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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UnB
INSTITUTO DE PSICOLOGIA IP
DEPARTAMENTO DE PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS PPB
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO
De Macrocontingências à Metacontingências no jogo Dilema dos Comuns
Elayne Esmeraldo Nogueira
Brasília
Dezembro/2010
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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA UnB
INSTITUO DE PSICOLOGIA IP
DEPARTAMENTO DE PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS PPB
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO COMPORTAMENTO
De Macrocontingências à Metacontingências no jogo Dilema dos Comuns
Elayne Esmeraldo Nogueira
Dissertação apresentada ao Departamento de Processos
Psicológicos Básicos, do Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre em Ciências do
Comportamento (Análise do Comportamento).
Orientadora: Profa. Dra. Laércia Abreu Vasconcelos
Brasília
Dezembro/2010
Banca Examinadora
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_____________________________________________________
Profa. Dra. Laercia Abreu Vasconcelos Presidente
Universidade de Brasília
_____________________________________________________
Profa. Dra. Elenice Hanna membro efetivo
Universidade de Brasília
_____________________________________________________
Profa. Dra. Maria Amália Andery membro efetivo
Pontifícia Universidade Católica
_____________________________________________________
Prof. Ricardo Corrêa Martone membro suplente
Núcleo Paradigma
Dissertação defendida e aprovada em 16/12/2010
iv
Experiência não é o que acontece com você. É o que você faz com o
que acontece com você (Huxley, 1972).
Ao identificar o papel do ambiente, em particular do ambiente social,
o behaviorismo torna possível alcançar as metas do humanismo mais
eficazmente (Skinner, 1978).
DEDICO:
Ao meu pai,
Por me ensinar e incentivar a lutar pelo que eu quero.
Por ter acreditado em mim.
Saudades.
v
OFEREÇO:
À minha mãe,
Fonte de segurança e fortaleza.
Por lutar junto comigo.
vi
AGRADECIMENTOS
À Deus, por me colocar na minha família, me dando oportunidades para crescer e
lutar pelos meus sonhos.
Ao meu pai, meu gordo querido, Mardônio Nogueira, por ter me ensinado a persistir
em meus objetivos, por ter sido meu exemplo quando trabalhava fora de casa. Por ter
insistido por gestos em minha volta à Brasília, mesmo estando gravemente enfermo internado
no hospital em que viria a falecer semanas depois. Por ter sido meu pai.
À minha mãe, Aurenília Nogueira, fonte de inspiração e forças para continuar no
mestrado, mesmo depois da enorme dor de perder meu pai ter dilacerado nossos corações.
Por ser minha mãe.
Ao meu irmão, Raphael Nogueira, por acreditar em mim, pelo total apoio e por me
adicionar forças para continuar o mestrado. Pelas ligações e frases nos nossos momentos de
dor e saudade. Por me ensinar a torcer por um time e prestar atenção em futebol para me
tornar sua companheira. Por ser meu irmão.
Ao meu amor e companheiro, Caio Calvet, pela eterna paciência, por saber me
confortar nos momentos de dor e por ter sabido suportar a distância temporária ocasionada
pelo mestrado na UnB. Por me ensinar que seriedade e ternura podem vir juntas.
Às minhas tias Margarida Barbosa, Ana Mary Sousa e Ana Lúcia Sousa, pela força no
ano mais difícil das nossas vidas.
Às minhas queridas amigas-irmãs, Auxilane Silveira, Sheila Uchôa e Amanda Nunes,
por serem meu ambiente mais reforçador de amizade, mesmo à distância!
À Vanessa Siebra, a bruxinha de roxo mais divertida e companheira que eu conheço!
Por estar presente sempre.
À Danielle Rocha, amiga de CMF e agora de Brasília!
Às moradoras do nosso hotel cinco estrelas de Brasília: Ariela Holanda (a caçula),
Clarissa Nogueira (a mais velha), lida Costa (a mais sensata), Nayla da Silva (a mais
trabalhadora) e Mariana Lima (a mamãe).
À Nayla da Silva, por ser minha companheira de pilotos e coleta de dados. Pela
amizade sincera que ganhei nessa convivência!
Aos colegas de trabalho e amigos formados no mestrado Bruno Ceppi, Dyego Costa,
Déborah Lôbo, Louise Uchôa, Ana Rita Naves, Fábio Baia, Thaís Cruz, Juliana Barbosa,
Thiago Barros, Virgínia Fava, Lorena Baltazar, Flávia Martins, Letícia Santos, Maíra Matos e
outros não menos importantes que eu tenha esquecido de citar.
vii
À Isabelle Cacau, amiga de ECEACs, que muito me ajudou nos momentos de
desespero de convites de banca e entrega da dissertação!
Aos meus participantes de piloto em Fortaleza, meus amigos e colegas de
universidade, colégio ou extensão universitária.
Às minhas novas amigas da faculdade Leão Sampaio: Juliana Linhares, Karla Lôbo,
Kátia Araújo e Nayanny Sampaio! Vocês tornam minha vida no “Crajubar” mais leve e
divertida!
Aos alunos, professores e coordenação de psicologia da faculdade Leão Sampaio, por
serem meu ambiente de aprendizagem da vida.
Aos participantes de pesquisa da UnB, sem a participação de vocês, essa pesquisa não
seria possível.
Aos professores convidados da Banca, Profa Elenice Hanna e Prof. Ricardo Corrêa
Martone, por aceitarem gentilmente participar da avaliação desse trabalho.
À Joyce Novais, secretária da pós-graduação em ciências do comportamento, por ser
indispensável à Pós Graduação em Ciências do Comportamento.
Aos professores da pós-graduação em Ciências do Comportamento, Elenice Hanna,
Marcelo Benvenutti e Josele Abreu-Rodrigues, exemplo de professores, treinamento em
pesquisa experimental e terem me ensinado o que é, realmente, a Análise do Comportamento.
À professora Laércia Abreu Vasconcelos, por acreditar em mim e ter me mostrado
como conduzir uma pesquisa experimental e a sua importância. Por ter me ensinado a estudar
novos autores em cultura. Por ter quase me adotado nas últimas correções. Muito obrigada
pela paciência e pela atenção, professora!
Elayne Esmeraldo Nogueira
viii
Nogueira, E. E., De Macrocontingências à Metacontingências no jogo Dilema dos Comuns.
Dissertação de Mestrado. Programa de Pós Graduação em Ciências do Comportamento.
Universidade de Brasília.
RESUMO
Os conceitos de macrocontingências e metacontingências têm contribuído para a análise de
fenômenos sociais. O objetivo deste estudo foi investigar esses conceitos juntamente aos
efeitos de uma intervenção cultural no jogo Dilema dos Comuns. Os participantes foram
expostos ao dilema entre ganhos individuais ou ganhos maiores e atrasados para o grupo.
Três condições foram seguidas em uma única sessão: Linha de Base (A), na qual os
participantes não mantinham contato entre si e não conheciam as escolhas dos demais, B1 e
B2, nas quais os participantes conheciam as escolhas de seus parceiros e, em B2, poderiam
conversar a cada tentativa. A ordem de exposição às condições foi contrabalanceada em GE1
(AB1B2A) e GE2 (AB2B1A), com repetida exposição à B1 em GE3 (AB1B1A), além do
grupo controle GC (AAAA). Os jogadores recebiam 100 peixes e poderiam retirar 2, 4 ou 6
peixes individualmente. Foi estabelecida uma taxa de reajuste baseada na quantidade de
peixes retirados. A cada tentativa era informado o número restante dos recursos e ao final de
cada condição os peixes restantes seriam divididos pelos jogadores. Os grupos extinguiram os
recursos na primeira linha de base (A) e na Condição B1 foram necessárias duas exposições a
essa condição para o aumento dos recursos. Entretanto, na Condição B2 observou-se aumento
dos recursos. O grupo controle esgotou os recursos em todas as exposições à Condição A.
Portanto, o Jogo Dilema dos Comuns possibilitou demonstrar uma macrocontingência nas
condições A e os efeitos de uma intervenção cultural por meio de uma metacontingência,
observada nas condições em que houve entrelaçamento de escolhas.
Palavras-chave: Macrocontingência, Metacontingência, Dilema dos Comuns, intervenção
cultural.
ix
ABSTRACT
The concepts of macrocontingencies and metacontingencies have contributed to the analysis
of social phenomena. The aim of this study was to investigate these concepts and the effects
of a cultural intervention in the Commons Dilemma game. Participants were exposed to the
dilemma between individual earnings and higher and late earnings for the group. Three
conditions were followed in a single session: Baseline (A), in which participants had no
contact with each other and did not know the choices of others, B1 and B2, in which
participants know the choices of their partners. In B2, could talk with each other. The order
of exposure to conditions was counterbalanced in EG1 (AB1B2A) and EG2 (AB2B1A),
repeated exposure to B1 in lg3 (AB1B1A) There was the control group CG (AAAA). 100
fish were given to participants and they could take 2, 4 or 6 individual fish. We established a
"reset rate" based on the amount of fish taken. Every attempt was informed of the remaining
number of resources and the end of each condition, the remaining fish were divided among
the players. Groups extinguished the resources in the first baseline (A) and in Condition B1,
requiring two exposures to this condition for more resources. In condition B2 showed an
increase of resources. The control group has exhausted all resources in all exposures to
Condition A. Therefore, the Commons Dilemma Game showed a macrocontingencie in the
conditions A and the effects of a cultural intervention through a metacontingency observed
under conditions where there was interlocking of choices.
Key-words: Macrocontingencie, Metacontingencie, Commons Dilemma, cultural
intervention.
x
Sumário
Agradecimentos ............................................................................................ vi
Resumo ........................................................................................................ vii
Abstract ...................................................................................................... viii
Lista de figuras ............................................................................................. xi
Lista de tabelas ............................................................................................ xii
Introdução .................................................................................................... 01
Método ........................................................................................................ 17
Participantes ............................................................................................ 17
Setting e Instrumentos .............................................................................. 17
Procedimento ........................................................................................... 18
Resultados ................................................................................................... 23
Discussão ..................................................................................................... 33
Referências bibliográficas ........................................................................... 39
Anexo .......................................................................................................... 45
xi
Lista de Figuras
Figura 1. Esquematização do conceito de sistemas entrelaçados de respostas de Skinner
(1953) e do conceito de contingências comportamentais entrelaçadas de Glenn (1991).......06
Figura 2. Esquema do conceito de metacontingências...................................................09
Figura 3. Esquema do jogo Dilema dos Comuns e uma possível solução adotada pelos
participantes/pescadores. Neste esquema haverá uma diminuição dos recursos do grupo
ocasionado pelo consumo exacerbado dos seus membros fenômeno denominado de
Tragédia dos Comuns................................................................................................15
Figura 4. Esquema da sala de experimentação com as experimentadoras e materiais
utilizados. .............................................................................................................18
Figura 5. Quantidade de recursos ao longo das tentativas em todas as condições da pesquisa.
