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espanhola; de Liniers, afirmando que Elío estava suscitando paixões voltadas ao separatismo e
à subversão da ordem, problema que era visto com especial atenção no período.
Já no Rio de Janeiro, a Corte portuguesa contava com duas autoridades inglesas que
tiveram importante participação, de formas diferentes, para a trasladação da família real para a
Colônia. Entretanto, ambos demonstravam que, aos poucos, definiriam por linhas divergentes
a política que seguiam. Tratava-se de Lord Strangford
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, ministro plenipotenciário na Corte
bragantina, responsável pelos acordos celebrados ainda no fim de 1807 em Portugal; e do
almirante William Sidney Smith
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, que comandou a organização da esquadra inglesa para a
viagem transoceânica da realeza e que seria encarregado, desde o Rio de Janeiro, pelo
comando naval britânico no Atlântico Sul.
De acordo com uma correspondência de Smith ao então secretário do Almirantado
britânico, William Wellesley-Pole, datada de 5 de agosto de 1808, aquele informava que
havia chegado ao Rio de Janeiro em 17 de maio daquele ano e, a partir daquele momento, foi
procurado tanto pelo príncipe regente quanto por dom Rodrigo de Sousa Coutinho, inúmeras
vezes, para dar-lhe consultoria sobre os negócios no Rio da Prata, pois ambos
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Seu nome de batismo era Percy Clinton Sidney Smithe, nascera em Londres, em1780, sendo o sexto visconde
de Strangford. Em 1803 publicou a tradução de algumas poesias de Camões para o inglês. Já no serviço
diplomático, em 1806 foi enviado para Lisboa como secretário da embaixada britânica. O prefaciador e tradutor
da obra de José Presas, Raymundo Magalhães Junior, afirmava que Lord Strangford fora, “sem dúvida, o mais
brilhante diplomata do período regencial.” PRESAS, 1966, p. 49. No entanto, ao contrário do que este afirmara,
Strangford não veio ao Brasil com a família real, pois voltou à Londres onde, aí sim, em 16 de abril de 1808,
confirmou a missão para a qual o ministro George Canning o escolheu, passando a ser ministro plenipotenciário
da Corte britânica no Rio de Janeiro. Assim, o representante da legação britânica que partiu junto com a família
real portuguesa foi Mr. Hill, que aguardou pela chegada de Strangford até 22 de julho daquele ano.
MANCHESTER, Alan K. Preeminência Inglesa no Brasil. Trad. Janaína Amado. São Paulo: Brasiliense, 1973.
p. 110. RANGEL, Alberto. Os dois ingleses: Strangford e Stuart. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura –
Arquivo Nacional, 1972. p. 5-7.
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Algumas imprecisões acerca do Almirante podem ser percebidas ao serem comparados dois textos bastante
diferentes entre si, tanto na data de publicação quanto na finalidade: a primeira, de autoria de Edward Hower,
Memoirs of Admiral Sir Sidney Smith, publicada em Londres em 1839; a segunda, o texto de uma palestra
realizada em 2003 pelo historiador anglo-brasileiro, Kenneth Ligh, Sidney Smith – Um marinheiro herói,
publicado na página do Instituto Histórico de Petrópolis, em 2008. Por isso, talvez seja mais aconselhável seguir
as indicações da primeira obra, já que as informações específicas sobre o almirante britânico são acompanhadas
de vasta documentação, em um período no qual Smith ainda era contemporâneo. Este teria nascido em Londres,
em 1767, filho de Cornelius Smith com a filha de um rico comerciante londrino, chamada Mary Wilkinson. Aos
13 anos William iniciou sua carreira naval, passando a tenente em 1780. Durante vários anos serviu à Marinha
Inglesa, conquistando inúmeras vitórias em batalhas, principalmente travadas no mar Mediterrâneo contra
esquadras francesas sob o comando de Napoleão. Em 1807, já como almirante, passou a ser responsável pela
segurança da costa portuguesa. Com a vinda da família real para o Brasil, Smith teria ganho uma casa do outro
lado da Baía de Guanabara, e permaneceu no país até sua saída, em 21 de junho de 1812. Em 1838 foi
condecorado pela rainha Victoria com a Ordem da Grã Cruz do Banho. Acabou falecendo em decorrência de um
derrame em 1840, aos 76 anos. Cf. HOWER, Edward. Memoirs of Admiral Sir Sidney Smith. Londres: Richard
Bentley, 1839. p. 33 e passim. LIGHT, Kenneth. “Sidney Smith – Um marinheiro herói”, disponível em:
<http://www.ihp.org.br/docs/khll20030811.htm>. Acesso em: 27 jun. 2009.