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carga de energia, que agora usa para o desenvolvimento pessoal (ROWE, 2007;
MILLMANN, 2004). Embora se mantenha adequada no dia seguinte, agindo de
acordo com as normas sociais e ocultando seus verdadeiros sentimentos, Kat abriu
uma porta entre ela e a irmã que nunca existiu: a da honestidade a qualquer preço.
Ela deixou de se preocupar tanto com os outros em relação a ela, pois sua imagem
foi destruída diante de todos e ela foi a última a saber. Seu grande medo, ficar
despida de sua persona, se realizou e ela fez um esforço muito grande durante
tempo demais para descobrir que foi tudo em vão.
Kat passou muito tempo buscando respostas, mas nunca quis ver a verdade.
Prendeu-se a falsas esperanças. A irmã foi o emissário da sombra: a traição lhe
permitiu sentir a verdadeira dor, com causa real, e não em suas fantasias. Ao ver
Jeffrey e a irmã verdadeiramente, ela se liberta e permite-se sair de um papel antigo,
o da moça invejada e perfeita que lhe acompanhou por toda a adolescência. Ela
abandona a persona social e familiar cristalizada para poder adaptar-se de forma
mais criativa e flexível às exigências do meio, ou seja, adequando sua persona de
forma saudável (MILLMANN, 2004; DOWNING, 1998).
Amy precisava derrotar Kat, pois sua inveja assim ordenava. Quando o fez,
no entanto, percebeu que nada havia mudado em sua vida. Não vencera, apenas se
enganara também. Eram duas vidas pela metade. Ela havia dedicado a vida a
vencer a irmã, e não tinha outros objetivos próprios. Agora, rivalidade vencida, Amy
está de volta à própria vida.
Rowe (2007) lembra que há relações construídas sobre o afeto negativo,
sobre o ódio, por exemplo. Nestas relações ter um inimigo, alguém a quem vencer
ou destruir dá sentido à vida de quem odeia, pois sente que é importante para pelo
menos uma pessoa, o inimigo, pois faz diferença na vida dele. Amy, embora não
odiasse verdadeiramente a irmã, odiava o ideal que ela representava e dedicou a
vida a destruir esta imagem. Quase destruiu a irmã.
O que se percebe ao final do filme é que havia um vínculo positivo verdadeiro
no início, que se desvirtuou ao longo da vida, mas a sombra, trazida pela traição,
permitiu que ele fosse recuperado e as mazelas perdoadas. Uma estava ligada à
outra, não importa de que forma.
T. J., a prima, exerce também um papel interessante, já que dá voz ativa aos
pensamentos de todas as mulheres, com sua forma debochada. Ela auxilia no
caminho, funcionando como irmã postiça, cuidando de Kat, preservando-a,