2
, que dista da face do pilar um comprimento igual à metade da altura útil do
bloco, Figura 2.24.
65
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.24 - Posição da seção de referência S
2
Se existirem estacas próximas ao pilar, situadas a uma distância da face do pilar
inferior à metade da altura útil do bloco, d, a seção S
2
será considerada na própria face do
pilar. A altura útil d
2
, da seção S
2
, é igual à altura útil do bloco na respectiva seção sendo
limitada ao valor fornecido pela Expressão 2.19:
݀
1
,
5
݈
(2.19)
sendo
l
c2
medido a partir da seção S
2
até o eixo da estaca mais afastada, a largura da
seção de referência b
2
é calculada pela Expressão 2.20:
ܾ
=
ܾ
+
݀
(2.20)
sendo b
p
a dimensão da face do pilar paralela à seção S
2
, força cortante de referência
V
sd
deve satisfazer a Expresão 2.21:
ܸ
௦ௗ
ܸ
௦ௗ
,
௟௜௠
=
,
ଶହ
1
ܾ
݀
݂
௖௞
݂
௖௞
݁݉
݇ܰ
/
ܿ݉
²
(2.21)
Sendo que γ
c
é o coeficiente ponderador que considera a variabilidade da resistência
do concreto, cujo valor é 1,4. A resistência à força cortante deve ser verificada em todas as
seções do bloco em que as condições geométricas e a intensidade das reações das estacas
possam provocar situação mais desfavorável que aquela relativa à seção de referência, como
ocorre nas proximidades das estacas de canto dos blocos.
Nestas situações a força cortante solicitante na seção é igual à reação da estaca de
canto. A posição da seção ܵ
, que deverá ser verificada, está ilustrada na Figura 2.25.
66
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.25 - Posição da seção de referência S
SS
S
2
22
2
'
''
'
A reação da estaca R
d
deverá atender à Expressão 2.22:
ܴ
ܴ
,
௟௜௠
=
,
ଵଶ
ܾ
݀
݂
௖௞
݂
௖௞
݁݉
݇ܰ
/
ܿ݉
²
(2.22)
2.3.6.3 C
RITÉRIOS DA
CSA
A23.3
(2004)
A norma canadense propõe uma análise para blocos de fundação baseada no Método
de Bielas e Tirantes modificado, fundamentado nas recomendações de Adebar e Zhou (1996).
Neste modelo de bielas e tirantes os efeitos favoráveis do confinamento do concreto
são considerados. A altura do bloco é definida de tal modo que satisfaça os limites de tensão
nos nós e nos apoios e os limites de cisalhamento da seção transversal, verificando a
segurança com relação à punção do bloco pelo pilar e pela estaca. Para blocos rígidos, a
verificação é feita com base nas tensões limites nos nós. para blocos flexíveis, o projeto é
baseado na teoria de vigas e consiste na verificação do cisalhamento em seções à d
v
, que é o
maior valor entre 0,9·d e 0,72·h, e d/2 da face do pilar. A verificação do cisalhamento é feita
em uma e em duas direções.
Quanto à ancoragem das barras da armadura principal, a CSA A23.3 (2004) sugere
que seja feita por comprimento reto, ao contrário do que indica a ABNT NBR 6118:2003.
67
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
2.3.6.4 C
RITÉRIOS DO
ACI
318
(2008)
O código ACI 318 (2008) não classifica o bloco em rígido e flexível, entretanto é
distinto o tratamento dado aos blocos onde a dimensão l
e
é maior que duas vezes d e onde é
menor ou igual a duas vezes d, Figura 2.26.
Figura 2.26 Dimensões consideradas pelo ACI 318 (2008) para indicar o comportamento do
bloco
O código americano de estruturas de concreto ACI 318 (2008) admite em ambos os
casos a aplicabilidade da teoria de flexão. O dimensionamento à flexão é feito a partir de uma
seção crítica perpendicular ao bloco e que atravessa a face do pilar. O momento fletor nesta
seção crítica é calculado considerando todas as forças que atuam em um dos lados da seção. A
verificação quanto ao cisalhamento é feita em uma seção crítica perpendicular ao bloco e que
dista d da face do pilar, no caso de blocos cujas forças cortantes são predominantes em uma
direção. Em blocos cujas forças cortantes solicitem as duas direções, o cisalhamento também
é verificado em um perímetro crítico que dista d/2 do perímetro do pilar.
Nos blocos onde l
e
é menor ou igual à duas vezes d, também é admitido o
dimensionamento à partir do Modelo de Bielas e Tirantes, seguindo as recomendações do
apêndice A, no qual são especificadas as resistência dos nós e bielas para cada uma das
situações mais freqüentes.
68
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
2.3.6.5 C
RITÉRIOS DO
EHE
(2008)
Para os blocos rígidos, a EHE (2008) admite o dimensionamento segundo o Método de
Bielas e Tirantes com a armadura disposta em faixas laterais, sobre as estacas, de largura igual
à largura da estaca mais duas vezes a distância do topo da estaca ao eixo da armadura do
tirante. O cálculo da armadura principal, bem como o cálculo e a disposição da armadura
secundária, é feito conforme Montoya (2000).
No caso de blocos flexíveis, o dimensionamento da armadura considerando a flexão é
feita em uma seção de referência situada na posição indicada na Figura 2.22, a mesma
considerada pelo boletim 73 do CEB-FIP (1970). Quanto à disposição da armadura, ela será
distribuída uniformemente se o bloco trabalhar em uma direção ou se o bloco for quadrado e
trabalhar em duas direções, como na maioria dos blocos apoiados sobre quatro estacas.
A verificação das tensões tangenciais é feita em uma seção crítica que se situa a uma
distância de valor igual ao da altura útil do bloco, d, em relação à face do pilar. O estado
limite de punção também precisa ser avaliado mediante a verificação dessas tensões em
seções críticas situadas na face e a 2·d da face do pilar - para bloco sem armadura de punção -
e na face, a 2·d da face do pilar e a 2·d da última linha de armadura de punção no caso do
bloco ser armado à punção.
2.3.7 A
RMADURAS SECUNDÁRIAS
Em princípio, o boletim 73 do CEB-FIP (1970) recomenda que as armaduras
secundárias distribuídas horizontalmente e verticalmente não são necessárias, exceto nos
blocos sobre duas estacas. As orientações dadas por Calavera (2000) baseiam-se nos
requisitos mínimos que estão dispostos na EHE (1998)
10
que estabelece que deve ser disposta
armadura secundária horizontal em forma de malha sendo que a capacidade mecânica em
cada direção não deve ser menor que 25% da armadura principal colocada em faixas.
Calavera (2000) recomenda que, apesar de caber julgamento pessoal, em blocos de grandes
dimensões ou que estejam submetidos a ações de grande intensidade seja adotada armadura
10
COMISIÓN PERMANENTE DEL HORMIGÓN. EHE: Instrucción Española de Hormigón Armado.
Ministerio de Fomento, Centro de Publicaciones, Madrid, 1998.
69
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
em malha. Essa observação corrobora com as recomendações feitas por Blévot e Frémy
(1967) em relação aos blocos sobre quatro estacas armados segundo os lados.
Para os blocos sobre quatro estacas, Montoya (2000) recomenda uma armadura
vertical formada por estribos, laçando a armadura principal das faixas, além de recomendar a
armadura em forma de malha conforme Calavera (2000), Figura 2.27.
Figura 2.27 Disposição de armaduras em blocos rígidos sobre várias estacas, Montoya (2000)
Baseados em ensaios, Leonhardt e Mönnig (1978) sugerem que, quando houver a
disposição de armadura entre as estacas ou quando a distância entre as faces internas das
estacas for maior que três vezes a altura do bloco, é necessária armadura de suspensão
dimensionada para resistir a uma força total igual à força advinda do pilar dividida por uma
vez e meia o número de estacas. Essa armadura tem a finalidade de evitar o surgimento de
fissuras que acarretam a ruína prematura do bloco.
Para controlar a fissuração, a ABNT NBR 6118:2003 indica armadura adicional de
distribuição em forma de malha, distribuída uniformemente nas duas direções, para no
máximo 20% dos esforços totais, completando a armadura principal. Essa armadura deverá
ser calculada considerando que a resistência de cálculo é de 80% da resistência à tração de
cálculo do aço.
A ABNT NBR 6118:2003 recomenda a utilização de armadura de suspensão na
situação em que é prevista armadura de distribuição para mais de 25% dos esforços totais ou
70
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
em blocos nos quais o espaçamento entre as estacas for superior a três vezes o diâmetro da
mesma. A armadura de suspensão deve ser calculada para a parcela de carga a ser equilibrada.
2.3.8 C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
Existem dois processos para o dimensionamento de blocos sobre estacas, um consiste
na teoria da flexão e outro na analogia de treliça. A teoria da flexão é fundamentada no
dimensionamento de blocos a partir da verificação da flexão e do cisalhamento em seções
críticas enquanto que a analogia de treliça avalia o equilíbrio de não apenas uma seção de
referência, mas do elemento em toda sua extensão. O Método das Bielas é um modelo mais
completo da aplicação da analogia de treliça no qual além da analogia de treliça e
determinação da área de aço dos tirantes são também verificadas as tensões de compressão
nas bielas e nos nós.
Atualmente os principais códigos normativos internacionais sugerem os dois modelos
havendo um direcionamento para o uso do Método das Bielas para blocos considerados
rígidos e a teoria da flexão para blocos ditos flexíveis. O Eurocode 2 (2002) recomenda a
escolha do modelo de dimensionamento que for julgado mais adequado pelo projetista, o ACI
318 (2008) recomenda o dimensionamento pela teoria de flexão para blocos flexíveis e para
blocos gidos é permitido a escolha entre um dos dois métodos. A EHE (2008) admite o uso
da teoria da flexão apenas para os blocos flexíveis, para os blocos gidos ela recomenda o
Método das Bielas.
A norma brasileira ABNT NBR 6118:2003 considera que os blocos rígidos são
caracterizados pelo trabalho à flexão nas duas direções, com tração concentrada em linhas
sobre as estacas, e cargas transmitidas às estacas por bielas de compressão e trabalho ao
cisalhamento em duas direções apresentando ruptura por compressão das bielas. Os blocos
flexíveis, segundo a ABNT NBR 6118:2003, devem ser analisados desde as forças nas estacas
e tirantes de tração até a verificação da punção, conforme as lajes.
Os métodos discutidos para blocos rígidos por Guerrin (1955), Montoya (2000) e
Calavera (2000) não contemplam a verificação da região nodal tampouco da biela de tal
maneira que não podem ser considerados como Método das Bielas, apenas uma analogia de
71
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
treliça. Guerrin (1955) apresenta três possibilidades de disposição da armadura em blocos
sobre quatro estacas: em malha, segundo as diagonais e em laçada lateral. Para os três
arranjos, Guerrin (1955) considera que a eficiência quanto à força última é equivalente,
entretanto isso é refutado pelos resultados obtidos pelos pesquisadores que estudaram a
influência do arranjo, tais como Blévot e Frémy (1967) e Clarke (1973).
Para os blocos rígidos, pode-se aprimorar o dimensionamento sugerido por Blévot e
Frémy (1967) utilizando diferentes valores limites de resistência à compressão da biela para a
seção próxima ao pilar e próxima à estaca. Em razão do confinamento existente próximo ao
pilar, a resistência da biela poderá ser superior nessa região.
A disposição da armadura depende do modelo de cálculo utilizado isto é, caso seja
considerado o comportamento de flexão a armadura será distribuída ao longo da seção do
bloco e, para o caso de utilização da analogia de treliça a disposição mais adequada é em
faixas concentradas sobre as estacas.
2.4 L
IGAÇÕES POR CÁLICES DE FUNDAÇÃO
Nesta seção discorrem-se as principais recomendações para o dimensionamento de
cálices encontrados nos códigos normativos e em bibliografias a respeito do assunto além das
observações de algumas pesquisas realizadas na Escola de Engenharia de São Carlos.
Os modelos apresentados em Leonhardt e Mönnig (1977) e na ABNT NBR 9062:2006
são os mais utilizados no Brasil para o dimensionamento de cálices externos, além das
recomendações feitas em El Debs (2000). Por possuírem muitas semelhanças, estes modelos
são discutidos em um único item.
72
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
2.4.1 M
ODELO DE
L
EONHARDT E
M
ÖNNIG
(1977)
E DA
ABNT
NBR
9062:2006
A seguir são descritos os procedimentos de dimensionamento do cálice de fundação
baseados em Leonhardt e Mönnig (1977), El Debs (2000) e na Norma Brasileira de concreto
pré-moldado. Também são discutidos o comportamento do cálice e os modelos de
transferência das ações entre o pilar, cálice e elemento de fundação.
A ABNT NBR 9062:2006 estabelece que na composição de ações atuantes no cálice
precisam ser consideradas todas as forças verticais e horizontais e os momentos transmitidos
pelos pilares, assim como aqueles provenientes dos efeitos de segunda ordem global.
O modelo proposto por Leonhardt e Mönnig (1977) considera que a transmissão das
ações à fundação depende do comportamento conjunto do pilar com as paredes do cálice de
fundação. Desse modo, o tratamento dispensado aos cálices de paredes lisas é distinto daquele
de paredes rugosas. Na Figura 2.28 está esquematizado, de forma genérica, o sistema de
forças que atuam nas paredes do cálice segundo este modelo.
Figura 2.28 Transferência de esforços em cálices
Fonte: Adaptação de El Debs (2000)
A ABNT NBR 9062:2006 recomenda que as superfícies internas do cálice possuam
pelo menos a mesma característica superficial que a dos pilares. O cálice é considerado de
parede rugosa quando possuir uma rugosidade formada por chave de cisalhamento cuja
profundidade dos sulcos corresponda no mínimo a 10 mm a cada 100 mm de comprimento.
Leonhardt e Mönnig (1977) aconselham que a espessura da parede do cálice t, seja maior ou
igual à 1/3 da menor distância entre as paredes do colarinho e no mínimo 10 cm. Este último
valor também é recomendado pela ABNT NBR 9062:2006 que ainda prescreve uma
73
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
espessura da laje no fundo do cálice não inferior a 20 cm. O comprimento de embutimento,
l
emb
, nos cálices de paredes lisas e rugosas para pequena e grande excentricidade é fornecido
pela Tabela 2.3.
Tabela 2.3 Comprimento de embutimento do pilar no cálice
Conformação
Leonhardt e Mönnig (1977)
ABNT NBR 9062:2006 / El Debs (2000)
࢖࢏࢒
,
૚૞
࢖࢏࢒
,
૙૙
࢖࢏࢒
,
૚૞
࢖࢏࢒
,
૙૙
Rugosa
1
,
20
ܾ
௣௜௟
2
,
00
ܾ
௣௜௟
1
,
20
ܾ
௣௜௟
1
,
60
ܾ
௣௜௟
Lisa
1
,
68
ܾ
௣௜௟
2
,
80
ܾ
௣௜௟
1
,
50
ܾ
௣௜௟
2
,
00
ܾ
௣௜௟
Observação: Valores intermediários obtidos por interpolação
As ações atuantes nas paredes do cálice estão representadas na Figura 2.29. No cálice
de paredes rugosas, Leonhardt e Mönnig (1977) apresentam dois modelos que representam
situações extremas: cálice de parede perfeitamente lisa, o ponderando as forças de atrito
desenvolvidas na interface da ligação pela pressão que o pilar exerce na parede do cálice, e
cálice com parede muito rugosa. Não é considerada a contribuição da força de atrito que surge
em resposta à pressão exercida pela força axial do pilar contra o fundo do cálice. A
consideração dessa força faria com que a resultante de forças H
d,inf
, aplicada na parte inferior
da parede transversal, também sofresse uma redução. El Debs (2000) limita a tensão de
contato na interface a 60% de f
cd
e no caso de flexão oblíqua essa tensão é limitada a 50% de
f
cd
.
Figura 2.29 Diagrama de tensões atuantes no colarinho
As forças resultantes H
d,inf
e H
d,sup
, e seus respectivos pontos de atuação, podem ser
obtidas pelas formulações que se encontram na Tabela 2.4.
74
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Tabela 2.4 Forças resultantes e respectivos pontos de atuação.
Leonhardt e Mönnig (1977) ABNT NBR 9062:2006 / El Debs (2000)
Parede Lisa Parede Rugosa Parede Lisa Parede Rugosa
H
d, sup
ܯ
0
,
67
݈
௘௠௕
+
1
,
25
ܸ
ܯ
0
,
83
݈
௘௠௕
+
1
,
20
ܸ
1
,
5
ܯ
݈
௘௠௕
+
1
,
25
ܸ
1
,
2
ܯ
݈
௘௠௕
+
1
,
20
ܸ
H
d, inf
ܯ
0
,
67
݈
௘௠௕
+
0
,
25
ܸ
ܯ
0
,
83
݈
௘௠௕
+
0
,
20
ܸ
1
,
5
ܯ
݈
௘௠௕
+
0
,
25
ܸ
1
,
2
ܯ
݈
௘௠௕
+
0
,
20
ܸ
y
0
,
167
݈
௘௠௕
0
,
167
݈
௘௠௕
0
,
167
݈
௘௠௕
0
,
150
݈
௘௠௕
z
0
,
667
݈
௘௠௕
0
,
833
݈
௘௠௕
0
,
67
݈
௘௠௕
0
,
85
݈
௘௠௕
Seguindo a nomenclatura fornecida pela Figura 2.28, é necessário armar as paredes do
cálice para o modelo idealizado, onde a parede 1 recebe a pressão de resultante H
d,sup
e
transfere para as paredes 3 e 4 que encaminham estas forças ao elemento de fundação por
meio de comportamento de consolo curto. Em conseqüência do comportamento de consolo
curto das paredes 3 e 4, é necessária a verificação da segurança com relação à ruptura da biela
comprimida nessas paredes. El Debs (2000) apresenta um procedimento para o cálculo das
armaduras do cálice seguindo a disposição ilustrada na Figura 2.30.
Figura 2.30 Armaduras do cálice
A armadura A
s,hp
é responsável por transmitir a força horizontal H
d,sup
para as paredes
3 e 4. O consolo, transfere as forças para o elemento de fundação por meio da treliça formada
pelo tirante de armadura A
s,vp
e pela biela comprimida. Além dessas armaduras, são dispostas
75
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
armaduras secundárias vertical, A
s,vs
, e horizontal, A
s,hs
, nas paredes do cálice. As armaduras
secundárias cumprem o papel de armadura de costura e de distribuição. As expressões para o
cálculo das áreas destas armaduras estão compiladas na Tabela 2.5.
Tabela 2.5 Áreas de armadura do cálice
Armadura Área
,
ࢎ࢖
ܪ
,
௦௨௣
2
݂
௬ௗ
,
࢜࢖
ܨ
௧௜௥
,
݂
௬ௗ
,
ࢎ࢙
0
,
20
ܣ
,
௩௣
,
࢙࢜
0
,
40
ܣ
,
௩௣
Segundo El Debs (2000), é necessária a armadura A
s,hft
em razão da flexão que ocorre
nas paredes de superfície lisa, originada pela pressão exercida pelo pilar, o esquema
ilustrativo desse fenômeno encontra-se na Figura 2.31.
Figura 2.31 Flexão e armadura na parte superior do colarinho adaptado de El Debs (2000)
Quanto a disposição das armaduras, El Debs (2000) recomenda que a armadura A
s,hp
precisa ser disposta em uma altura igual a 2·y, sendo y a distância do ponto de atuação da
força horizontal resultante H
d,sup
ao topo do colarinho, Figura 2.32. A armadura A
s,hft
precisa
ser disposta na região superior da parede do colarinho, que dista até l
emb
/3 da face superior da
parede do cálice, e as armaduras A
s,hs
e A
s,vs
tem espaçamento variando entre 15 a 30 cm.