Na parte superior encontram-se os grupos experimentais GE1 e GE2 e na parte inferior o
grupo experimental GE3 e o grupo controle GC. .........................................................25
Figura 6. Porcentagem das escolhas do cartão amarelo dos participantes, por grupo, durante
as condições LB, B1 e B2. Na parte superior encontram-se os grupos GE1 e GE2 e na parte
inferior o GE3 e o GC. ............................................................................................28
Figura 7. Porcentagem das escolhas coordenadas de cartões amarelos (AAA) e dois cartões
amarelos com um vermelho (AAV) dos participantes dos grupos GE1, GE2, GE3 e GC, nas
condições experimentais. Na parte superior encontram-se os grupos experimentais 1 e 2 e na
parte inferior o grupo experimental 3 e o grupo controle. No eixo x, a linha de base e
condições verbal e não-verbal são representadas, respectivamente, pelas letras LB e B. .....32
Figura 8. Esquema a partir dos dados obtidos, nas condições em que não foi observada a
seleção cultural macrocontingências como proposto por Glenn (2004) e Mallot e Glenn
(2004). ..................................................................................................................34
Figura 9. Esquema dos dados obtidos conceito de metacontingência (Mallot & Glenn,
2006), representando os elementos de contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs),
produto agregado e conseqüência cultural externa a este arranjo.....................................36
xii
Lista de Tabelas
Tabela 1. Descrição dos grupos com os delineamentos experimentais correspondentes.........19
Tabela 2. Reajuste e restante dos recursos na primeira tentativa de acordo com o montando
retirado pelo grupo..................................................................................................20
Tabela 3. Descrição das condições B de acordo com as variáveis sociais introduzidas em cada
condição................................................................................................................22
Tabela 4. Exemplos de falas dos participantes dos grupos experimentais na condição
verbal....................................................................................................................35
1
Skinner (1953) definiu comportamento social como “o comportamento de duas ou
mais pessoas em relação a uma outra ou em conjunto em relação a um ambiente comum”
(Skinner, 1953, p. 325), afirmando, um pouco depois, que o passo inicial para a análise de um
comportamento social seria a do ambiente social, pois “o comportamento social surge porque
um organismo é importante para outro como parte de seu ambiente (p. 325).” No livro
Ciência e Comportamento Humano, a análise do ambiente social é relacionado ao conceito de
comportamentos de pessoas em grupo, em que o autor afirma que “o efeito de um ambiente
social no comportamento pode ser inferido ponto por ponto de uma análise daquele ambiente”
(p. 325). Nesse sentido, a análise do comportamento social deve ser baseada nos princípios da
análise do comportamento individual, em que um comportamento possui uma função em seu
contexto de origem. No comportamento social os organismos se tornam contexto para outros
organismos. O autor explicita essa posição ao defender que os fenômenos sociais seriam
explicados com os mesmos princípios do comportamento individual, ao afirmar em seu texto
acerca do comportamento social, em Ciência e Comportamento Humano:
(...) preocupamo-nos aqui simplesmente com a extensão em que uma análise do
comportamento do indivíduo (...) pode contribuir para o entendimento dos
fenômenos sociais. Aplicar nossa análise aos fenômenos do grupo é um modo
excelente de testar sua adequação, e se formos capazes se explicar o
comportamento de pessoas em grupos sem usar nenhum termo novo ou sem
pressupor nenhum novo processo ou princípio, teremos demonstrado uma
promissora simplicidade dos dados. (Skinner, 1953, p. 326)
Em 1981, Skinner sistematiza o modelo causal da análise do comportamento, seleção
pelas consequências, que ocorreria em três níveis, filogenético, ontogenético e cultural. Nesse
artigo, Skinner estabelece a suscetibilidade às consequências ambientais como o elo entre o
nível filogenético e ontogenético e o surgimento do comportamento verbal como o elo entre o
nível ontogenético e cultural, designando esse último nível como responsável pela seleção de
2
práticas culturais. O autor afirma que o comportamento humano foi se tornando mais social
com o desenvolvimento da musculatura vocal e que não foi preciso nenhum novo tipo de
suscetibilidade de reforçamento do comportamento verbal, sendo a sua distinção de outros
comportamentos, definida pela mediação de outra pessoa ou de ouvinte.
Em 1953, Skinner indicou que em um grupo, o controle social entre os membros pode
ter um efeito poderoso nos comportamentos dos indivíduos desse grupo, afirmando que
quando duas ou mais pessoas manipulam variáveis de um grupo, isso tem um efeito comum
sobre seu comportamento.
(...) geralmente a condição fica satisfeita quando os membros de um grupo
competem por recursos limitados (...) os procedimentos controladores
adquirem certa uniformidade advindas das forças coesivas que levam o
indivíduo a tomar parte na ação do grupo e de seu modo de transmissão de uma
geração para outra. (Skinner 1953, p. 353)
Posteriormente, em 1981, o autor sugere que por meio do comportamento verbal as
pessoas se tornariam mais cooperativas diante de empreendimentos comuns, tornando
possível a seleção de práticas culturais como solução de problemas para um grupo. Nesse
sentido, talvez o comportamento verbal pudesse facilitar a cooperação de pessoas em um
grupo mesmo frente a uma competição por recursos comuns. É importante salientar que a
solução dos problemas do grupo se trata de uma consequência para o grupo e não apenas de
consequências individuais. Este ponto destacado por Skinner (1981) mostra a necessidade de
diferenciação entre seleção de comportamentos individuais e seleção de práticas culturais,
ainda que seja utilizado o mesmo princípio, seleção pelas consequências. Dessa forma,
Skinner salienta que perguntas acerca de práticas culturais devem ser respondidas por meio da
análise das contingências de sobrevivência do grupo responsável por essas práticas,
apontando ainda que essas práticas são transmitidas de geração para geração, enquanto
3
comportamentos reforçados são transmitidos apenas no sentido de que permanecem como
parte de um repertório comportamental (Skinner, 1953, 1981).
Glenn, (1986), complementa que as contingências de reforçamento fazem parte de um
processo de seleção comportamental, sendo esse processo mediado pela biologia do
organismo, reafirmando uma interação entres os níveis de seleção propostos por Skinner
(1981) ao citar a suscetibilidade às contingências reforçadoras ambientais. Entretanto, para
Glenn, as práticas culturais devem ser analisadas por meio do conceito de metacontingências.
A metacontingência é a unidade de análise que descreve a relação funcional
entre uma classe de operantes, cada operante possuindo sua própria
conseqüência imediata e única, e uma conseqüência em longo prazo comum a
todos os operantes que pertencem à metacontingência. Metacontingências
devem ser mediadas por contingências de reforçamento socialmente
organizadas. (Glenn, 1986, p. 2).
Desse modo, o conceito de metacontingências surgiu da análise das relações entre
contingências operantes organizadas socialmente que possuem uma consequência a longo
prazo, denominada de consequência cultural, responsável pela seleção dessas relações
operantes socialmente organizadas. Glenn (1986) propõe que os esforços realizados
conjuntamente em uma sociedade para a redução da poluição sejam caracterizados como uma
metacontingência. Os esforços seriam as relações operantes socialmente organizadas, a
consequência cultural, a redução da poluição, e o comportamento verbal, o elo entre as
contingências operantes e a consequência cultural, a longo prazo. Assim, consistente com
Skinner (1981), o comportamento verbal seria o responsável pela possibilidade de seleção de
práticas culturais, ao tornar as pessoas mais cooperativas entre si diante de empreendimentos
comuns.
Glenn (1988) faz uma comparação do estudo de práticas culturais com o conceito de
comportamento, que pode ser caracterizado como uma atividade neural e muscular,
4
entretanto, na explicação de sua ocorrência torna-se necessário a análise da relação
comportamento-ambiente. Assim, para Glenn as práticas culturais, por serem constituídas
pelo comportamento de duas ou mais pessoas interagindo entre si, poderiam ser estudadas
pela unidade de análise do comportamento, a tríplice contingência. Entretanto, essa unidade
de análise não é capaz de explicar a evolução e a manutenção de uma determinada prática
cultural. Nesse sentido, Glenn destaca a aproximação entre a análise do comportamento e o
materialismo cultural de Marvin Harris, estabelecendo como o principal ponto de encontro
entre essas duas teorias, o comportamento. O materialismo cultural considera as práticas
culturais como interações comportamentais entre indivíduos, atribuindo características
funcionais a esses comportamentos ao considerar que suas interações resultam em uma
consequência que mantém a prática cultural (Harris, 1979).
Na identificação da aproximação entre Skinner e Marvin Harris, Glenn justifica a
separação das unidades de análise entre contingências individuais e metacontingências a
contingência descreve a relação de um organismo com o ambiente, e a metacontingência
explicaria comportamentos que se tornam ambiente um para outro, formando contingências
entrelaçadas entre si, sendo mantidas e propagadas por uma consequência comum a essas
contingências. Nesse momento, a autora define práticas culturais como um conjunto de
contingências comportamentais entrelaçadas selecionadas por consequências funcionais ao
comportamento agregado dos participantes dessa prática. Dessa forma, Glenn (1988)
estabelece a metacontingência como unidade de análise das práticas culturais em conjunto
com suas consequências agregadas em todas as suas variações, ressaltando, entretanto, a
necessidade de estudos empíricos dessa consequência, bem como da sua função.
Glenn (1989) assegura que existem dois pontos para a perspectiva da evolução cultural
em relação ao comportamento verbal. O primeiro é que a origem das comunidades verbais
5
está nas contingências de reforçamento da seleção natural e, por sua vez, elas são
responsáveis por comportamentos não verbais. A segunda é que comunidades verbais são
contingências de suporte para as contingências de reforçamento como também garantem a
sobrevivência de indivíduos suficientes para manter as contingências de reforçamento que
compreendem as práticas culturais. Dessa forma, Glenn (1989) discute o papel do
comportamento verbal nas práticas culturais, afirmando que esse comportamento funciona
como o suporte das contingências não-verbais, coordenando essas contingências, sendo o elo
entre as contingências comportamentais entrelaçadas (Glenn, 1986;1989) e, ainda, sendo o
responsável pela transmissão da prática a outros membros da comunidade verbal.
