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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde
O professor no processo de inclusão de alunos com
deficiência intelectual: um estudo sobre os significados
construídos no fazer pedagógico
Stela Martins Teles
Brasília, novembro de 2010
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ii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Programa de Pós Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde
O professor no processo de inclusão de alunos com
deficiência intelectual: um estudo sobre os significados
construídos no fazer pedagógico
Stela Martins Teles
Dissertação apresentada ao
Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília como
requisitos parcial à obtenção do
título de Mestre pelo Programa de
Pós Graduação em Processos de
Desenvolvimento Humano e Saúde.
ORIENTADORA: PROFª.DRª. SILVIANE BONACCORSI BARBATO
CO-ORIENTADORA: PROFª.DRª. LÚCIA HELENA C. ZABOTTO PULINO
Brasília, novembro de 2010
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iii
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APROVADA PELA SEGUINTE BANCA
EXAMINADORA:
__________________________________________________________________
Profª Drª Lúcia Helena Cavasin Zabotto Pulino Presidente
Instituto de Psicologia/Universidade de Brasília
______________________________________________________________
Profª Drª Norma Lúcia Neris de Queiroz Membro
SEEDF/Faculdade de Educação/Universidade de Brasília
______________________________________________________________
Profª Drª Regina Lúcia Sucupira Pedroza Membro
Instituto de Psicologia/UnB
_______________________________________________________________
Profª Drª Mírian Barbosa Tavares Raposo Suplente
SEEDF/ Instituto de Psicologia/UnB
Brasília, novembro de 2010
iv
Dedicatória
Dedico esta dissertação de mestrado a todos e todas que de forma direta ou indireta
contribuíram para que ela fosse possível, seja como participante da pesquisa, seja como
mentores intelectuais, seja como amigos que acreditaram no meu trabalho e não me
deixaram desistir nas horas difíceis.
Dedico à minha grande e maravilhosa mãe, que está sempre presente nas minhas
decisões, apoiando, criticando ou, até mesmo, silenciando-se em muitas ocasiões.
Dedico ao meu companheiro Rodrigo, pela força, seu carinho e incentivo nas horas
de preguiça e desânimo
Ao meu pequeno príncipe João.
Dedico ao meu irmão por me mostrar que temos de seguir o nosso caminho sem nos
preocuparmos ou desistirmos pelo simples aparecimento de barreiras.
Dedico à minha irmã, que me mostrou a importância da união.
Dedico à memória de minha avó Guiomar, por sua força e seus ensinamentos e à
memória de meu tio Dair por sua inteligência e doação ao próximo, na eterna busca pela
compreensão ao outro.
v
Agradecimentos
Agradeço, imensamente, à professora Lúcia Helena Pulino que por amizade e
generosidade cedeu seu tempo e conhecimento para a conclusão deste trabalho.
Agradeço à Professora Silviane Barbato pelas oportunidades de troca e construção
de conhecimento, pela oportunidade de conhecer outras realidades acadêmicas e pessoas
que abriram portas para o conhecimento e para as idéias.
Agradeço à banca examinadora pela disponibilidade e pelas horas de trabalho
dispendidas para a análise deste texto.
Agradeço às minhas colegas de curso e, em especial, à Gabriela Mieto pela
acolhida e pelas trocas importantíssimas para a construção do trabalho.
À Julia, Nathalie, Ingrid, Amparo e Ana Paula, minhas companheiras de LABMIS.
À professora Regina Pedroza pelas conversas e trocas enriquecedoras.
Aos professores da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília pela
formação sólida e crítica que me proporcionaram durante a minha graduação.
Às colegas de trabalho do Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem de o
Sebastião e da Diretoria de Educação Especial da SEEDF, que muita força e incentivo me
deram na reta final do trabalho.
Aos colegas do Laboratório LABPEP Ágora Psyché, pelo acolhimento e
discussões sobre meu trabalho.
Às professoras participantes pela generosidade em compartilhar anseios, angustias,
dúvidas e permitir o estudo dos seus trabalhos diários.
À direção da escola, por ceder os espaços e permitir o desenvolvimento do trabalho.
vi
Apoio financeiro
O presente trabalho contou com o apoio da CAPES através da bolsa CAPES/2008 e dos
equipamentos adquiridos pelo Edital Funpe/2006, DPP/UNB que foram utilizados para a
gravação dos dados de sala de aula e entrevista, assim como o material de consumo
utilizado para o processo de análise.
vii
Resumo
Teles, S. M. (2010) O professor no processo de inclusão de alunos com deficiência intelectual:
um estudo sobre os significados construídos no fazer pedagógico. Brasília: Dissertação de
Mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília
Este trabalho pretende contribuir para a compreensão dos processos de construção de
significados pelo professor sobre a inclusão e a escolarização de alunos com deficiência
intelectual no Ensino Fundamental. A partir de abordagens que consideram a
dialogicidade para a construção dos significados que ocorre nas relações do eu com o
outro, dentro de um contexto social, historicamente situado, buscamos nesta pesquisa
compreender, identificar e analisar a construção de significados de professores no contexto
da prática pedagógica em salas de aula inclusivas. Entendemos que estes significados são
constituídos no processo de formação profissional e na prática pedagógica do professor,
permeados por discursos segregacionistas e não segregacionistas sobre a inclusão e a
escolarização de alunos com deficiência intelectual.Partimos do pressuposto de que a
aceitação e a inclusão de pessoas com deficiência intelectual na sociedade fazem parte de
um processo histórico que configura uma mudança nas crenças e valores em relação às
possibilidades de atuação social de uma população que durante muito tempo foi e ainda é
segregada, marginalizada, “escondida” e negada. Consideramos que os embates entre
significados hegemônicos na história e os significados inclusivistas provocados pela
implementação de políticas públicas devido a presença da diversidade no contexto escolar,
possibilitam aos professores passarem por um processo de transição para a construção de
novas práticas sociais que se concretizam no espaço escolar. Pautamos o estudo na
Psicologia do Desenvolvimento na perspectiva sócio-cultural, a partir do paradigma
qualitativo de pesquisa para compreendermos os processos de construção de significados
que envolvem mudanças na compreensão e interpretação das condutas humanas,
entendendo de que forma a cultura, as crenças e valores influem no fenômeno psicológico
e modificam as práticas sociais presentes no contexto escolar. Definimos como critério
que os participantes fossem professores dos primeiros anos do Ensino Fundamental de
nove anos de salas de aula inclusivas da rede regular de ensino do Distrito Federal. Foram
selecionadas três professoras, de uma mesma escola, com três alunos incluídos. Para a
construção dos dados, utilizamos a observação para conhecimento do contexto no qual se
dava o fazer pedagógico e duas entrevistas semi-estruturadas. Analisamos os dados de
entrevista utilizando a análise temática dialógica,considerando as enunciações como
unidades de análise. Os significados que regeram as enunciações foram divididos em
cinco temas: formação profissional, deficiência, inclusão, escolarização e fazer
pedagógico. Os resultados indicaram que as professoras encontram-se num processo de
embate entre os significados da deficiência enquanto algo impeditivo para o
desenvolvimento cognitivo e a escolarização de alunos com deficiência intelectual e o
rompimento com as práticas cristalizadas de segregação em sala de aula, uma vez que o
fazer pedagógico com esses alunos demonstram a possibilidade e a capacidade de seus
alunos incluídos tanto no plano cognitivo quanto social, permitindo assim vislumbrar a
continuidade do processo de escolarização.
Palavras-chave: inclusão, construção de significados, professores, deficiência
intelectual, fazer pedagógico.
viii
Abstract
Teles, S. M. (2009) The teacher in the inclusion process of students with intellectual disability:
A study about the meanings constructed on the Pedagogic Making. Brasília: Master degree
dissertation, Psychology Institute, University of Brasília.
This work aims to understand the processes of meaning construction by the teacher on the
inclusion and education of students with intellectual disability in elementary school. From
approaches that consider dialogical for the construction of meaning that occurs in the
relationship between self and other, within a social context, situated in history, this
research sought to understand, identify and analyze the construction of meaning in the
context of teacher practice teaching in inclusive classrooms. We believe that these
meanings are constituted in the process of professional formation and practice of teacher
education, permeated by segregationists speeches and no-segregationists speeches on the
inclusion and education of students with intellectual disability. We assumed that the
acceptance and inclusion of people with intellectual disability in society are part of a
historical process that constitutes a change in beliefs and values about the possibilities of
social action from a population that has long been and still is segregated marginalized,
"hidden" and denied. We consider the collisions between hegemonic meanings in history
and the inclusivists meanings caused by the implementation of public policy because the
presence of diversity in the school context, enables teachers to go through a transition
process for the construction of new social practices that concretizes in school. We base the
study in Developmental Psychology in the socio-cultural perspective, from the paradigm of
qualitative research to understand the processes of meaning construction involving changes
in the understanding and interpretation of human behavior, understanding how culture,
beliefs and values influence the psychological phenomenon and change social practices
present in the school context. We set a criterion that the participants are teachers of the first
years of elementary school of nine years of inclusive classrooms in regular school system
of Distrito Federal. Three professors were selected with three students included. For the
construction of the data, we used the observation to know the context in which they gave
the pedagogical and two semi-structured interviews. We analyzed the interview data using
a thematic analysis of dialogue, taking utterances as the unit of analysis. The meanings that
had conducted the utterances were divided into five subjects: professional formation,
disabilities, inclusion, education and pedagogic work. The results indicated that the
teachers are in a process of confrontation between the meanings of disability as something
impediment to cognitive development and schooling of students with intellectual
disabilities and a break with the crystallized practices of segregation in the classroom,
since the pedagogical making with these students demonstrate the ability and capacity of
its students included at both the cognitive and social planes allowing the continuity of the
educational process.
Keywords: inclusion, meaning construction, teachers, intellectual disability, pedagogical
making.
ix
Sumário
Dedicatória......................................................................................................................... iv
Agradecimentos .................................................................................................................. v
Apoio financeiro ................................................................................................................ vi
Resumo ............................................................................................................................. vii
Abstract ............................................................................................................................ viii
Sumário .............................................................................................................................. ix
Apresentação ..................................................................................................................... xi
I Introdução.................................................................................................................... 13
1.1 Desenvolvimento psicológico e cultura ...................................................................... 15
1.2 A Psicologia do Desenvolvimento e a construção de significados ............................ 18
1.3 A constituição histórica dos significados sobre a deficiência intelectual ................... 20
1.4 As políticas públicas de inclusão no âmbito da educação .......................................... 23
1.5 Formação do professor e prática pedagógica ............................................................. 28
II - Objetivos ..................................................................................................................... 30
III Metodologia .............................................................................................................. 31
3.1 Contexto de pesquisa .................................................................................................. 33
3.2 Participantes ............................................................................................................... 35
3.3 Instrumentos e materiais ............................................................................................. 36
3.4 Procedimentos de construção das informações .......................................................... 36
3.5 Procedimentos de análise das informações ................................................................ 38
IV -Resultado e discussão ................................................................................................ 41
4.1 Significados professora P1 ......................................................................................... 66
Formação Profissional ................................................................................................. 66
Deficiência .................................................................................................................. 68
Inclusão/políticas públicas .......................................................................................... 69
Escolarização............................................................................................................... 70
Fazer pedagógico ........................................................................................................ 72
4.2 Significados professora P2 ......................................................................................... 89
Formação profissional ................................................................................................. 89
Deficiência .................................................................................................................. 89
Inclusão/políticas públicas .......................................................................................... 91
x
Escolarização............................................................................................................... 92
Fazer pedagógico ........................................................................................................ 93
4.3 Significados professora P3 ....................................................................................... 110
Formação profissional ............................................................................................... 110
Deficiência ................................................................................................................ 110
Inclusão/ políticas públicas ....................................................................................... 111
Escolarização............................................................................................................. 111
Fazer pedagógico ...................................................................................................... 111
4.4 A similaridade dos significados encontrados na falas das professoras .................... 112
V - Conclusão e implicações do estudo .......................................................................... 114
Referências ..................................................................................................................... 117
Anexos ............................................................................................................................ 122
Anexo I - Roteiros das entrevistas .................................................................................. 123
Anexo II - Sequência pedagógica e resumo dos episódios das observações .................. 126
Anexo III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ............................................ 128
Quadros
Quadro 01 Apresentação das professoras participantes ................................................... 37
Quadro 02 Apresentação dos temas.................................................................................. 42
Quadro 03 Apresentação dos significados por tema ........................................................ 43
Quadro 04 Turnos de fala da professora P1 ..................................................................... 44
Quadro 05 Turnos de fala da professora P2 ..................................................................... 74
Quadro 06 Turnos de fala da professora P3 ..................................................................... 95
xi
Apresentação
O presente estudo parte do interesse em investigar os processos envolvidos na
construção de significados de professores sobre a inclusão e a escolarização de estudantes
com deficiência intelectual no contexto da educação inclusiva nas séries iniciais do Ensino
Fundamental.
Para a conclusão do meu curso de graduação em Pedagogia, com habilitação para o
magistério na educação especial, tive de realizar estágios supervisionados em salas de
aulas, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, com alunos com necessidades
educacionais especiais. Os estágios consistiam, no primeiro momento, observar as práticas
pedagógicas dos professores, conversando sobre esses fazeres para que, no segundo
momento, eu pudesse juntamente a eles, propor e realizar atividades com os alunos.
Desta forma, pude notar uma grande dificuldade dos professores em planejar e
realizar atividades com seu aluno incluído. As formas de atuações dos professores
variavam, alguns deixavam o aluno isolado na sala, sem participar das atividades do grupo,
com a explicação de que ele não conseguia acompanhar, por isso davam desenhos
mimeografados para que o aluno pudesse pintar, sendo a única atividade realizada no dia.
Outros realizavam a mesma atividade para toda a turma, mas sem explicações direcionadas
Nestes casos, as dificuldades encontradas pelo aluno incluído, causava isolamento da
mesma maneira. Concluí que existia um conflito nas ideias em relação à pratica
pedagógica inclusiva em sala de aula. Assim, busquei em conversas informais, conhecer
um pouco mais sobre como esses professores significavam estas situações vivenciadas.
Pude constatar que as percepções dos professores em relação às possibilidades de
desenvolvimento dos alunos incluídos quanto às suas atuações pedagógicas estavam
intimamente ligadas ao que eles entendiam sobre a sua formação como profissional e como
eles davam sentido à implementação das políticas de inclusão e à possibilidade de
escolarização dos alunos incluídos.
Isso chamou muito a minha atenção, pois a discussão sobre a necessidade de
formação do professor é freqüente na universidade, mas pouco se considera como o
professor constrói significados a partir do conhecimento compartilhado na formação inicial
e continuada, na implementação das políticas públicas de inclusão propostas às escolas e
no seu próprio fazer pedagógico.
xii
Se por um lado, esse novo contexto da educação inclusiva abre para a escola, mais
especificamente, para o professor, a possibilidade de reflexão e discussão sobre a aceitação
e a inclusão de alunos com deficiência intelectual, configurando-se como um movimento
que faz parte de um processo histórico que apresenta mudanças nas crenças e valores em
relação às possibilidades de atuação social de um grupo de sujeitos que durante muito
tempo foi e ainda é segregada, marginalizada, “escondida” e negada. Por outro, existem os
professores com suas concepções, suas crenças, seus valores e com práticas sociais, muitas
vezes segregacionistas, que se defrontam com esse novo contexto, sendo levados a se
posicionarem em relação a essa nova conjuntura educacional.
Acredito que o embate entre a implementação das políticas públicas de inclusão
educacional como possibilidade de um fazer pedagógico não segregacionista e os
significados construídos sobre os alunos com deficiência intelectual geram novas zonas de
desenvolvimento proximal que possibilitarão mudanças nas práticas sociais e educacionais
do professor no contexto escolar.
Para melhor compreender, optamos por realizar esta pesquisa investigando, à luz da
Psicologia do Desenvolvimento Humano na perspectiva sócio histórica cultural, a análise
do processo de construção de significado. Este trabalho está dividido em cinco partes. A
primeira parte, chamada introdução, contém os fundamentos teóricos de embasamento para
a pesquisa. Na segunda parte estão objetivos propostos pela pesquisadora. Na terceira parte
está a descrição dos procedimentos adotados para a análise das informações construídas
juntamente às professoras participantes. Na quarta parte, resultados e discussões,
apresenta-se dois quadros com os eixos temáticos, constituídos a partir dos objetivos e os
significados dados pelas professoras a cada um deles, em seguida, a discussão dos mesmos.
Na quinta parte, Ca conclusão do trabalho, as implicações e as possibilidades de
desdobramentos da pesquisa.
13
I Introdução
Muitas questões são levantadas quanto ao modo de operacionalizar o trabalho
pedagógico dentro do contexto da inclusão escolar, uma vez que este é um processo com
vários níveis: desde a acessibilidade aa sensibilização e o efetivo trabalho pedagógico
com os estudantes incluídos. Assim, emerge a necessidade do sistema educacional se
organizar com o objetivo de prover meios adequados para atender a todos os estudantes,
favorecendo o desenvolvimento cognitivo e afetivo, promovendo a socialização por meio
de interações sociais, quebrando tabus e diferentes formas de preconceitos frente à
diversidade.
A escola é o espaço onde significados são construídos e ressignificados,
possibilitando mudanças nas práticas pessoais e sociais que foram constituídas
historicamente. O professor, que atua no espaço escolar e que segue no seu processo de
desenvolvimento no contexto de inclusão, deve orientar-se numa perspectiva crítica e
reflexiva, construindo sua prática pedagógica por meio de constante reflexão. Segundo
Silva (2004), “o professor assume o papel de agente social das transformações de ordem
epistemológica, social, cultural, política e pedagógica, fortalecendo sua atuação no
contexto da escola, da sala de aula e da sociedade”.
O professor é o sujeito fundamental da ação pedagógica, sendo capaz de promover
mudanças, uma vez que o fazer pedagógico e a operacionalização das propostas de
inclusão estão em suas mãos. Seu papel de transformação a partir das experiências
docentes como mobilizadoras de ação reflexiva são possibilidade de ressignificar processos
historicamente construídos (Balduíno, 2006; Carvalho, 2007; Ribeiro, 2006; Santos &
Barbato, 2006).
Assim, compreendemos que as mudanças nas práticas sociais e educacionais são
resultados da apropriação de uma nova forma de cultura e estão intrinsecamente ligadas
aos processos de significação do professor nesse novo contexto social da escola.
Os processos psicológicos na construção dos significados envolvem a compreensão
da forma como este sujeito afetivo e cognitivo constitui suas crenças e valores, nas
interrelações estabelecidas em diferentes contextos sociais, inserido na cultura num
determinado momento histórico.
A partir das enunciações de professoras sobre o seu processo de formação, seu fazer
pedagógicos e suas percepções sobre a implementação das políticas públicas de inclusão,
14
discutiremos as construções de significados do professor, que emergem da relação eu-outro
e eu-mundo, sobre o processo de inclusão e escolarização de estudantes com deficiência
intelectual, na conjuntura do Ensino Fundamental de Nove Anos.
Assim tentamos responder as seguintes perguntas de pesquisa:
Quais os significados enunciados pelas professoras sobre o processo de inclusão e
escolarização dos estudantes incluídos com deficiência intelectual?
Em que medida os discursos sobre a segregação e a não segregação de alunos com
deficiência intelectual, historicamente construídos e compartilhados m se
modificado ou se mantido e como se apresentam nas falas das professoras do
estudo?
A prática pedagógica em sala de aula inclusiva possibilita ao professor a reflexão e
a ressignificação sobre a inclusão e a escolarização do estudante com deficiência
intelectual?
Partindo do referencial teórico que estuda os significados como sendo constituídos
de idéias socialmente compartilhadas (Vigotski, 1998), formulamos as seguintes asserções:
(a) O professor encontra-se num momento de transição entre práticas de exclusão e
práticas de inclusão no contexto escolar;
(b) A implementação de Políticas Públicas de Inclusão possibilita o processo de
transição no qual o professor se encontra;
(c) Os significados construídos pelo professor sobre a inclusão e a escolarização de
estudantes com deficiência intelectual o ressignificados a partir da sua atuação
em salas inclusivas;
(d) A prática pedagógica.constitui-se como processo de formação continuada.
Desta forma, este estudo poderá contribuir para a compreensão da transformação que
ocorre no processo histórico de formação do professor, levando em consideração a
complexidade do seu desenvolvimento, regularidades e rupturas que fazem parte da
construção de seus significados em relação à inclusão e à escolarização de estudantes com
deficiência intelectual. Essa transformação, que caracteriza o processo de transição pelo
qual o professor passa, nos possibilita a reflexão sobre suas angústias, suas dúvidas, seus
anseios, suas certezas e suas incertezas, trazendo-a para a discussão dentro da academia
como forma de aprimorar os programas de formação inicial e continuada de professores.
15
1.1 Desenvolvimento psicológico e cultura
O desenvolvimento humano, que ocorre desde antes do nascimento (Pulino, 2001) e
durante toda a vida do sujeito, envolve fenômenos históricos culturais que afetam eventos
passados e futuros (Valsiner & Connolly, 2003). Neste processo, a formação do sujeito se
dá na interrelação com o mundo e com o outro. Por isso, nos transformamos e nos
organizamos ao longo da vida, ou seja, ao longo da nossa história, não podendo nos
configurar desconectados do momento histórico vivido pelo nosso grupo social. O
desenvolvimento humano é o processo de constituição do sujeito afetivo e cognitivo que
ocorre nas interrelações estabelecidas nos diferentes contextos sociais e culturais.
O desenvolvimento passa fundamentalmente pela interação social. Não há um
modelo padrão de desenvolvimento voltado para a estabilidade e regularidade dos
fenômenos psicológicos (Branco e Madureira, 2008; Tacca, 2000; Valsiner, 1998), uma
vez que o sujeito age em relação ao outro por meio de ferramentas culturais e se
transforma, reorganizando-se. Podemos constatar que o desenvolvimento não se
somente numa perspectiva temporal, mas, também, pelo uso de instrumentos simbólicos
que por meio das relações estabelecidas nos contextos sociais possibilita, aos sujeitos,
acesso aos significados culturais do seu grupo social (Coll & Onrubia,1998).
Assim, os fenômenos psicológicos são socialmente construídos e modificados e
enraizados nos artefatos sociais (Ratner, 2001). Seguindo a orientação da teorização
vigotskiana, o autor enumera três fatores sociais de organização da Psicologia; (a)
atividades, que são atos sociais; (b) artefatos, que são ferramentas e objetos usados para a
realização das ações e ; (c) conceitos, que relacionam às coisas e aos indivíduos. As
atividades culturais são ações socialmente construídas e modificadas, pelos sujeitos ativos
que buscam a superação das necessidades fundamentais de existência, inserindo-se nas
diferentes categorias da vida social como educação, família, política, religião, leis, saúde
dentre outras. As sociedades se definem pelas formas específicas que cada grupo se
organiza para conduzir as atividades culturais: sendo produtos sociais, são formadas e
mantidas pelo conjunto de indivíduos.
O sujeito se constitui e constrói significados a partir das interrelações com o outro
social (Vigotski, 1987), apropriando-se da cultura e do conhecimento e desencadeando seu
próprio desenvolvimento. A cultura é um sistema que engloba as atividades culturais, os
artefatos, os conceitos e os fenômenos psicológicos, sendo que as atividades sociais
exercem maior influência no sistema que os demais fatores. A partir daí, o homem
16
transforma a natureza, bem como se constitui pelos resultados desta transformação. Não
existe cultura sem o ser humano como também o existe ser humano sem cultura, uma
vez que para formar-se, o ser humano produz cultura.
Compreendemos que pela cultura podemos entender os caminhos de constituição
dos grupos sociais, suas relações presentes e perspectivas futuras, uma vez que para o
indivíduo sobreviver, é necessária a organização social das atividades e dos artefatos para a
produção, e isso é dado a partir da interação do indivíduo com o mundo dos objetos, com
os outros indivíduos e consigo mesmo.
Sendo um produto da atividade social do homem que resulta da dinâmica das
relações sociais que caracterizam a sociedade, as formas de concretização da sociabilidade
humana desenham o que entendemos por organização social, isto é, o homem cria suas
formas de existência no mundo social assim como sua existência material (Pino, 2000).
Sendo assim, a humanidade vai se constituindo, pelo embate entre diferentes formas de
apropriação e transformação do meio, gerando conflitos entre os diferentes grupos sociais,
uma vez que a cultura relaciona-se ao contexto e ao momento histórico, num processo de
permanente transformação (Santos ,1994).
Pensar a cultura como eixo central para o desenvolvimento humano muda os
paradigmas da psicologia, pois passamos a analisar e compreender o indivíduo inserido na
cultura e se constituindo através dela: entender como suas experiências e seus atos o
moldados (Bruner, 1997).
Nesta perspectiva, os significados são construídos a partir da inserção do indivíduo
nos sistemas simbólicos de cultura mediados por cânones que representam, segundo
Bruner (1997):um conjunto de procedimentos interpretativos para clarificar os desvios das
normas significativas em termos de padrões estabelecidos de crenças (p. 54).
Os cânones são construtos culturais que emergem das relações eu-outro-mundo e se
subjetivam na significação compartilhada socialmente. O canônico é entendido como o que
está posto, o que é conhecido, um conjunto de descrições normativas do funcionamento
dos seres humanos. Esses sentidos canônicos auxiliarão a interpretação das diferentes
situações da realidade concretizadas nas relações entre os sujeitos, tendo a palavra um
papel crucial no processo de desenvolvimento no meio cultural e social, uma vez que a
partir dela nos apropriamos da cultura e dos conhecimentos constituídos historicamente.
A palavra está sempre carregada de um conteúdo ou de
um sentido ideológico ou vivencial. È assim que
17
compreendemos as palavras e somente reagimos
àquelas que despertam em nós ressonâncias ideológicas
ou concernentes à vida (Volosinov, 1999, p.95)
A palavra é um instrumento de concretização das relações inter e intrapsicológicas
(Vygotsky, 1998). Apoiado na importância das relações sociais, Bakhtin (1981) acredita
que nos concretizamos no diálogo: “uma voz nada termina e nada resolve. Duas vozes
são o mínimo de vida, o mínimo de existência” (p. 223). Sendo assim, a consciência
individual pode ser definida como tal se for incluída o ponto de vista do outro: essa
interação que representa o território dialógico descarta a posição compartimentada entre
interlocutores como instâncias isoladas no diálogo.
O diálogo é a possibilidade, no encontro de pessoas, das vozes se misturarem para a
construção de significados. É o momento em que ao ouvir o outro, o sujeito interpreta e
responde ativamente, concordando, discordando, complementando, enfim, na
concretização da enunciação, que se na relação entre os sujeitos e o contexto situado
num espaço e tempo, o sujeito produz significados.
Os sistemas simbólicos, que os sujeitos usam para construir significados estão
presentes na cultura e na linguagem. A linguagem é o instrumento simbólico que torna
possível o desenvolvimento humano pela apropriação dos sentidos canônicos da cultura
(Bruner, 1997). Ela comunica a cultura coletiva, que será internalizada e reconstruída no
plano individual, por isso para Vigotski (1998) nós nos tornamos nós mesmos através do
outro. Sendo a linguagem uma ferramenta fundamental, uma vez que os sistemas
semióticos o usados para produzir significados que influenciam a ação humana,
mediando a interações sociais e construindo papeis sociais.
A linguagem que comunica sentimentos, expectativas, angústias frustrações tem um
papel crucial no processo de desenvolvimento no meio cultural e social historicamente
constituído (Vigotski, 2007/1984), como forma de mediação simbólica para a construção,
reconstrução e negociação dos significados nas interrelações sociais.
Nesta perspectiva, os significados são construtos mediados pela cultura por meio da
apropriação da linguagem, reconstruindo um sentido pessoal ao que é canônico, a partir da
interação com o outro. Consideramos a narrativa como a ferramenta para o processo de
construção compartilhada desses significados, uma vez que a partir dela podemos
organizar e compartilhar as experiências vividas (Caixeta, 2006 ;Santos & Barbato, 2009 ).
Assim, quando neste trabalho nos propomos compreender a construção de
significados de professores, estamos compreendendo a dimensão dialógica presente no seu
18
processo de desenvolvimento. Essa pluralidade vozes subjetivas a sua maneira de
compreender o mundo se a partir dos papeis sociais desempenhados na multiplicidade
de experiências vividas.
Essa pluralidade de vozes na constituição do sujeito é chamada de polifonia
(Volosinov, 1999). Mesmo que os diferentes papéis sociais sejam contraditórios e até
conflitantes, são relativamente organizados e permanecem em contínua interação no
processo de desenvolvimento do sujeito. Os construtos pessoais como crenças e valores se
dão na negociação dessas diferentes vozes constituindo o sujeito mediado pela cultura
coletiva. O sujeito não é único nem sozinho, pois traz em si os outros sociais.
O professor é constituído pelos conhecimentos construídos no seu processo de
formação acadêmica e as relações ali estabelecidas, pela sua prática profissional, pelas
relações estabelecidas no contexto escolar e mais especificamente dentro da sua sala de
aula. Os significados construídos emergem desses múltiplos papeis desempenhados por
este profissional e de suas experiências pessoais.
Por isso, ao pensar nesse sujeito não podemos ter em mente que se trata de um ser
com características estáveis e uniformes, que desempenha um papel fixo na sociedade.
Este é, em sua gênese, constituído por um entrelaçado heterogêneo de desempenho em
diferentes papeis sociais (Góes, 2000), desempenhados na escola, em casa, na vida social
e, todos esses papeis, fazem parte da sua constituição como professor.
1.2 A Psicologia do Desenvolvimento e a construção de significados
A Psicologia do Desenvolvimento tem trabalhado com a questão da construção de
significados, que envolve mudanças na compreensão e interpretação das ações humanas,
buscando entender de que forma a cultura, as crenças e os valores participam nos
processos psicológicos e modificam as práticas sociais.
Seu objeto de estudo são as transformações que ocorrem na constituição do sujeito
nos processos históricos(Polônia & Senna, 2005). Isto se por meio do mapeamento e
compreensão das mudanças que ocorrem ao longo desses processos do desenvolvimento
humano, considerando a sua complexidade a partir de regularidades e de rupturas e das
interrelações sociais nos diferentes contextos.
Propomo-nos, aqui, estudar o sujeito professor na sua construção de significados,
como um processo de transformação. Os significados devem ser interpretados como partes
19
do sistema de organização das funções psicológicas do ser humano e o existem sem a
inserção destes num contexto sócio histórico e cultural.
Nosso meio de vida, culturalmente adaptado, depende
da partilha de significados e conceitos. Depende
igualmente de modos compartilhados de discursos para
negociar diferenças de significados e interpretações
(Bruner, 1997, p.23)
Desta forma, o outro social se torna central no desenvolvimento do nosso sujeito,
pois é nessa interrelação que ele constitui sua cultura pessoal, seus valores e suas crenças,
construindo significados. Entendemos que a construção de significados é um processo em
que, a partir das interrelações sociais, em diferentes tempos e espaços, emergem os
motivos, afetos, conceitos e sentidos subjetivos, sendo levados ao coletivo para serem
negociados, interpretados e ressignificados (Ribeiro, 2002; Ribeiro2006).