76
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.32 Transferência de tensões pela parede longitudinal do cálice
Considerando o exposto na Figura 2.32, o ângulo β pode ser obtido por meio da
Expressão 2.23. O dimensionamento das paredes longitudinais depende da geometria das
mesmas, sendo assim tem-se que o consolo pode ser: muito curto (tgβ 0,5), curto (0,5 tgβ
1,0), longo (tgβ 1,0). Para consolos muito curtos, o dimensionamento é baseado no
Modelo Atrito-Cisalhamento, em consolos curtos é baseado no Modelo de Bielas e Tirantes e
no caso de consolos longos, que tem o comportamento de viga, o mais adequado é a Teoria de
Flexão.
ߚ
=
ܽݎܿݐ݃
೎೚೗
ି
,
଼ହ
೐ೣ೟
ି
(2.23)
Para a situação de consolo curto, maior parte dos cálices usuais, faz-se necessário
determinar a força F
tir,d
por meio da Expressão 2.24 e a área de aço necessária para resistir à
esta força mediante a expressão dada pela Tabela 2.5 além disso é preciso calcular a força R
cb
,
dada pela Expressão 2.25, e verificar a segurança da biela por meio da Expressão 2.26.
ܨ
௧௜௥
,
=
,
ೞೠ೛
ݐ݃ߚ
(2.24)
ܴ
௖௕
=
,
ೞೠ೛
௖௢௦ఉ
(2.25)
ߪ
௖௕
,
á
=
೎್
್೔೐
0
,
85
݂
௖ௗ
(2.26)
sendo que a largura da biela, h
bie
, pode ser calculada pela Expressão 2.27:
௕௜௘
=
0
,
3
ܾ
௘௫௧
ݏ݁݊ߚ
(2.27)
77
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
O arranjo das armaduras do cálice encontram-se ilustrados na Figura 2.33. Leonhardt e
Mönnig (1977) e El Debs (2000) ainda permitem um detalhamento mais simplificado para
situações de pequena excentricidade das ações.
Figura 2.33 Arranjo das armaduras do cálice adaptado de El Debs (2000)
Fonte: Canha (2004)
78
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Em El Debs (2000) são feitas algumas considerações quanto à armadura do pilar na
região da emenda. É recomendado a colocação de armadura transversal para resistir a uma
força cortante no valor de H
d,inf
e armadura em forma de U na base do pilar para resistir a
força H
d,inf
. A ancoragem da armadura na extremidade do pilar deve ser verificada,
considerando seu início na posição da resultante y e no caso de parede rugosa, deve ser
verificada a emenda por traspasse entre a armadura longitudinal do pilar e a armadura vertical
do colarinho.
Nos cálices de paredes lisas, a ABNT NBR 9062:2006 permite considerar que até 70%
da força normal seja transmitida pela interface, desde que se disponha de armadura de
suspensão em toda a volta do encaixe e calculada para resistir a essa parcela de força normal.
El Debs (2000) sugere que se possa considerar que uma parcela da força normal que atua na
base seja transmitida para o colarinho, se houver armadura de suspensão calculada para tal e
desde que essa parcela não supere 50% da força normal.
Com relação à verificação da punção na base do cálice, a formação da superfície de
ruptura deve ser considerada formada a partir do perímetro do pilar no caso de cálice de
paredes lisas e, no caso de cálice de paredes rugosas, formada a partir do perímetro externo do
colarinho.
2.4.2 O
UTROS MODELOS E ESTUDOS REALIZADOS
Willert e Kesser (1983) sugeriram um modelo teórico baseado nos resultados de
pesquisa de cálices de fundação com colarinho. O modelo proposto considera a rugosidade da
interface por meio de coeficiente de atrito, µ. Sendo a interface de ligação formada por
paredes lisas, é indicado o valor 2/3. Nos casos de interface rugosa, não foram feitas
indicações de valores para µ, entretanto pode-se utilizar este modelo para interfaces rugosas
desde que seja feito o ajuste adequado deste coeficiente. O comprimento de embutimento
deve atender a Expressão 2.28 e, ao contrário do que especifica os modelos da ABNT NBR
9062:2006 e de Leonhardt e Mönnig (1977), não depende da conformação superficial das
paredes da ligação.
1
,
5
݈
௘௠௕
3
,
0
(2.28)
79
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
No modelo de Willert e Kesser (1983), o braço de alavanca entre as forças resultantes
horizontais, superior e inferior, varia em função da excentricidade do carregamento. Para
pequenas excentricidades, ao se desprezar o coeficiente de atrito na interface obtém-se a
expressão de força horizontal resultante equivalente àquela sugerida por Leonhardt e Mönnig
(1977) para ligações de interface rugosa. Para excentricidade muito grande, pilar submetido à
flexão pura, ao se desprezar o coeficiente de atrito, se obtém a expressão de Leonhardt e
Mönnig (1977) para ligações de interface lisa.
Olin et al. (1985) apresentaram um modelo que considera a atuação de tensões de
aderência na interface de ligação e a excentricidade da resultante de compressão na base do
pilar. Essas considerações contribuem para uma maior capacidade resistente da ligação em
relação aos outros modelos que não as consideram. Os pesquisadores consideram a
excentricidade da resultante de compressão na base do pilar, em razão da atuação do
momento, de valor igual à h
pil
/6, sendo h
pil
a maior dimensão da seção transversal do pilar. O
comprimento de embutimento do pilar deve ser igual a 1,3·h
pil
.
A força de atrito abaixo do pilar é desconsiderada pelos pesquisadores por entenderem
que a força de compressão na base do pilar nem sempre se distribui perpendicularmente à
superfície inferior do cálice. O dimensionamento é feito para duas condições de interface de
ligação: interface de conformação lisa, µ = 0,3, e interface de conformação rugosa, µ = 0,6.
Bruggeling e Huyghe (1991) distinguem o funcionamento da ligação e o modo de
transmissão das ações de acordo com o comprimento de embutimento do pilar no cálice de
fundação. Se o comprimento de embutimento for inferior aos valores sugeridos por Leonhardt
e Mönnig (1977) para paredes rugosas, a transferência do momento fletor M
d
do pilar para a
fundação será por meio de bielas situadas entre a face da coluna e a face da parede do cálice,
ambos com superfície rugosa. As forças resultantes de tração nas paredes do cálice precisam
ser resistidas por armaduras suficientemente dimensionadas e são transmitidas ao elemento de
fundação por intermédio de bielas diagonais. a força vertical N
d
é transferida por duas
bielas diagonais formadas entre o topo do cálice e a base fundação. O comprimento de
embutimento é limitado pelo comprimento de ancoragem da armadura do pilar e as forças
cortantes que atuam no pilar. A ilustração desse modelo de transferência para ações verticais
centradas e excêntricas encontram-se respectivamente na Figura 2.34-a e Figura 2.34-b.
80
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.34 Modelos para a transferência das tensões em cálices de comprimento de
embutimento menores que os de Leonhardt e Mönnig (1977)
Fonte: Bruggeling e Huyghe (1991) adaptado por Canha (2004)
Para cálices cujo comprimento de embutimento atenda aos valores presentes em
Leonhardt e Mönnig (1977) para paredes rugosas, o momento M
d
é transferido às paredes
transversais do cálice por forças horizontais, de intensidade M
d
/(0,75· l
emb
), e a transmissão
para a fundação ocorre mediante bielas diagonais formadas nas paredes situadas na direção da
força horizontal. A força vertical N
d
é transferida pela base do pilar para a base do cálice. A
ilustração desse modelo no caso de ações centradas e excêntricas encontra-se respectivamente
na Figura 2.35-a e Figura 2.35-b.
Figura 2.35 Modelos para a transferência das tensões em cálices de comprimento de
embutimento iguais ao mínimo de Leonhardt e Mönnig (1977)
Fonte: Bruggeling e Huyghe (1991) adaptado por Canha (2004)
81
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Elliott (1996) apresenta dois modelos para a ligação mediante cálice de fundação,
ambos considerando a excentricidade da força normal, sendo que em um deles é considerada a
atuação de força horizontal. Para ambos os modelos o autor recomenda um comprimento de
embutimento não inferior a uma vez e meia a maior dimensão da seção transversal do pilar,
1,5·h. Apesar de admitir a existência de forças de atrito na base do pilar, o autor não considera
essas forças em seus modelos. Elliot (1996) recomenda que a distância entre as paredes do
cálice e do pilar seja no mínimo de 75 mm no topo do colarinho e de 50 mm na base do
colarinho. A pressão de contato é limitada a 40% da resistência à compressão de cálculo do
concreto utilizado para preenchimento da ligação.
Osanai et al. (1996) propuseram um modelo para o dimensionamento de cálices de
fundação depois de terem realizado ensaios em seis modelos de escala 1:2 submetidos à ão
cíclica. Foram variados o comprimento de embutimento, l
emb
, entre 1,0·h e 1,5·h, e a
conformação das paredes da interface de ligação, rugosa ou lisa. No modelo proposto, é
considerada a presença de forças de atrito nas interfaces laterais e inferior, além da
excentricidade da reação vertical inferior, que surgem quando forças verticais e horizontais
atuam no pilar.
Os resultados experimentais indicaram que para valores de l
emb
de 1,5·h, a ligação teve
comportamento rígido mesmo para cálices de interface lisa, entretanto as ligações com
interface lisa não apresentaram rigidez aceitável quando o comprimento de embutimento foi
menor que 1,25·h. Os pesquisadores observaram também que é possível manter a ligação com
comportamento rígido ao se reduzir l
emb
desde que as superfícies da interface de ligação
possuam rugosidade adequada. Nestes ensaios as superfícies rugosas foram conseguidas
mediante chaves de cisalhamento.
Para o desenvolvimento do modelo de dimensionamento, Osanai et al. (1996)
utilizaram-se de dois modelos parciais, cujos equilíbrios foram feitos separadamente, e por
fim a solução foi encontrada por meio da superposição. Os coeficientes de atrito indicados
neste modelo são: 1,0, para interface rugosa quando l
emb
1,25·h e para interface lisa quando
l
emb
1,5·h; e 0,5 para interface rugosa onde l
emb
=1,0·h. O modelo proposto pelos
pesquisadores obteve melhor aproximação dos resultados experimentais quando comparados
com as proposições da norma alemã DIN 1045, utilizando os mesmos coeficientes de atrito.
Em Silva (1998) são propostos modelos para a transferência de ações em ligações com
cálice embutido e externo. Quanto ao cálice externo, para a situação de ação vertical centrada,
82
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
é sugerido que o cálculo seja feito como em uma ligação monolítica, sendo a força normal
transferida à fundação por um modelo de bielas e tirantes formados a partir da base do pilar.
Para pilares solicitados por ação excêntrica, a eficácia da ligação depende do
comprimento de embutimento, da resistência do material de preenchimento e do conjunto
cálice-fundação. A determinação do comprimento de embutimento precisa ser feita de tal
forma que não ocorra ruptura por compressão do graute ou concreto de ligação. Silva (1998)
propõe a limitação da tensão de contato a 60% de f
cd
, por considerar que essa ligação
apresenta dificuldade de vibração e compactação. A Figura 2.36 apresenta modelo de forças
internas no pilar considerando a reação vertical na base do pilar centrada enquanto a Figura
2.37 apresenta o modelo para a situação de reação vertical na base do pilar excêntrica.
Figura 2.36 Modelo de forças internas no pilar com a transmissão da reação vertical centrada
Fonte: Adaptação de Silva (1998)
Considerando as Figura 2.36 e Figura 2.37 e respeitando o limite da tensão de contato,
tem-se que:
ܸ
=
0
,
6
݂
௖ௗ
݈
ܾ
௣௜௟
(2.28)
Como as forças V
d
não são colineares, estas formam um binário que provoca um
acréscimo no momento fletor que solicita a ligação. O momento solicitante, com este
acréscimo, é descrito pela Expressão 2.29:
ܯ
=
ܯ
+
ܸ
(2.29)
83
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
O momento ܯ
é equilibrado pelo binário de forças de compressão H
d
calculado pela
Expressão 2.30:
ܪ
=
0
,
6
݂
௖ௗ
݈
ܾ
௣௜௟
(2.30)
Equilibrando o binário de forças horizontais resultantes com o momento da Expressão
2.29, tem-se:
ܪ
݈
௘௠௕
݈
݈
=
ܯ
+
ܸ
(2.31)
Fazendo a substituição da Expressão 2.30 na Expressão 2.31, tem-se a expressão:
݈
݈
௘௠௕
݈
݈
+
,
೎೏
೛೔೗
=
0
(2.32)
Resolvendo a equação dada pela Expressão 2.32, tem-se que:
݈
௘௠௕
݈
4
,
೎೏
೛೔೗
0
(2.33)
Portanto:
݈
௘௠௕
2
,
೎೏
೛೔೗
+
݈
(2.34)
Substituindo o valor de
l
v
da Expressão 2.28 na Expressão 2.34, tem-se que o
comprimento de embutimento é:
݈
௘௠௕
2
భ,మ∙೑
೎೏
∙್
೛೔೗
,
೎೏
೛೔೗
+
,
೎೏
೛೔೗
(2.35)
84
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.37 Modelo de forças internas no pilar com a transmissão da reação vertical
excêntrica
Fonte: Adaptação de Silva (1998)
Silva (1998) observa que o comprimento de embutimento do pilar é função de b
pil
,
diferentemente das expressões propostas por Leonhardt e Mönnig (1977) sendo que o
comprimento de embutimento é função de h
pil
. Os pesquisadores ainda fornecem modelos de
bielas e tirantes para a determinação das armaduras de sapatas com cálice embutido, a Figura
2.38 representa um desses modelos, nesse caso para ação excêntrica.
85
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.38 Modelo de Bielas e Tirantes para sapata com ação vertical de excentricidade
ea
sap
/4
Fonte: Adaptação de Silva (1998)
Canha (2004) em sua pesquisa realizou ensaios experimentais e numéricos. A fase
experimental consistiu de ensaio de cinco modelos em escala natural de cálice de ligação com
atuação de força normal de grande excentricidade sendo três desses modelos com paredes de
interface lisas e dois modelos com paredes de interface rugosa. Em ambos os modelos foi
aplicado desmoldante na superfície das paredes de interface com a intenção de eliminar a
adesão entre os concretos. A fase numérica consistiu de análise pelo Método dos Elementos
Finitos com auxílio do programa computacional ANSYS 5.5. Este estudo permitiu averiguar a
hipótese de que os métodos usuais de dimensionamento, baseados na ABNT NBR 9062:1985
e em Leonhardt e Mönnig (1977), conduzem a soluções conservadoras.
86
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Além dos ensaios, foi realizada uma avaliação de alguns modelos encontrados na
literatura técnica e finalmente foi proposto um modelo de cálculo para cálices de paredes lisas
que leva em consideração as forças de atrito mobilizadas pela pressão do pilar nas paredes do
cálice e o comportamento de consolo para o cálculo das paredes longitudinais. Para os cálices
de paredes rugosas, Canha (2004) constatou que a resistência experimental atingiu valores
próximos aos de uma ligação monolítica, portanto foi indicado o dimensionamento das
armaduras verticais do cálice considerando a transferência total dos esforços solicitantes e das
armaduras superiores considerando o comportamento de consolo das paredes longitudinais.
As recomendações quanto à geometria do cálice são as mesmas feitas por Leonhardt e
Mönnig (1977) e pela ABNT NBR 9062:2006, desse modo o comprimento de embutimento,
l
emb
, é o mesmo fornecido pela Tabela 2.3. A representação das forças atuantes nas paredes do
cálice e as reações desenvolvidas estão representadas na Figura 2.39. O modelo proposto por
Canha (2004) considera o desenvolvimento de forças de atrito F
at,sup,d
e F
at,inf,d
, provenientes
da pressão exercida pelo pilar nas paredes transversais do cálice, e F
at,bf,d
oriunda da pressão
da força normal reduzida na base do pilar, N
bf,d
, atuando com excentricidade igual a e
nb
.
Figura 2.39 Esquema de forças solicitantes e resistentes no cálice de fundações
Fonte: Adaptação de Canha (2004)
Por meio das equações de equilíbrio de forças verticais, horizontais e de momento em
relação ao ponto O, escrevendo as forças de atrito em função da forças normais que as
87
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
mobiliza e fazendo as substituições adequadas chegou-se a Expressão 2.36, que descreve a
intensidade da força H
d,sup
:
ܪ
,
௦௨௣
=
ି
೙್
,
ܾ
݌݈݅
೙್
೐೘್
ି
,
ܾ
݌݈݅
೙್
೐೘್
ܾ
݌݈݅
ି
ି
(2.36)
Canha (2004) calibrou a Expressão 2.36 com os resultados experimentais por meio da
variação dos parâmetros y, y’ e e
nb
. O valor recomendado para e
nb
é de b
pil
/4, que satisfaz à
situação da linha neutra do pilar próxima do limíte entre os domínios 3 e 4 correspondendo ao
caso de pilares dimensionados de forma mais econômica, valor este também favorável à
segurança. Para y’ foi recomendado l
emb
/10. Mesmo sabendo que a força H
d,inf
é praticamente
transmitida diretamente à base da fundação, foi indicado a utilização de valor diferente de
zero por achar que fosse mais prudente. Considerando a distribuição triangular de esforços na
parede do cálice, e considerando a posição da resultante dessa distribuição, tem-se que y é
igual a l
emb
/6 mesmo assim a armadura superior deveser distribuída, conforme indica El
Debs (2000), até l
emb
/3 do topo do colarinho. O coeficiente de atrito, µ, indicado é de 0,6.
Como os resultados das ligações de paredes rugosas foram próximos aos de ligações
monolíticas, Canha (2004) sugeriu o dimensionamento da ligação com cálices de paredes
rugosas admitindo a transferência do momento, da força normal e da força cortante para o
cálice de tal maneira que o dimensionamento do cálice é feito com base na Teoria de Flexão,
considerando a seção conjunta cálice-pilar flexo-comprimido e a contribuição de todas as
armaduras verticais principais tracionadas presentes no colarinho, incluindo as armaduras
secundárias.
Prosseguindo nos estudos dos cálices de fundação com colarinho, Jaguaribe Júnior
(2005) estudou dois modelos experimentais com comprimento de embutimento reduzidos, um
com interface lisa e outro com interface rugosa. Comparando as resistências obtidas nos
ensaios com os modelos téoricos da ABNT NBR 9062:1985, de Canha (2004) e outros
modelos, o pesquisador observou que a maioria dos modelos teóricos superestimaram a
capacidade da ligação quando se utilizou valores de comprimento de embutimento inferiores
aos prescritos na norma brasileira de concreto pré-moldado. Para o modelo possuindo
interface rugosa e comprimento de embutimento reduzido a aplicação da teoria de flexão
composta, sugerida por Canha (2004), conduziu a valores de resistência superiores. Jaguaribe
88
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Júnior (2005) adverte que, apesar do comportamento do cálice rugoso ter sido próximo de
uma ligação monolítica, é necessário um modelo de cálculo mais coerente para lices de
interfaces rugosas e comprimento de embutimento inferiores a 1,6·h.
Ebeling (2006) estudou o comportamento da base dos pilares em ligações por cálice de
fundação mediante análise experimental e numérica. A análise foi realizada em dois modelos
de cálices com interface lisa sendo que foram reaproveitados modelos utilizados nas pesquisas
de Canha (2004) e Jaguaribe Júnior (2005) empregando-se reforço com fibra de carbono nas
paredes do cálice.
O pesquisador constatou que a base dos pilares, na ligação com o cálice de fundação,
apresenta segurança, uma vez que a ruína dos modelos aconteceu pelo escoamento da
armadura longitudinal tracionada, fora da região de embutimento. Também foi verificado que
o comprimento de embutimento influenciou na rigidez das ligações tornando as ligações com
menores comprimentos de embutimento mais deformáveis. Além disso, Ebeling (2006)
verificou que a armadura transversal não sofreu grandes solicitações, mesmo com ela
possuindo valores mínimos indicados pela norma.