Além disso, Glenn (1989, 1991), bem como Skinner (1987) ressalta a importância da
ciência do comportamento realizar descrições acuradas das contingências comportamentais e
culturais que ocorrem na humanidade, a fim de desenvolver soluções ou intervenções para os
problemas decorrentes dessas práticas culturais. Em 1991, Glenn define as contingências
comportamentais entrelaçadas (CCEs), considerando o papel de ação e de ambiente para
comportamentos de outros. É importante salientar ainda que esse conceito já foi apontado por
Skinner (1953, 1957) e De-farias (2005) tanto com a denominação de sistemas entrelaçados,
como com entrelaçamento de comportamentos (Skinner, 1957). Para esses autores, um
comportamento poderia ser classificado como social se a conseqüência para um
comportamento emitido por uma pessoa houvesse sido produzida por outra. Assim, o conceito
de contingências comportamentais entrelaçadas pode ser discutido pelo duplo papel que os
elementos de suas contingências possuem. Nesse sentido, um elemento que possui função de
comportamento em uma contingência A, pode adquirir função de ocasião para outro
comportamento em uma contingência B.
6
Glenn (1991) discute a importância de intervenções para mudança comportamental em
um grupo de pessoas, destacando intervenções tais como sobre a prática de fumar de diversas
pessoas (ver Biglan, 1991). Assim, busca-se intervir sobre o entrelaçamento de CCEs, no qual
o comportamento de fumar estaria inserido. Além disso, afirma que os próximos passos para o
desenvolvimento de intervenções culturais seria a manipulação experimental de diversas
CCEs para verificação de efetividade na produção de consequências. No entanto, em 2004, a
autora considera que a maior parte dos aspectos da nossa sociedade atual não foram
planejados pelos grupos que viveram anteriormente, mas que essas mudanças emergiram
naturalmente a partir da interação dos comportamentos humanos com as contingências de
seleção ao longo da história. Planejamentos sistematizados iniciarão no momento em que as
práticas culturais vigentes passarem a trazer conseqüências não desejáveis para os grupos que
as desenvolvem.
Glenn (2004) discorre ainda acerca do comportamento operante, destacando as
características desse tipo de seleção comportamental para a emergência do fenômeno cultural.
O fato de o ser humano ter desenvolvido filogeneticamente a alta sensibilidade às
contingências de seleção resultou em uma preponderância de eventos sociais no
comportamento individual que facilitaram o surgimento do fenômeno da cultura, retomando o
conceito de cultura discutido em 1991, como comportamentos transmitidos socialmente.
Com o objetivo de descrever outras relações presentes em práticas culturais, percebendo que o
conceito de metacontingências não poderia descrever todas essas relações, Glenn (2004),
Mallot & Glenn (2004) e Mallot & Glenn (2006) apresentam o conceito de
macrocontingências, constituído pela relação entre uma prática cultural e a soma cumulativa
das consequências de comportamentos que constituem a prática. Dessa forma, para as autoras,
na macrocontingência uma soma de respostas semelhantes entre si (e.g., fumar cigarros,
7
estilos de cabelo e dirigir carros), repetidas por diferentes pessoas, com diferentes
consequências para cada comportamento. Essa soma dos efeitos das respostas resulta em um
efeito cumulativo, que, entretanto, não possui nenhuma relação de dependência entre as
contingências. Embora a autora ressalte que uma relação Se/Então entre os efeitos das
respostas dos organismos e o produto cumulativo, ela aponta que essa relação não é uma
relação de continncia, não havendo seleção cultural das respostas por meio do efeito
cumulativo. O consumo de recursos renováveis na natureza ilustra tal conceito. A prática
cultural seria um grande número de pessoas fazerem uso abusivo dos recursos de um
determinado país, que esses recursos são comuns a todos os seus cidadãos, enquanto o
efeito cumulativo dessa prática seria a diminuição da quantidade desses recursos, ou,
possivelmente, a extinção dos mesmos. Entretanto, apesar da diminuição desses recursos
resultar do macrocomportamento de consumo dos recursos, não ocorre a seleção da prática
cultural por tal efeito cumulativo, pois os comportamentos de um indivíduo não ocorrem em
função dessa conseqüência, tendo, cada comportamento sua consequência operante que o
seleciona. Para que haja uma mudança nesses efeitos cumulativos seria necessário algo que
promovesse a mudança dos comportamentos das várias pessoas envolvidas no processo
(Glenn, 2004).
Glenn (2004) diferencia ainda a macrocontingência da metacontingência, justificando
a utilização do prefixo metadevido à seleção das CCEs, que se configurariam como uma
unidade e resultariam em uma consequência cultural que afetaria a probabilidade de futuras
recorrências das CCEs. As metacontingências seriam unidades de seleção cultural.
Glenn e Mallot (2004) e Mallot & Glenn (2006) adicionam ao conceito de
metacontingências o elemento produto agregado, que se configura como o resultado das
CCEs. É importante ressaltar que ao definir esse novo elemento do conceito de
8
metacontingências, as autoras fazem um análogo ao conceito de comportamento operante,
afirmando que esses comportamentos também possuem diversos efeitos que, entretanto, não
possuem função de consequência para o comportamento em questão. Como exemplo
ilustrativo, as autoras propõem uma situação de um restaurante, em que as CCEs seriam os
trabalhos de atendimento realizados pelos garçons, as instruções fornecidas pelos chefes de
cozinha e a preparação da comida pelo cozinheiro. O produto agregado seria a disponibilidade
das refeições para serem servidas, enquanto os consumidores do restaurante seriam a
consequência cultural que selecionariam o trabalho dos funcionários e a disponibilidade das
refeições. Desse modo, a consequência cultural se configura como externa tanto às CCEs
como ao produto agregado.
As autoras destacam ainda que produtos comportamentais podem necessitar de
intervenções comportamentais ou culturais (Mallot & Glenn, 2006). Segundo as autoras,
quando a condição que causa descontentamento ou ameaça é o produto agregado, ou seja, é
produto do comportamento de muitas pessoas, então o problema é considerado um problema
cultural e deve ser feita uma intervenção cultural. O foco da mudança de comportamento
constituindo esse tipo de prática cultural é a linhagem operante de muitos indivíduos. Assim,
as intervenções para mudanças de produtos agregados em macrocontingências podem também
ser classificadas como intervenções culturais ao configurarem problemas culturais. Para haver
a mudança, o comportamento de muitas pessoas deve ser modificado, pois o produto
agregado resulta desses comportamentos.
Em metacontingências, o produto agregado é conseqüência de recorrentes operantes
de muitos indivíduos, denominados de CCEs, nas quais a conseqüência de um operante,
repetidamente, é ambiente para ocorrência de outro. Se uma consequência cultural que
mantém as recorrentes contingências entrelaçadas e o produto agregado, ocorre uma seleção
9
cultural. Duas razões o dadas para que seja denominada de metacontingência: ela implica
relações contingentes análogas àqueles em uma contingência operante e ela contém muitas
contingências operantes, o que é esquematizado na Figura 2.
Figura 2. Esquema do conceito de metacontingências.
Concluindo, Mallot e Glenn (2006) ressaltam que em uma metacontingência devem
ser aplicadas intervenções culturais, pois as contingências entrelaçadas sobrevivem mesmo
quando algumas linhagens operantes de alguns participantes são alteradas. Em Glenn (2004),
a autora afirmava que, no caso de macrocontingências, o que deveria ser alterado seria o
efeito cumulativo - ou produto agregado (Glenn, 2006), sendo necessária uma intervenção que
altere os vários comportamentos constituintes da prática cultural. A autora afirmou ainda que,
no caso de metacontingências, a modificação seria possível por duas formas: a primeira seria
por meio da modificação de uma consequência cultural que seleciona as CCEs, e a segunda,
seria por meio de variações planejadas nas próprias CCEs.
Comparando os conceitos de macrocontingência e metacontingência, se, no caso da
metacontingência seria possível a mudança da prática cultural por meio de variações nas
CCEs, talvez fosse possível a modificação de uma macrocontingência por meio de uma
10
organização das contingências inicialmente individuais em uma organização de contingências,
formando CCEs. Um dos objetivos do presente trabalho foi o de realizar um análogo
experimental de macrocontingências e fornecer condições para organização de CCEs,
verificando se haveria uma mudança dos comportamentos envolvidos na macrocontingência.
Alguns estudos têm sido desenvolvidos a partir do conceito de metacontingência, o
qual envolve a seleção cultural, sob a abordagem analítico-comportamental. Na área
conceitual aplicada, os estudos como Todorov (1987, 2005), Todorov et al., (2004) Martone
& Banaco (2005), Zortea et al., (2006), Leite, (2006), Machado (2007), Sampaio (2008),
Naves (2008), Nogueira (2008), Da Silva (2008) e Martins (2009) relacionam práticas
culturais a políticas públicas, .aplicando o conceito de macrocontingências e
metacontingências a situações vividas pela mídia, em intervenções públicas e conjunto de leis.
Assim, os autores se utilizaram de leis ou dados estatísticos já existentes e os descreveram nos
termos propostos por Glenn (1986, 1988, 1991, 2004), Glenn e Mallot (2004), Mallot e Glenn
(2006). Dentre esses trabalhos, destaca-se a dissertação de Machado (2007) que realizou um
estudo descritivo de uma intervenção cultural realizada em Brasília, composta de uma
campanha pela Paz no Trânsito” com diversas ações que tinham como objetivo principal o
estabelecimento da prática de atravessar as ruas na faixa de pedestre, diminuindo o número de
acidentes fatais de atropelamento. Antes dessa campanha, a autora analisa a existência de um
problema social resultante da relação pedestre-veículo, uma vez que os motoristas não
respeitavam a faixa de pedestres. Diante disso, houve uma mobilização social promovendo a
união entre a mídia, o governo e a sociedade civil brasiliense em prol da paz no trânsito. Essa
articulação social foi chamada de “Campanha pela Paz no Trânsito”, e foi motivada pelo
“Correio Braziliense”, jornal de maior circulação local, em 1996, logo apoiado pelo governo e
sociedade brasiliense. Em 1997 foi criado o Fórum Permanente pela Paz no Trânsito,
11
conduzido pela Universidade de Brasília, no qual se reuniam representantes do governo e da
sociedade civil. Durante as primeiras reuniões do fórum, foi aprovada uma nova ação, o
respeito à faixa de pedestres. A autora compara as práticas culturais recorrentes pelas ações de
pedestres e motoristas ao conceito de macrocontingência, que esteve presente em todos os
anos pesquisados, de 1995 a 1998. O Fórum Permanente pela Paz no Trânsito que durou de
1997 a 1998 foi analisada pela autora como metacontingência de curta duração. As
contingências comportamentais entrelaçadas foram as ações dos diversos atores sociais
presentes no fórum enquanto a consequência cultural foi apontada como a mudança
comportamental nos repertórios dos motoristas e pedestres, o que levou a uma redução de
índice de atropelamentos. “Esse efeito parece ter sido responsável pela seleção do
entrelaçamento dos representantes no grupo do Fórum, caracterizando, assim, uma
metacontingência” (Machado, 2007, p. 93).
