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hegemonia da Vila fragmentou-se somente após a transferência da Sede da Comarca para
Pesqueira, em 1836.
Notadamente, o destaque social da localidade impeliu durante anos a migração de
indivíduos oriundos de regiões diversas. Além do mais, em decorrência da abundância dos
rios e fertilidade dos solos, os brancos perseguiram, expulsaram e se apropriaram das terras
indígenas locais, como se verifica nas palavras de Barbalho (1977, p.45), no excerto a seguir:
“(...) desde a invasão dos brancos, os índios pernambucanos não mais conheciam o
que fosse paz, nem sossego – e, de perseguição em perseguição, não esquentavam
canto durante muito tempo, sobrevivendo tangidos como animais daninhos,
brutalizados, escravizados, prostituídos, massacrados ou exterminados a ferro e
fogo, sem apelação. O cruel tangimento inicia-se no litoral, prolongando-se até o
extermínio total dos legítimos donos da Terra de Pernambuco, atravessando o
Agreste de ponta a ponta e varando os sertões até os seus confins. Assim, as tribos
indígenas viraram nômades por força das circunstâncias e, tangidas pelos brancos,
eram, elas próprias, subindo a Borborema, quem cuidava de, por sua vez, tanger seus
irmãos ocupantes daquelas recônditas regiões por muitos consideradas inóspitas.”
(BARBALHO, 1977, p.45)
Esse comportamento nômade favoreceu o desaparecimento das línguas nativas em
função da dispersão dos indígenas. Segundo o mesmo autor (op. cit.), atualmente, existem
somente remanescentes indígenas na região, conhecidos por Caboclos do Orubá. Falantes de
português, os índios mesclam alguns vocábulos da língua nativa em seus rituais.
Diante desse cenário histórico, os Xukuru sobrevivem em condições precárias, além
de serem “mestiçados com brancos e negros, já não se diferenciam, pelo tipo físico, da
população sertaneja local” (RIBEIRO, 2002, p.69). Sua indianidade é construída por meio da
atuação política na sociedade e pela preservação da cultura dos seus ancestrais.
O processo reivindicatório do povo Xukuru iniciou-se na década de 80, do século
passado. Liderados por Francisco de Assis Araújo, conhecido por Cacique Xicão, o grupo