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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
LUCI FERNANDES DE LIMA
SABERES NECESSÁRIOS PARA ATUAÇÃO NA PEDAGOGIA
HOSPITALAR
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
SÃO PAULO
2010
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
LUCI FERNANDES DE LIMA
SABERES NECESSÁRIOS PARA ATUAÇÃO NA PEDAGOGIA
HOSPITALAR
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO: PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO
Tese apresentada à Banca Examinadora
da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, como exigência para obtenção
de título de Doutor em Educação:
Psicologia da Educação sob a orientação
da Prof.ª Dr.ª Mitsuko Aparecida Makino
Antunes.
SÃO PAULO
2010
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Banca Examinadora
Diferentes percursos de aprendizagem são delineados a partir do resgate da história de vida
.
AGRADECIMENTOS
À Prof.ª Dr.ª Mitsuko Aparecida Makino Antunes que com sua paciência
incansável e dedicação, ajudou-me na construção desta tese de doutorado, assim
como todos os ensinamentos proporcionados por meio das conversas que me
levaram a ir em busca de minha história de vida.
Às minhas filhas Ana Lyvia e Alessandra Lima de Oliveira por existirem.
À minha colaboradora Elizabete Alves Moreira que, com sua dedicação a
Alessandra, proporcionou-me tempo e tranquilidade serenidade e reflexão para tecer
os fios desta pesquisa.
À Joana (nome fictício) por disponibilizar à presente pesquisa, mais que o
tempo de sua vida dedicada à entrevista, bem como o precioso conteúdo de sua
história de vida, sem a qual não poderíamos compartilhar os conhecimentos
construídos.
À minha querida professora de sica Ruth de Cervantes da Escola de
Grau Cidade São Matheus que nos idos de 1970 acreditou que em mim havia um
grande potencial.
A meus queridos alunos e professores do Centro Universitário São Camilo
São Paulo, dos cursos de Pedagogia e Filosofia.
À Prof.ª Dr.ª Luciane Lúcio Pereira, por sempre acreditar em meu trabalho e
no legado do curso de Pedagogia.
À Prof.ª Dr.ª Laurinda Ramalho de Almeida pelas sugestões, conselhos e
amorosidade.
À Prof.ª Dr.ª Carmem Sílvia Rotondano Taverna, pelas profundas
contribuições recebidas no exame de qualificação.
Aos Mestres da Ordem Rosacruz.
À CAPES, pela bolsa concedida durante o curso.
Luci Fernandes de Lima
Lima, Luci Fernandes de. Saberes necessários para atuação em Pedagogia
Hospitalar. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Programa de Pós-Graduação em Educação: Psicologia da Educação, 2010.
RESUMO
Esta pesquisa constitui-se num estudo sobre os saberes necessários para atuação
em Pedagogia Hospitalar. Tal universo é tomado primeiramente a partir do processo
de humanização, sendo educação e saúde, interfaces de possibilidades e de
desafios, sendo assim, o referências para a compreensão do indivíduo em sua
integralidade. A legislação brasileira reconhece o direito da criança e do adolescente
hospitalizados e garante a continuidade do atendimento para o processo de
aprendizagem durante o período de internação. Assim, cabe ao professor da classe
hospitalar criar estratégias que favoreçam o ensino e a aprendizagem,
contextualizando-o com o desenvolvimento e as experiências dos que vivem
despojados da ideia de doença. Profissionais da educação e da saúde não podem
ser simples transmissores de conhecimentos. A educação e a saúde deverão
caminhar juntas, em busca de soluções qualitativas para o efetivo aprendizado de
crianças e adolescentes hospitalizados. Objetivo: conhecer a atuação do professor
no ensino e na aprendizagem de crianças e adolescentes hospitalizados. Método:
trata-se de uma pesquisa qualitativa, com uso de história de vida para conhecer os
saberes dos professores para atuação nas classes hospitalares; sendo a história
oral e de vida uma modalidade que trata da narrativa do conjunto de experiências de
vida de uma pessoa. A professora entrevistada possui experiência na regência de
classes hospitalares. Resultados: o professor que atua em classe hospitalar é um
profissional da educação que precisa construir saberes específicos, com um olhar
diferenciado e com uma escuta sensível para o exercício da docência. Transpondo
tais considerações para o fenômeno estudado, evidencia-se que, as práticas
pedagógicas não podem ser desenvolvidas a partir de script de autoria alheia.
Devem ser permeadas pelo saber sensível, por saberes específicos, mas,
sobretudo, por atos humanizadores.
Palavras-chave: Saberes; Pedagogia Hospitalar; Humanização; Professor.
Lima, Luci Fernandes de. Needed knowledge for the performance in hospital
teaching. 2010. Doctorate Thesis. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Postgraduate Program in Education: Education Psychology, 2010.
ABSTRACT
This research is constituted in a study about the needed knowledge for the
performance in Hospital Teaching. Such universe is taken primarily from the
humanization process, being education and health interfaces of possibilities and
challenges, being, thus, references for the understanding of the individual and his/her
totality. The Brazilian legislation recognizes the rights of the hospitalized child and
adolescent and guarantees the continuity of the service for the learning process
during the hospitalization period. Thus, it is up to the hospital classroom teacher to
create strategies that favor teaching and learning, giving it a context with the
development and the experience of those who live free of the idea of diseases.
Education and health professionals cannot be mere knowledge conveyors. Education
and health must step alongside, in the search for qualitative solutions for the effective
learning of hospitalized kids and adolescents. Purpose: to know the teacher's
performance in the teaching and learning of hospitalized kids and teenagers. Method:
it is a bibliographic, qualitative research with the use of the life story to get to know
the teachers' knowledge for performance in the hospital classrooms; being the oral
and life story a modality which is about the narrative of the group of life experiences
from a person. The interviewed teacher has experience in the management of
hospital classrooms. Results: the teacher that acts in the hospital classroom, is an
education professional that needs to build specific knowledge, with a differentiated
look and with a sensitive hearing for the teaching profession. Overcoming such
considerations for the studied phenomenon, its is clear that, the teaching practices
cannot be developed from a script of an outsider's authorship. They must be outlined,
by the sensible knowledge, by specific knowledge but, mainly, by humanizing
actions.
Keywords: Knowledge; Hospital Teaching; Humanization; Teacher.
SUMÁRIO
Prefácio..............................................................................................................
8
Introdução.........................................................................................................
16
Capítulo I A sociedade contemporânea e a humanização nos serviços
de saúde......................................................................................
22
Capítulo II – Tecendo saberes para a prática pedagógica reflexiva............
54
Capítulo III – A pesquisa..................................................................................
64
3.1 O problema de pesquisa.....................................................................
64
3.2 Objetivos da pesquisa.........................................................................
65
3.3 Método................................................................................................
65
3.4 Procedimentos metodológicos............................................................
66
3.5 Sujeito da pesquisa.............................................................................
66
Capítulo IV – Apresentação, análise e discussão dos dados...................... 67
Considerações Finais.......................................................................................
80
Referências...
85
PREFÁCIO
Alguma coisa acontece no meu coração
Caetano Veloso
Alguma coisa aconteceu depois que revi aquela escola, minhas pupilas
1
recordaram e certamente reviveram belíssimas e algumas não tão belas passagens
naquele lugar de vida. Aquele lugar! Revisitei minha história de vida.
Minha trajetória acadêmica teve início lá, nos idos das décadas de 1960-
1970. Como assim? A docência e a paixão pela pesquisa
2
, aqui entendida como
gosto por estudar, pulsavam em busca do conhecimento. Confuso? Explico
melhor. Desde muito pequena, gostava tanto de estudar que falava para minha mãe:
“se me chamarem para andar de bicicleta, diga-se de passagem, que eu adorava,
por favor, diga que não estou em casa”. Podem imaginar como eram minhas
brincadeiras, não é? Brincar de escolinha! Quem era a professora? Obviamente eu.
Naquele tempo, ou melhor, em minha casa não havia quadro negro...
Pergunto-me por que negro o quadro? Sempre foi verde! Agora na maioria das
escolas é branco; talvez para que nós, professores, possamos colorir cada vez mais
a vida de nossos alunos e por capilaridade, a nossa.
A lousa era improvisada com uma placa de madeira; giz?! Era carvão mesmo,
ou um pedaço de tijolo que se encontrasse pelo chão.
Reporto-me a André (2003, p.28), quando diz que “a fecundidade de tal
construção intelectual está no fato de religar, no domínio do pensamento, o que já se
encontra direta ou indiretamente interconectado no mundo das materialidades e das
topologias imaginárias”.
Entrei no ginásio
3
, atual Ensino Fundamental II e, nessa escola fui muito feliz,
tão feliz, ao ponto de muitos e muitos anos depois, lembrar-me de uma grande
professora, professora Ruth Cervantes. Professora de música que no dia do meu
aniversário, não me lembro o ano, pediu licença à professora que estava em sala de
1
Opérculo de íris do olho, por onde passa a luz. Numa relação de proximidade física, é possível ver,
nessa fenda dos olhos do outro, a própria imagem refletida em miniatura (Vorcaro, 1997, p.24).
2
Eram meus primeiros ensaios de pesquisa.
3
Denominação das Leis de Diretrizes e Bases 4.024/61 e 5.692/71, respectivamente.
9
aula, chamou-me fora. Certamente, fui como um bicho do mato, achando que
havia feito alguma coisa! Inesperadamente, ela me deu um forte abraço e foi logo
dizendo: “Luci, seja feliz. Você vai longe”!
Terminado o ginásio, entrei no colegial, atual Ensino Médio. Este período foi
bem fragmentado, que para cada ano letivo, frequentei três escolas diferentes.
Mas de toda forma, ainda trazia em mim a lembrança daquela mestra (fiz parte do
coral da escola), Escola Estadual – Padre Antão, no bairro da Penha.
Logo me casei, e houve um hiato muito grande em minha vida acadêmica,
mas o desejo de retornar aos estudos era muito maior. Sempre o mesmo sonho,
fazer o curso de Pedagogia e ser professora.
Quando concluí a graduação em Pedagogia, em seguida ingressei no curso
de Especialização, pela PUC-SP, em Psicanálise e Linguagem. Posteriormente, no
Mestrado de Comunicação e Semiótica, da mesma instituição de ensino. Esse
movimento possibilitou meu ingresso em uma instituição de ensino superior.
Assim, nessa trajetória acadêmica e profissional, agora em nível superior,
questões relacionadas à inclusão social e à Educação Especial sempre estiveram
presentes. Nesta dimensão, a inclusão do aluno com alguma limitação ou dificuldade
de aprendizagem era recorrente, isto é, alvo de inquietação e ou enfrentamento.
No Mestrado, o tema pesquisado discutiu a temática relacionada ao corpo: O
corpo como fluxo no mundo: fragmentos, vínculos e unidade. Assim, a dissertação
procurou analisar o corpo, partindo da correlação dos elementos de investigação da
semiótica peirciana, mais especificamente suas categorias de primeiridade,
secundidade e terceiridade; da psicanálise e de alguns elementos da filosofia
importantes para a compreensão das diversas significações assumidas pelo corpo
com base nos sistemas linguísticos em suas múltiplas acepções.
Com o cumprimento dos créditos no Mestrado consegui ingressar no ensino
superior, primeiro como docente, depois como coordenadora do curso de Pedagogia
em uma Instituição de Ensino Superior de São Paulo.
Em 2002, na condição de docente, assumi uma carga horária pequena mas
que paulatinamente foi crescendo: de 6, 8, 12 e 18 horas aula.
10
Nesse desafio, procurei integrar teoria, prática, competência profissional. Foi
quando me percebi fazendo aquilo que sempre sonhei e com muita paixão.
Fernandez (1991) descreve que todos os sujeitos, docentes ou não, constroem
modalidades de aprender e, consequentemente, de ensinar. Ao participar de uma
situação de aprendizagem, o sujeito não aprende os conteúdos que
pretensamente estavam ali para serem ensinados, mas também maneiras de
aprender e ensinar.
Ou seja, nesse caminho de aprendiz, construí (e continuo) meu fazer
pedagógico, constituído por conteúdos sistematizados e organizados que compõem
as dimensões conscientes da prática docente, mas também falando e vivendo de
experiências muitas vezes arcaicas, nebulosas, frustrantes; reporto-me aos estados
da alma de Tardif (2002).
Torna-se importante salientar que a universidade na qual trabalho como
docente, prioriza apoiado em suas ações, a inserção do homem no contexto do
mundo atual, projetando e incorporando em seus objetivos a formação de
profissionais da área da saúde e educação, qualificados, competentes, éticos e
criativos, com disposição para o auto desenvolvimento e aprendizado permanentes,
especializados em suas funções, e ao mesmo tempo, generalistas na interpretação
e compreensão do mundo, sintonizados com as tendências, expectativas e
necessidades da sociedade futura em suas respectivas áreas de atuação
profissional.
Quando assumi o desafio da Coordenação de um curso de ensino superior,
em 2004, inicialmente, chamou-me a atenção uma disciplina, em particular, a
Pedagogia Hospitalar, de caráter optativo. Naquele mesmo ano houve o
Congresso Nacional em Pedagogia, realizado no campus da Faculdade Marista em
Belo Horizonte, congresso este que participei. Foi a primeira vez que ouvi falar em
Pedagogia Hospitalar. Note-se que, na minha gestão, havia um projeto
pedagógico de pedagogia em implantação, mas a disciplina de Pedagogia Hospitalar
nunca havia me chamado a atenção. Essa disciplina foi um divisor de águas para
mim.
Com o retorno à São Paulo, trazia comigo a construção de um ideal com
forma e conteúdo, de que era real, possível e necessário a presença do pedagogo,
na classe hospitalar não com a identificação simplista e reducionista do transmissor
11
de conhecimento mas, daquele profissional que tem para oferecer junto à equipe
interdisciplinar, o suporte pedagógico dos mais importantes.
Ou seja, era muito claro que a inserção e o atendimento pedagógico
educacional em ambientes hospitalares, é um direito respaldado por Lei
4
, para toda
criança ou adolescente que, devido às suas condições especiais de saúde, esteja
hospitalizada, têm direito à continuidade dos estudos escolares durante o período de
internação.
Dito de outra forma, “a criança doente não apenas tem direito à saúde, mas
também à educação, pois os seus interesses e necessidades intelectivas e sócio-
interativas também estão presentes no ambiente hospitalar” (FONSECA, 2003,
p.10).
Ainda ressaltam Ceccim e Carvalho (1997, p.80) que “é possível a
aprendizagem dentro do hospital, a aprendizagem de crianças doentes que, afinal,
estão doentes, mas em tudo continuam crescendo”.
em São Paulo, a gestão do curso deveria continuar e com o período letivo
em pleno desenvolvimento, a disciplina oferecida, Pedagogia Hospitalar fez tanto
sucesso, que tivemos que organizar duas turmas, uma em cada campus (Pompéia e
Ipiranga 1), para poder atender à demanda dos alunos.
Um dia, divulgando as disciplinas optativas do semestre, percorri todas as
salas de aula e, uma em especial, do terceiro semestre, atendia aos pré-requisitos
do edital, “estar regularmente matriculado no curso de Pedagogia
5
”.
Procurando dar mais ênfase à disciplina de Pedagogia Hospitalar, ressaltei
que, era um novo campo de atuação para o pedagogo e que os alunos deveriam
conhecer um pouco mais à respeito. Mais ainda, se eu fosse um deles, procuraria
especializar-me nesse novo espaço de atuação, por entender como mais uma
oportunidade de construção de conhecimento.
Naquela oportunidade, despertou em mim o real interesse que por certo
estava latente. Arrisco-me a citar Morin:
4
Resolução nº 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do
Adolescente, decorrente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
5
A disciplina fazia para das Atividades Acadêmicas Complementares, eixo Ensino, composto por
duas modalidades: disciplinas intra e intercurso; a disciplina em questão era intracurso.
12
Ignorância, desconhecido, sombra, eis o que encontramos na ideia do
conhecimento. Nosso conhecimento, apesar de tão familiar e íntimo, torna-
se estrangeiro e estranho quando desejamos conhecê-lo. Desde o início,
estamos situados diante do paradoxo de um conhecimento que não
somente de despedaça desde a primeira interrogação, mas que também
descobre o desconhecido em si mesmo e ignora até o que significa
conhecer (MORIN, 2005, p.17).
Por meio dessa trajetória, reconheci que ali residia uma real intenção e,
motivação para a pesquisa.
Dessa forma, os propósitos relacionados à pesquisa, estavam alinhados aos
da instituição de ensino, que tem por objetivo, aliar o conceito de saúde e educação,
em sua forma mais ampla, o que significa o “bem-estar do ser humano integral”.
Nos cursos de graduação, em especial, no curso de Pedagogia, Educação é
concebida como promotora da saúde integral do ser humano.
Nesse sentido, forma-se o educador com uma concepção mais ampla, não
apenas o gestor escolar ou o professor, mas, a formação de educadores para atuar
com diferentes práticas sociais no processo de construção de uma sociedade mais,
mais justa, mais ética e, mais inclusiva, abrangendo dessa forma a diversidade que
encontramos nos segmentos sociais.
Na condição de doutoranda, tive oportunidade de cursar disciplinas, cuja
programação desenvolvida abrangeu conteúdos que muito contribuíram para os
ensaios iniciais da presente pesquisa. Entre elas:
Seminário teórico e metodológico I e II;
Contribuições de Vigotski para pesquisa em educação;
Transformando a atividade docente via observação e discussão da
atividade vivida;
A educação como processo social e prática política;
O papel da experiência na constituição da profissionalidade de
professores I;
Formação de professores: tendências dos estudos e pesquisas;
O papel da experiência na constituição da profissionalidade de
professores
.
13
Sob a direção da orientadora e com as contribuições da banca no exame de
qualificação, ficou decidido que o problema desta pesquisa ficaria assim delimitado:
Saberes necessários para atuação na Pedagogia Hospitalar.
Percebe-se que as produções acadêmicas relativas ao problema de pesquisa
mostram uma tímida construção de saberes teóricos, que vem cada vez mais
legitimando as ações do educador que desenvolvem práticas educativas em
hospitais. Muitos saberes construídos partem das experiências realizadas pelos
profissionais da educação que se preocupam com essa questão. Certamente não
teria vislumbrado a possibilidade de chegar ao tema ora exposto, se não estivesse
imersa em discussões relativas aos processos formativos.
Na interface dos projetos e práticas pedagógicas desenvolvidas nas classes
hospitalares, podemos discutir para além da eficácia, os limites de uma ação que,
em tese, visa o bem estar e cidadania daqueles que momentaneamente estejam
impossibilitados de compartilhar experiências e aprendizado escolar.
Essa relação, pedagogia, saberes necessários e pedagogia hospitalar, serão
investigados por meio da análise da narrativa da história de vida de Joana Maria,
nome fictício, sobre os conteúdos aprendidos no curso de formação inicial, as
experiências significativas, a prática pedagógica desenvolvida, os desejos, as
frustrações, as expectativas decorrentes da atuação no âmbito hospitalar.
Recorro a Ortiz e Freitas:
A formação do professor para a prática de instâncias pedagógicas
hospitalares é uma tarefa a ser esboçada no dia-a-dia, tendo como modelo
a sua identidade com a aprendizagem, dentro de uma instituição
identificada com a saúde. Esta é uma formação que busca atender a uma
procura emergente e que estentando traçar seu estatuto epistemológico,
a partir do fio condutor direcionador do entrecruzamento entre parâmetros
essenciais: saúde e escolarização (2003, p.7).
No entanto, o exposto acima não seria possível se não tivesse reencontrado
minha própria história de vida; voltar a ser criança. Ou seja, nesse lastro histórico da
vida, o aqui e o agora composto pelo tempo; um tempo absurdamente desafiador,
plural, múltiplo e polissêmico, a pesquisa ora apresentada em Educação Hospitalar
abre suas portas e escancara suas janelas, com a pretensão de contribuir
significativamente para com aqueles que queiram conhecer um pouco mais a
respeito da temática.