Outras pesquisas foram realizadas na busca de fundamentação experimental tais como
Amorim (2010); Brocal (2010); Gadelha (2010); Vieira (2010); Leite (2009); Cruz (2009);
Bullerjhann, (2009); Caldas (2009); Martone (2008); Baia (2008); Pereira (2008) e Vichi
(2004).
Vichi (2004) utilizou uma matriz com sinais positivos e negativos em que os
participantes deveriam fazer suas escolhas e inseriu uma consequência para o grupo,
analisando se a mesma poderia selecionar as interações entre seus membros, mudando a
consequência cultural diante do comportamento do grupo de cooperar e competir. Os
resultados mostraram variações no comportamento do grupo a partir de modificações da
consequência cultural. Martone (2008), a partir da replicação de Vichi (2004), utilizou-se
também da transmissão cultural, presente no delineamento experimental de Baum e cols
(2004), em que trocas do participante mais antigo do grupo por um novo membro. Os
12
resultados são consistentes com o estudo de Vichi (2004). Leite (2009) acrescenta variáveis
de instrução com participantes confederados e história experimental prévia. Os resultados
mostram que o grupo é sensível à consequência comum, havendo a seleção de interações entre
os participantes e a transmissão cultural. Portanto, influência recíproca sobre as escolhas
dos participantes. Pereira (2008), Caldas (2009), Bullerjan (2009), Amorim (2010); Brocal
(2010); Gadelha (2010); Vieira (2010) utilizaram-se de uma situação em que era apresentado
duas caselas aos participantes contendo uma numeração de 0 a 9 na primeira fileira. Para
ganho de pontos individuais os participantes deveriam apresentar determinados números nas
caselas. Na contingência cultural, a soma dos números dos participantes era condição para
ganho cultural. Em uma segunda condição do experimento, foi retirada a consequência
cultural, denominando o experimento de extinção cultural, sendo avaliado o efeito também da
retirada da consequência individual (Caldas, 2009; Brocal 2010). Bullerjan (2009) realizou o
estudo com quatro participantes. Esse programa foi ainda utilizado para avaliação da seleção
de diferentes produtos agregados, a presença de condições antecedentes em
metacontingências e ainda a intermitência da consequência cultural. (Amorim, 2010; Gadelha,
2010; Vieira, 2010). Os resultados mostram que as interações entre os comportamentos dos
participantes são sensíveis à consequência cultural, sendo possível a seleção de diferentes
produtos agregados, observado o efeito de presença de condições antecedentes e a seleção de
produtos agregados e CCEs com uma consequência cultural em reforçamento intermitente.
Baia (2008) e Cruz (2009) realizaram replicação de Baum e cols. (2004) com uso de
escolha consensual entre os participantes e a transmissão cultural. No procedimento, havia a
construção de uma tarefa pelo grupo e uma consequência cultural contingente a essa tarefa.
Baia (2008) observou a modificação do comportamento dos membros do grupo a partir da
consequência cultural. Cruz (2009) investigou a presença de regras cerimoniais e tecnológicas
13
no controle do comportamento de escolha dos participantes. Os resultados mostram que as
escolhas são sensíveis à consequência cultural, com destaque para as regras cerimoniais.
Finalmente, em um estudo experimental recente, Borba (2010, maio) relatou o
autogerenciamento ético, investigando processos de macrocontingência em uma microcultura
de laboratório. No procedimento, análogo ao conduzido por Vichi (2004), Martone (2008) e
Leite (2009), os participantes receberam consequências imediatas e atrasadas para si e para o
grupo, de acordo com suas escolhas, produzindo um conflito entre as consequências
individuais e as consequências para o grupo, a curto e longo prazo. Os resultados demonstram
que, em grupos sem acesso à escolha dos outros jogadores, os participantes tendiam a realizar
escolhas impulsivas, enquanto o acesso às escolhas aumentavam o número de escolhas
autocontroladas.
Teoria dos Jogos O fenômeno da tragédia dos comuns
Jogos da matemática aplicada são instrumentos que auxiliam o desenvolvimento de
pesquisas sobre práticas culturais, a partir da abordagem analítico-comportamental (e.g.,
Abele & cols., 2005; Brechner, 1977; Costa, 2009; De Alencar, 2008; Jones & Rachlin, 2009;
Martichuski, 1991; Nogueira, 2009; Ortu & cols., 2008; Yi & Rachlin, 2009). A Teoria dos
Jogos é uma área da matemática com estudos experimentais sobre o desenvolvimento de
estratégias para as escolhas, comparando os percursos semelhantes entre os participantes. Os
jogos podem também incluir situações sociais presentes no ambiente natural (Dietz et al,
2001; Fiani, 2004; Lima, 2005).
A tragédia dos comuns é considerada uma das primeiras situações a serem
esquematizadas pelos matemáticos interessados em dilemas sociais. Trata-se de um conceito
central no estudo do comportamento ecológico e sua relação com o ambiente (e.g., Dietz et al,
2001; Fiani, 2004). O conceito presente na tragédia dos comuns é que em uma situação em
14
que um recurso renovável comum a um grupo, o grupo tende a fazer uma utilização sem
restrições, resultando em um rápido esgotamento desses recursos (Dietz et al, 2001; Fiani,
2004, Hardin, 1968)). Essa lógica havia sido observada por Aristóteles e outros filósofos,
que diziam que quanto maior o número de pessoas com acesso a um recurso, menor é o
cuidado que lhe é oferecido, resultando em uma superexploração (Fiani, 2004, Dietz et al.,
2001). A tragédia dos comuns foi inicialmente esquematizada Lloyd (1833), um matemático
que observou e relatou o mau uso de um pasto de ovelhas comuns, resultando na destruição
do pasto. Assim, quanto maior o número de ovelhas alocadas no pasto, maior ganho
individual para os pastores, e ainda, menor sobrevida do pasto. o dilema entre o ganho
individual em curto prazo e o ganho comum para todos os membros do grupo, em longo
prazo. Se os pastores alocassem menos ovelhas no pasto comum, este poderia ser mais
preservado ao longo do tempo, ocasionando um maior ganho para o grupo de pastores em
longo prazo (Dietz, et al.,2001)
O exemplo de Lloyd mostra que a tragédia dos comuns envolve um fenômeno social
que pode ser considerado freqüente no ambiente natural. Em outro exemplo, uma situação de
inverno rigoroso, em uma pequena cidade da Holanda nos anos de 1978 e 1979, resultou em
isolamento da cidade do restante do país e na falta de energia local. Assim, um gerador de
pouca potência era capaz de suprir as necessidades básicas de energia dos habitantes da
cidade, desde que houvesse um consumo restrito. Entretanto, o modo como a energia foi
consumida foi superior à potência do gerador, o que resultou em colapso do equipamento.
Após reparos do gerador e uma reunião dos habitantes estabeleceu-se que algumas pessoas
fiscalizariam o uso da energia a fim de garantir uma demanda sustentável. Dessa vez, o
gerador forneceu energia aos habitantes por um período maior de tempo, mas, novamente
entrou em colapso. Felizmente, antes de um novo conserto do gerador, a situação de
15
isolamento energético foi resolvida na cidade (www.socialdillema.com acessado em
5/11/2010).
Os exemplos descritos do fenômeno da tragédia dos comuns podem ser relacionados
ao conceito de macrocontingências (Glenn, 2004; Glenn & Mallot, 2004; Mallot & Glenn
(2006), por ser possível perceber que os efeitos das respostas dos diversos organismos
presentes na prática cultural (e.g. a alocação de gados no pasto comum ou o uso irrestrito da
energia) resultaram em um efeito cumulativo. (e.g. o fim do pasto e o colapso do gerador).
Esse efeito cumulativo, no entanto, não possui relação de seleção com os comportamentos
observados. A tentativa de controle social por alguns habitantes na cidade que recebia energia
elétrica por meio de um gerador pode ser comparada a uma organização de possíveis CCEs, o
que fez com que o gerador de energia perdurasse por um período maior de tempo.
A partir de elementos da vida cotidiana, envolvendo o fenômeno da tragédia dos
comuns, foi esquematizado o jogo denominado Dilema dos Comuns (denominado também de
Jogo dos Bens Públicos PGG), sendo baseado em situações em que um recurso comum
para o qual várias pessoas podem ter acesso. É importante ressaltar que o recurso pode ser
reajustado e este reajuste é dependente das escolhas dos membros do grupo. O jogo é
comparado ao uso que as pessoas fazem dos recursos renováveis da natureza, como os peixes
de um ecossistema (Dietz et al., 2001). Neste caso há um grupo de pescadores em um
ecossistema, com uma determinada quantidade de peixes pescados pelo grupo. A “taxa de
reprodução dos peixes”, isto é, o cálculo feito a partir do restante de peixes no ecossistema,
após as pescarias, envolve a multiplicação por dois ou três no último caso, resultará em uma
diminuição do número de peixes para o grupo, podendo alcançar sua extinção. A Figura 2
apresenta o esquema do Dilema dos Comuns com o exemplo da extinção dos peixes do
ecossistema.
16
Figura 3. Esquema do jogo Dilema dos Comuns e uma possível solução adotada pelos
participantes/pescadores. Neste esquema haverá uma diminuição dos recursos do grupo
ocasionado pelo consumo exacerbado dos seus membros fenômeno denominado de
Tragédia dos Comuns.
Hardin (1968), em um ensaio acerca do fenômeno da tragédia dos comuns, reflete
sobre os comportamentos dos organismos envolvidos em um grupo. A cada peixe retirado do
tanque um lucro na função (+1) para o pescador, que o peixe retirado do grupo é agora
uma propriedade individual e uma despesa de (-1) que é dividida entre os membros do grupo.