Tem-se em todo esse processo um “movimento de aceitação, oposição,
confrontamento e indiferença”(Zanella, 2004 p.134), sendo um processo ativo, o que
confere autoria a esse sujeito a partir de internalizações que vão dando um sentido próprio
à cultura coletiva (Vasconcellos & Valsiner , 1995; Valsiner , 1989; Vigotski, 1998). A
partir da dialética estabelecida entre os discursos relacionados à inclusão e à exclusão, que
permeiam o contexto escolar, o professor vai se constituindo e se modificando. Desta
forma, os significados também se transformam seguindo as mudanças historicamente
produzidas, atualizando-se e produzindo novas práticas dentro dos contextos sociais
(Smolka, 2000)
Consideramos que para o processo de significação sobre a inclusão e escolarização
de estudantes com deficiência intelectual, as políticas públicas o como um instrumento
que viabilizam um outro olhar para o processo de inclusão. Ao garantir a presença de
estudantes com deficiência intelectual no espaço escolar, abre-se um locus para que os
discursos se apresentem e sejam ora aceitos ora confrontados, pois é esse embate que
possibilita ressignificações e transformações nas práticas sociais e pedagógicas das
professoras e das escolas.
As políticas públicas de inclusão podem, portanto, servir como andaimes de
sustentação”(Pontecorvo, 2005) dentro do espaço escolar, que, ao serem propostas, vão
aos poucos sendo assumidas pelos professores, e se configurando como um fazer cotidiano.
O professor, a partir desses “estímulos externos”( Vigotski, 2007) intervem e modifica o
espaço cultural da escola, transformando-o e transformando-se num movimento cíclico.
20
Assim, o espaço escolar configura-se como o lugar de socialização pelo vínculo
entre o “conhecimento de si e o conhecimento do outro, construção de si e construção do
outro” (Mollo-Bouvier, 2005), sendo o ponto de partida para a consolidação de práticas
não segregacionistas e de inclusão. As suas salas de aula são os espaços com potencial para
a construção de novas práticas sociais e de um fazer pedagógico diferenciado, a partir das
trocas que ali se estabelecem.
1.3 A constituição histórica dos significados sobre a deficiência intelectual
Olhar para a trajetória histórica de acesso aos bens culturais da nossa sociedade, pela
população que hoje denominamos pessoas com necessidades educacionais especiais é
extremamente importante para analisarmos as mudanças nas crenças e valores sociais e a
construção de novos paradigmas. Segundo Omote (1987):
Para se compreender o que é deficiência, acreditamos,
ser insuficiente estudar as características das pessoas
identificadas como deficientes. Mais do que isso, é
necessário estudar as suposições e crenças daqueles que
reconhecem aquelas pessoas como sendo deficientes e
tratam-nas de modo distintivo(p. 166).
No inicio das civilizações ocidentais, na Grécia e Roma antigas, as pessoas que
nasciam com deficiência e apresentavam diferenças nos padrões físicos desejados eram
mortas ou abandonadas, com o advento do cristianismo houve uma mudança na condição
social desses sujeitos. A partir da idade média, os deficientes físicos e mentais passaram a
ser considerados cristãos e por isso portadores de alma, o que impedia o extermínio,
mesmo permanecendo sem igualdade de direitos, e segregados em asilos, hospícios ou
leprosários ( Pessotti, 1981; Pessotti, 1984). Essa perspectiva pré-determinista denominada
fatalista concebe a deficiência como algo determinado antes do nascimento, remetendo a
forças sobrenaturais para explicar a existência de seres humanos diferentes, sendo
influenciada pelo determinismo teológico e biológico.
A deficiência permanece como um problema médico que necessita de intervenções
unicamente clínicas até 1690 quando Jonh Locke escreve em seu Essay Concerning
Human Understanding sobre a influência do ambiente sobre o desenvolvimento da
mente humana, denominando-a de “tábula rasa”. Nesta perspectiva, o ser humano nasce
sem saber nada, sem conhecer nada e tudo é aprendido a partir das experiências que se
constituem ao longo da vida dando inicio ao pensamento que concebe a deficiência no que
21
diz respeito aos fatores sociais, defendendo que o ambiente social, a história do sujeito e a
sociedade são partes constitutivas do seu desenvolvimento, cabendo ao ensino suprir as
carências da deficiência. O conceito de educabilidade como possibilidade educacional para
o desenvolvimento do sujeito se estende às pessoas com deficiência após a Revolução
Francesa (Mendes,2006).
Desta forma, podemos entender que os conceitos e os processos de aceitação e
inclusão dos deficientes na sociedade fazem parte de um processo histórico que configura
uma mudança nas crenças em relação às possibilidades tanto de educabilidade como de
construção pró ativa de papeis sociais por uma população que durante muito tempo foi
segregada, marginalizada, “escondida” e negada pela sociedade.
No século XX, Vigotski (1934/1995) propõe uma teoria científica com base
metodológica sólida chamada defectologia contemporânea. Essa teoria se contrapõe aos
métodos psicológicos, anatômicos e fisiológicos de investigação científicos que estudavam
os processos de desenvolvimento de crianças com deficiência tendo um caráter puramente
quantitativo. Essa teoria traz a idéia de que o desenvolvimento da criança com alguma
deficiência não é menor que o desenvolvimento de crianças que o apresentam nenhuma
deficiência, mas que um desenvolvimento peculiar que está ligado à forma como se
trabalha com a criança, buscando desenvolver suas potencialidades, não fixando no que a
criança não apresenta, ou seja, nas suas impossibilidades, mas focando no que ela é capaz
de desenvolver mesmo que necessitando da ajuda do outro.
O postulado central da teoria de Vigotski está na premissa que qualquer deficiência
origina estímulos para formação de mecanismos de compensação, tendo a deficiência um
caráter biológico e social, nas mesmas proporções. A ação da deficiência é vista como
sempre sendo secundária e indireta, pois o que é sentido pelo sujeito não é o efeito direto
da deficiência, mas, as dificuldades que dela resultam. As relações sociais, a determinação
do lugar social e as funções sociais que o sujeito desempenhará são reorganizadas a partir
da deficiência. Dessa forma, podemos compreender que o comprometimento orgânico do
sujeito não atua diretamente nem sozinho, mas de forma indireta pela imposição social de
seus limites. Sendo possível haver uma educação formal das pessoas com deficiência pela
capacidade que estas apresentam de aprendizagem. Essa perspectiva contrapõe-se a ideia
de que o haveria necessidade de educar as pessoas com deficiência, uma vez que não
apresentariam chances de mudanças e de aprendizagem.
Desta forma, não se pode conceber uma prática educativa estruturada em
determinações negativas (Vigotski ,1987), mesmo havendo dificuldades na aprendizagem
22
por parte das crianças com deficiência, isso não se configura como algo impeditivo. As
crianças com deficiência desenvolvem mecanismos de compensação que são formações de
capacidades estruturadas a partir da deficiência, mesmo que não sejam complementações
diretas para suprir a deficiência, esses mecanismos se constituem como a possibilidade de
diminuição das dificuldades criadas pela deficiência. Assim, a teoria proposta por Vigotski
possibilita a ampliação do conceito de educabilidade formal dos sujeitos com deficiência,
pois passa a se conceber uma educação adequada com métodos e procedimentos adaptados
à deficiência permitiria a possibilidade de desenvolvimento e da escolarização de todas as
pessoas.
Essas mudanças conceituais em relação ao funcionamento da deficiência vão
ganhando força ao longo da história e possibilitando uma modificação ao longo dos
tempos, estabelecendo um embate com os discursos segregacionistas e de não
educabilidade formal da população com deficiência, levando a novas formas de
significação por parte da sociedade.
Percebemos, então, que a história da humanidade é marcada por quebras de
paradigmas em relação às concepções sobre a possibilidade de participação social das
pessoas com deficiência. Essas quebras são necessárias para que novos significados
sejam construídos sobre a deficiência, possibilitando mudanças nas práticas sociais
tempos segregacionistas. Estas construções direcionam diferentes olhares para os papeis
sociais da pessoa (Lapa, 1995) com deficiência e direcionam a conduta social frente à
aceitação ou à rejeição dessa população.
Todo esse processo também gera mudanças no uso de nomenclaturas para a
deficiência. Os termos utilizados são a expressão dos conceitos e valores vigentes em cada
época e por isso, vão se atualizando, historicamente, na tentativa de acompanhar as
mudanças paradigmáticas e de tornar-se cada vez mais apropriados, na perspectiva de
valorização dos sujeitos (Sassaki ,2003). No que diz respeito ao termo deficiência mental,
atualmente, passa por modificações, tendo uma nova nomenclatura: deficiência intelectual.
Esta é uma forma de se adequar aos conceitos construídos sobre esta deficiência.
Desde 1995, quando a ONU utilizou pela primeira vez o termo deficiência
intelectual, estamos passando por um período de mudança no conceito da deficiência
relacionada ao cognitivo do sujeito. A nova nomeclatura foi oficializada com a aprovação
do documento Declaração de Montreal sobre Deficiência Intelectual, em 2004, no evento
organizado pela Organização Pan-americana de Saúde e pela Organização Mundial de
Saúde com a participação de diferentes países entre eles, o Brasil.
23
Até então chamada deficiência mental, alguns autores veem a mudança de forma
positiva, pois o novo termo relaciona-se a algo que está ligado ao intelecto, direcionando
as atenções para questões de cunho cognitivo. Muitas pessoas ao referir-se às pessoas com
disfunções e doenças de ordem psíquica, utilizavam o termo deficiência mental quando na
verdade estavam referindo-se às doenças mentais. Esses chavões, comumente utilizados na
sociedade, estigmatizam e segregam as pessoas com deficiência intelectual. Assim, as
mudanças de nomenclatura e as ações que visam levar ao público as terminologias corretas
que estão de acordo com as atuais concepções de deficiência têm o objetivo de mudar as
práticas segregacionistas para a construção de uma sociedade inclusiva. Essas mudanças
são fruto da mobilização e organização histórica da sociedade civil na conquista de
direitos que garantam a participação social das pessoas com deficiência
1.4 As políticas públicas de inclusão no âmbito da educação
A implementação de políticas públicas relacionadas à inclusão no âmbito escolar
obedece a um processo histórico, norteada pelas concepções sobre a deficiência. Segundo
Sassaki (1997):
a trajetória que esta questão percorreu aos dias de hoje é
das mais longas da história. Começou com um longo período
de exclusão social das pessoas com deficiência, passou para
a segregação institucional, daí para a integração social sob
diferentes formas e, finalmente para a inclusão social (p. 13).
Assim, no Brasil, a trajetória histórica da participação das pessoas com deficiência
no contexto educacional começa com as primeiras iniciativas oficiais de atendimento à
Educação Especial, ainda no império no século XIX, a partir de 1854 com a criação do que
hoje conhecemos como Instituo Benjamim Constant e o Instituto Nacional de Educação
para Surdos, fundado em 1857. Inicialmente, o atendimento oferecido era muito mais
voltado para as questões médicas do que propriamente educacionais. A criação destes
institutos configurou-se como uma grande conquista para a concretização das
possibilidades educacionais dessa população. A sociedade brasileira foi se modificando em
relação à questão das necessidades especiais influenciada por fatores sociais, políticos,
econômicos e culturais de cada momento histórico (Mazzota ,1996).
O século XX foi marcado pela efervescência nas mudanças relacionadas às
questões de direitos humanos e de democratização no acesso aos espaços, como a escola.
24
Durante muitos anos, o espaço escolar foi ocupado por um grupo social que de forma
ideológica possuía o direito a ele, seja por questões sócio-econômicas seja por questões
relacionadas às idéias sobre a possibilidade ou não de educação para todos.
Em termos de acesso, até a década de 1930 poucas mudanças significativas
ocorreram no cenário educacional brasileiro. O oferecimento da educação escolar
permaneceu muito pequeno, uma vez que os ideais democráticos ficavam restritos ao plano
da idéias e da legislação e não se traduziram em mudanças políticas e sociais concretas.
Apresentou-se crescimento real somente na segunda metade do século, período também
marcado pela efervescência das discussões políticas e pedagógicas de institucionalização
da educação especial.
A criação do Centro Nacional de Educação Especial CENESP, em 1973,
vinculado ao Ministério da Educação, Cultura e Desporto da época e transformado em
Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação, em 1986, foi o órgão
responsável ao atendimento às pessoas excepcionais e possibilitou a elaboração das
primeiras políticas públicas para a educação especial em nível federal, estadual e municipal
(Glat, 1998). Atualmente, a SEESP/MEC é a responsável pela elaboração de políticas
públicas para a educação inclusiva para o Brasil.
Assim, na segunda metade do século XX, as escolas regulares começaram a receber
crianças e adolescentes com diferentes dificuldades de aprendizagem, tanto em razão das
condições sócio-econômicas, quanto das deficiências. O movimento de democratização da
educação e a obrigatoriedade da educação pública para todos trouxe para o espaço escolar
uma diversidade de estudantes com diferentes necessidades educacionais
Surgem, nesse contexto, diferentes discursos conceituais sobre as formas de
efetivação do trabalho pedagógico. Duas vertentes teórico-metodológicas estiveram
presentes nas discussões sobre processo de acesso à escola e estão muito ligadas às
mudanças em relação às possibilidades educacionais dos estudantes com deficiência.
A Filosofia da Integração difundida na década de 1980 e o novo paradigma da
Educação Inclusiva da década de 1990 levantaram diferentes questionamentos sobre a
escolarização de pessoas com deficiência, tais como metodologia de ensino, estruturação
física e capacitação profissional, se constituindo como um desafio para a democratização
do acesso à escola e a concretização da educação para todos.
O conceito de integração é o primeiro que surge na discussão sobre a inserção dos
estudantes com deficiência no sistema de ensino, ainda na década de 1960 e tem como
pressuposto filosófico o princípio da normalização, que visa oferecer as mesmas
25
oportunidades e condições sociais, educacionais e profissionais aos estudantes com
deficiência.
Nesta nova fase, houve uma mudança filosófica em
diração à ideia de educação integrada, ou seja, escolas
comuns aceitando crianças ou adolescentes deficiente
nas classes comuns, ou, pelo menos, em ambiente o
menos restritivo possível. que se considerava
integrado apenas aqueles estudantes com deficiência
que conseguissem adaptar-se à classe comum como
esta se apresentava, portanto sem modificações no
sistema (Sassaki, 1997, p.36)
A integração prevê uma individualização no atendimento educacional, direcionando
as estratégias para cada portador de necessidades educacionais especiais, organizando o
espaço escolar de forma que existam espaços direcionados a essas intervenções. As
chamadas classes especiais nas escolas regulares ou os centros especializados de ensino
(Ministério da educação, 2004). A integração seguiu um modelo clínico de avaliação que
considera as dificuldades devido ao déficit apresentado pelo aluno.
Consideramos que, de alguma forma, o conceito de integração não permite que o
sujeito tenha o direito de ser diferente e viver em sociedade com as diferenças. Uma vez
que se individualiza o atendimento, se nega a possibilidade das trocas e do aprendizado no
e pelo grupo. Da mesma forma, com o pressuposto da normalização, acreditamos que a
própria palavra normalização leva a pensar que todos devem se desenvolver para chegar à
normalidade, utilizando-se de recursos metodológicos iguais para todos, o que o causa
efeito, já que cada sujeito é único no seu desenvolvimento.
A necessidade de mudar os conceitos na Educação Especial se fez emergente e
trouxe uma nova denominação chamada Educação Inclusiva. Sua gênese, nasce com o
movimento norte-americano, de meados da década de 1980, de pais, profissionais e
pessoas com deficiência, chamado Regular Education Iniciative (Sanchéz , 2005). Este
movimento percebe a necessidade de uma reestruturação da integração escolar e visa à
eficácia na escolarização de todos os estudantes independentemente dos grupos a que
pertencem.
Esse conceito ganha forma e força com a Declaração de Salamanca, que pressupõe
um processo de adaptação pela sociedade para que possa incluir a todos em seus sistemas
(educação, saúde, ect) de forma a respeitar e atender as diferenças (Sassaki ,1997). À
escola caberia o papel de desenvolvimento pleno dos sujeitos e a formação para o exercício
de sua cidadania.
26
A meta primordial da Educação Inclusiva é a de não deixar ninguém fora do ensino
regular, desde o começo da vida escolar. As escolas inclusivas devem propor um modo de
se constituir no sistema educacional, de modo a atender as necessidades de todos os
estudantes. A inclusão deve causar uma mudança na perspectiva educacional, pois não
pode se limitar ao atendimentoa somente os estudantes com deficiência na escola, mas
apoiar a todos: professores, estudantes, pessoal administrativo, para que obtenham sucesso
no processo educacional de forma geral. (Mantoan, 1998; Sanchéz, 2005)
No cenário mundial, o processo de inclusão vem, desde o final do Século XX,
ganhando espaço nas discussões políticas pela emergência da sua concretização nas
escolas. No esforço de cumprir com os princípios da Carta dos Direitos Humanos da
Organização das Nações Unidas de 1958 quando tratou do direito de todos à inclusão
participativa na sociedade, do direito à educação e do reconhecimento mundial da
necessidade de garantia de escolarização para a população de forma global, independente
das necessidades educacionais dos sujeitos. A Declaração de Salamanca de 1994,
resultante da Conferencia Mundial sobre Educação Especial: Acesso e Qualidade, ocorrida
na Espanha (Unesco,1994) é considerada um importante marco na difusão da filosofia da
Educação Inclusiva, reafirmando o direito de educação a todos, independentemente das
diferenças, enfatizando que a educação de pessoas com necessidades educacionais
especiais é parte integrante do sistema de ensino, destacando, ainda, que:
O princípio fundamental da escola inclusiva é o de que
todas as crianças devem aprender juntas, independente
de quaisquer dificuldades e diferenças que possam ter.
As escolas inclusivas devem reconhecer e responder às
diversas necessidades de seus alunos, acomodando
tantos estilos, como ritmos diferentes de aprendizagem
e assegurando uma educação de qualidade a todos por
meio do currículo apropriado, modificações
organizacionais, estratégias de ensino, uso de recursos e
parcerias com a comunidade (...). Dentro das escolas
inclusivas, as crianças com necessidades educacionais
devem receber qualquer apoio extra que possam
precisar, para lhe assegurar uma educação efetiva
(Unesco, 1994, p.17-18).
Além da Declaração de Salamanca, outros eventos e documentos são relevantes
para respaldar o reconhecimento político às diferenças, tais como a Declaração Mundial
sobre Educação para Todos em 1990 da UNESCO, as Normas sobre a Equiparação de
Oportunidades para Pessoas com Deficiência de 1993 pela ONU, a Convenção
27
Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra as Pessoas
Portadoras de Deficiência, de 1999; a Declaração Internacional de Montreal sobre a
Inclusão de 2002, Declaração Mundial sobre a Deficiência Intelectual (Sassaki, 2003) e a
Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, de 2006 que defende os direitos das
pessoas com deficiência, sendo este o primeiro documento aprovado no século XXI por
192 países na área de Direitos Humanos (ONU, 2006). No Brasil, a Convenção
Internacional dos Direitos das Pessoas com deficiência foi ratificada pelo Decreto 6949
de 25 de agosto de 2005. Destaca-se, ainda, o fato de que a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional 9394/96 reserva um capítulo exclusivo para a Educação Especial,
colocando-a como modalidade de ensino.
Assim, a inclusão é uma proposta de ampliação da educação num movimento
mundial denominado Inclusão Social. Este movimento é o processo pelo qual a sociedade
busca equiparar oportunidades se constituindo como democrática, respeitando a
diversidade através do reconhecimento político das diferenças (Mendes,2006). A
efetivação da Educação Inclusiva é uma parte fundamental para o desenvolvimento e a
manutenção da democratização do ensino, sendo a escola a instituição responsável pela
sistematização da educação.
Entendemos que é necessário que as escolas regulares de ensino transformem-se em
instituições eficazes de combate às atitudes discriminatórias, tornando-se comunidades
acolhedoras, proporcionando a construção de uma sociedade inclusiva e de educação para
todos (Manzini,1998).
Assim, muitas são as questões levantadas quanto ao modo de operacionalização
para o trabalho pedagógico com essa diversidade de estudantes. Questões sobre como
trabalhar, o que trabalhar, como os estudantes aprendem e como ensiná-los necessitam ser
respondidas, uma vez que, a inclusão é um processo com vários níveis de demanda, os
quais vão desde a acessibilidade até a sensibilização para o trabalho. Assim, emerge a
necessidade dos sistemas educacionais se organizarem com o objetivo de prover meios
adequados para atender às necessidades do alunado, favorecendo o desenvolvimento
afetivo e cognitivo promovendo a socialização por meio de interações, quebrando tabus
e diferentes formas de preconceito frente à diversidade. A inclusão é considerada um modo
de constituir o sistema educacional que se estrutura de acordo com as diferentes
necessidades educacionais do seu alunado (Ministério da educação, 2004). Este processo
desencadeia uma mudança na perspectiva educacional e social que não deve se limitar ao
trabalho com o aluno incluído, mas favorecer a constituição de práticas democráticas que
28
perpassem todos os segmentos da escola: discentes, docentes e administração, na busca da
aprendizagem (Mantoan, 2006).
A constituição histórica da educação inclusiva gera mudanças no pensar sobre o
educar e o fazer na escola. Essa nova conjuntura levanta questionamentos quanto à prática
docente, a necessidade da reflexão sobre o professor enquanto mediador das interações em
sala de aula e no contexto escolar e como sujeito que se constitui dentro desse processo
histórico que se materializa na escola ( Melo, 2003; Ribeiro,2006; Santos & Barbato, 2009;
Tacca, 2000). Esses questionamentos refletem-se na formação docente enquanto desafios a
serem superados para uma atuação efetivamente inclusiva.
1.5 Formação do professor e prática pedagógica
A escola é um artefato cultural que se consolida na primeira era industrial. Seu
pressuposto foi, durante muito tempo, o de transmissão do saber. Porém, essa perspectiva
sofreu, ao longo dos anos, mudanças conceituais no que diz respeito à sua função social,
dando, assim, novas configurações a esta instituição.
Com a democratização do ensino e a institucionalização do ensino obrigatório
público e gratuito, a escola tornou-se responsável pelo pleno desenvolvimento do indivíduo
e sua preparação para a cidadania, devendo garantir o acesso e a permanência de diferentes
grupos sociais, de diferentes condições sócio-econômicas, respeitando a pluralidade
cultural e a diversidade, garantindo que todos participem do processo educacional.
Diante do ideário de uma educação para todos, o trabalho pedagógico passa a ser
olhado como determinante para o sucesso ou fracasso do alunado, no processo de
escolarização. As mudanças históricas de relações de poder e produtividade corroboram
para as mudanças no plano educacional, exigindo mudanças no perfil do professor e
conseqüentemente no seu processo de formação que deve objetivar atender as demandas do
sistema de ensino vigente. Assim, se constituem as políticas de formação de professores.
Neste campo, o culo XX foi marcado por políticas de formação de professores
que buscavam adequar os sistemas de ensino aos projetos políticos de diferentes
perspectivas de cada momento histórico. Segundo Freitas(1999):
(...) o que faz com que a formação desses profissionais
seja tratada ou como elemento impulsionador e
realizador dessas reformas, ou como elemento que cria
condições para a transformação da própria escola, da
educação e da sociedade( p. 5 ).
29
No contexto das políticas neoliberais do Século XX, a formação de professores
assume uma centralidade estratégica para que as reformas da educação sica propostas
sejam realizadas. Uma vez equacionando o problema da formação docente elevaria os
índices da qualidade na educação, pilar do plano de ação da Educação para Todos.
Essas concepções produzem, na década de 1990, a elaboração e implementação de
diretrizes curriculares para a formação de professores que visavam preparar os professores
para a realização da tarefa de ensinar conteúdos referentes às diferentes etapas da educação
básica, configurando-se como políticas de formação tecnicistas e conteudistas.
Uma outra problemática encontrada na discussão da formação do professor no
contexto da democratização do ensino e da obrigatoriedade da escola pública relaciona-se à
entrada de alunos com necessidades educacionais especiais. Esse novo público exige que a
formação docente possa subsidiar uma ação pedagógica que atenda às diferentes formas de
aprender.
Uma vez predominando uma concepção tecnicista e conteudista na formação dos
docentes, que visa atender alunos com características “normais” acaba por produzir uma
estrutura dicotomizada(Carvalho, 2004; Mantoan, 2003; Mantoan, 2004), uma voltada para
o ensino regular e outra para atender aos alunos destinados à educação especial que deve
estar habilitado especificamente a trabalhar com as diferentes deficiências. Isso nos mostra
que uma desintegração na formação do professor. Essa polaridade na formação do
professor tem como consequência uma atuação segmentada e segregadora dentro do
espaço escolar.
Por isso, é urgente traçar novas estratégias para o processo de formação tanto inicial
como continuada do professor, para que possamos melhorar as respostas educacionais a
todos os alunos, uma vez que a formação inicial se constitui como as primeiras construções
de conhecimentos, atitudes, convicções do professor e a formação continuada possibilita o
desenvolvimento pessoal e profissional, consolidando a identidade profissional(Libâneo,
2001).
A educação inclusiva como um processo que ainda está caminhando para sua
efetivação exige do profissional uma nova postura em relação às suas práticas pedagógicas.
Desta forma, acreditamos que os processos de formação de professores devam considerar
os sujeitos a quem se destinam, seu desenvolvimento pessoal e profissional. Os programas
de formação devem valorizar os saberes pessoais transformando as experiências em
conhecimento e permitindo, ainda, o movimento ação-reflexão-ação.
30
II - Objetivos
Os objetivos desta pesquisa foram configurados a partir de abordagens que
consideram a dialogicidade nas enunciações sobre a construção de significados que
ocorre nas relações do eu com o outro, em um contexto social, historicamente
situado.
Objetivo Geral
Compreender a dinamicidade do processo de construção de significados
pelo professor sobre a inclusão e a escolarização de estudantes com deficiência
intelectual, considerando o seu processo de formação profissional e sua prática
pedagógica em salas de aula inclusivas.
Objetivos específicos
Identificar e analisar a relação dialética entre os discursos segregacionistas e não
segregacionistas presentes na construção de significados do professor sobre o
processo de inclusão e a escolarização de estudantes com deficiência intelectual;
Identificar e analisar as enunciações de professores relativas ao seu processo de
formação inicial e continuada.
Analisar a relação existente entre a formação do professor e a construção de
significados pelo professor sobre a inclusão e a escolarização de estudantes com
deficiência intelectual
31
III Metodologia
Para compreender a complexidade e o dinamismo do desenvolvimento humano, é
necessário fazer uso de uma metodologia capaz de considerar o contexto histórico nas
quais as mudanças ocorrem (Madureira & Branco, 2001, Branco & Valsiner, 1997). Ao
nos propormos a estudar como os professores constroem seus significados sobre a
inclusão, no espaço escolar inclusivo, é necessário fazer uma opção metodológica que nos
permita analisar a dinâmica dessas construções. Segundo Branco e Rocha (1998):
Impõe-se cada vez mais a mudança do paradigma
epistemológico com vistas a permitir a compreensão de
uma realidade dinâmica, organizada de forma sistêmica
e complexa, a qual se apresenta a nós em função das
múltiplas interações que com ela estabelecemos,
contextualizadas em um mesmo momento histórico-
cultural específico que lhe confere especial significado
(p. 251).
Desta forma, adotamos uma metodologia qualitativa de pesquisa que considera as
concepções de mundo e as experiências vividas pelo pesquisador e pelo pesquisado para a
construção das informações que serão analisadas. Essa ruptura nos paradigmas da ciência,
dado pela pesquisa qualitativa, aplica-se à Psicologia do Desenvolvimento, tendo como
objetivo orientar o pensamento e os procedimentos de intervenção usados pelo pesquisador
na interação com o processo estudado. A tarefa é compreender as “bases das formas
superiores de comportamento”(Vigotski, 2005, p.66), estudando os processos de mudança,
que possibilitam a construção de novos conhecimentos científicos. Por isso, a construção
das informações deve ser feita de forma interativa entre o pesquisador e a realidade
pesquisada. O pesquisador é parte integrante da pesquisa, uma vez que sua voz está
presente desde a escolha da temática a ser estudada até a forma como analisará as
informações construídas. Conforme Azevedo, Campolina e Pedroza (2000, p.03)
(...) o pesquisador produz idéias ao longo da
investigação permeando todo o processo.A delimitação
do tema, as escolhas metodológicas que precisa fazer,
bem como, a escolha e a seleção de fontes estão
intimamente relacionadas (...) à fundamentação teórica,
concepções de ciências e de ser humano.
Neste presente trabalho estudaremos os significados construídos pelo professor
sobre o processo de inclusão e a escolarização de alunos com deficiência intelectual.
32
Optamos por uma metodologia qualitativa interpretativa (Gaskins e cols, 1992) pois, esta,
nos permite revelar a dinâmica do processo de construção conjunta de significados,
levando em consideração os papeis sociais desempenhados pelos participantes da pesquisa
e os do pesquisador no contexto estudado. A visão qualitativa e interpretativa de pesquisa
contextualiza o sujeito, admite diferentes visões sobre um mesmo fenômeno social,
considerando os consensos e os conflitos, as contradições, subordinações e resistências
(Minayo, 2008).
Nesta perspectiva de pesquisa a análise interpretativa e dialógica é vista como um
processo compartilhado que envolve a ação de interlocutores. Assim, fizemos uso de
entrevistas semiestruturadas como um instrumento, de pesquisa, qualitativo (Creswell,
1998; Mey, 2000), que possibilitou a narrativa das professoras sobre o seu processo de
formação, suas reflexões em relação à questão da inclusão escolar e sua atuação
pedagógica nesse novo contexto, a partir dos seus significados de inclusão e escolarização
do deficiente intelectual. Fizemos uso de um diário de campo para o registro das
singularidades nas relações estabelecidas em sala de aula, observadas pela pesquisadora, e
gravações em vídeo das atuações pedagógicas das professoras.
O uso da palavra, por meio das entrevistas, abriu novas zonas de desenvolvimento
proximal, uma vez que o entrevistador ao perguntar gerou nas entrevistadas a necessidade
de se pensar sobre o que está sendo questionado para uma tomada de posição e assim uma
resposta. Em alguns momentos, a pesquisadora-entrevistadora não havia refletido, ainda,
sobre um determinado assunto, assim como, a resposta dada pelas entrevistadas levou a
entrevistadora a repensar ou amesmo redirecionar, sob um novo olhar, a entrevista. Esse
movimento gerou a possibilidade de novas construções.
Desta forma, compreendemos que se estabelece uma co-elaboração entre
pesquisador e participantes, na perspectiva de que a própria pesquisa é um “lugar” -
espaço/tempo de desenvolvimento e novas construções. Sem lançar mão da
confiabilidade científica na interpretação das informações, por meio de um profundo
conhecimento da técnica e do referencial teórico, o pesquisador assume um papel na
interrelação com o participante e o contexto estudado, para a construção de novos
conhecimentos.
Assim, nesta pesquisa, a partir da palavra, que se situou como a unidade de análise,
foi possível compreender as singularidades nas construções dos significados das
professoras, sendo o ponto de partida para uma compreensão da gênese histórica e cultural
deste processo.
33
3.1 Contexto de pesquisa
Neste trabalho, enfocamos o corrente processo de inclusão e a escolarização de
estudantes com deficiência intelectual nos anos iniciais do Ensino Fundamental de Nove
Anos. Consideramos que a ampliação do Ensino Fundamental se configura como uma
estratégia que possibilita ao professor organizar em um tempo maior e mais flexível a
construção de conhecimentos, o que permitiria ressignificar o seu trabalho/prática criando
outras formas de atuação, podendo assim, atender as diferentes formas de aprender.
Essa proposta de ampliação vem atender à lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional Lei 9394/96 e à meta prevista no Plano Nacional de Educação Lei 10.172/02
com o objetivo de garantir o atendimento educacional obrigatório de crianças a partir dos
seis anos de idade.(SEEDF, 2006).
