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auxiliava-o no subsídio científico
. Por exemplo, Dona Marciana, em situações
em que era contrariada jogava água no ambiente, não aceitou a gravidez da
filha e acabou sendo internada num hospício
.
Através dessa convivência com seu amigo e vizinho, Alcides Flávio,
Aluísio frequentou hospitais e várias vezes obteve informações com médicos
.
Na época, a patologia do sistema nervoso e a alienação mental interessavam
não apenas aos médicos
. Alguns cientistas, como por exemplo, Pierre Janet
(1859-1947), Jean Martin Charcot (1825-1893), Joseph J. F. Babinski (1857-
1932) se dedicavam ao estudo das desordens mentais e emocionais,
acompanhando pacientes onde estas se manifestavam incluindo os
histéricos
. É bem possível que Aluísio Azevedo tenha se inteirado dos
estudos acerca da histeria com os médicos com quem convivia na época.
Aluísio Azevedo morou em uma casa de pensão. O local era
caracterizado por suas ruínas e imundícies e situava-se à rua Formosa, cujas
locomotivas que passavam estremeciam as paredes da casa, já enegrecidas
pela fuligem. Em volta dos quintais sujos, os moradores constituíam-se na sua
cardiopatias infantis. Em 1903 publicou Elements de Séméiologie Infantile, obra prefaciada pelo Prof.
Hutinel. No Hospital São Sebastião, do Rio de Janeiro, dirigiu a enfermaria de doenças infecciosas de
crianças. Escreveu Consultas práticas de Higiene Infantil, Elementos de Patologia Infantil. Fernandes
Figueira foi também homem de letras. Escreveu aos 17 anos suas primeiras poesias – Adejos. Sob o
pseudônimo de Alcides Flávio, publicou diversos livros: Velaturas (prosa), Sonata em lá menor e
Ephemeros (versos). Sua obra poética foi reunida por Solidonio Leite, seu grande amigo e biógrafo, no
volume Montanha e Valle, englobando também um livro não publicado – Noite. Foi membro do Instituto
Histórico. Escreveu a biografia de Torres Homem, deixando, igualmente, memória sobre o Padre
Antônio Vieira. Publicou em 1925, pela Editora Briguiet, de Paris, o Vocabulário Médico Francês-
Português. [Carlos da Silva Lacaz, Vultos da medicina brasileira. (São Paulo: Pfizer, 1963)]. No ano de
1924, no Abrigo-Hospital Arthur Bernardes, no bairro de Botafogo, destinado a clínica e a cirurgia
pediátricas e vinculado as ações da Inspetoria de Higiene Infantil, Antonio Fernandes Figueira praticou a
medicina [Gisele Sanglarde, “A Primeira República e a constituição de uma rede hospitalar no Distrito
Federal”. In: História da saúde no Rio de Janeiro: instituições e patrimônio arquitetônico (1808-1958),
org. Ângela Porto (Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2008): p. 73].
A histeria corresponde a uma classe de neuroses, identificada desde a época de Hipócrates e
atribuída, na Antiguidade ao mau funcionamento do útero (hysterion). Janet e Charcot dirigiram a
atenção médica para a histeria ao final do século XIX. Freud, influenciado pelo último, começou a
investigar com Breuer os mecanismos psíquicos envolvidos na moléstia. No decorrer de seus estudos,
descobriu a fantasia inconsciente, o conflito, a repressão, a identificação e a transferência, assinalando o
começo da psicanálise. Freud explicou os sintomas histéricos como sendo o resultado de lembranças e
fantasias sexuais reprimidas que eram convertidas em sintomas físicos. [Burness E. Moore, Bernard D.
Fine; trad. José Octávio de Aguiar Abreu. Termos e conceitos psicanalíticos (Porto Alegre: Artes Médicas,
1992), p. 87].
Alcides Flavio, Velaturas (Rio de Janeiro: Livraria Castilho, 1920), p. 12.
Aluísio Azevedo, O cortiço, pp. 464-575.
Mérian, Aluísio Azevedo, vida e obra: (1857-1913), p. 524.
Ibid., pp. 523-524.
Pedro Janet. As nevroses (Rio de Janeiro: Livraria Garnier, 1924), pp. 72, 146, 325.