Grão, o amor da gente é como um grão. Uma semente de ilusão. Tem que morrer pra germinar.
Plantar n'algum lugar... Gilberto Gil
INTRODUÇÃO
A legislação brasileira reconhece o direito da criança e do adolescente
hospitalizados e garante a continuidade do processo de aprendizagem ao longo de
sua internação.
Para o MEC, essa modalidade de atendimento é denominada classe
hospitalar, cujo objetivo é atender pedagogicamente às necessidades do
desenvolvimento psíquico e cognitivo dessas crianças e jovens que, em razão de
suas condições de saúde, se encontram impossibilitados de partilhar as
“experiências sociointelectivas” de sua família, escola e de seu grupo social
(MOREIRA, 2003, p.12).
Assim, a condição destas crianças e adolescentes que por motivo de uma
enfermidade estão social e educacionalmente excluídos, Fontes (2004), alerta sobre
a importância da Classe Hospitalar
6
, pois, segue uma proposta de inclusão
explicando em duas vertentes de análise quais as contribuições do
acompanhamento pedagógico em hospital para o bem-estar da criança
hospitalizada, cuja responsabilidade é a vida:
Primeiro, porque este tipo de atividade, ao acionar o lúdico como canal de
comunicação com a criança hospitalizada, procura fazê-la esquecer,
durante alguns instantes, do ambiente agressivo no qual se encontra,
resgatando sensações da infância vivida anteriormente à entrada no
hospital. Segundo, porque ao conhecer e desmistificar o ambiente
hospitalar, resignificando suas práticas e rotinas, que é uma das propostas
de atendimento pedagógico em hospital o medo que paralisa as ações e
cria resistência, tende a desaparecer, surgindo em seu lugar a intimidade
com o espaço e a confiança naqueles que cuidam dela (FONTES, 2004
p.4).
Acrescenta-se cabal importância, aos saberes necessários para atuação em
pedagogia hospitalar na medida em que, a formação do professor é um processo
permanente que se na confluência de tudo o que ocorre durante as vivências
pessoal, profissional e social dos indivíduos; na articulação entre a formação inicial,
a autoformação e a formação contínua.
Matos e Mugiatti afirmam que:
6
O termo Classe Hospitalar es relacionado à modalidade de ensino da Educação Especial,
regulamentada por legislação específica.
16
A Pedagogia hospitalar busca modificar situações e atitudes junto ao
enfermo, as quais não podem ser confundidas com o atendimento à sua
enfermidade. Além disso, deve haver um cuidado especial no
desenvolvimento das atividades, a fim de que não venha interferir no
processo terapêutico da equipe de saúde. Este tem como objetivo, o efetivo
envolvimento do doente, na busca de uma modificação no ambiente em que
está envolvido. Em todo caso, esta relação concreta que se estabelece é de
grande utilidade para a equipe e passa a se constituir em fator positivo para
o bom êxito do trabalho em ação (MATOS; MUGIATTI, 2006, p.104-105).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LBDEN n.º 9.394/96)
afirma que “toda criança ou jovem disponha de todas as chances quanto possíveis
para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem não sejam
interrompidos” (BRASIL, 1996).
Percebe-se que é uma legislação abrangente e possibilita uma diversidade de
modalidades educacionais, sem excluir a classe hospitalar.
O atendimento pedagógico-educacional em hospitais assegura a continuidade
de tais processos. Observa-se que a internação hospitalar não impede que a criança
ou jovem possa adquirir conhecimentos que contribuirão para seu desenvolvimento
escolar, como também para o entendimento de sua doença e a recuperação de sua
saúde (MOREIRA, 2003).
Desse modo, a área de atendimento escolar hospitalar e de atendimento
domiciliar passou a dispor de publicação que regulamenta a implantação e
implementação do trabalho escolar com crianças ou jovens, hospitalizados ou o
(BRASIL, 2002).
Para Moreira (2003), a Educação Especial traduz-se em Educação no seu
significado mais amplo, que lhe permite não apenas perceber e compreender as
necessidades, mas também atender com eficiência as necessidades e interesses
dos que dela necessitam.
Nesse cenário, os conhecimentos, os saberes e a própria educação não se
configuram mais como “patrimônio exclusivo” das instituições escolares (MENEZES,
2009, p.84).
Na realidade, observamos que teremos necessidades educacionais se
estivermos na escola, como alunos ou como professores; serão necessidades
especiais se nunca vivenciarmos uma determinada situação de vida.
Assim, é preciso que nos conscientizemos que todo e qualquer aluno no
17
cotidiano escolar, não o que tem deficiência, requer atenção específica e
mediação mais efetiva para que transponha limites e avance nos processos de
desenvolvimento e aprendizagem (ROCHA, 2002).
O professor está para estimulá-las por meio do uso de seu conhecimento
das necessidades curriculares de cada criança. E, por causa desse conhecimento,
deve proporcionar condições de aprendizagem.
Desse modo, pode-se observar, na classe hospitalar, que cabe ao professor
criar estratégias que favoreçam o ensino e a aprendizagem, visando ao
desenvolvimento e experiências dos que o vivem, despojado da ideia de doença.
Para um desempenho adequado, o professor precisa estar para trabalhar
com planos e programas abertos, móveis, mutantes, constantemente reorientados
“pela situação especial de cada criança, ou seja, o aluno da escola hospitalar”
(MOREIRA, 2003, p.26).
Não é qualquer ensino que promove o desenvolvimento da pessoa enferma; é
preciso uma mediação profícua para suscitar-lhes o desejo de superação e de
participação no seu processo educativo dentro do contexto hospitalar (ASSIS, 2009,
p.17).
No caso da pesquisa em pauta, a opção é ter por guia os saberes
necessários para a atuação do professor na pedagogia hospitalar (classe hospitalar),
visto que, na classe hospitalar trabalha-se com os processos de desenvolvimento e
aprendizagem, seguindo os vínculos dos conteúdos curriculares da escola regular e
que também devem ser permeados por atividades lúdicas-educativas.
O professor é um estimulador que precisa, constantemente, criar formas para
que o aluno consiga desafiar a própria doença dando continuidade aos trabalhos
escolares e mantendo a esperança na cura. Em outras palavras, saberes
diferenciados para a construção de práticas pedagógicas em hospitais.
Visto ser a prática pedagógica hospitalar uma área de conhecimento um tanto
quanto recente, e arrisco afirmar, um tanto quanto escassa, entende-se que a
presente pesquisa terá relevância para todos os que trabalham com formação de
professores e cursos de licenciatura.
Nesse contexto educativo, a formação assume um papel muito além dos
18
conteúdos disciplinares; transformam-se em uma possibilidade de uma educação
mais democrática, com a necessária reestruturação para criar espaços participativos
e reflexivos que possam se abrir às mudanças e incertezas (IMBERNÓN, 2004).
Para o desenvolvimento da pesquisa em pauta, a opção é ter por guia, os
saberes necessários para a atuação na Pedagogia Hospitalar.
Intitulamos o primeiro capítulo A Sociedade Contemporânea e
Humanização nos Serviços de Saúde”, destinado a expor, por um lado, por meio
da revisão bibliográfica, a maneira pela qual o processo de humanização ocorre no
hospital. Por outro, por meio da análise da narrativa e vivência da professora da
classe hospitalar, valemo-nos das reais condições de implantação do processo de
humanização, como aporte discursivo do terceiro capítulo.
Com o objetivo de explicar e refletir sobre a concepção dos saberes
intitulamos o segundo capítulo Tecendo saberes para a prática pedagógica
reflexiva”, elaboramos, um referencial de pesquisa, pois entendemos que esses
saberes são determinantes para entendermos a prática pedagógica do professor da
classe hospitalar. Esse estudo foi realizado com revisão bibliográfica.
Resultado de inúmeras horas de encontros, análise da narrativa e registros, o
terceiro capítulo intitulado A pesquisa: o problema de pesquisa, objetivos de
pesquisa e métodoe o quarto capítulo Apresentação, análise e discussão dos
dados”, comportam os conteúdos que deram o corpus para a investigação
propriamente descrita. Para tanto, utilizamos a História de Vida como modalidade
que trata da narrativa do conjunto de experiências de vida da professora da classe
hospitalar.
Como Considerações Finais”, sintetizamos os resultados obtidos pela
presente pesquisa na medida que, possibilitou-nos a ampliação do conhecimento da
temática em questão, a revisão de alguns conceitos e a reflexão a respeito dos
processos que se verificam na vida do professor da classe hospitalar, nas relações
humanas e interprofissionais, em específico nas classes hospitalares.
Verificou-se também, ser real, possível e necessária a inserção do professor
no ambiente hospitalar. No entanto, cabe ressaltar que, a simples presença do
professor, processos de humanização, não são suficientes para que, práticas
pedagógicas se desenvolvam sem a compreensão da escuta sensível, sem a
19
parceria colaborativa da equipe de saúde. Mais que humanizar e incluir, é preciso, o
Ato Humanizador.
A oliveira
A oliveiraA oliveira
A oliveira
“Era uma vez um grão de onde cresceu uma árvore, que foi abatida por um lenhador e cortada
numa serraria. Um marceneiro trabalhou-a e entregou-a a um vendedor de móveis. O móvel foi
decorar um apartamento e, mais tarde, jogaram-no fora. Foi apanhado por outras pessoas que o
venderam numa feira. O móvel estava lá no adeleiro, foi comprado barato e, finalmente, houve
quem o partisse para fazer lenha. O móvel transformou-se em chamas, fumo e cinzas. Eu quero
ter o direito de refletir sobre esta história, sobre o grão que se transforma em árvore que se
transforma em móvel e acaba fogo, sem ser lenhador, marceneiro, vendedor, que não vêem senão
um segmento de história. É esta história que me interessa e me fascina” (Morin, 1998, p.134).
CAPÍTULO I
A SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA E A HUMANIZAÇÃO NOS
SERVIÇOS DE SAÚDE
Para o processo de aquisição das produções humanas, a comunicação é
muito importante, pois é a aquisição da linguagem especificamente humana, sem ela
fica inviável a relação social. Por meio dela, e na relação com outros homens, que o
desenvolvimento do pensamento efetiva-se. Mas, para que haja a humanização é
necessário que se garanta a apropriação do conhecimento produzido sobre o
mundo, com base na educação.
Leontiev (1978) demonstra a importância da educação para a humanização
do indivíduo. Quanto mais os progressos atingem a produção de bens materiais,
mais enriquecem a cultura dos homens, ampliando seu conhecimento sobre o
mundo e propiciando o desenvolvimento da ciência e da arte. Neste contexto, a
educação toma proporções complexas, permitindo a ascensão da ciência
pedagógica.
Pressupõe-se que todos os homens têm o direito de se apropriar da cultura
humana; entretanto não é isso, o que acontece. Na realidade, o conjunto de saberes
produzidos acaba se concentrando nas mãos de um pequeno grupo da sociedade
que os utiliza para a manutenção de seus poderes e como forma de dominação de
grande parte da sociedade, ocorrendo estreita correlação entre saber e poder.
Conforme estes pressupostos, a educação desempenha um papel
fundamental na vida dos indivíduos, denunciada por muitos teóricos, e o
conhecimento é a condição para sua humanização. É por meio dele que se garante
a compreensão é uma das condições para as relações sociais.
Assim, o trabalho dos professores, quando colaborativo, isto é, equipe de
saúde e membros da família, torna-se extremamente importante, tanto à
socialização como a um tratamento benéfico, às crianças e adolescentes internados,
implicando uma atividade produtiva; aos hospitais, é a saúde dos internados.
No ambiente hospitalar, muito se tem a investigar e contribuir para as ações
22
da pedagogia hospitalar. No entanto, para que essas ações sejam de fato eficazes,
é essencial a participação de todos os envolvidos: a família, a criança ou
adolescente hospitalizado, a escola de origem e o pedagogo hospitalar com a
equipe de saúde.
Para Nogueira-Martins; Bógus (2004) a humanização em saúde está
intimamente ligada à promoção da saúde quando esta é focalizada em um
processo de produção social e dependente sobretudo de políticas públicas,
programas sociais e modelos de atenção à saúde.
Importa retomar que, embora ocorram conquistas nas ciências e na
tecnologia, a formação de profissionais nos diversos campos e especialidades
da saúde ainda é deficiente à humanização no atendimento aos pacientes e a
seus familiares, bem como na qualidade das relações interpessoais com os
pares e profissionais de outras áreas.
Para Arendt (2007), a ação é a atividade política por excelência. Esta, em
consonância com o discurso, revela de fato a pluralidade humana em
contraponto com o mundo do trabalho, vetores instrumentais de uma
sociedade para quem as trocas materiais são fundamentais em detrimento do
desenvolvimento humano, devendo passar pela esfera pública e não privada.
Para a autora:
Foi essa ausência de relacionamento humano e essa preocupação
fundamental com mercadorias permutáveis que Marx denunciou como
a desumanização e auto-alienação da sociedade comercial que, de
fato, exclui os homens enquanto homens e, numa surpreendente
inversão da antiga relação entre público e privado, exige que eles se
revelem somente no convívio familiar ou na intimidade dos amigos
(ARENDT, 2007, p.31)
O grande problema do mercado de trocas, é a de que os homens não
entram em contato como pessoas, mas apenas são fabricantes de produtos.
Marx, como bem pontua Arendt, descreveu esse estado em que, reduzido à
coisa, o homem passa a gravitar em uma esfera opaca e reificada pela
produção de elementos materiais. A coesão existente entre universo,
diferentemente da união entre o discurso, é somatória dos poderes de troca,
nada além disto.
Segundo Zaher (2005), o hospital é o local por excelência onde a fragilidade
da saúde aparece e confronta a realidade, onde os pacientes deparam-se com um
23
sofrimento pessoal, uma patologia, uma doença que requer a intervenção de
pessoas.
Nesse espaço, as práticas de saúde devem estar voltadas também à
humanização, pois os pacientes precisam mais que um bom profissional, querem ser
respeitados, bem tratados, sentir-se bem, sem precisarem submeter-se ao
burocratismo, como é encontrado na área da saúde. Fortes afirma que:
A partir dos anos 90, a humanização da atenção à saúde vem sendo tratada
como política pública, iniciando-se no ambiente hospitalar, e, atualmente,
sendo dirigida para todos os níveis de atenção de saúde. No campo da
atenção em saúde, o termo humanização tem sido utilizado com diferentes
significados e entendimentos, relacionando-o com os direitos dos pacientes
e a ética voltada ao respeito ao outro (FORTES, 2004, p.10).
Humanizar a saúde é dar qualidade à relação, é suportar as angústias do ser
humano diante da fragilidade do corpo. O homem torna-se humano no contato com
os outros homens, pela cultura, pela possibilidade de se questionar e fazer
perguntas.
O humanizar não pode ser imposto, normatizado, como também relegado “à
maquiagem hospitalar de hotelaria”, de bons modos e costumes, de treinamento da
comunicação entre os membros dos hospitais e seus usuários. Deve ir além,
ultrapassar os muros da estética e aprofundar-se nos meandros de cada um, nos
movimentos internos de cada profissional, na compreensão ética, no respeito ao
outro, e a seu sofrimento (ZAHER, 2005, p.12).
Mudanças como essas constituem-se por processos complexos que, muitas
vezes, geram resistência e não ocorrem a curto prazo, pois poderão ocorrer na
medida que houver transformação no modelo formador da educação e saúde.
Relacionado a isso, o Programa Nacional de Humanização no Ambiente
Hospitalar (PNHAH)
7
propõe um conjunto de ações integradas que visam mudar
substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do
Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços prestados por meio de
processos de formação profissional, pode-se “enraizar valores e atitudes em respeito
à vida humana” (CALEGARI, 2003, p.31).
7
O PNHAH busca desenvolver ões que o se restrinjam somente à busca de melhorias na
instituição hospitalar, mas também estender-se à formação educacional dos profissionais de saúde -
atualmente bastante deficiente no que se refere à questão da humanização do atendimento. É no
processo de formação que se podem enraizar valores e atitudes de respeito à vida humana,
indispensáveis à consolidação e à sustentação de uma nova cultura de atendimento à saúde.
24
Em saúde, os processos formativos podem ser dimensionados em três
perspectivas com especialidades e complexidades próprias. Assim, em uma
primeira dimensão, situa-se nos espaços escolares de formação, incorporando
toda a complexidade do ensino em seus distintos níveis: do ensino técnico em
saúde, passando pela graduação e pós-graduação.
Na segunda dimensão, abrange o desenvolvimento de profissionais já
envolvidos com a prática na atuação em saúde e envolve dinâmicas
educativas presentes no contexto do processo de trabalho.
Assim, a educação permanente em saúde aparece como pilar essencial
das políticas de saúde, em especial, no contexto do Sistema Único de Saúde
(SUS).
No contexto da saúde, a educação é um assunto de extrema
importância, pois é uma valiosa ferramenta a conduzir o homem para ser
capaz na busca constante de sua realização. Possibilita que ele seja capaz
compreender a realidade que está a sua volta e transformá-la, além de exercer
um caráter permanente em sua vida (FREIRE, 2004).
Já na terceira dimensão, verifica-se nas propostas educativas
desenvolvidas com os indivíduos e/ou com a comunidade. Nesta dimensão, a
educação em saúde compromete-se com a promoção-prevenção e com a
melhoria da qualidade de vida da população.
Os cursos superiores em saúde encontram-se em um momento de busca
por caminhos para implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais que
ampliem as competências para a graduação, envolvendo a atenção à saúde, o
desenvolvimento da liderança e de capacidade de comunicação, a fim de
melhor prepararem os futuros profissionais para a administração e
gerenciamento de suas práticas, para a tomada de decisão para a educação
permanente (BATISTA; BATISTA, 2007).
Conforme os autores citados acima, o preparo do profissional para a
atenção à saúde nos remete ao compromisso com a integralidade do cuidado à
população.
Inicialmente, a conceituação de saúde estava ligada à religião e à
25
filosofia
8
, depois esteve atrelada à teoria de que a doença era decorrente das
alterações ambientais; em seguida, com o avanço das ciências fisiológicas e
biológicas, veio a descoberta do agente etiológico e, posteriormente, da
multicausalidade como determinante das doenças.
Dentro de uma concepção ampliada de saúde e assegurada pela
Constituição Federal de 1988 no Título II, Dos Direitos e Garantias
Fundamentais, e Capítulo II, dos Direitos Sociais, o Artigo 6º reza que São
direitos sociais a educação, saúde, o trabalho, o lazer, [...] (BRASIL, 1988).
Assim, saúde é um estado de harmonia entre o ser humano e o meio físico e
social, e a doença é a desarmonia das relações entre sujeito e ambiente
externo e interno.
Recorremos ainda à concepção adotada pela Organização Mundial da
Saúde que define saúde como o completo bem estar físico, mental e social,
ocorrendo conjuntamente, e não apenas na ausência da doença ou
enfermidade.
Desse modo, observa-se que a educação deve estimular e desenvolver
no homem uma consciência crítica que lhe permita compreender e transformar
sua realidade. O processo educativo gera alterações dos costumes, maior
conscientização da sociedade, promovendo mudanças. Nesse sentido, um
desafio importante no ensino é a ruptura como os modelos disciplinares rígidos
e a busca por um projeto de formação em saúde que contextualize a
integração de distintos conhecimentos e saberes profissionais.
Fazenda (2003, p.36) amplia o sentido da integração, afirmando que a
interdisciplinaridade pressupõe uma nova atitude frente ao conhecimento e à
pesquisa, mais do que integrar,a ênfase disciplinar apresenta a possibilidade
de re (construir) os processos tradicionais de desenvolvimento de conceitos
científicos, habilidades e atitudes, investindo-se em práticas que priorizem o
significado das aprendizagens para os alunos e o compromisso destes com os
contextos profissionais e sociais em quem estão inseridos.