A necessidade de ampliar o tempo no processo inicial de escolarização tem por
base os dados do SAEB ( Sistema de Avaliação da Educação Básica) e do PISA (Programa
Internacional de Avaliação de Estudantes). Estas duas avaliações demonstraram que os
níveis de alfabetização (leitura e escrita) estão longe de alcançarem os conceitos de
letramento, tomados como o uso e as funções da escrita e leitura como mediadoras de
práticas sociais em diferentes situações sóciocomunicativas que não somente as utilizadas
pela escola (Barbato, 2007; Barbato 2008).
A questão metodológica , do como está sendo efetivada a escolarização dos
estudantes, também é um elemento importante a ser considerado nesse quadro de
dificuldades, por isso a necessidade de se definirem estratégias mais eficazes para alcançar
uma educação que atenda realmente a todos (Klein,1999).
A presente pesquisa é parte de um projeto guarda-chuva apoiado pelo CNPQ
(Edital 51/2005) sobre letramento das crianças de seis anos no Ensino Fundamental de
Nove Anos e vem contribuir para a compreensão dos processo de inclusão dos alunos com
deficiência intelectual nesse novo contexto escolar.
Como estratégia para a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, a
Secretaria de Educação de Distrito Federal criou o Bloco Inicial de Alfabetização, BIA.
Este programa consiste na progressão do processo de aprendizagem do aluno,
possibilitando o desenvolvimento, em um tempo maior e mais flexível, das competências
necessárias para a alfabetização das crianças a partir dos seis anos. O Programa foi
dividido em três etapas: BIA I, BIA II e BIA III, o que corresponde em outros estados ao
34
ano, ano e ano, sendo o BIA III a única etapa que permite a retenção dos alunos
que não foram alfabetizados.
O critério de escolha da escola pesquisada seguiu os objetivos dessa pesquisa
relacionados ao estudo das significações de professores sobre o processo de inclusão e
escolarização de alunos com deficiência intelectual nos anos iniciais do ensino
fundamental de nove anos, uma vez que estava ligada à pesquisa guarda-chuva. A escola
escolhida foi a primeira de uma cidade administrativa do Distrito Federal a adotar o Ensino
Fundamental de Nove Anos, já em 2006, obedecendo o artigo da lei 11.274/2006 que
estabelece a obrigatoriedade de implementação do Ensino Fundamental de Nove Anos,
pelos Municípios, Estados e Distrito Federal, até 2010.
A instituição escolar pesquisada atende sua comunidade desde 1980 e foi criada a
partir do aumento da demanda de alunos na região. A maioria dos alunos são oriundos dos
novos loteamentos que foram se formando nas proximidades da escola. Atualmente, a
escola atende as seguintes modalidades: educação infantil com a pré-escola; anos iniciais
do Ensino Fundamental de Nove Anos( 1º ao 5º ano), educação especial com classe
especial e classes de inclusão, totalizando cerca de 960 alunos.
A comunidade onde a escola está inserida é formada por famílias de baixo poder
aquisitivo, e apresenta diversos problemas, entre eles, a falta de entretenimento e acesso
aos bens artísticos e culturais para os moradores tais como: cinema, teatro, bibliotecas. A
proposta pedagógica da escola preconiza uma educação voltada para idéias democráticas,
tendo o currículo o instrumento fundamental para o resgate da essência da educação. Na
prática pedagógica de modo geral há a valorização dos conhecimentos prévios do aluno e o
trabalho é feito de forma interdisciplinar. Os preceitos da escola consideram de
fundamental importância a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais,
desenvolvendo, em todos os seus alunos, a capacidade de cumprir com responsabilidade o
papel de cidadão construtor e transformador da sociedade. O corpo escolar preocupa-se
em alcançar uma maior participação da comunidade e das famílias nas atividades e na vida
escolar dos alunos por meio da realização de projetos interventivos.
A instituição escolar pesquisada conta com um quadro administrativo composto por
uma direção, uma vice-direção, um supervisor pedagógico e um supervisor administrativo,
trinta e cinco professores, dois coordenadores pedagógicos e quatorze auxiliares de
serviços gerais. Sua estrutura física conta com 18 salas de aula, dois banheiros adaptados
35
para educação infantil, área recreativa, porém sem adaptações para alunos com deficiência,
sala de recursos, sala de direção, de vice-direção, sala de reunião para coordenação dos
professores e sala de leitura.
A seleção das professoras seguiu o seguinte critério: serem professoras regentes em
salas de aulas do BIA com alunos diagnosticados, pela equipe psicopedagógica da
Secretaria de Educação do DF, com deficiência intelectual e manifestaram a vontade de
participar da pesquisa em questão.
Duas professoras, das três pesquisadas encontravam-se em turmas reduzidas
1
com
uma média de 15 alunos devido à estratégia de matrícula do ano da pesquisa que permitia a
formação de turmas regulares com o número reduzido de alunos, de acordo com o número
de alunos diagnosticados incluídos. Apenas uma turma não era reduzida, com uma média
de 38 alunos em sala. A não redução deveu-se ao fato do aluno ter sido matriculado como
aluno regular e no decorrer do ano a professora solicitou a avaliação por parte da equipe
psicopedagógica responsável pela escola, baseando-se no laudo médico entregue à escola
pela responsável pelo aluno.
3.2 Participantes
Participaram dessa pesquisa três professoras de salas inclusivas dos primeiros anos
do Ensino Fundamental de Nove Anos que trabalham com alunos incluídos com
deficiência intelectual. Cada uma delas possuía um aluno incluído com deficiência
intelectual, dois diagnosticados e um em processo de diagnóstico, correspondendo a: uma
professora com um aluno no Bloco Inicial de Alfabetização - BIA 1; duas professoras com
um aluno, cada, do BIA 3,com idades variando de 6 anos a 13 anos.
Todas as professoras selecionadas são formadas em magistério de grau com
nível superior: duas formadas em Pedagogia e uma em Ciências Sociais. Nenhuma delas
tinha especialização na área de educação especial. Todas atuam a mais de dez anos no
Ensino Fundamental na Secretaria de Educação do Distrito Federal. Duas professoras, no
ano da pesquisa, atuavam pela primeira vez com alunos com deficiência e uma professora
já havia atuado uma vez em sala de aula inclusiva.
1
Atualmente, na Secretaria de Educação, a estratégia de matricula não permite a formação de turmas
regulares reduzidas. Essas turmas, antes chamadas de turmas de inclusão mudaram o nome para turmas de
integração inversa. A integração inversa é uma estratégia, de inclusão progressiva no ensino regular dos
alunos com diagnóstico médico e relatório de avaliação psicopedagógica realizado pelas equipes de apoio à
aprendizagem, que necessitem de maior apoio na transição das classes especiais para as turmas regulares.
36
Quadro 1 Apresentação das professoras participantes
Professor
Experiência
em
educação
Experiência
em
educação
inclusiva
Alunos
incluídos
Série/
Ano
Diagnóstico
P1
11 anos
1 ano
A1
BIA 3
Em aberto
P2
12 anos
1 ano
A2
BIA 3
Deficiência
mental
P3
12 anos
2 anos
A3
BIA 1
Deficiência
mental
3.3 Instrumentos e materiais
Roteiro de entrevista semi estruturada (anexos I) e diário de campo, gravações em
vídeo das atuações pedagógicas nas salas que subsidiou a interpretação da pesquisadora
sobre o ambiente pesquisado. Gravador de voz MP3; para o registro das entrevistas;
câmera digital(DVD) .
3.4 Procedimentos de construção das informações
Para construir informações com o propósito de compreender a dinamicidade do
processo de construção de significados pelo professor sobre a inclusão e a escolarização de
estudantes com deficiência intelectual considerando o seu processo de formação, enquanto
um “lugar” para a produção de conhecimentos e o seu fazer pedagógico em sala de aula
inclusiva, utilizamos observações gravadas e registradas em diário de campo e entrevistas
semiestruturadas, uma vez que nos interessava conhecer o fazer pedagógico das
professoras, o seu ambiente de trabalho, as interrelações constituídas na sala de aula
inclusiva, assim como o que elas tinham a dizer e a comunicar sobre o momento
pedagógico no qual elas estavam vivendo, sobre o processo de formação inicial e
continuada.
37
De acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde toda e qualquer
pesquisa envolvendo seres humanos precisa ser apreciada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa, a fim de serem assegurados os cuidados e os sigilos necessários dos
participantes. A partir da aprovação do Comitê de Ética, no nosso caso, da Faculdade de
Saúde da Universidade de Brasília, a pesquisa seguiu os seguintes passos:
Apresentação da pesquisa e da pesquisadora à direção da escola e às professoras
participantes;
Encontro com entrevista semiestruturada sobre: formação profissional,
concepção de deficiência e as percepções sobre sua prática pedagógica. Esta
entrevista foi composta por três blocos. No primeiro as professoras falaram sobre
sua formação acadêmica e o que foi mais relevante em sua trajetória profissional, e
se nos dos currículos dos cursos de formação estava presente o tema da educação
especial inclusiva. No segundo bloco, elas se posicionaram quanto ao que
compreendiam sobre a deficiência intelectual/mental, seu funcionamento e o
processo de inclusão, tendo como norte as suas próprias salas de aula. No terceiro
bloco, elas relataram como trabalhavam na prática de sala de aula com os alunos
incluídos, as estratégias pedagógicas, os planejamentos das atividades e a avaliação
do desenvolvimento dos alunos incluídos a partir do seu trabalho. No início da
entrevista foi apresentado o roteiro de entrevista para as professoras e a
pesquisadora avisava ao final de cada bloco;
observação: gravação em vídeo de uma aula, focando a relação estabelecida
entre as professoras e os alunos incluídos;
Encontro com entrevista semiestruturada sobre: Inclusão, cidadania e práticas
pedagógicas de uma escola inclusiva. Nesta entrevista, o roteiro contemplava temas
que buscavam uma reflexão das professora sobre o processo de inclusão numa
perspectiva de sociedade e de escola. Além disso, solicitamos que elas
descrevessem a sua compreensão sobre a construção de cidadania possibilitada pelo
processo de inclusão, sobre as suas práticas pedagógicas e sobre o papel da equipe
escolar (coordenação pedagógica e equipe de apoio à aprendizagem) para a
realização do trabalho pedagógico. As professoras também puderam falar do
desenvolvimento dos seus alunos durante o ano;
observação: gravação em vídeo de uma aula, focando a relação estabelecida
entre as professoras e os alunos incluídos;
38
Encontro: uma proposta de reflexão. Neste último encontro, foi pedido a cada
professora que fizesse uma reflexão sobre seu trabalho pedagógico desenvolvido
durante o ano letivo com comentários livres Este foi um momento estritamente de
troca entre entrevistador e entrevistadas, onde as professores pediram opinião sobre
os seus trabalhos e solicitaram direcionamento para o futuro.
No primeiro dia de trabalho, foram esclarecidos os objetivos da pesquisa às
professoras, o que seria abordado em cada uma das entrevistas e solicitado a autorização
por escrito através do Termo de Livre Consentimento para que pudéssemos iniciar as
observações e as entrevistas. Foi anunciado antes de cada entrevista que a mesma seria
gravada em MP3 e ao autorizarem a pesquisadora começava a gravar. Os assuntos
abordados em cada entrevista também foram anunciados anteriormente. De acordo com as
respostas, novas questões iam surgindo, característica peculiar das entrevistas
semiestruturadas. Antes de cada nova entrevista, escutávamos a anterior para, na nova
entrevista, complementar aspectos que não haviam ficado claros ou dúvidas recorrentes.
As observações gravadas em câmera digital (DVD), foram sumarizadas. Antes da
primeira filmagem em cada sala, a pesquisadora conversou com os alunos, explicando o
que estava fazendo e por quanto tempo ficaria em sala de aula.
3.5 Procedimentos de análise das informações
Compreendemos que o método adotado para a análise das informações de uma
pesquisa alia-se ao domínio do referencial teórico e à solidez do problema de pesquisa
(Bauer, 2007), para a construção de novos conhecimentos. Ele está carregado pela
subjetividade das escolhas do pesquisador. O seu olhar sobre o que está sendo estudado
reflete-se na forma como ele analisará o seu material, nas suas escolhas, na sua
categorização, na codificação temática, enfim, na sua interpretação.
Seguindo a opção metodológica para uma análise qualitativa dos dados, tomamos
nesta pesquisa, o corpus das entrevistas das professoras como um registro verbal. As
professoras serviram-se da palavra para expressar acontecimentos, suas crenças, suas
práticas, eventos passados e expectativas de futuro. Para compreender esse material,
seguimos os seguintes passos de análise:
39
Análise das entrevistas
Os procedimentos adotados para análise das entrevistas foram semelhantes aos que
vem sendo realizados pelo grupo de pesquisadores do LABMIS (Andrada, 2006; Caixeta,
2006; Carlucci, 2008; Santos & Barbato, 2006; Melo, 2003; Ribeiro, 2006). As entrevistas
foram todas realizadas de forma individual, em salas designadas pelas professoras e em
horário contrário ao de regência de classe, demonstrando a total disponibilidade delas para
participarem da pesquisa, assim como a abertura e o consentimento da escola.
O primeiro passo foi transcrever as entrevistas na íntegra, respeitando a forma do
falar, as pausas, aliterações e as construções frasais das professoras. Em seguida, foram
exaustivamente lidas pela pesquisadora. Após repetidas leituras, submetemos o material à
análise dialógica temática. O tratamento dessas informações é similar ao da análise de
conteúdo temática (Bardin, 1977 ; Krippendorf, 1980; Mayring, 2000), porém, tomamos
como unidade de análise a enunciação. Levamos em consideração a dialogicidade na
compreensão do fenômeno estudado e os aspectos polifônicos (Linell, 2005). A entoação é
compreendida como um elo entre o discurso verbal e o contexto extra-verbal (Bakhtin,
1992). As redundâncias, as complementaridades e as contradições nas enunciações que
estão presentes na interlocução entre pesquisador e entrevistado são compreendidas como
fazendo parte do próprio discurso.
Após essa etapa, as entrevistas foram novamente relidas para identificarmos os
significados, a partir da análise das redundâncias, compreendendo de que forma estavam
postos nas enunciações e como iam sendo negociados e construídos pelas professoras.
A partir do objetivo geral e dos específicos da pesquisa, selecionamos 5 eixos
temáticos: deficiência, inclusão/políticas públicas, fazer pedagógico/transição, formação
profissional, escolarização. Em cada eixo, identificamos e analisamos:
1. as enunciações sobre os eixos;
2. a relação estabelecida pelas professoras entre formação e fazer pedagógico;
3. a dialética dos discursos segregacionistas e não segregacionistas na construção do
sentido dado a cada eixo.
Em cada ponto, interpretamos as falas, na busca de compreender o que as
professoras queriam dizer, ao falar tal coisa? Nessa interpretação, elencamos palavras que
pudessem expressar o significado dado pelas professoras a cada um dos eixos temáticos.
Em relação à apresentação, optamos por mostrar as entrevistas na sequencia em que elas
foram transcritas, colocando as análises abaixo das falas.
40
Análise das observações
Para este estudo, as observações realizadas nas salas de aula das professoras
entrevistadas objetivaram caracterizar o espaço de atuação pedagógica para que a
pesquisadora pudesse compreender de onde as professoras falavam. Conhecer este lugar
se tornou imprescindível como fonte de conhecimento sobre o trabalho das professoras,
ajudando no processo de interpretação de suas falas.
Apresentamos, em anexo (ANEXO 2) o resumo do que foi observado. O registro
dessas observações nos possibilitou esboçar um desenho do ambiente da sala de aula
inclusiva e conhecer a dinâmica das relações entre professora e aluno incluído.
41
IV -Resultado e discussão
Apresentamos, abaixo, o Quadro 02 com os eixos temáticos utilizados na análise das
informações. Eles foram construídos de acordo com o objetivo da pesquisa. Ao lado de
cada tema está posta a sua definição, correspondente à nossa compreensão sobre tal tema,
que foi construída em articulação com a fundamentação teórica adotada na pesquisa. Logo
depois, mostramos o Quadro 03, com os temas e os significados construídos a partir da
análise da fala de cada professora. Elegemos uma palavra para sintetizar a idéia trazida,
sabendo-se que cada tema e os seus significados serão discutidos na seção seguinte.
Em seguida, são apresentados os Quadros 04, 05 e 06 com os turnos das falas a partir
das entrevistas transcritas e a análise das mesmas, as quais foram submetidas à análise
dialógica temática (Caixeta, 2006; Carlucci, 2008; Santos e Barbato, 2006; Souza, 2003;
Ribeiro, 2006). Foram considerados para essa análise os elementos o verbais
constituintes da comunicação, ou seja, os elementos metacomunicativos (Maciel, Branco e
Valsiner, 2004), como as pausas na fala.
Quadro 02 apresentação dos eixos temáticos e sua definição
Quadro dos eixos temáticos
Temas
Definição
Formação profissional
Construção de significado em relação à
formação inicial e continuada e o fazer
pedagógico.
Deficiência
Construções de significado em relação ao
que as professoras acreditavam ser a
deficiência, sua possível causa e
funcionamento.
Inclusão/Políticas Públicas
Construções de significado sobre o que seja
a inclusão no âmbito da escola e da
sociedade, levando em consideração as
políticas públicas e o papel do professor
nesse processo.
Escolarização
Construções de significado em relação ao
processo de aprendizagem do aluno incluído.
Fazer pedagógico
Construções de significado em relação ao
fazer pedagógico com o aluno incluído.
42
Quadro 03 apresentação dos significados por eixo temático de cada professora
Quadro de Significados
P1
P2
P3
Formação
profissional
Falta formação
Busca
Ajuda
Qualificação
Dúvidas
Ajuda
Acréscimo
Saída
Busca
Voltada para a
prática
Teoria e prática
Magistério falta
preparação
Deficiência
Problema
Questão social
Lesão
Limite
Falta de estímulo
familiar
Problema
Dificuldade
Sofrimento
Inclusão/política
Públicas
Inicia-se na escola
Possibilidade de
socialização
Respeito
Menor
estigmatização
Forma de aceitação
Respeito
Despreparo
Dificuldade para o
professor
Problema
Socialização
Aprender a ajudar
Participação na
sociedade
Direito de estar
Despreparo do
professor
Falta estrutura
Escolarização
Ser ajudado
Capacidade
cognitiva
Necessidade de
trabalho
individualizado
Responsabilidade da
família
Inibição
Insegurança
Dificuldade
Importância da
família
Dificuldade
Construção ao
longo do tempo
Fazer pedagógico
Ajuda
Descoberta
Reflexão
Planejamento
Dúvida
Solidão
Necessidade de
apoio
Ajuda ao aluno
Busca
Planejamento
Melhoria
Ajuda
Busca
Intermediação
Reflexão
Despreparo
Afinidade
44
A seguir, apresentamos os Quadros 03, 04 e 05, com os turnos de fala divididos em Q (questão) e R (resposta) com a análise de cada
um dos temas e seus significados, mostrados abaixo, feita a partir das falas das professoras P1, P2 e P3, à luz do referencial teórico
proposto pela pesquisa. As análises estão apresentadas por professora, individualmente.
Quadro 04 turnos de fala Professora P1
Turno
Transcrição P1
Eixo temático
Significado
Q1
Vamos começar pelo histórico de formação. Por onde você se formou, qual a
sua formação, pontos positivos e negativos.
Formação inicial
R1
- Me formei na escola normal de Ceilândia, entrei em 94, saí em 96. Quando
eu saí de lá, assumi uma turma de jardim II na época em escola particular, 97,
em 98 eu passei no concurso e assumi a Fundação, Secretaria de Educação, né,
trabalhei com turmas de alfabetização que era o CA, antigo CA Classe de
Alfabetização tinha I e II, não tinha nenhuma experiência, e a coordenação era
bem participativa, chamava a gente e aplicava todos...
Q2
- Aqui na Ceilândia?
R2
- Não, na Samambaia, foi na Samambaia. Em 98 foi na Samambaia. eu
trabalhava 20 horas naquela época, a coordenação era muito boa porque tinha
muita presença naquelas etapas dos últimos anos. Aí de 99 até 2003 eu fiquei aqui
nessa escola, 2004 eu fui pro SESI, na metade de 2004 eu fui convidada para ir
para a direção, assumir a assistência da direção, quer dizer, não era aquilo que eu
gostava, não gostei dessa parte administrativa, meu negócio era sala de aula, é
sala de aula, 2006 eu retomei de novo a sala de aula, sempre com classes de
alfabetização, acho que em 99 eu trabalhei com uma série pela manhã,, em
2003 com uma série através de (...), não trabalhei com série. A formação
superior é em Estudos Sociais, licenciada em Geografia, trabalhei com contrato
temporário, ensinando matérias específicas, né, e gosto desse, da escola classe.
Q3
- Você tem algum curso, algum outro tipo de curso que não o de graduação ou
magistério?
Formação continuada
45
R3
- Sempre que é curso de extensão eu to indo atrás. Eu fiz um que era da
UNESCO que era de educação básica, fiz o PROFA e fiz o de parâmetros de
educação infantil, sempre que tem um curso de extensão eu to me matriculando,
não por título, sabe que, acho que... já transpondo a barreira fica mais tranqüilo ...
Q4
- Dentro da sua formação há algum enfoque na educação especial?
Formação continuada
Inclusão
Busca
Falta formação
R4
- Não, não. Se falou não sei se no magistério, mas bem leve, não teve aquele
enfoque não.
Q5
- Então caracterizações sobre deficiência durante a formação?
R5
- Não.
Q6
- Nenhuma?
R6
- Nenhuma.
Q7
- Nada sobre o desenvolvimento da criança?
R7
- Pouca coisa, mais sobre a teoria de Piaget, e dentro da Emília Ferreiro, aquelas
hipóteses que citam o que a criança faz. Também nem tem, assim, (..)... teóricos,
mas estudo aprofundado assim...hã-hã.
Q8
- Hoje você tem dentro de sala uma criança deficiente...
R8
- Deficiente mental
Q9
- Você acredita que precisa ter um profissional, uma qualificação profissional
maior para que se possa trabalhar com essa criança?
R9
- Com certeza, né. Porque a gente tem que saber como lidar do que ficar com
problema em sala, não é? Não sei nem se é problema, mas precisa de um suporte,
né, a gente vai ter que ficar ajudando aquela criança. Tem que ter esse suporte.
Q10
- Como seria esse suporte e pra você definir esse profissional capacitado.
46
R10
- Bem, eu não sei. É aquilo que eu te falei no início, né, que a gente... da escolha
de turma, que eu peguei uma turma achando que não ia ter um menino de
inclusão, que as turmas já inclusivas tem um... as pessoas sabem na hora da
escolha da turma, a sala de segunda A e B que tem aluno portador de necessidade
especial, que a turma vai ser reduzida por isso. Eu tive a oportunidade de ta
com uma A, com uma B, com uma turma com 15 alunos. E por eu não ter essa
formação, de ficar com medo de não saber lidar, eu falei “não, eu quero uma
turma não reduzida, uma turma normal”, digamos assim, aí cheguei e disse:
Menino! Você viu que eu fiquei apavorada, corri atrás pra saber o que que ele
tinha, S. me ajudou também, né, e eu acho que tem que ter uma pessoa que
esclareça, vamos supor tem um psicopedagogo, e esse psicopedagogo que ta
trabalhando com essa questão de portador de necessidades especiais, ele tem que
ter uma formação pra chegar pra mim e falar: “Ó, V., esse aluno tem ataxia
congênita”. O quê que é uma ataxia? Bom, eu não sei o quê que é. Ah, é isso, isso
e isso. Como vou poder trabalhar com essa criança? Você pode fazer isso e isso, e
vamos ver o resultado com essa criança, entendeu? Porque fala assim, aí o
professor faz o diagnóstico, a gente tenta fazer, corre atrás e tudo, porque também
é responsabilidade nossa, mas depois vem aquela questão toda burocrática, a
gente não sabe, eu não sei nem como é que anda essas crianças. Elas mesmo
falam: o quê que é a ataxia? Tipo assim, a ataxia elas não sabiam o que era. Eu fui
na internet, pelo CID do médico, procurei o quê que era, vi que a coordenação
deles bateu com as características que foi lida, né, aí eu disse: “Não, esse menino
tem...”
Q11
- O diagnóstico dele de ataxia é pelo?
Escolarização
Responsabilidade da
família
R11
- Pelo Sara, que (...) a gente não tem o relatório médico, não tem o laudo
médico, não tem. E foi isso o que aconteceu, a mãe tem como buscar esse laudo,
mas colocou “n” dificuldades, foi aí onde eu vi o confronto entre eu e ela, de falar
assim: “Se vonão for atrás, então vou chamar o Conselho Tutelar, porque essa
criança pode ser que ela tenha... ela tem direito ao... se ela tiver necessidade
especial, ela precisa ta numa classe de alunos especiais, a turma será mais
reduzida, com acompanhamento do professor para mais individualizado com essa
criança, ela vai crescer muito mais, mais aí... agora é questão familiar, né.
47
Q12
- Conversando agora sobre concepção de deficiência, quais são os seus conceitos
com relação à deficiência?
R12
- Agora ficou tão complicado depois do curso. Não, porque assim, pelo o que eu
vi lá de dentro de um conceito, assim, dentro da hegemonia, dentro da medicina, o
que ela falou na pedagogia, na psicologia, deficiência seria como se fosse uma
lesão. Agora voltando para a questão social e antropológico, que fizemos vários
levantamentos lá, que diz que deficiência seria... como que ela falou? É como se
fosse um corpo, um corpo sob suspeita, não sei agora como te explicar. É aquela
questão que você até falou sobre o D. e o L., e falou assim: “Ó, o L. sabe que
ele tem uma deficiência”, e aí você falou assim: “Mas o D. aparentemente ele não
tem nenhuma deficiência, mas ele também ta com os mesmo problemas de
aprendizagem do L.”.
Formação
Questão social
Q13
- Algo causado socialmente?
Deficiência
Formação
Lesão
Questão social
R13
- Socialmente. Você que é uma questão social, ficou assim esse impasse
agora: o que é deficiência mesmo, ne, será que a deficiência é voltado para a
questão de lesão, uma questão congênita, ou agora abre esse leque para a queso
social, econômica, cultural. (...) Aí restringe que a deficiência é só uma questão.
- E pode pensar na questão até que ponto a responsabilidade da escola na
deficiência.
- Exatamente
- Né. Até que ponto a gente não produz o deficiente.
- Tem isso também, né?
Q14
- Quais as características que você vê, especialmente no L.?
Escolarização
Ser ajudado
Necessidade de trabalho
individualizado
R14
- Características como? Geral?
Q15
- Comportamento, aprendizagem.
48
R15
- Ele começa a aula bem, depois, assim, eu sinto que depois do recreio ele sente
uma certa dificuldade no cansaço, ele começa a fazer brincadeiras muito infantis,
pra ver que é uma criança que, não sei se é o termo certo, jogado pela família,
né, não tem aquela preocupação porque se você for ver o relatório dele, ele tem 16
anos e eu li o relatório dele em 2003 ele tava cursando a primeira série, então
da época que foi feito com ele até 2002 eu não sei, ai quando vai de 2003, 2004,
2005 não consta nada de que ele freqüentou uma escola, 2006 ele volta a
freqüentar, então o quê que foi feito em 2004, 2005? ele vem pra agora em
2007, se tornou freqüente. Será que também houve esse confronto dos
professores, alguém buscar ajuda, e a mãe dele quis tirar, não sei. Mas assim, é
uma criança que se tiver o acompanhamento individual eu acho que ele aprende
alguma coisinha, ele tava pegando, lembra naquele dia que a gente tava
trabalhando as sílabas sozinhas com ele, bem diferenciado, que algumas
atividades quando eram feitas coletivas ele conseguia acompanhar. Primeiro eu
achava que ele copiava caixa alta, “Não, tenta copiar nessa letra”, ai depois eu
vi que ele tinha coordenação motora, sim, ele consegue, é a questão do motor
mesmo, né...
Q16
- De andar?
R16
- De andar. O equilíbrio que é próprio da deficiência dele.
Deficiência
Escolarização
Inclusão
Possibilidade de
socialização
Capacidade cognitiva
Q17
- Como é que você vê o desenvolvimento dele do começo do ano até agora?
R17
- Com um planejamento individual eu acho que ele cresceria um pouco sim.
Q18
- Ele desenvolveu alguma coisa?
R18
- Eu acredito que ele desenvolveu.
Q19
- No ano passado ele tava aqui?
R19
- Não, ele era (...), tinha nota e tudo. Porque assim, ele reconhece as vogais,
ele consegue descriminar as vogais, acho que não foi apresentado o alfabeto pra
ele, você viu que naquele dia como eu já tava apresentando a letra B, letra C ele já
começou a reconhecer Não, ali...” qual que foi a palavra? Eu não me lembro
agora, acho que foi copo, né? Acho que foi copo Ali ta C”, ele achou o P, mas
quando foi prato, eu “que letra é?”, ele não sabia... colher, né? Colher... acho
que houve um crescimento, eu tava apostando nele.
Q20
- Você vê que existe muita disparidade entre ele e as demais crianças?
49
R20
- De comportamento? Não, comportamento não. Ele conseguiu ser sociável com
os meninos, brincadeirinhas. Às vezes que, uma vez ou outra, os outros enchiam a
paciência, é normal ele ficar nervoso, mas assim, dentro de sala de aula eu não sei
se é porque ele não movimentava na sala de aula, porque o espaço era estrito,
então ele tinha uma socialização legal com as crianças, inclusive os meninos
tinham um cuidado com ele, agora quando chegava no recreio que fosse (...) ai
pronto, ele se isolava, não brincava, ficava do lado o tempo todo, no recreio
todinho. Então quando ele levava umas cartinhas, que ele tinha que ficar naquele
lugar lá, os meninos é que teriam que ir ao encontro dele, mas pra ele brincar
dessas brincadeiras ele não participava não.
Q21
- Em relação às capacidades dele, quais as capacidades que você poderia me
definir, me falar?
R21
- Muito difícil. Assim, cognitiva?
Q22
- Cognitiva também.
R22
- Ai, não sei agora. Não sei. Assim, eu acho que se ele conseguiria se alfabetizar,
não sei se ele daria conta, acho que daria conta sim, porque se ele abstrair algumas
letras e não esquecer acho que já é um sinal positivo, já conhece o nome dele.
Q23
- Ele escreve o nome dele?
R23
- Escreve, escreve o nome dele em letra cursiva. Acho que se tivesse um
atendimento bem mais individualizado com ele, ele teria a capacidade, do tipo
cognitiva, de ampliar o conhecimento dele.
Q24
- E em relação à socialização e o seu papel como professora, você acredita que
ele... que existe um papel seu na socialização da criança em sala de aula com os
demais alunos?
50
R24
- Acho que sim, até mesmo por apresentar um cuidado especial, uma atividade
diferenciada, os meninos estavam “opa, o quê que ta acontecendo ali?”, né, ás
vezes... e ele sentia. Quando eu dava atendimento individual pra ele ali, que ele
via que a atividade era pra ele, voltada pra ele, ele ficava, assim, confortável.
No dia que eu não fazia ou então não dava mesmo pra atender, ai ele ficava
inquieto, ai ele começava a, tipo, a que perturbar, chamar a atenção. E eu? O
quê que eu vou fazer? Essa questão também eu pedia pros meninos, essa questão
do respeito, por isso que eles tinham cuidado com ele, se ele não conseguia fazer a
atividade “Professora, posso ir ajudar o L.?”, Pode, uai, pode ajudar sim”.