Nunes (2009) estudou ligações por cálice externo com enfoque no comportamento das
paredes transversais do cálice. Nesta pesquisa foram realizados ensaios em dois modelos
experimentais, um com interface rugosa e outro lisa, sendo avaliadas as armaduras verticais
principais, localizadas no encontro das paredes longitudinais com as transversais.
A comparação dos resultados experimentais com as previsões feitas pelo modelo
proposto do Canha (2004), indica que a parede transversal encontra-se submetida a flexo-
tração, sendo que os melhores resultados foram alcançados ao se considerar 15% de flexão e
85% de tração.
Outros códigos normativos fazem recomendações quanto ao dimensionamento de
ligações por meio de cálices, tal como o Eurocode 2 (2002). Segundo esta norma, os cálices
devem ser capazes de transmitir a força axial, força cortante e momento fletor do pilar à
fundação. Para o cálice com interface rugosa, pode-se considerar que a transferência de
esforços é semelhante à da ligação monolítica, de tal forma que as recomendações são as
mesmas. A Figura 2.40 ilustra esse caso.
89
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Figura 2.40 - Cálice com chave de cisalhamento.
Fonte: Eurocode 2 (2002).
É imprescindível um detalhamento cauteloso da armadura que se sobrepõe na região
da ligação. O comprimento de traspasse comum deve sofrer acréscimo de no mínimo a
distância entre as barras de armadura do pilar e da fundação conforme indica a Figura 2.40.
A verificação da punção deve ser igual à feita para situação de ligação monolítica
entre pilar e fundação, caso ocorra à transferência de cisalhamento na interface. Caso
contrário a verificação é igual para ligação com cálice de parede lisa.
Em cálices de interface lisa, o Eurocode 2 supõe que a transferência de esforços é feita
mediante as forças H
d,sup
, H
d,inf
e N
bf
,
d
e as correspondentes forças de atrito no concreto de
preenchimento, Figura 2.41. O coeficiente de atrito, µ, não deve ser maior que 0,3. Neste
modelo o comprimento de embutimento, l
emb
, deve ser maior ou igual a 1,2·h
pil
.
Figura 2.41 - Cálice com paredes lisas.
Fonte: Eurocode 2 (2002).
90
Capítulo 2
:
Revisão Bibliográfica
Segundo a norma, deve-se prestar atenção especial no detalhamento da armadura de
H
d,sup
no topo das paredes do cálice e na transferência dessa força por meio das paredes
laterais até a fundação. Ainda, é preciso verificar a ancoragem da armadura principal no pilar
nas paredes do cálice e a resistência ao cisalhamento da coluna com o cálice.
2.4.3 C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
Pela análise dos modelos de cálices apresentados e pelo estudo feito por Canha (2004),
percebe-se que a não consideração das forças de atrito desenvolvidas na interface, como
ocorre no modelo de Leonhardt e Mönnig (1977) para paredes lisas, conduz a resultados
conservadores. Além disso, os modelos que consideram a excentricidade da reação da força
vertical fornecem resultados mais econômicos uma vez que essa excentricidade reduz uma
parcela do momento atuante na ligação.
A flexão das paredes do cálice em razão da pressão exercida pelo pilar não é
preponderante uma vez que, como foi observado no estudo de paredes do cálice realizado por
Nunes (2009), o dimensionamento da armadura do topo do cálice considerando a flexo-tração
com 85% de tração e 15% de flexão conduz a resultados mais próximos dos valores
observados nos ensaios. Para os cálices embutidos em blocos sobre quatro estacas, acredita-se
que a ocorrência de flexão da parede não seja relevante uma vez que as paredes do cálice são
formadas pelo próprio bloco possuindo uma grande rigidez.
Nos cálices embutidos com interface rugosa, em razão dos resultados encontrados no
estudo de Canha (2004) e na recomendação feita pelo Eurocode 2 (2002), acredita-se que o
comportamento da ligação será de monolitismo sendo necessário observar o comprimento de
ancoragem e de traspasse da armadura do pilar. A quantidade reduzida de recomendações de
modelos de bielas e tirantes para o elemento de fundação com cálice embutido de paredes
lisas faz com que seja difícil o dimensionamento do bloco, Bruggeling e Huyghe (1991)
ilustram um modelo privado de detalhes e Silva (1998) apresenta um modelo desenvolvido
para sapatas com cálice embutido. Percebe-se também que o modelo de forças internas ao
pilar proposto por Silva (1998) prevê um bloco de tensões de compressão que pode ser
considerado válido no caso de pequenos valores de excentricidade da força vertical.
E
STUDO E
A
NÁLI
SE DOS
M
ODELOS
N
UMÉRICOS
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
3
3
3 E
STUDO E
A
NÁLISE DOS
M
ODELOS
N
UMÉRICOS
3.1 C
ONSIDERAÇÕES INICIAIS
Em meados da metade do século XX, o desenvolvimento computacional estimulou o
uso dos métodos numéricos, em especial o Método dos Elementos Finitos, para a análise de
problemas complexos de engenharia. O concreto é um dos materiais mais consumidos no
planeta, em grande parte das obras de engenharia com finalidade estrutural. A sua simulação
numérica é complexa em razão da modelagem das fissuras e do comportamento não-linear
induzido pela fissuração do concreto. Ao longo dos anos, foram desenvolvidos programas
computacionais baseadas no Método dos Elementos Finitos cuja finalidade é simular e
analisar materiais, tais como o concreto, quando submetidos a carregamentos, tensões
impostas por deformações e deslocamentos de apoios, e variações de temperatura. Dentre os
programas disponíveis optou-se nesse estudo pelo DIANA.
3.2 P
ROGRAMA COMPUTACIONAL
DIANA
3.2.1 I
NTRODUÇÃO
O programa computacional DIANA, DIsplacement method ANAlyzer, é destinado a
análises por meio do Método dos Elementos Finitos baseado no método dos deslocamentos.
Esse programa vem sendo desenvolvido, desde 1972, pela Delft University of Technology na
Holanda e possui uma biblioteca vasta de elementos e materiais que foi apontada por
pesquisadores, como Souza (2004) e Barros (2009), apropriada para a análise de estruturas
formadas por elementos de concreto armado. Além de efetuar vários tipos de análise, salienta-
se a possibilidade de considerar efeitos dependentes do tempo, temperatura, instabilidade,
92
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
plasticidade e fissuração do concreto, dos quais interessam às análises deste estudo apenas os
dois últimos.
Amparando-se na potencialidade e na capacidade de simular o comportamento de
elementos de concreto armado pelos modelos inclusos no programa e na sua disponibilidade
para o Departamento de Engenharia de Estruturas da Escola de Engenharia de São Carlos,
optou-se por sua utilização para o desenvolvimento das análises numéricas desta pesquisa.
3.2.2 M
ODELOS CONSTITUTIVOS
As estruturas de concreto, após certa intensidade de tensão, apresentam um acréscimo
das deformações. Esse comportamento também denominado por strain softening, ou
amolecimento, tende a ser mais acentuado em algumas regiões da estrutura de tal modo que,
para conseguir uma boa representação, seria necessária uma malha mais refinada nessas
regiões. A discretização da malha de elementos finitos eleva o número de elementos e,
conseqüentemente, o número de equações do sistema, gerando maior tempo de processamento
computacional podendo até inviabilizar a análise. A solução alternativa do DIANA é a
utilização dos parâmetros da Mecânica da Fratura para descrever esse comportamento do
concreto. Para isso o programa dispõe do modelo de fissuras distribuídas, Smeared Crack
Model, e de fissuras discretas, Discrete Crack Model.
O modelo de fissura discreta busca representar a fissura por meio da geração de uma
nova malha de elementos finitos a cada incremento de carregamento, de modo a representar a
descontinuidade ocasionada pela fissura. Essa estratégia busca representar o processo de
fissuração do concreto, entretanto, segundo Rots e Blaauwendraad (1989), esta alternativa
apresenta a inconveniência de gerar mudanças contínuas na conectividade dos nós dos
elementos finitos e de obrigar a fissura a seguir por um caminho pré-definido pelas interfaces
dos elementos adjacentes à mesma. Por outro lado, o modelo de fissuras distribuídas trata o
fraturamento do concreto mantendo a continuidade do material sem alterar a malha original de
elementos finitos em razão da propagação das fissuras. Rots e Blaauwendraad (1989) também
citam a vantagem do modelo de fissuras distribuídas não impor restrições quanto à orientação
das fissuras.
93
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Por motivo de simplificação, optou-se nesta pesquisa pelo modelo de fissuras
distribuídas. Os parâmetros necessários para a análise considerando o modelo de fissuras
distribuídas são: energia de fraturamento na tração G
f
, energia de fraturamento na compressão
G
c
, resistências à tração e compressão, fator de retenção ao cisalhamento β e a largura de
banda das fissuras h
cr
.
A energia de fraturamento, conforme procedimento da RILEM Draft Recommendation
TC50-FMC
11
, pode ser obtida em ensaio à flexão de corpo-de-prova entalhado sendo que G
f
é
dado pela área abaixo da curva força-deslocamento dividida pela área da seção efetiva do
corpo-de-prova no plano do entalhe. Na ausência deste ensaio, o CEB-FIP 1990 (1993)
permite a estimativa da energia de fraturamento por meio da Expressão 3.1:
ܩ
=
ܩ
ி
೎೘
೎೘
,
[
N
·
mm
/
mm
²
]
(3.1)
Sendo que f
cm0
é igual a 10 MPa e f
cm
é dado pela Expressão 3.2. O parâmetro G
F0
é o
valor básico da energia de fraturamento, fornecido na Tabela 3.1 em função do diâmetro
máximo do agregado do concreto.
݂
௖௠
=
݂
௖௞
+
8
[
N
/
mm
²
]
(3.2)
Tabela 3.1 G
F0
em função do diâmetro máximo do agregado
d
máx
(mm) G
F
0
(N·mm/mm²)
8 0,025
16 0,030
32 0,058
o G
c
, segundo Feenstra
12
, encontra-se no intervalo entre 10 e 25 N·mm/mm² que
corresponde a um valor entre 50 e 100 vezes o G
f
.
11
RILEM, Draft Recommendation, 50-FMC Committee Fracture Mechanics of Concrete, Determination of the
Fracture Energy of Mortar and Concrete by means of Three-Point Bending Tests on Notched Beams, Materials
and Structures, v. 85, n. 85, p. 285-290, 1985.
12
FEENSTRA, P. H. Computational Aspects of Biaxial Stress in Plain and Reinforced Concrete. PhD thesis,
Delft University of Technology, 1993.
94
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
3.2.2.1 M
ODELOS
T
OT A L
S
TR AI N
São modelos desenvolvidos sobre a teoria do campo de compressão modificado,
apresentada por Vecchio e Collins
13
e que posteriormente foi estendida para problemas
tridimensionais por Selby e Vecchio
14
Segundo TNO DIANA (2005c), estes modelos descrevem o comportamento do
concreto sob tensões de compressão e de tração por meio de relações tensão-deformação,
entretanto não podem ser combinados com outros modelos constitutivos. Estes modelos são
adequados para análises de ELS (Estado Limite de Serviço) e ELU (Estado Limite Último)
por serem estes estados limites governados pela fissuração e pela ruptura do concreto.
O DIANA disponibiliza dois modelos Total Strain: o Total Strain Rotating Crack
Model, ou seja, modelo de fissuras rotacionais e o Total Strain Fixed Crack Model, ou modelo
de fissuras fixas. O primeiro modelo corresponde a uma aproximação sendo que as relações
tensão-deformação são avaliadas nas direções principais do vetor deformação. As
aproximações obtidas são adequadas para estruturas de concreto armado, permitindo que a
orientação das fissuras co-rotacionem com os eixos da deformação principal de tal forma que
a direção da fissura coincida com a direção das deformações principais. Ainda, quanto ao
modelo de fissuras rotacionais, a transferência de cisalhamento não irá desempenhar um papel
relevante, de tal modo que não é necessário especificar um fator de retenção ao cisalhamento.
Maekawa et al. (2003) afirmam que, uma vez que as tensões de cisalhamento desaparecem
nos planos principais continuamente atualizados, nenhum modelo de transferência de
cisalhamento é necessário. Nesse modelo, a inclinação das tensões principais permanece
sempre coincidente com a inclinação das deformações principais. Por esse motivo, essa
aproximação não considera explicitamente o deslizamento e a transferência de tensões
cisalhantes motivadas pelo intertravamento do agregado. Esse tipo de tratamento traz
benefícios computacionais e respostas satisfatórias para estruturas submetidas a
carregamentos monotônicos ou cíclicos nos quais os ciclos de carregamento não ocasionem
muitas rotações nas direções das tensões principais.
13
VECCHIO, F. J.; COLLINS, M. P. The Modified Compression Field Theory for Reinforced Concrete
Elements Subjected to Shear. ACI Journal, v. 83, n. 2, p. 219-231, mar.-abr. 1986.
14
SELBY, R. G.; VECCHIO, F. J. Three-dimensional Constitutive Relations for Reinforced Concrete.
Technical Report, n. 93-02, University of Toronto, Department of Civil Engineering, Canada, 1993.
95
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
O segundo modelo possui maior apelo na natureza física da fissura sendo que as
relações tensão-deformação são avaliadas segundo um sistema de coordenadas fixo sobre a
fissura, conservando a sua orientação inicial nos estágios subseqüentes. Conforme Maekawa
et al. (2003), no modelo de fissuras fixas a anisotropia é levada em consideração em
conseqüência do tratamento independente dispensado para o modelo de transferência de
tensões normais e de cisalhamento. Nesse caso o vetor de tensões principais não coincide com
o das deformações principais, e a modelagem da fissura é geometricamente próxima a
realidade. Nesse modelo, a descrição do comportamento quanto ao cisalhamento torna-se
necessária.
Os dados de entrada são compostos por duas partes: os dados sicos, tais como o
módulo de elasticidade, o coeficiente de Poisson e as resistências à compressão e à tração, e
por definições quanto ao comportamento do concreto sob compressão, tração e cisalhamento.
Os dados podem ser fornecidos diretamente ao DIANA ou escolhendo um modelo
inserido na biblioteca do programa, como o Model Code CEB-FIP 1990. Quando inseridos
diretamente, os dados referentes ao comportamento do concreto sob tração e compressão
serão compostos pelas características das curvas que relacionam tensão e deformação e pelos
parâmetros necessários para descrever cada curva. A Figura 3.1 e a Figura 3.2 descrevem os
modelos disponíveis para representar o comportamento do concreto sob tração e compressão
respectivamente.
96
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.1 Modelos de comportamento Tensão x Deformação disponíveis para o concreto
tracionado
Fonte: DIANA (2005c)
Figura 3.2 - Modelos de comportamento Tensão x Deformação disponíveis para o concreto sob
compressão
Fonte: DIANA (2005c)
97
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Nos modelos Total Strain de fissura fixa o comportamento quanto ao cisalhamento é
avaliado por meio do fator de retenção ao cisalhamento β, que será constante nos caso do
Total Strain Fixed Crack, e constante ou variável para o caso do Non-orthogonal Crack
Model. Para o modelo Total Strain Rotating Crack Model o valor de β pode ser assumido
igual a um, uma vez que esse fator é dispensável no comportamento deste modelo. O
coeficiente β promove a minoração do módulo de elasticidade transversal G, em razão da
elevação da intensidade das tensões e conseqüente fissuração do concreto. Este coeficiente
pode ser visto como uma forma de representar os mecanismos de transferência de
cisalhamento entre interfaces de concreto.
Segundo Rots e Blaauwendraad (1989), os modelos de fissuras rotacionais diferem dos
modelos de fissuras fixas por não preservarem uma memória permanente da orientação dos
danos, ou seja, implicando que os defeitos inativos não possam ser reativados nos estágios
seguintes de carregamento, e por não necessitar de parâmetros que descrevam a relação entre
a fissura e a transferência de cisalhamento na mesma.
No concreto, os efeitos laterais provocados pela fissuração e pelo confinamento
induzem a redução e elevação da resistência à compressão respectivamente. Em TNO DIANA
(2005c) é descrito que o efeito lateral de fissuração pode ser considerado por meio da relação
dada por Collins e Vecchio
15
, Figura 3.3, e o efeito do confinamento por meio do modelo de
Selby e Vecchio.
Figura 3.3 Fator de redução por causa da fissuração lateral
Fonte: DIANA (2005c)
15
VECCHIO, F. J.; COLLINS, M. P. Compression Response of Cracked Reinforced Concrete. Journal of
Structural Engineering, v. 119, n. 12, p. 3590-3610, dez. 1993.
98
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
3.2.2.2 M
ODELOS INCREMENTAIS OU PLÁSTI COS
Esses modelos são representados no DIANA por meio do modelo de fissuras fixas
multi-direcionais, Multi-Directional Fixed Crack Model, que considera os conceitos da Teoria
da Plasticidade. A deformação do material é dividida em uma parcela elástica reversível e
outra plástica irreversível. A ruptura por tração ocorrerá quando em algum ponto do
material a máxima tensão principal de tração ultrapassar o valor limite da resistência do
material. Na compressão, pode-se recorrer aos critérios de Von Mises, Tresca, Drucker-Prager
e Mohr-Coulomb para determinar a ruptura.
Segundo TNO DIANA (2005c) e Rots e Blaauwendraad (1989), em razão da
decomposição da parcela de deformação plástica, é possível a abertura de várias fissuras em
direções diferentes, simultaneamente, num mesmo ponto da malha de elementos finitos. No
programa computacional DIANA este modelo é disponibilizado para os problemas de estado
plano de tensão, de deformação e em elementos axissimétricos. Sua formulação não está
disponível para elementos sólidos tornando o inútil para as análises propostas neste trabalho.
3.2.2.3 M
ODELO
M
AEKAWA
M
ODIFICADO
O Modified Maekawa Concrete Model, ou Modelo Maekawa Modificado, combina um
modelo plástico multi-axial de dano para representar o efeito de ruptura do concreto sob
compressão e um modelo de fissuração baseado nos modelos Total Strain para representar o
concreto sob tração. A vantagem desse modelo é referente ao uso de parâmetros como
resistência à tração, à compressão e energia de fraturamento que possibilitam uma boa
representação do concreto para várias situações, ao contrário de modelos mais específicos que
não representam satisfatoriamente situações de solicitação diferentes daquelas para as quais
foram formulados.
Este modelo pode ser empregado tanto para elementos sólidos, de viga, de casca, de
treliça e de estado plano de tensão. Segundo TNO DIANA (2005c), o modelo de dano na
plasticidade foi desenvolvido pelo grupo de pesquisa do professor Koichi Maekawa na
Universidade de Tóquio e o modelo de fissuração é diretamente relacionado aos modelos de
99
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
fissuração Total Strain, descritos. Este modelo também descreve o efeito de histerese em
ciclos de carregamento e descarregamento.
Maekawa et al. (2003) afirmam que a não-linearidade do concreto não pode ser
descrita unicamente pela plasticidade porque a teoria da plasticidade não postula um
amolecimento da curva tensão deformação total ao longo do caminho de descarregamento.
Esse amolecimento no ramo de carregamento e de descarregamento é observado
experimentalmente até mesmo em situações em que o concreto encontra-se altamente
confinado. Ainda segundo os pesquisadores, o amolecimento e a redução da rigidez no
descarregamento são atribuídos ao dano contínuo causado pelas micro-fissuras dispersas que
degradam a capacidade de absorção de energia.
Neste modelo de dano elastoplástico, em conseqüência da danificação do concreto, é
assumido que o módulo de elasticidade transversal é reduzido por um parâmetro K que varia
de 0 a 1 correspondendo à completa deterioração até o concreto sem danos. O parâmetro K é
um parâmetro de fratura que é calculado como função dos invariantes do tensor de
deformações elásticas e é utilizado para quantificar a intensidade de dano deviatórico. Este
parâmetro representa a taxa de volume de concreto não danificado que pode absorver
completamente a energia de deformação elástica, ocasionada pelas forças tangenciais, sobre
todo o volume.