8
O hospital permanece com essas características até o começo do século XVIII e o Hospital geral,
lugar de internamento, onde se justapõem e misturam-se doentes, loucos, devassos, prostitutas, etc.,
é ainda, em meados do século XVII, uma espécie de instrumento misto de exclusão, assistência e
transformação espiritual, em que a função médica não aparece (Foucault, 1979, p.102).
26
Integrar também significa pensar em novas interações
9
no trabalho em
equipe multiprofissional como um conjunto de possibilidades, não está ligado
apenas a uma espécie de reforma disciplinar, mas a uma mudança de enfoque
epistemológico, configurando trocas de experiências e saberes numa postura de
respeito à diversidade e cooperação com vistas a experienciar práticas
humanizadoras.
Apesar das relevantes conquistas nas ciências e nas tecnologias, a
formação dos profissionais nos diversos campos de atuação, especificamente,
na área da saúde, ainda é deficiente no que se refere à humanização do
atendimento aos pacientes e a seus familiares, bem como na qualidade das
relações interpessoais com seus pares e os profissionais de outras áreas.
Há necessidade de mudanças na situação de descompromisso com a
qualidade das relações humanas e no comportamento conservador dos
profissionais da saúde.
Assis (2009), afirma que essas mudanças são complexas, causam
resistências e não ocorrem a curto prazo; é difícil provocar e adotar mudanças,
pois estas requerem muito investimento e adesão dos profissionais e só
poderão acontecer se houver a transformação do modelo formador.
As aptidões e caracteres humanos não são transmitidos pelo processo
biológico, como afirma Leontiev, (1978, p.262-263), mas são adquiridos e
desenvolvem-se no decorrer da vida pela práxis.
O homem é um ser social e, em sociedade, insere-se e se determina
como participante de uma comunidade. Desligar-se dessa realidade por motivo
de doença implica sair de seu mundo. Assim, a tônica desloca-se da
9
Flexibilidade para atender à realidade imprevisível do mundo moderno que exige qualificações
profissionais que implicam novos modos de produção ainda inconcebíveis no momento atual, pois o
profissional deve ser flexível para atuar nas diversas frentes de trabalho, e isto, certamente, requer
uma formação abrangente passível de mudanças processuais, sem determinação prévia do caminho
que será percorrido. A autonomia, tanto a intelectual como pessoal, é condição básica para atuar no
imprevisível. Isto se constrói, sobretudo, no exercício de um currículo flexível que permita ao
estudante definir o seu próprio percurso curricular, a fim de construir seus conhecimentos e a produzir
academicamente. A integração, que se manifesta na interdisciplinaridade, é que assegura a
possibilidade da conexão entre os conteúdos estudados originando um saber mais complexo. a
atualização dos conteúdos, é efetivada, conforme as necessidades percebidas. Texto elaborado para
Reformulação Curricular do Projeto Pedagógico Interdisciplinar.
27
simplificação para a complexidade. A síntese dá lugar ao fragmento (CERUTI,
1985, p.19).
Conforme aponta Assis (2009, p.81), tratar do atendimento pedagógico
educacional em instituições hospitalares é considerar a inter relação de duas áreas
importantes, educação e saúde, que devem atuar com a finalidade de promover o
desenvolvimento integral da pessoa que está sob tratamento de saúde, visando a
seus direitos e qualidade de vida. Ou seja, faz-se necessário que o trabalho conjunto
de educação e saúde promova ações que resgatem a importância dos aspectos
humanos para além dos cuidados e saberes técnicos científicos, um trabalho mais
humanizado.
Segundo Morin (2003) afirma que a política do humano teria como
missão mais urgente a solidariedade do planeta.
O desenvolvimento ignora que um verdadeiro progresso humano não
pode a partir do hoje, nem prescindir de uma volta às potencialidades
humanas genéricas, isto é, de uma re-generação. Assim como um indivíduo é
portador no seu organismo, de células-tronco pluripotentes que podem
regenerá-lo, também a humanidade traz em si os mesmos princípios de sua
própria regeneração, embora adormecidos, fechados nas especializações e
nas escleroses sociais (MORIN, 2003, p.150).
Desse modo, humanizar na atenção à saúde é entender cada pessoa em sua
singularidade, tendo necessidades específicas, e, assim, criando condições para
que tenha maiores possibilidades para exercer sua vontade de forma autônoma
(FORTES, 2004).
Nesse sentido, entendemos que todos os esforços de humanização
contribuem para a promoção da saúde junto à criança hospitalizada proporcionando
um ambiente saudável e seguro. Segundo Vasconcelos
10
(2000), no ambiente
hospitalar, a presença da morte é inelutável. O paradoxo se impregna dada a visão
de hospital como ambiente de busca de saúde. Sendo um ambiente tão dual, o
trabalho humanístico a ser realizado deve direcionar-se ao encontro desse mundo
de doença-cura com a retomada, o reencontro da socialização. Para tanto, a prática
10
Trabalho apresentado na Semana de Psicopedagogia da Universidade Estadual do Ceará – 2000.
28
da humanização requer uma atuação profissional voltada à multiplicidade humana,
assumindo uma postura ética dirigida ao acolhimento e solidariedade.
A humanização é um processo de construção gradual que se verifica
pelo compartilhamento de conhecimentos e sentimentos; sentimento e estudo
são como as asas dos pássaros, dos anjos, se auxiliam no equilíbrio para o
o a uma maior valorização da vida (BARAÚNA, 2003, p.304).
As ações de humanização envolvem muitas variadas práticas
profissionais introduzidas no tratamento dos indivíduos hospitalizados, como a
arte do palhaço, as artes plásticas, a hora das histórias, a terapia ocupacional
dentre outras.
Assim para Baraúna (2003, p.305), amar é responder pela relação, é
estar atento às necessidades do outro, respeitá-las. Desse modo, amar é
prestar atenção em nosso jeito de tratar o outro.
Para tanto faz-se necessário não apenas a humanização mas, o ato
humanizador; aquele que procura resgatar o respeito à vida humana, pois
envolve o vínculo subjetivo entre quem cuida e quem é cuidado.
O nascimento do sentimento de infância na França correspondeu a uma
etapa do sentimento moralista criado a partir do século XVII e solidificando-se nos
séculos seguintes, sob o cenário da burguesia, destacando o papel da escola, da
família e da igreja como normatizadoras de condutas (ARIÈS, 1981, p.277).
A escola é o primeiro e o principal meio de socialização da criança. Distante
da escola, essa criança hospitalizada encontra-se em um momento de
vulnerabilidade emocional, e está distante de seus objetos pessoais, amigos e
familiares. O medo e a insegurança são constantes e ocorrem por motivos variados
e a criança tem sua rotina alterada, sendo forçada a uma adaptação a um ambiente
hostil e impessoal.
Todas estas questões tornam a problemática da hospitalização uma
experiência estressante, não à criança como também a seus pais que se sentem
ansiosos e inseguros quando a criança que encontra-se hospitalizada.
Muitas vezes, esses pais sentem-se culpados pela enfermidade de seus filhos
e buscam satisfazer as vontades da criança doente de maneira exagerada,
29
contribuindo para um prolongamento da doença (a criança insiste em atitudes
regressivas) e não para sua recuperação.
A criança hospitalizada é ativa em suas observações e reflexões, observa seu
corpo e as transformações que este apresenta; sabe de seu estado de saúde e tem
inúmeros questionamentos, mas só mostra suas dificuldades e dúvidas para aqueles
que a escutam e acolhem.
Nesse sentido, educação e saúde, uma cuidando do paciente e a outra
cuidando do aluno em regime colaborativo de trabalho, podem compartilhar
responsabilidades, processos, projetos, expectativas.
Segundo Ceccim (1999a, p.41-44), “o principal efeito do encontro educação e
saúde para a criança hospitalizada é a proteção de seu desenvolvimento e a
proteção dos processos cognitivos e afetivos de construção dos aprendizados”.
Conforme a Constituição Federal de 1988, todo cidadão tem direito à saúde e
à educação, como consta do Estatuto da Criança e do Adolescente. Para que isso
se concretize, segundo o paradigma da inclusão e nas alternativas oficiais, o
professor tem como alternativa trabalhar dentro dos hospitais, implicando mais um
campo de trabalho para aplicação da ação pedagógica (BRASIL, 1988).
Embora o hospital tenha condições que dificultam a educação da criança ou
jovem, se faz necessária a presença do professor, para que haja o
acompanhamento pedagógico, e o aluno não perca os conteúdos e, até mesmo o
ano letivo. Tudo isso vai depender do tempo em que o aluno ficar no hospital. Além
dos conteúdos programáticos, que as crianças fazem em seus quartos ou nos
diferentes locais, alguns hospitais oferecem sala de aula, laboratório com
computadores, brinquedoteca
11
e sala de jogos.
É um novo cenário marcando presença, uma presença de fundamental
importância para a recuperação da saúde e do bem-estar.
O trabalho pedagógico em hospitais apresenta diversas interfaces de atuação
e está na mira de diferentes olhares que tentam compreendê-lo, explicá-lo e
11
Em 21 de março de 2005, foi aprovada a Lei 11.104/2005, de autoria da deputada Luiza Erundina
(PSB-SP), tornando obrigatória a instalação de brinquedotecas em todas as unidades de saúde que
oferecem atendimento pediátrico em regime de internação. Uma lei de tamanha importância, uma
grande conquista, pois uma brinquedoteca é essencial em um hospital, nesse ambiente que acaba
afastando as crianças de seu cotidiano, de sua infância, do brincar.
30
construir um modelo em que possam enquadrá-lo. No entanto, é preciso deixar claro
que a educação o é elemento exclusivo da escola como a saúde não é
exclusividade do hospital. O hospital é, segundo definição do Ministério da Saúde,
um centro de educação:
Hospital é a parte integrante de uma organização médica e social, cuja
função básica consiste em proporcionar à população assistência médica
integral, curativa e preventiva, sob quaisquer regimes de atendimento,
inclusive o domiciliar, constituindo-se também em centro de educação,
capacitação de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de
encaminhamento de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os
estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente (BRASIL, 1977).
A sociedade atual passa por constantes transformações, exigindo do
educador (pedagogo) novas práticas que sejam coerentes com essa demanda
crescente. De igual importância, à própria efetivação dos direitos de todos os grupos
sociais, independente de gênero, etnia, entre outros, exige desse profissional uma
formação que lhe possibilite dialogar com os setores sociais.
O discurso coletivo em análise também demonstra a importância da educação
para o desenvolvimento da criança e revela que a situação de hospitalização, em
casos de crianças acometidas por uma patologia durante tempo prolongado, era
considerada como motivo de abandono dos estudos ou, ainda, de reprovação
escolar.
A finalidade da pedagogia hospitalar é integrar educadores, equipe médica e
família em um trabalho conjunto que inclua ações lúdicas
12
, recreativas e
pedagógicas, novas maneiras de dar continuidade à vida escolar da criança e, com
isso, beneficiar sua saúde física, mental e emocional.
É importante compreender que esse tipo de atendimento não traz
benefícios à criança integralmente, como também assegura a manutenção dos
vínculos escolares, acompanhamento curricular, possibilitando a reintegração com a
escola e com os colegas. Dessa maneira, o professor desenvolve a prática
pedagógica e vivencial na instituição de saúde, atividades que favoreçam o
desenvolvimento da criança, que não deve ser interrompido em função da
hospitalização.
12
A função lúdica e a educativa, estão presentes nos jogos e brincadeiras, sejam eles espontâneos
ou dirigidos; mesmo nas atividades lúdicas espontâneas a função educativa está presente tendo em
vista o desenvolvimento integral: (física, intelectual e moral), na constituição da individualidade.
(LIMA, 2010). Programa Gravado na Rede Vida de Televisão em 28 de abril de 2010.
31
O hospital é um ambiente diferenciado onde ocorrem situações de
aprendizagens com crianças e adolescentes que se encontram afastados da sala de
aula. Em razão das situações de enfermidade, tal atendimento deve ser realizado
sob abordagem inovadora.
Nesse contexto, é essencial a atuação integrada dos diversos profissionais da
área de saúde, educação e demais profissionais que se proponham ao desempenho
cada vez mais qualificado desta nobre tarefa.
Cabe destacar que a doença não pode ser vista, como fator de
descontinuidade no processo de educação formal da criança e do adolescente em
idade de escolarização, respeitadas as singularidades de cada caso específico no
contexto essencial em que está inserida ainda que provisoriamente.
A pedagogia hospitalar é um processo alternativo de educação continuada
que ultrapassa o contexto formal da escola, pois levanta parâmetros para o
atendimento de necessidades especiais transitórias do educando em ambiente
hospitalar e/ou domiciliar. Trata-se de nova realidade multi/inter/transdisciplinar com
características educativas (MATOS; MUGIATTI, 2006, p.37).
De acordo com a legislação brasileira, as crianças e jovens hospitalizados
têm o direito de dar continuidade ao seu processo de escolarização (CONANDA,
1995).
Essa modalidade de atendimento denomina-se “classe hospitalar” e tem
como objetivo atender pedagógico-educacionalmente às necessidades do
desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que se encontram
impossibilitadas de participar de experiências sóciointelectivas.
É importante ressaltar que o fato de estar internada não impede a
criança/adolescente de adquirir novos conhecimentos e informações. Ao manter-se
informada e atualizada a criança e adolescente sentem-se inseridos na sociedade;
tal fato contribui para seu desenvolvimento escolar, para que possa compreender
sua doença, além de ajudar na recuperação de sua saúde.
Uma vez que a criança ou adolescente, mesmo hospitalizado, tem a
oportunidade de dar continuidade à escolarização, o fato torna-se importante na
visão que possa ter de si mesmo, de sua doença, de seu desempenho acadêmico e
de seu papel social, pois o desenvolvimento do pensamento necessita ser
32
estimulado para produzir o pensamento lógico e todos os sistemas conceituais que o
compõem. Podemos entender que, para tanto, estes processos evoluem pela
ação (práxis) com outros homens.
A educação está presente em todos os momentos de nossas vidas, até
mesmo naqueles mais tensos e difíceis, como afirma Ceccim:
É possível aprender dentro do hospital; embora as crianças estejam
doentes, continuam crescendo. Acreditamos ser, também nossa, a tarefa de
afirmar a vida, e sua melhor qualidade, junto com essas crianças, ajudando-
as a reagir, interagindo para que o mundo de fora continue dentro do
hospital e as acolha com um projeto de saúde (CECCIM, 1997, p.80).
Observamos que a continuidade dos estudos, paralelamente ao internamento,
traz maior vigor às forças vitais da criança e adolescente hospitalizado, como
estímulo motivacional, contribuindo para que se tornem mais participativos para a
efetiva recuperação.
Assim, o fato, além de gerar uma integração e participação ativa que
entusiasmem o escolar hospitalizado pelo efeito da continuidade da realidade
externa, contribui, ainda que de forma subconsciente, para o desencadeamento da
vontade premente de necessidade de cura, ou seja, nasce uma predisposição que
facilita sua cura e abrevia o seu retorno ao meio a que estava integrado (MATOS;
MUGIATTI, 2006).
O contato escolar aproxima a criança internada de seu cotidiano dando-lhe
uma sensação de cura e esperança de sair logo do hospital, contribuindo para a
redução do período de internação. Sem dúvida, brincar e estudar são formas de
humanizar o tratamento, é preciso que a equipe de saúde considere a relação
interprofissional como promotora da saúde integral, a ser alcançada.
De acordo com Fonseca (2003), independente da política e diretrizes
seguidas, o atendimento pedagógico-educacional oferecido pelas classes
hospitalares prioriza em seus objetivos a continuidade ao ensino dos conteúdos da
escola e/ou próprios da faixa etária dos alunos internados, levando-os a sanar
dificuldades de aprendizagem e oferecendo oportunidade para a aquisição de novos
conteúdos, além de experiência pedagógico-educacional não propriamente
relacionada à realidade da escola regular da criança. Isto não desconsidera
aspectos emocionais; pelo contrário, contribui para a saúde mental da criança ou
jovem hospitalizado.
33
Quanto à pedagogia hospitalar, as modalidades de sua ação e intervenção
devem ser muito bem programadas e adaptadas frente às capacidades e
disponibilidades da pessoa hospitalizada. Não é tarefa das mais ceis tal
adequação, pois, se na atual realidade do País ainda grande retração da
educação formal, o que pensar, então, da educação isolada dos ambientes
escolares, incluídos em realidades diferenciadas?
Assim, uma educação que pretenda utilizar-se dos novos recursos
pedagógicos para promover autonomia, criatividade e criticidade discente
conseguirá atingir isso se atentar para a necessidade de uma capacitação docente
reflexiva e criativa, para além do aspecto técnico-operacional.
Stainback e Stainback (1999) citam que se vem dando atenção a uma
perspectiva mais construtivista, na qual o aluno é reconhecido, como o centro da
aprendizagem. Sob esta perspectiva, o reconhecimento que o currículo deve levar
em conta a realidade do aluno, assumindo o professor a posição de seu mediador e,
na interação dos dois com o processo da aprendizagem de informações, a ênfase é
dada em atividades e projetos que estejam ligados à realidade dos alunos para se
tornarem significativos. Vejamos na citação a seguir:
Em uma turma desse tipo, a professora usa o currículo para desafiar cada
um a conseguir o máximo possível. Sob uma perspectiva holística,
construtivista, todas as crianças estão envolvidas no processo de aprender
o máximo que puderem de uma determinada matéria; a quantidade e
exatamente o que elas aprendem dependem de suas origens, interesses e
habilidades. A partir dessa perspectiva, todos os alunos podem tirar proveito
das oportunidades de aprendizagem oferecidas na sala de aula, e o
propósito do currículo não é definir alguns alunos como bem-sucedidos e
outros como fracassados (STAINBACK; STAINBACK, 1999, p.238).
Nessa perspectiva, todas as crianças estão envolvidas no processo de
aprender, e não apenas algumas, ou as que estiverem aparentemente “bem” de
saúde. Partindo desse pressuposto, estes autores ainda falam das estratégias para
adaptação do currículo escolar abordando três pontos: o uso de objetivos de ensino
flexíveis, a adaptação das atividades e as múltiplas adaptações.
Sobre o uso de objetivos de ensino flexíveis, Stainback e Stainback (1999)
dirão que o objetivo básico em uma aula pode ser apropriado para todos os alunos,
mas os objetivos específicos que satisfaçam os objetivos gerais podem não ser os
mesmos. Assim, Stainback; Stainback (1999) falam da necessidade de
adaptarmos algumas atividades aos alunos que necessitarem dessas mudanças
34
para que consigam participar e atingir os objetivos. Os autores dão um exemplo a
esse respeito, que é a adaptação da maneira como trabalhamos com as habilidades
desenvolvidas pelos alunos, não deixando de estimulá-los para o desenvolvimento
daquelas que ainda não dominam. Por exemplo, um professor pediu que os alunos
fizessem pesquisas sobre os principais personagens da guerra por meio de leituras
para posterior discussão em aula. Para um aluno que não conseguia ler e escrever e
tinha habilidades artísticas, o professor solicitou que ele desenhasse as figuras dos
personagens e depois as usou para expor na hora da discussão sobre o tema.
Assim, segundo Stainback e Stainback (1999), este aluno também teve
oportunidades de desenvolver e aprimorar diversas habilidades e, ainda, alcançar o
objetivo da aula.
Assim, cabe ao professor da classe hospitalar mediar as relações
pedagógicas, assegurando que as rotinas de internação contemplem também
atenção e carinho. Para Assis (2009), tais ações podem prevenir traumas, amenizar
sentimentos de insegurança e de angústia. Nessa perspectiva, faz-se necessário
citar Noffs e Rachman:
Faz-se necessário esclarecer que tal oferta de ensino no ambiente
hospitalar deve ser pensada com cautela, pois não pode ser reduzida à
mera transferência de práticas do ensino regular ao ensino hospitalar,
considerando as diferentes demandas dos diversos alunos-pacientes
(NOFFS; RACHMAN, 2007, p.162).