Então acho que tem essa questão de conduzir. O negócio é planejamento mesmo,
né, que ás vezes pega uma sala lotada, e eu faça uma coisa com ele” e o outros
“Ah, se ele não for fazer eu também não vou fazer, quero, ele não ta fazendo”,
tem que explicar “Olha, não é bem assim”. Mas quando era coletivo eles faziam,
mas você tem que ta ali porque se não tiver fazendo a atividade com ele, ele não
faz não, ou então ele fala Se os outros tão fazendo porque que eu não to fazendo
também essa atividade?”. Tem que ter esse cuidado. Ele parava pra pensar, eu
acho que ele parava assim e ficava Oxe, porque que eu não posso fazer essa
atividade?”. Então quando, geralmente quando a atividade era de cruzadinha,
interpretação, ele fazia, copiava direitinho.
Q25
- Me defina inclusão.
Inclusão
Inicia-se na escola
R25
- Agora ficou difícil porque o que foi que a gente falou? Que antes eu pensava
que inclusão era o aluno, no meu caso, por exemplo, o L., seria o aluno incluído
em sala normal, com 33 alunos, e ele ficaria ali. Eu saberia que ele tinha alguma
dificuldade, mas por ele ter uma capacidade cognitiva de socialização, então ele
estaria ali dentro dessa sala, que seria uma sala inclusiva. E hoje em dia já
reverteu, ele já... não sei, tem uma sala que você sabe que vai ter um aluno que
é portador e os outros que são aparentemente normais é que estão inserindo nesta
turma, não sei se você entendeu. Assim, a turma da Marta... a turma da Marta já é
uma turma inclusiva, e o que eu falo inclusiva...
Q26
- Ah, isso é na hora de você escolher?
Inclusão
Problema
51
R26
- De escolher, mas a gente já sabe. Inclusiva, porque tem um aluno que vai ter um
atendimento mais individualizado, ás vezes tem que requisitar da professora,
então essa turma vai ser reduzida em função dessa criança.
Deficiência
Formação
Inicia-se na escola
Qualificação
Q27
- A inclusão pra você seria uma questão de redução das crianças?
R27
- Não, não. Hoje em dia eu vejo assim, ai você já coloca aquele asterisco: a turma
reduzida, você tem um aluno que é portador de alguma necessidade ali, seja
física, mental. E eu achava que antigamente era isso que eu te falei, o contrário, o
aluno viria a uma turma normal, sem ter a necessidade de ser reduzida.
Q28
- E foi uma opção ou não?
R28
- Do que?
Q29
- Da questão da educação inclusiva, a sala inclusiva. Pra você não foi uma opção?
R29
- Pra escolher?
Q30
- É. Você optaria por uma sala inclusiva?
R30
- Se eu tivesse afirmação, sim. Essa é a preocupação hoje em dia, porque agora a
gente vai ter que capacitar, sei lá, procurar alguma formação, porque agora eu
vi que a gente ta sujeito, então eu não sei com a turma reduzida ou não. Foi o que
aconteceu, né?
- Ai a gente poderia entrar na idéia do “até quando a gente forma a deficiência”,
porque apesar de você se preocupar com uma turma não-inclusiva você tem
diferentes alunos com diferentes de não aprendizagem, de déficit de aprendizagem
e estaria dentro duma... que é paralela à deficiência de um menino que já está com
o problema diagnosticado.
- É. Essa turminha aqui, ela é pesada, visto que quase todos são repetentes. Se
brincar, os repetentes da manhã, todos estão aqui comigo, e alguns repetentes da
tarde também.
Q31
- Agora falando sobre a prática pedagógica, quais são as principais estratégias
que você usa pra trabalhar com o L.?
Fazer pedagógico
Ajuda
Planejamento
Descoberta
R31
- Bom, eu convidei pra vim ao reforço, em horário contrário que ele teria; uma
chance de ta trabalhando com ele mais individualizado, não veio, e como eu vi
que ele não conhece todas as letras, quando veio aqui e comecei a puxar, porque
eu queria puxar, a questão do alfabeto, pra ele conhecer as letrinhas, até a questão
do letramento, palavras (...), alguma coisa que chame a atenção dele.
52
Q32
- A participação dos pais você considera fundamental?
R32
- Fundamental, desde que compreenda. Porque vem pra escolinha, e outro dia ela
me pegou na entrada da escola: “V., fiquei sabendo disso e disso”, e falei Quem
te contou isso? Me mostra porque eu não vou esquentar”, “Não, porque na reunião
eu não estava presente”, eu falei “Ta, como a senhora não estava presente eu falei
do caso do seu filho que precisava de atendimento individualizado”, ai ela “Que
tão falando que ele ta atrapalhando”, ai eu falei “Em momento nenhum eu não
falei que ele estava atrapalhando a sala, ele precisa de atendimento”, depois ela
mudou “Não, é que você muita atenção pra ele, e os outros ficam pra trás”, ela
se contradiz sozinha, ela tinha que participar pra saber mesmo a real situação da
criança, da preocupação que eu tive com ele, e eu falei “Olha que isso é porque eu
não sou a mãe, a senhora que é a mãe, a senhora que tinha que se preocupar”.
Acho que esse não é um caso, não é o primeiro caso, nem será o último.
Q33
- Quais eram as atividades que você achava que dava mais certo com o L.?
R33
- As atividades coletivas mesmo: cruzadinha, atividade de recorte, atividade que
seria ação, ele pegava. Por isso que eu acho que ele tinha um potencial cognitivo a
ser desenvolvido, porque teve uma atividade que era de seqüência, que as crianças
tinham que pintar uma seqüência, não conseguiram, ele conseguiu com a minha
orientação. Eu do lado dele, eu “aqui tem quantos azuis?”, ele “tem 3”, então
ele vinha pintando os 3, ele ia acompanhando o desenho, tipo Tangram, que tem
tipo uma malha. É como se fosse simetria, e ele deu conta, e muitos da minha
sala, os outros, alguns, não consideraram. Então ele tinha, eu acho que ele tinha
um raciocínio... às vezes ele participava de um joguinho, brincava ali com os
meninos “passo do Ganso”, que a gente vai jogando uma operação e eles vão
dando os passos e vão respondendo, quem conta primeiro um passo, e ele
respondia. Então, poxa, ele tem alguma coisa. Brincadeiras, outras atividades em
seqüência ele trabalhava, recorte também.
Q34
- Como é feito o planejamento? Se é diário, mensal, como é que faz pra
acontecer?
R34
- Olha só, diário, mas agora a gente ta tentando sistematizar um projeto único,
que é um projeto interventivo pra atender essas crianças, defasar de idade, série.
Q35
- Pra toda a escola?
53
R35
- Não, pra etapa 3, porque a etapa 3 é que é o X desse bloco agora. A etapa 1 não
retém aluno, a etapa 2 não retém aluno, então se o aluno aprendeu ou não ele vem
pra etapa 3, quando chega na etapa 3 é que ele é retido pelo IC. Ao final desses 3
anos se ele não foi alfabetizado, ele será retido, a gente ta tentando fazer um
projeto interventivo, e é ai onde eu vou puxar brincadeiras pra tentar chamar a
atenção dessas crianças.
Q36
- Quando você planeja atividades, o quê que você espera da criança?
R36
- Eu até brinquei com a coordenadora na hora do projeto, ela o quê que você
quer?”, ai eu falei que as crianças aprendam a ler e a escrever”, ela “mas elas
vão aprender brincando”, ai eu espero, né?”, que essas crianças desbloqueiem,
né, pelo amor de Deus, toda hora (...), porque eu pensei assim “Não, hoje não é
possível que não aprendam apenas uma palavra, aprendam uma letra, porque tem
o que sabe ler, tem uns que conhece a palavra, mas não sabe ler nem escrever
legal como produção, ai a gente ta, dentro do nosso planejamento, a gente ta
modificando, a gente ta querendo fazer um rodízio entre as 3 professoras da etapa
pela escrita da... nos fizemos na terça-feira passada, quinta, sexta e hoje pra
concluir o teste “da psicogênese” com ele, a gente ta querendo separar por nível,
um dia na semana pra fazer o rodízio. Então um professor vai ficar com silábico-
silábico, o outro com silábico-alfabético e outro com o alfabético, pra que eles
não fiquem tão prejudicados, né. vai ter esse rodízio entre sala, na mesma
etapa, a gente ta pensando em um rodízio entre todas as etapas e estamos
oferecendo um reforço e mais agora a elaboração do projeto interventivo, então a
gente vai ter que montar, e isso tudo esse ano, com a finalidade pra que essas
crianças pelo menos aprendam a ler, interpretar coisas simples. Pelo menos o
mínimo, mas vamos tentar o máximo, né.
Q37
- E o que você faz quando não atinge aquele objetivo, quando você planeja uma
atividade e não consegue atingir?
54
R37
- Essa aula foi uma merda. É uma porcaria, né. Você tem que reservar um quadro
novo e tentar outras maneiras de admitir, né, que atende mal. Tem dia que você
sai mesmo frustrada, você fala assim “hoje a aula não foi legal, eu sei porque os
meninos fizeram tanto barulho, a aula não foi atrativa, não consegui meu
objetivo”, ai tentar replanejar, onde você errou e tentar fazer, né, ou então
deixar de lado, às vezes acontece, vou confessar pra você que não é o mundo
bonito não, você fala “ah, hoje eu não consegui, amanha vou replanejar, fazer uma
brincadeira, uma aula mirabolante”, e às vezes você fala “ah, hoje eu não
consegui”, e de repente você apresenta até uma resistência “ah, eu não sei ensinar
isso”, e acaba ficando batido, não vou falar pro lado. Você tem até resistência de
apresentar um determinado conteúdo, ou então você quer apresentar da forma que
você aprendeu, né, não procura outros mecanismos de mostrar pra criança, não
achou que deu certo(...)
Q39
- Você acha que aquele que responde mais tem mais... interage mais, consegue
responder melhor as atividades que não são necessariamente de escrita, leitura,
matemática?
R38
- Quando é brincadeira no pátio, ele não vai brincar, se for uma música ou
alguma coisa assim ele não responde muito não, fica muito na dele, ele se isola.
Ele gosta de brincadeirinha em sala de aula, se junta com o A. que mora perto da
casa dele e já tem aquele convívio, ele gosta, ele gosta muito de ficar com esse
colega, aí começa uma piadinha ele gosta, uma brincadeirinha.
Q40
- Mas brincadeira, ele não é muito comum de brincadeira?
R40
- Não, ele quase não participa não, é muito difícil. Agora eu não sei como é que...
agora seria até bom um projeto de brincadeira.
Q41
- E como é que você vê esses processos de desenvolvimento dele? Como é que ta
sendo?
R41
- Quando ele parou, né. Acho que se a gente começar tudo... se ele voltar vai
começar tudo de novo, e a itinerante falou “V., eu consigo uma escola pra ele”,
ele tinha uma professora esperando por ele, tirou até um aluno, deixou uma
vaga pra ele, e ela disse ó, eu vou te oferecer subsídios pra você trabalhar com
essa criança, vai ter que fazer um planejamento diferenciado pra essa criança e ele
vai ter um auxílio”...
55
Q42
- Uma sala de aula de educação especial?
R42
- Isso, seria uma sala pra ele mesmo, assim, ela falou a gente tem uma pessoa
excelente de alfabetização e estaria pra dar apoio pra ele”, mas o quê que deu
depois dessa reunião? O menino não veio mais, e eu não sei como é que anda esse
processo, se fizeram o diagnóstico, eu não sei, pra mim não chegou mais nada
aqui não. Não pra te responder essa pergunta. Se ele estivesse aqui comigo
agora.
Q42
Bem, P1, esta é a nossa segunda entrevista, né? Depois de quase 6, 7 meses, né,
que a gente fez a primeira. Eu queria que você me falasse como é que você ta
vendo esse processo de inclusão na sociedade como um todo.
Inclusão
Inicia-se na escola
Menor estigmatização
R42
Como um todo?
Q43
Como um todo.
R43
Acho que você ta pegando pesado, ela ta pegando.
Q44
Não, essa é geral.
R44
É, eu acho que ta havendo uma preocupação maior. Acho que ta sendo mais
divulgado essa preocupação do... essa questão da inclusão na sociedade, sendo
mais veiculada, é importante o respeito. Acho que ta tendo mais informações.
Q45
Você acha que...
R45
Eu acho que ta sendo mais veiculado.
Q46
Até em questões de mídia?
R46
Mídia. Principalmente na mídia, que antes era uma coisa que tava começando
aqui na escola, né? Questão da inclusão dos alunos e agora acho que ta mais... a
mídia e a sociedade eu acho que ta mais... como é que se diz?
Q47
Sendo mais divulgado?
R47
Que é mais importante. É... por ai.
Q48
E como é que você esse processo aqui dentro da escola? Processo de inclusão aqui
dentro da escola? Essa escola, né?
R48
Ah... acho que essa escola já é, acho que é, alguma coisa inclusiva, que já
recebe... meio que receber alunos, né?
Q49
E como é que você vê esse processo? Você já tem quantos anos de escola?
R49
Aqui?
Q50
É.
56
R50
9 anos
Q51
Durante esses 9 anos como é que você viu esse processo de inclusão?
R51
Ah, eu acho que é um pouco... Essa escola tem uma sala específica, de ensino
especial, que geralmente sempre fica com a mesma professora, desde que eu
entrei aqui é sempre a mesma professora, praticamente a mesma turma, um ou
outro aluno que varia, eu não sei se ano que vem ela continua com essa turma, e aí
depois é que eu fui vendo que foram chegando outros alunos, que não ficou na
sala dela, que começou a entrar na séries regulares, na forma regular dentro do
ensino especial, que é aquilo que te falei anteriormente, né? Que eu não escolhi tal
turma, pra achar que a gente não foi claro, pra assumir aquela... aquela turma.
Q52
Você considera que a escola é um espaço de construção de cidadania?
R52
Sim. Por que?
Q53
Não, é que...
R53
Acredito que sim. É um espaço de interação. Você vê, a gente percebe que as
crianças, as outras, que aparentemente não tem nenhum problema, tem uma
preocupação maior com os outros. Os alunos na Paula mesmo que são dessa
turma, quando eles brincam...quando eu passava eles falavam “a professora P1 ta
passando”, que eles queriam ficar juntos com os outros alunos, né. Não, não é só a
turma de ensino especial, eles tavam junto com os outros, né. E os outros têm
aquela preocupação, começam a interagir, porque até então parecia assim: o
ensino especial, aquela farinha deles ali. A margem, ficava a margem, com se
fosse uma ilha dentro da escola, sem interagir com os demais do ensino regular.
Aí agora não, já ta dentro mais essa interação entre eles.
Q54
E como é que você entende, assim, vê, como é que você pensa... esse processo de
construção de cidadania, com a inclusão, com a questão da inclusão?
R54
Como eu estou vendo a interação entre os dois fatores?
Q55
É. A questão da construção da cidadania e a inclusão... a construção da cidadania
desses alunos.
R55
Eu acho que eu vou ser um pouquinho ressentitiva.
Q56
Não, pode ser.
R56
Eu acho que a partir do momento que eles começam a interagir com as outras
crianças, ele vão... não vão se sentir tão, como é que a gente fala? Estigmatizado.
Inclusão
Escolarização
Menor estigmatização
Respeito
57
Q57
Estigmatizado?
Formação
Necessidade de trabalho
individualizado
Ajuda
R57
Não é?! Acho que é isso que vem acontecendo, eles se sentem parte daquela
sociedade, daquele universo escolar. O mesmo direito que meu colega tem que
não é, que não é “cadeirante” eu também tendo. Eles percebem isso. Eu acho
que é isso. Não sei... os valores vão...
Q58
O que é cidadania para você?
R58
Cidadania?
Q59
O que é ser cidadão?
R59
Bom, acho que é... essa questão mesmo dos direitos, valores, folheados a
convivência em sociedade, respeito, né. Essa oportunidade do ser humano, é ser
desenvolvido globalmente, em todos os aspectos, não um. Ter oportunidade de
ir e se desenvolver.
Q60
O que que é uma sala inclusiva pra você?
R60
É aquele negócio que... sala inclusiva? depende, né. Porque eu achava aquilo
que eu te falei, que é um aluno que tinha uma deficiência e tava entrando numa
sala de ensino regular ou uma sala reduzida pra receber um aluno portador de uma
necessidade.
Q61
Você considera a sua sala inclusiva?
R61
Agora não.
Q62
E quando ela era inclusiva?
R62
Eu achava que ela era inclusiva. Não era pra ser, mas foi, né, naquele tempo. E
deu no que deu, né.
Q63
Como é que você esse seu trabalho, o trabalho durante o período letivo que
você teve o L. na sua sala? Como é que você o seu trabalho profissionalmente,
como é que você se vê nesse trabalho profissionalmente e pessoalmente?
58
R63
Profissionalmente a gente precisa de ajuda, porque não é fácil ser um menino que
apresenta um problema assim, com uma sala lotada... precisa de ajuda, de
acompanhamento... especialmente tem que ter bastante determinação, porque não
é fácil. É muito fácil a gente falar assim “ah eu vou fazer um trabalho
diversificado, porque tem um aluno assim”. Ele vai precisar de um
acompanhamento. Individualizado da até pra fazer em horário contrário, desde
que a família esteja interessada, né. não tem problema porque a escola essa
abertura, inclusive eu abri dois dias de reforço escolar. Então pra ter uma
turminha na segunda e uma turminha na quinta, era pra ser só uma vez. Então essa
oportunidade tem, da pra fazer um trabalho mais individualizado. Agora dentro de
sala pra fazer um trabalho diversificado, é complicado, porque várias idéias a
gente vai ter, várias idéias nós vamos ter, mas até então você ta ali e não tiver
determinado você não consegue... não consegue.
Q64
Você acha que você teve alguma mudança em termos pessoais e profissionais,
pelo fato de você ter trabalhado um período letivo com aluno incluído?
R64
Olha só, eu confesso que fiquei até chateada porque quando eu descobri isso,
desde o dia que eu bati o olho, quer dizer “P1, esse menino aí tem algum
problema”, e eu fui atrás, ai Silvane deu daquele apoio, né, também pesquisou
pra gente, que foi atrás, o que era essa doença, tudo. a mãe... você chama a
mãe pra vim conversar com a pessoa, ela viu que... ela se sentiu pressionada. O
que que ela fez? Foi tirar o aluno, depois queria jogar a culpa dizendo que eu tava
sendo preconceituosa, uma vez que eu só queria ajudar, né, “Ó, seu filho tem isso,
vamos ver de repente ele consiga uma turma mais reduzida, com atendimento
especializado pra ele. Eu quero o bem pro seu filho. Se ele tiver essa
oportunidade, ele, né... a gente vai atrás”, mas aí houve foi o inverso, aconteceu o
inverso. Ao se preocupar a mãe... teve um... se afastou. Não, mas eu acho assim,
não profissionalmente eu saberia te dizer, mas pessoalmente foi bom, porque eu
fui atrás, eu busquei, não sabia o que que era aquele termo, sabe. Houve uma
preocupação, mas isso foi em vão, acabou que foi em vão.
Q65
Você acha que foi em vão mesmo?
R65
Pra mim?
59
Q66
É. Você acha que mudou ou não mudou nada, até em termos profissionais, do fato
de você ter corrido atrás?
R66
Não, eu acho que acaba mudando muito. Acaba tendo uma preocupação maior.
Você sai mais com os alunos, você quer saber mais da realidade deles, quando
eles apresentam alguma dificuldade.
Q67
Me diz como é que você fazia, hoje faz o planejamento pedagógico para a sua
turma em geral, como é que é feito esse planejamento?
Fazer pedagógico
Planejamento
Reflexão
R67
Olha, eu acho que o ideal... eu vou te falar o ideal e o que eu faço. O ideal seria
um planejamento bem diversificado, porque a turminha foi difícil. Uma turminha,
como eu te disse, menino repetente, todos os repetentes caíram nessa sala e teria
que ter planejamento diversificado, mas aí com a implantação do BIA houve... é...
eles deram abertura pra gente ta fazendo um trabalho com essas crianças de muita
defasagem, por exemplo, além do reforço escolar que a gente faz no horário
contrário. Um projeto interventivo, um projeto com efeito pra atender essas
crianças e o rodízio. que o rodízio seria entre as turmas. A gente ia dividir os
meninos por níveis, e ai, tipo, faria numa sexta-feira, escolheria um dia pra fazer
esse rodízio, cada professor ficaria com um nível, só que no nosso caso aqui, meu,
da Ana Maria e da Marta, os meninos houve alguma rejeição, eles não queriam ir
pra outra professora de jeito nenhum, começaram a falar que iam faltar,
choravam ali na porta, não vai ter rodízio, né. Aí a gente optou por fazer o reforço
individualizado mesmo, no horário contrario, e o projeto interventivo em sala,
cada um pegaria um tema, sempre centrado naqueles alunos. Atender todos, mas
aquela dificuldade específica para aqueles alunos, e no meu caso aqueles que fora
retidos, né.
Q68
E como é que você planejava as atividades, fazia teu planejamento pro L., pro
aluno incluído?
60
R68
Pro L., né. Você vê, comecei... queria primeiro tentar ele fazer aquela
diferenciação, né, grafema, fonema, reconhecimento de letras, porque ele sabia
as vogais, eu vi que ele era silábico, ele não era tão... ele era silábico, com a
discriminação das vogais, eu falei “Não, agora vou começar a dar uma puxadinha
nas consoantes”. Mesmo a partir do nome dele, outras atividades do dia-a-dia,
mas aí... dá pra fazer, dá pra fazer sim, dá pra atender. Tava tendo umas respostas,
tava tentando acompanhar. Eu achava que ele não fazia letra cursiva, achava que
ele não dava conta, ele dava conta de acompanhar, uma letrinha ou outra que
ficavam... se tivesse chamando a atenção dele toda hora ali, ó, “L. vamos fazer, L.
a gente já fez isso”, ele dava conta, acho que dava conta.
Q69
Como é que você avalia o desempenho da sua turma, no geral?
R69
No geral? Ah, regular.
Q70
E assim, em termos de metodologia de avaliação? É prova?
R70
Ah, como eu avalio. A gente faz o teste da psicogênese inicialmente, tem os
gráficos com os níveis, aí a gente vai pintando.
Q71
Ah ta, pelo teste?
61
R71
Pelo teste. Pelo teste a gente faz um gráfico pra ver quantos alunos silábicos, pré-
silábicos, né. E para os pais, para fim de mecanização, porque os pais às vezes não
acreditam muito em relatório, eles têm que ver alguma coisa concreta, a gente
faz uma avaliaçãozinha, aí essa avaliação a gente faz dos modos tradicionais
mesmo, uma leitura com interpretação escrita, separação silábica, trabalhando
isso. Aí no meu caso, igual eu falei pra coordenadora, que eu não ia ta trabalhando
gramática, não dava pra puxar gramática, substantivo, adjetivo, tava
interessada em fazer ele ler e interpretar alguma coisa, a avaliação é
basicamente isso: pequenas produções de texto, leitura e interpretação,
matemática, as operações isoladas, depois a coordenadora entrou com a gente,
conversou com a gente e pediu pra gente trabalhar mais situações-problema,
porque eles tavam tendo muita dificuldade. a gente começou a trabalhar com
situações-problema, e foi interessante, começou a trabalhar em grupo, eles iam
na frente, apresentavam a situação problema e de repente ela fez até um trabalho
depois...aí ela sugeriu “Não, vamos trabalhar em grupo com essas crianças, lerem
alguma situação-problema oral, mas assim, avaliando assim, como eles
participarem, no início, deu a maior briga no grupo, eles não conseguiam
socializar a idéia entre eles. “Não esse problema é meu, eu é que vou desenhar, eu
é que vou fazer”, no segundo dia foi melhorando, e a gente foi avaliando.
Mas é assim, uma avaliação presente em escola e pros pais.
Fazer pedagógico
Escolarização
Descoberta
Planejamento
reflexão
Q72
Qual o papel da coordenação pedagógica no seu planejamento?
R72
Esse ano foi mais no finalzinho do ano que a gente começou. Não sei se houve
uma preocupação, não sei se é porque eles seriam cobrados de alguma forma a
nível de direção e (...), começaram a intervir no nosso trabalho. Eu sou aberta a
isso aí, se quiser entrar na minha sala, isso é tranqüilo. Tem essa liberdade de
falar o que ta certo, o que ta errado, o que poderia fazer de outra forma, e foi o
que aconteceu agora no final, então não teve tanta... é importante? É.
Q73
Teve orientação e acompanhamento?
62
R73
No final, no final. Meados de setembro pra cá. Inclusive até perguntei pra eles
assim, a gente teve uma reunião, eu fui e falei assim, ó: “Eu queria até que
vocês cobrassem a leitura dos meus alunos, porque eu penso que de repente sabe e
não sabe ler, e falar “Ó, fulano sabe”, de repente, com outra professora, ele ou vai
se intimidar ou não sei o que que vai acontecer. eles se propuseram a tomar a
leitura de aluno pra aluno, eu marquei com autonomia”, “lê com pouca
autonomia” “lê sem e com muita intervenção”, dos 5 que (...), 4 leram com
muita intervenção, o restante... Mas foi agora no final, acho que se tivesse
desde o início um acompanhamento, iriam todos, né.
Q74
Você acha que teria tido uma diferenciação?
R74
Teria
Q75
No seu trabalho e na questão da avaliação dos alunos?
R75
Sim, porque eles têm que ser cobrados de alguma forma, querendo ou não. Mas só
no final? Esse ano específico foi só no final, não sei se é porque também a turma,
como te disse, a turma era... tem um grande índice de repetência lá, então
meninos... O meu problema é minha defasagem: idade, série e aprendizagem. As
três defasagens, então é só. Ao contrário de outra que diz que o problema ta na
defasagem de aprendizagem, então ela vai reter bastante, mas eles não têm a
defasagem de idade.
Q76
Me fala um pouco sobre o papel da equipe psicopedagógica no seu trabalho.
R76
Ah, aí eu não sei de nada.
Q77
Não teve?
R77
Não teve.
Q78
E você acha que deveria ter tido?
63
R78
No início, quando L. estava, eu comecei a ir atrás, elas vieram, fizeram uma
reunião com a mãe dele e também marcaram presença, inclusive a orientadora
geral, ela veio aqui outro dia e falou P1, e o L.?”, ai eu falei “Olha, o L., o rapaz
que trazia ele, a mãe que alega isso, que o rapaz que trazia ele não ia trazer mais, e
não tinha como ela trazer ele a pé, e então ela queria uma escola mais perto”. Essa
mulher foi lá, a coordenadora da equipe pedagógica, conseguiu uma escola
mais perto, conseguiu que ele fosse atendido em outra escola de alfabetização,
para atendimento individualizado pra ele, mas ela perdeu o contato, ligava e a mãe
não atendia. Não, nesse sentido sim, no início teve sim. Desconsidera a outra
parte.
Q79
Me diz quais foram os avanços que você notou durante o período que você teve
junto com eles? Os avanços do aluno.
R79
Acho que a socialização dele com os alunos... é uma coisa até meio difícil. Ele
percebia que quando eu tava ao lado dele naquele atendimento individualizado,
ele sabia que era atenção exclusiva pra ele, então percebi que ele mostrava mais
interesse, quando era uma coisa mais geral, que ele ficava mais alheio, que não
ficava tão perto, ele não fazia, né. Ele queria que eu tivesse mais próximo,
aquela dependência mais ali. Mas em algumas atividades ele já tinha alguma
autonomia sim, a interação com os alunos foi boa. Mas ele percebia que quando
eu fazia um trabalho geral voltado pra turma, ele se sentia um pouquinho
excluído, aí começava, né, a falar alto ou fazer alguma coisa pra chamar a
atenção.
Q80
E o quê que você achou que foi mais significante durante o período?
R80
Dele?
Q81
É.
R81
Acho que é a preocupação e, ter um aluno, né, que precisava de uma ajuda
especial, mais específico. Ele fica meio que inquieto, o que fazer, né, pra atender
de forma satisfatória?
Q82
E me diz uma coisa, você pensou enquanto você tava... o L. tinha uma idade
maior do que os demais alunos da turma, né? Você chegou a pensar sobre essa
questão da idade cronológica e a idade mental?
64
R82
Uhum, porque até a mãe dele falou que a idade mental dele não correspondia a
idade cronológica.
Q83
Você acha que isso influencia no processo de aprendizagem e socialização?
Escolarização
R83
Acho que a socialização não. Peraí vamos ver. Deixa eu ver, eu acho que a
sociali... não sei, porque nas salas de aula quando, acho assim, o ambiente era
menor ele se socializava com os demais, quando se passava pra um ambiente
maior, tipo o pátio da escola, ele se isolava. Eu não sei, por ele ter esse problema
que ele tinha, de locomoção, de coordenação motora, então ele ficava no cantinho,
quietinho. E aprendizagem acho que tinha que procurar uma linguagem mais
adequada pra ele. Ele tava acompanhando, ele tava começando a acompanhar.
Ser ajudado
Q84
Acompanhar uma turma com a idade bem menor do que a dele?
R84
Bem menor do que a dele. Acho que ele ficou à vontade, ele se sentiu à vontade,
porque até mesmo tinha um, tem um de 15 anos, e eles moravam próximos, e
quando ele, o A . fica enchendo a paciência do outro, mas havia uma
socialização boa entre eles. Ele não se sentiu menos por ter a idade que ele tinha
lá na Paula, não, nem o A., que a gente pensava que ele ia ter.
Q85
Então essa questão da idade cronológica e mental, você acha que pode modificar
com a escolarização, chegar a ter uma equiparação com a escolarização?
R85
Eu acho que depende do grau, né. Eu não tenho essa informação pra te dizer. Eu
não sei se existem casos específicos da idade mental de repente não pra fazer
um trabalho que acompanhe, que seja integrado naquela sala.
Q86
No caso do L. você acha que seria totalmente possível?
R86
Eu acho que... poderia não sair com todas as habilidades necessárias para a série
seguinte, mas, tipo, uma base ele ia ter. já tava respondendo bem, né. Não era uma
criança que você ensinava hoje e amanhã ele esquecia. Ele sabia
Q87
Aí entra novamente a questão da deficiência (...), né?
R87
Que é o que?
Q88
Que acaba que a gente produz a deficiência, né. A deficiência produzida. Não é só
uma questão biológica. Social também?
R88
Também, uma pessoa muito social.
Q89
De falta de escolarização também?
65
R89
É, porque pelo o que eu vi na ficha dele, ele ficou 2 anos, né. O que seria do
nascimento até os 10, 12 anos. Não sei o que foi deito dessa criança. Inclusive eu
até queria se aproximar se a mãe não fosse (...) pra saber. Por que depois ele fez a
primeira e devia ter o que, uns 14 ou 15? veio pra com 16. O que que
houve durante esse tempo todo? Tem poucos anos de escolarização, né.
Q90
Pode influir também na questão da dificuldade?
R90
É. Se for desde pequeno incentivado, a dificuldade motora dele não ia influenciar
no cognitivo dele de jeito nenhum.
66
4.1 Significados professora P1
Durante a construção dos dados que aqui analisamos, constatamos que a professora
P1 encontrava-se num momento de mudanças provocadas pelas propostas das legislações
vigentes sobre a inclusão escolar de alunos com deficiências na perspectiva da Educação
Inclusiva e as formas de efetivação deste processo dentro da Secretaria de Educação do
DF. As suas falas o carregadas de muitas dúvidas, muitos momentos de crise e conflito
entre o que era uma prática em relação ao trabalho pedagógico que se desenvolvia com
os alunos com deficiência nos espaços chamados classes especiais e a necessidade de
novas condutas frente uma situação relativamente nova, que a professora estava pela
primeira vez assumindo uma classe comum
2
com alunos incluídos.
