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(4) “Gosto de beber uma cervejinha, falo palavrão e não vou deixar de ter
amizade com alguém por ser gay, assim como acredito que o uso da
camisinha é importante para prevenir doenças e até mesmo a gravidez”, diz
Érika Augusto da Silva, 20, cabelos avermelhados, quatro furos na orelha.
O depoimento não faria diferença se tivesse sido colhido em um colégio ou
numa rave. Mas o ambiente de Érika é outro. Única católica praticante da
família, neta de evangélicos, ela frequenta um grupo de jovens católicos há
quatro anos e vai à igreja pelo menos duas vezes por semana.
Em agosto, pretende realizar um desejo antigo: participar de sua primeira
Jornada Mundial da Juventude. [...] [grifo das autoras] (KOCH & ELIAS,
2006: 130)
Se, em um movimento metadiscursivo, a natureza da referenciação desloca-
se da predicação de um referente para um plano ambivalente de discurso e de
comentário sobre o discurso, a rotulação metadiscursiva se aproxima das anáforas
indiretas: além de introduzirem um novo referente textual, não se configuram como
um processo correferencial. Segundo Jubran (In.: KOCH et alii, 2005: 237), a
diferença entre esses processos coesivos reside no fato de que, na rotulação
metalinguística, “inexiste uma relação, nem mesmo associativa, indireta, entre a
expressão anafórica [ou catafórica] e o(s) elemento(s) a que remete”. Embora
concordemos que, nas anáforas indiretas, seja possível identificar, mais facilmente,
relações semântico-textuais e/ou cognitivo-conceituais entre segmentos da
superfície do texto, observamos que, nos rótulos metalinguísticos, a “âncora” do
novo referente consiste no próprio discurso sumarizado. Compreendemos, portanto,
que, mesmo frente à especificidade da auto-referenciação do discurso observável
nos rótulos metalinguísticos e não nas anáforas indiretas, a interseção entre esses
mecanismos de referenciação é extremamente ampla.
Finalmente, Francis (In.: CAVALCANTE et alii, 2003) propõe a diferenciação
entre rótulos não-avaliativos e avaliativos, considerando que, por meio destes, a
interpretação de uma porção textual revela-se fortemente determinada pelo ponto de
vista do autor. Todavia, mesmo a construção dos rótulos não-avaliativos expressa
um posicionamento. A oposição entre esses tipos de rótulos só é possível, portanto,
se considerarmos que alguns nomes apontam, de maneira mais explícita, a
interpretação do autor para as informações sumarizadas.
Nesse sentido, compreendemos que todo rótulo evidencia certo grau de
subjetividade: a seleção do núcleo nominal e, principalmente, de seus modificadores
é determinada pelo projeto de dizer do enunciador. Desse modo, Koch (2006c: 88)
propõe uma escala de argumentatividade, um continuum tipológico, em que os