No Estatuto da Criança e do Adolescente, reitera-se que o direito à educação
é dever não da escola, mas da sociedade, na qual devem buscar alternativas que
amenizem as dificuldades encontradas em muitas situações (CONANDA, 2002).
Nesse sentido, a Pedagogia Hospitalar tem como objetivo possibilitar à
população alvo, a continuidade de suas atividades educativas, que envolvem o
lúdico e o pedagógico no seu contexto geral. O vínculo entre escola e hospital visa
proporcionar a continuidade do processo educacional mesmo na condição de
hospitalização.
Na existência e funcionamento das classes hospitalares, o professor deverá
considerar, portanto, as condições objetivas
13
e subjetivas da criança hospitalizada.
Salas adequadas com infraestrutura pedagógica, equipamentos, acervo, materiais
13
Considera-se que as características evolutivas dos alunos em situação de internação são
diferentes na Educação Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio).
35
didáticos, jogos, brinquedos, são, em certa medida, vitais para que se efetive o
processo ensino e aprendizagem em um espaço não formal.
De similar importância, são os procedimentos objetivos: plano de ensino,
metodologia, projetos pedagógicos e didáticos, sem os quais não podemos aplicar o
termo “classe hospitalar”. o obstante, para uma intervenção pedagógica de
sucesso, o professor deve estar em contato com a família e a equipe médica
responsável pelo tratamento, tendo em vista os procedimentos e práticas
pedagógicas adequadas, tendo em vista, o desenvolvimento integral da criança, seja
qual for o período de internação.
Para Ortiz e Freitas (2005, p.34), “o processo de internação precisa ser bem
conduzido para evitar [...] disfunções no desenvolvimento”.
A complexidade do qual se reveste o ato educativo provocado pelas
profundas transformações sociais que ocorrem no mundo contemporâneo sinaliza a
urgência de novos imperativos educacionais que respondam às demandas
emergenciais estabelecidas.
No âmbito hospitalar, a modalidade educacional é recente e como se
constatou, os processos de desenvolvimento de pesquisas não acontecem de um
dia para o outro, isso talvez justifique a escassez de literatura especializada.
Segundo Vasconcelos (2006, p.22) “a iniciativa de intervenção educacional
em hospitais, muito antes de chamar classe hospitalar”, iniciou-se em 1935, quando
Henri Sellier inaugura a primeira escola para crianças inadaptadas, nos corredores
de Paris. A primeira experiência chegou a atender cerca de 80 crianças
hospitalizadas, exemplo que foi seguido pela Alemanha, em toda França, na Europa
e nos Estados Unidos da América, objetivando suprir as necessidades escolares de
crianças tuberculosas, moléstia fatal à época e contagiosa. E prossegue:
Em 1939 é Criado o Centro Nacional de Estudos e de Formação para a
Infância Inadaptada de Suresnes (C.N.E.F.E.I), cidade periférica de Paris,
tendo como objetivo a formação de professores para o trabalho em
institutos especiais e em hospitais. Em 1939 é criado o Cargo de Professor
Hospitalar junto ao Ministério da Educação na França. O C.N.E.F.E.I tem
como missão até hoje sensibilizar a sociedade para o fato de que a escola
não é um espaço fechado, estritamente em quatro paredes, mas no
encontro do sujeito com um novo saber. A formação proposta aos
professores interessados pelo trabalho, entretanto, é bastante rigorosa. O
centro promove estágio em regime de internato a professores e diretores de
escolas; a médicos de saúde escolar e assistentes sociais. A Formação de
Professores para o atendimento escolar hospitalar no C.N.E.F.E.I tem
36
duração de 2 anos. Desde 1939, o C.N.E.F.E.I já formou 1.000 professores
para as classes hospitalares, cerca de 30 professores a cada turma. A cada
ano ingressam 15 novos professores no Centro. Hoje todos os hospitais
públicos na França têm em seu quadro 4 professores: dois do ensino
fundamental e dois de ensino médio (VASCONCELOS, 2006, p.28).
Segundo dados da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
14
,
embora a Lei seja do ano 2000, as classes hospitalares funcionam há mais tempo
em São Paulo, com uma estimativa de que existam, desde a década de 1930,
conforme dados do Centro de Apoio Pedagógico Especializado (CAPE), que oferece
suporte ao processo de inclusão escolar de alunos com necessidades educacionais
especiais na rede estadual de ensino.
Matos e Mugiatti (2006) definem, Pedagogia Hospitalar como um dos
programas inovadores que têm surgido com base na vontade coletiva de
profissionais, sendo um processo de educação organizado de forma diferenciada
das usualmente praticadas.
Durante a hospitalização, o trabalho pedagógico ancora-se na construção do
conhecimento sobre aquele espaço, aquela rotina, as informações médicas, as
doenças, com caráter lúdico e, ao mesmo tempo didático-pedagógico.
Como ilustração, podemos citar o trabalho pedagógico-terapêutico da
biblioterapia, que busca contribuir para o bem estar da criança hospitalizada,
promovendo seu bem estar físico, emocional, intelectual e social.
O conto de fadas torna-se terapêutico por ressaltar na criança sua
capacidade de querer crescer e por oferecer a possibilidade de vencer seus medos
(MATOS; MUGIATTI, 2006).
Podemos inferir que a atuação do contador de histórias é, sem dúvida, uma
contribuição ao trabalho multiprofissional e interdisciplinar no contexto hospitalar
com o propósito de oferecer às crianças um atendimento mais humanizado.
Segundo Giordano:
14
Cabe ressaltar que em dezembro de 2009, a SEE/SP elaborou um guia de orientação dirigido aos
diretores das unidades escolares. O guia passa por uma atualização e pelo adiantado da pesquisa, o
resultado da atualização não poderá ser incorporado à pesquisa. O guia traz dentre outras diretrizes,
a especificidade da Classe Hospitalar, conforme segue: “a classe hospitalar é um serviço oferecido
pela Secretaria da Educação, para o atendimento de alunos internados em Unidades Hospitalares,
com doenças crônicas que necessitam de internações por longos períodos e com retornos
frequentes para tratamentos intensivos”. Legislação: Decreto Lei n.º 1.044/69; Parecer CNE n.º
06/98; Lei n.º 6.202/75; Deliberação CEE n.º 59/2006; Lei n.º 10.685/2000. Destaco a significativa
contribuição da Professora Dr.ª Amarílis Serra Simões na obtenção do guia supracitado.
37
O contar histórias acompanha os homens desde os primórdios dos tempos,
quando estes frequentavam as cavernas para registrar e contar o seu
cotidiano através de desenhos que guardavam na memória. A partir desse
jeito de contar histórias, pudemos ficar sabendo de passagens que nos
permitem conhecer a nossa história (GIORDANO, 2005, p.36).
Conforme verificaram Ortiz e Freitas (2003) que, para além das vantagens
pedagógicas, a presença da escola no ambiente hospitalar favorece um melhor
enfrentamento da doença por parte das crianças, conforme descrevem as autoras:
Essas experiências demonstram que a promoção de ambientes
educacionais e lúdico-terapêuticos nos hospitais contribui de forma ímpar
para o enfrentamento das enfermidades por parte das crianças
hospitalizadas, amenizando possíveis traumas. Essas iniciativas auxiliam,
da mesma forma, o tornar o hospital um ambiente humanizador e
contribuem para que o período de hospitalização se constitua num evento
que pode ser compreendido pelo paciente, sendo considerado uma ocasião
em que a subjetividade e os conhecimentos continuam a ser construídos,
simultaneamente à recuperação (ORTIZ; FREITAS, 2003, p.186).
Matos (2008) descreve que não se pode generalizar o dia a dia em um
hospital; portanto, contar histórias, dramatizar, usar fantoches e outras tantas
linguagens são comunicações que chamam a criança e o jovem para fora realidade
hospitalar, podendo contribuir para melhorar sua qualidade de vida, pois esse
diferencial, fará com que a hospitalização seja mais amena em sua vida.
É também uma iniciativa de grupos voluntários
15
, que solidarizados com o
isolamento provocado por algumas doenças crônicas e graves, integram-se aos
serviços médicos com apoio pedagógico, atividades recreativas, leituras, contação
de histórias e demais ações educativas.
Matos e Mugiatti (2006), apontam a importância do atendimento pedagógico
hospitalar, pois os aspectos biológicos não devem ser os únicos a considerar,
quando tratamos da criança e do adolescente hospitalizados, devemos considerar o
homem, como um ser total no qual os aspectos psicológicos e sociais estão
associados.
15
Os Doutores da Alegria são uma organização artística do terceiro setor, que desde os anos 1990
leva o trabalho de atores profissionais para dentro de hospitais. Utilizando a figura do palhaço que
acredita ser médico e realiza examese consultas”, o artista passa a fazer parte do dia-a-dia das
enfermarias, visitando duas vezes por semana todas as unidades em que crianças e adolescentes
internados e interagindo, também, com seus acompanhantes e profissionais do hospital. Em 1991,
Dr. Zinho, palhaço pioneiro, possibilitou com essa iniciativa que muitas crianças vissem pela primeira
vez um palhaço e uma intervenção teatral. O hospital, então, passou a experimentar fronteiras no
mínimo não usuais à sua realidade, reinserindo questões da vida à rotina asséptica e controlada.
38
Para Leontiev (1978) a conclusão da evolução do biológico que se
estabeleceu em várias etapas, o homem atual possui todas as propriedades
biológicas necessárias a seu desenvolvimento sócio-histórico ilimitado, mas as
modificações biológicas deixam de ter uma ão preponderante sobre os homens.
As mudanças físicas necessárias para a hominização se concluem, mas sua
evolução prossegue pelos mecanismos do trabalho e a partir de então será regido
pelas características especificamente humanas. Neste sentido, Leontiev afirma que:
Cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe quando
nasce não é suficiente para viver em sociedade. É preciso adquirir o que foi
alcançado no decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana.
(LEONTIEV, 1978, p.267).
Assim, a prática pedagógica a ser desenvolvida, como foi dito
anteriormente, deve ser diferenciada
16
do cotidiano da escola normal e formal, uma
vez que essa prática é fortemente marcada pelas relações afetivas. Segundo Ortiz e
Freitas (2005) são positivas, pois servem de reforço, para que o aluno não desista
da luta pela saúde. Dessa forma, o professor propõe atividades pedagógicas
17
e, por
meio delas constroi e reinventa projetos de vida para, após a hospitalização; Kronos
e Kairós (Queluz, 2001), convivem no mesmo plano em diferentes espaços e
tempos.
Podemos concordar com Matos e Mugiatti (2006), afirmam que oferecer ao
aluno hospitalizado a valorização de seus direitos à educação e saúde como
também ao espaço que lhe é devido como cidadão, é um dos principais objetivos do
atendimento pedagógico-hospitalar.
Para tratar do avanço desse campo de atuação, Fonseca (2003) baseada na
legislação brasileira, que o atendimento pedagógico-educacional hospitalar é
reconhecido por meio do Estatuto da Criança e do Adolescente hospitalizado, bem
como outros documentos oficiais. A autora comenta a Declaração dos Direitos da
Criança e do Adolescente:
A Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados
decorreu de formulação da Sociedade Brasileira de Pediatria e da
Resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente,
com a chancela do Ministério da Justiça em 1995. Essa modalidade de
16
Não só na classe hospitalar.
17
Apontamos aqui a importância da educação estética pois tende à sensibilidade no ato de ensinar,
educar e formar. [...] Alfabetização dos sentidos do ouvir, olhar, tatear,gostar, cheirar [...] na
organização da sala de aula, quer seja o espaço formal e não formal de atuação (ROSITO, 2007,
p.286).
39
atendimento denomina-se classe hospitalar, prevista pelo Ministério da
Educação e do Desporto em 1994, por meio da publicação da Política
Nacional de Educação Especial (FONSECA, 1999, p.3).
A Resolução 02 do MEC outorga, em 11 de setembro de 2001, que sejam
implantados meios para que o aluno hospitalizado seja atendido em suas
necessidades escolares. Por esse motivo, o aluno internado afastou-se da escola e
tem a oportunidade de continuar seus estudos no hospital, acompanhado por um
professor, levando-se em consideração, conforme Fonseca (2003):
A criança hospitalizada sente dor, medo, mal-estar, desconfiança, sente-se
privada da convivência com os amigos e de frequentar a escola. Esses
sentimentos são minimizados quando ela tem a oportunidade de vivenciar a
sala de aula no hospital, isto a faz sentir menos doente e mais ligada ao
mundo que deixou (FONSECA, 2003, p.7).
Com vistas à normatização e procedimento dos profissionais da saúde, a
Sociedade Brasileira de Pediatria elaborou uma proposta que, tendo sido aprovada
deu origem à Resolução n.º 41 de outubro de 1995:
Direitos da criança e do adolescente hospitalizado:
1. Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de
educação para a saúde, acompanhamento do curriculum escolar durante
sua permanência hospitalar.
2. Direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis para a sua
cura, reabilitação e/ou prevenção secundária e terciária.
3. Direito a ter seus direitos constitucionais e os contidos no Estatuto da
Criança e do Adolescente respeitados pelos hospitais integralmente.
Em 2002, o Ministério da Educação, por meio da Secretaria de Educação
Especial, elaborou um documento de Estratégias e Orientações para o atendimento
nas classes hospitalares, assegurando assim, conforme a Lei de Diretrizes e Bases,
Básica nº 9.394/96:
Art. 3º - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
Tem direito ao atendimento escolar os alunos de ensino básico internados
em hospital, em serviços ambulatoriais de atenção integral a saúde ou em
domicílio; alunos que estão impossibilitados de frequentar a escola por
razões de proteção à saúde ou segurança abrigados em casa de apoio,
casas de passagem, casas-lar e residências terapêuticas (BRASIL, 2002).
Conforme reza o artigo 13 das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial
na Educação Básica:
Os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os sistemas de
saúde, devem organizar o atendimento educacional especializado a alunos
impossibilitados de frequentar as aulas em razão de tratamento de saúde
que implique internação hospitalar, atendimento ambulatorial ou
permanência prolongada em domicílio (BRASIL, 2002, p.75).
40
Segundo a Política do Ministério da Educação, “classe hospitalar” é o
atendimento pedagógico-educacional que ocorre em ambientes de tratamento de
saúde, seja na circunstância de internação, como tradicionalmente conhecida, seja
na circunstância do atendimento em hospital-dia e hospital-semana ou em serviços
de atenção integral à saúde mental (BRASIL, 2002).
O Projeto de Lei PL 4.191/04 por meio do movimento político ocorrido em
junho de 2010, Plano Municipal de Educação, espera aprovação para este ano. O
documento preconiza dentre outras ações as seguintes formulações:
Art. 1º - Com base na Lei n.º 7.853, de 24 de outubro de 1989, art. 2º, inciso
I, alínea “d”, e na Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996, arts. 5º, § 5º,
23 e 58, § 2º, os sistemas de ensino, mediante ação integrada com os
sistemas de saúde, ficam obrigados a oferecer atendimento educacional
especializado a crianças, jovens e adultos, matriculados ou não em escolas
de educação básica, temporária ou permanentemente impossibilitados de
frequentar as aulas em decorrência de condições e limitações específicas
de saúde;
Parágrafo único. As crianças, jovens e adultos que se encontram na
situação descrita no caput deste artigo são considerados educandos
portadores de necessidades especiais.
Art. 2º - O atendimento educacional especializado de que trata o artigo
anterior será prestado em classes hospitalares ou por meio de atendimento
pedagógico domiciliar.
§ Denomina-se classe hospitalar o atendimento pedagógico-educacional
que ocorre em ambientes de tratamento de saúde, seja na circunstância de
internação, como tradicionalmente conhecida, seja na circunstância do
atendimento em hospital-dia ou hospital-semana ou em serviços de atenção
integral à saúde mental.
Art. 3º - Cumpre às classes hospitalares e ao atendimento pedagógico
domiciliar:
I assegurar continuidade ao processo de desenvolvimento e ao processo
de aprendizagem de crianças, jovens e adultos, matriculados ou não em
escolas de educação básica, temporária ou permanentemente
impossibilitados de frequentar a escola;
II desenvolver currículo flexibilizado e/ou adaptado e manter vínculo com
as escolas, de forma a favorecer o ingresso ou retorno desses alunos à
escola regular e sua adequada integração ou reintegração ao grupo escolar
correspondente.
Art. 4º - As Secretarias Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de
Educação e de Saúde deverão celebrar convênio entre si, no qual serão
fixadas as responsabilidades de cada área, a forma de integração entre
ambas e divisão de atribuições para oferta de classes hospitalares e do
atendimento pedagógico domiciliar.
§ 1º Compete à Secretaria de Educação
I a contratação e capacitação de professores e demais profissionais da
educação;
II a provisão de recursos financeiros e materiais para os referidos
atendimentos;
III a coordenação pedagógica desses atendimentos, por meio de uma
unidade de trabalho pedagógico na secretaria;
IV – o acompanhamento desses atendimentos, de forma a assegurar o
cumprimento da legislação e a promoção da qualidade dos serviços
prestados.
§ 2º Compete à Secretaria de Saúde:
41
I disponibilizar e adequar espaços nos hospitais e demais serviços
públicos de saúde, de modo a favorecer o desenvolvimento de atividades
didático - pedagógicos;
II – dotar esses espaços de instalações sanitárias próprias, completas,
suficientes e adaptadas às necessidades dos educandos;
Art. - Os professores e demais profissionais da educação, designados
pelas respectivas secretarias de Educação para as classes hospitalares e o
atendimento pedagógico domiciliar, deverão:
ser formados em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação
plena, para atuação na educação básica, da educação infantil ao ensino
médio (Grifos nossos).
Ao transpor tais considerações ao fenômeno aqui analisado, percebemos os
desafios que os cursos de formação de professores, sobretudo os de Pedagogia
enfrentam, ou seja, quando se concretizam e possibilitam que os futuros professores
vivenciem situações de aprendizagem teórico-práticas interdisciplinares que
permitem uma reflexão crítica na complexidade do processo educativo, em suas
múltiplas dimensões ao subsidiar novas ações pedagógicas.
Schön (1997; 2000) refere que esse movimento de reflexão crítica, antes,
durante e após a ação docente faz emergir as construções teóricas e metodológicas
sistematizadas e consolidadas e que, muitas vezes, precisam ser reelaboradas;
promove relações e aproximações com os problemas detectados; analisa os
fenômenos; estabelece comparações entre fatos e suas contradições. Enfim,
ressignifica as práticas pedagógicas à luz de novos referenciais teóricos que
valorizam e incentivam a interação e a mediação, fatores fundamentais para a
construção de conhecimento compartilhado de educandos e educadores, sem
desconsiderar a subjetividade como fator essencial na e da prática pedagógica.
Matos e Mugiatti (2006, p.82), referem que “no quadro de suas atividades, as
crianças e os adolescentes hospitalizados têm, assim, ocasião de exteriorizar
situações conflituosas por meio de múltiplas atividades pedagógicas”.
Estas atividades poderão estar representadas de forma lúdica, recreativa,
como o envolvimento em atividades com música, canções, dramatizações, desenhos
e outras possibilidades expressivas indicadas em um planejamento flexível e
articulado, voltado a atender a esses aspectos tão importantes no cotidiano da
escolarização desses alunos em contexto hospitalar.
42
Vasconcelos
18
(2006), alerta que nem de boa vontade vive uma prática, é
essencial que se estabeleça um conjunto de regras ou normas, a fim de que a
atividade escolar em hospitais não caia no conceito de diversão, de passa-tempo,
sobretudo que esses dois termos são muitas vezes usados em conotação pejorativa.
A atenção pedagógica voltada à criança e ao adolescente hospitalizado não
basta por si só; é preciso também assegurar ensino escolar continuado.
Nesse processo de relação interpessoal, a criança sente-se acolhida com a
intervenção do professor, na medida que lhe traz um pouco de seu mundo perdido
temporariamente, além do mais, o professor, sendo um dos profissionais que esta
com ela todos os dias, transmitirá a segurança necessária para as intercorrências
advindas da internação.
