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Alexandre seria considerado, inclusive, como o primeiro grande exemplo
ocidental de um governante que tentou se tornar um conquistador universal
.
Existiram outros antes dele que tinham este objetivo, mas foi ele o primeiro a
transformar esta ideia em ações de proporções inimagináveis. Seus feitos seriam tão
grandiosos que qualquer governante futuro ao querer demonstrar a grandeza de suas
façanhas logo se equiparavam ou eram equiparados (seja pela comparatio, aemulatio ou
imitatio
), dentre outros, a Alexandre. Essa prática perdurou por longos séculos.
Justiniano, no século VI d.C., ainda foi um dos muitos que se equiparava a Alexandre,
não apenas por pertencer a uma família macedônica, mas também por Alexandre
permanecer como uma forte figura no imaginário político do mundo romano.
Não à toa, o grande herdeiro, no Ocidente, da preocupação com conceituações
similares foi exatamente este mundo romano, simbolizado pela sua capital, a cidade de
Roma e, posteriormente, Constantinopla. A oikoumené grega se tornava a ciuilitas
romana, termo que, dentro da história de Roma, adquiriu significados diversos e muitas
vezes até antagônicos. Diferente dos gregos, os elementos agregadores dos romanos
eram identificados mais facilmente. Isso se deve a própria organização social destes,
mais centralizada e institucionalizada do que a daqueles. Mesmo com um território
maior e inúmeras divisões provinciais, a existência de uma instituição central do poder
sempre esteve presente, sendo os dois exemplos máximos, o Senado republicano,
efetivamente uma instituição; e na figura do Imperador, que muito mais do que o
comandante supremo do império era toda uma instituição, representada, sim, por um
indivíduo, mas com características que o ultrapassavam. Os romanos diferiam dos
gregos, também, quanto a sua posição dentro de um universo mais amplo; se ambos se
consideravam superiores a todos os outros, os romanos utilizaram muito mais esta
questão como uma importante premissa expansionista. Roma foi, no Ocidente, o
primeiro grande exemplo de uma expansão (em todos os âmbitos, territorial, cultural,
político, entre outros) em larga escala, pois foi a primeira unidade política que a
manteve por longos séculos. Estas conquistas eram realizadas, em sua maioria, através
PAGOLA, E. T. La influencia del modelo de Alejandro Magno em la tradición escipiónica. In:
Gérion, 2003, 21, n. 1. pg. 138.
Neste mesmo artigo de Elena Torregaray Pagola é feita uma excelente descrição destas três formas de
equiparação muitas vezes entendidas, equivocadamente, como sendo a mesma coisa. A comparatio, ou a
comparação, era o estabelecimento de paralelos por terceiros, que escreviam sobre personagens históricos
tomando como modelo um que o antecedeu; a imitatio, ou a imitação, era um desejo consciente do
imitador de plagiar tanto os atos como as ações de seu modelo; por fim, a aemulatio, ou a emulação, era
voltada as grandes realizações, tentava-se fazer o que o modelo havia feito e, se possível, até superá-lo,
mas sem, necessariamente, imitar seus meios.