Quando ocorre a fissuração no Modelo Maekawa Modificado, verificada pela
superação da resistência à tração do concreto nas direções principais de deformação, se
processa a mudança do modelo de dano elastoplástico para um modelo de concreto fissurado.
Neste modelo as tensões são avaliadas com as deformações em cada direção principal de
deformação. Nos casos de carregamento, descarregamento e recarregamento, o
comportamento do modelo é descrito pela Figura 3.4.
100
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.4 Comportamento de histerese do Modelo Maekawa
Existem três modelos disponíveis para tratar a fissuração no “Maekawa”: fissuras
fíxas, fissuras rotacionais e fissuras não ortogonais, ou non-orthogonal crack. Para os dois
primeiros valem os mesmos comentários feitos no item 3.2.2.1. O modelo de fissuras não
ortogonais assume que as direções das fissuras não são ortogonais entre si. Neste modelo, a
primeira direção da fissura é determinada conforme os modelos ortogonais, de fissura fixa ou
rotacional, e as demais direções das fissuras são determinadas com base nas direções das
deformações principais.
Para isto, sempre que o ângulo entre a fissura existente e das atuais direções das
tensões principais superar um ângulo limite, denominado threshold angle, terá início uma
nova fissura. Considerando que esse ângulo seja nulo, a cada estágio do carregamento
incremental surgirá uma nova fissura fixa tornando o modelo relativamente semelhante ao
princípio do modelo de fissuras rotacionais.
3.2.3 E
LEMENTOS FINITOS UTILIZADOS
Este trabalho fez uso da análise não-linear considerando o modelo de plasticidade e a
fissuração do concreto. Foram utilizados elementos finitos sólidos e de interface para a
101
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
representação dos modelos. O elemento finito sólido é capaz de representar diversos tipos de
problemas estruturais com boa qualidade de resultados, em contrapartida a sua utilização
demanda maior tempo de processamento computacional para a resolução dos grandes
sistemas de equações. A opção pelo elemento finito tridimensional em blocos sobre estacas é
justificada pela incapacidade de representação do problema por meio de outros tipos de
elementos.
Em meio aos elementos finitos sólidos disponíveis, utilizaram-se os hexaédricos ou
cúbicos que podem ser do tipo HX24L, CHX60 ou CHX96. Conforme indica TNO DIANA
(2005b) o primeiro é um elemento isoparamétrico de oito nós baseado em aproximação linear
para os deslocamentos, o segundo é um elemento isoparamétrico de 20 nós baseado em
aproximação quadrática e o último é um elemento isoparamétrico de 32 nós que utiliza função
aproximadora de 3º grau para os deslocamentos. Todos esses elementos possuem três graus de
liberdade por nó, translação em x, y e z, e integração numérica pelo método de Gauss. Dentre
os três tipos citados optou-se pelo CHX60, Figura 3.5, uma vez que em TNO DIANA (2005a)
é recomendado não se empregar elementos isoparamétricos com aproximação linear para
geração de modelos em análises não-lineares por motivo de limitações intrínsecas ao
elemento como cisalhamento parasítico e travamento volumétrico que ocorre em elementos
que não conseguem descrever deformações isocóricas, e assim podem superestimar a força
última em até 30%.
Figura 3.5 Elemento CHX60
Fonte: DIANA (2005b)
102
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
A formulação do elemento finito isoparamétrico CHX60 é apresentada na Expressão
3.3.
u
ξ
,
η
,
ζ
=
ܽ
+
ܽ
ξ
+
ܽ
η
+
ܽ
ζ
+
ܽ
ξ
η
+
ܽ
η
ζ
+
ܽ
ξ
ζ
+
ܽ
ξ
+
ܽ
η
+
ܽ
ζ
+
ܽ
ଵ଴
ξ
η
ζ
+
ܽ
ଵଵ
ξ
η + ܽ
ଵଶ
∙ ξ
∙ ζ + ܽ
ଵଷ
∙ ξ ∙ η
+ ܽ
ଵସ
∙ ξ ∙ ζ
+ ܽ
ଵହ
∙ η
∙ ζ + ܽ
ଵ଺
∙ η ∙
ζ
+
ܽ
ଵ଻
ξ
η
ζ
+
ܽ
ଵ଼
ξ
η
ζ
+
ܽ
ଵଽ
ξ
η
ζ
(3.3)
Para a representação das armaduras, o DIANA dispõe de elementos chamados
Embedded Reinforcement cuja finalidade é enrijecer os elementos finitos do modelo. Por meio
do embutimento deste elemento na malha de elementos finitos que representam o concreto, o
programa computacional simula a presença da armadura naquela específica região. Este
elemento caracteriza-se por não possuir graus de liberdade próprios e, como padrão, apresenta
deformações contabilizadas a partir do campo de deformações dos elementos em que se
encontra inserido. Em razão destas características, ele não pode ser considerado um elemento
finito.
Esta estratégia implica em uma aderência perfeita entre a armadura e o concreto, que é
impróprio para a análise de alguns tipos de elementos estruturais quando se deseja avaliar o
escorregamento das barras da armadura. Todavia nos modelos em que esta estratégia mostra-
se adequada, os Embeddeds Reinforcements favorecem a rapidez e simplificação da geração
da rede de elementos finitos conferindo praticidade à criação do modelo.
Os dados de entrada para a definição destes elementos são a sua localização e as suas
propriedades materiais e dimensionais. Dentre as opções disponíveis no DIANA para este tipo
de armadura, em forma de barras e em forma de malha, utilizaram-se as armaduras em forma
de barras. Esta técnica de embutimento de armaduras permite que as linhas que representam
as armaduras desviem das linhas da malha de elementos finitos ao qual estão inseridas,
permitindo que a malha seja criada sem a necessidade da antecipação da localização das
barras, Figura 3.6.
Para o aço das armaduras formadas por estes elementos, foi adotado o comportamento
elasto-plástico perfeito com critério de ruptura de Von Mises.
103
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.6 Armadura em barra embutida em elemento sólido do tipo CHX60
Para os modelos desta pesquisa, foi necessário utilizar os elementos planos
quadrilaterais de interface para que pudessem ser representadas as interfaces pilar-graute e
graute-bloco da ligação. Os elementos de interface são freqüentemente aplicados na
representação de fissuras discretas, na representação do escorregamento da armadura imersa
no concreto, nas ligações existentes entre rochas e entre alvenarias e para representar o atrito
entre duas superfícies. O programa DIANA dispõe de duas famílias de elementos de interface,
os elementos de interfaces estruturais e os elementos de contato.
A primeira família de elementos de interface descreve o comportamento da interface
em termos da relação entre força e deslocamentos normal e tangencial relativos à interface.
Em razão da utilização de elementos CHX60 de vinte nós, o elemento de interface que possui
número de nós compatíveis é o CQ48I, Figura 3.7.
Figura 3.7 Elemento de interface plano quadrilateral CQ48I, 8+8 nós
O elemento CQ48I apresenta função quadrática para a aproximação dos
deslocamentos.
104
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
A segunda família de elementos de interface são os elementos de contato. Na análise
de contato, em uma das interfaces da ligação os elementos do contato serão definidos como
contacter (contato), e na outra interface os elementos serão definidos como target (alvo). Os
nós do elemento definido como contacter não podem penetrar um elemento target.
Nestas análises, optou-se por modelar a ligação pilar-fundação utilizando elementos de
interface CQ48I. Estes elementos foram utilizados em análises semelhantes por Barros
(2009).
3.2.4 M
ÉTODOS DE SOLUÇÃO DO SISTEMA DE EQUAÇÕES NÃO
-
LINEARES
Em análises não-lineares por meio de elementos finitos, a relação entre os vetores
força e deslocamento não é linear e dependerá dos deslocamentos nos estágios precedentes
sendo assim, para determinar o equilíbrio do elemento estrutural, é necessário não
discretizar o problema no espaço, mas também no tempo por meio de incrementos. Para
chegar ao equilíbrio em cada incremento é utilizado um algoritmo iterativo de solução de tal
forma que o procedimento de solução pode ser denominado incremental-iterativo.
Os métodos iterativos disponíveis no DIANA são: rigidez constante, rigidez linear,
Newton-Raphson ou tangente e Quasi-Newton ou secante.
O método de Newton-Raphson tem por base a idéia de que o resíduo seja uma função
contínua nas proximidades da solução e, desse modo se for admitido que na iteração r seja
encontrada a solução, o valor do resíduo será nulo. O método de Newton-Raphson pode ser
classificado em Regular ou Modificado.
O método iterativo de Newton-Raphson Regular atualiza a matriz de rigidez a cada
iteração de tal modo que os deslocamentos são obtidos para o último estado conhecido,
mesmo que esse não corresponda a um estado de equilíbrio, dessa forma conduz à
convergência em poucas iterações, caso a estimativa esteja próxima da solução final, caso
contrário o método pode falhar por divergência. Embora a convergência possa ocorrer em
poucas iterações, a atualização da matriz de rigidez em cada iteração demandará um elevado
tempo de processamento.
105
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
O método de Newton-Raphson Modificado, segundo Proença (2007), consiste na
aproximação da rigidez tangente apenas na primeira iteração de cada incremento, mantendo-
se fixa a rigidez ao longo das iterações. Geralmente esse método apresenta uma convergência
mais lenta quando comparado ao processo de Newton-Raphson Regular, em razão do elevado
número de iterações necessárias para o equilíbrio, em contrapartida, para cada iteração apenas
a estimativa incremental dos deslocamentos e o vetor de forças internas precisam ser
calculados consumindo um menor tempo de processamento para cada iteração. Além disso,
segundo TNO DIANA (2005a) em situações onde o processo iterativo anterior não converge
mais é possível que o processo de Newton-Raphson Modificado ainda apresente
convergência, entretanto Proença (2007) afirma que este método pode divergir em situações
de não-linearidade mais pronunciada.
O método Quasi-Newton ou secante, ou ainda, direto usa as informações prévias dos
vetores de solução e do vetor de forças não equilibrado durante a aplicação dos incrementos
para chegar a uma melhor aproximação e, diferentemente do Método Newton-Raphson
Regular, não altera completamente a matriz de rigidez do sistema a cada iteração. Segundo
Proença (2007), nesse método admite-se que tenha sido determinada a solução na iteração (r-
1), então se utiliza desta informação para atualizar a matriz de rigidez e determinar a nova
estimativa para a solução na iteração r, a qual substituirá a estimativa da iteração anterior.
Segundo TNO DIANA (2005a), a taxa de convergência e o tempo consumido geralmente
encontram-se entre aqueles dos Métodos Newton-Raphson Regular e Modificado.
O método da Rigidez Linear utiliza a matriz de rigidez linear durante todo o processo.
Esse método apresenta a convergência mais lenta, entretanto as iterações o mais rápidas
uma vez que a matriz de rigidez é definida apenas uma vez.
o método da Rigidez Constante utiliza a matriz de rigidez do incremento anterior e
pode ser utilizado quando ocorrer falha na utilização dos métodos Newton-Raphson e Quasi-
Newton após um número de incrementos com resultados satisfatórios. Segundo TNO DIANA
(2005a), ambos os métodos da Rigidez Linear e Constante poderão ser utilizados quando os
demais métodos tornarem-se instáveis.
Pode ocorrer em análises com forte não-linearidade, tais como as que consideram a
fissuração, a divergência durante o processo iterativo em razão de a estimativa estar longe do
equilíbrio. Para minimizar esse problema e para reduzir o tempo gasto para a convergência de
cada iteração, existe no DIANA um algoritmo chamado Line Search que faz com que seja
106
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
adotado como aproximação inicial para o incremento de deslocamento da iteração, um dos
vetores deslocamentos dos algoritmos de iteração multiplicados por um valor.
Além do recurso Line Search, existe o recurso Arc Length Control, controle do
comprimento de arco, cuja função é obter o comportamento pós-pico da estrutura analisada.
Por meio da restrição da norma dos deslocamentos incrementais a um valor prescrito,
juntamente com a adaptação do tamanho do incremento, é possível analisar o comportamento
Snap-Through e Snap-Back do modelo, Figura 3.8. O comportamento Snap-Back não pode
ser capturado por meio de análise efetuada com controle de deslocamentos e tanto o
comportamento Snap-Back quanto Snap-Through, em análise não-linear, podem ser
obtidos adequadamente mediante o uso do Arc Length Control.
Figura 3.8 Comportamentos Snap-Through e Snap-Back
Fonte: DIANA (2005a)
3.3 A
NÁLISE PARAMÉTRICA
Antes de qualquer análise numérica é conveniente a realização de análise paramétrica
a fim de avaliar quais as combinações de parâmetros levam os modelos numéricos a fornecer
respostas mais próximas do comportamento do modelo experimental equivalente. Para esse
tipo de análise é necessário contar com as respostas experimentais uma vez que, em razão da
complexidade dos modelos, não existem soluções analíticas ou, mesmo quando existem,
fornecem resultados com desvios consideráveis em relação aos valores observados
experimentalmente.
107
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Levando em consideração a inexistência de pesquisas de caráter experimental
envolvendo blocos com cálice embutido e apoiados sobre quatro estacas, recorreu-se à
utilização de resultados de trabalhos experimentais envolvendo blocos convencionais
apoiados sobre quatro estacas, ligados monoliticamente ao pilar. Essa medida é conveniente
uma vez que permite validar o modelo constitutivo do concreto.
Para a análise paramétrica, optou-se por valer dos modelos ensaiados
experimentalmente por Adebar et al. (1990), Suzuki et al. (1998) e Chan e Poh (2000). Dentre
os blocos ensaiados por Adebar et al. (1990), optou-se por ensaiar os modelos D e E,
apresentados em detalhes no Quadro 3.1 e no Quadro 3.2.
Quadro 3.1- Detalhes do modelo D ensaiado por Adebar et al. (1990)
Parâmetro Valor
f
cm
30,3 MPa
f
ct
2,2 MPa
f
y
479 MPa (Ø11,3 mm) / 486 MPa (Ø16 mm)
E
c
28600 MPa
E
s
200000 MPa
G
f
0,06518 MPa·mm (Expressão 3.1)
G
c
6,518 MPa·mm (100 vezes G
f
)
Força de fissuração 1122 kN
Força última 3222 kN
Apoios Restrição da translação em Z
A
A
3x 8Ø16 mm (200 mm²)
3x 4Ø16 mm (200 mm²)
8Ø11,3 mm (100 mm²)
Corte AA
108
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Quadro 3.2 - Detalhes do modelo E ensaiado por Adebar et al. (1990)
Parâmetro Valor
f
cm
41,1 MPa
f
ct
2,7 MPa
f
y
479 MPa (Ø11,3 mm) / 486 MPa (Ø16 mm)
E
c
31600 MPa
E
s
200000 MPa
G
f
0,08069 MPa·mm (Expressão 3.1)
G
c
8,069 MPa·mm (100 vezes G
f
)
Força de fissuração 1228 kN
Força última 4709 kN
Apoios Restrição da translação em Z
Suzuki et al. (1998) ensaiou uma série de blocos sobre quatro estacas, o modelo
escolhido para ser utilizado nessa análise numérica encontra-se descrito no Quadro 3.3.
Corte AA
A
A
9 Ø11,3 mm c/ 21 cm
5 Ø11,3 mm c/ 24 cm
2Ø11,3 mm (100 mm²)
3x 8Ø16 mm (200 mm²)
3x 4Ø16 mm (200 mm²)
8Ø11,3 mm (100 mm²)
2Ø16 mm (200 mm²)
109
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Quadro 3.3 Detalhes do modelo BPC-30-30-1 ensaiado por Suzuki et al. (1998)
Parâmetro Valor
f
c
m
29,5 MPa
f
ct
2,86 MPa (ABNT NBR 6118:2003)
f
y
413 MPa
E
c
25853 MPa (ABNT NBR 6118:2003)
E
s
210000 MPa (ABNT NBR 6118:2003)
G
f
0,05331 MPa·mm (Expressão 3.1)
G
c
5,331 MPa·mm (100 vezes G
f
)
Força de fissuração 392 kN
Força de escoamento 980 kN
Força última 1039 kN
Apoios Restrição da translação em X, Y e Z
Dentre os três modelos avaliados por Chan e Poh (2000), optou-se por analisar
numericamente o bloco A. As características do modelo A estão descritas no Quadro 3.4.
4Ø10 mm
Corte AA
A
A
110
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Quadro 3.4 Características do modelo A ensaiado por Chan e Poh (2000)
Parâmetro Valor
f
c
m
39,7 MPa
f
ct
m
3,49 MPa (ABNT NBR 6118:2003)
f
y
480,7 MPa
E
c
29992 MPa (ABNT NBR 6118:2003)
E
s
210000 MPa (ABNT NBR 6118:2003)
G
f
0,06563 MPa·mm (Expressão 3.1)
G
c
6,563 MPa·mm (100 vezes G
f
)
Força de fissuração 840 kN
Força última 1230 kN
Apoios Restrição da translação em Z
Em razão da utilização de elementos hexaédricos, a construção da malha de elementos
na proximidade de estacas circulares ocasionou o surgimento de elementos irregulares, com
ângulos entre as arestas excessivamente agudos ou obtusos. Poderiam ser utilizados outros
elementos, entretanto optou-se pela substituição das estacas circulares por estacas de seção
quadrada equivalente sem prejuízo ao comportamento do modelo.
Nas análises que seguem, foram variados os parâmetros que definem os modelos
constitutivos do concreto, o modo de aplicação da força, os critérios de convergência e o
método iterativo.
Considerando que a combinação das alternativas de diferentes parâmetros resulta em
um número elevado de análises, foi tomada a decisão de adotar um modelo com combinações
de parâmetros padrão e analisar o efeito da variação de cada parâmetro isoladamente. Este
procedimento reduziu o tempo de processamento computacional e o tempo dispensado nesta
etapa da pesquisa. O modelo padrão adotado e as variações analisadas encontram-se descritas
no Quadro 3.5.
Corte AA
A
A
8Ø10 mm
2Ø10 mm
111
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Quadro 3.5 Fatores avaliados na análise paramétrica
Padrão Variações
Concreto
Curva de compressão
- Parábola. -
Curva de tração
- Exponencial. -
Fissuras
- Fixas (Beta = 0,99).
- Fixas (Beta = 0,25);
- Fixas (Beta = 0,75);
- Rotacionais.
Aço
- Elasto-plástico
(Critério de plastificação
de von Mises).
-
Método iterativo
- Newton-Raphson
Regular.
- Newton-Raphson Modificado;
- Quasi-Newton (Secante);
- Linear.
Critério de convergência
Norma
- Energia.
- Deslocamentos;
- Força.
Tolerância
- 1%
- 0,5%;
- 2%.
Forma de carregamento
- Passos de pressão. - Passos de deslocamento.
Para o comportamento do concreto tracionado admitiu-se que a relação tensão-
deformação fosse descrita pela curva de amolecimento de característica exponencial,
apresentada na Figura 3.1 (e). Visando encontrar o melhor modelo para o comportamento
do concreto dos blocos estudados, foram avaliados os seguintes modelos para o
comportamento do concreto comprimido: relação tensão-deformação descrita por curva
parabólica e o modelo descrito em Maekawa Modificado. Entretanto os resultados obtidos
com o modelo Maekawa Modificado foram insatisfatórios no trecho não-linear das curvas que
relacionam força e deslocamentos para os blocos analisados, então foram descartados.
Quanto à influência lateral de confinamento e fissuração, Barros (2009) observou que
quando ativado o efeito de confinamento, conforme o modelo de Selby e Vecchio, os valores
de força última foram muito superiores aos experimentais, esse efeito também foi observado
em algumas das análises preliminares realizadas nesta pesquisa. Desse modo, considerou-se
apenas a redução da resistência em razão da fissuração, dada pelo modelo de Collins e
Vecchio. Não se considerou o efeito de confinamento dado por Selby e Vecchio. A ativação
destes modelos de influência lateral pode ser feita diretamente no arquivo de extensão
DAT que contem as características geométricas, físicas e condições de contorno do modelo
gerado pelo pré-processador.