Nos grandes hospitais pediátricos ou outros que possuam crianças e
adolescentes em idade de escolarização hospitalizados, é imperativo criar as
necessárias condições para que a criança e o adolescente sintam segurança
durante sua internação. Considerando a gestão de sala de aula, qualquer que seja o
espaço (formal ou não formal) torna-se importante que os professores planejem,
organizem, avaliem e controlem as atividades didático pedagógicas na perspectiva
da autonomia e emancipação.
Conforme cita Arendt (2007, p.190), a condição humana pressupõe que
o espaço público seja o único local em que cada ser pode e deve demonstrar
sua singularidade. A privatização dos espaços faz com que o indivíduo seja
destituído de coisas fundamentais para sua existência, como por exemplo, as
trocas existentes entre todos, “mediante um mundo comum de coisas, e
privados da possibilidade de realizar algo mais permanente que a própria
vida. A privatização de todas as esferas da vida reside na ausência de outros.
O homem privado não se dá a conhecer e, portanto, é como se não existisse.
Do descompasso da ação e do discurso, a primeira perde seu caráter
revelador, transformando cada ser em coisas mecânicas como uma caixa de
ressonância, realizando coisas humanamente incompreensíveis: sem o
discurso, a ação deixaria de ser ação, pois não haveria ator; e o ator, o agente
18
Artigo apresentado no Congresso Internacional de Pedagogia Social. Março de 2006. Intervenção
escolar em hospitais para crianças internadas: a formação alternativa re-socializadora.
43
do ato, só é possível se for ao mesmo tempo, o autor das palavras (ARENDT,
2007, p.191).
Cabe ao professor da classe hospitalar estabelecer o vínculo entre a criança,
o ambiente hospitalar, a família e a escola de origem. Não pode lhe faltar o
entendimento de todos os aspectos que fazem parte da “rotina da enfermaria”, ou
seja, sobre o estado clínico do paciente, tratamento e cuidados, pois, além de
educador, o professor também cuida desse aluno, inclusive, psicologicamente. Ou
seja, segundo Fonseca (2003, p.30), “o professor entra como parceiro na relação
entre a criança e o ambiente hospitalar, entre a criança e o familiar e nas interações
de ambos com o hospital”.
A prática e atitude reflexivas podem ser desenvolvidas a qualquer momento
da vida pessoal e profissional, e, em situações emergenciais, também, podem
ocorrer.
Assim, nesse contexto, o aspecto biológico da doença e hospitalização não
se verifica de forma isolada, faz parte de um intrincado complexo de sistemas, como
os de natureza psicológica e social que se associam em um íntimo e intenso
entrelaçamento, o que remete ao processo multidisciplinar para a construção da
interdisciplinaridade. Espontaneidade e flexibilidade nas discussões são elementos
indispensáveis no desempenho de equipes.
Corrobora a afirmação acima (CECCIM, 1999b), quando descreve que, além
de atuar na intervenção pedagógico-educacional, a classe hospitalar ajuda no
desenvolvimento psíquico e cognitivo da criança e adolescente. Mais ainda, oferece
ao aluno hospitalizado a valorização de seus direitos à educação e à saúde, como
também ao espaço que lhe é devido como cidadão, que é um dos principais
objetivos do atendimento pedagógico-hospitalar.
Fazenda (2003, p.56), refere-se ao assunto como “atitude interdisciplinar” dos
profissionais, cuja postura é dialeticamente realizada em movimentos circulares das
situações velhas para as novas, destas para velhas, percebendo-se que a situação
velha possa se transformar e, nesta, sempre haverá algo de novo.
Segundo Matos e Mugiatti (2006, p.91) transdisciplinaridade é algo “além do
espaço e da temporalidade, é a presença da essência na interdisciplinaridade”.
Fonseca (2003) nos ajudará a compreender melhor como ocorre o
44
atendimento escolar no hospital e qual o perfil curricular das classes hospitalares.
Em geral, alguns dos itens que relata, é o guia do Ministério da Educação que
orienta os professores que recebem alunos com problemas de saúde. Este trabalho
é de extrema importância para a recuperação dessas crianças.
A autora define as necessidades da classe hospitalar, tendo como a sua
principal característica a diversidade. Assim define também a classe hospitalar com
o objetivo de:
Atender pedagógico - educacionalmente às necessidades do
desenvolvimento psíquico e cognitivo de crianças e jovens que dadas as
suas condições especiais de saúde, se encontram impossibilitados de
partilhar as experiências sócio-intelectivas de sua família, de sua escola e
de seu grupo social (FONSECA, 2003, p.12).
A autora chama a atenção referindo-se ao currículo
19
da classe hospitalar que
contém parte do currículo de uma sala normal regular, mas permeia-se a outros
aspectos, como a criança, a doença, os pais, os profissionais da saúde, o ambiente
hospitalar, o ambiente da escola hospitalar, o professor, entre outros.
Sobre a atuação e organização das aulas, um desdobramento talvez
prioritário na discussão da atuação do professor é a questão da rotina da escola
hospitalar, que a rotina médica não existe, pois a criança nunca sabe como será
seu dia, quem virá visitá-la, o que vai comer, como será seu tratamento, os lugares
onde terá de ir. Enfim, nas salas de aula deve haver uma rotina organizada que
respeite as limitações desses pacientes, que é de extrema importância para que a
atuação dos profissionais da educação não seja comprometida.
Nesse sentido, concordamos com Vasconcelos (2006, p.36), para quem
“formar professores para trabalhar junto a crianças doentes é um desafio que implica
descobrir estratégias diferenciadas e adaptáveis à realidade, assim como despertar
para os momentos de sua aplicação”.
Sobre a observação, Fonseca (2003) reconhece que deve ser realizada de
maneira natural, sem que esta criança perceba, e é mais uma ferramenta quanto ao
trabalho a ser desenvolvido pelos profissionais das classes hospitalares. A
observação natural que o professor faz é parte central de sua coleta de dados para
19
Na pesquisa, não abordaremos o currículo tendo em vista que a Tese recebe como ponto nodal os
saberes necessários para a atuação na Pedagogia Hospitalar (classes hospitalares).
45
que possa planejar desenvolver, avaliar e registrar mais assertivamente o seu
atendimento pedagógico-educacional hospitalar (FONSECA, 2003, p.34).
A avaliação deverá levar em conta a convicção de que todos têm capacidade
de aprender, não importando o tempo nem o ambiente.
Considerando o funcionamento das classes hospitalares, Fonseca (2003) diz
que a aula ocorre no período da tarde, pois durante a manhã os atendimentos
médicos. Embora isso não seja regra, por certo, haverá rupturas no cotidiano das
aulas. Contudo, o professor precisa encarar a situação como uma “dinâmica do dia-
a-dia de atividades”.
Para essa realização, devemos considerar que a rotina diária de atividade
precisa ter começo, meio e fim; o professor deve estar ciente, por meio do
prontuário, da situação clínica do paciente e seus tratamentos e evolução; o
professor deve ter um contato com a família primeiro, antes de estabelecer um
contato direto com a criança, pois o professor pode intimidar a criança; deve
respeitar o período de sua adaptação na sala hospitalar. O professor pode fazer uma
visita à enfermaria para conhecer seus alunos, antes do contato direto com as
crianças. As atividades devem atender às necessidades, mas também aos
interesses do aluno, e o professor precisa estar preparado para enfrentar
imprevistos e situações, conseguindo adequar as atividades durante o processo.
O professor não deve estar fechado, mas deve ter a sensibilidade suficiente
para perceber o que acontece na sala de aula, pois o que o aluno sugere pode ser a
alavanca para uma aprendizagem mais efetiva e significante (FONSECA, 2003,
p.41).
Em relação à adequação e adaptações do ambiente, aos materiais e
atividades, o professor precisa adequar-se a esse ambiente hospitalar e, muitas
vezes, o improviso é inevitável. Seja onde for o ambiente que o professor esteja,
precisa ser antes de tudo organizado e preparado para receber crianças em
qualquer situação, por exemplo, um cadeirante. Muitas vezes o professor precisará ir
até o leito do paciente e adaptar uma mesa para realizar as atividades, ou então o
atendimento poderá ocorrer na enfermaria. Todavia, nenhum desses motivos podem
servir de impedimento para que as crianças concentrem-se nas atividades mediadas
pelo profissional.
46
O funcionamento e as características do hospital produzem mudanças
históricas. Até o século XVIII, os hospitais tinham como tarefa a salvação e a
segregação dos doentes. Não havia a intenção de cura: recebiam-se leprosos,
pobres, loucos e o atendimento era feito por religiosos
20
ou leigos de forma
assistencialista. A função era salvar as almas doentes. O médico o ocupava o
espaço do hospital.
Com as grandes navegações e o mercantilismo em toda parte do mundo,
começa o tráfico internacional de mercadorias e, com isso, as doenças que eram
trazidas pelos marinheiros poderiam contaminar as pessoas das cidades. Isto gerou
a preocupação com a higienização humana e o nascimento da Ordem Médica.
Inicia-se outro objetivo, o de curar, o de estudar e o de classificar as doenças.
Com o desenvolvimento mercantilista, tornava-se importante impedir o tráfico
de mercadorias e de drogas, evitar o contágio das doenças que os marinheiros
poderiam trazer para as cidades, e também manter saudáveis estes trabalhadores
(SOUZA, 1992, p.23).
O hospital torna-se um lugar asséptico, com muita atenção na limpeza,
separação dos leitos e outros cuidados em relação ao tratamento. O ambiente
hospitalar passa a ser o lugar que cura doenças. Nesse momento, a medicina é
objetiva. Pesquisa-se o corpo fragmentado em um método empirista, em que cada
parte do corpo é estudada para se chegar à doença. Procura-se, então, a
objetivação do sujeito.
Cada indivíduo é um composto de características a serem bem avaliadas.
Primado do controle, da objetividade e da individualidade. Individualidade, neste
sentido, corresponde a um homem que pode ser objetivado (SOUZA, 1992, p.32).
O modo de ver o paciente mudaria a partir do século XX, quando Freud
(1900)
21
concebe a psicanálise, a concepção de análise da pessoa passa pelo
entendimento de sua subjetividade. O doente o é apenas o corpo, mas escuta-se,
o que ele tem a dizer sobre si mesmo, com base nos conflitos internos. A medicina
evolui com a tecnologia e com novas ciências que auxiliam de forma mais diretiva o
doente.
20
Os camilianos professam a fé sob os ideais de São Camilo de Lellis.
21
O início da psicanálise é marcado com a publicação da obra Interpretação dos Sonhos em 1900.
47
Surgem as equipes multidisciplinares dentro da área da saúde, com
profissionais que trabalham em conjunto no hospital em benefício do paciente.
A multidisciplinaridade corresponde aos diversos saberes conferidos ao
ambiente hospitalar, como sensível resposta à promoção da vida com saúde, para
onde convergem as diversas ciências em prol da vida com mais qualidade (MATOS;
MUGIATTI, 2006, p.30).
Atualmente, o paciente ganha cada vez mais com esta efetividade sobre o
tratamento da doença que o hospital possibilita. Pensando no direito de viver com
qualidade, a figura do professor surge na equipe multidisciplinar hospitalar, para que
os pacientes infantis tenham a oportunidade de uma vida mais próxima do normal,
tornando-se mais uma ferramenta para o auxílio de seu tratamento. Ou seja, além
do cuidado com a doença, fica cada vez mais patente a necessidade do cuidado
com a vida do paciente, como um todo.
Sabemos que no hospital as crianças estão sob cuidados médicos, tomando
medicamentos, fazendo exames, recebendo visitas. Estes fatores tornam o processo
de atendimento educacional mais dinâmico e adaptável. Por isso, diferentemente
das classes na escola convencional, o professor adaptará sua aula no local e
período disponível pelo hospital e adequado às crianças enfermas.
O atendimento educacional hospitalar pode ocorrer em uma sala separada,
hospitais onde existem cantos ou corredores onde se realizam as atividades
pedagógicas.
O espaço do atendimento escolar no hospital varia dependendo do hospital,
das necessidades de determinadas enfermarias, das enfermidades dos pequenos
pacientes e da disponibilidade de espaço que o professor adquire para montar uma
classe hospitalar.
As classes hospitalares são ambientes projetados com o propósito de
oferecer atendimento para o desenvolvimento e construção do conhecimento das
crianças, jovens e adultos na educação básica, respeitando suas capacidades e
necessidades educacionais e individuais.
Existem hospitais públicos com salas que funcionam como classe hospitalar.
Se o professor possuir autonomia no hospital poderá decorá-la e proporcionar um
48
ambiente aconchegante ao estudo dos alunos. Eles poderão explorar de materiais
como livros, brinquedos, jogos, computadores. Conforme Fonseca refere:
Se o professor dispõe de sala ambiente, ela deve ser constantemente
organizada, afim de que possa melhor suprir as demandas das crianças
nela atendidas. Isto pode ser feito com base nas observações e registros de
como as crianças exploram e utilizam os materiais nela existentes. O
professor deve estar atento para a disposição do material e substituir
aqueles pelos quais as crianças pareçam não se interessar muito, ou criar
estratégias para que elas passem a explorar tais recursos. As próprias
crianças podem auxiliar e ser orientadas quanto à manutenção da
organização do espaço, o que não impede de explorá-lo nem de manipular
aquilo que seja interessante (FONSECA, 2003, p.44).
Para o funcionamento das classes hospitalares, é necessário um
mobiliário adequado, uma bancada com pia, instalações sanitárias próprias e
suficientemente adaptadas, além de espaço ao ar livre para atividades físicas
e ludo-pedagógicas.
Recursos audiovisuais, computadores em rede, televisão, máquinas
fotográficas, filmadoras, telefone com chamada de ramal e externa devem
estar disponibilizados nas classes hospitalares. Percebe-se a importância
desses recursos, tanto no que se refere ao planejamento, desenvolvimento e
avaliação do trabalho pedagógico como no contato efetivo do professor que
atua na classe hospitalar com a escola vinculadora, seja como sistema
responsável para prover e garantir o acesso educacional.
Pode ocorrer que o professor não disponha de uma sala, sobretudo no início
da implantação de uma escola no hospital. Ele poderá começar seu atendimento em
brinquedotecas, em corredores, em salas minúsculas ou até mesmo em um canto da
recepção de enfermarias.
O atendimento pedagógico poderá também ser solicitado pelo ambulatório do
hospital, onde poderá ser organizada uma sala específica da classe hospitalar
(BRASIL, 2002, p.16).
O professor consciente do bom trabalho que tem a fazer, não deve se
constranger, temporariamente
22
, com o espaço fornecido pelo hospital para sua
atuação. Ele tem que conquistar um local melhor com o sucesso de suas
22
Deve servir de referencial para lutas e conquistas referentes ao reconhecimento e valorização da
prática docente no hospital (grifo meu).
49
realizações, mostrando que o trabalho pedagógico vem beneficiar essas crianças
dentro do hospital.
O profissional da educação nutre-se com base na criatividade. Quando existir
uma sala para o trabalho será um local especialmente ambientado para o
atendimento pedagógico destas crianças. Se for apenas um canto para elas, o
profissional trabalhará da mesma forma para os pacientes que talvez tenham
apenas este instante que lhes permite a quebra da tensão sofrida na situação
hospitalar. Lembrando que o professor oferecerá o beneficio para a situação atual
que o aluno se encontra em condições especiais e após a alta.
Mesmo com toda esta discussão de local adequado, o MEC faz a seguinte
recomendação do local ideal que deveria ter no hospital para a atuação do
professor:
Os ambientes serão projetados com o propósito de favorecer o
desenvolvimento e a construção do conhecimento para crianças, jovens e
adultos, no âmbito da educação básica, respeitando suas capacidades e
necessidades educacionais especiais individuais. Uma sala para
desenvolvimento das atividades pedagógicas com mobiliário adequado e
uma bancada com pia são exigências mínimas. Instalações sanitárias
próprias, completas, suficientes e adaptadas são altamente recomendáveis
e espaço ao ar livre adequado para atividades físicas e ludo-pedagógicas
(FONSECA, 2003, p.15).
Recomenda, ainda, por meio de alguns procedimentos, quais as atividades
essenciais a ser consideradas no processo de internação:
elaboração de um plano de intervenção individual e coletivo, para o
desenvolvimento de conteúdos curriculares específicos, baseado nas
observações efetuadas diretamente com a criança e nos resultados
das avaliações realizadas e dos exames clínicos;
inserção de objetivos e metas a serem alcançados, das atividades e
estratégias a serem empregadas e meios a serem utilizados no plano
de intervenção, além dos facilitadores ou mediadores requeridos;
elaboração de estratégias viáveis para a realização de cursos de
educação continuada para profissionais da educação infantil na
perspectiva da escola inclusiva;
criação de estratégias que estabeleçam parcerias entre as áreas de
educação, saúde e assistência social voltados para a realização de
50
programas voltados para a promoção do desenvolvimento integral de
criança com necessidades educacionais especiais;
Existem casos de crianças internadas que não têm como se locomover a
outro espaço que não seja o leito. Quando isto ocorre, o professor faz seu
atendimento no próprio leito levando alguns recursos para que este aluno também
tenha o direito de estudo. Neste sentido, ainda segundo o MEC:
Além de um espaço próprio para a classe hospitalar, o atendimento
propriamente dito poderá desenvolver-se na enfermaria, ao leito ou no
quarto de isolamento, uma vez que restrições impostas ao educando por
sua condição clínica ou de tratamento assim requeiram (MEC, 2002, p.16).
O homem, como sujeito do processo histórico, necessita dar continuidade à
construção da sua própria existência, sem interrupção. Com base nos propósitos
interativos que o difere dos demais seres vivos, transforma a sua realidade natural e
social, interferindo na natureza e nas relações. Sendo assim, é por meio do trabalho,
ou seja, pela produção de conhecimentos e subsistência material que se garante a
sobrevivência da espécie humana.
A educação, como resultado do trabalho não material, torna-se essencial na
medida que extrai ideias, conceitos, atitudes, valores e habilidades produzidas
historicamente pelos homens dando continuidade ao processo de humanização. A
escola, representada pelo professor, cujo campo de ação pedagógica diz respeito à
socialização do saber elaborado, isto é, a produção do conhecimento metódico e
sistematizado na sociedade com base nas diferentes formas de produção da
existência humana.
O professor pode prestar atendimento pedagógico na residência do
educando, mas, para isso esta precisa ser adaptada. Os recursos de apoio
didático-pedagógico e as adaptações, tais como a eliminação de barreiras
físicas e arquitetônicas são questões importantes. Quanto aos aspectos
pedagógicos, o atendimento será orientado pelos componentes curriculares da
Educação Básica
23
em ação integrada com os serviços de saúde.
23
Cabe ressaltar que as atividades pedagógicas e lúdicas realizadas no ambiente hospitalar levam
em conta o desenvolvimento de cada criança e as informações obtidas das escolas de origem, sendo
preciso adaptar o conteúdo ao contexto do internado e que, embora esse atendimento receba o nome
de classe hospitalar, dificilmente, formam-se classes, pois as crianças apresentam idades, quadros
clínicos e necessidades diferentes.
51
O currículo deverá ser flexibilizado para contribuir para a promoção da
saúde e melhor retorno ou continuidade dos estudos dos alunos envolvidos
(BRASIL, 2002).
Dessa forma devemos buscar na educação uma pedagogia transformadora
que contribua para a emancipação do aluno e para a promoção da saúde, pois este
caminho não é físico, está permeado por questões sociais, políticas e
econômicas.
As instituições educacionais devem proporcionar aos alunos condições de
acesso ao conhecimento, construindo o processo livre, enriquecedor e coletivo de
participação na formulação dos conceitos e dos valores; assim, a educação escolar
deve proporcionar a transformação.
