Para a figuração desse Recorte recorri a representações isoladas das pinturas
de artistas consagrados.
Franz Marc. As Três Panteras do Rei Yussuf. Manet. Olimpia. 130 x 189 cm.1863. D'Orsay Detalhe.
1913.
Tinta, aquarela, guache: 13,8 x 9 cm. Munique,
Bayerische Staatsgemäldesammlungen. Detalhe.
O desenho da figura prescindiu da moldura e da construção de um entorno na
parede. Parece que a figura passou a compartilhar do nosso mesmo espaço, o que já
causou alguma estranheza. Porém isto ainda não foi satisfatório o suficiente. Parecia
que estava fugindo do desafio de estabelecer uma relação harmoniosa entre o que era
representado e o espaço da parede, o recorte pendurado ficava isolado, fechado nele
mesmo.
Outra tentativa para colocar a figura bidimensional livre no espaço foi a
colagem dos recortes de papel sobre lâminas de vidro transparente. Assim o fundo
da pintura parecia se tomar a própria cor da parede onde o recorte era pendurado
com moldura. Decidi desenhar e pintar diretamente sobre o vidro com lápis
dermatográfico e com encáustica, entusiasmado com as pinturas sobre vidro de Klee.
Utilizei a encáustica porque eu controlava o processo de confecção das tintas com
matéria prima de boa qualidade e barata, além do que a secagem da pintura ocorria
rapidamente - era só esfriar - e não utiliza produtos tóxicos. O processo se fazia pelo
avesso, as primeiras camadas de cera quente depositadas sobre o vidro eram as
primeiras a serem vistas pelo avesso - na pintura sobre tela, as últimas camadas
sobrepostas de tinta é que são as primeiras a serem vistas.
Era necessário ter um senso bastante claro da ordem das camadas, uma
seqüência a ser seguida, caso o resultado não ficasse bom era necessário escavar a
cera para atingir a primeira camada e removê-la. No processo prático, muitos vidros
se estilhaçavam com a alta temperatura da cera derretida. Porém, quando tudo corria
bem, o trabalho alcançava uma transparência semelhante à linguagem da aquarela. E
como o suporte era o vidro, o trabalho pronto lembrava um vitral.
Os trechos de pintura sem tinta deixavam transparecer o fundo, ou seja, a
parede. No desenho sobre vidro com o lápis dermatográfico, apenas um ou outro
traço no vidro límpido parecia deixar o desenho livre no espaço, tinha a impressão
de que desenhava no ar, ou quando pendurado na parede ocorria a ilusão de que ele
havia sido feito diretamente sobre a parede.
Tanto na pintura como no desenho havia a idéia de que eles devessem ser
executados com menor número de correções possível para permitir uma ligeireza e