Antes de proceder com a variação dos parâmetros dos modelos constitutivos e demais
parâmetros de análise foram realizados testes de malha para o bloco D de Adebar et al. (1990)
com a finalidade de determinar o refinamento mais adequado da malha. As malhas estudadas
estão ilustradas na Figura 3.9.
112
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
(a) (b) (c)
Figura 3.9 Três malhas de elementos finitos analisadas
A Tabela 3.2 ilustra os resultados obtidos para as três diferentes malhas utilizando a
configuração padrão para os parâmetros e métodos de análise.
Tabela 3.2 Resultados obtidos para três malhas diferentes
Malha
Número de
nós
Força última
(kN)
Deslocamento
(mm)
F
últ,num
/ F
últ,exp
Tempo de processamento
(min)
a 6316 2994,3 1,14 0,93 103
b 12403 3109,5 1,22 0,97 363
c 21909 3136,5 1,16 0,97 1663
Este teste foi realizado em um modelo considerando a simetria, entretanto a
determinação da superfície de simetria conforme indica o manual do DIANA pode provocar
problemas. O DIANA tenta restringir a translação na direção da simetria e a rotação em torno
das duas outras direções, no entanto alguns elementos o possuem graus de liberdade de
rotação originando uma série de avisos que atrapalham o desenvolvimento da análise. Para
contornar este problema, a simetria foi estabelecida pela imposição adequada das restrições
dos deslocamentos nas superfícies de simetria, conforme procedimento adotado para a
definição dos apoios. Considerando que os blocos analisados possuem simetria em duas
direções, optou-se por modelar apenas um quarto do bloco obtendo em contrapartida, um
menor custo computacional.
Os resultados da verificação da malha fundamentaram a decisão pelo uso de malhas
similares à “b” nos demais modelos. Esta malha corresponde a elementos finitos cujas
distâncias entre nós são de aproximadamente quarenta milímetros.
Quanto aos modelos que representam a fissuração, foram avaliados os diferentes tipos
de modelo Total Strain”. Os modelos Total Strain” foram variados entre fissuras fixas e
rotacionais sendo que, para os modelos de fissuras fixas, o fator de retenção ao cisalhamento,
β, foi considerado constante durante as análises. Nestas análises avaliaram-se três valores de
β: 0,99, 0,75 e 0,25.
113
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
A Figura 3.10 apresenta as curvas que relacionam força aplicada e deslocamento para
os blocos analisados considerando cada um dos modelos de fissuração.
Figura 3.10 Curvas Força x Deslocamentos dos blocos para diferentes modelos de fissuras
distribuídas
Em todos os blocos, o modelo de fissuras rotacionais não permitiu a observação do
comportamento do bloco no regime não-linear sendo a análise interrompida após o aumento
da fissuração. Este comportamento pode ser atribuído ao fato de que neste modelo, após a
fissuração, a transmissão dos esforços pelas fissuras fica impossibilitada e não é mais
encontrado o equilíbrio do sistema de equações. Exceto o bloco BPC 30-30-1, os demais que
utilizaram modelos de fissuras fixas com fator de retenção ao cisalhamento de 0,25 não
conseguiram ultrapassar o regime elástico linear satisfatoriamente sendo a ruína do bloco
prematura. Estes comportamentos relacionados aos modelos de fissuras corroboram as
observações de Barros (2009) em blocos sobre duas estacas, e contrasta com os resultados
relatados em Souza (2004) que obteve comportamentos semelhantes entre os modelos de
fissuras fixas e rotacionais em blocos sobre duas e quatro estacas. O comportamento
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Fixed (Beta 0,25)
Fixed (Beta 0,75)
Fixed (Beta 0,99)
Rotating
Bloco D - Adebar et al. (1990)
0 0.4 0.8 1.2 1.6 2
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
Força (kN)
Fixed (Beta 0,25)
Fixed (Beta 0,75)
Fixed (Beta 0,99)
Rotating
Bloco E - Adebar et al. (1990)
0 1 2 3 4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
200
400
600
800
1000
1200
Força (kN)
Fixed (Beta 0,25)
Fixed (Beta 0,75)
Fixed (Beta 0,99)
Rotating
Bloco BPC-30-30-1 - Suzuki et al. (1998)
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Fixed (Beta 0,25)
Fixed (Beta 0,75)
Fixed (Beta 0,99)
Rotating
Bloco A - Chan e Poh (2000)
114
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
observado era esperado, pois a própria descrição do modelo de fissuras rotacionais indica
que são obtidos valores inferiores de força última em relação aos modelos de fissuras fixas.
Depois de analisados os modelos de fissuração do concreto, foram analisados os
critérios de convergência em energia, deslocamentos e força, variando-se também a tolerância
para a norma da variação das mesmas. Nesse caso foram avaliados apenas o Bloco D de
Adebar et al. (1990) e o Bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998), Figura 3.11.
Figura 3.11 Curvas Força x Deslocamentos dos blocos obtidas utilizando diferentes critérios
de convergência
As curvas obtidas utilizando os critérios de energia apresentaram oscilação no trecho
não-linear enquanto as curvas obtidas utilizando critérios de convergência em forças e em
deslocamentos foram mais suaves. Para o bloco D de Adebar et al. (1990) as curvas
apresentaram comportamento equivalente para todos tipos de critérios, entretanto no bloco
BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998) apenas se obteve comportamento próximo ao
experimental quando utilizado critério de convergência em energia. Quanto aos valores das
tolerâncias, foi observado que não influenciou significativamente nos resultados apresentados,
entretanto, quando utilizados critérios com 0,5% de tolerância, houve acréscimo do número de
iterações necessárias em cada passo e, conseqüentemente, o tempo de processamento.
Depois de analisados os critérios de convergência, foram estudados a forma de
carregamento dos modelos: por imposição de deslocamentos e por aplicação de pressão,
Figura 3.12.
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
600
1200
1800
2400
3000
3600
Força (kN)
Energia-2%
Energia-0,5%
Energia-1%
Deslocamentos-2%
Deslocamentos-0,5%
Deslocamentos-1%
Força-2%
Força-0,5%
Força-1%
Bloco D - Adebar et al. (1990)
0 1 2 3 4 5 6
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
200
400
600
800
1000
1200
Força (kN)
Energia-2%
Energia-0,5%
Energia-1%
Deslocamentos-2%
Deslocamentos-0,5%
Deslocamentos-1%
Força-2%
Força-0,5%
Força-1%
Bloco BPC-30-30-1 - Suzuki et al
.
(1998)
115
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.12 Curvas Força x Deslocamentos dos blocos obtidas variando a estratégia de
controle do carregamento
As análises conduzidas com controle de incrementos de força resultaram mais
próximas das observadas nos ensaios experimentais principalmente em termos de força
máxima resistente. Embora os resultados não tenham sido satisfatórios com o controle de
deslocamentos, não prevaleceu um comportamento para todos os modelos. Observa-se que
para os blocos de Adebar et al. (1990) o comportamento caracterizou-se pelo maior
amolecimento enquanto para os outros dois blocos o comportamento foi mais rígido.
Em seguida a Figura 3.13 ilustra os resultados das análises utilizando os seguintes
métodos de resolução dos sistemas de equações não-lineares: rigidez linear, secante, Newton-
Raphson Regular e Newton-Raphson Modificado. Os métodos da rigidez linear, secante e
Newton-Raphson Modificado forneceram respostas muito aquém da força última sendo que
os resultados para todos os métodos foram semelhantes quando os blocos se encontravam em
regime elástico-linear, mas apenas o método Newton-Raphson Regular foi capaz de
representar satisfatoriamente o comportamento não-linear.
0 1 2 3
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Controle de deslocamento
Controle de força
Bloco D - Adebar et al. (1990)
0 1 2 3
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Controle de deslocamento
Controle de força
Bloco E - Adebar et al. (1990)
0 1 2 3 4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Controle de deslocamento
Controle de força
Bloco BPC-30-30-1 - Suzuki et al. (1998)
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
300
600
900
1200
1500
1800
2100
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Controle de deslocamento
Controle de força
Bloco A - Chan e Poh (2000)
116
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.13 - Curvas Força x Deslocamentos dos blocos obtidas para diferentes métodos
iterativos
Pode-se atribuir o comportamento mais satisfatório do método Newton-Raphson
Regular ao fato deste atualizar a matriz de rigidez a cada iteração, fazendo com que as
iterações consumam um maior tempo, mas apresentem convergência em um número menor de
iterações. Em razão de terem sido permitidas no máximo cinqüenta iterações para cada passo,
é provável que se obtenha convergência em mais passos nos demais métodos se for permitido
um número maior de iterações. Para checar esta hipótese, foram feitos mais duas análises nos
blocos D e E de Adebar et al. (1990) utilizando um número máximo de cem iterações, Figura
3.14.
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Força (kN)
Linear
Secante
Newton-Raphson Modificado
Newton-Raphson Regular
Bloco D - Adebar et al. (1990)
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
800
1600
2400
3200
4000
4800
Força (kN)
Linear
Secante
Newton-Raphson Modificado
Newton-Raphson Regular
Bloco E - Adebar et al. (1990)
0 1 2 3 4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
200
400
600
800
1000
1200
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Linear
Secante
Newton-Raphson Modificado
Newton-Raphson Regular
Bloco BPC 30-30-1 - Suzuki et al. (1998)
0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Linear
Secante
Newton-Raphson Modificado
Newton-Raphson Regular
Bloco A - Chan e Poh (2000)
117
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.14 - Curvas Força x Deslocamentos dos blocos obtidas para diferentes métodos
iterativos com número máximo de cem iterações por passo
A partir das curvas da Figura 3.14 é possível observar que, após o aumento do número
máximo de iterações, foi obtida a convergência em um número maior de passos no método
Newton-Raphson Modificado. Os métodos de rigidez linear e secante continuam apresentando
a mesma resposta, portanto pode ser que os incrementos de carga precisem ser diminuídos. As
melhores respostas continuam sendo as obtidas mediante o uso do método Newton-Raphson
Regular, assim como observou Barros (2009) em blocos sobre duas estacas.
A fim de esclarecer a influência do número de incrementos de força, foi realizado um
teste em um dos modelos variando o número de passos de carga. Os resultados ilustrados na
Figura 3.15 indicam que pode haver influência significativa nos resultados quando se varia o
número de incrementos de força, principalmente quando se busca representar o
comportamento do modelo no regime não-linear.
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Linear
Secante
Newton-Raphson Modificado
Bloco D - Adebar et al. (1990)
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
800
1600
2400
3200
4000
4800
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Linear
Secante
Newton-Raphson Modificado
Bloco E - Adebar et al. (1990)
118
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.15 Curva Força x Deslocamentos obtidas variando o numero de incrementos de
força
A partir dos resultados obtidos nas análises das variáveis citadas no Quadro 3.5
decidiu-se que as análises numéricas propostas nesta pesquisa fossem conduzidas mediante
utilização do método iterativo de Newton-Raphson Regular, pois utilizando este método todas
as análises avançaram mais que quando utilizando os demais métodos disponíveis no DIANA.
Optou-se por solicitar o bloco mediante a aplicação de incrementos de força no pilar,
avaliando a convergência por meio do cálculo da norma da variação de energia com tolerância
de 1%. Para o concreto adotou-se, o modelo constitutivo de fissuras fixas e β de 0,99 com
comportamento na compressão descrita por curva tensão-deformação parabólica e curva de
amolecimento exponencial na tração.
3.4 R
ESULTADOS DAS ANÁLISES
Ao realizar as análises utilizando os parâmetros definidos no item 3.3, chegaram-se
aos resultados em termos de força última, tensões principais no bloco, tensão e deformação
nas armaduras e panoramas de fissuração para os quatro blocos estudados na análise
paramétrica.
0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 1.2 1.4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
Força (kN)
50 passos
125 passos
Bloco D - Adebar et al. (1990)
119
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
3.4.1 B
LOCO
D
DE
A
DEBAR
et al.
(1990)
O bloco D de Adebar et al. (1990) apresentou força última experimental de 3222 kN,
enquanto nesta análise numérica a força última foi de 3138,3 kN. As primeiras fissuras
surgiram na porção central da face inferior do bloco e se estenderam pelo vão entre as estacas
até atingirem as faces laterais, da mesma forma como relataram os pesquisadores. As
primeiras fissuras surgiram para uma força de 990 kN enquanto no ensaio experimental os
pesquisadores observaram as primeiras fissuras para uma força de 1122 kN. Como a
observação das fissuras a olho nu possui limitações, acredita-se que a resposta numérica foi
adequada à experimental. O panorama de fissuração é ilustrado na Figura 3.16.
50% da força última
75% da força última
100% da força última
Fissuras na superfície inferior na ruína
Figura 3.16 Panorama de fissuração do bloco D de Adebar et al. (1990)
A Figura 3.17 e a Figura 3.18 indicam a formação de bielas comprimidas e que a
maior parcela dos esforços solicitantes provenientes do pilar dirigem-se para a estaca cujo
120
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
eixo encontra-se a menor distância do eixo do pilar. Esse fato também foi observado durante
os ensaios. Ao surgirem tensões de compressão, cujo fluxo indica a formação de uma biela,
apareceram também tensões transversais de tração conforme ilustram as figuras das tensões
principais de tração.
Tensões principais de compressão
Tensões principais de tração
Figura 3.17 Tensões principais no bloco D de Adebar et al. (1990)
Tensões principais máximas
Tensões principais mínimas
Figura 3.18 Tensões principais máximas e mínimas no bloco D de Adebar et al. (1990)
Para a força última, a deformação máxima das armaduras localizadas entre as duas
estacas mais próximas foi de 1,1 mm/m enquanto no ensaio foi registrada 1,9 mm/m. Já para as
armaduras localizadas entre as duas estacas mais afastadas, a deformação máxima da
armadura foi de 0,9 mm/m enquanto no ensaio foi registrada 1,3 mm/m. A Figura 3.19 ilustra a
distribuição de deformações ao longo das barras da armadura do bloco.
121
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.19 Deformações nas barras da armadura principal do bloco D de Adebar et al.
(1990)
A curva que relaciona a força aplicada no pilar com o deslocamento na face inferior do
bloco está ilustrada na Figura 3.20. Nota-se o comportamento mais rígido do modelo
numérico com amolecimento menos acentuado que o modelo experimental.
Figura 3.20 Curvas força-deslocamento numérica e experimental do bloco D de Adebar et al.
(1990)
0 1 2 3 4 5 6
Deslocamentos (mm)
0
1000
2000
3000
4000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Experimental
Numérico
Bloco D - Adebar et al. (1990)
122
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
3.4.2 B
LOCO
E
DE
A
DEBAR
et al.
(1990)
O bloco E de Adebar et al. (1990) apresentou força última experimental de 4709 kN,
enquanto a força última numérica foi de 4248 kN. As primeiras fissuras surgiram na porção
central da face inferior do bloco e se estenderam pelo vão entre as estacas até atingirem as
faces laterais, da mesma forma como relataram os pesquisadores. As primeiras fissuras
surgiram para uma força de 1350 kN enquanto no ensaio experimental os pesquisadores
observaram as primeiras fissuras para uma força de 1228 kN. O panorama de fissuração é
ilustrado na Figura 3.21 e pode ser comparado na Figura 3.22 com um dos modelos
experimentais que apresentou fissuras de mesmo aspecto.
50% da força última
75% da força última
100% da força última
Fissuras na face inferior e lateral na ruína
Figura 3.21 Panorama de fissuração do bloco E de Adebar et al. (1990)
123
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.22 Panorama de fissuras de bloco após o ensaio, adaptado de Adebar et al. (1990)
As tensões principais, indicando a formação das bielas, podem ser visualizadas na
Figura 3.23 e na Figura 3.24.
Tensões principais de compressão
Tensões principais de tração
Figura 3.23 Tensões principais no bloco E de Adebar et al. (1990)
124
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Tensões principais máximas
Tensões principais mínimas
Figura 3.24 Tensões principais máximas e mínimas no bloco E de Adebar et al. (1990)
Para a força última, a deformação máxima dentre as armaduras localizadas entre as
duas estacas mais próximas foi de 0,8 mm/m enquanto no ensaio foi registrado o mesmo
valor. para as armaduras localizadas entre as duas estacas mais afastadas, a deformação
máxima da armadura foi de 0,7 mm/m enquanto no ensaio foi registrada 0,4 mm/m. Essa
diferença pode ser em parte atribuída ao fato de que as medidas das deformações no ensaio
foram feitas no centro das barras, enquanto esses valores numéricos máximos não se
encontram na região central e sim na região atravessada pela fissura apresentada na ruína. A
Figura 3.25 evidencia a maior intensidade das tensões nas barras que atravessam a região da
fissura mais relevante.
Figura 3.25 Tensões nas armaduras do bloco E de Adebar et al. (1990)
Adebar et al. (1990) aferiram as reações nas estacas durante o ensaio e esses valores
podem ser comparados com os numéricos. Para a força última experimental, 69% da força
125
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
foram resistidas pelas estacas mais próximas do pilar enquanto nesta análise numérica, para a
força última, 67,1 % da força aplicada foi resistida pelas estacas mais próximas ao pilar.
As curvas que relacionam forças e deslocamentos do modelo numérico e experimental
são apresentadas na Figura 3.26. Nota-se um comportamento mais rígido da curva numérica
em comparação com a curva experimental, isso se deve ao fato do modelo numérico não
conseguir percorrer o caminho de equilíbrio pós-pico após a fissuração do concreto.
Figura 3.26 Curvas força-deslocamento numérica e experimental do bloco E de Adebar et al.
(1990)
3.4.3 B
LOCO
BPC-30-30-1
DE
S
UZUKI
et al.
(1998)
O bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998) apresentou força última experimental de
1039 kN, enquanto nesta análise numérica a força última foi de 993,6 kN. As primeiras
fissuras surgiram para uma força de 360 kN enquanto no ensaio experimental os
pesquisadores observaram as primeiras fissuras para uma força de 392 kN. A Figura 3.27
ilustra o panorama de fissuração sendo que é possível visualizar que o bloco encontra-se
totalmente fissurado, sendo que as fissuras mais notáveis na ruína tiveram a formação iniciada
na face inferior do bloco e progrediram até as faces laterais, no meio do vão entre as estacas,
conforme foi observado pelos pesquisadores durante o ensaio, Figura 3.28.
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Deslocamentos (mm)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Experimental
Numérico
Bloco E - Adebar et al. (1990)
126
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
50% da força última
75% da força última
100% da força última
Fissuras na face lateral na ruína
Figura 3.27 - Panorama de fissuração do bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998)
Figura 3.28 Fissuras das faces do bloco BPC-30-30-1, adaptado de Suzuki et al. (1998)
Na Figura 3.29 e na Figura 3.30 estão indicadas as tensões principais de compressão e
de tração causadas pela força última. As tensões de compressão claramente indicam a
127
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
formação da biela de compressão e em decorrência desse fluxo de tensões de compressão nas
bielas, surgem tensões de tração que também estão indicadas nas figuras. As maiores
intensidades de compressão estão situadas na região nodal superior, junto ao pilar.
Tensões principais de compressão
Tensões principais de tração
Figura 3.29 - Tensões principais no bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998)
Tensões principais máximas
Tensões principais mínimas
Figura 3.30 Tensões principais máximas e mínimas no bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al.
(1998)
Analisando uma seção que atravesse o bloco diagonalmente, é possível visualizar a
formação da biela comprimida assim como a grande intensidade das tensões compressivas na
região nodal superior, Figura 3.31.