O papel político e emancipador da educação deve ser considerado também
no ambiente hospitalar. Sob tal ponto de vista, o objetivo é claro e definido, isto é,
manter e potencializar os hábitos próprios da educação intelectual e da
aprendizagem de que necessitam as crianças/adolescentes em idade escolar,
mediante atividades desenvolvidas por pedagogos em função docente.
Freire (2003, p.33) evidencia que o desenvolvimento de uma consciência
crítica que permite ao homem transformar a realidade se faz cada vez mais urgente.
Conforme os homens, em sua sociedade, vão respondendo aos desafios do mundo,
vão temporizando os espaços geográficos e vão fazendo história pela sua própria
atividade criadora. Assim, a educação surge como mais uma possibilidade de auxílio
e emancipação da criança hospitalizada.
Nesta perspectiva, a atenção pedagógica, mediante a comunicação e o
diálogo, é essencial para o ato educativo e propõe-se a ajudar a criança e/ou
adolescente hospitalizado para que, imerso na situação negativa, que atravessa no
momento, possa se desenvolver em suas dimensões possíveis de educação
continuada, como uma proposta de enriquecimento pessoal.
Sendo assim, a intervenção pedagógica no ambiente hospitalar sugere ação
educativa adaptada às manifestações de cada criança/adolescente, em diferentes
circunstâncias, nos enfoques didáticos, metodológicos, lúdicos e pessoais. Neste
sentido, apresenta, em todos os momentos, alto grau de flexibilidade e
adaptabilidade às estruturas.
52
No contexto, é oportuno o reconhecimento da comunicação, como fator
essencial e fundamental para o trabalho em ação, pois parte do princípio de que o
ser humano age como pensante, com capacidade de orientar-se por meio de
critérios próprios, mediante a tomada de consciência de suas possibilidades.
CAPÍTULO II
TECENDO SABERES PARA A PRÁTICA PEDAGÓGICA
REFLEXIVA
Refletir sobre o que significa “ser professor” não é nada inédito nem recente,
porém, em todos os momentos de grandes transformações sociais, a escola é
colocada em evidência e seus atores em pauta.
A situação da instituição escolar torna-se mais complexa, ampliando a
complexidade para a esfera profissional. Os processos de ensino e aprendizagem
não podem mais ser vistos como reduzidos ao domínio dos conteúdos das
disciplinas e à técnica para transmiti-los. É agora exigido do profissional da
educação que lide com um conhecimento em construção e não mais imutável e
que analise a educação, como um compromisso político, carregado de valores éticos
e morais, que considere o desenvolvimento da pessoa e a colaboração entre iguais
e que seja capaz de conviver com a mudança e com a incerteza.
Aprender a ser um profissional da educação, nesse contexto, não é, portanto,
tarefa que se conclua após estudos de um aparato de conteúdo e de técnicas para a
transmissão deles.
Para Placco e Silva (2002), discutir sobre formação docente é antigo e ao
mesmo tempo atual; na história da educação tem sido questionada a maneira como
são formados nossos professores.
A formação inicial deve proporcionar saberes científicos, pedagógicos e
experienciais, constituintes das “bases para a construção do conhecimento
pedagógico especializado” (IMBERNÓN, 2004, p.65), pois é, nesse período, em que
se formam importantes elementos influenciadores da ação na tarefa educativa do
futuro professor.
Em alguns cursos de licenciatura, a ênfase da formação inicial tem sido nos
elementos teóricos, ficando a cargo do estágio a aproximação com situações da
realidade escolar, cuja ideia é a aplicação da teoria. Este é um aspecto central nos
54
cursos de preparação à docência em razão das consequências decisivas que
provoca na formação profissional (PIMENTA, 2009).
A discussão sobre os saberes que o professor adquire durante a formação
inicial é fundante para todos os educadores e, no caso dos professores de alunos
com deficiência, as indagações vêm tomando fôlego em função das reflexões
trazidas pelos processos inclusivos.
Para Pimenta (2009), a mobilização dos saberes dos professores, referidos
por ela como saberes da docência, é um passo importante para mediar o processo
de construção da identidade profissional dos professores. Sob este aspecto, indica
que esses saberes são constituídos por três categorias: os saberes da experiência,
os saberes do conhecimento, referidos como os da formação específica
(matemática, história, artes) e os saberes pedagógicos, aqui entendidos como os
viabilizam a ação do ensinar. Nesse sentido, para a autora, as três categorias
identificam o que é necessário saber para ensinar.
A autora recorre ao que denomina saberes do conhecimento, os saberes
disciplinares e curriculares identificados por Tardif et al. (1991) e uma conotação
especial aos saberes da experiência, destacando dois níveis: os saberes da
experiência dos alunos, futuros professores, construídos durante a vida escolar e os
saberes da experiência produzidos pelos professores no trabalho pedagógico
cotidiano.
Tardif (2002) chama atenção para o trabalho docente que não é
exclusivamente transformar um objeto ou situação em outra coisa, mas, é importante
transformar a si mesmo no e pelo trabalho.
Nesse sentido, André e Vieira (2006) apresentam a problemática do porquê a
temática dos saberes faz parte das questões contemporâneas e que a emergência
desta, está associada à crítica ao tecnicismo que dominava o ideário educacional
nos anos de 1970.
Segundo as autoras, na perspectiva da racionalidade técnica, o profissional
da educação não é visto como um produtor de conhecimento, mas como um
consumidor do que é produzido pela ciência e como técnica sua ação se reduz à
utilização de decisões tomadas por outros especialistas.
55
No entanto, nos anos 1980, esse modelo foi criticado por “por atribuir à teoria
uma posição de prevalência sobre a prática, pela insuficiência em interpretar a
prática educativa, que, constituída por sujeitos em ação e em relação, não pode ser
esclarecida pela mera aplicação de conhecimentos científicos previamente
definidos” (ANDRÉ; VIEIRA, 2006, p.12).
Entendemos que uma aprendizagem deve ocorrer por meio de situações
práticas que sejam efetivamente problemáticas, o que exige o desenvolvimento de
uma prática reflexiva competente
24
. Exige ainda que, para além de conceitos e de
procedimentos, sejam trabalhadas atitudes sendo estas consideradas tão
importantes quanto aquele.
Para Pimenta (2009), os saberes necessários ao ensino são reelaborados e
construídos pelos professores “em confronto com suas experiências práticas,
cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares” (PIMENTA, 2009, p.28).
Desse modo, os saberes dos professores aprendidos durante a formação
inicial, saberes das disciplinas e de formação profissional, serão reformulados e
reconstruídos no cotidiano da sala de aula, a partir dos saberes curriculares e da
experiência e de outros saberes científicos da formação continuada e fruto do
desenvolvimento profissional.
Tardif (2002, p.16) defende que o saber não se reduz, exclusivamente ou
sobretudo a processos mentais, cujo suporte é a atividade cognitiva dos indivíduos,
mas é também um saber social que se manifesta nas relações complexas entre
professores e alunos. que “situar o saber do professor na interface entre o
individual e o social, entre o ator e o sistema, a fim de captar a sua natureza social e
individual como um todo”.
Nesse sentido, espera-se que a instituição formadora tenha condições de dar
voz e vez às necessidades sociais e cumprir de forma correta o seu papel
ideologicamente definido: preparar pessoas que sejam capazes de enfrentar novos
desafios.
No Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação
para o século XXI, DELORS et al, (2001) afirmam que:
24
Trabalhar a pesquisa como princípio formativo da docência (PIMENTA, 2009, p.28).
56
A Comissão atribui à educação um papel ambicioso no desenvolvimento
dos indivíduos e das sociedades (pois) encaramos o próximo século como
um tempo em que, por toda a parte, indivíduos e poderes públicos
considerarão a busca do conhecimento, não apenas como meio para
alcançar um fim, mas como fim em si mesmo. (Por isso) todos vão ser
encorajados a aproveitar as ocasiões de aprender que se lhes oferecem ao
longo da vida e terão possibilidade de fazer (DELORS et al, 2001, p.152).
Considerando o exposto, concordamos com o autor, que muito se espera
dos professores e, por conseguinte, muito lhes seexigido, pois “a contribuição dos
professores é crucial para preparar os jovens, não para encarar o futuro com
confiança, mas para construí-lo eles mesmos de maneira determinada e
responsável” (DELORS et al. 2001,p.152).
O desempenho, o agir do professor estão diretamente implicados a seus
saberes, independente das características do alunado. Os saberes do professor
parecem estar ajustados ao que ele é, a seu ser e agir. O que ele é e o que ele faz
ao ensinar, precisam ser vistos como resultado dinâmico do processo do trabalho
escolar, implicado com a experiência profissional, a personalidade do professor e,
também, com as condições concretas nas quais o trabalho se realiza.
Os saberes de um professor são uma realidade social materializada através
de uma formação, de programas, de práticas coletivas, de disciplinas escolares, de
uma pedagogia institucionalizada, e o também, ao mesmo tempo os saberes dele
(TARDIF, 2002, p.16).
Ao analisar os saberes necessários à docência, Freire centrou como temática
“a prática educativo-progressista em favor da autonomia do ser dos educandos”
(FREIRE, 2003, p.14), sobretudo de maneira ética e, nessa perspectiva,
concebemos a formação de educadores para a atual realidade e suas emergências,
entre elas a educação dos alunos com deficiência.
Formar-se professor, além de conhecer as especificidades
25
de uma dada
área específica do conhecimento, também significa aprender a ser um mediador
entre os conhecimentos e os alunos, o que exige, também, reflexão sobre as
limitações e possibilidades do contexto político em que a prática docente ocorre.
A formação de professores deve proporcionar situações que possibilitem a
reflexão e a tomada de consciência das limitações sociais, culturais e ideológicas da
25
Tardif chama isso de saber plural, oriundo da formação profissional, o conjunto de saberes
transmitidos pelas instituições de formação de professores.
57
própria profissão docente (GARCIA, 1999, p.54).
Nesse sentido, o profissional da educação, em qualquer dos níveis e
modalidade que atue, se estiver realmente envolvido em seu trabalho, estará,
conforme educa, educando-se. Na medida que colabora para o aperfeiçoamento dos
alunos ou de seus pares, estará aperfeiçoando-se em um preparar-se constante
para a vivência de seu papel de educador.
Nóvoa ressalta a importância do trabalho em grupo do professor:
A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de
formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar
simultaneamente, o papel de formador e de formando. O diálogo entre os
professores é fundamental para consolidar saberes emergentes da prática
profissional (NÓVOA, 1995, p.26).
Freire (2003, p.14) afirma que “formar é muito mais que puramente treinar o
educando no desempenho de destrezas”.
Nesse sentido, Freire
26
nos convida a repensar nossa prática educativa. É
necessário que o educador assuma-se como sujeito da produção do saber e saiba
que ensinar não é transferir conhecimentos, mas, criar possibilidades para sua
construção. Portanto, formar e ser professor, é uma relação de comunhão, aceitação
de valores inerentes a cada sujeito da aprendizagem envolvido nesse processo.
Concordando com o exposto, o trabalho docente é uma prática realizada por
um trabalho interativo, “mobilização de saberes
27
”, concretizado na dimensão
dialógica, que se situa na confluência do mundo sistêmico e do mundo vivido em
contexto de complexidade.
O sentido da palavra formação para Donato (2001) refere-se a três momentos
da história, atribuindo-lhe o uso social. No século XVIII, o uso dado aos jesuítas à
formação do espírito encerra a ideia de crescimento, movimento, conquista, a busca
pelo aprimoramento, para que o indivíduo ao cultivar o desenvolvimento de seu
espírito torne-se melhor.
26
Quando a docência consiste em “traduzir” os conteúdos para os alunos, é provável que se conceba
formação, como algo localizado no conhecimento e no formador, naquele que “transmite” o
conhecimento, externo ao aprendiz, incapaz de desenvolver processos reflexivos e questionadores
vinculados aos contextos histórico, cultural, social, da escola, sala de aula e do processo e do próprio
aluno, caracterizando-se como uma “educação bancária”.
27
Transmite a ideia de movimento, de construção, de constante renovação, de valorização de todos
os saberes e não somente o cognitivo; revela a intenção da visão da totalidade do ser professor.
58
No culo XIX, apareceu o sentido de preparar, de tornar apto para a prática
de uma profissão que também traz a ideia de englobar outros conhecimentos aos
desenvolvidos, levando a uma prática que se configura na formação da mão de obra
para o trabalho, preparando o profissional que irá atuar em uma área,
correspondendo também a uma ideia de continuidade e constância no ato de formar.
Finalmente, o terceiro sentido traz a questão de formar para a vida com uma
visão de experiência, aquilo que se vive e, consequentemente, implica continuidade,
ação intermitente e cíclica.
Recorrendo a Freire (2003), fica claro aos nossos olhos que ensinar não é
apenas transferir conhecimento
28
, requer muito mais de nós. Ou seja, a
memorização mecânica, segundo Freire, também não é aprendizagem.
A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de ensinar, sugere ou,
mais do que isso, implica a nossa habilidade de apreender a substantividade do
objeto aprendido.
A memorização mecânica do perfil do objeto não é aprendizado verdadeiro do
objeto ou do conteúdo. Neste caso, o aprendiz funciona muito mais como paciente
da transferência do objeto ou do conteúdo do que como sujeito crítico,
epistemologicamente curioso, que constrói o conhecimento do objeto ou participa de
sua construção.
Nesse sentido, nada se faz sem aventura, e a aprendizagem vai muito além
daquela visão restrita de que ensinar é apenas aquisição de conhecimento. É no
processo de se tornar humano que se produz conhecimento. A questão anunciada
por Freire nos encaminha ao questionamento sobre o conhecimento.
Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado,
mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir, mas além dele. Esta é a
diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. A diferença entre o
inacabado que não se sabe como tal e o inacabado que história e socialmente
alcançou a possibilidade de saber-se inacabado (FREIRE, 2003, p.54).
28
Pedagogia Bancária é uma expressão cunhada por Freire que criticou agudamente a concepção de
educação como o “ato de depositar, de transferir, de transmitir valores e conhecimentos” (FREIRE,
2003, p.59).
59
Rosito (2007) aponta que a formação do profissional no interior da cultura
brasileira é um processo tensional entre emancipação e submissão, desde os
jesuítas. A reforma pombalina no decreto cortou a raiz da sabedoria, ou seja, o veio
do pensamento, da linguagem, da ética e da estética, elementos imprescindíveis
para a formação humana necessária ao professor. A formação do professor
perpassa algumas dimensões: técnica (conteúdo e metodologia), política, ideológica,
ética e estética.
Assim, prática docente crítica implica que o pensar, envolve um movimento
dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre o fazer. O saber que a prática
docente espontânea ou quase espontânea, ‘desarmada’, indiscutivelmente produz é
um saber ingênuo, um saber de experiência, a que falta rigorosidade metódica que
caracteriza a curiosidade epistemológica do sujeito. Esse não é um saber que a
rigorosidade do pensar certo procura. Recorremos mais uma vez a Freire:
Pensar certo acaba sendo uma exigência do ciclo gnosiológico, no qual a
curiosidade passa de um momento ingênuo para uma etapa epistemológica.
A curiosidade ingênua, característica de um senso comum, produz um certo
saber, não rigoroso, mas necessário como forma primeira ao
desenvolvimento do processo do conhecimento: pensar certo, do ponto de
vista do professor, tanto implica o respeito ao senso comum no processo de
sua necessária superação quanto o respeito e o estímulo à capacidade
criadora do educando (FREIRE, 2003, p.29).
Neste mundo globalizado, regido pela ideologia neoliberal, o caminho
possível é tornar-se sujeito, senhor de sua identidade, constituída na trajetória
pessoal e profissional em espaços singulares e coletivos (ROSITO, 2007).
Em Schön (1997, p.12), encontramos que tais medidas “nos obrigam a propor
uma reconceitualização constante, isto é, a reflexão de zonas intermediárias da
prática como são a singularidade, a incerteza e o conflito de valores”.
Considerando a educação de alunos com necessidades educacionais
especiais uma situação complexa, especialmente, no que tange ao atendimento
educacional no hospital, torna-se pertinente a análise de Garcia (1999), embora
direcionada aos professores de ensino comum, aplica-se com pertinência ao
desempenho dos professores nessas condições.
O desempenho, o agir do professor estão diretamente implicados a seus
saberes, independentemente das características do alunado. Os saberes do
professor parecem estar ajustados ao que ele é, ao seu ser e agir. O que ele é e o
60
que ele faz ao ensinar precisam ser vistos como resultado dinâmico do processo do
trabalho escolar, implicado na experiência profissional, e na personalidade do
professor e nas com as condições concretas nas quais o trabalho se realiza.
Nesta altura da exposição e com base na comprovação de que o professor
tem papel de catalisador a desempenhar na educação e que se espera para a
atualidade são pertinente algumas elucubrações indagativas: quais os saberes que
devem ser aprendidos efetivamente pelos professores no percurso da formação
inicial?
A partir da década de 1990, pesquisas relacionadas com os saberes docentes
vêm se desenvolvendo de modo expressivo, cujos objetivos são segundo Campelo
(2001, p.51), “formar professores para o desenvolvimento do ensino mais coerentes
com os fins da educação contemporânea, apesar das diversidades que marcam a
sua via e seu trabalho”.
Para André, “a emergência dessa problemática está associada à crítica ao
tecnicismo que dominava o pensamento educacional nos anos de 1970 e concebia o
professor como técnico eficiente” (ANDRÉ, 2003, p.12).
Destacamos que, o professor da classe regular se diferencia do da classe
hospitalar tanto em seu cotidiano como em relação ao atendimento à família.
Considerando as condições do professor da classe hospitalar, Assis enfatiza
que:
Não é tarefa fácil, nem simples, ser professor, como podem dizer ou pensar
algumas pessoas. Numa proposta de escola inclusiva, os estudiosos em
formação docente consideram relevante que esse profissional, responsável
pelo conhecimento e pelas intervenções pedagógicas, deva assegurar a
estreita relação entre o cognitivo e o afetivo no processo de aprendizagem,
saiba elaborar respostas adequadas às diferentes e imprevisíveis situações
educativas e mais: organizar e gerir o cotidiano escolar; construir o seu
plano pedagógico e avaliar (ASSIS, 2009, p.97).
O segundo capítulo intitulado Tecendo saberes para a prática
pedagógica reflexiva pretendeu discutir a temática saberes. Sobretudo para
respondermos à questão: Quais os saberes necessários para atuação na
Pedagogia Hospitalar. Mais explicitamente: O que se deve saber para poder
ensinar em classe hospitalar?
Se o que se busca é construir no coletivo uma pedagogia que atenda a
todos os alunos e que compreenda a diversidade humana como fator impulsionador
61
dessa nova forma de organizar as aprendizagens, é entendê-la como agente de
transformação da realidade educacional, respeitando as crianças e os adolescentes
em situação de internação.
Ou seja, é fazer do espaço pedagógico no hospital, classe hospitalar, o lócus
de experiências coletivas, para que sejam vivenciados e construídos novos saberes
para a prática, sem perder de vista as atitudes éticas e humanizadoras. Entretanto,
para isso, torna-se necessário, promover espaços de discussões interprofissionais,
no sentido de aprofundar os questionamentos de como realizar a prática pedagógica
hospitalar, para além da sala de aula formal. É no enfrentamento dessas questões
que as mudanças ocorridas carregam consigo os avanços assumidos, sobretudo,
pelos novos espaços de atuação do professor, reconhecido por Lei.
Eucaliptos não se transformam em jequitibás, a menos que em cada eucalipto haja um
jequitibá adormecido
Rubem Alves
Olhar para si é olhar para o outro
CAPÍTULO III
A PESQUISA
3.1 O problema de pesquisa
Um dos fenômenos mais significativos dos processos sociais contemporâneos
é a ampliação do conceito de educação e a diversificação das atividades educativas,
tendo levado, por consequência, uma diversificação da ação pedagógica na
sociedade.