Formação Profissional
Os significados que estavam regulando suas narrativas sobre a formação profissional
relacionavam-se à validade do curso de formação em nível médio ter oferecido poucas
oportunidades de aprendizado na prática, enquanto que, na formação continuada, houve
um empenho em estabelecer a relação entre teoria e prática para continuar se
profissionalizando a fim de poder atuar melhor em novas situações geradas em sala de
aula inclusiva, pois ela tem de “se virar”, “correr atrás para aprender e se atualizar.
Observamos que a professora estabelece, em diferentes momentos, relações entre suas
formações anteriores e a sua prática atual em sala: a partir do que ela conhece e
apreendeu na sua formação inicial, busca novos conhecimentos para poder atender à nova
demanda.
A Professora P1 rememora seu processo de formação partindo do magistério como
início do processo de qualificação profissional chegando aos cursos de extensão como a
complementação necessária para a sua atuação profissionalizada em sala de aula. Para a
professora um marco temporal separando sua formação inicial e a continuada. Ela
relaciona a formação inicial ao magistério( formação em nível de ensino médio, que a
antes da promulgação da LDB em 1996 era requisito necessário para o magistério nas
séries iniciais do ensino fundamental e exigência mínima para o concurso de professor
deste nível de ensino pela Secretária de Educação do DF) e a formação continuada como
sendo “hoje” a busca por cursos de extensão que, na sua concepção, agregam teoria à sua
2
Para a Secretaria de Educação do Distrito Federal, as classes comuns são aquelas constituídas por
estudantes com ou sem deficiência, transtorno global do desenvolvimento e altas habilidade/superdotação,
conforme a modulação para o quantitativo de alunos para cada etapa de ensino.
67
prática pedagógica. Para P1, o magistério pouco foi capaz de qualifica-la para o trabalho
em sala de aula com alunos com deficiência, ficando a cargo da sua “força de vontade”
buscar maior formação, conforme vimos no turno R3.
Ela refere-se a formação inicial, repetidamente, como sendo inadequada para
subsidiar o trabalho pedagógico com seu aluno incluído, vendo-se em diferentes
momentos como “não preparada”. A sua formação inicial não lhe proporcionou os
conhecimentos necessários para a prática em sala de aula com alunos com qualquer tipo de
dificuldades ou deficiência, o que a deixa numa posição fragilizada e ao mesmo tempo
motivada para pedir ajuda de outros profissionais que ela qualifica como sendo mais
capacitados para poder realizar o trabalho pedagógico com os alunos em questão.
Compreendemos, que a busca dos professores pela formação continuada é a
necessidade de adquirir habilidades para conduzir melhor o trabalho pedagógico que
envolve mudanças de atitudes das que estão enraizadas nas formas habituais de intervir no
processo pedagógico da aprendizagem (Allejo, 2005). A professora compreende a
necessidade dessas mudanças, daí a busca pela melhoria da qualidade do trabalho, uma
vez que ao refletir sobre o trabalho realizado entende que é necessário um aprimoramento
de suas atuações para a melhoria das intervenções junto ao aluno incluído.
Assim, a formação inicial é colocada por P1 como algo que marca o início da sua
carreira de magistério, com pouca formação teórica para saber com as dificuldades
encontradas no cotidiano escolar. O estudo teórico pouco aprofundado leva a um
desconhecimento do processo de ensino-aprendizado do aluno com deficiência intelectual,
gerando sentimentos de angustia e medo, conforme sua fala em R2.
Essa não complementaridade entre a formação inicial, como algo que não promove
meios para a atuação da professora e o trabalho pedagógico em sala de aula gera a
necessidade pela busca por formação continuada. A atuação como professora,
especificamente em uma sala inclusiva, proporciona à professora um momento de reflexão
sobre suas práticas, abrindo novas zonas de desenvolvimento proximal, uma vez que ela
sente a necessidade de buscar novas formas e novos conhecimentos para atender aos seus
alunos. Essa possibilidade de construção de um novo conhecimento, é ,aqui, identificada
quando a presença do Outro em cooperação possibilita o desenvolvimento de processos
cognitivos da professora. A formação em serviço relaciona-se às trocas de como fazer o
trabalho pedagógico dentro do processo educacional subsidiados pelo aprofundamento
teórico.
68
Essa troca é entendida pela professora no turno R9, como uma relação com outros
profissionais da rede de apoio educacional ao aluno incluído. A necessidade da informação
sobre como conduzir o trabalho e as intervenções necessárias em sala de aula precisa fazer
parte de um diálogo que deve ser construído, mas que no momento da pesquisa encontrava
entraves para essas trocas. No tema a seguir, trataremos da relação entre a formação e os
significados construídos sobre a deficiência.
Deficiência
A construção da compreensão de P1 sobre o que significa a deficiência é baseada
nos conceitos aprendidos nos seus processos de formação. Como vimos no turno R12, a
partir da busca por novos conhecimentos, ela constrói novos conceitos sobre a deficiência.
Ela, inicialmente, traz um conceito da medicina, apresentado no seu curso de formação,
que define a deficiência como uma lesão e parte para a uma reflexão, que ela define como
voltado para a questão social e antropológico, na qual a deficiência passa a se constituir
como uma um construto social, conforme turno R13. A partir das discussões feitas no
curso de formação continuada, ela percebe que existem outros fatores que contribuem para
a construção da deficiência. Fica claro que ela está passando por um processo de
ressignificações sobre as concepções de deficiências e sobre seu funcionamento em
relação ao processo de educabilidade. É possível percebermos que esses significados
sofrem modificações ao longo da história e se atualizam entrando em conflito com crenças
e valores concretizados no fazer do professor. A possibilidade de escolarização da
população com deficiência intelectual, que antes era vista como algo desnecessário,
começa a ser vista como algo a ser efetivado. Muda-se a perspectiva que ora era centrado
na deficiência e suas limitações para centrar-se nas possibilidades, o que P1 definiu como
capacidades cognitivas de socialização. Essa nova perspectiva está posta do turno R12, no
qual ela coloca o pensamento sobre a responsabilidade da escola na construção do
conceito de deficiência. Esse processo de internalização de novas formas de pensar se
caracteriza por um momento de embate do novo com o velho e a construção de um outro
significado, que se concretiza nas mudanças observáveis do discurso e nas práticas
pedagógicas em sala de aula.
É importante frisar que esse outro significado é construído a partir de discussões
geradas pelo conhecimento teórico trazido pelos curso de formação continuada. E a
procura por esses novos conhecimentos se por P1, conforme turno R3 e R10, quando
ela se depara com um aluno, com determinadas características, que ela não se encontrava
69
preparada para trabalha. Veremos no tópico seguinte como ela concebe a inclusão
enquanto políticas públicas que devem ser efetivadas na escola.
Inclusão/políticas públicas
A inclusão é um processo que ainda está sendo efetivado, de forma lenta e
progressiva. As políticas públicas que versam sobre a implementação de uma educação
inclusiva que tiveram início com a Declaração de Salamanca (ONU,1994) estão
constantemente, sendo discutidas e novos documentos nacionais e internacionais sendo
produzidos para que possamos concretizar o projeto de uma sociedade inclusiva. Todas as
políticas públicas voltadas para essa perspectiva têm como centro a educação escolar. A
escola é a instituição que proporciona a interação entre os pares, possibilitando a
construção de práticas que podem ser tanto exclusivas ou inclusivas.
Nesta perspectiva, P1 compreende que o processo de inclusão inicia-se na escola,
conforme dito no turno R46, enquanto um espaço de interação (R51), e que gera reflexos
na sociedade. Ela constrói seus significados partindo da idéia que a inclusão se pela
entrada de um aluno com deficiência numa sala normal. Nos turnos R25, R26 e R27 ela se
confronta com a idéia de que a inclusão estaria relacionada a entrada de uma aluno em
uma sala com um número menor de alunos, e conclui seu pensamento em R30 afirmando
que o professor deverá estar preparado, pois poderá receber um aluno com deficiência.
Assim, o movimento de pertencimento gerado pela política de inclusão das pessoas
com deficiência à sociedade é reflexo do processo que acontece dentro da escola. Como
vimos no turno R51 e R52, o processo da saída dos alunos com deficiência das classes
especiais para as classes regulares, é significado por P1 como a possibilidade de interação
e de socialização de todos os alunos, mudando a forma como se encara a deficiência. Eles
deixam de ser uma ilha dentro da escola, para fazerem parte do processo educacional,
levando à construção de cidadania. A mudança do conceito de que os alunos não precisam
ficar isolados dentro do espaço escolar leva a mudanças nas condutas e nas práticas
escolares. Assim, inclusão é uma forma de constituir o sistema educacional de forma a
atender as diferentes necessidades especiais educacionais, favorecendo a constituição das
práticas democráticas que perpassam todos o corpo escolar (Mantoan, 2006).
Em relação ao seu papel para o processo de inclusão, P1 acredita que suas atuações
direcionam a forma como os outros alunos enxergam o aluno incluído. No turno R24
vimos a preocupação da professora em trazer atividades que não excluísse o aluno dos
demais, uma vez que ela percebe que essa ação reflete na ação dos alunos dentro da sala.
70
Veremos no tópico como o entendimento da professora sobre o processo de inclusão e
sobre o seu papel relaciona-se à escolarização do aluno incluído.
Escolarização
No século XX, Vigotski (1995) propõe uma teoria científica com base metodológica
sólida chamada defectologia contemporânea. Essa teoria se contrapunha aos métodos
psicológicos, anatômicos e fisiológicos de investigação científica que estudavam os
processos de desenvolvimento de crianças com deficiência, tendo um caráter puramente
quantitativo. A idéia trazida relacionava-se ao desenvolvimento da criança com alguma
deficiência, afirmando que não se tratava de um desenvolvimento menor em relação ao
desenvolvimento de crianças que não apresentam nenhuma deficiência, mas sim, que
um desenvolvimento peculiar ligado à forma como se trabalha com a criança.
O postulado central da teoria de Vigotski está na premissa que qualquer deficiência
origina estímulos para formação de mecanismos de compensação, tendo a deficiência um
caráter biológico e social, nas mesmas proporções. A ação da deficiência é vista como
sendo secundária e indireta, pois o que é sentido pelo sujeito não é o efeito direto da
deficiência, mas sim, as dificuldades que dela resultam. As relações sociais, a
determinação do lugar social e as funções sociais que o indivíduo desempenhará são
reorganizadas a partir da deficiência.
No turno R19, P1 explicita a sua crença nas condições de aprendizagem do seu
aluno e a sua surpresa com as respostas às atividades propostas por ela. Esse espanto com
o que o aluno é capaz de fazer a impulsiona continuar trabalhando para um maior
desenvolvimento das funções cognitivas do aluno, mesmo que em diferentes momentos P1
afirme a necessidade de um acompanhamento individualizado, que pelo quantitativo de
alunos na sua sala, se torna difícil de executar esse tipo de acompanhamento, turno R15 ,
R23 e R56, justificando, assim, as poucas conquistas que tiveram durante o período letivo
que esteve com o aluno.
P1 acredita que para o processo de escolarização do aluno é necessária a participação
da família, o que não ocorre no caso do seu aluno incluído. A Professora P1 compreende a
família num conceito de proteção e amparo, representada na figura da mãe. Para ela, a
negligência ocorrida no caso do seu aluno específico foi, na sua concepção, o fator
prejudicial para as poucas conquistas no processo de aprendizagem do aluno na escola. Ela
se coloca à frente na tomada de decisão pela busca por melhores condições de
permanência do aluno na escola, quando relata, turno RR11, R32 e R57, fala com a mãe
71
sobre a necessidade de busca pelo diagnostico (visão biológica da deficiência) para que o
aluno pudesse usufruir dos atendimentos necessários às suas necessidades educacionais
especiais(visão da educação inclusiva). Compreendemos que o fazer pedagógico do
professor deve buscar desenvolver as potencialidades do seu aluno, não fixando no que ele
não apresenta, ou seja, nas suas impossibilidades, mas focando no que é capaz de
desenvolver mesmo que necessitando da ajuda do outro. Não se pode conceber uma
prática educacional estruturada em determinações negativas, colocando-se uma barreira no
processo de aprendizagem do indivíduo, uma vez que os indivíduos com deficiência
desenvolvem mecanismos de compensação que são formações de capacidades estruturadas
a partir da deficiência, mesmo que não sejam complementações diretas para suprir a
deficiência, esses mecanismos se constituem como a possibilidade de diminuição das
dificuldades criadas pela deficiência (Vigotski, 1995).
Segundo Mendes (1995), o conceito de educabilidade como possibilidade
educacional para o desenvolvimento do indivíduo, se estende às pessoas com deficiência
após a Revolução Francesa. Essa mudança ganha força e possibilita uma modificação ao
longo dos tempos, estabelecendo um embate com os discursos segregacionistas e de não
educabilidade formal da população com deficiência, o que leva à novas formas de
significação por parte da sociedade. Assim, a teoria proposta por Vigotski possibilita a
ampliação do conceito de educabilidade formal aos indivíduos com deficiência, pois passa
a conceber que uma educação adequada com métodos e procedimentos adaptados à
deficiência permitiria a possibilidade de desenvolvimento e da escolarização de todas as
pessoas.
Podemos notar, também, que uma forte culpabilização da família pelo professor
do fracasso do processo de aprendizagem do aluno na escola, conforme turno R11. O jogo
de empurra para saber de quem é a responsabilidade da não-aprendizagem ainda recai no
papel da família e sua participação na vida escolar, o que de certa forma, retira do
professor o peso de responder pelos alunos que o atingem os resultados esperados. De
acordo com Nogueira e Nogueira (2002) o aluno é um ator social que traz uma bagagem
social e cultural para a escola e que seu desempenho ao longo da vida escolar é explicado
por sua origem social que o coloca em condições mais ou menos favorável diante do
processo de escolarização.
Assim, a fala de P1 ao colocar na família a responsabilidade pela aprendizagem dos
conteúdos escolares e justificar a não aprendizagem a partir do que não é feito pela
família, também se trata de um construto social, constituído historicamente, a partir do
72
movimento de democratização da educação que traz para dentro dos bancos escolares,
uma parcela da população dês-assistida sócio economicamente.
Assim, percebemos que P1 constrói seus significados num processo dialético
presente nos seus discursos ora segregacionistas, ora não segregacionistas. Esse embate
possibilita mudanças nas práticas sociais geradas pelas construções e reconstruções de
significado, muito necessário para o surgimento de novos paradigmas.
Fazer pedagógico
A Professora P1 constrói seus significados sobre o seu fazer pedagógico a partir da
compreensão de que o planejamento pedagógico é algo necessário e deve ser feito
diariamente atendendo as diversidades da sala de aula. Porém ao ser questionada sobre o
planejamento das atividades para o seu aluno em questão, ela coloca que é necessário um
planejamento individual com atividades diferenciadas para que possa atingir o aluno
naquilo que ele traz de bagagem. Aqui, encontramos outro momento de reflexão sobre a
prática, caracterizando um processo de formação continuada, mesmo que o seja assim
entendido pela professora. Ela afirma que nem sempre o trabalho é produtivo e gera muitas
frustrações quando não é alcançado, mas que isso leva a um recomeço, buscando analisar
as falhas para uma nova forma de fazer.
Esse processo fica claro na fala da professora quando questionada sobre as
estratégias pedagógicas usadas no seu trabalho e a relação com os seus significados sobre
inclusão: oportunizar a aprendizagem para todos, no entanto, percebe que ainda discrimina,
fazendo atividades em que separa alunos por nível de aprendizagem, como se o problema
surgisse nas atividades cotidianas de sala, apesar de saber que é discriminatório,
evidenciando o embate entre a necessidade do novo com as tentativas de utilização de
novas estratégias e o uso do conhecido; o reconhecimento do medo, da discriminação, da
possibilidade de sucesso com a utilização de novas dinâmicas.
A Professora se percebe fazendo parte de um grupo que deveria trabalhar para o
sucesso escolar do aluno incluído em sua sala, porém na sua avaliação algumas partes
desse grupo não conseguem corresponder adequadamente ao que é solicitado e esperado,
assim essa falha dificulta seu trabalho, inviabilizando-o muitas vezes. Ao falar sobre a
coordenação pedagógica e as equipes psicopedagógicas, ela pontua o papel de ajuda que
deveria ter, mas enfatiza a ausência como uma característica principal, colocando-se como
sendo o elemento que funciona no grupo, mas que é atrapalhado pelos que não trabalham
no mesmo ritmo.
73
74
Quadro 05 turnos de fala Professora P2
Turno
Transcrição P2
Eixo temático
Significado
Q1
Então, eu queria que você falasse um pouco do seu histórico de formação, quais
são os pontos positivos os pontos negativos, que você acha relevante dentro da
sua formação, como ela se deu, qual é a sua formação primeiro?
Formação inicial
R1
A minha formação, eu sou formada em pedagogia, né, pela unb, atualmente estou
fazendo um curso de pós graduação em psicopedagogia
Q2
Aonde?
R2
Eu to fazendo no IMPA em Taguatinga norte, comecei tem um mês e pouco e
assim acho que tem acrescentado muito, principalmente essa pós que eu to
fazendo agora, porque muitas duvidas que a gente tem em sala de aula, muitas
vezes a gente não sabe lidar com a criança e eu to vendo muita saída, nossa
acho que está me acrescentando demais assim em sala de aula esse curso
Formação continuada
Acréscimo
Q3
Dentro desse seu curso como o de pedagogia, vocÊ se formou em pedagogia
quando?
R3
Fazem 4 anos, 2004
Q4
Foi o PIE?
R4
Foi o PIE
Q5
Dentro desses cursos, tem algum enfoque na educação especial?
R5
Tem, nesse curso a gente duas matérias de ensino especial. eles falam
como o aluno se porta em sala de aula, como a gente deve fazer, apesar deles
terem destacados aqueles alunos dmur, mas tem ajudado bastante, eu até em
questão de aluno especial eu não tenho muita prática em trabalhar assim não, e
eu to vendo que ta ajudando bastante minha prática, porque muita coisa a gente
fica sem saber né, como trabalhar, como lidar ate onde a criança vai, e eles
estão colocando esses pontos pra gente, a idade mental, eu acho interessante, até
que idade a criança chega, pra saber o limite do conhecimento, tem criança que
chega um determinado tempo ai para, e a gente quer tirar coisa além do ela pode
oferecer, né. Ta sendo muito valido mesmo o curso, assim na área de educação
especial
Fazer pedagógico
Deficiência
Despreparo
Limite
Dificuldade
75
.Q6
Quais as características de deficiência que você viu durante essa formação. Você
esta estudando as características de deficiência mental ou só de dmu?
R6
Não, as características mesmo, mas, eles estão enfocando mais aqueles casos
graves, mas fala muito pouco, as características de todos eles?
Q7
Não, é você estuda as características, como ela aprende, como ela se desenvolve?
Isso tudo ta sendo estudado?
R7
Ta, to vendo.
Q8
E no curso do PIE?
R8
No pie não, já quase no fim no vi não, só agora, eu to vendo mais agora
Q9
Você entrou na fundação quando?
R9
Em 97
Q10
E aqui na escola?
R10
Também
Q11
Quais são os seus conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança com
deficiência e sem deficiência, como você esse desenvolvimento? Primeiro
como está sendo feito isso dentro do curso de psicopedagogia que é o que você
está achando que deu maior enfoque?
R11
Na questão do desenvolvimento o que eu achei interessante é essa questão da
idade, da idade mental, uma criança dml, as vezes idade metal vai até nove anos,
assim, vai chegar num tempo em que ela vai parar na questão de aprendizagem,
então o que percebo assim em sala é que ela não acompanha assim a turma
regular, os alunos que são regulares, na questão da minha aluna dm, ela ta lendo,
ela as vezes ate interpreta, ta lendo até bem, mas quando chega na questão de
raciocínio matemático ela tem muita dificuldade, em coisa simples ela tem muita
dificuldade mesmo, a gente trabalha com material concreto ela até consegue, mas
se você tira o material concreto dela ela fica insegura, então a gente percebe
assim uma certa dificuldade mesmo, enquanto outras crianças não tem ,
trabalha com material concreto mas consegue se desprender dele e ela não
consegue
Q12
Ela tem uma diferença muito grande de idade do restante da turma?
Escolarização
Deficiência
Dificuldade
Problema
R12
Tem, ela, os alunos tem uma faixa etária de 8 a 9 anos e ela tem 11 anos.
76
Q13
Você acha que uma idade um pouco maior, vê acha que isso ajudo ou a prejudica
a acompanhar a turma, já que eles tem de oito a nove e ela tem onze?:
R13
No caso dela ajuda, por que eu conhecia a aluna antes e hoje eu vejo que ela tem
mais maturidade, ela teve muito problema aqui na escola na questão de passar
três anos na primeira série não aprendia a ler não se desenvolvia, então hoje a
Ang indo bem a gente fica contente, ela ta com a gente desde do prezinho, então
pra mim assim ajuda, e não tem problema com a turma em relação a idade dela
não, inclusive eles até acham que ela tem nove anos, a idade que eles tem
Q14
Você se sente capacitada para estar trabalhando com, um aluno dm? Em termos
de formação?
Formação
Fazer pedagógico
Ajuda
Dúvida
Solidão
Necessidade de apoio
R14
Olha, não. Assim agora que a gente ta vendo algumas partes lá no curso, eu vejo
que não to preparada, é muito difícil mesmo na pratica, muito difícil , a gente tem
muitas duvidas mesmo e assim a gente não tem com quem conversar e tirar essas
duvidas, a gente discuti entre as colegas, mas... ninguém sabe uma solução,
assim ajudar, então assim, o nosso trabalho é muito difícil por que ninguém tem
nenhum curso na área mesmo especifica a gente não tem
Q15
A equipe psicopedagogica atua com a A.?
R15
Atua, mas assim, muito distante, inclusive a ultima vez que ela veio conversar
comigo foi no primeiro semestre, que mesmo assim eles não passam muita
informação pra gente, as vezes muitas duvidas que a gente tem, a gente
continua,... a gente continua com as duvidas...
Q16
Você poderia me definir um profissional capacitado para estar trabalhando com a
deficiência mental que é o caso?
R16
Aqui na escola tem, a An. Pa. que tem turma especifica, não sei se ela tem
especialização na área de ens. Especial...
Q17
Mas assim, quais as características que você acha que o profissional tem que ter?
R17
Eu acho que tem que ter amor mesmo por esses alunos e muita capacitação e
paciência entendimento mesmo para lidar... com esses alunos
Q18
como você chegou a estar numa sala reduzida esse ano, como é feito esse
processo de escolha e separação de turmas?
77
R18
A escolha de turma é feita por tempo de serviço, né e ai quando chegou a minha
vez de escolher eu sabia que a turma era reduzida e que tinha uma aluna com
essa deficiência, eu inclusive conhecia e por eu conhecê-la, eu quis pegar a
turma
Q19
Foi uma escolha?
R19
Foi uma escolha,... e assim uma aluna da nossa escola a muito tempo, a gente
conhece o caso, o caso dela não é tão assim... tão grave, então assim, foi por que
eu quis mesmo, eu conhecia a aluna e eu quis trabalhar... mas se fosse um caso
assim bem mais grave, talvez eu não tivesse coragem de trabalhar, por ser mais
leve eu enfrentei.Fim bloco 1
Q20
Como você e entende a questão da deficiência na sua aluna, como você o
processo de desenvolvimento dela?
Deficiência
Escolarização
Limite
Falta de estimulo
familiar
Inibição
R20
Eu... na questão de desenvolvimento, ele existe mais assim, mas assim lento,
comparado aos outros alunos e a questão da minha aluna, mais assim que a
deficiência, ela não tem estimulo assim familiar, o problema vem muito da
família, o pai quando vem a reunião não sabe assim assinar o nome, ela mora
aqui né, ela não sai daqui pra nada, nos tentamos leva-la para passeio mas a
mãe não deixa, então o mundo dela é pequeno, o conhecimento que ela tem de
tudo é muito pouco, no inicio eu ate cheguei a pensar que ela não fosse dm,
cheguei a pensar, pensei que fosse mais questão assim familiar, mesmo, mas eu
não sei diagnosticar direito, mas assim eu não sei, mas acho que é o que atrapalha
muito a ela, a pessoa muito inibida assim, muito pra dentro e ela ... isso atrapalha
demais o desenvolvimento dela, é tanto que ela, assim, que tem muita gente que
nem acreditava que a A. ia chegar onde ela chegou hoje
Q21
Você acredita que ela pode avançar mais?
R21
Acredito que pode, mesmo com muita dificuldade, pode sim, avançar
Q22
Em relação a presença dos pais, a presença deles na escola á forte?
78
R22
A do pai, a da mãe não, ela não vem a escola, ela não vem conversar com a
gente, as vezes ela manda um recado, ela não gosta de ficar aqui mesmo não, ela
falou, mas o pai ta sempre presente, mas o pai tem dificuldade ate mesmo de
entender o que a gente fala se a gente marca um horário no reforço, ele não
entende e manda em outro, se a gente manda um bilhete, ele também não sabe
ler, traz no horário errado, e assim, mesmo que a gente fale de um
acompanhamento familiar, eles não tem condição de estar acompanhando
mesmo, assim fica muito difícil mesmo, pra gente e pra ela, questão da família
Q23
Você considera importante e ajudo no desenvolvimento da família a presença da
família na escola?
R23
Sim, acho importantíssimo mesmo, ajuda bastante, a família é o ponto principal,
mesmo que tenha criança que venha sem saber ler e escrever ele traz tanto
conhecimento quando é uma família assim presente,assim, mais desenvolvida
mesmo, mas quando não é, pelo contrario, ela chega assim muito vazia mesmo,
achando que é só o ler e escrever, achando que isso é tudo e não é.
Q24
Você notou um desenvolvimento dela do começo do ano para agora?
Escolarização
Importância da família
Dificuldade
R24
Notei, eu notei, inclusive nas questões de matemáticas, foi pouco, a gente que
ta devagar mas tem desenvolvimento sim, na leitura na escrita, ela melhorou...
Q25
Tem uma diferença muito grande entre ela e as demais crianças da sala?
R25
Não, que tem, tem, mas não chega a se tão grande
Q26
Em que termos?
R26
Termos de leitura e interpretação, inclusive comparando com algumas outras
crianças, ate a questão matemática não fica tão distante, das outras crianças ditas,
né normais
Q27
A que você atribui?
R27
Eu atribuo a família que eu percebo e segundo que eu acredito que cada um tem
o seu ritmo também, tem seu tempo, seu ritmo, umas tem mais facilidade se
desenvolve mais rápido, outras tem mais dificuldade de entender aquele método
que a gente ta passando, então eu acho que é o ritmo mesmo da criança...
Q28
Quais são as maiores dificuldades dela e as maiores capacidades?
R28
As maiores dificuldades são em raciocínio lógico mesmo, e o que ela tem muita
facilidade e ela gosta muito de fazer é ler, leitura, ler livros...
79
Q29
Ela lê muito?
R29
muito e até bem, eu acho muito legal quando eu vejo ela lendo, lendo
corretamente, vejo que aquilo a empolga sabe, por ela ter passado muito tempo
sem ler nada.
Q30
Tem quanto tempo que ela começou a ler?
R30
Foi no ano passado. Passado ou retrasado, ela começou a ler e hoje ela ta lendo
muito bem...
Q31
Em termos de socialização, ela é uma criança bem socializada?
R31
Não, ela é de ficar mais no cantinho dela de ficar mais sozinha, esse ano ela
conseguiu assim uma pessoa, uma amiga que ela conversa, e as duas se dão bem,
mas também são as duas, ela não senta com outra pessoa, assim ela não tem
socialização com outra criança, é só com essa e quando antes dela ter mais
amizade com essa coleguinha dela, ela ficava mais sozinha mesmo, caladinha no
canto dela, então ela não se socializa bem não, com a turma não.
Q32
Você acha que você como professora tem um papel nesse processo de
socialização?
R32
Acredito que sim. Assim eu to te falando de hoje, por que pelo que a gente
conhece dela o desenvolvimento dela foi grande ate em termos de socialização,
antes ela tava..., assim no horário de intervalo, ela sentava, não participava de
brincadeira ela ficava sozinha e hoje não, ela brinca, corre, então assim ela ta
bem mais solta, e assim o papel da gente é ta formando grupo, eu faço às vezes,
coloque eles em grupo, apesar dela continuar sempre mais apegada a essa
coleguinha dela, mas eu acho assim que ela melhorou bastante, é que ela tem
dificuldade mesmo de conviver em grupo, eu percebo, apesar de ter tido um
avanço.
Q33
O que você considera, acha e pensa o que é inclusão
Inclusão
Forma de aceitação
Dificuldade para o
professor
Despreparo
R33
A inclusão eu acho que é uma forma de tentar, de aceitação, de tentar colocar a
criança junto das outras para ela se sentir como as outras mesmo e tentar ser
aceita pelos colegas e pelo professor, eu penso mais por esse lado.
Q34
E pro professor, o que é a inclusão?
80
R34
Pro professor, pra gente já é uma dificuldade assim por que muitas vezes nos não
estamos preparados pra lidar com esse tipo de inclusão, não sabemos como
trabalhar, como lidar, como as vezes de até ta incluindo mesmo, de fazer com
que essa criança de socialize, que todos aceitam, então pra gente eu vejo mais
como uma dificuldade mesmo, talvez pelo nosso preparo, de ser assim tão
pequeno.Fim bloco 2
Q35
Agora queria saber um pouco como você trabalha, como você elabora suas
atividades, você planeja suas atividades? Elas são elaboradas para a turma como
um todo ou especificamente para a aluna incluída? Você planeja semanalmente,
diariamente, fale um pouco sobre o planejamento.
Fazer pedagógico
escolarização
Ajuda ao aluno
Planejamento
Insegurança
R35
O planejamento a gente faz mais semanalmente, e a gente faz mais no geral
aquilo que a gente que pra incluir a aluna, a gente faz pra turma toda, e
aquelas atividades que a gente que ta assim muito puxada, ai a gente tenta
retroceder a dela um pouco no caso, ou as vezes eu uso material concreto, mais
separadamente com ela. Às vezes ela resolve a mesma questão matemática que a
turma, quer as vezes eu uso material dourado, uso material concreto, mas a
maioria das atividades são as mesmas, no reforço que a gente diferencia um
pouquinho, eu uso muito assim atividades iguais, por ela não ta assim também
tão aquém da turma.
Q36
O que você acha que mais certo nas atividades com ela e o que não dá, o que
ela responde melhor e o que ela pouco responde?
81
R36
Oh atividades assim realizadas em grupo, em dupla, ela se importa mais e ela faz
assim com mais desenvoltura mesmo, agora se for individual se for um teste, que
a gente separa o grupo eu percebo insegurança nela, ela começa, parece que
vem um bloqueio, eu percebo, e coisa que você imagina que ela sabe, ela não
consegue colocar no papel, ela fica muito nervosa mesmo e não consegue
desenvolver, coisa até de questão de interpretação, de texto, ela fica com
dificuldade, agora ela tando com outra pessoa eu percebo assim segurança dela,
quando ela não sabe as vezes ela quer perguntar para a colega do lado ou as
vezes quer olhar, mas pra mim, mesmo professora, ela tenta mostrar que ta
pronto, como se ela soubesse, atividade pra casa também, ela não faz, vem sem
fazer, ou quando ela faz só, as vezes vem errado, não entendeu direito, então ela
faz mais atividades com ajuda mesmo, com o professor sempre auxiliando pra ela
se sentir mesmo segura, o que eu mais percebo nela é insegurança.
Q37
O que é esperado dela, que ela responda ou que ela tente fazer?
