(LOPES, B. apud ABDALA JUNIOR, 2007, p. 104)
Pensar a história literária cabo-verdiana é pensar a importância de periódicos para
a divulgação da palavra poética. O percurso literário de Cabo Verde foi construído através
de revistas que fomentavam a difusão cultural e o conhecimento geral sobre literatura.
Ocorria a publicação de algumas obras
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, mas em número menor, sendo as revistas o
veículo que une diversos escritores com os diferentes expoentes linguísticos.
Começo a descrever a história literária cabo-verdiana a partir da revista Claridade
(1936)
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, porque ela representa a ruptura com as temáticas literárias de Portugal.
Inspirados no regionalismo da literatura brasileira, os claridosos escrevem poesias que
vão ao encontro da cultura crioula, mostrando assim, uma independência intelectual e
cultural em relação ao império. Segundo Jane Tutikian, no artigo Por uma Pasárgada
Cabo-verdiana, a revista Claridade,
Procurava assumir a modernidade, sobretudo a realista, a busca das raízes
antropológicas e culturais, manifestada no gosto pela etnografia e filologia
do crioulo e, ainda, a valorização da criatividade popular. Apontava, dessa
forma, a descoberta de um espaço marcado pela insularidade, pela fome,
pela seca, pelo mar feito prisão e caminho de uma cultura essencialmente
mítica (TUTIKIAN, 2007, p. 248).
As problemáticas sociais e econômicas do arquipélago tornam-se temáticas
literárias. A Claridade representa a denúncia da estrutura política e social do arquipélago,
como o período histórico é a dependência colonial de Portugal; a explicitação do seu
caráter político é camuflada. Pires Laranjeira aponta esse caráter; para ele a revista tem
um compromisso “se não marxista, pelo menos anti-fascista e anti-colonialista”, e mais,
“Aposto na hipótese de que existiram como projecto e programa, restando o título de
Claridade como única referência à luz do dia” (LARANJEIRA, 1985, p. 105 – 106).
Segundo Laranjeira a etimologia da palavra claridade é composta “por dois
qualitemas: clara + idade” (1985, p. 109). Para ele, a Claridade se opõe à questão da
Negritude, no caso, a negação da africanidade pura, de uma essência negra (1985, p.
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Escritores, que contribuíram para a história literária da prosa cabo-verdiana, antes da independência em
1975, são Baltasar Lopes, Manuel Lopes, Teixeira de Sousa, Antônio Aurélio Gonçalves, Luís Romano,
Teobaldo Virgínio.
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O período anterior à revista Claridade é o chamado Cabo-verdianismo. Vários escritores e teóricos
apontam a revista Claridade como marca da originalidade literária (VEIGA, 1998). Esta revista “teve nove
números entre 1936 e 1960 (Mindelo, Ilha de São Vicente): 1936 – dois números; 1937 – um número; 1947
– dois números; 1948, 1949, 1958 e 1960 – um número em cada um destes anos. Entre outros, contam-se
os seguintes colaboradores da publicação: Aguinaldo Brito Fonseca, Antonio Gonçalves, Arnaldo França,
Baltazar Lopes, Corsino Fortes, Félix Monteiro, Gabriel Mariano, Jorge Barbosa, Manuel Lopes, Onésimo
Silveira, Osvaldo Alcântara, Ovídio Martins, Terêncio Anahory e Xavier Cruz” (MACEDO, 2007, p. 91).
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