A sociedade atual é eminentemente pedagógica, ao ponto de ser nomeada de
sociedade do conhecimento. Articular teoria e prática, associar os conhecimentos
específicos da profissão e os saberes advindos das práticas sociais, adequando-os
aos lugares que trabalham são alguns dos desafios a serem enfrentados pelo
pedagogo em sua atuação.
Sendo assim, o papel da educação é proporcionar essas transformações
sociais, levando alternativas para transformar o ambiente hospitalar de um lugar
triste e, muitas vezes, desconfortante para um local mais descontraído, por meio de
projetos lúdicos, pedagógicos e criativos, desenvolvendo habilidades, de acordo com
as especificidades pertinentes a esse contexto.
De modo geral, observa-se que a formação do pedagogo anunciada pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais é ampla, generalista e voltada ao ensino regular da
educação sica. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n.º 9.394/96,
tem na Educação Especial uma de suas modalidades e, no âmbito de suas
responsabilidades, encontra-se a Classe Hospitalar.
A educação hospitalar da criança e do adolescente representa uma das
novas especializações da educação apresentando assim uma ampla discussão que
se debruça no reconhecimento e importância da Pedagogia em diversos espaços
formais e não formais de atuação.
No entanto, o anunciado pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso
de Pedagogia vincula o pedagogo como profissional cuja identidade está subjacente
64
ao ensino e à gestão de sistemas, unidades e projetos educativos, tem seu espaço
de atuação diversificado, podendo trabalhar em instituições escolares e não
escolares, públicas, privadas ou comunitárias. A despeito desta condição, alguns
profissionais elegem a Classe Hospitalar como lócus de atuação.
Essas inquietações nos levaram a refletir sobre o enfrentamento da questão.
Nesse sentido, pressupõe-se que os cursos de formação inicial deveriam
contemplar de forma significativa tais complexidades e especificidades.
Nesse sentido, o problema de pesquisa é: quais são os saberes necessários
para atuação em Classe Hospitalar?
3.2 Objetivos da pesquisa
Conhecer o professor que atua em classe hospitalar.
Verificar a formação do professor no ensino com crianças e
adolescentes hospitalizados.
Identificar as práticas pedagógicas desenvolvidas
Fornecer subsídios para novas pesquisas sobre esta temática.
3.3 Método
A opção metodológica da presente pesquisa recaiu na abordagem qualitativa,
que, segundo André (2003), é uma modalidade de pesquisa que defende uma visão
holística dos fenômenos, isto é, que leve em conta todos os componentes de uma
situação em suas interações e influências recíprocas. Optamos também pela história
oral de vida para análise da narrativa de experiências de vida de uma pessoa.
Com base em Queiroz:
Não muitos anos, o “relato”, denominado agora história oral”, fez seu
reaparecimento entre as técnicas de coleta de material empregadas pelos
cientistas sociais; com tanto sucesso que, por muitos deles, foi encarado
como a” técnica por excelência, e até mesmo a única válida para contrapor
às quantitativas. Enquanto estas últimas, reduzindo a realidade social à
aridez dos números, pareciam amputá-la de seus significados, a primeira
65
encerrava a vivacidade dos sons, opulência dos detalhes, a quase
totalidade dos ângulos que apresenta todo fato social (QUEIROZ, 1987,
p.272).
A prática da história oral de vida ressalta a importância da experiência
individual garantindo o sentido social à vida do depoente e leitores que passam a
entender a sequência e a sentir-se parte integrante do contexto em que vivem
(MEIRY, 1998).
Glat et al (2004, p.236) consideram que “esse tipo de abordagem propicia
uma aproximação maior com o sujeito ou grupo analisado, já que privilegia as
aquisições das experiências de interesse interpretadas pelos próprios participantes”.
Para May (2004) quando, refere-se às entrevistas geram compreensões ricas
das biografias, experiências, opiniões, valores, aspirações, atitudes e sentimentos
das pessoas, mas é necessário entender sua dinâmica, aprimorar sua utilização e
compreender as suas diferentes formas de realização e de análise dos dados, além
de está consciente de suas vantagens e limitações.
3.4 Procedimentos metodológicos
Entrevista semidiretiva com profissional atuante em classe hospitalar,
para conhecer o trabalho desenvolvido pelo pedagogo no hospital e
quais os saberes necessários para atuação na classe hospitalar;
Organização, análise e discussão dos dados coletados.
3.5 Sujeito da pesquisa
A pesquisa foi realizada com uma professora atuante nas classes hospitalares
de um hospital estadual infantil, egressa de um curso de Pedagogia.
CAPÍTULO IV
APRESENTÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
Joana
Joana tem um sorriso muito aberto e meigo, é casada, 34 anos, mora na
Zona Leste de São Paulo. É concursada e trabalha em duas escolas: escola do
estado no período da manhã, e no período da tarde é professora de classe
hospitalar em um hospital estadual na cidade de São Paulo. Reside com seus dois
filhos e o esposo: Milene de 14 anos, Miguel com 8 anos de idade e o esposo, é
evangélica e afrodescendente. Milene cursa atualmente a série e Miguel está no
4º ano do Ensino Fundamental I
29
.
É a segunda filha de seis irmãos, como ela mesma descreve, é a irmã do
meio. Diz que, na família, têm mais duas pessoas cursando Pedagogia, a terceira
irmã, a caçula, e a irmã do marido.
Joana, atualmente, faz pós-graduação em Psicopedagogia. Pude observar
que para Joana, estar na pós-graduação é motivo de muito orgulho, sobretudo, pelo
fato de ter apresentado a matriz curricular do curso, enfatizando que, faltavam
poucas disciplinas para o término do curso.
Para a realização dos nossos encontros e entrevista, ocupamos de Joana os
finais de semana, os dias de sábado. Deixava claro que em todos os momentos que
fossem necessários ela contribuiria. Em um dos nossos últimos encontros ela me
disse:
Não se preocupe, pois não me incomoda. Acho que esqueci algumas questões. Se
precisar de mais alguma coisa, pode escrever telefonar que eu respondo.
29
Todos os nomes são fictícios.
67
História de vida
Ao iniciar a narrativa de sua história de vida, Joana refere-se a sua chegada
ao curso de Pedagogia, momento em que, recorre à memória para reconhecer quais
foram os professores que foram significativos e, “contribuíram com sua formação
humana” (PIMENTA, 2009, p.20) em seguida, nos diz da escolha pelo curso como
sendo alguma coisa inconsciente.
Para mim, falar, sobre a escolha do curso de Pedagogia é uma resposta muito
extensa, pois está relacionado com minha história de vida que no início era
inconsciente.
A certeza surgiu no decorrer de uma disciplina que tive na graduação, que era
Fundamentos e Métodos da Educação de Jovens e Adultos. A professora
utilizou uma técnica com bases jungianas para a formação da identidade docente
e na busca de descobrirmos as matrizes pedagógicas.
É interessante notar que Joana inicia sua narrativa a partir da condição de
universitária. Para tanto, revive sua história de vida, por meio da disciplina
Fundamentos e Métodos da Educação de Jovens e Adultos.
A história de vida como constituinte de papéis
Ao falar de sua escolha pelo curso de Pedagogia, Joana reporta-se às
matrizes pedagógicas. Nessa narrativa, Joana expõe sua opção pelo curso.
Para a formação da identidade docente e na busca da construção inconsciente
buscávamos descobrir as matrizes pedagógicas. Matrizes pedagógicas são as
descobertas por meio das disciplinas para ir ao encontro do autoconhecimento, a
razão pela escolha do curso. Minha avó foi alfabetizadora, minha mãe era uma
pessoa sem qualquer formação acadêmica e alfabetizava pessoas da
comunidade. Minha mãe trabalhou com Educação Infantil, minha tia uma
pessoa muito próxima, a auxiliava.
Na idealização de uma proposta pedagógica para a formação de professores,
cabe a devida reflexão sobre a necessidade de espaços para os novos saberes da
68
docência. Na narrativa, os saberes da docência, são evocados por Joana por meio
das matrizes pedagógicas
30
.
Pimenta (2009) afirma que quando os alunos chegam ao curso de formação
inicial, tem saberes sobre o que é ser professor. Os saberes de sua experiência
de alunos que foram de diferentes professores, em toda sua vida escolar.
Uma nova formação exige uma proposta de intervenção educativa, pois a
reflexão pode ser individual, mas a construção do conhecimento emerge no coletivo.
É interessante notar que Joana, a partir da condição de universitária, decide
retroceder às suas “matrizes pedagógicas” para dar continuidade ao legado de
família. Joana recorre aos conteúdos aprendidos para compreender melhor sua
própria história de vida.
Através da disciplina, a proposta era criar um símbolo na Colcha de Retalhos. O
símbolo escolhido por mim e posteriormente costurado na colcha foi um vaso. O
vaso era minha avó; estavam as raízes, o caule era minha tia, o caule era
minha mãe que estava ligado à minha avó, a folha, folhinha era minha tia e a
flor era eu, estava a desabrochar,estava dando continuidade, ao escolher o curso
de pedagogia, ao papel da minha família.
Explica a mobilização e as vicissitudes sentidas para poder chegar ao curso
de Pedagogia. A palavra poder estava unida ao poder financeiro e à crença da
obediência. Reporta-se ao fato como algo místico.
Para mim, a chegada ao curso de
Pedagogia, foi uma coisa meio mística. Quando
tive meu filho, no ano de 2002, decidi que ficaria com o filho mais novo, pois
havia um “resgate” a fazer do momento vivido com a filha mais velha. Fiquei
com ele até os três anos de idade. Desisti de fazer faculdade, pois não havia
condições financeiras. Neste período tive um sonho. Sonhei que estava estudando
e era como se fosse um curso pré vestibular. A professora era japonesa e meu
colega de classe era uma pessoa negra que eu não conhecia. No sonho eu me
queixava e dizia que era muito difícil! A pergunta que a professora fazia em sala
30
As matrizes se apresentam como arquivos pedagógicos que contêm conteúdos coletivos e
pessoais que são acessados quando o professor se exerce nos espaços pedagógicos. Esses
arquivos, ao contrário do que se acreditava, articulam conhecimentos epistemológicos e técnicos,
mas articulam, também, saberes, crenças, mitos construídos a partir de experiências significativas de
aprendizagem. Ao prender, além de se apropriar dos conteúdos ensinados, o sujeito se apropria das
maneiras como ele é ensinado (FURLANETTO, 2009, p.1116).
69
de aula era: qual era a nossa religião. Qual é a religião de vocês? Não me lembro
o que ele, colega negro respondia, mas a minha foi que é proibido desistir dos
sonhos.
Na narrativa de Joana, o resgate de algo que poderia ficar, submerso nos
porões da inconsciência, ia pouco a pouco tomando forma.
Aquilo me inquietou! Naquela semana recebi a informação de uma cunhada para
participar de um curso pré vestibular para afrodescendente (Educafro). Quando
cheguei, a professora que mais me identifiquei era voluntária e era japonesa. A
disciplina que ela ensinava era Cidadania; didática era diferente. Por meio dessa
bolsa fui prestar vestibular na São Camilo. Não consegui entrar pela Educafro.
Passei em lugar para estudar no campus Pompéia, mas mesmo assim não
consegui entrar porque os núcleos da Educafro, para aquela unidade de ensino,
estavam com os papéis atrasados na sede e não foi possível ingressar. Como tudo
foi difícil!
Nessa situação, após reportar-se às suas origens, Joana retoma o
pensamento com o qual havia iniciado o relato sobre a entrada no curso de
Pedagogia.
Nessa perspectiva considerar o professor apenas um técnico, teremos
ignorado outras dimensões de ser professor; apropriar-se dos seus processos de
formação e dar-lhes um sentido no quadro de suas histórias de vida.
E aí, a São Camilo entrou em contato comigo dizendo que eu havia sido
classificada numa ótima posição. Foi proporcionado o vestibular social com 596
vagas no total. Para a Pedagogia, eram apenas 17 vagas, fui a 11ª colocada, com
bolsa de 100%. Fui para a faculdade com aquela expectativa. Na mesma semana,
outra instituição entrou em contato e foi um dilema, pois para quem não tinha
nada, tive que escolher entre uma e outra.
Olhar introspectivo
É interessante reconhecer como, no decorrer da narrativa, Joana utiliza
metáforas como divisores de águas, explorando outras possibilidades de expressar
70
e comunicar seu processo de construção de saberes, de caminhar para si, como ato
de religar a parte ao todo. Entendemos que não se trata de uma tarefa ingênua,
tampouco espontânea. Nesse sentido, saber é deter uma certeza subjetiva racional,
é o fruto de um diálogo interior marcado pela racionalidade.
São saberes múltiplos, que, embora possam ser identificados de modo
fragmentado, na prática o articulados por Joana nos contextos e nas situações
dos processos de ensino-aprendizagem em que impera a complexidade de sua
prática pedagógica.
Nas palavras de Pimenta (2009) também aqueles que “os professores
produzem no seu cotidiano docente, num processo permanente de reflexão sobre a
prática, mediatizada pela de outrem” e, produzidos também por outros educadores.
A metáfora do jarro que não é apenas o recortar e fazer um símbolo na colcha de
retalhos, mas era também o de reviver minha história de vida. A imagem do
retalho é produto e processo de recortar e expressar na experiência os momentos
da minha formação inicial. Para mim é uma linguagem educativa.
Joana se reconhece quando a disciplina de Educação de Jovens e Adultos
passa a ser ministrada no terceiro semestre do curso. Para Nóvoa (1992) o aprender
“deve se concentrar em dois pilares: na própria pessoa do professor, como agente, e
a escola como lugar de crescimento profissional permanente” (NÓVOA, 1992, p.12).
então até iniciar a disciplina do semestre, meu pensamento veio do sonho
para cá; quando fiz a colcha de retalhos havia certeza de quais pessoas foram
marcantes para mim, que me completavam; vi-me convicta! Estava no lugar
certo, na formação certa que seria completa em fazer pedagogia. No curso
existiam muitas alunas que desistiram e falavam como seria dar aula. Quanto a
mim, fui me descobrindo no curso. A pedagogia é uma área ampla para a atuação.
Meu objetivo em atuar na classe hospitalar, estava se concretizando a cada dia
que passava..
Joana atribui ao curso de Pedagogia, de uma forma ou de outra, seu desejo
de continuar crescendo profissionalmente. Acredita que mais dia menos dia esse
desejo seria realizado. Dessa forma, continua a projetar ações futuras.
Nesse sentido, Rosito (2007) afirma que a história de vida procura localizar a
71
matriz teórica da concepção pedagógica que cada um de nós carrega consigo, que
não ocorre espontaneamente, exigindo muitos estudos.
Concluí o curso em 2007 e continuei em busca de formação e informações
referentes à classe hospitalar. Prestei concurso público estadual para ingressar na
carreira do magistério. Fui aprovada por concurso para atuar no Ensino
Fundamental. Mas sempre procurava contatos e informações referentes à classe
hospitalar.
Joana em sua narrativa revela o início da busca para atuar na classe
hospitalar.
Em 2008 fui participar de umas oficinas para o curso de pós-graduação em
Pedagogia Hospitalar. Lá, a coordenadora do curso, deu as informações sobre o
curso, inclusive com a apresentação da matriz pedagógica. Por intermédio da
coordenadora do curso, fiquei sabendo que o Centro Universitário São Camilo
seria um dos patrocinadores de um evento que ocorreria no mês de novembro no
Hospital da Criança. Realizei a inscrição e gostei muito das informações que
obtive.
Todos os professores que participaram receberam um e-mail dizendo que a
Diretoria de Ensino Centro Oeste havia aberto inscrições para professor de Classe
Hospitalar.
O Estado abre um edital para contratar o professor. No ato da inscrição solicita
uma carta de intenções; no edital chamam de Projeto, mas não é um projeto. É
uma carta de intenções.
Fiz uma carta descrevendo o meu percurso profissional e o que sabia a respeito
da classe hospitalar... Nessa carta utilizei grande parte do meu trabalho de
conclusão de curso para fundamentar teoricamente a proposta, bem como o que
havia aprendido no curso de formação inicial.
Joana ao elaborar a carta de intenções para atuar na classe hospitalar,
recorre ao saber profissional. Cunha (2010) afirma que são os saberes que orientam
a atividade do professor insere-se na multiplicidade própria do trabalho dos
profissionais que atuam em diferentes situações e que, portanto, precisam agir de
forma diferenciada, mobilizando diferentes teorias, metodologias, habilidades. Dessa
forma, o ‘saber profissional’ dos professores é constituído não por um ‘saber
72
específico’, mas por rios ‘saberes’ de diferentes matizes, de diferentes origens, aí
incluídos, também, o ‘saber-fazer’ e o saber da experiência.
Além da proposta por escrito, teríamos que realizar uma prova. O local de
realização da prova era muito longe. Avisei antecipadamente à diretora. Cabe
ressaltar que ela implicava muito comigo, que eu era a única pedagoga da
escola. Nesse dia, deu tudo errado. Quando cheguei ao local da prova, os portões
estavam fechados e tive que voltar para casa. Parecia que tudo aquilo que
havia construído e sonhado, tinha ido embora. Era dezembro de 2009. Quando
cheguei em casa, havia um recado para participar de uma entrevista, para
trabalhar em um hospital, na classe hospitalar. Realizei a entrevista e soube que,
aquela prova havia sido cancelada.
Fiz a entrevista, passei por um processo seletivo árduo. Naquela mesma semana,
chegou um telegrama informando sobre a convocação do concurso realizado e,
também, da aprovação para atuar na classe hospitalar. Quando fui assumir a
classe hospitalar, a diretora da escola vinculadora disse que a classe hospitalar
era minha por direito.
Joana nos conta da alegria e da angústia da chegada na classe hospitalar.
Estava feliz por estar lá. No entanto, pensei: Meu Deus, como será? Vou dar
conta? Havia uma professora com magistério e uma fisioterapeuta. A
fisioterapeuta deu as devidas orientações de como a classe hospitalar funcionava
e que a partir do dia seguinte, dividiria com ela a função. No entanto, no outro
dia assumi sozinha a sala. Estava confiante, pois os cursos de extensão dos quais
havia participado, em tese, me dariam o respaldo, pelo menos teórico, para atuar.
Procurei seguir, passo a passo, a rotina das classes e dos leitos do andar da
clínica geral, que é o andar com maior rotatividade.
Fonseca (2003) afirma que para um efetivo atendimento pedagógico-
educacional hospitalar é importante estar ciente e exercitar a premissa de que cada
dia de trabalho se constrói com atividades que têm começo, meio e fim.
Paralelamente ao primeiro contato com o aluno hospitalizado, o professor
deve ler o prontuário tanto para tomar conhecimento da situação de saúde da
criança quanto para se informar sobre a evolução e os prognósticos do tratamento.
Nessa narrativa, Joana aponta uma fragilidade.
73
Não sabia nem por onde começar!
Joana atualmente é pós-graduanda em Psicopedagogia.
Fonseca (1999) constatou que 46% dos professores que atuam nos hospitais
têm nível superior. Ela considera que “as exigências da classe hospitalar
impulsionam estes professores ao aperfeiçoamento” (FONSECA, 1999, p.35).
É sempre bastante produtivo fazer uma visita à enfermaria no primeiro dia de
aula antes do início das atividades. Não pode lhe faltar o entendimento de todos os
aspectos que fazem parte da “rotina da enfermaria”, ou seja, sobre o estado clínico
do paciente, tratamento e cuidados.
Joana nos fala do não reconhecimento da figura do professor, bem como,
sobre o processo de humanização.
Tive pouco contato com a equipe médica; eles não dão nem bom dia; sofri muito
também com a enfermagem. Quanto à humanização, é um trabalho que se faz
muitos anos, mas banalização do papel do professor; o papel social,
pedagógico não é percebido nem tampouco reconhecido. Acho que é por causa do
papel social do professor estigmatizado pela sociedade. Quando não um
reconhecimento do professor pela sociedade não como ser reconhecido em um
espaço que não é dele! Para eles o papel do professor é na escola. No hospital,
médico não é médico?
