102
objeto subjetivo, porém, mesmo quando há saúde, os adolescentes podem, em
períodos de extrema dependência, reviver a concepção de objetos subjetivos, seja
com os pais, ou com outras pessoas, por exemplo, quando se apaixonam. E este
sentimento pode diferir em moças e rapazes, sendo que um dos riscos que as
moças vivem e os rapazes não, é a gravidez na adolescência. O início da vida
sexual não implica, desde o surgimento da pílula anticoncepcional, em gravidez,
mas sempre há a possibilidade dela acontecer, e isto faz parte da vida imaginativa
das moças.
Assim, o início da vida sexual de uma moça e sua possível gravidez, nos leva
a considerar tanto o aspecto objetivo, da pouca condição que uma jovem tem de
cuidar de um filho, sendo que vive a necessidade de recorrer à dependência dos
pais tanto em termos econômicos/sociais, quanto os psicológicos, e ainda quanto
aos aspectos: fantasioso, inconsciente, e subjetivo; a maternidade pode ser
sonhada, imaginada, como tentativa da moça em mudar a relação que tem com os
pais, consigo mesma e/ou com o namorado.
Winnicott (2005) apresenta a dificuldade que as moças vivem ao iniciar a vida
sexual sem que esta seja parte de uma relação de amor, que é construída com o
tempo e com o amadurecimento do casal. Tal dificuldade surge, pois há uma área na
vida de qualquer pessoa, na das moças também, que a lógica e a fantasia não se
unem.
Estou tentando ver se consigo demonstrar a vocês que, do meu ponto de vista, há
uma área não resolvida na qual a lógica, e os sentimentos, a fantasia inconsciente,
etc, não se juntam. Eles não se relacionam um com outro de modo apropriado, não
se resolvem um ao outro, embora seja necessário possuir os dois, e seja necessário
tolerar as contradições. É claro que podemos resolver qualquer problema refugiando-
nos na área cindida do intelecto. De algum modo estamos livres de sentimento nesse
local: poderíamos dizer “dialético”; colocamos isto contra aquilo e podemos resolver
qualquer problema que exista. Ou, se não podemos, nos tornamos capazes. Mas se
nos refugiamos no intelecto cindido, não vão vocês pensar que conseguimos dizer:
“Certo, há problemas que não podem ser resolvidos, e nós conseguimos tolerar
tensões”. (p. 205, grifos do autor)