Assim, do ponto de vista de um pescador a despesa ao ser dividida pelo grupo torna o seu
lucro maior. Entretanto, se outros pescadores seguirem esta estratégia ocorrerá o fenômeno
tragédia dos comuns, a extinção dos recursos. Hardin busca evitar a tragédia dos comuns,
questionando como legislar o comedimento que deve ocorrer entre os participantes do grupo,
a fim de evitar o esgotamento dos recursos. Uma das opções apresentadas seria a privatização
do bem comum, embora possa não parecer uma solução justa para todos que utilizem tal
recurso. Assim, não é necessário proibir o consumo exacerbado”, mas torná-lo mais caro aos
seus consumidores, o que ocorre com as multas de trânsito o estacionamento está livre, mas
estacionar naquele local acarretará em multas. Ademais, é reconhecido que as multas não
solucionariam todos os problemas ocasionados pelo consumo dos bens comuns. Portanto,
Hardin (1968) considera que é preciso haver um controle social para haver uma diminuição
dos gastos individuais, diante de um bem comum, mas pondera sobre a supervisão dos
17
agentes fiscalizadores, quando se tratar de um bem comum de toda uma sociedade, afirmando
de modo pessimista que não haveria uma solução técnica para o problema
A interface entre a matemática e a psicologia tem sido observada na aplicação das
teorias dos jogos em estudos experimentais (Abele & cols., 2005; Brechner, 1977; Costa,
2009; De Alencar, 2008; Jones & Rachlin, 2009; Martichuski, 1991; Nogueira, 2009; Ortu &
cols., 2008; Yi & Rachlin, 2009). Yi e Rachlin (2009) aplicaram o jogo do Dilema dos
Prisioneiros (PDG), investigando as relações entre o número de participantes e as estratégias
adotadas pelos participantes. Cinco participantes jogavam ao mesmo tempo sem se comunicar
uns com os outros e acreditavam estar jogando entre si, mas na verdade, jogavam com
jogadores virtuais com diferentes estratégias. Os participantes deveriam escolher entre X
(competir) e Y (cooperar). Os resultados mostraram uma maior frequência de cooperação
para os participantes que jogaram a estratégia Tit for Tat (TFT)
1
. Outros estudos uniram o
conceito de metacontingência com a teoria de jogos. Uma conseqüência comum aplicada ao
comportamento de todos os jogadores poderia selecionar determinados arranjos de
contingências operantes, ou de estratégias adotadas pelos membros de um grupo em PDG
com ou sem a interação verbal. A consequência cultural contingente a diferentes arranjos de
respostas entre os membros de um grupo selecionou diferentes arranjos ou escolhas em
grupos verbais e não-verbais, demonstrando a possibilidade de CCEs sem a necessidade da
verbalização entre os jogadores. Nesses grupos, em que os participantes apenas sabiam a
escolha dos outros jogadores, a organização de CCEs demorou um tempo maior para ocorrer
do que nos grupos verbais. (Costa, 2009; Nogueira, 2009; Ortu & cols. 2008).
1
Essa estratégia se trata de escolher a escolha do outro participante na tentativa anterior.
18
Quanto ao jogo do Dilema dos Comuns (PGG), Jones e Rachlin (2009), Abele (2005)
e De Alencar (2008) investigaram por meio de delineamento de grupos conceitos como o
desconto do atraso e o autocontrole, além do tempo que os recursos seriam utilizados. Os
resultados mostram que os jogadores tendem a consumir os bens públicos individualmente,
com um baixo percentual de doações ao grupo, apesar do reajuste. O tamanho do recurso,
controle social via regras de persuasão moral, o reforçamento, a punição, a privatização foram
investigados por Brechner (1977) e Martichuski & Bell (1991).
Brechner (1977) estudou uma situação de PGG em grupos investigando o tamanho do
recurso como variável para o não esgotamento dos recursos, sendo o reajuste controlado por
um esquema de reforçamento DRL. A taxa do esquema dependia da quantidade de recursos
existentes, sendo um valor baixo para uma quantidade grande de recursos e vice-versa, de
modo que quanto maior a quantidade de recursos restantes antes do reajuste, mais rápida a
taxa de crescimento. O autor dividiu grupos com diferentes quantidades iniciais de recurso,
encontrando que o grupo com menor quantidade de recurso, se utilizou do mesmo de forma
mais otimizada que os outros.
Martichuski e Bell (1991) investigaram controle social, privatização, reforçamento e
punição individual como variáveis independentes na situação no jogo Dilema dos Comuns.
Para tanto, destinaram 15 recursos a diferentes grupos com três participantes cada com uma
taxa de reajuste dependente da quantidade de recursos existentes. Os grupos eram
denominados Persuasão Moral, Estrutura Básica e Privatização. O primeiro grupo recebia
regras de como usar os recursos, enquanto o de Estrutura Básica não recebia regra nenhuma.
O grupo Privatização tinha os recursos divididos igualmente entre os participantes desde o
início do jogo, de modo que cada um recebeu cinco. Os três grupos passaram pelas condições
de reforçamento, punição e extinção, em que recebiam feedbacks acerca de sua utilização dos
19
recursos. As autoras encontraram que os grupos Persuasão Moral e Privatização fizeram um
melhor uso dos recursos, principalmente nas condições de reforçamento e punição.
O objetivo do presente estudo é analisar o fenômeno da macrocontingência utilizando-
se do jogo Dilema dos Comuns. O PGG possibilita a criação de um análogo experimental de
uma macrocontingência, envolvendo um problema social voltado para a extinção de recursos
públicos destinados a um determinado grupo. Entre os objetivos específicos estão investigar o
efeito: (1) das escolhas entre os participantes e (2) da comunicação entre os membros do
grupo, analisando a possibilidade desta resultar na produção de contingências
comportamentais entrelaçadas (CCEs), um dos elementos da metacontingência. Assim, uma
intervenção cultural é implementada a interação verbal entre os participantes o que poderá
resultar na seleção de determinados arranjos de escolhas adotados pelos membros de um
grupo, e ainda, na manutenção de tais estratégias mesmo após a suspensão do controle social.
Método
Participantes
Doze estudantes da Universidade de Brasília foram recrutados por meio de disciplinas
introdutórias do curso de psicologia e de disciplinas da psicologia ofertadas a outros cursos.
Os participantes foram cinco homens e sete mulheres com idade entre 19 e 28 anos.
Setting e Instrumento
Foi utilizado um microcomputador com uma planilha desenvolvida no Microsoft
Office Excel® para o controle de registros dos dados, do total de recursos do grupo e das
escolhas dos participantes. Foram utilizados também mini-cartões com os números 2, 4 e 6
com as cores amarelo, vermelho e verde, respectivamente, além de uma caixa onde eram
20
colocados os mini-cartões para escolha dos participantes. Duas divisórias de folhas de papel
cartão medindo 1 m de comprimento por 1 m de altura formaram três cabines distantes entre
si cerca de 1 m de distância. Essas cabines separaram os participantes durante todo o
experimento, impedindo contato visual e acesso às escolhas dos membros do grupo. Os
participantes foram expostos a apenas uma sessão realizadas no laboratório de Família,
Grupos e Comunidade da Universidade de Brasília, sempre ao meio-dia, com a duração de
aproximadamente uma hora. A Figura 4 mostra a disposição da experimentadora, dos
participantes, e ainda, os instrumentos e materiais utilizados.
Figura 4. Esquema da sala de experimentação com as experimentadoras e materiais utilizados.
Procedimento
21
Inicialmente, cada participante leu e assinou o termo de consentimento livre e
esclarecido (ver Anexo 1), o qual apresentou os objetivos do estudo e informações gerais
sobre a tarefa. Cada hora de participação na pesquisa resultou em 0,5 pontos em uma
disciplina do Departamento de Processos Psicológicos Básicos, do Instituto de Psicologia,
com um total máximo de 5 pontos em 100 pontos, na avaliação final das disciplinas. Esses
pontos adicionais poderiam também ser obtidos pelos estudantes em procedimentos didáticos
alternativo. Os 5 pontos foram acrescentados à nota final de aprovação, portanto, não
alteravam uma menção de reprovação para uma menção de aprovação. Ao final do
experimento, os pontos obtidos (“os peixes”) foram trocados por dinheiro, tendo cada ponto o
valor de 0,03 centavos.
O experimento consistiu da aplicação do Jogo Dilema dos Comuns. Foram utilizadas
três condições: Linha de Base (Condição A) e duas condições de intervenção com o controle
social (Condições B1 e B2). Três grupos experimentais e um grupo controle foram assim
denominados GE1, GE2 e GE3 e GC. O grupo GE1 foi submetido a uma sessão com um
delineamento AB1B2A, sendo balanceada a sequência das condições B1 e B2 para o GE2
(AB2B1A). O GE3 passou por duas exposições seguidas à condição B1 (AB1B1A), e ainda, o
grupo controle foi exposto a quatro sessões de Linha de Base (AAAA). As sessões duraram
em média 50 minutos. Na Tabela 1 estão descritos os grupos e os delineamentos programados
para todos os grupos citados anteriormente.
22
Tabela 1. Descrição dos grupos com os delineamentos experimentais correspondentes.
Grupos
Delineamentos
GE1
A B1 B2 A
GE2
A B2 B1 A
GE3
A B1 B1 A
GC
A A A A
No início da sessão, um cenário foi apresentado aos participantes no qual eles
possuíam um tanque com 100 peixes e poderiam pescar para si mesmo por meio de mini-
cartões inseridos em uma caixa. Os peixes restantes no tanque iriam se reproduzir e a
quantidade de peixes, ao final das escolhas dos três participantes, era comunicada a todo o
grupo. Caso sobrassem peixes ao final de uma condição, eles seriam divididos igualmente
entre os participantes e cada peixe equivaleria a um ponto, sendo trocados por uma quantia de
R$ 0,03 ao final da sessão. Os participantes deveriam retirar um mini-cartão amarelo,
vermelho ou verde da caixa, associados a 2, 4 e 6 peixes, respectivamente. Após a escolha dos
três participantes era realizado um cálculo de reajuste dos peixes, dependendo do montante
retirado do recurso inicial. Assim, uma quantidade menor de recursos retirados pelo grupo
resultava em um aumento destes a cada tentativa, enquanto uma maior retirada dos recursos
pelo grupo resultava em sua diminuição. Na Tabela 2 estão dispostos os valores do montante
(total retirado pelo grupo) e do reajuste em porcentagem.
23
Tabela 2. Reajuste e restante dos recursos na primeira tentativa, de acordo com o montante
retirado pelo grupo.
De acordo com o reajuste mostrado na Tabela 2, para que os peixes não se esgotassem,
a escolha dos participantes deveria ser pelo cartão amarelo. Ainda assim, se os recursos já
estivessem em uma quantidade abaixo de 70 peixes, eles se esgotariam. Caso dois
participantes fizessem a escolha pelo cartão amarelo e um deles pelo vermelho desde o início,
com o tanque do grupo possuindo no mínimo 97 peixes, os peixes também aumentariam de
número. O critério de finalização das sessões foi determinado pela quantidade de peixes no
tanque - a 18 ou 200 peixes ou, ainda, pela oscilação entre consumo irrestrito e otimizado
dos recursos com quantidade próxima a 200. A seguir serão descritas as condições
experimentais.