R37
O que é esperado?
Q38
É o que você mais espera?
R38
A gente espera que ela consiga entender e que ela desenvolva mesmo a atividade,
a gente quer ver o desenvolvimento mesmo pequeno, a gente quer ver o
desenvolvimento mesmo, mesmo que seja um processo lento.
Q39
E quando você não consegue, que o objetivo da atividade não foi cumprido por
ela, o que você faz?
R39
Ahh eu, a gente tenta mudar ou tenta voltar um pouquinho, quando a gente
percebe que ta muito complicado pra ela, ai a gente as vezes descobre que ela
ainda não sabe determinado assunto, ai a gente volta, que assim em particular
mesmo, individual mesmo e procurando alguma atividade com material concreto
que de para ela entender de modo mais fácil.
Q40
Nestas atividades como de artes que não exigem leitura e escrita, você acha que
ela participa mais?
82
R40
Eu acho que ela participa mais, e com desenvoltura, ela gosta muito de desenhar,
a gente fez o trabalho de dobradura, ela faz e ficou bem feitinho, então assim
você vê que ela faz com capricho mesmo e ela gosta mesmo, hoje mesmo sobrou
um tempo na aula, eu cheguei lá ela tava desenhando uma boneca ai eu perguntei
você ta copiando ou ta só olhando? Não tem uma embaixo, mais eu to treinando.
Então ela gosta muito dessa parte de desenho, pintar ela pinta que... fica
excelente a pintura dela, muito caprichada mesmo, então ela gosta muito de artes,
é o tipo de trabalhinho que ela gosta muito.
Q41
Você vê intencionalidade de acerto nas atividades que ela faz? Ela procura
raciocinar em cima ou ela faz para cumprir uma tarefa que é passada pela
escola?
R41
Eu percebo que ela gosta muito de fazer atividade, se passar vinte atividades ela
faz as vinte e ainda pede pra levar atividade pra casa, mas muitas vezes eu
percebo assim que ela quer fazer pra cumprir, por que eu tenho que fazer isso
aqui tenho que fazer pra terminar e não tem muito aquela coisa de estar ali
pensando, se está certinho, se está aprendendo mesmo, esse lado eu num...
deixa a desejar.
Q42
Você acha que ela vê importância na escola?
R42
Eu acho que vê. Até a questão da leitura, depois que ela conseguiu a ler ela assim
até mais feliz, eu acho ela assim muito feliz, quando ela consegue alcançar algum
objetivo, então eu acho que é importante sim, ela não falta aula, né, e vem com
prazer, ela gosta de estar na escola de estar estudando, ela falou pra mim que
gosta muito de estudar, então assim eu achei muito bonito isso.
Q43
Você tem algo mais que queira falar?
Deficiência
Formação
Fazer pedagógico
Limite
Busca
Melhoria
R43
Eu acho assim que depois que eu comecei a trabalhar, no caso de DM, foi a A. E
foi muito bom pra mim ta conhecendo o outro lado também, ta sabendo assim os
limites, o que eu posso ta fazendo ta melhorando, a gente acaba pesquisando
descobrindo alguma coisa e a gente se sente feliz de ta contribuindo com a
pessoa que as vezes assim, ninguém acredita sabe, e quando eu vejo o
desenvolvimento dela, nossa pra mim é muito gratificante, inclusive ela vai ser
83
assim aprovada pra terceira série, ela não atingiu todos os pré requisitos na
questão de matemática, mas a gente vai fazer um relatório, tudo assim uma coisa
bem feitinha, pra ela passar né pra outra série, mas o mínimo ela tem, nos
estamos vendo tudo e ela vai ser promovida.
Q44
Então, essa é a nossa segunda entrevista e... P2 eu queria que você me falasse,
como é que você entende o processo de inclusão social na sociedade como um
todo?
Inclusão
Dificuldade para o
professor
Forma de aceitação
R44
-Eu acho assim, que num ponto assim é bom, bom pro aluno. Mas eu acho assim
que o professor deveria, deveria tá assim mais preparado, para tá recebendo esses
alunos, deveria ter um curso mesmo. Pra gente ta reformulando, mas eu acho
válido, em termos de inclusão.
Q45
Na sociedade de forma geral. Como é que você na mídia, as pessoas. Você
acha que está tendo mais aceitação?
R45
-Eu acho que ta tendo uma boa aceitação na comunidade me geral né. A mídia
com novela assim, aquilo vai criado uma aceitação na sociedade, as pessoas
olham de forma diferente do que elas viam antigamente. Ás pessoas que tinham
alguma necessidade especial era deixado de lado, as pessoas discriminavam, hoje
não. Eu acho que as pessoas tratam com respeito, tratam até bem muitas vezes,
acho que ta sendo de uma forma boa assim, na mídia, assim de uma forma legal,
pras pessoas tarem aceitando.
Q46
E na escola?
R46
-De aceitação?
Q47
É de inclusão.
R47
-A tá, na escola né? Eu acho isso válido mesmo, a inclusão. que em questão
dos professores, eu acho que nós não estamos preparados, pra receber alunos, né,
com alguma dificuldade, acho que deveria dar curso pra gente, nessa área
mesmo. Porque é aceitação dos colegas em sala de aula, isso porque eles aceitam
e os professores também... falta mesmo assim, capacitação mesmo, pra gente
ta trabalhando, de forma mais... conhecendo cada necessidade, pra ta trabalhando
meios mais eficientes.
Q48
O que você entende por cidadania? O que é ser cidadão?
84
R48
-Cidadão... É você ser livre, você pode ser livre pra pensa, pra decidir, ter seus
direitos seus deveres também, mas ter sua liberdade de decisão.
Q49
Você acha que a escola é um lugar de construção de cidadania? Construção de
um ser cidadão?
R49
-Eu... Acho que sim, a convivência que a gente tem né, a aprendizagem, tudo vai
nos tornando cidadãos.
Q50
Como você esse processo de formação, da construção de cidadania, com a
questão dos alunos incluídos?
R50
-A eu acho que nessa inclusão eles se tornam bem mais, hum...aceitos né, ali eles
se sintam, assim mais cidadãos, sempre como os outros meninos né, capazes de
estarem numa sala, numa escola, assim com outras pessoas né, ditas normais.
Acho que ele ali, tá tá assim, ta vendo o que é cidadania, ta desenvolvendo né?
Q51
O que você entende por uma sala de alta inclusão?
R51
-Uma sala de aula que ta aberta pra receber alunos é... Com algum tipo de
necessidade e tentar né, sanar, ajudar no caso essa criança, essa pessoa né.
Q52
Você acha que a sua sala de aula é inclusiva?
R52
-Inclusiva assim, na prática?
Q53
É na concepção que você tem de sala inclusiva.
R53
Assim, em partes si, em questão de aceitação né... Mas na questão de
desenvolvimento acho que poderia ser melhor assim.
Q54
No que por exemplo?
Formação
Busca
R54
-Assim, em questão de você ta conhecendo mais né, é... O problema da criança,
pra você ta sabendo trabalhar nisso, saber incluir melhor essa criança...
Q55
Como é que você hoje depois do ano letivo de trabalho com uma criança
incluída. Como é que você se profissionalmente e pessoalmente como ser
humano?
R55
-Profissionalmente? Eu vejo assim, que eu ainda não to assim, prepara da pra
lidar com o problema, a gente tem muita dúvida, de como trabalhar, determinado
conteúdo com aquela criança... Como assim no final a gente que poderia ter
feito melhor...e... impressão pessoal, eu acho assim que a gente, passa a ver de
outra forma assim, quando a gente ouve falar é outra coisa, e quando a gente
convive a gente aceita melhor, a gente que não tem tanto essa distancia, não
85
tem essa distancia que a gente as vezes... essa barreira que a gente quer colocar,
entre os alunos normais e aqueles que não né, alguma necessidade, então a gente
vê aproximação né, deles com a gente, com os próprios colegas.
Q56
Como é que você durante o período letivo fez seu planejamento pedagógico pra
turma, de uma maneira geral? Como é que você fazia esse planejamento?
Fazer pedagógico
Escolarização
Planejamento
Ajuda ao aluno
Solidão
Insegurança
R56
-Como assim? Que conteúdo.
Q57
É...que conteúdo, como você planejava, se era semanal, mensal...Como que você
pensava esse planejamento?
R57
-Semanalmente, a gente fazia esse planejamento, fazia o plano... Um
planejamento mensal e ali ia tirando as atividades semanalmente, fazendo,
mudando ali alguma coisa que não tava dando certo, em sala “mermo”, mudando
uma coisinha ou outra, que não ta dando certo, acrescentando outras.
Q58
Existia alguma diferença nesse planejamento, par sua aluna, no caso a A.?
R58
-Algumas atividades sim, mas na maioria não. A maioria das atividades ela
desenvolvia juntamente coma turma, o que tinha, era um acompanhamento mais
individualizado, sempre eu ia na mesa onde ela estava, vendo qual era a
dificuldade dela, mais a maior parte das atividades eu não ajudo, aquelas que
eu via que ela realmente tinha dificuldade. Aí ela participava do reforço né
escolar também, pra eu saber qual é a dificuldade.
Q59
Como que você avalia o desempenho da sua turma no geral?
R59
-O desempenho...Bom, eles são participativos, eles gostam de realizar as
atividades, eles tão abertos pra aprendizagem mesmo, tira um ou outro ali que...
não ta muito ligado, mas a maioria, a gente que eles estão abertos pra
aprendizagem. Alguns, vem com uma bagagem muito boa né, de
conhecimento e a gente vê eles tão interessados mesmo a participar.
Q60
E a A.?
Fazer pedagógico
Escolarização
Planejamento
Ajuda ao aluno
Solidão
Insegurança
R60
-A. também, muito esforçada, muito assim, participativa. Ela tem muita vontade
assim de aprender, eu vejo assim, o desenvolvimento dela, vejo que ela faz assim
com amor mesmo, o que ela faz, não faz por obrigação não... e ela mesmo
disse que gosta muito de estudar...
Q61
E como é o trabalho da orientação pedagógica no seu planejamento?
R61
-Cê fala da coordenação assim... do coordenador, na prática?
86
Q62
Primeiramente o que deveria ser?
R62
-Eu acho, eu vejo assim, é... o papel assim da coordenação de ta ajudando,
ajudando ali nas dificuldades que a gente tem , é... dando sugestões também...
Q63
Durante o período letivo, ouve esse trabalho, juntamente com a coordenação?
R63
-Não...não houve. Foi bem individualizado mesmo, cada professor com sua
turma, o que a gente fazia, era procurar um outro professor, é... a gente
trabalhava na mesma etapa e tava sempre um procurando o outro, pedindo
opinião, correndo atrás mesmo, não foi fácil não...
Q64
E o trabalho da orientação pedagógica?
R64
-A eu sei que foi bem assim. Ficou bem assim, porque eles quase que não vieram
aqui na escola, durante o ano todo, e muitas e muitas dúvidas que a gente tem e
que a gente passa, eles não tem assim, um ponto de vista, não se preocupavam
muito também. Acaba que eles tem a mesma dúvida da gente, ou tem coisas que
as vezes eles perguntam pra mim e a gente fica sem saber o que fazer, a gente
não teve muito apoio não.
Q65
Relata um pouquinho com alguns exemplos, como foi o avanço da A..
R65
-A A., ela se desenvolveu bem na leitura, que eu acho que foi o que ela mais
desenvolveu né, que ela teve participação na leitura, desenvolveu também na
interpretação de texto, ela produz pequenos textos, e assim...a maior dificuldade
dela é em matemática, raciocínio lógico, então assim, ela sai melhor com
material concreto, porque nós damos fichinhas e material concreto durante todo o
ano e se tiver alguém assim do lado pra ela se apoiar. No caso, ela tem uma
amiga, ela estudou com ela o ano todo e se tirar a amiga de perto dela, eu
percebo essa insegurança. Mas tem muito o que melhorar ainda e eu acho que
isso e eu acho que isso atrapalha um pouco a aprendizagem dela. O que eu fui
falar pra ela, é que ela é capaz e ela não precisa dessa colega do lado, porque ela
podia fazer também, ela até se sentiu mais estimulada na questão assim, de
pensar, de dobradura, confeccionar algum trabalho, ela faz também, ela gosta de
fazer e faz bem feito.
Q66
Você faz algum paralelo entre o desenvolvimento da turma em geral e o dela?
87
R66
-Bom, o que eu percebo é que não um distanciamento sabe, da turma em
geral, com relação a ela não, que acabou no final assim, todo mundo quase no
mesmo vel, a única causa que ela ficou um pouco pra trás foi na questão de
raciocínio lógico mesmo. Que ela precisa mas ainda daquele material concreto
ainda, ela ainda não saiu (M. se distrai com uma amiga que chega ao local, mas
logo retoma o assunto) Pois é, com relação a alguns alunos que ficou um pouco
mais, assim “aquém” mas não tem tanto distanciamento assim não e ela assim na
questão de matemática né, raciocínio. Se você tiver até estigando, fazendo
pergunta, ela te responde, se você deixar ela só, ela tem dificuldade, com relação
à uma conta de adição, subtração, você ali com ela fazendo, ela aprende, mas se
deixar ela só, ela já não consegue.
Fazer pedagógico
Escolarização
Planejamento
Ajuda ao aluno
Solidão
Insegurança
Q67
O que foi mais significante durante o ano pra você?
R67
-...O que eu acho assim foi o desenvolvimento da A., assim como pessoa que se
presta, uma pessoa que brinca, que... você vê assim que ela evoluiu. Já comunica
mais, se importou mais. Isso eu vejo como uma evolução, na vida dela e eu
acredito que daqui pra frente ela pode desenvolver muito mais que daqui pra
conversar, se abrir, eu acho que ela pode melhorar bastante e isso pra mim foi o
mais significativo, o desenvolvimento dela como pessoa mesmo, você que ela
se sente bem, as vezes ela fala do cabelo dela, que a mãe colocou bonito, coisas
assim que ela não tinha e se valorizando, isso daí foi o mais significativo pra
mim...
Q68
Você acha que a diferença de idade mental e cronológica tem influência na
aprendizagem e sociabilização?
R68
-Eu acho que sim, que influi um pouco né, a idade... mental da cronológica,
que a criança demora mais pra pegar coisa abstrata, as vezes demora mais um
pouco, tem mais dificuldade. Eu não sei se é porque demorou também ela
começar né, essa prática de aprendizagem, então eu não sei como vai ser o
desenvolvimento assim né, pra frente, mas eu acho que assim influi um pouco,
mas ela poderia ta melhor né, eu acho que fica mais fácil de entender com o
concreto assim...
Q69
Em termos de socialização?
R69
-Até que na socialização eu não percebi nada que atrapalhasse não assim, pra
88
mim, achei assim regular pra idade dela, depois dela ta com idade acima dos
alunos né, na sala, mas eu achei o comportamento assim adequado mesmo.
Q70
Você acha que essas dificuldades podem mudar com o processo de
escolarização?
R70
-Eu acho que favorece bastante e que ajuda no desenvolvimento dela, a gente fala
que ta fraco assim, precisa mudar essa questão do raciocínio, precisa de mudar
mas a gente o progresso sim, então eu acho que ajuda sim, muito, bastante,
conversa e convívio.
89
4.2 Significados professora P2
Formação profissional
Para a professora P2, assim como P1, os significados que regulam sua narrativa
sobre a formação profissional relacionam-se às dúvidas deixadas pela sua formação inicial
e que estão sendo acrescida de novos conhecimentos a partir da continuação dos seus
estudos. Todas as falas de P2, quando perguntada sobre o seu processo de formação, são
relacionadas ao atual curso de especialização em psicopedagogia que ela estava fazendo,
conforme turno R1 e R2. Para P2, curso está subsidiando o seu conhecimento em relação
ao desenvolvimento dos alunos com deficiência e auxiliando o seu trabalho na sua sala de
aula. Para a professora a falta de prática no trabalho com a inclusão a deixa numa posição
de não saber o que fazer, mas isso está sendo superado com a teoria que está sendo
aprendida no atual curso.
A relação teoria e prática é apresentada por P2 como a engrenagem necessária para
o melhor funcionamento da sua atuação em sala de aula, caracterizando-se como uma
saída, especialmente, na questão da compreensão das características de alunos com
deficiência. P2, sentia-se despreparada para o trabalho com sua aluna, uma vez que ela
estava atuando pela primeira vez, numa sala inclusiva.
Podemos observar que a professora coloca o curso como sendo o subsídio
necessário para o seu trabalho se posicionando como alguém que necessita da ajuda que é
oferecida por essa formação. Ela se vale das abordagens discutidas no curso, em relação
aos estágios de desenvolvimento, na perspectiva construtivista, para direcionar o seu
trabalho com a aluna.
No turno R5 percebemos ao mesmo tempo em que P2 organiza seu trabalho
pedagógico a partir dos novos conhecimentos possibilitados por essa sua formação
continuada, ela regula suas frustrações em relação às conquistas acadêmicas que a aluna
demora a demonstrar uma resposta.Veremos a seguir como P2 constrói seus significados
sobre a deficiência, regulado por sua formação continuada.
Deficiência
As narrativas de P2 sobre a deficiência são regulados por três significados: a
deficiência como um limite; a deficiência como uma dificuldade de interação entre os
pares, caracterizado por sua inibição e; a deficiência produzida a partir da situação
familiar.
90
A partir das discussões estabelecidas no seu curso de formação, P2 compreende a
deficiência como um limite imposto pelo desenvolvimento da idade mental que, no caso de
indivíduos com deficiência, chegaria até os nove anos, incapacitando o indivíduo a seguir
se desenvolvendo nas questões que envolvem raciocínio lógico matemático, conforme
vimos no turno R11, R26 e R28. Mesmo P2 narrando os avanços de sua aluna nas questões
de leitura e escrita, e amadurecimento, em relação aos anos anteriores que ela esteve com
outras professoras, e haja um desenvolvimento considerável da sua aluna nestas áreas, ela
volta a referir-se às impossibilidades impostas pela deficiência, em relação aos
conhecimentos na área da matemática, que segundo ela, exigem abstração. P2 constrói seu
significado calcado na idéia que sua aluna estaria “presa” ao estágio das operações
concretas de Piaget, não conseguindo avançar.
Porém, no turno R 20, P2 afirma que para além da deficiência existe a questão
familiar da aluna, uma vez que ela mesma chegou a duvidar do diagnóstico da aluna, em
turno R22. Filha de pai analfabeto e sua mãe não se interessando pelas questões escolares,
sua aluna não possuiria estímulo. A falta de acompanhamento pela família, até mesmo na
proibição( por questões econômicas) para que a aluna participasse das atividades extras
proporcionadas pela escola, leva á uma inibição, que para P2 prejudica o desenvolvimento
da aluna, conforme turno R22.
Essas concepções, identificadas nas falas de P2, são calcadas em uma ideologia
dominante que coloca os alunos, advindos de famílias em situações de desvantagens sócio
econômicas, numa posição de “subdotação intelectual” (Patto, 1995, p. 40). A estrutura
familiar deficiente, as relações deterioradas, o analfabetismo, a o participação da vida
escolar dos filhos são indicativos de atraso cultural que acabam por gerar crianças
desajustadas e problemáticas (Chauí, 1981). P2 deixa claro seu pensamento, quando no
turno R23 narra a importância da família e as diferenças percebidas por ela, quando trata-
se de alunos advindos de famílias com níveis de acesso cultural diferentes.
Desta forma, podemos perceber que rendição para esse pensamento segregacionista,
presente na sua construção sobre a deficiência, encontra espaço na escola como meio de
proporcionar igualdade de oportunidades que possam substituir as desigualdades advindas
de heranças familiares, no ideário de um mundo igualitário. Essa ideologia, também
trazida por uma classe dominante é uma forma de controle, pois é necessário que se
organize reformas sociais que estejam de acordo com o interesse dominante, mas que de
alguma forma, traduza as necessidades do grande contingente das classes desfavorecidas,
91
permitindo, assim, uma participação política e social, mas de forma controlada para que
não se tornem uma ameaça incontrolável.
Nesta perspectiva, identificamos nos turnos R42 e R70 a retomada, por P2, da
importância da escola para a mudança na situação da aluna.
Veremos no tópico seguinte as construções de significados sobre o processo de inclusão.
Inclusão/políticas públicas
As políticas públicas que visam garantir a efetivação do processo de inclusão no
âmbito escolar são significadas de diferentes formas pelos professores. Para P2, o processo
de inclusão é algo bom para o aluno, uma oportunidade de interagir com os demais alunos
da escola e com o professor. Ela afirma, no turno R45, que atualmente a sociedade olha de
forma diferente para aqueles que durante muito tempo, foram excluídos e segregados.
Essa fala é marcada pela percepção dos diferentes momentos históricos. O que até a
algum tempo era visto como seres sem alma, aberrações a serem exterminadas, pessoas
que deveriam ser protegidas da sociedade e por isso confinadas em asilos, manicômios ou
instituições reservadas a eles, chegam ao Século XX dotados de direitos que lhes garantem
uma participação social.
A sociedade brasileira sofreu grandes modificações relacionadas à questão dos
indivíduos com necessidades especiais: sua acessibilidade e participação na sociedade.
Esse movimento foi influenciado por discussões mundiais sobre os arcado por diferentes
políticas de acessibilidade, dentre elas, a partir da democratização da educação com a
obrigatoriedade da educação escolar para todos, o acesso igualitário à escola e a garantia
de metodologias adequadas às diferentes necessidades educacionais especiais.
Assim, percebemos que as falas de P2 partem da questão da inclusão como uma
oportunidade de aceitação e respeito para a dificuldade encontrada pelos professores
quando a entrada na escola. Não se trata somente de estarem sendo vistos de forma
diferente, é preciso que o sistema educacional se organize de forma a atender aos alunos e
é nesse ponto que a professora se diz despreparada para trabalhar, turno R44, cobrando de
forma indireta, uma política de formação continuada que possa subsidiar o seu trabalho
nessa nova conjuntura da escola, turno R 47.
Assim, identificamos que a professora percebe o olhar diferente sobre uma
população que foi tão marginalizada e segregada, um olhar mais inclusivo, compreende a
importância do seu papel nesse processo. Conforme turno R 55, P2 compreende que a
partir da interação estabelecida em sala de aula e do trabalho desenvolvido durante o ano
92
letivo, a sua concepção sobre a aluna e sobre o fazer pedagógico com alunos incluídos
muda, passando a ver que não há a dificuldade que ela imaginava que teria, mesmo
afirmando que se como que despreparada para atuar, exigindo novas políticas para a
formação de professores que possa torná-la capaz de realizar o seu trabalho em salas
inclusivas. Veremos a seguir os significados de P2 sobre a escolarização de sua aluna.
Escolarização
A escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais é a grande
dificuldade encontrada pelos professores no processo de inclusão. Uma vez que a escola
tem a função social de trabalhar com seus alunos, sistematicamente, os conhecimentos
culturais e científicos, socialmente compartilhados, cabe ao professor a mediação nesse
processo de aprendizagem.
As construções de significados sobre a aluna e suas características, estão presentes
na forma como a professora atua em sala de aula. P2 concebe as características da
deficiência, como vimos anteriormente, no turno R5, identificando os limite e dificuldades
inerentes ao processo de desenvolvimento de crianças com deficiência intelectual e
enfatiza a dificuldade de abstração, que para a professora é o maior “problema” da sua
aluna no que se refere ao processo de escolarização, turnos R11, R13 e R24. Nos turno
R20, R22 e R23, P2 regula seus significados sobre a escolarização da aluna trazendo a
questão familiar como fator que contribui para o fracasso da aluna. No turno R37, P2
percebe sua aluna como insegura na realização das atividades escolares, precisando sempre
de uma ajuda de seus pares ou mesmo da professora, demonstrando sua necessidade com
um olhar. Para Bruner(1997) o outro é visto como um andaime, um suporte que auxiliará
para que seja atingido o objetivo, Uma vez atingido, esse „suporte” pode ser retirado para
que o indivíduo prossiga no seu desenvolvimento. No turno R37 a professora coloca essa
visão, ao falar que em pares a aluna realiza melhor suas atividades. P2 retoma a fala da
importância do outro no processo de aprendizagem de sua aluna no turno R 67. Por meio
das observações realizadas na sala de P2, constatamos que ela dispõe os alunos dois a dois
e incentiva o trabalho colaborativo.
Assim P2 compreende que a aprendizagem da aluna se sempre na zona de
desenvolvimento proximal, a partir do que ela consegue fazer sozinha, avançando para
93
novas aprendizagens com o auxilio do outro. Veremos a seguir o significado dado pela
professora ao seu fazer pedagógico.
Fazer pedagógico
O fazer pedagógico em uma sala de aula inclusiva foi relacionado, constantemente,
à trajetória de formação da professora.Uma vez que seus significados eram regulados por
enunciações que expressavam o sentimento de despreparo deixado pela formação inicial
turno R2, o sentimento de solidão na realização do trabalho, uma vez que o corpo escolar(
coordenação pedagógica, orientação educacional e serviço d apoio especializado) não se
mobilizava para auxiliar nas dúvidas surgidas durante o ano letivo no turno R14 e a
tentativa de buscar novos conhecimentos para atender as necessidades de sua aluna no
turno R43. P2 nos turnos R15, R61, R62 e R63 enfatiza a necessidade do apoio por parte
dos diferentes segmentos da escola - coordenação pedagógica, orientação educacional,
outros professores - envolvidos no processo educacional da aluna. O que na prática não
acontece.
Os serviços de apoio e acompanhamento do processo de escolarização dos alunos
incluídos e suporte para o professor o de extrema importância para o sucesso de todo o
processo de aprendizagem do aluno. São previstos nos documentos que regulam a
implementação da inclusão escolar e na própria LDB/96.
Apesar de todo o sentimento de solidão, despreparo e dúvidas tem-se um marco na
fala da professora no turno R55. A partir da reflexão sobre o seu fazer pedagógico durante
o ano letivo, P2 enuncia que a sua prática em sala de aula inclusiva permite uma mudança
na crença sobre as possibilidades de escolarização do aluno com deficiência, pois passa-se
a ver que não “essa distancia que a gente as vezes...essa barreira que a gente quer
colocar entre os alunos normais e aqueles que não...” Essa fala caracteriza o que Ball
(2005) chamou de “professores em transição” (p.234), esses professores a partir da
formação continuada, que também se realiza na atuação pedagógica, adicionam novos
conhecimentos e novas práticas pedagógicas para o trabalho com a inclusão escolar,
94
apropriando-se a partir das novas experiências nesse novo contexto (Ribeiro, 2006).
95
Quadro 06 turnos de fala professora P3
Turno
Transcrição P3
Eixo temático
Significado
Q1
A primeira etapa da entrevista é sobre o histórico da sua formação, os pontos
positivos os pontos negativos que você viu dentro da sua formação. Primeiro aonde
foi sua formação
formação
Voltada para a prática
R1
Nesta parte de magistério, né
Q2
Isso
R2
Bem eu agora to com treze anos de professora, né, de magistério sendo nove na
secretaria e os outros quatros em entidades particulares, eu fiz meu magistério na
fundação Bradesco e achei que minha formação foi muito boa, eu tive ótimos
professores, assim eles procuravam colocar a gente assim bem dentro da prática,
mesmo porque desde o primeiro ano eu fiz estágio na época, fazia o estágio
no primeiro ano e assim, tinha muito apoio da escola em si para o trabalho da gente,
foi um ponto muito bom pra mim porque eu saí de lá assim bem, com a prática
assim bem a flor da pele, tanto é que no segundo ano do magistério eu estava
trabalhando, no segundo ano eu já comecei a trabalhar no Sarah, consegui um estágio
no Sarah, na escola creche do Sarah e tb me ajudou muito porque era prática
todos os dias, eu tinha que ter horário, já trabalhava mesmo...
Q3
Na escola creche do Sarah com crianças?
R3
Com crianças de seis meses até seis anos e eu passei por todas as idades, eu comecei
no berçário, fiquei no berçário, ai tinha um tempo né, ai a gente ia trocando, fazendo
essa troca, tinha outras colegas também, então a gente ia fazendo essa troca, eu
ficava no berçário ai depois eu passava para o maternal, do maternal eu passava pro
jardim, então assim eu tive aquela experiência com todas as idade, nesse tempo
que eu fiquei no hospital Sarah.
Q4
Teve experiência com crianças com deficiência?
R4
Não, no caso do Sarah, não, tinha crianças ditas normais, não tinha crianças assim
96
com problemas de saúde, assim, considerados especiais assim, não.
Porque é a creche dos funcionários, entendeu. Porque o Sarah atente pessoas
portadoras de vários tipos de deficiência, mas a creche que eu trabalhava, era a
creche que atendia os filhos dos médicos, dos enfermeiros, dos auxiliares de limpeza,
de todo mundo, então a gente não tinha.... eu tinha contato de ver, saber a história,
assim eu tive esse contato, por exemplo quando a gente fazia alguma coisa vamos
apresentar no hospital, na parte do hospital, então nós íamos com as crianças,
cantar uma musica, apresentar um teatro, até mesmo para as crianças que ficavam
internadas a muito tempo, crianças quer tavam fazendo reabilitação, de algum tipo de
anomalia, de algum tipo de problema, , e também era até valido essa parte assim,
eu não tive contato de ficar assim o dia a dia com essas crianças mas tive esse
contato, de de vez em quando ter essa participação deles né, que a gente via uma
realidade totalmente diferente era até bom pra gente fazer trabalho com as crianças
normais, ditas normais, porque tinha crianças que tavam a quase um ano né,
crianças que andaram e um dia teve um problema de um acidente, que tavam
fazendo reabilitação para andar, então assim, eles podiam estar em contato com esse
tipo de problema e para eles era valido, eu acho, eu achava muito válido
Q5
Depois do magistério você fez?
R5
Depois no terceiro ano eu também já fui trabalhar numa outra escola, no plano,
ai eu peguei a turma de alfabetização, ai... eu trabalhei com... eu era auxiliar na
turma de alfabetização, com eles tinham um método, era o método Maria Montessori,
também achei muito bom, foi uma experiência assim muito boa pra mim.eu fiquei
três anos nesta escola.
Q6
Depois do magistério, você chegou a fazer pedagogia?
R6
Fiz, fiz pedagogia, mas fiz em 2002...
Q7
Aonde?
R7
Fiz no CEUB.....
Q8
E você tem algo a falar deste curso de pedagogia?
Formação
Teoria e prática
R8
É...... achei muito bom pra mim....pra mim foi bom, pra minha prática é muita coisa
97
que eu, assim teoricamente eu não.... as vezes até fazia na prática, mas na teoria eu
não, né.. a gente não tinha assim muito essa participação de teoria dentro da sala de
aula, então foi assim uma ali...ali....alienação...uma ligação direta da teoria e da
prática....
Eu achei muito bom esse curso, eu não tenho assim coisas negativas pra falar não,
desse curso, não
Q9
Dentro desses cursos, você teve algum enfoque na educação especial?
R9
Tivemos, tivemos a parte de educação inclusiva, que foi muito bom também....
Q10
Nos dois, ou... tanto no magistério quanto no curso de pedagogia?
R10
Não, no curso do magistério, a gente não... a gente teve assim, uma fala sobre esse
assunto, mas não tinha uma matéria especifica pra tratar desse assunto, pra ajudar a
gente nesse assunto não, né.
Agora no CEUB a gente teve a matéria mesmo de educação inclusiva, foi muito boa
muito prática, assim a gente teve muita coisa assim que dava pra abrir assim, aquela
parte que a gente não tem conhecimento, até mesmo a gente teve palestra com
pessoas portadoras d tais necessidades, que conseguiam um êxito na profissão
por conta de ir atrás, de ir a busca né, de estar deficiente mas que não se deixou levar
por conta desse problema, então eu achei muito bom também, essa parte de educação
inclusiva para mim foi uma experiência muito boa...
