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(...) hoje eu vou pra cama, eu quero ter prazer e tenho que fazer isso e falo
pra pessoa que estou saindo que estou a 60 anos e por mais que digam que
isso é psicológico, eu acho que o biológico também tem preponderância.
Então, vai chegar um ponto, que eu não sei quantos anos eu ainda vou
viver, espero que sejam muitos, que eu não vou mais sentir prazer! Então,
eu tenho que sentir agora, enquanto eu tô sentindo, certo? Não, volto a
falar, não é que eu queira uma quantidade, mas eu quero uma freqüência
com qualidade.
Vale salientar ainda que a prática sexual foi, em muitos momentos, definida como algo
além do sexo propriamente dito, onde há ‘penetração e orgasmo, necessariamente nesta
ordem’. A sexualidade que é vivida e explorada de maneira ampla, o prolongamento das
sensações de prazer através do contato e das carícias aparece como forma de satisfação e
sinônimo de exercício pleno da sexualidade:
Bem, porque a relação sexual em si não é só aquela em que se atinge o
orgasmo né, só uma sessão de carinhos, de estar perto, de dar uns amassos,
como diz a história, já é uma, vamos dizer assim, um tipo de relação sexual.
Não, porque muita gente acha que sexo é só quando há relação completa,
né, penetração, orgasmo, necessariamente nessa ordem, o que não é por aí
né, só o fato, vamos dizer, de às vezes ele ir lá em casa, ficar lá, a gente dar
uns abraços, dar uns beijos, não, nem tirar a roupa tira, já satisfaz, tá
entendendo? Então, já é um tipo de sexo, vamos assim dizer, né, que não se
atingiu o ... há prazer, há prazer, claro! Então, isso pra mim né, na minha
idade é uma das formas de me satisfazer. Como já falei, não vou dizer a
você, que vou pra cama com ele, quatro, cinco vezes na semana, se eu
disser eu tô mentindo, né, duas vezes, na minha idade, pra mim, é o ... não
sei se é suficiente a palavra, é o bastante, tá entendendo? Pra o sexo
propriamente dito.
(Dionísio, 60 anos, homossexual)
A relação entre envelhecimento e sexualidade, nessa pesquisa, revelou também a
necessidade de abordar o novo e crescente fenômeno da soropositividade para o HIV entre
idosos; pois três dos oito homossexuais entrevistados declararam conviver com o vírus, tendo
descoberto sua sorologia entre os 50 e 60 anos de idade. Esse é, então, um fenômeno que
permeia suas vivências e sentimentos frente o envelhecimento e a sexualidade.
Entre os participantes da pesquisa que declararam conviver com o HIV, foi exposto o
impacto social que isso causa em suas vidas. Assim, elas são contadas antes e depois do
diagnóstico. Revelam desde o preconceito e discriminação da família e dos amigos até o medo
da morte e o receio de ser rejeitado sexualmente. O fato de conviverem com o HIV no
momento da senescência faz com que essas pessoas imediatamente associem o
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