Linha de Base Na Condição A, o objetivo foi realizar um análogo experimental de
uma macrocontingência, a partir do cenário descrito acima. Nesta condição, os participantes
não mantiveram contato visual, interações verbais e tampouco tinham às jogadas dos demais
participantes, impedindo possíveis combinações e forçando-os a jogarem individualmente. As
Montante retirado pelo
grupo
Reajuste
(%)
Recursos restantes da primeira tentativa após
reajuste
6
9
102,46
8
9
100,28
10
8,5
97,65
12
8,5
95,48
14
8,0
92,88
16
8,0
90,72
18
8,0
88,56
24
condições de linhas de base duraram em média 15 tentativas, com exceção do GE1, cuja
segunda exposição à LB tiveram 67 tentativas.
A seguinte instrução foi apresentada aos participantes:
Olá! Imaginem que vocês fazem parte de um grupo. Esse grupo possui um
tanque com 100 peixes. Cada um dos participantes do grupo terá a opção de
retirar peixes do tanque escolhendo um dos mini-cartões da caixa ao lado.
Quando todos escolherem seus mini-cartões, ou seja, for retirada determinada
quantidade de peixes, os peixes restantes no tanque do grupo vão se reproduzir
e haverá um novo montante no tanque. Após a reprodução, eu vou anunciar
quantos peixes possuem no tanque. Ao fim de cada condição do jogo, os
recursos restantes serão divididos entre vocês. Os peixes serão trocados por
uma quantia de R$ 0,03 ao fim do jogo. Durante essa condição vocês não
deverão se ver, conversar ou ter acesso à escolha dos outros participantes do
grupo. Cabe a vocês fazerem uso desses peixes da maneira como acharem
melhor.
Nas Condições B1 e B2, uma intervenção cultural foi implementada pela permissão de
interações sociais no jogo Dilema dos Comuns. Nestas condições, o jogo era o mesmo da
Linha de Base, mas, as escolhas dos participantes eram feitas sequencialmente. Na Condição
B1, foi permitido aos participantes terem acesso às escolhas dos demais membros do grupo,
por meio da repetição em voz alta pela experimentadora das escolhas de cada participante. Na
Condição B2, foi permitido o diálogo entre os participantes, sendo possível a combinação de
estratégias em grupo. Esse diálogo foi permitido a cada duas tentativas de escolhas do grupo,
sendo considerada uma tentativa todos os participantes escolherem seus cartões. O tempo
destinado ao diálogo entre os participantes era de um minuto. Dessa forma, a variável
independente desse estudo foi o contato social entre os participantes, introduzido nas
Condições B1 e B2. As condições B2 tiveram em média 30 tentativas, enquanto a condições
B1 tiveram, em média, 20 tentativas, com exceção do GE2, em que houve 39 tentativas. A
Tabela 3 mostra a organização das condições e das variáveis sociais introduzidas.
25
Tabela 3. Descrição das Condições A, B1 e B2, de acordo com as variáveis sociais introduzidas
em cada condição.
Condições
Variáveis sociais
Se ver
Se falar
Saber a escolha do outro
A Linha de Base
B1 Não visual e não verbal
X
B2 Não visual e verbal
X
X
Os participantes receberam a mesma instrução da Condição de Linha de Base,
alterando apenas as instruções específicas referentes ao acesso à jogada do outro participante
em B1, e ainda, que poderiam conversar entre si em B2.
Instrução Condição B1: “Nessa condição a escolha será seqüencial e eu irei
dizer a escolha de cada um em voz alta. Dessa forma, vocês terão acesso ao
que os outros estão escolhendo.
Instrução Condição B2: Nessa condição vocês poderão se comunicar em alguns
momentos. A comunicação deve ser realizada apenas quando solicitada.
Resultados
O objetivo desse experimento foi produzir um análogo experimental de uma
macrocontingência e de um problema social da escassez de recursos de um grupo,
representado pelo jogo Dilema dos Comuns. Na Linha de base e, nas condições em que era
permitido o contato social a intervenção cultural, por meio do conhecimento das escolhas
dos participantes ou, ainda, da interação verbal analisou-se a produção de entrelaçamentos
de comportamentos que resultassem no aumento dos recursos. Para tanto, deve-se considerar
que, neste jogo o reajuste dos recursos teve a função de conseqüência cultural externa para
contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs) e produto agregado (total de peixes
retirados do tanque).
26
A seguir serão apresentadas as Figuras 5, 6 e 7 com os dados obtidos de todos os
grupos GE1, GE2 e GC em suas respectivas condições de Linha de Base, B1 e B2. A
sequência da exposição dos grupos às condições experimentais está descrita nas legendas.
Vale ressaltar que a Figura 5 apresentará dados relativos ao recurso do grupo com aumento
ou esgotamento do bem público o que será explicado pelas escolhas feitas por cada membro
do grupo, apresentadas nas Figuras 6 e 7.
A Figura 5 traz a disposição dos recursos nas condições experimentais, sendo
representado o aumento ou a diminuição dos recursos em cada condição, nos quatro grupos.
Todos os grupos passaram por uma exposição à Linha de Base (LB) antes e após a exposição
às condições experimentais B1 e B2. Houve esgotamento dos recursos nas sessões iniciais de
Linha de Base em todos os grupos, não havendo esgotamento dos mesmos nas sessões de
retorno à Linha de Base, com exceção do grupo controle, em que houve esgotamento dos
recursos em todas as condições. Nos três grupos experimentais houve aumento dos recursos
em duas condições e consumo de todos os recursos nas demais. Em GE1 e GE2, o aumento
dos recursos ocorreu na condição verbal (B2) e no retorno à linha de base (LB2), enquanto em
GE3 ocorreu na segunda exposição à condição não verbal (B1.2). No GE1, em que os
participantes foram expostos inicialmente à condição não verbal e, posteriormente à condição
verbal, observa-se que houve esgotamento dos recursos na condição não verbal, não
ocorrendo tal resultado na condição verbal. Além disso, é interessante observar que nesse
retorno à LB, os participantes alternaram suas jogadas entre consumo de mais e de menos
recursos, quando próximos a 200 peixes no tanque. No GE2, em que o grupo foi exposto
inicialmente à condição verbal, percebe-se que não houve esgotamento do recurso, entretanto,
tal esgotamento voltou a ocorrer na condição não verbal, em que os participantes apenas
27
sabiam a escolha do outro jogador. Em GE3, em que houve duas exposições à condição não
verbal, percebe-se que o esgotamento dos recursos ocorreu somente na primeira exposição. .
28
0
25
50
75
100
125
150
175
200
1
4
7
10
13
16
19
22
25
28
31
34
37
40
43
46
49
52
55
58
61
64
67
LB
B1
B2
LB2
0
25
50
75
100
125
150
175
200
1
3
5
7
9
11
13
15
17
19
21
23
25
27
29
31
33
35
37
39
LB
B2
B1
LB2
0
25
50
75
100
125
150
175
200
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
LB
B1. 1
B1.2
LB2
0
25
50
75
100
125
150
175
200
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
LB
LB2
LB3
LB4
Tentativas
Recurso
GE1
GE2
GE3
GC
Figura 5. Quantidade de recursos ao longo das tentativas em todas as condições da pesquisa.
Na parte superior encontram-se os grupos experimentais GE1 e GE2 e na parte inferior o
grupo experimental GE3 e o grupo controle GC.
A Figura 6 mostra a porcentagem das escolhas do cartão amarelo pelos participantes
nas diferentes condições, seguindo a seqüência de exposição. Os participantes, em geral,
apresentaram baixas porcentagens de escolha pelo cartão amarelo na primeira exposição à LB.
Somente GE2 mostrou uma porcentagem de 58% das escolhas do cartão amarelo. Entretanto,
como essas escolhas não foram coordenadas, não produziu aumento do recurso. É importante
29
ressaltar que foram denominadas escolhas coordenadas as escolhas combinadas entre os
participantes ou que seguiram um padrão de escolhas por pelo menos três tentativas seguidas.
Todos os resultados relativos ao recurso foram apresentados na Figura 5. Em todos os grupos
houve aumento das escolhas pelo cartão amarelo nas condições em que seus recursos
aumentaram. No GE1, na Condição B1.1 não se verificou aumento considerável das escolhas
do cartão amarelo, apesar dos participantes terem acesso à escolha dos demais. Na condição
verbal (B2), entretanto, verificou-se um aumento das escolhas desse cartão pelo grupo para
90%. No retorno à LB, observa-se uma continuidade da escolha do cartão amarelo por dois
participantes. Um dos participantes escolheu o cartão vermelho, o que pode ser constatado na
Figura 7 na escolha coordenada Amarelo/Amarelo/Vermelho (AAV) que produziu o aumento
do recurso.
No GE2, inicialmente exposto à condição verbal, observa-se um aumento das escolhas
do cartão amarelo pelo grupo, chegando a uma porcentagem de mais de 75%. Entretanto,
houve uma diminuição dessas escolhas na condição não verbal, e consequente esgotamento
dos recursos (ver Figura 5). No retorno à Linha de Base, no entanto, a escolha do cartão
amarelo nesse grupo voltou a aumentar, chegando aos 100% para um dos participantes e,
novamente a mais de 75% para o grupo. No GE3, exposto a duas condições não verbal
consecutivas, a escolha do cartão amarelo pelo grupo aumentou na primeira exposição,
entretanto, isso foi devido principalmente à escolha de um participante, o que não foi
suficiente para haver o não esgotamento dos recursos.Na segunda exposição à condição não
verbal, essas escolhas atingiram os 100% das escolhas dos participantes. No retorno à LB, a
escolha desse cartão por um participante diminuiu, mas a escolha do grupo permaneceu
próxima a 100. Na Figura 7, pode-se perceber também que esse participante (P2) escolheu o
cartão vermelho. No grupo controle, percebe-se uma tendência por escolher mais amarelos do
30
0%
25%
50%
75%
100%
LB1
B2
B1
LB2
P1
P2
P3
Grupo
0%
25%
50%
75%
100%
LB
B1
B2
LB2
0
0,25
0,5
0,75
1
LB1
LB2
LB3
LB4
0%
25%
50%
75%
100%
LB
B1.1
B1.2
LB2
Condições
Porcentagem das escolhas do cartão amarelo
GC
GE1 GE2
GE3
P2, entretanto, essa escolha diminuiu ao longo das exposições e porque não foi acompanhada
pelos demais participantes determinou o esgotamento dos recursos. A escolha do grupo
controle pelo cartão amarelo foi sempre menor que 50% em todas as condições.
Figura 6. Porcentagem das escolhas do cartão amarelo dos participantes, por grupo, durante as
condições LB, B1 e B2. Na parte superior encontram-se os grupos GE1 e GE2 e na parte
inferior o GE3 e o GC.