Q11
Nessa parte da educação inclusiva eles caracterizavam o deficiente, falava sobre as
características?
Deficiência
Formação
Fazer pedagógico
Problema
Voltada para a prática
Magistério falta
preparação
Ajuda
R11
Falavam, falavam, teve aula assim explicando todos os tipos assim, quase todos, não
todos porque tem tanto tipo de deficiência hoje em dia que tem algumas que nem
ainda estão né, colocadas em livros que ainda está sendo estudada, mas assim, esses
tipos de deficiência que a gente tem mais convívio que é mais assim, da parte da
gente, que tem muito em escolas, inclusive, foi muito abordado lá, foi colocado
alguns, de como que veio, se é genético se não é, como lidar com essa pessoa, como
ajudar essa pessoa na educação, na escola, como ajudar ela ali a conviver com o meio
98
social, ela tendo o problema que ela tem. Direito a gente estudou, né.... eu achei
muito bom teve toda essa abordagem aí. Parte teórica, estudamos pessoas que
tiveram problema e conseguiram. Eu me lembro muito da Elen Kelen, porque me
marcou muito a Elen Kelen, ter conseguido tanta coisa com tanta deficiência, ela não
ter se deixado levar, então assim, a professora também era muito boa, ela buscava
sempre muita coisa pra ta dando pra gente ali, suporte pra quando deparar com esse
tipo de problema a gente ter pelo menos um pouco de embasamento. Que geralmente
aqui na secretaria, geralmente não, quem fez simplesmente o magistério, não tem
uma preparação para esse tipo, a gente praticamente é preparado para atender minino
tudo normalzinho, inclusive até minino que não tem deficiência, dificuldade
nenhuma de aprendizagem, a gente prepara material, prepara um tanto de coisa
quando ta fazendo magistério pra atender minino ditos normalíssimos que eu acho
que nem existe tanto assim né, que você pega uma turma que é muito heterogênea,
tem criança de tudo quanto é nível, criança que tem dificuldade, criança que tem
mais do que dificuldade né, e assim no magistério a gente não teve muito isso,
nesse curso ele colocou muito a par da gente assim, ta ciente que pode pegar um
autista, ta ciente que pode pegar um síndrome de down, entendeu... e como ajudar
essa criança, como trabalhar com essa criança, então assim eu aprendi muita coisa,
assim porque também tinha a teoria, então buscando ler, buscando entender um
pouco melhor, então assim deu pra eu pegar uma bagagem bem boa de conhecimento
sobre alguns tipos de problemas.
Q12
Sobre o desenvolvimento cognitivo, também foi trabalhado? Com especificamente o
deficiente mental, foi trabalhado?
Deficiência
Formação
Fazer pedagógico
Problema
Voltada para a prática
Magistério falta
preparação
Ajuda
R12
Foi, foi falado sim também...
Q13
Durante o tempo que você trabalhou com o aluno você achava que tava preparada pra
ta trabalhando com uma criança dentro de uma sala inclusiva?
99
R13
Não...assim preparada não. Assim quando eu peguei o R. eu fui assim procurar meios
de ajudar ele pra me ajudar também, porque como eu ia ficar com o R. na sala co
mais 14 crianças ditas normais que também precisavam de mim, que também
precisavam de atendimento e sem ter.. sem saber que fazer com o R., até mesmo pra
ver assim, não ,e frustrar, porque o R. não... eu já sabia que eu não ia ter um
resultado como o dos outros com ele, então, eu tinha que buscar alguma coisa que me
ajudasse a trabalhar com ele, né.. eu não tava assim preparada, eu não tava não, mas
foi bom porque eu fui buscar, eu achei bom porque eu fui buscar e teve algumas
palestras que foram nos oferecidas, pra mim e pra outras que tavam trabalhando com
essa área e que me ajudou também, me ajudou um pouco.
Q14
Você acha que existe um profissional preparado pra o atendimento em salas
inclusivas?
R14
Eu acho que tem, eu acredito que tem sim porque eu já vi pessoas e colegas também ,
que.... que preparadas depois de ter feito alguma coisa, depois de ter feito algum
curso, entendeu.. eu conheço pessoas que você pode colocar uma criança ali na turma
dela com alguma deficiência que ela vai tirar de letra, ela começa ali o negocio e vai
e de repente aquilo sai, porque a pessoa buscou algum curso, alguma especialização,
por isso que eu quando tive com o R. busquei alguma coisa, porque eu falei: alguma
coisa tem que ser feita por ele, eu é que tenho que fazer, então, arregacei a manga e
fui atrás de alguma coisa, eu não cheguei a fazer um curso, mas procurei leituras,
procurei teorias, procurei pessoas que trabalharam com crianças assim e que me
deram algumas ideais pra mim, como fazer, como agir, então me ajudou isso.
R14
Agora eu acredito sim que tem pessoa preparada, até mesmo porque, eu acredito
nisso, porque tem pessoas que tem uma afinidade de trabalhar com essas crianças, eu
tenho uma colega que ela ama trabalhar com criança que tem um tipo de deficiência,
ela fala assim “eu não agüento esses tais ditos normais” porque ela gosta de trabalhar
com essas crianças, ela gosta daquele retorno que ela tem com elas, entendeu. É mais
lento mais ela disse que é muito satisfatório, então eu acredito sim que tem outras
pessoas preparadas, mas eu também acredito que a pessoa com boa vontade ela se
prepara, até mesmo porque depois que eu fiz a primeira entrevista com você... ai eu
parei pra pensar... eu dei aula numa quarta serie, dez anos atrás, pra um minino
100
que tinha deficiência mental, depois é que eu pensei gente, eu dei aula pro RE., e o
RE. ele tinha deficiência mental, assim não era gravíssima, tanto é que ele tava numa
turma de crianças ditas normais, mas ele tinha deficiência, ele tinha dificuldade de
aprender de acompanhar a turma, e na época eu não fiz curso nenhum e consegui
ajudar o RE. o ano todo, depois eu parei pra pensar, - gente eu não sei nem como eu
fiz isso, ajudei o RE. o ano todo, ele conseguiu passar, ele não tinha a mesma...
assim.... como que falo....o mesmo resultado que os outros, entendeu. Sempre era um
pouquinho aquém, que ele era muito assim, uma força de vontade e eu ficava
assim sempre incentivando ele, levava uma coisa levava outra, ele não conseguia eu
tentava outra, e na época eu nem me dei conta que eu precisava fazer um curso, né..
eu peguei e arregacei a manga e dei conta do RE.. Depois que eu falei com você que
eu lembrei do Re., eu olhando umas fotos em casa, que eu tenho foto de toda
turma minha, de todo ano né, eu guardo, ái eu olhei pro RE., eu falei gente eu
trabalhei com o RE. que tinha deficiência mental. E tinha que ter muita paciência
com ele, com o RE., porque você tinha que explicar uma questão pra ele mil vezes se
fosse necessário, porque ele não pegava o entendimento np primeiro, na primeira
explicação, então eu tinha que sentar com ele, eu tinha que explicar eu tinha que
mostrar, eu tinha... na pratica eu lia umas três vezes. A prova, eu pegava a prova, eu
diminuía a prova pra ele, algumas questões eu perguntava, entendeu.. e eu fazia isso
assim.. parece que tava em mim, nem me dei conta que tinha que fazer um curso na
época, atendi ele, ajudei, fiz o que eu pude...
Q15
Ele tinha quantos anos na época?
Deficiência
Escolarização
Problema
Sofrimento
Dificuldade de
acompanhar
R15
Dez anos, dez anos e tava na quarta serie....
Q16
Ótimo, esse primeiro bloco a gente termina na questão da formação e agora eu queria
falar agora sobre conceitos de deficiência. Quais são os conceitos que você formulou
durante esse seu período de formação, sobre a deficiência?como é que você a
questão da deficiência mental?
R16
Olha eu não sei se eu tenho embasamento para falar assim... correta...pra mim assim
101
a deficiência mental que a gente vê e que ouve falar é que é uma pessoa que adquiriu
esse problema, ao nascer ou alguns na formação, hereditário a gente escuta falar
assim, dessas várias formas. Então é uma pessoa que vem com essa....então assim,
essa pessoa tem essa dificuldade de na estar com o pensamento totalmente igual aos
outros, de não acompanhar como os outros, mas que o deficiente também é uma
pessoa, ele tem necessidades como as outras, ele tem carência como as outras, ele
tem todas aquelas coisas que as pessoas normais tem. Vontade né, angustia,
sofrimento, , eu acompanhei muito isso cm o RE. e com o R. também né. Você
que as vezes ter que ficar quieto num consegue né, você que ali ta um sofrimento
também para ele, ele não ta conseguindo alguma coisa, né, então pra mim o
deficiente mental deve ser isso, uma pessoa que tem aquela dificuldade, né, no seu
cognitivo, de agir como agiria uma pessoa que tem um raciocínio normal, um
raciocínio né... já não tem nenhum tipo de anomalia, nenhum tipo de dificuldade...
Q17
Como você o desenvolvimento no caso do R., como foi durante o período que
você esteve com ele?
R17
Olha o desenvolvimento do R. eu acho assim que ele vai ser construído ao longo de
todo o tempo que ele tiver na escola, porque como ele tem muita dificuldade, ele
requer muito tempo pra assimilar as coisas, né, pra compreender. Então com o andar
dos tempos, dos anos, eu sei que ele vai evoluir, talvez não tanto quanto o normal,
mas que ele vai evoluir. Deu até pra perceber isso quando eu peguei o R., porque ele
havia estudado na escola no ano anterior, e ele era totalmente dependente da
professora, ele precisava de usar uma fralda, ele não sabia falar, conversar, não sabia
se relacionar, não sabia se manter sentado, e quando eu peguei o R., ele ainda
apresentava certas dificuldades dessas, mas ele tinha vencido muito disso também,
ele conseguia controlar uma ida ao banheiro, ele concentrava sentado pelo
menos alguns minutos e tudo isso foi um ganho no primeiro ano de escolaridade
dele, então eu acredito que assim o desenvolvimento dele vai evoluir de acordo com
o que ele for estudando, for tendo ajuda for tendo acompanhamento, talvez não tanto
quanto uma criança dita normal, mas que ele vai evoluir no desenvolvimento, com
certeza. Eu não sei pelo que eu conheço e tudo, se a evolução dele vai ser assim a
nível de conseguir ser uma pessoa independente, autônoma, eu não sei se ele chega a
Escolarização
Deficiência
Fazer pedagógico
Construção ao longo do
tempo
Dificuldade
Problema
ajuda
102
tanto, que teria que ter um estudo pra mim ver melhor durante os anos, mas eu
acho que ele vai conseguir sim o desenvolvimento. Ele já consegue falar frases, ele já
conversa, né. Esse ano eu me assuntei, ele veio conversar comigo, ele falou
conversando assim, né, DE BOA... e no começo ele falava uma palavra, então ele
evoluiu pra frase agora ele conversa.. então isso tudo é um desenvolvimento já,
é um ganho já.
Q18
Qual a maior diferença que você via nas crianças deficientes e as não deficientes?
Em termos de dificuldades e de capacidades?
R18
O que pra observar é assim no caso por exemplo, do R. né, as crianças que não
tinham o mesmo problema que o R., , ela consegue se desenvolver mais rápido,
assimilar mais rápido, uma participação maior, agora o R. não ele já tinha dificuldade
de estar participando, pra ta acompanhando, então isso é uma grande diferença né,
porque com ele você tinha que estar sempre buscando uma resposta com ele né, ta
sempre assim, indagando ele: - e R. e isso? E essa cor é azul, e repetindo você quer o
azul? Pegue o azul.- e uma criança que não tem o mesmo problema que ele, ali
com umas duas aulas você explicando o que é o azul, ele pega aquilo de uma
forma mais fácil, né, assimila aquilo ali numa boa , enquanto que o R. não você
tinha que ta ali ajudando, repetindo, retomando aquele assunto com ele...
Q19
Em termos de socialização? Como você viu a socialização do R.?
R19
Olha eu acho que em termos de socialização é a parte assim que mais tem ganho,
principalmente na educação inclusiva, porque assim, as crianças todas sabiam do
probleminha que o R. tinha, o problema dele. O R., ele precisa de alguém ir com ele
no banheiro pra ele não ficar a tarde toda lá, então assim a s crianças aprendem a
lidar com essa criança, aprendem a ter carinho com essa criança a ter cuidado, a
ajudar, então assim, muitas vezes eu via que uma necessidade do R., as vezes eu nem
precisava ta atendendo, o coleguinha do lado atendia numa boa, - olha R., aqui õ,
você vai pegar esse, você quer esse? É o banheiro? Você quer que vô? pegava na
mão e ia, então assim a parte que eu acho que tem mais ganho, principalmente pro
R., é essa parte da socialização, tanto é que a família dele assim, antes dele eee... o
pessoal ah ele não falava nem uma frase, agora ele conversa fala tudo - o
convívio, os colegas, todo tempo dialogando com ele, na hora do recreio, na hora do
Inclusão
Deficiência
Fazer pedagógico
Socialização
Aprender a ajudar
Problema
Intermediação
103
lanche, na hora de uma atividade, na hora de uma musiquinha, quando eu falava
vamos cantar uma musiquinha ele levanta, porque ele gosta muito de coisa que
tem que agir, que tem que levantar, né, essas coisas assim é mais atrativo pra ele, do
que uma atividade que ele tem que se concentrar, então ele ficava em pé, ai
tinha um pra dançar com ele, ele ia escolher um pra dançar com ele, sempre ele
escolhia a J. ou a C. ou a T. que era as que ele gostava mais, então assim, ele já tinha
uma identidade até com as colegas. A colega que ele mais tem afinidade, então tudo
isso foi pegando com o que, com a socialização. Eu acho que a parte que ele mais
teve ganho foi na parte da socialização.
Q20
E o papel do professor nesse processo de socialização, como é que você vê?
R20
Eu acho que é uma parte muito importante, porque a partir do momento que a criança
ta ali, e você sabe que aquela criança tem uma certa dificuldade naquela turma,
então você deve ter que ta vendo outros meios de ta intermeando essa amizade,
esse companheirismo também , pra não criar algum tipo de problema assim na turma.
Por exemplo, se o R. quiser tida hora ir no banheiro, né, não pode. Então durante esse
momento entra a intervenção do professor ô, leva ele ele vem olha R., agora
você vai esperar um pouco, daqui um pouco você vai de novo então o papel do
professor ai vem na intervenção, vem no auxilio, vem no monitoramento desse
probleminha, desse atendimento, dessa brincadeira, pra não acontecer por exemplo, o
R. teve uma semana que ele tava agitado né, então ali eu tinha que ta de olho, uma
brincadeira mal vista por ele, ele poderia agredir um colega, como aconteceu apenas
uma vez comigo, né, ele quis um tapa na coleguinha. Então alguma coisa estava
acontecendo com ele, então eu tinha que ta ali pra intermediar esse acontecimento
pra não acontecer nenhum problema com o colega, pro colega não revidar né, e pra
também não ficar uma coisa assim o R. fazer tudo que ele quer, o colega também
atender ele toda hora, então tem que ta sempre tendo essa conversa, sempre
estávamos tendo essa conversa informal, assim, de gente o R. quer, mas agora ela
não pode por exemplo uma coisa bem prática, ele não podia come salgadinho,
amarelinho de pacotinho, que todo mundo gosta de trazer, gosta de comer, ele
sempre tinha que comer coisas mais saudáveis, porque além desse problema mental,
ele tem problema de comida, de nutrição, tudo uma coisa envolvida, então assim, eu
104
falei gente, dois e fala pra ele que acabou porque se deixasse ele comia o
pacote inteiro do colega, ele na tinha noção que este pacote é do meu colega não é
meu, e ele com o tempo foi aprendendo isso, entra o papel do professor, porque o
colega fica sem graça de não pra ele, ele quer comer porque desvairadamente não
sabe que aquilo ali tem um limite, não entende que aquilo tem um limite, então
entra o papel do professor ô, vou te dar isso aqui, esse é o seu, agora vocÊ não vai
mais pegar, porque esse é do coleguinha, ele tem que comer, se não ele vai ficar com
fome então o papel do professor é todo o momento, tem que ta intervindo todo
momento, em todos os acontecimentos que tem, de um recreio ô corre com o R.
pegado na mão, devagar, pra ele não cair, que ele não pode machucar. Tudo isso
acho que o papel do professor intermédia todo o momento do aluno como no caso do
R., todo momento.
Q21
Você definiria o que é inclusão?
R21
Eu definiria como o direito de estar numa turma, numa sala, num emprego, num
lugar em qualquer momento, em qualquer situação. É...... participando com todos de
forma assim né, a acrescentar pra esse grupo, como no caso da sala de aula, né.. eu
não sei se todos porque eu não tenho esse conhecimento teórico pra ta falando isso
né, se todos ficam bem na inclusão, o que a gente escuta dize é ahh mais tem
criança que não se adequa.- então a gente escuta dizer isso, mas eu na minha prática
eu num tenho conceito pra falar disso, não tenho assim... teoria pra falar disso, nem
prática mas eu vejo a inclusão como uma coisa positiva, tendo em vista que todos
tem o direito de estar num show, de estar num ônibus, de estar numa escola, até
mesmo porque se eu for parar pra pensar, eu não tive esse direito quanto aluna de
conviver com uma coleguinha com síndrome de down, eu não tive esse direito como
coleguinha de ta com uma criança ééé.. com deficiencia mental, eu não tive direito
como coleguinha de empurrar uma cadeira de rodas de um coleguinha, quer dizer não
tive isso quando estudei né, e hoje eu vejo isso assim com crianças que eu vejo, na
prática igual que eu falei, que consegue estar nessas turmas eu vejo como um lado
positivo pra eles, eles conseguem conviver com uma criança com um probleminha,
ajudando, tendo um outro olhar, até mesmo porque existe o caso de eu ta boa e poder
se tornar uma deficiente né, necessitar de alguém me ajudar, então eu vejo assim que
Inclusão
Direito de estar
Despreparo do professor
Falta de estrutura
105
cria nas crianças um habito de ajudar, até mesmo no caso de não ser uma deficiência,
mas uma doença em casa, saber que o papai não ta conseguindo levantar porque ta
com gesso na perna, então ele pega um copo d‟água pro papai. Eu acho que em
muitos sentidos tem contribuição a inclusão, nesse sentido tem muita contribuição.
Não sei dizer, igual eu falei que tem criança que não consegue ta na inclusão igual eu
vejo colega falar, nesse ponto eu não sei dizer, mas que a inclusão trouxe ganho,
trouxe. Agora digo que as escolas não têm esse preparo profissional para atender,
físico.. é tudo assim, muito pelo amor. Você chega na escola a escola não tem uma
rampa, você chaga na escola a escola não tem um banheiro né, aqui nos temos um
menino da quarta serie que é deficiente de cadeira de roda e tem uma rampa enorme
pra ele ir pro banheiro, tem que ter uma pessoa pra empurrar pra subir esta rampa,
uma rampa de que.. de três metros de altura, então assim a escola não ta preparada ou
os professores não estão totalmente preparados para atender, mas eles sempre tenta
fazer o melhor, eu vejo isso na prática. A escola tenta, vamos pegar no colo, vamos
levar a cadeira, igual a questão do ônibus, fizeram alguns ônibus com o elevador e a
porta de entrada para o deficiente, mas nem todos tem . Eu vi deficiente que não
pode entrar no ônibus porque não cabe né, mesmo a pessoa sendo ajudada, ele não
conseguiu entrar, então ele ficou de fora do ônibus porque ele não podia entrar, então
assim ainda tem muita coisa a ser melhorado, mas a educação inclusiva tem sido um
ponto muito positivo na educação em geral, eu acho que sim. Até mesmo pra gente
professor, ta olhando com outro olhar esse problema, entendeu.. ta olhando com
outro olhar essas crianças.
Q21
Porque você escolheu uma classe inclusiva?
R21
Eu escolhi uma classe inclusiva porque igual que eu vi na faculdade, a inclusão vai
chegando, ta chegando, então todo ano uma colega pega, outra pega, outra pega e a
gente fica se esquivando né, e de repente eu pensei assim meu deus porque é que eu
num vo logo pegando, num vo logo me acostumando, num vo logo aprendendo,
porque quando tiver em toda turma um, eu num vo ter que pegar de todo jeito então
eu cheguei a essa conclusão, tendo uma turma lá que for inclusão, eu agora já num vo
ter tanto receio de pegar, porque eu peguei um tive a experiência, e igual eu te falei
depois eu parei pra pensar , eu trabalhei com deficiência e nem pra falar olha
Fazer pedagógico
Ajuda
Busca
Reflexão
106
você é obrigado a pegar, ou você pega ou num pega tinha um menino na turma,
numa escola que você não tem o que escolher, sua turma é aquela, aquele menino
paga pra estudar ali, peguei dei conta do recado, assim a gente tem falhas, e eu
enquanto professora, todo ano, todo final do ano eu penso o que que eu fiz de
positivo o que que eu fiz de negativo - eu todo ano faço essa reflexão comigo
mesmo, uma leitura do meu ano como foi, é.... então eu faço uma leitura em qual
sentido eu ajudei os meus alunos, em qual sentido eu me ajudei, se eu realizei o que
eu queria, em que eu posso melhorar, então assim depois de eu ter pego assim, eu
pensei, tendo um menino com tal deficiência, vou batalhar vo ver o que eu posso
fazer por ele, então quando eu peguei foi nesse intuito, de já ter uma experiência em
turma inclusiva, porque a inclusão ta ai mesmo, tem quantas turmas nessa
escola, na outra, na outra, então uma hora você vai ter que pegar e eu aprendi assim o
professor é professor pra qualquer turma, com certeza tem afinidades ahh eu me
sinto melhor quando eu pego tal serie, eu me dou melhor quando pego.... sim ,
temos afinidade sim, mas o professor aula pra qualquer turma, o professor
formado e com aquele dom de professor, o amor de professor ele dá aula pra
qualquer turma, então eu peguei e abracei e foi bom pra mim.
Q22
Então vamos falar das estratégias pedagógicas que você adotou, o que você achou
que deu certo e o que você achou que não deu certo com o R?
R22
Assim, eu tentei formular um horário, assim dividir o horário em três momentos para
trabalhar com o R . Esse ponto eu achei negativo porque com ele não deu certo, mas
como era uma experiência nova, valeu né, porque as vezes eu preparava o primeiro
momento pra trabalhar uns blocos gicos de cores, mas se aquilo ali ele não tava
nem afim daquilo, então eu pegava e partia pra outra, na mesma hora. Mas aí também
vem, além de ser um ponto negativo em ter pensado em fazer esses momentos e vi
que não dava certo, mas graças a Deus, aí também entrou a flexibilidade, né, que nós
enquanto professor aprendemos que temos que ter né, entrou aí a minha flexibilidade,
eu vi que aquilo não tava atendendo ele, naquele dia não era aquilo que ele queria,
naquele dia ele queria brincar de carrinho vermelho, eu pegava o carrinho
vermelho, “vamos brincar de carrinho vermelho”, vou fazer uma linha pra passar o
carrinho, o carrinho vermelho. Então, assim, entrou a flexibilidade no ponto que eu
107
vi que ali dava pra melhorar, dava pra mudar, porque (...) o R(...) tinha dias que ele
tava a fim de ficar sentado, brincando, tinha dias que ele tava a fim de pintar um
dever, porque tinha dias que ele pintava uma tarefinha com muita dificuldade, assim,
em pedir para que ele fizesse e sentar e ajuda-lo, então, assim (...) eu quis criar um
horário pra ta, tipo assim, vencendo algum conteúdo, né, então eu vi logo que não ia
dar certo, porque num(...) num era aquilo que ele queria ser atendido. Cada dia ele
queria ser atendido diferente, eu criei, eu peguei, fiz uma grade pra mim o que fazer
com ele: blocos gicos, brinquedo pedagógico, ehh cores, formas de montagem ,
então eu peguei e fiz uma listagem de como atende-lo e que material eu poderia estar
recorrendo para atende-lo e aí sim, eu chamava ele, e ele escolhia: “vamos brincar de
que hoje? Vamos fazer o que hoje? O que que você quer fazer hoje? Você quer esse,
esse ou esse? Né, eu também não deixava cinco coisas na mesa, porque senão ele não
ia saber o que ele queria, né! Também eu fui aprendendo fazendo, primeiro coloquei
um monte , ele ficou embananado, e não sabia o que ele pegava, pegava um,
pegava outro, então passei a colocar três diferentes coisas pra ele, né! Eu colocava
blocos lógicos, alguns carrinhos, uma tarefinha pra pintar. R o que que você quer
fazer primeiro?, vamos fazer agora o que? Então ele escolhia uma, né! Depois num
segundo momento, eu, obviamente, eu pegava uma outra coisa e fazia com ele, né!
Q23
O que era esperado do R nesse planejamento?
R23
Olha, eu (...) no começo eu até me assustei, porque eu pensei que o R conseguisse
assim, o mínimo, vou ensinar as vogais, ele vai aprender pelo menos o a”, mas aí,
na terceira semana eu vi que eu tava decepcionada, que não era nada daquilo pra
ele, não era nada daquilo, que eu podia falar o “a e i o u” o ano todinho que ele não ia
saber o que era o a”, então eu comecei a trabalhar com ele, assim, em parte de
diferenciação de cores, então, tentei buscar dele, assim, uma concentração né, ele
ficar sentado, ele escolher o que ele queria fazer, ele pegar um lápis, ele pegar uma
tesoura, o manuseio pelo menos do material, então eu busquei com o R, o mínimo, o
mínimo do mínimo, porque pra concentrar ele, não conseguia concentrar ele por
muito tempo, então eu pegava e, “vamos brincar de montar? Vamos montar.Então
eu aproveitava ali, e vamos trabalhar a cor, qual a cor? Amarela, então eu mandava
ele pegar o amarelo, me o amarelo, troca o amarelo, entoa eu fazia uma
108
brincadeira, assim lúdica, pra envolver ele, pra ele pegar o mínimo do possível, né! e
e , assim em questão de conteúdo mesmo, dele, o mínimo, cores, formas, mas de
forma assim, muito leve, porque se eu trabalhasse com ele a semana inteira, na sexta
ele não sabia mais o que era azul dum dia pro outro ele não sabia o que era azul,
então, assim, eu trabalhava com ele de forma assim, bem leve, pra que ele
conseguisse pegar o mínimo, entendeu, durante o tempo que ele ficasse ali.
Q24
Havia, então uma diferença de planejamento para a turma em geral e o R?
R24
Todo dia eu tinha que ta com alguma coisa pro R diferente
Q25
Então seu planejamento era diário?
R25
Era, e diferente, porque, a turma em processo de alfabetização, muitos alunos
silábicos, e e ele não, então tinha que todo dia ter uma coisa diferente pra ele, né.
então trabalhando assim, coisas como questão de higiene, pente, pra que serve o
pente, vamos pentear o cabelo, né! Essa sua blusa, ta limpa, ta suja, noções mínimas
né! vamos beber água, poso derramar no chão? Não, não pode. Pode jogar papel no
chão? Não, não pode. Se eu jogar papel no cha, vai ficar sujo. Então, tipo assim,
questão de higiene, de lidar com o colega; eu posso, eu não posso né. coordenação
motora, psicomotricidade, né. ele gostava muito de brincar, quando eu ensina
musiquinha, ele corria e queria ser o primeiro a cantar na frente, então essa parte,
assim, mais ativa, era o que mais chamava atenção dele, entoa sempre tava tendo que
fazer uma coisinha assim com ele, turma envolvida com alguma coisa que a turma
não ficasse perdendo, mas que ele tivesse ali, aproveitando ali de um momento,
assim, mesmo implícito um conteúdo, né. um jeito de explicar as partes do corpo, o
boneco é de pau, a mão é assim, a mão direita, mão esquerda, perna direita, balança a
cabeça, então, assim, uma noção mínima, mas com um conteudozinho por fora, uma
coisa assim bem flexível, bem lenta, bem leve pra ele também não ficar cansado e
também pra não prejudicar o resto da turma.
Q26
Quando você via que ele não atingia o objetivo, como você fazia?
R26
Olha eu sempre coloco assim o R, dependendo do humor dele, ele fazia, mas foi
igual eu te falei, tinha dia que ele não tava afim daquilo, eu também sempre tenho
comigo alguns brinquedos, porque ele adora brinquedo, brinquedo assim, carrinho,
sabe, então eu tinha brinquedo e colocava pra ele brincar, pra ele acalmar né, ali, ai
109
depois a gente retomava, em outro momento, pelo menos uma das atividades que eu
tinha a proposta pra ele. Pintar o sabonete, ou riscar o sabonete, circular o chuveiro.
Então, assim, sempre tinha que ter uma coisinha que distraísse ele. O dia que eu der
massinha, hoje, amanha, eu dou carrinho. Eu não dou o mesmo dia a mesma coisa,
porque além de perder o interesse ele pensa que vai ficar brincando, então, “eu
quero brincar com a massinha amarela”, “quer a massinha amarela? Quero! Então
toma a massinha amarela. E ali ele distrai, a estratégia sempre é essa.
Q27
Em relação à intencionalidade das ações do R, você acha que ele responde
intencionalmente as suas proposições? Quando você tinha uma idéia de trabalhar a
motricidade dele, por exemplo, ele respondia? Ao cortar, ele tinha intenção de estar
cortando?
R27
Ele tinha a intenção de cortar mesmo, ele pega na tesoura e fica mastigando com a
tesoura, então eu ajudo, eu mostro, pego na mão pra ele aquele movimento,
mostrando, mostrando, mostrando, tem que ser uma coisa bem continua. Até pedir
pra mãe comprar uma tesoura sem ponta pra deixar em casa e deixar ele manusear,
pra que ele aprenda esse movimento, pra ele é interessante. Então, quando eu dou o
giz de cera pra ele, ele risca ele sabia o que, ele sabe que é pra riscar, ele não
consegue riscar dentro do desenho, do limite, ligar o sabonete lá no cabelo da
criança, mas ele sabe que aquilo é pra fazer um rabiscado colorido, ele sabe que a
tesoura é pra cortar papel, não consegue, mas sabe que aquilo é pra fazer tal coisa.
110
4.3 Significados professora P3
As falas da professora P3 diferem um pouco das outras duas professoras, pois o
demonstram angustias, dúvidas ou incertezas, apesar de trazer a dificuldade encontrada
pela escola para a efetivação do processo de inclusão, a professora relata que há um
compartilhar de experiências e um apoio por parte da coordenação pedagógica e equipe
de direção para que seja realizado um bom trabalho com os alunos incluídos.
Formação profissional
Nos turnos R2, R5 e R8, P3 enuncia suas concepções sobre o seu processo de
formação de forma muito positiva, acreditando ter sido uma formação sólida, voltada para
a prática conseguindo trazer a relação teoria e prática de forma muito consistente. O que
para ela foi muito bom, pois ajudou no seu processo de inserção no mercado de trabalho.
Porém, quando relacionamos a formação e a sua prática em salas de aula com alunos
incluídos, ela se diz despreparada, mesmo relatando que estudou sobre todas as
deficiências, conforme turno R11.