128
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.31 Fluxo de tensões de compressão no bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998)
A força correspondente ao escoamento da armadura principal no modelo numérico foi
de 953,1 kN enquanto no modelo experimental foi de 980 kN. A Figura 3.32 ilustra a
distribuição de tensão ao longo das barras da armadura do bloco e mostra que a tensão não
varia expressivamente ao longo do vão entre as estacas, somente reduzindo ao atravessar a
região das estacas.
Figura 3.32 Tensão nas barras da armadura principal do bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al.
(1998) para uma força de 953,1 kN
A distribuição de tensões na armadura caracteriza as barras como tirantes e não como
armaduras de flexão. Além disso, as tensões nas barras diminuem significativamente próximo
129
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
às estacas de tal modo que legitima as indicações da CSA A23.3 (2004) de ancoragem reta,
sem gancho.
A Figura 3.33 ilustra as curvas que relacionam a força aplicada com o deslocamento
da face inferior do bloco. O comportamento do modelo numérico foi semelhante ao
experimental. O equilíbrio do modelo no trecho pós-pico foi mais bem capturado em razão
deste modelo estar com a armadura escoando na situação de ruína.
Figura 3.33 Curvas força-deslocamento numérica e experimental do bloco BPC-30-30-1 de
Suzuki et al. (1998)
3.4.4 B
LOCO
A
DE
C
HAN E
P
OH
(2000)
Este bloco apresentou força última experimental de 1230 kN, enquanto nesta análise
numérica a força última foi de 1197,6 kN. As primeiras fissuras surgiram para uma força de
560 kN enquanto no ensaio experimental os pesquisadores observaram as primeiras fissuras
para uma força de 840 kN. A Figura 3.34 ilustra o panorama de fissuração.
0 1 2 3 4
Deslocamentos (mm)
0
200
400
600
800
1000
1200
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Experimental
Numérico
Bloco BPC-30-30-1 - Suzuki et al. (1998)
130
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
50% da força última
75% da força última
100% da força última
Fissuras na face lateral na ruína
Figura 3.34 Panorama de fissuração do bloco A de Chan e Poh (2000)
Figura 3.35 - Fissuras nas faces do bloco A, adaptado de Chan e Poh (2000)
O fluxo de tensões principais ilustrados na Figura 3.36 e na Figura 3.37 não indicam
claramente a formação da biela. Pode-se justificar pelo fato do ângulo de inclinação da biela
encontrar-se no limite inferior de 40° definido por Blévot e Frémy (1967).
131
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Tensões principais de compressão
Tensões principais de tração
Figura 3.36 Tensões principais no bloco A de Chan e Poh (2000)
Tensões principais máximas
Tensões principais mínimas
Figura 3.37 Tensões principais máximas e mínimas no bloco A de Chan e Poh (2000)
Quando se faz um corte diagonal no bloco, Figura 3.38, fica mais clara a formação de
uma biela comprimida. O distúrbio de tensões logo abaixo da região nodal superior pode ser
atribuído à presença da armadura longitudinal do pilar que, ao enrijecer os elementos
adjacentes, ocasionou o surgimento de tensões de compressão maiores em alguns destes
elementos.
132
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
Figura 3.38 Fluxo de tensões de compressão no bloco A de Chan e Poh (2000)
A partir da Figura 3.39 verifica-se que a curva força-deslocamento obtida
numericamente apresentou comportamento mais rígido que a obtida experimentalmente.
Apesar de esta tendência ter se repetido nos outros modelos, o comportamento no regime
elástico-linear ficou aquém do esperado. Uma das hipóteses para justificar este tipo de
comportamento são os valores dos módulos de elasticidade do aço e do concreto, uma vez
que, na ausência destes dados, foram atribuídos valores recomendados pela norma brasileira.
Figura 3.39 Curvas força-deslocamento numérica e experimental do bloco A de Chan e Poh
(2000)
0 2 4 6 8 10
Deslocamentos (mm)
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
Experimental
Numérico
Bloco A - Chan e Poh (2000)
133
Capítulo 3
:
Estudo e Análise dos Modelos Numéricos
3.4.5 C
ONSIDERAÇÕES FINAIS
O ajuste dos parâmetros dos modelos numéricos mediante validação com resultados
experimentais permitiu a aproximação adequada do comportamento dos blocos em termos de
capacidade resistente, força de fissuração, panorama de fissuração e distribuição de esforços.
As deformações das armaduras, quando medidas, tiveram boa aproximação, assim como a
força de escoamento da armadura do bloco BPC-30-30-1 de Suzuki et al. (1998). Os modelos
apresentaram comportamento mais rígido, com o trecho de amolecimento menos acentuado
que os demonstrados nas curvas força-deslocamento experimentais, excetuando-se o bloco
BPC-30-30-1 onde a obtenção de comportamento pós-pico foi facilitada pela ocorrência de
escoamento da armadura.
A Tabela 3.3 resume alguns dos resultados obtidos. Acredita-se que, utilizando estes
mesmos parâmetros em análises numéricas de blocos sobre quatro estacas com cálice
embutido, é possível obter respostas satisfatórias quanto ao comportamento destes elementos.
Tabela 3.3 Comparação das forças experimentais e numéricas para os blocos analisados
* - F
c
indica a força de fissuração; ** - F
y
indica a força de escoamento da armadura principal.
Modelo
F
c,exp
(kN)*
F
c,num
(kN)
F
y,exp
(kN)**
F
y,num
(kN)
F
u,exp
(kN)
F
u,num
(kN)
,
࢔࢛࢓
,
ࢋ࢞࢖
,
࢔࢛࢓
,
ࢋ࢞࢖
,
࢔࢛࢓
,
ࢋ࢞࢖
D
Adebar et al. (1990)
1122 990 - - 3222 3138,3 - 0,88 0,97
E
Adebar et al. (1990)
1228 1350 - - 4709 4248 - 1,10 0,90
BPC-30-30-1
Suzuki et al. (1998)
392 360 980 953,1 1039 993,6 0,97 0,92 0,92
A
Chan e Poh (2000)
840 560 - - 1230 1197,6 - 0,67 0,97
Desvio padrão
0,18 0,03
Coef. de variação
0,20 0,04
B
LOCOS SOBRE
Q
UATRO
E
STACAS COM
C
ÁLICE
E
MBUTIDO
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
4
4
4 B
LO COS SOB RE
Q
UAT RO
E
STA CAS CO M
C
ÁL IC E
E
MB UTIDO
4.1 C
ONSIDERAÇÕES INICIAIS
A partir dos resultados obtidos na análise paramétrica, foi definida a combinação de
parâmetros que melhor representou o comportamento de blocos sobre quatro estacas e, com o
ajuste desses parâmetros, foram realizadas análises numéricas em vinte e quatro blocos sobre
quatro estacas com cálice embutido, por intermédio da versão 9.2 do programa computacional
DIANA cuja licença está registrada para o Departamento de Estruturas da Escola de
Engenharia de São Carlos - USP.
A combinação de parâmetros que levou aos melhores resultados consistiu de modelo
Total Strain de fissuras fixas com fator de retenção ao cisalhamento de 0,99, sendo analisado
pelo método iterativo de Newton-Raphson regular, considerando como critério de
convergência a norma de energia com tolerância de 1%.
Os resultados em termos de fluxos de tensões principais, panorama da fissuração,
tensões nas barras das armaduras e diagramas força aplicada versus deslocamento, permitiram
avaliar o comportamento dos blocos sobre quatro estacas com cálice totalmente embutido
quando solicitados por força vertical e momentos em duas direções.
4.2 M
ODELOS ANALISADOS
Os modelos foram idealizados considerando aspectos de projeto e propriedades físicas
dos materiais especificados nas normas ABNT NBR 6118:2003, ABNT NBR 9062:2006 e
ABNT NBR 7480:2007. Além dessas normas, serviram de apoio as recomendações de
Moraes (1976), Alonso (1983) e Montoya (2000).
136
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
4.2.1 P
ARÂMETROS ANALISADOS
Nestas análises variaram-se o comprimento de embutimento do pilar no bloco, a
espessura da “laje de fundo” do bloco, o tipo de interface da ligação pilar-fundação e as
solicitações. O comprimento de embutimento do pilar no bloco variou de acordo com os
valores propostos na ABNT NBR 9062:2006 e em El Debs (2000) para cálices externos, uma
vez que não foram encontradas recomendações específicas para cálices embutidos.
A altura do fundo do cálice ao fundo do bloco, denominada em alguns trabalhos por
“laje de fundo”, foi avaliada respeitando o mínimo estabelecido pela ABNT NBR 9062:2006
de 20 cm. A rugosidade da interface da ligação, formada pelas paredes internas do cálice e do
pilar, também foram variadas entre rugosas e lisas. A altura do bloco foi variada
indiretamente, uma vez que a altura corresponde à soma do comprimento de embutimento e
da espessura da laje de fundo.
O estudo também contemplou o efeito de diferentes ações atuantes no topo do bloco:
força vertical centrada, força vertical excêntrica em uma direção e força vertical excêntrica
em duas direções.
4.2.2 D
ESCRIÇÃO DOS MODELOS
A partir da variação dos parâmetros descritos no item 4.2.1, 24 modelos foram
elaborados. Estes modelos foram divididos em dois grupos, A e B, sendo o primeiro
constituído de blocos cujos cálices apresentam interfaces de ligação rugosas e o segundo
constituído de blocos com cálices de interfaces lisas.
Admitindo pilares de seção transversal quadrada de 40 cm x 40 cm usualmente
empregados em estruturas de galpões com modulação de 15 m - e estacas pré-moldadas de
seção transversal quadrada de 30 cm x 30 cm e apreciando as recomendações da norma ABNT
NBR 6118:2003 e da bibliografia referida nos itens anteriores, foram calculadas as demais
dimensões do bloco.
O espaçamento entre eixos de estacas, l
e
, de 110 cm, resultou maior que três vezes o
lado da estaca, respeitando as recomendações de Moraes (1976), Alonso (1983) e da ABNT
137
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
NBR 6118:2003. A distância de 25 cm da face mais externa da estaca à face do bloco está de
acordo com o valor mínimo sugerido em Montoya (2000) e Calavera (2000).
Assumindo estes valores, o bloco resultou com dimensões em planta de 190 cm x 190
cm. Sendo a solicitação na base do pilar composta por força vertical e momentos nas duas
direções, tem-se que o comprimento de embutimento do pilar no bloco, l
emb
, de acordo com a
ABNT NBR 9062:2006, variou com o valor da excentricidade, a largura do pilar e a
rugosidade da interface de ligação. Os valores sugeridos pela norma brasileira de concreto
pré-moldado que estão apresentados na Tabela 2.3 são destinados a cálices externos, todavia,
na falta de estudos para blocos com cálices embutidos, adotaram-se os valores sugeridos na
referida norma.
O comprimento de embutimento variou entre 48 cm e 64 cm para os blocos do grupo
A (interface rugosa) e entre 60 cm e 80 cm para os blocos do grupo B (interface lisa). Esses
valores foram obtidos a partir das recomendações contidas na ABNT NBR 9062:2006 para
cálices lisos e rugosos considerando que serão estudados blocos solicitados por forças
verticais axiais e também excêntricas (e = 10 cm). Os valores inferiores de comprimento de
embutimento são referentes àqueles sugeridos para excentricidades menores que 0,15·b
pil
e os
superiores são referentes àqueles sugeridos para excentricidades maiores que 2,00·b
pil
. Neste
estudo a excentricidade encontra-se no intervalo entre esses dois valores, ou seja, é
recomendada a interpolação linear para a obtenção do comprimento de embutimento,
entretanto optou-se por analisar os dois valores, pois o comprimento de embutimento pertence
ao conjunto de variáveis das quais se estudou.
Foram estudados dois valores para a altura da “laje de fundo”, 20 cm e 30 cm, com o
propósito de avaliar a influência desta altura na resistência do bloco, em especial a segurança
à punção.
A Figura 4.1 ilustra os dois grupos de blocos analisados numericamente. Na Tabela
4.1 e na Tabela 4.2 estão presentes, respectivamente, as descrições geométricas de cada
modelo que compõem o grupo A e o grupo B.
138
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.1 Detalhes dos modelos do grupo A e do grupo B
Os comprimentos da estaca e do pilar foram escolhidos de tal modo que permitisse a
visualização das tensões nas regiões de perturbações como as ligações, a região de apoio ou
de aplicação da força.
Tabela 4.1 Propriedades geométricas dos modelos do grupo A (interface rugosa)
Modelo
A
est
x B
est
(cm)
A
pil
x B
pil
(cm)
A
blo
x B
blo
(cm)
l
e
(cm)
H
(cm)
l
ll
l
emb
(cm)
h
s
(cm)
θ
(graus)
IR-E48-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 68 48 20 41,8
IR-E48-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 68 48 20 41,8
IR-E48-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 68 48 20 41,8
IR-E48-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 78 48 30 46,5
IR-E48-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 78 48 30 46,5
IR-E48-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 78 48 30 46,5
IR-E64-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 84 64 20 48,9
IR-E64-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 84 64 20 48,9
IR-E64-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 84 64 20 48,9
IR-E64-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 94 64 30 52,5
IR-E64-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 94 64 30 52,5
IR-E64-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 94 64 30 52,5
139
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Tabela 4.2 - Propriedades geométricas dos modelos do grupo B (interface lisa)
Os nomes dos modelos foram atribuídos tendo em vista o fácil reconhecimento das
informações geométricas e físicas dos modelos nas etapas seguintes. A nomenclatura segue o
padrão descrito na Figura 4.2.
Figura 4.2 Designação dos modelos
A partir da geometria dos modelos e considerando que os blocos sejam moldados por
um concreto de 25 MPa de resistência característica à compressão, foram feitas estimativas
das forças últimas para cada um dos blocos. As estimativas foram feitas baseadas nas
previsões de Blévot e Frémy (1967) para a ruptura das bielas comprimidas e encontram-se
descritas na Tabela 4.3 e na Tabela 4.4.
Modelo
A
est
x B
est
(cm)
A
pil
x B
pil
(cm)
A
blo
x B
blo
(cm)
l
e
(cm)
H
(cm)
l
ll
l
emb
(cm)
h
s
(cm)
θ
(graus)
IL-E60-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 80 60 20 47,3
IL-E60-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 80 60 20 47,3
IL-E60-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 80 60 20 47,3
IL-E60-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 90 60 30 51,1
IL-E60-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 90 60 30 51,1
IL-E60-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 90 60 30 51,1
IL-E80-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 100 80 20 54,4
IL-E80-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 100 80 20 54,4
IL-E80-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 100 80 20 54,4
IL-E80-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 110 80 30 57,3
IL-E80-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 110 80 30 57,3
IL-E80-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 110 80 30 57,3
140
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Tabela 4.3 - Força última dos modelos do grupo A (interface rugosa)
* - Força última obtida considerando os critérios de Blévot e Frémy (1967): Formação das bielas no
topo do bloco; força vertical centrada; e tensão limite de compressão da biela de 0,9·f
ck
.
Tabela 4.4 - Força última dos modelos do grupo B (interface lisa)
* - Força última obtida considerando os critérios de Blévot e Frémy (1967): Formação das bielas no
topo do bloco; força vertical centrada; e tensão limite de compressão da biela de 0,9·f
ck
.
A armadura dos modelos foi dimensionada de modo a evitar que a ruína do pilar ou
estacas preceda a ruptura do bloco. Considerando que a armadura do bloco não faz parte dos
parâmetros que são objetos de análise, as armaduras do bloco foram dimensionadas de tal
Modelo
A
est
x B
est
(cm)
A
pil
x B
pil
(cm)
A
blo
x B
blo
(cm)
l
e
(cm)
H
(cm)
θ
(graus)
F
u
*
(kN)
IR-E48-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 68 41,8 1602,47
IR-E48-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 68 41,8 1602,47
IR-E48-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 68 41,8 1602,47
IR-E48-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 78 46,5 1892,54
IR-E48-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 78 46,5 1892,54
IR-E48-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 78 46,5 1892,54
IR-E64-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 84 48,9 2045,46
IR-E64-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 84 48,9 2045,46
IR-E64-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 84 48,9 2045,46
IR-E64-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 94 52,5 2267,15
IR-E64-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 94 52,5 2267,15
IR-E64-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 94 52,5 2267,15
Modelo
A
est
x B
est
(cm)
A
pil
x B
pil
(cm)
A
blo
x B
blo
(cm)
l
e
(cm)
H
(cm)
θ
(graus)
F
u
*
(kN)
IL-E60-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 80 47,3 1945,25
IL-E60-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 80 47,3 1945,25
IL-E60-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 80 47,3 1945,25
IL-E60-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 90 51,1 2183,23
IL-E60-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 90 51,1 2183,23
IL-E60-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 90 51,1 2183,23
IL-E80-HS20-N 30x30 40x40 190 x 190 110 100 54,4 2382,06
IL-E80-HS20-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 100 54,4 2382,06
IL-E80-HS20-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 100 54,4 2382,06
IL-E80-HS30-N 30x30 40x40 190 x 190 110 110 57,3 2547,37
IL-E80-HS30-NM 30x30 40x40 190 x 190 110 110 57,3 2547,37
IL-E80-HS30-NMM 30x30 40x40 190 x 190 110 110 57,3 2547,37
141
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
modo que, ao final, foram adotadas as mesmas quantidades de armaduras para todos os
modelos. Esse procedimento fez com que a armadura efetiva dos tirantes para alguns modelos
resultassem 25% maiores que as calculadas. Considerando estas premissas, a Figura 4.3
ilustra a armadura utilizada nos modelos do grupo A e B.
Figura 4.3 Disposição das armaduras do bloco dos modelos analisados
A armadura principal, correspondente aos tirantes foi disposta em faixas laterais de
largura igual à medida do lado da estaca e posicionada sobre as mesmas. A armadura
secundária foi calculada para 25% da capacidade mecânica das armaduras principais
= 4Ø16 mm
A
s,tir
= 4Ø8 c/16 cm
A
s,sec
= 2x4Ø6,3 c/ 15 cm
A
s,susp
= 2Ø8 c/ (var)
A
s,lat
A
A
4Ø8 c/16 cm
A
s,sec
= 2Ø8 c/ (var)
A
s,lat
= 2Ø8 mm
A
s,sup
Corte AA
= 4Ø16 mm
A
s,tir
= 2x4Ø6,3 c/ 16 cm
A
s,susp
142
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
colocadas em faixas, para cada direção, como é recomendado por Calavera (2000). A
armadura superior adotada foi de 10% da armadura principal em faixa, conforme indica o
Boletim 73 do CEB-FIP (1970). A armadura lateral foi obtida conforme recomendação de
Alonso (1983), 1/8 da armadura principal. A armadura de suspensão foi dimensionada para
resistir a uma força total igual à força atuante no pilar dividida por uma vez e meia o número
de estacas, de acordo com as indicações de Leonhardt e Mönnig (1978).
A Tabela 4.5 indica a armadura principal, superior e lateral dos modelos do grupo A.
Já a Tabela 4.6 indica a armadura secundária e de suspensão dos modelos do grupo A.
Tabela 4.5 Armaduras principal, superior e lateral dos modelos do grupo A
Modelos
Armadura Principal
Armadura
Superior
Armadura Lateral
A
s,tir,calc
(cm²)
Adotada
A
s,tir,ef
(cm²)
Adotada
A
s,sup,ef
(cm²)
Adotada
A
s,lat,ef
(cm²)
IR-E48-HS20-N 6,68 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E48-HS20-NM 6,68 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E48-HS20-NMM 6,68 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E48-HS30-N 6,61 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E48-HS30-NM 6,61 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E48-HS30-NMM 6,61 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E64-HS20-N 6,56 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E64-HS20-NM 6,56 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E64-HS20-NMM 6,56 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E64-HS30-N 6,41 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E64-HS30-NM 6,41 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IR-E64-HS30-NMM 6,41 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
143
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Tabela 4.6 Armaduras secundária e de suspensão dos modelos do grupo A
As armaduras que compõem os blocos do grupo B estão indicadas na Tabela 4.7 e na
Tabela 4.8.