31
A Figura 7 mostra as escolhas coordenadas AAA e AAV, que representam,
respectivamente, as escolhas do cartão amarelo e de dois cartões amarelos e um vermelho por
todos os participantes de um grupo. Os entrelaçamentos ou as escolhas coordenadas AAA e
AAV produziam aumento dos recursos dependendo da quantidade de recursos existentes. No
caso da escolha AAA, era necessário que os recursos estivessem na faixa dos 70 peixes,
enquanto a escolha coordenada AAV somente resultaria em um aumento dos recursos, caso
fosse realizada desde o início, com no mínimo 97 peixes no tanque (recursos do grupo). No
entanto, tais entrelaçamentos AAA e AAV podem também resultar em menor ganho
individual de peixes. Esses entrelaçamentos ocorreram quando a escolha do cartão amarelo
influenciava a escolha de outro participante ou, ainda, por meio da combinação de estratégias,
resultando em baixas quantidades de retirada do tanque, o que produziu aumento do recurso
(conseqüência cultural externa às coordenações ou às CCEs e ao produto agregado). Dessa
forma, é possível perceber que tais entrelaçamentos só podem ocorrer nas condições B1 e B2,
em que a possibilidade da influência da escolha do outro e da combinação de estratégias.
Como pode ser observado na Figura 7, os grupos GE1, GE2 e GE3 mostram a presença das
escolhas coordenadas entre AAA e AAV nas condições em que houve controle social.
Entretanto, GE1 apresentou escolhas individuais alternadas entre retirar 2 e 6 peixes em LB2,
produzindo aumento e esgotamento dos recursos.(ver GE1 na Figura 5). Finalmente, vale
ressaltar que as escolhas coordenadas dos grupos GE1, GE2 e GE3, citadas acima, foram
todas seguidas pelo aumento do recurso.nestas condições.
No GE1, observa-se que não houve escolhas coordenadas entre os cartões AAA ou
entre os cartões AAV em LB1. Na condição não verbal (B1), mesmo conhecendo as escolhas
dos demais participantes, não houve coordenação AAA entre as escolhas dos participantes, e
ainda, uma baixa porcentagem de escolhas entre os cartões amarelo com um vermelho (AAV
32
- 8,33%). Na condição verbal (B2), as escolhas coordenadas entre cartões amarelos (AAA) e
dois cartões amarelos com um vermelho (AAV) alcançaram mais de 90% das escolhas, em
todas as tentativas. Finalmente, em LB2, houve uma queda dos entrelaçamentos com o cartão
AAA e aumento de escolhas coordenadas AAV (47%). Entretanto, como essas escolhas foram
feitas desde o início dessa condição, produziram aumento dos recursos. E ainda, em duas
ocorrências, observou-se a diminuição dos recursos quando a quantidade de peixes
aproximou-se de sua capacidade máxima 200 peixes no tanque isto porque poderia haver
consumo sem prejuízo ao grupo. Esses consumos ocorreram com o cartão verde, o que
explica a baixa porcentagem das escolhas coordenadas entre amarelo e vermelho (AAV),
apesar do não esgotamento dos recursos.
No GE2, observa-se uma alta porcentagem de escolhas de cartões AAV desde LB1, no
entanto, essas escolhas não resultaram em aumento dos recursos., pois ocorreram quando os
recursos estavam abaixo do limiar, o que impossibilitava aumento. As porcentagens de
escolhas de cartão amarelo AAA em LB1 foram abaixo de 25%. Na condição verbal (B2),
houve um aumento dos entrelaçamentos de AAA para 50% das escolhas, atingindo os 75%
das escolhas o total de AAA e AAV, o que resultou no aumento dos recursos. Esses
entrelaçamentos voltaram a diminuir na condição não verbal (B1), tendo AAA a porcentagem
de 30% e o total de AAA e AAV de 58%. Essas escolhas não foram coordenadas de forma a
resultar em aumento dos recursos. No retorno à linha de base (LB2), não obstante, houve um
novo aumento das escolhas desses dois conjuntos de cartões (AAA e AAV), atingindo um
total de 90% das escolhas, o que conduziu ao aumento dos peixes no tanque.
33
0,00%
25,00%
50,00%
75,00%
100,00%
LB1
LB2
LB3
LB4
0%
25%
50%
75%
100%
LB
B1.1
B1.2
LB2
0%
25%
50%
75%
100%
LB
B1
B2
LB2
0,00%
25,00%
50,00%
75,00%
100,00%
LB1
B2
B1
LB2
AAA
AAV
AAA/AAV
Condições
Porcentagens das escolhas coordenas AAA e AAV
GE1
GE2
GE3
GC
Figura 7. Porcentagem das escolhas coordenadas de cartões amarelos (AAA) e dois cartões
amarelos com um vermelho (AAV) dos participantes dos grupos GE1, GE2, GE3 e GC, nas
condições experimentais. Na parte superior encontram-se os grupos experimentais 1 e 2 e na
parte inferior o grupo experimental 3 e o grupo controle. No eixo x, a linha de base e
condições verbal e não-verbal são representadas, respectivamente, pelas letras LB e B.
O GE3 mostrou baixa porcentagem de escolhas do cartão AAA em LB1. Na primeira
exposição à condição não-verbal (B1.1), houve um aumento das escolhas coordenadas
amarelas, principalmente das escolhas com AAV, sendo o total (AAA e AAV) dessas
escolhas 50%. No entanto, essas escolhas não resultaram em aumento dos recursos. Em B1.2,
as escolhas coordenadas do cartão AAA representaram a totalidade das escolhas dos
participantes. E, em LB2, a soma das escolhas AAA e AAV representou a totalidade das
escolhas, havendo uma pequena queda na percentagem de escolhas por cartões AAA. O
Grupo Controle (GC) mostrou uma baixa percentagem de escolhas de cartões AAA em todas
as exposições, tendo as escolhas totais AAA e AAV atingido a mais alta porcentagem (31%)
34
em LB3. Entretanto, essas escolhas não foram suficientes para resultar em aumento dos
recursos.
Discussão
O experimento desenvolvido a partir do jogo Dilema dos Comuns mostrou-se um meio
efetivo para a análise dos elementos componentes nos conceitos de macrocontingência e
metacontingência propostos por Glenn (2004), Glenn e Mallot (2004) e Mallot e Glenn
(2006). Na primeira condição de linha de base (A), o menor consumo de peixes via escolhas
do cartão amarelo (representando a retirada de 2 peixes versus os cartões vermelho e verde,
com a retirada de 4 e 6 peixes, respectivamente),ocorreu em baixa porcentagem, sugerindo
que as escolhas foram emitidas com base no maior ganho individual. Assim, uma baixa
porcentagem de escolhas coordenadas AAA e AAV entre os participantes foi observada (ver
Figuras 6 e 7). Estas estratégias conduziram à diminuição do recurso, restando 18 peixes no
tanque, o que sinalizou a extinção do recurso disponível ao grupo em (A) (ver Figuras 6 e 7).
Este padrão de respostas pode ser interpretado por meio do conceito de macrocontingências
(Glenn, 2004; Mallot & Glenn, 2004) segundo o qual, um conjunto de contingências tríplices,
envolvendo um grupo de pessoas produz um efeito cumulativo no meio social (Mallot &
Glenn, 2006).
A macrocontingência teve como característica a não comunicação entre os membros, e
ainda, o desconhecimento das escolhas emitidas por cada participante, no transcorrer das
Condições LBs. Portanto, as escolhas de cada membro ocorreram de modo independente, não
havendo relação funcional entre as contingências tríplices envolvendo a escolha de cada
membro do grupo. A escolha recorrente de um alto consumo de peixes pelos participantes
produziu um efeito cumulativo o esgotamento dos peixes do tanque com efeitos adversos
sobre todo o grupo. Portanto, a ausência de escolhas coordenadas (AAA ou AAV) pode ser
35
considerada um análogo experimental de uma macrocontingência. Na Condição LB1, o
reajuste não teve a função de selecionadora de contingências comportamentais entrelaçadas
ou de escolhas coordenadas.
A diminuição dos recursos do grupo nas condições em que não havia controle social
(Condições de Linha de Base) pode ser comparada a macrocontingências presentes no
ambiente natural, quando as pessoas fazem uso do recurso comum ao grupo, resultando em
extinção desses bens públicos (e.g., o uso de recursos renováveis da natureza). A instrução
apresentada aos participantes neste estudo contribui para essa comparação com recursos
renováveis ao ressaltar que os recursos seriam peixes e que, a cada escolha dos participantes,
os peixes se reproduziriam. Apesar da instrução, nas Condições (A)s observou-se efeitos
adversos sobre o recurso disponível ao grupo. A Figura 8 mostra a esquematização do
conceito de macrocontingência, com a retirada máxima de peixes o que conduziu ao
esgotamento do recurso público.
Figura 8. Esquema a partir dos dados obtidos, nas condições em que não foi observada a seleção
cultural macrocontingências (Glenn, 2004; Mallot & Glenn, 2004).
36
No transcorrer das condições, novas relações foram observadas, ilustrando, assim, os
elementos componentes do conceito de metacontingência a exemplo do aumento das escolhas
coordenadas AAA e AAV, na Condição B2, com interações verbais (GE1 e GE2). Em B2, era
permitido aos participantes conversarem em alguns momentos pré-determinados do jogo, o
que facilitou a combinação de escolhas coordenadas. O comportamento verbal dos
participantes ilustra os acordos e, portanto, o controle social estabelecido nessa condição. A
Tabela 4 mostra alguns exemplos desses acordos:
Tabela 4. Exemplos de declarações verbais dos participantes dos grupos experimentais na
condição verbal.
Grupo
Exemplos de falas dos participantes
G1
“Eu acho que se todo mundo escolher o amarelo, os peixes se reproduzem mais.
G1
“É pra escolher o cartão amarelo, pra aumentar os peixes”
G1
“Lembra que o que sobra dos peixes no fim do jogo é dividido por todo mundo?
Então, cara, escolhe o amarelo!”
G2
“E se todo mundo colocar a mesma cor?”
G2
“Todo mundo tem que pôr amarelo, é isso!”
O comportamento verbal foi necessário nos grupos GE1 e GE2 para produzir o
entrelaçamento das contingências, pois na condição em que os participantes conheciam as
escolhas uns dos outros, mas não podiam conversar, não houve coordenação AAA e AAV, as
quais produziam aumento dos peixes. No GE2, o grupo foi exposto inicialmente à Condição
B2, em que os participantes podiam conversar, mas, na Condição B1, o houve seleção
cultural, havendo novamente escolhas que ocorriam de modo individual (como sugerido pelas
Figuras 6 e 7). Portanto, é possível considerar semelhança entre as afirmações de Skinner
37
(1953) e Glenn (1991) acerca do papel do comportamento verbal no entrelaçamento de
contingências comportamentais, colocando-o como o suporte das contingências não verbais,
facilitador da coordenação entre essas contingências. Dessa forma, as escolhas coordenadas
entre os participantes nas condições com interações verbais, podem ser relacionadas ao
conceito de CCEs e ao sistema entrelaçado de respostas (Glenn 1991, Skinner; 1953).