Deficiência
Podemos perceber na análise das informações da professora P3 que a construção dos
significados sobre a deficiência se a partir dos conhecimentos teóricos trazidos pela
formação, conforme R11. Percebemos nessa fala e em outras, turnos R14, R16 e R19 que o
conceito de deficiência é significados como um problema, uma dificuldade que o aluno
traz consigo. Sofrimento, dificuldade, raciocínio normal, são conceitos sobre a deficiência
que estão muito voltados para a problemática, vendo o indivíduo nas suas
impossibilidades, naquilo que ele não é capaz de fazer. A professora de antemão já
concebe que uma falta de capacidade, que o deficiente não consegue fazer parte do
convívio social sem que tenha um aparato, que para ela, esse aparato é a escola e o trabalho
do professor, para que possa conduzir esse indivíduo a se adaptar a sociedade.
Percebemos que esses conceitos são muito relacionados ao funcionamento biológico
da deficiência. Em alguns momento de fala, turnos R17 e R19, ela relata que há a
possibilidade de evolução, que acontece através da escola. Fica muito claro que ainda
permanece a idéia da deficiência como algo que precisa ser solucionado, de algo que nasce
com o indivíduo e que é necessário que cabe a escola resolver o problema.
111
Inclusão/ políticas públicas
A professora nos mostra que a inclusão é um processo posto tanto na escola como
na sociedade e que é inevitável nos depararmos com ela, sendo assim é necessário
estarmos aptos para trabalhar com as diferenças. A escola, apesar do despreparo, turno de
fala R21, tanto em termos de estrutura física como em termos de qualificação de
profissionais, é a responsável pela inserção da população deficiente na sociedade, sendo
um processo latente e irreversível. Todos os professores deverão receber alunos com
necessidades educacionais especiais, pois todas as escolas se configuram como inclusivas,
conforme diretrizes do MEC.Assim a professora ao construir seu conceito de inclusão traz
a escola como sendo o espaço acolhedor de todos e que busca alternativas para o trabalho
independente das condições oferecidas, conforme turno R22.
A inclusão também é conceituada como uma oportunidade para toda a sociedade de
conviver com a diversidade, turno R21.
Escolarização
Para a professora, a deficiência tem como conseqüência no aluno uma rie de
dificuldades que vão acompanhar o aluno, impedindo, muitas vezes, que ele possa tanto se
relacionar com os outros como desenvolver atividades escolares, daí a necessidade da
intervenção dela, como professora no monitoramento e no auxílio para o “problema” que o
aluno apresenta. A escolarização é vista como um ponto importante para o
desenvolvimento do aluno, uma vez que ela acredita que ele for estudando ele irá evoluir,
ou seja, a visão da escola como promotora de condições para o desenvolvimento do aluno,
mas o mérito do sucesso ainda fica a cargo de como o indivíduo responde a essa promoção.
Fazer pedagógico
O conceito formado sobre o aluno direciona a prática em sala de aula na medida
que ela entende que o aluno necessita de direcionamentos e intervenção nas suas condutas
para que possa conviver no meio social de forma a não atrapalhar os demais, turnos R20. A
construção pelo aluno da autonomia e independência é uma construção que vai se dar ao
longo da vida dele, mas a professora coloca que o sabe se o aluno chegará a consolidar
esse processo.
[stl1] Comentário:
112
4.4 A similaridade dos significados encontrados na falas das professoras
Após a análise de todas as informações, duas similaridades no processo de
construção dos significados pelas professoras foram muito marcantes: primeiramente, em
suas narrativas, os cinco eixos temáticos permearam a construção dos significados sobre a
inclusão e a escolarização dos alunos com deficiência intelectual pelas professoras; e
segundo, que o fazer pedagógico em sala de aula inclusiva se configura como a
possibilidade para uma ressignificação que leva à reflexão sobre os fazeres
segregacionistas e a tentativa de mudanças para práticas de inclusão.
Esse processo deve-se ao fato de que nossas construções são sociais,
compartilhadas nos diferentes momentos históricos vividos pela humanidade. Nossas
crenças, valores e condutas sociais dizem respeito ao processo cultural do qual
participamos. Assim, as professoras participantes desta pesquisa compartilham dentro do
seu espaço de trabalho a implementação do processo de inclusão. Suas dúvidas, anseios e
vitórias são vivenciadas neste espaço de trocas.
Mostraremos uma breve discussão sobre os significados que foram trazidos de
forma similar pelas três professoras.
Formação profissional a formação profissional foi significada pela professoras
como sendo uma formação dicotomizada (carvalho, 2000), existindo uma formação
específica para atuar com os alunos com necessidades educacionais especiais e com os
alunos do ensino regular ditos “normais”. Essa construção está baseada numa configuração
da educação escolar que separava os alunos com deficiência em classes especiais, podendo
atuar somente professores com formação específica. Com a implementação da educação
inclusiva, passa-se a ter a necessidade de buscar novos conhecimentos para embasar uma
atuação em sala de aula que contemple as diferentes formas de aprender, uma vez que os
professores do ensino regular estão propensos a receberem alunos com diferentes
deficiências. Essa perspectiva é trazida pelas falas das professoras e contra posta ao
sentimento de despreparo para o trabalho
Deficiência os significados trazidos dizem respeito a deficiência como algo
impeditivo, um problema imposto ao indivíduo. Elas apontam como principal característica
a dificuldade em abstrair. Essas são concepções apontadas na formação e calcadas em
diagnósticos médicos que identificam as conseqüências trazidas pela deficiência numa
perspectiva puramente biológica.
Inclusão/políticas pública No âmbito geral, as professoras acreditam que há uma
participação mais efetiva na sociedade de uma população que durante muito tempo ficou à
113
sombra, sem políticas públicas efetivas que garantissem o seu bem estar. No contexto
escolar, esse processo exige que toda a comunidade escolar esteja engajada e participe
ativamente do processo de escolarização do aluno. A implementação da inclusão se
configura como a necessidade que mobiliza as professoras para a busca por novos
conhecimentos e a mudança no fazer pedagógico.
Escolarização A escolarização é vista como um processo que exige um trabalho
individualizado com o aluno incluído para que ele possa acompanhar o trabalho realizado
nas turmas, pois para as professoras os alunos com deficiência intelectual apresentam
maiores dificuldades, muitas vezes relacionadas por elas, como dificuldades no raciocínio
abstrato. Elas acreditam que seus alunos possam continuar no processo de escolarização,
mas que será preciso um tempo diferenciado dos demais alunos do ensino regular, para que
eles possam se desenvolver nos aspectos que são esperados pela escola.
Fazer pedagógico - O trabalho pedagógico com os alunos incluídos é significado
pelas professoras como uma ajuda que visa a atender as dificuldades que os alunos
apresentam devido a deficiência, uma vez que os conceitos formados sobre a deficiência
estão calcados nos conceitos estudados durante a formação seja ela a formação inicial de
magistério, seja nos cursos de formação continuada. Esses ainda são conceitos que focam
o lado médico da deficiência, enfatizando o funcionamento da deficiência numa
perspectiva das faltas produzidas e não das possibilidades que devem ser desenvolvidas
pela escola. Porém, percebemos também, que esses conceitos começam a ser re-
significados quando no trabalho nas salas de aula com alunos incluídos, uma vez que
depois de um período letivo as professoras começaram a refletir sobre suas práticas e
sobre a condução dos trabalhos com os alunos incluídos, chegando a um ressignificação
sobre as potencialidades e possibilidades educacionais dos alunos incluídos.
114
V - Conclusão e implicações do estudo
Ao nos propormos em discutir os significados das professoras sobre a inclusão e a
escolarização de alunos com deficiência intelectual, na dimensão dialógica
compreendemos que a construção desses significados ocorre na inserção do professor no
contexto da educação inclusiva permeada pela polifonia inerente às relações sociais, assim
nesse trabalho chegamos a algumas importantes conclusões.
Primeiramente, percebemos que os significados relacionados à formação
profissional estão sendo construídos norteando-se por uma perspectiva crítico-reflexiva, na
qual possibilita ao professor uma autonomia pessoal e pedagógica a partir da reflexão
teorizada da prática para reconstrução do fazer pedagógico. As professoras começam a
perceber suas experiências docentes como mobilizadoras de reflexão e de possibilidades
de criação de novas práticas, mesmo que ainda esteja muito presente na fala das
Professoras a separação entre conhecimento teórico e a prática que se concretiza na sala de
aula. A formação inicial em nível do antigo magistério é colocada como um curso que
pouco proporcionou a discussão sobre os aspectos teóricos do processo de ensino e
aprendizagem, deixando as professoras com um sentimento de despreparo para o trabalho
em sala de aula.
É a partir do fazer pedagógico em salas de aula inclusivas que começa a ser visto
pelas professoras como a necessidade para a busca de novos conhecimentos que possam
embasar a construção de novas atuações pedagógicas. A atuação do professor se configura
como uma forma de formação continuada. Esse é um ponto significativo da pesquisa, pois
a partir daí, podemos pensar uma organização de cursos, tanto de formação inicial para
professores, como de formação em serviço que possa contemplar, esse ressignificar que
ocorre a partir do trabalho em sala de aula inclusiva.
Assim, compreendemos que a inclusão se faz necessária como uma forma de
proporcionar ao professor o desafio do trabalho com as diversidades no aprender,
possibilitando uma reflexão e um refazer de práticas a muito concretizadas. O processo de
inclusão tem na formação do profissional sua maior vertente, que não se pode pensar
que incluir é somente dar ao aluno um espaço físico em sala, mas sim, ter profissionais
atuando que sejam capazes de fornecer atividades significantes para o desenvolvimento
cognitivo, tornando possível o acesso e participação na aprendizagem. O professor
mediador é uma competência adquirida na formação continuada levando a um processo de
115
transição entre as práticas segregacionistas e a necessidade de atendimento e escolarização
de alunos com deficiência intelectual.
Assim como a criança, o professor ao ser inserido numa nova relação social
possibilita o desenvolvimento intelectual e a produção de novas necessidades, ou seja,
novas zonas proximais, o que gera novas possibilidades semânticas. Daí a importância da
formação para o professor, a possibilidade de construir conhecimentos sobre novas formas
de trabalho pedagógico. O professor muda suas práticas, que mudam a sala de aula, que
muda o aluno para a efetivação do processo de inclusão.
Com todas essas mudanças, a sociedade e o Governo precisam se organizar para que
todos possam ser incluídos e possam participar ativamente na construção de uma nova
cultura cidadã, uma vez que a questão da inclusão está cada vez mais presente nos nossos
discursos e nas nossas práticas. Estamos atravessando um momento histórico muito
importante, a cada dia tiramos um pedaço da venda que durante séculos esteve cobrindo os
olhos para aqueles que por algum motivo, seja físico ou mental, foram impedidos de se
mostrar e se constituir junto às sociedades. Essas pessoas cada dia estão se apresentando
como uma população com potencial e que necessita ser vista e ter seus direitos e deveres
garantidos.
Concluímos também, que para as professoras, a educação é entendida por como um
esforço coletivo de construção de conhecimento dentro do espaço formal chamado escola,
e que essa construção exige a constante intervenção na zona de desenvolvimento proximal
de seus alunos, pois os professores são os mediadores das práticas pedagógicas que podem
contribuir ou não para o processo de aprendizagem de alunos.
Lembremos que este professor também está num constante processo de
aprendizagem e que as relações estabelecidas na escola também geram nele novas zonas de
desenvolvimento proximal, seja pelas interações em sala de aula com os alunos, seja pela
interação com outros professores em trocas de experiências, seja pela formação
continuada. Para o professor, o conhecimento continua sendo um construto realizado na
coletividade.
Porém, também percebemos nas falas das professoras que o conceito de
desenvolvimento e progressão da escolarização dos alunos pauta-se numa ideologia
dominante produzida por um sistema capitalista liberal que entende a igualdade de
oportunidades, como algo que cabe ao talento indivíduo à ascensão tanto no âmbito
educacional como social, justificando a permanência das desigualdades de oportunidade e
a continuação da exploração das classes menos favorecidas e daqueles que por algum
116
motivo não possuem as mesmas condições de desenvolvimento. A situação econômica e a
posição social da família é apontada como um fator causador das diferentes dificuldades
dos processos de aprendizagem.
Percebemos que o ideário da escola obrigatória e gratuita que transformaria a
sociedade dando condições para que todos tivessem as mesmas oportunidades, diminuindo
as desigualdades sociais e a exploração da classe menos favorecida, ainda está para
acontecer, pois a escola ainda está se constituindo enquanto um espaço democrático.
No que diz respeito as asserções que alicerçaram a pesquisa, concluímos que:
(a) O professor encontra-se num momento de transição entre práticas de exclusão e
práticas de inclusão no contexto escolar possibilitada pela atuação pedagógica em
sala de aula inclusiva;
(b) A implementação de Políticas Públicas de Inclusão possibilita o processo de
transição no qual o professor se encontra pois se configura como o que gera a
necessidade da busca por novos conhecimentos capazes de subsidiar um novo fazer
pedagógico;
(c) Os significados construídos pelo professor sobre a inclusão e a escolarização de
estudantes com deficiência intelectual são ressignificados a partir da sua atuação
em salas inclusivas;
(d) A prática pedagógica se constitui enquanto processo de formação continuada, pois
possibilita ao professor confrontar suas angústias, dúvidas com suas certezas e
fazeres, levando a reflexão e construção de novas práticas.
Consideramos, por fim, que a inclusão ainda não está consolidada e provavelmente,
demorará muitos anos para que possamos constituir uma sociedade realmente democrática
em que todos possam se encontrar e se respeitar na diversidade, por isso se faz necessário
que mais pesquisas estudem a relação dos sujeitos com esse novo conceito de sociedade
para que cada vez mais possamos entender os avanços e retrocessos, necessários, para a
consolidação da inclusão.
117
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Smith, J. & Dunworth. F. (2003). Qualitative methodology. Em J. Valsiner & K. Connolly(orgs),
Handbook of developemental psychology (602-621). London: SAGE Publications.
Tacca, C. M. (2000). Ensinar e aprender: a construção de significados na interação professor-
alunos em atividades estruturada. Tese de Doutorado, Universidade de Brasília,
Brasília.
121
Valsiner, J. ( 1998). Indeterminação restrita nos processos de discurso. Em: C. Coll & D. Edwards
(orgs), Ensino, aprendizagem e discurso em sala de aula: aproximações ao estudo de
discurso educacional.(pp. 13-28). Porto Alegra: Artmed.
Valsiner, J. (1989). Human development and culture: the social nature of personality and its
study. Lexington, MA: Lexington Books.
Vigotski, L. S. (2007/1984). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.
(originalmente publicado em 1934)
Vigotski, L. S. (1987). Historia Del desarrollo de lãs funciones psíquicas superiores. Havana:
Científico-técnica. (originelmente publicado em 1931)
Vigotski, L. S. (1995). Fundamentos de defectologia. Ciudad de La Havana, Cuba: Editora Pueblo
y Educación. Obras completas. Tomo V. (originalmente publicado em 1930)
Vigotski, L. S. (2006). Aprendizagem e desenvolvimento intelectual na idade escolar. Em: :L. S.
Vigotski, A. R. Luria & A. N. Leontiev, Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem
(103-118). São Paulo: Ícone.
Zanella, A. V. (2004). Atividade, significação e constituição do sujeito; considerações à luz da
Psicologia Histórico-cultural. Psicologia em Estudo 9 (1), 127-135.
122
Anexos
123
Anexo I - Roteiros das entrevistas
Roteiro de entrevista 1
Bloco 1 formação profissional
- Fale um pouco do seu histórico de formação, quais são os pontos positivos e os
pontos negativos e o que você acha relevante destacar dentro da sua formação
profissional.
- Dentro da sua formação houve algum enfoque na educação especial?
- Quais as características de deficiências que você viu durante a sua formação.
- Você estudou sobre as características de deficiência intelectual/mental?
Bloco II concepções de deficiência
- Conversando agora sobre concepção de deficiência, quais são os seus conceitos
com relação à deficiência?
- Quais o os seus conhecimentos sobre o desenvolvimento da criança com
deficiência e sem deficiência, como você vê esse desenvolvimento?
- Você se sente capacitada para estar trabalhando com, um aluno com deficiência
intelectual/mental? Em termos de formação?
- Você poderia me definir um profissional capacitado para estar trabalhando com a
deficiência mental?
- Como você e entende a questão da deficiência no seu aluno, como você o
processo de desenvolvimento dele?
- Você considera importante e ajuda no desenvolvimento do aluno a presença da
família na escola?
- Quais são as maiores dificuldades dela e as maiores capacidades?
- Você acha que você como professora tem um papel nesse processo de socialização?
- O que você considera, acha e pensa o que é inclusão.
Bloco 3 fazer pedagógico
- Agora queria saber um pouco como você trabalha, como você elabora suas
atividades?
- Você planeja suas atividades?
- Elas são elaboradas para a turma como um todo ou especificamente para o seu
aluno incluído?
- Você planeja semanalmente, diariamente, fale um pouco sobre o planejamento.
124
- O que você acha que dá mais certo nas atividades com o seu aluno incluído e o que
não dá, o que ele responde melhor e o que ele pouco responde?
- E quando você não consegue que o objetivo da atividade planejada seja cumprido
por ele, o que você faz?
- Você intencionalidade de acerto nas atividades que ele faz? Ele procura
raciocinar em cima ou faz só para cumprir uma tarefa que é passada pela escola?
- Você tem algo mais que queira falar?
Roteiro de entrevista 2
- Como é que você está vendo esse processo de inclusão na sociedade?
- E como é que você está vendo o processo de inclusão na da escola?
- O que você entende por cidadania?
- Você considera que a escola é um espaço de construção de cidadania?
- E como é que você entende sobre esse processo de construção de cidadania e a
questão da inclusão?
- O que você entende por escola inclusiva?
- Como você avalia o seu trabalho durante o período letivo na sua sala?
- Como é que você se vê nesse trabalho profissionalmente e pessoalmente?
- Você acha que você teve alguma mudança em termos pessoais e profissionais, pelo
fato de você ter trabalhado o período letivo com aluno incluído?
- Como é feito o planejamento pedagógico para a sua sala?
- Como você avalia o desempenho da sua turma no geral?
- Qual o papel da coordenação pedagógica no seu trabalho?
- Quais foram os avanços do seu aluno neste ano letivo?
- O que você achou de mais significante durante o período letivo?
Encontro 3 uma proposta de reflexão
De acordo com o que conversamos no inicio da pesquisa o ano passado, o objetivo
desta pesquisa é entender como os professores estão vendo o processo de inclusão e de que
forma está se dando a prática pedagógica dentro das salas inclusivas.
Antes de começarmos essa nossa conversa, gostaria que você assistisse alguns
trechos das aulas filmadas durante o ano passado. Esse são momentos de mediação
pedagógica entre você e o aluno incluído da sua sala. Os momentos selecionados seguem a
seqüência da aula, e duram em média 10 minutos. Podemos começar?
125
Agora, depois desse momento, você gostaria de fazer algum comentário sobre o que
achou mais relevante nessa seqüência? Falar um pouco do trabalho realizado.
Se fosse fazer novamente, mudaria algo? O que?
Agora é sua vez, o que posso contribuir para a sua atuação pedagógica em sala de
Aula inclusiva?
126
Anexo II - Sequência pedagógica e resumo dos episódios das observações
Resumo das observações da Professora P1
A professora está corrigindo a ficha de leitura do livro-didático com a turma inteira. A
professora pergunta á turma sobre os autores e os desenhistas e sobre a editora, levando as
crianças a falarem como se escrevem as palavras e dando exemplos de outras palavras que
tenham as mesmas letras. Alguém interrompe a aula que rendo falar com um dos alunos.
Os alunos ficam em silêncio e a professora comenta sobre a curiosidade de todos. A
professora continua a correção da atrefa perguntando sobre os personagens do livro e suas
características e sobre o que os alunos mais gostaram se dos desenhos ou dos personagens.
Os alunos falam todos ao mesmo tempo. A professora responde a pergunta sobre o que é
ilustração. Ela escreve no quadro o título da história, ditando sílaba por sílaba para que os
alunos possam copiar nos seus cadernos. A professora dirige-se ao aluno e pergunta se ele
está conseguindo copiar. Ela volta para frente da sala e passa o livro para as crianças
olharem. A professora pega o livro e mostra para que todos possam pintar o desenho da
tarefa conforme a ilustração do livro. A professora permanece na frente da sala e os alunos
vão até ela para mostrar como fizeram e entregar a tarefa. A professora anuncia que a
próxima tarefa e escrever no cardápio( previamente feito) o que irão lanchar no dia. As
crianças passeiam pela sala e a professora pede que todos sentem. Depois do lanche, a
professora começa a trabalhar o que foi servido de lanche durante a semana. As crianças
ditam como os dias da semana são escritos, assim como a palavra lanche. A professora
escreve o que as crianças lancharam pedindo ajuda delas. A professora ao perceber alguns
erros dos alunos vai sinalizando e corrigindo. A professora vai até o aluno, ele está sentado
virado para trás, a professora ao se aproximar, ele se ajeita na cadeira, olhando para frente,
ela pede para que ele pegue a tarefa e copie do quadro, permanecendo do seu lado aque
ele termina de copiar.
Resumo das observações da Professora P2
A professora chega na cadeira de A. olhando sua prova e perguntando sealguma dúvida
ela olha a prova da A., logo se volta a outro aluno dizendo para ele olhar para frente, ela
volta para a A., pergunta algo da prova, A. pensa e responde a professora diz que é isso e
que ela escreve, a medida que ela for descobrindo ela deve escrever. A. escreve na sua
prova enquanto a professora que está ao seu lado olha para o restante da turma e chama a
atenção de todos dizendo que enquanto eles param para conversar e olhar para o lado eles
esquecem o era para ser feito na prova. Enquanto isso A. continua escrevendo na sua
prova. A professora mostra algo na prova de A. para que ela faça. logo chegam outros
alunos e a professora se afasta para atender outro aluno. A. continua a fazer sua prova. Ela
olha para o lado. 'A professora retorna a mesa de A., indicando e perguntando a ela o que
deve ser feito. A. fica pensando. A professora mostra novamente na sua prova e se afasta.
A. muda a página da prova, le e volta a anterior. Ao ver a professora na sua frente, se ajeita
na cadeira e volta a olhar a prova. A professora chega a sua mesa, pergunta se ela
conseguiu fazer a questão, A. acena com a cabeça dizendo que nao, a professora mostra um
erro e diz como fazer. Outros alunos chegam e ela atenção aos alunos deixando A.. A.
fica olhando para sua prova. A professora se volta para A.pega sua prova, se volta para a
turma avisando para que nao baguncem, fala para um aluno baixar a cabeça. ela volta a
falar com A. e mostrar como fazer,A. olha para o comando da professora, depois pega a
borracha e apaga. A professora se afasta de A. e ela se vira para frente, se ajeita na cadeira
127
e volta a fazer a prova. e apaga. continua lendo, balbuciando com a boca, se vira para
trás como se explicasse para a amiga, se vira e volta a fazer a prova. A. lê e balbucia como
se estivesse explicando o que deve ser feito para ela mesma. Apaga e volta a escrever,
sempre lendo e balbuciando.
Resumo das observações da professora P3
Os alunos chegam em sala de aula, eles sentam quatro a quatro. R. senta com mais quatro
colegas, a professora me avisa que a cada dia eles sentam em lugares diferentes.A
professora comunica que hoje será o dia da recreação, por isso os alunos deverão fazer
todas a s tarefas a tempo para saírem para a recreação, para que os alunos nao fiquem
enrolando. A professora começa a aula indo ao quadro e trabalhando o calendário,
perguntando que dia é o de hoje, o dia que foi ontem e o que será amanha, o mês e o ano.
A professora escolhe dois alunos para um contar o numero de meninos e o numero de
meninas, ela entrega cartões rosas e azuis. Os alunos entregam, para os respectivos. A
aluna escolhida começa a contar quantos cartões rosas ela distribuiu, recolhendo-os. A
professora vai ao quadro contando os cartões em conjunto com a turma. pergunta a
quantidade contada e qual o numero que deverá colocar no quadro. Agora é a vez do
menino escolhido contar o numero de cartões azuis. O alunos conta junto com a turma e a
professora vai ao quadro para contar e escrever com ajuda da turma., A professora propõe
saber quanto a soma do numero de meninos e meninas utilizando o quadro lugar de
valor(QVL), explicando o porque de cada número estar em seu lugar.A turma participa
contando e chegando ao resultado.Depois do quadro a professora anuncia que trabalharão
com a cartilha. Ela chama cada aluno e entrega a cartilha pedindo para que abram na
página na qual pararam anteriormente.o aluno R. nao recebe a cartilha, a professora
anuncia que ele fará outra atividade.Ela individualmente chega a R. entrega um livro de
atividades diferente dos demais e diz para que ele tenha calma pois ela virá auxiliá-lo.Ela
pega papeis coloridos retira R. da mesa que estava e o coloca numa mesa separada sozinho.
enquanto corta o material para R. ela anuncia para a turma o que deverá sr feito na página
solicitada.Ela pede para que R. faça bolinhas no papel colorido. Ela diz que pegará outra
folha branca para que ele treine novamente as bolinhas. ela senta ao lado de R. segura na
mao dele para que ele faça as bolinhas, dizendo sempre que o que eles vão fazer hoje é
bolinha. Continua segurando a mao de R. para auxilia-lo a fazer as bolinha, repetindo
sempre bolinha. Diz que ele faça uma, sozinho, e repete que ele deve fazer bolinha,
somente bolinha. ela o pergunta o que eles estão fazendo. Ela volta a pegar na mao de R.
para auxiliá-lo a fazer as bolinhas. °Ela fala que é muito legal fazer bolinha e mostrar que a
mão dança ao fazer.
128
Anexo III - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
DECLARAÇÃO
A pesquisadora Stela Martins Teles, aluna de pós-graduação no curso de mestrado no
Programa Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde do Instituto de Psicologia da
Universidade de Brasília, matriculada sob nº. 07/57055 declara:
1. Os resultados de sua pesquisa serão divulgados, isto é, serão tornados públicos,
sejam eles favoráveis ou não;
2. As informações geradas pela pesquisa são de propriedade intelectual da
pesquisadora;
3. A divulgação dos achados da investigação será utilizada pela pesquisadora para
desenvolvimento de conhecimento na área da educação infantil, básica e especial,
garantindo sempre o anonimato dos participantes e da escola.
Brasília, _______ de _________________de 2008.
__________________________________
Stela Martins Teles
Mestranda do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília
129
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O(a) senhor(a) está sendo convidado a participar de uma pesquisa que tem
por objetivo investigar os processos interacionais em sala de aula inclusiva e as
significações atribuídas pelo professor a sua prática pedagógica, enfocando o trabalho com
a criança incluída, tendo como eixo norteador o processo de ensino-aprendizagem nestas
salas. Sou mestranda da pós-graduação no Programa: Processos de Desenvolvimento
Humano e Saúde/Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. A seguir, descreverei
a pesquisa para o conhecimento dos senhores:
Justificativa: A idéia de inclusão vem sendo discutida no Brasil desde a década de
1970, quando escolas regulares passaram a receber crianças e adolescentes
deficientes em classes comuns ou pelo menos, em classes especiais de escolas
comuns. Muitas foram as questões levantadas quanto ao modo de
operacionalização. A inclusão é um processo com vários níveis, nos quais os
sistemas educacionais devem prover meios adequados para atender as necessidades
do alunado, favorecendo o desenvolvimento cognitivo e promovendo a socialização
por meio de interações, quebrando tabus e diferentes formas de preconceito frente à
população deficiente. Entendemos que ainda estamos no processo de consolidação
da inclusão, por isso se faz necessário o estudo de como os processos de
socialização geram as novas zonas de desenvolvimento proximal que possibilitarão
a construção de conhecimento por parte dos alunos incluídos, assim como, a
construção de significado do professor em relação a todo este processo.
Objetivos: Descrever e analisar os processos interacionais e as significações
construídas pelo professor sobre a sua prática pedagógica, enfocando o trabalho
com o aluno incluído, tendo como eixo norteador o processo de ensino-
aprendizagem em sala de aula inclusiva.
Procedimentos para a coleta de dados - Fase 1: 1º semestre letivo /2008 / Fase
2: 2º semestre letivo /2008
I. Serão feitas 2 observações em cada sala de aula com duração aproximada de 50
minutos cada, gravadas em câmera digital.
II. 3 Entrevistas com professores das classes observadas conforme a disponibilidade
dos entrevistados, gravadas em áudio;
1. Benefícios esperados
A construção de saber sobre os processos de socialização dos alunos incluídos, as
estratégias utilizadas pelo professor no trabalho pedagógico e as significações construídas
sobre a inclusão é importante para se dimensionar o impacto desse processo e as estratégias
pedagógicas que estão sendo utilizadas para a efetivação do trabalho escolar com esses
alunos, tanto no ensino de educação infantil como no ensino fundamental, trabalhando para
que o aluno seja incluído de forma a participar ativamente do seu processo de
escolarização. Este saber subsidiará a prática da formação continuada de professores assim
como, uma reflexão acadêmica quanto à formação inicial de professores e o
aprimoramento das políticas públicas de inclusão de alunos com necessidades especiais,
sobretudo, com deficiência intelectual.
Previsão de riscos
Os riscos não o esperados, uma vez que serão somente observações em sala de aula
com as crianças. Nenhuma criança será evidenciada ou discriminada perante as outras.
2. Garantia de:
130
a. Esclarecimento: estarei à disposição para todo e qualquer esclarecimento que
possa existir no início e durante o curso da pesquisa.
b. Sigilo: O uso de instrumentos de gravação áudio-visual é essencial, pois a
comunicação é um processo dinâmico e variável, contudo as imagens
serão utilizadas apenas para fins de estudo, não sendo divulgadas, do
mesmo modo que a identidade dos participantes não será revelada.
3. Tempo de duração
a. A pesquisa terá 07 meses de duração, desde a autorização de realização em
março de 2008 até seu término em outubro de 2008, contando com dois meses
de gravações e filmagens em sala de aula.
b. Cada entrevista com o professor terá a duração de 30 minutos e as
observações do trabalho pedagógico em sala de aula terão cerca de 50
minutos de duração.
4. Entrevistas: A participação nas entrevistas é voluntária e as respostas livres de
qualquer obrigação ou dever.
5. Divulgação dos resultados: O estudo do desenvolvimento humano, particularmente no
caso desta pesquisa sobre os processos de socialização dos alunos incluídos e as
significações construídas sobre as práticas pedagógicas pelos professores de salas
inclusivas, será utilizado:
a. Como palestra para toda comunidade da escola observada;
b. Como dissertação para obtenção do título de Mestre;
c. Para publicações acadêmicas em livros e periódicos de educação e de
psicologia;
d. Para subsidiar cursos de formação de professores em nível de graduação, pós-
graduação e em cursos de extensão à comunidade.
e. Para a ampliação da pesquisa científica do Laboratório de Microgênese do
Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília.
6. Material da pesquisa: Os dados obtidos e analisados serão mantidos com a
pesquisadora e serão utilizados sempre que necessário para a divulgação do
conhecimento sobre o processo de construção do conhecimento de crianças com
deficiência intelectual, sempre mantendo o sigilo das identidades dos participantes e a
escola pesquisada.
Brasília, _______ de _________________de 2007.
_________________________________________
Stela Martins Teles
Mestranda do instituto de Psicologia
Telefone: 32451494
131
CONSENTIMENTO DO PROFESSOR PARTICIPANTE
Eu, ____________________________________, DECLARO que fui esclarecido(a)
quanto aos objetivos e procedimentos do estudo pela pesquisadora Stela Martins
Teles e CONSINTO minha participação neste projeto de pesquisa, a realização das
gravações em sala de aula, bem como o uso das imagens e áudios para fins de estudo e
dos áudios para publicação em revistas científicas e de formação de profissionais.
Bras íl ia, de de 2008
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