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psicologia que solucione o problema carcerário. (SAMAPIO, 1985,
p.122).
O operário, além de não ter formação nem de escola primária, não tem
formação profissional. Se você vai a uma empresa e não tem uma
formação profissional, não tem emprego, vai ganhar um salário
baixíssimo. Mesmo o profissional qualificado está ganhando um
salário baixo demais. Não temos um nível profissional que garanta um
salário melhor, adequado. (BATISTA, 1985, p. 192 e 193).
Meu pai trabalhou trinta anos na Santos-Jundiaí, aposentou-se e passa
fome. Você quer que eu saia para trabalhar, para ganhar salário, para
ser escravo dos outros, trinta anos? Quem são os homens bonitos que
a gente vê nas revistas, na televisão, nos cinemas? São os caras que
estão cheios da nota, cheios de mulher, cheios de bebida. É isso aí que
eu quero ser, sabe? (BETO, 1985, p. 222).
O preso, em geral, tem uma história. Eles são vítimas, antes de serem
presos. Eles são vítimas, enquanto estão presos, porque a estrutura de
uma prisão é uma estrutura de morte. Eles morrem aos poucos [...]
Para mim essas prisões são estruturas que destroem a vida da pessoa
humana... Faz parte dessa estrutura não só o prédio, onde essas
pessoas ficam. Faz parte dela a Instituição Política. Faz parte dessa
estrutura a Instituição Forense, a Magistratura, o Ministério Público,
toda a Legislação, o aparato oficial do Estado, que deveria distribuir
justiça e que farisaicamente, hipocritamente, por causa de uma falsa
moral, contribui para que essas vidas sejam destruídas. (OLIVEIRA,
1985, p. 229 e 230).
Eu gostaria de chamar a atenção, agora para o problema dos habitantes
das favelas. Não faz muito tempo, um Ministro da Justiça, segundo
informação de um jornal de São Paulo, qualificava as favelas de
“verdadeiras áreas criminógenas” e o favelado, já há muito tempo,
passou a ser visto como desordeiro, malando, maloqueiro. Ou, como
diz um sociólogo: “A favela é vista como realidade patológica,
doença, praga, quisto, calamidade pública e não se repara que é lá que
mora o trabalhador, com baixíssimos rendimentos, que leva adiante a
maquinaria econômica, que gera a riqueza da cidade de São Paulo”. E
agora, o dado mais duro, que nos é fornecido pela própria Prefeitura
de São Paulo: 41% dos favelados, antes do desemprego mais
acentuado, lá chegaram por um processo crescente de deterioração
econômica nos últimos anos. Numa Conjuntura em que os salários se
tornaram insuficientes, a favela se tornou a única alternativa não só
para os que vinham chegando à cidade, mas também para os que nela
queriam permanecer. Essa população deixou a casa porque não podia
pagar o aluguel, ou as prestações, e foi para a favela. E lá essas
famílias seriam aquilo que o Sr. Ministro chamou de “habitantes de
uma área criminógena” ou, como se diz normalmente, praga, doença,
quisto, calamidade pública. [...] A própria favela é uma prisão. [...] Eu
acho que devemos gritar, todos cada um por seu canal, cada um por
seu microfone. Não é possível que esta cadeia grande de São Paulo,
com milhões de favelados, continue sendo cadeia. É preciso uma
ressurreição, uma libertação. (ARNS, 1985, p. 235 e 236).
Incontestavelmente o estado de pobreza é um dos fatores que impulsiona o
homem à marginalização; as falas acima são inquietações de 1981. Decorridos vinte e