O GE3 foi programado após a obtenção dos dados dos grupos GE1 e GE2, com o
objetivo de investigar o surgimento de entrelaçamento das contingências na ausência de
interações verbais. Assim, esse grupo possibilitou a comparação com os dados de Costa
(2009) e Nogueira (2009), os quais utilizaram “grupos verbais” e “não verbais” para produção
de CCEs e seleção cultural. Consistente com os dados obtidos nessas pesquisas, o
entrelaçamento das escolhas ocorreu de forma mais lenta (quando comparado à Condição B2
com interações verbais), apenas após a segunda exposição à Condição B1 (sem interações
verbais entre os participantes).
Nas condições em que se observa o entrelaçamento B2 dos Grupos GE1 e GE2 e na
segunda Condição B1 no GE3 (ver Figura 7), é possível afirmar ainda que há seleção cultural
desse entrelaçamento, sendo possível, novamente, relacionar os dados obtidos ao conceito de
metacontingência (Mallot & Glenn, 2006). Nesse caso, as CCEs seriam as escolhas
coordenadas dos cartões amarelos AAA, produzindo um total de seis peixes retirados do
tanque o produto cultural. De acordo com o conceito, a seleção cultural ocorre por meio da
consequência cultural, isto é, do aumento e sustentabilidade dos peixes, nas condições em que
foram observados os entrelaçamento. O esquema é apresentado na Figura 9.
38
Figura 9. Esquema dos dados obtidos conceito de metacontingência (Mallot & Glenn,
2006), representando os elementos de contingências comportamentais entrelaçadas (CCEs),
produto agregado e conseqüência cultural externa a este arranjo.
A consequência cultural foi o aumento e a sustentabilidade dos peixes, devido a um
reajuste do número de peixes. Pode-se argumentar que o reajuste já estava presente na
primeira Condição de Linha de Base (LB1) o que poderia ter resultado em aumento do
recurso. Entretanto, em LB1 (assim como em LB1, LB2, LB3 e LB4 do GC), não houve
entrelaçamento e, em decorrência, o reajuste não apresentou função de consequência cultural,
não existindo seleção cultural. O conceito de metacontingências é baseado no princípio de
seleção pelas consequências de Skinner (1953, 1981), que se utiliza do conceito de função na
Análise do Comportamento. Segundo Skinner (1953), um fator ambiental adquire a função de
consequência ao selecionar um determinado comportamento. Assim, o reajuste, mesmo
presente em LB1 e em todas as sessões do GC, condições em que não houve seleção cultural,
não adquiriu uma função de consequência cultural.
Observa-se que os grupos GE1, GE2 e GE3 mostraram desempenho semelhante às
condições em que era possível o entrelaçamento nas segundas exposição às Condições de
Linhas de Base (LB2), havendo sustentabilidade dos peixes mesmo sem a possibilidade de
combinação de estratégias e o entrelaçamento dos comportamentos. Esse dado permite uma
CCEs
Produto Agregado
Conseqüência Cultural
39
comparação com o conceito de intervenção cultural de Mallot e Glenn (2006), no qual em
uma macrocontingência, deve-se modificar diversas contingências individuais para obtenção
do efeito cumulativo. Nesse caso, por meio da metacontingência produzida nas condições em
que houve entrelaçamento, houve uma modificação do arranjo das contingências individuais.
Ao produzir uma intervenção cultural com o conhecimento das escolhas dos membros do
grupo, e ainda, com trocas verbais entre os participantes obteve-se uma metacontingência de
forma diferente ao observado na primeira condição experimental. .
Ao comparar com a extinção dos recursos naturais, no entanto, é preciso fazer uma
ressalva ao fato de que o estudo foi realizado com a presença de reajuste em todas as
tentativas. Essa consequência cultural apresentada em esquema de reforçamento contínuo, no
entanto, não ocorre com o valor de reajuste dos recursos renováveis da natureza, o qual, em
geral, possui um valor estimado, apresentado em esquemas de reforçamento intermitente.
Portanto, futuras pesquisas deverão avaliar a inserção de um esquema intermitente de
reforçamento no Dilema dos Comuns, investigando as relações com a seleção e intervenção
cultural. Vasconcelos (03 de setembro de 2010 Comunicação Pessoal) está desenvolvendo
um software para investigar os efeitos de diferentes esquemas de reforçamento sobre as
contingências comportamentais entrelaçadas e os produtos agregados produzidos a partir do
Dilema dos Comuns e do Dilema do Prisioneiro. Estudos recentes mostraram ser possível a
seleção cultural com o esquema de reforçamento variável (VR2) por meio de um programa de
computador que permite a interação de comportamentos dos participantes (Amorim, 2010) ou
ainda, por meio do jogo Dilema dos Prisioneiros (Costa, 2009; Nogueira, 2009; Ortu e Cols.,
2008).
Pesquisas com a aplicação dos conceitos de macrocontingência e metacontingência
vêm sendo desenvolvidas com a utilização do jogo Dilema dos Comuns, avaliando a inserção
40
de um mercado comprador como consequência cultural e o custo de resposta como um modo
de intervenção cultural. (D. C. Costa, 22 de setembro de 2010; N. C. S. Da Silva, 30 de agosto
de 2010 Comunicação Pessoal) É necessário investigar novas formas de intervenção
cultural, a partir da Análise do Comportamento, aplicadas a problemas sociais, uma sugestão
já adiantada por Skinner (1981). O Dilema do Prisioneiro e o Dilema dos Comuns contribuem
com a metodologia da teoria dos jogos ao possibilitarem a programação de análogos
experimentais de problemas sociais e de intervenção cultural. Em tal contexto, novas soluções
podem ser investigadas envolvendo variáveis consideradas por Hardin (1968) como a
privatização de bens públicos e o controle social por meio de regras e multas contingentes ao
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Skinner, B. F. (1953/2000). Ciência e Comportamento Humano (J. C. Todorov & R. Azzi,
trads.). São Paulo: Martins Fontes.
Skinner, B. F. (1978). Reflections on Behaviorism and Society. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall.
Skinner, B. F. (1981). Selection by consequences. Science, 213, 501-504.
Skinner, B.F. (1987). Why we are not acting to save the world. In Laboratório de Psicologia
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46
Todorov, J. C. (2005). Laws and the complex control of behavior. Behavior and Social Issues,
vol. 14, pág. 86-91.
Todorov, J. C. (1987). A constituição como metacontingência. Psicologia, ciência e
profissão, ano 7, nº 1, pp. 09-13.
Todorov, J. C., Moreira, M., Prudêncio, M. R. A. & Pereira, G.C.C. (2004) O Estatuto da
Criança e do Adolescente como metacontingência. In: Maria Zilah da Silva Brandão;
Fátima Cristina de Souza Conte; Fernanda Silva Brandão; Yara Kuperstein Ingberman,
Vera Menezes da Silva, Simone Matin Oliane. (Org.). Sobre comportamento e
cognição: contingências e metacontingências, contextos sócio-verbais e o
comportamento do terapeuta. v. 13, p. 44-51. Santo André: ESETec Editores
Associados
Ulman, J. D. (1998). Toward a more complete science of human behavior: Behaviorology
plus institutional economics. Behavior and Social Issues, 8, 195-217.
Ulman, J. D. (2006). Macrocontingencies and institutions: A behaviorological analysis.
Behavior and Social Issues, 15, 95-100.
Vichi C. (2004). Igualdade ou desigualdade: manipulando um análogo experimental de
prática cultural em laboratório. Dissertação de Mestrado. PUC SP, São Paulo.
Vieira, C. M. (2010). Condições antecedentes participam de metacontingências? Dissertação
de mestrado, PUC SP, São Paulo.
Yi, R., & Rachlin, H. (2004). Contingencies of reinforcement in a five-person Prisoner’s
Dilemma. Journal of the Experimental Analysis of Behavior, 82, 161-176.
Zortea, T. C., Moraes, L. G., Rodrigues, A. B. C. H., Firmino, J. E. C. & Fonseca, K. A.
(2006). Agroturismo e Análise do Comportamento: Uma proposta de análise de práticas
culturais em Venda Nova do Imigrante - ES. em: http://accultura.wordpress.com/textos/
47
ANEXO 1
48
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Você está sendo convidado(a) a participar de uma pesquisa em psicologia sobre a
aprendizagem do indivíduo quando inserido em um grupo. Você poderá decidir livremente
sobre sua participação e poderá também interrompê-la a qualquer momento sem qualquer
ônus.
A pesquisa envolverá uma situação de jogo na qual você fará escolhas de cartões.
Assim, uma sessão de 60 minutos será programada neste estudo. Sinta-se à vontade para fazer
perguntas sobre o trabalho. Neste momento, todas as informações gerais serão
disponibilizadas, entretanto, os detalhes quanto aos objetivos e resultados serão apresentados
após o final do experimento.
A pesquisa faz parte de uma dissertação de mestrado a ser desenvolvida por mim,
Elayne Esmeraldo Nogueira, na Universidade de Brasília, no Instituto de Psicologia, no
Programa de Ciências do Comportamento, sob a orientação da Profa Dra. Laércia Abreu
Vasconcelos. Você poderá entrar em contato comigo por meio do telefone (61) 82116820 ou
com o comitê de Ética da Faculdade de Ciências das Saúde, pelo telefone (61) 33073799.
Finalmente, vale ressaltar que esta pesquisa não envolve testes psicológicos,
psicofármacos ou riscos para a integridade física ou psicológica dos participantes. Ademais,
os resultados serão divulgados com proteção da identidade dos participantes. É valiosa a sua
participação neste trabalho, ao contribuir para a compreensão de importantes relações entre o
ambiente e o comportamento humano.
Este documento Termo de Consentimento Livre e Esclarecido será por mim
assinado e por você, como participante da pesquisa, sendo uma cópia entregue a você e outra
arquivada pelas pesquisadoras.
Agradecemos pela colaboração,
_______________________________ __________________________________
Elayne Esmeraldo Nogueira Prof. Dra. Laércia Abreu Vasconcelos
Pesquisadora Orientadora
Eu, _________________________________________________, estou de acordo
com a minha participação, e me disponho a colaborar com a coleta de dados necessários à
realização da pesquisa acima descrita.
__________________________________
Participante da Pesquisa
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