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Referem-se, principalmente, a aplicações de modelos de educação bilíngüe
10
e
bicultural
11
e ao estudo minucioso acerca das concepções sociais, culturais e antropológicas
da surdez (SKLIAR, 1997).
Ainda para Skliar (2001), as restrições na organização de projetos políticos de
cidadania, dos direitos lingüísticos, e as dificuldades no processo de reorganização e de
reconstruções pedagógicas resultam ainda na existência de conflitos.
Atualmente a necessidade está em focalizar as transformações no nível das
representações que comparam os poderes e saberes clínicos
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e terapêuticos.
O fato das discussões sobre a educação de surdos avançarem lentamente revela a
presença de um sentido comum em relação aos significados obrigatórios, como classifica
Skliar (2001, p. 8): “[...] surdos/deficientes auditivos/outros, deficientes/educação
especial/reeducação/normalização/ integração”.
Essas denominações sugerem também um conjunto de contrastes binários, que é
marcado por uma pedagogia para surdos onde se constrói a partir de oposições: “[...]
normalidade/anormalidade, saúde/patologia, ouvinte/surdo, maioria/minoria, oralidade/
gestualidade” (SKLIAR, 2001, p. 9).
Os surdos são identificados pela sociedade ouvinte a partir dessas oposições, que os
colocam em lados opostos nas relações sociais, dispondo dos espaços reservados a eles, para
serem apenas meros observadores, sem participação e muito menos serem considerados.
Diante dessas colocações, uma nova visão ou paradigma, não deveria satisfazer-se
com dados quantitativos de fracasso escolar desses alunos surdos, e nem trabalhar com
estratégias de remediar e naturalizar a surdez.
No entendimento de Skliar (2001, p. 9):
Deveria denunciar as implicações mais dolorosas que esse fracasso gerou na
construção das identidades dos surdos, na sua cidadania, no mundo do trabalho,
na linguagem e duvidar dos poderes
e saberes, arraigados na prática
educacional, que ainda reproduzem e sustentam o fracasso, ao considerá-lo
como um mal necessário.
10
Goldfeld ( 1997, p.44) conceitua a educação bilíngüe, como sendo “[...] a aquisição da língua materna pelo
surdo, língua de sinais, que é considerada a língua natural dos surdos e, como segunda língua a língua oficial
escrita de seu país, no caso do Brasil a língua portuguesa.”
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Já a educação bicultural é entendida neste estudo como a prevalência de duas culturas em um mesmo contexto
educacional, isto é: a cultura surda e a cultura ouvinte.
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Para Perlin e Strobel (2006, p. 7), na visão clinica a escola de surdos só se preocupa com as atividades da área
de saúde, vêem os sujeitos surdos como pacientes ou doentes nas orelhas que necessitam ser tratados a todo
custo, por exemplo, os exercícios terapêuticos de treinamento auditivos e de preparação dos órgãos fonador
fazem parte do trabalho do professor de surdos quando atua na abordagem oralista. Esses profissionais
caracterizam os surdos pelo grau de surdez e não pela identidade cultural.