É um problema social; existe uma preocupação pelos hospitais com a
humanização e, nesse sentido, falando assim, a assistente social a terapeuta
ocupacional são acolhidas. O professor não. Penso que seja um problema para
além da área de atuação.
Existem práticas educativas que o realizadas de forma voluntária, uma vez
por semana nas instituições hospitalares e que se intitulam de Pedagogia Hospitalar
ou Classes Hospitalares, o que é significativo para as crianças e adolescentes
internados, mas insuficiente para atender às necessidades destes quanto aos
objetivos da escolarização e acompanhamento destas no hospital.
Na narrativa de Joana, fica acentuado que este não reconhecimento da
presença do professor, mesmo sendo reconhecido por Lei, está ligado ao fato de
não existir uma representante da Secretaria Estadual de Educação. A coordenadora
vai apenas uma vez por semana.
74
Observa-se que em outros hospitais, conquistas foram alcançadas. A
coordenação pedagógica permanece no hospital e, dessa forma, houve evolução no
trabalho e os professores que atuam são respeitados. É a porta voz dos
professores para que não se sentem nem excluídos e nem solitários.
Com alegria, Joana ressalta que as crianças hospitalizadas reconhecem a
figura da professora. Apresenta na entrevista, o caderno de planejamento com a
escrita de Pablo.
A professora me ensina a ler, a escrever e a fazer contas com maior facilidade. A
professora ajuda em tudo que tenho dúvida. Ela é paciente e gosta de ajudar.
Ensina, atividades para fazer, ajuda nas lições e passa regras quando deve; e
me ensina a falar direito o português.
A título de ilustração, Joana nos apresenta uma atividade com parlendas que
fora desenvolvida coletivamente.
Objetivos: Com esta atividade se espera que as crianças:
Reflitam sobre o sistema de escrita
Reconheçam o gênero parlenda
Conheçam diferentes parlendas
Escrevam parlendas, ampliando sua capacidade de tomar decisões sobre a escrita;
Recitem parlendas, ajustando o que verbalizam ao que está escrito.
Conteúdos:
gênero parlenda
leitura e escrita de parlendas
recitação e memorização de parlendas
iniciativa para ler diferentes parlendas.
momento: levantar os conhecimentos prévios dos alunos sobre o gênero
parlenda - se conhecem; quais conhecem. Após esta conversa inicial, apresentar as
crianças livros de parlendas, e ler algumas para elas;
momento: oferecer novas parlendas às crianças e ler para elas. Na sequência,
escrever em um cartaz uma parlenda escolhida pelos alunos, para leitura coletiva,
visando ajustar o que verbalizam ao que está escrito.
momento: convidar as crianças a memorizarem a parlenda do cartaz e oferecer
novas parlendas para serem memorizadas;
75
momento: oferecer aos alunos uma parlenda conhecida, desordenada, para que
possam organizar e colar corretamente em uma sulfite;
momento: oferecer uma parlenda conhecida com trechos em branco e solicitar
as crianças que a completem com as palavras que estão faltando.
momento: propor aos alunos que, em dupla, escrevam uma parlenda de
memória;
momento: propor as crianças que escrevam uma nova versão para uma das
parlendas conhecidas por elas. Ao final, socializar as parlendas produzidas e
expor no mural do corredor hospitalar.
Normalmente esse acompanhamento ocorre para alunos que permanecem
internados por um período maior de 15 dias. Também existe a reabilitação da
escrita, para as crianças e adolescentes que perderam essa habilidade.
No hospital temos 5 classes, sendo uma em cada andar e uma no ambulatório.
São duas professoras para cada sala. No início eram coordenadas pela secretária
do diretor; há coordenadora pedagógica da escola vinculadora, mas ela comparece
no hospital apenas uma vez por semana. Temos ideias boas, ótimas, falta
articulação. Acho que deveria ter uma coordenadora em tempo integral, efetiva,
ficamos sem direção.
Na narrativa acima, nos chama atenção a “falta articulação” descrita por
Joana. Entendemos que, não basta a escolha de metodologia, a execução do plano
didático, pois a mesma não deve ser reducionista ao ponto de se converter à
simples transmissão de conhecimento constituído. Em sua prática pedagógica,
Joana busca ir além. Busca uma parceria para poder acreditar na prática
pedagógica diferenciada e permeada por diferentes relações.
Para Tardif et al. (1991) essa mescla de saberes constitui-se, possivelmente,
no que seja necessário saber para ensinar. Assim, com base nos autores para que
os objetivos sejam alcançados, os professores comumente utilizam: os saberes das
disciplinas, os saberes curriculares, os saberes da formação profissional e os
saberes da experiência.
Joana recorre, ainda, à metáfora do jarro, também vivenciada no curso de
formação inicial, para explicar a falta de articulação do trabalho pedagógico
realizado na classe hospitalar, acima descrito.
76
Com o coordenador pedagógico presente, poderíamos desenvolver um trabalho
mais efetivo, mais centrado, melhor planejado. Sabe, é a falta de água no jarro.
Joana fala espontaneamente a respeito da formação inicial.
Acho que o conteúdo da graduação foi fundamental no sentido de direcionar o
olhar. Tudo o que estudei e vi me embasam o desempenho de minha prática
pedagógica no hospital. Percebo nas reuniões de H.T.P.C na escola, muitas vezes
a coordenação tem que explicar o ABC da docência, os fundamentos da educação.
Minha formação inicial foi muito boa, de qualidade. Estou aqui em decorrência
de uma boa formação e um trabalho de conclusão de curso na temática classe
hospitalar. Quando tenho alguma dificuldade recorro aos meus cadernos da
graduação. As disciplinas que eu mais recorro quando tenho alguma dificuldade
são: Didática, Psicologia da Educação e do Desenvolvimento e Educação
Inclusiva. Mas dou conta do recado! Tenho mais duas irmãs que fazem
Pedagogia. Lembro da minha turma, era ótima, gente muito boa. Lembro do
portfólio das aulas de Didática. Muito bom. Mesmo assim, faltam Políticas
Públicas mais efetivas. Ou seja, acho que falta mais comprometimento e
engajamento por parte dos professores para que tenhamos mais e mais
reconhecimento.
Joana nos fala da complexidade do trabalho no andar da nefrologia e de
algumas dificuldades vividas.
Trabalho às vezes no andar na Nefrologia; o que mais me chama a atenção é que
nesse andar em específico as crianças não são tão receptivas como nos outros
andares. Quanto às mães, precisam aprender a manusear os aparelhos. Percorro
os leitos, dou bom dia, faço a chamada, verifico quem está de internação nova,
me apresento para a família e realizo a avaliação diagnóstica. Convido a família
para conhecer a classe hospitalar.
Fonseca (2003) afirma que o contato inicial da professora com a criança
hospitalizada deve, na medida do possível, ocorrer com a mãe porque, muitas
vezes, a criança fica temerosa com uma pessoa que não seja familiar. A mãe servirá
como mediadora da interação entre a criança e a professora.
A avaliação e acompanhamento de crianças e adolescentes com distúrbios
de aprendizagem, alfabetização, encaminhamento de crianças a escolas regulares
77
(inclusão de crianças nas escolas) requerem avaliações, relatórios para as escolas
de origem das crianças e questões burocráticas que caracterizam o sistema escolar.
Joana nos fala dos relatórios encaminhados à escola vinculadora. Vemos aqui, os
saberes pedagógicos que viabilizam a ação do ensinar.
Avaliei um aluno que tinha problema com a escrita. Queria criar uma estratégia
para produção escrita montar uma história. Percebi que eles gostavam de falar de
si, se fazer conhecido. 4º andar.
Fiz um diário coletivo para que a partir daí pudesse sanar a defasagem percebida
na estrutura textual dos alunos. Os alfabéticos faziam o rascunho para
intervenção ortográfica, para os não alfabéticos, eu era a escriba.
Tendo como foco, ainda, o reconhecimento dos saberes necessários para a
prática pedagógica no âmbito hospitalar, vemos que, Joana utiliza dos saberes da
experiência como estratégia orientadora de sua prática cotidiana. Para Porlán et al.
(1997) os saberes da experiência se referem aos saberes produzidos pelos
professores no exercício da docência,brotam da experiência e são por ela validados;
podem se manifestar como crenças explícitas, imagens, metáforas e princípios de
atuação.
Na narrativa abaixo, Joana mostra-se fragilizada em participar de uma
situação tão diferenciada. Comprovou-se a irrelevância do tempo quando se trabalha
dos interesses e necessidades de cada criança hospitalizada. O que se percebe em
processo é que, o atendimento pedagógico-educacional no ambiente hospitalar deve
ser entendido como uma escuta pedagógica às necessidades e interesses da
criança ou adolescente hospitalizado, buscando atendê-los o mais adequadamente
possível (FONSECA, 2003).
Jorge, um aluno com Síndrome de Dow, 19 anos, havia passado por algumas
escolas e havia conseguido em seu ritmo alfabetizar-se. Em nossas conversas
falava que sabia os nomes de todas as pessoas que iam visitá-lo. Lembro-me
perfeitamente sobre um trabalho desenvolvido que era o de contar histórias.
Muito falante Jorge participava ativamente. Em um segundo momento, o
trabalho era desenhar toda a família de Jorge. Pedi que fizesse um desenho com a
família, pai, mãe, irmão. Nesse desenho, o maior de todos era o irmão. Curiosa,
fui conversar com ele sobre o desenho que fizera. Jorge desenhava o irmão bem
próximo aos pais, perguntei para Jorge em que lugar ele estava no desenho. Jorge
78
não respondia. Perguntei mais uma vez e, a resposta era o silêncio. Preferi não
insistir. Era a água no jarro. Sabia que era o momento de respeitar a
individualidade de Jorge. Uma semana depois, o estado de Saúde de Jorge piorou
muito, foi para a Unidade de terapia intensiva e veio a falecer. Para mim foi
uma experiência desconfortável e muito desgastante. Desde que havia ingressado
no hospital, foi a primeira vez que percebi a diferença entre a escola e o hospital,
entre a vida e a morte
Joana nos relata um exemplo de superação e união da equipe
multiprofissional.
Carla, uma adolescente de 15 anos vivia internada devido a diabete. A psicóloga
e a assistente social desenvolviam um trabalho bem interessante com Carla. Nesse
caso em especial, houve uma maior interação com a equipe multiprofissional.
Desenvolvi com Carla um trabalho com base nos contos de fadas. Carla fez um
trabalho muito lindo. O trabalho foi estruturado em dois segmentos: escrita e
desenho. A parte escrita teve início com o tradicional “era uma vez”. Carla tinha
uma ligação muito profunda com o pai, havia perdido a guarda. Na época
recordo-me que Carla saiu do hospital e foi morar em um abrigo. Mas, na
história, ela dizia que um dia seria muito feliz.
Percebemos a importância da escuta pedagógica quando foi oferecido a
Jorge oportunidade de expressar-se por meio do desenho. Certamente, Joana não
tinha esse saber ainda construído em sua prática pedagógica. Percebemos que foi
um conceito ausente em todas as narrativas. Todavia, estava presente o diálogo
pedagógico contínuo, afetuoso, características que estão presente na personalidade
de Joana. A relação pedagógica é sempre dialógica, e a escuta pedagógica fez-se
presente quando Jorge quis compartilhar com a professora as marcas de sua dor, ao
não se representar no desenho.
com Carla, Joana relata que houve uma maior e melhor interação com a
equipe de saúde. Comprovadamente, a falta de articulação relatada anteriormente
deixou de existir. As práticas pedagógicas desenvolvidas pela equipe de saúde
foram exitosas, pois estavam permeadas por diferentes relações e saberes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No momento em que refletimos sobre os resultados a que chegamos com
esta pesquisa, lembro-me que, ao agradecer os momentos dedicados por Joana ao
estudo, fiquei emocionada por receber tão preciosas informações.
Joana com seu sorriso sincero fez-me perceber o valor da determinação que
nós, professores, nos empenhamos para sempre realizar o melhor.
Na oportunidade que realizamos a apresentação do terceiro capítulo, utilizei
como imagem, um jarro e o oleiro. Na realidade, o jarro deu continuidade à reflexão
que nos possibilitou olhar para o estrangeiro, reconhecer as nossas diferenças e
semelhanças culturais no saber e no aprender, sem com o enfoque participativo.
Moldar o jarro com as mãos úmidas significa a necessidade de flexibilizar a
rigidez das relações humanas, principalmente, nas práticas interprofissionais.
A imagem de abertura, Colcha de Retalhos, nos deu a oportunidade de,
sairmos do embrutecimento técnico e buscarmos o autoconhecimento, como
singularidade de cada sujeito, ao olhar para si, dialogando em alternativos espaços.
Esta pesquisa possibilitou, ainda, a ampliação do conhecimento na área da
educação e da saúde, a revisão de alguns conceitos e a reflexão a respeito dos
processos que se verificam na vida e nas relações humanas e interprofissionais no
âmbito hospitalar, em específico, nas classes hospitalares.
Reforçou a importância do atendimento pedagógico-educacional nos
hospitais, a fim de inserir e garantir a continuidade do processo educacional de
crianças e de adolescentes enfermos, possibilitando seu desenvolvimento com
qualidade de vida.
Com base no relato de experiências da professora das classes hospitalares,
podemos afirmar ser real, possível e necessário a inserção do professor no
ambiente hospitalar.
Observo, assim, que o professor não pode ficar solitário em seu trabalho
pedagógico, conforme a narrativa de Joana.
Observa-se que em outros hospitais, conquistas foram alcançadas. A
coordenação pedagógica permanece no hospital e, dessa forma, houve evolução no
80
trabalho e os professores que lá atuam são respeitados. É a porta voz dos
professores para que não se sentem nem excluídos e nem solitários...
A professora, em um primeiro momento demonstra frustração no que se
refere à luta pelo reconhecimento da profissão do professor no interior do hospital.
Entendemos ser necessário um maior compartilhamento dos saberes mobilizados e
construídos, visto que a formação é continua e, os saberes da docência são também
aqueles que os professores produzem no seu cotidiano docente. Ou seja, não
envolve somente a dimensão epistemológica mas, sobretudo, a dimensão política.
Tive pouco contato com a equipe médica; eles não dão nem bom dia; sofri muito
também com a enfermagem. Quanto à humanização, é um trabalho que se faz
muitos anos, mas banalização do papel do professor; o papel social,
pedagógico não é percebido nem tampouco reconhecido. Acho que é por causa do
papel social do professor estigmatizado pela sociedade. Quando não um
reconhecimento do professor pela sociedade não como ser reconhecido em um
espaço que não é dele! Para eles o papel do professor é na escola. No hospital,
médico não é médico?
É um problema social; existe uma preocupação pelos hospitais com a
humanização e, nesse sentido, falando assim, a assistente social a terapeuta
ocupacional já são acolhidas. O professor não.. Penso que seja um problema para
além da área de atuação.
Observou-se o processo de humanização, embora não tenha sido antecipado
na formulação dos objetivos, surge como um elemento significativo para aqueles que
atuam na modalidade classe hospitalar. Percebemos que embora seja uma
conquista, o mais importante é o ato humanizado.
Joana, a professora entrevistada, relata que
É um problema social: existe uma preocupação pelos hospitais com a
humanização e, nesse sentido, falando, assim, a assistente social, a terapeuta
ocupacional são acolhidas. O professor, não! Penso que seja um problema para
além da área de atuação.
Percebo que a humanização do ambiente hospitalar não se concretiza se
estiver centrada unicamente em fatores motivacionais externos ou no usuário.
81
Um programa de humanização necessita ser assumido como um processo de
construção participativa que requer respeito e valorização do ser humano que cuida.
(BACKES et al., 2006).
Observou-se pela narrativa de Joana que ela é a única pedagoga, sendo as
demais, uma professora com magistério e a outra profissional uma fisioterapeuta.
Percebe-se, ainda, que Joana busca o aprimoramento na carreira, é aluna de pós-
graduação em Psicopedagogia.
Assim, o professor que atua em classe hospitalar, é um profissional da
educação que precisa construir saberes específicos, com um olhar diferenciado e
uma escuta sensível para o exercício da docência.
Foi possível observar também que Joana mostra-se sempre preocupada com
as dificuldades de seus alunos, tentando adequar o mais próximo possível dos
conteúdos e do ambiente escolar em que estavam inseridos. Para uma melhor
atuação pedagógica, realiza, conforme relato, avaliação diagnóstica de seus alunos
no início da internação, o que vai nortear suas ações para o desenvolvimento das
atividades propostas em seu planejamento semanal.
Joana veio falar-me que tem procurado maior proximidade com a equipe de
saúde para a realização do planejamento pedagógico. Nesse sentido, é possível
observar que Joana busca socializar os saberes construídos na prática cotidiana, os
saberes da experiência, com o intuito de validar, não somente a busca por novos
referenciais teóricos, mas que lhe permita o aprofundamento do diálogo reflexivo,
frente ao coletivo.
Também pudemos observar que na atividade que destacamos na pesquisa
apenas como ilustração, foi de fundamental importância para percebermos algumas
questões importantes:
A prática pedagógica de Joana apresentou aspectos significativos para
a socialização das crianças no hospital. A atividade proposta de
intervenção didática em leitura, escrita e comunicação oral, por meio
das parlendas, certamente contribui para aprendizagem das crianças
das classes hospitalares. Mas as atividades estavam centradas na
82
alfabetização
31
e contemplavam de forma pouco claras os interesses
das crianças de idades variadas que frequentavam as aulas.
Pudemos observar que Joana por nos informar de uma maior
proximidade da equipe de saúde, comenta também que passarão a
trabalhar por projetos que serão direcionados quanto aos conteúdos,
as metodologias, como também as atividades sempre de acordo com o
nível de aprendizagem do aluno. Explica que a classe hospitalar
trabalhará como mini-projetos, que se adaptam aos ambientes
hospitalares e às condições de saúde de cada aluno.
Sabemos que no momento da realização da intervenção, o professor poderá
se deparar com alguns aspectos não previstos em seu plano de ação, ou até
previstos, mas de maneira não muito clara, portanto, tratar-se-á de uma situação
interessante para a reflexão da ação e aprenderem ainda mais a serem professores
(ZABALLA, 1998, p.93).
Pudemos observar que os saberes necessários ao ensino são reelaborados e
construídos pelos professores “em confronto com suas experiências práticas,
cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares” (PIMENTA, 2009, p.29-31) e,
nesse confronto, há um processo coletivo de troca de experiências entre seus pares,
contribuindo para que educadores a partir de uma reflexão na prática e sobre a
prática, sobretudo no coletivo, possam constituir seus saberes necessários ao
ensino.
Nesse sentido, pudemos observar pela análise da narrativa que os saberes
constituídos de Joana, aprendidos na formação inicial (saberes das disciplinas e
saberes da formação profissional), serão reformulados e (re) construídos no
cotidiano da sala aula ou de quaisquer outros espaços que venha atuar.
As disciplinas que eu mais recorro quando tenho alguma dificuldade são:
Didática, Psicologia da Educação e do Desenvolvimento e Educação Inclusiva.
Mas dou conta do recado! Tenho mais duas irmãs que fazem Pedagogia. Lembro
da minha turma, era ótima, gente muito boa. Lembro do portfólio das aulas de
Didática. Muito bom. Mesmo assim, faltam Políticas Públicas mais efetivas. Ou
31
Diretrizes para o Ensino de Língua Portuguesa (Leitura, Escrita e Comunicação Oral)/SEE/FDE.
83
seja, acho que falta mais comprometimento e engajamento por parte dos
professores.
Saviani ao se referir a esses saberes que constituem o trabalho do educador,
noção que para o autor ultrapassa a de professor, “o ato de produzir, direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida
histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”, constitui o trabalho educativo
que é próprio do educador, afirma que sendo o processo educativo um fenômeno
complexo, os saberes nele envolvidos também o são (SAVIANI, 1996, p.147).
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