Tabela 4.7 - Armaduras principal, superior e lateral dos modelos do grupo B
Modelos
Armadura Secundária Armadura de Suspensão
Adotada
(em cada direção)
A
s,sec,ef
(cm²)
Adotada
A
s,lat,ef
(cm²)
IR-E48-HS20-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E48-HS20-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E48-HS20-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E48-HS30-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E48-HS30-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E48-HS30-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E64-HS20-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E64-HS20-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E64-HS20-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E64-HS30-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E64-HS30-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IR-E64-HS30-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
Modelos
Armadura Principal
Armadura
Superior
Armadura Lateral
A
s,tir,calc
(cm²)
Adotada
A
s,tir,ef
(cm²)
Adotada
A
s,sup,ef
(cm²)
Adotada
A
s,lat,ef
(cm²)
IL-E60-HS20-N 6,60 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E60-HS20-NM 6,60 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E60-HS20-NMM 6,60 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E60-HS30-N 6,48 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E60-HS30-NM 6,48 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E60-HS30-NMM 6,48 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E80-HS20-N 6,29 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E80-HS20-NM 6,29 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E80-HS20-NMM 6,29 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E80-HS30-N 6,05 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E80-HS30-NM 6,05 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
IL-E80-HS30-NMM 6,05 4Ø16 mm 8,04 2Ø8 mm 1,01 2Ø8 mm 1,01
144
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Tabela 4.8 Armaduras secundária e de suspensão dos modelos do grupo B
Desse modo, a armadura dos blocos foi mantida constante para possibilitar a análise
dos resultados quando da variação dos parâmetros que foram objeto de estudo. Em razão da
inexistência de modelos de dimensionamento de armaduras para cálices embutido, uma vez
que as hipóteses consideradas para os cálculos de cálices externos não puderam ser
comprovadas em cálices embutidos, optou-se poro utilizar qualquer tipo de armadura
complementar à do bloco. Este procedimento visa a não perturbação do campo de tensões e
do panorama de fissuras na região da ligação e se justifica pelo caráter deste trabalho.
O pilar e as estacas foram modelados considerando um concreto de 50 MPa de
resistência à compressão aos 28 dias. As propriedades físicas dos concretos dos pilares e das
estacas, assim como o dos blocos, encontram-se na Tabela 4.9.
Tabela 4.9 Propriedades físicas dos concretos
Modelos
Armadura Secundária Armadura de Suspensão
Adotada
(em cada direção)
A
s,sec,ef
(cm²)
Adotada
A
s,lat,ef
(cm²)
IL-E60-HS20-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E60-HS20-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E60-HS20-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E60-HS30-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E60-HS30-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E60-HS30-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E80-HS20-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E80-HS20-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E80-HS20-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E80-HS30-N 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E80-HS30-NM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
IL-E80-HS30-NMM 4Ø8 c/16 cm 2,01 2x16Ø6,3 c/16 cm 9,96
Resistência à
compressão
f
cm
(MPa)
Resistência
à tração
f
ctm
(MPa)
Módulo de
elasticidade
longitudinal
E
cs
(MPa)
Coeficiente
de Poisson
ν
Energia de Fraturamento
(N·mm/mm²)
G
f
G
c
Bloco 25
2,565
23800,00 0,2
0,056974
5,6974
Pilar 50
4,072
33658,28
0,2
0,092555
9,2555
Estaca
s
50
4,072
33658,28
0,2
0,092555
9,2555
145
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
O aço das armaduras foi considerado com módulo de elasticidade de 210 GPa,
resistência característica ao escoamento de 500 MPa e 0,3 de coeficiente de Poisson.
As interfaces nas ligações pilar-graute e graute-bloco, Figura 4.4, foram modeladas
por meio de elementos de interface CQ48I que apresentam 16 nós e três graus de liberdade
por nó. É oportuno, recomendar precaução adicional para a utilização do comando MERGE,
cuja função é acoplar nós da malha que estejam ocupando a mesma posição ou que estejam à
distâncias inferiores que certos limites definidos pelo usuário. A utilização deste comando em
malhas que possuem elementos de interface pode corromper os mesmos por estes possuírem
nós distintos com coordenadas coincidentes.
O comportamento da interface foi descrito pelo modelo de atrito de Coulomb,
utilizado por Barros (2009) para representar o mesmo tipo de ligação. O manual do programa
DIANA (2005c) indica que a interação entre dois elementos de concreto pode ser descrita por
meio do atrito na interface entre os elementos. Este comportamento pode ser representado
pelo modelo de atrito de Coulomb que possui grande semelhança com o modelo de
plasticidade de Mohr-Coulomb para elementos contínuos.
Figura 4.4 Modelagem da ligação por meio de elementos de interface
Os parâmetros necessários para a descrição do comportamento da interface por este
modelo de atrito de Coulomb são a adesão, o coeficiente de atrito e a resistência à tração.
Willert e Kesser (1983), em seu modelo teórico para o projeto de cálices de interface
lisa com colarinho, sugerem um coeficiente de atrito de 2/3 na interface. Olin et al. (1985)
146
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
apresentaram um modelo para a distribuição de forças na ligação indicando valores de
coeficiente de atrito de 0,3 para interfaces lisas e 0,6 para interfaces rugosas. Elliott (1996)
adota coeficiente de atrito de 0,7 no caso de interfaces lisas. Canha (2004) propôs um modelo
para dimensionamento de cálices com colarinho sendo que, no caso de interfaces lisas, o
coeficiente de atrito é 0,6.
O guia de ligações do boletim 43 do FIB (2008) indica valores entre 0,6 e 0,8 para o
coeficiente de atrito em ligações entre superfícies de concreto em construções gerais e 1,4
para quando são adotadas medidas especiais nas superfícies da ligação, como dentes e chaves
de cisalhamento. Tendo como parâmetro os valores sugeridos pela literatura, optou-se por
adotar coeficientes de atrito de 0,6 para as interfaces lisas. A partir do coeficiente de atrito
indicado, calcularam-se valores de adesão dados pela Expressão 4.1. A resistência à tração foi
desprezada.
ܿ
=
ି
௦௘௡
௖௢௦
(4.1)
Para as interfaces rugosas, possuindo chave de cisalhamento, Canha (2004) observou
que o comportamento da ligação pode ser considerado como monolítico e, assim, também foi
adotado este comportamento nas análises subseqüentes.
4.3 A
NÁLISE DOS RESULTADOS
4.3.1 C
URVAS FORÇA
-
DESLOCAMENTO
Para cada incremento de força foi aferido o correspondente deslocamento do
central da face inferior do bloco. Apesar dessas medidas de deslocamentos em blocos serem
muito pequenas e susceptíveis a erros nos ensaios experimentais, pois a deformabilidade dos
apoios e do pórtico de reação podem interferir consideravelmente nas leituras, têm sido
comum a apresentação destes resultados nos trabalhos.
Na Figura 4.5 e Figura 4.6 são apresentadas as curvas que relacionam força e
deslocamento para os blocos com cálice de fundação de paredes rugosas, analisados para as
três diferentes variações de ações: força vertical centrada no eixo do pilar, força vertical com
147
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
excentricidade de 10 cm em uma direção e força vertical com excentricidade de 10 cm nas
duas direções.
0 1 2 3 4 5
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IR-E48-HS20-N
IR-E48-HS20-NM
IR-E48-HS20-NMM
IR-E48-HS20
0 1 2 3 4 5 6 7 8
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IR-E48-HS30-N
IR-E48-HS30-NM
IR-E48-HS30-NMM
IR-E48-HS30
Figura 4.5 Curvas que relacionam força e deslocamento nos blocos com cálice rugoso de l
ll
l
emb
=
48 cm
0 1 2 3 4 5
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IR-E64-HS20-N
IR-E64-HS20-NM
IR-E64-HS20-NMM
IR-E64-HS20
0 1 2 3 4
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IR-E64-HS30-N
IR-E64-HS30-NM
IR-E64-HS30-NMM
IR-E64-HS30
Figura 4.6 Curvas que relacionam força e deslocamento nos blocos com cálice rugoso de l
ll
l
emb
=
64 cm
Como esperado, a atuação da força vertical excêntrica promove a concentração de
tensões em algumas bielas provocando a ruptura do bloco para menores valores da ação
vertical. As curvas apresentaram trechos lineares seguidos de uma redução da capacidade
resistente que delimita o início do ramo não-linear da curva força por deslocamento.
Observou-se no panorama de fissuração dos blocos que o passo de carga em que ocorre essa
mudança no diagrama corresponde a um avanço do número e tamanho das aberturas das
fissuras, em geral, quando estas atingem as faces laterais do bloco.
148
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Os mesmos diagramas foram traçados para os blocos que possuíam interface de
ligação lisa. Na Figura 4.7 e Figura 4.8 são observados os comportamentos dos blocos com
interface de ligação lisa quando sob a atuação dos mesmos tipos de ação descritos para os
blocos com cálice de interface rugosa.
0 1 2 3 4 5 6
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IL-E60-HS20-N
IL-E60-HS20-NM
IL-E60-HS20-NMM
IL-E60-HS20
0 0.5 1 1.5
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IL-E60-HS30-N
IL-E60-HS30-NM
IL-E60-HS30-NMM
IL-E60-HS30
Figura 4.7 Curvas que relacionam força e deslocamento nos blocos com cálice liso de l
ll
l
emb
= 60
cm
0 1 2 3 4 5 6
D
e
s
l
o
c
a
m
e
n
t
o
s
(
m
m
)
0
1000
2000
3000
4000
5000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IL-E80-HS20-N
IL-E80-HS20-NM
IL-E80-HS20-NMM
IL-E80-HS20
Figura 4.8 Curvas que relacionam força e deslocamento nos blocos com cálice liso de l
ll
l
emb
= 80
cm
Os blocos com interface de ligação lisa apresentaram curvas força-deslocamento sem
grande perda de rigidez apresentada nos blocos com interface rugosa. Esse comportamento
com decréscimo de rigidez mais atenuado indica que o aparecimento e abertura de novas
fissuras aconteceram gradualmente com a elevação da intensidade da tensão no bloco, ao
contrário dos blocos de interface rugosa nos quais o trecho linear é interrompido por uma
0 1 2 3 4 5 6
Deslocamentos (mm)
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
F
o
r
ç
a
(
k
N
)
IL-E80-HS30-N
IL-E80-HS30-NM
IL-E80-HS30-NMM
IL-E80-HS30
149
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
diminuição repentina da resistência indicando o aparecimento de fissuras mais pronunciadas
em uma orientação preferencial que coincide com o meio do vão entre as estacas.
4.3.2 F
LUXO DE TENSÕES
Por meio dos diagramas de tensões principais de compressão foram visualizados os
fluxos de tensões, possibilitando assim a delimitação da geometria das bielas nos blocos. Nos
blocos do grupo A o fluxo de tensões de compressão ficou delimitado pelo pilar e estacas
caracterizando a formação das bielas desde o topo do bloco.
Nos blocos submetidos à força vertical excêntrica, a formação das bielas de
compressão foi mais pronunciada na região entre o local da aplicação da força vertical e a
estaca de maior reação de apoio. Este fenômeno contribuiu para que a ruína destes blocos
ocorresse para forças de intensidade inferiores àquelas observadas nos blocos submetidos à
força vertical centrada.
Os blocos com interface lisa não apresentaram a formação de bielas e grande parte da
força vertical do pilar transferiu-se para o fundo do cálice sujeitando o bloco à ruína por
punção.
Os diagramas da Figura 4.9 à Figura 4.12 indicam as tensões de compressão para os
blocos do grupo A, com interface de ligação rugosa, enquanto os diagramas da Figura 4.13 à
Figura 4.24 mostram estes resultados para os blocos do grupo B, com interface de ligação lisa.
Os modelos foram apresentados aos ternos, sendo o primeiro correspondente àquele
submetido à força vertical axial, o segundo submetido à força vertical excêntrica em uma
direção e o terceiro à força vertical excêntrica em duas direções.
150
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.9 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IR-E48-HS20
Figura 4.10 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IR-E48-HS30
Figura 4.11 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IR-E64-HS20
151
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.12 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IR-E64-HS30
Figura 4.13 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IL-E60-HS20
Figura 4.14 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IL-E60-HS30
152
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.15 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IL-E80-HS20
Figura 4.16 Tensões de compressão superiores a 10 MPa nos modelos IL-E80-HS30
4.3.3 T
ENSÕES PRINCIPAIS
As tensões principais de compressão são apresentadas em diagramas de cores
indicando a intensidade das tensões no domínio.
Em razão das bielas ficarem na posição diagonal no bloco, os resultados foram obtidos
em uma seção transversal cujo plano contém a diagonal do bloco. Este procedimento é
realizado no DIANA mediante a utilização de um algoritmo que interpola os resultados nodais,
entretanto algumas pequenas imperfeições são geradas na sua visualização.
Nos blocos considerando a interface rugosa, as bielas são formadas a partir da base do
pilar e comprimem as estacas de maneira não uniforme. Assim como Delalibera (2007) e
Barros (2009) observaram, na parte superior, as estacas foram mais comprimidas na região
próxima às faces internas sendo que, na base das estacas, as tensões de compressão se
153
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
distribuem com mais intensidade na parte mais externa. A ocorrência deste comportamento
pode ser remetida às condições de contorno que foram impostas, restrição da translação nas
três direções, pois a distribuição de tensões nas estacas de alguns blocos verificados na etapa
de análise dos modelos constitutivos foi mais uniforme, isto por que havia sido restringida
apenas a translação vertical na base da estaca.
Com relação aos modelos submetidos à força vertical excêntrica, os modelos com
excentricidade em duas direções apresentaram bielas com inclinação diferente. Esta
observação é condizente com a situação de equilíbrio estático da treliça idealizada, pois uma
vez que as forças nos tirantes devem ser constantes e as reações nas estacas variáveis, as
bielas de compressão necessariamente terão de se adaptar para atender esta condição de
equilíbrio.
Os resultados para os blocos cujas paredes do cálice foram consideradas rugosas,
ligação monolítica, estão descritos aos ternos na Figura 4.17 a Figura 4.20. No primeiro bloco
atua força vertical centrada, no segundo atua força vertical com excentricidade em uma
direção e no terceiro, atua força vertical com excentricidade em duas direções.
Figura 4.17 Tensões principais de compressão nos modelos IR-E48-HS20
154
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.18 Tensões principais de compressão nos modelos IR-E48-HS30
Figura 4.19 Tensões principais de compressão nos modelos IR-E64-HS20
Figura 4.20 Tensões principais de compressão nos modelos IR-E64-HS30
Nos blocos de interface lisa pôde-se perceber que não foram formadas bielas de
compressão a partir do topo do bloco, entretanto constata-se que existe a transferência dos
esforços solicitantes do pilar ao bloco, mas não suficientemente grande para a formação de
bielas de compressão.
155
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Nos blocos cuja força vertical do pilar encontra-se centrada, a intensidade de tensões
na base do cálice é maior que nos blocos nos quais a força vertical atua excentricamente. Este
comportamento está ligado ao fato de que nos blocos em que o pilar está submetido à força
vertical excêntrica, existe uma pressão maior exercida nas paredes do cálice que mobiliza
também uma maior força de atrito.
Em razão da elevada intensidade de tensão que ainda atinge a base dos lices com a
interface considerada lisa, torna-se muito mais susceptível à ruína do bloco por punção. A
força máxima do pilar resistida à punção do bloco pode ser calculada pela Expressão 4.2,
obtida a partir do item 19.5 da ABNT NBR 6118:2003, desprezando os coeficientes
majoradores da solicitação e minoradores da resistência e majorando a resistência em 20%,
em razão do estado múltiplo de tensões.
ܨ
௦௞
=
0
,
27
1
೎ೖ
ଶହ଴
݂
௖௞
ݑ
݀
1
,
2
(4.1)
Sendo que:
u é a força aplicada ao fundo do bloco pelo pilar suficiente para provocar a
punção (1539,65 kN);
u é o perímetro da superfície crítica C, coincidente ao perímetro do pilar 160 cm;
d é a média da altura útil do bloco nas duas direções, dx e dy, que no caso destes
blocos, fazendo-se uma analogia à uma laje e pilar invertidos, é igual a 13,2
cm.
Verifica-se que os valores de resistência dos blocos nos modelos analisados
ultrapassaram o limite de 1539,65 kN entretanto, com base nestes resultados, não é possível
conhecer precisamente o valor de pressão que o pilar exerceu no fundo do bloco. Esta
incerteza ocorre em razão do espraiamento da força em uma área maior que a do perímetro do
pilar e em razão de parte da força do pilar ter se dirigido para as estacas.
Os resultados para os blocos cujas paredes do cálice foram consideradas lisas estão
descritos aos ternos na Figura 4.21 a Figura 4.24. No primeiro bloco atua força vertical
centrada, no segundo atua força vertical com excentricidade em uma direção e no terceiro,
atua força vertical com excentricidade em duas direções.
156
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.21 Tensões principais de compressão nos modelos IL-E60-HS20
Figura 4.22 Tensões principais de compressão nos modelos IL-E60-HS30
Figura 4.23 Tensões principais de compressão nos modelos IL-E80-HS20
157
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.24 Tensões principais de compressão nos modelos IL-E80-HS30
4.3.4 T
ENSÕES NAS BARRAS DAS ARMADURAS
Os diagramas da Figura 4.25 à Figura 4.36 referem-se às tensões equivalentes de von
Mises nas barras das armaduras dos blocos com cálice de interface rugosa sendo que à
esquerda encontram-se representadas as armaduras principais e secundárias e à direita as
armaduras superiores e de suspensão. Os resultados indicam que a armadura principal e
secundária atingiu o escoamento com a distribuição de tensões variando ao longo do
comprimento das barras.
Figura 4.25 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E48-HS20-N
158
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.26 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E48-HS20-NM
Figura 4.27 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E48-HS20-NMM
Figura 4.28 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E48-HS30-N
159
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.29 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E48-HS30-NM
Figura 4.30 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E48-HS30-NMM
Figura 4.31 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E64-HS20-N
160
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.32 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E64-HS20-NM
Figura 4.33 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E64-HS20-NMM
Figura 4.34 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E64-HS30-N
161
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.35 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E64-HS30-NM
Figura 4.36 Tensões nas armaduras dos blocos IR-E64-HS30-NMM
As armaduras superiores e laterais não influenciaram no comportamento dos modelos,
pois a intensidade das tensões nas suas barras foi relativamente reduzida. Em contrapartida, a
armadura secundária apresentou elevados valores de tensão ao longo de suas barras indicando
que, apesar de terem sido formadas bielas de compressão entre o pilar e as estacas, parte
significativa da força do pilar atua no fundo do bloco.
As tensões nas armaduras dos blocos com cálice de interface lisa estão representadas
da Figura 4.37 a Figura 4.48. Percebe-se que a armadura principal não foi submetida a
elevados valores de tensão, em contrapartida a armadura secundária continua sendo solicitada.
As armaduras de suspensão continuam sendo solicitadas e as armaduras superiores
permanecem sendo pouco solicitadas.
162
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.37 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E60-HS20-N
Figura 4.38 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E60-HS20-NM
Figura 4.39 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E60-HS20-NMM
163
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.40 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E60-HS30-N
Figura 4.41 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E60-HS30-NM
Figura 4.42 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E60-HS30-NMM
164
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.43 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E80-HS20-N
Figura 4.44 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E80-HS20-NM
Figura 4.45 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E80-HS20-NMM
165
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.46 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E80-HS30-N
Figura 4.47 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E80-HS30-NM
Figura 4.48 Tensões nas armaduras dos blocos IL-E80-HS30-NMM
166
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Apesar de o aço ter sido descrito por modelo constitutivo que considera o
comportamento elasto-plástico perfeito com critério de plastificação de von Mises e tensão de
escoamento de 500 MPa, em alguns pontos, as tensões nas barras superaram este valor. A
violação do critério de plastificação também foi observada por Barros (2009) e acredita-se que
este tipo de resultado tenha se originado em razão da representação das armaduras por
elementos do tipo reinforcement, que não são elementos finitos propriamente ditos por não
possuírem graus de liberdade próprios, entretanto interferem na rigidez do modelo, pois altera
a rigidez dos elementos finitos nas regiões pelas quais atravessa.
