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Com os partidos e os movimentos de esquerda perseguidos e inviabilizados, os
intelectuais e artistas utilizavam suas produções, no campo cultural, para expressar suas
insatisfações com o regime ditatorial implantado. Peças, como O Rei da Vela, de autoria
de Oswald de Andrade, eram encenadas pelo Teatro Oficina, e mostravam a realidade
do Brasil que deveria ser mudada radicalmente (RIDENTI, 2007: 145). Nessas
produções além das preocupações com o subdesenvolvimento e com o „caráter do povo
brasileiro‟, a „identidade nacional‟ era objeto de reflexão.
No caso da música, o movimento conhecido como tropicalismo, de 1967-8, se
destacava na música popular trazendo elementos modernos e arcaicos. Era um
movimento que procurava articular as contribuições das ocorrências culturais
internacionais daquele momento com as reflexões nacionais produzidas pelos partidos,
movimentos e intelectuais da esquerda brasileira, no final dos anos de 1950. Entretanto,
o AI-5 impôs uma pesada censura a todos os meios de comunicação.
Neste sentido, a agitação política e cultural que sobreviveu ao ano de 1964, se
findava com prisões, mortes e exílios (RIDENTI, 2007: 152). Paralelo à censura e à
perseguição aos seus críticos, a ditadura empenhou-se num projeto modernizador da
sociedade em diversas áreas da cultura, atuando diretamente através de instituições e
órgãos criados para tal fim ou incentivando a iniciativa privada, principalmente no que
se refere aos meios de comunicação. Foram criados o Ministério das Comunicações, a
Embrafilme, o Instituto Nacional do Livro, a Funarte, a Rede Globo de Televisão
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,
dentre outros. De acordo com Marcelo Ridenti:
criou-se uma indústria cultural, não só televisiva, mas também
fotográfica, editorial (de livros, revistas, jornais, fascículos e outros
produtos comercializáveis até em bancas de jornal), de agências de
publicidade etc. Tornou-se comum, por exemplo, o emprego de
artistas (cineastas, poetas, músicos, atores, artistas gráficos e
plásticos) e intelectuais (sociólogos, psicólogos e outros cientistas
sociais) nas agências de publicidade, que cresceram em ritmo
alucinante a partir dos anos 1970, quando o governo também passou
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O Livro de Impressões do visitantes do MASC registra, em 1975, a visita de um dos diretores da Rede
Globo. Em 1980, a mesma rede de televisão patrocina a publicação de 1000 exemplares do catálogo do
MASC. Naquela oportunidade o diretor percebia o acervo do museu como um “vivo depoimento da
Riqueza espiritual desta terra”. Cf: MASC/Livro de Impressões (1974-2010); Jornal UFS Notícias, Ed.
Especial, São Cristóvão, 1981. Devemos acrescentar ainda, que um dos presidentes da Empresa
Sergipana de Turismo (EMSETUR) órgão estadual ao qual o MASC estabelecia relações-, na segunda
metade da década de 1970, era também diretor da TV Sergipe.