Esse comportamento poderia ser admitido caso o modelo constitutivo que representa o
aço fosse descrito por uma relação tensão deformação bi-linear sem patamar de escoamento,
todavia o modelo constitutivo é bi-linear com patamar de escoamento.
4.3.5 P
ANORAMA DE FISSURAÇÃO
As fissuras, em todos os modelos, começaram a se desenvolver na face inferior do
bloco e progrediram em direção às faces laterais do bloco. Em razão da similaridade dos
panoramas de fissuração, são apresentadas apenas as fissuras para o bloco IR-E64-HS30-N e
IL-E80-HS30-N, Figura 4.49 e Figura 4.50 respectivamente.
Figura 4.49 Panorama de fissuração no bloco IR-E64-HS30-N
50% da força última 75% da força última 100% da força última
167
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.50 Panorama de fissuração no bloco IL-E80-HS30-N
No bloco de interface lisa, percebe-se que as fissuras são mais distribuídas, entretanto
ambos os blocos apresentaram fissuras centrais que se estenderam entre os vãos das estacas.
4.3.6 F
ORÇAS NAS BIELAS E TIRANTES
Em razão dos blocos do grupo B, com interface lisa, não terem apresentado a
formação de bielas de compressão e em razão das tensões nas barras da armadura dos tirantes
terem sido muito pequenas, a força nas bielas e nos tirantes foram apenas determinados para
os blocos do grupo A.
A partir das tensões médias na região central das barras das armaduras em faixa,
estimou-se a força nos tirantes referentes à atuação da força última dos modelos. A
visualização dos valores das tensões ao longo das barras está exemplificada na Figura 4.51.
50% da força última 75% da força última 100% da força última
168
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Figura 4.51 Tensões nas barras da armadura principal do modelo IR-E48-HS30-NMM
Verifica-se que as tensões apresentam uma redução significativa quando as barras
atingem o topo das estacas, este comportamento, que se repetiu em todos os modelos, já havia
sido verificado em outros trabalhos referenciados, numéricos e experimentais, sugerindo
que a necessidade de ganchos nas extremidades das barras merece um estudo mais
aprofundado.
A partir da força nos tirantes e das reações nas estacas foi possível calcular a força nas
bielas e o ângulo de inclinação mediante equilíbrio de forças nos nós inferiores, conforme
indica a Figura 4.52.
169
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
ܴ
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൫ܴ
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+ ൫ܴ
௦௧,௬
+ ܴ
+ ܴ
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ܴ
ܴ
௖௕
Figura 4.52 Forças atuantes nos nós inferiores dos modelos analisados
A Tabela 4.10 apresenta as forças nos tirantes e as reações verticais nas estacas,
entretanto, no equilíbrio de forças nos nós, consideraram-se também as reações horizontais
nas estacas.
Tabela 4.10 Força nos tirantes e reações nas estacas
Os valores obtidos foram comparados com os valores analíticos calculados a partir dos
modelos de bielas e tirantes. Para os blocos submetidos exclusivamente à força vertical,
adotou-se o modelo proposto por Blévot e Frémy (1967). Para os blocos submetidos à força
vertical excêntrica em apenas uma direção, foi adotado o modelo presente no Quadro 4.1,
semelhante ao apresentado em Nori e Tharval (2007). no caso de atuação de força vertical
R
st,x
R
st,y
R
cb
R
x
R
y
R
z
Modelo
R
st
(kN) R
z
(kN)
T
1
T
2
T
3
T
4
Estaca 1
Estaca 2
Estaca 3
Estaca 4
IR-E48-HS20-N 398,10 389,36 358,69 369,55 1080,03 1124,87 1097,12 1080,23
IR-E48-HS20-NM 406,45 406,15 354,87 395,49 892,14 1221,44 898,01 1219,20
IR-E48-HS20-NMM 301,09 271,34 245,20 288,63 910,24 960,19 418,11 913,36
IR-E48-HS30-N 388,45 386,75 387,75 395,49 1353,05 1337,02 1337,32 1348,56
IR-E48-HS30-NM 405,04 404,74 390,97 396,49 715,59 878,93 761,82 833,79
IR-E48-HS30-NMM 300,19 295,67 282,49 294,96 857,78 1095,20 521,79 859,46
IR-E64-HS20-N 395,89 403,93 368,35 360,81 1276,21 1353,54 1346,68 1273,92
IR-E64-HS20-NM 403,64 404,34 396,60 402,83 994,89 1422,44 1020,27 1390,56
IR-E64-HS20-NMM 399,51 388,25 395,60 382,33 924,66 1266,33 643,60 922,69
IR-E64-HS30-N 403,64 402,23 397,81 391,67 1556,51 1554,69 1555,97 1555,61
IR-E64-HS30-NM 327,43 335,27 253,54 325,72 928,31 1323,13 940,10 1308,15
IR-E64-HS30-NMM 242,88 194,43 186,49 238,77 799,04 1055,23 508,78 798,28
170
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
com excentricidade em duas direções, foi adotado o modelo do Quadro 4.2, semelhante aos
modelos apresentados em Nori e Tharval (2007) e Souza et al. (2007).
Quadro 4.1 Modelos de bielas para blocos submetidos à força excêntrica em uma direção
=
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B
1
B
2
B
3
B
4
T
1
T
2
T
3
T
4
β
2
β
1
β
3
β
4
θ
1
θ
2
θ
3
θ
4
1
3
2
4
e
x
171
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Quadro 4.2 Modelos de bielas para blocos submetidos à força excêntrica em duas direções
=
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B
1
B
2
B
3
B
4
T
1
T
2
T
3
T
4
β
2
β
1
β
3
β
4
θ
1
θ
2
θ
3
θ
4
1
3
2
4
e
y
e
x
172
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Pela Tabela 4.11 nota-se que os ângulos formados entre as bielas e sua projeção no
plano horizontal apresentaram valores superiores àqueles obtidos analiticamente.
Tabela 4.11 Ângulos entre as bielas e suas projeções no plano horizontal
A Tabela 4.12 compara os valores das inclinações nas bielas obtidos numericamente
com os valores calculados analiticamente.
Tabela 4.12 Relação entre os ângulo de inclinação das bielas dos blocos do grupo A
Modelo
θ
numérico
(graus) θ
analítico
(graus)
θ
1
θ
2
θ
3
θ
4
θ
1
θ
2
θ
3
θ
4
IR-E48-HS20-N 53,6 54,2 54,3 53,8 41,2 41,2 41,2 41,2
IR-E48-HS20-NM 48,2 55,3 48,4 55,4 35,8 41,8 35,8 41,8
IR-E48-HS20-NMM 58,2 56,7 38,9 58,0 35,8 41,8 31,8 35,8
IR-E48-HS30-N 58,6 58,2 58,3 58,3 46,5 46,5 46,5 46,5
IR-E48-HS30-NM 41,0 46,6 42,4 45,3 40,3 46,5 40,3 46,5
IR-E48-HS30-NMM 56,2 60,7 42,8 56,0 40,3 46,5 36,1 40,3
IR-E64-HS20-N 57,9 59,5 58,7 57,8 48,9 48,9 48,9 48,9
IR-E64-HS20-NM 49,6 58,5 50,4 57,8 42,7 48,9 42,7 48,9
IR-E64-HS20-NMM 50,3 57,7 39,7 51,1 42,7 48,9 38,5 42,7
IR-E64-HS30-N 61,6 62,1 61,6 61,7 52,5 52,5 52,5 52,5
IR-E64-HS30-NM 57,5 63,6 57,6 63,1 42,7 48,9 42,7 48,9
IR-E64-HS30-NMM 62,8 63,9 52,5 62,6 46,4 52,5 42,1 46,4
Modelo
θ
numérico
/ θ
analítico
Valores Médios
θ
1
θ
2
θ
3
θ
4
IR-E48-HS20-N 1,30 1,32 1,32 1,31 1,31
IR-E48-HS20-NM 1,35 1,32 1,35 1,33 1,34
IR-E48-HS20-NMM 1,63 1,36 1,22 1,62 1,46
IR-E48-HS30-N 1,26 1,25 1,25 1,25 1,25
IR-E48-HS30-NM 1,02 1,00 1,05 0,97 1,01
IR-E48-HS30-NMM 1,39 1,31 1,19 1,39 1,32
IR-E64-HS20-N 1,18 1,22 1,20 1,18 1,20
IR-E64-HS20-NM 1,16 1,20 1,18 1,18 1,18
IR-E64-HS20-NMM 1,18 1,18 1,03 1,20 1,15
IR-E64-HS30-N 1,17 1,18 1,17 1,18 1,18
IR-E64-HS30-NM 1,35 1,30 1,35 1,29 1,32
IR-E64-HS30-NMM 1,35 1,22 1,25 1,35 1,29
Valores Médios
1,28 1,24 1,21 1,27
1,25
Desvio padrão
0,13
Coef. de variação
0,10
173
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Apesar dos valores obtidos serem superiores, as inclinações das bielas seguem a
tendência apresentada nos modelos analíticos propostos em Souza et al. (2007) e Nori e
Tharval (2007) indicando que estes modelos, além de serem consistentes, fornecem valores
adequados.
Essa diferença pode ser justificada pela imprecisão na medida das forças nos tirantes,
pois, além da variação de tensões ao longo da barra, não foram consideradas a contribuição
das armaduras secundárias próximas à região dos tirantes para o cálculo destas forças. Além
disso, o cálculo destes valores foi para uma situação de carregamento em que as armaduras do
tirante apresentavam escoamento. O mesmo cálculo poderia ter sido feito para o bloco
ainda em regime elástico linear, todavia a dificuldade passaria a ser o cálculo da contribuição
da resistência à tração do concreto, ainda pouco fissurado, na região dos tirantes.
Tabela 4.13 Força nas bielas de compressão dos blocos do grupo A
A Tabela 4.14 compara os valores das forças de compressão nas bielas obtidos
numericamente com os valores calculados analiticamente. Os resultados indicam que existe
boa aproximação sendo que os desvios, em sua maioria, foram à favor segurança.
Modelo
R
cb,numérico
(kN) R
cb,analítico
(kN)
B
1
B
2
B
3
B
4
B
1
B
2
B
3
B
4
IR-E48-HS20-N 1342,51 1386,44 1351,40 1339,35 1663,06 1663,06 1663,06 1663,06
IR-E48-HS20-NM 1196,04 1485,47 1201,41 1480,95 1478,73 1872,33 1478,73 1872,33
IR-E48-HS20-NMM 1070,54 1149,14 665,12 1077,04 1368,33 1635,62 966,34 1368,33
IR-E48-HS30-N 1584,42 1573,11 1571,57 1585,41 1852,15 1852,15 1852,15 1852,15
IR-E48-HS30-NM 1091,26 1208,73 1130,02 1173,73 1030,42 1327,20 1030,42 1327,20
IR-E48-HS30-NMM 1032,37 1255,63 768,63 1036,36 1289,18 1567,59 900,51 1289,18
IR-E64-HS20-N 1506,08 1571,59 1575,23 1506,29 1741,06 1741,06 1741,06 1741,06
IR-E64-HS20-NM 1305,75 1668,67 1323,96 1642,46 1455,09 1891,62 1455,09 1891,62
IR-E64-HS20-NMM 1201,95 1498,70 1006,96 1186,23 1384,50 1699,16 961,11 1384,50
IR-E64-HS30-N 1769,54 1759,44 1769,52 1766,06 1960,35 1960,35 1960,35 1960,35
IR-E64-HS30-NM 1100,81 1477,00 1113,03 1466,78 1356,50 1763,45 1356,50 1763,45
IR-E64-HS30-NMM 898,05 1175,04 641,32 898,88 1091,36 1357,92 750,40 1091,36
174
Capítulo 4
:
Blocos sobre Quatro Estacas com Cálice Embutido
Tabela 4.14 Relação entre os valores de força nas bielas de compressão dos blocos do grupo A
Pelo fato das bielas de compressão não seguirem o modelo padrão de Blévot e Frémy
(1967) nos blocos em que a força vertical atua com excentricidade, as tensões nas bielas não
foram calculadas.
A dificuldade para o cálculo das tensões nas bielas, em especial nas seções próximas ao
pilar, se justifica pela necessidade de determinação da área da seção transversal das bielas na
região abaixo do pilar, uma vez que uma parte da seção do pilar encontra-se mais
comprimida, as bielas tendem a convergir para uma região de dimensões reduzidas.
Modelo
R
cb,numérico
/ R
cb,analítico
Valores Médios
B
1
B
2
B
3
B
4
IR-E48-HS20-N 0,81 0,83 0,81 0,81 0,82
IR-E48-HS20-NM 0,81 0,79 0,81 0,79 0,80
IR-E48-HS20-NMM 0,81 0,69 0,65 0,81 0,74
IR-E48-HS30-N 0,86 0,85 0,85 0,86 0,86
IR-E48-HS30-NM 1,06 0,91 1,10 0,88 0,99
IR-E48-HS30-NMM 0,83 0,78 0,81 0,83 0,81
IR-E64-HS20-N 0,87 0,90 0,90 0,87 0,89
IR-E64-HS20-NM 0,90 0,88 0,91 0,87 0,89
IR-E64-HS20-NMM 0,90 0,86 1,00 0,89 0,91
IR-E64-HS30-N 1,17 1,18 1,17 1,18 1,18
IR-E64-HS30-NM 0,81 0,84 0,82 0,83 0,83
IR-E64-HS30-NMM 0,85 0,84 0,81 0,85 0,84
Valores Médios
0,89 0,86 0,89 0,87
0,88
Desvio padrão
0,11
Coef. de variação
0,12
C
ONCLUSÃO
C
C
A
A
P
P
Í
Í
T
T
U
U
L
L
O
O
5
5
5 C
ONCLUSÃO
A partir dos resultados dos vinte e quatro blocos analisados concluiu-se que:
- Em todas as situações de carregamento, os blocos do grupo A, de interface rugosa,
apresentaram a formação das bielas de compressão a partir do topo do bloco, sendo que
naqueles em que a força foi aplicada com excentricidade, a ruína do bloco aconteceu para
menores valores de força em razão da maior concentração de tensões em uma ou duas bielas
de compressão. Já nos blocos do grupo B, de interface lisa, não se formaram bielas de
compressão nos blocos, pois a transferência de tensões tangenciais na ligação foi insuficiente.
Desse modo, sugere-se a utilização de outra teoria para o dimensionamento dos blocos que
possuem interface de ligação lisa com o pilar tal como a teoria de flexão, considerando o
comportamento de placa;
- as inclinações e os valores das forças nas bielas dos blocos com interface de ligação
rugosa, considerada monolítica, assemelharam-se àqueles idealizados pelos modelos de
Blévot e Frémy (1967), no caso de aplicação de força centrada, e assemelharam-se aos
modelos presentes nos trabalhos de Nori e Tharval (2007) e Souza et al. (2007) nos blocos
cujo pilar foi submetido à força vertical excêntrica. Conforme se verificou ao comparar os
valores dos ângulos de inclinação e das forças nas bielas, os modelos analíticos forneceram
previsões favoráveis à segurança em relação aos numéricos;
- tanto nos blocos em que a espessura da “laje de fundo” foi de 20 cm quanto nos
blocos em que ela foi de 30 cm, foram observados elevados valores de tensões nas barras da
armadura secundária, além de maior fissuração na região central da face inferior do bloco,
indicando que esta região deve ser verificada à punção. Esse comportamento foi verificado
para os blocos com ambos os tipos de ligação com o pilar, todavia, para os blocos de interface
lisa foi mais acentuado. O cálculo do valor da tensão resistente à punção no perímetro crítico
dado pelo perímetro do pilar, conforme ABNT NBR 6118:2003, mostrou-se favorável à
segurança e pode ser usado como um indicativo para o nível de força limite aplicado na região
da base do pilar;
176
Capítulo 5
:
Conclusão
- nos blocos do grupo A, as tensões ao longo das barras da armadura principal não
apresentaram valores constantes sendo que, em todos os modelos, houve uma grande redução
das tensões nas barras sobre o topo das estacas, causada pelo estado de tensões promovido
pela biela de compressão e pelo apoio na região nodal inferior sobre as barras que formam o
tirante. Apesar dos ganchos da armadura principal terem sido pouco solicitados, é
aconselhado o seu uso em razão da redução de consumo de aço ser insignificante e pela falta
de estudos incisivos a respeito do assunto em blocos sobre estacas. Já as armaduras principais
dos blocos do grupo B foram pouco solicitadas sendo as armaduras secundárias mais
solicitadas em razão da elevada intensidade de força aplicada no fundo do cálice;
- as armaduras de suspensão, da forma como foram detalhadas, não influenciaram os
resultados e podem ser dispensadas do detalhamento do bloco, assim como as armaduras
superiores que também não foram solicitadas;
- em suma, recomenda-se que as ligações em interfaces de concreto, tais como estas
entre pilar e bloco, sejam capazes de transferir solicitações tangenciais, seja por atrito ou
mediante o emprego de chaves de cisalhamento. As ligações que dependem unicamente do
atrito, tais como as de cálice de interface lisa, devem ser utilizadas com restrição, pois os
esforços transferidos dependem fundamentalmente da rugosidade da interface e da pressão
normal à ligação que, nem sempre, são conhecidas ou suficientes. A parcela de adesão é
muito baixa para os níveis de força que estas ligações estão submetidas;
- nos blocos onde são formadas as bielas de compressão a partir de uma força aplicada
com excentricidade, é recomendada a utilização de modelos de bielas e tirantes mais refinados
tais como os de Nori e Tharval (2007) e Souza et al. (2007). Estes modelos ainda precisam ser
calibrados a partir de ensaios experimentais, todavia se mostraram muito superiores aos
modelos elaborados para força vertical centrada e que, freqüentemente, são utilizados para o
dimensionamento de blocos submetidos à força vertical e momentos.
- os modelos numéricos de concreto armado utilizados na elaboração dos blocos sobre
estacas, por intermédio do programa computacional DIANA, foram capazes de representar o
comportamento dos blocos, mas ainda percebe-se que a seqüência da análise torna-se mais
difícil após o concreto atingir certo nível de fissuração, em particular nos modelos onde a
ruptura do concreto precede ao escoamento da armadura. Esta limitação, em algumas
ocasiões, impediu a obtenção do equilíbrio no trecho pós-pico.
177
Capítulo 5
:
Conclusão
Para a complementação deste e de outros trabalhos e para o desenvolvimento do
conhecimento sobre o tema, algumas sugestões de pesquisas de interesse são:
- Realização de ensaios experimentais em blocos sobre quatro estacas com pilares
submetidos a forças verticais excêntricas, com a finalidade de avaliar as previsões
feitas pelos modelos discutidos;
- estudo da eficiência de outros tipos de armaduras de suspensão na capacidade de
transferir parte da força vertical que atua no fundo do cálice dos blocos sobre quatro
estacas possuindo cálice de ligação;
- desenvolvimento de modelos de bielas e tirantes para blocos submetidos a forças
verticais de grande excentricidade, onde o ponto de atuação da força encontra-se
externo ao perímetro da seção transversal do pilar;
- investigação dos efeitos da deformabilidade do solo e das estacas de apoio no
comportamento dos blocos sobre estacas;
- realização de ensaios experimentais em blocos com ligação por cálice de fundação a
fim de compreender melhor o comportamento destas ligações, em especial as de
interface lisa, e para ajuste dos parâmetros necessários para melhorar a representação
dessas ligações em modelos numéricos.
179
6 R
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